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manifesto para retomada de territórios urbanos A pandemia mudou e continuará mudando nossos hábitos de interação social nas cidades. Vivemos num contexto de desigualdade social - fonte e produto da ausência de direito à cidade, com a socialização das externalidades negativas da mobilidade motorizada e com a lentidão na realização das prioridades nas políticas públicas que ampliam as injustiças sociais. Considerando a perspectiva iminente de ampliação da pobreza, da dificuldade na recuperação econômica, da escassez dos recursos e da necessária diminuição dos contatos físicos, precisamos, agora mais que nunca, mobilizar todos os ativos para a transformação da cidade em espaços mais humanos, democráticos e sustentáveis. Se a realidade atual nunca deveria ter sido tolerada, não pode mais ser aceita ou normalizada. Principalmente frente ao novo cenário. Não há mais como aceitar um futuro senão de uma revolução que devolva a cidade para as pessoas. Do ponto de vista da mobilidade urbana, a situação atípica de diminuição da quantidade de automóveis nas vias resgatou parte de uma cidade que já tivemos: menos colisões, mortes e atropelamentos; com diminuição da poluição sonora e atmosférica; redução de ocupação abusiva do espaço público e contenção de estressantes engarrafamentos. No futuro próximo, tornaremos a usar a cidade, mas não como antes.

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Page 1: manifesto para retomada de territórios urbanos · manifesto para retomada de territórios urbanos A pandemia mudou e continuará mudando nossos hábitos de interação social nas

manifesto para retomada de territórios urbanos

A pandemia mudou e continuará mudando nossos hábitos de interação social nas cidades. Vivemos num contexto de desigualdade social - fonte e produto da ausência de direito à cidade, com a socialização das externalidades negativas da mobilidade motorizada e com a lentidão na realização das prioridades nas políticas públicas que ampliam as injustiças sociais. Considerando a perspectiva iminente de ampliação da pobreza, da dificuldade na recuperação econômica, da escassez dos recursos e da necessária diminuição dos contatos físicos, precisamos, agora mais que nunca, mobilizar todos os ativos para a transformação da cidade em espaços mais humanos, democráticos e sustentáveis. Se a realidade atual nunca deveria ter sido tolerada, não pode mais ser aceita ou normalizada. Principalmente frente ao novo cenário. Não há mais como aceitar um futuro senão de uma revolução que devolva a cidade para as pessoas.

Do ponto de vista da mobilidade urbana, a situação atípica de diminuição da quantidade de automóveis nas vias resgatou parte de uma cidade que já tivemos: menos colisões, mortes e atropelamentos; com diminuição da poluição sonora e atmosférica; redução de ocupação abusiva do espaço público e contenção de estressantes engarrafamentos. No futuro próximo, tornaremos a usar a cidade, mas não como antes.

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O transporte coletivo sofrerá limitações. e não poderá mais ser um espaço de confinamento. Aos carros, mesmo que se pretendesse ampliar o acesso, não haveria condições social, ambiental e espacial da fazê-lo. Menos mal. Pois já sabemos que, se o fizéssemos, estaríamos nos deixando arrastar para um labirinto de mazelas a ditar nossa vida. Este cenário prejudicará especialmente as parcelas mais vulneráveis da população, como mulheres e pessoas negras. A organização da mobilidade na cidade precisa ser revista para comportar mudanças.

Queremos cidades mais humanas. Com foco nas vidas, e não no fluxo de veículos. Com velocidades compatíveis com a sobrevivência. Com prioridade para segurança nos deslocamentos e nos encontros físicos. Queremos uma cidade com mais espaço para afetos.

Queremos cidades mais sustentáveis. Com menos poluição e baixo consumo de carbono. Sem o uso excessivo dos escassos recursos socioambientais. Com mais espaços verdes e naturais.

Queremos cidades mais democráticas. Com melhores ofertas para escolhas de modos de deslocamento. Com divisões mais justas do espaço entre os modos de transporte. Com menos privilégios sociais, raciais e de gênero. Com priorização de recursos a quem mais precisa.

A bicicleta é, sempre foi e será, parte essencial dessa revolução: a transformação das cidades em ambientes mais humanos, democráticos e sustentáveis. Não mata, não polui, é energética e espacialmente eficiente. É saudável, acessível, rápida e prática. Democrática, a bicicleta pode ser utilizada por todo tipo de gente: mulheres e homens, crianças e pessoas idosas, pessoas com restrições físicas, de diversas classes sociais. E, apesar disso, como reflexo de estruturas de poder tão desiguais, o risco gerado pelo uso dos veículos motorizados sempre dificultou a sua utilização. Portanto, para o uso massivo da bicicleta, é necessária a adaptação das estruturas da cidade para garantir a sua segurança. Queremos as ruas para todas as pessoas agora e queremos para sempre!