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Manifesto Médico Parte I - Hospital e Maternidade Vital Brasil - Timóteo -MGTRANSCRIPT
Manifesto Médico
À comunidade do Vale do Aço e cidades circunvizinhas, às autoridades públicas e privadas, aos
Conselhos Municipais de Saúde, ao CRM, ao CFM, à Promotoria Pública de Timóteo, e a todos
os cidadãos de bem e providos da capacidade de pensar
Pela primeira vez, e com muito pesar, o Corpo Clínico (médicos) do
Hospital e Maternidade Vital Brazil vem, por meio deste, manifestar
profunda tristeza e indignação para com as mazelas do Sistema de Saúde
do Vale do Aço.
Estamos vivendo um momento difícil. Com o fechamento do antigo
Hospital Siderúrgica, os demais hospitais foram profundamente
prejudicados. Especialmente o Hospital Vital Brazil, que passou a ser a
principal referência para os pacientes de Coronel Fabriciano e
microrregião.
Diante dessa realidade, a administração e o corpo clínico do
Hospital Vital Brazil tomaram inúmeras medidas para superar a crise do
Sistema de Saúde do Vale do Aço, na esperança de melhor atender às
vítimas do sistema – os pacientes. Assim, contratamos mais médicos, mais
enfermeiros, mais fisioterapeutas, mais materiais, medicamentos e
equipamentos. Nosso pronto-socorro passou de 4.000 atendimentos/mês
para 7.444/mês e os médicos e demais profissionais tiveram sua carga de
trabalho triplicada – pois os pacientes têm chegado ao hospital, cada vez
mais, e em piores condições de saúde.
Todos os esforços do Hospital Vital Brazil e seu Corpo Clínico nos
permitiram manter baixa a taxa de mortalidade hospitalar - apenas 3% de
mortalidade (valor invejado e desejado por muitas outras instituições
brasileiras e internacionais). No entanto, para isso, os custos do Hospital
se elevaram sobremaneira, culminando em meses subsequentes de
prejuízo financeiro e atrasos frequentes no pagamento de salários,
colocando-nos sob os mesmos riscos vividos pelo antigo HOSPITAL
SIDERÚRGICA – atualmente fechado.
E, diante de tudo isso, seguimos trabalhando com empenho, com
profundo desejo de ajudar a comunidade, tolerando, por misericórdia, as
condições que nos são impostas.
Imposições que são frutos de um omisso Poder Público e Privado, e
frutos de uma comunidade apática e de braços cruzados, que não sabe
fazer nada mais do que choramingar na porta do hospital. Não sabemos se
tal omissão é por pura e simples negligência, ou se é fruto de uma
inconsciente ignorância que não os permite ver além de seus umbigos.
As perguntas que o Corpo Clínico do Hospital Vital Brazil faz nesse momento são: (1)- Será que somos obrigados a caminhar solitários nessa luta pela melhora do sistema de saúde? (2)- Será que somos obrigados a seguir atendendo um número tão grande de pessoas sem responsabilizar as outras partes? (3)- Será possível fazer a comunidade enxergar que os médicos e o hospital são tão vítimas do SISTEMA quanto os próprios pacientes? (4)- Será possível motivar as Empresas Privadas a exercer seu poder de cobrança em prol de um sistema de saúde mais justo – enxergando que a adequada saúde coletiva é pilar fundamental para a tão falada sustentabilidade? (5)- Será possível desvincular completamente nosso hospital da politicagem e tratar essas questões de forma exclusivamente técnica – em busca do bem coletivo? (6)- Será possível médicos, pacientes, hospitais, empresas e conselhos municipais de saúde caminharem de mãos dados em busca do bem comum, pressionando adequadamente as omissas e negligentes autoridades? (7)- Ou será que teremos que seguir no caminho do individualismo, da ignorância, da apatia, da indiferença, da negligência até que o mal aconteça conosco ou com alguém de nossa família e, assim, seremos mais um a choramingar na porta dos hospitais.
“Nunca reclame daquilo com o que você consente” Mike Murdock
Vivemos um momento político caracterizado por uma prioridade
única e absoluta, ou seja, a prioridade na agenda de todos os atuais
políticos é usar todas as possíveis manobras e recursos para se manterem
nos cargos. Agora é hora de obras eleitoreiras, obras que aparecem aos
olhos do eleitor e mantêm os políticos nos cargos públicos. Sendo assim, e
mesmo diante da referida crise na Saúde, a Prefeitura de Timóteo optou
por reduzir os valores repassados ao Hospital Vital Brazil, agravando ainda
mais nossa crise, podendo culminar no fechamento de serviços, o que
prejudicará profundamente a população e a própria classe médica – as
partes que sempre pagam o preço do descaso.
Nesse momento, precisamos de mais recursos, e não menos.
Sabemos e admitimos que a Prefeitura de Timóteo não pode, e não deve,
ser a única envolvida em ajudar o Hospital Vital Brazil. Essa
responsabilidade é, em primeiro lugar, do Governo Estadual e,
posteriormente, de todos os municípios que têm o HOSPITAL VITAL BRAZIL
como a única porta de assistência à saúde de seus habitantes – isso é
justo. Apesar de envolvermos todos os municípios nessa responsabilidade,
julgamos que a redução de recursos por parte da Prefeitura de Timóteo
nesse momento de crise é uma conduta imprudente e, possivelmente,
negligente, pois acarretará grandes malefícios à comunidade.
O Corpo Clínico do Hospital Vital Brazil não está mais disposto a
carregar essa carga sozinho e manifesta essa insatisfação à comunidade,
informando a todos, que estamos prestes a não mais comparecermos em
nossos postos de trabalho, e pedimos apoio da comunidade, desde o mais
simples até o mais influente (empresas, associações, planos de saúde,
igrejas, conselhos municipais e a todo cidadão individualmente – a todos
dotados da capacidade de pensar), pois a falta de reação de nossa parte
tem prejudicado a vida e a saúde de muitas pessoas e famílias. Não é mais
possível continuar essa caminhada sem uma efetiva parceria entre
MÉDICOS E POPULAÇÃO – só assim poderemos nos livrar dessa
politicagem doentia que invadiu nova comunidade e nossa medicina.
“Basta que os homens bons não façam nada para que o mal triunfe”
Edmund Burke
Queremos desvincular completamente o Hospital e o trabalho
médico das questões políticas. Apesar da presença de médicos políticos no
Corpo Clínico, eles são minoria e incapazes de influenciar a maioria que
assina esse manifesto - maioria que não aguenta mais discussões
partidárias.
Precisamos sim, e aceitamos ajuda política para fazer a saúde de
nossa comunidade prosperar, e estamos abertos para discutir e rediscutir
de forma técnica e apolítica, com qualquer autoridade que manifestar o
honesto desejo de ajudar. Não podemos mais caminhar prejudicando a
vida de tantas pessoas por incompetência, omissão ou medo em discutir o
que precisa ser discutido.
Queremos envolver toda a comunidade nessa discussão (população
em geral, autoridades públicas e privadas, conselhos municipais de saúde,
igrejas e promotoria pública). Não queremos e não vamos mais caminhar
sozinhos nessa luta, estamos esgotados e precisamos da ajuda,
compreensão e apoio da comunidade.
Atenciosamente,
Corpo Clínico do Hospital e Maternidade Vital Brazil
Timóteo/MG – 27/06/2012