manejo de azevÉm resistente a glyphosate · de interferência dos herbicidas na cultura, o que...

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MANEJO DE AZEVÉM RESISTENTE A GLYPHOSATE SEMEANDO O FUTURO

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MANEJO DE AZEVÉM RESISTENTEA GLYPHOSATE

S E M E A N D O O F U T U R O

Os biótipos resistentes adquirem a

capacidade de sobreviver a determinadas

doses de herbicidas que, sob condições

normais, seriam letais para a população

sensível (VARGAS et al., 2006). As primeiras

suspeitas de resistência de azevém ao

glyphosate ocorreram em 2002 nos

municípios de Tapejara e Capão Bonito,

no Rio Grande do Sul (TOCCHETTO, et al.).

O aumento da população de biótipos

resistentes nas lavouras do Sul do

país evidencia a necessidade de

práticas de manejo voltadas para

o controle desses organismos

resistentes, a fim de mitigar as

reduções de produtividade causadas

por eles. Com esse enfoque,

trataremos neste Agronômico

do manejo de azevém resistente

ao glyphosate.

O azevém (Lolium multiflorium) é uma

espécie de ciclo anual muito utilizada

em sistemas de integração lavoura–

pecuária, como forrageira e formadora de

palhada para o plantio direto. A espécie,

de clima temperado, possui distribuição

predominante nos estados da região Sul,

principalmente no Rio Grande do Sul. A

comodidade e a facilidade de controle

propiciadas pelo herbicida glyphosate

geraram a utilização em massa do

mesmo mecanismo de ação (inibidor da

enzima EPSPS). Apesar de o produto ter

baixo risco de causar seleção, surgiram

biótipos resistentes a esse mecanismo.

Vale ressaltar que o herbicida não torna a

planta resistente (a resistência é originada

pela variação genética natural da planta),

o herbicida torna-se o agente selecionador

devido à sua utilização indiscriminada.

S E M E A N D O O F U T U R O

INTRODUÇÃO

COMPORTAMENTO DA ESPÉCIE

Figura 1 - Biótipo resistente de azevém.

S E M E A N D O O F U T U R O

Foto

: Gal

van, J

.

O azevém (Lolium multiflorium)

caracteriza-se pelo ciclo longo, que

varia de 120 a 150 dias (VARGAS &

ROMAN, 2006), comparativamente a

outra espécie forrageira de inverno,

a aveia. A produção de matéria seca

pode chegar a 15 t ha-1 (ASSMAN,

2002), com picos principalmente

quando as temperaturas começam a

se elevar (início da primavera), entre

20°C e 25°C. A espécie possui fácil

dispersão de sementes, tanto por

animais quanto pela troca de sementes

entre agricultores (BIANCHI, 2008).

Além disso, as sementes apresentam

alto potencial de ressemeadura (na

medida em que as condições climáticas

estiverem favoráveis), resistência a

doenças, potencial de produção de

sementes e uso em consórcios.

Os indivíduos sensíveis e resistentes

diferenciam-se em características

morfológicas, o que pode facilitar a

identificação dos biótipos em campo.

Biótipos resistentes acumulam menos

matéria seca, devido ao menor

perfilhamento; consequentemente,

a produção de sementes é menor

(Figura 1), comparativamente a biótipos

sensíveis. Por esse motivo, indivíduos

sensíveis possuem maior probabilidade

de estabelecimento em áreas agrícolas,

desde que o manejo de herbicidas seja

feito de forma correta.

Foto

: Gal

van, J

.

de seu desenvolvimento (MONSANTO),

quando há poucos perfilhos e a absorção

de herbicidas é facilitada. O manejo do

azevém pós-florescimento torna-se mais

difícil (NEVES et al., 2010).

não exclui a necessidade de utilização

do glyphosate para o manejo de espécies

dicotiledôneas (folhas largas).

O manejo de dessecação em áreas de

elevada incidência de biótipos resistentes

pode ser realizado em duas etapas antes

da semeadura da cultura, utilizando-se

mecanismos de ação diferentes (seletivos

e não seletivos). O objetivo dessa prática

é eliminar indivíduos de maior porte na

primeira aplicação e os remanescentes

na segunda, além da rotação de modos

de ação dos herbicidas.

De maneira geral, biótipos sensíveis

demonstram o efeito da atuação dos

herbicidas mais rapidamente que

os resistentes. A época de maior

sensibilidade do azevém está no início

O controle de azevém, tanto o resistente

quanto o sensível, pode ser realizado com

graminicidas (Tabela 1). Em cultivos

de inverno, como o trigo, a utilização de

herbicidas seletivos é recomendada – entre

eles podem-se citar o idosulfuron-metílico

e o clodinafop-propargil, com bom controle

de azevém resistente (VARGAS & ROMAN,

2006). Em casos de elevada infestação, o

manejo de dessecação antecipadamente

à implantação da cultura pode ser feito,

tendo como alternativa herbicidas não

seletivos. A utilização de graminicidas

S E M E A N D O O F U T U R O

ÉPOCA DE MANEJO

PRODUTOS RECOMENDADOS

Tabela 1 - Herbicidas

graminicidas e não seletivos

que controlam azevém

resistente ao glyphosate

(fonte: Vargas et al.1

e Monsanto).

• Compra de sementes certificadas

e de qualidade.

• Utilização de cultivares

mais competitivos.

• Limpar máquinas e implementos

para evitar a disseminação de sementes

e propágulos.

Na cultura do milho, a perda ocasionada

pela interferência de plantas daninhas

pode chegar a 80% (VARGAS et al.,

20062). A interferência entre espécies

da mesma família é maior do que em

relação às espécies de outras famílias

(Figura 2). Com relação ao controle

de azevém no milho, as triazinas e o

nicosulfuron são boas alternativas de

controle, avaliando-se sempre os períodos

de interferência dos herbicidas na cultura,

o que evita a fitotoxicidade pós-aplicação.

Aplicações de herbicidas com 20 a 30

dias de antecedência geram menor efeito

competitivo e alelopático sobre a cultura.

O controle de outras espécies daninhas

em pós-emergência do milho pode ser

facilitado pela inserção de cultivares RR no

sistema de produção.

• Rotação de princípios ativos

de herbicidas.

• Realizar aplicações sequenciais

de herbicidas com diferentes

mecanismos de ação.

• Rotação de culturas.

• Monitorar indivíduos resistentes.

• Utilizar práticas que propiciem

a redução no banco de sementes

e evitem reposições.

A implantação de cultivos sem a

interferência de plantas remanescentes

da dessecação é essencial para a

manutenção do potencial produtivo.

A cultura do azevém tem o benefício

de interferir, por meio de substâncias

alelopáticas, no estabelecimento das

culturas subsequentes, além da formação

de palhada para o sistema plantio direto.

Para exemplificar essa interferência, se

na cultura do trigo houver a dessecação

de azevém sete dias antes da semeadura,

poderá haver redução de 12% a 17% da

população de plantas e de até 10% da

produtividade da cultura (BIANCHI, 2008).

O planejamento da época de manejo do

azevém em pré-semeadura da cultura

principal deve ser avaliado, a fim de evitar

efeitos alelopáticos e/ou residuais do

herbicida na cultura principal.

S E M E A N D O O F U T U R O

INDICAÇÕES DE MANEJO PREVENTIVO

VARIAÇÃO DE MANEJO EM MILHO E SOJA

temperatura, limitando o crescimento

do azevém.

O controle de azevém na soja, como

recomendação geral, pode ser realizado

em duas etapas que antecedem a

semeadura da soja, explicadas no item

“Produtos recomendados”. O controle

de azevém em pós-emergência

da soja pode ser realizado através

de aplicações de herbicidas inibidores

de ACCase.

A interferência do azevém na soja é

reduzida, ocasionada principalmente

pela implantação do cultivo da

soja ocorrer mais tardiamente em

comparação à do milho, com isso há

diminuição de biótipos resistentes

devido à senescência natural da espécie

daninha. Além disso, o controle do

azevém remanescente na soja é facili-

tado pela diferença das características

de estabelecimento e pelo aumento da

S E M E A N D O O F U T U R O

VARIAÇÃO DE MANEJO EM MILHO E SOJA

Figura 2 - Plantas de milho em competição com azevém.

Foto

: Gal

van, J

.

ASSMAN, A. L. Adubação nitrogenada de forrageiras

de estação fria em presença e ausência de trevo

branco, na produção de pastagem e animal

em área de integração lavoura-pecuária. UFPR,

Curitiba, 2002.

BIANCHI, M. A. Manejo e controle de azevém

resistente ao glifosato. Informativo, ANO XV, NO 01,

JUNHO/2008.

MONSANTO. Manejo de Plantas Daninhas

Resistentes a Herbicidas. Disponível em: <http://

www.monsanto.com.br/produtos/stewardship/

pdf/folheto-manejo-resistencia. pdf>. Acesso em:

fev. 2014.

NEVES, R., et al. Eficiência do herbicida haloxyfop

methyl no controle de azevém resistente ao

glyphosate e sua seletividade a cultura da uva.

XXVII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas

Daninhas - Julho/2010 - Centro de Convenções -

Ribeirão Preto - SP.

ROMAN, E. S.; VARGAS, L.; RIZZARDI, M. A.; MATTEI,

R. W. Resistência de azevém (Lolium multiflorium)

ao herbicida glyphosate. Planta Daninha, Viçosa, v.

22, n. 2, p. 301-306, 2004.

Referências:

Renato Trentin Saulo Tocchetto

Em caso de dúvidas ou necessidade de mais informações sobre o assunto, procure o TD mais próximo.

S E M E A N D O O F U T U R O

TOCCHETTO, S., et al. Resistência da planta daninha

azevém (Lolium multiflorium lam) ao herbicida

glyphosate na região Sul do Brasil. Disponível em:

<http://www.monsanto.com.br/sala_imprensa/

estudos/pdf/xxivcongresso/496.pdf>. Acesso em:

fev. 2014.

VARGAS, L.; GAZZIERO, D. L. P. & KARAM, D. Evolução

e manejo da resistência de plantas daninhas ao

glifosato no Rio Grande do Sul. Disponível em:

<http://www.cnpt.embrapa.br/transferencia/

artigos/Selecao%20especies%20Revista%20Cultivar.

pdf>. Acesso em:fev. 2014.

1VARGAS, L.; ROMAN, E. S.; RIZZARDI, M. A. &

TOLEDO, R. E. B. Manejo de azevém resistente ao

glyphosate em pomares de maçã com herbicida

select (clethodim). Revista Brasileira de Herbicidas,

Passo Fundo - RS, Nº 1, p. 30 - 36, 2006.

2VARGAS, L.; PEIXOTO, C. M. & ROMAN, E. S. Manejo

de plantas daninhas na cultura do milho. Embrapa

Trigo, Doc. 61, set./2006.

VARGAS, L. & ROMAN, E. S. Características e manejo

de azevém resistente ao glyphosate. Doc. 59,

ago./2006.

Colaboradores: Antônio Ferreira e Guy Tsumanuma

Revisores: João A. Oliveira Jr., Ana Claudia Santos, Alexandre Dessbesell e Guilherme Barros

Autores: