mandado de segurança

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Página | 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL/RN, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL XXXXX XXXX XXXXX, brasileira, divorciada, secretária, inscrita no RG sob o nº x.xxx SSP/RN e CPF sob o nº xxx.xxx.xxx-xx, residente e domiciliada na Rua Santa Maria, 07, Cidade da Esperança, Natal/RN - CEP: 59.071-460, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado constituído pelo instrumento de procuração anexo e que recebe intimações de foro em geral em seu endereço profissional sito na Av. XXX, nº XXX, XXXX, XXXX/XXX CEP: XX.XXX-XXX, com fundamento no artigo 5º, LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil e na Lei 12.016 de 2009, impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR contra ato ilegal praticado pela Ilustríssima Sra. ALOMA TEREZA FONSECA - DIRETORA DA MATERNIDADE DAS QUINTAS, localizada na Rua Paiatis, s/n, Quintas, Natal/RN CEP: 59.037-150 e do SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE DE NATAL/RN, que pode ser encontrado na sede da secretaria Municipal de Saúde de Natal, localizada na Rua João Pessoa, nº 634 11 s 4, Cidade Alta, Natal/RN CEP: 59.025-500, consubstanciado nos fundamentos fáticos e jurídicos adiante expostos:

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Page 1: Mandado de Segurança

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO

DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE

NATAL/RN, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL

XXXXX XXXX XXXXX, brasileira, divorciada, secretária, inscrita no RG

sob o nº x.xxx SSP/RN e CPF sob o nº xxx.xxx.xxx-xx, residente e domiciliada na Rua

Santa Maria, 07, Cidade da Esperança, Natal/RN - CEP: 59.071-460, vem

respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado constituído pelo

instrumento de procuração anexo e que recebe intimações de foro em geral em seu

endereço profissional sito na Av. XXX, nº XXX, XXXX, XXXX/XXX – CEP:

XX.XXX-XXX, com fundamento no artigo 5º, LXIX, da Constituição da República

Federativa do Brasil e na Lei 12.016 de 2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

contra ato ilegal praticado pela Ilustríssima Sra. ALOMA TEREZA FONSECA -

DIRETORA DA MATERNIDADE DAS QUINTAS, localizada na Rua Paiatis, s/n,

Quintas, Natal/RN – CEP: 59.037-150 e do SECRETÁRIO MUNICIPAL DE

SAÚDE DE NATAL/RN, que pode ser encontrado na sede da secretaria Municipal de

Saúde de Natal, localizada na Rua João Pessoa, nº 634 – 11 s 4, Cidade Alta, Natal/RN

– CEP: 59.025-500, consubstanciado nos fundamentos fáticos e jurídicos adiante

expostos:

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PRELIMINARMENTE

A impetrante pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurada nos

termos do artigo 5º da Constituição Federal e das leis 1.060/50 e 7.510/86, em razão de

se tratar de pessoa hipossuficiente, não tendo meios de custear as despesas processuais,

sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

I – DOS FATOS

A pretensão da autora, consistente em manter a presença de um acompanhante,

por ela indicado, durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto, está

amparada na legislação vigente, como também, que seja autorizado à realização de

gravação do parto pelo seu acompanhante.

O acompanhante não irá interferir nos trabalhos, mas, apenas assisti-los e

registrando em câmera de vídeo o momento do parto, respeitando as orientações da

equipe médica, regras sanitárias, de comportamento e sossego do local, bem como o

médico responsável deverá zelar pela boa interação médico/paciente, garantindo o

sucesso do procedimento.

A ora impetrante entrou em contato com a médica Dra. Bianca Nunes – CRM

4390 e com a diretora da maternidade das quintas, a fim de obter informações

necessárias para a realização do parto de sua filha, inclusive quanto ao direito de ter um

acompanhante do sexo masculino, no caso, o companheiro da impetrante e pai de sua

filha, durante todo o procedimento de acordo com o previsto na Lei 11.108/05.

Contudo, em resposta ao questionamento, a diretora impetrada informou que não

seria possível que a parturiente tivesse o acompanhamento de alguém do sexo

masculino e, que só poderiam ser registradas as fotos do parto, não sendo admissível a

gravação em vídeo.

A diretora da maternidade proibiu o acompanhamento do parto e gravação em

vídeo pelo acompanhante sem apresentar justificativas. A impetrante apresenta uma

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gestação de 34 (trinta e quatro) semanas, estando previsto o nascimento de sua filha

para o final do mês de outubro de 2012.

Requerendo, que a autoridade impetrada seja compelida a permitir que a

impetrante tenha ao seu lado um acompanhante por ela indicado, durante o trabalho de

parto, parto e pós-parto imediato, nos termos da Lei n° 11.108/05.

II – DO DIREITO

Estudos científicos comprovam: a presença de uma acompanhante por ocasião

do parto traz diversos benefícios, como diminuir as taxas de cesárea, diminuir a duração

do trabalho de parto, diminuir os pedidos de anestesia, além de ajudar a evitar a

depressão pós-parto e influenciar positivamente na formação dos laços afetivos

familiares, caso o pai ocupe esta posição de destaque.

Em vista disso, podemos concluir que a presença de um (a) acompanhante no

parto traz benefício para todos: para a criança, para a gestante, de certa forma para toda

a família e também para a equipe médica que realiza o parto.

Com este objetivo em vista, foi sancionada a lei n.º 11.108/2005, a qual altera a

Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (lei do SUS), para garantir as parturientes o

direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto

imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. A alteração foi à inclusão dos

seguintes dispositivos:

CAPÍTULO VII

DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DURANTE O

TRABALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO

Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da

rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença,

junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de

trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.

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§ 1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado

pela parturiente.

Não obstante, está em vigor a Resolução da Diretoria Colegiada N° 36, DE 3

DE JUNHO DE 2008, da ANVISA, a qual dispõe sobre Regulamento Técnico para

Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal, cujo item 9.1 prevê

que "o Serviço deve permitir a presença de acompanhante de livre escolha da mulher

no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato."

A Lei Federal nº 11.108/05, a Resolução da Diretoria Colegiada nº 36/2008 da

ANVISA e a Resolução Normativa nº 211/10 da ANS não faz qualquer distinção de

sexo no tocante ao acompanhante escolhido pela parturiente.

Destarte, a posição previamente assumida pela autoridade coatora fere o

direito líquido e certo da impetrante, consagrado na legislação regente da matéria.

III – DA LEGITMIDADE PASSIVA

O polo passivo da presente demanda deve ser ocupado pela Autoridade Pública

responsável pela omissão indevida a que submetida a impetrante, e, principalmente, pela

Autoridade que detenha, dentre suas atribuições, autoridade para sanar a ofensa ao

direito líquido e certo.

Ora, como é cediço, o Secretário Municipal de Saúde de Natal, responsável pelas

unidades de saúde daquele município, a qual submetida a impetrante para o pré-natal e o

parto, é a Autoridade máxima na referida pasta do governo do Município da Capital

deste Estado, cabendo a ele, em última análise, determinar a expedição de documentos e

informações por parte de seus subordinados para o aclaramento da situação de todos

aqueles que se encontram em tratamento perante os órgão públicos de saúde daquele

ente federativo.

A corroborar o entendimento supra, valemo-nos das lições do inexcedível

PEDRO LENZA, in verbis:

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A autoridade, portanto, é o agente público investido de poder de decisão

para anular o ato atacado ou para suprir a omissão lesiva de direito

líquido e certo do impetrante, não se confundindo, portanto, com o

mero executor.

Por esse caminho também trilha o E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,

consoante se verifica do excerto jurisprudencial abaixo transcrito:

LEGITIMIDADE. Autoridade tida por coatora. Pensão

previdenciária. Cancelamento. Ato determinado em acórdão do

Tribunal de Contas da União. Legitimação passiva exclusiva deste.

Execução por parte do Gerente Regional de Administração do

Ministério da Fazenda. Irrelevância. Autoridade tida por coatora,

para efeito de mandado de segurança, é a pessoa que, in statu

assertionis, ordena a prática do ato, não o subordinado que, em

obediência, se limita a executar-lhe a ordem (sem grifos no original)

(MS 24927/RO, Rel. Min. CÉZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julg.

28/09/2005). Passiva. Mandado de segurança.

Pelo exposto, goza a autoridade impetrada, de inteira legitimidade passiva para

figurar no polo passivo da presente demanda.

IV – DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO

Dispõe o art. 5º, inciso LXIX da Constituição Federal: Conceder-se-á mandado

de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus

ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for

autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público.

Assim, a Lei Fundamental alçou à categoria de direito fundamental a concessão

de mandado de segurança, quando se verificar ofensa a direito líquido e certo por ato

Page 6: Mandado de Segurança

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ilegal ou abusivo de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de

atribuições do Poder Público.

Comentando o dispositivo constitucional supra-aludida, assevera o festejado

ALEXANDRE DE MORAES: O mandado de segurança é conferido aos indivíduos

para que eles se defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder,

constituindo-se verdadeiro instrumento de liberdade civil e liberdade política.

Assim sendo, o presente remédio constitucional tem por finalidade salvaguardar

os direitos fundamentais de todo e qualquer cidadão, quando se encontrar perante

situação de ilegalidade ou abuso de poder cometido por autoridade pública ou agente de

pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Nesse sentido, dispõe o art. 5º da Constituição Federal: XXXV - a lei não

excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

No caso em tela, patente a privação a que está sendo submetida a paciente de um

seu direito líquido e certo, consubstanciado no seu direito de ter a presença

de acompanhante de livre escolha no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-

parto imediato.

V – DA MEDIDA LIMINAR

Faz-se saber que se encontram existentes os pressupostos legais para que haja o

deferimento da medida liminar, qual seja: o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Por fumus boni iuris entende-se o direito proclamado, ou sua fumaça, sua

aparência, que, diante da situação, se afigura no sentido de que com o ato omissivo da

impetrada, negou-se a impetrante um seu direito legítimo, alçado à categoria de direito

fundamental.

De outro viés, em um segundo prisma de enfoque, por encontrar-se em período

final de gestação, tal fato ‘de per si’ recomenda que o perigo da demora da prestação

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jurisdicional possa pôr em risco o direito de ter consigo, durante todo o período de

trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, um acompanhante de sua livre escolha

(‘periculum in mora’), o quê, a toda evidência, pode pôr em risco a ineficácia do

provimento jurisdicional principal.

É que, a indevida proibição de permanência em sala de parto a despeito de

representar um ‘contra sensu’ em relação aos objetivos estabelecidos pelo

ministério da saúde, quais sejam, melhoria da qualidade do atendimento às

gestantes e humanização dos partos no país, acarreta em lesão à direito garantido

pela lei de n.° 8.080/1990, alterada pela lei n.° 11.108/2005, bem como à própria

constituição federal que em seu artigo 1.°, inciso III dispõe como fundamento da

república a dignidade da pessoa humana, de tal sorte a motivar enormes efeitos

negativos, que não podem ser dilatados até o julgamento final da lide.

Assim, da forma que se apresenta a situação, em que a plausibilidade do direito

invocado — caracterizado pela circunstância de que a impetrante encontra-se em estado

avançado de gravidez — (‘fumus boni iuris’) e o perigo na demora da prestação

jurisdicional — corporificado pelo risco que a proibição de permanência de

acompanhante em sala de parto pode causar — (‘periculum in mora’), se encontram

perfeitamente configurados, entendo que a concessão do pedido liminar é medida que se

impõe.

Ante o exposto, requer a tutela de urgência, nos moldes em que foi

deduzido, para o fim de determinar que a autoridade coatora autorize a

permanência de acompanhante, à escolha da impetrante sem distinção de sexo, em

sala de parto, durante o trabalho de parto, o parto e o pós-parto imediato [art.19-

J, § 1.° da lei 8.080/1990], bem como, autorização para o acompanhante registrar

em câmera vídeo o momento do parto, fazendo consignar que o descumprimento

da ordem judicial acarretará em multa diária em valor a ser fixado por Vossa

Excelência e incursão no delito de desobediência.

Evidenciado a presença dos pressupostos legais autorizadores da liminar,

necessário se faz o seu deferimento.

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VI – DO PEDIDO

Face ao exposto, requer:

a) O deferimento da liminar para determinar ao Secretário

Municipal de Saúde de Natal e a Diretora da Maternidade das

Quintas, autorize a permanência de acompanhante, à escolha da

impetrante sem distinção de sexo, em sala de parto, durante o

trabalho de parto, o parto e o pós-parto imediato [art.19-J, § 1.° da

lei 8.080/1990], tudo no prazo de 24 (vinte e quatro horas), bem

como, autorização para o acompanhante registrar em vídeo o

momento do parto, sob pena de incidir em multa diária em valor a

ser fixado por Vossa Excelência e incursão no delito de

desobediência;

b) a intimação da Autoridade Coatora, o Secretário de Saúde do

Município de Natal e a Diretora da Maternidade das Quintas, para prestar

informações que entender cabíveis no prazo de 10 (dez) dias, nos termos

do artigo 7º, inciso I, da Lei 1.533/51;

c) Também, a intimação do Ministério Público para ofertar seu Parecer;

d) Ao final, tornar definitiva a liminar requerida, concedendo a ordem a

fim de que possa a impetrante ter a permanência de acompanhante, à sua

escolha sem distinção de sexo, em sala de parto, durante o trabalho de

parto, o parto e o pós-parto imediato [art.19-J, § 1.° da lei 8.080/1990],

bem como, autorização para o acompanhante registrar em vídeo o

momento do parto;

e) Sejam concedidos a impetrante os benefícios da JUSTIÇA

GRATUITA, assegurada nos termos do artigo 5º da Constituição Federal

e das leis 1.060/50 e 7.510/86, em razão de se tratar de pessoa

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hipossuficiente, não tendo meios de custear as despesas processuais, sem

prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Protesta pela juntada dos documentos em anexo, a fim de que possa surtir os

efeitos legais.

Dá-se à causa, para efeitos legais, o valor de R$1.000,00 (mil reais).

Nestes termos,

E. deferimento.

Natal/RN, 17 de setembro de 2012.

ADVOGADO

OAB