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Maceió2019

2ª edição

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SENAC/ALAGOAS

Wilton Malta de AlmeidaPresidente da Federação do Comércio do Estado de Alagoas

Presidente do Conselho Regional do Senac Alagoas

Telma Maria Ribeiro GuimarãesDiretora Regional

Marco Antonio Santos da SilvaDiretor de Educação Profissional

Maria Ivanilda da Silva MendesDiretoria de Administração e Serviços

Jádsia Maria Silva BuarqueDiretoria de Finanças

CONSELHO EDITORIAL

PresidenteProfa. Dra. Maria Stela Torres Barros Lameiras

MembrosProfa. Dra Adriana Cláudia Turmina – SENAC/SC

Prof. Esp. Sandro Soares Diniz – SENAC/ALProf. Dr. Aristóteles da Silva Oliveira – SENAC/AL

Profa. Ms. Manuella Souza de Oliveira – SENAC/AL Profa. Esp. Anne Rafaela Acioli – SENAC/AL

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Sandro Soares DinizAristóteles da Silva Oliveira

Manuella Souza de Oliveira PereiraAnne Rafaela Lima Acioli

(Organizadores)

Maceió2019

2ª edição

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

ReitoraMaria Valéria Costa Correia

Vice-ReitorJosé Vieira da Cruz

Diretor da EdufalLídia Ramires

Conselho Editorial EdufalLídia Ramires (Presidente)

Fernanda Lins de Lima (Secretária)Adriano Nascimento Silva

Ana Cristina Conceição SantosCid Olival Feitosa

Cristiane Cyrino Estevão OliveiraRicardo Carvalho Cabús

Talvanes Eugênio MacenoTania Marta Carvalho dos Santos

Nilton José de Melo Resende

Coordenação Editorial: Fernanda Lins de Lima

Revisão: Maria Stela Torres Barros Lameiras

Editoração eletrônica, capa e programação visual:Helberth Kennedy Araújo de Oliveira

Editora afiliada:Direitos desta edição reservados àEdufal - Editora da Universidade Federal de AlagoasAv. Lourival Melo Mota, s/n - Campus A. C. SimõesCentro de Interesse Comunitário - CICCidade Universitária, Maceió/AL Cep.: 57072-970 Contatos: www.edufal.com.br | [email protected] | (82) 3214-1111/1113

Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas

Departamento de Tratamento Técnico da Editora da Ufal D286 Debates pedagógicos: práticas pedagógicas: metodologias de ensino e aprendizagem na educação profissional / Sandro Soares Diniz ... et al. organizadores. – 2.ed. – Maceió: EDUFAL, 2019. 216 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-5913-164-2. 1. Educação. 2. Educação profissional. 3. Docência. 4. Competência. I. Diniz, Sandro Soares, org. II. Oliveira, Aristóteles da Silva, org. III. Pereira, Manuella Souza de Oliveira, org. IV. Acioli, Anne Rafaela Lima, org.

CDU: 371.13

Bibliotecária responsável: Fernanda Lins de Lima

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Convite à Leitura

Prefácio

Agradecimentos

Apresentação

Modelo Pedagógico Senac: Reflexões e ApontamentosSandro Soares Diniz, Anne Rafaela Lima Acioli, Manuella Souza de Oliveira Pereira, Aristóteles da Silva Oliveira

Educação Profissionalizante: Desafio Constante em Busca da QualidadeElizete Alves Piancó

O Modelo Pedagógico Senac como Fio Condutor do Aprendizado para o Mercado de Trabalho: uma Experiência no Curso de Assistente Administrativo do Senac/ALJosé Renan da Silva Laurentino e Raphael de Oliveira Freitas

Aprendizagem: Um Processo de Troca e TransformaçãoLavínia Caroline de Oliveira Lins

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SUMÁRIO

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97 O Uso do Diário de Bordo no Processo de Avaliação: Memórias e Reflexão de AprendizesLeila Carla dos Santos Quaresma

A Contribuição do Modelo Pedagógico Senac no Desenvolvimento de Avaliações e Medidas de Controle do Risco Físico/Ruídos nas Aulas do Curso de TST do Senac/ALMarlos Alan Pereira Santos

Construindo a Realidade: Simulações como Metodologia de Ensino e AprendizagemNívea Pereira Cavalcante Silva

Planejamento Docente na Unidade Curricular de Estágio da Área de TurismoThaciane Alves Magalhães

Treinamento e Desenvolvimento: Aprendendo e Vivenciando com o CotidianoThaise Thiciane Oliveira Sena

O Modelo Pedagógico Senac e o Desafio da Formação Docente no Desenvolvimento de CompetênciasValdilene Cardoso de Barros

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09Debates Pedagógicos - 2ª edição

CONVITE À LEITURA

O Senac enquanto instituição de Educação Profissional está na vanguarda na formação de profissionais com excelência para atuar no Mundo do Trabalho, em Alagoas, no ano de 2018 completou 70 anos. Após sete décadas, o Senac Alagoas qualificou aproximadamente um milhão e duzentos mil profissionais em diversos segmentos do setor de comércio de bens, serviços e turismo por meio de programações diversificadas, sendo dentre elas, o de maior relevância o Programa Senac de Gratuidade (PSG) que neste ano completa 10 anos atendendo à população de baixa renda. Diante dos desafios e mudanças abruptas na sociedade e no mundo do trabalho contemporâneo o Senac reforça seu compromisso e missão de formar profissionais em sintonia com as transformações em curso com estrutura e espaços pedagógicos e laboratoriais de ponta para oferecer aos alunos desde o primeiro momento por meio de uma metodologia com foco no desenvolvimento de competências, integração entre teoria e prática profissional. Nesse cenário, os docentes da instituição com ampla expertise no mercado de trabalho e formação condizente com os princípios e valores da instituição, desempenham papel crucial na formação integral dos alunos e sua preparação para inserção no mundo do trabalho com valores éticos e morais esperados pelas empresas ou por aqueles que buscam empreender. Nesse contexto, a publicação do segundo livro reafirma o compromisso institucional com educação de qualidade e excelência. É com grande prazer que convidamos a leitura e reflexão do segundo volume da série debates pedagógicos. A atual edição é dedicada a divulgação de práticas pedagógicas voltadas para o desenvolvimento de competências e a aprendizagem na Educação Profissional. Ao estimado leitor, o tema contribuirá para a compreensão da importância da educação para o trabalho e sua relação como o desenvolvimento local, focando aspectos relevantes do Modelo Pedagógico Senac, a publicação apresentará experiências exitosas realizadas nos ambientes de aprendizagem do Senac Alagoas.

Wilton MaltaPresidente Fecomércio Senac e Sesc

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11Debates Pedagógicos - 2ª edição

PREFÁCIO

É isso que quero transmitir aos alunos. Os livros são poderosos instrumentos de transformação. E quanto mais interesses eu tiver, mais interessante eu fico, minha conversa tem o que dizer e meu olhar forma links. (Lendro Karnal)

A elaboração do 2º volume da Série Debates Pedagógicos decorre da necessidade de socializar os saberes e experiências advindas da prática docente, valorizando seu papel na instituição e também como ferramenta de divulgação à sociedade das experiências educacionais vivenciadas em sala de aula. Partindo do pressuposto que a finalidade do Senac é proporcionar ao educando bases técnico-científicas com ampla visão de sua prática no mundo do trabalho a fim de que possa interagir na sociedade e promover mudanças, com valores éticos, criatividade e senso crítico, e, considerando o docente como agente fundamental nesse processo verificou-se a necessidade da elaboração do 2º volume com a proposta de refletir sobre a renovação das práticas pedagógicas com a implantação do Modelo Pedagógico do Senac (MPS). Os artigos publicados nesta edição tem caráter descritivo e reflexivo acerca das vivências pedagógicas dos docentes com foco no MPS. O modelo congrega as “concepções orientadoras das práticas pedagógicas realizadas nos ambientes de aprendizagem do Senac” com foco no desenvolvimento de competências e na formação humana integral. A Série Debates Pedagógicos com a temática Práticas Pedagógicas: metodologias de ensino e aprendizagem na Educação Profissional brinda os leitores com apontamentos e reflexões que retratam os dilemas e desafios das práticas pedagógicas vivenciadas na instituição pautadas no desenvolvimento de competências que implica numa práxis educativa no “qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer”.

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12 Debates Pedagógicos - 2ª edição

À guisa de conclusão, agradecemos aos leitores deste livro e, em tempo, desejamos que os trabalhos aqui publicados contribuam para um olhar reflexivo e transformador de práticas educativas inovadoras e criativas comprometidas com uma educação profissional de qualidade e excelência.

Telma Ribeiro Diretora Regional do Senac Alagoas

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13Debates Pedagógicos - 2ª edição

AGRADECIMENTOS

A educação no século XXI não pode prescindir de uma formação crítica, reflexiva, autônoma e criativa do estudante, consciente de seus direitos e deveres e do papel que podem desempenhar na promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, a formação atual precisa estar em consonância com as novas demandas do mundo do trabalho, ademais o aumento das exigências profissionais no século XXI implica na redefinição do perfil laboral dos sujeitos em diálogo com a crescente substituição de atribuições do trabalho individualizado por atribuições do trabalho em equipe; da rigidez de horários fixos para atividades mais flexíveis; da lógica linear para a lógica complexa. Essas mutações refletem nos espaços edu-cativos com propostas de alteração nos currículos. Para uma economia baseada na informação é essencial a definição de novos marcos conceituais e teóricos que respondam ao desenvolvimento econômico, científico, cultural e tecnológico atual. Portanto, uma das principais tarefas da sociedade contemporânea será a de repensar as atividades vinculadas a produção do saber. Nesse cenário, a publicação desse livro dissemina as práticas pedagógicas vivenciadas pelos docentes da Educação Profissional no Senac/Alagoas. Agradecemos aos idealizadores e envolvidos com a publicação pela dedicação e empenho para disseminar experiências pedagógicas baseada nas metodologias de ensino e aprendizagem ativas praticadas na instituição. Fazemos questão de registrar aqui nossos agradecimentos especiais aos docentes que se propuseram a compartilhar de suas experiências construídas no desenvolvimento da prática pedagógica, em situações desafiadoras de educar para o trabalho com ética e responsabilidade social.

Marco Antonio Santos da SilvaDiretor de Educação Profissional do Senac Alagoas

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APRESENTAÇÃO

As últimas décadas podem ser consideradas profícuas no que ser refere ao fortalecimento do papel do professor na relação de aprendizagem. O redimensionamento nas demandas do mercado de trabalho sobre como se formam os alunos nas instituições educacionais, ecoaram sobretudo na educação profissional a partir dos anos 1990. Desde então, temos um verdadeiro clamor para que as aulas não sejam motivadas por respostas “prontas”, vinculadas aos saberes decorados, mas que sejam planejadas de forma a envolver os alunos a elaborar perguntas, que aprendam por meio de situações-problemas, que desenvolvam competências consolidando aprendizagens como contributos à sociedade. O desenvolvimento de competências no Senac demarca o entendimento do trabalho como princípio educativo o que implicou ressignificar o aluno como centro da proposta pedagógica, investindo em reflexões sobre os fazeres profissionais exercitados, o que constitui a essência das orientações do Modelo Pedagógico Senac para o planejamento docente. Reforçando esta forma de conceber a educação profissional, lembramos as palavras de António Nóvoa (Lisboa) em sua palestra proferida na 9ª. Jornada Catarinense de Tecnologia Educacional - Jornatec de 2011, em Florianópolis/SC, afirmando que “Nada substitui um bom professor”. Temos assim, um apelo para se pensar o papel educador do professor o que implica, uma relação ainda mais próxima do aluno. Para que essa relação seja construída e mantida, o processo de ensino e aprendizagem deve ganhar novo sentido e ser planejado de modo que o aluno se sinta motivado, ativo e, numa perspectiva conjunta, acompanhe seus avanços numa avaliação contínua e formativa. Este preambulo é um “abre alas” ao Livro Debates Pedagógicos Práticas Pedagógicas: metodologias de ensino e aprendizagem na Educação Profissional, que está em sua segunda edição, o que merece ser enaltecido, uma vez que o Serviço Nacional de aprendizagem Comercial em Alagoas – Senac/AL, por meio de sua educação corporativa tem incentivado a produção teórico-científico de sua equipe educacional, visando socializar as práticas didático-pedagógicas desenvolvidas em suas Unidades Educacionais.

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Este pode ser considerado, sem dúvida, um espaço privilegiado de reflexões do que envolve a aprendizagem no Modelo Pedagógico Senac. Temos, nesta publicação, a composição de nove artigos dos quais participam docentes e pedagogos num trabalho conjunto que consolida as orientações do Modelo Pedagógico Senac e sua implementação no planejamento docente. A leitura dos artigos que seguem permite uma reflexão a respeito do perfil profissional de conclusão dos Cursos do Senac e como estes se configuram no “fio condutor” para o planejamento didático-pedagógico na instituição. É com este olhar que adentramos ao primeiro artigo, “Educação Profissionalizante: desafios constantes em busca da qualidade”, de Elizete Alves Piancó, que convida a conhecer uma experiência docente no Senac de Arapiraca/AL, no segundo semestre de 2016 com o Programa Jovem Aprendiz. São retratadas vivências significativas de aprendizagem dos alunos, bem como a autora demonstra um sentimento belíssimo, que é o da “humildade pedagógica”, ao se intensificar a relação professor-aluno como protagonistas da ação pedagógica, reforçando que ambos têm a oportunidade de aprender. Subsidiando-se no Modelo Pedagógico Senac, a autora relata uma diversidade de situações e atividades de aprendizagem, das quais decorrem depoimentos dos alunos na condição de protagonistas do processo de aprendizagem. A parceria de José Renan da Silva Laurentino e Raphael de Oliveira Freitas em “O Modelo Pedagógico Senac como fio condutor do aprendizado para o mercado de trabalho: uma experiência no curso de Assistente Administrativo do Senac/AL” nos brinda com um breve apanhado do que constitui o Modelo Pedagógico Senac, a partir da Coleção de Documentos Técnicos (2015) transpondo para a prática docente e sua materialização no Plano de Trabalho Docente. Os autores se debruçam em suas análises, sobre as turmas do Curso de Assistente Administrativo do Senac/AL, em especial, à Unidade Curricular, Auxiliar na execução dos procedimentos administrativos, mostrando a importância do planejamento para o processo de ensino e aprendizagem, bem como destacam as dificuldades encontradas pelos docentes no que se refere às situações e atividades de aprendizagem, além do processo de avaliação.

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17Debates Pedagógicos - 2ª edição

Aproximar a aprendizagem da sala de aula às vivências do ambiente profissional constitui um dos desafios dos docentes. “Tudo deve ser aproveitado, quando oportuno, a fim de fazer surgir um ambiente de aprendizagem mais prático e com ares de realidade profissional”. É neste tom e com esta preocupação que Lavínia Caroline de Oliveira Lins, em “Aprendizagem: um processo de troca e transformação” busca envolver seu leitor reforçando o papel do ciclo ação-reflexão-ação no Modelo Pedagógico Senac. A avaliação da aprendizagem é uma das preocupações de Leila Carla dos Santos Quaresma que em “O uso do diário de bordo no processo de avaliação: memórias e reflexões de aprendizes” socializa uma experiência pedagógica utilizando o Diário de bordo como uma estratégia de avaliação nos cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal, na Unidade Educacional Carlos Milito, em Maceió/AL. No intuito de analisar as refle-xões de aprendizagens dos alunos durante sua formação, a autora relaciona o papel dos indicadores de competência e às situações de aprendizagem ao Diário de bordo, esclarecendo devidamente a diferença entre este instrumento e o caderno de registro de aprendizagens. O artigo contempla um recorte de registro e memórias de aprendizagens dos alunos ampliando as reflexões acerca do que envolve o processo de ensino e aprendizagem no Modelo Peda-gógico Senac. Insistir um olhar crítico a respeito da aprendizagem na educação profissional do Senac significa não perder de vista que o desenvolvimento de competências envolve que a prática docente, em seu planejamento, supere a dicotomia teoria e prática. É nesse sentido, que Marlos Alan Pereira Santos, adentra em “A contribuição do Modelo Pedagógico Senac no desenvolvimento de avaliações e medidas de controle do risco físico/ruídos nas aulas do curso de TST do Senac/AL”. O autor na perspectiva do ciclo da ação-reflexão-ação, relata como numa situação de aprendizagem, a exemplo da ‘Elaboração de um Programa de Conservação Auditiva (PCA)’, é possível aproximar o aluno das vivencias profissionais do mercado de trabalho, posicionando-o em situações-problema significativas. Nessa linha de pensamento, para o desenvolvimento de competências na educação profissional, a simulação é por excelência, uma forma de planejar

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nos ambientes de aprendizagem, momentos vivenciais dos processos de trabalho com o exercício da competência. Esta é abordagem do artigo de Nívea Pereira Cavalcante Silva, “Construindo a realidade: simulações como metodologia de ensino-aprendizagem”, em que autora compartilha como o uso de simulações como metodologia de ensino na educação profissional permitem mobilizar o fazer profissional descrito na competência e seus indicadores. Em sua experiência no Curso de Aprendizagem Comercial em Serviços Administrativos, detalha o desenvolvimento da situação de aprendizagem, do processo de avaliação, bem como enriquece sua análise com depoimentos dos alunos retratando seus momentos de aprendizagem. Temos no artigo uma ênfase importante ao feedback do docente e a auto avaliação dos alunos no decorrer da situação de aprendizagem e avaliação. Adentramos à discussão proposta por Thaciane Alves Magalhães em seu artigo, “Planejamento docente na Unidade Curricular de Estágio da Área de Turismo”, cujo trabalho visa promover reflexões acerca da importância do planejamento docente na Unidade Curricular de Natureza Diferenciada – O estágio profissional supervisionado, sendo uma experiência na área de turismo do Senac/AL. A autora destaca que o estágio deve ser percebido como um momento crucial na vida dos estudantes, uma vez que é por meio se deste, que se permite a aproximação do aluno com o campo de atuação, propiciando vivências profissionais em ambiente real. O oitavo artigo, “Treinamento e desenvolvimento: aprendendo e vivenciando com o cotidiano” de Thaise Thiciane Oliveira Sena, é fruto de sua experiência de aprendizagem como aluna do Curso de Especialização em Docência para Educação Profissional do Senac, que permitiu que à autora rever sua prática fundamentando-a nas orientações do Modelo Pedagógico Senac. O artigo consiste num relato do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos por meio da elaboração do Plano de Trabalho Docente (PTD), em que constam os ‘7 passos de situação de aprendizagem’ abordados ao longo do curso. A prática foi realizada na Unidade Educacional de Arapiraca/AL no Curso de Assistente de Recursos Humanos, em março de 2015. Encerrando a sequência de artigos, Valdilene Cardoso de Barros, em O Modelo Pedagógico Senac e o desafio da formação docente no desenvolvimento de competências, analisa numa perspectiva bibliográfica,

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a ação pedagógica na educação profissional, mostrando que “Ser Docente” no Senac ganha novo sentido e significado, uma vez que a mediação pedagógica é um elo importante no processo de ensino e aprendizagem materializando nas situações de aprendizagem o exercício das ações/fazeres profissionais previstos nos indicadores ou na competência. Ao finalizarmos, vemos que o percurso traçado pelos nove artigos, retratam a seriedade com que o do Departamento Regional de Alagoas tem investido na disseminação do Modelo Pedagógico Nacional. Há de se realçar que está em jogo uma aprendizagem significativa, que materialize as ações/fazeres profissionais, o que pressupõe uma relação pedagógica que priorize o aprender a pensar. Discutir criticamente, articular conhecimentos prévios aos novos saberes técnico-científicos, refletir, criar soluções para problemas vivenciados em sala de aula, embasam o desenvolvimento de competências. Eis o compromisso institucional do Senac na formação profissional de seus alunos.

Adriana Cláudia TurminaEquipe de Capacitação Docente Diretoria de Recursos Humanos

Departamento Regional do Senac/SCFlorianópolis/SC, inverno de 2018.

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MODELO PEDAGÓGICO DO SENAC: REFLEXÕES E APONTAMENTOS

Sandro Soares Diniz1 Aristóteles da Silva Oliveira2

Manuella Souza de Oliveira Pereira3Anne Rafaela Lima Acioli⁴

1. Surgimento do Modelo Pedagógico Senac

No ano 2013, o Departamento Nacional do Senac iniciou alinhamento de cunho pedagógico, com a intenção de promover práticas pedagógicas diferenciadas com foco no movimento: ação-reflexão-ação. Esse movimento, pressupõe adoção de estratégias de planejamento e condução de aulas que transforma o aluno no protagonista do seu aprendizado, tornando o processo educativo mais dinâmico e significativo e ajusta as metodologias adotadas pelos docentes as demandas de aprendizagem do aluno com a finalidade de ofertar uma educação profissional de boa qualidade e em sintonia com as mudanças econômicas, políticas e sociais da atualidade. O surgimento do Modelo Pedagógico do Senac (MPS) ocorre num contexto histórico e econômico de reestruturação produtiva e, da necessidade institucional de redimensionar seu papel e relevância como instituição de renome nacional na formação de indivíduos para ingresso no mundo do trabalho.

1 Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho / Gerente de Educação Profissional Senac-AL.2 Graduado em História e Pedagogia / Coordenador EaD do Senac-AL.3 Graduada em Pedagogia / Pedagoga da Gerência de Educação Profissional Senac-AL.⁴ Graduada em Pedagogia / Pedagoga da Gerência de Educação Profissional Senac-AL.

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22 Debates Pedagógicos - 2ª edição

Anteriormente, a implantação do MPS, cada Departamento Regional tinha autonomia e flexibilidade na estruturação do Plano de Curso. Com o alinhamento as principais mudanças ocorreram na concepção de planos de curso que a partir da implantação do (MPS) em âmbito nacional, promoveram a unificação dos planos,

[...] em estruturas curriculares, cuja competência é a própria Unidade Curricular; a prática pedagógica que pressupõe o aluno como protagonista da cena educativa; a adoção de Projetos Integradores como estratégia para a articulação de competências e o desenvolvimento de Planos de Cursos [...] (SENAC, 2015a, 2015, p.5).

Nesse cenário o MPS permite a flexibilidade na oferta e agilidade no processo de transferência dos alunos entre os Departamentos Regionais. Na organização curricular do curso, as competências requeridas pelo Perfil Profissional de Conclusão transformaram-se nas próprias Unidades Curriculares. Mudanças significativas ocorreram e o planejamento docente é uma delas, prevendo exercício de ações profissionais previstas no perfil profissional, o que de fato muitos docentes em muitos cursos ainda não planejavam para seus alunos. O foco do planejamento e avaliação estava centrado na ação docente, ao invés, da centralidade no protagonismo do aluno por meio da elaboração de situações de aprendizagem direcionadas para o desenvolvimento de competências. A Educação Profissional no Senac se desenvolve por meio de Cursos Técnicos, Qualificações Profissionais, Programas de Aprendizagem Profissional Comercial e demais cursos de Formação Inicial e Continuada, que se organizam por Eixos Tecnológicos, o que possibilita a construção de diferentes Itinerários Formativos. Segundo a Lei nº 11.741/2008, que altera dispositivos da LDBEN/96 e visa redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da Educação Profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da Educação Profissional e Tecnológica

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define Eixos Tecnológicos como “grandes agrupamentos de práxis, de aplicações científicas à atividade humana: tecnologias simbólicas, organizacionais e físicas” nesse contexto Eixo Tecnológico “significa como que uma linha central, em torno da qual gravitam cursos para a formação de profissionais que referenciam suas atividades num conjunto de tecnologias que guardam similaridade em sua natureza” (BRASIL, MEC/SETEC, 2006). A organização por eixo além de fortalecer a identidade dos cursos da Educação Profissional e Tecnológica serviu “também para afirmar ou identificar sua especificidade e para diferenciá-lo de outros cursos”. (MACHADO, 2010, p.94). Já a acepção de Itinerários “faz referência a caminho, estradas, roteiro, uma descrição a seguir para ir de um lugar a outro” (LEÃO e TEIXEIRA, 2015, p.6843) e formativos “indica algo que forma ou serve para formar, que contribui para a formação ou para a educação de algo ou alguém” (idem). Nessa direção, Itinerários Formativos são percursos possíveis dentro de um Eixo Tecnológico que permite ao aluno trilhar e aperfeiçoar sua formação seguindo seus interesses e demandas educacionais e profissionais. O Catálogo Nacional de Cursos do Senac (2009, p. 4), definiu Itinerário Formativo como “percurso de formação de escolha do aluno, numa perspectiva de educação continuada” que são estruturadas a partir das necessidades de formação e qualificação profissional de um determinado segmento “que se complementam ou que se interrelacionam” (SENAC, 2015a, p.12) e Eixo Tecnológico como agrupamento de áreas específicas da educação profissional “em torno de fundamentos científicos comuns” (...) em outras palavras “corresponde a identificação dos princípios científicos e tecnológicos comuns a cada um dos segmentos que compõe cada eixo” (CATÁLOGO NACIONAL DE CURSOS DO SENAC, 2009, p.4)

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24 Debates Pedagógicos - 2ª edição

Os cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) e os Técnicos estão estruturados a partir do estudo de demanda de mercado, bem como da codificação que define a existência das ocupações (CBO)⁵, isto é, estes cursos têm por finalidade obter o Perfil Profissional de Conclusão, diferentemente das formações continuadas que são: aperfeiçoamentos, socioprofissionais, socioculturais, instrumentais; já os cursos de ações extensivas não possuem ocupações. Nesse caso, o Senac tem uma variedade de cursos para ofertar e propiciar aos alunos através dos Itinerários Formativos a formação continuada para os profissionais que estão atuando ou vão atuar, uma vez que precisam estarem atualizando e/ou renovando sua prática profissional no mundo do trabalho em permanente processo de mudança e qualificação profissional. A implantação do MPS é um esforço institucional impulsionado pelas mudanças ocorridas no mundo do trabalho que afetam diretamente o processo educativo e atuação docente implicando numa formação permanente dos professores para enfrentar os desafios da atualidade. Nesse sentido, o perfil docente deverá contemplar os conhecimentos, habilidades, valores e atitudes exigidas pelo mundo do trabalho incidindo numa prática educativa alinhada as mudanças no campo produtivo o que definirá as mudanças curriculares e de práticas pedagógicas atuais, ademais “o mundo do trabalho está se alterando contínua e profundamente, pressupondo a superação das qualificações restritas às exigências de postos delimitados, o que determina a emergência de um novo modelo de educação profissional centrando em competências por áreas”. (MEC, 2001, p. 113)

⁵ CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. A Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, instituída por portaria ministerial nº. 397, de 9 de outubro de 2002, tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares. Informações acessadas em 11 de agosto de 2017 no site: <http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf>

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25Debates Pedagógicos - 2ª edição

2. Surgimento do Modelo Pedagógico Senac

No minidicionário Sacconi da língua portuguesa (SACCONI, 1996, p. 180) define competência como: “conhecimento, experiência, etc. que uma pessoa demonstra possuir na apreciação de certos casos, na execução de certas tarefas ou na solução de certas questões. Em direito, capacidade ou qualificação legal”. Nesse caso, atentaremos para a definição “capacidade ou qualificação legal” a qual este significado está relacionado ao que preconiza a metodologia por competência adotada no MPS, a competência é “definida como Ação/fazer profissional observável, potencialmente criativa (o), que articula conhecimentos, habilidades, atitudes/valores e permite desenvolvimento contínuo” (SENAC, 2015b, p.12). Sendo assim, o Modelo Pedagógico Senac está estruturado com base na

[...]Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Profissional, as Diretrizes da Educação Profissional Senac, as demais legislações pertinentes e as concepções sobre ensino e aprendizagem na educação profissional, disponíveis na literatura especializada em âmbito nacional e internacional. (SENAC, 2015a, p. 7).

Nessa mesma linha, o Parecer CNE/CEB nº 16/99 define competência profissional como:

a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, valores, atitudes e emoções necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho, em função da estrutura sócio-ocupacional e tecnológica, em condições de responder, de forma original criativa, aos novos desafios da vida cidadã e profissional em sociedade. (CNE/CEB nº 16/99, p.55)

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26 Debates Pedagógicos - 2ª edição

O MPS foi elaborado por representante de diferentes regionais com a proposição de definir os princípios educacionais, filosóficos e pedagógicos que delineariam as práticas educativas na instituição com a proposição de fortalecer a unidade institucional e a qualidade do processo de ensino e aprendizagem com a finalidade de contribuir de forma significativa e gradativa com os egressos do Senac que atuam e/ou atuarão no mundo do trabalho. O MPS fortalece os Departamentos Regionais no que concerne a unificação dos planos de curso, oferecendo assim, um serviço diferenciado para o aluno, por exemplo, o plano de curso é nacional, isto é, todos estão alinhados e padronizados, com as mesmas Unidades Curriculares que são as próprias competências profissionais requeridas pelo curso. Ressaltamos a importância da utilização do plano de curso para o desenvolvimento das competências no decorrer do curso, onde todas essas culminam com o objetivo delineado no Perfil Profissional de Conclusão do curso e as Marcas Formativas⁶. Sendo estas: “Domínio técnico-científico; Visão crítica; Atitude empreendedora; Atitude sustentável e Atitude colaborativa”. Já para os Jovens aprendizes que estão sendo formados pelo Senac, existem mais duas Marcas Formativas específicas: o “Protagonismo juvenil, social e econômico e as Atitudes saudáveis”.

⁶ As Marcas Formativas são características a serem evidenciadas nos alunos, ao longo do processo formativo. Derivam dos Princípios Educativos e valores institucionais que regem o Modelo pedagógico Senac e, por essa via, representam o compromisso da instituição com a formação integral do profissional cidadão. Como Marcas Formativas, espera-se que o profissional formado pelo Senac evidencie domínio técnico-científico em seu campo profissional, tenha visão crítica sobre a realidade e as ações que realiza a apresente atitudes empreendedoras, sustentáveis e colaborativas, atuando com foco em resultados (SENAC, 2015a, p.15)

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A discussão sobre competência, “surgiu nos Estados Unidos no início da década de 1970” (SENAC, 2015b, p. 7). Nesse caso, mais precisamente em 1973, com McClelland, ao publicar o artigo intitulado “Testing for Competence rather than Intelligence” traduzindo: Testando a Competência e não a Inteligência”. (FLEURY; FLEURY, 2001, p.184). Fleury e Fleury (2001, p. 184) destacam ainda que a concepção de competência está relacionada a uma “[...] característica subjacente a uma pessoa que é casualmente relacionada com desempenho superior na realização de uma tarefa ou em determinada situação”. Na educação, a concepção de competências ganha destaque a partir da década de 90 com a proposição de ressignificar a formação, perfil, conhecimentos e habilidades de docentes e alunos, decorrentes do processo de globalização e desenvolvimento e avanço da ciência e tecnologia e sua repercussão na formação profissional. Perrenoud (2000, p. 15) sublinha que competência “é a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos” com a finalidade de enfrentar complexas e variadas situações que exigem respostas e soluções para os problemas e desafios vivenciados na sociedade. Reconhecendo que o termo competência é polissêmico e que, portanto, pode apresentar distintos significados e interpretações, institucionalmente, preocupou-se com uma definição que identificasse o compromisso com a Formação Profissional e as mudanças em curso no mundo do trabalho. Nessa direção, o conceito de competência defendido pelo Senac “incorpora diretrizes da escola ativa e estende-se aos programas e currículos escolares, considerados instrumentos imprescindíveis para o desenvolvimento de sujeitos autônomos, capazes de enfrentar a mudança, de se adaptarem a novas situações” (DIAS, 2010, p. 74). Nessa perspectiva, o Senac ao adotar e definir como princípio de aprendizagem o construtivismo aliado a organização dos currículos por competência “enaltece o que o discente aprende por si, o aprender

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a aprender, a construção pessoal do saber através da interação. Enaltece o conhecimento enquanto instrumento de aquisição de competências” (idem). Nesse cenário, a concepção pedagógica de metodologia por competência adotada pelo Senac tem como objetivo formar e preparar cidadãos para o mundo do trabalho. O Senac preconiza a excelência na formação dos alunos que estão no processo de ensino e aprendizagem, bem como os egressos, pois realizamos o acompanhamento pedagógico durante sua trajetória no curso e oferecemos nosso Itinerário Formativo para que nossos egressos conti-nuem atualizando sua Formação Profissional e atendam a demanda do mercado de trabalho que nesse caso está atualmente bastante competitivo, uma vez que as empresas e os clientes estão cada vez mais exigentes.

3. Planejamento Docente: um olhar sobre a prática didático-pedagógica

Existem muitas definições de planejamento, no âmbito educacional, materializa-se no ato de planejar ações didático-pedagógicas, traçar metas, definir objetivos concretos, além de direcionar a formação do aluno através das concepções filosóficas de “Ser Humano, Mundo, Trabalho e Educação que alicerçam a proposta do Modelo Pedagógico Senac traduzem o sentido que a Instituição atribui ao fazer educativo, na perspectiva da formação humana e do trabalho”. (SENAC, 2015a, p.9) Para o Senac a finalidade do planejamento é “propor e organizar as estratégias de aprendizagem de acordo com os objetivos do curso e os princípios educacionais da Institui-ção, de modo a orientar a prática docente e atender as necessidades educacionais do aluno” (SENAC, 2015c, p.7). O planejamento é uma forma de organizar os processos que serão trabalhados nas turmas, promovendo assim uma aprendizagem eficaz, além de “propiciar condições para que o aluno possa atuar, com sucesso, na futura ocupação.”

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(SENAC, 2015c, p.7).O planejamento tomando com base o desenvolvimento de competências implica conforme assinala küller e Rodrigo (2012, p.6):

um contexto muito próximo ao enfrentamento concreto dos problemas que demandam uma determinada competência e (...) deve ser organizada de forma que os desafios e problemas pessoais, os de convivência social e os profissionais surjam no ambiente de aprendizagem de forma muito semelhante aquele com que aparecem na vida, na sociedade e no trabalho.

O planejamento docente com foco no desenvolvimento de competências demanda a adoção de metodologias ativas em que o aluno atue como protagonista na construção do conhecimento e o docente como mediador e mobilizador de situações de aprendizagem⁷. Para consecução desse objetivo, no planejamento, será preciso reconsiderar os objetivos, elementos da competência, metodologia, avaliação e recursos utilizados para permitir o uso mais flexível dos ambientes pedagógicos, recursos e tempo tencionando a aquisição de competências delineadas no Perfil Profissional de Conclusão. Com base nessa perspectiva, o planejamento docente “representa um dos instrumentos teórico-metodológicos fundamentais para o aprimoramento do processo ensino-aprendizagem das instituições educacionais, devendo fazer parte desse processo de forma contínua, dinâmica e reflexiva” (LOBO, 2016, p. 1). Para o Senac, o planejamento docente concretiza-se a partir do Estudo do Plano de Curso,

⁷ Para o Senac, as situações de aprendizagem podem ser entendidas como conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências. Seu planejamento parte da premissa de que o aprendizado profissional deve ser significativo, problematizador e trazer a figura do aluno para o centro da cena pedagógica, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem (SENAC, 2015c, p.11).

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criação de situações de aprendizagem, elaboração do Plano de Trabalho Docente e Planejamento Integrado. O Estudo do Plano de Curso permite ao docente conhecer elementos significativos para auxiliar no planejamento de sua prática pedagógica, portanto, a apropriação desse documento é imprescindível na elaboração das situações de aprendizagem articuladas com o perfil profissional indicado no Plano de Curso. Na elaboração das situações de aprendizagem, é importante que o docente preveja momentos enriquecedores com propostas pedagógicas criativas, inovadoras, problematizadoras que promova o protagonismo do aluno e o desenvolvimento de competências por meio do ciclo ação-reflexão-ação, “no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015c, p, 12). Em relação à criação de Situações de Aprendizagem ela deverá ser planejada a partir das competências propostas na Unidade Curricular, nessa perspectiva, diversas situações de aprendizagem precisam ser delineadas para contemplar as competências profissionais requeridas pelo Perfil Profissional de Conclusão de curso. O planejamento docente potencializa as experiências educativas dos alunos de modo que eles confiram sentido e, ao mesmo tempo, percebam na realização das atividades e avaliações propostas relevância para sua Formação Profissional. Outro aspecto fundamental no planejamento docente é a elaboração do Plano de Trabalho Docente (PTD) que sistematiza todas as ações pedagógicas desenvolvidas na Unidade curricular, nele estão contidas a carga horária, indicadores, elementos da competência e situações de aprendizagem que nortearão a prática docente. Nessa perspectiva,

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O planejamento, função inerente à profissão docente, é uma forma de organizar as ações do processo de ensino e aprendizagem que serão desenvolvidas pelo docente. Envolve reflexão, tomadas de decisão e posicionamentos com base no perfil do profissional que se quer formar e na realidade que se apresenta em cada turma. (SENAC, 2015c, p.7)

Como a finalidade do planejamento docente é o desenvolvimento de competências considerando o Perfil Profissional de Conclusão; o planejamento integrado presume atitudes cooperativas e colaborativas e o compartilhamento dos PTD’s entre os docentes um posicionamento crítico e comprometido com a qualidade do processo educativo e da formação profissional que implica diálogo permanente entre os docentes do curso e a equipe pedagógica. Por meio do planejamento integrado, articula-se as competências e identifica-se a contribuição de cada Unidade Curricular para o desenvolvimento do Perfil Profissional de Conclusão.

4. Projeto Integrador: uma experiência que articula aprendizagem as ações profissionais

O mundo do trabalho na atualidade exige além das competências para o exercício da prática profissional, outras características pessoais e interpessoais como: autonomia, iniciativa, flexibilidade, criatividade e criticidade que agregadas a atitudes e valores configuram o novo perfil do trabalhador do século XXI. Nesse cenário, formar o aluno para o exercício pleno da cidadania no mundo atual requer prepará-los para uma vida produtiva aliada com uma visão transformadora da realidade com o desenvolvimento valores e atitudes sustentáveis e colaborativas.

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Alinhando a esse contexto, o Senac compreende que “na educação profissional a aprendizagem é orientada para o desenvolvimento de competências” (SENAC, 2015d, p.5), portanto, para consecução desse objetivo os planos de cursos do MPS apresenta como diferencial metodológico o Projeto Integrador (P.I) como espaço propício para impulsionar aprendizagens significativas em que o aluno é estimulado a aprender a aprender por meio da interação, da pesquisa e resolução de problemas conectadas ao Perfil Profissional de Conclusão do curso e as Marcas Formativas, ademais, os PI estimulam o trabalho em equipe e apre-senta desafios que culminam no protagonismo do aluno. “Os Projetos Integradores são, nesse sentido, espaços importantes para a articulação das competências, capazes de contribuir para evidenciar as Marcas Formativas Senac e, principalmente, para o desenvolvimento do perfil profissional”. (SENAC, 2015d, p. 6) e tem com uma de suas premissas reduzir a fragmentação do ensino, que é uma característica da organização curricular por disciplinas. Para a realização do PI é designado um docente que será responsável no acompanhamento e avaliação do projeto, com proposição de “atividades, situações de aprendizagem e ações que contribuam para o desenvolvimento da competência e efetivação do Projeto Integrador” (SENAC, 2015d, p. 10) O Projeto Integrador tem uma carga horária especifica obrigatória em cursos de Aprendizagem Profissional Comercial, Qualificação Profissional e Habilitação Técnica de Nível Médio, essa carga horária tem como função organizar, avaliar e monitorar as ações dos alunos. Todo PI possui um tema gerador que precisa ser validado pelo aluno para, em seguida, ser definido o plano de ação que “consiste em uma projeção das atividades a serem realizadas no âmbito de cada Unidade Curricular para cumprir os objetivos do Projeto Integrador” (SENAC, 2015d, p.18).

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É importante assinalar a relevância do Planejamento Integrado para o sucesso do PI haja vista as contribuições de cada Unidade Curricular para o desenvolvimento de competências e a construção do Perfil Profissional de Conclusão no qual as Marcas Formativas estejam evidenciadas. Nesse contexto, o PI oportuniza para os alunos um momento para socialização das competências desenvolvidas e, para os docentes da turma, uma autoavaliação de sua prática pedagógica a partir dos resultados alcançados com a realização do projeto.

5. Avaliação da aprendizagem: um processo contínuo

A avaliação da aprendizagem com foco no desenvolvimento de competências na educação profissional ultrapassa a visão instrumental e avança no sentido de considerá-la como um “processo pelo qual se investigam evidências do desenvolvimento de competências re-queridas nos perfis profissionais de conclusão de curso” (SENAC, 2015e, p. 5). Nessa perspectiva,

a avaliação da aprendizagem na educação profissional é uma prática pedagógica intencional, sistemática e organizada com o objetivo de aferir o desenvolvimento de competências nos alunos. Ela se dá em modalidades distintas, porém interconectadas, que variam de acordo com a função que exercem, compreendendo a avaliação diagnóstica, formativa e somativa. (SENAC, 2015e, p. 7)

O Senac adota três modalidades avaliativas: diagnóstica, formativa e somativa. A avaliação diagnóstica permite, simultaneamente, identificar os conhecimentos e interesses prévios dos alunos e a adoção de estratégias preventivas por parte do docente para planejar as aulas com a definição de situações de aprendizagem que contemplem as demandas da turma. Já a modalidade formativa, enseja a necessidade permanente de identificar as necessidades dos alunos com definição de estratégias de recuperação que “devem ser realizadas quantas vezes forem necessárias

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durante a vigência da Unidade Curricular, não devendo ser deixadas apenas para o final” (SENAC, 2015e, p. 7). Avaliação formativa acontece no momento em que ocorrem as situações de aprendizagem, onde o docente pode detectar o nível de dificuldade ou se o aluno está avançado no que concerne à competência desenvolvida durante todo o processo de ensino e aprendizagem. É nesse momento que o docente pode e precisa orientar e mediar o desempenho dos alunos afim de recuperar o que não foi atingido para adquirir a competência em sua totalidade. Nesse caso, o docente faz o replanejamento de suas ações e em conjunto com o pedagógico alinhando novos procedimentos. A avaliação somativa preconiza que as dificuldades e desafios da aprendizagem foram superados durante o processo de ensino e aprendizagem por meio da verificação e acompanhamento do desempenho dos alunos na modalidade diagnóstica e formativa. Nessa modalidade avaliativa é o momento de atestar e verificar as competências desenvolvidas subsidiando docentes em relação ao planejamento realizado e aluno com relação ao seu próprio desempenho durante a realização das situações de aprendizagem ou ao concluir a Unidade Curricular. A avaliação é um processo sistêmico, processual e cumulativo que implica a utilização de diversos procedimentos e instrumentos avaliativos, como sugestão o Documento técnico do MPS que trata sobre a avaliação da aprendizagem sugere como instrumentos avaliativos à observação, debate sobre o fazer profissional, diário de bordo, portfólio, análise de casos, exames práticos, testes dentre outras estratégias que podem ser adensadas pelo docente.

6. Aspectos históricos e percursos para Implementação do MPS no Senac Alagoas

O marco inicial do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, hoje conhecido dentro da concepção de Serviço Social Autônomo. Foi exatamente em 10 de janeiro de 1946 através do Decreto-lei nº 8.621 que nasce o Senac, sendo organizado e administrado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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Já as atividades do Senac Alagoas iniciam em 17 de dezembro de 1947, porém, vinculado a administração do Senac Pernambuco, mas em 21 de março de 1948 o Senac Alagoas obteve sua autonomia. No ano de 2018 completa 71 anos de atuação no estado. Em todos esses anos de atuação na Formação Profissional no Estado de Alagoas, o Senac, pôde qualificar, aproximadamente, um milhão e duzentos mil⁸ profissionais em diversos segmentos do comércio de bens, serviços e turismo, através de programações variadas, sendo dentre elas, o de maior relevância o Programa Senac de Gratuidade (PSG) que neste ano completa 10 anos atendendo à população de baixa renda com renda per capita de até dois salários mínimos federais. Ressalta-se que na realização do PSG a instituição utiliza parte de sua receita compulsória para essa finalidade, assim são destinadas vagas em cursos de Formação Inicial e Continuada, sendo estes no Programa de Aprendizagem, na Qualificação Profissional e Aperfeiçoamento, além da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, onde ofertamos a Qualificação Técnica, Habilitação Técnica e Especializações. O compromisso e responsabilidade com a Formação Profissional no percurso de mais de 70 anos reflete uma trajetória de sucesso. Outro aspecto valorizado na instituição em âmbito nacional e local é o investimento na formação dos docentes através do estímulo para participação e disponibilização de cursos de Pós-graduação em Docência para a Educação Profissional, oficinas, encontros pedagógicos e reuniões com a finalidade de refletir e repensar a prática docente a partir do que preconiza o MPS, ademais, compreendemos a necessi-dade da materialização do fazer pedagógico (docentes e pedagogos) por meio do incentivo a pesquisa, participação em congressos e publicações de trabalhos que focam as atividades desenvolvidas em sala de aula e atividades didático-pedagógica.

⁸ Dados obtidos no link: <http://www.fecomercio-al.com.br/wp-content/uploads/2018/05/FolhaFecomrcioMaro2018.pdf>

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A partir dos anos 2000 o Senac iniciou um movimento de reestruturação do currículo, passando a organizá-lo por competência. As competências, desde então, são concebidas como espinha dorsal na estruturação dos cursos com foco no desenvolvimento de competência, pois busca uma formação adequada às necessidades do mundo do trabalho a partir da relação didático-pedagógica que alinha teoria e prática durante a realização do curso, que são fortalecidas com a realização de visitas técnicas, práticas profissionais e estágio curricular que faz a diferença no momento da inserção e/ou reposicionamento destes profissionais no mundo do trabalho. A implantação do MPS no Senac surgiu da necessidade de “reforçar a unidade institucional, como vistas a promover o incremento da qualidade da oferta educacional” (SENAC, 2015a, p. 5) e da compreensão de seu papel institucional de formar sujeitos críticos e comprometidos com os valores democráticos. O Senac consciente de sua missão de “educar para o trabalho em atividades do comércio, bens e serviços⁹”, visão e valores como instituição avança no sentido de pautar a oferta de cursos com alinhamento pedagógico nacional baseado no desenvolvimento de competências, atitudes e valores que consubstancia a formação de profissionais altamente qualificados para enfrentar as incertezas e mudanças abruptas de um cenário político, social e econômico conturbado e complexo. A implantação do MPS provocou mudanças pedagógicas, metodológicas e atitudinais na formação docente e no perfil do aluno. O primeiro desafio vivenciado com a implantação do MPS foi justamente internamente com a necessidade de mudança cultural e de concepções e práticas pedagógicas (planejamento docente, mediação e avaliação da aprendizagem) que foram res/significados para introjetar todas as transformações desencadeadas com a construção e operacionalização de cursos numa nova concepção metodológica.⁹ O Senac Adotou como princípios organizacionais que identificam a instituição para os anos de 2016-2019 a Missão de educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo. Visão de ser a instituição brasileira que oferece as melhores soluções em educação profissional, reconhecida pelas empresas e Valores como: transparência, inclusão social, excelência, inovação, atitude empreendedora, desenvolvimento sustentável e educação para a autonomia. Para mais informações acessar: <http://www.al.senac.br/senac-alagoas/>

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O MPS incentiva nos alunos uma postura mais autônoma e ativa na construção do conhecimento em que a iniciativa, colaboração, autonomia, flexibilidade, criatividade, disciplina e inovação são valorizadas, além de uma atitude mais crítica e reflexiva. Todas essas características são importantes na formação de agentes de mudança da sociedade atual em que as marcas formativas aparecem como distintivo na preparação dos jovens para enfrentamento dos desafios atuais do mundo do trabalho. No ano de 2015 tivemos duas turmas com 53 matrículas, em 2016 quarenta e seis turmas com 1.218 matrículas e no ano de 2017 alcançamos 2.228 matrículas, o que representa um esforço e engajamento para alinhar toda a programação ao MPS. A projeção é que até 2020 toda a oferta de cursos do Departamento Regional de Alagoas seja operacionalizada no MPS.

7. Considerações finais

O objetivo desse artigo foi refletir sobre as concepções e princípios que norteiam o MPS, principalmente, a partir das publicações da Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac10. Inicialmente apresentamos o cenário do surgimento do MPS analisando o contexto social e econômico. Em seguida, refletimos sobre a origem e evolução da metodologia com foco no desenvolvimento de competências. Refletimos sobre a importância do planejamento docente com ênfase no desenvolvimento de competências e no Perfil Profissional de Conclusão do aluno, sublinhamos a importância do Projeto Integrador como espaço privilegiado para articular os saberes e competências desenvolvidas nas Unidades Curriculares conectadas ao Perfil Profissional de Conclusão e as Marcas Formativas.

10 A Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico é composta inicialmente por cinco publicações que tem como proposta orientar as práticas educativas desenvolvidas no Senac para os cursos presencial e a distância. É uma referência e leitura obrigatória para todos docentes e equipe pedagógica.

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Analisamos a relevância da aprendizagem com foco no desenvolvimento de competências e a utilização das modalidades avaliativas: diagnóstica, formativa e somativa para aferir a aprendizagem do aluno de forma processual com flexibilidade para o docente intervir no processo sempre que identificar necessidades de ajuste e correção de rotas, por fim, apresentamos um breve relato sobre o percurso histórico do Senac Alagoas e a implantação do MPS no regional. As inovações do mundo do trabalho, da ciência e tecnologia exige o desenvolvimento de novas competências e habilidades que as instituições de Educação Profissional, responsáveis na formação e qualificação de trabalhadores, precisam estar atentos para suas crenças e valores não estejam ultrapassadas e, desse modo, possam contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural. É fato conhecido, que os docentes que atuam na Educação Profissional geralmente são advindos de uma formação em cursos de bacharelado e tecnológico, ou seja, não foram preparados para atuarem como educadores, mas, para assumirem diversos postos de trabalho no mercado, contudo, encontram-se em sala de aula ensinando, mediando, avaliando, sem, no entanto, terem uma formação pedagógica que subsidie e fundamente as práticas educativas vivenciadas em sala de aula. Nesse cenário, o Senac desponta como protagonista posicionando de forma incisiva e comprometida com currículos e práticas educativas que contribuam para a consecução dos objetivos emanados da LDB 9.394/96 para a educação profissional concebida “integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia” (LDB, 1996, p. 13). A adesão e oferta de cursos alinhados as premissas e postulados do MPS é urgente, para tanto, a parceria entre Departamento Nacional e os Departamentos Regionais são imprescindíveis com ações conjugadas de formação continuada dos docentes e equipe pedagógica com a finalidade de cumprir com os objetivos educacionais impressos nas Diretrizes e nos Documentos Técnicos do MPS.

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Referências

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_______. Ministério da Educação. Setec. Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia. Brasília, jul. 2006. Disponível em: <http://catalogo.mec.gov.br/anexos/ca-talogo_completo.pdf> Acesso em: 02 abr. 2018.

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MACHADO, Lucília. Organização da educação profissional e tecnológica por eixos tecnológicos. 2010. Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 16, n. 30, p. 89-108, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/viewFile/1458/1090> Acesso em: 02 abr. 2018.

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DIAS, Isabel. Competências em educação: conceito e significado pedagógico. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Vol. 14, Nº 1, Jan/Jun de 2010. p. 73-78.

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EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE: DESAFIO CONSTANTE EM BUSCA DA QUALIDADE

Elizete Alves Piancó1

1. Introdução

O Senac desde a década de 40, quando foi criado nasceu com a finalidade de preparar a população para o ingresso no mercado de trabalho e, atualmente, cumpre esta função criando oportunidades e qualificando alunos para enfrentar os desafios de formação e qualificação profissional antecipando-se ou adequando suas práticas educativas aos desafios do mundo do trabalho. Partindo desse pressuposto, o desafio do docente é entender todas as transformações propostas para a modalidade e manter essa chama acesa, planejando suas aulas focadas nos indicadores de desenvolvimento de competências presentes no MPS. O presente texto está calcado em vivências enquanto docente do Senac na Unidade da cidade de Arapiraca/AL, das quais a superação diante dos desafios apresentados em sala de aula fez toda a diferença na experiência docente, e, principalmente, na aprendizagem do aluno. Sublinhamos, algumas experiências relevantes vividas em sala de aula, a partir das concepções e práticas do MPS que possibilitaram situações enriquecedoras para o processo de ensino e aprendizagem. Para registrar a percepção e evolução das aprendizagens dos alunos foi proposto o uso de um instrumento denominado diário de bordo2, esse recurso

1 Graduada em Letras e Administração / Docente Senac/AL.2 Consiste em textos breves e informais, que registram os acontecimentos, as memórias e reflexões surgidas ao longo da Unidade Curricular. (SENAC, 2015d, p.21).

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pedagógico foi escolhido com a finalidade de sondar eventuais necessidades de adequação da estratégia didática docente, a partir das dificuldades encontradas e superadas durante o processo de ensino e aprendizagem, aplicado diariamente sempre vinculado aos indicadores de competências da Unidade Curricular. Abaixo temos um recorte de um depoimento do aluno registrado no diário de bordo:

Só tenho a agradecer ao Senac e a Professora Elizete Piancó por ter depositado confiança em mim, por ter acreditado em mim, por ter buscado em mim coisas que nem eu mesmo sabia que tinha, um agradecimento a todos vocês que fazem parte desse trabalho, dessa equipe, aos professores, à coordenação, aos funcionários de serviços gerais (por que teve dias, pessoalmente falando, que eu chegava na instituição do Senac de cabeça baixa, triste bem cabisbaixo mas eles com apenas um sorriso e um bom dia, faziam com que o meu dia ficasse alegre). Senac Você mudou a minha vida. Obrigado a todos do Senac. Levo vocês a cada passo que eu dou (sic).

J. V.Jovem aprendiz da turma 71/2016

Diário de Bordo

O registro avaliativo do aluno expressa o sentimento de gratidão não só com o docente da Unidade Curricular, mas, também, com a equipe pedagógica e funcionários. A educação profissional, além de contribuir para ingresso do aluno no mundo do trabalho, colabora para o desenvolvimento de habilidades voltadas para as relações interpessoais, atualmente consideradas essenciais dentro do perfil profissional almejado pelas empresas.

2. Foco na diversidade do aluno

Os relatos seguintes são todos extraídos de turmas do Programa Jovem Aprendiz, durante o ano de 2015 e 2016, turmas essas que estavam repletas de alunos cheios

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de sonhos e expectativas, quanto à sua qualificação para inserção no mundo do trabalho como pode ser observado no depoimento a seguir:

Fica difícil citar o que essa passagem no Senac na turma 71/2016 especificamente marcou na minha vida. Se eu fosse falar sobre cada coisa que marcou teria que escrever um livro enorme falando sobre as coisas que mais se destacaram na minha aprendizagem profissional e na minha vida pessoal foram as ações: Nutria, apresentação em sala que envolveu equipes e cada membro teria que apresentar bastante tempo, e o projeto valoriza nordeste (sic).

J. V.Jovem aprendiz da turma 71/2016

Diário de Bordo

Enquanto docente da área de comunicação, uma das inquietações que sempre surgiram, enquanto responsável pela mediação de uma das Unidades Curriculares nas turmas de aprendizagem, era como trabalhar regras gramaticais e técnicas de redação com alunos tão diversificados culturalmente e com ritmos de aprendizagem e desempenho distintos? Além das lacunas oriundas da Educação Básica que aumentava o desafio no planejamento e mediação docente com foco no desenvolvimento de competências. Embasada nos princípios e concepções pedagógicas do MPS o qual enfatiza que o aluno deve atuar sempre como protagonista do processo de aprendizagem foi organizada e planejada situações de aprendizagem3 que permitiram o docente identificar os indicadores de competência e os alunos aprenderem de forma contextualizada e próxima as demandas da ocupação profissional.

3 Conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências. Seu planejamento parte da premissa de que o aprendizado profissional deve ser significativo, problematizador e trazer a figura do aluno para o centro da cena pedagógica, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem (SENAC, 2015c, p.11).

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Baseado nas palavras de Brooks Adams (1919), historiador e educador norte americano: “Sabendo que você não consegue ensinar tudo a uma criança, é melhor ensinar a ela como aprender”, surgiu à ideia de organizar uma situação de aprendizagem que teve como finalidade desenvolver as competências propostas no Plano de Curso para a Unidade Curricular. A situação de aprendizagem incentivou a iniciativa, criatividade, autonomia, atitude empreendedora e sustentável por meio da organização de um evento que pudesse identificar a competência desenvolvida na Unidade Curricular como foco na defesa de um estilo de vida saudável, evidenciando, dentre outras Marcas Formativas⁴ a Atitude Sustentável que compreende a “evidência, nos alunos, dos princípios da sustentabilidade – desenvolvimento social, econômico e ambiental – traduzidos em práticas de uso racional dos recursos organizacionais disponíveis” (SENAC, 2015a, p.16). Outra característica da situação de aprendizagem foi enaltecer a cultural local com destaque para atividades que valorizaram poetas e compositores da cidade, entre outros, produzindo resultado significativo na aprendizagem dos alunos aferidas por meio das redações, apresentações e produções textuais.

3. Práticas pedagógicas e seu poder de integração

Com dedicação e empenho foram definidas estratégias de ensino e aprendizagem com foco no protagonismo do aluno e numa postura investigativa tomando como referência o Plano de Curso, indicadores e elementos da competência e o Perfil Profissional de Conclusão.

⁴ São características a serem evidenciadas nos alunos, ao longo do processo formativo. Derivam dos Princípios Educativos e valores institucionais que regem o Modelo pedagógico Senac e, por essa via, representam o compromisso da instituição com a formação integral do profissional cidadão. Como Marcas Formativas, espera-se que o profissional formado pelo Senac evidencie domínio técnico-científico em seu campo profissional, tenha visão crítica sobre a realidade e as ações que realiza apresente atitudes empreendedoras, sustentáveis e colaborativas, atuando com foco em resultados (SENAC, 2015a, p.15).

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Uma das situações de aprendizagem propostas foram denominadas de Nutrinac, realizada com a turma de Aprendizagem em Serviços Administrativos, no segundo semestre do ano de 2016 teve como finalidade valorizar a saúde destacando o papel da alimentação na vida homem, realizando estudos de como é possível, mesmo com a rotina diária do mundo moderno, ter um estilo de vida saudável e atitude sustentável no contexto socioambiental e econômico no qual ele está inserido, concomitantemente com essa ação foram também explorados elementos da competência relacionados ao planejamento e organização de ações de vendas e pós-venda. Abaixo temos um depoimento relacionada a essa situação de aprendizagem registrada no diário de bordo:

NUTRINAC - Foi um dos eventos mais corridos feitos em sala, com o desafio de elaborar e organizar tudo em uma semana, porém, ele teve um ótimo resultado durante e principalmente no final do curso, porque nos ensinou a lidar com muitos assuntos no mesmo momento, e isso está me ajudando e muito na empresa na qual eu trabalho. E também, é claro nos orienta a ficar de bem com a saúde (sic).

J. E.Jovem aprendiz da turma 71/2016

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No depoimento a seguir, a aluna menciona momentos de “agonia”, ou seja, expectativa e necessidade de foco e adaptação aos desafios propostos pela situação de aprendizagem, reconhecendo que após a experiência conseguiu identificar amadurecimento e crescimento profissional,

A experiência da minha vida que nunca esquecerei; jovem aprendiz, aprendiz para a vida toda, porque foram momentos inesquecíveis, que levarei eternamente em minha memória. Quem nunca gostaria de ter essa oportunidade? Por isso que sempre levarei comigo. Os momentos de alegria, agonia e foco. Uns dos projetos apresentados por Elizete Piancó, que por mais que tivéssemos nos “tirado” a paciência, foi gratificante porque quem planta sempre colhe, e foi o que colhemos;

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reconhecimento, aprendizado e Compromisso, a NUTRINAC apenas um “acordem, isso é apenas o começo” (sic).

T. A. Jovem aprendiz da turma 71/2016

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No relato abaixo, constatamos algumas das características das Marcas Formativas que foram agregadas a formação do aluno por meio da situação da aprendizagem proposta,

O projeto Nutrinac veio como uma surpresa para mim e acredito que para alguns ou até todos na verdade. Apesar de ser um projeto desenvolvido e apresentado em sala de aula, a Nutrinac exigiu de todos nós da turma 71/2016 não só trabalho; mas também união, espírito de equipe, espírito de liderança para que tudo quanto fizéssemos saísse perfeito aos nossos olhos (sic).

J. V.Jovem aprendiz da turma 71/2016

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Focado nas atividades, os alunos conseguiram entender que precisavam envidar tempo para planejar e organizar tarefas e cumprir com os desafios. O trabalho colaborativo resultou numa sinergia entre docente-aluno e aluno-aluno enriquecedora e significativa para todos os participantes. No relato seguinte, a aluna destaca os desafios e dificuldades para realizar as ações propostas no projeto, em tempo, ressalta a integração entre o docente e alunos,

Então dia 06 /06/16 foi aonde começou um novo desafio na vida de cada participante do jogo, um jogo no qual ainda a gente não sabia quem seria os participan-tes e como jogaria, mas foi a partir desse momento que eu pude vê o mundo de outra maneira a cada dia que passava, por que o jogo era o jogo da vida, era a preparação para o mundo do mercado de trabalho para o mundo dos negócios para o mundo onde todos tem que trabalhar com União trabalhar como cabeças pensantes, trazendo sempre melhoria a todos, entretanto quem mostrou tudo sobre nosso percurso foi os profissionais mas renomados na carreira que envolve a administração,

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o professor um novo aprendizagem uma nova evolução, até chegar a quase o final do nosso percurso no Senac que a gente começou a estudar com a professora Elizete onde conseguimos administrar o tempo da melhor maneira, fazer 24 hr virar 42hr, surgiu novos desafios onde os mais destacados foi o nutrinac, um projeto que a gente desenvolveu em uma semana, ai vem a pergunta como vocês conseguiram se vocês só estudavam um horário? Ai vem o segredo nunca deixamos de trabalhar em grupo, a gente aproveitou cada conhecimento, cada ideia, aprendemos juntos e não desperdiçamos tempo e sim economizamos, e sim nossa professora sempre nos guiou para a gente obter a excelência, todos os passos que cada um dava foram guiados por a excelente profissional, e obtivemos sucesso em nosso projeto, pela dedicação de todos, a organização, e o objetivo que todos tinham (sic).

A. N.Jovem Aprendiz da turma 71/2016

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Nessa mesma perspectiva, os depoimentos abaixo, registra relevância do papel docente em criar situações de aprendizagem que estimule e desenvolva as competências e responsabilidades que a atividade profissional exige do trabalhador na atualidade,

É de grande valia quando o discente tem a oportunidade de ter alguém para aguçar o seu instinto de responsabilidade e criatividade. Tive o imenso prazer de ter sido instruída pela docente Elizete Piancó, que foi a responsável por transmitir aprendizado, conhecimentos e inspiração a todos nós da turma 71/2016. Realizando eventos que serviram para fazer crescer cada pensamento empreendedor, primeiro foi com a NUTRINAC, tivemos que realizar um “grande” evento em uma semana, pensamos que não era possível, mas ela nos mostrou que era, encontramos dificuldades, mas o resultado foi muito positivo, foi um evento lindo, que nos fez aprender que somos capazes, só basta saber otimizar o tempo (sic).

R. F.Jovem aprendiz da turma 71/2016

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E o outro que nos deixou impactados, abismado, com medo. Dar uma aula para seus próprios colegas de sala não foi fácil, porém não foi impossível. É isso que levarei para sempre, a coragem que Elizete Piancó sempre nos dava, desafios que nos davam força para enfrentar (sic).

T. A. Jovem aprendiz da turma 71/2016

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Interessante também relatar, que a partir desses momentos de agitação, organização, criação e cumprimento das ações previstas no plano de ação⁵ os alunos tornaram-se mais unidos e comprometidos e responsáveis com o curso e a Unidade Curricular em desenvolvimento. Uma das dificuldades encontradas pelo docente no planejamento pedagógico é a criação de situações de aprendizagem em que indicadores e elementos da competência estejam alinhados de tal forma que a aprendizagem ocorra de forma significativa e muito próxima as necessidades da ocupação profissional pretendida pelo aluno, todavia, esse é um dos fundamentos do MPS, preparar os alunos para o ingresso no mundo do trabalho como agente transformador com visão crítica e atitude empreendedora. Para elaboração da situação de aprendizagem Nutrinac foram explorados os seguintes aspectos:

• Responsabilidade e senso de coletividade a partir das tarefas assumidas no plano de ação para a realização do evento/ação; • Estímulo à leitura, de forma trabalhada e aguçada a partir da necessidade de conhecer um pouco mais sobre o tema e debater com os colegas em sala; • Busca e organização para atender o período intenso de atividades desenvolvidas durante a Unidade Curricular; • Oportunidade de trabalhar com todas as marcas formativas Senac, incluindo atitude empreendedora e colaborativa para se fortalecer como profissional no mercado de trabalho atual.

⁵ A elaboração do plano de ação para essa atividade teve como finalidade estabelecer a responsabilidade conjugada do docente e alunos na realização das atividades propostas na situação de aprendizagem.

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O planejamento da situação de aprendizagem descrita acima buscou resgatar o hábito pela leitura por meio de atividades que incentivaram a produção textual com a elaboração de textos dissertativos que fossem, ao mesmo tempo, coerente e coeso, com a intenção que cada atividade vivenciada ocorresse de maneira natural, participativa e prazerosa. Além da situação de aprendizagem “Nutrinac” outras ações foram realizadas com diferentes turmas com a finalidade de desenvolver as competências profissionais requeridas no perfil profissional de conclusão e dos indicadores de competência da Unidade Curricular que o docente ficou responsável, abaixo sintetizamos algumas das atividades desenvolvidas:

• I SARAU SENAC, realizada com a turma de Aprendizagem em Serviços e Vendas (código da turma 74/2015), no primeiro semestre do ano de 2015. Destacando a poesia, como elemento de incentivo à leitura, para auxiliar nas técnicas de redação, colaborando com o hábito para demonstrar ao aluno que é necessário ler e desenvolver o gosto pela leitura, para ampliar os conhecimentos e as habilidades de escrita. • I MANHÃ MUSICAL, realizada com outra turma de Aprendizagem em Serviço de Vendas (código da turma 154/2015), no primeiro semestre de do ano de 2015. Também mediando com a música o incentivo a leitura, trabalhando com o filme Escritores da Liberdade e o resgate das transformações que a leitura é capaz de realizar na vida dos jovens. • II MANHÃ MUSICAL, realizada com a turma de Aprendizagem em Serviços Administrativos (código da turma 118/2016), no segundo semestre do ano de 2016. Também destacando a música e trabalhando com a valorização dos gêneros, aproveitando para ressaltar a inclusão como agente fundamental no meio social, respeitando as diferenças e envolvendo vários tipos musicais existentes. • - SOLONAC, realizada com a turma de Aprendizagem em Serviços Administrativos (código da turma 51/2016), no primeiro semestre no ano de 2016, trazendo um tema bem novo ao mundo dos jovens, A desertificação do Solo,

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quando os alunos promoveram estudos e buscaram formas de entender o porquê a desertificação acontece. Realizando um evento de conscientização. Promoveram palestra com especialista no assunto e após aplicaram os conhecimentos assimilados em produção de adubo, plantações de algumas flores, inclusive orquídeas e miniprojetos de irrigação de gotejamento para o solo. • - NUTRINAC, realizada com a turma de Aprendizagem em Serviços Administrativos (código da turma 71/2016), no segundo semestre do ano de 2016 com a finalidade de incentivar a produção textual com proposição de atividades dissertativas e apresentação em sala de aula.

4. Responsabilizar o aluno por seu próprio desenvolvimento

No cenário atual em que muitos alunos estão desmotivados com a escola e com práticas pedagógicas tradicionais qual seria o papel do docente, o que fazer para tornar a sala de aula um local interessante e atraente para que a aprendizagem ocorra? Seja um professor do espanto! Afirma Alves (2010). Ser um professor do “espanto” é trabalhar no sentido de conferir sentido para os conhecimentos, atividades e avaliações propostas no cotidiano da sala de aula. Baseado no conceito utilizado pelo próprio Alves (2010), do professor do espanto, foi definido pelo docente uma estratégia didática denominada de Simetria Invertida na qual o aluno assume funções similares aquele que irá vivenciar no mundo do trabalho e que teve como objetivo incumbir os mesmos, com equipe escolhida aleatoriamente, a se responsabilizarem por três horas de aulas, para apresentação de um trabalho discutido, definido e orienta-do, para a conscientização do homem na sociedade atual, onde o requisito de destaque sempre fosse algo voltado para os indicadores de competência delineados na Unidade Curricular. Após as primeiras experiências vivenciadas em sala de aula foi constatada a necessidade de realinhamento de algumas atividades propostas dentro da situação de aprendizagem em que os resultados alcançados foram à melhora dos indicadores de competência, maior

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interatividade e respeito uns com os outros, além de uma postura mais reflexiva e participativa, principalmente, durante o momento destinado a avaliação das atividades desenvolvidas por meio de rodas de conversas e dos registros no diário de bordo que indicava os percalços e avanços na aprendizagem dos alunos. Os temas mais relevantes que foram abordados pelos alunos nas apresentações foram:

• Empregabilidade e o Mercado para o Jovem Aprendiz; • Alimentação Saudável possibilita maiores Conquistas para o Jovem Atual; • Proatividade e sua importância para se manter um Profissional Requisitado; • Outubro Rosa, incluindo a campanha #SenacRosou • Cultura de Excelência e Valorização Profissional.

As apresentações foram orientadas para ter uma duração de aproximadamente três horas, pois nesse dia, o docente faria introdução da aula para procedimentos básicos como frequência e apresentação da proposta e faria também o feedback das apresentações e qualquer realinhamento necessário, utilizando para os dois momentos um espaço determinado de meia hora. As apresentações possibilitaram um crescimento significativo do aluno, assim como, o aumento de interesse na realização dos trabalhos, pois a cada semana (uma equipe por semana), as equipes se preocupavam em pesquisar e trazer novidades, o espírito de competição surgiu de forma que agregou valor e aumentou a satisfação com os resultados. As equipes tinham que elaborar um plano de ação com cronograma de atividades para ser entregue antes da apresentação, para que o docente pudesse acompanhar e realinhar as produções dos alunos, todos precisavam se envolver e as equipes tinham um checklist para seguir, quando existiam instrumentos obrigatórios para a apresentação, conforme listados abaixo:

• dinâmicas e atividades de construção do conhecimento colaborativos; • slides e vídeos para apresentação;

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• todos os integrantes da equipe, sem exceção, deveriam abordar assuntos relacionados aos elementos da competência, ao final de cada apresentação os próprios colegas de turma avaliavam e contribuíam com o trabalho realizado.

Outro ponto interessante percebido com a experiência da orientação desses trabalhos foi a evidencia que a cada atividade realizada docente e alunos descobriam novas perspectivas de ensino e aprendizagem cuja tônica foi o trabalho cooperativo e colaborativo em que o apoio mútuo e interação entre os pares e o docente contribuíram para alcançar as metas traçadas para o desenvolvimento das competências, abaixo os depoimentos abordam essa visão:

Essa parte do curso foi uma das mais importantes, sem dúvida. Porque nele havia muitas apresentações e a cada apresentação você vai melhorando os pontos er-rados, Como: A postura, o nervosismo, os gestos, e a comunicação (sic).

J. E.Jovem aprendiz da turma 71/2016

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Sobre a ação das equipes que deram aulas na classe, pensei logo (quando a professora Elizete Piancó nos passou o tema é a data da minha apresentação) que não dava para mim, ora eu nunca tinha apresentado em sala de aula nem 20 minutos...mas a profª Eli mais uma vez depositou confiança em mim e em todos os seus alunos da 71 e sem exceção demos um show, quando menos esperei já estava falando e explicando a 40 minutos no dia da minha apresentação. É o mais importante é que não era coisa sem sentido, realmente eu superei minhas expectativas em mim mesmo por que o que eu falava todos entendiam e faziam perguntas e eu sabia responder pq eu conseguia enxergar a carga do assunto não como um empecilho mas como o caminho para o sucesso profissional e para o pessoal também (sic).

J. V.Jovem Aprendiz da turma 71/2016

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A dinâmica da atividade proposta foi uma experiência interessante na qual ajudou a conscientizar os alunos que um bom profissional precisa acompanhar as mudanças na sua área de atuação e que a boa comunicação e atualização profissional são essenciais na atualidade.

5. Ação-Reflexão-Ação

A organização das aulas com base no Planejamento do Trabalho Docente (PTD)⁶ contribuíram para repensar a prática docente, princípios e valores pedagógicos. A cada aula tivemos a preocupação de resgatar os conhecimentos prévios, para em seguida, adensar conhecimento técnico-científico, incentivar o desenvolvimento das Marcas Formativas e avaliar o aluno orientado pelas modalidades avaliativas presentes no MPS: diagnóstica, formativa e avaliativa⁷. No MPS o docente assume a responsabilidade pelo planejamento e avaliação com foco no desenvolvimento de competências, confrontando as experiências prévias dos alunos com o conhecimento técnico-científico, valores e atitudes que a ocupação profissional exige, ademais, o modelo agrega teoria e prática cujo “núcleo da proposta metodológica organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015a, p.12). Essa perspectiva metodológica exige o exercício permanente da pesquisa, atitude reflexiva e a compreensão por parte do docente que cada aluno e turma reagem de forma distinta às situações de aprendizagem propostas no cotidiano da sala de aula. Acreditando no acolhimento do nosso aluno e fazendo jus a afirmação de que o docente ao “sair de casa para dar aula no Senac prepare-se para ajudar a construir

⁶ O PTD procura tornar tangíveis os princípios educacionais, as marcas formativas, o modelo curricular centrado no desenvolvimento de competências e a proposta da avaliação processual, preconizados no Modelo Pedagógico Senac. (SENAC, 2015c, p.6).⁷ As modalidades avaliativas apresentam duas importantes frentes para o desenvolvimento das competências: acompanhar o progresso do aluno e, ao mesmo tempo, orientar a ação educativa do docente. (SENAC, 2015e, p.7).

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sonhos”⁸, e valorizando a importância de um vínculo saudável e agradável entre docente e discente para que o mesmo faça uma diferença significativa no processo de ensino aprendizagem e na construção e definição do Perfil Profissional de Conclusão proposto no Plano de Curso. Nos depoimentos abaixo, extraímos do diário de bordo avaliação das atividades desenvolvidas dentro das situações de aprendizagem propostas para a Unidade Curricular, conforme segue:

Logo após surgiu outra maravilha o projeto para valorizar o Nordeste e nada melhor que falar da sua cultura, onde conseguimos, em grupo junto com a professora Elizete descobrir novos conhecimentos, debater novas ideias, trocar ideias, onde todos novamente buscava a excelência, por que sempre a nossa professora falava todos vocês são fisiologicamente capazes de qualquer coisa e sim somos, por que conseguimos diante do pouco tempo administrar cada segundo, conseguir cada objetivo traçado, e conseguir a satisfação de todos pelo trabalho em equipe e pela valorização e destaque que conseguimos conquistar no Senac, que gerou uma imensa alegria em cada coração que participou de nossa batalha, e cada detalhe de nossa caminhada, e hoje não só eu mas como todos , agradecemos de coração todo esforço carinho e atenção dedicada a nossa turma 71 professora Eliii Piancó, pois saiba que independente da gente não se vê todos os dias não executar a mesma rotina de todas as manhãs com a senhora, iluminando nossa a mentes, saiba que cada palavra está guarda no meu coração e no coração de todos e nunca vamos esquecer, de cada aprendizado, por que eles servirão para nossa vida toda, e sim mas uma vez obrigada, todos nós somos gratos por poder ter participado de cada aula sua, que foi uma imensa porção de aprendizagem, a cada segundo, parabéns pela excelente profissional, não só a senhora Elizete mas todos professores da turma 71. Se fosse para descrever cada emoção daria um livro, onde seria milhões de páginas, mas fiz um pequeno resumo. (sic).

A. N.Jovem Aprendiz da turma 71/2016

Diário de Bordo – 03.11.2016⁸ Fala da Diretoria de Educação Profissional do Senac/Alagoas durante a abertura do II Encontro Pedagógico do Senac Alagoas em 28 de março de 2018.

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O projeto valoriza nordeste. Esse eu tenho que bater palmas. Pense em um projeto top de linha. Muitos pensaram que não iria dá certo e eu me coloco em pri-meiro lugar nisso por que eu pensei assim. Graças a Deus e a todos da 71 incluindo a nossa querida e inesquecível Professora Elizete Piancó, deu certo. Tivemos apenas uma semana para desenvolver um projeto que foi abordado dentro da classe mas que envolveu pessoas de fora do Senac, por que a gente teve a ideia de elaborar rifas, rifas essas que contribuiriam para o pagamento dos gastos do projeto Valoriza Nordeste. Vendemos copos e as rifas que iria sortear um tablet. Foi espetacular, foi extraordinário a forma com que toda a turma trabalhou, com maturidade apesar de ter alunos de 15 anos na sala, com responsabilidade, com dedicação, com proatividade, com eficiência, com eficácia entre outros (sic).

J. V.Jovem Aprendiz da turma 71/2016

Diário de Bordo

Por último, o projeto final, VALORIZA NORDESTE, foi um pouco mais fácil devido as vivências passadas, mas mesmo assim enfrentamos muitos obstáculos, e foi quando surgiu o jargão “Não quero problemas, só quero solução”, e daí em diante começamos a focar nisso, nas soluções e nos resultados, e mais uma vez tivemos êxito. E enfim aprendemos que somos fisiologicamente capazes de aprender qualquer coisa. Só tenho a agradecer, obrigada (sic).

R. F.Jovem aprendiz da turma 71/2016

Diário de Bordo

O planejamento seguindo as diretrizes e orientações do MPS induz a busca permanente pela construção do conhecimento, captam a atenção docente para às possibilidades de mudança e adaptações, aguça o instinto de pesquisador, modificar o “local do queijo” sempre que necessário, afinal “quando mudamos aquilo em que acreditamos, mudamos o que fazemos”, como afirma Spencer Johnson (2000, p. 22).

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6. Considerações Finais

O alinhamento pedagógico proposto no MPS exigiu uma preparação que contemplou leituras dos documentos técnicos do MPS elaborados para orientar a prática educativa do docente e formação continuada com a finalidade de apropriação das diretrizes e orientações metodológicas presentes no modelo. O trabalho com jovens aprendizes demanda a superação de muitos desafios haja vista o perfil e necessidades que os alunos apresentam exigem do docente humildade pedagógica, e o reconhecimento que ele é um eterno aprendiz e que, portanto, precisa cada vez mais utili-zar o planejamento como seu aliado no desenvolvimento de situações e atividades de aprendizagem. As experiências relatadas foram extraídas de cinco turmas de aprendizagem, no qual cada turma tinha aproximadamente 20 alunos, durante o ano de 2015 e 2016. Os resultados foram gratificantes, pois a cada turma percebíamos o aprimoramento da prática docente atre-lado ao aprofundamento teórico-prático do modelo e a consciência da contribuição para a aprendizagem dos alunos com foco no desenvolvimento de competências. A experiência permitiu repensar o planejamento docente e perceber que a aprendizagem se torna mais significativa quando o aluno assume postura ativa na construção do conhecimento.

Referências

ADAMS, Henry Brooks. The Education. Letter to American Teachers of History. 1919. ALVES, Rubem. Os quatros pilares: Aprender, Fazer, Conviver, Ser. Belo Horizonte/MG. CEDIC, 2010.JOHNSON, Spencer. Quem mexeu no meu queijo. Rio de Janeiro: Record, 2000.SENAC. DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1)._______ DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3)._______ DN. Projeto Integrador. Rio de Janeiro, 2015d. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 4)._______. DN. Avaliação da Aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015e. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5).

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57Debates Pedagógicos - 2ª edição

O MODELO PEDAGÓGICO SENAC COMO FIO CONDUTOR DO APRENDIZADO PARA O

MERCADO DE TRABALHO: UMA EXPERIÊNCIA NO CURSO DE ASSISTENTE ADMINISTRATIVO

DO SENAC–AL

José Renan da Silva Laurentino1 Raphael de Oliveira Freitas2

1. Introdução

A educação profissional contemporânea não deve apenas ter como objetivo principal, a mera transmissão de técnicas para a atuação de profissionais no mercado de trabalho. Ela também deve produzir a promoção de valores, atitudes e comportamentos que favoreçam a formação/preparação dos indivíduos para o mundo atual. Nesse âmbito o Senac, (2015a, p. 5) explana a função da educação profissional como:

Fator de desenvolvimento humano e inclusão social, cultural e produtiva, a educação profissional, neste século, transcende a finalidade de estrita preparação de mão de obra e consolida o seu papel na formação para o trabalho em seus aspectos mais amplos, fixados nos pressupostos da democracia, igualdade de direitos e dignidade humana. Para que possa ser efetiva, portanto, deve contribuir para o desenvolvimento do potencial dos sujeitos, não apenas do ponto de vista profissional, mas, também, como cidadãos, de forma a trazer impacto positivo em suas vidas, na comunidade em que vivem e para a sociedade como um todo.

1 Bacharel em Ciências Econômicas / Docente na área de gestão e negócios no Senac/AL.2 Mestre em Educação / Docente na área de saúde, infraestrutura e meio ambiente no Senac/AL.

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Diante dessa perspectiva, o Departamento Nacional (DP) do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – (SENAC) sentiu a necessidade de estabelecer uma unidade nacional de suas ações normativas referentes ao seu caráter pedagógico. Essa iniciativa deu origem ao Modelo Pedagógico Senac (MPS), projeto que está contemplado no Mapa Estratégico – (ME) do Senac 2016-2019 e, dentro desse planejamento, foram propostos alguns desafios estratégicos conforme esquema abaixo:

Figura 1 - Desafios estratégicos para o triênio 2016-2019.

Para Senac, (2015a, p. 5) o modelo pedagógico é compreendido como:

[...] conjunto coerente de referências que orientam a concepção da proposta pedagógica, nas quais assentam o trabalho do educador e a relação empreendida no processo de ensino e aprendizagem. A designação Modelo Pedagógico, no entendimento do Senac, representa um conjunto de concepções orientadoras das práticas pedagógicas realizadas nos ambientes de aprendizagem da Instituição.

O MPS apresenta como aspectos principais:

• A organização de cursos em estruturas curriculares, cuja competência é a própria Unidade Curricular;• A prática pedagógica que pressupõe o aluno como protagonista da cena educativa;• A adoção de Projetos Integradores como estratégia para a articulação de competências;• O desenvolvimento de Planos de Cursos de abrangência nacional. (SENAC, 2015a, p. 5).

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59Debates Pedagógicos - 2ª edição

Ainda conforme Senac, (2015a, p. 5) a harmonia e encontro de ideias das ações pedagógicas promovidas pelo MPS proporcionam uma série de fatores positivos para a Instituição de educação profissional Senac, dentre elas estão:

I. Permite a convergência dos Departamentos Regionais na melhoria contínua da qualidade do atendimento; II. Otimiza recursos, reduzindo os custos para elaboração, produção e desenvolvimento dos cursos com validade nacional;III. Torna mais viável a criação, oferta, avaliação e melhoria contínua de portfólios, organizados por itinerários formativos, com perfis profissionais de con-clusão definidos com base nas demandas do mercado de trabalho; IV. Oferece flexibilidade na oferta e agilidade operacional no processo de transferência de alunos. Essas vantagens constituem a base da implantação de um padrão de qualidade para a oferta de educação profissional do Senac em todo território nacional.

O mapa estratégico do Senac versão (2016-2019) estão alinhadas com as ações pedagógicas do MPS, conforme esquema abaixo:

Figura 2 - Ambiente do Mapa estratégico do SENAC versão 2016-2019.

Fonte: Senac, 2016, p. 9.

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Dentro do MPS existe a perspectiva de constante atualização, adaptação e aperfeiçoamento das ações pedagógicas dos sujeitos envolvidos nesse processo, sejam docentes, alunos e membros da gestão da unidade do Senac (pedagogos, assistentes administrativos, coordenadores, etc).

Esse caráter de construção e aprimoramento constantes pressupõe o estabelecimento de duas importantes rotinas, que são: I- a necessidade de uma permanente avaliação crítica sobre a abrangência, eficácia e pertinência do Modelo; e II- a alimentação dos canais de diálogo e prática de uma escuta ativa daqueles que, nos Departamentos Regionais do Senac em todo o Brasil, tornam vivos, a partir da prática, os pressupostos do Modelo e, por essa mesma via, o enriquecem dia-riamente. (SENAC, 2015a, p. 6).

A fim de desenvolver uma unidade/diretriz curricular e pedagógica nacional dos aspectos do MPS, o DN do Senac elaborou a Coleção de Documentos Técnicos, composta por cinco volumes 1- Concepções e Princípios (SENAC, 2015a), 2- Competência (SENAC, 2015b), 3- Planejamento Docente (SENAC, 2015c), 4- Projeto Integrador (SENAC, 2015d) e 5- Avaliação da Aprendizagem (SENAC, 2015e). O presente trabalho tem, como premissa principal, que a utilização dos recursos do MPS promove uma aprendizagem significativa da Unidade Curricular (UC) 1 (Auxiliar na execução dos procedimentos administrativos) do curso de Assistente Administrativo (AA) do (SENAC – AL). Essa ação é constituída e institucionalizada pela elaboração do Plano de Trabalho Docente (PTD) desta UC. O Planejamento deste documento também se fundamen-tou na metodologia do desenvolvimento de competências de (KULLER e RODRIGO, 2012 e 2013). Nessa perspectiva, elaboraram-se questões que nortearam este trabalho:

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• Quais são os aspectos que caracterizam o MPS como mecanismo de promoção de uma educação profissional de excelência? • Qual a metodologia que favorece o desenvolvimento das práticas pedagógicas dos docentes da educação profissional? • Quais as contribuições do MPS para o desenvolvimento da aprendizagem significativa da UC 1 do curso de AA do Senac-AL? • Quais são as principais dificuldades dos docentes para a implementação da UC 1 do curso de AA do Senac-AL? • Quais foram os caminhos trilhados pelos docentes até a elaboração do modelo de um PTD para o curso de AA em relação às aprendizagens propostas para a UC 1?

2. Desenvolvimento

Assim, como foi abordado na introdução deste relato de experiência, o MPS foi pensado e elaborado pelo Departamento Nacional do Senac a partir de 2013, como “uma importante ação de alinhamento pedagógico, no sentido de reforçar a unidade institucional, com vistas a promover o incremento da qualidade da oferta educacional”, (SENAC, 2015a, p. 5) dando origem ao modelo, ficando sob a responsabilidade dos regionais desenvolverem os PTD dos cursos. No caso do curso de Assistente Administrativo do Senac–AL, uma equipe composta por dois componentes um docente3 (I1) e um pedagogo (P1), ambos com a área de atuação nos cursos referentes ao eixo de gestão e negócios,

3 Por questões de direitos autorais, os professores/instrutores e o pedagogo não terão seus nomes identificados. Serão utilizadas às siglas I para docentes e P para Pedagogo com as respectivas numerações por ordem de aparição no texto.

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foi deslocada até o Departamento Regional – (DR) do Ceará no ano de 2016 para realizar a formação do MPS. Após o seu retorno, I1 e P1 ministraram a oficina pedagógica do MPS para os professores/instrutores que iriam atuar no curso de AA. Os docentes que participaram desse encontro de formação estavam aptos a participar da elaboração do PTD do curso de AA do DR de Alagoas. O plano de curso de AA é o documento norteador para a elaboração do PTD. O mesmo apresenta a seguinte organização curricular:

Quadro 1 - Organização curricular do curso de assistente administrativo.

Fonte: Senac (2015 f, p. 8)

A primeira UC pretende desenvolver no aluno a competência⁴ de “Organizar e executar atividades de apoio aos processos da Organização” e a segunda UC de “Elaborar, organizar e controlar documentos da Organização”. Esse documento se pautou também na metodologia de desenvolvimento de competências de Kuller e Rodrigo (2012) que caracteriza-se como perspectiva metodológica

que foi desenvolvida para apoiar a capacitação de docentes de educação profissional, e constitui uma síntese dos mais

⁴ Para SENAC (2015b, p. 12) competência é a “Ação/fazer profissional observável, potencialmente criativo, que articula conhecimentos, habilidades, atitudes e valores e permite desenvolvimento contínuo”.

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comuns métodos centrados na iniciativa e na atividade dos educandos. É uma alternativa para o desenho de situações de aprendizagem, e não de aulas magistrais. Em cada situação de aprendizagem são propostos sete passos: contextualização e mobilização; definição da atividade de aprendizagem; organização da atividade de aprendizagem; coordenação e acompanhamento; análise e avaliação da atividade de aprendizagem; outras referências; e síntese e aplicação. (2012, p.5).

Esta teoria foi sistematizada por estes autores, a partir das:

[...] contribuições da escola nova (FILHO, 1950), do construtivismo (BECKER, 1992), da pedagogia crítica (FREIRE, 1978) de uma peculiar psicologia da criatividade e de um determinado entendimento da pedagogia das competências na construção da metodologia que vamos apresentar. (KULLER e RODRIGO, 2013, p. 11)

Com base nos caminhos indicados, os autores Kuller e Rodrigo (2012, p. 2) seguiram três princípios básicos: 1. A aprendizagem é privilegiada em detrimento da transmissão de informações ou conhecimentos. Não será descrita uma metodologia de ensino, mas uma metodologia de aprendizagem. Assim, não serão propostas formas de condução de aulas ou de situações de ensino, mas o desenho de situações de aprendizagem; 2. As situações de aprendizagem deverão ser desenhadas com base nas atividades dos alunos e não nas dos educadores, professores ou instrutores, mesmo quando previstas em planos de trabalho docente; 3. As atividades propostas aos educandos devem garantir que as competências em desenvolvimento sejam requeridas, exercitadas, submetidas à reflexão e novamente desempenhadas.

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Dentro destas concepções os passos metodológicos desenvolvem a situação de aprendizagem que é indicada por Kuller e Rodrigo (2012, p. 6) como o “[...] conjunto com-pleto de ações dos educandos, orientadas pelo educador e destinadas ao domínio de uma ou mais competências previstas em plano de curso ou plano de trabalho docente”. Os passos metodológicos são descritos por Kuller e Rodrigo (2012, p.3) a seguir.

1. Contextualização e Mobilização - o aluno compreende a essência e a importância da situação de aprendizagem e a situa no conjunto de suas aprendizagens anteriores e no seu itinerário formativo. 2. Definição da Atividade de Aprendizagem - a referência central da situação de aprendizagem é estabelecida. Nela se propõe o envolvimento dos participantes no enfrentamento de um desafio, na resolução de um problema, na realização de uma pesquisa, no de-senvolvimento de um projeto, na participação em um jogo ou dramatização ou na execução de outra atividade qualquer. 3. Organização da Atividade de Aprendizagem - nesse momento, devem ser produzidas e descritas as orientações minimamente necessárias para que os participantes possam enfrentar o desafio, solucionar o problema, desenvolver o jogo ou realizar a pesquisa. Ou seja, prever as condições, estratégias e recursos para o desenvolvimento da Atividade de Aprendizagem proposta no item anterior. 4. Coordenação e Acompanhamento - são previstos os meios e as formas de coordenar e acompanhar o desenvolvimento da Atividade de Aprendizagem 5. Análise e Avaliação da Atividade de Aprendizagem - a própria atividade de aprendizagem e os resultados por elas obtidos serão os objetos da reflexão individual, da discussão em pequenos grupos ou reuniões

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presenciais ou virtuais, sempre contrapondo resultados obtidos ao processo de trabalho adotado. 6. Outras Referências - aqui, são veiculadas as recomendações práticas e a produção teórica existente e relacionada à competência em desenvolvimento. 7. Síntese e Aplicação - as referências já existentes no universo cultural (apresentadas no item anterior) são integradas com a experiência prévia e a vivência concreta dos participantes. Uma forma útil de produzir a síntese é elaborar propostas de ação para situações iguais ou distintas daquela vivida na Atividade de Aprendizagem. Além da compreensão dos sete passos metodológicos para o desenvolvimento de uma situação de aprendizagem é ideal também que os professores/instrutores da educação profissional entendam que nos fundamentos da metodologia de desenvolvimento de competências estão inseridos os conceitos de ação-reflexão-ação e simetria invertida. É nesse contexto que professores/instrutores devem se posicionar como sujeitos reflexivos e pesquisado-res de suas práticas pedagógicas em sala de aula. Para compreensão do conceito de ação-reflexão-ação⁵ é necessário indicar a posição dos autores em relação ao modelo atual de prática escolar dominante e o seu engajamento em uma ação transformadora para a aprendizagem dos alunos. A esse respeito, tem-se esse posi-cionamento:

O construtivismo na educação pode ser visto como a perspectiva teórica em que estão reunidas várias tendências atuais de pensamento, que comungam a insatisfação com a prática escolar dominante que prioriza a transmissão de conhecimentos mediante repetição e promove um ensino ritualístico e sem sentido. Ao contrário, o ensino deveria criar para o aluno

⁵ O núcleo da proposta metodológica do MPS organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer (SENAC, 2015a, p.12).

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oportunidades de agir, criar, operar, construir a partir da realidade próxima, em primeira instância. (KULLER e RODRIGO, 2013, p. 14)

Elencando assim o aluno como protagonista da aprendizagem, a partir desta perspectiva o docente:

[...] deve abandonar o ensino rotineiro de técnicas e conteúdos prontos e acabados, que exigem apenas hábito ou memorização, para dedicar-se a apoiar-se o processo de construção de conhecimento e de criação de novas formas de fazer, com o aluno agora colocado no papel de protagonista de sua própria aprendizagem. (KULLER e RODRIGO, 2013, p. 14)

Sendo assim, o docente deve repensar e refletir sobre todo o processo de elaboração da situação de aprendizagem em cada passo metodológico desenvolvido. Kuller e Rodrigo (2012, p. 1) exemplificam este processo de ação-reflexão-ação “para desenvolver a competência de escrever, por exemplo, é preciso criar situações em que o participante seja solicitado a escrever, refletir sobre sua escrita e modificá-la. A sequência ação–reflexão–ação precisa ser colocada como centro da dinâmica educativa”. Dessa forma podemos entender que a prática reflexiva no desenvolvimento do projeto de situação de aprendizagem proporcionará ao docente um elemento transformador em seu cotidiano educacional. Consequentemente, haverá o aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas em sala de aula. Para compreender o conceito de simetria invertida dentro da proposta de metodologia de aprendizagem concebida por (KULLER e RODRIGO, 2013) vamos resgatar o argumento utilizado no artigo⁶ que fala sobre a implementação do curso de Especialização em Docência para a Educação Profissional (EDEP) ofertado pelo Senac São Paulo:

⁶ Zank, C. et al. O Curso de Especialização em Docência para a Educação Profissional: Inovando para Formar, Formando para Inovar. Revista de educação superior do Senac do Rio Grande do Sul, Competência. Porto Alegre, RS, v.4, n.1, p. 11-26, jul/dez. 2011.

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Acredita-se que o docente precisa experimentar, no papel de aluno aquilo que ele deverá desenvolver com os seus estudantes. Portanto, se a EDEP busca formar o docente para que ele desenvolva nos seus estudantes a capacidade de relacionar teoria e prática, é preciso que tal relação esteja presente em sua própria formação. A isso se dá o nome de Simetria Invertida. (ZANK, C. et al, 2011, p. 13)

A vivência do conceito de simetria invertida por parte do estudante da EDEP durante a elaboração do projeto de situação de aprendizagem, permite o desenvolvimento de um saber prático e fundamentado em uma metodologia de aprendizagem e não de ensino, pois:

[...] o contato dos estudantes com os passos metodológicos ocorre por meio de uma sobreposição de dois movimentos idênticos: ao mesmo tempo em que eles vivenciam as etapas das situações de aprendizagem previstas, são instigados a planejar suas aulas de modo a aplicar esses passos também como docentes. (ZANK, C. et al, 2011, p. 13)

De acordo com o referencial teórico-metodológico adotado, foi desenvolvido um projeto de situação de aprendizagem⁷ para o curso de AA no DR Alagoas, para as ações do professor/instrutor de educação profissional que vai atuar com a perspectiva do MPS. Foram realizadas cerca de quatro reuniões para a criação do PTD deste curso. Na primeira reunião P1 e I1 apresentaram os aspectos gerais do plano de curso de AA. Esse foi o marco inicial do desenvolvimento desse documento. A partir do Plano de curso de AA criado pelo DN (SENAC, 2015f) e dos encontros de elaboração do PTD, foi estabelecida a situação de aprendizagem: Conhecer os procedimentos de rotina dos diversos setores organizacionais para trabalhar a UC1. A participação

⁷ “[...] as situações de aprendizagem podem ser entendidas como conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências”. (SENAC, 2015c, p.11).

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de toda equipe foi de grande importância já que “a criação de situações de aprendizagem, alinhada à metodologia de desenvolvimento de competências, é o núcleo criativo do trabalho docente”. (SENAC, 2015c, p.11). Cada indicador foi desenvolvido a partir de desafios. Vejamos o esquema abaixo que relaciona indicador, elementos de competência e desafios:

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Fonte: Elaborado pela equipe de construção do PTD do curso de AA (2016).

As atividades relacionadas no PTD deste curso utilizaram a perspectiva de ação-reflexão-ação e de simetria invertida, pois os alunos eram instigados a refletir sobre as atividades promovidas em sala de aula pelos docentes. Além desse aspecto, os docentes relatam que estão em constante aperfeiçoamento sobre as suas ações em sua atividade profissional. Vejamos algumas falas de docentes que participaram do processo de elaboração do PTD do curso de AA referente a esses aspectos

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Eu posso dizer que no começo tudo foi difícil, pois o ser humano tem medo do que é novo, mas depois que fui entender a proposta e passei pela fase de “adapta-ção” percebi que o MPS proporciona uma verdadeira aprendizagem significativa tanto para nós professores porque aprendemos muito com nossos alunos e tam-bém refletimos sobre as nossas práticas pedagógicas em sala de aula. (I3).

Podemos observar, na fala de I3, elementos característicos do MPS (perspectiva da ação-reflexão-ação e da simetria invertida), além do conceito de aprendizagem significativa⁸. Na fala de I1, é apresentada a importância dos docentes cursarem a EDEP e as oficinas pedagógicas de disseminação e compreensão do MPS, pois essas ações de formação permitem aos mesmos uma constante atualização e aperfeiçoamento do método Senac de fazer a Educação Profissional, além de essas ações serem componentes fundamentais do ME do Senac, versão 2016-2019, que tem como meta/objetivo colocar em prática o MPS em todos os DR.

Eu posso dizer que como professora da educação profissional, me divido em dois momentos um antes da EDEP e dos momentos de formação continuada providos para a compreensão do MPS e outro depois da participação dessas experiências. Antes me pautava na “transmissão dos conhecimentos” o mais importante para mim era que os alunos adquirissem os conhecimentos no momento em que eu os avaliasse eu era o centro das ações e atividades em sala de aula. Em minhas aulas não havia uma metodologia de aprendizagem centrada no aluno e nem um currículo desenvolvido por competências e sim um currículo baseado em disciplinas. Como já falei depois desse divisor de águas profissional eu vivo em uma constante busca por atualização em minhas práticas pedagógicas em sala de aula. Porque eu estou formando para além do mercado de trabalho estou formado para a vida desses indivíduos. (I1).

⁸ Segundo, Moreira e Masini (2006, p. 17) “[...] aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo”.

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Segundo a equipe de elaboração do PTD deste curso (P1, I1, I2, I3 e I4), foram encontradas diversas dificuldades na criação e realização em sala de aula do PTD da UC1 e da UC2, mas como o estudo se refere apenas à UC1 vamos apresentar os comentários dos docentes referentes a ela. I1 apresentou dificuldades em relacionar a situação de aprendizagem com as atividades realizadas diariamente no planejamento das aulas da UC1.

Senti muita dificuldade na Hora de identificar o que era situação de aprendizagem com as atividades realizadas de fato. Isso aconteceu porque na minha cabeça antes do MPS tudo era muito prático, mas na hora de colocar no papel no caso do PTD era muito diferente. (I1).

Já para I4 muito alunos não conseguiam identificar se estavam indo bem ou mal no curso, porque não há notas numéricas, e sim menções avaliativas (atendido, parcialmente atendido e não atendido). Tradicionalmente, tanto alunos como docentes estão habituados a avaliar⁹ e serem avaliados por processos que utilizam provas/exames escritos/orais no qual são atribuídas notas (números) e, normalmente, são considerados bons ou maus alunos pela proximidade com a média (que no DR Alagoas é 7,00) ou com a nota máxima 10,00 pontos.

Eu tive muitas dificuldades em avaliar os meus alunos porque não compreendia como avaliar por indicador de competência. Na verdade, eu nunca tinha trabalhado com um currículo que avalia por competências, pois a avaliação no MPS se apresenta de várias formas, além de se ter diversas funções. Outro ponto difícil para mim foi o de tentar explicar aos meninos como eles seriam avaliados, porque eu estava acostumado a dar notas de zero a dez nos trabalhos e provas escritas que eu aplicava. (I4).

⁹ Para SENAC (2015e, p.7) A avaliação da aprendizagem na educação profissional é uma prática pedagógica intencional, sistemática e organizada com o objetivo de aferir o desenvolvimento de competências nos alunos. Ela se dá em modalidades distintas, porém interconectadas, que variam de acordo com a função que exercem, compreendendo a avaliação diagnóstica, formativa e somativa.

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A avaliação da aprendizagem de acordo com Senac (2015e) se apresenta de três formas (diagnóstica, formativa e somativa), cada uma com as suas respectivas funcionalidades de acordo com o quadro abaixo:

Quadro 3 - Tipos de avaliação com as suas respectivas funcionalidades de acordo com o MPS.

Fonte: SENAC (2015e, p.7-9)

O processo avaliativo da UC1 do curso de AA do SENAC-AL acontece de maneira processual e contínua, pois os alunos possuem um diário de bordo para registrar as aprendizagens desenvolvidas durante o dia letivo em que estudam. Esse instrumento avaliativo proporciona

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ao estudante uma reflexão contínua sobre o seu processo de aprendizagem. O docente pode também diagnosticar, por meio desses escritos, as dificuldades e avanços destes alunos para o desenvolvimento da competência. Outro instrumento avaliativo é a observação/acompanhamento dos alunos durante o curso. Ainda como instrumento avaliativo é utilizado desafios conforme descritos no PTD desenvolvido para esta UC. A partir dessas problematizações são trabalhados aspectos práticos do saber profissional do AA como: seminários que debatem o dia-a-dia desse profissional com temas relevantes, por exemplo, ética profissional, comunicação empresarial, modelos de documentos, que são utilizados em setores organizacionais, entre outras atividades inerentes a esse profissional. A soma de todos esses instrumentos avaliativos vai indicar se o aluno desenvolveu ou não a competência, além de integrar aprendizagens que o auxiliem no desenvolvimento da competência das próximas UC. Os instrumentos avaliativos foram pensados para o desenvolvimento da situação de aprendizagem proposta pela organização curricular do curso de AA. A aplicação pedagógica do formato de avaliação proposto no MPS pode ser observada no quadro abaixo:

Quadro 4 – Aplicação Pedagógica das modalidades avaliativas.

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Fonte: SENAC (2015e, p. 9)

I2 ressalta que compactar tudo de maneira clara e objetiva não foi uma tarefa simples e fácil, além de estar em sintonia com todos os componentes da equipe para que os alunos vejam o curso de maneira integrada.

Imagine você ter tudo planejado em uma disciplina de 80 horas de arquivo e protocolo e de um momento para o outro não são mais disciplinas são unidades cur-riculares e, além disso, tudo por competências. Cai na besteira de achar que tudo partia pelos conhecimentos e não pelos indicadores de competência quebrar esse paradigma levou tempo e adaptação sempre buscando a ajuda do Pedagogo e dos colegas. Também levando em consideração a sintonia do grupo para o que estava sendo trabalhado na UC1 está em sintonia com a UC2 e a UC3 que é o PI, ou seja, o projeto integrador.

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Além das dificuldades apresentadas, os docentes se preocuparam com o tempo da UC1 84 horas para desenvolver a competência proposta. Durante o processo de formação das turmas após o projeto piloto, foram realizados alguns pequenos ajustes no PTD, para que os alunos egressos do curso de AA do SENAC-AL, ao término do curso, saíssem formados de acordo com o perfil traçado10 no plano de curso e as marcas formativas do Senac que são:

[...] o domínio técnico-científico, visão crítica, atitude empreendedora, sustentável e colaborativa, com foco em resultados. Essas marcas reforçam o compromisso da Instituição com a formação integral do ser humano, considerando aspectos relacionados ao mundo do trabalho e ao exercício da cidadania. Essa perspectiva propicia o comprometimento do aluno com a qualidade do trabalho, o desenvolvimento de uma visão ampla e consciente sobre sua atuação profissional e sobre sua capacidade de transformação da sociedade”. (SENAC, 2015f, p.8).

Para que se desenvolvam no aluno de AA as competências propostas e marcas formativas do Senac, após a fase final do curso, os alunos participam de um Projeto Integrador (PI). O mesmo é baseado na metodologia de ação-reflexão-ação, que se constitui na proposição de situações desafiadoras, a serem cumpridas pelo aluno (SENAC, 2015f). A unidade é obrigatória, no entanto, este é o momento, onde o aluno tem a oportunidade de apresentar todos os elementos de competência desenvolvidos durante o curso, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que se esperam de um bom profissional.

10 De acordo com SENAC (2015f, p. 8), “O assistente administrativo é o profissional que realiza atividades de apoio administrativo relacionadas aos processos de gestão de pessoas, logística, marketing, comercialização, finanças e do jurídico de uma organização, atendendo à solicitação de clientes internos e externos. Esse profissional atua em organizações dos segmentos de comércio de bens, serviços e turismo e nos demais setores da economia, em organizações públicas e privadas, relacionando-se com equipes dos diversos setores da or-ganização”.

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Partindo das etapas descritas a seguir, o docente, ministrante desta unidade curricular e seus alunos, seguem algumas etapas, são elas: 1 – Delimitar e conhecer determinado assunto que será estudado e pesquisar previamente; 2 – Escolher um ponto focal, o qual perpasse pela situação pedagógica do SENAC (ação-reflexão-ação), agregando também pontos secundários do que se deseja apresentar neste projeto; 3 – Construir um cronograma dentro das 16h que integre diversas habilidades e responsabilidades para desenvolver um trabalho em grupo, por meio de pesquisas (em sites, cases, textos, etc.), contatos inerentes ao que se deseja apresentar, além de requerer antecipadamente determinados recursos. Para isso, esses recursos são cedidos pela instituição (tendo disponibilidade), deixando claro que a participação de todos é condição essencial para o sucesso do PI, afinal integra capital humano. 4 – Analisar e planejar quais momentos serão em grupo, em duplas e/ou individuais; 5 – Revisar o que se produz ou está produzindo; 6 – Escolher um ponto final forte para dar visibilidade aos processos de aprendizagem e os conteúdos aprendidos; 7 – Prever critérios de avaliação e registrar a participação de cada um ao longo do trabalho (professor e pedagógico local).

Como o PI ocorre a partir de um tema gerador, agregando a problematização, o desenvolvimento e a síntese, torna-se necessária em cada etapa a intervenção do professor/instrutor, num contexto de manter a ideia central inalterada, contudo flexibilizada à compreensão e à absorção do tema pela turma/grupo, ou seja, toda a produção deve ser coletiva e compreendida pelo todo. Podemos pensar em objetivos secundários que não tenham relação com o tema principal, mas que devem ser pontuais e focados. A aprendizagem por projetos já é utilizada nas mais diversas organizações de ensino, nomenclaturas diferentes e alguma semelhança nos objetivos, mas o que vale ressaltar é a oportunidade que ele representa, ou seja, fazer com que o aluno exponha seus conhecimentos dentro de uma seara

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profissional pautada pelas marcas formativas do Senac: esse é o papel principal desta UC. A ideia central é fazer do aluno o protagonista do seu próprio aprendiza-do e, de fato, mediante PI, nos docentes conseguimos identificar os mais diversos perfis e posturas que, fatalmente, alcançaram êxito junto ao mercado nacional, sempre competitivo e na mira de profissionais cada vez mais capacitados que precisam se aperfeiçoar cada vez mais, e mesmo, tornarem-se quase indispensáveis.

3. Considerações Finais

O MPS veio para ficar e transformar a maneira como o Senac faz Educação Profissional no Cenário Nacional. As dificuldades de implementação do mesmo são naturais, assim como tudo que é novo, principalmente para os docentes e alunos, que tiveram sua formação inicial em um currículo pautado em disciplinas e uma perspectiva de avaliação tradicional por meio de exames e sistema de notas numéricas. A mudança dessas concepções e princípios para o pensamento em currículos desenvolvidos para o ensino e aprendizagem por competências é uma transição radical, mas com as ações propostas pelo ME do Senac 2016-2019 tudo aconteceu de maneira gradativa, e com qualidade. Este trabalho mostrou uma experiência na qual é possível constatar que o trabalho árduo e a dedicação podem concretizar essa ação de formar alunos para a vida profissional e para a vida em um mundo competitivo e desigual.

Referências

KULLER, J.A.; RODRIGO, N.F. Metodologia de desenvolvimento de competências. Rio de janeiro: Senac Nacional, p. 216. 2013.

KULLER, J.A.; RODRIGO, N.F. Uma metodologia de desenvolvimento de competências. Boletim Técnico do

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Senac, Rio de Janeiro, v.38, n.1 jan/abr.2012. Disponível em: <http://www.senac.br/media/6613/artigo1.pdf>. Acesso: 3 de novembro de 2015.

MOREIRA, Marco Antônio; MASINI, Elcie. Aprendizagem Significativa: a teoria de David Ausubel. 2 ed. São Paulo: Centauro. 2006.

SENAC. DN. Avaliação da aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015e. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5).

_____. DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b. 28 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2).

_____. DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

_____. DN. Conectado ao futuro da educação profissional. Revista do Senac, Rio de Janeiro, v. 66, n. 735, p. 6-11, mai. /jun. 2016.

_____. DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

_____. DN. Plano de curso: assistente administrativo. Rio de Janeiro, 2015f. 18 p. Eixo tecnológico: Gestão e Negócios. Segmento: Gestão. Inclui bibliografia.

_____. DN. Projeto Integrador. Rio de Janeiro, 2015d. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 4).

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ZANK, C. et al. O Curso de Especialização em Docência para a Educação Profissional: Inovando para Formar, Formando para Inovar. Revista de educação superior do Senac do Rio Grande do Sul, competência. Porto Alegre, RS, v.4, n.1, p. 11-26, jul./dez. 2011. Disponível em: <http://seer.senacrs.com.br/index.php/RC/article/view/80>. Acessado em: 3 de mar. 2017.

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APRENDIZAGEM: UM PROCESSO DE TROCA E TRANSFORMAÇÃO

Lavínia Caroline de Oliveira Lins1

1. Introdução

O processo de aprendizagem e a adoção de técnicas e metodologias eficazes para a construção do conhecimento são temas de incontáveis estudos nas mais diversas áreas de pesquisa. Os filósofos, os psicólogos, os pedagogos e tantos outros cientistas têm imensurável interesse na compreensão de como se aprende e como se dá este processo. A evolução das diretrizes pedagógicas tem caminhado para além dos ditames técnicos. A exemplo, em 1999, é lançado o Parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CEB nº.16/1999, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico e regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB/1996. Nela, o princípio da competência é apresentado como orientador da organização curricular e da prática pedagógica profissional. No documento referido, tem-se que competência é “a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação, valores, conhecimentos e habilidades necessárias ao desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (BRASIL.MEC, 1995, p. 2). Nesse contexto, já não se fala em ensino, pedagogia, qualificação, mercado de trabalho, sem pensar as qualidades que são próprias do indivíduo e que, de alguma forma, mais ou menos influente, determinarão suas condutas pessoais e profissionais, e, quando falamos em aprendizagem, falamos,

1 Advogada. Pós-Graduada em Psicologia Jurídica e Forense / Docente na área de Gestão e Negócios, no Senac/AL/Arapiraca.

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claro, de seres humanos. Diferentemente dos outros seres, nós temos a capacidade de fazer inferências, de dar significados e ressignificar as experiências que atravessam a nossa história. Partindo dessa ideia, antes de pensar nas formas de desenvolvimento da nossa capacidade de armazenamento e recuperação de informações, a fim de nos tornarmos aptos para a vida em sociedade e, mais especificamente, para uma melhor atuação nos disputados espaços no mercado de trabalho, merece reflexão a forma como o indivíduo se comporta diante das tantas oportunidades que a vida lhe oferta. Sendo assim, observá-lo, tão-somente, de forma objetiva e técnica é fazer uma leitura muito rasa. É preciso avaliá-lo por vieses mais subjetivos, passando pelos fenômenos que movimentam as impressões internas do ser humano, pois que elas são a essência mais motivadora do seu comportamento e, consequentemente, como veremos, do seu aprendizado. Teóricos como John Locke (1991), Freud (2016) e Judith Butler (2015) buscaram explorar essa dimensão menos tangível, mas encantadora, que constitui o indivíduo. Estudaram a origem do conhecimento, as suas inspirações e processos de troca. Compreenderam que o ser humano está para muito além do que se vê e, se olharmos com profundidade e sensibilidade, poderemos encontrar mundos jamais visitados e repletos de gratas surpresas. Essa viagem é, antes de tudo, uma busca por nós mesmos. Chegar a tal conclusão é descobrir, dentre outros, que, considerando a relação aluno-professor, o processo de construção é mútuo, seja ele objetivo ou subjetivo. Para tanto, veremos mais à frente, como os fenômenos da empatia e da motivação tornam-se definitivos para a obtenção do conhecimento, não só em termos quantitativos, mas, principalmente, qualitativos. Veremos também que esses fenômenos têm um maior poder de referenciar o nosso comportamento, uma vez que ficam guardados em nossa memória de longo prazo.

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Em 2013, o Senac iniciou um alinhamento das práticas pedagógicas com foco no desenvolvimento de competências. O Modelo Pedagógico Senac, doravante MPS, compreende “um conjunto coerente de referências que orientam a concepção da proposta pedagógica, nas quais assentam o trabalho do educador e a relação empreendida no processo de ensino e aprendizagem” (SENAC, 2015a, p. 5) No modelo a concepção de aprendizagem

traz uma estrutura calcada em concepções epistemológicas em consonância com uma ou mais teorias educacionais que representam o eixo norteador da aprendizagem. Em especial, pressupõe uma forma de estrutura curricular comum a partir da qual se alinham as práticas educativas a serem desenvolvidas. Sua natureza, nesse sentido, remete às teorias da aprendizagem e do desenvolvimento e, por consequência, reflete os pressupostos da avaliação educacional que lhe são pró-prios, ou seja, apresenta as finalidades, os objetivos, meios e resultados de aprendizagem que se pretende atingir. (SENAC, 2015a, p. 7)

No escopo do MPS o desenvolvimento de competências implica na adoção de práticas educativas inovadoras que supere práticas tradicionais e coloca em cena o protagonismo do aluno por meio de metodologias ativas que ajudam no desenvolvimento de competências de modo que “O núcleo da proposta metodológica organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015a, p. 7).

2. O homem: uma folha em branco

Iniciemos uma reflexão a partir da ideia de John Locke (1991, p. 26), na obra Ensaio acerca do entendimento humano,

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Suponhamos, pois, que a mente seja, como dizemos, um papel em branco, totalmente desprovido de caracteres, sem ideias quaisquer que sejam. Como ela vem a ser preenchida? De onde provém a vasta provisão que a diligente e ilimitada imaginação do homem nela pintou com uma variedade quase infinita? De onde lhe vêm todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, em uma palavra: da EXPERIÊNCIA.

Daí, conclui-se que nenhum conhecimento se faz sozinho. Não é um fenômeno que nasce sem precedentes. Inicialmente, como defende Freud (2016), a criança passa a imitar seus pais, pois estes são a sua referência no mundo novo em que está inserida. Posteriormente, passa a dar seus passos sozinha, a partir das relações que vai estabelecendo com o contexto em que vive e com aqueles que nele estão postos. Logo, resta clara a necessidade de uma base empírica, ao menos, para a construção do conhecimento. Esta vai se consolidando por meio das vivências do indivíduo, suas impressões acerca daquelas experiências, seus saldos e, quando dada nova oportunidade, as coor-denadas passadas são utilizadas, sendo que, desta vez, aprimoradas pelo instinto de adaptação e melhoramento. Tais etapas de construção de conhecimento mostram-se mais eficazes quando são consideradas válidas as experiências prévias, desde a raiz do conhecimento empírico até a prática do novo adquirido – atravessada pela fase reflexiva –, fortalece-se a significação da experiência, fato este que facilita a assimilação e a consolidação de novas informações pelo aluno. Lefrançois (2008, p. 336) destaca,

Tudo o que uma pessoa consegue lembrar e que não acabou de ocorrer constitui a memória de longo prazo. Portanto, tudo o que é retido das experiências educaci-onais, um conhecimento completo da linguagem e toda informação estável sobre o mundo estão na memória de longo prazo”. (...) Material mais significativo, como já dissemos, é lembrado com mais facilidade, mesmo

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depois de muito tempo, do que o material que tem menos significado

A partir do argumento acima, pode-se afirmar que, quando uma informação tem um significado para o indivíduo, ela será guardada em sua memória de longo prazo; deste modo, com maior facilidade poderá ser dela recuperada. Essa proposta que se adequa, eficazmente, a metodologia que prima pela valorização do conhecimento original do aluno, sua reflexão e aprimoramento. Quanto mais próximo de sua realidade, com maior facilidade atingirá o objetivo a que se propõe. Ademais, são evidenciados seus valores e atitudes – ingredientes-chaves quando, hoje em dia, já não se faz suficiente a capacidade técnica para atuação e manutenção no mercado de trabalho. No momento em que o aluno é instado a expor o que traz consigo, sente que o conhecimento que já possui, obtido por meio de suas experiências, é valorizado; e, por conseguinte, sente-se mais interessado em refletir acerca dele e motivado a melhorá-lo.

3. Empatia x Motivação x Aprendizagem

Quando submetido ao processo de aprendizagem, tanto pela aquisição do conhecimento, mas, principalmente, pela relação estabelecida com o docente, que terá papel fundamental de mediar a construção desse saber – não somente pela detenção e capacidade de compartilhamento do conhecimento técnico, mas, precipuamente, pela relação estabelecida entre esses sujeitos (aluno-docente), cuja ligação se dará por meio da empatia e do que pres-supõe o MPS

A prática pedagógica, sustentada pela tríade da ação-reflexão-ação, deve trazer à materialização, a todo tempo, um fazer profissional observável, potencialmente

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criativo. Para tanto, é necessário que articule conhecimentos, habilidades, atitudes e valores de forma a permitir o seu desenvolvimento contínuo (SENAC, 2015b, p. 26).

Já a empatia é a capacidade de, identificando-se com o outro, projetar-se nele, pensar como ele, sentir como ele, querer aquilo que o outro deseja. Não significa o lugar do outro, mas pôr-se ali e, assim, adotar uma nova visão sobre o mundo. Em outras palavras, é olhar o que nos cerca com os olhos do outro, levando em conta as suas necessidades e reflexões. Nessa perspectiva, é possível mesmo que cheguemos a alterar nossas necessidades e reflexões. Este fenômeno encontra-se instalado no dia a dia de todos, desde quando nos deparamos com alguém nas ruas, a pedir ajuda – oportunidade em que nos vemos ali e, sensibilizados, sentimos vontade de ajudar de alguma forma; bem como quando estamos entre amigos, ou até quando inseridos no ambiente escolar. Quanto mais próximos nos sentimos do outro, mais desejamos estar. Quanto mais o outro, aquele nos inspira, detém conhecimento, mais sede de provar do mesmo saber nos invade. É, portanto, uma relação de causa e efeito, em constante movimento, dada por meio de um ritmo sustentado por nosso inconsciente, mas com reflexos concretos e objetivos na nossa vida prática. É pela ocorrência desse fenômeno que, para pintar, os artistas ouvem música clássica, que os poetas viajam para lugares distantes e observam o comportamento das pessoas; e, também por isso que os professores têm papel fundamental na vida do aluno, pois são a música da sua inspiração, o cenário mais rico para a construção de novos conhecimentos. Desse modo, quando estabelecida uma conexão entre docente e aluno, dada por meio da empatia, surge um novo fenômeno: a motivação, que os inspira a aprender,

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refletir e buscar novos conceitos dos conhecimentos que adquiridos outrora. Mais uma vez, de acordo com Michaelis (2017, p. 1), motivação é definida por:

1. Ato ou efeito de motivar.2. PSICOL. Série de fatores, de natureza afetiva, intelectual ou fisiológica, que atuam no indivíduo, determinando-lhe o comportamento”. – sem grifo no original.

Sim, motivar é, por meio de fatores de natureza afetiva, intelectual ou fisiológica, um dos caminhos para a determinação e/ou modificação do comportamento humano. É, como dito anteriormente, o efeito dado por meio do contato com o outro; do saldo retirado da expe-riência obtida a partir desse contato; da inspiração causada pelo outro em nós. Nessa perspectiva,

As estratégias avaliativas devem fomentar a cooperação e incentivar a discussão dos alunos durante o fazer profissional requerido na própria atividade de avalia-ção. A dinâmica envolvida nesse processo permite ao docente contemplar uma maior diversidade de informações sobre o desempenho dos alunos (SENAC, 2015d, p. 19).

A partir dessa experiência, podemos afirmar que, quando um novo comportamento é adotado, foi, finalmente, gerado um novo aprendizado. Este, a depender do significado que é impresso em nós, ficará marcado em nossa história e terá o condão de direcionar os passos para as novas experiências e, consequentemente, os novos aprendizados. Logo, uma dinâmica sem fim, regada por uma rede de fenômenos objetivos e subjetivos, dotados de um poder magnificamente transformador, pessoal e profissionalmente. Um bom exemplo da aplicabilidade de tudo o

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que aqui vem sendo discutido, é a história da professora americana Erin Gruwell e dos alunos da sala 203, contada por meio do filme “Escritores da Liberdade” (2007), e concretizada a partir da obra “The Freedom Writers Diary” (1999). O filme conta a história real da luta da romântica professora contra a resistência dos alunos da turma 203 – turma formada a partir do projeto de integração social, em que são reunidos alunos asiáticos, negros, latinos e outros, para a qual foi incumbida a lecionar língua inglesa. O fato de ser branca e americana é o primeiro dos problemas por ela enfrentado, pois aqueles alunos vivem diretamente a realidade marcada por uma sociedade preconceituosa e resistente. Sem apoio da própria escola, e até mesmo do pai – que sempre foi uma referência para ela, pois era um defensor dos direitos civis, mas não concordava com o trabalho ao qual a filha vinha se submetendo –, numa oportunidade em que um dos alunos “brincou” com uma caricatura de um outro, evidenciando as características da sua cor, negra, viu ali uma oportunidade para reflexão. Passou, então, a explorar a história da perseguição nazista, apresentando a eles o livro de Anne Frank, levando-os à reflexão da segregação em virtude da raça. A partir deste momento, conquistou a atenção dos alunos. Observando que a percepção deles mudou quando da aplicação do método reflexivo, viu ali mais uma oportunidade para estabelecer com eles uma relação de confiança. Então, investiu numa dinâmica para a identificação de pontos comuns entre eles, levantando situações com potencial de aproximação da realidade de cada um. Dessa forma, mesmo com as aparentes diferenças de “origem”, eles passaram a perceber que ali havia mais semelhanças do que diferenças.

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Tocando seus corações, Erin ofertou e sugeriu que os alunos utilizassem um caderno com folhas em branco para relatar as histórias de suas vidas; seu dia a dia; seus sonhos e decepções. Pouco a pouco, as histórias foram sendo construídas, os laços estreitados e, naturalmente, a turma passou a se integrar, entre si e com a professora. Consequentemente, o rendimento de todos melhorou. As histórias contidas naqueles diários foram sistematizadas e originaram o livro “The Freedom Writers Diary” (1999). De alunos “sem expectativas”, passaram a estudantes universitários (parte deles, inclusive, pagou a faculdade com os lucros dos exemplares vendidos). Hoje, são todos parte da Fundação Escritores da Liberdade, profissionais da educação, palestrantes e disseminadores do poder transformador que o professor pode produzir no aluno. Trata-se de uma história significativa trazida para a experiência em sala de aula, e que, se utilizada da maneira correta, pode ressignificar sua caminhada pessoal e profissional. Este é apenas um dos tantos exemplos que se poderia suscitar quando da tentativa de corroborar a importante ferramenta de construção do aprendizado: a empatia entre aluno e professor. Há também que se reconhecer a valorização do conhecimento prévio trazido pelo aprendiz, que servirá de base para reflexão e, consequentemente, para a adoção de outras perspectivas e ações, que podem fazer surgir, não só um indivíduo com maior potencial pessoal, mas também profissional. Para além dessas fronteiras, importa trazer a experiência que vem sendo vivenciada nas salas de aula por esta que ora assina o presente artigo. Ressaltando a competência para lecionar matérias de Direito, no eixo de Gestão e Comércio do Senac Alagoas, percebe-se uma curiosidade: pouco e muito se sabe sobre Direito. Desde o momento da apresentação da matéria, as expectativas

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parecem aflorar, visto que, de alguma forma, como cidadãos, os alunos detêm algum conhecimento sobre o que ali – imaginam – será discutido. Relatos pessoais, notícias trazidas pela mídia, impressões pré-concebidas: tudo se faz terreno fértil para uso da ferramenta “ação-reflexão-ação”. O aluno, muitas vezes autojulgado como leigo, percebe-se, ali, mais detentor de conhecimento do que poderia imaginar. Então, após discussões e reflexões é nítida a evolução de cada um durante o desenvolvimento das competências que são propostas. Nas avaliações, o saldo: o conteúdo está consolidado e, mais que isso, a postura do aluno apresenta-se outra: mais madura, mais segura e mais assertiva. Estão garantidas as marcas formativas2 Senac, que, decerto, irão contribuir para o desenvolvimento da sociedade, a partir da atuação, no mercado de trabalho, dos nossos egressos. A finalidade do processo avaliativo para o Senac “é produzir informações sobre o progresso educacional dos alunos, de forma a sustentar ações que revertam em melhoria da aprendizagem” (SENAC, 2015e, p. 5), nessa perspectiva,

a avaliação da aprendizagem na educação profissional é uma prática pedagógica intencional, sistemática e organizada com o objetivo de aferir o desenvolvimento de competências nos alunos. Ela se dá em modalidades distintas, porém interconectadas, que variam de acordo com a função que exercem, compreendendo a avaliação diagnóstica, formativa e somativa. (SENAC, 2015e, p. 7).

2 As Marcas Formativas são características a serem evidenciadas nos alunos, ao longo do processo formativo. Derivam dos Princípios Educacionais e valores institucionais que regem o Modelo Pedagógico Senac e, por essa via, representam o compromisso da Instituição com a formação integral do profissional cidadão. Como Marcas Formativas, espera-se que o profissional formado pelo Senac evidencie domínio técnico-científico em seu campo profissional, tenha visão crítica sobre a realidade e as ações que realiza e apresente atitudes empreendedoras, sustentáveis e colaborativas, atuando com foco em resultados. (SENAC, 2015a, p. 15)

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A partir dessa premissa o docente precisa elaborar situações de aprendizagem3 que estimule o aprender a aprender de forma criativa e inovadora preparando o aluno para a vida produtiva e o exercício da cidadania.

4. Desafios para promoção da aprendizagem

É certo, porém, que são muitos os desafios a enfrentar a fim de obter o objetivo proposto por essa metodologia, desde os aspectos sociais, passando pelos políticos e econômicos, até as suas consequências na vivência prática. O aluno, ao entrar na sala de aula, ao sonhar com seus objetivos profissionais, o faz a partir da bagagem formada por suas experiências, sejam elas negativas ou positivas. As positivas tendem a colocá-lo em atividade; as negativas, por sua vez, se não trabalhadas e processadas de maneira adequada, podem interferir diretamente no processo de aprendizagem, pois têm o “poder” de desmotivar o aluno. São tantos os fatores: a falta de assistência na saúde, a insegurança pública, as questões de raça, orientação sexual, posição social, a instabilidade política na nossa nação. Enfim, aparentemente, há mais motivos para recuar do que para seguir em frente. É preciso olhar essas questões de forma crítica e enérgica. É preciso compreender que, ao nos conformarmos com a realidade do contexto em que estamos atualmente inseridos, damos alimento a esse processo: somos contribuintes direitos para a sua manutenção, quando nos mantemos inertes ante a tudo.

3 A criação de situações de aprendizagem, alinhada à metodologia de desenvolvimento de competências, é o núcleo criativo do trabalho docente. Para o Senac, as situações de aprendizagem podem ser entendidas como conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências. Seu planejamento parte da premissa de que o aprendizado profissional deve ser significativo, problematizador e trazer a figura do aluno para o centro da cena pedagógica, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem. (SENAC, 2015c, p. 11).

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Logo, adotar uma postura atuante é um dos primeiros passos para a mudança. E esta inicia-se dentro da sala de aula. Como instrumentos de construção de conhecimento, somos chave do processo de transformação, somos mediadores dessa dinâmica. Ressalte-se, ainda, é um trabalho mútuo: professor e aluno caminham juntos, se inspirarmos em nossos alunos a confiança que cada um de nós tem a capacidade de mudar, para melhor, o contexto em que estão inseridos, realidades serão mudadas, para melhor, muito melhor. Já foi destacado aqui, e cabe ressaltar, o exemplo da professora Erin Gruwell. Ela transformou sonhos que nem os alunos dela, nos melhores sonhos que tiveram, dada a realidade da sociedade segregadora em que viviam, ousavam alimentar. Resta, então, alguma dúvida sobre o poder de transformação de um professor na vida de seus alunos? São necessárias mais evidências de que uma prática pedagógica que recepcione e valorize questões que estão para além dos conhecimentos técnico-científicos e da mera transmissão de informações tem maior eficácia? Diríamos que o professor tem o condão de trazer para mais perto o aluno, auxiliando-o no desenvolvimento de suas competências, a partir da compreensão do seu papel na estruturação social e econômica em que está inserido? Por isso, insistimos em dizer que, para além do domínico técnico e pedagógico do docente, é preciso que ele sustente as bases de sua relação com os alunos na sensibilidade, na consideração dos valores que por eles são trazidos, na sua criatividade e habilidades. Nem sempre, obviamente, tem-se a oportunidade de aprofundamento na história de cada um, mas, as nossas experiências como educadores revelam que muitos deles dão sinais das suas inquietudes pessoais e dos conhecimentos já estabelecidos em suas mentes – atalhos que podem nos levar ao objetivo a que aspiramos. Tudo deve ser aproveitado, quando oportuno, a fim de fazer surgir um ambiente de aprendizagem mais prático e com ares de realidade

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profissional. Não deve, portanto, essa missão, parecer-nos inatingível. Numa breve reflexão, é possível perceber que, no dia a dia, já a praticamos, espontaneamente, em nossas vidas pessoais, e quando na coordenação das nossas atividades profissionais. Não somos super-humanos. Nem se pretende, aqui, sugerir práticas que estejam fora do nosso alcance, mas tão somente uma desmistificação de nosso papel, reorganizando e ressignificando a figura do educador. Para tanto, destaca-se o papel fundamental e precioso do MPS. Trata-se de princípios e concepções norteadoras do processo de ensino e aprendizagem com foco no desenvolvimento de competências e numa prática pedagógica que privilegia estratégias didáticas ativas, inovadoras, integradoras e colaborativas que estimulam o aluno a aprender a aprender de forma reflexiva e com foco no desenvolvimento de competências.

5. Considerações Finais

Vimos no presente, aspectos relacionados ao processo de aprender baseado na tríade ação-reflexão-ação conforme proposto nas orientações pedagógicas presentes no MPS. Analisamos que o conhecimento técnico deve ser sempre renovado, por meio de estudos e atualizações, merece lugar especial a adoção de técnicas que visem à valorização do conhecimento prévio do aluno e, para seu desenvolvimento pessoal e profissional, o destaque de sua criatividade, seus valores e suas atitudes. O mercado de trabalho não mais exige apenas que seus profissionais dominem apenas as teorias, mas, principalmente, que sejam indivíduos capazes de lidar inteligentemente com os desafios que são comuns em qualquer área de atuação. Em sendo assim, necessária se faz uma preparação precisa e prática, a fim de garantir a qualidade dos egressos de nossa instituição. Para tanto,

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deve-se partir de uma nova ótica de prática pedagógica, tal qual a proposta pelo MPS: olhar o aluno a partir de suas subjetividades; propor alternativas práticas de aprendizagem; valorizar o conteúdo trazido por ele; refletir sobre esses conhecimentos; e, a partir deste ponto, construir novos, mais seguros e potencialmente diferenciados. Em meio a toda essa dinâmica, é importante ressaltar que nós, educadores, também aprendemos, crescemos e nos transformamos. Como dito alhures, o contato com o outro nos torna parte dele, faz-nos novos “outros”. Uma experiência rica e mágica, que deve nortear a nossa história e motivar a nossa luta, todos os dias. Quando nos damos essa oportunidade, restabelecemos o sentido da nossa escolha de ser professores. Percebemos os porquês, de forma clara e límpida, de enfrentar os tantos desafios que atravessam a nossa profissão, mas que, ao fim, provam ser dignos e compensadores. As tantas noites mal dormidas, o lazer deixado para a semana posterior – e que parece nunca chegar, aquele curso de especialização que não encontra espaço na nossa agenda para ser encaixado. Poderíamos ser dois ou três, não? Mas, somos apenas um. “Um” formador de tantos outros “uns”; transformado, constantemente, por eles; motivado pela ideia do incrível poder da transformação de realidades. Quem mais gostaríamos de ser, se não nós mesmos, depois de refletir a importância dos nossos papéis na vida dos nossos alunos? Qual outra profissão pode transformar vidas, impulsionar sonhos e ajudar, de alguma forma, ou inúmeras, a concretizá-los? E, ao mesmo tempo que ensina, aprende, de formas tão amplas e imensuráveis? Nós, educadores, somos, sim, esses “super-heróis” da vida real; esses agentes de fomento dos sonhos e da realidade. E, somente por meio de nós, os tantos ajustes necessários ao mundo para que, um dia, possamos viver em uma sociedade mais justa e

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harmoniosa, poderão ser efetivados, pois somos o núcleo e o princípio dessa no comportamento de nossos alunos. E, amanhã, serão eles, nossos alunos, os protagonistas de toda essa história.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB n. 16 de 5 de outubro de 1999. Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília, DF. 5 out. 1999. Disponível em: <http://portal.

mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/PCNE_CEB16_99.pdf> Acesso em: 7 abr. 2017.

BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

FREUD, Sigmund. Neurose, Psicose, Perversão. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

GRUEL, Erin. The Freedom Writers Diary. New York: Broadway Books, 1999.

LEFRONÇOIS, Guy R. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento Humano. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos Ltda, 2017. Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/> Acesso em 7 abr. 2017.

SENAC.DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

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_____. DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

_____. DN. Avaliação da Aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015d. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5). _____. DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b. 28 p. (Coleção de - as Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2).

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O USO DO DIÁRIO DE BORDO NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO: MEMÓRIA E REFLEXÃO

DE APRENDIZES

Leila Carla dos Santos Quaresma1

1. Introdução

O presente texto trata-se de um relato de experiências sobre a utilização de uma ferramenta de avaliação denominada Diário de Bordo, aplicada em turmas de Qualificação Profissional, a saber: Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal pertencente ao eixo de Gestão do Centro de Educação Profissional Carlos Milito, SENAC-AL. Os diários de bordo foram inseridos na prática pedagógica dos cursos alinhados ao Modelo Pedagógico do Senac (MPS)2 do Senac/AL a partir de 2016, a fim de serem utilizados diariamente, tanto pelos alunos, registrando por escrito suas aprendizagens significativas e apropriadas em suas aulas, quanto aos docentes responsáveis pelas unidades curriculares de cada curso em andamento, haja vista que são docentes e unidades curriculares diferentes, uma vez que são dois cursos distintos.

1 Graduada em Pedagogia / Pedagoga do Centro de Educação Profissional, Unidade Carlos Milito, Senac/AL.2 O Departamento Nacional do Senac iniciou, em 2013, uma importante ação de alinhamento pedagógico, no sentido de reforçar a unidade institucional, com vistas a promover o incremento da qualidade da oferta educacional, dando origem ao Modelo Pedagógico Senac. Entende-se modelo pedagógico como conjunto coerente de referências que orientam a concepção da proposta pedagógica, nas quais assentam o trabalho do educador e a relação empreendida no processo de ensino e aprendizagem. A designação Modelo Pedagógico, no entendimento do Senac, representa um conjunto de concepções orientadoras das práticas pedagógicas realizadas nos ambientes de aprendizagem da Instituição (SENAC, 2015a, p. 5).

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A partir do acompanhamento pedagógico dos cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal, foi possível observar evidentes contribuições durante o processo de aprendizagem dos alunos, mediante as práticas pedagógicas trabalhadas com o MPS, especificamente tratando-se das ferramentas de avaliação utilizadas pelos docentes, a fim de conduzir os alunos ao objetivo proposto pelo MPS: a aprendizagem significativa, ou seja, aquela que desenvolve a autonomia do aluno, colocando-o como protagonista e sujeito ativo no processo educativo. Referindo-se ao diário de bordo, particularmente, e sua importância nos cursos de Qualificação Profissional entende-se que, além de ser um dos caminhos avaliativos que o docente pode percorrer, o diário também chega às mãos dos alunos como um instrumento de auto avaliação de suas aprendizagens. Esta prática de autoanálise da aprendizagem durante a formação é de fundamental importância para o progresso do aluno da educação profissional tendo em vista que o “núcleo da proposta metodológica se organiza a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015a, p. 12). A pesquisa teve um caráter qualitativo, em que são diagnosticados os registros dos alunos em alguns diários. Foi escolhida a amostra representativa para discutir neste trabalho uma análise desta atividade executada, ancorando-se nas teorias de Freire (2015) Küller e Rodrigo (2013), dentre outros. Assim, este trabalho focalizou-se na seguinte problemática: quais as contribuições evidenciadas por meio dos registros inseridos em diários de bordo, enquanto instrumento de avaliação para alunos e docentes dos cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal? O trabalho com o uso do Diário de Bordo teve por objetivo solicitar aos alunos a prática organizada de registros diários e suas formas de compreensão sobre as

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competências profissionais trabalhadas ao decorrer de todas as aulas. Os alunos foram estimulados a refletirem sobre suas aprendizagens, imbrincadas de sentimentos, percepções e reflexões presentes em seus percursos de apropriação de conhecimentos.

2. Breve análise sobre os perfis dos alunos da educação profissional SENAC/AL e suas expectativas de vida.

A diversificação de cursos ofertados pelo Senac Alagoas: Formação Inicial e Continuada (Aprendizagem Profissional Comercial, Qualificação Profissional, Aperfeiçoamento e Programa Instrumental) e Educação Profissional Técnica de Nível Médio (Habilitação Pro-fissional Técnica de Nível Médio, Qualificação Profissional Técnica e Especialização Técnica de Nível Médio) organizado por eixos tecnológicos, compondo itinerários formativos atrai diferentes alunos que por diversos motivos e necessidades pessoais e profissionais, buscam qualificação na instituição. Dentre os mais procurados no Senac/AL estão os cursos de capacitação/aperfeiçoamento profissional para ingressar no mercado de trabalho ou para se qualificar dentro de suas funções profissionais já exercidas; ou pelo desejo de empreender seu próprio negócio; desenvolver seus próprios produtos para família, como no caso dos cursos na área de Moda, especificamente o curso de Costureiro; e até mesmo utilizados como terapias ocupacionais para ajudar nos tratamentos psicológicos, a exemplo, das situações de depressões de alguns alunos. Este público, específico, recorre além dos cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal aos cursos de Moda e Gastronomia, considerando-os como “terapias psicológicas”. Como exemplo, temos uma aluna do curso de costureiro noturno, Maria3, que está no curso

3 Maria: uso de nome fictício para preservação de anonimato.

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profissionalizante por recomendações médicas a fim de contribuir num tratamento de depressão, o que relata em sua fala: “eu estou aqui, porque meu médico indicou que me ocupasse em algo, e busquei este curso para me ajudar no tratamento de minha depressão e está me fazendo bem”. Dessa forma, a educação profissional não está mais relacionada somente ao público que deseja ingressar no mercado de trabalho, há uma nova comunidade de pessoas que estão nesta modalidade educativa buscando um refúgio e ajuda em períodos de tratamento de saúde. Esses perfis de alunos foram identificados pontualmente a partir de depoimentos em momentos de aberturas de algumas turmas, acompanhamentos pedagógicos e registros em diários de bordo que possibilita ao aluno “organizar suas reflexões, sentimentos, raciocínio, necessidades, durante e ao final das situações-problema” (SENAC, 2015e, p. 21). Desse modo, é percebido o comprometimento humano que a instituição de educação profissional Senac deve assumir para com os alunos, pois não se trata apenas da contribuição educativa por si só, mas do envolvimento de objetivos de vida, necessidades psicológicas, sentimentos e, sobretudo, sonhos de pessoas que faz parte da instituição de formação profissional, Senac-AL. Em relação à oportunidade de mudança de vida e inclusão ao mundo do trabalho, são notórias as expectativas da maioria dos alunos jovens e adultos, que objetivam/sonham atuar no mercado de trabalho, a fim de garantir sua autonomia financeira e subsistência através do trabalho. Nesse sentido, essa é uma “ação transformadora de homens e mulheres sobre a natureza, no sentido de modificá-la e obter dela os bens necessários a sobrevivência”. (COUTO, 2014, p. 23)

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3. A educação profissional e o Currículo por Competência.

A educação profissional está estreitamente ligada ao processo de inclusão de indivíduos, que outrora estiveram excluídos do mercado de trabalho, por uma possível falta de qualificação profissional e/ou aperfeiçoamento, ou mesmo por aqueles que buscam seu primeiro ingresso, entretanto, há a necessidade de desenvolver ou ampliar as competências requeridas pelo mundo do trabalho. Mas afinal, qual seria o conceito e finalidade de competências, que o campo do trabalho tanto exige da sociedade? Küller e Rodrigo (2013, p.66) definem,

Uma competência implica o desempenho sempre potencialmente criativo e renovado. A concepção do trabalho, a criatividade, o planejamento, e a autonomia no fazer são características fundamentais do que entendemos por competência. Ela pode ser inesgotavelmente desenvolvida. Nunca concluímos ou esgotamos as possibilidades de expandir uma competência. Essa condição de permanente desenvolvimento é outra de suas características fundamentais. Então, mesmo sendo um mestre naquele ofício, é possível sempre aprender mais.

O Senac, desde os anos 2000, organiza os currículos dos cursos por competência, na concepção do MPS competência é definida como

ação/fazer profissional observável, potencialmente criativa(o), que articula conhecimentos, habilidades, atitudes/valores e permite desenvolvimento contínuo. Nesse sentido definido pela Instituição, a competência passa a ser a própria Unidade Curricular, elemento estruturante dos modelos curriculares nos cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Qualificação Profissional e Aprendizagem Profissional Comercial (SENAC, 2015a, p.19)

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O mercado de trabalho exige dos profissionais competências distintas de algumas décadas de executor de tarefas repetitivas para um trabalhador com características mais autônoma, flexível e proativa ao ponto de requerer um saber fazer percebível, com criatividade, autonomia e com embasamento teórico para fundamentar sua ação, atuando com eficiência e eficácia, em cada atribuição que lhe é dada. Nessa perspectiva, o Parecer do Conselho Nacional de Educação CNE Nº 16/99, discute sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Profissional enaltece os princípios da educação profissional ao destacar que:

Outros princípios que definem sua identidade e especificidade, e se referem ao desenvolvimento de competências para a laborabilidade, à flexibilidade, à interdisciplinaridade e à contextualização na organização curricular, à identidade dos perfis profissionais de conclusão, à atualização permanente dos cursos e seus currículos, e à autonomia da escola em seu projeto pedagógico. (BRASIL, 1999, p.579, grifos nossos).

Com o alinhamento pedagógico com foco no desenvolvimento de competências, ocorreram mudanças dos desenhos do curso em que as unidades curriculares transformaram-se nas próprias competências requeridas no perfil profissional de conclusão que “desdobram-se, didaticamente, em indicadores e elementos de competência, o que facilita a organização e o planejamento das situações de aprendizagem” (SENAC, 2015a, p.19) que permitem ao aluno aprender a partir da experiência/prática e refletindo sobre a mesma, à luz de uma teoria, diferentemente do ensino tradicional, no qual a teoria precede e predomina sobre a prática. Nesse movimento de mudanças e definições de concepções e princípios norteadores da prática docente, os indicadores na proposta pedagógica do MPS

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são parâmetros que subsidiam o acompanhamento e a avaliação do processo de aprendizagem do aluno. Trata-se de um padrão de desempenho que tem como função especificar a aprendizagem esperada no decorrer de cada Unidade Curricular e evidenciar o desenvolvimento da competência. Esse referencial indica se o aluno está desenvolvendo a competência, de modo que permite ao docente analisar a prática profissional dos alunos em situações de aprendizagem. (SENAC, 2015a, p. 20)

Desta feita, qual seria a finalidade dos indicadores de competência? Por meio do indicador, tanto o aluno quanto o docente, poderão acompanhar e avaliar as aprendizagens e a prática pedagógica do saber fazer que espera ser realizado pelos alunos e requeridos pela competência. Em suma, “enquanto os elementos de competência subsidiam a prática docente para o desenvolvimento de competências, os indicadores são essenciais para avaliação desse processo de ensino e aprendizagem” (SENAC, 2015b, p.17). Já os elementos da competência “são os recursos curriculares mobilizados de forma articulada para o desenvolvimento da competência. Compreendem os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os valores” e as situações de aprendizagem

são práticas educativas planejadas a partir do ciclo didático e pedagógico da ação-reflexão-ação. Esse ciclo envolve uma ação inicial, a reflexão sobre essa ação, mediada por elementos que a qualifiquem e, novamente, o retorno a ela, de forma a construir significados e a consolidar, por meio de uma nova ação, uma prática mais qualificada (SENAC, 2015c, p.11).

A fim de que haja o desenvolvimento das competências necessárias para cada curso, é imprescindível um ensino comprometido com a articulação entre teoria e prática, concomitantemente, e a existência das situações

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de aprendizagem, desenvolvendo o ciclo didático peda-gógico ação-reflexão-ação⁴. Na reorganização do desenho curricular dos cursos do Senac é necessário também citar o Projeto Integrador (P.I.) no MPS, o PI

visa propiciar experiências de aprendizagem que se sustentem no “aprender fazendo” e no diálogo entre a sala de aula e a realidade do mundo do trabalho. Com foco no desenvolvimento do Perfil Profissional de Conclusão e das Marcas Formativas, suas atividades pressupõem participação coletiva, decisões em grupo e trabalho em equipe, daí se concluir que o projeto pode ser desenvolvido como estratégia pedagógica para o incremento do processo de ensino e aprendizagem em qualquer Unidade Curricular. (SENAC, 2015d, p. 10)

Nessa perspectiva os PI “são espaços importantes para a articulação das competências, capazes de contribuir para evidenciar as marcas formativas Senac e, principalmente, para o desenvolvimento do perfil profissional” (SENAC, 2015d, p. 6). No PI as marcas formativas⁵ ganham relevo, pois é o momento de revelar que foram incorporadas a formação profissional e pessoal do aluno.

⁴ A prática pedagógica, sustentada pela tríade da ação-reflexão-ação, deve trazer à materialização, a todo tempo, um fazer profissional observável, potencialmente criativo. Para tanto, é necessário que articule conhecimen-tos, habilidades, atitudes e valores de forma a permitir o seu desenvolvimento contínuo (SENAC, 2015b, p. 26).⁵ Ao elaborar situações de aprendizagem o docente precisa prever cenários para o desenvolvimento gradual das marcas formativas, logo, no PI é o momento de evidenciar o que foi construído em cada Unidade Curricular. “Essas marcas que devem identificar e diferenciar no mundo do trabalho os profissionais egressos do Senac. Devem, portanto, ser internalizadas na prática pedagógica, de forma subjacente a todas as ações de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento de competências, de tal forma que os alunos as incorporem à sua atuação profissional”. (SENAC, 2015a, p. 15).

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4. Planejamento docente no Modelo Pedagógico SENAC

As unidades curriculares, indicadores, competências, elementos (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores), que fazem parte do planejamento no MPS estão inseridos sistematicamente no Plano de Trabalho Docente (PTD). O PTD é construído coletivamente com os docentes que irão ministrar as aulas das unidades curriculares dos cursos, de forma contextualizada com as vivências cotidianas dos alunos e a realidade do mercado de trabalho local. Não se faz educação sem planejamento: planejar é organizar-se previamente, é ter o real compromisso com os interesses dos alunos, a partir de ações pedagógicas organizadas, é pensar, elaborar, executar e intervir, por meio de práticas que promovam o desenvolvimento intelectual e humano, intervindo em sua realidade de vida através da prática educativa. Essa ação deve ser prioritária para o docente que almeja o sucesso em todo o percurso educativo, e da instituição de um modo geral. Sobre este aspecto, Padilha (2001, p. 61) conforme citado por Thomazzi e Assineli (2009, p.182), argumenta:

Lembramos que realizar planos e planejamentos educacionais e escolares significa exercer uma atividade engajada, intencional, científica, de caráter político e ideológico e isento de neutralidade. Planejar, em sentido amplo, é um processo que visa dar respostas a um problema, através do estabelecimento de fins e meios que apontem para a sua superação, para atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do pre-sente e as experiências do passado, levando-se em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja.

Preocupado com a formação integral dos alunos o Senac investe na formação docente e equipe pedagógica de modo que a elaboração dos PTD esteja alinhada com a

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proposta pedagógica do MPS e, ao mesmo tempo, dialogue com o contexto social e cultural dos alunos. Vale ressaltar que, para subsidiar toda a prática pedagógica do docente e o desenvolvimento das competências dos alunos, é utilizado o Plano de Curso enquanto ferramenta que subsidiará toda a construção do PTD de forma sistemática. O referencial docente para elaboração do PTD são os Planos de Curso que

são instrumentos que apresentam as referências educacionais e fornecem subsídios para o processo de ensino e aprendizagem a ser realizado. Mais do que estruturar a ação educativa, os Planos de Cursos explicitam um ponto-chave do Modelo: a competência como a própria Unidade Curricular a partir da qual se desenvolve toda a prática docente (SENAC, 2015c, p. 9)

5. Os cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal do Senac e suas estruturas curriculares

Os Planos de Cursos de Assistente Administrativo e Assistente de Pessoal pertencem ao eixo tecnológico: Gestão e Negócio com carga horária de 160h⁶, com idade e escolaridade mínima exigida para ingresso de 15 anos e ensino médio incompleto, respectivamente. As atividades do Assistente Administrativo estão relacionadas aos processos de gestão de pessoas, logística, marketing, comercialização, finanças e do jurídico de uma organização, atendendo à solicitação de clientes internos e externos. (SENAC, 2014f, p. 8) As competências que serão trabalhadas e desenvolvidas nos alunos, em sua formação profissional, são:

⁶ A Qualificação Profissional é um curso voltado às pessoas que buscam desenvolver competências profissionais necessárias ao exercício de ocupações definidas no mercado de trabalho, de acordo com os respectivos perfis profissionais de conclusão. Para mais informações acessar as Diretrizes da Educação Profissional do Senac. Disponível em: <http://www.extranet.senac.br/diretrizesnacionais/docs/Diretrizes%20Ed.%20Prof.%20Senac.pdf> Acesso em: 5 abr. 2017.

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Figura 1- Esquema das Competências do Curso de Assistente Administrativo.

Fonte: Adaptado (SENAC, 2015f, p.9).

As atividades do Assistente de Pessoal consistem nos processos relativos às rotinas trabalhistas sob responsabilidade do Departamento Pessoal ou da área de Recursos Humanos de empresas nos segmentos de comércio de bens, serviços e turismo, da indústria, bem como órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa. (SENAC, 2014f, p. 6)

Figura 2- Esquema das Competências do Curso de Assistente de Pessoal.

Fonte: Adaptado (SENAC, 2014, p.6)

Ambos os cursos são bastante frequentados pelos alunos Senac-AL, Carlos Milito, que prepara vários jovens e adultos para atuarem num mercado de trabalho criterioso e competitivo. E quando eles estão inseridos no mercado, estes alunos se destacam, tanto nos processos seletivos de emprego, quanto no exercício de suas competências onde atuam.

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6. O uso do Diário de Bordo enquanto ferramenta de avaliação nos cursos de Educação Profissional.

O processo avaliativo tem como “finalidade orientar docentes e discentes no processo de ensino e aprendizagem” (SENAC, 2015a, p. 14) e, partindo do pressuposto que o foco do MPS é o desenvolvimento de competências, a prática avaliativa segue o mesmo princípio, portanto, busca verificar se os alunos durante as unidades curriculares desenvolveram as competências requeridas pelo perfil profissional de conclusão, nessa direção

A avaliação da aprendizagem na educação profissional é uma prática pedagógica intencional, sistemática e organizada com o objetivo de aferir o desenvolvimento de competências nos alunos. Ela se dá em modalidades distintas, porém interconectadas, que variam de acordo com a função que exercem, compreendendo a avaliação diagnóstica, formativa e somativa. (SENAC, 2015a, p. 7)

Dentre os procedimentos e instrumentos avaliativos propostos utilizados nas situações de aprendizagem destaca-se a observação; debate sobre o fazer profissional; diário de bordo, portfólio, análise de casos, exames práticos, teste escritos dentre outras possibilidades, esses procedimentos e instrumentos avaliativos permite ao docente identificar a construção do conhecimento realizado pelo aluno e, sobretudo, suas dificuldades de aprendizagem, fornecendo subsídios necessários para sanar suas dúvidas, inquietudes, incompreensões sobre o objeto de conhecimento apresentado, todavia, para a finalidade desse estudo vamos nos deter em analisar as contribuições da utilização do diário de bordo como estratégia avaliativa. Dentre os procedimentos e instrumentos avaliativos da proposta pedagógica do Senac destacamos uma ferramenta através da qual o aluno pode se auto avaliar durante as aulas. O instrumento utilizado é chamado de Diário de bordo, trata-se de um caderno de registros di-

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recionados às aprendizagens construídas ao longo da aula. O diário de bordo não pode ser confundido como um caderno de registros para meras descrições de aulas. É, sobretudo, utilizado para realização de,

[...] textos breves e informais, que registram os acontecimentos, as memórias e reflexões surgidas ao longo da Unidade Curricular. Os registros sobre as atividades devem estar relacionados à competência em desenvolvimento ou referenciados aos indicadores da competência (SENAC, 2015e, p.36)

No Senac-AL, em sua Unidade Educacional Carlos Milito, o MPS está sendo implementado gradualmente nos cursos, mediante a disposição dos cursos elaborados nesse modelo. Dentre os cursos já trabalhados com o MPS, temos o curso de: Assistente Administrativo, Assistente em Recursos Humanos, Recepcionista, Costureiro e Cabelereiro. Segue, para visualização, a imagem de um diário de bordo do curso de Recepcionista⁷:

Figura 3 - Instrumento Avaliativo: Diário de Bordo.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

⁷ Para não identificar os nomes dos alunos, foi inserido uma tarja branca nas imagens referentes ao diário de bordo.

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Figura 4 - Registros de aprendizagem da unidade curricular 2.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

No primeiro dia de aula os alunos recebem o diário de bordo junto com seu material didático. As Pedagogas da instituição realizam a abertura da turma, trazendo todas as informações pertinentes ao processo educativo, enfatizando sobre o uso correto do diário de bordo, enquanto instrumento de avaliação do docente e de autoavaliação para o aluno, abaixo recortamos um comentário de um aluno registrado no diário de bordo:

Eu aprendi sobre o que é uma estrutura organizacional e os tipos de estruturas. Que uma recepcionista tem que ser ágil, prática, responsável e ter bastante jogo de cintura e estar a postos a qualquer função dentre da empresa (...) aprendi que minha função é conhecer a empresa de cima para baixo sendo ágil em tudo que for fazer (sic).

Ressaltamos que esta é mais uma ferramenta de avaliação que são utilizados por todos os docentes nas unidades curriculares dos cursos ofertados no MPS o qual

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irá realizar as leituras desses registros diariamente, o que contribui para acompanhar, não somente as aprendizagens dos alunos, mas, sobretudo, suas ideias, seus sentimentos, suas reflexões externadas em suas grafias. Segundo Bertoni, citado por Dias et. al,. (2013, p. 4) com o uso de diário de bordo pode-se

identificar as dificuldades encontradas, os procedimentos utilizados, os sentimentos envolvidos, as situações coincidentes, as situações inéditas e, do ponto de vista pessoal, como se enfrentou o processo, quais foram os bons e maus momentos por que se passou e que tipos de impressões e de sentimentos apareceram ao longo da atividade, ao longo da ação desenvolvida. É uma via de análise de situações, de tomada de decisões e de correção de rumos.

Entende-se que, em alguns momentos, os alunos não conseguem externar suas dificuldades de aprendizagem, verbalmente, fato que coloca o docente numa situação de inquietação, ao tentar compreender se realmente o aluno está gerando um bom desempenho acerca das competências e seus elementos (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores), exigidos no perfil profissional de um curso. O indicador da competência talvez ainda não tenha sido apresentado por meio de outras alternativas avaliativas realizadas. No entanto, isso deve ser investigado/encontrado em alguma situação de aprendizagem. Assim, o diário de bordo se torna mais um instrumento de diagnóstico e colaboração no processo de ensino e aprendizagem.

7. Um recorte dos registros de memórias e aprendizagens dos alunos

Registros escritos de memórias de aprendizagens de uma aluna do curso de Assistente Administrativo:

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Figura 5 - Registros de aprendizagem da unidade curricular 2.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

No registro da aluna, a mesma apresenta um relato sobre o que aprendeu numa aula sobre a unidade curricular 2 do referido curso, que possui a competência: organizar e executar atividades de apoio aos processos da organização, conforme segue:

Trabalhamos o tema postura ética no momento da entrevista para emprego, aparência física, postura corporal, comunicação articulada, passar segurança de quem é, o que quer, etc. Assistimos um vídeo muito interessante dentro do assunto da aula. Lembrei de uma frase “nada de olhar para o outro como se estivéssemos abaixo dele, muito menos com olhos altivos. Olhos nos

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Olhos é suficiente, uma fez que não somos piores nem melhores do que ninguém e cada ser humano merece respeito” (sic).

Vale salientar que, dentro da descrição do que ocorreu em aula, a aluna faz uma relação entre o que aprendeu sobre postura ética, numa possível entrevista de emprego e um vídeo assistido em sala de aula, colocando suas reflexões acerca de frases de uso cotidiano sobre o respeito ao ser humano, sem fazer acepção mediante quem somos. O diário de bordo, além de possibilitar os registros das aprendizagens vivenciadas no desenvolvimento da situação de aprendizagem também é o local de registro de saberes culturais e experiências de vida dos alunos. O mais importante na prática educativa é exatamente esta relação/contextualização entre o conhecimento prévios dos alunos e as possibilidades de adensamento de conhecimento técnico-científico, visão crítica, atitude empreendedora, sustentável e colaborativa que contribui para formação integral dos alunos do Senac, isto é, o que faz sentido para sua aprendizagem, realizada tanto pelo aluno quanto pelo docente, levando-nos a questionarmos enquanto educadores com a indagação de Freire (2015, p.32) “Porque não estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Nessa perspectiva, o Documento Técnico “concepções e princípios” destaca que “O estudante ocupa lugar central no processo de ensino e aprendizagem. Constitui-se como sujeito – com valores, crenças, atitudes e conhecimentos prévios – ativo e autônomo na construção do seu próprio conhecimento” SENAC, 2015a, p. 13) Vale visualizar outra imagem de registro no diário, que é a de um curso de Assistente de Pessoal.

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Figura 6 - Registros de aprendizagem da unidade curricular 2.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

O print acima refere-se a um recorte de um registro de uma aluna do curso de Assistente de Pessoal no diário de bordo no qual discorre sobre as experiências vivenciadas ao término de uma aula, conforme segue:

A aula iniciou ás 9:00 e terminou às 11:55. Hoje meu aprendizado foi bem prático, fiz uma simulação de contrato de colaborador. E aprendi desde a requisição de vaga até a contratação. Passando por todos os processos e respondendo aos questionários para cada etapa. Entendi o processo de abertura do CAT como devemos proceder e todas as informações sobre acidente de trabalho.

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Na situação de aprendizagem elaborada pelo docente foi planejada uma simulação de contratação de um colaborador, em consonância com o PTD, nesse momento, estava sendo trabalhado a Unidade Curricular 1 do curso de Assistente de Pessoal proposição “apoiar e executar ações referentes às rotinas de admissão e de demissão de colaboradores” numa proposta pedagógica de articulação teoria e prática contextualizada ao perfil profissional de conclusão requerido pelo curso. Os registros dos alunos sinalizam a compreensão que eles tiveram sobre a competência, e, simultaneamente, permite o professor rever estratégias didáticas para suprir a deficiências e lacunas identificadas nos escritos do diário de bordo com relação aos indicadores de competência em desenvolvimento.

8. Considerações Finais

Mediante o acompanhamento pedagógico das turmas que utilizam o diário de bordo, mesmo sendo uma prática inicial na Unidade Carlos Milito, do Senac/AL, percebe-se que o instrumento de avaliação trouxe contribuições para o processo de ensino e aprendizagem, como foram visualizados em algumas imagens expostas neste trabalho. Vale ressaltar que os diários foram analisados pelos docentes individualmente, ao final de cada aula, e acompanhados pelas Pedagogas ao final do curso. No entanto, a partir do diálogo entre o pedagógico e os docentes, percebeu-se que é possível elaborar alternativas de atividades utilizando o diário de bordo, enquanto recurso didático para realização de aprendizagem (revisão de competências trabalhadas) ou rodas de conversas.

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Desta feita, através da experiência obtida na análise deste fazer pedagógico, por meio do Diário de bordo, compreende-se que, no cotidiano das aulas, é essencial avaliar os alunos na perspectiva de conduzi-los à aprendizagem, buscando suprir suas necessidades de sabe-res, no entanto é importante também, estimulá-los ao ato de se auto avaliarem, de refletirem e, até mesmo, de registrarem seus desempenhos nos estudos, cotidianamente, pois esta prática fará toda a diferença na formação profissional e no ingresso de cada estudante no mundo do trabalho.

Referências

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mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/PCNE_CEB16_99.pdf> Acesso em: 7 abr. 2017.

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DIAS, Viviane Borges; PITOLLI, Alexandra Marselha Siqueira; PRUDÊNCIO, Christiana Andrea Vianna; Oliveira, Mário Cézar Amorim de. O Diário de Bordo como ferramenta de reflexão durante o Estágio Curricular Supervisionado do curso de Ciências Bioló-gicas da Universidade Estadual de Santa Cruz-Bahia. 2013. Disponível em: <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/ixenpec/atas/resumos/R1143-1.pdf> Acessado em: 7 abr. 2017.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 51ªed- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

GOODSON, Ivor. Currículo: Teoria e História. Petrópolis: Vozes, 1995.

KÜLLER, J. A.; RODRIGO, N. F. Metodologia de desenvolvimento de competências. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.

THOMAZI, ÁUREA; ASINELLI, THANIA. Prática docente: considerações sobre o planejamento das atividades pedagógicas. Educar, Curitiba, n. 35, p. 181-195, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n35/n35a14.pdf> Acesso em: 7 abr. 2017.

SENAC.DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

SENAC.DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

_____.DN. Projeto Integrador. Rio de Janeiro, 2015d. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 4).

_____.DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b. 28 p. (Coleção de - as Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2).

_____. DN. Avaliação da Aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015e. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5).

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A CONTRIBUIÇÃO DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC NO DESENVOLVIMENTO DE

AVALIAÇÕES E MEDIDAS DE CONTROLE DO RISCO FÍSICO/RUÍDOS NAS AULAS

DO CURSO DE TST DO SENAC AL

Marlos Alan Pereira Santos1

1. Introdução

Na vida cotidiana, em casa, no trabalho, viajando ou nos locais de diversão, existem inúmeras situações nas quais as pessoas de um modo geral encontram-se expostas ao ruído. Em muitos casos, a exposição ao risco ocorre nos locais de trabalho devido à presença de máquinas e equipamentos ruidosos. Ao longo do tempo essas exposições a níveis altos de pressão sonora podem causar uma perda auditiva. A ocorrência da perda auditiva acarreta não apenas a má compreensão dos sons, mas também, a qualidade de vida em sociedade. Nas grandes cidades, os níveis de som nas ruas a cada dia é mais alto, somam-se os ruídos provocados por caixas de som de propagandas, do trânsito e de máquinas e equipamentos. Entretanto, é, no local de trabalho, que estão as maiores ameaças de fontes geradoras de perda auditiva que, com o tempo, podem provocar distúrbios na sensibilidade da audição. No que engloba o mercado de trabalho, não se pode negar a existência de ações, por parte das empresas, que visam à melhoria das condições de trabalho, atuando tanto

1 Engenheiro de Produção / Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho / Docente na área de saúde, infraestrutura e meio ambiente no SENAC-AL.

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na identificação de fontes de perigo quanto na avaliação e controle dos riscos ocupacionais2. Quanto à reversão da perda auditiva, o que se tem são apenas alguns trabalhos de investigação com o objetivo de se estudar possibilidade de desenvolvimento de medicamentos que possam minimizar os danos provocados pela exposição ao ruído no aparelho auditivo (CAMPBELL et. al., 2000). A proposta pedagógica do Senac visa a articulação entre teoria e prática de modo que o aluno confira sentido à sua aprendizagem. Essa concepção é um dos marcos diferenciais do currículo por competência. O MPS caracteriza-se como um conjunto de referências que orien-tam a proposta pedagógica do Senac, outra característica é a “organização de cursos em estruturas curriculares, cuja competência é a própria unidade curricular” (SENAC, 2015a, p.5). O MPS adota concepções filosóficas e pedagógicas para o desenvolvimento de uma Educação profissional de qualidade conforme destaca o primeiro Documento Técnico3 do Senac “concepções e princípios”:

Os princípios educacionais do Modelo Pedagógico Senac, organizados nas concepções filosófica e pedagógica, explicitam o entendimento da Instituição sobre aspectos centrais à prática pedagógica. Articulado à missão institucional de educar para o trabalho, esse conjunto de referências visa orientar os envolvidos na formação educacional promovida pelo Senac (SENAC, 2015, p. 9).

Dentro dessas concepções, existem alguns princípios que caracterizam a visão filosófica da instituição Senac sobre: o ser humano, o mundo, o trabalho e a educação. Já os princípios que envolvem o desenvolvimento da concepção

2 Os riscos ocupacionais são os perigos que incidem sobre a saúde humana e o bem-estar dos trabalhadores associados a determinadas profissões. (ARAUJO et. Al., 2017, p.3).3 Coleção de publicações elaborados pelo Senac com os aspectos mais relevantes do MPS com a finalidade de orientar e subsidiar a prática dos agentes que executam a atividade fim da instituição (SENAC, 2015a, p. 6).

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pedagógica estão ligados à compreensão da escola, ao currículo, ao aluno, ao docente e à avaliação. Agregado a esses princípios, as Marcas Formativas representa um diferencial nos egressos do Senac e são “características evidenciadas nos alunos ao longo do processo formativo (...) e representam o compromisso da Instituição com a formação integral do cidadão” (SENAC, 2015a, p. 15). As Marcas Formativas da Educação profissional promovida pelo Senac são: Domínio técnico-científico, Visão crítica, Atitude empreendedora, Atitude sustentável e Atitude colaborativa, para os cursos de aprendizagem, temos mais duas marcas formativas, são elas: protagonismo juvenil, social e econômico e atitude saudável (SENAC, 2015a). No planejamento docente o Plano de Trabalho Docente (PTD) é um documento que norteia a prática pedagógica, “nele constam a planificação das ações educativas e organizações das estratégias mais adequadas para o desenvolvimento de competências” (SENAC, 2015c p. 6). Outro elemento importante do planejamento docente é a compreensão que ele está “alicerçado em práticas de aulas organizadas sob o ciclo didático e pedagógico da ação-reflexão-ação” (SENAC, 2015c, p. 8) que pressupõe aprender “fazendo e analisando o próprio fazer”. A perspectiva do ciclo de ação-reflexão-ação promove a elaboração de uma prática educativa que comtemple uma situação de aprendizagem com atividades interessantes, como é o caso da elaboração de um Programa de Conservação Auditiva (PCA). A organização do PTD promove o diferencial na aprendizagem do aluno, que passa ser protagonista de sua aprendizagem, pois o docente passa a desenvolver o seu planejamento em sala de aula baseada em uma metodologia de desenvolvimento de competências estruturada em sete passos metodológicos. São eles: Contextualização e Mobilização; Organização da Atividade de Aprendizagem; Coordenação e Acompanhamento; Análise e Avaliação da Atividade de Aprendizagem; Outras Referências e

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Síntese e Aplicação (KÜLLER e RODRIGO, 2012, p. 3). Para Senac, (2015c, p. 11) “a criação de situações de aprendizagem, alinhada à metodologia de desenvolvimento de competências, é o núcleo criativo do trabalho docente.”

2. Desenvolvimento

A metodologia adotada no presente trabalho inclui um relato de experiência acerca da implementação de um Programa de Conservação Auditiva – (PCA) baseado nas Normas Regulamentadoras 9, 15 do Ministério do Trabalho e Previdência Social – (MTPS) e na Norma de Higiene Ocupacional 01 – (NHO1) (FUNDACENTRO), elencando os prejuízos causados aos trabalhadores afetados pela perda auditiva de uma indústria de polímeros apresentada como situação problema para o desenvolvimento dos indicadores 1, 3 e 4⁴ da UC2⁵ “Realizar avaliação e medidas de controle de riscos físicos, químicos e biológicos” seguindo a perspectiva do MPS. Com base nesse referencial, foram identificados os atores da empresa envolvidos nesse processo de conscientização e elaboração do Programa de Conservação Auditiva - PCA e demais ações para promover saúde auditiva aos trabalhadores da mesma. Esse levantamento de informações subsidiou a análise das exigências da NR15, Portaria 3.214/78 do MTPS, que se refere aos limites de tolerância para exposição ao ruído continuo e intermitente como também pode subsidiar a apreensão da forma de elaboração, aplicação e monitoramento do PCA, além de ressaltar sua importância no contexto da preservação da saúde e dos profissionais envolvidos na cadeia produtiva de uma empresa.⁴ 1. Identifica os indicadores dos modelos de gestão e da cultura organizacional, conforme legislação vigente, literatura técnica e diretrizes da organização. 3. Auxilia a definição de metas, prioridades e responsabilidades, conforme diretrizes da política e legislação.4. Auxilia a definição de novos programas e procedimentos, conforme normas, legislação e diretrizes da organização.⁵ SENAC, DN. Plano de curso: técnico em segurança do trabalho. Rio de Janeiro, 2015. 41p.

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Compreende a pesquisa bibliografia já tornada pública em relação ao tema, desde publicações avulsas, jornais, revistas, estudos, pesquisas, livros monografias, teses acadêmicas, e etc., até dos meios de comunicação orais: gravações, rádio, filmes e televisão. Sua finalida-de é o pesquisador em relação direta com tudo o que foi documentado, de forma citada ou expressa em filmagem sobre o assunto determinado, incluindo as conferências, seguidas de discussões que tenham sido transcritas por alguma maneira, quer publicadas na gravação e armazenadas (LAKATOS e MARCONI, 2001). No momento de apresentação da situação de aprendizagem⁶ o docente descreveu as etapas e procedimentos para a elaboração do PCA da indústria de polímeros.

Quadro 1 - Etapas de procedimentos e análise para a elaboração do PCA da empresa de polímeros.

⁶ As situações de aprendizagem podem ser entendidas como conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências. Seu planejamento parte da premissa de que o aprendizado profissional deve ser significativo, problematizador e trazer a figura do aluno para o centro da cena pedagógica, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem (SENAC, 2015c, p.11).⁷ FUNDACENTRO. Procedimento Técnico: Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído. São Paulo, 2001. 40p. Disponível em: http://www.

fundacentro.gov.br/biblioteca/normas-de-higiene-ocupacional/download/Publicacao/195/NHO01-pdf. Acesso em: 05 de abr. 2017.

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Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Dentro do PTD da UC2 “Realizar avaliação e medidas de controle de riscos físicos, químicos e biológicos” o objetivo principal a ser deselvolvido foi realizar avaliação e medidas de controle de riscos físicos, químicos e biológicos capacitando assim, profissionais Técnicos de Segurança do Trabalho para estimular o conhecimento aprofundado da ciência da higiene ocupacional. Tendo em tese os riscos Ocupacionais (Risco Físico, Químico e Biológico) gerados pelas empresas, levar estes conhecimentos aos alunos através da caracterização e avaliação, desses riscos, por meio de equipamentos demonstrados em sala de aula e nas visitas técnicas realizadas nas empresas. Os dados coletados por estes equipamentos ajudam o aluno a escolher a forma mais eficaz de prevenção dos riscos ocupacionais, resultando na

⁸ Análise e interpretação dos resultados realizados por meio do equipamento audiodosimêtro, onde se mensura a dose do ambiente avaliado. Para indicar a exposição do trabalhador ao risco físico ruído. ⁹ Conforme Instrução Normativa nº1, de 20/12/95 do MTE (DOU de 04/01/96) Grupo homogêneo de exposição corresponde “a um grupo de trabalhadores que ficam expostos de modo semelhante, de forma que o resultado da avaliação da exposição de qualquer trabalhador, ou do grupo, seja representativo da exposição do restante dos trabalhadores do mesmo grupo”.

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promoção da Qualidade de Vida no Trabalho, por meio da preservação da saúde dos trabalhadores e da segurança nos processos, ambientes de trabalho e meio ambiente, atendendo à demanda do mercado regional. E dessa forma, promover o ensino integralizado, realizado de forma a identificar e classificar os riscos ambientais conforme literatura técnica, normas e legislações aplicáveis de acordo com o primeiro indicador da UC2. De forma específica os objetivos do estudo foram pautados em: 1. Formar um aluno participativo, capaz de atender a crescente demanda por profissionais realmente aptos a eliminar e/ou minimizar os agravos à saúde dos trabalhadores, através da identificação dos agentes ambientais e definindo os tipos de avaliações qualitativas e quantitativas a serem realizadas, conforme normas técnicas, realizando assim a compreensão do terceiro indicador da UC2. Promover a integração dos alunos com empresas e instituições visando o conhecimento do mercado e da realidade pós-curso através do estabelecimento de medidas de controle, conforme manuais, normas e legislações aplicáveis, abrangendo assim o indicador quarto da UC2.Sendo assim, foram trabalhados em sala de aula aspectos inerentes ao desenvolvimento de um PCA.

3. O Ruído

O ruído constitui uma causa de incômodo para o trabalho, um obstáculo às comunicações verbais e sonoras, podendo provocar fadiga geral e, em casos extremos, trauma acústico e alterações fisiológicas extra auditivas (AHMED et al., 2001). É amplamente divulgado e aceito que a percepção individual do ruído depende de características do mesmo e, até certo ponto, são fatores determinantes como a idade do indivíduo, o seu estado emocional, os gostos, as crenças ou o modo de vida, e interferem no grau de intensidade sonora que causa incômodo durante a exposição ao ruído.

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3.1 Ruído na higiene ocupacional

O ruído constitui, atualmente, um dos riscos ocupacionais mais relevantes no meio industrial. Dada a sua estreita associação ao incômodo que provoca é, geralmente, encarado numa perspectiva mais ampla do que a que será abordada ao longo deste trabalho, que se ocupará apenas da vertente ocupacional. Campbell (2000) aponta que, em cada 10 pessoas, uma apresenta problema auditivo e, mesmo sendo um número dado de forma aproximada, admite-se afirmar que o número de pessoas afetadas sejam em média de 500 milhões de indivíduos no mundo. 3.2 Perdas auditivas

A exposição ao ruído não é um risco recente. Antes mesmo da revolução industrial, embora em pequeno número, já existiam pessoas expostas ao ruído elevado em seus postos de trabalho. Ao passar do tempo, surge a máquina a vapor e ocorre a revolução industrial, o que nesse mesmo período provocou o surgimento da “doença dos caldeireiros” que ao fabricarem as caldeiras ficavam expostos a altos níveis de ruído contraindo perdas auditivas significativas.

3.3 Nível sonoro

Toda fonte emissora de som possui determinada potência acústica, característica e de valor fixo, relacionada com a saída da mesma. As vibrações sonoras originadas pela fonte têm, no entanto, valores variáveis dependentes de fatores externos, tais como, distância e orientação do receptor e variações de temperatura do local ou do ambiente de exposição sonora. A intensidade das vibrações sonoras ou das variações de pressão que lhes estão associadas

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exprime-se em newton por metro quadrado (N/m²) ou pascal e designa-se por Pressão Sonora.

3.4 Ondas Sonoras

A exposição ocupacional ao ruído é, normalmente, avaliada considerando-se a dose diária de exposição, correspondente a uma exposição de 8 horas diárias. A NR15 do Ministério do Trabalho estabelece tempos diferenciados de exposição determinados pelo nível do ruído. Ultrapassados esses valores torna-se a atividade insalubre, acarretando em condição insalubre e gerando o direito à percepção do adicional de insalubridade conforme traz a redação da NR 15 do Ministério do Trabalho e Emprego. O exercício de trabalho em condições de insalubridade, de acordo com os subitens do item anterior, assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário mínimo da região, equivalente a: (115.001-4/ 11) Deve o empregador, prioritariamente, manter o ambiente de trabalho salubre, seja com a eliminação, enclausuramento da fonte de ruído ou com a adoção de uso de protetores auditivos. A escala de frequências é, usualmente, dividida em três grandes grupos:

• Infrassons; • Gama de frequências audível; • Ultrassons.

A sensibilidade do ouvido humano está na faixa de 20 Hz a 20 KHz; a frequência característica de ultrassom, em geral, está no intervalo de 16 KHz a 1MHz, sendo que frequências de 1 a 10 MHz correspondem à região de alta frequência. A unidade internacional de frequência é o hertz (Hz).

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O gráfico abaixo mostra o campo auditivo humano, dentro do qual pode ser observada da percepção sonora humana.

Figura - 1: Percepção Humana

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br

3.5 Programa de conservação auditiva (PCA)

Um Programa de Conservação auditiva é composto por um conjunto de medidas, que visam prevenir o desencadeamento ou aumento de perdas auditivas devido à exposição ao ruído durante o período em que o indivíduo exerce suas atividades laborais. Nesse programa devem constar ações de cunho contínuo e dinâmico dentro das rotinas nas empresas. O PCA faz-se necessário nas empresas que apresentam setores onde existe o risco para a audição do trabalhador. Deve ser planejado e implantado, sempre que possível, por uma equipe multidisciplinar, constituída por profissionais de setores variados da empresa. A abordagem quanto a uma composição multidisciplinar para provimento do PCA tem recomendação de diversos autores e instituições ligadas à Segurança, Higiene e Saúde

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Ocupacional. Infelizmente, o que se observa é que são poucas as empresas industriais em que se verifica a existência de PCA (AREZES et al., 2001). A vigilância da função auditiva é o item mais importante de um PCA, embora não seja o mais utilizado, dando espaço à audiometria, método utilizado com maior frequência. Existem várias ferramentas com a finalidade de possibilitar o monitoramento da função auditiva do trabalhador. Em sua maioria são ferramentas de avaliação clínica otorrino-laringológica do funcionamento do aparelho auditivo, como:

• Audiometrias tonais: determinam a capacidade audível por meio de tons puros, normalmente por condução aérea; • Auditorias inicias e anuais: Consiste em realizar um levantamento ou revisão das condições existentes num dado momento, o que deve ser feito sempre que se tenha a intenção de elaborar ou revisar o PCA, a fim de se diagnosticar a real situação da empresa, assim como os pontos positivos e negativos do programa pré-existente.

Os registros sobre audiometrias, exposições e avaliação do ruído deverão ser arquivados, tanto pelo controle interno do qual depende o sucesso PCA, como forma comprobatória legal perante reclamações trabalhistas posteriores.

3.6 Proteção individual auditiva

Como já abordado, a exposição repetida ao ruído excessivo pode levar à perda irreversível da audição. Como o processo de perda é lento e progressivo, o indivíduo só consegue perceber quando as lesões já estão avançadas. Quando não é possível eliminar ou reduzir a níveis seguros as fontes de exposição de ruídos, faz-se necessário o uso de Equipamentos de Proteção Individual:

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o protetor auditivo, esse equipamento é a solução mais simples e eficiente de atenuar o som e permitir a proteção do trabalhador contra os altos níveis de ruído e a perda auditiva, embora devam ser priorizadas as medidas de caráter coletivo. Basicamente existem dois tipos de proteção auditiva individual: os protetores de inserção, também conhecidos como plugue e os abafadores tipo concha.

➢ Os plugues podem ser de inserção moldável, desenvolvido em espuma que se expande e adequa-se ao ouvido do indivíduo e os modelos pré-moldados de inserção, geralmente confeccionados em silicone. ➢ Os abafadores tipo concha, como o próprio nome diz, são compostos por duas conchas que contém espuma na parte interna da cavidade, interligadas por um arco. Outra opção largamente utilizada no mercado é o kit abafador de ruídos, que é uma solução composta por duas conchas que se encaixam nas laterais do capacete e permitem a proteção conjugada da cabeça e das orelhas.

4. Resultados e discussões

A empresa utilizada para o estudo de caso apresenta número bastante significativo de trabalhadores no setor da produção, onde foram consideradas questões como: sexo, idade, funções e tempo de exposição de cada trabalhador.Convém salientar que durante o processo de levantamento de dados realizado para quantificar os métodos de preservação auditiva e nível de ruído, foi encontrada forte resistência por parte dos responsáveis pelo setor. Além disso, as informações disponibilizadas apresentavam-se incompletas ou inconsistentes, ou seja, não haviam registros suficientemente substanciados para garantir a fidedignidade da empresa nos resultados apresentados nesse estudo.

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A empresa situa-se no Distrito Industrial Governador Luiz Cavalcante, Bairro do Tabuleiro do Martins na cidade Maceió Alagoas, e o autor do presente estudo comprometeu-se em manter a identidade da empresa em anonimato. Para quantificar os níveis de ruído presente no setor foram realizadas 6 (seis) dosimetrias. Para isto, os trabalhadores foram classificados em grupos homogêneos. Os equipamentos utilizados para medições foram dosimetros Edge da Marca Quest Tecnology, calibrados na faixa 114 dB. Diante da falta de acesso às informações que permitissem a análise mais aprofundada do PCA, o enfoque da conclusão sobre a realidade da empresa será respaldado nos resultados obtidos com as dosimetrias aplicadas.

Tabela 1 – Caracterização da Indústria de Polímeros.

Fonte: Dados adaptados da empresa (2014)

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Devido à permanência em áreas comuns e, portanto, expostos às mesmas fontes de ruído, as funções foram agrupadas em seis grupos genericamente chamados de grupos I, II, III, IV. V e VI.

Tabela 2 – Grupos, funções e LAVG.

Fonte: Dados adaptados da empresa (2014)

4.1 Observações do agrupamento por funções.

• No Grupo I os postos de trabalho das funções agrupadas estão locados com distância máxima entre eles não superior a 2 m. • O Grupo II desenvolve suas atividades não necessariamente em tempos simultâneos, porém, levam o mesmo tempo de permanência nos setores ruidosos da empresa. • O Grupo III constitui-se de trabalhadores que trabalham juntos toda a jornada de trabalho. • O Grupo IV apresenta apenas uma função, uma vez que trabalha em máquina empilhadeira, situação que não se equipara a de nenhuma outra função.

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• O Grupo V representa a função com maior diversidade de exposição encontrada na empresa, haja vista que os trabalhadores encontram-se mais próximos das máquinas com o maior nível de ruído. • O Grupo VI representa a função de funileiro, que permanece mais distante dos demais postos de trabalho.

4.2 Avaliação

Foi realizado um estudo por grupo homogêneo durante toda jornada de trabalho, respeitando-se a pausa para almoço.

Gráfico 1: Dosimetrias por grupo da indústria de polímeros pesquisa.

Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

Instrumentos de avaliação dos alunos referente a UC2.

a) Elaboração da folha de campo de acordo com as orientações ministradas pelo professor em sala de aula.

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b) Observação: O professor irá observar/acompanhar a aplicação da folha de campo do PCA elaborado em sala de aula durante às visitas técnicas dos alunos, analisando os seguintes critérios: 1 - O estudante acompanhou de fato a carga horária total de exposição do trabalhador ao ruído levando em consideração os parâmetros da NR-15 e NH01 sobre o preenchimento da folha de campo e 2 – O estudante participou de todas as visitas técnicas. c) Analisar os dados das dosimetrias com os histogramas e da folha de campo utilizando os parâmetros da NR-15 e NH01. d) Elaboração de um PCA (Documento elaborado pelo TST caso haja em algumas das funções da empresa ruídos elevados a 85db).

A partir de três visitas técnicas programadas na UC2 com a finalidade de elaborar um PCA para quantificar os métodos de preservação auditiva e nível de ruído numa empresa, foram solicitados aos alunos da turma, divididos em seis grupos de quatro componentes, analisar os dados das dosimetrias com os histogramas e folha de campo utilizando os parâmetros da NR-15 e NH01 numa empresa de polímeros. Na realização da atividade, o docente pode observar por meio do engajamento dos alunos na elaboração da folha de campo e do PCA que a proposta foi realizada com sucesso, contribuindo para a construção do Perfil Profissional de Conclusão do Curso.

5. Considerações Finais

Os resultados das dosimetrias indicaram uma exposição a altos níveis de ruído para todas as funções dos grupos de III a VI ao longo do dia, indicando que não se pode ignorar o nível de contaminação do ambiente, além da necessidade de intervenção urgente no setor da produção. Os grupos foram propostos para análise das exposições.

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O grupo I insere-se como o que apresenta maiores variações em menor escala de tempo, isso, por seus integrantes estarem expostos ao ruído da área com maior variação de ruídos provenientes das máquinas de produção. Porém, os grupos II e III apresentam menores variações de níveis de ruído, mantendo uma frequência entre as variações de nível de ruído e tempo entre um pico e outro. Alguns dos resultados apresentam valores que superam os 90 dB como é o caso dos grupos V e VI, que apresentam resultados entre 90 e 100 dB durante maior parte do tempo. Para esses profissionais, o risco torna-se muito maior inclusive pela falta de consciência dos trabalhadores. Foram verificadas nas dosimetrias os níveis de dB (A) em que os trabalhadores estão expostos em TWA1 e TWA2, demonstrados no gráfico. Considerando que as medições foram realizadas em dias de trabalho rotineiro, sem nenhum evento excepcional nas atividades, seria possível afirmar que o ambiente apresenta riscos à saúde auditiva dos trabalhadores. Observou-se que todos os profissionais fazem uso de protetores auditivos do tipo plugue; ressalta-se que esta foi uma observação feita pelo autor deste trabalho, pois não havia qualquer registro sobre a entrega e treinamento adequado do uso desses protetores, nenhuma informação sobre o Certificado de Atenuação dos mesmos, o que gera lacunas quanto à eficácia dos protetores, seja pelo uso inadequado, ou pela validade do PCA. Assim, como não havia registros de validade de PCA, treinamento de uso e manutenção adequada, também não havia registro de exames periódicos ou qualquer outra forma de controle, neste caso o PCA. Conclui-se também que, neste estudo, o PCA é um importante instrumento no auxílio para controlar os altos níveis de ruído de qualquer tipo de empresa em segmentos diversos. Deve ser visto também como um

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todo, que a prevenção impede as prováveis alterações tanto físicas quanto psicológicas, permitindo então que os colaboradores possam ser capazes de agir de forma íntegra em sua função. Hoje, com o alinhamento pedagógico, a prática docente possibilita dinâmicas de aprendizagem mais atrativas para o aluno, instigando o docente criar situações problemas nas UC´s para desenvolverem esta aplicabilidade de uma forma mais fidedigna, in loco, e não hipotética, como era realizada em sala, sendo esta prática devesenvolvida constantemente para o discente aplicar de uma forma sistemática as suas atitudes, conhecimentos e valores, tendo assim estes alunos perpassados todo o MPS, fazendo com que eles possam assimilar este conhecimento de uma melhor forma. Podemos identificar que o aluno irá realizar as situações de aprendizagem de uma forma construtivista dentro das UC`s com o instrutor, estimulando assim este aluno à ação e reflexão na utilização da bibliografia disponível das UC´s, para desenvolver as competências previstas no plano de curso.

Referências

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BRASIL, Ministério do Trabalho e previdência Social. Norma Regulamentadora NR-15: Atividades e operações insalubres, 2014.

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CAMPBELL, K., Developing agents for ototoxic and noice-induced hearing loss: D- methionine and other compounds, NHCA Spectrum, 2000.

FUNDACENTRO. Procedimento Técnico: Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído. São Paulo, 2001. 40p. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/

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KÜLLER, José; RODRIGO, Natalia. Uma metodologia de desenvolvimento de competências. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 38, nº 1, jan./abr. 2012. Disponível em: <http://www.bts.senac.br/index.php/bts/issue/viewFile/21/20> Acesso em: 05 de abr. 2017.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 4.ed., São Paulo, Atlas, 2001. 288p.

SENAC, DN. Plano de curso: técnico em segurança do trabalho. Rio de janeiro, 2015.41 p.

_______. DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

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_______. DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b. 28 p. (Coleção de - as Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2).

_______. DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

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CONSTRUINDO A REALIDADE: SIMULAÇÕES COMO METODOLOGIA DE ENSINO

E APRENDIZAGEM

Nívea Pereira Cavalcante Silva1

1. Introdução

O artigo foi organizado em tópicos que abordam sobre o construtivismo, o uso de simulações como forma de aprendizagem, relato de experiência e percepção do aluno da metodologia utilizada. O primeiro tópico discorrerá sobre a concepção de ensino e aprendizagem num víeis construtivista, faz-se necessário o emprego de estratégias de aprendizagem em que o aluno seja protagonista e corresponsável por sua aprendizagem. A simulação como estratégia de aprendizagem será trabalhada no segundo tópico. Através dela, tomaremos consciência da importância e eficácia que esta metodologia agrega a prática profissional quando utilizada com responsabilidade e com a finalidade de construir um momento de aprendizagem que valoriza o processo de ação-reflexão-ação. O terceiro tópico apresentará a experiência do docente no uso de simulações, na turma de Aprendizagem Profissional Comercial em Serviços Administrativos (51/2016), na Unidade Curricular de Segurança do Trabalho. Por último, mas não menos importante, serão considerados os relatos de alunos, que vivenciaram a experiência metodológica e apontam os resultados encontrados no processo de aprendizagem.

1 Arquiteta e Urbanista, MBA em Gestão de Projetos / Docente Senac/AL – Unidade Arapiraca.

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Os cursos do Senac com foco no desenvolvimento de competências (Educação Profissional de Nível Médio, Qualificação Profissional e Aprendizagem Profissional Comercial) são estruturados para formar um perfil profissional focado na demanda do mercado de traba-lho com articulação teórico-prática. O objetivo desse estudo é refletir sobre as experiências vividas no curso de Aprendizagem Profissional Comercial em Serviços Administrativos na Unidade Senac da cidade de Arapiraca, em Alagoas, realizado dentro da proposta do Modelo Pedagógico do Senac (MPS),

A designação Modelo Pedagógico, no entendimento do Senac, representa um conjunto de concepções orientadoras das práticas pedagógicas realizadas nos ambientes de aprendizagem da Instituição (...) com vistas a promover o incremento da qualidade da oferta educacional” (SENAC, 2015a, p. 5).

No MPS “o núcleo da proposta metodológica organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015a, p. 12). Nesse contexto, o docente acompanha o desenvolvimento dos estudantes, atu-ando, ora como avaliadores, ora como facilitadores, ora como consultores. A atenção e o protagonismo estarão direcionados para o aluno, ficando claro para o docente que ele é o mediador e que sua função é orientar, instigar, estimular e não impor uma condição de hierarquia fundamentada no ensino tradicional. De acordo com o primeiro Documento Técnico do MPS (2015) “concepções e princípios”, a prática do docente deve estar centrada no desenvolvimento de competências, nessa direção, seu papel não é ensinar ou transmitir o que sabe, mas ajudar o aluno a aprender a

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aprender, por meio de situações de aprendizagem2 que promovam a autonomia. Considerando que todo aluno traz consigo um conhecimento prévio, firmado em significados e significantes, próprios de suas relações sociais, econômicas e ambientais, faz-se necessário enfatizar que o processo de ensino-aprendizagem deve ser direcionado através de práticas construtivistas que assegurem como resultados: autonomia, visão crítica, ações sustentáveis e colaborativas, proatividade, entre outras características essenciais para o mercado de trabalho e a formação integral do aluno. As Marcas Formativas são a base para o desenvolvimento do processo de aprendizagem, e é a partir delas que se espera que o Senac apresente ao mercado de trabalho profissionais com domínio técnico-científico em seu campo, tenha visão crítica sobre a realidade e suas ações, apresente atitudes empreendedoras, sustentáveis e colaborativas, buscando sempre eficácia em seus resultados.

São essas marcas que devem identificar e diferenciar no mundo do trabalho os profissionais egressos do Senac. Devem, portanto, ser internalizadas na prática pedagógica, de forma subjacente a todas as ações de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento de competências, de tal forma que os alunos as incorporem à sua atuação profissional (SENAC.DN, 2015a, p.15).

A educação construtivista é a chave para o MPS; a partir de seus conceitos que serão embasadas as justificativas para a utilização de simulações como metodologia de ensino-aprendizagem.

2 Conjunto organizado e articulado de ações a serem realizadas pelos alunos, propostas e orientadas pelo docente, com o objetivo de promover o desenvolvimento de competências. Seu planejamento parte da premissa de que o aprendizado profissional deve ser significativo, problematizador e trazer a figura do aluno para o centro da cena pedagógica, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem (SENAC, 2015c, p.11).

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A metodologia construtivista busca substituir processos de memorização e de transferência fragmentada de informações do professor para o estudante. Parte da premissa de que aprender não é reproduzir a realidade, mas ser capaz de elaborar uma representação pessoal sobre esta e seus conteúdos. (VARGA, et. Al; 2009, p. 292)

Elaborar uma representação pessoal sobre a realidade e seus conteúdos é o pressuposto básico para que desconstrua a ideia que o conhecimento se adquire a partir da reprodução de algo que se lê ou se escuta. É perceber que é necessário refletir sobre o que está inferindo, analisar com cautela e visão crítica uma determinada ação, a fim de construir um pensamento próprio sobre qualquer conteúdo. Temos como exemplo, no mundo acadêmico, os pesquisadores, que iniciam uma pesquisa conhecendo o estado da arte para aprofundar, quantificar e qualificar seus resultados. Diversos resultados são descritos contradizendo uma teoria anterior, e esse processo se dá na medida em que o estudioso se dedica à pesquisa, à reflexão e à análise, sendo assim elaborada uma nova percepção sobre o conteúdo estudado.

2. Concepção construtivista de ensino e aprendizagem

O construtivismo foi criado pelo estudioso Jean Piaget, que tinha como finalidade analisar o desenvolvimento do pensamento lógico e da importância do papel do indivíduo no ato do conhecimento. Para Salvador (2000), o conhecimento vai sendo construído, com o indivíduo tendo um papel essencial, uma vez que o mesmo não é uma cópia da realidade, onde conhecer é atuar na realidade que nos envolve. É importante considerar que cada aluno traz consigo uma bagagem anterior, que foi desenvolvida de acordo com sua experiência escolar, familiar, meio social e habilidades.

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A essa bagagem damos o nome de conhecimento prévio. E, é importante compreender que é deste ponto que o aprendiz irá fazer as associações entre a teoria e a realidade. Ainda que, no caso do curso de Aprendizagem, a maioria dos alunos não tenha experiência profissional, eles possuem experiência de mundo e já possuem conhecimento técnico básico para que seja feita a comunicação entre aluno e mediador. É extremamente prejudicial para o processo de ensino e aprendizagem e desconsiderar o conhecimento prévio, que afetaria no processo de assimilação. No construtivismo, a relação sujeito-objeto é interativa e evolutiva, assim como pede a ciência, pois o conhecimento precisa ser dinâmico. Mais do que uma linha pedagógica, o construtivismo é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do indivíduo no decorrer de sua vida. O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante experimentação, pesquisa em grupo, estímulo a dúvida e desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos (LEÃO, 1999). Dessa forma, o aprendiz se destaca como parte atuante no processo de aprendizagem. Segundo Piaget (1972), o erro é uma etapa extremamente importante e não deve ser ignorada, pois o mesmo representa o aspecto visível de um processo dinâmico que dirige todo o desenvolvimento. O erro, assim como pontos de vista distintos, estimula indagações sobre determinado assunto e a curiosidade para a busca de respostas e justificativas, desenvolvendo e elevando o nível de conhecimento entre indivíduos. O método enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem (LEÃO,1999). Em outras metodologias, que ainda praticam a hierarquia educacional, onde o docente é o centro e o aluno mero reprodutor, existem mais resistência e mais justificativas contra a teoria construtivista e, segundo Pereira (2003), para estes, o conceito de docente eficiente

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passa a ser o que não exige labor, pesquisa, articulação teórica.

Aí passamos a endossar um processo didático pedagógico em que professores exercem a função de camelôs do ensino ou então meros repetidores de apostilas com respostas prontas, bem buriladas. Aí esses bailarinos de salas de aula (sobretudo professores e cursinhos) pintam como os grandes renovadores à medida apenas que são bem-sucedidos em seu strip-tease didático. Mas quando você assiste a uma segunda ou terceira aula do mesmo professor em classes diferentes, sente que a criação em seu processo reside apenas na mudança de plateia (PE-REIRA, 2003, p.10)

A metodologia aplicada aos cursos Senac, tem a finalidade de desenvolver, competências que pressupõe “ação/fazer profissional observável, potencialmente criativo, que articula conhecimentos, habilidades, atitudes e valores e permite o desenvolvimento contínuo” (SENAC, 2015c, p.12). Partindo desse pressuposto, é preciso compreender a o ciclo ação – reflexão – ação, para que a fundamentação do uso de simulações seja compreendida dentro da metodologia exigida e aplicada no Senac. Nessa metodologia, a primeira ação acontecerá de acordo com as orientações do docente, mas considerando apenas o conhecimento prévio dos alunos. Realizar a ação sem a fundamentação teórica e informações técnicas aprofundadas, faz com que o aluno desenvolva o processo de acordo com as noções que ele já possui, ainda que não tenha a certeza se está no caminho certo, ele terá que ser proativo e estimular sua cognição para cumprir com a ati-vidade exigida. Posterior a esse momento, será feita uma análise criteriosa sobre a ação realizada, de acordo com a teoria e mediação do docente. Esse momento é importante para sanar as dúvidas encontradas na etapa anterior e para ampliar o olhar sobre o assunto, podendo então retificar

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o que for preciso para atingir o objetivo na próxima etapa. A etapa de reflexão é responsável por fazer o sujeito criar uma relação dinâmica com o objeto, pois ao unir a teoria ao conhecimento prévio, faz com que se construa um significado ao que se está aprendendo, e a partir daí cada um constrói sua própria realidade e acomodação do conhecimento. Por fim, após refletir, analisar e adquirir a teoria necessária, o aluno segue na reconstrução da primeira ação, porque agora ele tem bagagem suficiente para repensar e ser mais assertivo em seus objetivos. Esse processo oportuniza ao aluno vivenciar o processo de aprendizagem, ser parte fundamental dessa jornada. Nessa perspectiva, de acordo com Turmina (2009, p. 41)

Na concepção construtivista, assume-se que os educandos aprendem e se desenvolvem na medida em que o educador se coloca numa postura de desestabilizar cognitivamente por meio de um novo saber, de atividades que coloquem os alunos em situação de conflito, de pesquisa, reflexão e construção. Isso permite ao aluno deparar-se com situações que podem ser transpostas à realidade do mercado de trabalho. Esse processo de assimilação e acomodação se estabelece dentro do ambiente educativo na construção de um novo conhecimento em que as interações criadas em sala de aula constituem a base do processo de aprendizagem, ou seja, é resultado de uma construção compartilhada entre orientador e aluno.

De acordo com a visão construtivista apresentada, é que será trabalhado o uso de simulações como metodologia de aprendizagem. A compreensão deve ser ainda mais precisa, para que possamos entender melhor o que é uma simulação e quais as suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem.

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3. Simulação como forma de aprendizagem

O processo de aprendizagem, por meio de situações simuladas, tem se mostrado um método efetivo para avaliar conhecimentos, atitudes e habilidades, pois permite diagnóstico dos problemas apresentados, a partir de análises, pesquisas e discussões sobre o conteúdo, aumentando o autoconhecimento e a confiança em cada aluno. Na Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, encontra-se no caderno 3, “Planejamento Docente”3 parâmetros que esclarecem a importância de atividades práticas para desenvolvimento das competências.

A atuação docente, na ótica do desenvolvimento de competência, apresenta uma ruptura com os paradigmas da educação tradicional: há de se considerar a existên-cia de um saber próprio do fazer, o qual se distingue de toda a teoria que se possa elaborar sobre ele. Esse saber se amplia no exercício do fazer, o que significa afirmar que uma competência só se desenvolve pela prática. No entanto, o simples exercício ou o “aprender fazendo” não garante o desenvolvimento da compe-tência. É necessário que o fazer seja acompanhado e seguido pela reflexão sobre esse fazer. Assim, a reflexão, subsidiada pelos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores mobilizados para o exercício da competência, ressignifica o fazer inicial, transformando-o em um novo fazer, agora então mais qualificado. (SENAC.DN, 2015c, p.8)

O desenvolvimento dessa atividade tem fundamentação no conceito de aprendizagem significativa, que tem como estudioso o psicólogo norte-americano David Paul Ausubel (1982). Segundo o psicólogo mencionado, para que uma nova informação faça sentido

3 Coleção de Documentos Técnicos apresentam os aspectos mais relevantes do Modelo Pedagógico Senac foram reunidos em uma Coleção de Cinco Documentos Técnicos, neles constam, as macrodiretrizes organizadoras dessa política institucional, que visa orientar e subsidiar a prática dos agentes que executam a atividade fim do Senac (SENAC, 2015a, p. 6).

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e seja apreendida pelo aprendiz, ela precisa se ancorar em conceitos relevantes, previamente existentes na estrutura do mesmo. Duas condições são necessárias para uma aprendizagem significativa: o aluno precisa estar disposto para aprender e o conteúdo precisa ser significativo para o mesmo, lógica e psicologicamente. A lógica vem da natureza do conteúdo, já o significado psicológico é a experiência que cada indivíduo vivencia. Métodos de aprendizagem interativa com o uso de simulações resultam em currículos que parecem mais bem-sucedidos do que aqueles que utilizam exclusivamente métodos tradicionais de ensino. A oportunidade de desenvolver novas habilidades, construção de vários cenários de aprendizagem, a colaboração entre indivíduos e a possibilidade de refazer o que for necessário são outras vantagens dessa estratégia. Esse tipo de aprendizagem demanda do docente um planejamento adequado, para que os alunos não se sintam largados e desestimulados. O acompanhamento do docente nas etapas de elaboração da simulação será de extrema importância para o resultado final apresenta-do pelos alunos. A comunicação, escrita e oral, a postura profissional, a capacidade de organizar e distribuir tarefas, assim como o trabalho colaborativo também são pontos que podem e devem ser explorados no decorrer da avaliação.

4. Relato de uma experiência

Este relato de experiência tem como objetivo descrever a aplicabilidade de uma atividade de simulação, como método de aprendizagem interativa. O curso que serviu como laboratório para esta explanação foi o de Aprendizagem Comercial em Serviços Administrativos, turma 51/2016, na unidade curricular de segurança do trabalho, SENAC/AL, unidade Arapiraca. A turma foi dividida em grupos, de no máximo seis integrantes, e através de sorteio ficou estabelecido qual a

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tipologia empresarial de cada equipe. Essa determinação foi importante para avaliar como os alunos trabalhariam no individual e coletivo. Para Piaget (1972), o indivíduo precisa ter a oportunidade de usufruir das relações sociais e de colaboração. Dessa forma, o trabalho em grupo colabora para: enriquecer experiências; atender às diferenças in-dividuais; desenvolver o senso crítico e a criatividade; o espírito de cooperação; o senso de responsabilidade; e enriquecer conhecimentos (PILETTI, 2000). A atividade determinada para fins avaliativos foi a apresentação da simulação de um acidente ocupacional, identificando o tipo de risco encontrado no ambiente laboral e a possível e mais adequada atitude preventiva que deveria ter sido realizada para evitar o acidente. De acordo com o planejamento das aulas, fundamentadas pelo plano de curso da instituição, fez-se necessário criar etapas para a elaboração da aprendizagem: construção do roteiro pre-liminar, pesquisa e levantamento de dados e apresentação da simulação. Na primeira fase do processo, os grupos se reuniram para discutir quais os problemas eminentes e respectivos da sua tipologia empresarial. Após a imaginação e visualização fictícia, através do conhecimento prévio, da sua empresa, os integrantes definiram prováveis roteiros que poderiam ser contados, através de brainstorming (tempestades de ideias), que é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo, colocando-a a serviço de objetivos pré-determinados. Nesse processo, o docente orientou e assessorou provocando questionamentos que deveriam ser pesquisados na próxima etapa. Uma das exigências do trabalho é que cada integrante tenha uma participação efetiva, seja como pesquisador, narrador, cenógrafo ou corpo de atuação na simulação. Essa exigência tinha como propósito evitar a displicência que, geralmente, ocorre em trabalhos em grupo.

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Ainda sobre a valorização do trabalho em equipe, trata-se de uma atividade cuja organização pode decorrer numa atitude mais comum: a improdutividade. Tal questão está marcada pela dificuldade de organizar e de conseguir a colaboração máxima de todos, entendida como a produtividade, que significa a contribuição concreta de cada membro que compõe a equipe. Contudo, há momentos para o trabalho individual e coletivo. Em ambos os casos, um depende do outro. É importante buscar uma sintonia entre o individual e o coletivo. Com objetivo de aprimorar a participação conjunta, neste contexto, enfatiza-se estimular o trabalho de equipe em que todos trabalhem de forma solidária, realmente produtiva (TURMINA, 2008, p.40).

A partir da conclusão do roteiro, foi realizado o momento de reflexão, onde o docente mediou o conhecimento técnico, esclareceu as dúvidas levantadas e orientou as pesquisas necessárias para retificação e reconstrução do roteiro, o qual foi entregue no formato tradicional de trabalho escrito, para melhor compreensão e avaliação da parte teórica que seriam apresentadas nas simulações. A terceira e última etapa incluiu a construção dos elementos cenográficos, caracterização dos personagens e ensaio final para a apresentação definitiva. Esses elementos foram de extrema importância para a criação imagética da empresa fictícia e seu funcionamento, inclusive para compreensão do contexto relacionado entre a interação colaborador e empresa. Cada equipe teve até quinze minutos para apresentação da simulação e, ao final a docente mediou uma discussão através de feedback (devolutiva) do conhecimento adquirido e da experiência vivenciada pelos alunos. A experiência descrita acima consegue abranger diversas competências e situações de aprendizagem; além disso, avalia o indivíduo não somente pelo seu conhecimento técnico. Para o curso de aprendizagem comercial, onde os

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aprendizes irão vivenciar simultaneamente a teoria com a prática, é válido trazer as seguintes condições que o uso de aprendizagem interativa oferece: desenvolvimento de habilidades, atitudes colaborativas, visão crítica, apreen-são do conhecimento técnico, atitudes sustentáveis, postura profissional, oratória e comprometimento. Características essas, de total importância para o currículo profissional de qualquer indivíduo.

5. Processo de avaliação

De acordo com o Documento Técnico do Modelo Pedagógico Senac, volume 5, a avaliação é parte integrante do processo de ensino e aprendizagem e precisa ter acompanhamento durante todo o processo.

Especificamente na educação profissional, a avaliação é um processo pelo qual se investigam evidências do desenvolvimento de competências requeridas nos perfis profissionais de conclusão de curso. Neste caso, a ação avaliativa deve mobilizar, de forma articulada, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, considerando a realidade social, política, histórica, econômica e cultural na qual as relações humanas, situações de trabalho e formação são construídas. Mira-se, com essa abordagem, a superação de uma prática tecnicista e condutivista, na qual a avaliação por competência poderia incorrer, se fixada apenas na aferição do conhecimento instrumental das tarefas prescritas na ocupação; e segue-se em direção a uma avaliação para o desenvolvimento da competência, centrada na autonomia do aluno, na crença de sua capacidade transformadora da sociedade e em seu pleno reconhecimento como pessoa. (SENAC.DN, 2015e, p.5)

Refletindo sobre a melhor estratégia de avaliar o aluno, de acordo com o desenvolvimento das competências exigidas na unidade curricular e compreendendo que desenvolver competências implica formas de aprendizagem consistentes para responder a situações, conflitos e

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problemas relacionados à vida real (ZABALA E ARNAU, 2010). Isso porque cada indivíduo tem, à sua maneira, de inferir o conteúdo e habilidades próprias para desenvolvê-lo, sendo inviável determinar, neste caso, o esquema tradicional utilizado em provas. A avaliação precisa compreender todo o processo, e não um momento pontual, pois dessa forma não estaria levando em consideração que o conhecimento é construído e que é nesse trajeto que poderá ser feita a acomodação do conteúdo. Na atividade em questão, existem vários momentos importantes a serem avaliados, considerar apenas a apresentação final seria descartar todo o trabalho envolvido para o objetivo final. Para Haydt (2004), é relevante considerar que a avaliação é um processo contínuo e sistemático, o que permite entender que este não pode ser esporádico, muito menos improvisado.

Devemos nos valer da avaliação como parte de algo mais amplo, totalmente articulado ao processo de ensino e aprendizagem, portanto, contínuo. A avaliação da aprendizagem não deve acontecer somente ao final da unidade curricular, a exemplo da avaliação tradicional, já que dessa forma o aluno não terá condições de re-cuperar as defasagens ou dificuldades de aprendizagem dos saberes de uma competência (TURMINA, 2008, p.17).

É importante compreender que cada indivíduo possui seus talentos e habilidades específicas, mas que podem também aprender a desenvolver as que não apresentaram ainda vocação ou oportunidade para isto. Valorizar as características individuais e orientar no de-senvolvimento por competência é obrigação de qualquer docente que seja norteado pela concepção construtivista.

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6. Percepções do aluno

O feedback é uma ferramenta bastante utilizada para apurar a efetividades de resultados. Por este motivo, foi interessante ouvir dos alunos críticas sobre o processo de aprendizagem que os mesmos tinham vivenciado. Ter acesso à opinião dos protagonistas da ação favoreceu a constatação da evolução dos indicadores de competência trabalhados na unidade curricular e no comprometimento dos grupos em realizar uma boa atividade de aprendizagem. Os depoimentos descritivos, os quais foram levantados a partir de questionários escritos a alguns dos componentes da turma 51/2015, apontam as vantagens e as sensações que a turma experimentou, servem como norteadores de que o método ação-reflexão-ação é eficaz e transformador, mudando a relação do sujeito com o objeto e tornando a experiência mais prazerosa.

com o objetivo de demonstrar a experiência que teve o trabalho em sala de aula, vale ressaltar que o conteúdo por si é rico em cuidados e atenções que as situações trouxeram, cada uma de sua forma. É viável pelo fato que, o cuidado que tenhamos em determinadas situações que podem ser consideradas de risco seja visto de outro ângulo, pois a metodologia aplicada foi totalmente real, trazendo consigo um envolvimento primordial da turma. Foi uma experiência incrível. (Aprendiz A, 18 anos)

No relato abaixo pode-se perceber que a metodologia foi além de ensinar atitudes preventivas, identificação de riscos ambientais ou sobre segurança do trabalho. O aprendiz ressalta a sua satisfação principalmente na forma de fazer, e nas possibilidades de se aprender sempre mais do que o desejado.

A metodologia de ensino aplicada na disciplina prevenção de acidentes ocupacionais foi um divisor de águas no ponto de vista aluno-assunto, pois, não

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deixou o aluno preso na visão do professor, mais o instigou a sim buscar fontes de conhecimento diversas além de exercitar a parte artística no desenvolvimento de cenários, roteiros baseados nos temas predefinidos. (Aprendiz B, 18 anos)

Os depoimentos acima refletem a satisfação e empolgação que os alunos tiveram ao terem a oportunidade de aprender, tendo a consciência de que eram os responsáveis pela construção da aprendizagem e que, ao final, o mérito do objetivo alcançado era todo deles.

O mais importante: aprender a se autoavaliar: Para isso, é necessário que os alunos se apropriem dos objetivos das aprendizagens, das estratégias de pensamento e de ação aplicáveis para responder às tarefas propostas pelo critério de avaliação (SANMARTÍ, 2009, p. 42).

Mais do que depoimentos, o feedback dos alunos é a constatação de que o método utilizado alcançou o objetivo proposto e trouxe o respeito dos aprendizes para com a instituição, já tão conhecida entre eles e no mercado de trabalho, por apresentar mais que currículos, e sim profissionais verdadeiramente capacitados. Na perspectiva pedagógica do MPS, é importante assinalar que o termo feedback foi substituído pelo termo devolutiva “com a finalidade de promover uma melhor compreensão, tendo em vista a abrangência Nacional desde Documento Técnico” (SENAC.DN, 2015e, p.9). As devolutivas no processo de avaliação são utilizadas para “nortear as ações docentes e a informar ao aluno seu próprio desempenho”. (SENAC.DN, 2015e, p.28) por meio dos indicadores de competência de cada Unidade Curricular.

7. Considerações Finais

A prática pedagógica baseada na perspectiva construtivista exige de docentes e alunos uma ruptura com a concepção de ensino e aprendizagem baseada na

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transmissão de conteúdos para uma postura de construção coletiva do conhecimento. Nessa perspectiva, o ensino vai fornecendo estímulos e construindo uma relação saudável e prazerosa no processo de aprendizagem, uma vez que as maiorias dos estudantes vêm o estudo como algo obrigatório e chato. Com base nessa reformulação, e no entendimento da ideia que o aluno é o protagonista da sua aprendizagem, o Modelo Pedagógico Senac visa contribuir, não somente para a formação profissional, mas também, e sobretudo, para a construção de cidadãos, de forma que não somente eles se favoreçam dessa formação, mas também a sociedade. Seus princípios educacionais, fundamentados nas concepções filosófica (ser humano, mundo, trabalho e edu-cação) e pedagógica (escola, currículo, metodologia, aluno, docente e avaliação) deixam claro quais são os elementos que norteiam a formação oferecida pela instituição. No caso da educação corporativa, é ainda mais importante utilizar métodos pedagógicos que façam com que o indivíduo construa a sua percepção da realidade, pois somente dessa forma é que se conseguirá criar situações de acomodação do conteúdo. Ser aprendiz não é virar um robô em sala de aula, é receber as informações necessárias e, a partir delas, conseguir discernir como as mesmas podem contribuir para o seu crescimento profissional ou pessoal. Caso contrário, o aluno será somente mais um reprodutor de conteúdo, sem nenhuma condição de questionar ou discordar de algo, pois não terá segurança e conhecimento para tal. Cidadãos que pensam, que articulam, que possuem capacidade para questionar, criticar, refletir, que são movidos à busca, à pesquisa, à ciência, a experimentações, a inovações, que acreditam nos relacionamentos colaborativos e respeitosos, que percebem o quanto po-dem aprender com o outro, com os erros, com a observação e com a fantástica experiência de saber que podem e devem buscar esclarecimentos para todas as suas dúvidas. Isso faria do mercado de trabalho um mundo muito mais

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responsável e saudável, e faria jus ao fato do homem ser o único ser vivo capaz de racionalizar. Por fim, vale considerar a importância de formar profissionais capacitados e preparados para se destacar no mercado de trabalho, este que tem se tornado, cada vez mais, seletivo e exigente, filtrando aqueles que se mostram disponíveis e comprometidos com suas atividades e com a possibilidade de aprender sempre quando necessário. É dessa forma que preparamos nossos alunos, com a consciência de que serão eternos aprendizes.

Referências

AUSUBEL, David P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.

HAYDT, Regina C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004.

LEÃO, Denise Maria Maciel. Educação: escola tradicional e escola construtivista. Cadernos de Pesquisa, nº 107, julho/1999. p. 187-206. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n107/n107a08.pdf Acesso em: 5 Jul. 2017.

PEREIRA, Otaviano. O que é teoria. São Paulo: Brasiliense, 2003.

PIAGET, J. Psicologia e Pedagogia. São Paulo: Forense, 1972.

PILETTI, C. Didática Geral. São Paulo: Ática, 2000.

SALVADOR, C. et. al,. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

SANMARTÍ, Neus. Avaliar para aprender. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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SENAC. DN. Avaliação da aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015e. 36 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5).

_____. DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b. 28 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2).

_____. DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

_____. DN. Planejamento docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

TURMINA, Adriana Cláudia. Avaliação. Florianópolis/SC; Senac/DR/SC/NTE, 2008.

_____, Adriana Cláudia. Concepções Pedagógicas. Florianópolis/SC; Senac/DR/SC/NTE, 2009.

_____, Adriana Cláudia. Prática pedagógica. Florianópolis/SC; Senac/DR/SC/NTE, 2008.

_____, Adriana Cláudia. Processo de ensino e aprendizagem. Florianópolis/SC; Senac/DR/SC/NTE, 2009.

VARGA, Cássia et. al., Reltao de experiência: o uso de simulações no processo de ensino-aprendizagem em Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, 293, 33, 2009. pp. 291-297. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbem/v33n2/18.pdf Acesso em: 5 Jul. 2017.

ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências. Porto Alegre: Artmed, 2010.

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PLANEJAMENTO DOCENTE NA UNIDADE CURRICULAR DE ESTÁGIO DA ÁREA DE

TURISMO

Thaciane Alves Magalhães1

1. Introdução

O trabalho tem uma importância fundamental na vida dos indivíduos e, por este motivo, investimos grande parte do nosso tempo em nossa preparação profissional. E para que a formação de profissionais ocorra de forma efetiva é preciso perceber a importância do planejamento docente, principalmente no que diz respeito ao seu núcleo criativo, ou seja, à construção de situações de aprendizagem que estejam em sintonia com as atuais exigências do mundo do trabalho. Ao mesmo tempo, deve-se levar em consideração que o processo de ensino e a aprendizagem não se desenvolvem apenas à luz de fatos empíricos nem tampouco à contemplação de teorias. Cabe ao docente esta reflexão inicial para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas que corroborem para a construção de um ambiente que seja propício à aprendizagem, levando os educandos ao exercício do pensar crítico sobre sua atuação profissional. O estágio entra em cena enquanto unidade curricular de natureza diferenciada, que visa à articulação das competências do curso (SENAC, 2015a, p. 19), além de ser uma unidade curricular que transcende as diversas possibilidades de aprendizagem. O estágio deve ser percebido como um momento crucial na vida dos estudantes, uma vez que é através

1 Graduada em Gestão de Turismo e Especialista em Gestão com Pessoas e Educação; Docente do Senac Alagoas CEP Carlos Milito/Eixo Turismo.

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deste que o aluno-estagiário consegue demonstrar o desenvolvimento e a articulação das competências que foram desenvolvidas ao longo de seu processo formativo. Este trabalho tem por objetivo promover algumas reflexões acerca da importância do processo de planejamento docente, na unidade curricular de estágio profissional supervisionado da área de turismo do Senac Alagoas, especificamente no que tange a parte criativa de suas atribuições. Esperamos que esta ação possa objetivar o alinhamento e a articulação das competências desenvolvidas ao longo do processo formativo de educandos, de tal forma que eles consigam incorporar as marcas formativas Senac, que irão identificar e diferenciar os egressos da instituição. Para a construção deste artigo teve-se a contribuição teórica de autores como Hallal (2014), Pimenta e Lima (2004), Feldmann e D’agua (2009), além dos documentos técnicos do Modelo Pedagógico do Senac (MPS), dentre outras fontes, que abordam (cada um à sua medida) a pertinência e o esforço necessários que o docente deve fazer para planejar suas ações. Dessa forma, o docente vai criando situações de aprendizagem que possam desenvol-ver as competências dos alunos durante seu processo formativo à luz da unidade curricular de estágio profissional supervisionado. As reflexões propostas neste artigo se desenvolvem a partir de três tópicos. No primeiro, transitaremos, ainda que de forma breve, sobre algumas considerações gerais da área de turismo, de forma que possamos situar as atuais exigências do mundo do trabalho aos profissionais deste segmento, além de perceber a contribuição do MPS para a qualificação destes profissionais. Entendendo que é preciso deixar claro o que vem a ser a unidade curricular de natureza diferenciada de estágio profissional supervisionado e sua pertinência para a formação de alunos, o segundo item, trata da sua conceituação e de sua importante contribuição para o processo de ensino e aprendizagem.

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O terceiro ponto traz algumas reflexões sobre a importância do planejamento docente2 para a construção de situações de aprendizagem que visem à articulação das competências que foram desenvolvidas ao longo do processo formativo dos discentes, de forma que estes consigam exercitar as marcas formativas3 Senac que os diferenciam dos demais profissionais. É inegável que as atuais exigências do mundo do trabalho vão para além do domínio técnico-científico das profissões. E por fim, as considerações finais, apontando sobre a pertinência do planejamento docente na unidade curricular de estágio profissional supervisionado da área de turismo do Senac Alagoas. Com isso, esperamos contribuir para a formação de profissionais críticos que consigam resolver os problemas que acometem a sociedade de uma forma criativa e flexível.

2. Breves considerações sobre o turismo e o Modelo Pedagógico Senac

O turismo está alicerçado por uma diversidade de conceitos ligados a viagens que podem ser analisados sob diversas óticas. Para o turista, pode remeter a ideia de férias, para o empresariado, transmitir a oportunidade de lucro, e para os trabalhadores, a ideia de geração de emprego e renda (PANOSSO NETTO, 2010). Para tanto, os profissionais desta área, principalmente os chamados front office (linha de frente),

2 Na perspectiva do Modelo Pedagógico Senac, o objetivo do planejamento docente é propor as ações que serão realizadas nos ambientes de aprendizagem para o desenvolvimento da competência (SENAC, 2015c, p. 5).3 As Marcas Formativas são características a serem evidenciadas nos alunos, ao longo do processo formativo. Derivam dos Princípios Educacionais e valores institucionais que regem o Modelo Pedagógico Senac e, por essa via, representam o compromisso da Instituição com a formação integral do profissional cidadão (SENAC, 2015a, p. 15).

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necessitam desenvolver um alto grau de comprometimento e conhecimento do serviço oferecido, uma vez que os mesmos acabam por fazer parte do produto que foi vendi-do, tendo estes ainda a responsabilidade com a satisfação do turista (consumidor). Percebendo as novas exigências de mercado que são requisitadas aos profissionais na cena contemporânea, o Senac resolve, enquanto forma de identificar e diferenciar os egressos da instituição, desenhar os currículos de seus cursos baseados nas próprias competências, pois entende que

[...] a educação profissional, neste século, transcende a finalidade de estrita preparação de mão de obra e consolida o seu papel na formação para o trabalho em seus aspectos mais amplos, fixados nos pressupostos da democracia, igualdade de direitos e dignidade humana. Para que possa ser efetiva, portanto, deve contribuir para o desenvolvimento do potencial dos sujeitos, não apenas do ponto de vista profissional, mas, também, como cidadãos, de forma a trazer impacto positivo em suas vidas, na comunidade em que vivem e para a sociedade como um todo (SENAC, 2015a, p. 5).

O MPS vislumbra a ruptura de paradigma educacional (ensino tradicional), uma vez que busca habilitar estudantes para atuarem enquanto profissionais competentes tecnicamente no mercado de trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo. E há o comprometimento de formar cidadãos críticos da sua prática profissional para que estes possam vislumbrar novos horizontes, sendo capazes de intervir sobre a realidade em sua área de atuação. Essa proposta se constitui em “uma alternativa para a superação da fragmentação no ensino, muito comum em cursos organizados de forma disciplinar” (SENAC, 2015a, p. 19).

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3. Unidade curricular de natureza diferenciada: estágio profissional supervisionado

O estágio é uma atividade indissociável da organização curricular dos alunos durante seu período de formação profissional, sendo este o responsável pelo primeiro contato com os campos de atuação profissional. O estágio “tem por finalidade propiciar condições para a integração dos alunos no mundo do trabalho, assegurando vivências profissionais em ambiente real” (SENAC, 2015a, p. 21). Ele tem por objetivo propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem e ser planejado, executado, acompanhado e avaliado em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares conforme legislação em vigor (Lei nº 11.788 de 25/09/08⁴). A teoria torna-se imperiosa quando se constrói com uma prática refletida e o estágio, enquanto forma de interação social, torna-se essencial para a efetivação do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que os conhecimentos adquiridos em sala servem na sua essência para a solução de problemas que acometem a sociedade como um todo (em nosso caso estamos tratando do segmento de turismo). Para que seja aguçado o pensar crítico de nossos educandos, torna-se necessário que o conhecimento adquirido em sala de aula seja problematizado, ou dito de outra forma, precisa ser confrontado com a realidade, na tentativa de percebermos até que ponto podemos intervir através desses novos conhecimentos para a construção de possibilidades de um fazer profissional. Com isso, a prática do estágio deve ser entendida como um

⁴ Lei que dispõe sobre o estágio de estudantes.

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ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. (Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008.)

De acordo com o MPS, o estágio entra em cena enquanto unidade curricular de natureza diferenciada e se torna imprescindível para o desenvolvimento das competências que são requisitadas no perfil de formação de profissionais da instituição e que podem ser definidas como uma “ação/fazer profissional observável, potencialmente criativa (o), que articula conhecimentos, habilidades, atitudes/valores e permite desenvolvimento contínuo” (SENAC, 2015a, p. 19). Sabemos que um dos maiores entraves para o sucesso na formação de profissionais na área de turismo é o imediatismo profissional, ou seja, a necessidade, cada vez mais crescente, das empresas na busca por profissionais com larga experiência na função. Essa é uma exigência/necessidade, sob pena de serem engolidos pela concorrência que, cada vez mais, aparece em cena num mercado bruscamente dinâmico como o nosso, em que carreiras e profissões surgem, transformam-se e desaparecem rapidamente. Com isso as práticas profissionais acabam por se tornarem obsoletas num curto espaço de tempo. Nesse contexto, como formar profissionais qualificados e atualizados para o mercado de trabalho? Preparar estudantes para o mercado não seria tão somente dar-lhes um prazo de validade profissional? Qual seria o papel do docente frente a esta realidade? O estágio seria realmente uma unidade curricular capaz de instigar nossos alunos à construção permanente de sua prática profissional?

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Ribeiro (2003, p. 38) corrobora com essas indagações ao assinalar que

se é impossível, hoje, que o tempo se acelerou e a crise se tornou norma em vez de exceção, prever os destinos profissionais, se nem os especialistas do mercado de trabalho nem os simples leigos podem mais garantir muita coisa, por que gastar tanta energia fazendo-o?

A pertinência dos questionamentos leva à constatação de que a formação de profissionais na cena contemporânea não deve apenas prepará-los para o mercado, mas para a sociedade em geral, uma vez que, entendemos que nossos alunos, ao longo de seu processo de formação devem evidenciar as marcas formativas⁵ Senac. Da mesma forma, é importante que estejam aptos para trabalhar no segmento do turismo em um país (mais especificamente no Estado de Alagoas) caracterizado pelos altos índices de violência, desemprego, dentre outros aspectos. Se as mudanças no mercado acontecem de maneira frenética, não somente na área de turismo, principalmente devido ao contínuo avanço das tecnologias, então é preciso prepará-los para terem consciência da responsabilidade que lhes cabe, no contexto de transformação da sociedade e de sua atual conjuntura. Cabe ao docente uma responsabilidade ímpar para o desenvolvimento de situações de aprendizagem que contemplem as várias exigências postas pelo mundo do trabalho ao profissional contemporâneo.

4. O planejamento docente

O docente é o profissional responsável pelo

⁵ “Domínio técnico-científico, visão crítica, atitude empreendedora, atitude sustentável e atitude colaborativa” (SENAC, DN, 2015a, p. 15-16).

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desenvolvimento de estratégias interdisciplinares de aprendizagem que proporcionem aos alunos o pensar crítico, fazendo a gestão de um ambiente que seja favorável ao conhecimento, rompendo os “limites” historicamente determinados nos currículos. Estes currículos se desdobravam em disciplinas que não proporcionavam aos educandos perceber sua articulação com as demais, além de pouco contribuir para a formação de um perfil profissional de conclusão requisitado nos planos de curso. Cabe ao docente planejar sua atuação profissional, fazendo uma “[...] reflexão sobre os caminhos que podem ser percorridos, no sentido de atingir os objetivos de uma aprendizagem significativa e que faça a diferença na vida dos alunos” (SENAC, 2015b, p. 05). É devido ao docente orientador do estágio refletir com seus alunos sobre as experiências que estes já trazem, para poder projetar um novo conhecimento que ressignifique suas práticas, considerando as condições objetivas postas pelo mercado de trabalho Pimenta e Lima (2004). Através do processo de ação-reflexão-ação⁶ apontado no MPS, é necessário que o professor possa trabalhar junto ao aluno-estagiário suas inseguranças e suas concepções, para que este desenvolva sua identidade profissional. Com isso, é importante destacar que é requisitada à educação profissional o desenvolvimento de seu alunado para atuação em situações de imprevistos, qualificação para o trabalho em equipe, além de estímulo constante à criatividade, e não apenas para a execução de tarefas tecnicamente definidas.

⁶ O núcleo da proposta metodológica organiza-se a partir do conceito de ação-reflexão-ação, no qual se aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015a, p.12)

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Cabe ao docente orientador, com sua maneira própria de ensinar, agir e de ser, transformar seus conhecimentos e sua experiência profissional em objeto ensinável, acompanhando todas as ações do aluno-estagiário de forma presencial mediada através de visitas aos campos, com breves encontros previamente organizados entre a tríade docente orientador da instituição de ensino, supervisor de campo e aluno. Deve haver ainda, um acompanhamento de forma semipresencial, devendo o docente se colocar à disposição dos alunos, sempre dei-xando disponíveis canais de comunicação para rápido retorno a possíveis dúvidas. Diante disso, reforça-se que o docente orientador de estágio deve ser um observador, in loco, sinalizando inclusive ao supervisor de campo a importância deste em transmitir as informações necessárias sobre a atuação do aluno-estagiário para que o primeiro possa intervir no aperfeiçoamento do processo de aprendizagem do educando. O professor tem a prática como ferramenta e a teoria como referência essencial para o desenvolvimento do pensar crítico dos alunos, além de necessitar de alguns registros complementares para o aperfeiçoamento do saber. É importante se debruçar através da observação no ambiente de estágio, ouvir relatos de experiências transmitidos pelos alunos, considerando também a contribuição ímpar do supervisor de campo. Para que o docente consiga desenvolver suas atividades, de forma a contribuir para a efetivação da aprendizagem de seus alunos, é necessário que ele articule a

competência em desenvolvimento com as experiências de vida dos alunos, incentivando-os a buscar soluções criativas para os problemas, mobilizando nesse per-curso, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. Devem estimular a pesquisa e promover a reflexão como recursos de permanente aprimoramento profissional

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(SENAC, 2015b, p. 11).

Também se torna relevante que a própria instituição de ensino, em conjunto com o(s) docente(s) designado(s) para a orientação de alunos na unidade curricular de estágio, venha a criar e validar seu próprio regulamento de estágio. E que deixe claro, para a tríade (professor orientador, supervisor de campo e aluno), quais são os seus direitos e deveres, apontando, inclusive, quais são as penalidades para os casos de comportamento inadequado do aluno no campo de estágio. Nesse cenário é interessante a construção de um plano de estágio, no qual constem modelos de formulários, para que os alunos possam registrar, diariamente, as atividades desenvolvidas no ambiente de estágio. É preciso também um modelo de relatório final de estágio, a fim de que possa sistematizar toda a experiência adquirida e a síntese de produção teórica desenvolvida através dos encontros presenciais em sala, durante o desenvolvimento da unidade curricular de estágio. Esse conjunto de informações, instrumentais e referências, à disposição do docente, constitui um excelente material de estudo que será determinante para a construção do processo de ensino e aprendizagem que podem ser promovidos através desses encontros presenci-ais em sala de aula, seja durante o desenvolvimento do estágio ou por ocasião de seu término. Nesse momento, é oportuno proporcionar uma reflexão teoria e prática através da criação de momentos de leituras, com indicação de bibliografias pertinentes, com o docente fazendo a mediação do processo, a partir do que está sendo observado. Aí, também é importante considerar os relatos/registros de seus alunos para que possa planejar uma melhor intervenção pedagógica diante do quadro educacional apresentado. Por fim, verifica-se que a atuação docente na

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unidade curricular de estágio somente será significativa se o profissional perceber a importância da criação de situações de aprendizagem que permitam que os alunos desenvolvam as marcas formativas Senac, uma vez que “a criação de situações de aprendizagem, alinhada à metodologia de desenvolvimento de competências, é o núcleo criativo do trabalho docente” (SENAC, 2015b, p. 11). Nesse contexto, a atuação docente poderá ser determinante para que os alunos consigam visualizar de forma crítica o quanto podem contribuir para a construção de novas possibilidades de um fazer profissional direcionado as novas exigências do mercado de trabalho, no qual o domínio técnico-científico deixou de ser suficiente ao trabalhador contemporâneo.

5. Considerações Finais

A educação profissional na atualidade deve formar trabalhadores flexíveis às exigências do mercado além de permitir que estes possam construir a si mesmos e o seu mundo, de forma livre e autônoma, no âmbito cultural, político e/ou econômico (FELDMANN; D’AGUA, 2009). É percebida uma mudança, tanto no âmbito educacional quanto no mundo do trabalho, pois até então, os alunos oriundos da educação superior tinham espaço expressivo no mercado. Hoje, visualiza-se que a formação de nível médio/técnico, socialmente estigmatizada, ganha cada vez mais destaque no cenário profissional. A discussão, apresentada neste artigo, sobre a importância do planejamento docente para a construção de situações de aprendizagem que permitam fazer com que os alunos consigam evidenciar as marcas formativas Senac se torna pertinente ao propor uma atuação do-cente de forma crítica e reflexiva sobre a responsabilidade de preparar educandos face às novas exigências que estão

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sendo postas no mercado de trabalho contemporâneo. Essas ações precisam estar em consonância com o Modelo Pedagógico Senac, levando em conta, principalmente, que todo processo de mudança exige tempo de maturação, de ensaio e erro, de tentativas inusitadas e audaciosas. (FELDMANN; D’AGUA, 2009). Pretendeu-se defender, ao longo deste artigo que para que tenhamos êxito nesta proposta, torna-se essencial o envolvimento e o olhar crítico do(s) docente(s) responsável(eis) pela(s) unidade(s) curricular(es) de natureza diferenciada, através da criação e/ou adaptação de situações de ensino e aprendizagem que contemplem o desenvolvimento das marcas formativas Senac. Além disso, é imprescindível a criação de instrumentais que acompanhem o desenvolvimento das competências dos educandos nos campos de estágio, a partir da observação, in loco, dos relatos dos alunos-estagiários, dentre outros, promovendo encontros presenciais em sala durante o desenrolar do período de estágio. E, por ocasião do seu término, facilitar, assim, a compreensão por parte dos discentes sobre a articulação das competências do curso, ou seja, não entendendo o mercado como algo distante do ambiente educacional. Por fim, percebe-se a relevância deste estudo num mercado contemporâneo (era da prestação de serviços) que vem requisitando cada vez mais mão de obra especializada em nível médio e/ou técnico (não apenas no domínio técnico-científico), uma vez que este requisito por si só deixou de ser sinônimo de diferencial competitivo, mas que atrelado à criatividade, atitude empreendedora e sustentável, faz com que o trabalhador consiga desenvolver uma prática que possa contribuir para uma mudança positiva em seus campos de atuação.

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Referências

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FELDMANN, Marina Graziela; D’AGUA, Solange Vera Nunes de Lima. Escola e inclusão social: relato de uma experiência. In: FELDMANN, Marina Graziela. Formação de pro-fessores e escola na contemporaneidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009. p. 189-200.

HALLAL, Dalila Rosa, et al. UNIVERSIDADE: A concepção do curso de bacharelado em turismo da UFPEL e o estágio curricular. 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/132028/2014-331.

pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em: 17 fev. 2017.

PANOSSO NETTO, A. O que é turismo. São Paulo: Brasiliense, 2010.

PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004.

RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e o mundo atual: Fellini não via filmes. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

SENAC. DN. Concepções e princípios. Rio de Janeiro, 2015a. 34 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 1).

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_______ DN. Planejamento Docente. Rio de Janeiro, 2015c. 32 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 3).

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TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO: APRENDENDO E VIVENCIANDO COM O

COTIDIANO

Thaise Thiciane Oliveira Sena1

1. Introdução

O ser humano se difere das demais espécies do reino animal por ser racional e dotado de inteligência. Desde o seu nascimento recebe estímulos diversos que contribuem no processo de construção do indivíduo, possibilitando analisar seus atos, planejar suas atividades e desempenhar determinados trabalhos. Cada fase vem acompanhada de buscas específicas que ampliam a capacidade de pensar e de ver a vida. O processo de aprendizagem exerce trans-formações, mesmo que não sejam imediatas e que tornam o indivíduo diferente de seu estado inicial. Ao chegar à fase profissionalizante, o aprender é essencial para o sucesso do indivíduo no mundo dos negócios. Levar em consideração que o ser humano é peça fundamental na engrenagem nos possibilita fazer um link entre o aprendiz, indivíduo em processo de aprendizagem, e o colaborador, profissional, inserido no mercado para executar determinado conjunto de atividades. As duas nomenclaturas se cruzam quando se fala de competência. Para os empresários, o profissional ideal é aquele que seu perfil contempla o CHA (Conhecimento, Habilidade, Atitudes), e a educação profissional atenda as tendências de mercado, adequa seu modelo pedagógico a esse cenário,

1 Relações Públicas, Pós-Graduada em Educação Profissional pelo SENAC/SP e MBA em Recursos Humanos, atua no Eixo de Gestão e Negócio / Docente Senac/AL – Unidade Arapiraca.

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como é o caso do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), que trabalha o currículo por competência, em outras palavras,

Na competência, o saber-fazer resulta tanto da experiência como das habilidades, atitudes, valores e características, nascidos da história individual ou coletiva dos trabalhadores, e ganha espaço ao lado dos conhecimentos tradicionalmente valorizados na lógica da qualificação e sistematizados nos bancos escolares. A competência, nessa perspectiva, não nega a qualificação, mas reconhece o seu valor em um contexto no qual o trabalho não é mais padronizável, imutável e inflexível (SENAC, 2015b, p. 8).

No entanto, para que se possa ter esse profissional inserido no mercado é preciso um docente consciente de seu papel enquanto mediador nesse processo de ensino e aprendizagem. E o apoio da instituição, incentivando o desenvolvimento desse docente, para que ele possa desempenhar com segurança suas atividades. O Senac visa preparar os alunos para inserção no mundo do trabalho de forma a ter seus egressos reconhecido nacionalmente e, para isso, tem proporcionado ao seu corpo docente qualificação diferenciada, da qual fui uma das contempladas. Ao iniciar minhas atividades como instrutora em Educação Profissional, sempre busquei inserir em sala de aula atividades inovadoras e que proporcionassem aos alunos uma maneira diferenciada de aprender. Sempre acreditei ser possível agregar valor aos conhecimentos adquiridos em minha formação inicial as minhas práticas pedagógicas. Buscando atividades criativas, projetos que fixassem os conteúdos trabalhados em sala visando inserir profissionais diferenciados no mercado. Por não ter licenciatura, o curso de Especialização

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em Docência para Educação Profissional2 me possibilitou alinhar as práticas já utilizadas com o MPS com teoria para fundamentar as atividades, que em alguns momentos utilizei e não sabia nomear, bem como ferramentas para incrementar os trabalhos desenvolvidos em sala; sendo um divisor de águas na prática pedagógica. Ao longo dessa abordagem objetivei mostrar que é possível trabalhar o MPS como orientador das práticas didático-pedagógicas da instituição, saindo das aulas baseadas apenas na transmissão de conteúdo para um foco vivencial. Utilizando uma aprendizagem significativa, sendo possível proporcionar aos alunos momentos lúdicos e significativos. Levando-os a comprovar na prática as afirmações de que se aprendem mais quando ouvem, veem e se envolvem.

2. Desenvolvimento do laboratório de prática docente: teoria e prática

O Laboratório de Prática Docente está presente no curso de Especialização em Docência para a Educação Profissional com objetivo de orientar a construção do PTD com foco no desenvolvimento de competências. Nessa direção, foram solicitadas três aplicações, sendo efetivada apenas uma, em virtude da indisponibilidade de turmas o que dificultou à realização de ajustes na elaboração do PTD da unidade curricular Treinamento e Desenvolvimento do curso de Assistente de Recursos Humanos.

2 Curso de Pós-graduação Latu Sensu em Docência para a Educação Profissional, gerenciado pelo Centro Universitário Senac São Paulo. É resultado da formação de educadores de unidades Senac de todo o Brasil, com o objetivo de proporcionar formação pedagógica e alinhar propostas de ensino-aprendizagem coerentes com uma visão institucional e atualizada de educação profissional, técnica e tecnológica no qual fui aluna (2015-2016). Disponível em: <http://www.sp.senac.br/blogs/divulgacaocientifica/wp-content/uploads/2016/10/Anais-I-webinar-REVisado.pdf> Acesso em: 5 mar. 2017.

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2.1 Local e características dos alunos da pesquisa

O PTD foi realizado na Unidade do Senac, na cidade de Arapiraca, em Alagoas, no curso de Assistente de Recursos Humanos, sendo desenvolvido no mês de março de 2015. Para desenvolver no ambiente de aprendizagem o PTD, foi realizado o primeiro contato com a turma, onde foram explicados os objetivos do projeto e apresentando-o como ferramenta para o modelo nacional da prática docente dos professores do Senac. Assim, o Senac unidade de Arapiraca, precisaria registrar este projeto na disciplina Treinamento e Desenvolvimento em sala de aula, aplicando com 22 alunos, sendo 18 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. A turma foi definida aleatoriamente para a aplicação do Laboratório de Prática Docente I, onde o projeto foi dividido em cinco encontros: Contextualização da disciplina Treinamento e Desenvolvimento; Levantamento de Necessidades e Planejamento; Planejamento; Execução e Avaliação e Síntese e Avaliação.

2.2 Os recursos didáticos

Os materiais utilizados para os encontros foram: Diário de bordo do professor; Datashow; Papel A4; Canetas; Tesoura; Barbante; Fita adesiva; Pilotos coloridos; Quadro branco; Itens da sala de aula, como: cadeira, lixeiro e papel reciclado; Apitos coloridos; Letrinhas coloridas para definir as equipes; Pacote de Espaguete (macarrão); Pacote de Marshmallow; Aparelho de áudio; TNT (tecido e não tecido); Tapa olho de tecido; Bexigas pequenas e coloridas; Recipientes (baldes); 1 botijão de água vazio; Água; Objetos diversos. Oliveira (2003) afirma que trabalhar com sequência didática contribui na elaboração de um conjunto de atividades pedagógicas, sendo planejadas para ensinar

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conteúdos em cada etapa vivenciada. A seguir, serão descritos os encontros detalhadamente realizados no ambi-ente de ensino.

2.3 O procedimento de cada etapa para análise do PTD

Conforme orientações disponibilizadas no curso de Especialização em Docência para a Educação Profissional o PTD deve conter uma sequência didática e ser testado em situação real de sala de aula por meio dos “7 passos de situação de aprendizagem”. Abaixo descreve-mos uma situação de aprendizagem vivenciado na Unidade Curricular Treinamento e Desenvolvimento do curso de Assistente de Recursos Humanos:

1º Encontro (Contextualização da disciplina de Treinamento e Desenvolvimento): Para promover a contextualização com os alunos, em sala de aula, foram realizadas duas atividades, sendo que na primeira foi trabalhada a questão norteadora do PTD e, na segunda, atividade foi apresentado um musical/coreografia aos alunos para trabalhar o planejamento e a integração dos mesmos. Ao final da aula para comentar as características pertinentes das duas atividades, houve uma análise do professor.

2º Encontro (Levantamento de Necessidades e Planejamento): Primeiramente exercitando a audição com um musical para realização de uma coreografia em sala de aula. Dando continuidade com a leitura compartilhada da crônica: A importância do planejamento, seguido de debates. Elaboração e aplicação dos questionários pelos alunos com voluntários, levantamento dos dados e, em seguida, apresentação dos resultados em sala.

3º Encontro (Planejamento): Abordagem da importância do planejamento na prática seguido de debates, em sala

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de aula, e a realização do planejamento das equipes para aplicar o Treinamento Vivencial.

4º Encontro (Execução e Avaliação): Antes da aplicação do treinamento, foi realizada a leitura de um texto e uma retrospectiva dos conceitos abordados na sala. Em seguida, cada equipe aplicou simultaneamente o treinamento para os voluntários e colaboradores seguido de debates.

5° Encontro (Avaliação e Síntese): Os alunos construíram uma síntese para reforçar a assimilação dos conteúdos abordados; realização da avaliação do projeto através de um questionário específico e o feedback das atividades em sala de aula. Nos encontros mencionados acima, os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar o treinamento e desenvolvimento, em todas as suas fases e tipologias, como ferramenta de otimização de clima organizacional e preparação de líderes, A seguir, são detalhados os encon-tros da pesquisa. No primeiro encontro “contextualização” foi exposto um exercício reflexivo com a questão norteadora da pesquisa: Qual a melhor forma de aprender? Sem a especificação das competências em sala de aula foi entregue aos alunos uma folha A4 para que os mesmos expressassem sua opinião. Finalizando com um debate sobre os textos escritos pelos alunos e uma breve abordagem sobre: Aprender e Ensinar. Em seguida, foi realizado o sorteio pelo método de numeração de 1 a 4, onde se reuniram os alunos que retiraram o número 1, 2 e assim sucessivamente. A turma foi dividida em 4 equipes com 5 componentes, para ouvirem a música Bolero de Ravel3” com o intuito de montar uma coreografia para apresentar a turma, mas antes da apresentação, cada equipe ensaiou sua coreografia

3 RAVEL, Maurice. Bolero de Ravel. Youtube, 17 mar. 2017. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=3KgpEru9lhw)>. Acesso em: 17 mar. 17.

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e, posteriormente, apresentar aos demais em sala para que a turma reproduzisse a mesma coreografia daquela equipe, sendo aplicada a mesma orientação para as outras equipes. Depois da apresentação, cada equipe precisava realizar uma análise das apresentações feitas em sala, considerando: as semelhanças e diferenças das expectativas, a experiência da criação grupal, superação de obstáculos ou resistências, integração das pessoas em torno do desafio, as formas de solução de problema, além da beleza da apresentação. Feito isso, cada grupo escolheu um redator para repassar a análise feita a cada equipe. Ao final do encontro, o professor complementa a análise feita pelas equipes, acrescentando comentários e caracterís-ticas pertinentes, além de relacionar com as competências trabalhadas em sala. Sobre o levantamento de necessidades e planejamento, foi abordado no segundo encontro, um momento com o intuito de surpreender a turma com a desorganização da sala de aula, tendo como objetivo proporcionar um momento de reflexão, entre eles, como futuros Assistentes de Recursos Humanos, para refletir determinadas situações no andamento dos trabalhos. Após o momento reflexivo foi realizado um sorteio para possibilitar uma interação com toda a turma, utilizando as letrinhas coloridas para o sorteio, formando assim quatro equipes para realizar um desafio: a maior torre de Marshmallow e espaguete (macarrão) em trinta minutos, com o intuito de planejar, executar e conseguir o objetivo do desafio, saber trabalhar em equipe, liderança e a comunicação, além de trabalharem sobre pressão. Tudo isso representando as características presentes na área de Treinamento e Desenvolvimento. Cada equipe apresentou sua torre e o desafio encontrado na atividade, além de fazer links com as atividades desenvolvidas em sala e relacionar com a área abordada. Para finalizar esse encontro, os alunos foram preparados para que desenvolvessem um Treinamento

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Vivencial, onde o professor apresentaria, através de slides, o passo a passo para essa atividade, sendo uma atividade em que os mesmos pudessem escolher opções de treinamento para ser aplicado em sala. Assim, as equipes definiram o tema para aplicação do treinamento vivencial e para apresentar o planejado para a turma. Assim, foram realizadas enquetes com os alunos, funcionários e professores da instituição, sendo definidos quais os pontos a serem trabalhados e aplicados por eles. Todos deveriam elaborar a pauta para o questionário e identificar as principais necessidades no ambiente de trabalho e no desempenho pessoal dos entrevistados. Em seguida, foi realizado o feedback com a turma sobre os conteúdos trabalhados neste encontro. No terceiro encontro focando o planejamento, os alunos receberam as boas vindas e foi solicitado aos mesmos que se acomodassem confortavelmente em suas cadeiras. Em seguida, que apagassem as luzes e que fechassem os olhos, pedindo silêncio aos alunos no ambiente, ao som da música Ciranda da Bailarina⁴ – Chico Buarque ao término da música começam alguns questionamentos para que os alunos opinem sobre o que ouviram. Assim, a música proporciona uma reflexão sobre o Treinamento e Desenvolvimento. Em seguida, foi compartilhada a crônica: A importância do Planejamento, onde cada aluno, espontaneamente, lê um trecho da crônica em sala. Após a leitura, um debate sobre o que entenderam e o que podem aplicar em suas atividades. Para dar continuidade a atividade, foi realizada uma reunião de pauta com as equipes a fim de elaborar e aplicar um questionário para definir as questões, definição do público e como abordar os participantes (entrevistados). Cada equipe teve, então, um momento individual com

⁴ BUARQUE, Chico. Ciranda da bailarina. Youtube, 17 mar. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_8yh9PuLEZ0> Acesso em: 17 mar. 17.

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o professor para apresentar o esboço do trabalho e, em seguida, após a aprovação da proposta pelo professor, as equipes providenciaram a impressão do material. Depois de uma hora, as equipes realizariam a tabulação desses dados manualmente para embasar o assunto que cada equipe abordou em sua prática, tendo contato com uma ferramenta essencial que antecede a aplicação do treinamento. Posteriormente, as equipes apresentaram as informações obtidas no levantamento de dados e as características essenciais no profissional e seu cotidiano. O objetivo dessa apresentação é nortear possíveis soluções através dos treinamentos e desenvolvimento. Para finalizar, as equipes realizaram o planejamento em 2 momentos: O primeiro foi feito um treinamento e aplicação de um teste com a turma e, se preciso, aperfeiçoar ou manter a pauta. No segundo, foi aplicado o primeiro momento com os voluntários, tendo como objetivo mostrar e vivenciar uma aplicação de treinamento. Para o quarto encontro, os alunos foram convidados a fazerem um exercício de relaxamento e de audição, fechando os olhos, ficando em silêncio, ao som da música Metamorfose Ambulante – Raul Seixas⁵. Depois, os alunos foram convidados a cantar, com o objetivo de que a mensagem de mudança, flexibilidade, estimulasse a buscar novos conhecimentos, soluções que podem ser despertadas a partir desse momento da reflexão. Para trabalhar a importância do Planejamento na Prática, a turma foi dividida em duas equipes, cada equipe foi desafiada com uma atividade:

• T&D da Equipe 1 (Botijão de água): A metade da equipe participará do treinamento será vendada e a outra parte ficará como guias. Os materiais disponíveis para o treinamento: barbante; galão com 10 litros de água e balde. O objetivo é colocar a água no balde utilizando

⁵ SEIXAS, Raul. Metamorfose Ambulante. Youtube, 17 mar. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7VE6PNwmr9g> Acesso em: 17 mar. 17.

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o barbante. Trata-se de uma atividade que visa atentar a importância da comunicação, da confiança, trabalhar sobre pressão, trabalhar em equipe e agir estrategicamente. Ao final da aplicação, os participantes da equipe de guias darão feedback a equipe dos participantes vendados. Facilitando o entendimento sobre a atividade realizada.

• T&D da Equipe 2 (Caminho dos obstáculos): A equipe criou um percurso com obstá-culos a serem superados em duplas, nas quais um dos componentes será vendado e necessitará de orientações. A equipe tem como objetivo trabalhar a comunicação, a confiança, trabalhar sobre pressão. Após a aplicação darão feedback a equipe participante. Contribuindo para a fixação do conhecimento trabalhado na atividade. Em seguida, cada equipe realizou uma análise de como cada um se comportou no desafio, descrevendo os pontos positivos e negativos da atividade, agregando assim valor e planejamento. Além disso, foi realizado um debate com a turma sobre a aplicação do Treinamento Vivencial entre as equipes, podendo assim eliminar qualquer situação que possa prejudicar os trabalhos na execução com os voluntários. Essa atividade favorece a motivação da turma e a sintonia de cada equipe. Para contemplar o quinto encontro, foi apresentado o poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade⁶, para que os alunos fizessem uma reflexão, mentalmente, de que sempre há obstáculos, mas eles fazem parte do aprendizado. Após esse momento, as equipes realizaram um texto para avaliar o aprendizado em forma de síntese, onde deveriam realizar o processo visto em sala em uma situação de sua vida. Por fim, preencheram o questionário de avaliação do projeto, concluindo, assim, as atividades no ambiente de aprendizagem.

⁶ ANDRADE, Carlos Drummond. Leitura do poema no meio do caminho. Youtube, 17 mar. 2017. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=sO6TySzyygE> Acesso em: 17 mar. 17.

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3. Análise dos resultados

Os participantes, 22 alunos, estavam na faixa etária entre 18 a 35 anos, uma turma predominantemente jovem. Com relação ao nível de escolaridade dos alunos, a maioria (90%) tinha o Ensino Médio completo. A razão pela qual os alunos escolheram o curso de Assistente em Recursos Humanos, foi à busca pela qualificação diferenciada para o ingresso no mercado de trabalho. A metodologia utilizada durante a realização da unidade curricular teve como finalidade o desenvolvimento de competência a partir da aplicação de sete passos de aprendizagem propostos por Kuller e Rodrigo (2012, p. 6-7):

situação de aprendizagem um conjunto completo de ações dos educandos, orientadas pelo educador e destinadas ao domínio de uma ou mais competências previstas em plano de curso ou plano de trabalho docente. Portanto, uma situação de aprendizagem sempre deve estar referida e exigir o exercício de uma ou mais competências. Para o desenvolvimento de uma situação de aprendizagem, procurando pela definição de uma estrutura comum aos diferentes métodos ativos, chegou-se a um conjunto de sete passos fundamentais: (1) Contextualização e Mobilização; (2) Atividade de Aprendizagem; (3) Organização da Atividade de Aprendizagem; (4) Coordenação e Acompanhamento; (5) Análise e Avaliação da Atividade de Aprendizagem; (6) Outras Referências e (7) Síntese e Generalização.

Para incentivar a participação colaborativa e cooperativa dos alunos na unidade curricular Treinamento e Desenvolvimento foi proposta uma questão norteadora: Qual a melhor forma de aprender? Nesse momento os alunos ficaram curiosos para saber como iriam responder esse questionamento e expor suas ideias em forma de texto. E os alunos questionam: Aluno 1: “Como é que vou escrever sobre algo que não estudei?” Aluno 2: “Como é que vou responder se não tem livro (material) para estudar

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esse tópico da disciplina?”. Professor: “Mas vocês aprendem ouvindo música? Com novela? Com o Programa de TV? Mas são formas de contextualizar um conteúdo”. Então, foi explicado em sala que os mesmos precisariam expressar sua opinião para que, em seguida, fossem socializados em sala para trabalhar o tópico: Aprender e Ensinar. Com intuito de aplicar a segunda atividade com a turma, foi realizado um sorteio para dividir a turma em 4 equipes, eles iriam ouvir a música “Bolero de Ravel” tendo como objetivo a montagem de uma coreografia e apresentar em sala. Vale salientar que cada equipe ensaiou a coreografia, utilizando a mesma música e, em seguida a primeira equipe apresentou as outras equipes da turma, para que se fizesse a mesma coreografia da equipe que apresentara e, assim sucessivamente para as outras equipes. Observamos na figura 1A e B, as apresentações das coreografias em sala, onde a figura 1A é a coreografia de uma equipe e a figura 1B é a coreografia realizada com a turma toda. É de grande relevância trabalhar uma atividade diferenciada no ambiente de ensino, proporcionando aos envolvidos momentos de entrosamento e motivação para a realização da atividade.

Figura 1: Equipe apresentando a coreografia (A) e a turma realizando a coreografia (B).

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Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Em seguida, cada equipe realizou uma análise da apresentação da turma, podendo ser percebidas, na coreografia, as particularidades na criação de cada equipe, superação de obstáculos ou resistências de alguns, por se tratar de uma dança, além da integração dos compo-nentes em torno do desafio e a beleza da apresentação. Por fim, cada grupo escolheu um redator para repassar a análise realizada da turma, e o professor destacou algumas características pertinentes na apresentação de todos. Com o intuito de impactar os alunos neste encontro, foi realizado a desorganização (desordem) da sala, ou seja, cadeiras fora do lugar, papel reciclado no chão da sala, um cenário nunca presenciado em sala (Figura 2A e B).

Figura 2: A desorganização da sala (A) e alunos despreocupados com a bagunça (B).

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Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Ao observarem a sala desorganizada, alguns alunos não se preocuparam em arrumar a sala. Simplesmente sentaram nas cadeiras e não se manifestaram, podendo ser analisada também a inquietação de alguns ao notarem a sala bagunçada. O objetivo desse momento foi analisar a atitude e a iniciativa dos alunos, além do comportamento. Alguns alunos se assustaram com a desordem da sala, assistindo a aula em pé. Em seguida, foram realizados debates para melhor entendimento da atividade. Vale destacar que esse encontro proporcionou um momento de reflexão, podendo trabalhar com os alunos, o que nem sempre se pode fazer

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em determinadas situações que venham a prejudicar no andamento dos trazbalhos, ou seja, como Assistentes de Recursos Humanos. Em seguida, foi aplicado um desafio, sendo realizado o sorteio para organização de quatro equipes, e apresentada a seguinte proposta: fazer a maior torre de Marshmallow e espaguete (macarrão) em trinta minutos. No início, os alunos acharam uma atividade estranha, mas seria divertida. Mas, ao decorrer da atividade acharam dificuldades para executar a atividade. A finalidade do desafio era mostrar às equipes que, para realizar uma tarefa, é preciso planejar, executar e conseguir o objetivo do desafio, saber trabalhar em equipe, precisa de liderança e a comunicação entre os componentes da equipe, além de trabalharem sobre pressão. Características presentes na área de Treinamento e Desenvolvimento (Figura 3A e B). Ao término da atividade, cada equipe apresentaria sua torre para os demais da turma e relacionasse a experiência através de links junto com o Treinamento e Desenvolvimento.

Figura 3: Equipe construindo a torre (A) e a equipe que ganhou (B)

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Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Para finalizar esse encontro, o professor apresentou os slides com o passo a passo sobre como desenvolver um Treinamento Vivencial, sendo esse o desafio para a turma. A turma foi dividida em duas equipes, para escolher uma opção de Treinamento Vivencial para ser aplicado tanto em sala de aula, como voluntários da instituição disponíveis. Assim, cada equipe realizou um planejamento para escolher o tema e foi apresentado para a turma, seguindo de uma enquete com os alunos, funcionários e professores da instituição para definição de pontos importantes para aplicação do trabalho. Dessa forma, era possível construir uma pauta para o questionário e identificar as principais necessidades no ambiente de trabalho bem como no desempenho pessoal dos entrevistados. O encontro foi finalizado com o feedback e abordando brevemente os elementos da competência trabalhados em sala. Nesse encontro, foi solicitado aos alunos que se acomodassem confortavelmente em suas cadeiras e fechassem os olhos, seguindo as luzes da sala apagadas, pedindo silêncio para ouvir a música. Através disso, começaram alguns questionamentos sobre a música, sen-do um momento para proporcionar uma reflexão sobre o Treinamento e Desenvolvimento. Após a música, foi

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trabalhado a crônica: A importância do Planejamento, seguido de debate, ocorreu, espontaneamente, e cada aluno leu um trecho da crônica em sala, realizando, poste-riormente, debates sobre o que entenderam das duas tarefas mencionadas acima, que podem ser aplicadas nas atividades do cotidiano. Com o intuito de finalizar o planejamento dos questionários das equipes, foi realizada uma reunião, de 15 minutos, com cada equipe para definir as questões, público-alvo e como a equipe abordaria os participantes da pesquisa. Assim, a proposta foi apresentada ao professor, de forma individual, apresentando o esboço do trabalho, para concluir a proposta e providenciar o material de impressão. Cada equipe realizou a aplicação do questionário e a tabu-lação em uma hora, sendo apresentados os resultados obtidos, através do levantamento de dados, contribuindo na caracterização do profissional e de seu cotidiano, sendo alcançado o objetivo de nortear as soluções através dos treinamentos e desenvolvimento da atividade. Em seguida, cada equipe realizou o planejamento do Treinamento Vivencial em dois momentos: No primeiro, as equipes realizaram o treinamento com a outra equipe da turma, podendo observar que o planejamento foi satisfatório. Manteve-se a pauta da equipe para a realização do segundo momento. Assim, no segundo momento, as equipes aplicaram o treinamento com os voluntários para obter resultados significativos. Nesse encontro foi solicitado mais uma vez que os alunos se acomodassem em suas cadeiras, sendo convidados a fazerem um exercício de relaxamento e de audição, fechando os olhos. Para que a turma permanecesse em silêncio, a música utilizada foi Metamorfose Ambulante de Raul Seixas. Ao término da música, foi solicitado aos alunos que cantassem e analisassem a mensagem que a música transmitia, ou seja, uma mensagem de mudança, flexibilidade, podendo mostrar novos conhecimentos e soluções para despertar o momento de reflexão.

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Para motivar os alunos e trabalhar a importância do Planejamento na Prática, a turma foi dividida em duas equipes, com o intuito de realizar uma atividade diferenciada, sendo utilizado um círculo de tecido com um corte no centro do tecido para encaçapar o maior número de bexigas no recipiente (balde, localizado no centro do tecido) em 5 minutos (Figura 4A e B).

Figura 4: As duas equipes realizando a atividade diferenciada em sala (A e B).

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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A partir da situação de aprendizagem proposta os alunos entenderam a importância do trabalho em equipe, da necessidade de ser flexível para superar as dificuldades e adversidades vivenciadas nos diversos ambientes de atividade profissional. Para síntese e conclusão da situação de aprendizagem foi estabelecido um diálogo entre docente e alunos para avaliar os avanços e necessidades de ajustes e adequações. Nesse processo, é significativo destacar a maturidade da turma e o engajamento nas atividades propostas. Para abordar o Planejamento e sua importância no trabalho do assistente de Recursos Humanos, foram realizados debates na turma. Posteriormente, foi realizada a aplicação do Treinamento Vivencial entre as equipes e, em seguida, com os voluntários, conforme descrito abaixo:

T&D da Equipe 1 (Botijão de água): Teve como objetivo de destacar à importância da comunicação, da confiança, trabalhar sobre pressão, trabalhar em equipe e agir estrategicamente. A aplicação foi com 5 alunos vendados e 5 auxiliando (guiando): os vendados seriam guiados para despejar a água do botijão no balde utilizando apenas o barbante (Figura 5).

Figura 5: Equipe 1 do botijão de água

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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T&D da Equipe 2 (Caminho dos obstáculos): Para criação de um percurso com obstáculos a serem superados em duplas, um dos componentes da dupla ajudava o vendado a chegar no fim do percurso. Tendo como objetivo finalizar o percurso observando a importância da comunicação, a confiança, trabalhar sobre pressão para a conclusão da atividade. (Figura 6). Figura 6: Equipe 2 dos Caminhos dos obstáculos

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Após a aplicação dos treinamentos com as equipes da turma, foi realizada uma socialização do conteúdo abordado junto com o professor e as equipes em sala de aula. Para finalizar o PTD, o 5º encontro com a turma, foi aplicado o poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade, para que os alunos realizassem uma reflexão. Os alunos observariam que sempre há obstáculos, mas que isso faz parte do aprendizado. Posteriormente, o professor, realizou uma retrospectiva dos conceitos abordados através das atividades vivenciadas em sala de aula, sendo notório o entusiasmo dos alunos e sua aprendizagem na disciplina.

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Em seguida, as equipes foram para os seus respectivos lugares para aplicação do treinamento com os voluntários e organizaram todo o material. Vale ressaltar que o professor vivenciou a aplicação dos dois treinamentos que foram realizados simultaneamente. Após o término do treinamento, foi realizada uma abordagem com o intuito de avaliar o projeto aplicado com a turma, através de uma autoavaliação, sendo aplicado o questionário avaliativo especifico. O resultado da tabulação dos questionários apontou que 90% dos alunos ficaram satisfeitos com a metodologia trabalhada em sala de aula. Para reforçar essa experiência, cada aluno produziu um texto em forma de uma síntese, para descrever o trabalho vivenciado na disciplina. Seguido de um de um feedback para descrever os pontos significativos de uma atividade aplicada no ambiente de aprendizagem, trabalhando o Treinamento e Desenvolvimento com os alunos.

No cotidiano da prática docente, durante o processo de ensino e aprendizagem, o conhecimento resultante dessas modalidades avaliativas apresenta duas importan-tes frentes para o desenvolvimento das competências: acompanhar o progresso do aluno e, ao mesmo tempo, orientar a ação educativa do docente. A primeira, ao clarificar os pontos fortes e o que ainda precisa ser alcançado, permite ao aluno concentrar seus esforços de aprendizagem para o pleno desenvolvimento da competência. A segunda frente informa ao docente da adequação entre o que foi planejado e a aplicabilidade de seu plano de trabalho, tendo em vista as característi-cas da turma. Juntas, essas frentes impulsionam o protagonismo do aluno como sujeito de seu processo educativo e aprimoram a prática docente, na medida em que ofertam, a cada um desses atores, os subsídios para a reflexão sobre a sua própria atuação na cena pedagógica (SENAC, 2015b, p. 7).

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Assim, a situação de aprendizagem ideal tratada neste trabalho possibilita identificar que a prática alinhada à teoria pode tornar o processo ensino-aprendizagem produtiva, motivante, além de instigar a busca constante pelo conhecimento. E o professor, como mediador desse processo, consegue conduzir o processo de forma leve e segura, fazendo com que o profissional tenha conhecimento, saiba fazer, conviver e proporcione resultados relevantes aonde quer que ele atue.

4. Considerações Finais

Todo o processo de construção e aplicação do PTD foi válido e de extrema importância para o meu desenvolvimento enquanto docente. Aprendi como alinhar teoria e prática torna a aula mais dinâmica, motivante e atraente aos alunos, pois eles são, a todo o momento, envolvidos no processo ensino e aprendizagem. Para alcançar tais objetivos, percebemos que inclusive com pequenos detalhes, podemos tornar a aprendizagem significativa. Desde a arrumação das carteiras em sala, a proximidade do professor e seu posicionamento em sala de aula tudo isso traz o aluno para o mundo do aprender a pensar, ser crítico, criativo, participativo e adquirir autonomia intelectual. Com esse aprendizado, vai sendo inserido no mercado de trabalho como agente transformador, confiante de seu papel no mercado. Durante a aplicação do projeto, os alunos temeram os desafios, mas em nenhum momento desistiram. Foram capazes de se envolver no processo, mergulhar no conhecimento sem medo de errar, pois sabiam que errar fazia parte do processo de crescimento. E, ao término, todos se mostraram satisfeitos e compreenderam o quão importante foi essa experiência para todos os envolvidos. Decorrido o curso é possível verificar um olhar

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mais atento ao processo de planejamento e avaliação, o que é fundamental para o sucesso de um trabalho em sala de aula, principalmente com a proposta pedagógica do Senac que busca articular teoria e prática com foco no desenvolvimento de competências Cada poema, música, material de apoio, discussões e atividades, tudo teve seu papel para que hoje eu me sinta uma educadora com um olhar contemporâneo e alinhado aos parâmetros da educação profissional, voltada, também para o mercado de trabalho, sabendo que os profissionais que estarei lançando nesse mundo dos negócios serão capazes de saber, de fazer, de ser e de conviver. O trabalho realizado pelo Senac antes de ser construído no aluno, precisa ser vivido pelo professor. Porque só assim os dois participantes do processo estarão mergulhando no mesmo mundo que é aprender a aprender.

Referências

KÜLLER, J. A; RODRIGO, N. de F. Metodologia de desenvolvimento de competências. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2013.

_____, J. A; RODRIGO, N. de F. Uma metodologia de desenvolvimento de competência. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 38, nº 1, jan./abr. 2012. Disponível em: http://www.bts.senac.br/index.php/bts/article/view/171/156 Acesso em: 5 mar. 2017.

OLIVEIRA, R. A (Des) Qualificação da educação profissional brasileira. São Paulo: Cortez, 2003.

SENAC.DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015a. 28 p. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 2). Inclui bibliografia.

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________. DN. Avaliação da aprendizagem. Rio de Janeiro, 2015b. 36 p. Il. (Coleção de Documentos Técnicos do Modelo Pedagógico Senac, 5).

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O MODELO PEDAGÓGICO SENAC E O DESAFIO DA FORMAÇÃO DOCENTE NO

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

Valdilene Cardoso de Barros1

1. Introdução

Este artigo é fruto dos subsídios teóricos oriundos de leituras e pesquisas bibliográficas da coleção de Documentos Técnicos do MPS2, do Projeto Político Pedagógico da instituição e do regimento escolar, bem como da observação da prática docente e de outros docu-mentos e vídeos que contemplam a temática do MPS. Este estudo visa estabelecer uma reflexão teórico-empírica sobre as concepções e prática do MPS. Como sabemos, de acordo com Brandão

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (BRANDÃO, 1995, p. 7).

Nesse contexto, a educação vem passando por intensas transformações nas áreas científicas e tecnológica, fato que impacta na renovação e reflexão do fazer pedagógico institucional. No caso da educação profissional, essas transformações afetam diretamente na formação do perfil profissional dos alunos que o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial capacita para o mundo do trabalho (PPP Senac/AL, 2011).

1 Graduada em Pedagogia/UFAL / Pedagoga da Gerência de Educação Profissional/Senac AL.2 O MPS começou a ser estruturado no ano de 2013 com alinhamento dos planos de curso e passou a ser vigorado no Senac desde 2015.

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Esse novo quadro sócio-educacional exige uma compreensão mais abrangente das práticas educativas e da própria Pedagogia. Exigindo, a priori, a ampliação da compreensão e apropriação do conceito de educação, pois a prática do MPS vem justamente para romper com os paradigmas tradicionais atrelados ao fazer pedagógico da educação profissional, passando pela formação continuada dos docentes. E estes, muitas vezes, têm ainda como referencial o sistema tradicional de ensino. Portanto, a implantação de um modelo de educação profissional desenvolvido por competência exige uma formação continuada, que oportunize a reflexão permanente sobre a prática docente, que mude os paradigmas vislumbrando uma nova experiência educacional conectada com as mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais da atualidade. Para Libâneo (1985), a pedagogia tradicional iniciou em meados do século XIX, tendo grande força no século XX, mas ainda perduram raízes dela pelo século XXI. Nessa perspectiva, o docente é o único detentor do saber, sendo visto como a autoridade em sala de aula, onde praticamente não existe relação entre ele e os alunos, pois o foco está na transmissão do conhecimento. Na contramão desse pensamento tradicional, a educação profissional contemporânea exige um profissional versátil, dinâmico, criativo, investigativo e flexível, isto traduzido como um eterno aprendiz, que vai em busca de atualização e desenvolvimento de seu aprendi-zado. Essa postura traz grandes impactos em seu fazer pedagógico diário em sala de aula que também repercutem na aprendizagem dos alunos. Nesse contexto, para que o espaço da sala de aula seja de fato um espaço de aproximação entre teoria e prática contextualizado, contemplando as demandas específicas da aprendizagem na educação profissional, integrada aos pilares pedagógicos de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, demanda uma reflexão sobre a formação docente e o desenvolvimento de competências.

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2. O MPS: Reflexões teóricas iniciais

O cerne do processo pedagógico deve ser localizado nas experiências do prazer de estar conhecendo, nas experiências de aprendizagem que são vividas como algo que faz sentido para as pessoas envolvidas e é humanamente gostoso, embora possa implicar também árduos esforços (BUFFON e CAVALLET, 2002).

Como já é sabido, os tempos passam e as demandas sociais vão se diferenciando, pois, as necessidades de hoje já não são as mesmas de antes. Isso porque as tais necessida-des refletem as condições sociais, políticas, culturais, bem como econômicas da sociedade (ROMANELLI, 2002). E na educação não é diferente. Em cada etapa do desenvolvimento político-social e econômico, “novas” propostas pedagógicas são postas em curso, o que exige perfis diferenciados de docentes, de modo que possam atender a certas demandas do sistema social e produtivo do país. Nessa perspectiva, o docente não pode deixar nunca de estudar, pois o gosto pelo estudo e a leitura devem ser visíveis e inexauríveis, sendo assim, o docente consegue passar esse gosto para seus alunos, pois “O professor que não aprende com prazer não ensinará com prazer” Snyders (1990) apud Cruz (2007). E mais, de acordo com Rubem Alves (1981), o docente, na verdade, tem que ser um sedutor, que seja capaz de despertar nos alunos a fome de aprender, de conhecer cada vez mais e sempre. Nesse sentido, a fim de orientar e melhor desenvolver a prática educativa profissional, junto a todos os envolvidos no fazer pedagógico. O Senac apresenta a coleção que contempla cinco Documentos Técnicos do Modelo:

Com a finalidade de publicitar as macrodiretrizes organizadoras dessa política institucional, orientar e subsidiar a prática dos agentes que executam a atividade

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fim do Senac, os aspectos mais relevantes do Modelo Pedagógico Senac foram reunidos em uma Coleção de Documentos Técnicos. Apresentamos, portanto, neste primeiro documento, as concepções e os princípios que orientam o Modelo. Nos outros quatro volumes são apresentados, respectivamente, a definição que o Senac adota para competência; o planejamento docente na perspectiva do desenvolvimento de competência; o projeto integrador como estratégia pedagógica de articulação das competências do perfil profissional; e a avaliação da aprendizagem sob os aspectos processual e contínuo. (SENAC, 2015a, p. 6)

Assim, no primeiro Documento Técnico – Concepções e Princípios, compõem-se os princípios filosóficos e pedagógicos da instituição, apresentando nos pressupostos filosóficos como a Instituição vê o ser humano, o mundo, o trabalho e a educação; e os pedagógicos definem como o Senac pensa o aluno, o docente, a escola, o currículo, a metodologia e a avaliação. A seguir, apresento um quadro que sintetiza os princípios e concepções do MPS:

Quadro 1: Documento Técnico do Modelo Pedagógico Senac – Concepções e Princípios (2015, p.9 -14).

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Fonte: Elaborado pela autora, 2017. Nessa perspectiva, toda ação pedagógica do fazer educação profissional ganha um sentido e significado atrelado a todos os envolvidos na instituição, pois o docente passa de detentor do conhecimento para mediador fundamental no processo de ensino-aprendizagem. O aluno

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deixa de ser uma tabula rasa, como afirmava Locke (1632-1704) no século XVIII e passa a assumir o protagonismo de seu aprendizado; a educação passa a ser ‘um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida’ (DEWEY, 2007, p.38); ademais, de acordo com Libâneo et al. (2003), todos que estão inseridos no contexto escolar realizam também ações educativas, mesmo que não tenham as mesmas responsabilidades e nem atuem da mesma forma. Sendo por isso imprescindível a atuação crítica e consciente do docente em sua prática diária, ele precisa iniciar esse exercício de Ação-Reflexão-Ação incitando nos alunos o desejo de serem pessoas autônomas e melhores, de terem consciência de sua estadia no mundo e transformação social, o que sugere a evidencia das denominadas Marcas Formativas do MPS. As Marcas Formativas surgem com a necessidade de “[...] identificar e diferenciar no mundo do trabalho os profissionais egressos do Senac” (SENAC, 2015a, p.15). Abaixo apresentamos detalhadamente as marcas:

Quadro 2: Documento Técnico do Modelo Pedagógico Senac – Concepções e Princípios (2015, p. 15-17).

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Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Diante dos elementos discutidos, ficam evidentes os desafios de fazer educação profissional vislumbrando alcançar uma educação de boa qualidade para nossos jovens, refletindo em transformações de posturas pessoais, sociais e profissionais.

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3. A metodologia das competências

Em decorrência das mudanças globais, o mundo moderno está cada vez mais diversificado e (inter)conectado, sendo preciso possuir domínio das mais diversas tecnologias para poder fazer parte e integrá-lo, bem como atuar neste. Ou seja, as pessoas e os profissionais necessitam desenvolver competências cada vez mais complexas. No Brasil, para o Ministério da Educação e Cultura (MEC), através dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico sublinha que:

as competências enquanto ações e operações mentais, articulam os conhecimentos (o “saber”, as informações articuladas operatoriamente), as habilidades (psicomo-toras, ou seja, o “saber fazer” elaborado cognitivamente e sócio-afetivamente) e os valores, as atitudes (o “saber ser”, as predisposições para decisões e ações, construídas a partir de referenciais estéticos, políticos e éticos) constituídos de forma articulada e mobilizados em realizações profissionais com padrões de qualidade requeridos, normal ou distintivamente, das produções de uma área profissional. (MEC/SEMTEC, 2005, p. 10).

Ainda de acordo com os Referenciais MEC (2005), neste paradigma, o conceito de competências na educação profissional é o elemento que orienta seu currículo. E a ênfase dada anteriormente aos conteúdos do ensino transfere-se para as competências a serem construídas pelo sujeito que aprende:

O Parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CEB nº 16/1999, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico e regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB/1996, apresenta a competência como princípio orientador da organização curricular e da prática pedagógica na educação profissional. Nesse Parecer,

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a competência é entendida como “a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conheci-mentos e habilidades necessárias ao desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho”. (SENAC. DN. Competência. Rio de Janei-ro, 2015b, p.11).

Esse modelo de educação e currículo marca uma ruptura com a educação bancária, como aponta Paulo Freire (1974), pautado na educação conteudista tradicional. A partir dessas premissas, pode-se considerar que:

a nova proposta para a educação profissional possui um direcionamento pedagógico, orientado pelas concepções construtivistas e histórico-social, fundamentadas nas ideias de Vygotsky e de outros autores progressistas, que muito têm contribuído para a melhoria da qualidade da educação profissional, com seus estudos e novas propostas de observar o ser humano com um olhar mais humano. Neste sentido, a pedagogia das competências conseguindo captar este olhar mais humanizado, estará contribuindo significativamente na construção de cidadãos mais emancipados e conscientes de seu papel na sociedade. (MEC/SEMTEC, 2005, p. 10).

Nesse novo paradigma, a competência, em seu sentido mais completo, de conhecimentos, habilidades e atitudes, e de sua utilização, está fundada sobre um saber consolidado e sobre uma capacidade para compreender, agir e decidir, superando a destreza mecânica muitas vezes adquirida, especialmente no modelo tradicional de ensino. No entanto,

Apesar de os conhecimentos formais nesse deslocamento perderem seu papel central, a nova noção de competência não desprezou a necessária presença desse elemento para a formação técnica do trabalhador, pelo contrário, ela o ressignificou. Na competência, o saber-fazer resulta tanto da experiência como das habilidades, atitudes, valores e características, nascidos da história individual ou coletiva dos trabalhadores, e ganha espaço ao lado dos conhecimentos tradicionalmente valorizados na lógica

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da qualificação e sistematizados nos bancos escolares. A competência, nessa perspectiva, não nega a qualificação, mas reconhece o seu valor em um contexto no qual o trabalho não é mais padronizável, imutável e inflexível. (SENAC. DN. Competência. Rio de Janeiro, 2015b, p.8).

De acordo com o Documento Técnico (SENAC, 2015b, p.12-14), a competência pauta-se na ‘ação/fazer profissional observável, potencialmente criativo, que articula conhecimentos, habilidades, atitudes e valores e permite desenvolvimento contínuo’. A saber:

a) Ser observável[...] referir-se a uma ação/fazer profissional observável, a competência transcende a abstração e se tangibiliza no desempenho do aluno. Essa condição também possibilita verificar a capacidade de o aluno, no enfrentamento de situações concretas, mobilizar e articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valores constituídos ao longo do processo de ensino e aprendizagem.b) Ser potencialmente criativaA condição de ser potencialmente criativa distingue a competência daquilo que é uma técnica ou simplesmente a execução correta de uma tarefa ou de um proce-dimento prescrito. [...] Para cumprir essa condição, é preciso verificar se a ação ou o fazer profissional previsto na competência refere-se a um trabalho que pode ser feito de inúmeras maneiras, de formas totalmente novas que não incluam, somente, procedimentos ou protocolos. c) Articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valores[...] indica que a competência é um fenômeno que necessita mobilizar não só esses elementos para a sua expressão, mas que, em seu exercício, transcende a mera soma deles. Assim, por exemplo, é possível que alguém tenha o conhecimento sobre um fazer, mesmo a ponto de descrever suas etapas e seus processos e, ainda assim, não seja capaz de executá-lo. [...] A condição de articular esses elementos, apresentada pela competência, desconstrói a tradicional ideia de linearidade do processo de ensino e aprendizagem, na qual a teoria antecede a prática. Conhecimentos, habilidades, atitudes e valores

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profissionais devem ser construídos e desenvolvidos, simultaneamente, no mesmo e sinérgico movimento do desenvolvimento das competências que os mobilizam.d) Permitir desenvolvimento contínuo[...] Essa condição pressupõe tanto a permanente necessidade de atualização da competência, tendo em vista as constantes transformações do mundo do trabalho e o progresso científico e tecnológico da sociedade, como expressa sua inerente capacidade de impulsionar o desenvolvimento humano de forma integral, uma vez que, para realizar bem um fazer profissional, complexo e criativo, em consonância com o contexto no qual ele é produzido, é preciso que o sujeito se desenvolva de forma plena.

Essa definição de competência destaca a importância de práticas pedagógicas capazes de criar novos ambientes e situações de aprendizagem, referendadas no desenvolvimento dos perfis profissionais, consolidados através das Marcas Formativas do MPS, uma vez que é um diferencial dos alunos egressos da Instituição no mercado de trabalho. Nessa direção, fica explícito que o processo educativo de cunho profissional urge conectar-se com os novos paradigmas educacionais em virtude destas emergentes transformações sociais que permeiam o mundo contemporâneo. Logo, a educação profissional deve assegurar aos alunos o domínio dos conhecimentos básicos, necessários para sua instrumentalização teórica e prática, na busca de sua autorrealização e na luta pela transformação de uma sociedade mais igualitária, consciente e auto-sustentável. Não muito distante acreditava-se que bastava ter o diploma universitário que o sujeito profissional estava apto a atuar em sua área de estudo. Atualmente, esse discurso mudou, pois além do conhecimento teórico adquirido durante os anos de formação, há de se conside-rar concomitantemente as experiências e práticas do cotidiano vivenciadas no fazer pedagógico. Nesse sentido,

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a formação do docente é perene, isto é, o profissional da educação deve ter consciência de que sua formação se dá, além da teoria vista em sua formação acadêmica inicial: ela é complementada através de sua prática em sala de aula e dentro da escola como um todo. Consequentemente, o docente nesse movimento dinâmico, deve atentar para a formação continuada e o aperfeiçoamento constante, transformando suas práticas pedagógicas através do processo Ação-Reflexão-Ação. Schön (2000) afirma que três competências são fun-damentais para a construção de um pensamento prático reflexivo do docente:

Conhecer-na-ação – é a competência de reconhecimento, julgamento e performance habilidosa em uma situação única, incerta ou conflitante. [...] Reflexão-na-ação – é a competência para, em situações de surpresa e erro, refletir durante a ação, sem interrompê-la, em um presente-na-ação, para poder interferir na ação em desenvolvimento (tentativa e erro) e reestruturar as estratégias. [...] Reflexão sobre a ação: é a reflexão sobre a ação com o objetivo de sistematizar e descrever um saber que está implícito nela. (SCHÖN, 2000, p.25)

Para isso, conforme as palavras de Gandin (1999, p. 129) “é fundamental que o professor se redescubra como intelectual, como um verdadeiro sujeito social que pensa criticamente tanto a sociedade e a educação, quanto sua prática pedagógica”. Outrossim, é importante ressaltar que uma prática pedagógica depende não somente do docente, mas de toda a equipe envolvida no processo de ensino e aprendizagem.

4. A arte da formação docente

A profissão docente é uma das profissões mais antigas e mais importantes, tendo em vista que as demais, em sua maioria, dependem dela. Não há jornalista,

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advogado, médico ou outro doutor que não tenha, algum dia, frequentado salas de aula, dividindo diariamente suas experiências com os mestres que nos ensinam não só matemática, física, química, como nos ensinam também sobre a própria vida. A formação docente é um processo emocionalmente apaixonante, profundamente moral e intelectualmente exigente porque, supõe e propõe aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos/a viver com os outros e aprender a ser (FREIRE, 1996). Esses fun-damentos formam os pilares da educação, o que também reflete em sua qualidade. Docentes desapaixonados pela arte do conhecimento em sua formação não contribuirão positivamente para elevar a qualidade da educação no país. Só quem gosta do que faz, realiza com prazer e isso se torna reflexo. Nesse sentido, como escreve Rubem Alves3(2001):

Quem não ama o que faz dá pouco de si. Não se esforça. Bate cartão, cumpre protocolo. O amor move gestos e intenções, em qualquer profissão. Mais ainda naquelas em que se lida diretamente com pessoas. Que são diferentes de livros, armários, números... tem coisa pior do que ser chamado de 26? Ou 12? Amor é vital. No trabalho, na vida, em tudo. Ao ver o rosto encantado e feliz da pequena aluna sob o olhar atento e carinhoso da professora, quem há de negar a importância do amor na educação?

Docentes comprometidos com a boa qualidade da educação são assim: acreditam serem capazes de transformar o mundo em uma sociedade menos injusta e violenta, ou seja, estão incomodados com as múltiplas fomes que de múltiplas formas debilitam as inteligências sedentas em aprender (PERISSÉ, 2004, p. 20). Porquanto, primam cuidadosos pela arte de ensinar. Não havendo pretextos que justifiquem para os docentes sensíveis à boa qualidade da

3 Rubem Alves em entrevista a revista Nova Escola em Outubro de 2001.

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educação exercer a docência com competência, coragem, responsabilidade e carisma. E isso não é nem um pouco romantismo barato.

5. Valorização docente

São muitos os desafios que os docentes enfrentam cotidianamente em sua rotina profissional. E, manter-se atualizado e desenvolver práticas pedagógicas eficientes são também grandes desafios na carreira docente. Nesse sentido, Nóvoa (2002, p. 23) diz que: “O aprender contínuo é essencial se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente”. Por isso, a paixão pela arte de ensinar é inexplicável, mas é também indisfarçável. Apaixonar-se pela docência sai caro... Em suma, ser docente:

É buscar dentro de cada um de nós forças para prosseguir, mesmo com toda pressão, toda tensão, toda falta de tempo... Esse é nosso exercício diário!Ser professor é se alimentar do conhecimento e fazer de si mesmo janela aberta para o outro.Ser professor é formar gerações, propiciar o questionamento e abrir as portas do saber.Ser professor é lutar pela transformação...É formar e transformar, através das letras, das artes, dos números...Ser professor é conhecer os limites do outro. E, ainda assim, acreditar que ele seja capaz...Ser professor é também reconhecer que todos os dias são feitos para aprender... Sempre um pouco mais...Ser professor é saber que o sonho é possível...É sonhar com a sociedade melhor... Inclusiva.... Onde todos possam ter acesso ao saber...Ser professor é também reconhecer que somos,acima de tudo, seres humanos, e que temos licença para rir, chorar, esbravejar. Porque assim também ajudamos a pensar e construir o mundo.(In: Jornal AconteCendo, nº. 22, Setembro de 2001. Disponível em: http://nanareyseducacao.blogspot.

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com.br/2011/10/mensagens-as-professoras-magisterio.html).

E é a escola quem deve propiciar este momento de socialização e instigar o sujeito para a vida, pois como expressa Paulo Freire (2010, p.1) a escola é:

O lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.” (Disponível em: <http://www.rizoma-freireano.org/a-escola-paulo-freire>)

Nesse contexto, o Senac por meio de seu portfólio de curso que contempla diversas áreas do conhecimento com a oferta de cursos de Formação Inicial e Continuada, técnicos, graduação e pós-graduação permitem ao aluno possibilidades variadas de qualificação preparando-o para seu ingresso no mundo do trabalho. É por este caminho que podemos começar a melhorar tanto a qualidade da educação quanto o mundo, sem se esquivar de refletir acerca das pontes (in)visíveis no cotidiano escolar; planejando e atuando sempre de modo solidário e responsável e; consequentemente, avaliando também o crescimento e a evolução cognitiva e social do sujeito. Dessa forma, dispomos, assim, da escola como um ambiente participativo e transformador.

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Para a real valorização do magistério são necessários os seguintes alicerces, que devem ser sólidos: boa formação inicial, boa formação continuada e boas condições de trabalho, salário e carreira. No Senac, a maior parte dos docentes que atuam são profissionais advindos do mundo do trabalho e estão no movimento de crescer em termos didáticos na sua formação profissional dentro da instituição com permanente investimento na formação continuada e didático-pedagógica.

6. Considerações Finais

Diante do exposto, fica evidente que em cada fase do desenvolvimento social, econômico, político e cultural, as demandas da sociedade foram se modificando ao longo da história, exigindo concomitantemente novos perfis de docentes, educação, currículo, sujeito, mundo e trabalho, de modo que estes possam atender a certas demandas do sistema social e produtivo. O desenvolvimento científico acelerado, o uso das tecnologias na produção e difusão do conhecimento, mudanças no perfil do consumidor que impacta na produção e na economia, além da necessidade de alinhar as demandas econômicas com um desenvolvimento sus-tentável, exige uma formação e qualificação em sintonia com essas transformações em curso na sociedade, nesse cenário, o Senac busca contribuir para formar cidadãos críticos e engajados na constituição de uma sociedade mais solidária, atuando de forma responsável na comunidade a qual está inserido. O Senac atua na vanguarda das mudanças ocorridas no mundo do trabalho e nessa direção o MPS vem justamente para romper com os paradigmas de educação (profissional) tradicional e que não atende de modo mais amplo o perfil exigido pela sociedade e pelo mundo do trabalho que, por sua vez, exige um profissional versátil,

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dinâmico, criativo, investigativo e flexível. Logo, o MPS traz protagonista, em sua essência, uma reflexão acerca dos princípios e concepções de educação, mundo, escola, currículo, docente e aluno. A partir do referencial teórico pesquisado verificou-se que o MPS contribui para pensar a formação de docentes sem se desconectar do contexto da estrutura social, resultante de fatores sociais, culturais, políticos e econômicos, pois ao docente não basta conhecer o con-teúdo específico de sua área, nem tampouco as formas de transmiti-lo. É preciso ter uma formação abrangente, que implica conhecer a sociedade do seu tempo, compreender as relações entre educação, economia e sociedade. Diante disso, é possível (re)pensar o processo de construção da identidade profissional e, assim, atuar de forma mais significativa no processo de ensino-aprendizagem, visando a excelência da educação profissional e o ingresso do aluno no mundo do trabalho.

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Formato: 190mm x 260mmTipologia: texto Minion Pro, títulos Helvetica

Papel miolo: Off-set LD FSC 75g/m2Papel capa: Triplex LD FSC 250g/m2

Tiragem: 200 exemplaresImpresso em: abril de 2019.

Esta obra foi impressa na Grafmarques Indústria Editora e Serviços LTDAPraça Guimarães Passos, 88, Poço

Fone: (82) 2121-6161CEP: 57025-480 - Maceió - Alagoas - BrasilE-mail: [email protected]

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