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Função Exponencial naBase e
Sumário
17.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
17.2 A Função Exponencial de Base e . . . . . . . . . . . 2
Unidade 17 Introdução
17.1 Introdução
Na unidade anterior, iniciamos os estudos sobre o número e e as funções
logaritmo e exponencial com esta base, de�nindo o número e como a base do
logaritmo natural, e provando que
limn→+∞
(1 +
1
n
)n
= e e limn→+∞
(1 +
x
n
)n= ex, ∀x ∈ R.
Nesta unidade, damos continuidade a estes estudos. Começamos obser-
vando um exemplo em que o número e (ou as exponenciais de base e) aparece
em um problema de juros. Considere uma aplicação �nanceira que rende juros
α em certo período de tempo (por exemplo, um ano). Suponha que esta apli-
cação seja de tal forma que, cada vez que o investidor faz uma retirada antes
do �nal do período, ele recebe uma fração da quantia que receberia ao �nal
do período, proporcional ao tempo de aplicação (como se a aplicação rendesse
juros simples dentro do período). Neste caso, quanto mais o investidor resgata
e reaplica imediatamente a quantia retirada, maior será o total acumulado ao
�nal do período (pois juros simples rendem mais que juros compostos para pe-
ríodos da aplicação menores que 1, como mostra o Exercício 1). Entretanto,
o valor acumulado não aumenta inde�nidamente � a razão entre este valor e o
investimento inicial se aproxima e é limitado superiormente por eα. Podemos
dizer que eα corresponde à taxa de juros compostos continuamente acumulados,
em uma situação limite (se fosse possível resgatar e reaplicar a cada instante).
Na segunda parte da unidade, mostramos que a derivada de uma função
exponencial é proporcional à própria função. Esta propriedade é responsável
pela grande importância da função exponencial para a modelagem de fenômenos
em que a taxa de crescimento de uma grandeza é proporcional ao seu próprio
valor. Há muitos exemplos de fenômenos com esta propriedade, na Física e em
outras ciências.
17.2 A Função Exponencial de Base e
O número e, base dos logaritmos naturais, foi de�nido na unidade anterior
como o único número real positivo tal que a área da faixa de hipérbole He1
é igual a 1. Em seguida, mostramos que esse número é também o limite de
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Unidade 17Função Exponencial na Base e
(1 + 1n)n quando n tende ao in�nito. Nesta unidade, daremos exemplo de uma
situação da vida real que leva à consideração do limite acima.
Por sua vez, a função exponencial x 7→ ex, de base e, pode ser de�nida por
meio do limite ex = limn→∞(1 +xn)n ou então, geometricamente, pelo fato de
que y = ex é o único número real positivo tal que a área da faixa de hipérbole
Hy1 é igual a x. Mostraremos que as funções de tipo exponencial, f(x) = beαx,
com base e, surgem em questões naturais e calcularemos a taxa de variação
instantânea dessas funções.
Exemplo 1Um investidor aplica um capital c0 a uma taxa de k por cento ao ano. Se
escrevermos, por simplicidade, α = k/100, por cada real aplicado, o investidor
receberá, no �nal de um ano, 1 + α reais, de modo que o total a ser resgatado
será c0(1 + α) reais. O acréscimo c0 · α (juro) é uma espécie de aluguel do
dinheiro.
Sendo assim, raciocina o investidor: se eu resgatar meu capital depois de um
semestre, terei direito a metade do juro (aluguel) anual, logo receberei c0(1+ α2)
reais. Então reinvestirei esta soma por mais um semestre e, no �nal do ano,
em vez de c0(1+α), vou receber c0(1+ α2)2, que é uma quantia maior. (Nosso
investidor sabe que (1+ α2)2 > 1+α, pela desigualdade de Bernoulli.) Pensando
melhor, diz o investidor, posso resgatar e reinvestir meu capital mensalmente
recebendo, no �nal de um ano, o total de (1 + α12)12.
Como o número α = k/100 lhe é conhecido, o investidor, com auxílio da
calculadora, veri�ca imediatamente que (1+ α2)2 < (1+ α
12)12. Animado com o
resultado, nosso ambicioso investidor imagina que, resgatando e reaplicando seu
dinheiro num número n cada vez maior de intervalos de tempo iguais, poderá
aumentar ilimitadamente seu capital.
Na verdade, fazendo o que imagina, no �nal do ano o investidor receberá o
total acumulado igual a
c0 · limn→∞
(1 +
α
n
)n= c0 · eα.
Nosso personagem estava certo ao pensar que, para todo n ∈ N e todo
α > 0, se tem (1 +
α
n
)n<
(1 +
α
n+ 1
)n+1
Mas, infelizmente, se enganou ao acreditar que a sequência de termo geral
(1 + αn)n é ilimitada. Com efeito, todos esses termos são menores do que eα.
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Unidade 17 A Função Exponencial de Base e
Seja como for, ao conceber esse processo imaginário de resgatar e reinvestir
a cada instante seu capital, nosso investidor foi conduzido à noção de juros
compostos, acumulados continuamente.
O mesmo raciocínio é válido se considerarmos, para um número real arbitrá-
rio t > 0, o capital c0 aplicado durante t anos, à mesma taxa α. Se tivéssemos
juros simples, no �nal desses t anos o capital resultante seria c0(1 + αt). Di-
vidindo o intervalo [0, t] em n partes iguais, resgatando e reinvestindo n vezes,
no �nal de t anos obteríamos c0(1 + αtn)n, fazendo n crescer inde�nidamente,
chegamos a
c(t) = c0eαt = c0 · lim
n→∞
(1 +
αt
n
)ncomo o resultado da aplicação do capital c0, durante t anos, a uma taxa de
α = k/100 ao ano, de juros compostos, acumulados continuamente.
Em particular, o capital de 1 real aplicado a uma taxa de 100% ao ano, com
juros acumulados continuamente, gera no �nal de um ano um total de e reais.
Evidentemente, a expressão f(t) = c · eαt pode também ser escrita sob
a forma f(t) = c · at, onde a = eα, portanto α = ln a. Ou, se houver
preferência por uma determinada base b, pode-se sempre escrever f(t) = c · bβt,com β = α
ln b. As vezes é conveniente tomar a base 2, de modo que se tem
f(t) = c · 2βt, onde β = α/ ln 2.
Matemáticos e cientistas que se utilizam da Matemática preferem geral-
mente escrever as funções do tipo exponencial sob a forma f(x) = b · eαx, coma base e, porque esta expressão exibe explicitamente não apenas o valor inicial
b = f(0) como também o coe�ciente α, que está intimamente ligado à taxa de
crescimento de f , conforme mostraremos agora.
A taxa de crescimento de uma função f no intervalo de extremidades x, x+h
é, por de�nição, o quociente
f(x+ h)− f(x)h
.
Este quociente pode também ser interpretado como a inclinação da secante
que liga os pontos (x, f(x)) e (x+ h, f(x+ h)) do grá�co de f .
No caso particular da função f(x) = beαx, temos
f(x+ h)− f(x)h
= beαxeαh − 1
h= f(x) · e
αh − 1
n.
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Unidade 17Função Exponencial na Base e
Figura 17.1: Acréscimo de uma função
Lembremos que chama-se derivada da função f no ponto x ao limite da taxa
[f(x+h)−f(x)]/h quando h tende para zero. Este número, cujo signi�cado é o
de taxa instantânea de crescimento de f no ponto x, é representado por f ′(x).
Ele é o número real cujos valores aproximados são obtidos pelos quocientes
[f(x + h) − f(x)]/h para valores muito pequenos de h. Geometricamente, a
derivada f ′(x) é a inclinação da reta tangente ao grá�co da função f no ponto
x.
Figura 17.2: Reta tangente ao grá�co de f em um ponto
O sinal e o valor da derivada f ′(x) indicam a tendência da variação de f
a partir do ponto x. Se f ′(x) > 0 então f(x + h) > f(x) para pequenos
valores positivos de h. Se f(x) < 0, tem-se, ao contrário, f(x + h) < f(x)
para h pequeno e positivo. Se f ′(x) é um número positivo grande, então f
cresce rapidamente a partir de x. E assim por diante. A derivada é a noção
fundamental do Cálculo In�nitesimal. Sua descoberta, há três séculos e meio,
teve uma grande repercussão e provocou um progresso extraordinário na Ciência
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Unidade 17 A Função Exponencial de Base e
e em toda a civilização a partir daquela época.
Mostraremos agora que a derivada da função f(x) = beαx é igual a α ·f(x).Noutras palavras, a taxa instantânea de crescimento de uma função do tipo
exponencial é, em cada ponto x, proporcional ao valor da função naquele ponto.
E o coe�ciente α é precisamente o fator de proporcionalidade.
Assim, por exemplo, no caso do investimento, em que c(t) = c0 · eαt, se, apartir de um dado instante t0, considerarmos um intervalo de tempo h muito
pequeno, teremos aproximadamente [c(t0 + h) − c(t0)]/h ∼= α · c(t0), logo
c(t0 + h)− c(t0) = c(t0) · αh.Usando a interpretação geométrica do logaritmo natural, é fácil calcular a
derivada da função f(x) = b · eαx.O ponto de partida consiste em mostrar que se tem
limh→0
eh − 1
h= 1.
Para vermos isto, lembramos que a faixa de hipérbole Heh
1 tem área igual
a h. Esta faixa está compreendida entre um retângulo de área (eh − 1)/eh e
outro de área eh − 1. Portanto
eh − 1
eh< h < eh − 1.
Figura 17.3:
Aqui estamos supondo h > 0. Dividindo as duas desigualdades por eh − 1,
obtemos1
eh<
h
eh − 1< 1, para todo h > 0.
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Unidade 17Função Exponencial na Base e
Quando h → 0, a potência eh tende a 1. Segue-se das desigualdades acima
que limh→0[h/(eh − 1)] = 1, logo
limh→0
eh − 1
h= 1.
O caso em que h→ 0 por valores negativos se trata de modo análogo.
Agora é imediato ver que
limh→0
ex+h − ex
h= ex lim
h→0
eh − 1
h= ex
e, mais geralmente,
limh→0
eα(x+h) − eαx
h= eαx lim
h→0
eαh − 1
h= α · eαx · lim
h→0
eαh − 1
αh.
Escrevendo k = αh, vemos que h→ 0⇔ k → 0. Portanto
limh→0
eα(x+h) − ex
h= α · eαx · lim
h→0
ek − 1
k= α · eαx.
Isto conclui a demonstração de que a derivada da função f(x) = eαx é
f ′(x) = α · f(x), logo é proporcional ao valor f(x) da função f , sendo α o
fator de proporcionalidade.
É óbvio que o mesmo vale para uma função do tipo f(x) = b · eαx.
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Unidade 17 A Função Exponencial de Base e
Exercícios Recomendados
1. Considere uma aplicação que rende juros α > 0 em uma unidade tempo
T = 1 (por exemplo, um mês, um ano, etc.). Isto é, se uma quantia c0é investida nesta aplicação pelo período T , então o valor resgatado será
c = c0(1 + α). Suponha que um investidor resgate a quantia c0 em um
tempo t < T .
(a) Qual será o valor resgatado se a aplicação rende juros simples para
t < T?
(b) Qual será o valor resgatado se a aplicação rende juros compostos
para t < T?
(c) Em qual das duas opções acima o investidor resgatará um valor
maior?
(d) A conclusão do item anterior também é válida para t > T?
2. A lei de desintegração do elemento Rádio no tempo t > 0 é dada por
M(t) = Ce−kt, onde M(t) é a quantidade de Rádio no tempo t, C e
k são constantes positivas. Se a metade da quantidade inicial M(0) se
desintegra em 1600 anos, qual é a quantidade desintegrada em 100 anos?
3. O crescimento de uma certa cultura de bactérias obedece à funçãoX(t) =
Cekt, onde X(t) é o número de bactérias no tempo t >, C e k são
constantes positivas. Veri�cando-se que o número inicial de bactérias
X(0) duplica em 4 horas, quantas bactérias se pode esperar no �m de 6
horas?
4. Nesta seção, provamos que a derivada de uma função exponencial é pro-
porcional ao valor da própria função. Você acha que a recíproca desta
a�rmação é verdadeira? Isto é, é verdade que se a derivada de uma função
é proporcional ao próprio valor da função, então esta é uma função ex-
ponencial? Que ferramentas matemáticas são necessárias para responder
esta pergunta?
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