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  • 7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUISTA FILHO

    FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS

    LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO

    DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DEESTGIO EM SERVIO SOCIAL

    FRANCA2011

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    LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO

    DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DE

    ESTGIO EM SERVIO SOCIAL

    Tese apresentada Faculdade de Cincias Humanase Sociais, Universidade Estadual Jlio de MesquitaFilho como pr-requisito para obteno do ttulo deDoutor em Servio Social. rea de Concentrao:Servio Social: Trabalho e Sociedade.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Walter Canas

    FRANCA2011

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    Martiniano, Luzilene de AlmeidaDimenses e limites da superviso acadmica de estgio em

    Servio Social / Luzilene de Almeida Martiniano. Franca : [s.n.],2011

    185 f.

    Tese (Doutorado em Servio Social). Universidade Estadual

    Paulista. Faculdade de Cincias Humanas e Sociais.Orientador: Jos Walter Canas

    1. Servio Social Histria Brasil. 2. Estgio supervisionado.3. Servio Social Estudo e ensino. 4. Superviso. I. Ttulo

    CDD 361.007

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    LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO

    DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DE

    ESTGIO EM SERVIO SOCIAL

    Tese apresentada Faculdade de Cincias Humanas e Sociais, Universidade EstadualJlio de Mesquita Filho como pr-requisito para obteno do ttulo de Doutor emServio Social. rea de Concentrao: Servio Social: Trabalho e Sociedade.

    BANCA EXAMINADORA

    Presidente:_________________________________________________________________Prof. Dr. Jos Walter Canas

    2 Examinador: _____________________________________________________________

    3 Examinador: _____________________________________________________________

    4 Examinador: _____________________________________________________________

    5 Examinador: _____________________________________________________________

    Franca, ______ de _______________ de 2011.

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    Dedico ao meu grande parceiro e marido Marco Antnio que me acompanhou nos momentos

    difceis, pela parceria, pelo apoio.

    Aos meus filhos Carol, Marco e Juju pelo incentivo e pela pacincia em agentar os

    momentos de mau humor e tenso

    minha irm Maria Aparecida que esteve sempre pronta para me apoiar nas atividades

    extra tese.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, por me dar foras para no desistir.

    minha famlia pelo apoio incondicional e por acreditar que eu seria capaz, e pelas

    horas ausentes.

    Ao meu querido orientador Prof. Dr. Jos Walter Canoas que com seu exemplo de

    dedicao, empenho me impulsionou para que eu finalizasse o trabalho. Obrigado pela

    tolerncia, pelo respeito e apoio nos momentos difceis.

    s minhas queridas amigas e companheiras Maria Jos e Glucia pela amizade, pelas

    horas alegres que compartilhamos, e principalmente por partilhar um pouco de suas vidascomigo.

    Aos meus ex-colegas do Curso de Servio Social do UNIFEB que de alguma forma

    me incentivaram na construo da investigao.

    minha companheira e amiga Soraia pela pacincia em escutar minhas reclamaes

    sobre a tese, pelas informaes e dicas, e tambm por estar compartilhando uma nova

    realidade em Ituiutaba.

    Rosamlia, Flander, Eliane, Camila e Ricardo meus colegas de trabalho da FACIPpelo apoio na reta final do trabalho.

    Laura da Biblioteca/UNESP pela ateno e pelo apoio nas correes e

    normatizaes da tese, sempre colaborando apesar dos atrasos de percurso.

    Enfim, agradeo s pessoas que participaram como sujeitos de pesquisa, por

    possibilitar alguns momentos de sua agenda para realizar a entrevista e, tambm todos aqueles

    que colaboraram de alguma para que eu conseguisse finalizar o trabalho.

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    No sei se a vida curta ou longa para ns, mas sei que nada do que vivemos tem sentido,se no tocarmos o corao das pessoas.

    Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, brao que envolve, palavra que conforta, silncioque respeita, alegria que contagia, lgrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia,

    amor que promove.E isso no coisa de outro mundo, o que d sentido vida. o que faz com que ela no

    seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

    Cora Coralina

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    MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimenses e limites da superviso acadmica deestgio em Servio Social.2011. 185 f. Tese (Doutorado em Servio Social) Faculdade deCincias Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho,Franca, 2011.

    RESUMO

    O presente projeto pretende contribuir e investigar a relevncia, dimenso e limites daSuperviso Acadmica no Curso de Servio Social a partir das mudanas oriundas da ltimareviso curricular. O objeto de Estudo a Superviso Acadmica de Estgio. Partiu-se do

    pressuposto que a partir das novas diretrizes curriculares, o estgio dever ser o espaoprivilegiado de contato do aluno-estagirio com a realidade social quando o Servio Social seconcretiza, sendo a superviso acadmica o espao apropriado para que este resgate eentendimento da realidade se efetive. A nova lgica curricular, traz consigo propostasinovadoras de ao profissional, onde o estgio considerado uma das atividades integradorasdo novo currculo. Os supervisores acadmicos estaro presentes em todo o processo deformao profissional, desta forma pretende-se no presente projeto analisar as dimenses elimites de seu trabalho, ou seja, estabelecer e destacar sua importncia, assim como verificarcom est se efetivando sua ao nos diferentes Cursos de Servio Social. O objetivo geral do

    projeto analisar as Dimenses e Limites presentes na ao dos supervisores acadmicos, ouseja, estabelecer sua importncia e suas limitaes. Para a realizao da investigao foi

    realizado uma pesquisa exploratria, foi utilizado a pesquisa bibliogrfica e de campo. Oinstrumento utilizado para a aplicao da pesquisa de campo foi a entrevista. O universo daPesquisa foi composto pelas Escolas de Servio Social do estado de So Paulo, tendo comocenrio, cinco unidades de ensino presencial. Os sujeitos foram os coordenadores de estgioe/ou supervisores acadmicos que participam do setor de estgio da instituio. A anlise dosdados coletados foi feita na perspectiva da abordagem qualitativa, por oferecer uma maior

    possibilidade de interpretaes dos significados, possibilitando uma anlise da totalidade darealidade.

    Palavras-chave: servio social. Formao profissional. estgio supervisionado. superviso.

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    MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimensions and limits of academic probationsupervision in Social Work. 2011. 185 p. Thesis (Doctorate in Social Work) - Faculty ofHumanities and Social Sciences, Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho,Franca, 2011.

    ABSTRACT

    This project aims to contribute and to investigate the relevance, extent and limits ofSupervisors Academic Course in Social Work from the changes arising from the lastcurriculum revision. The object of study is the Academic Internship Supervision. This started

    from the assumption that from the new curriculum guidelines, the stage would be the idealopportunity for the student-trainee contact with social reality when the Social Servicematerializes, and the academic supervision appropriate for the space and understand that thisrescue the reality is efetive. A new logic curriculum brings innovative proposals for

    professional action, where the stage is considered one of the integrative activities of the newcurriculum. The academic supervisors will be present throughout the training process, thus itis intended in this project to analyze the dimensions and boundaries of your job, or establishand emphasize their importance, as is checking with its action in effecting different Courses inSocial Work. The project's overall objective is to analyze the dimensions and limits the action

    of the present academic supervisors, namely to establish its importance and its limitations. Tocarry out the research was conducted an exploratory study, we used a literature search andfield. The instrument used for the implementation of field research was the interview. Theuniverse was composed of the Research School of Social Service of So Paulo state, againstthe backdrop of five units of classroom teaching. The subjects were the coordinators oftraining and/or supervisors who participate in the academic sector training institution. Thedata analysis was made in view of the qualitative approach, it offers a greater possibility ofinterpretations of meanings, enabling an analysis of the totality of reality.

    Keywords: social service. professional formation. supervised period of training. supervision.

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    MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimensions et limites de la surveillance de laprobationuniversitaires en Travail Social. 2011. 185 p. Thse (Doctorat en Travail Social) - Facult dessciences humaines et sociales, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, Franca,2011.

    RSUM

    Ce projet vise contribuer et tudier la pertinence, l'tendue et les limites des Responsablesacadmiques cours en travail social de l'volution dcoulant de la rvision des programmesdernire. L'objet d'tude est l'enseignement de stages de surveillance. Ce parti de l'hypothseque des lignes directrices nouveau curriculum, la scne serait l'occasion idale pour le contactavec les tudiants-stagiaires la ralit sociale lorsque le service social se concrtise, et lasupervision acadmique approprie pour l'espace et de comprendre que ce sauvetage la ralitest efetive.A curriculum nouvelle logique, apporte des propositions novatrices pour l'action

    professionnelle, o la scne est considre comme l'une des activits d'intgration du nouveaucurriculum. Les superviseurs universitaires seront prsents tout au long du processus deformation, il est donc prvu dans ce projet pour analyser les dimensions et les limites de votretravail, ou d'tablir et de souligner leur importance, est que le contrle de son action eneffectuant diffrents Cours en travail social. L'objectif global du projet est d'analyser lesdimensions et les limites de l'action des superviseurs prsents universitaires, savoirl'tablissement de son importance et ses limites. Pour effectuer la recherche a t mene une

    tude exploratoire, nous avons utilis une recherche documentaire et de terrain. L'instrumentutilis pour la mise en uvre des recherches sur le terrain a t l'entrevue. L'univers taitcompos de l'cole de recherche du service social de l'tat de So Paulo, dans le contexte descinq units d'enseignement en classe. Les sujets taient les coordonnateurs de la formation et /ou des superviseurs qui participent l'tablissement de formation du secteur universitaire.Lanalyse des donnes a t faite en vue de lapproche qualitative, il offre une plus grande

    possibilit dinterprtations de la signification. Permettant une analyse de la totalit de laralit.

    Mots-cls:services sociaux. formation professionnelle. supervision scne. surveillance.

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Caracterizao dos cenrios da pesquisa................................................. 125

    TABELA 2 Grade Curricular n. 1.............................................................................. 127

    TABELA 3 Grade Curricular n. 2............................................................................... 127

    TABELA 4 Grade Curricular n. 3............................................................................... 128

    TABELA 5 Grade curricular n 4................................................................................ 128

    TABELA 6 Grade curricular 1 Perodo..................................................................... 130

    TABELA 7 Grade curricular 2 Perodo..................................................................... 130

    TABELA 8 Grade curricular 3 Perodo..................................................................... 130TABELA 9 Grade curricular 4 Perodo..................................................................... 131

    TABELA 10 Grade curricular 5 Perodo..................................................................... 131

    TABELA 11 Grade curricular 6 Perodo..................................................................... 131

    TABELA 12 Grade curricular 7 Perodo..................................................................... 132

    TABELA 13 Grade curricular 8 Perodo..................................................................... 132

    TABELA 14 Disciplinas do 1 Semestre...................................................................... 137

    TABELA 15 Disciplinas do 2 Semestre...................................................................... 138TABELA 16 Disciplinas do 3 Semestre...................................................................... 138

    TABELA 17 Disciplinas do 4 Semestre...................................................................... 139

    TABELA 18 Disciplinas do 5 Semestre...................................................................... 139

    TABELA 19 Disciplinas do 6 Semestre...................................................................... 140

    TABELA 20 Disciplinas do 7 Semestre...................................................................... 140

    TABELA 21 Disciplinas do 8 Semestre...................................................................... 141

    TABELA 22 Resumo da horas/aulas dos Ncleos Temticos...................................... 141TABELA 23 Perfil Lrio............................................................................................... 142

    TABELA 24 Perfil Rosa............................................................................................... 146

    TABELA 25 Perfil Hortncia........................................................................................ 146

    TABELA 26 Perfil Roxo............................................................................................... 146

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    LISTA DE SIGLAS

    ABEPSS Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social

    ABESS Associao Brasileira de Ensino de Servio Social

    CEAS Centro de Estudo e Ao Social de So Paulo

    CEFESS Centro de Documentao e Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social

    CFESS Conselho Federal de Servio Social

    CISS Conferncia Internacional de Servio Social

    COS Charity Organization Society

    CPEUSS Centro de Planejamento e Extenso Universitria em Servio SocialCRAS Conselho Regional de Assistentes Sociais

    CRESS Conselho Regional de Servio Social

    EaD Ensino a Distncia

    ENESSP Executiva Nacional dos Estudantes de Servio Social

    FADA Faculdades de Direito e Administrao

    FAPSS Faculdade Paulista de Servio Social

    FEB Faculdades Unificadas da Fundao Educacional de BarretosFET Fundao Educacional de Fernandpolis

    FFCL Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras

    IES Instituio de Ensino Superior

    JUC Juventude Universitria Catlica

    LDB Lei das Diretrizes Bsicas

    LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social

    MEC Ministrio da Educao e CulturaOAB Ordem dos Advogados do Brasil

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PNE Poltica Nacional de Estgio

    PUC Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    SUS Sistema nico de Sade

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

    UCISS Unio Internacional Catlica de Servio Social

    UFAs Unidades de Formao Acadmicas

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    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao Cincia e Cultura

    UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    UNIFEB Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos

    UNIJALES Centro Universitrio de Jales

    UNILAGO Universidade dos Grandes Lagos

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    SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................................ 15

    CAPTULO 1 SERVIO SOCIAL: DAS ORIGENS

    CONTEMPORANEIDADE........................................................... 24

    1.1Trajetria Histrica do Servio Social Brasileiro: Avanos e Retrocessos.......... 25

    1.2 As Condies Histricas da Gnese do Servio Social na Amrica Latina.......... 31

    1.3 As Primeiras Tentativas para a Construo da Metodologia e Teoria do

    Servio Social............................................................................................................. 331.4 O Servio Social no Brasil: Gnese.......................................................................... 36

    1.5 As Matrizes Tericas Metodolgicas do Servio Social......................................... 43

    1.6 O Servio Social e a Formao Profissional na Contemporaneidade................... 48

    CAPTULO 2 O ESTGIO SUPERVISIONADO EM SERVIO SOCIAL:

    ELEMENTOS INFLUENCIADORES E LIMITES QUE SE

    COLOCAM PRTICA PROFISSIONAL.................................. 542.1 A Construo das Diretrizes Curriculares do Servio Social............................... 55

    2.2 Os elementos Constitutivos do Estgio Supervisionado em Servio Social na

    Atualidade................................................................................................................. 69

    2.3 A Construo da Poltica Nacional de Estgio em Servio Social......................... 79

    2.4 Os Novos Desenhos da Concepo de Superviso em Servio Social:

    Supervisor de Campo e Supervisor Acadmico................................................... 82

    2.5 A Operacionalizao do Estgio............................................................................... 103

    CAPTULO 3 DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA........ 118

    3.1 A Construo da Pesquisa e Seus Desdobramentos............................................... 119

    3.2 Procedimentos Metodolgicos.................................................................................. 121

    3.3 Universo da Pesquisa: Cenrios............................................................................... 124

    3.3.1 Caracterizao dos cenrios da Pesquisa............................................................... 124

    3.3.1.1 Faculdade de Cincias Humanas e Sociais (FCHS/Unesp SP)........................... 124

    3.3.1.2 Pontifcia Universidade Catlica (PUCSP)........................................................ 128

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    3.3.1.3 Faculdade Paulista de Servio Social (FAPSS).................................................... 132

    3.3.1.4 Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB).............. 134

    3.4 Interpretao e Anlise dos Dados Coletados......................................................... 140

    3.4.1 Perfil dos Sujeitos..................................................................................................... 141

    3.5 Estgio Supervisionado e Superviso Acadmica - Condies Objetivas e

    Subjetivas................................................................................................................... 143

    3.5.1 Metodologia de Trabalho do Setor de Estgio......................................................... 143

    CAPTULO 4 PERSPECTIVAS E ELEMENTOS PARA UMA CONCLUSO.... 150

    4.1 Repensando a Formao Profissional a Partir da Superviso Acadmica.......... 151

    4.2 Categorias Empricas................................................................................................ 153

    4.2.1 O conhecimento onde est?...................................................................................... 154

    4.2.2 Mediao como instrumento terico-metodolgico da Formao Profissional...... 156

    CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................... 161

    REFERNCIAS.............................................................................................................. 166

    ANEXOS

    ANEXO A - RESOLUO CFESS N 533, de 29 de setembro de 2008.................... 172

    ANEXO B - LEI N 11.788 DE 25/09/2008.................................................................... 178

    ANEXO C - FORMULRIO SEMI-ESTRUTURADO.............................................. 185

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    INTRODUO

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    A pesquisa sempre um desafio, diante de nossas convices, indagaes, utopias,

    quando decidimos por um tema de nosso interesse, que faz parte do nosso cotidiano

    profissional ela torna-se gratificante.

    Considero que tive o privilgio de vivenciar isto na construo desta investigao, pois

    ao iniciar minha profisso como docente fui aos poucos me aproximando e me apaixonando

    pelo tema Estgio e Formao Profissional, e me encantou as possibilidades que na realidade

    atual os estudantes tem para discutir o estgio e tudo o que nele est inserido. Ressalto ainda,

    que durante o processo investigativo, iniciaram-se as discusses na categoria, chanceladas

    pela Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS0, sobre a

    questo do estgio supervisionado na nova proposta curricular, o que posteriormente resultou

    na Poltica Nacional de Estgio, da qual pude participar dos encontros realizados pararealizao das propostas para a construo do documento.

    O presente projeto pretende investigar a relevncia, dimenso e limites da Superviso

    Acadmica no curso de Servio Social a partir das mudanas oriundas da ltima reviso

    curricular.

    O interesse pelo tema surgiu a partir da vivncia prtica inicialmente como supervisora

    de campo de estgio em 2003, na Universidade Catlica de Gois, e em 2006 na Centro

    Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB) de Barretos, e, tambm naUNESP- Franca como supervisora de campo voluntria do Projeto Centro de Planejamento e

    Extenso Universitria em Servio Social (CPEUSS). Atravs destes primeiros contatos

    estabelecidos com outras supervisoras, campos de estgio e estagirios, fui percebendo a

    complexidade das relaes e tambm sua relevncia, j que foi uma experincia totalmente

    nova, pois durante meu perodo de graduao no tive o suporte da superviso Acadmica,

    pois ela no existia, e o setor de estgio era algo distante onde entregvamos nossos planos e

    relatrios de estgio.No ano de 2006, j como docente das Faculdades Unificadas da Fundao

    Educacional de Barretos (FEB), passei a ser integrante da Comisso de Estgio e a partir da,

    pude ter uma viso mais abrangente da importncia, da dimenso e dos limites do estgio

    Supervisionado na formao profissional dos futuros assistentes sociais, e foi quando decidi

    realizar o presente projeto selecionando como objeto de estudo a superviso acadmica de

    estgio.

    Para tanto, partiu-se do pressuposto que apartir das novas diretrizes curriculares, o

    estgio dever ser o espao privilegiado de contato do aluno-estagirio com a realidade social

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    quando o Servio Social se concretiza, sendo a superviso acadmica o espao apropriado

    para que este resgate e para o entendimento da realidade se efetive.

    A nova lgica curricular, traz consigo propostas inovadoras de ao profissional, onde

    o estgio considerado uma das atividades que integram o currculo. Dentro da proposta

    bsica da ABEPSS concebido como: [...] uma atividade curricular obrigatria que se

    configura a partir da insero do aluno no espao profissional o que pressupe superviso

    sistemtica. (OLIVEIRA, 2004, p. 21).

    Segundo Buriolla (1996, p.13), o estgio concebido como um campo de treinamento,

    um espao de aprendizagem do fazer concreto do Servio Social, onde um leque de situaes,

    de atividades de aprendizagem profissional se manifestam para o estagirio, tendo em vista a

    sua formao.Desta forma, torna-se um lcus onde o aluno iniciar a construo de sua identidade

    profissional, sendo primordial que ele seja bem organizado e planejado, pois quando o aluno

    tem a possibilidade de reflexo crtica sobre a ao profissional, sendo desta forma essencial

    formao do aluno.

    Contudo, apesar de ser obrigatrio e essencial se reveste de algumas dificuldades para

    sua operacionalizao, entre elas, podemos citar: instituio sem as condies mnimas de

    estgio, ausncia da superviso do campo, desinformao e desinteresse entre as Unidades deEnsino e Unidades de Campo de Estgio, entre outras.

    No tempo histrico em que vivemos, no espao institucional onde acontece aprtica, onde vive-se a lgica do mercado(cuja preocupao garantir que o estgioatenda as demandas profissionais) e onde tambm se vive a precarizao do trabalhoem suas mais sutis e variadas formas, ignorando-se a proposta pedaggica daformao acadmica. (CONEXO, 2004, p.8).

    Alm disso, a questo da superviso uma tarefa rdua, complexa e polmica, pois

    encontramos realizando o estgio, alunos sem supervisores de campo; supervisores de campo

    desinteressados, desinformados, e que muitas vezes j se formaram h bastante tempo no

    querendo ser incomodados e questionados pelos alunos, que chegam munidos de dvidas,

    idias, crticas, e, apesar de estar regulamentado na Lei n. 8.662/93 em seu artigo 5 par. VI,

    como atribuies privativas dos Assistentes Sociais treinamento, avaliao e superviso

    direta de estagirios de Servio Social.

    Esta superviso ser feita pelo professor supervisor e pelo profissional do campo,atravs da reflexo, acompanhamento e sistematizao com base em planos deestgio, elaborados em conjunto entre unidade de ensino e unidade campo deestgio. (PASSAURA, 2005, p. 5).

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    A Superviso em Servio Social uma atividade inerente ao exerccio profissional,

    porm nem sempre a categoria profissional e as Instituies de ensino dos cursos de Servio

    Social percebem sua importncia e seu significado, comprometendo desta forma a formao

    dos Assistentes Sociais.

    Outro fator agravante e que prejudica a formao profissional a questo do estgio

    considerado como trabalho onde aos estagirios so atribudas tarefas que no compreendem

    a ao profissional do Assistente Social, como: tarefas burocrticas, digitao de documentos,

    servios de office-boys/girls, marcao de consultas, fornecimento de variados tipos de vales,

    etc.

    Outro ponto de fragilizao do estgio supervisionado a alta tendncia do mercadode trabalho captao de mo-de-obra de baixo custo, fruto da precarizao dotrabalho e da crise do capital, exacerbando ainda a mesma concepo capitalista dolucro pelo lucro.(CONEXO, 2004, p. 8 .)

    Os estagirios ao iniciar seu estgio j possuem uma respeitvel bagagem terica e

    buscam um local onde eles possam exercitar e apreender uma prtica profissional, chegam

    repletos de idias, sonhos, e procurando um local de estgio perfeito, esquecendo-se que as

    instituies tem seus limites, objetivos prprios, etc. Cabe ao Supervisor proporcionar-lhes o

    devido respaldo terico e prtico, mostrar-lhes os objetivos, limites organizacionais, bem

    como aproxim-los da realidade, estreitar os vnculos, desprovidos de preconceitos, de

    prticas no-democrticas,

    Segundo Buriolla (1996):

    O desempenho de papis fruto da concretizao da prtica profissional e o que setem desvelado sobre o concreto real da prtica da ao supervisora dos alunos emServio Social, dolorido e agravante, pois em uma grande maioria dos casos ela se

    configura setorizada, com experincias pulverizadas, com tessitura artificial e nosocializada, onde se percebe um discurso diferente da atuao tanto da parte dosupervisor quanto pela Instituio campo de estgio.

    So atribuies do supervisor de campo:

    - acompanhar, refletir e apoiar o aluno, sistematizando e planejando as atividadesjunto ao discente, atravs da elaborao de um plano de estgio;- integrar o aluno ao campo de trabalho;- determinar e acompanhar as atividades do acadmico desenvolvidas no campo deestgio;

    - acompanhar o aprendizado em servio;- zelar pelo desempenho tico do acadmico;- participar das reunies, cursos e atividades de capacitao desenvolvidas pelaUnidade de ensino. (IAMAMOTO, 2004, p. 287)

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    Assim, percebemos que a ao supervisora pressupe o desenvolvimento de diferentes

    papis. que esto situados em diferentes contextos scio-econmico, poltico e cultural dentro

    de realidades institucionais distintas. Podemos salientar como papis do supervisor de campo

    hoje: educador, transmissor de conhecimentos/experincias e de informaes, autoridade e

    avaliador.

    Como atividade curricular obrigatria o estgio implica em acompanhamento e

    orientao profissional, atravs da superviso acadmica e de campo, sendo indissociveis o

    estgio e a superviso. Desta forma, a superviso adquire duas dimenses distintas uma

    superviso acadmica tida como uma prtica docente, e, portanto o responsvel o professor-

    supervisor no contexto do curso, e a superviso de campo que de responsabilidade doassistente social presente no campo de estgio.

    [...] sua operacionalizao envolve um conjunto de sujeitos o aluno, o professor-supervisor acadmico, o assistente social-supervisor de campo, os demais

    profissionais e pessoas envolvidas no cotidiano do campo de estgio diretamenteenvolvido no processo de ensino-aprendizagem, e que desempenham diferentes

    papis e funes na efetivao das atividades didtico-pedaggicas. (OLIVEIRA,2004, p. 15)

    Como supervisor acadmico, o professor responsvel pela reflexo terico-metodolgica das questes pertinentes ao campo de estgio e na formao dos alunos,

    destacando-se entre suas atribuies segundo Iamamoto (2004, p. 285):

    - acompanhar o desempenho do aluno de acordo com o plano de estgio,estabelecido de comum acordo com a instituio;- identificar carncias terico-metodolgicas e tcnico-operativas do aluno de acordocom o plano de estgio e contribuir para sua superao;- desenvolver com o aluno um exerccio de reflexo crtica sobre seu processo deformao profissional.

    - estimular a curiosidade cientfica e a atitude investigativa no exerccio profissional;- atribuir clareza ao papel do profissional;- contribuir para a identificao das singularidades do trabalho do Servio Social;- atualizar o aluno ao nvel da bibliografia e conhecimentos necessrios s atividades

    profissionais e pesquisa;- Orientar o aluno sobre valores, posturas e comportamentos identificados nodesempenho de seu trabalho como estagirio;- Desenvolver o esprito crtico no trato terico e na formao do cidado.

    Contudo, como j citamos acima so variadas as dificuldades que perpassam as

    relaes e o cotidiano do aluno e do supervisor de campo no campo de estgio, sendo

    primordial que o supervisor de campo e supervisor acadmico tenha uma ao integrada que

    lhe permita discutir as diretrizes e os caminhos que orientam o processo de ensino.

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    So atribuies do supervisor acadmico:

    - realizar reunies sistemticas;

    - promover cursos/oficinas para atualizao profissional;

    - realizar visitas aos campos de estgio para maior aproximao unidade de Ensino-

    Instituio campo de estgio, etc.

    O estagirio tambm acompanhado por um professor de Servio Social, a quemcumpre a superviso acadmica realizada na Universidade, por meio de disciplinae/ou oficina concernente. A informao necessariamente completada com umadimenso formativa, envolvendo a reflexo sobre valores, posturas e atitudesobservadas em seu desempenho. (IAMAMOTO, 2004, p.285)

    O estgio dever ser o espao privilegiado de contato do aluno-estagirio com a

    realidade social quando o Servio Social se concretiza. Desta forma, as aulas de superviso

    acadmica sero o espao apropriado para que este resgate e entendimento da realidade.

    Contudo, muitos campos de estgios no garantem nem mesmo as condies mnimas

    para a formao do futuro profissional, tais como espao e tempo, muitos profissionais

    supervisores de campo encontram-se em um cotidiano repleto de tarefas onde mal conseguem

    desempenhar suas mltiplas funes, fazendo com que a superviso fique relegada a segundo

    plano, no existindo desta forma o dilogo, a reflexo e a troca de conhecimento entre outras

    coisas.

    Alm disso, muitos supervisores so oriundos de cursos de formao deficitrios e/ou

    desconectados com a prtica e a realidade social mais ampla. Somando-se a estes fatores

    encontramos supervisores que no conseguem se atualizar por diferentes razes alm da falta

    de tempo, tambm por desinteresse, acomodao e limitaes geogrficas.

    Faz-se necessrio que entendamos todas estas questes terico-prticas da Superviso

    em sua totalidade, ou seja, situ-la no contexto atual do Servio Social, dentro de uma nova

    ordem mundial excludente, em que o profissional de Servio Social est respaldado por um

    projeto tico-poltico contundente que atua na garantia dos direitos do cidado, e isto muito

    significativo, pois durante dcadas trabalhamos na perspectiva do assistencialismo, da

    doutrina crist, da caridade onde se prestava ajuda aos mais necessitados, aos pobres

    coitados.

    Na ltima dcada, o debate sobre formao profissional colocou o ensino da prtica

    em segundo plano, ocupando durante as diversas revises uma posio residual e de pouca

    relevncia na produo acadmica especializada. Contudo dentro da nova lgica curricular oestgio foi resgatado, e tem sua importncia ressaltada dentro do Ncleo Temtico de

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    Pesquisa e Prtica, objetivando funcionar como [...] catalizador e antecipador de demandas

    no campo de conhecimento e da ao profissional (IAMAMOTO, 2004, p. 279). Diante

    disto, o ensino, a pesquisa e a extenso devero estar integradas e caminhar juntas.

    Para alcanarmos nossos objetivos selecionamos empiricamente quatro Unidades de

    ensino do estado de So Paulo, os dados foram obtidos na pgina eletrnica do Cress-SP,

    onde na ocasio de formulao do projeto constavam 54 unidades de ensino de Servio Social

    presenciais e EaD, definindo atravs de amostragem no probabilstica quatro unidades de

    ensino sendo trs privadas e uma pblica.

    Partiu-se das seguintes indagaes:

    As diretrizes curriculares do Servio Social pressupem que o Estgio

    supervisionado seja composto pela superviso de campo e superviso acadmica, assim comoestar sendo desenvolvido nas diferentes instituies de ensino, diante da ausncia de uma

    fiscalizao mais direta?

    A disciplina Superviso Acadmica est presente na grade curricular dos cursos?

    Vrias so as metodologias de trabalho, que as diferentes unidades de ensino

    desenvolvem, assim como estar a questo da qualidade na formao profissional?

    Diante da escassez de recursos agravadas pela crescente evaso de alunos das

    instituies privadas em sua grande maioria, estaro os cursos contratando professoressupervisores Acadmicos suficientes?

    Nosso objetivo geral foi analisar as dimenses e limites presentes na ao dos

    supervisores acadmicos, ou seja, estabelecer sua importncia e suas limitaes.

    Alm disso, tivemos como objetivos especficos:

    - verificar a ao do supervisor acadmico nos diferentes cursos de Servio Social do

    Estado de So Paulo;

    - identificar carncias terico-metodolgicas e tcnico-operativas do aluno presentesno cotidiano do campo de estgio;

    - ampliar os estudos e pesquisa sobre superviso de estgio;

    - estimular a produo acadmica acerca de assuntos relacionados ao estgio;

    - refletir sobre as posturas, identidades do futuro profissional;

    - incentivar os supervisores de campo a retornar academia buscando uma melhor

    qualidade na superviso de campo.

    - identificar onde est o conhecimento?

    Para alcanarmos nossos objetivos realizamos uma pesquisa bibliogrfica acerca dos

    vrios aspectos e significados que permearam as relaes nos campos de estgio, na trajetria

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    histrica de lutas e conquistas dos Assistentes Sociais, bem como com a categoria

    profissional, o estgio busca sua afirmao e destaque como capacitador da insero do aluno

    na realidade social, pois durante dcadas permaneceu relegado e escondido em prticas de

    estgio de faz de conta, ou seja, no era considerado um lcus como hoje dentro da nova

    lgica curricular.

    Assim, esta foi realizada a partir de alguns estudiosos como Iamamoto, Buriolla,

    Oliveira, entre outros autores para nos aproximarmos da realidade dos estgios, foi realizada

    em livros, revistas, internet, jornais, etc. Alm disso, no podemos deixar de destacar os

    vrios cadernos da ABESS/ABEPSS que foram os catalizadores das conquistas e reformas de

    nossa categoria profissional. Tambm utilizamos meios tecnolgicos (INTERNET) para

    complementar e buscar dados estatsticos, artigos publicados, etc.Assim, aps anlise das diversas opes metodolgicas que se apresentam Pesquisa

    Social, utilizaremos a Pesquisa exploratria, pois segundo Gil (1999, p. 43) [...] trata-se de

    um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo desenvolver, esclarecer e modificar

    conceitos e idias proporcionando uma viso geral e uma aproximao da realidade.

    O recorte temporal ficou determinado a partir de 1996, pois corresponde

    determinao das novas diretrizes curriculares at o ano de 2010 quando foi realizada a

    aplicao da pesquisa.O universo da pesquisa foi composto por quatro unidades de ensino de Servio Social

    do estado de So Paulo, tendo como cenrio as seguintes Unidades de Formao Acadmicas

    (UFAs): Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP); Faculdade

    Paulista de Servio Social (FAPSS); Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC);

    Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB).

    Os sujeitos da pesquisa foram quatro supervisores e/ou coordenadores de estgio que

    responderam atravs da entrevista a um formulrio semi-estruturado, que continha questesfechadas e abertas.

    A tese foi estruturada em quatro captulos, no primeiro captulo realizamos uma breve

    contextualizao do Servio Social no mundo e posteriormente seu surgimento no Brasil,

    destacando aspectos histricos, sociais e do desenvolvimento do Servio Social no Brasil.

    No segundo captulo, buscou-se fazer uma breve contextualizao das propostas

    curriculares do curso de Servio Social, com o objetivo de destacar o estgio na atual proposta

    curricular.

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    O Terceiro captulo composto pelos procedimentos metodolgicos da construo da

    pesquisa, e tambm da anlise dos dados coletados que foram analisados na perspectiva da

    abordagem quali-quantitativa.

    A partir da anlise dos dados coletados, construram-se as categorias empricas que

    resultaram nas consideraes finais.

    O trabalho permitiu uma reflexo sobre a temtica sobre Estgio e Superviso,

    contudo no se esgota, mas traz novas indagaes e possibilidades de novas investigaes.

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    CAPTULO 1SERVIO SOCIAL: DAS ORIGENS CONTEMPORANEIDADE

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    O presente captulo tem como objetivo fazer uma breve reflexo sobre as origens do

    Servio Social, destacando a influncia da Doutrina Social Catlica em sua gnese,

    perpassando a influncia norte-americana.

    Alm disso, pretende-se a partir desta contextualizao compreender a construo da

    sua teoria, mtodos e sua legitimao profissional.

    Para a oportunizao destas anlises, faz-se necessrio percorrer o processo de

    formao profissional que se inicia a partir da criao das primeiras escolas de Servio Social,

    compreendida como uma profisso que surge a partir de uma necessidade da classe burguesa,

    demandada para atender seus interesses de ajustamento do indivduo nova ordem social.

    Posteriormente, a profisso aps perodos longos de questionamentos rompe com o

    conservadorismo, dando continuidade ao seu projeto de legitimao profissional, voltando suaprtica aos interesses da classe trabalhadora, acentuando as contradies dentro da prpria

    categoria profissional.

    Tornou-se relevante destacar as matrizes terico-metodolgicas adotadas at ento,

    para compreender a formao profissional na contemporaneidade.

    1.1Trajetria Histrica do Servio Social Brasileiro: Avanos e Retrocessos

    De acordo com Vieira (1978), o Servio Social como fato social e interveno do

    homem no mundo com esta denominao s foi conhecido no sculo XX. Contudo, ao

    analisar os diferentes perodos histricos percebe-se que o ato de ajudar ao prximo, de

    corrigir ou prevenir os males sociais, impulsionar o homem para a construo de sua vida

    positivamente, sempre existiu. Desde o aparecimento dos seres humanos na Terra, realizou-sede diferentes formas e nominaes, sendo quase sempre influenciadas pelas idias, costumes,

    tradies de cada momento histrico.

    Os pobres e miserveis sempre existiram, na antiguidade se manifestava naqueles que

    no possuam os meios de subsistncia, como os velhos e doentes, vivas e crianas rfs

    e/ou abandonadas.

    O sistema socioeconmico da poca, baseado na pecuria e agricultura de subsistncia

    oferecia trabalho a todos, sendo que a misria s aparecia em perodos de invaso, guerras que

    traziam destruio total das casas, lavouras, e tambm, pelas catstrofes ocasionadas pela

    natureza.

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    Em sua grande maioria, a assistncia aos necessitados, principalmente aos idosos e

    crianas era realizada pela famlia, cl ou tribo.

    Segundo Vieira (1978, p. 22):

    A idia de preveno ou reabilitao era quase desconhecida apesar de encontrar-senos escritos de Aristtoles uma referncia sobre a necessidade de ajudar aos pobresdando-lhes material necessrio para que se tornem artesos.

    Na Idade Mdia, posteriormente ao Decreto do Imperador Constantino que

    estabeleceu o Cristianismo como religio oficial, ocasionou em uma nova viso do conceito

    de caridade, pois a partir deste momento todos os homens foram considerados irmos, ser

    pobre ou doente no era castigo de Deus, mas consequncia da imprevidncia do prprioindivduo ou da circunstancial, nos casos de doenas, pestes que vitimizavam milhares de

    pessoas.

    A economia na Idade Mdia, rural e artesanal, era instvel e vulnervel, apresentando

    crises locais, depresses, inflaes, ocasionadas tanto pelas guerras e/ou catstrofes (peste

    bubnica em Londres).

    A parcela da populao mais atingida pelas guerras, invases e epidemias foi a

    populao que vivia na rea rural. Tudo isto acarretou um expressivo contingente de pessoas

    desamparadas, sem meios para sobreviver, que passaram a engrossar a multido de mendigos

    que percorriam os pases em busca de oportunidades, e tambm uma expressiva parcela

    migrou para o mundo do crime, aumentando o nmero de assaltos, roubos e mortes.

    A caridade conseqncia do amor a Deus (I, Jo 4-16), resposta do homem a esteamor [...] manifesta-se sobretudo nas boas obras (Lucas, 7-47); [...] o amor ao

    prximo o segundo maior mandamento (Mt, 7-12). (VIEIRA, 1978, p. 30).

    Percebe-se que ressaltavam atravs da F Crist, a necessidade de ajudar famlia, aoprximo, agregados etc., sendo a Igreja a principal administradora da caridade na Idade

    Mdia, j que junto aos mosteiros e igrejas funcionavam hospitais, leprosrios, orfanatos e

    escolas.

    Contudo, com a crescente demanda de miserveis e necessitados, tornou-se necessrio

    a criao de outras congregaes religiosas, dedicadas especialmente assistncia social,

    auxlios materiais, visitao domiciliar, assistncia hospitalar.

    Por outro lado, algumas corporaes de ofcios e algumas confrarias instituramsistemas de ajuda mtua para os necessitados que se proliferaram no Mundo Novo, sob a

    influncia de Portugal e Espanha.

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    Deve-se ressaltar que durante este perodo, h uma ausncia da presena estatal nas

    obras de caridade e de assistncia, pois a funo governamental era garantir a defesa do

    territrio (diante das intensas invases) e manter a ordem interna.

    O Sculo XV marcou o fim da Idade Mdia e o incio dos tempos modernos que se

    caracterizaram pelo desenvolvimento da cincia, do comrcio, pela modernizao das tcnicas

    artesanais que resultaram na criao das primeiras pequenas indstrias, e, intenso processo de

    colonizao, resultantes das descobertas dos novos continentes.

    Alm disso, o Sistema Feudal demonstrava h algum tempo sinais de enfraquecimento

    extinto gradativamente, resultando em um grande fluxo migratrio para os centros urbanos.

    Os servos livres das obrigaes com os senhores feudais buscavam novas alternativas de

    sobrevivncia, representando estes centros uma excelente oportunidade.Outro fato significante deste incio de sculo que tambm transformou o conceito de

    caridade foi a Reforma Protestante, que ao romper com a unidade religiosa, divide o poder

    com a Igreja Catlica.

    Nos pases conquistados por protestantes, os bens da Igreja e dos catlicos foram

    confiscados, e as obras assistenciais passaram a ser desenvolvidas pelo Estado, o que resultou

    na necessidade de sistematizao do trabalho assistencial, conforme destacado em vrias

    obras de filsofos, legisladores, em especial Ivan Luis Vives (1492) e So Vicente de Paula.Segundo Vieira (1978, p. 32):

    [...] instaura-se a era da secularizao, do humanismo e mais tarde, do racionalismo.Secularizao como a libertao do homem em primeiro lugar, do controlereligioso, do controle metafsico sobre sua razo e sua linguagem. Percebe-se umatentativa de romper com concepes fechadas do mundo e tambm ruptura com osmitos e smbolos sagrados, permitindo desta forma que cada instituio faa o quelhe atribudo, permitindo o pluralismo e uma certa tolerncia.

    A pobreza se expande tornando-se um fenmeno social natural, aceita pela sociedade aquem cabia o dever de ajudar aos pobres. Torna-se uma atividade normal os senhores

    distriburem esmolas cientes de estar fazendo o bem, enquanto que as senhoras realizavam

    visitas s famlias, levando alm de bens materiais, orientaes e conselhos, priorizando os

    velhos, doentes e crianas rfs que no possuam famlia, e aos desempregados ajudavam

    arrumando-lhes trabalho.

    Outros segmentos populacionais, que possuam boas condies de sade e no

    trabalhavam, bem como alcoolistas, mes solteiras, ladres, prostitutas eram consideradoscriminosos.

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    As primeiras intervenes de assistncia aos necessitados do Estado foram no sculo

    XVI, at ento as atribuies eram da esfera privada e religiosa, contudo com o agravamento

    da questo social e das desigualdades houve um aumento significativo da mendicncia.

    Vrias aes em diferentes pases foram institudas como exemplos, podemos citar: O

    Po dos Pobres em Nuremberg (Alemanha), a Aumne Generale em Lyon (Frana), o

    levantamento do nmero de pobres, o encaminhamento dos doentes aos hospitais, a

    distribuio de bilhetes de auxlio em dias fixos.

    Alm disso, grandes aes foram organizadas em Paris em 1944, como Bureax ds

    Pauvres que posteriormente, em 1955, tornou-se Grand Buerau, uma atividade

    filantrpica que funcionava como um Conselho de obras sociais, realizando seu trabalho junto

    s companhias de caridade, instituies privadas encarregadas de recolher donativos e querecebiam incentivo governamental.

    A primeira legislao social referente Assistncia Social foi promulgada pela Rainha

    Elizabeth I na Inglaterra, em 1601. Tinha como pretenso restringir a circulao de pobres

    entre as cidades, estabelecendo aos municpios a responsabilidade de cuidar destes indivduos

    alm de facilitar e fiscalizar a distribuio de esmolas. Logo em seguida, pases como

    Dinamarca e Blgica, adotaram Cdigos de Assistncia com o mesmo objetivo.

    Posteriormente no sculo XIX, o advento da industrializao vem transformardrasticamente o contexto social, pois modifica o cenrio econmico e social com a criao das

    indstrias e desenvolvimento dos centros urbanos. Agrava-se a questo social com a insero

    das mulheres e das crianas no Mundo do Trabalho. A busca de lucros cada vez maiores, faz

    com que as empresas exijam cada vez mais dos trabalhadores que se submetem a exaustivas

    jornadas de trabalho de at 14 horas dirias, sem quaisquer garantias ou direitos, surgindo

    desta forma, uma nova classe social de pobres: os assalariados.

    Formou-se um enorme contingente de mo-de-obra barata e sem especializao, o quefez com que os abusos s aumentassem, j que para a indstria havia um grande nmero de

    trabalhadores ansiosos em ter uma ocupao que submetiam-se ao trabalho sem fazer

    exigncias.

    Proliferam-se as fundaes religiosas, consolidando principalmente as idias de So

    Vicente de Paula e de Vives. Outro fato que influencia o modo de se praticar a caridade a

    Revoluo Francesa, havendo uma emergncia de sistematizar esta assistncia aos pobres.

    Destaca-se neste perodo, o movimento que surgiu na Frana liderado por Frederico

    Ozanan que reunia jovens estudantes catlicos. Com um objetivo comum praticar o bem,

    inovava-se por ser constitudo por rapazes e homens de qualquer classe ou profisso que

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    visitavam os pobres em suas residncias, tarefa exercida at ento quase que exclusivamente

    pelas mulheres. De acordo com Vieira (1978, p. 40), A prtica da caridade, a visitao aos

    pobres, o contato com a misria seriam, portanto, uma escola e treinamento para uma ao

    mais ampla da sociedade.

    H uma expanso destas manifestaes Vicentinas, no s nos pases europeus, como

    tambm, nos Estados Unidos, originando as Catholic Charities.

    Em quase todos os pases estas fundaes existiam, o que ocasionou assistncia

    dplice e abusos de toda sorte, principalmente pela falta de entrosamento entre elas. Estas

    organizaes denominadas Charity Organization Society (COS), reconheciam que era

    necessrio investigar as causas da pobreza, sendo assim, passaram a remunerar pessoal

    especializado para desempenhar tal tarefa, que era realizada principalmente por estudantes dasescolas de Cincias Sociais.

    Gradativamente, percebe-se a necessidade de treinamento tanto para o investigador

    remunerado como para o voluntrio, deste modo que aps ampla discusso desta questo em

    1897 no ano seguinte foi criado o primeiro Curso de Servio Social na Universidade de

    Columbia, em Nova York.

    Surgem ento, as primeiras aes no campo da ao social que se estenderam aos

    problemas de habitao, de higiene, de crianas abandonadas ou mal tratadas, e de luta contraa tuberculose. Contudo, os grupos divergiam-se quanto ao direcionamento das aes, se estas

    deveriam ser estendidas aos indivduos ou transformao do ambiente.

    Estas indagaes fizeram com que se realizasse uma investigao in loco, ou seja, da

    misria e de suas causas, a fim de que se chegasse soluo para a mudana do ambiente.

    Em 1824, surge em Londres o primeiro Centro Social, fundado por Cannon Barret, um

    ministro anglicano e por Arnold Toynbee, um jovem universitrio.

    Em 1891, foi promulgada pelo Papa Leo XII, a primeira encclica social, a RerumNovarum, a qual destacava os princpios de Justia social. Segundo Yasbeck (2009, p. 3),

    este documento representou[...] o incio do magistrio social da Igreja no contexto de busca

    de restaurao de seu papel social na sociedade moderna.

    No sculo XX, com as diversas transformaes decorridas na sociedade, modificam-se

    os papis e funes da famlia que passa a ser considerada a clula bsica da sociedade,

    conservando as funes de procriao, educao moral e afetiva. Contudo, delegou-se as

    funes de instruo, assistncia, recreao, etc. Igreja, ao Estado e comunidade.

    As aes sociais neste momento so voltadas famlia, o indivduo no mais visto

    individualmente, mas em harmonia com os demais membros. H uma tentativa de se

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    preservar os laos sanguneos e afetivos, buscando no separar seus membros, salvo os em

    casos que esta no tinha condies fsicas e morais de permanecer juntos. Criou-se diferentes

    tipos de servios voltados famlia, buscando sempre a garantia dos direitos, e tambm a

    ajuda financeira, material, moral.

    Por outro lado, a Igreja apesar das dificuldades enfrentadas em diversos pases,

    continua mantendo vrias aes sociais, porm continuam grandes os nmeros de aes

    leigas, principalmente de senhoras catlicas das classes mdia e alta, que se dedicavam seu

    tempo livre ao trabalho voluntrio.

    Em 1931, quarenta anos aps a primeira encclica, a Igreja promulgou a

    Quadragsimo Anno, contendo verdadeiros tratados de justia social, que inspiraram aes

    sociais das elites em numerosos pases.O Estado, por sua vez, vai sendo impelido a intervir progressivamente nas aes

    assistenciais, inicialmente adotando uma postura repressiva que se amplia para uma postura

    preventiva, reconhecendo seu papel na promoo do bem-estar social.

    Desta forma, as aes estatais se do em dois nveis: na legislao e na atuao. Na

    Legislao, se desenvolveu na questo da seguridade social, surgindo em vrios pases os

    sistemas de seguros sociais. Inicialmente eram estendidos a algumas reas de riscos e a

    algumas categorias de trabalhadores, e vai progressivamente se estendendo a toda populao.Houve tambm a proliferao das leis que aos poucos foram aperfeioando as obras

    sociais, e na Frana em 1936 era necessrio que estas fossem filiadas Unio Nacional de

    Instituies Privadas para que recebessem subvenes do governo. Posteriormente, em 1950,

    com a sistematizao dos servios sociais, criou-se um cadastro central dos assistidos, que

    foram divididos por regies administrativas.

    Alm disso, o ensino de Servio Social foi regulamentado em vrios pases, sendo que

    em alguns inicialmente em nvel secundrio ou tcnico, para depois passarem ao nveluniversitrio.

    Concluindo, verifica-se ao longo dos sculos, que a transformao da sociedade,

    inicialmente era mtica e pag, tornou-se religiosa e posteriormente secularizada e racional. A

    ajuda prestada era material em natureza e em espcie, e assim, a pobreza que era reduzida na

    antiguidade, passou a ser considerada normal com a modernizao da sociedade na Idade

    Mdia, e nas pocas seguintes passou a ser um mal social.

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    1.2 As Condies Histricas da Gnese do Servio Social na Amrica Latina

    A profisso de assistente social surgiu no Brasil na dcada de 1930. Ocurso superior de Servio Social foi oficializado no pas pela lei n1889 de 1953. Em 27 de agosto de 1957, a Lei 3252, juntamente como Decreto 994 de 15 de maio de 1962, regulamentou a profisso.(CRESS, 2009, online)

    Como relatado acima, percebe-se que at o sculo XIX, as instituies Igreja, famlia e

    Estado foram assumindo e personalizando a assistncia aos pobres e desvalidos. Contudo, a

    partir do sculo XX, em uma tentativa de institucionalizar a Assistncia Social surgiram as

    entidades internacionais com o objetivo de sistematizar as diferentes intervenes ou ajudaaos pobres, sendo a partir da denominadas Servio Social.

    Destacam-se neste perodo trs instituies que foram fundamentais para a evoluo

    do Servio Social mundial: a Unio Internacional Catlica de Servio Social (UCISS), a

    Conferncia Internacional de Servio Social (CISS) e a Organizao das Naes Unidas

    (ONU).

    A UCISS foi criada em 1922, por Mademoiselle Marie Baers em Bruxelas (Blgica),

    reunia escolas catlicas de Servio Social, associaes catlicas de Assistentes Sociais emembros individuais. Seu objetivo era [...] levar aos trabalhos do Servio Social a

    contribuio da doutrina catlica e do humanismo cristo (VIEIRA, 1978, p. 50).

    Em 1925, Realizou-se o primeiro Congresso Internacional de Servio Social em

    Milo, com o tema Organizao da U.C.I.S.S. e o Planejamento de suas Atividades.

    Posteriormente, realizou at 1967 onze congressos internacionais, vinte e um seminrios ou

    encontros regionais e dez reunies de estudo, sendo a maioria realizados na Europa, mas

    algumas aconteceram em outros continentes como Amrica do Norte, frica e sia (na

    ndia).

    Na Amrica do Sul, a primeira escola de Servio Social surgiu no Chile em 1925,

    chamava-se Alejandro Del Rio, e representou a primeira tentativa de profissionalizao do

    Servio Social, mesmo que subordinada profisso mdica.

    As primeiras conferncias focalizavam os campos do Servio Social, como habitao,

    famlia, industrializao e comunidade.

    Com a criao da Organizao das Naes Unidas (ONU) em 1946, foi elaborada a

    Carta dos Direitos do Homem, organizando agncias especializadas como a Organizao

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    das Naes Unidas para Educao Cincia e Cultura (UNESCO) e a Organizao

    Internacional do Trabalho (OIT).

    A partir de 1950, h participao dos Assistentes Sociais em variados contextos:

    programas nacionais, elevao do nvel de vida e novo papel em um mundo de mudana.

    Dava-se nfase aos estudos sobre: Desenvolvimento de Comunidade, Planejamento Social,

    Direitos do Homem, Progresso Social e Estratgias de Desenvolvimento Social.

    O Servio Social desenvolveu-se de formas diferentes, adotando diversificadas

    concepes e conceituaes.

    Nos pases europeus de lngua francesa adotou-se o nome de Servio Social, enquanto

    que nos pases de lngua anglo-germnica o nome adotado foi Social Work ou Trabalho

    Social. Segundo Vieira (1978, p.580) [...] o Servio Social um servio prestado sociedadee o Trabalho Social ou Social Work atividade realizada em servio da sociedade.

    Na Europa, segundo Pusid (apud VIEIRA, 1978, p. 582) O Servio Social

    desenvolveu-se a partir de duas fontes ambivalentes, por um lado a caridade e de outro a

    noo que os problemas sociais eram uma espcie de doena social. Adotava-se uma

    abordagem autoritria na qual em pases como a Frana, os pobres, os necessitados eram

    considerados incapazes de resolver seus problemas, desta forma necessitavam de ajuda, pois

    estariam prejudicando o andamento normal da sociedade.Nos Estados Unidos, o processo de colonizao ocasionou novas formas de ajuda aos

    pobres, aos imigrantes trabalhavam para a sobrevivncia, contudo todos trabalhavam

    buscando no s a sobrevivncia, mas tambm uma defesa s interpres da natureza e dos

    ataques dos ndios.

    Desde o incio da colonizao enfatizava-se a competitividade como um trao

    marcante, sendo os que no trabalhavam eram considerados incapazes, uma vergonha.

    Assim, dentro deste contexto o Social Work, possua dois objetivos: criar condiespara uma vida melhor e desenvolver nos indivduos capacidade para uma vida melhor.

    Percebe-se nestes dois contextos diferentes abordagens, ou seja, enquanto que nos

    pases em que a concepo em Servio Social era predominantemente assistencialista, a ajuda

    aos pobres era uma virtude da condio humana. Por outro lado, o Social Workbuscava a

    transformao da natureza para tornar todos capazes de exercer seus direitos e deveres. Isto

    era evidenciado tambm na denominao do profissional trabalhador social e Assistente

    Social respectivamente. Em 1953, a Unio Pan-americana analisou o desenvolvimento de

    aes de caridade e a assistncia, concluindo que houve evoluo (VIEIRA, 1978, p. 61):

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    - Da assistncia paleativa e curativa para uma assistncia preventiva e construtiva;- Da assistncia mtua aos programas de bem-estar;- Da beneficncia assistncia por direito;- Da assistncia imposta participao ativa;- Da assistncia em massa individualizao;

    - Do isolamento proteo da unidade familiar;- Da assistncia intuitiva aos servios tcnicos;- Do auxlio dado por leigos ao trabalho profissional;- Da assistncia privada ao dos governos;- Do ataque de problemas isolados ao reconhecimento da inter-relao de todos os

    problemas da sociedade.

    1.3 As Primeiras Tentativas para a Construo da Metodologia e Teoria do Servio

    Social

    Mary Richmmond j havia demonstrado desde 1917 a abordagem individual em trs

    momentos consecutivos: estudo, diagnstico e tratamento. Este mtodo era empregado em

    todos os campos de trabalho.

    Em 1922, Mary Richmmond definiu o Servio Social de Casos [...] como um

    processo de desenvolvimento de personalidades do cliente atravs de ajustamentos

    conscientemente efetuadas ao indivduo e do homem para com seu meio social(RICHMMOND, 1974, p. 2 apud VIEIRA, 1978, p. 68).

    Em 1928, vrios pases compareceram Primeira Conferncia Interna de Servio

    Social, que posteriormente enviaram seus relatores, foram analisados por Ren Sand (1932

    apud VIEIRA, 1978, p. 71) que chegou a diversas concluses. Primeiramente, a de que o

    Servio Social em suas variadas formas, nas diversas partes do mundo enfrentava os mesmos

    problemas em relao aos mtodos empregados. Tambm observou que trs fatores

    contriburam para seu desenvolvimento: o progresso das idias de solidariedade, oaperfeioamento da cincia e das tcnicas sociais, e a industrializao e a urbanizao.

    No primeiro quarto do sculo XX, o Servio Social no se distinguia da Ao Social

    diante disto, Ren Sand apresentou uma proposta com alguns modelos: esquematizado,

    coordenado, generalizado, sistematizado, nacionalizado e individualizado. Estes modelos

    foram implementados em vrios pases, sendo utilizados respectivamente ao modelo acima

    citado nos seguintes pases: Frana, Inglaterra, Itlia, Alemanha, antiga Unio Sovitica e os

    Estados Unidos. Esta classificao tinha como finalidade a descrio das funes e formas

    administrativas, o Servio Social considerado no uma atividade ou mtodo.

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    Outra classificao, mais comumente usada, at a metade do Sc. XX, dividia o

    Servio Social por campos de aplicao, ou seja: famlia, menores, escola, sade, empresa,

    delinquncias, meio rural. A discusso da aplicabilidade deste eram discutida nos Congressos

    Internacionais. Assim eram atribuies dos campos:

    Famlia inclua ajuda individual e unidade familiar;

    Menores inclua a assistncia s crianas abandonadas ou rfs, mes solteiras e

    colocao em lares substitutivos, entre outras coisas;

    Escolar- designavam visitadores para estabelecer uma ligao com as escolas do

    bairro, buscando verificar os motivos que determinavam a evaso escolar, o baixo rendimento

    escolar;

    Sade objetivava conhecer melhor os antecedentes e o ambiente onde viviam ospacientes, ale, do atendimento nos hospitais e ambulatrios, tambm faziam a preparao das

    famlias para o retorno ao lar;

    Psiquitrico iniciou-se nos EUA, tinha como funo ajudar o paciente a se reajustar

    vida social;

    Correlacional ocupavam-se de jovens delinquentes, durante o processo, na priso e

    ao serem libertados;

    Empresa (Europa) - ocupava-se das medidas necessrias ao bem-estar dos operrios.Percebe-se que em todos estes campos, o tratamento adotado era individual, ou seja, o

    indivduo e sua famlia, o paciente, o delinquente, o doente mental, o trabalhador, sendo o

    Servio Social familiar a base de todos.

    Os trabalhos com grupos e comunidades so mencionados a partir de 1940 como

    campos de grupos e comunidade.

    At a Segunda Guerra Mundial, o Servio Social caracterizava-se por:

    - abordagem individual em relao aos problemas dos clientes;- abordagem comunitria ou de ao social em relao s distores da sociedade;

    - emprego de pessoal sem remunerao, de preferncia voluntrios;

    - completa disponibilidade dos Assistentes Sociais, o Servio Social constitua uma

    vocao, em ministrios;

    - atividade imediata, em que a Assistente Social era considerada boa quando ajudava

    sua clientela a resolver suas dificuldades pelo menos a seu alcance.

    Percebe-se que o Servio Social percorreu desde seu incio uma longa trajetria para a

    construo de sua metodologia, por muito tempo acreditou-se que cada campo tinha suas

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    particularidades, devendo somente especificar os problemas e os tipos de clientela.

    Utilizavam-se como instrumentais de trabalho a entrevista, a visitao e os encaminhamentos.

    Posteriormente em 1941, Gordon Hamilton caracterizou o Servio Social de Casos

    [...] como a arte de ajudar as pessoas a se ajudarem a si mesmas, cooperando com elas, a fim

    de benefici-las e ao mesmo tempo a sociedade em geral (GORDON apud VIEIRA, 1978, p.

    78).

    Por outro lado, a abordagem comunitria surgiu quase que concomitantemente ao

    Servio Social de Casos, na Frana era denominada Ao Social, e nos Estados Unidos

    Organizao de Comunidade.

    De acordo com Dunham (1948, p. 3 apud VIEIRA, 1978, p. 80):

    [...] a organizao de comunidade no campo do Servio Social o processo peloqual se promove e se mantm um equilbrio constante entre os recursos e asnecessidades dentro de uma rea geogrfica ou de campo de Servio Social.

    Diante do reconhecimento da necessidade de um processo de Servio Social e

    objetivando o desenvolvimento comum, criam-se mecanismos que fazem com este faa parte

    das grades curriculares e da Teoria do Servio Social das primeiras escolas, principalmente

    nos Estados Unidos.

    A partir de 1956, este mtodo que propaga-se para outros pases foi denominado

    Desenvolvimento de Comunidade.

    Finalizando, a abordagem grupal foi o ltimo processo ou mtodo largamente

    discutido pelo Servio Social em sua fase inicial. Primeiramente no era visto como

    importante, contudo buscando atrair alguns grupos especficos, criaram-se atividades e

    programas que se utilizavam da tcnica grupal. Diante disto, surgiram variados programas de

    diversas naturezas, tais como: recreao, lazer e desenvolvimento de habilidades. O trabalho

    com grupo, s foi aceito como mtodo de trabalho do Servio Social aps a Segunda Guerra

    Mundial, sendo publicados vrios livros com esta temtica.

    O Servio Social desde o seu surgimento se desenvolveu de maneiras diferentes, em

    pocas distintas em cada local, sendo sempre fortemente influenciado pelo contexto histrico,

    cultural, econmico e poltico de cada sociedade.

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    1.4 O Servio Social no Brasil: Gnese

    O Servio Social no Brasil surge a partir de uma emergncia da classe burguesa, com

    o forte apoio da Igreja e Estado, objetivando buscar medidas paliativas que fizessem com que

    a classe trabalhadora se acalmasse e continuasse contribuindo com o desenvolvimento

    capitalista.

    Desde o perodo colonial as obras de caridade mantidas pelo clero possuam uma

    longa tradio, buscando uma forma de controlar o movimento operrio.

    Em fins do sculo XIX, o clero j estava presente dentro das unidades industriais,

    buscando controlar estes trabalhadores, onde existiam dentro destes centros industriaispequenas capelas que celebravam missas para os trabalhadores diariamente, sendo os mesmos

    obrigados a assisti-las.

    Sua presena era constante tambm nas Vilas Operrias, onde tentavam organizar as

    famlias, atravs da Doutrina Social da Igreja, alm da presena no Movimento Sindical, no

    qual tinham apoio da classe patronal para desenvolver atividades educativas, assistenciais e

    organizacionais, numa tentativa de coibir qualquer idia consideradas por eles subversivas.

    Aps a Primeira Guerra Mundial, surgem as primeiras instituies sociais das quais oServio Social tem sua origem.

    No mundo, neste perodo acontecem fatos marcantes que influenciam as origens do

    Servio Social Brasileiro, estes fatos foram:

    surge a primeira Nao Socialista;

    o movimento popular operrio reivindica seus direitos;

    o Tratado de Versalhes institui uma nova poltica social voltada aos direitos

    humanos.No Brasil, os movimentos operrios de 1917 a 1921 tornaram a questo social

    evidente e a necessidade de buscar formas de enfrentamento.

    Desta forma, surgem as primeiras instituies sociais, sendo em 1920 aAssociaodas Senhoras Brasileiras no Rio de Janeiro, e em 1923 a Liga das Senhoras Catlicas em

    So Paulo, obras marcadas pela participao das famlias burguesas paulistas e cariocas,

    apoiadas pelo Estado e pela Igreja.

    Em 1923, surgiu a Confederao Catlica, precursora da Ao Catlica

    posteriormente, sendo que estas instituies criaram as bases assistenciais e humanas que a

    partir da dcada 1930 com a forte expanso da Ao Catlica deram origem ao Servio Social

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    brasileiro, apesar de cunho paternalista e assistencialista. Pode-se afirmar que a partir do

    movimento laico, as iniciativas embrionrias se multiplicam dentro da Ao Catlica e

    constituem a base para a criao do Servio Social. Neste perodo merecem destaque as

    associaes da juventude catlica destinadas a intervir junto classe operria e tambm a

    outros setores.

    Pode-se perceber que a base organizacional e o fator humano que viabilizaram o

    surgimento do Servio Social partiram das antigas obras sociais e das novas iniciativas

    oriundas do movimento catlico.

    Em 1932, criou-se o Centro de Estudo e Ao Social de So Paulo (CEAS), a partir

    da sentiu-se a necessidade de uma especializao do trabalho desenvolvido, buscando uma

    sistematizao do trabalho que proporcionasse uma maior abrangncia e eficincia dostrabalhos j desenvolvidos pela classe burguesa. Diante do grave quadro social que se

    apresentava, ocorria um crescente descontentamento da classe operria diante das precrias

    condies de vida e de trabalho, j que estes viviam em lugares insalubres, sem possuir as

    condies mnimas de higiene, sem infra-estrutura de servio bsicos de gua, luz, esgoto, e

    tambm pelas prprias condies de trabalho, e neste perodo a jornada de trabalho era de 10

    a 12 horas dirias. A mo de obra infantil e feminina era largamente utilizada, sendo que estes

    realizavam o mesmo trabalho do trabalhador adulto masculino, mas recebiam em mdia umtero do total do trabalhador do sexo masculino.

    O incio oficial do Servio Social conforme Iamamoto (1982, p. 172), aconteceu com

    um curso intensivo para moas promovidas pelas Cnegas de Santo Agostinho, tinha como

    objetivos orientar, esclarecer idias e formar um julgamento acertado sobre os problemas

    sociais da atualidade.Foi convidada para ministrar o cursoMlle Adle Loneuxda Escola deServio Social de Bruxelas. As primeiras alunas foram jovens formadas nos

    estabelecimentos religiosos de ensino, sendo neste perodo j predominante o sexo feminino,provindas de famlias das classes dominantes.

    Conforme Iamamoto (1982, p. 173), o CEAS tinha como objetivo: promover a

    formao de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ao

    nessa formao doutrinria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais, visando

    tornar mais eficiente a atuao das trabalhadoras sociais e adotar uma orientao definida em

    relao aos problemas a resolver, favorecendo a coordenao de esforos dispersos nas

    diferentes atividades e obras de carter social.

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    Foram fundados, durante o ano de 1932, quatro Centros Operrios, idealizados

    como etapas intermedirias que deveriam ceder lugar a associaes de classe que as elites

    operrias iriam formar e dirigir.

    Os primeiros cursos promovidos foram: Filosofia, Moral, Legislao do Trabalho,

    Doutrina Social e Enfermagem de Emergncia.

    Em 1933, houve uma intensificao das atividades do CEAS, sendo que passaram a

    participar da Liga Eleitoral Catlica; promoveram a Primeira Semana de Ao Catlica;

    organizaram a formao dos quadros da Juventude Feminina Catlica (Centros Operrios

    e Crculo de Formao para moas), a fim de intervir diretamente junto ao proletariado para

    afast-lo das influncias subversivas.

    Em 1936 houve a fundao da Primeira Escola de Servio Social no Brasil, aPontifcia Universidade Catlica, surgindo novas demandas para o Servio Social, entre

    elas, os cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores no Servio

    Estadual do Trabalho.

    Em So Paulo, um ano antes deste ocorrido, foi criado o Departamento de Servio

    Social do Estado, Lei n 2.497 de 24-12-1935, que tinha como competncias:

    a) superintender todo o servio de assistncia e proteo social;b) celebrar, para realizar seu programa, acordos com as instituies particulares decaridade, assistncia e ensino profissional;c) harmonizar a ao social do Estado, articulando-a com a dos particulares;d) distribuir subvenes e matricular as instituies particulares realizando seucadastramento;e) estruturao dos Servios Sociais de Menores, desvalidos, trabalhadores eegressos de reformatrios, penitencirias e hospitais e da consultoria jurdica doServio Social. (IAMAMOTO, 1982, p. 182).

    Em 1937, o CEAS passa a atuar no Servio de Proteo ao Migrante. Em 1938,

    houve uma reorganizao da Seo de Assistncia Social, quando buscava-se delinear o

    conjunto de trabalhos necessrios ao reajustamento de certos indivduos e grupos s condies

    normais de vida. Assim, organizou o Servio Social para Casos Individuais, a Orientao

    Tcnica das Obras Sociais, o Setor de Investigao e Estatstica e o Fichrio Central de

    Obras e Necessitados. Neste perodo, o mtodo central utilizado era o Servio Social de

    Casos Individuais, e a nomenclatura foi mudada para Departamento de Servio Social.

    [...] estimular o necessitado, fazendo-o participar ativamente de todos os projetos

    que se relacionam com seu tratamento [...] utilizar todos os elementos do meio socialque possam influenci-lo no sentido desejado, facilitando sua readaptao epropiciar um auxlio material reduzido ao mnimo indispensvel para no prejudicaro tratamento. (IAMAMOTO, 1982, p. 187).

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    O Estado ultrapassa o marco de sua primeira rea de interveno, para superintender a

    Gesto da Assistncia Social. Alm disso, procurou racionalizar a assistncia, reforando e

    centralizando sua participao prpria e regulando as iniciativas particulares, que se tornam

    cada vez mais dependentes da burocracia estatal, e voltadas para as demandas de servios para

    o estado, estabelecendo diversos convnios com as instituies particulares.

    Alm disso, figuras de destaque sadas das instituies particulares so cooptadas para

    integrar os quadros tcnicos e conselhos consultivos das instituies estatais de coordenao e

    execuo. Desta forma, percebe-se que a formao tcnica especializada ser demandada

    fortemente pelo Estado, que ao mesmo tempo a regulamenta e incentiva sua legitimao como

    profisso dentro da diviso social do trabalho.

    Em 1939, realizado um convnio entre o CEAS e o Departamento de Servio Socialdo Estado. Posteriormente em 1940, criou-se o Instituto de Servio Social em So Paulo,

    sendo este um desmembramento da Escola de Servio Social e que destinava-se formao

    de trabalhadores sociais especializados para o Servio Social do Trabalho.

    Logo aps, em 1944, diante da emergncia do trabalho do profissional de Servio

    Social no Brasil, as escolas especializadas mudam seus programas buscando um atendimento

    da demanda crescente.

    No que refere-se demanda, devemos salientar

    a importncia quantitativa de alunos

    bolsistas e dos cursos intensivos de formao de auxiliares sociais.

    As bolsas eram subsidiadas pelo (a):

    Estado;

    Grandes instituies estatais ou para-estatais;

    Departamento Nacional da Previdncia;

    Legio Brasileira da Assistncia;

    Servio Social da Indstria; Servio Social de Aprendizagem Industrial;

    Escolas de Servio Social (campos particulares).

    De acordo com Iamamoto (1982, p. 219), no devemos subestimar a importncia das

    pioneiras do Servio Social, nem tampouco a influncia doutrinria na formao profissional.

    NoRio de Janeiro, a formao tcnica especializada se desenvolveu dentro de umaforma mais variada de iniciativas, devido a alguns fatores: o Estado o mais antigo plo

    industrial da Regio Sudeste, representava um grande centro de servios (transporte, portos,

    etc.), possua um numeroso proletariado, era a maior cidade do Pas, alm de ser a Capital

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    Federal, era onde se encontrava os principais aparatos da Igreja Catlica, os grandes bancos e

    a direo poltica e econmica.

    Desta forma, a capital federal foi cidade onde mais se desenvolveu a infra-estrutura

    de servios bsicos e assistenciais, com participao intensa do Estado que reafirmou o

    princpio da cooperao, teorizado em torno de uma sistematizao da atividade social, sendo

    complementado com o apoio da Igreja. Neste incio, as principais aes desenvolvidas eram

    destinadas construo de habitaes populares.

    Podemos afirmar que a necessidade de formao tcnica especializada vista no

    apenas como uma necessidade particular ao movimento catlico. Tem-se presente essa

    necessidade, enquanto necessidade social que no apenas o aparato religioso, mas tambm o

    estado e o empresariado.Percebe-se que houve uma emergncia em criar uma formao profissional

    especializada no trabalho social, diante do quadro de insatisfao crescente na populao

    pobre e do intenso movimento sindical que se organizava.

    Assim, esta iniciativa parte de um setor especfico que foi o Juzo de Menores, com

    apoio institucional federal do Ministrio da Justia, sendo o trabalhador social solicitado para

    a assistncia ao menor. Em 1936, fundou-se a Fundao do Laboratrio de Patologia Infantil,

    composta por intelectuais e especialistas catlicos leigos. Tambm neste ano, realizou-se oprimeiro curso intensivo de Servio Social com durao de trs meses, e paralelamente

    realizou-se um curso prtico com duas assistentes sociais paulistas formadas na Blgica.

    Em 1938, iniciou-se um curso regular de Servio Social, que diplomou a primeira

    turma em 1941. Um ano antes, foi realizado um curso preparatrio em Trabalho Social, que

    deu origem Escola de Servio Social da Universidade do Brasil. Surgem no decorrer da

    dcada de 1940 diversas escolas nas capitais dos estados.

    Em 1947, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Servio Social, com a participaodas 15 das escolas de Servio Social, sendo 13 exclusivas ao sexo feminino e duas para

    homens.

    At 1947, as escolas catlicas de Servio Social do Rio de Janeiro haviam diplomado

    40 assistentes sociais, as escolas de So Paulo 196, e as Escolas de Trabalhadores Sociais

    nove profissionais. Assim, no final da dcada j havia pouco mais de 300 assistentes sociais,

    sendo a maioria das Escolas de So Paulo e Distrito Federal, com predomnio de mulheres.

    Pode-se afirmar que os mecanismos de cursos extensivos para auxiliares sociais e as

    bolsas mantidas pelas grandes instituies, que comearam a surgir a partir de 1942, foram a

    forma encontrada para acelerar a formao de assistentes sociais. Contudo, neste momento

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    no se coloca um problema de mercado de trabalho, mas sim um de luta pelo reconhecimento

    da profisso e pela exclusividade para diplomados, das inmeras vagas que foram se abrindo

    no servio pblico e/ou instituies. Buscava-se o reconhecimento da profisso, atravs de um

    trabalho voltado questo social que comeou a ser reconhecida, mas percebeu-se nos

    programas e projetos existentes uma ausncia e uma emergncia da criao de mtodo para o

    Servio Social.

    Conforme Iamamoto (1982, p. 193), os campos de trabalho eram bem limitados at a

    implantao e o desenvolvimento das grandes instituies, a profisso se desenvolve de forma

    lenta e paulatina, sendo os campos de trabalho bem limitados

    Em So Paulo no setor pblico, as demandas maiores eram do Departamento de

    Servio Social do Estado, sendo que trabalhavam 17 Assistentes Sociais das 27 assistentessociais em exerccio, realizando funes especializadas, como inspetoras do trabalho de

    mulheres e menores e do juzo de menores. Nos campos particulares atuavam em obras

    assistenciais do CEAS, como os centros familiares organizados a partir do convnio com o

    Departamento de Servio Social do Estado.

    No Rio de Janeiro no setor pblico, atuavam junto ao juzo de menores e o Servio de

    Assistncia ao Menor da Prefeitura Municipal. Nos campos particulares, o exerccio da

    prtica se dava em instituies sociais mais slidas, porm as atividades desenvolvidas erambastante restritas, em funo da abrangncia de atuao dos rgos pblicos de Servio Social

    e tambm pelas prprias restries da instituies particulares para tornar vivel a poltica de

    encaminhamentos.

    Contudo, nos dois estados a atuao dos assistentes sociais tinha predomnio de aes

    doutrinrias e assistencialistas, fortemente influenciadas pela Doutrina Social Crist da Igreja

    Catlica, com apoio do Estado e do empresariado.

    Proliferaram neste perodo os Centros Familiares, que se instalaram nos bairrosoperrios e tinham como finalidade separar as famlias das classes operrias, prevenindo

    assim sua desorganizao e decadncia, procurando elevar seu nvel econmico e cultural.

    Tentativas de organizao da classe operria ou formao de grupos eram consideradas

    atitudes subversivas que comprometiam a ordem social e que deveriam ser extinguidas.

    Os servios oferecidos eram: planto para atendimento de interessados, visitas

    domiciliares, bibliotecas infantis, reunies educativas para adultos, curso primrio para

    crianas, cursos de formao familiar, alm de tratamento de casos encaminhamentos,

    colocao em empregos, abrigos provisrios para necessitados etc.

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    Em 1939, surgiu no Rio de Janeiro a Associao Lar Proletrio, representando a

    primeira grande obra particular carioca. Neste perodo, tambm destacou-se a Imprensa

    Nacional, que com atuao junto aos empregados, promoviam cursos de formao

    profissional, organizao de lazeres educativos, servio mdico e servio de casos individuais.

    Tambm merecem destaque pela amplitude de suas atuaes a Juventude Catlica da

    Unio Social Feminina e a Associao das Senhoras Brasileiras, com trabalho junto s

    comercirias atravs de restaurantes populares, procuravam formar associaes de classe de

    tendncia religiosa.

    Entre os anos de 1937-1940, havia 9.130 interessados nos diversos servios prestados.

    Os profissionais atuavam como pesquisadores Sociais, realizavam inquritos familiares e

    levantamentos nos bairros operrios, pesquisando as condies de moradia, situao sanitria,econmica e moradia do proletariado.

    Tambm neste perodo surgiu o Servio Social de empresa, a 1 experincia de

    interveno nos servios exteriores unidade de produo, junto s atividades ligadas

    legislao do trabalho. A atuao geralmente era junto s mulheres e crianas, direo de

    creches, articulao dos servios anexos, visitas domiciliares, articulao e encaminhamentos

    para os servios da comunidade e contatos com os movimentos de aperfeioamento moral e

    profissional.Alm disso, realizava-se concesso de benefcios, licena-maternidade, acidentes de

    trabalho, aposentadoria, seguros de vida etc. Contudo, a atuao era voltada para o controle

    dos empregados: seleo profissional, preveno de acidentes, vigilncia sobre sade dos

    funcionrios, vigilncia sanitria e assistncia s gestantes e nutrizes, etc. Nestas primeiras

    experincias em Servio Social de empresa, percebe-se que os assistentes sociais atuavam em

    geral, na racionalizao dos servios assistenciais ou em sua implantao, assim como as

    atividades de cooperativismo, ajuda mtua e organizao de lazeres educativos.Outro setor que desenvolveu-se neste incio da profisso foi o Servio Social Mdico,

    com iniciativas extremamente embrionrias, ligadas puericultura e profilaxia de doenas

    transmissveis e hereditrias.

    Em sua fase embrionria, a profisso sempre refletiu o pensamento da Ao Social

    Catlica, constituindo-se no veculo de doutrinao e divulgao do pensamento social da

    Igreja, isto se evidencia nas primeiras tentativas de sistematizao da prtica e do ensino do

    Servio Social, atravs dos encontros e conferncias promovidos pelo movimento catlico.

    Posteriormente em sua segunda fase, h uma forte influncia dos iderios europeus e

    norte-americanos.

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    Em sua fase embrionria, o objeto do Servio Social era remediar as deficincias do

    indivduo e das coletividades. O Servio Social junto da coletividade vem remediar certas

    deficincias generalizadas, como exemplo utilizava-se os cursos de economia domstica nos

    quais se procurava formas de ajustamento dos indivduos ordem social.

    Deve-se destacar que os Campos do Servio Social eram bem delimitados, pois as

    reformas e as adaptaes que eram necessrias eram campos da Ao Social, sendo destinado

    aos assistentes sociais trabalharem com os indivduos fracos, denominao dada s pessoas

    das classes mais pobres, procuravam-se formas de ajust-los vida social normal.

    Em suas bases, o Servio Social influenciado pelopensamento catlico europeu,

    encclicas papais, ordenao social do liberalismo, contrapondo ao pensamento comunista, o

    trabalho realizado era de carter educativo e pedaggico.

    1.5 As Matrizes Tericas Metodolgicas do Servio Social

    Pretende-se realizar uma breve contextualizao das matrizes tericas metodolgicas

    que foram se desenvolvendo e que fundamentam o Servio Social brasileiro, ou seja, oconhecimento do processo histrico de constituio e da construo das principais matrizes do

    conhecimento, da complexidade do movimento histrico da sociedade brasileira, e do Servio

    Social que incorpora e elabora anlises em que esto inseridas a sua prpria interveno.

    So mltiplas as mediaes que constituem o tecido de relaes sociais queenvolvem esse processo de produo e reproduo social da vida em suas expressesmateriais e espirituais. Essas relaes que constituem a sociabilidade humana,implicam mbitos diferenciados e uma trama que envolve o social, o poltico, o

    econmico, o