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Informativo do Sindicato dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul – Sindjus/RS - Edição 199 – Março de 2015 LUTAR É PRECISO LUTAR É PRECISO A luta das mulheres é a nossa luta • Contra o assédio moral | PAGS. 4 e 5 • Dia da mulher: Ajuste de foco | PAG. 8 edição especial

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Informativo do Sindicato dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul – Sindjus/RS - Edição 199 – Março de 2015

LUTARÉ PRECISOLUTARÉ PRECISO

Informativo do Sindicato dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul – Sindjus/RS - Edição 199 – Março de 2015

LUTARLUTARÉ PRRPRP ECISSOLUTARLUTARLUTARLUTARLUTARLUTARLUTARLUTARÉ LUTARÉ LUTARÉ É É É LUTARÉ LUTARÉ LUTARÉ LUTARLUTARÉ LUTARLUTARLUTARLUTARÉ LUTARLUTARLUTARÉ LUTARÉ É É LUTARÉ LUTARÉ LUTARLUTARLUTARÉ LUTARÉ LUTARÉ LUTARLUTARLUTARÉ LUTARPPPPRPRPRPPPRPRRRRRRRRERERERRRERPRPRPRRRPREEEECECCCCCICIIIIISISSSSSSSSSOSOOOOO

A luta das mulheresé a nossa luta

• Contra o assédio moral | PAGS. 4 e 5• Dia da mulher: Ajuste de foco | PAG. 8

edição especial

EDITORIAL 2

À luta, mulheres!

Dia 8 de março é o marco de grandes conquistas e feitos realizados pelas mulheres, que, ao longo do século XX, demonstraram com fatos e feitos sua igualdade e direitos na sociedade. Embora existam conquistas e avanços para comemorar, muitas coisas ainda precisam mudar para que o Dia Internacional da Mulher seja um dia de celebração.A data não deve ser apenas comemorativa, o dia de ganharmos fl ores, bombons, parabéns, abraços, ...mas um dia para refl etirmos sobre valores e igualdade entre homens e mulheres, para fi rmarmos discussões que visem à diminuição do preconceito, assédio moral, jornadas extras, etc. Dia em que devem ser discutidos assuntos que tratam da importância e do papel da mulher diante da sociedade, trazendo sua importância para uma vida mais justa e digna. Dignidade que vai além do reconhecimento do outro.A mulher tem papel importante na sociedade, pois é aquela que cria, vai à luta, é guerreira, busca, espera, chora, ri, abraça, grita, sorri, ofende-se, compreende, aceita, faz sempre seu melhor.A competência levou a mulher a conquistar espaços, ganhar respeito e sonhar mais. Hoje, a mulher está presente em tudo,

é maioria em vários setores da sociedade.Nessa data, parabenizamos todas as mulheres, sejam elas duronas, céticas, mal compreendidas, mal amadas, oprimidas, bem amadas, sérias, sorridentes.. que lutam, defendem, que insistem em seus propósitos, que caem e levantam, mulheres lutadoras ou não, mulheres fracas, fortes. Não importa. Mulheres guerreiras, somos todas vencedoras.No mês em que comemoramos O Dia Internacional da Mulher, teremos também uma agenda de mobilizações que se estenderão em diferentes momentos durante os próximos meses, visando à conquista da dignidade do servidor, campanha de aumento salarial, jornada de sete horas, campanha Basta de CCs, combate ao assédio moral, entre outras demandas não menos importantes. A data de 13 de março já está agendada para o encontro do Conselho de Representantes e o dia 27 de março, para a grande Assembleia-Geral , que defi nirá o rumo do nosso movimento rumo às conquistas almejadas. Contamos com a presença de todos quanto puderem.

Por Janice Borba Pacheco | Diretora de Imprensa e Divulgação

Na Rússia, em 1917, ato de

mulheres pela liberdade é um

dos prenúncios da Revolução

Eduardo Nunes - MTE 15.202

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite.Que a liberdade seja a nossa própria substância. Simone de Beauvoir

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

Jornal_Janeiro_2015_v4.indd Página espelhada 2 de 6 – Páginas(2, 11) 04/02/2015 23:52:33

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

Jornal_Janeiro_2015_v4.indd Página espelhada 2 de 6 – Páginas(2, 11) 04/02/2015 23:52:33

DESIGUALDADE 3

Um mundo machistaO Dia Internacional da Mulher é uma data de luta e não de festa. As mulheres merecem, sim, ser parabenizadas pelo que já conquistaram, mas se faz imperativa uma refl exão sobre o tanto que ainda falta conquistar. Se o machismo, em maior ou menor grau, ainda permeia quase todas as sociedades, em alguns lugares a luta das mulheres é,

literalmente, questão de vida ou morte. O fi m da violência física e sexual, a conquista de direitos, a igualdade de condições e de salário nas relações de trabalho e uma maior participação na política são pautas urgentes para todos os trabalhadores que valorizam a igualdade.

Confi ra as estatísticas:

FONTES:Inter-Parliamentary Union | The Global Gender Gap ReportIBGE | ONU | London School of Hygiene & Tropical Medicine

Hoje, como ontem, as mulheres devem se negar a ser submissas e crédulas, pois a dissimulação não pode servir à verdade Germaine Greer

Mulheres gastam em MÉDIA 2 VEZES MAIS tempo que os homens em TAREFAS DOMÉSTICAS

no mundo

A violência física é um P R O B L E M Aque atinge1 A CADA 3MULHERES

em 29 PAÍSESda África e doOriente Médio

A mutilação genital feminina ameaça130 MILHÕESde meninas e mulheres

38% das mulheres ASSASSINADAS são vítimas de pessoas do seu CONVÍVIO FAMILIAR

No Brasil, de40 PROFISSÕES avaliadas, as mulheres têm

MÉDIA SALARIAL inferior à dos homens em 38

Dos parlamentares eleitos no mundo, MENOS DE 25% SÃO MULHERES

Menos de 8% dos países DO MUNDO TIVERAM chefes de Estado do sexo feminino nos ÚLTIMOS 50 ANOS

ARTIGOS 4

A mulher no mercado de trabalho e o assédio moral

Nós mesmos sentimos que o que estamos fazendo é apenas uma gota no oceano, mas o oceano seria menor se faltasse essa gota Madre Tereza de Calcutá

Devemos fazer uma refl exão sobre o Dia Internacional da Mulher. O que temos a comemorar? Como as mulheres estão sendo vistas e tratadas nas relações pessoais e profi ssionais? Que valores estão sendo levados em conta nas relações de trabalho? A conjuntura atual de desvalorização do trabalho humano é marcada pelo estímulo à produção mediante a competitividade. O individual é que tem valor exacerbado, em detrimento do grupo de trabalho. Nesse contexto, o assédio moral encontra ambiente fecundo para desenvolver-se. Ambiente degradado fere a integridade física e psicológica das pessoas. Lamentavelmente, as mulheres são as que mais sofrem desse mal, que causa a dor invisível da alma. Melhores empregos e salários se concentram nas mãos dos homens. Conforme estudos de Marie-France Hirigoyen, 70% das mulheres de um ambiente de trabalho sofrem com o assédio moral, predominando sentimentos de tristeza, ansiedade, vontade de chorar, alterações do sono, tremores e o medo de avistar o agressor e passam, ainda a fazer uso de bebidas alcoólicas. O assédio moral resulta do sistema perverso que não se preocupa com o ser, com a pessoa, mas visa apenas à produtividade desmedida, onde os números são o que conta e não a qualidade do ambiente de trabalho e o próprio trabalho que é posto para a sociedade. Incontestavelmente, o assédio moral viola o direito fundamental à dignidade da pessoa humana, como também o preceito constitucional que assegura um ambiente de trabalho saudável e decente. Sem sombra de dúvida, o Judiciário estadual se enquadra nas descrições acima, pois as mulheres são muitas no ambiente forense, cuja administração superior, formada somente por homens no alto escalão, trabalha somente com metas, com números, não se preocupando com a qualidade de vida das pessoas e do próprio trabalho que é desenvolvido. Onde planejamento estratégico e valorização profi ssional estão

distanciados das reais necessidades de suas trabalhadoras. Quanto mais se banalizam as relações interpessoais no ambiente de trabalho, mais espaço ganha esse prática perversa que é o assédio moral. Para combatê-lo, além de políticas que melhorem as relações entre empregados e empregadores, é necessário criar a cultura da solidariedade entre as pessoas, com espaços para debater os problemas existentes. A seguir, alguns depoimentos de trabalhadores que sofreram assédio moral, em diversos segmentos e setores do mundo do trabalho . Os nomes não serão informados para preservar as vítimas.

Geovana Zamperetti Nicoletto e Carmem Nádia Pereira Rosso Diretoras Executivas – Secretaria de Políticas e Formação Sindical.

O constrangimento não partia de uma só pessoa, mas de todas as que não eram terceirizadas no meu setor. A escolaridade dos funcionários não importava para a depreciação dos mesmos. Comecei a desenvolver várias doenças e, por diversas vezes, fui parar na enfermaria, sendo medicada e dispensada. Isso gerava conversinhas desagradáveis no dia posterior.

Chegaram a duvidar de meu estado clínico, e tudo era

motivo de piadas. Por fi m, não suportava mais conviver naquele ambiente e estava disposta a pedir as contas. Da última vez que passei mal a médica que me atendeu falou que procuraria a chefi a, pois 80% dos funcionários daquele departamento apresentavam problemas de saúde por assédio moral. Saí de lá, graças a Deus! Hoje estou feliz e trabalhando em um ambiente agradável.

ARTIGO 5

A inferioridade das mulheres não é um fato natural, é uma invenção humana, uma ficção social. Maria Deraismes

O assédio partiu de meu chefe. Ele teve problemas particulares, e se irritava, pois não conseguia resolvê-los e não soube separá-los do ambiente profi ssional. Isso passou a se refl etir em mim. Ele me humilhava, fazia grosserias e como eu preciso trabalhar fui obrigada a fi car calada. Continuava tratando-o educadamente e fazia o meu trabalho com a mais perfeita ordem. Já não confi ava mais nele e me decepcionei muito com a amizade que dei a ele. Fui sincera e disse a ele que não queria mais a sua amizade, não confi ava mais nele, pois nunca

sabia como ia ser tratada, e disse que, a partir daquele momento, nosso relacionamento seria estritamente profi ssional. Ele não falou nada, mas a situação piorou depois disso. As humilhações pioraram, eu o substituía em sua ausência e, quando isso aconteceu, ele colocou uma outra pessoa leiga no serviço para assumir o meu lugar e, ainda, colocou essa mesma pessoa para conferir todo o meu trabalho, o que ele nunca fez pois não se fazia necessário. A pessoa que assumiu o lugar achou estranho e disse que não tinha condições de verifi car meu trabalho,

pois não tinha conhecimento sufi ciente. Eu já não agüentava mais, sentia muita dor de cabeça e de estômago. Quando eu estava prestes a pedir transferência de setor, ele resolveu sair em licença-prêmio. Ficou três meses fora e, quando retornou, por outros motivos que não sei explicar, foi destituído do cargo de chefi a e transferido para outro setor. Dei graças a Deus porque preciso do emprego e talvez não conseguisse suportar esta situação por mais tempo. Não desejo isso a ninguém. Triste é conhecer muitas pessoas que passam pelo mesmo problema e sequer sabem que isso se chama Assédio Moral.

Há uns seis anos, senti o assédio moral no meu psique e no meu corpo. O método de ação é simples: pedir o quase impossível e, mesmo se realizado, tratar como banal. É como se os músculos reagissem e o esforço não movesse sequer o ar. Poucos conseguem perceber a presença do vírus. Culpa a si pelo fracasso. A metamorfose dura meses e, no fi m, nasce um profi ssional incompetente e descartável pronto para pedir demissão ou ser demitido.

Trabalho há dez anos como servidora pública e durante seis anos sofri nas mãos do meu chefe. Perdi as contas de quantas vezes fui humilhada, perseguida, ameaçada e desrespeitada. Minhas opiniões eram sempre menosprezadas; reuniões eram marcadas sem que eu tivesse conhecimento prévio da pauta de discussões; maledicência com o meu nome e uso de termos chulos eram freqüentes. Inúmeras vezes tive que engolir um ‘o que você está pensando?’ seguido de ‘quem manda aqui sou eu’. Depois de ser caluniada e difamada, fui penalizada com uma transferência para uma unidade que fi cava a quase duas horas da minha casa (antes eu levava dez minutos para chegar ao trabalho). Minha vaga foi ocupada por uma pessoa que, apesar de menos competente, era amiga do chefe. Fui rebaixada de cargo, fi quei na geladeira e minha pasta foi praticamente esvaziada. Busquei, em vão, o apoio do chefe-geral. Mas ele sugeriu, em outras palavras, que a

incomodada se retirasse. Minha auto-estima foi a zero. Senti-me um nada, um Zé Ninguém, apesar da minha formação superior, da minha pós-graduação e dos cursos que fi z ao longo da carreira. Cheguei a acreditar que o problema era comigo. Duvidei totalmente da minha capacidade. Isso, claro, se refl etiu na minha vida pessoal. Tornei-me uma pessoa nervosa e descarregava todas as minhas angústias nos meus familiares. Muitas doenças apareceram, nesse meio tempo. Engordei muito, tive depressão e síndrome do pânico. Temia que algo pior pudesse acontecer, mas nunca apresentei um atestado médico, porque era ameaçada de demissão constantemente. O circo de horror durou muito tempo e por fi m joguei a toalha. Era isso ou fi car seriamente doente. Tive que deixar para trás um ideal de vida, para que pudesse ter paz e saúde.

Então, colegas, se vocês estiverem em processo de sofrimento no ambiente de trabalho ou se souberem de alguém que esteja nessa situação, não se omitam, não se calem: denunciem.

NA LUTA 6

A feminista é a pessoa que de modo algum se surpreende com os fatos de quase todas as operações cosméticas serem realizadas em mulheres e quase todas as pessoas que esculpem mulheres em formas aceitáveis serem homens. Germaine Greer

NA LUTA 7

O homem mais oprimido pode oprimir um ser, que é a sua mulher. Ela é a proletária do próprio proletário Flora Tristan

ARTIGOS 8

Dia Internacional da Mulher: ajuste de foco

A data 8 de março é fruto de episódios históricos marcantes, em que a presença das mulheres e sua capacidade de luta foram evidentes e trouxeram transformações fundamentais para a ampliação da consciência humana. Trago aqui, para uma breve refl exão, dois exemplos que considero importantes porque são sincrônicos com a data em questão e seu motivo de celebração. O primeiro exemplo, de caráter individual, é a história de Hipátia de Alexandria, que foi morta no ano 475 por estar em evidência e ousar dispor de seus fortes atributos intelectuais num mundo em que o lugar da mulher era longe da vida pública e, principalmente, longe da academia. Hipátia, única em seu tempo, é conhecida e respeitada como uma pensadora de rara magnitude. Detentora de um vasto conhecimento que abrangia matemática, fi losofi a, astronomia, religião, poesia e artes, marcou sua época pela inteligência e independência, sendo professora e, mais tarde, diretora da Academia de Alexandria. Tornou-se a maior pesquisadora de Alexandria nos campos da matemática e da fi losofi a, legando ao futuro grandes descobertas nestas disciplinas, bem como na física e na astronomia. Sua defesa de um livre pensar numa época em que a Igreja Católica disputava poder com o paganismo, custou-lhe a vida, sendo que sua morte marca o início de um milênio de obscurantismo para a ciência. O segundo exemplo, de caráter coletivo, refere-se ao encadeamento de lutas feministas que se iniciam em meados do século XIX, trazendo-nos às condições políticas, econômicas, sociais e culturais de que gozamos atualmente. Líderes intelectuais femininas questionavam as bases do capitalismo e traziam, para a pauta desses movimentos, a luta pela igualdade de direitos econômicos e políticos para as mulheres. O início do século XX é marcado por muitas manifestações e greves. Durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em 1910, na Dinamarca, Clara Zetkin propõe uma data anual de reconhecimento do valor das reivindicações femininas, sendo aprovada por representantes de 17 países. No dia 19 de março de 1911, as manifestações pelo movimento de emancipação das mulheres tomam proporções impressionantes para a época, e cerca de um milhão de pessoas celebram o Dia da Mulher

em diversos países. Em 8 de março de 1917, na Rússia, 90 mil operárias saem às ruas em greve contra o Czar Nicolau II, num protesto conhecido como Pão e Paz. Nas palavras de Trotsky, percebe-se a força deste movimento: “Esse dia inaugurou a Revolução”. O processo de garantir às mulheres direitos humanos elementares e também de reconhecer que sua diferença em relação aos homens não as torna inferiores foi longo. Passam-se mais de 30 anos até que a ONU assine um acordo internacional afi rmando princípios de igualdade entre homens e mulheres e, somente em 1977, o dia 8 de março é reconhecido ofi cialmente pelas Nações Unidas como o Dia Internacional da Mulher. Essa história de luta demonstra o quanto os potenciais femininos individuais e coletivos precisam ser respeitados e reconhecidos para que evitemos cair nos estereótipos que enaltecem apenas aspectos biológicos ou antigos papéis, como beleza, sedução, maternidade, delicadeza, fragilidade, companheirismo, sensibilidade... ou, ainda, na imagem da vítima indefesa, seja da violência, da discriminação ou exploração no trabalho. Em meio a essas imagens de sempre, fi ca oculto o valor de todas as conquistas que as mulheres fi zeram nos últimos 100 anos e o potencial encarcerado dentro de cada mulher pelas convenções e crenças sociais ao longo da história.Nenhum avanço social é sufi ciente enquanto uma parte da humanidade é vista como menos digna ou inferiorizada por ser diferente de um padrão excludente. A falta de referências históricas de mulheres que se destacaram individualmente, ou de movimentos coletivos femininos que interferiram e mudaram o curso da história, prejudica a autoimagem da mulher. Os questionamentos sobre a posição da mulher na sociedade vão muito além de uma luta de gênero; trazem proposições que transformam e ampliam a compreensão de ser humano. E que, por isso mesmo, precisam estar no foco das celebrações do dia 8 de março.

Simone Ourique de Avila | Socióloga, psicoterapeuta e militante sindical

A desigualdade entre os dois sexos ... é um conceito inadmissível para a consciência moderna. Marie D’Agoult

ARTIGOS 9

FIM DO ASSÉDIO MORAL: O assédio moral está ligado à ideia de humilhação, isto é, ao sentimento de ser ofendido, menosprezado, rebaixado, constrangido, etc. A pessoa que é vítima de assédio moral se sente desvalorizada e envergonhada, O combate ao assédio deve levado muito a sério, e a união das mulheres nessa ação será determinante para o fi m dessa prática covarde e vergonhosa.

FIM DO PRECONCEITO: Preconceito e discriminação ainda são desafi os para as mulheres no mercado de trabalho, o que as leva a uma condição de inferioridade. A mulher negra, pobre e lésbica é um alvo ainda maior de preconceitos e estigmas. A luta contra os vários tipos de assédios que menosprezam, ofendem, rebaixam as mulheres precisa do protagonismo de todas as trabalhadoras. REDUÇÃO DA JORNADA: É inquestionável que uma jornada de sete horas em muito contribuiria para um desempenho efi ciente, com muito mais qualidade de vida para todas as servidoras que, no tumulto do dia a dia, desempenham diversos papéis. Além de proporcionar economia de energia e recursos para o Judiciário, a redução da jornada, sem prejuízo das oito horas de atendimento, ajudaria a diminuir a sobrecarga das mulheres, que, historicamente, também acumulam funções nas rotinas do lar e da família. Lutamos pela igualdade de direitos. Já somos protagonistas em muitos papéis dentro da família e sociedade, porém precisamos da consciência de que, se quisermos o respeito, a valorização profi ssional, a diminuição da jornada de trabalho, o fi m

Por que devemos ir à luta

Ao longo dos anos, temos lutado para ter nosso espaço na sociedade, no desempenho das nossas funções, na busca de melhores condições de trabalho e de vida. Somos muitas, e a maioria em muitos setores, organizações, repartições, etc. A maioria nas comarcas, cartórios, sindicalizadas. Nós, mulheres, representamos quase 70% do total de servidores fi liados ao sindicato, mas nossa participação não é condizente com essa proporção. Por quê? É inegável que os nossos direitos avançam através da luta, porém, precisamos levantar mais bandeiras, pois ainda existe muito caminho a percorrer... para tanto, é necessário que façamos uma discussão aprofundada, participemos do debate. Não apenas concentrar nossa energia e esforços no trabalho e atividades comuns do cotidiano, mas sim, abrir espaço para buscarmos nossos direitos...participar das lutas da categoria. Frente a essa dura realidade a nós imposta, devemos ir à luta com coragem, determinação, por:

IGUALDADE: Apesar de sermos, no mínimo, tão efi cientes quanto os homens, ainda não somos reconhecidas como tal. É triste ainda vermos depoimentos como o do indiano Satya Nadella, CEO da Microsoft, que, ao discursar em uma conferência de celebração à mulher, disse que o ideal de mulher no mercado de trabalho é aquela que não pede aumento. De acordo com ele, além de trazer um “carma bom”, esse “superpoder” de não pedir aumento representa um profi ssional em quem se pode confi ar. Esse discurso foi, no mínimo, infeliz, mas infelizmente é a nossa realidade. Como militantes sindicais, há que se lutar para o fortalecimento da igualdade econômica das mulheres. Merecemos salário igual para trabalho igual.

Janice Borba Pacheco | Diretora de Imprensa e Divulgação do SindjusRS

do assédio, a punição do preconceito, a igualdade, devemos nos tornar protagonistas também da luta. Muitas coisas ainda precisam mudar, temos um longo caminho pela frente.

O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos. Simone de Beauvoir

NOTÍCIAS 10

Programe-se para a Assembleia-Geral

Acesse o Boletim Econômico

Basta de CCs: deputado apresenta projeto em defesa dos servidores

No dia 27/03, a categoria se reunirá para debater os rumos da luta na Assembleia-Geral do SindjusRS. É o momento para avaliar o trabalho, fortalecer as pautas que defenderemos na campanha de valorização e defi nir estratégias de ação para conquistá-las.

Já está no ar, no site do SindjusRS, o Boletim Econômico, elaborado pelo assessor econômico Cândido da Roza. O documento apresenta diversos subsídios para que os servidores entendam o momento econômico do país e a situação do seu poder de compra, além de analisar os gastos do TJ e balizar as negociações da categoria na campanha de valorização deste ano.

Após ouvir de dirigentes sindicais as demandas dos servidores da Justiça, o deputado estadual Pedro Ruas (PSOL) protocolou emendas nos projetos de lei de autoria do Poder Judiciário que tratam da criação e extinção de cargos. As emendas de Ruas aos PLs 24/2015, 25/2015, 27/2015 e 30/2015 acrescentam aos projetos artigos determinando que um percentual mínimo de 70% dos cargos em comissão (CCs)

www.ateliefl ordeamora.blogspot.com51 8111.2577 - 51 3395.4021

www.carolinavasconcellos.com.br51 9857.8199

Olympe Audouard

Para uma mulher conseguir vencer em qualquer carreira é preciso que ela tenha talento dez vezes maior do que o talento de um homem.

PROGRAME-SE:O que: Assembleia-GeralQuando: 27/03, às 13h30Onde: Salão da Igreja da Pompeia, Porto AlegrePara maiores informações, entre em contato com o sindicato

criados no Judiciário sejam preenchidos por servidores de carreira. Agora, os projetos e a respectiva emenda tramitarão pelas comissões da Casa. O SindjusRS, a exemplo do que já fez no fi nal do ano legislativo de 2014, continuará dialogando com deputados de todas as correntes políticas e bancadas para tentar evitar a aprovação de projetos que prejudiquem os servidores públicos.

Para acessar online, acessewww.bit.ly/boletim012015

O colega ofi cial escrevente Raphael da Costa Stein, lotado na 4ª Vara Criminal de Santa Maria, deseja permutar com alguém que trabalhe em comarca da Grande Florianópolis-SC. A permuta é possível por meio de convênio entre os tribunais. Quem souber de colega ou amigo dessa região que se interesse por trabalhar em Santa Maria pode entrar em contato diretamente com o Raphael pelo telefone 55 9986.5996, ou com a Secretaria de Relações do Trabalho e Assuntos Jurídicos do SindjusRS.

Permuta

CULTURA 11

5 FILMES SOBRE A LUTA DAS MULHERES

Dois dias, uma noite

Frida

O cárcere e a rua

Enquanto isso, na vida real

O trabalho de Marion Cotillard no fi lme de Jean-Pierre e Luc Dardenne lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz neste ano. Ela interpreta Sandra, uma trabalhadora que perde o emprego após voltar de uma licença-saúde, pois seus colegas decidiram votar pela sua demissão para ganhar um bônus. O fi lme mostra os dois dias e uma noite em que Sandra precisa falar com os companheiros para tentar convencê-los a abrir mão do bônus para manter o seu emprego, jornada em que enfrenta humilhações e discriminação. O drama de Sandra se assemelha ao de tantas trabalhadoras que saem de licença, por exemplo, após dar à luz e acabam sendo consideradas descartáveis por empregadores e pelos próprios colegas.

Nesse fi lme de 2002 dirigido por Julie Taymor, Salma Hayek interpreta a célebre pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954). Uma mulher intensa, que se recusou a aceitar o papel imposto pela sociedade patriarcal, Frida se destacou pela independência e pela paixão com que atuou na arte, na militância política, nas relações amorosas.

Lançado em 2004 pela diretora Liliane Sulzbach, esse documentário mostra a vida atrás dos muros do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Dando destaque a três detentas, o fi lme resgata a trajetória de vida dessas mulheres, conta o seu duro dia a dia no cárcere e aborda a difícil transição da prisão para a liberdade.

Não é só na tela que atrizes encarnam papéis de protagonismo feminista. Ao ser premiada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante neste ano, pelo fi lme Boyhood, Patricia Arquette fez um discurso contundente, denunciando a desigualdade salarial entre atores e atrizes em Hollywood. Sua fala foi ovacionada por atrizes na plateia, como a multipremiada Meryl Streep e Jennifer Lopez (foto).

Qualquer pessoa é verdadeiramente digna da liberdade quando não espera que esta lhe seja concedida, mas conquistada. Madeleine Pelletier

Revolução em Dagenham O fi lme de 2010, dirigido por Nigel Cole, conta a história real de um movimento feminista na fábrica da Ford em Dagenham, na Inglaterra. Em 1968, a trabalhadora Rita O’Grady liderou uma revolta das 187 operárias da montadora, que eram tratadas como empregadas de segunda classe e recebiam menos que os colegas homens. Ao longo da luta das trabalhadoras, fi ca escancarado também o machismo que permeia outras dimensões da sociedade britânica

(Made In Dagenham)

(Deux jours, une nuit)

Sem teto nem lei No fi lme de 1985, a diretora Agnès Varda nos mostra a caminhada de Mona, uma mulher que se torna andarilha e vaga pela França em busca da liberdade plena. Em sua jornada, ela mexe com as vidas das pessoas com que cruza pelo caminho, colocando em xeque os preconceitos e condicionamentos que mulheres e homens reproduzem no seu dia a dia.

(Sans toit ni loi)

A noite não adormecenos olhos das mulheres

a lua fêmea, semelhante nossa,em vigília atenta vigia

a nossa memória.

A noite não adormecenos olhos das mulhereshá mais olhos que sono

onde lágrimas suspensasvirgulam o lapso

de nossas molhadas lembranças.

A noite não adormecenos olhos das mulheres

vaginas abertasretêm e expulsam a vida

donde Ainás, Nzingas, Ngambelese outras meninas luasafastam delas e de nós

os nossos cálices de lágrimas.

A noite não adormecerájamais nos olhos das fêmeaspois do nosso sangue-mulherde nosso líquido lembradiço

em cada gota que jorraum fio invisível e tônico

pacientemente cose a redede nossa milenar resistência.

(Conceição EvaristoEm memória de Beatriz Nascimento)