luiz clÁudio mattos 1 - abvl.net · subimos a agulhinha carregando as ... mas o cinto era novo e...
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“Com três aulas, ele me disse que eu estava
pronto. Subimos a Agulhinha carregando as asas e ele falou ‘vou decolar e você vem em seguida’. Ele decolou e foi embora. Eu peguei
um cinto que estava no carro dele, vesti, me pendurei e decolei. Mas o cinto era novo e ainda não tinha sido regulado, então, quando eu decolei, fiquei com o pescoço na barra de baixo e não conseguia picar a asa. Passei um sufoco, a asa começou a tender para a esquerda... minha sorte foi que peguei o lift do relevo, apesar de não ter tido aula teórica alguma e não entender o que acontecia, e isso me tirou de uma situação perigosa até chegar ao pouso com segurança. Pousei no golfe de São Conrado. Eu sei que foi um trauma o meu primeiro voo. O Stéphane veio me dar os parabéns por ser o primeiro brasileiro a voar e eu estava pau da vida com ele.”
Assim foi o primeiro voo de Luiz Cláudio Mattos, empreendedor carioca que viu na asa delta uma oportunidade de agregar mais um esporte ao negócio que montava na época, um kartódromo. Quase faltou
FATOS RÁPIDOS
uma de suas asas
EMBAIXO DA ASA
MATTOS
1PRIMEIRO BRASILEIROVOADOR
LUIZ CLÁUDIO
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“
cACIMALuiz Cláudio Mattos assistindo ao vídeo,
gravado em 1988, em que seu falecido filho Kique Mattos faz um voo duplo com
a irmã, Flávia.Foto: Elisa Eisenlohr
ePÁGINA ANTERIORLuiz Cláudio em sua casa. O primeiro
voador brasileiro.Foto: Elisa Eisenlohr
“A asa do primeiro voo na Agulhinha passou a ser usada para dar aulas, muita
gente aprendeu a voar nela e, por isso, começou a ser chamada de Tereza
o museu Aero Espacial.” Foto: arquivo pessoal
à primeira aula porque tinha dentista e seu primo Clodoaldo, o dentista, não gostava que desmarcassem a consulta em cima da hora. Acabou desmarcando e fazendo a aula com outros dois, mas foi o único aluno que restou na terceira aula.
Quando fez seu primeiro voo, precisou da ajuda de um funcionário para levar a asa até o local da decolagem, o morro da Agulhinha, próximo de onde é hoje a rampa do bairro de São Conrado no Rio de Janeiro. E, apesar do trauma do primeiro voo, mergulhou de cabeça no esporte.
Sua veia empreendedora logo o fez tomar as rédeas da situação, tanto que Luiz Cláudio contribuiu muito para a evolução do voo livre. Foi ele o responsável pela organização do primeiro campeonato e pela fundação da ABVL. Fez a rampa da cidade de Niterói, no estado do Rio, a de Sapiranga no Rio Grande do Sul e ajudou a abrir diversas outras. Além disso, montou uma
fábrica de asa delta, chamada Astral. O pioneirismo está em seu sangue. Uma prova
disso é que seu filho, conhecido como Kique Mattos, foi um dos primeiros brasileiros a voar com um parapente no Brasil. Kique era um excelente voador, muito ousado desde pequeno. Um dia, Luiz Cláudio saiu de casa, e quando voltou viu que Kique tinha pegado sua primeira asa, apelidada de Tereza Batista, e armado ela em cima da laje, de onde decolou e pousou ao lado da piscina de sua casa. Kique faleceu em um acidente de moto.
Um homem com muitas histórias para contar, Luiz Cláudio Mattos é um exemplo de atitude. Tanto que aos 81 anos, está em plena forma e buscando parceiros para lançar um novo esporte, o land skiff, um equipamento que permite praticar o remo em ciclovias. O protótipo, feito em sua oficina e antiga fábrica de asas, já está pronto e funcionando perfeitamente.
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Voe com Segurança.