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A participação dos atletas do Clube Millennium bcp no Oh Meu Deus 100 milhas Altimetria: Abastecimentos: A partida é dada às 18 horas no Jardim do Lago da cidade da Covilhã, debaixo de sol e algum calor.

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Page 1: A participação dos atletas do Clube Millennium bcp no Oh ... · Subimos 2 km e descemos outros 2 até ao Ski-parque, aqui espera-nos o Jorge com uma sandes de presunto e no meu

A participação dos atletas do Clube Millennium bcp no Oh Meu Deus 100 milhas

Altimetria:

Abastecimentos:

A partida é dada às 18 horas no Jardim do Lago da cidade da Covilhã, debaixo de sol e algum calor.

Page 2: A participação dos atletas do Clube Millennium bcp no Oh ... · Subimos 2 km e descemos outros 2 até ao Ski-parque, aqui espera-nos o Jorge com uma sandes de presunto e no meu

O percurso dentro da cidade é sempre a subir. Esta primeira parte não tem grandes dificuldades técnicas, subimos dos 530 mts na Covilhã até 1200 mts, depois descemos até aos 640 mts, 12 km depois estamos no primeiro abastecimento em Cortes do Meio.

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Cortes do Meio marca o início dos quase 20 km a subir até à Torre. O troço é bastante técnico nalgumas partes. É feito a subir com algumas rampas bem duras. Há zonas em que temos de afastar giestas para progredir. É necessário atravessar vários riachos…

Chegamos ao abastecimento líquido das Penhas da Saúde com 5 horas de prova. Até à Torre são mais 7 km. Passamos pela Barragem do Viriato, fazemos um trilho (sem trilho) pelo meio de giestas até perto do Centro de Limpeza de Neves – Manteigas, continuamos pelo meio de giestas até entrarmos na estrada de alcatrão de acesso à Torre. Fazemos esta estrada cerca de 300 mts e entramos no Trilho do Major que nos levará até perto da Santa. A parte final da subida é feita pelo alcatrão. Está muito frio, existe muita neve nas bermas e campos, chegamos ao abastecimento da Torre à 01h30 de sábado. Apesar de ser um abastecimento de sólidos e líquidos paramos pouco tempo e para tentar evitar o choque térmico saímos em corrida. O percurso (em descida) até à Nave de Santo António é feito pelo alcatrão. No final da descida saímos à esquerda para trilho e alcançamos o abastecimento da Nave de Santo António com 8 horas de prova. Prosseguimos, o caminho neste local é bom. Recebo uma chamada da organização a dizer que estamos fora do trilho (maravilhas do tracker que transportamos connosco) estávamos a seguir as fitas dos 100 km. Dão-nos indicações, entramos na estrada de Manteigas e rapidamente voltamos ao trilho certo. Saímos da estrada à direita e encontramos uma placa a indicar “trilho técnico”. Não encontramos trilho nenhum. Não existe. Há uma fita vermelha em cima de uma giesta alta, rodeada de outras giestas altas e bem cerradas. Hesitamos uns segundos à procura de um trilho que não existe. Abrimos caminho à força de braços e pernas para afastarmos as giestas à procura da fita seguinte. A progressão é muito lenta! Estamos a descer, o chão está repleto de pequenos e grandes troncos secos, traiçoeiros. Não se vê nada em frente a não ser as giestas altas. Rodamos as luzes do frontal para a esquerda e para a direita na procura de fitas vermelhas no meio desta “floresta” cerradíssima. Parece uma verdadeira selva!!! Nesta secção apanhamos alguns sustos. O chão não se vê em alguns locais, numa secção mais inclinada agarro-me a uma giesta, o ramo parte-se, escorrego aterro em cima duns troncos e faço um buraco no casaco. São tempos de tormento, demoramos cerca de 45 minutos neste percurso. Finalmente entramos num trilho e corremos ao longo do vale do glaciar e que acompanha o Rio Zêzere até Manteigas, a parte final é feita em estradão. Chegamos ao abastecimento de Manteigas com 50 km e 10 horas de prova. São 04h de sábado.

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Depois de comer e beber, saímos e encontramos uma subida de fortíssima inclinação que segue serra acima. É daquelas subidas que só de olhar para cima até mete impressão. São 7 km a subir até às Penhas Douradas. Mais uns estradões e à frente encontramos a represa do Vale do Rossim, depois de contornada chegamos ao abastecimento localizado junto ao parque de campismo.

Estamos no km 60. Tomamos um chá quente. Saímos e continuamos por alcatrão, mais à frente entramos num longo estradão em ligeira subida, o vento que entretanto se levantou dificulta a progressão, chegamos a um posto de vigia que era suposto ser abastecimento líquido. Creio que, dadas as condições climatéricas foi anulado. A seguir ao posto de vigia a quase 1600 mts de altitude, segue uma longa descida até Folgosinho no km 81. O abastecimento é uma enorme surpresa! Há pudim, arroz-doce, bolo de chocolate, presunto, queijo da serra, sopas, enfim, uma tortura para quem tem de continuar a prova.

Saímos de Folgosinho com 16h30 de prova, efetuamos mais uma subida por uma via romana, seguimos por estradões e vamos descer até ao Parque de Campismo do Covão da Ponte, onde estava situado mais um abastecimento líquido.

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Estamos num vale lindíssimo

A partir do Covão da Ponte, vamos entrar num dos percursos mais bonitos e técnicos da prova. Aproximamo-nos do Mondego e temos de o atravessar. Existe uma ponte mas está destruída. Observo a profundidade do rio e os locais possíveis para atravessar. As margens estão cheias de mato à exceção do local onde acabam e começam as fitas. O Edu mete-se no rio, sigo-o, o fundo é em areia, avanço devagar e a profundidade vai aumentando, tenho a água pela cintura. Chego à outra margem mas para sair do rio tenho de escalar uma rocha bem inclinada cheia de musgo.

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Segue-se um trilho a subir que atravessa algum mato. Descemos em direção ao Sameiro ao km 107. Ponto de abastecimento sólido.

Abastecemos e saímos. Dizem-me que não há abastecimento sólido nos 2 postos seguintes. Do Sameiro até ao posto seguinte são 7 km sempre em subida. Água e Coca-Cola no posto de Vigia da Azinha. Segue-se uma descida sem história até ao Vale da Amoreira. No Vale da Amoreira, km 120, há novo abastecimento de líquidos. Subimos 2 km e descemos outros 2 até ao Ski-parque, aqui espera-nos o Jorge com uma sandes de presunto e no meu caso uma mini. Retemperados subimos em direção ao Poço do Inferno. O trilho tem muito mato, o vento começa a sentir-se com grande intensidade. A zona de mato desaparece, o que faz com que se sinta mais o frio e vento. Segue-se um estradão até ao Poço do Inferno. Chegamos ao Poço do Inferno a 1075 mts de altitude e com 135 km percorridos. O abastecimento apesar de ser de sólidos é fraco. Dividimos meia sandes de queijo da serra que o Jorge nos oferece e prosseguimos caminho em direção a Poios Brancos sempre em estradão. O percurso tem subidas e descidas mas é monótono, o Edu começa a “zigzaguear” no estradão, queixa-se que vai com sono. Peço-lhe que vá para o meu lado esquerdo para se afastar da encosta. De vez em quando vem contra mim. Segura-se aos meus bastões e assim o levo por um bocado, acabo por lhe agarrar no braço para o guiar. Paramos um pouco, apoia-se nos bastões e fecha os olhos por minutos. “Acorda” como novo e continuamos até ao abastecimento de Poios Brancos. O abastecimento é líquido e por isso não paramos. Começamos a subir. A temperatura desce bastante e o vendaval aumenta (temperatura -7 graus). No topo da subida a 1600 mts, encontramos 3 atletas perdidos e desesperados já com as mantas de sobrevivência vestidas, procuram o caminho de regresso ao abastecimento anterior. Paramos por momentos, procuramos as fitas mas não as vemos, resguardamo-nos atrás de um rochedo e ligamos para a organização, percebemos pelas indicações para onde nos temos de dirigir, avançamos e encontramos o trilho. Progredimos rapidamente para tentar não congelar. Passados uns metros temos de parar, o frontal do Edu perde

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intensidade (o meu desde a subida para o Poço do Inferno que só funciona como luz de presença), tem as mãos geladas e não consegue tirar a pilha do frontal, pede-me ajuda, com a ponta do meu bastão consigo tirar a pilha e colocamos uma nova. Arrumamos as coisas à pressa e começamos a correr. Ajudo-o a calçar as luvas. Continuamos a correr para tentarmos aquecer, está muito frio. O percurso torna-se progressivamente mais técnico. Temos de passar por pedras pequenas e grandes, mas o pior são as raízes secas do mato. Finalmente começamos a descer. Está frio, o vento sopra forte, tento beber e descubro que a água do bidon congelou, tento a de reserva do camel-bak e também está congelada. É preciso descer o mais depressa possível mas o percurso não ajuda, a progressão é lenta e provoca pequenas quedas. Finalmente chegamos à Aldeia do Carvalho, km 160. Faltam poucos km e resolvemos não parar no abastecimento, estes últimos 6 km são feitos praticamente a trote e na companhia do Jorge. Chegámos à Covilhã com 165 km e 37h15m. Em 46 atletas à partida, terminaram 18 e nós chegámos em 9º lugar (O Edu é o 3º do seu escalão).

Resumindo, a prova tem grandes potencialidades, o percurso é muito giro, os abastecimentos estão bem distribuídos e são muito bons (com exceção do Poço do Inferno), as únicas falhas a apontar são a descida para o vale do glaciar pelo meio das giestas que não fez sentido e a falta de fitas refletoras nos Poios Brancos. O clima (vento e temperaturas extremamente baixas) tornou a parte final extremamente dura. Para finalizar um ENORME agradecimento ao Jorge Lanzinha. Acompanhou-nos, incentivou-nos, deu-nos comida, esteve connosco horas. Sem ele a prova teria sido com certeza muito mais dura. Filmes da prova: http://www.youtube.com/watch?v=u0YPBqaW-0A&feature=youtu.be http://videos.sapo.pt/bzzM8G9QlpA2Y8DGjgr5 fotos e Classificações