luiz augusto estrella faria - a economia política, seu método e a teoria da regulação ensaios...

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  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    A E C O N O M I A P O L T I C A , S E M T O D O

    E A T E O R IA D A R E G U L A O *

    Uiiz Augusto Estrella Faria

    maneira de nuvens se comeam

    A descobrir os montes que enxergamos

    As ncoras paradas se adeream;

    As velas j chegados amainam os.

    E pera que mais certas se conheam

    As partes to remotas onde estamos.

    Pelo novo instrumento do astrolbio

    Inveno de su til juzo e sbio

    Os Lusadas

    Cames

    O

    ramo social das cincias prolfico e m controvrsias. Em prim eiro lugar, porq ue, assim

    como em grande medida os avanos das cincias naturais devem-se ao desejo humano de

    dom inar a natureza e modific-la n o seu interesse, as cincias sociais tm estado com pro me

    tidas co m projetos d e transformao da oiganiza o social d o hom em . A figura emblem tica

    de Maquiavel, a obra de Marx e os xitos de Lenin ou Jefferscai so "fortissimi" em um

    desenv olvime nto que , m esm o a "piang", s ^ u e essa tendncia. Esse desejo de transformao

    que motiva a pesquisa cientfica , por sua vez, dirigido por uma posio ideolgica, que

    conduz , mui t a s v^es ,

    a'uriia

    confiiso entre a inteno normativa e a necessidade da

    objetividade ciait fica. Isto por que o po nto d e vista d o observ ador n o po de ser neu tro ntima

    sociedade dividida em classes e grupos d e interesse (a n o ser qu e estivesse fora dela)

    E m segu nd o lugar , po rq ue os prp r ios c r it r ios de obje t ividad e e pro va nas c inc ias

    soc ia i s so u m tanto mais nebu losos d o que nas c inc ias na tura i . O ca m inh o que a fas ta

    Este art igo uma a daptao do primeiro captu lo da d issertao d o autor, defendida em 15 de mar o

    d e 1 992 , n o C u rs o d e Ps -Grad u ao em Econ omia d a U FR GS , U mensaio sobre regulao, moeda

    e inflaonoBrasil.

    O autor agr ade ce particularmente a Pedro Fonse ca e Pau lo Faria por suas crticas e com entr ios a uma

    primeira verso. O resultado final, entretanto, absolutamente pessoal, o que os exime de responsabi

    l idade pelas incons is tncias e equvocos eventualmente remanescentes .

    Economista da FEE e Professor da PUC-RS.

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    ' Alg uas exem plos foram anota dos em Faria & CoiKei o (198 9) e Herrle in Jnior

    (988).

    Um a outra d if icu ldade, que tem a ver com a primeira , d iz respeito ao mtodo da c incia e con mic a. A o

    indiit iv ism o empric o, posto em sua verdadeira e diminuta dim ens o pela f ilosofia a naliica, os m arxistas

    tm respondido co m o materia lismo dialt ico . N o vou polem izar aqui , at porque Colet t i (197 7) j

    apresen tou co m extrema precis o as incon sistncia s de uma cincia dialtica . Para aque les qu , c om o

    eu , pretendem explorar a veia cientf ica da teoria marxista, muitas dificuldades esto ainda em aberto.

    As instigantes idias do Marx filsofo tm levado alguns pensadores a negligenciarem a contradio

    entre positividad e cientf ica e dialtica. Muitas vez es presos vis o ingnua de um i^aturalismo

    dialt ico , que, a exe m plo de Eng els , v contradies na real idade emprica (d ia e noite , prton c e ltron,

    e t c ) , esse s autores acabam por el id ii - o p i incp io da no -co utr adi ^ o que rege o m todo cient f ico . A

    contribuio c ient f ica de Marx s c incia s socia is 6contraditria c om a noo de fet ich ismo, confor me

    apontou Colet t i , mas , ao mesmo tempo, esse conceito bem representat ivo das contradies que os

    hom ens produzem entre s i e com a natureza nas relaes co m qu e es tnUuram sua vida socia l . Es se um

    grande e bel o problema para os f ilsofos Se m tenlar re sol v -lo , ac ho no s po ssv el c o m o frutfero

    chamar os dois plos dessa contradio na anl ise econ m ica.

    o pesq uisad or de um a po s io norm at iva e con duz obje t ividad e ext re m am ente di f ci l

    de ser percorr ido, pois o observador te r sempre inte resse nos fenmenos soc ia i s , se

    faz par te de uma soc iedade dividida . Essas di f iculdades fazem com que o corpo da

    c i nc i a econmica se j a , em grande pa r t e , compos to por quase -expcaes , a i nda

    carentes de pro va . Po de-s e dize r qu e se encont ra todo e le na s i tuao precr ia das teor ias

    da f ronte ira do conh ec im ento , nas c inc ias na tura i s . Dia nte dessa c i rcunstnc ia , no

    de se admirar que se fa le sempre em "as teor ias" ou "os paradigmas" da Economia . A

    grande ma ior i a dos fenmenos econmicos e soc i a i s t m ma i s de uma exp l i cao

    prop osta . H , po is , sabedo r ia na imag em po pular qu e se tem de aprendizes de fe it ice i ros

    a quem no se pode d i r i g ir uma pe rgun ta , porq ue have r sem pre ma i s de uma re spos t a .

    As dificuldades ainda so maiores para quem, como eu, se al inha no campo da

    Economia Polt ica. E so de dois t ipos: primeiro, o desentendiment) entre os adeptos

    enorme, como se fossem dialetos de uma l ngua que no tem mais sua verso erudi ta ,

    perdida com o desaparecimento de seu fundador h mais de 100 anos; e , segundo, a

    verificao e a prova de suas teses encontram uma barreira de difcil transposio na

    decodificao das informaes disponveis , uma vez que as estat s t icas econmicas so

    produzidas de acordo com os conceitos da escola ne(x;lssica, que domina as insti tuies

    produtoras desse t ipo de informao internacionalmente. A primeira dificuldade cobra a

    necessidade de expUcitar o significado e a pertinncia metodolgica dos conceitos empre

    gados na anl ise . nesse sent ido q ue procu ro contribuir co m este artigo.

    Qu anto segunda , a s l imi t aes que se imp em so be m m a iore s . H um conjun to

    de pesquisadores , no Bras i l e no Exter ior , que tem argumentado no s da imposs ibi

    l i dade pr t ica com o t ambm da t e r i c a d e se subm e te rem com pro va o a s " le is ge ra i s

    de desenvolvimento" do modo de produo capi ta l i s ta . O argumento esfr iba-sfc na

    convico da impermeabi l idade dos diversos nve i s de abs t rao em que se cons t ruiu

    o pa rad igm a da Econom ia Po l ti ca desd e Marx . Arg um enta re i a r e spe i t o ad i an te . O q ue

    importa aqui chamar a teno de que essa pos io tem adeptos do por te de , no plano

    in t ema c iona l . Pau l M a t i ck ou Em es t Mand e i ede ,no p an od om s t i co , Lu i z G. Be l luzzo

    e vr ios de seus colegas da UNICAMP. No que se re fere imposs ibi l idade pr t ica ,

    em bo ra ha ja vr ias dem on st ra es d e sua t ransp on ibi l id ade ' , a pob reza das es ta t s t icas

    bras i le i ras um obs tculo de m ui to di f c i l supe rao.

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    1 - A representao do M ond o como ponto de partida

    o con ce i t o de va lor o pon to de pa r t ida do s mod e lo s pe los qua i s os eco no m is t a s

    procuram repre sen t a r a r ea f idade . No de surpreende r , po i s , que a s d ive rgnc i a s

    e n t r e o s d o i s g r a n d e s p a r a d i g m a s t e n h a m i n c i o e m t o r n o d e s s e p o n t o . O q u e m e

    in t e re ssa aqu i qu e a fo rmu lao da no o de va lor , na ve r so dada pe los c l s s i cos

    (a do va lor t r aba lho) , na sce l i gada ao conce i t o de t empo como forma de medida do

    t r a b a l h o . Me s m o q u a n d o u m a o u t r a m e d i d a d e v a l o r f o i p r o p o s t a c o m o a l t e r n a t i v a

    ao t empo de t r aba lho (a u t i l i dade ) , a economia no pre sc ind iu de t r aba lha r com um

    c o n c e i t o d e t e m p o i a l i d a d e . O s m o d e l o s f o r m u l a d o s t m d e d a r c o n t a d e t r a n s f o r

    maes , ao l ongo do t empo, da re l ao en t re suas va r i ve i s exp l i ca t i vas e e s sa

    d i m e n s o . E m b o r a , m u i t a s v e z e s , e s s e s m o d e l o s s e j a m f o r m u l a d o s n a f o r m a d a

    es t t i ca compara t i va , a noo de d inmica impresc ind ve l a uma t eor i a que d

    conta da t o t a l i dade das re l aes econmicas . "

    A const ruo das divergncias ent re Teor ia Neoclss ica e Economia Pol t i ca tem

    inc io na f i losof ia da c inc ia de cada escola , mui to embora essa ques to no aparea

    expl ic i tamente em grande par te da cont rovrs ia e o que es te ja subjacente se jam, em

    larga medida , a lguns pr inc pios f i losf icos apenas . Desde o conce i to de na tureza

    hu m ana , pass and o pe la re lao ent re rea l idade e teor ia e pe la no o de obje t ividad e e

    prova, que t ratarei em seguida, h uma srie de questes f i losficas presentes na

    d i scusso econmica .

    Importante dent re e las o cor tp metodolgico ent re um aspec to es t t ico e out ro

    d inm ico das re laes econtn i cas , que t em dado or igem a um g rande deba t e im pul s io

    nado pe l a s descobe r t a s de Keynes . A po l mica surge de um ques t i onamento i ncon

    s i s tnc ia desse co r te , um a ve z que imp l icar ia exc lui r d o po nto d e vi s ta es t t ico a hi s tr ia ,

    pois o mo vim en to qu e f ica ausente na di s t ino ent re es t t ica e dinm ica o d o tem po .

    Essa di scusso tem levado os economis tas a f i losofarem a respe i to do conce i to de

    t e m p o .

    Em sua c r t i ca Escola Neoclss ica , a lguns autores , a exemplode Agl ie t ta (1986) ,

    c r ia ram uma " taxonomia" de conce i tos de tempo absolutamente conf i i sa , ao di s t ingui r

    Chamo ateno para o fato de que essa distino entre esttica e dinmica est completamente ausente

    da con ce p o c lss ic a da c incia ec onm ica. Marx e tambm R icardo jamais imaginaram a construo

    de explicaes econmicas fora da histria. Tinham suficiente senso de realidade para no postularem

    situa es ceteris paribus , a no ser co m o recurso de rac iocn io absolutam ente limitad o.

    O art igo parte da exposio de uma concepo pessoal do mtodo da Economia que,

    co m seu eclet ismo n o ao go sto de m uitos, am algam and o idias de M arx com a Fi losofia

    Anal t ica, forma um a base para ? comp reenso do estatuto terico dos principais con cei tos

    com que esse desd obra m ento da econom ia marxista , qu e a Teo ria da Regulao , descreve

    as principais relaes constitutivas da realidade explicada por essa disciplii ia cientfica.

    Aps a apresentao desses concei tos, uma t i l t ima parte do texto contm uma breve

    apresentao da gnese e das principais idias dos legulacionistas.

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    Pod e, no m xim o, andar mais devagar, conform e o aumento da veloc idade d o observador, co m o en s inou

    Einstein.

    No surpreendente que a Escola Neoclssica tenha pouco ou quase nada a dizer sobre a histria

    econ m ica, ramo com pletam ente hegem oniz ado pelos marxis tas , es trutural is tas e outros radicais .

    Suas ferramentas tericas no lhes permitem interpretar movimentos em que a passagem do tempo

    jogu e a lgu m p ap el d ec i s iv o .

    Alis , essa noo de transformao bastante presente , implc i ta ou expl ic i tamente, na obra dos

    clss ic os qu e f iindaram nossa c in cia . E no poderia ser d iferente , pois , no m om ento e m que produziram

    stja obra, estavam vivendo o final da longa transio entre o feudalismo e o capitalismo, a passagem

    entre dois estgios distintos.

    Essa crt ica fo i endereada Escola N eoclss ic a tamb m por Joan Rob inson nas seguintes palavras:

    A falta de um tratamento geral do tem po histrico e a incapacidad e de se especific arem regras do jo go

    no t ipo de econ omia em discuss o tom am o aparato te a- ico oferecido nos manuais ne ocls s icos in i t il

    para a anl ise dos problemas contempo rneos , tanto nas mic ro co m o nas macroesferas (Rob inson,

    1 9 7 9 . P . 1 6 6 ) .

    um

    t em po " lg ico" de um t em po "h i s t r i co" . Na ve rda de , o que se dev e te r em conta

    a h i s t o r i c idade dos even tos econ m icos . Ass im co m o o " t empo" i r r eve rs ve l (que

    o que se qu er dizer co m a no o de "his tr ico") ,'* os fen m eno s e con m icos tam b m

    geram s i t uaes de nore tomo. Ora , pa ra a Esco l a Neoc l ss i ca , o " t empo" reve rs

    v e l . Seu papel na const ruo ter ica dos margina l i s tas o de permi t i r o es tudo das

    t ra j e t r i a s de va r i ve i s pa ra a compreenso de seu compor t amento . A d i s t i no , que

    chegou a se r i ncorporada a e s se pa rad igma , en t re cur to e l ongo prazos , apenas

    apa ren t emente , pa rece mudar o " s t a tus" do t empo. Na ve rdade , o ca r t e r r eve rs ve l

    m a n t m - s e . C o m o p e r c e b e u a g u d a m e n t e K e y n e s , a n o o d e l o n g o p r a z o u l tr a p a s s a

    os l imi tes d o que a lcan v el pe la teor ia . Q ue m inco rpo rou teor ia a hi s tor ic idad e

    do s fenmeno s soc i a is dan do , a s s im, um t ra t amento cor re to p rob l em t i ca do t empo

    foi a Economia Pol t i ca .

    M arx escreveu sua

    Critica da Economia Pol t ica

    como uma e tapa na compreenso

    d o desaiv olv im ento d a sociedade himiana, anal isando o estgio capi tal is ta dessa t ransfor

    ma o, mais espec ificam aite as relaes sociais de produ o e dist t ibuio. As relaes

    sociais de produo e as foras produt ivas vinham, nessa concepo, desatvolvendo-se e

    t ransform ando -sedes deoc om eo da vida hum ana na te r ra. Para Marx, esse e ra o pen l t imo

    estgio, que de v ai a da r lugar ao soc ia l ismo com o e tapa de t rans io e ao com unism o com o

    ponto de chegada do pm;urso. Em sua bela imagem, passagem da pr-histria histria ,

    d o reino da necessidade para o reino da l iboxlade.

    O qu e fica re sga t ado nessa con cepo

    a h i s t o r i c idade da Eco nom ia . A evo lu o

    dos fenmenos soc ia i s prec i sa

    ser

    vi s ta sempre de forma di fe rente da evoluo dos

    estados

    da ma t r i a , por exemplo . Se e s t i ve r e s tudando os e s t ados do

    H2O,

    vou me

    depa ra r com fenmenos como a f i i s o ou o conge l amento , que , necessa r i amente so

    d i ac rn i cos , po i s no po sso t er do i s e s t ados da me sm a gua s imu l t aneamente , m as so

    perfe i tam ente revers v e i s . A m esm a gu a po de mud ar para ge lo e no vam ente se f imdir

    indef inidas vezes . J os fenmenos soc ia i s so i r revers ves (a no ser em raras

    excees) . Uma s i tuao a tua l produto de s i tuaes anter iores

    q u e p e r m a n e c e m

    p r od u z i n d o s e u s e f e it o s . De po is da int rodu o do caf no B ras i l, ou, mais rec ente m en

    te ,

    da implantao da indst r ia automobi l s t i ca , um conjunto de c i rcunstnc ias passou

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    1.1 - Destino, circunstn cias e esco lhas

    A ve r t en te por m ui tos anos do min an t e den t ro do m arx i sm o, p r inc ipa lmente a pa r t i r

    dos t r aba lhos de Kaut sky no i n t e r i o r da Segunda In t e rnac iona l , de senvolveu uma

    concepo da forma de ao das le i s nas c inc ias soc ia i s , pr inc ipa lmente na His tr ia ,

    be m di fe rente do que animcie i ac ima.* A conv ico d e seus adeptos e ra a d e qu e as l e i s

    de movimento do modo de p roduto cap i t a l i s t a e a s t endnc i a s por e l a s ge radas se

    impunham sobre a von t ade dos a to re s soc i a i s . Os homens , r eun idos em grupos e

    d iv id idos em c l a s se s , su rgem nessa v i so com o pr i s ione i ros de seus pap i s soc i a i s . O

    "s ignore" Agne l l i ou "Her r" Krupp no so pessoas com sen t imentos , von t ades ou

    convices , mas personagens condenados a segui r o "scr ipt" de capi ta l i s tas .

    Essas id i a s cho cam -se co m a v i so i lumin i s t a da na tureza hum ana , desen volv ida

    " in ext re rhi s" pe lo l ibera l i smo. Para esses idea l i s tas , a ao do homem, sua vontade ,

    sobrepe-se a qua lquer l imi tao das c i rcunstnc ias . o pr inc pio da l iberdade como

    N o vou aqui me referir a autores especif icam ente, em p rimeiro lugar, porque so demasiad o num ero

    s o s , mas tambm porque no h uma figura representativa da posio, a no ser, talvez, Stalin, mas

    seria demasiada generos idade cham-lo de autor, e generos idade certamente e le no merece. Alm

    d is s o ,

    mesmo o que de melhor o maraismo conquis tou para seus quadros , como Rosa Luxemburgo ou

    Trotsky, tambm e stev e, em grande parte de sua obra, preso a essa v is o reducionis ta da co mp lexid ade

    da trama histrica.

    a ex i s t i r , ao mesmo t empo em que ou t ra s desapa rece ram pa ra sempre , c i rcuns t nc i a s

    es tas que es to a condic ionar os fenmenos soc ia i s de forma a que exis tam hoje

    i r revers ive lmente di fe rentes do que ser iam diante de out ras c i rcunstnc ias hi s tr icas .

    Com essa a rgumentao, quero f r i sa r o car te r t e leolgico da hi s tr ia . Os eventos

    his tr icos so aque les em que um a a o a l te ra o ho r izo nte de ix)ss ibi l idades , im pe din do

    q u e ,

    por exem plo , u m eve n to possa se r r epe t i do . A evo lu o da rea li dade h i s t r i ca t em

    um sen t ido . Dizend o i s so , p re c i so segu i r ad i an t e e da r con t a da ex p l i cao desse ca r t e r

    te leolgico da hi s tr ia ou da cau sa d e sua exis tnc ia co m o di r ia Espinosa (19 89 ) . E n o

    a passagem do t empo, po i s mdo ocor re no t empo. Tampouco suf i c i en t e t una

    expl i cao pa r t icu l a r d e cada even to , po i s o m tod o c ien t fi co ex ige a gene ra l i zao .

    Ne sse sent ido, vrias teorias j foram prop ostas. O cam po da Econ om ia P ol t ica, q ue

    tem n o marxism o sua principal referncia , esbarra com a t radicional concep o da con tra

    dio entre relaes d e prod uo e desen volvim ento das foras produt ivas qu e sem pre

    vem de braos com o de terminismo econmico como geradora da hi s tor ic idade do

    temp o. Ora, o que M arx qu is dizer qu e os hom ens fazem a histria den tro d e cond ies

    predeterminadas. Essas condies so aquelas legadas das aes de outros hom ens q ue o s

    prece do am . Dian te

    delas ,

    so feitas escolhas qu e v o definir o sentido da evolu o histrica .

    Q ue escolhas sero feitas vai depe nder de quais do s mem bro s da colet ividade hum ana tm

    o poder de fazer as escolhas que devem ser

    s^uidas

    pe los demais e da vi so d e mu ndo

    desses homens, que lhes vai indicar quais dentre as possibi l idades dadas pelas condies

    do m om ai t o devem ser as opes prefera ic ia i s . A pos io que vou defender aqui que n o

    h inexorabi l idade ou deenninismo.

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    c o n d u t o r a

    da

    t rama his tr ica .

    No se

    pod e de ixa r

    de

    reconhec e r qu e , d ian t e

    da

    v i so

    ideal ista ,

    o

    de t e rm in i smo repre sen t a um av ano no sen t i do

    da

    c ient i f ic idade , pois to m a

    poss v e l um a viso obje tiva

    da

    hi s tr ia .

    O

    seu equ vo co

    o

    e x a g e r o .

    A

    forma

    de

    op e ra r

    das le i s soc ia i s , como exponf io

    a

    segui r ,

    tem

    ma i s

    a ver com

    t endnc i a s , m dia s

    e

    probabi l i dade

    do

    que co m im pl i caes l g i cas de t e rm in s t i ca s .

    O a r g u m e n t o a q u i s e g u e

    o

    m e s m o c a m i n h o

    que foi

    a p o n t a d o

    por

    M a r x

    em boa

    p a r t e

    de sua

    a v e n t u r a t e r ic a . B u s c a j u s t a m e n t e r e c u p e r a r

    o

    h o m e m

    por

    t rs

    do

    r t u l o .

    So os

    h o m e n s

    que

    fazem

    a

    h i s t r ia d e n t r o

    de

    c o n d i e s p r e d e t e r m i n a d a s ,

    condies e s t a s fe i t a s por e l e s m e s m o s ou d a d a s p e l a n a t u r e z a . As s i t uaes

    h i s t r i c a s

    so,

    p o i s ,

    u m

    r e s u l ta d o d e s s a s a e s h u m a n a s .

    O

    e q u v o c o

    do

    d e t e r m i

    n i s m o

    e x a t a m e n t e

    o de

    t o m a r

    a

    c a u s a p e l o e fe i t o . N o

    um a " le i gera l

    da

    Hi s t r i a "

    q u e

    se

    rea li za a t rav s

    das

    p e r s o n a g e n s a n i m a d a s p e l a e n e r g i a

    de

    seus i n t rpre t e s ,

    e s s e s p o b r e s A g n e l l i

    ou

    K m p p ,

    mas o

    c o n t r r i o .

    Soas aes desses homens, ao

    assumirem certas regularidades,

    que se

    fazem assemelhar

    obedincia

    de

    papis predeterminados. A

    tarefa

    das

    c i nc i a s soc i a i s

    ,

    p o i s ,

    a de

    e s tuda r e s sa s

    r e g u l a r i d a d e s

    e

    t e n t a r d e s c o b r i r

    at que

    p o n t o p o d e m

    ser

    e s t abe l ec idas l e i s

    de

    m o v i m e n t o

    qu e

    e x p l i q u e m

    seu

    c o m p o r t a m e n t o . N e s s e s e n t i d o ,

    i m p o r t a n t e r e te r

    a

    o b s e r v a o

    de

    L i p i e t z ( 1 9 8 5 , p . l 2 ) :

    "O fundo d a ques to

    ,

    co m o d iz i a Len in ,

    'a

    His tr ia t em inf ini tame nte mais

    imaginao

    que ns'.

    A q u e l a

    do

    gne ro humano, desse ' su j e i t o ob j e t i -

    v o ' ( K o s i k )

    que

    cria

    sua

    prpr ia hi s tr ia ,

    no

    co m o suje ito dota do

    de um

    pro j e to , mas com o

    um

    v a s t o c o r p o c o m p o s t o

    d e

    mi lhes

    d e

    sujei tos

    em

    luta

    uns com

    os

    o u t r o s ,

    com

    suas v i trias

    e

    s u as d e n o t a s " .

    Marx chamou a t eno , l ogo

    no

    pr im ei ro cap tulo

    d e OCapital

    (19 83) , pa ra

    o

    la to

    d e

    que na

    soc iedade capi ta l i s ta

    as

    re laes soc ia i s

    so

    fe t ichizadas .

    Os

    obje tos

    as

    mercador i a s

    pa recem

    os

    sujeitos

    do

    pro cess o s(x;ial ,

    em

    subs t i tu io aos verd adei

    ros sujei tos,

    os

    h o m e n s .

    O

    filsofo

    ou o

    cient ista social

    que se

    de bm a so bre e s sa

    rea l i dade cor re

    o

    r i sco

    de

    reproduz i r e s se e r ro .

    o que

    acon t ece quando

    se

    t o m a m

    abs t raes , conce i t os p roduz idos

    por

    n o s s a m e n t e , c o m o

    os

    pap i s

    de

    c lasse , pe los

    verd adei ro s suje itos do s processo s hi s tr icos . Lipie tz t raz du as c i taes

    d e

    M a r x ,

    uma

    d e

    ASagrada Famliae

    ou t ra

    d e um

    rascut iho p araO

    Capital,que

    i lus t ram , c r i s ta l i -

    nam ente , e s sa d if i cu ldade .

    A

    p r ime i ra : "Ass im com o

    fcil , partindo de fi i i tos reais,

    e n g e n d r a r

    a

    repre sen t ao abs t ra t a

    do

    ' f ru to ' ,

    di f c i l , par t indo

    da

    id ia abs t ia ta

    do

    f i^to, de engendrar fmtos reais" .

    Eaou t ra ,

    "Se eu

    d i g o :

    o d i r e i to r o m a n o

    e o

    d i re i t o a l em o so um

    e

    ou t ro d i re i t o , i s so

    s e c o m p r e e n d e p o r

    s i .

    M as se eu

    d i g o :

    o dire i to, essa coisa abstrata , se real iz a

    no d i re i t o romano

    e no

    di re i to a lemo, quer dizer , d i re i tos concre tos ,

    a

    i n t e rconexo

    se

    t om a m s t ica" (L ip i e t z , 19 85 , p . l 3 ) .

    O c a m i n h o

    da

    c i nc i a econmica

    ,

    pois , es tudar cer tas regular idades , t enta r

    es tabe lecer l e i s

    d e

    m o v i m e n t o d e s s a s r e g u la r id a d e s

    e

    t ambm aponta r onde enf ra ram

    em c r i se

    e

    que razes l eva ram

    exis tnc ia essas regular idades

    e

    suas c r i ses .

    Em out ra s pa l avra s ,

    o que se

    a p r e n d e

    com

    essa inte rpre tao

    do

    ma te r i a l i smo

    hi s t r i co

    que n o ex i s t e

    um

    de st in o t iaado p ara

    a

    e v o l u o h u m a n a

    na

    Terra . Essa

    trajet&ia histrica

    resultado de opes qu e os grupos dom inantes da s sociedades h um anas

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    1.2 - A exp licao cientifica

    A problemt ica da expl icao c ient f ica uma das ques tes que cobram um

    esc l a rec imento p rv io pa r a ev i t a r ma l -en t end idos , e obr ig a -no s a um a peq uen a i ncur so

    na seara da f ilosofia da c in c ia . Isso pr inc ipa lm ente po rqu e , den t re os adep tos bras i le i

    ros da E cono mia Po l t ica , h um g rapo n um eroso , i n f luen t e e de g rande con t r i bu i o

    ao progresso dessa d i sc ip l ina en t re ns , bem. co m o com preen so da soc i edade

    bras i le i ra , que tem uma viso divergente da que or ie rr ta es te t raba l l io . Tra ta -se do

    conjun to de pesqu i sadores reun idos em tom o de Luiz G. Be l luzzo , Joo M anoe l C . d e

    Mel lo , Mar io Possas e F rede r i co Mazzuche l l i , eatre ou t ros , t endo com o refernc ia o

    Ins t i tu to de i2conomia da U niv ers id ade de Cam pirras .

    A divergncia foi exposta num comentr io que escrevi (Far ia , 1985) a respe i to da

    publ icao da tese de doutoraro.eno de Mazzuci ie i l i (1985) . Seu ceme perro.anece o

    m esm o e vou t ra ta r d e exp - lo brevem.ente.

    Na quela ocas io , eu a rgum enta va qu e o eqii vo co cent ra l da conc ep o de ssa escola

    e ra a no-obed i nc i a P ropos i o XXVI da Fa r t e

    l

    da t i ca de Esp inosa , que

    postu lava que qua lquer coisa s ingular ou f inia e co m exis nc ia de te rm inad a no p od e

    exis t i r se n o po r out ra causa tam bm f iuita e com ex is tnc ia de te rm inad a . Na d em on s-

    rao dessa proposio, Espinosa diz :

    "Ora , o que f n io e t em exis to c ia de te rm inad a n o pod e ter s ido pro du zido pe la

    i f tureza absoluta de um a t r ibuto de Deus , pois o que resul ta da na tureza absoluta de

    u m a t r ibuto de .Deus abs olu to e efcsmo" (Espinosa , 198 9, p .39- 40 ) .

    A le i tura que aqueles autores de Campinas fazem da obra de Marx cr ia uma

    separao desse t ipo ao dividi r a cons t rao ter ic j i do marxismo ent re duas esferas ,

    sendo qu e a ma i s abs tra a no apa rece com o necessa r i am ente send o um a gene ra l i zao

    do qu e par t icular na esfera on de se rea l iza a ob serv ao em p r ica . Por opo sio a essa ,

    que f n i ta e de te rminada , a esfera da abs t rao opera , em seu modo de pensar , como

    se fosse absoluta e e ema.

    A jornada de trabalho de oito hws e a previdncia social no foram certamente desejadas pelos

    empresrias que compu nham o grupo d irigente da sociedad e industria l contem pornea.

    foram ado tand o, ma is ou me no s con st rang idos pe los gr up os suba l te rnos e c ircunscr itos

    s possibilidades dadas

    j^elas

    circunstncias. Em outras palavras, o sentido da histria

    resultado da cm el a o de foras ait re as classes e as fraes de classes sociais que se apem

    na luta pela definio d a forma q ue vai assumir o fii turo da soc iedade. A concep o de mu rdo

    de cada grap o don nan e, em cada m om ento histrico, aponta a direo perseguida pelas aes

    empreendidas no acabamento do projeto social desejado. A clareza dos rumos a seguir e a

    co a^ nc ia co m o projeto so porsupo.to incertas,

    j x j s

    a ao humana tem motivaes m uito

    alm da razo, ou pode ser empreiandkia sem ccaidits de avaliar suas coiiseqncias. Em

    suma, pode ser um v o cego .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    E m

    sua

    const ruo ter ica ,

    o

    g rande pensador a l emo u t i l i zou-se ,

    com

    ex m ia

    maes t r i a ,

    d o

    r e c u r s o

    de

    es tabe lecer n ve i s

    de

    abs t rao d i s t in tos

    que

    Uies perm i t i ssem

    hie ra rqu i za rocon jmi to das de t e rm inaes qu e cau sam os fenm enos soc i a is no sen t i do

    de e s t abe l ece roq u ee s senc i a le oque so ou t ra s de t e rm inaesd e car te r secundr io

    ou coad juvan t e . Come s se m todo , Ma rx podia , pa ra com preen de r a fo rmao dos

    preos ou o com po r t am ento do s i nm eros cap i t a is ind iv idua i s , t r anspor - se a um e l evado

    g r a ude abs trao , ond eseencont rava o v a l o re ocapital em g e r a l , d e s v e n d a ra sua

    l g i ca i n t emae es tabe lecer qua isas suasleis de movimentoou suas de t e rm inaes ,

    que se sobrep em aout ras foras in te rven ientesnaexis tnc ia rea l do s fenm eno s . E sse

    p r o c e d i m e n t o t emo mesmo s ign i f i cado pa raac o n s t r u od aexpl ica o c ient f icada

    c r i ao

    de um

    ambiente art i f ic ial

    em um

    l abora t r io ,

    em que se

    i solam o ut ros fa tores

    para es tabe leceroqu e "de termina exis t ir"of e n m e n oemo b s e r v a o .

    A l e i t u ra qu e Be l luzzo , M azzuch e l l e osou t ros fazemdom t o d odeM a r x b e m

    out ra . Pa ra e l e s ,on ve ldeabs t rao em qu e fo ram formuladas asleisg e r a i sdom o d o

    de pro du o cap i t al i st a o n d easre laesdep r o d u o e s t o r ed u z i d a s sim forma

    mai s s imples no a q u e l eem que o capi ta l em ge ra l se c o n t r a p e ao t raba lho

    abs t ra to ,massem de ixa r r epre sen t a r are l ao m ui to conc re t ade um m e ta l rg i co

    c o mot o m o ,e, s im, corresponde aos a t r ibutosdeD e u sde quenos fala Esp inosa .Sua

    l e i tura de M arx cr ia um a dico tom ia ent re f in ito

    e

    infinito

    ou

    abso lu to

    e

    d e t e rm i n a d o ,

    a

    e x e m p l o d e E s p i n o s a .Aabs t rao ope rada por Ma rx nad a t ema ver co m "os a t r ibutos

    d iv inos"

    do

    f ilsofo, po is as le is gerais ima gin ada s por M ar x so

    a

    causa dos fenmenos

    conc re tos ,com asmodi f i caes que re su l t amda i n t e rvenodeou t ra s de t e rmina es

    de imp or t nc i a men or pa raosres ulta do s finais.

    Oque osa u t o r e sdeC a m p i n a s c h a m a mde " p l a n odocap i t a l emg e r a l " c o r r e s

    p o n d eaoa b s o l u t odeE s p i n o s a . N i m c a ac a u s ado "fini toed e t e r m i n a d o " , p o i sh

    s e m p r e u m a " m e d i a o " e n t r e a b s t r a t oec o n c r e t o q u e i m p e d e q u eumse ja ded t jz ido

    d o o u t r o .

    E s s e p o n t o m e r e c e um b r e v e c o m e n t r i o e l u c i d a t i v o . A m e d i a o uma

    c a t e g o r i a da d i a l t i c a que r e a l i z a a u n i d a d e e n t r e os p l o s o p o s t o s em que se

    c o n s t r i

    a

    t o t a l i d a d e ,

    o um que se

    d i v i d e

    em

    d o i s " .

    Um a

    n e g a o

    do

    o u t r o ,

    m a s r e n e m - s eemu m a r e l a o " u n a "e c o n t r ad i t r ia . A s s i m c o m oo p e n s a m e n t o

    h u m a n o p r o f u s o em a n t i n o m i a s , t a m b m a r e a l i d a d e s o c i a l , p r o d u z i d a p e l o s

    h o m e n s ,c o n t r a d i t r i a . M a r x c o n t ru i uoc o n c e i t odef e t i c h is m o j u s t a m e n t e p a r a

    d a r c o n t a d i s s o . Noe n t a n t o no posso i m a g i n a r umar e l a o d i a l t i c a e n t r e lei

    e x p l i c a t i v a e f e n m e n o a serm e d i a d a em suao p o s i o , p o i s e s t a r i a v i o l a n d o o

    p r i n c p i o

    da no-contradio.

    Essa a p rob l em t i ca da re l aodo m a r x i s m o com a c i nc i a .E, noe n t a n t o , o

    p r p r i o Ma r xjdi ssera :

    "Os ex t rem os rea i s n o pode m media r - se en t re s i , p rec i sam ente porq ue so ex t re

    mos rea i s .E tam pou co prec i sam de mediao a lgum a , porq ue sodena t t ueza opos t a "

    (M arx apud Cole t ti , 1977 , p . l 6 7 ) .

    As opos i es quearea l ida de nos apresenta so, em g era l , ext re mo s rea i s , por tanto,

    no pass ve i s de s e r e m s u b s u m i d a s em uma expl icao dia l t ica- As con t i ad i es

    p r o d u z i d a s p e lo s h o m e n snav ida soc i al , med iadas d i a l e t i camente po r Ma rx a t i avsda

    n o odefe t ichismo, s ou mou t i o p rob l ema , a inda sem poss ib i l i daded ese r h a r m o n i

    z a d o c o moq u ege ra lm ente ace i to com o expl i cao c i en t f ica .

    O equ voco op o ad o pe los autore sd eCam pinas ex plora essa out ia facetadopensa -

    m a i t o d e M a r x:anoodequ eareal idadedasociedade capitalista invertida,dequ eos

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    Tanto M azzuc hel l i (1985 ) co m o BeU uzzo (1980 ) buscam construir uma mediao para suprir essa

    lacuna na obra de M arx. Para tanto , vSo buscar amalgamar o m arxism o co m um instrumental teric o

    estranho a esse campo de anl ise , principalmente atravs de Keynes . O problema a d if icu ldade de

    reunir num m esm o corp o terico , enunciados de origem to d iversa sem cair em am bigidades o u at

    contrad ies . I sso no quer d izer que se de vam menosprezar as descobertas de outros autores , o que

    seria to l ice , mas que se o faa cerca do dos cuidados m etod olg icos necessrios .

    A pis ta que fo i m elhor desenvolvida-por vrios marxis tas indica que a forma dessa p assage m depend e

    da natureza do objeto de anl ise .

    fenmenos se t ransf iguram no seu cont r r io . Por s imet r ia , t ambm a expl icao

    ciait fica d essa realidade d e pernas para o ar precisaria ser "mediada" para corresp on der ao

    objeto.

    N o quero resolve r o pro blem a aqu i , a t a re fa dos f i lsofos , m as lem br o que , se ,

    por exemp lo , na t roca com pra e vend a , e l a s apa recem co m o opos tos qu e no se p od em

    separar , pois a c r i se " recobrar ia sua imidade" , i sso apenas a aparnc ia e depende do

    ngulo de obse rv ao . O mes m o a to (qu e um s) po de se r v i s t o com o comp ra ou co m o

    venda . N o h , necessa r i am ente , um a con t rad i o A moe da i n t e rmede i a a s d ive rsa s

    me tamorfoses por que passa o va lor em seu processo de p rod uo e rea l izao . N o

    sua negao, mas seu representante , uma de suas formas .

    Do me sm o mo do, a apa rn c i a (por exem plo , igua ldade dos hom ens ) o con t r r i o

    da e s snc i a (exp lorao) un i camen te no d i scurso ( i deo lg i co) que desc reve os fen m e

    n o s .A ex plor ao to rea l e obje t iva qu anto a di fe rena ent re os lucros e os sa l r io s .

    Para descrev - la , n o pre c i so form ular um a " le i d e m ov im ento " que seja o con t r r io d a

    " le i imanen te" , por m qu e apenas d con t a de um conjun to de ou t ra s de t e rmina es de

    ca r te r secund r io em re l ao

    le i ge ral .

    O objet ivo perseguido por M arx em sua investigao, e pelos se^ id o re s q ue fiz aa m a

    anh se avanar do po nto e m qu e o piraieiro parou, foi o estabelecimento das leis geaais q ue

    rege m o ftmcionameaito d o m od o de produ o capitalista e d e co m o essas leis se trans} nnam

    em leis particulares, coaxtivas, qu e se realizam no plano dos capitais cm cret os ed o s trabalhos

    con cretos.E m outras palavr as,a "passagem" do pla no ab stra tod o "capital em geral",d o "valor"

    e d a "mais-valia" para o pla no ccmcreto da plurah dade do s capitais erfientan do -se conq jetiti-

    va m aite , dos preos e dos lucros a direo que vai percorrer em sua anhse. O qu e M arx n o

    deixou muito claro, e certammte a causa de muitas

    incomMieenses,'

    como se d a

    passagem a i t re esses dois p lan os . ' '

    O C ap i ta l par te da an l i se da me rcado r ia , d e suas carac te r s t icas e da sub s tnc ia e

    medida de seu va lor . S ma i s ad i an t e que se r e smdado o p rocesso de p roduo

    capi ta l i s ta de forma globa l , depois de se expl icar a produo, a c i rculao e a acumu

    lao d e capi ta l . To da a con s t ru o ter ica fei ta em u m nve l de abs t ra o qu e pe rm i ta

    compreende r o fenmeno em sua e s snc i a

    ( termo

    m dio i dea l " ) , pa r t i ndo das de t e r

    minaes ma i s s imples pa ra a s ma i s complexas . I s so no que r d i ze r que ex i s t a uma

    dicotomia ent re dois nve i s de an l i se , mas que a abs t rao s tem sent ido na medida

    em q ue consegu e cap tura r o conc re to em sua e ssnc i a , em qu e o " te rmo m dio i dea l "

    se ja rea lme nte a md ia em tp m o da qua l g rav i t am os fenmeno s con c re tos , em qu e a s

    de t e rminae s do rea l e s t e j am subsum idas na norm a g e ra l .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

    10/25

    12

    A justif icativa implcita ano-aceitao de uma dedu o matem tica dos preosdeproduoapartir

    dos valores, pois seria uitua explicao pela lgica formal, no dialtica.

    ' U s oatemd n olog iadoprprio Marjt tanto por res]()eitoaoautor co m o porsua inegvel fora retrica.

    Seu real oontet do cog nit iv o dev e ser rela l iv izado, co m o j argumentei acima .

    A aparente di s tnc ia ent re os resul tados qu e po de m ser ded uzid os das le is gera i s

    e

    os

    fenmeno s conc re tos

    que

    o

    func ionamento

    da

    econ om ia nos apre sen t a n o

    dev ida

    a

    uma

    ca t egor ia t er ica co m o

    a

    concor rnc i a

    nas

    id i a s daque l e s au tore s ,

    a

    aUiar

    c o m o " m e d i a o " ,

    mas, sim,

    s o b r e d e t e rm i n a o

    de

    ou t ra s va r i ve i s

    que

    c r i am

    c o n d i c i o n a m e n t o s

    ap l i cao

    da

    n o r m a g e r a l.

    A

    d e t e n n i n a o

    da

    concor rnc i a d -s e

    no

    m b i to

    de

    u m c o n c e i t o a b s t r a t o d e c a p i t al , c o m o p o d e s e r v i s t o c l ar a m e n t e n a a n l i s e

    da ques t o

    do

    va lor

    ede sua

    t r ans formao

    em

    p r e o s

    de

    p r o d u o , o n d e

    a

    id ia

    da

    m o b i l i d a d e

    do

    cap i t a l

    e a da

    fo rmao

    de uma

    taxa

    de

    l u c r o m d i a p e r m a n e c e m

    ci rcunscr i tas

    em

    um p l ano t er i co .

    A viso des ses autores so bre essa qu es to t ra ta d e desqu al i f icar

    o

    p r o c e d im e n t o d a

    t rans formao , acusando -o

    de

    me todo log i cam ente " e li d ir a me diao" ao de r iva r p reos

    d e p r o d u o

    de

    va lore s . Ora ,

    q u e

    fei to

    no

    p r o c e d i m e n t o

    p rocura r mos t ra r como

    os va lores ,

    em

    t e r m o s

    de

    t r aba lho ,

    se

    t rans form am

    em

    p reos

    d e

    p r o d u o a t r a v s

    da

    concorrncia,

    via

    p r o c e s s o

    de

    l iberao

    e

    a b s o r o

    de

    capi ta i s ,

    na

    b u s c a

    do

    lucro

    m x i m o

    e,

    nesse caminho , fo rmando un i a t axa mdia un i forme

    de

    l uc ro . Ante s

    de

    m e d i a o ,

    a

    conco r rnc i a ope ra um a re s tr i o ,

    a o

    de t e rm ina r l imi t e s pa ra

    a

    fo rmao

    dos

    p r e o s .

    Nu m

    passo segu in t e , t em-se i nves t i gado c om o

    a

    s o b r e d e t e rm i n a o

    de

    out ras causas ( inte rveno

    d o

    Esta do , es t ruturas

    de

    m e r c a d o , c o n c e n t r a o

    e

    cent ra l i

    z a o

    d o

    capi ta l , regime monetr io , conf l i to di s t r ibut ivo, e tc . )

    vai

    levar

    f ixao

    dos

    p r e o s

    d e

    m e r c a d o

    e,

    poss ive lm ente ,

    di fe ren c iao d as taxas

    d e

    lucro .

    T o d a

    a

    tentat iva

    d e

    exp l i ca r

    a

    subsun o dos fenm enos conc re tos

    nas

    le is gerais ,

    c o m o

    no

    ca so

    d a

    d e d u o d o s p r e o s

    a

    par t i r

    d o

    va lor - t r aba lho pe lo p roced im ento

    d a

    t r ans formao ,

    recusada p or rea l i za r

    a

    ' e l i s o me td i ca das ca t egor i a s

    de

    mediao"

    (M azzuche ih , 1985) . Go m o n o se j us ti f ica a necess id ade das ca t egor i a s de med iao ,

    n e m

    se

    expl ic i tam quais devam ser ,

    a

    a f i rmao

    re tr ica

    e

    vaz i a .

    O

    re su l t ado t er i co

    a rea lizao d e an l i ses basead as em K eyn es e K alec ki e apre senta das co m o d e aco rdo

    comas le i s gera i s "abs t ra tas" formuladas

    por

    M arx , O bje t i vamente ,

    a

    abs t rao no

    apenas redundan te , mas desnecess r ia

    ou

    a t con t radi tr ia .

    A sepa ra o en t re d ife ren t e s n ve i s de abs t rao , en t re cap i t a l

    em

    g e r a

    e

    os vr ios

    capi ta i s , ent re t raba lh o abs t ra to

    e

    t r aba lhos conc re tos , de ve

    ser

    v i s ta co m o recurso

    d e

    mtodo pa ra faze r

    a

    d i s t i no en t re

    um

    m o v i m e n t o t e n d e n e i a l

    da

    es t rutura

    e sua

    t r ans formao

    e o

    movimento " rea l " .

    As

    le is gera is

    ou

    i m a n e n t e s

    so

    represen ta t ivas

    d o m o m e n t o deu n i d a d e nod e s e n v o l v i m e n t o dascon t rad i es qu ei m p u l s i o n a m os

    fenmenos soc i a i s .

    O

    m o m e n to

    de

    lute t raz co nsig o

    a

    sobrede t e rminao

    das

    formas

    jus idicas

    e

    i deo lg i cas , onde

    se

    expressa

    a

    oposio ent re in te resses cont r r ios

    dos

    grupo s soc i a i s , r e su l t ando da

    as

    s i tuaes conc re t a s .

    a q u i q u e

    se

    i nsc reve

    a

    id ia

    de

    M a r x d e q u e

    a

    fo rma merc ador i a t r az

    em si a

    poss ib i l i dade fo rma l

    da

    c r i se ,

    ao

    separar

    o a to de co m pr ad o a to de vend a . A c r i se apa rece com o

    o

    m o m e n t o e m q u e e s sa o p o s i o

    ami tt ica entre compra

    e

    venda recobra

    sua

    un idad e v io l en t am ente . ' Ressa l t a M arx ,

    no entan to, qu e isso s acon tecer aps

    o

    e s t ebe l ec imen to de um conjun to de condies

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

    11/25

    1

    ,3

    - As leis de mo vim ento d a econom ia

    Na const ruo de seu edi f c io c ient f ico, Marx t inha como obje t ivo o enunciado

    das le i s gera i s do moo de p rod uo cap i ta l is t a . R i ca rdo , Ad am Smi th ou Ma l hus

    hav i am caminhado na mesma d i reo t ambm. Ao ado t a rem esse p roced imento , e s se s

    c lss icos es tavam seguindo as recomendaes da pr t ica c ient f ica de sua poca .

    O bse rva vam a rea l idad e e procu rav am desco br i r por trs de la a exis tnc ia de le i s gera i s

    que pre s id i am os fenm enos e suas regu l a r idades .

    A g i n d o a s s i m , e s t a v a m c o n s tr u i n d o e x p l ic a e s d o t ip o m o m o l g i c o - d e d u i v o ' ' ,

    com o c la s s if i cou H em pe l . I s to , expl i cao d -se pe l a subsun o do que exp l i cad o

    sob l e i s ge ra i s . O e squema desse t i po de exp l i cao o segu in t e : um enunc i ado

    A postulao da necess id ade de uma categoria mediadora entre le i e fen me no d eve , nece ssariamente,

    pr em dvida a prpria val idade da le i . Confo nne a d ia lt ica de M arx, a med iao n ecessria para

    possibilitar a unidade dos contrrios. Ora, se h contradio entre lei e fenmeno que exija alguma

    me dia o, nolsespM calSo e , portanto, no h c inc ia , pelo m eno s de acor do co m o mtod o cie nt f ico

    usual , que expl ica opo s i es entre extrem os reais , no pass ve is de me dia o de acordo com a c i tao

    de Marx mais acim a. N o pode haver nenhuma me diao entre , por exem plo , a queda de um cor po e a

    le i da gravidade. A determinao de a lguma circunstncia , co m o o atrito do ar, no m edia o. M esm o

    que foss e provada a exist ncia de uma partcula grviton, ela seria uma sim ple s forma corprea da fora,

    que agente da lei e no categoria mediadora. Sua descoberta no acrescentaria nada ao poder

    expl ic at ivo da le i , em que pese seu papel no dese nvo lvim ento da Teoria da Grande Unif ica o.

    Quer d izer que de uma premissa se t ira logicamente uma concluso (deduo) e que essa premissa

    uma les ( nomolgica) .

    que t rans formaro o p roc esso de c i rcu l ao de me rcador i a s e m processo de c i rcu l ao

    do capi ta l , quando a produo macant i l toma a fom-ia de produo capi ta l i s ta .

    A compreenso desses fenmenos , que o p rpr io ob j e to da Economia , s

    poss ve l com o es tabe lec imento das le i s gera i s (da es t rutura) e da forma como os

    acontec imentos concre tos so subsumidos nessas le i s . Quer dizer , a apl icabi l idade das

    " le is gera i s" t em que ser m ost rad a . Ora , neg ar esse pro ced im ento , co m o faz a esco la d e

    Cam pinas , nega r o p rpr io ca r te r c ien t f i co da E con om ia , po i s :

    "As 'expl icaes ' que impl icam conce i tos que no fur tc ionam em hipteses

    emp r i ca s com provv e i s t a is com o a ' en e l qu i a ' na b io log i a , o ' de s t i no

    h i s t r i co de uma raa ' ou o ' au todesenvolv imento da razo abso lu t a ' na

    h i s t r i a so s imples me t fora s sem nenhum contedo cogni t i vo" (Hem-

    p e l , 1979 , p .23 9) .

    As s im , fa la r em "nve l do capi ta em gera l" , co m le i s e de te rm ina es diversas d o

    "nve l dos capi ta i s concre tos" , uma vez que deve haver , necessar iamente , "mediao"

    na pass agem de um p l ano t er i co pa i a ou t ro , s t em sen t i do se fo r dem ons t rado com

    o p er a e s sa mediao ' ' * ou , nas pa l avra s de M arx , com o as " le is ge ra is " se man i fe s tam

    co m o " le is coerc i t ivas" . Ca so cont r r io , de ve m -se aba nd on ar as " le is gera i s" , pois e las

    no t m ne nh um pode r exp l i ca ti vo dos fenmenos con c re tos .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

    12/25

    exp l i cado , que co i respon de ao fenmeno obse rv ado , cham adoporH e m p e lde expla-

    nandum , d e d u z i d od e umcon jun to de p rem issas ,o explanans ,que cons t adeleis

    gera is

    e de

    ou tros enunc iado s

    que

    fazem a f i rmaes

    em

    re l ao

    a

    fa tos con cre tos .

    Em

    suas palav ras: "As le is invoc adas num a expl ica o c ient f ica cham ar-se- o tam bm leis

    abarcadorasdo f e n m e n o 'explanandum%edir-se-q u eaa rgumen tao exp l i ca tiva

    s u b s u m eo'explanandum' s ob essas le i s"(H em pel , 197 3, p .82 ) . Ess e t ipodeexp l i ca

    o

    foi

    u t i l izado,

    por

    exem plo , pa ra deduz i r

    as

    rb i tas

    dos

    planetas. Part iu-se das leis

    gera is

    da

    g rav it ao enu nc iadas

    por

    N e w t o n

    em sua

    mecn ica , ag reg aram-s e ou t ros

    e n u n c i a d o s , c o m o

    as

    pos i es

    e

    massas

    dos

    corpos in tervenientes ,

    e

    c h e g o u - s e

    ao

    explanandum ,as

    equ a es das rb i tas .

    Hem pel ens ina que toda

    a

    expl icao c ient fica d ev e cum pri r dois requis i tos ,

    o da

    relevnciaexplicativa

    e o da

    contrastabilidade.

    Por re levncia expl ica t iva quer d izer

    a robus tez

    da

    exp l i cao

    no

    sent ido

    de dar

    base suf ic iente para

    que se

    cre ia

    que o

    fenmeno exp l i cado t eve

    ou

    ter lugar . Mesmo

    se a

    m a

    no

    tivesse ca d o

    em sua

    cabea , Newton saber i a ,apar t i rda lei dag rav i t ao un ive rsa l , desaconse lha rque se

    t i ra sse um a soneca emba ixod euma j aque i ra .Orequis i todacont ras tabi l idad e im pl ica

    q u eos enunciados expl ica t ivos se jam passveisdec o m p ro v a o e m p r ic a ,emout ras

    pa lav ras , e s t abe lece r em 'que cond ies se r i am re fu tve i s . A respei to desse t ipo de

    exp l i cao Hempel

    ( 1 9 7 3 ,

    p .82) d iz :

    "As explicaes

    nomol ico-dedutivas

    satisfazem o requ isito da relevnc ia

    exph-

    cavn

    n o sraitido

    mais

    forte possv el:

    a

    infcamao explicativa qu e p roporcionam

    impl icadedut ivamai teoenunciado'explanandiun'e oferece, pcatanto, um abase

    lgica conchKkaite para esp erar que se prod uza

    o

    fenmeno

    'explanandum'./...)

    EcumMetamb m o requisito da contrastabilidade, pw qu eo'explanans'imphca,

    entreoutras coisas, que so bascondi es espec ificadasseproduziro fo i m a i o

    'explanandum'(grifodo autor)".

    U m exem plo de exp l i cao nomolg ico -dedu t iva em econom ia ateoria do v alor.

    Osc l ss i cos ,apar t i rd eS m i thep r inc ipa lmen te Rica rd o , supuse ramuma lei do valor

    que t inha como ponto

    de

    par t ida

    a

    pos tu l ao

    de que as

    d i ferenas

    de

    p r e o s

    das

    mercador i as sod e v i d a sad i ferentes quan t idadesde t rabalho necessr ias p ro d u o

    de cada uma de las .Adem ons t ra o dessa l e i recebeuoe n o rm e im p u l s o d e M a rx ,mas

    perrnanec eu insati sfa tr ia a t Bortk iw icz . M ais rece ntem ente , o uso de uma fen am en ta

    algbrica melhor desenvolv ida possib i l i tou suad e m o n s t r a o de forma sat isfatria,

    c o maso luodop ro b l e m adat rans fo rmao .Osp reos so deduz idosdaquan t idade

    de t rabalho necessr ia

    p ro d u o

    das

    mercador i as , dada

    a

    t ecno log ia (compos io

    orgn ica

    do

    capi ta l

    e

    es t ru tu ra

    d e

    p ro d u o )

    e

    d e p e n d e n d o

    da

    d is t r ibuio

    d e

    r e n d a

    (a

    part ic ipa o dos sa lr ios) .

    Essa

    um a "lei gera l"

    do

    mo do de p rodu o cap i t a li s t a . Ne la e s t o subsum idos

    os

    fenmenos concre tos . D e

    posse

    de uma m ah iz de in sum o-produ to , ca l cu lada ro t ine i ra

    mente pelos organismos of ic ia is de es ta t s t ica econmica emtodos os pases (pelo

    m e n o snos que do impor t nc ia a esse frabalho), e de um ve to r rep resen ta t ivo da

    quan t idaded e tiabalho utilizadanage rao daque le p rodu to , posso exp l i ca ros preos

    a l i rep resen tados com o sendoa ti-ansformaodeva lo res - t i aba lho .b e m p ro v v e lque

    a lgum res duo pe rmane a aps operadaa t ransformao. As d ivergncias en t ie preos

    d e p ro d u oepreos rea lm ente ver i f icados, que po de m ser "congelado s"ou " a d m i n i s

    t rados ,so resul tado da in terferncia de out ras deter min a es na prod u o do resu l tado

    final capta do pela pes quis a em p ica . T maver co m fa tores co m o est ru tura de m erc ad o

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

    13/25

    A no ser no sent ido de que muito p ouc o provvel que a socie dad e humana sobr eviva ao s is tema solar.

    D e qualquer maneira , no se p ode saber que forma ter es ta lt ima colet iv ida de d os ho me ns .

    O es tabe lecim ento de le is probabil is ticas na Fs ica , inaugurado pela mecn ica qunt ica , tev e sempr e a

    res p e itve l op os i od e E in s te in . Mais recen temen te , o d es en vo lv imen to d a matemtica d o caos s u gere

    que ta lvez e las sejam apenas resultado da insuf ic incia de informaes . Uma vez que a observao

    possa deixar de ser parcial, dev er o ser substitudas por leis determ instica s. D e qualqu er forma, na falta

    de outra expl ica o, a teoria dos quanta o que exis te .

    Em bora o prprio M arx pretendesse ter desc obe rto a Cincia da Histria

    ou a rb i t r agem do E s t ado , en t re ou t ros . N o en t an to , a s s im co m o no have r i a t r ans l ao

    da t e r ra em to m o do so l sem ob edi nc i a l e i da g rav idade (m esm o que aprox im a t iva ,

    como se sabe pe la teor ia da re la t ividade gera l ) , t ambm no subs i s t i r i a o modo de

    produo cap i t ahs t a se a lguma razo qua lque r desv i a s se pe rmanentemente os p reos

    de mercado (os rea lmente obse rvados ) dos p reos de p roduo . O s i s t ema no se

    reproduzi r ia , ou se ja , no poder ia cont inuar exis t indo pe la fa l ta de um mecanismo que

    regu l a sse seu func ionam ento e imp edi s se que a s dec i ses i nd iv idua i s qu e o p em em

    mo vim ento fossem cont rad i t r ia s e p rodu z i s sem um a s i tuao ca t i ca .

    Afi rmei no i t em 1.2 que as l e i s gera i s da economia se mani fes tam como le i s

    coe rc i t i va s . I s t o qu e r d i ze r que , pa ra os mem bros da soc i ed ade , a s le i s de m ov ime nto

    apa recem no como re su l t ado da ao mdia dos i nd iv duos , mas como impos i o da

    c i rcuns t nc i a da v ida soc i a l. Mes m o dese j ando ou t ro des r ino , enqua nto no se c r i a rem

    c i rcuns t nc i a s ouf ra s , os homens e mulhe re s t e ro de se a t e r ao compor t amento

    necessr io cont inuidade da es tmtura soc ia l na forma como exis te . As le i s dessa

    es tm tura imp em -se co m o coe r o , ma te r i a l izada nas no rm as soc i a is e nas c on seq n

    c ias pena is de sua desobedinc ia .

    O des t i no soc i a l , en t re t an to , no e s t t raado com o es t , por exem plo , o d e um a

    es t re l a . ' " H sempre ma i s de um caminho por onde pode seguh a modi f i cao da

    es tmtura soc i a l . En t re t an to , uma vez cons tmda pe los homens dent ro de suas

    poss ib i l i dades e dese jos , uma de t e rminada e s tmtura soc i a l pode se r exp l i cada

    c i en ti f icamente co m o qua lq ue r ou t ro fenm eno.

    A di fe rena mais marcante em re lao s c inc ias na tura i s que as l e i s nas

    disc ipl inas humanas tm car te r t endencia l . Assemelham-se s l e i s probabi l s t cas da

    F s i c a ' ' , p o r e x e m p l o , c o m u m s e n o : e s s a s t e n d n c i as ( o " t er m o m d i o i d ea l" d e M a r x )

    so ve r i f i cadas enquanto o compor t amento dos membros da soc i edade condizen t e

    com a manuteno do s i s t ema . A poss ib i l i dade de um compor t amento subve rs ivo

    ex i s t e , s endo a sucesso de e s t g ios da h i s t r i a humana t e s t emunha da mptura de

    regularidades na soc iedad e . Ca da pro ces so des ses , qu e se ch am a rev olu es , impl ico u

    ao seu t rmino o e s t abe l ec imento d e novas regu l a r idades e , por t an to , dev e se r exp l i cado

    por novas l e i s de movimento .

    A

    i n t e rpre t ao desses p rocesso s de m ptu ra ob j e t i vo

    da abordagem his tr ica , que , no entanto, t em di f iculdade de te r um "s ta tus" c ient f ico

    reconh ec ido pe l a impo ss ib i l i dade da gene ra l i zao , po i s os fenmen os h i s t r i cos so

    s ingul a re s . N um m bi to de m en or p rofundidade das m uda nas e s t ra tu ra is , pod e -se

    t eor iza r um a evo luo da p rpr i a e s tmtura co m a lgum as a l t e raes de suas regu l a r ida

    d e s . o qu e faz a t eor ia da regu lao para com pree nd er a hi s tr ia do capi ta l i sm o, c om o

    ser vi s to no i t em 3 de s te a r t ig o.

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

    14/25

    Para ci tar outra ve z Hem pel (1 97 3, p .33-4) , Entretanto , os proc essos mediante os quais cheg a-se a

    ^sas conjeturas cientf icas frutferas no se parecem aos processos de inferncia sistemtica .E u m

    po uc o antes, Um principiante dificilm ente far uma descoberta cientf ica imp ortante, porque as idias

    que lhe p odem ocorrer provavelmente no faro mais do que repet ir as que antes j haviam s ido postas

    prova ou , em outro caso , entraro em col iso com fatos ou teorias comprovados de que no tem

    con h ec imen to .

    Muitas ve ze s , h que se reconh ecer com justia , essas pesquisas real izadas sob o pri iKpio da induo,

    embora a es treiteza de seu a lcan ce anal t ico , foram capazes de encontrar correla es entre fenm enos

    to imaginadas anteriormente.

    Ver, por ex em plo . Contador (197 8) ou Marques (198.3) .

    E m c o n t r a s t e c o m a p o s i o m e t o d o l g i c a q u e s i g o n e s t e t r a b a l h o , m u i t o

    g e n e r a l i z a d a m e n t e , o s e c o n o m i s t a s , p r i n c i p a l m e n t e n a a n l i s e d e s i t u a e s c o n

    c r e t a s , t m a d o t a d o c o m o f e r r a m e n t a c i e n t f i c a o p r i n c p i o d a i n d u o . H e m p e l

    d e m o n s t r o u a n a t u r e z a d b i l d a e x p l i c a o c o n s t r u d a a p a r t i r d a i n d u o e m p

    rica. O a r g u m e n t o p r i n c i p a l q u e a s u c e s s o d e e v e n t o s s o b a a p a r n c i a e m p r i c a

    d e u m a d e t e r m i n a d a r e g r a n o p e r m i t e r i g o r o s a m e n t e u m a g e n e r a l i z a o . S e

    o b s e r v o q u e u m e v e n t o

    A

    t e m s i d o e g u i d o d e u m e v e n t o B , n o p o s s o d i z e r q u e

    A i m p l i c a B . P a r a e s t a b e l e c e r u m a g e n e r a l i z a o , s e r i a p r e c i s o e s t a b e l e c e r m

    q u e c o n d i e s

    A

    n o i m p l i c a r i a B ( p r i n c p i o d a c o n t r a s t a b i l i d a d e ) e , p r i n c i p a l

    m e n t e ; , i n f e r i r p o r q u e A i m p l i c a B ( p r i n c p i o d a r e l e v n c i a e x p l i c a t i v a ) . C o m o

    d e m o n s t r a H e m p e l

    ( 1 9 7 3 ,

    p . 3 3 ) :

    "No h , por tanto, ' regras de induo ' gera lmente apl icve is por meio das

    quais pod e-se der ivar ou infer ir me can icam ente h ipteses oU teor ias a par t i r

    de dados emp r i cos . A t ranspos i o dos dados t eor i a reque r imaginao

    cr iadora . As hipteses e t eor ias c ient f icas no se der ivam dos fa tos obser

    vado s , m as s i in so i n ve n t ad as pa ra da r con t a

    d e l e s .

    So conje turas re la t ivas

    s conexes que se podem es t abe l ece r en t re os fenmenos que se e s t o

    es tudando, s uni formidades e regular idades que subjazem a es tes . As

    ' con j e tu ra s fel ize s ' d e s se t i po reque rem gr and e i nven t iv idade , e spec i a lmen te

    se sup em um des v io rad i ca l dos m odo s cor ren t e s do p ensa me nto c i en t f i co ,

    como foi o caso da teor ia da re la t ividade ou da teor ia qunt ica . O esforo

    inven t ivo requ er ido sa i r benef ic iado se es t -se com ple tam ente fami l ia r iza

    d o c o m o s c o n h e c im e n t o s p r p r i o s d e s s e c a m p o " .

    O m todo dedut ivo um caminho exp l i ca t i vo ma i s d i f c i l . ' ^ P ropor h ip t e se s

    ge ra i s e de l a s ded uz i r a causa l i dade de fenmeno s conc re tos reque r bem ma i s ima gi

    na o c ri adora^que reco lhe r dados e cor re l ac ion - los , usan do os ab und ante s recursos

    da es ta t s ti ca . N ess e caso , n o so neces sr ios mais d o qu e os 64 0 "kby tes" de Um

    mic rocomputador . Exemplo da pobreza do pr inc p io da i nduo so os t r aba lhos ,

    abrmdante s d iga -se de passagem , qu e e s tudam emp i r i camen te a causa l i dade en t re

    moeda e inf lao. Ora , se a inf lao uma var iao genera l izada dos preos e se para

    a ex is t nc i a dos p reos p rec iso que a s mercado r i a s se jam t rocadas p or moe da , co m o

    pod e have r causa l i dade en t re du as co i sa s q e no pod em ex i s ti r s epa radas , por de f in i

    o? a mesma coisa que supor uma causa l idade ent re o met ro e a di s tnc ia .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    2 - O que e o que parece ser

    A a n l i s e d o c a p i t a l i s m o e l a b o r a d a p o r Ma r x e s t c o n s t r u d a s o b r e o c o n c e i t o

    d e f e t i c h i s m o . M a r x q u e r i a e x p l i c a r c o m o a s n o r m a s e p r o c e d i m e n t o s q u e r e g u

    l a m a c o n v i v n c i a d o s h o m e n s d e n t r o d e u m a o r g a n i z a o s o c i a l h i s t o r i c a m e n t e

    d a d a c o n d i c i o n a m a p o s s i b i l i d a d e d e s u a e x i s t n c i a a o l i m i t e d e p a p i s p r e e s t a

    b e l e c i d o s ( a c o e r o d a n o r m a d e q u e f a l e i m a i s a c i m a ) . E m o u t r a s p a l a v r a s ,

    q u e r i a s a b e r c o m o e x p l i c a r q u e a e x p l o r a o d e u n s h o m e n s p o r o u t r o s n o s

    f o s s e a c e i t a , c o m o , m a i s a i n d a , p a r e c e s s e i n e x i s t e n t e a o s o l h o s d o s m e m b r o s d a

    s o c i e d a d e . C o m o e x p l i c a r q u e o s t r a b a l h a d o r e s , c r i a d o r e s d e t o d a a r i q u e z a ,

    f i c a s s e m s a t i s f e i to s a p e n a s c o m a p e q u e n a fr a o d o s s e u s s a l r i o s ? A c o m p r e e n

    s o d e s s a q u e s t o p a r t e d a o b s e r v a o d e u m a d i f e r e n a f u n d a m e n t a l e n t r e o

    c a p i t a l i s m o e o u t r a s f o r m a s d e d o m i n a o d e c l a s s e n a s s o c i e d a d e s h u m a n a s

    f o r m a s e s t a s a i n d a f r e s c a s n a m e t n r i a d e s e u t e m p o .

    At a Idade Moderna , a explorao soc ia l es tava embasada na exc luso jur dica

    (seja re l igiosa ou pol t ica) de u m a parce la da po pu lao d o usufruto d a r iqueza soc ia l .

    Digo jur dica porque mater ia l izada em normas expl c i tas (di re i tos dos c idados em

    le lao plebe ou dos senhores em re lao aos servos) , que impl icavam a di s t r ibuio

    des igua l do pro duto , a apropr i ao de um excede n t e po r um a c l a s se de n o- t raba i ado-

    r es .

    Ora , Marx va i encont rar na soc iedade capi ta l i s ta a mesma base de des igua ldade

    soc ia l , de divi so ent re t raba lhadores e no- t raba lhadores , de explorao des tes por

    aque l e s ; s que , pa rado xa lm ente , sob um reg im e ju r d i co que proc l amav a (e p roc l am a)

    a i gua ldade de t odos . Armado de seu conhec imento de Di re i t o e de sua fo rmao na

    f ilosofia de He gel , e le va i de sve nd ar o qu e apare ce co m o um a cont rad io eh t re

    apa rnc i a ( i gua ldade ) e e s snc i a (exp lorao) na p ropos i o d o conce i t o de re i f cao .

    A soc iedade capi ta l i s ta c r iou uma to grande di s tnc ia ent re o conte ido das re laes

    hum anas e sua fo rma ap a ren t e que um a surge co m o o con t r r i o da o u t ra . Na apa rnc i a ,

    tm-se coisas ( t raba lho, dinh e i ro ou m ercado r ias) qu e pa rec em ser o suje ito do pro ces so

    econmico e que es tabe lecem re laes ent re s i (compra e venda) , as qua is , aos olhos

    do observador , parecem ser as cons t i tu intes das for tnas de organizao soc ia l . Os

    verd adei ro s suje i tos de qu a lqu er pro cess o soc ia l (os ho m en s , tiaba lhadores e capi ta l i s

    t a s ) desap a recem subsum idos em um a forma ap a ren t e d e mercador i a . is so qu e M arx

    ( 1 9 8 3 ,

    l i v ro

    1,

    p .70 e segu in t e s ) cham ou " fe ti ch ismo da me rcador i a " .

    Po r tanto, a t a re fa do c ient i s ta desven dar o fe t ichismo e da r con ta da caus a l idad e

    que produz os fenmenos econmicos . i r a l m de uma mera fenomenolog i a que

    apenas ident i f ica e ca ta loga ou de um empir i smo que s pode es tabe lecer corre laes

    e ana log i a s , pa ra reve la r o nex o causa i . Ne sse cam inho , cheg a -se descobe r t a de qu e

    os do i s n ve i s , i n t em o (e s senc ia l ) e apa ren t e , no cap i t a l i smo, desenvo lvem u m grau d e

    au tono mia q ue refora o fe t ich i smo. Av ana ndo nesse sen t i do , c i t o L ip i e tz

    ( 1 9 8 3 ,

    p .20 ) :

    " D e v e m o s s u b l i n h a r a q u i q u e a d i s t i n o e n t r e o ' i n t e r n o ' e o ' f e n m e n o '

    e ra pe r fe i t amente c l a ra pa ra Marx . O ' i n t emo ' o con jun to de re l aes

    soc i a i s ob j e t i vas que e s t ra tu ra a v ida econmica ( re l aes mercan t i l ,

    s a l a r i a l , lu t a d e c l a s se s , e t c . ) e qu e de t e rm ina sua d in m ica , i s t o , o q ue

    Ma r x c h a m a s u a s ' t e n d n c i a s ' , ' l e i s i m a n e n t e s ' , e t c . O ' f e n o m e n a l ' o

    conj imto de repre sen t aes que os agen t e s c r i am sobre seus p rpr ios

    c o m p o r t a m e n t o s e d a s c o n d i e s q u e e n f r e n t a m , m a s q u e s o d e f at o

    d i t ados pe l a s re l aes i n t emas" .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    2.1 - As relaes intrernas

    M arx cham ou o esh ido das re laes intem as de " f is iologia" d o mo do de p rod u o

    capi ta l i s ta (TSV

    11,

    p. '165). Po de m -s e ident i f icar, na def inio de ssa f is iologia, t rs

    re lae s fundam enta i s dia le t icam ente carac te r izadas pe la unida de e pe la oposi o en t re

    dois plos cont radi tr ios .

    2 .1 .1 - Re lao merc ant i l

    A r e l a o m e r c a n t i l e x p r e s s o d a c o n t r a d i o e n t r e o c a r t e r s o c i a l d a

    p r o d u o e o c a r t e r p r i v a d o d a s d e c i s e s d o s a g e n t e s q u e d e f i n e m o q u a n t o ,

    q u a n d o e c o m o p r o d u z i r o s e m p r e s r i o s d o s e t o r p r o d u t i v o . A s o l u o d e s s a

    c o n t r a d i o d - s e n o p r o c e s s o d e c i r c u l a o d a m e r c a d o r i a , q u a n d o , t r o c a d a p o r

    u m e q u i v a l e n t e e m m o e d a , a m e r c a d o r i a v v a l i d a d o o t r a b a l h o e n g a j a d o e m s u a

    p r o d u o . D e p r i v a d o p a s s a a t r a b a l h o s o c i a l , d e c o n c r e t o p a s s a a t r a b a l h o

    a b s t r a t o . P o r s e u l a d o , o p r o p r i e t r i o d o o b j e t o t r o c a d o , p o r m e i o d e s s e f l u x o d e

    m o e d a q u e r e c e b e , a d q u i r e u m d i r e i t o s o b r e u m a f r a o d o p r o d u t o s o c i a l . P a r a

    q u e e s s e p r o c e s s o t e n h a l u g a r , i m p r e s c i n d v e l q u e a t r o a s e j a i n t e r m e d i a d a p e l a

    m o e d a , q u e , c o m o r e p r e s e n t a n t e d o t r a b a l h o s o c i a l , o m e i o d e v a l i d a o d a s

    m e r c a d o r i a s .

    U s a n d o a f r m u l a d e M a r x , n a p a s s a g e m M - > D , m e r c a d o r i a m e t a m o r f o s e a d a

    em d in he i ro , que o va lo r se rea l i za . Es se p roce sso , pa r a Mar x , imp l i cava o risco de

    a merca dor i a , ao n o con seg ui r se r t rocad a po r um equiv a l en t e , no enc ont ra r fo rma

    d e t r a n s f o r m a r o t r a b a l h o p r i v a d o n e l a d e s p e n d i d o e m t r a b a l h o s o c i a l . P a r a r e p r e

    sentar esse r i sco, e le c r iou a f igura do sa l to morta l da mercador ia .

    E s s a s r e p r e s e n t a e s s o o s m v e i s d o s a g e n t e s q u e o s c o n d u z e m a o s c o m

    p o r t a m e n t o s r e q u e r i d o s c o n t i n u i d a d e d a e s t r u t u r a s o c i a l - s o as " l ei s d e

    m e r c a d o " b u a s " e x p e c t a t i v a s r a c i o n a i s " , p o r e x e m p l o . A e s s e s d o i s a s p e c t o s d a

    r e a l i d a d e M a r x ( 1 9 7 8 , p . l 6 9 ) v a i c h a m a r d e

    e s o t r i c o

    e

    e x o t r i c o ,

    que a

    t e r m i n o l o g i a t o m a d a c o m f e l i c i d a d e p o r L i p i e t z . F a z e n d o u m a a n a l o g i a c o m a

    A s t r o n o m i a , L i p i e t z v a i c o m p a r a r o e x o t r i c o a o s i s t e m a p t o l e m a i c o , e m q u e o

    m o v i m e n t o d o s a s t r o s e r a c o m p r e e n d i d o p o r s u a a p a r n c i a ( g e o c e n t r i s m o ) , e m

    o p o s i o a o e s o t r i c o c o p e m i q u e a n o d a m e c n i c a c e l e s t e m o d e r n a . A a n a l o g i a

    t e r m i n a a q u i , p o i s o p l a n o e x o t r i c o t e m u m a a u t o n o m i a e u m a e f i c c i a p r p r i a s

    n o q u e r e s p e i t a s r e l a e s e c o n m i c a s , o q u e s e r i a i m p e n s v e l n a F s i c a ( P t o l o -

    m e u e s t a v a e r r a d o ) , n o s e n t i d o d e q u e o e s o t r i c o e x p l i c a o e x o t r i c o ( e s t e e s t

    s u b s u m i d o n a q u e l e ) , m a s o l t i m o p r o d u z , n o s e u p l a n o , e f e i t o s p r p r i o s . C o m o

    s e r v i s t o a d i a n t e , e s s a p o s s i b i l i d a d e d e d i s t a n c i a m e n t o , a o m e n o s m o m e n t n e o ,

    e n t r e o s d o i s q u e p o s s i b i l i t a o s u r g i m e n t o d o f e n m e n o i n t l a c i o n r i o .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    2 . 1 3 - P o s s e e c o n m i c a

    Por e s ta re lao en t nde -se o co m and o do cap i t al sobre o p rocesso de t r aba lho , a

    apropr i ao do conh ec im ento t cn i co do t r aba lhador e sua incorporao ao m aqu in i s -

    m o , que passa a de te rm inar o r itmo e as ta re fas do pro cess o de t raba lh o. o que M ar x

    chamou "subsuno rea l do t raba lho no capi ta l " . Essa re lao cons t i tu da a par t i r da

    propr i edade pr ivada dos me ios de p roduo , que i ns t i t u i o comando do processo

    prod ut ivo pe l a c l a s se possu idora d o cap i t a l.

    Na aparnc ia fe t chizada do exotr ico, como se a "produt ividade do capi ta l "

    es t ivesse se incr em enta nd o. Na ve rda de , esse proce sso resul tad o da luta de c lasses n a

    prod uo . A d i spu t a en t i e cap i t a l e t r aba lho pe lo con t ro l e d o processo produ t ivo ve m

    sendo h i s to r i camente re so lv ida a favor do cap i ta l pe io aum ento da p rod ut iv idade e da

    a l ienao d o tiaba lhador^^ e , por sua vez , impl ica um const im te rev olu c ion am ento d o

    va lor da s me rcador i a s (o t emp o d e tr aba lho soc i a lmente necess r io d im inu i sem pre qu e

    a p rodu t iv idade aum enta ) .

    2.2 - As relaes a pa ren tes'

    Em v r i a s opor tun idades , M arx cham ou a t eno pa r a o fato de qu e no pro cesso d e

    c i rcu l ao o va lor se au ton om izava . A t i avs d e suas sucess ivas me tamo rfoses (cap i t a l

    dinh e i ro > capi ta l pro du t ivo -> capi ta l mercad or ia . . . ) , on de inte rvm , em cad a

    mudana de forma, o processo de t roca , uma sr ie de mercador ias f lu i pe las mos de

    cada propr i e t r i o . Esse f l uxo o va lor -m-processa Conforme L ip i e t z (1982 , p .51) ,

    "Va lor e va lor -em-processo so do i s f enmenos d i fe ren t e s . O pr ime i ro

    soc ia l e s incrnico, um mapa da divi so soc ia l do t raba lho na forma de

    pro po re s quant i ta t ivas ent re os pro du tos . O out ro individu a l e diacr nico :

    A crise do taylor ismo parece apontar ta lvez uma m odif ica o dessa tendnc ia atravs das a lternativas

    de gest o da produo do t ipo part ic ipat ivo .

    2 .1 . 2 - R e l a o d e a s s a l a r i a m e n t o

    Essare lao decorre da s q w a o do pKxlutordos meios de produo, que so mo nq) l io

    d e um a classe de no-tiabalhadores. D iante dess e nuaiq ^lio, os fsxxiutoies despo ssudos so

    coagidos a vend o- sua fora d e trabalho com o nica forma d e participar da v ida em sociedade.

    A retribuio recebida menor que o valor criado pelo trabalho, surgindo dessa relao o

    mecanismo da explorao, que pode SC T medida pela fiao

    s/s

    mais-vaha sobre capital

    varivel ou h abalh o necessrio dividind o o excedente.

    Do ponto de vi s ta exotr ico, o sa l r io va i aparecer como "preo" da fora de

    t raba lho, e a m ais-va l ia , com o "preo" d o fa tor capi ta l ou da "capac idad e e m pres ar ia l " .

    N o sent ido co m qu e aqu i t ra te i , essas def inies so fe t ichizadas .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    2.3 - Outras relaes

    Alm das re laes fundamenta i s que apresente i no i t em 2. 1 , a evo lu o do cap i t a -

    Hsmo produziu um conj imto de out ras re laes , que servem de supor te ao c i rcui to do

    capi ta l produt ivo (D -> P. . .M -> D') e espec ia l izaram fraes da c lasse capi ta l i s ta na

    pro m oo dess as a t i v idades -"me io" por a s s im d i ze r . So o cap it a l com erc i a l , o cap i t a l

    banc r io e tam bm as necess idades de con t ro l e e r egu l am entao d a econom ia supr idas

    pe lo Es t ado .

    um va lor p re se rv ado ao l ongo d o t emp o qu e pod e c re sce r , s e r despe rd i ado ,

    desap a rece r e a s s im po r d i an t e . c l a ro que o segun do fenm eno d e r iva d o

    pr imei ro. Sua subs tnc ia o t raba lho soc ia l abs t ra to . Sua forma um

    desenvolv imento da fo rma e l ementa r do va lor . Sua magni tude a medida

    ms tan t nea do va lor daque l a m ercador i a em qu e e s t i ncorp orado " .

    Essa d i s t i no en t re va lor e va lor -em-processo e s t na ra i z do prob l ema da

    t rans formao qu e t em a torm entado os pesqu i sadores marx i s t a s a t ho j e . A poss ib i l i

    dade de d ive rgnc i a en t re va lor e p reo de p roduo e s t dada pe l a au tonomia dos

    va lore s -em-processo , uma vez que nesse p rocesso mdiv idua l e d i ac rn i co que se

    geram os f luxos de renda (sa l r ios , lucros , e tc . ) causadores dessa divergncia . O

    fundamenta l pa ra re t e rmos aqu i qu e os va lore s -em -processo ge ra m f luxos de renda

    an te s de te rem seu va lor conf i rm ado soc ia lm ente , i s to , antes d e se rea l izarem na f roca .

    So sa l ri os ad i an t ados , j u ro s sobre f inanc i amentos , r em un erao de adm in i s t radores ,

    par t ic ipa es , a luguis , e tc . Isso poss ve l pe la in te rm edia o de meca nism os f inan

    ce i ros , qu e v m subs t i tu i r o ad i an t amen to d e cap it a l p rev i am ente acu mu lado na fo rma

    mercad or i a -d inhe i ro (ou ou t ra fo rma qua lque r ) dos p r imrd ios do cap i t a l ismo (que ro

    dizer , ent re a Pr ime i ra e a Seg un da Re vo lu o Indu st r ia l , pois os ban cos s o ins t i tu ies

    ma i s ve lhas qu e e s se m od o de p rod uo , bas t a l embra r a " caixa" dos Tem pl r ios ) .

    Lipietz cons traiu um a metfora para exphcar essa dife raia entrevalor e valor-em-pro

    cesso, a "dicotomia trama-urdiduia". Um tecido tramado por um processo autnomo pelo

    qual os fios so passados co nsh uind o a ham a. Esses fios po de m ser mais apertados ou nnais

    fiouxos, ap resa itar algum n ou deformao, ma s, nec essariam aite, dev ero correspondo- a

    u m ou tro conjunto de fios pte via m oite disposto no bastidor do tear, a urdidura. A uid idiua

    o valor, que tem sualei,que de tam ina a a locao d o habalho e do capital , proporc io na lm ^te ,

    nos diversos ramos da pioduo. A trama o valor-em-processo, esfeta das conexes

    aparentes, fetchizadas, on de impera m os preos e as d iv is a s formas de renda, mas, necessa-

    rianimte, tm d e s e adequar a sua substncia em valor.

    O e l emento que impe a cor re spondnc i a en t re a s duas e s fe ra s a moeda .

    Forando mais a f igura de Lipie tz , a l anadei ra do tear a conduzi r os f ios para se

    t ramarem com a u rd idura . A moeda , por um l ado , d a fo rma preo do va lor e , por

    o u t r o ,

    reaUza e s se va lor na t roca . I s so va i depende r da mane i ra como e l a " admi

    n i s t rada" (po l t i c a mone t r i a ) e , p r i nc ipa lmente , de seu va lor , i s t o , de seu va lor

    e q u i v a l e n t e e m t e m p o d e t r a b a l h o .

    B e m a d e q u a d a m e n t e

    a

    seu car te r fe t ichizado, as rendas geradas pe lo va lor-em-

    proc esso surgem co m o a tr i bu tos do s fa to re s de p ro du o remu nerado s por sua "produ

    t ividade margina l" .

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    2 . 3 .2 - C a p i t a l b a n c r i o ,

    N o m o m e n t o D - > P i n t e r v m u m o u t r o c a p i ta l i s ta e s p e c i a l i z a d o , q u e p e r m i t e

    a o i n d u s t r i a l a m p l i a r s u a p l a n t a a l m d o q u e s e r i a f a c t v e l c o m r e c u r s o s p r p r i o s ,

    i n c r e m e n t a n d o s u a s p o s s i b i l i d a d e s d e a d i a n t a m e n t o d e c a p i t a l p a r a p r o d u z i r . D o

    p o n t o d e v i s t a e s o t r i c o , o b a n q u e i r o e s t c o n c e d e n d o " a p r i o r i " a o c a p i t a l i s t a

    i n d u s t r i a l o r e s u l t a d o d o s e u n e g c i o , a d i a n t a n d o u m f l u x o d e r e n d a p o r c o n t a d e

    v a l o r e s q u e s s e c o n f i r m a r o n a v e n d a d a s m e r c a d o r i a s . O p r e o d e s s e " s e r v i o "

    s o o s j u r o s .

    N o que co nc em e e s fera exo t r i ca , os j u ros apa r ecem co m o renda a s soc i ada a u m

    va lor -em-p rocesso q ue e s t na fo rma d inh e i ro e so i ndepen dente s d e seu enga j am ento

    concre to na produo. Os juros so, na essnc ia , a forma que assume a f rao da

    ma i s -va l i a apropr i ada pe lo banque i ro . No en t an to , na p r t i ca , t omam a fo rma de

    pagamento por um se rv i o que acon t ece an t e s da rea l i zao da ma i s -va l i a ge rada na

    p r o d u o .

    2 . 3 J - E s t a d o

    Par a f inancia r a r ea l i za o d e suas t a re fa s , t an to na e s fe ra da c r i a o d e

    c o n d i e s g e r a i s d e r e p r o d u o d o c a p i t a l ( i n f r a - e s t r a t u r a , p o l t i c a m o n e t r i a )

    c o m o n a d e r e p r o d u o d a f o r a d e t r a b a l h o ( s a d e , e d u c a o , p r e v i d n c i a ) , o

    E s t a d o a p r o p r i a - s e d e u m a p a r c e l a d a m a i s - v a l i a . E s s a a p r o p r i a o o b e d e c e a

    n o r m a s l e g a i s n e c e s s a r i a m e n t e e x p l c i t a s , e x o t r i c a s n o " s t r i c t u s e n s u " , q u e , d e

    f o r m a m a r c a n t e , i n t e r v m c r i a n d o n o v a s d e t e r m i n a e s n a " p a s s a g e m " d a s l e i s

    i n t e m a s s c o n e x e s d e s u p e r f c i e . I s t o , a o l a d o d a s n o r m a s q u e r e p r e s e n t a m

    u n i c a m e n t e a t r a d u o d a c o e r o n e c e s s r i a v i g n c i a d a s " le is g e r a i s " d o m o d o

    d e p r o d u o , n o p l a n o m e s m o d a a p a r n c i a , o u t r a s n o r m a s p r o d u z e m - s e , s e m

    e s t a r e m n e c e s s a r i a m e n t e s u b s u m i d a s n u m a l e i g e r a l . c e r t a m e n t e n a r b i t a d o

    a p a r e l h o d e E s t a d o q u e a a u t o i io m i a d o e x o t r i c o a d q u i r e s e u g r a u m a i s e l e v a d o .

    2 . 3. 1 - C a p i t a l c o m e r c i a

    Ex is te u m conjun to de capi ta l i s tas espec ia l izado em pa t roc ina r a e tapa M -> D ' d o

    pro cess o d e c i rcu lao . Para tanto , a lo cam seu capi ta l em casas com erc ia i s e co br am a

    apropr i ao de uma pa rce l a da ma i s -va l i a ge rada pe l a rea l i zao desse se rv i o de

    consegui r a t roca da mercador ia por dinhe i ro . Essa a t ividade , como se sabe , 6 anter ior

    ao ingre sso do cap i t a l na e s fe ra p rodut iva qu e cons t it u iu o mo do de p rod uo e sp ec i

    ficamente cap i tal is ta . No enta nto ft>i a t rav s de la que , via acu m ul a o primit iv a, foi

    poss ve l a cons o l idao desse mo do d e p rod u o .

    D o pon to de v i st a exo t r i co , a m argem de comerc i a l i zao apa rec e com o re m un e

    rao d o cap i ta l mercan t i l , denf ro da mes m a lg i ca de ob t eno de um a t axa de l uc ro

    mxima , l evando pe requao da t axa ge ra l do s i s t ema , como se houvesse p roduo

    de mais-val ia na froca.

  • 7/26/2019 Luiz Augusto Estrella Faria - A Economia Poltica, Seu Mtodo e a Teoria Da Regulao ENSAIOS FEE, 1992

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    1 Umconjuntodeconceitos como ferramentadeanlise

    3 .1.1-Gnese

    A Teor i a da Regu lao su rg iu tam bm c om o uma necess idad e dos econom is