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ESTADO: CONSTRUO DE UMA IDENTIDADE

Lus Alexandre Carta Winter Marcos Wachowicz *

RESUMO O presente estudo aborda os fenmenos de integrao econmica entre Estados, buscando novas reflexes sobre a concepo clssica de soberania como poder supremo do Estado, independentemente de qualquer limitao, indivisvel e inalienvel. A partir da noo clssica e histrica de soberania amplia-se a discusso no Estado moderno, tornando necessrias releituras de seus conceitos para adapt-los no fenmeno de integrao, de supranacionalidade. Neste sentido se promove uma leitura critica do pensamento jurdico que construiu o conceito e a identidade do Estado moderno calcado no trinmio povo-nao-soberania. Desta forma busca-se a construo de uma base doutrinaria consistente para compreender as inmeras transformaes ocorridas em especial a partir do final dos anos 80 para uma compreenso dos mltiplos aspectos que afetaram os relacionamentos entre o Estado e a sociedade e entre pases, atingindo questes ambientais, econmicas, sociais e de segurana.

PALAVRAS CHAVES ESTADO. SOBERANIA. DIREITO INTERNACIONAL

Coordenador do Curso de Graduao em Direito da Faculdade de Direito Internacional de Curitiba FACINTER. Professor de Direito na Pontifcia Universidade Catlica do Paran PUCPR e no Centro Universitrio Curitiba UNICURITIBA. Doutorando em Direito pela Universidade de So Paulo USP/PROLAM, Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria UFSM-RS. Coordenador do Grupo de Pesquisa de Direito e Integrao e Conflito de Leis no Mercosul da PUCPR. Especialista em Direito Internacional. Autor da obra: Mltiplas facetas do Estado-Regio. E-mail: [email protected]

Professor de Direito no Curso de Graduao e de Ps-Graduao programas de Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paran UFPR, Mestre em Direito pela Universidade Clssica de Lisboa Portugal. Especialista em Direito da Propriedade Intelectual e Direito e Tecnologia da Informao. Autor das obras: Direito Internacional Privado. Negcios Internacionais. Tecnologia; Propriedade Intelectual do software e Revoluo da Tecnologia da Informao. E-mail: [email protected]

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RESUMEN El presente estudio acerca a los fenmenos de la integracin econmica entre los estados, busca nuevas reflexiones en el concepto clsico de la soberana en cuanto a sea supremo capaz del estado, independientemente de cualquier limitacin, indivisible e inalienable. A partir de la nocin clsica e histrica de la soberana es la pelea extendida en el estado moderno, nuevos conceptos para adaptarlos en el fenmeno de la integracin, del supranacionalidad. En esta direccin si promueve una lectura critica del pensamiento legal que construy al concepto y a la identidad del estado moderno fundado nos conceptos de pueblo, nacin e soberana. As se busca a construccin de un nuevos conceptos de derecho internacional para entender las transformaciones ocurridas en especial de finales de los aos 80, para una comprensin de los aspectos mltiples que haban afectado las relaciones entre el estado y la sociedad y los pases en sus aspectos ambientales, econmicos, sociales y de la seguridad.

PALAVRAS CLAVE ESTADO. SOBERANIA. DERECHO INTERNACIONAL

1. Contextualizao Os fenmenos de integrao econmica entre Estados esto cada vez mais presentes. Se de um lado a globalizao da economia leva a que os Estados se sintam, crescentemente, dependentes uns dos outros, de outro lado, em razo at mesmo deste comrcio global, tem-se um processo de integrao econmica entre estes Estados. Neste contexto, a idia clssica de soberania, como poder supremo do Estado, independente de qualquer limitao, indivisvel e inalienvel, comea a levantar dvidas. A criao de um ordenamento jurdico dentro de um bloco econmico desenvolvido por rgos funcionando com carter permanente, tomando decises vinculantes no s para os Estados, como tambm para cidados e empresas, leva a que

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os sistemas jurdicos se sobreponham num mesmo espao territorial e a que os indivduos se sintam duplamente vinculados. O Estado deixa de ser dono de algumas das suas polticas, que, historicamente, eram suas, perde a jurisdio sobre certas matrias, obrigado a harmonizar a sua legislao com a dos restantes Estados, partes no fenmeno de integrao, e, isto o mais importante, muitas vezes, sem o seu consentimento (caso das decises tomadas por maioria quando se defronta com a supranacionalidade). Diante deste fato, a pergunta que muitas vezes j foi formulada: Ser que a noo clssica e histrica de soberania aplica-se ao Estado moderno, em toda a sua completude? Ou: tornar-se- necessrio proceder a uma releitura do conceito para adapt-la ao novo contexto que se configura? As outras questes, o Estado e a nao tambm se ligam, embora, por definio, sejam distintos, da noo da soberania. evidente reconhecer-se que estas noes no foram construdas de maneira uniforme. Para responder a estas questes, interessante iniciar-se a abordagem pelos componentes histricos e pela viso clssica da soberania - no tempo e no espao.

2. Construo de um conceito A noo de um governo centralizado que satisfizesse, alm das questes temporais, tambm as espirituais, e que representasse, simultaneamente, a idia de uma unidade, com a queda do imprio romano, passou a ser uma busca constante. O prprio Corpus Iuris Civilis no deixa de ser fruto de uma idealizao da unidade que havia na Roma Imperial. De fato, se for desdobrado o poder da pessoa do imperador, na poca do Dominato, nota-se que ele era o primo inter pares (primeiro entre iguais); princips senatus(lder do senado); pontifex maximus (supremo sacerdote) ttulo, que, depois, passa ao Papa, quando o cristianismo se torna a religio oficial do imprio; tribunicia potestas (poder de tribuno da plebe); imperatur1 (governante, comandante, no sentido1

MEIRA, Silvio A.B. Curso de Direito Romano Histria e Fontes. SP: Saraiva, 1975, p. 105, discorre que a palavra imperator provm do dialeto OSCO. Era ttulo honorfico que, ao fim da Repblica, os soldados

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militar). Em conseqncia, podia desautorizar os governadores das provncias, reverter decises judiciais dos magistrados, podia condenar morte ou revogar essa deciso, exigir absoluta obedincia de qualquer cidado e, finalmente, era inviolvel, (sacrosanctitas)2. O smbolo SPQR, que significava Senatus Populusque Romanus (O Senado e o Povo Romano), foi utilizado, durante toda a histria romana, como o smbolo da nao; mesmo durante o Imprio, eram o Senado e o Povo que representavam Roma. Com a invaso dos povos brbaros, quebra-se a unidade do imprio, mas no a idealizao dessa unidade, nem to pouco desapareceu o poder espiritual e este se assentava na idia de universalidade da religio catlica, j que h um s Deus e, por isso, deve haver unidade em todas as coisas3. Tentativas, mais tarde, para restaurar essa unicidade, foram feitas com o Imprio Carolgio e, principalmente, com o Sacro Imprio Romano Germnico. claro que ainda havia o Imprio Romano do Oriente e este, derrotando no sculo VI, os Ostrogodos arianos que dominavam a pennsula italiana, passaram a exercer, por duzentos anos, um sufocante poder sobre o papado. Ocorre que em 751, os lombardos, capturam Ravena, capital da Itlia bizantina. Esse fato, embora ameaasse ocostumavam conceder por aclamao aos seus generais. Csar foi cognominado imperator, muito embora no dispusesse das mesmas atribuies e prerrogativas que mais tarde foram concedidas a Augusto. Imperator, ao fim da Repblica, era o comandante supremo das foras militares. Csar, em conseqncia desse ttulo, tinha assento no Senado em cadeira superior dos cnsules (curul). 2 MEIRA, p.106, refora isso ao afirmar pelas lex de imprio os imperadores recebem, por ocasio de sua investidura, todos os poderes: o Imperium proconsulare lhes outorgava atribuies de chefe supremo do exrcito e de administrao de provncias que, durante a Repblica, pertenciam aos governadores provinciais; tribunicia potestas, que na Repblica fora privilgio dos tribunos da plebe. A iniciativa de projetos de leis para aprovao pelas assemblias populares e de senatusconsultos a serem votados pelo Senado, deixou de ser atribuio tpica dos tribunos, transferindo-se para o Prncipe; Pontifex Maximus, ou seja, chefe do Colgio dos Pontfices, a mais alta autoridade religiosa romana e, por fim, ao tempo de Domiciliano, os poderes de censor atravs da preafectura morum.. 3 Mais do que isso, os prprios brbaros sentiam a necessidade de codificao e de redao a regular o cotidiano entre os Romanos e os Brbaros, com um vis nitidamente Romano, como, exemplificando, entre os Ostrogodos, o Cdigo de Teodsio, de 438, entre os Visigodos, Brevirio de Alarico, de 506, ou, ainda, entre os Borgndios, a Lex romana Burgundiorum. Por outro lado, embora em um primeiro momento isto no fosse claro, estes fatos contriburam para o desaparecimento da personalidade das leis em favor do princpio da territorialidade das leis. A idia de unidade sempre foi um ponto presente na histria. MOMMSEN, Theodor. Histria de Roma, RJ: Editora Delta,1962, p.322, lembra quando da unificao do governo em Roma, por Jlio Csar este novo Estado necessitava de um culto comum que fosse condizente com o pensamento talo-helnico e de um cdigo geral de leis superiores aos estatutos municipais. Contudo, aquilo de que precisava j existia. No campo da religio, os homens passaram sculos fundindo o culto itlico ao helnico, seja adotando exteriormente, seja acomodando interiormente as diferente concepes de deuses; e, graas a esse carter flexvel dos deuses da Itlia, havia pouca dificuldade em transformar Jpiter em Zeus, Vnus em Afrodite, e, da mesma forma, todas as idias essenciais da f latina em suas correspondentes helnicas.

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papado, libertou-os da dependncia dos imperadores gregos4, a quem, reitere-se, at ento, os papas tinha que obedecer ou sofrer5. No surpreende, portanto que j na poca do Papa Gregrio o Grande, tenha se desenvolvido a idia que era ela, Igreja, quem detinha a autoritas, a supremacia6. O Imprio deveria estar a servio da Igreja. E tal j ficava bem claro anteriormente em missiva enviada pelo papa Gelsio (492-496) ao Imperador Anastcio, que se considerava um leal cidado do imprio e declarava que como romano nato, eu amo, respeito e honro o imperador romano, mas deixava claro o limite de sua obedincia7, como salienta ainda DUFFY, p. 38: Existem, augusto imperador, dois poderes principais que governam o mundo: a sagrada autoridade dos bispos e o poder real. Dentre eles, o poder sacerdotal muito mais importante, pois h de prestar contas dos prprios reis dos homens perante o julgamento de Deus. Vs sabeis, dileto filho, que, embora ocupeis o lugar de maior dignidade sobre a raa humana, deveis sujeitar-vos f dos que foram encarregados das coisas divinas e neles ver o meio de vossa salvao. Sabeis que vos necessrio, em matria concernente recepo e reverente administrao dos sacramentos, ser obediente autoridade eclesistica, em vez de desejar sujeit-la vossa vontade. Os lombardos tentaram conquistar Roma, encontrando forte oposio por parte do Papado, que pede auxlio aos francos. Pepino, rei dos francos, derrota osRUSSEL, Bertrand. Histria da Filosofia Ocidental. Vol. II. So Paulo: Cia. Editora Nacional, 1977, p.95 sustenta que apesar de livres do julgo dos Imperadores de Bizncio, os papas preferiam os gregos aos lombardos por vrias razes. Primeiro a autoridade dos imperadores era legtima, enquanto que os reis brbaros, a menos que reconhecidos pelos imperadores, eram considerados como usurpadores. Segundo, os gregos eram civilizados. Terceiro, os lombardos eram nacionalistas, ao passo que a Igreja mantinha o internacionalismo romano. Quarto, os lombardos haviam sido arianos e, mesmo depois de sua converso, conservavam ainda algum dio. 5 Mas o conflito entre a posio do Imperador do Oriente e o papado j se verificava por ocasio do Conclio de Calcednia, que condenara o monofisismo, segundo o qual Jesus Cristo tinha apenas a natureza divina. DUFFY, Eamon. Santos & Pecadores Histria dos Papas. So Paulo: Cosac & Naify Edies, 1998, fls. 38 salienta que opondo-se doutrina do Conclio da Calcednia, vastas regies do imprio aderiram a essa teologia de natureza nica(o monofisismo), particularmente o Egito, onde ela contava com o apoio de muitos monges do deserto. Na luta por manter unidos os seus fragmentados domnios, os sucessivos imperadores orientais no podiam se dar ao luxo de desdenhar ou hostilizar o sentimento monofisista, muito menos no Egito, o celeiro de todo o imprio, de modo que se empenharam desesperadamente na busca de um compromisso. Em 484, Accio, o patriarca de Constantinopla, adotou uma teologia pr-monofisita. O Imperador Zeno o apoiou e Roma rompeu sua comunho com Constantinopla. Esse cisma duraria trinta e cinco anos. 6 Em seu Dictatus Papae (1075) afirmava que s o pontfice romano pode ser justamente considerado universal. Ele o nico cujo nome deve ser pronunciado dentro das igrejas. Aquele que no estiver com a Igreja romana no deve ser considerado catlico. Sobre esse assunto ver LE GOFF, Jacques. A Civilizao do Ocidente Medieval, Bauru: Edusc,2005, p. 267. 7 Segundo DUFFY, p.38, os papas deviam detestar os reis brbaros e aspirar a vnculos mais slidos com o imprio catlico. Na prtica, porm, os imperadores eram suspeitos, apoiavam a heresia. Tal desconfiana levou o papado a distinguir cada vez mais claramente o secular do sagrado e a opor resistncia a toda pretenso imperial de autoridade sobre a Igreja.4

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lombardos8, mas foi seu filho, Carlos, quem os derrotou definitivamente, e, como prmio, coroado, na noite de Natal de 800, pelo Papa Leo III, Imperador.

3. A restauratio et translatio Imperii interessante ressaltar o anseio, poca, da necessidade de um governante que restaurasse o nome do pai, isto , a autoridade a que todos estariam submetidos. Moiss Romanazzi TORRES9 sustenta que A coroao de Carlos Magno, na noite de Natal de 800, numa restauratio et translatio Imperii, isto , pretendendo representar no apenas a restaurao do Imprio no Ocidente, mas a transferncia,(grifo nosso) j que os bizantinos haviam perdido a dignidade imperial (episdio da perda da viso do filho da imperatriz Irene, por mando dela), do Imprio Romano do Oriente para o Ocidente, correspondia a culminncia de um processo de aproximao, entre Roma e os francos, iniciado na poca de Clvis e decisivamente alavancado quando da mudana dinstica. Jacques le GOFF10 arge a trplice vantagem vista por Leo III em dar a coroa imperial a Carlos Rei dos Francos: Aprisionado e perseguido por seus inimigos em Roma ele precisava ver sua autoridade restaurada de fato e de direito por qualquer um que pudesse impor autoridade a todos sem contestao: um Imperador. Chefe de um Estado temporal, o Patrimnio de So Pedro, ele desejava ver esta soberania temporal corroborada por um rei superior a todos os demais tanto em ttulo quanto de fato. Enfim, junto com uma parte do clero romano, pensava em fazer Carlos Magno um imperador para todo o mundo cristo, incluindo Bizncio, a fim de lutar contra a heresia iconoclasta e estabelecer a supremacia do pontfice romano sobre toda a Igreja. Carlos Magno se deixou convencer e coroar em 25/12/800, mas s se defrontou com Bizncio para obter reconhecimento de seu ttulo e de sua igualdade. O acordo foi firmado em 814, alguns meses antes de sua morte. Os francos

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RUSSEL, p. 95, discorre que o Papa Estevo III, em 754, a fim de fugir dos lombardos, atravessou os Alpes e visitou Pepino, ocasio em que se fez um convnio muito vantajoso para ambas as partes. O Papa necessitava de proteo militar, mas Pepino precisava de algo que somente o Papa poderia conceder: a legitimao de seu ttulo de rei e lugar do ltimo dos merovngios. Em troca disso, Pepino concedeu Ravena ao Papa, bem como todo o territrio do anterior Exarcado da Itlia. Como no se podia esperar que Constantinopla reconhecesse essa doao, produziu-se a separao poltica do Imprio oriental. O papa, detentor do poder espiritual, passa a tambm governar terras como qualquer governante, tendo poder temporal, exatamente o inverso do caminho at ento percorrido. 9 TORRES, Moiss Ramanazzi. O Imprio na Idade Mdia Latina, disponvel em http://www.anpuhes.hpg.ig.com.br/ensaio24.htm acesso em 06/11/2005. 10 LE GOFF, p. 45/46.

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devolveram Veneza, mantendo as terras do norte do Adritico e o basileus reconheceu o ttulo imperial de Carlos Magno. O Imprio restaurado permaneceria a servio da Igreja e o poder imperial seria ento regido por normas de mbito moral e religioso. O problema foi que este Imprio no durou muito, seguindo os costumes francos, os netos de Carlos Magno dividiram o Imprio Carolngio em trs grandes reinos: Carlos o Calvo governaria a Francia, Lus o Germnico a Germnia e Lotrio a Lotargia, que inclua Aix e Roma, estes se fragmentaram11.

4. O Sacro Imprio Romano-Germnico Foi um perodo em que toda a Europa estava enfraquecida. Ataques dos normandos, magiares, sarracenos12. Nesta poca, a Germnia reunificada nas mos de Henrique I, duque da Saxnia. Seu filho, Oton I, derrota os magiares em 955, salvando a cristandade. Neste perodo, em Roma, Joo XII13 enfrenta intrigas e problemas polticos. Para fazer frente a eles, socorre-se de Oton14, e em 962 coroou-o Imperador do Sacro Imprio Romano-Germnico15/16.

Este um dos grandes problemas na alta Idade Mdia. R. STRAYER, Joseph. As Origens Medievais do Estado Moderno. Portugal: Gradiva, p18/19, sustenta que a forma dominante de organizao poltica na Europa ocidental foi o reino germnico, anttese daquilo que um estado moderno. Baseava-se em um sistema de lealdade a pessoas, e no a conceitos abstratos ou a instituies impessoais. Um reino era constitudo por todos aqueles que aceitavam um determinado homem como rei, ou que, nas sociedades mais estveis, reconheciam o direito hereditrio de uma determinada famlia a reinar. Estes reinos careciam de continuidade no tempo e de estabilidade geogrfica. (...) No possvel encontrarmos, em tais sociedades, instituies que funcionem de forma regular, nem sinais de soberania. O rei existia para resolver casos de emergncia, e no para dirigir um sistema legal ou administrativo. Falava em nome do seu povo com os deuses, conduzia-o na batalha com outros reis, mas cada comunidade resolvia os seus prprios assuntos internos. A segurana provinha da famlia, da vizinhana e do senhor, no do rei. 12 RUSSEL, p. 103, lembra que embora a conquista da Itlia pelos sarracenos tenha sido evitada pelos bizantinos, os costumes estavam bastante degradados, o prprio papado se torna quase que hereditrio. No comeo do sculo X os romanos mais poderosos eram o Senador Teofilacto e sua filha Marozia, esta foi amante, me e av de papas. Um de seus netos foi Joo XII. 13 Tendo sido eleito Papa com apenas 18 anos de idade e, na vinda de Othon, contava com 25 anos. 14 DUFFY, p. 84, discorre que em troca do apoio as eleies papais seriam obrigatoriamente referendadas pelos representantes do imperador e os papas teriam de jurar fidelidade a ele. 15 Le GOFF, p. 52, lembra que tal qual Carlos Magno, Oto I no viu em seu Imprio seno o Imprio dos Francos limitado aos pases que o tinham reconhecido como rei. As campanhas militares que empreende contra os bizantinos visam apenas ao reconhecimento de seu ttulo, o que vem a ocorrer em 972, num tratado estabelecido pelo casamento de seu filho mais velho com a princesa bizantina Teofnia. Igualmente, ele respeita a independncia da Frncia ocidental. 16 Embora nominalmente tenha durado at 1806, o Sacro Imprio nunca foi um estado nacional, mas sim uma mera confederao e os prncipes eleitores tinham a funo de eleger o Rei da Germnia, para s depois, ungido pelo Papa, tornar-se o Imperador. O nmero de eleitores s foi estabilizado pela Bula Dourada de 1356, do imperador Carlos IV em sete grandes eleitores, a saber: O Arcebispo de Mainz; o Arcebispo de Trier; o Arcebispo de Colnia; o Rei da Bomia; o Conde Palatino do Reno; O Duque da Saxnia e, finalmente, o Marqus de Brandenburgo.

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A idia da unidade desaparece rapidamente com a deposio do Papa Joo XII, por Oton II, forando a eleio de pessoas favorveis causa do imperador, bem como a prerrogativa deste para nomear bispos17. Comea a haver a disputa entre o papado e o imperador, na chamada questo das investiduras18. Essa disputa acabou por enfraquecer a ambos, no terreno poltico, embora, a Igreja tenha conseguido a prerrogativa de indicar seus bispos. 5. Disputas de poder: O Imperador e o Papa No terreno do direito, essa disputa teve grandes conseqncias para a delimitao do conceito de poder e de legitimidade, base do Estado moderno. De um lado, o papado, sustentando uma potestas indirecta ratione pecati (poder indireto devido ao pecado) e que possua por ser o vigrio no s de Pedro, mas tambm de Cristo, no apenas a chefia de toda a Igreja, mas o direito de, em caso de pecado, intervir no poder temporal depondo reis e imperadores e mais, segundo TORRES19, poca de Inocncio IV (1243-1254) Ser vicarius Christi e caput da Igreja no se referia somente a uma autoridade de carter carismtico; esta qualidade introduzia a uma ordem propriamente jurdica, a dos poderes legados no passado por Cristo e seus sucessores, cujos papas eram os herdeiros legtimos a potestas plena. Este poder, de carter essencialmente espiritual na origem, tornou-se um verdadeiro poder poltico. Tal temtica era particularmente ilustrada pela simbologia dos dois gldios. Era o papa quem detinha os dois: o espiritual e o temporal; o imperador apenas usava o gldio temporal sob a delegao do pontfice. Todo o17 Uma das razes pelas quais havia essa preocupao era que a igreja controlava parcelas significativas da renda. DUFFY, p. 89 sustenta que mais do que instituies espirituais, os mosteiros e bispados eram corporaes sociais e polticas imensamente ricas, controlavam vultosas rendas e tinham um peso proporcional nos clculos dos reis. Nenhum governante podia se dar ao luxo de fazer pouco de tal poder ou deix-lo incontrolado. Em toda a Europa, os governos vigiavam de perto a escolha de bispos e abades. Os mosteiros e outras igrejas fundados por reis ou prncipes a eles pertenciam, e suas rendas geralmente ficavam a disposio desses proprietrios leigos. O controle do governante era simbolizado na cerimnia de consagrao de um bispo, durante o qual o rei (ou o seu representante) entregava-lhe o bculo e o anel de ofcio. Tal investidura leiga haveria de tornar-se o foco do ataque do papado reformista interferncia secular em assuntos espirituais. 18 Disputa entre o Papa Gregrio VII e o Imperador Henrique IV. Encerrada com o Papa Calisto II e Henrique V. Para resolv-la, Calisto escreve ao imperador Henrique, no temais que a Igreja te v tirar qualquer direito, pois no ambicionamos a glria imperial. Queremos que a Igreja se d o que de Cristo, e ao imperador se d o que do imperador. Se quiseres ouvir-nos, alcanars o apogeu de teu poder imperial e, justamente, a glria do reino eterno. Com a Concordata de Worms em 1122, o imperador abriu mo de seu direito de escolher bispos. LE GOFF, p.90, discorre que em Worms, o imperador reservou ao papa a investidura pelo bculo e pelo anel, prometeu respeitar a liberdade das eleies e consagraes, mas conservou a investidura pelo cetrodo poder temporal dos bispados. 19 TORRES. O Imprio na Idade Mdia Latina, disponvel em http://www.anpuhes.hpg.ig.com.br/ensaio24.htm acesso em 04/12/2005.

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poder vem do Alto para as mos dos papas e se estes delegam ao imperador a utilizao do poder poltico para que ele, em sua prpria pessoa, no se sirva deste poder, mas governe em funo da Igreja.(grifo nosso) Assim o poder civil podia ser fundado somente no poder religioso. Tal era a expresso final da doutrina pontifcia da plenitude de seu poder. Por outro lado, o poder do imperador, ainda segundo TORRES20, que, com apoio da Escola de Bolonha21 precisava o sentido em que aceitava receber a coroa imperial das mos do papa: a eleio dos prncipes conferia ao rei dos romanos o pleno exerccio dos direitos imperiais; a sagrao nada acrescentava de constitutivo a essa dignidade, tendo apenas um carter moral marcado pela tradio. ... como era no antigo Imprio Carolngio, tambm no Sacro Imprio a pessoa do imperador deveria reunir todos os aspectos religiosos e polticos do poder. ... O imperador era a lex animata in terris (a lei viva sobre a terra): no a fonte do direito; mas seu guardio, seu defensor e executor. Ele era, a esse ttulo, a encarnao mesma da lei divina. Por outro, ele era o herdeiro direto de Csar e Augusto. Estas diversas autoridades o permitiam, no somente subtrair o Estado dominao da Igreja, mas reformar a prpria Igreja, reconduzir seus ministros ao estado original de pobreza e de submisso autoridade poltica, conforme o ensinamento paulino.

6. As primeiras noes de soberania: a plenitudo potestatis A disputa entre quem detinha a plenitudo potestatis, traduzindo-se na idia de que o poder consiste na faculdade de ditar normas imperativas, eventualmenteTORRES. O Imprio na Idade Mdia Latina, disponvel em http://www.anpuhes.hpg.ig.com.br/ensaio24.htm acesso em 04/12/2005. 21 O curioso que dentro da Escola de Bolonha surge a Escola dos Glosadores com o objetivo de ir contra o Imperador. Sobre este fato MOREIRA ALVES, Jos Carlos, Direito Romano, vol.I, RJ: Forense, 4ed., 1978, p. 75, sustenta que Irnrio, deu nova orientao ao ensino jurdico em Bolonha, fundando a Escola dos Glosadores, por duas razes: a primeira razo de ordem poltica (nesta poca, os partidrios do imperador da Alemanha lutavam contra os do Papa; deste era aliada a Condessa Matilde de Tuszien, que incumbiu Irnrio de aprofundar o estudo do direito romano, tendo em vista que, sendo ele direito nacional, serviria de elemento de combate ao direito estrangeiro); e a segunda razo, motivo de natureza econmica (neste tempo, observa-se o desequilbrio entre o desenvolvimento econmico da Itlia e as acanhadas normas jurdicas ento em vigor; para elimin-lo, bastava a utilizao do direito romano).20

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derrogatrias de preceitos preexistentes, se o Papa ou o Imperador22 passa a ser aproveitada pelos juristas medievais, no sculo XIII, que, assistindo ao despertar das cidades e principados livres principalmente no norte da Itlia23, introduziram uma noo de entidade que superiorem non recognescens24 ou seja, que no se sujeita ao senhor feudal local e, em certos casos, nem mesmo ao Imperador. Ser no Decreto Papal Pastoralis Cura (1313) a utilizao primeira, como expresso legal, do conceito de soberania nacional, onde se negava a universalidade do poder do Imperador25. Da, para a expresso Suprema potestas superiorem non recognoscens (poder supremo que no reconhece outro acima de si) relatada, dentre outros, por Luigi FERRAJOLI,26, ter sido apenas uma adaptao27.Apesar disso, para LE GOFF, p.268, A hegemonia do imperador cabea da Cristandade era mais terica do que real. Combatido muitas vezes na Alemanha, contestado na Itlia, ele em geral ignorado pelos prncipes mais poderosos. Desde o perodo otnida, os reis da Frana no se consideravam de nenhuma maneira submetidos ao imperador. 23 Importante lembrar o papel da Liga Lombarda na batalha de Legnano em 1176, derrotando as foras do Imperador Frederico Barba-Roxa. RUSSEL, p. 141, salienta que no conflito entre o Imprio e o papado, o desenvolvimento das cidades livres foi o que se revelou de mais importante nessa longa luta. O poder do imperador estava associado ao j decadente sistema feudal; o poder do Papa, embora ainda em ascenso, dependia, em grande escala, da necessidade que o mundo tinha dele como antagonista do imperador e, portanto, decaiu, quando o Imprio deixou de constituir ameaa; mas o poder das cidades era novo, resultado do progresso econmico e fonte de novas formas polticas. LE GOFF, p.90, salienta que ao combater um dolo de ps de barro, um poder anacrnico como o do imperador, o papa negligenciou chegando por vezes a favorecer a emergncia de um ovo tipo de poder, o dos reis. O conflito entre o mais poderoso deles, Felipe o Belo, rei de Frana, e o papa Bonifcio VIII, terminou com a humilhao do pontfice, esbofeteado em Agnani (1303) e exilado, e com o cativeiro do papado em Avinho (1305-1376). Os poderes espiritual e temporal estavam efetivamente separados. 24 KRITSCH, Raquel, em artigo Rumo ao Estado Moderno: As razes medievais de alguns de seus elementos formadores, publicado na Revista de Sociologia e Poltica n.23, p.103-114, de nov. 2004, citando Francesco Calasso, que o uso mais remoto, provavelmente em 1208, atribudo ao canonista ingls Alan. Na glosa de uma carta decretal do Papa Alexandre III, a respeito da distino entre jurisdio espiritual e jurisdio civil,(tratava-se de uma disputa entre Henrique II e Thomas Becket) Alan retomou a questo da origem do poder imperial. Esse poder, segundo ele, derivado do espiritual. Se assim no fosse, argumentava o Imperador no seria responsvel perante o Papa, que o julgava e o depunha e, prossegue o que se diz do Imperador deve ser dito tambm de qualquer rei ou prncipe no subordinado a ningum, que tem tanto direito em seu reino quanto o Imperador no Imprio. 25 O episdio narrado por Raquel KRITSCH. Em 1312, Roberto, o Sbio, resistiu s foras do Imperador Henrique VII, quando este estava em campanha na Itlia. Foi, ento, acusado de traio, com o argumento de haver incitado os toscanos e lombardos a rebelar-se contra as foras imperiais e a expulsar a administrao germnica do Norte da Itlia. O rei siciliano foi citado, recusou-se a comparecer perante o tribunal imperial de Pisa e foi condenado por crime de lesa-majestade.Como o reino da Siclia era, nominalmente, feudo do Papado, Roberto levou o problema ao Papa, que consultou vrios juristas eminentes. Em 1313, Clemente V editou o decreto papal Pastoralis cura, aderindo oficialmente ao ponto de vista, at ento terico, de que o rei soberano em seu territrio e no pode ser citado ante o tribunal de nenhum outro rei nem ante o do Imperador. Como rei, no poderia cometer alta traio contra nenhum outro rei, por no ser sdito. 26 FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno. So Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 1. 27 A expresso original era rex superiorem non recognoscens in regno suo est imperator (o rei, que no reconhece nenhum outro poder acima de si, tem, no mbito do prprio reino, os mesmos poderes que tem o imperador sobre todo o Imprio).22

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A essa poca, a escolstica28, retomando a filosofia aristotlica, d o cabedal e a bno necessrios para repor o homem no centro do sistema, lanando as bases para o individualismo do Renascimento. A sua doutrina vai ter implicaes na concepo nascente de soberania, que vai surgir como conceito marcante da autonomia dos principados em face do Papa e do Imperador.

7. A doutrina do poder descendente e a legitimidade A questo da legitimidade do poder, nesta disputa, pode ser sintetizada, na viso de Raquel KRITSCH, citando Egdio ROMANO na doutrina do poder descendente29/30

Principalmente devido a sua grande crena na dialtica e no raciocnio silogstico. LE GOFF, p. 346, sustenta que o mtodo escolstico , em primeiro lugar, a generalizao do velho procedimento, empregado notadamente em relao bblia, das questiones et responsiones(questes e respostas). Mas colocar problemas, por os autores em questes, no plural, levou a que fossem colocados em questo, no singular. Nesse primeiro momento, a escolstica foi o estabelecimento de uma problemtica. Passou em seguida a ser um debate, a disputa, e aqui a evoluo, consistiu em que, ante o puro argumento de autoridade, o recurso razo ganhou importncia crescente. Enfim, a disputa acabava-se com uma conclusio(concluso) dada pelo mestre. AQUINO, Toms, Questes discutidas sobre a verdade, Coleo Os Pensadores, SP: Ed. Abril, 1985, p. 20 e seguintes, trabalha exatamente com essa lgica. 29 Esta doutrina se referia frmula evanglica da sagrao de So Pedro: tudo que ligares na terra ser ligado no cu, tudo que desligares na terra ser desligado no cu, foi invocada, vrias vezes para afirmar a jurisdio tanto religiosa quanto secular da Santa S. 30 Aqui importante fazer-se uma ressalva: a disputa poca de Edgio Romano (1247-1316) dizia respeito ao conflito entre o Papa Bonifcio VIII e Felipe, o Belo, rei da Frana. Lus A. de Boni, na introduo da obra de ROMANO, Egdio. Sobre o Poder Eclesistico, Petrpolis: Ed.Vozes, 1989, p.12, discorre que primeira leitura pode-se talvez pensar que Egdio simplesmente retoma a disputa terica da poca das investiduras, com aqueles mesmos argumentos tantas vezes repetidos pelos medievais. Tal impresso enganosa. Os argumentos e os exemplos so os mesmos, mas o mundo outro: a questo posta no mais a da relao entre o papa e o imperador dentro de uma nica cristandade; trata-se agora de definir qual a relao entre o poder eclesistico e o civil na constituio de novos estados soberanos; necessrio redefinir competncias entre a autoridade religiosa supranacional e as autoridades civis nacionais que neste momento se afirmam. Ainda de BONI, p. 16, reala que no sculo XIV, Egdio no pode negar um mbito especfico da ao do Estado, nem o direito existncia. O Estado uma exigncia da natureza, como diz a tradio aristotlico-tomista, qual, porm, Egdio acrescenta: exigncia da natureza enquanto voltado para aquele que o fim superior da natureza: a salvao do homem. Na realidade, no passa de um momento intermedirio dentro de um ordenamento maior; um degrau superior ao qual tendem necessariamente os homens, a fim de verem satisfeitas suas necessidades terrenas, mas no passa disto. O fim, para o qual tende, sequer o pode descobrir por si mesmo; encontra-o atravs da Igreja, instituda para conduzir a este fim e revel-lo aos homens. Sem o ordenamento Igreja, torna-se impossvel pensar no Estado, seria o mesmo que abstra-lo do universo. Se Egdio Romano no tem dvidas em posicionar-se a favor do Papado, Joo QUIDORT (1270-1306) , em sua obra Sobre o Poder Rgio e Papal, Petrpolis: Vozes, 1988, se posiciona de modo diferente, criticando os defensores do poder direto do papa em questes temporais Lus A. de Boni tambm fez a introduo a esta obra e, sintetizando o pensamento de QUIDORT, no captulo XVIII, p.32/33 discorrendo que se o papa no se encontra na origem do poder episcopal, muito menos na do poder temporal. Este provm imediatamente de Deus, do mesmo modo que o espiritual, e tendo sujeito e objetos prprios. Se em questes de f o rei instrudo pelo papa, no o na condio de rei, mas na de simples fiel; no acontece o mesmo, porm, em questes do exerccio da autoridade civil, onde o monarca no conhece ningum que lhe seja superior. Caso contrrio, se o rei dependesse do papa para legislar, haveria ento um governo papal, e no real, reduzindo-se o monarca a simples ministro do papa.

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Essa doutrina do poder descendente, porm teve mais de uma verso. Em rigor, a idia de Deus como fonte do poder funcional para qualquer das pretenses polticas em jogo na Idade Mdia, especialmente a partir do sculo XIII: 1) na verso tradicional, mais til aos papas, o sucessor de So Pedro seria o transmissor da autoridade concedida por Deus. Esse o sentido da sagrao dos governantes seculares pelo Papa; 2) em uma verso alternativa, o poder seria concedido por Deus diretamente aos governantes (doutrina que ser a base teolgica do absolutismo nos sculos XVI e XVII), derivando, claramente, das pretenses dos imperadores; 3) em uma terceira interpretao, o poder seria concedido por Deus ao povo e destes aos reis ou imperadores. Essa doutrina de inspirao tomista. Se a legitimidade31 para governar, qualquer que fosse a concepo adotada, estavam postas, ou seja, ela passaria, sempre, por Deus, as condies bsicas para a constituio do Estado tambm, ainda que com a estrutura feudal32. Joseph R. STRAYER33 as salienta: O aparecimento de unidades polticas persistentes no tempo e geograficamente estveis, o desenvolvimento de instituies permanentes e impessoais, o consenso em relao necessidade de uma autoridade suprema e a aceitao da idia de que esta autoridade deve ser objeto da lealdade bsica dos seus sditos. Claude LEFORT34, sintetiza essas transformaes, argumentando que

Mesmo o poder temporal derivaria, isto , se legitimaria, pela vontade de Deus, considerando-se o carter eminentemente de f existente ao longo de toda a Idade Mdia, j que a prpria coroao era uma cerimnia de sagrao em que o Imperador ou mesmo o rei, era ungido. LE GOFF, p. 270 salienta que sobre esta questo religiosa de reis e imperadores que o primeiro meio empregado em sua poltica para este fim foi a sagrao e a coroao, cerimnias religiosas que faziam deles o ungido do Senhor, o rex a Deo coronatus(rei coroado por Deus). A sagrao um sacramento. Era acompanhada de aclamaes litrgicas, as laudas regiae(louvaes rgias) , o reconhecimento solene pela Igreja do novo soberano, inserido na hierarquia celeste. Elas proclamavam a harmonia csmica do Cu, da Igreja e do Estado. 32 Para LE GOFF, p.84, o feudalismo o conjunto de laos pessoais que unem entre si, hierarquicamente, os membros das camadas dominantes da sociedade. Tais laos apiam-se numa base real: o benefcio que o senhor concede a seu vassalo em troca de um certo nmero de servios e de um juramento de fidelidade. Em sentido estrito, o feudalismo a homenagem e o feudo. O senhor e seu vassalo uniam-se pelo contrato vasslico mediante a prestao de homenagem(...) recorrendo a uma frmula do tipo: Senhor, passo a ser vosso homem. (...) A concesso do feudo pelo senhor ao vassalo era feita numa cerimnia, a investidura, que consistia num ato simblico, na entrega de um objeto, aps o juramento de fidelidade e a homenagem. 33 R. STRAYER, p.16. 34 LEFORT, Claude, em artigo intitulado Nao e soberania, do livro A crise do Estado-Nao. RJ: Civilizao Brasileira, 2003.

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A unidade poltica que se desenha no final da Idade Mdia o reino. O monarca no se contenta em manifestar sua independncia de fato em relao ao imperador; proclama que no h ningum acima dele na ordem temporal e apresenta-se como o fiador da unio de um povo e da permanncia da comunidade do reino. ... Ora, no reino concebido como corpo poltico o que o imprio nunca foi investe-se uma misso espiritual. (...) o reino torna-se capaz de assimilar a simblica da Igreja, de sorte que os sditos do monarca, qualquer que seja o seu lugar na hierarquia, representam os membros do corpo poltico, enquanto ele mesmo representa a cabea. Essa imagem comporta uma dupla significao: imagem de um corpo natural, rplica do corpo humano, corpo funcional, e tambm aquela de um corpo mstico. ... importante, enfim, assinalar os laos que foram criados entre, de um lado, a ideologia religiosa e o projeto imperial, e, de outro, o Iluminismo. Diversos historiadores mostraram o quanto foi precoce a reativao do ideal da cidadania antiga, que encontrava sua melhor expresso na frmula Pro patria mori; uma frmula que ganhava nova ressonncia na medida em que morrer pela ptria significava igualmente morrer por Deus e pelo rei. Mas foi preciso esperar pelo sculo XVI para dimensionar a mudana em uma Europa onde o fortalecimento de alguns grandes reinos parecia ter apagado o mito do imprio.

H um deslocamento conceitual entre o papel exercido pelo soberano, pelo rei, da Idade Mdia, com o aparecimento da teoria da soberania. Livrando-se da sombra do Imperador e do Papa, quando consolidado o poder real, no dizer de BOBBIO35, o mais importante entre os iura do rei, por ser aquele que o tornava justamente rei, consistia em administrar a justia com base nas leis consuetudinrias do pas. Introduzida a idia de Soberania, o novo rei soberano na medida em que faz a lei e, consequentemente, no por ela limitado, encontra-se supra legem36. Com o crescimento do comrcio, fortalecimento das cidades surge uma nova classe, que, embora demorasse ainda sculos para se impor ao poder, tinha o interesse de uma estabilidade para seus negcios: os burgueses. Para ela e para os demais, a

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BOBBIO, Norberto. Dicionrio de Poltica, vol. II, 14. Ed., Braslia: UnB, 2004, p.1182. BOBBIO. Dicionrio de Poltica, p.1182.

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estabilidade somente poderia existir com uma burocracia mais estvel e, principalmente, na prerrogativa do rei em aplicar a justia37, atravs de seus tribunais38. Presente a base histrica para a formao dos elementos conceituais de legitimidade39 e soberania40, o prximo passo natural foi a inter-relao destes conceitos com os elementos constitutivos do Estado41, construo de uma identidade. 8. Construo de uma Identidade o Estado e seus elementos constitutivos Para construir um Estado42, dentro dos seus elementos constitutivos, histricos, tm-se, tradicionalmente, como elementos objetivos, povo, territrio, e governo.37 H um retornar quela idia do Imprio Romano, de um poder Imperium proconsulare, mesmo que atenuado, com a tribunicia potestas, 38 Segundo R.STRAYER, J., p. 69, nos sculos XII e XIII, o objetivo fundamental, quer dos soberanos, quer dos membros responsveis da sociedade, tinha sido o de aumentar a competncia e o prestgio dos tribunais, de forma que a maioria dos conflitos pudesse ser resolvida por meios pacficos. Fora necessrio exercer uma presso constante sobre os ricos e os poderosos para os levar a aceitar a jurisdio dos tribunais, e nenhum governo estava disposto a correr o risco de enfraquecer os procedimentos legais estabelecidos. Mas os bares, os prelados e os municpios rapidamente perceberam que, se acedessem a jogar segundo as novas regras, se podiam opor mais eficazmente ao governo por meio de aes de obstruo legal do que pela resistncia armada. 39 Dentre as vrias definies de legitimidade, BOBBIO. Dicionrio de Poltica, vol. II, p.678, ao referir-se quanto a estrutura poltica e social, crena na legitimidade e ideologia, sustenta que o termo Legitimidade designa, ao mesmo tempo, uma situao e um valor de convivncia social. A situao a que o termo se refere a aceitao do Estado por um segmento relevante da populao; o valor o consenso livremente manifestado por uma comunidade de homens autnomos e conscientes. O sentido da palavra Legitimidade no esttico, e sim dinmico: uma unidade aberta, cuja concretizao considerada possvel num futuro indefinido, e a realidade concreta nada mais do que um esboo deste futuro. Em cada manifestao histrica da Legitimidade vislumbra-se a promessa, at agora sempre incompleta na sua manifestao, de uma sociedade justa, onde o consenso, que dela a essncia, possa se manifestar livremente sem a interferncia do poder ou da manipulao e sem mistificaes ideolgicas. 40 ARON, Raymond, Paz e Guerra Entre as Naes, Clssicos IPRI, Braslia: Editora UnB, 2002, 886, considera que a soberania pode ser, ao mesmo tempo, como fundamento tanto da ordem intra-estatal, como da interestatal. Segundo ele, diz-se que um Estado soberano porque, dentro de seu territrio, o sistema legal que postula, ou com o qual se confunde, a instncia suprema exceo feita s regras consuetudinrias, obrigatrias para todos os Estados civilizados, e s obrigaes constantes de convenes ou tratados. Esse sistema s est em vigor, entretanto, dentro de um espao limitado, aplicando-se apenas s pessoas de uma certa nacionalidade. Portanto, se a soberania absoluta, a ordem dentro do Estado essencialmente diferente da ordem interestatal, porque a primeira implica a sujeio a uma nica autoridade, que a segunda exclui. 41 R. STRAYER, J., p.65, ressalta que em 1300, porm, no se sabia muito bem quem era independente e quem no o era, no sendo fcil traar fronteiras muito claras numa Europa que at ento s conhecera a existncia de esferas de influncia que em parte se sobrepunham e a flutuao das zonas fronteirias. Os grandes reinos do Ocidente tinham talvez ncleos slidos, mas nas suas margens havia zonas cuja incorporao no estado estava em discusso: Gales e a Esccia, no caso da Inglaterra, e a Bretanha, a Guyenne, a Flandres e os restos do antigo reino do Centro, no caso da Frana. A Inglaterra conquistou o Pas de Gales, mas no conseguiu absorver a Esccia; a Frana conquistou a Guyenne, anexou a Bretanha e vrios pequenos territrios situados ao longo de sua fronteira oriental, mas no conseguiu apoderar-se da Flandres. (...) Em menor grau, o mesmo resultado foi atingindo na Alemanha e na Itlia, embora de forma mais modesta e menos estvel. Na ausncia de reinos poderosos, cada principado alemo e cada cidade italiana pretendiam impor a sua soberania. Pequenas guerras, alianas matrimoniais e partilhas de heranas vinham contribuir para que o nmero e o tamanho dos estados sofressem violentas flutuaes. 42 MELLO, Celso de Albuquerque, Curso de Direito Internacional Pblico, vol I, 13.ed., RJ: Renovar, 2001, p. 373, discorre que a palavra Estado se origina do latim status (estar de p, a idia de uma certa estabilidade de situao). Na Antiguidade e Idade Mdia a palavra status era a boa ordem (status reipublicae) No sculo XIII significa estrutura jurdica. Na Idade Mdia, o Estado urbano denominado Civitas e a monarquia territorial chamada de regnum. A palavra respublica era usada para a reunio de fiis e foi Maquiavel, em sua obra O

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Na idia de povo h uma idia seletiva, vez que exclui dentro de uma populao, parcelas desta. Da a identificao com nao, mas no a nao longnqua dos indo-europeus, ou mais tardiamente, dos povos germnicos, eslavos, etc. A nao43 que se identifica com o Estado, origina-se como um fenmeno secundrio das invases brbaras. Estas invases, violentas44, em um segundo

momento, buscaram tambm o saque s cidades romanas, provocando uma retirada de boa parte da nobreza para suas propriedades rurais, onde, a princpio, estariam salvos45. Neste deslocar, os patrcios romanos levavam consigo, alm de seus pertences, toda uma infra-estrutura, para, se possvel, ausentar-se o menos possvel da regio em que passaram a viver. E levando-se ainda em considerao a peste negra do sculo IV, muitas profisses passaram a rarear, levando aos Imperadores s tornar obrigatoriamentePrncipe, 1513, quem utilizou a palavra, pela primeira vez, no seu sentido moderno, de uma entidade poltica geral situada acima dos regimes particulares. 43 ARON, em Paz e Guerra Entre as Naes, p. 385/6, sustenta que uma nao sempre o resultado da histria, uma obra dos sculos; nasce por meio de provas, a partir de sentimentos experimentados pelos homens, mas com a influncia da fora, a fora de uma unidade poltica que destri as unidades preexistentes, ou a fora do Estado que ordena as regies e as provncias.(...) a nao passava, no fim do sculo XIX, pela obra-prima da histria, a realizao com xito de um esforo secular. Os homens criavam juntos uma cultura e, por um plebiscito cada dia renovado, decidiam viver em conjunto. (...) A vontade afirmada pelas naes tornou-se uma expresso de orgulho coletivo, uma pretenso de superioridade. Como as naes soberanas esto engajadas numa competio de potncia, as conquistas tiveram sua intensidade aumentada, em vez de ser atenuada. As guerras entre os monarcas transformaram-se em guerras entre os povos. Os homens passaram a acreditar que o destino das culturas era jogado nos campos de batalha, juntamente com a sorte das provncias. 44 Para ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo, 3.ed., SP: Ed. Brasiliense, 1991, p. 108/109, salienta que a primeira grande onda comeou com a momentosa marcha atravs do Reno gelado na noite de inverno de 31 de dezembro de 406, por uma informal confederao de suevos, vndalos e alamanos. Poucos anos depois, em 410, os visigodos, sob as ordens de Alarico, saquearam Roma. 45 Em face da difcil situao poltica existente em um Imprio quase que nominal, no entender de GEARY, Patrick J. O Mito das Naes A Inveno do Nacionalismo, SP: Conrad Editora do Brasil, 2005, p. 124, para os inquietos proprietrios de terras provincianos, a presena dos brbaros era uma bno. A manuteno dos exrcitos brbaros era muito menos dispendiosa do que a dos exrcitos provincianos tradicionais, e aparentemente os brbaros causavam menos problemas para os agricultores. Alm disso, os comandantes brbaros geralmente respondiam melhor aos interesses locais e estavam mais dispostos a negociar com as aristocracias provincianas. ... os membros da aristocracia provinciana ocidental tendiam a colocar os interesses locais acima de um ideal efmero de unidade imperial. Por outro lado, a curiosa diviso entre os brbaros e romanos no tocante s terras, tornaram queles primeiros guardies da lei romana. Sobre esse fato, ANDERSON, Perry, op.cit., p. 110/111, discorre que para as comunidades invasoras, a primeira questo fundamental a ser decidida, depois de suas vitrias em campo, era a da disposio econmica das terras. A soluo adotada normalmente era um modelo prximo s prticas romanas (...) O regime de hospitalitas. (...) Derivado do velho sistema de aquartelamento imperial. (...) A distribuio de terras sob o sistema de hospitalidade provavelmente afetava a estrutura da sociedade romana relativamente pouco: dado o pequeno nmero de conquistadores brbaros envolvidos, os sortes ou lotes a eles distribudos jamais cobriram seno uma certa poro dos territrios sob seu governo. (...) Por outro lado, (...) os sortes no eram partilhados totalmente pelos guerreiros germnicos que chegavam. Pelo contrrio, todos os pactos entre romanos e brbaros referentes s divises de terras, envolviam apenas duas pessoas: o proprietrio de terras de provncia e um scio germnico. (...) Dentro de mais ou menos uma gerao, uma aristocracia germnica estava consolidada sobre a terra, com um campesinato dependente abaixo dela. Estavam lanadas as sementes para a criao de um novo modelo a substituir o Imprio, como unidade territorial.

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hereditrias46. Esta infra-estrutura contava com o apoio de ourives, escribas, marceneiros, carpinteiros, pedreiros47. A vida passou a girar em torno da terra. No h mais escravos pessoais, mas servos da gleba. Criam-se costumes, o passado comum abandonado, e forma-se uma nova histria, comum a todos. Se o lao que os une a terra, abandona-se o princpio do ius sanguinis48 (nacionalidade dada em razo da filiao) romano, para o ius soli (nacionalidade dada em razo do local de nascimento). Claude Lefort49, citando Ernest Renan historiador do sculo XIX, em uma conferncia pronunciada em Sorbonne, em 1882, intitulada O que uma nao retraa a histria das divises da Europa desde o fim do imprio romano e das invases germnicas, para indicar os caminhos pelos quais a Frana, a Alemanha, a Inglaterra e a Espanha conquistaram uma existncia nacional, que a fuso de populaes que os compe (...) pelo sucesso da mestiagem. Foi depois da runa do imprio romano e da converso dos brbaros ao cristianismo que se constituram grupamentos que pouco a pouco adquiriram a memria de uma vida comum, mas aceitaram tambm esquecer sua origem tnica e a lngua fala outrora. (...). O conceito de raa, segundo ele, foi inventado por motivos belicistas. A lngua incitou reunio dos homens, mas no lhe necessria, com demonstra o fato de que os Estados Unidos e a Inglaterra, ou os pases da Amrica Latina,LE GOFF, p. 35, sustenta que fato social, a ruralizao o aspecto mais espetacular de uma evoluo que vai imprimir sociedade do Ocidente medieval um trao essencial que permanecer arraigado nas mentalidades por muito mais tempo do que na realidade material: a compartimentao profissional e social. A fuga de certos ofcios e a mobilidade da mo-de-obra rural tinham levado os imperadores do Baixo Imprio a tornar obrigatoriamente hereditrias certas profisses, e encorajado os grandes proprietrios a fixar na terra os colonos que substituam os escravos cada vez menos numerosos. Permanecer opor-se- a mudar e, sobretudo, ao conseguir mudar. O ideal ser uma sociedade de manants, de manere, ficar, uma sociedade estratificada, horizontalmente compartimentada. 47 Mais tarde, isto ir criar as corporaes de ofcio. 48 Em Roma o indivduo era qualificado segundo sua posio, seu status. H trs: o status libertatis, que era conferido pela me, se esta fosse escrava, o filho tambm o seria; o status civitatis, isto , a condio de civis, habitante de uma civitas, que era conferida pelo pai, em no sendo a criana escrava; e o status familiae, que era sua posio na famlia, que poderia ser sui iuris ou alieni iuris. Pelo Edito de Caracala, em 212, estendeu-se a quase todos os habitantes do imprio a cidadania romana. Sobre este Edito, COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga, SP: Ed. Martin Claret, 2006, p. 410/11, salienta que esta cidadania romana foi estendida aos habitantes do imprio para generalizar a cobrana do imposto do vigsimo sobre as alforrias e as sucesses, que os peregrini no pagavam. Ademais, a distino entre peregrinos, latinos e cidados no desapareceu inteiramente, pois a encontramos ainda em Ulpiano e no Cdigo; parecia natural, com efeito, que os escravos libertos no se tornassem logo cidados romanos, mas passassem por todas as antigas categorias que separavam a servido do direito de cidade. V-se, tambm, por certos indcios, que a distino entre terras itlicas e terras provinciais subsistiu ainda por bastante tempo. (...) Desse modo, a urbe de Tiro, na Fencia, ainda depois de Caracala, continuou gozando, por privilgio, do direito itlico; e a conservao dessa distino se explica, pelo interesse que os imperadores tinham em no se privar, por vontade, dos tributos que o solo provincial pagava ao fisco. 49 LEFORD, Claude em artigo intitulado Nao e soberania, da obra A crise do Estado-Nao, ob.cit, s fls.59/6046

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seja a Espanha, seja Portugal, falam a mesma lngua e ao mesmo tempo formam naes diferentes, enquanto a Sua pde reunir populaes que falam quatro lnguas distintas. A religio tambm no suficiente para assegurar os fundamentos de uma nacionalidade moderna, pois no h religio de Estado: pode-se ser francs, ingls, alemo, sendo-se catlico, protestante, israelita ou no praticando culto algum. s fls. 62/64 prossegue perguntando: O que nao? Essa questo, tal como colocada desde o final do sculo passado, muitas vezes ligada a esta outra: como se formou a nao? Nao um produto da Histria. A nao s merece seu nome a partir do momento em que se afirma como soberana, seja que ela j tinha uma forma no quando do reino medieval, temos que reconhecer que ela coincide com a existncia de um territrio delimitado por fronteiras sobre o qual se exerce uma autoridade soberana. Na falta dessa caracterstica, o termo no designaria nada mais que uma etnia, isto , uma populao cujos membros tem a mesma origem, distinguem-se pelo uso de uma mesma lngua e pelo apego aos mesmos costumes. Assim, a idia de soberania e aquela de nao parecem associadas. Essa observao, todavia, deve ser corrigida: a idia de soberania nasce, com efeito, na Europa, bem antes que se apoie na existncia ou suposta existncia da nao. Ela surgiu de um conflito entre duas autoridades (...): o papa e o imperador. Quem era soberano como resultado da disputa entre papa e o imperador foi o rei. O deslocamento do poder soberano para o povo como sinnimo de nao um fenmeno muito mais recente, decorrente da Revoluo Francesa. Claude Lefort, s fls.70/71 afirma que A idia de que a soberania reside na nao uma idia que Siys defendeu rigorosamente, antes mesmo que fosse impressa na Declarao esconde uma ambigidade. Por um lado, quando h transferncia explcita da soberania de um antigo para um novo depositrio, a representao do Um corre o risco de se manter. (...) Ora, uma vez afirmado que o povo no tem ningum acima dele mesmo, que nem algum nem alguns tm o direito de comandar, no se pode entender que ele esteja acima das leis, dessas leis que seus representantes, devidamente mandatados por ele, elaboraro e ho de elaborar? Que representao fazer do povo, uma vez que lhe foi concedida uma autoridade que excede qualquer instituio? Reformulemos a questo. O rei soberano 889

dispunha efetivamente de meios de exerccio da potncia; ao contrrio, a qualificao do povo como soberano no d a conhecer as condies de exerccio de sua potncia. J, Adauto Novaes50, discorrendo sobre as noes de Estado, Nao e Soberania sustenta que historicamente explicveis, Estado e Nao parecem ter um destino comum: criar a ideologia dos tempos modernos, que o conceito de soberania (nacional ou popular). esse conceito que d contedo concreto idia de Estado, que supe a existncia de uma vontade comum dos indivduos e, portanto, unidade ideal: [e isso que atribui coerncia e legitimidade ao poder do Estado: a soberania racional e necessria que emana da vontade o povo realizao histrica d Esprito e da nao. O Estado , na expresso de Hegel, a organizao concreta do Esprito de um povo, do qual a revelao. O Estado , portanto, a forma visvel da soberania, e que, por isso mesmo, atribui-se o poder de resolver base da violncia, quando a ideologia falha, qualquer conflito surgido na sociedade, uma vez que povo e Estado representam a mesma realidade, isto , vontade comum e unidade racional. Negao da multiplicidade do mltiplo, o Estado expresso lgica do Um, que se separa do corpo da sociedade, tornando-se instncia exterior e superior. Construram-se conceitos, mesclando a idia de Estado, Nao e Soberania como condies indissociveis para o Estado-Nao. A idia de soberania, como vimos, surgiu de um Decreto Papal - a Pastoralis Cura (1313), mas, faticamente, a primeira exposio sistemtica de soberania atribuda a Jean Bodin, no sculo XVI, na obra Os Seis Livros da Repblica. A isto, Alberto Ribeiro de BARROS51 sustenta ao tratar da estrutura da sociedade poltica, Bodin reconhece a existncia de trs normas: a lei moral, que o indivduo aplica a si mesmo; a lei domstica, que exercida no seio da famlia por um indivduo, o chefe de famlia, em relao a seus dependentes, a esposa, os filhos e os servos; e a lei civil, que regula as relaes entre as vrias famlias. Entre essas trs normas, responsveis pela ordenao e conservao da sociedade poltica, a lei civilNOVAES, Adalto. Artigo intitulado A inveno e a crise do Estado-Nao. Na obra A crise do Estado-Nao. RJ, Civilizao Brasileira, 2003, p. 17/18. 51 BARROS, Alberto Ribeiro. A teoria da Soberania de Jean Bodin. So Paulo, Unimarco Editora, 2001, p.233.50

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aparece como a mais importante, por se a norma suprema em matria de prescrio ou proibio. A lei civil, por sua vez, dividida em trs partes: o comando (imperium), a deliberao (consilium) e a sano(executio). O comando supremo (summum imperium), do qual as outras partes da lei civil derivam, se manifesta de inmeras maneiras, mas mais especificamente em quarto aes: na criao de magistraturas e na atribuio de suas funes; na promulgao e revogao das leis; na declarao da guerra e no estabelecimento da paz; na atribuio de penas e recompensas. So aes consideradas os principais direitos da soberania, pois possibilitam ao seu detentor as condies necessrias para governar a sociedade poltica. E, s fls. 334, prossegue: o poder da sociedade poltica, para ser considerado soberano, tem de ser perptuo e absoluto. O adjetivo perptuo indica a continuidade que o poder deve ter ao longo do tempo. Se tiver uma restrio cronolgica, por mais amplo que possa ser, no pode ser considerado soberano. Trata-se da afirmao do princpio de continuidade temporal do poder pblico. Os juristas medievais j haviam proclamado a propriedade imortal da pessoa do rei com expresses como o rei no morre jamais, o rei esta morto! Viva o rei, desviando a ateno da inevitvel ordem da natureza fsica, do corpo material do rei, para se fixar no carter metafsico da realeza, que sempre permanece. BARROS ressalta s fls, 23 que o conceito de soberania serviu como justificativa jurdica para o processo de centralizao administrativa e judiciria, de concentrao do poder poltico, j que apresentava a idia de que em toda a sociedade poltica deve haver uma esfera ltima de deciso um nico centro de comando, livre de qualquer interveno, interna ou externa, que imponha normas aos membros dessa sociedade, de maneira exclusiva e de acordo unicamente com sua vontade. Observe-se que ainda o poder est aglutinado em torno da figura do monarca. A expresso Estado, tal como hoje usada, corre a partir de MACHIAVEL. Norberto BOBBIO52, interpretando o pensamento de Bodin sustenta que O poder soberano consiste eminentemente na capacidade de fazer leis, isto , de estabelecer as normas gerais que interessam a toda52

BOBBIO, Norberto. A Teoria das Formas de Governo. 10. Braslia, UnB, 1997, p.98.

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a comunidade. Das duas uma: ou o povo no tem o poder de legislar, e o Estado no misto (ser aristocrtico, se esse poder pertencer ao senado; monrquico, se pertencer ao rei); ou ento o poder pertence ao povo e o Estado democrtico. A afirmativa importante, na passagem citada, a de que alm dos atributos a perpetuidade e o carter absoluto -, a soberania tambm indivisvel. O soberano seja um monarca ou uma assemblia ou tem todo o poder, ou no tem poder. Quando o poder est dividido, o Estado perde unidade, e com ela a estabilidade. Ou o Estado uno ou no chega a ser um Estado. s fls. 96, BOBBIO explica o que Bodin entende por poder perptuo e absoluto. Contrariamente ao que se pensa de modo geral, poder absoluto no quer dizer poder ilimitado. Quer dizer simplesmente que o soberano, detentor do poder de fazer leis vlidas em todo o pas, no est sujeito a essas mesmas leis, porque no pode dar ordens a si mesmo. Contudo, como todos os outros seres humanos, o soberano est sujeito s leis que, no dependem da vontade dos homens isto , s leis naturais e divinas. Na escala ascendente dos poderes, o poder do soberano terrestre no o mais alto; sobre ele est a summa potestas de Deus, de quem dependem as leis naturais e divinas. Outros limites ao poder soberano so impostos pelas leis fundamentais do Estado que hoje chamaramos de leis constitucionais. Por exemplo: a lei que, numa monarquia, estabelece a sucesso ao trono: O prncipe no pode revogar as leis que tratam da prpria estrutura do reino, dos seus fundamentos, as quais esto vinculadas coroa, e a ela indissoluvelmente unidas. O que quer que um prncipe decida, nesta matria, seu sucessor tem pleno direito de abolir tudo o que se tenha feito em prejuzo daquelas leis sobre as quais se apoia a prpria majestade soberana. Outro limite ao poder soberano imposto pelas leis que regulam as relaes privadas entre os sditos, especialmente as relativas propriedade: Se o prncipe soberano no tem o poder de ultrapassar os limites das leis naturais, estabelecidas por Deus de que ele uma imagem s poder tomar os bens alheios se tiver motivo justo e razovel: mediante compra, troca ou confisco legtimo; ou para a salvao do Estado... No havendo as razes mencionadas, o rei no poder apropriar-se da propriedade alheia, dispondo da mesma sem o consentimento do proprietrio.

Evidentemente que esta construo no se deu sem traumas, j que a prpria Igreja, nesta fase final da Idade Mdia, manteve-se e, nos dizeres de LE GOFF, p.93, 892

A terceira realizao da monarquia centralizadora foi levada a cabo pelo Papado. Tal sucesso deveu pouco ao poder temporal do Papa, baseado territorialmente no pobre Patrimnio de So Pedro. Foi ao assegurar sua autoridade sobre os bispos, e sobretudo ao drenar no sem despertar vivos protestos, por exemplo, na Inglaterra e na Frana os recursos financeiros da Igreja, ao encabear a codificao do direito romano, que o papado, no sculo 12 e sobretudo no 13, tornou-se uma monarquia supranacional eficaz. Esta monarquia no somente resistir ao exlio de Avinho mas afirmar seu poder sobre a Igreja. Este poder, somado a uma nova peste negra (aps 1378), acarretar conseqncias e um apoio de prncipes interessados na no drenagem das riquezas das Igrejas localizadas em seus territrios, apoiando, de maneira ostensiva, novos movimentos religiosos, considerados herticos pelo Papado, mas que conseguiram se consolidar, fortalecendo, desde modo, o prprio domnio destes prncipes sobre assuntos nacionais. H a reforma protestante53.

9. A reforma protestante. Os sculos XIV-XVII vivem novo furor religioso. Se a escolstica deu o impulso inicial para a discusso do Estado feudal, este pensamento engessante, segundo seus detratores, comea a dar lugar a um humanismo. E os sonhos e desafios herdados pelos Otnidas, na inteno de submeter Itlia ao domnio do Imperador Alemo, causam ressentimentos amargos de ambos os lados54. De um lado, o menosprezo alemo pela licenciosidade e leviandade italiana. Do lado italiano, o horror aos frios e fanticos alemes. Mas aqui h um somatrio de fatores at ento ausentes: se ao longo da Idade Mdia, existiram inmeras heresias, (Arianismo, Maniquesmo, Pelagianismo, para citar algumas at o sculo VI, ou ainda a cruzada contra os Albineges, os Cartrios), h, durante cerca de setenta anos (durante o sculo XIV - XV), o grande cisma do Ocidente, com um Papa em Avignon e outro em Roma,A Escolstica j no suficiente. Seus defeitos se evidenciam. RUSSEL, p. 143, arge que os defeitos do mtodo escolstico so os que decorrem, inevitavelmente, quando se d demasiada nfase dialtica. Estes defeitos so: indiferena pelos fatos e pela cincia, crena no raciocnio em matrias em que somente a observao pode decidir, e preocupao indevida pelas distines e sutilezas verbais. 54 Lembrar da Liga Lombarda53

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isto auxilia, ao norte dos Alpes um novo fervor religioso, como uma reao ao paganismo do Renascimento. Finalmente, o desgaste da luta secular entre o Papa e o Imperador, com a derrota deste ltimo, teria que produzir novos frutos. A oportunidade, para livrar-se do domnio Papal, criando uma Igreja nacional mais afvel aos governos locais mostra-se sedutora, e, mostrar a verdade, e que esta verdade perdurasse, teria que culminar com a associao de trs fatores: a Igreja, o Estado e um novo ator, a Academia. , inicialmente, na Academia, onde os debates tiveram incio, William de Ockham, Marslio de Pdua, comeam a romper com a Escolstica, influenciando toda uma nova gerao; como o papado necessitava de verbas, cobra pelas indulgncias. A reao a estas, conta com circunstncias histricas favorveis: o local uma Universidade nova, menina dos olhos do eleitor do Sacro Imprio, determinado a proteger a produo cientfica da resultante e sem as razes histricas daquelas antigas Universidades; o indivduo, um monge agostiniano, alemo: Martinho Lutero. Norberto BOBBIO sustenta que com a implantao da idia de soberania, a grande mudana consiste, pois, no fato de que o direito, que anteriormente era dado, agora criado; antes era buscado, pensado na justia substancial, agora fabricado com base na racionalidade tcnica, na sua adequao aos objetivos. Esta estatizao do direito ou esta reduo de todo o direito a uma simples ordem do soberano, esta legitimao do ius no pelo iustum, e sim pelo iussum, corresponde a uma profunda revoluo espiritual e cultural que, a partir da Reforma, atinge tambm a organizao leiga da sociedade, que tem como elemento central a vontade. Assim como, no cu, Deus to onipotente que tudo o que Ele quer justo e do seu fiat que depende a prpria ordem natural e no da participao na sua razo, tambm na terra o novo soberano cria o direito e, em ltimo caso, pode permitir a exceo ao regular funcionamento do ordenamento jurdico55.

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BOBBIO, Norberto. Dicionrio de Poltica, p. 1182.

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Em parte, como conseqncia da Reforma, tem-se novos conflitos - A Guerra dos Trinta anos, resolvidos pela Paz de Westflia que acabou acarretando novas e importantes relaes de poder.

10. A Paz de Westflia Entre os dias de 15 de maio a 24 de outubro de 1648, os principais plenipotencirios europeus assinaram nas cidades alems de Mnster e Osnabrck um grande tratado de paz que fez histria: a Paz de Westflia. Com ela puseram fim a desastrosa Guerra dos Trinta anos. Acordo este baseado no respeito ao equilbrio dos poderes entre os estados europeus que passou a imperar no mundo desde ento. Foram dois eclesisticos que elaboraram os termos de paz: o cardeal de Richelieu e o cardeal Mazarino, juntos com diplomatas protestantes suecos, como Johan Axelsson Oxenstierna e Johan Adler Salvius, alm de Hugo Grotius e Maximiliano von Trauttmansdorff (representando o Imprio dos Habsburgos). Para Arnaud Blin56 sustenta que este tratado, juntamente, com os tratados de Mnster e de Osnabrck, teve quatro conseqncias imediatas: Acabaram definitivamente com o conflito; redesenharam o mapa geopoltico da Europa, deslocando seu centro de gravidade do centro-sul (Espanha, ustria) para o ocidente e o norte (Frana, Pases Baixos, Gr-Bretanha, Sucia); liquidaram a idia medieval da cristandade como uma comunidade coesa; e procuraram manter o equilbrio das potncias e o respeito soberania nacional. Arnaud Blin57 arge que para evitar novos massacres que os artfices da paz vestfaliana instauraram o princpio que, de incio, repousava na idia do cujus rgio, ejus religio, segundo a qual a religio do prncipe era a do povo. E, ao manterem intacta a poltica, mas no os territrios os acordos ali firmados possibilitaram aos agentes do tabuleiro articular alianas que podiam variar infinitamente. (...) O mapa geopoltico delineado em 1648 permaneceu sensivelmente o mesmo at hoje, pelo menos em linhas

Blin, Arnaud. Autor da La Paix de Westphalie ou la naissance de lEurpope politique moderne. Artigo Trinta anos de guerra criam uma Nova Europa, publicado na revista Histria Viva, n.42, abril 2007, p. 68/72. 57 Artigo Trinta Anos... p. 70.

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gerais, ilustrando o xito do trabalho realizado pelos autores da ordem vestfaliana. Esta ordem s comea a ser abalada efetivamente aps a segunda grande guerra. Comea-se a falar em crise do Estado.

11. Consideraes finais Neste curto percurso algumas valiosas lies devem ser tomadas: a primeira e mais bvia, que os conceitos foram se moldando ao longo da histria e a idia do Estado-Nao calcada no trinmio povo-nao-soberania serviram a um contexto histrico que hoje est se modificando. H novos atores. As transformaes que transcorreram no Mundo nos ltimos anos, em especial a partir do final dos anos 80, afetaram mltiplos aspectos dos relacionamentos entre o Estado e a Sociedade e entre os pases, atingindo questes que vo desde o meio ambiente, passando pela segurana, at questes sociais e econmicas. Vemo-nos diante da figura de um Estado falido que, para a simples operao de compra de um produto, submete-se a um processo de licitao pblica58 e a morosidade entre esta e a efetiva contratao, encontra-se na repetio contnua desta operao mastodntica e defasada tecnologicamente, em um paradoxo com a iniciativa privada, munida de tecnologia de ponta e liberta de tais restries. A real necessidade do Estado pauta-se em sua importante funo social. Associarse e enfrentar os desafios do capitalismo59 moderno parece ser o caminho. Referncias

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Dado o princpio da legalidade e da moralidade pblica. DREIFUSS, Ren. op. cit. p. 234, sustenta que o welfare-state acabou. As cifras so estonteantes, em termos do nmero de desempregados, de excludos. Irlanda, Espanha e Argentina compartilham, nesse momento, alm do gosto pelos cavalos, ndices de desemprego superiores a 20%. A questo saber o quanto disso recupervel e em que condies e que possibilidades os grupos humanos organizados tero para exigir modificaes neste sistema, que est transformando seres humanos em agentes de produo descartveis. Infelizmente, estamos assistindo criao de duas Terras: uma, com aproximadamente 2 bilhes de pessoas computadorizadas, vinculadas por intermdio dos recursos da eletrnica; e outra, com 6 bilhes de pessoas, em condies que variam dos diversos graus de misria, da pobreza, at os grupos remediados, que subsistem em condies precrias. Esse um dos cenrios possveis, caso no haja modificaes srias capazes de evita-lo.

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