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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X LUGAR DE FALA AS HIERARQUIAS DE RECONHECIMENTO POLÍTICO E O FEMINISMO NEGRO NAS REDES SOCIAIS Larissa Meneses dos Santos 1 Resumo: A comunicação oral proposta tem como objetivo trazer reflexões de uma pesquisa inicial de doutorado sobre o feminismo negro brasileiro em suas interações recentes com as mídias digitais. No intuito de contribuir com os estudos sobre movimentos sociais e sobre a teoria política feminista, pretende-se problematizar as chamadas novas formas de ativismo online, tendo como parâmetros teóricos os debates sobre interseccionalidade e consubstancialidade entre gênero, classe e raça, bem como elementos analíticos presentes em parte da Teoria de Movimentos Sociais. A pesquisa apresenta como parâmetros empíricos as relações das mulheres negras com espaços online de solidariedade, identidade e disputas políticas, a saber: grupos feministas fechados ou secretos no Facebook. O olhar para as interações nos espaços online entre mulheres aparece mediado pela ideia de “lugar de fala”, hoje amplamente difundida nas mídias em questão. Palavras-chave: Feminismo Negro; Redes Sociais Online; Lugar de Fala; Interseccionalidade; Ativismo. Feminismo nas redes sociais online: Facebook e “lugar de falaNos últimos anos, e por diversas frentes de análise, é possível dizer que o feminismo vivencia um notável crescimento e uma multiplicação de seus espaços de atuação (Hawesworth, 2006, p. 739; Alvarez, 1998 apud Ribeiro, 2006, pp.2-3). No Brasil, a presença do feminismo nas mídias sociais tem ganhado maiores proporções que são reconhecidas também em meio ao senso comum e nos veículos de comunicação de grande alcance 2 . Trata-se de uma presença que trouxe à tona diversos questionamentos à teoria política feminista, bem como colocou em evidência novas apropriações de conceitos e vertentes das teorias para uma suposta “democratização” ou “instrumentalização” de categorias clássicas dos estudos feministas para a militância online. Estes questionamentos e apropriações suscitaram um aumento significativo da produção acadêmica brasileira que tenta articular teoria e ação política feministas e a análise das redes sociais 1 Larissa Meneses dos Santos é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Campinas SP. Também é animadora sociocultural do Sesc SP, na unidade Pompeia. 2 Ver:“Jovens fizeram feminismo crescer em quantidade e qualidade” Rede Brasil Atual, 2016. Disponível em http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/02/2018jovens-fizeram-o-feminismo-crescer-em-quantidade-e-qualidade2019-afirma- pioneira-2127.html (acesso em 07/09/2016). “As mulheres brasileiras dizem basta” – El País, 2015. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/03/politica/1446573312_949111.html (acesso em 07/09/2016). “Feministas tomam a internet e as ruas em protesto e são alvos de ataques” – G1- Globo, 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2015/12/feministas-tomam-internet-e-ruas-em-protestos-e-viram-alvo-de-ataques.html (acesso em 07/09/2016).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

LUGAR DE FALA – AS HIERARQUIAS DE RECONHECIMENTO

POLÍTICO E O FEMINISMO NEGRO NAS REDES SOCIAIS

Larissa Meneses dos Santos1

Resumo: A comunicação oral proposta tem como objetivo trazer reflexões de uma pesquisa inicial

de doutorado sobre o feminismo negro brasileiro em suas interações recentes com as mídias

digitais. No intuito de contribuir com os estudos sobre movimentos sociais e sobre a teoria política

feminista, pretende-se problematizar as chamadas novas formas de ativismo online, tendo como

parâmetros teóricos os debates sobre interseccionalidade e consubstancialidade entre gênero, classe

e raça, bem como elementos analíticos presentes em parte da Teoria de Movimentos Sociais. A

pesquisa apresenta como parâmetros empíricos as relações das mulheres negras com espaços online

de solidariedade, identidade e disputas políticas, a saber: grupos feministas fechados ou secretos no

Facebook. O olhar para as interações nos espaços online entre mulheres aparece mediado pela ideia

de “lugar de fala”, hoje amplamente difundida nas mídias em questão.

Palavras-chave: Feminismo Negro; Redes Sociais Online; Lugar de Fala; Interseccionalidade;

Ativismo.

Feminismo nas redes sociais online: Facebook e “lugar de fala”

Nos últimos anos, e por diversas frentes de análise, é possível dizer que o feminismo

vivencia um notável crescimento e uma multiplicação de seus espaços de atuação (Hawesworth,

2006, p. 739; Alvarez, 1998 apud Ribeiro, 2006, pp.2-3). No Brasil, a presença do feminismo nas

mídias sociais tem ganhado maiores proporções que são reconhecidas também em meio ao senso

comum e nos veículos de comunicação de grande alcance2. Trata-se de uma presença que trouxe à

tona diversos questionamentos à teoria política feminista, bem como colocou em evidência novas

apropriações de conceitos e vertentes das teorias para uma suposta “democratização” ou

“instrumentalização” de categorias clássicas dos estudos feministas para a militância online.

Estes questionamentos e apropriações suscitaram um aumento significativo da produção

acadêmica brasileira que tenta articular teoria e ação política feministas e a análise das redes sociais

1 Larissa Meneses dos Santos é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Unicamp

(Universidade Estadual de Campinas), Campinas – SP. Também é animadora sociocultural do Sesc SP, na unidade

Pompeia. 2 Ver:“Jovens fizeram feminismo crescer em quantidade e qualidade” – Rede Brasil Atual, 2016. Disponível em

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/02/2018jovens-fizeram-o-feminismo-crescer-em-quantidade-e-qualidade2019-afirma-

pioneira-2127.html (acesso em 07/09/2016).

“As mulheres brasileiras dizem basta” – El País, 2015. Disponível em:

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/03/politica/1446573312_949111.html (acesso em 07/09/2016).

“Feministas tomam a internet e as ruas em protesto e são alvos de ataques” – G1- Globo, 2015. Disponível em:

http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2015/12/feministas-tomam-internet-e-ruas-em-protestos-e-viram-alvo-de-ataques.html

(acesso em 07/09/2016).

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online3 na última década. E com redes sociais online, mídias sociais, ou ainda, mídias digitais,

referimo-nos a alguns dos espaços e tempos criados, reproduzidos e experienciados mediante o uso

da internet, tais como: blogs, Facebook, Twitter, Tumblr, Instagram, entre muitos outros – “A

expressão ‘redes sociais online’, nesse sentido, refere-se a um número considerável de formas de

interação entre indivíduos a partir da construção de páginas ou de perfis. Cada um desses, assim

como cada uma das redes, tem suas próprias características e, por conta disso, permite tipos

diferentes de interação” (Martino, 2015, p. 74).

Ainda segundo o autor (Idem, Ibidem), ao analisar a obra de Pierre Merklé (2004), é

possível identificar algumas das principais especificidades das redes sociais online:

“(1) possibilidade de criar um espaço pessoal de apresentação de si mesmo, onde se pode

colocar à disposição de todos as imagens e os textos que se escolher. (2) A possibilidade de

acessar perfis de outras pessoas (...). (3) Chance de estabelecer relações com outros

participantes da rede, na observação de seus perfis, a partir de interesses e afinidades

comuns.

As redes sociais permitem a criação de ‘identidades transparentes’, estabelecidas em

conexões interpessoais desenvolvidas a partir da interação entre perfis. Ao mesmo tempo,

convivem também com ‘identidades carnavalescas’ – no sentido das máscaras de carnaval e

das mudanças de identidade – nas quais projeções de si mesmo e as relações desconhecidas

ou propositalmente falsas, os perfis fake, garantem tipos diferentes de exposição de si e,

consequentemente, de interação” (Idem, Ibidem).

Dentre as redes sociais online mais populares no Brasil, encontra-se o Facebook4. De acordo

com dados liberados no início deste ano pela empresa em um grande evento de tecnologia, o

Facebook comporta 99 milhões de usuários brasileiros ativos mensais e 89 milhões de usuários

brasileiros móveis ativos mensais5. E, tendo em vista o grande número de usuários, não é de se

espantar que os usos políticos cotidianos dessa rede social online salte aos olhos. E estes usos são

os mais variados; desde a criação de páginas, perfis, grupos, postagens (textuais ou imagéticas),

3 Ver, por exemplo: “Feminismo e redes sociais na Marcha das Vadias no Brasil” (Ferreira, 2013, Revista Artemis),

“Feminismo e Preconceito no Facebook: uma análise das relações dialógicas” (Ferreira e Ludovice, 2016, Revista

Investigação), “(Re)definições e (des)construções identitárias em comunidades ativistas do Facebook: contribuições das

epistemologias pós-feminista e queer” (Biondo e Signorini, 2015, Delta).

4 “O Facebook é um sítio eletrônico no qual as pessoas criam um perfil pessoal, adicionam outros usuários como

amigos e trocam mensagens e conteúdos de forma geral. A plataforma foi criada em 2004, por Mark Zuckerberg,

Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. Atualmente, qualquer indivíduo pode participar desta rede social, a

partir dos interesses pessoais e profissionais. (...)oferece uma vasta lista de ferramentas e aplicativos que permitem aos

usuários comunicar e partilhar informações, adicionar fotografias, vídeos, comentários, ligações, enviar mensagens,

integrar com outros websites, dispositivos móveis e outras tecnologias. Ainda, permite o controle de privacidade, ao

selecionar qual informação e com quem deseja compartilhar” (Educause Learning Initiative - ELI. (2007). 7 things you

should know about Facebook II. Recuperado de http://net.educause.edu/ir/library/pdf/ELI7025.pdf apud BOUSSO,

Regina Szylit et al.Facebook: um novo locus para a manifestação de uma perda significativa. Psicol. USP [online].

2014, vol.25, n.2, pp.172-179). 5 Disponível em: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2016/01/facebook-revela-dados-do-brasil-na-cpbr9-e-

whatsapp-vira-zapzap.html (acesso em 08/09/2016).

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eventos, extensos diálogos em comentários, até a reprodução parodiada e o compartilhamento

exaustivo destes conteúdos criados, os chamados memes. Toda esta miríade de atividades online

permitidas pelo Facebook pode ser e é apropriada politicamente por ativistas e militantes, sejam

eles de partidos políticos, movimentos sociais, causas ou campanhas.

No caso do ativismo feminista, e no do ativismo das feministas negras que nos importa aqui

destacar, a criação de grupos de mulheres secretos ou fechados no Facebook, bem como a ampla

adesão de perfis que possuem, são fenômenos latentes6 ainda não abordados diretamente pelas

pesquisas em Ciência Política no Brasil. Os grupos no Facebook operam como um fórum temático:

a partir de um tema específico que o denomina, perfis de usuários interessados em dialogar e/ou

compartilhar informações, dúvidas, relatos, imagens e vídeos sobre ele, podem entrar ou serem

convidados a entrar no grupo. Os grupos podem ser: i. abertos – visíveis e acessíveis à participação

a todos os membros do Facebook; ii. fechados – visíveis a todos os membros do Facebook, porém

acessíveis à participação apenas de acordo com avaliação e crivo de uma ou mais figuras

mediadoras (denominadas pelo Facebook como administradores); iii. secretos – invisíveis a todos

os membros do Facebook, exceto a aqueles que destes grupos fazem parte, e a participação é

possível somente mediante convite de um dos membros integrantes, seguida pela avaliação e crivo

de mediadores/administradores.

Em um pré-campo que realizamos a partir de 2014 até hoje, pudemos constatar os

vertiginosos surgimento e crescimento de grupos de mulheres e meninas no Facebook, entre o final

de 2014 e o início de 2016. Neste ínterim, foi possível inferir a relevância desses grupos para o

fortalecimento e a permanência do debate sobre feminismo nesta rede, bem como sobre suas

relações com debates sobre racismo e pobreza entre mulheres. Quanto a esta relevância é necessário

dizer que ela está embasada pela dinâmica de interação construída nos grupos:

“Essa mistura de vozes e verdades sobre identidades de gênero e sexualidade no mundo

virtual reflete, em certa medida, a intensificação das transformações sociais de nossos

tempos, que têm se acelerado e tornado mais exacerbada a convivência de culturas e de

estilos de vida. No caso das comunidades do facebook aqui focalizadas, vemo-nos diante de

práticas socioculturais de letramento digital nas quais há infinita expansão de relações

sociais, convidando-nos, como destaca Moita Lopes (2010, p.395), a "co-participar da vida

de pessoas que não conhecemos, que desarticulam nossas concepções de mundo e

ideologias, e que multiplicam os discursos a que temos acesso de forma ilimitada". Desse

modo, "a tela do computador deixa de ser somente um local onde se busca informação e

6 A saber (acessos em 08/09/2016):

http://mdemulher.abril.com.br/cultura/elle/como-grupos-no-facebook-contribuiram-para-o-meu-feminismo;

http://www1.folha.uol.com.br/paywall/adblock.shtml?origin=after&url=http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/0

5/1766587-grupos-secretos-em-rede-social-viram-comunidades-de-apoio-entre-mulheres.shtml;

http://hojeemdia.com.br/almanaque/grupos-secretos-na-web-ajudam-a-tirar-d%C3%BAvidas-e-a-empoderar-as-

mulheres-1.382409;

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passa a ser principalmente um lugar de construção, de disputa, de contestação de

significados" (Moita Lopes, 2010, p. 398)”. (BIONDO, 2015, p. 211).

A dinâmica de interação nos grupos de mulheres no Facebook remete a esta ideia de “co-

participação” da vida, pois está pautada pelo constante diálogo entre elas – mulheres em geral

desconhecidas, interessadas em compartilhar experiências e conhecimentos, em pedir auxílios,

aconselhamentos, visibilidade, ou em simplesmente estar entre mulheres.

E estar entre mulheres propicia, em vários casos, interpretar os grupos fechados ou secretos

como ambientes seguros, nos quais se pode falar abertamente sobre temas como sexualidade,

aborto, recuperação de transtornos alimentares, casos de violência, entre muitos outros. Todos estes

temas, nesse contexto, aparecem mediados pelas noções de vivência ou experiência, e são tais

noções que garantem a autenticidade e a legitimidade das interlocutoras para abordarem

determinado tópico de debate.

Ao observar as interações nesses grupos, é possível evidenciar que ter vivido uma situação

de opressão específica garante, a algumas mulheres, reconhecimento político para abordar certos

temas em seus discursos e nos diálogos que estabelecem online. E a este reconhecimento atribui-se

a denominação lugar de fala. Ou seja, quando, nestes grupos, aborda-se uma situação de racismo, a

legitimidade e o reconhecimento público ficam logrados às mulheres negras participantes para

debaterem sobre; quando se traz uma situação de LGBTfobia, apenas às mulheres lésbicas,

bissexuais ou trans cabe falar com legitimidade sobre a questão, e assim por diante. Ademais, é

possível dizer que se uma mulher soma em suas vivências mais de uma experiência de opressão – a

exemplo: racismo, homofobia e pobreza – seu lugar de fala nos espaços online é tido como mais

elevado, e suas possibilidades de debater com legitimidade e reconhecimento político das outras

integrantes do grupo, muito maiores.

Neste sentido, a dinâmica de debates, construída pelas mulheres nos espaços online, atribui

novos e diferentes pesos e medidas para os discursos sobre poder e opressão, a depender dos lugares

de fala de seus interlocutores. Novos porque são parâmetros que tentam inverter a lógica de

reprodução das opressões que as mulheres vivenciam fora das redes sociais online. E diferentes

porque criam uma diversidade de hierarquias de fala e escuta, raras ou não presentes em outros

espaços de discussão.

Trata-se, então, de um processo criativo e coletivo de construção de novos parâmetros de

legitimidade e reconhecimento dos discursos políticos entre mulheres nas mídias sociais. Sendo

importante destacar que compreensão destas dinâmicas de interação pode auxiliar no

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aprofundamento das pesquisas sobre formação política e recrutamento de ativistas e militantes

mediante os usos da internet.

Entretanto, o principal recorte de nossa investigação é apreender centralmente as interações

iniciadas ou fomentadas por mulheres negras nos grupos do Facebook. Pois, para grande parte

delas, o advento da ideia de lugar de fala em meio à militância online foi relevante para

conquistarem uma ampliação da escuta de suas vozes e de espaços de destaque nas mídias sociais.

Debate bibliográfico: o que pode estar por trás da ideia de lugar de fala nas redes sociais online

Para tentarmos analisar quais os conceitos e significados que preenchem de conteúdo a ideia

de lugar de fala, é preciso criar paralelos entre os debates que ela suscita nas redes e elementos

teóricos de diversas fontes que sugerem suas interpretações mais recorrentes. Segundo Braga (1997,

p. 107), o conceito “lugar de fala” deve ser retratado como um lugar de significação que “se

constrói na trama entre a situação concreta com que a fala se relaciona, a intertextualidade

disponível, e a própria fala como dinâmica selecionadora, atualizadora de ângulos disponíveis e

construtora da situação interpretada”. Como visto, a apropriação do conceito pelo ativismo online se

relaciona com os elementos citados pelo autor, ao analisarmos a importância das experiências ou

situações concretas que balizam as dinâmicas de fala, de escuta e de construção de interpretações

políticas no interior dos grupos de mulheres. No entanto, esta apropriação é uma dentre outras,

referentes a conceitos e elementos de reflexão caros à teoria política feminista e à teoria dos novos

movimentos sociais, por exemplo.

A ideia de lugar de fala, como ponto de partida para criação de patamares de

reconhecimento entre ativistas no debate político nas mídias sociais, evoca uma serie de discussões

teóricas fundamentais que consideraremos aqui e que são o panorama analítico indispensável à

nossa pesquisa; a saber: relações e limiares entre esfera pública e privada, identidade e

reconhecimento, formação política de militantes, interseccionalidade e consubstancialidade entre

gênero, classe e raça.

A teoria política feminista está atrelada à reflexão crítica sobre a dualidade entre esfera

pública e esfera privada. Biroli (2014, p. 31) atribui essa dualidade a compreensões restritas da

política, que tem como premissa a universalidade da esfera pública, e que elencam uma série de

assuntos e experiências como privados e assim, não políticos: “é uma forma de isolar a política das

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relações de poder na vida cotidiana, negando ou desinflando o caráter político e conflitivo das

relações de trabalho, e das relações familiares” (Idem, Ibidem). O argumento central da autora é que

este isolamento da política e das relações de poder na esfera privada traz profundas perdas no

âmbito da teoria política. Pois, não apenas deixa na sombra experiências da vida dos indivíduos,

mas torna deficitária a compreensão do que ocorre na esfera pública; já que há conexões

importantes entre posições e relações de poder na vida doméstica, no mundo do trabalho, e na esfera

dos debates, na produção de decisões políticas. Ou seja, trata-se de compreender, que há

consequências políticas dos arranjos privados (Idem, p.33).

Para Martino (2014, p.94), a divisão entre esfera pública e esfera privada decorre de outra

segmentação, referente à formação de espaços públicos e de espaços privados. Estes espaços seriam

diferenciados por sua visibilidade: o espaço público é o campo em que tudo é potencialmente

visível, já o espaço privado seria o campo das ideias, coisas e práticas que não devem ser vistas; o

campo, então, da intimidade, que deve estar protegido do olhar público e no qual só entra aquele

que for convidado. Ainda segundo o autor, a internet traz a necessidade de um novo olhar para esta

diferenciação, pois ela “introduz uma outra dimensão nessa questão, mesclando, em muitos casos,

as questões públicas e privadas por conta da exposição, cada vez maior de detalhes da vida

particular no espaço público digital” (Idem, Ibidem).

Logo, não é difícil inferir que o encontro entre a crítica feminista e a internet tenha sido, e é

bastante fortuito. A ideia de espaço público digital cria meios empíricos para que as fronteiras

teóricas entre esfera pública e privada sejam problematizadas. Quando as redes sociais online são

ocupadas por muitas mulheres que levam a público conteúdos tidos como da vida doméstica,

privada ou ainda da ordem dos afetos, esta exposição traz impactos à compreensão destas mulheres,

e de outros indivíduos presentes nas redes, sobre a relevância de tais conteúdos e seu pertencimento

também a uma esfera pública.

A internet aparece, assim, como um campo em que as relações entre as duas esferas –

pública e privada – podem se tornar mais evidentes, e como uma oportunidade à reflexão crítica

feminista, tal como propõe Biroli (2014, p. 33), na qual esfera pública e privada devem ser

discutidas “como um complexo diferenciado de relações, de práticas e de direitos –

permanentemente imbricados, uma vez que os efeitos dos arranjos, das relações de poder, e dos

direitos garantidos em uma das esferas serão sentidos na outra” (Idem, Ibidem).

Esta dinâmica complexa entre público e privado, potencializada pelas redes sociais online, é

perpassada ainda pelas relações entre gênero, sexualidade, classe e raça dos inúmeros perfis que

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interagem em tais espaços. Como temos visto, as múltiplas experiências de opressão – advindas do

âmbito tido como privado, ou não – garantem uma diversidade de reconhecimentos políticos entre

mulheres nos grupos de Facebook, através da ideia de “lugar de fala”.

Em meio à teoria feminista, é possível identificarmos as potenciais origens da construção do

“lugar de fala”, tal como compreendido pelas militantes online. E estas origens se encontram no

debate sobre interseccionalidade e consubstancialidade entre gênero/sexualidade, classe e raça. Um

primeiro ponto para o aprofundamento desse debate – segundo Hirata (2014, p. 1) – é a análise dos

conceitos de “conhecimento situado” ou de “perspectiva parcial”. Formulados no interior da

epistemologia feminista, estes conceitos trazem a “ideia de um ponto de vista próprio à experiência

da conjunção das relações de poder de sexo, de raça, de classe (...), pois a posição de poder nas

relações de classe e de sexo, ou nas relações de raça e de sexo, por exemplo, podem ser

dissimétricas” (Idem, Ibidem).

Nesse sentido, os pontos de vista próprios à experiência informam à teoria política feminista,

sendo parte de seus constructos teóricos. No que concerne ao debate entre interseccionalidade e

consubstancialidade, cabe destacar que ele remonta a trabalhos de duas autoras emblemáticas para

reflexão quanto à experiência e à interdependência entre relações de poder de gênero, classe e raça:

Kergoat (1978) e Crenshaw (1989). O que ambas proposições tem em comum é a tentativa de não

hierarquização entre as formas de opressão. Porém, oriundas de preocupações distintas presentes

nestas obras, as conceitualizações em torno da interseccionalidade ou da consubstancialidade

trouxeram também impactos diferentes para interpretações em meio à prática política de feministas.

Ainda de acordo com Hirata (2014, p. 3), é possível identificar que a preocupação que orienta as

formulações de Kergoat é a dinâmica coextensiva das relações sociais de classe e de gênero, já a

preocupação de partida de Crenshaw perpassa a intersecção entre raça e gênero, deixando as

questões de classe em uma condição analítica menos visível.

Entretanto, sem avançar nas minúcias da crítica a ela, é esta ideia de intersecção como

preocupação teórica que nos importa destacar. Isto, pois, interseccionalidade se tornou um conceito

extremamente mobilizado a partir da segunda metade dos anos 2000 e pode ser compreendido

também como um instrumento de luta política (Idem, ibidem), muito aparente nos debates sobre

feminismo junto ao ativismo online.

As fontes para a conceitualização da interseccionalidade se situam no feminismo negro,

principalmente norte-americano, da década de 1970, denominado por parte da bibliografia como

Black Feminism. No confronto tanto ao predomínio masculino no movimento negro, quanto à

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predominância branca e burguesa no feminismo, as feministas negras figuram apresentando novas

pautas de reivindicação e um novo enquadramento teórico para a compreensão dos problemas da

dominação. Entre as autoras, destacam-se Angela Davis, Bell Hooks, Patricia Hill Collins, Audre

Lorde e Barbara Smith (Miguel, 2014, p.89).

No entanto, segundo Hirata (2014, p. 4), as formulações sobre interseccionalidade,

desenvolvidas principalmente a partir dos anos 1990 tem na definição de Sirma Bilge, uma boa

síntese:

“A interseccionalidade remete a uma teoria transdisciplinar que visa apreender a

complexidade das identidades e das desigualdades sociais por intermédio de um enfoque

integrado. Ela refuta o enclausuramento e a hierarquização dos grandes eixos da

diferenciação social que são as categorias de sexo/gênero, classe, raça, etnicidade, idade,

deficiência e orientação sexual. O enfoque interseccional vai além do simples

reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão que opera a partir dessas

categorias e postula sua interação na produção e na reprodução das desigualdades sociais”

(BILGE, 2009, p. 70 apud HIRATA, 2014, p. 4).

Em um primeiro e rápido experimento de transpor a perspectiva teórica da

interseccionalidade acionada pelas militantes feministas online e suas práticas de debate no

Facebook, vemos que a construção dos “lugares de fala” advém da tentativa de trazer ao centro do

espaço público digital a ideia de “conhecimento situado” e da importância de tornar visível um

conjunto complexo de relações de poder, opressão e dominação.

Contudo, a dinâmica das redes que promove buscas incessantes por recursos políticos como

curtidas e seguidores faz com que essa complexidade possa ceder espaço a uma hierarquização das

experiências de opressão, com vistas a gerar maior identidade e reconhecimento de demais

interlocutores, sejam militantes ou não.

E, justamente, um último aspecto concernente ao debate teórico que propomos à nossa

pesquisa diz respeito ao conceito de identidade como preceito à mobilização política e à formação

de militantes para ação coletiva. A identidade emerge como crucial em discussões sobre a teoria

política feminista e, também, em parte da teoria dos movimentos sociais. Porém este emergir

ocorre, em cada campo teórico, por vias distintas. A ideia de identidade foi e tem sido

problematizada por feministas negras e marxistas, que analisam se tratar de uma terminologia muito

abrangente e até mesmo essencialista. Pois não levaria em conta, pensando em uma condição

feminina, elementos como raça, classe, renda ou orientação sexual, silenciando assim a

multiplicidade de experiências específicas entre mulheres (Miguel, 2014, p.89).

Já em obras da teoria dos movimentos sociais, a identidade e/ou a variedade delas dá corpo e

explica, mesmo que parcialmente, a coesão entre militantes e lideranças nas ações coletivas (cf.

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Melucci, 1989; Mische, 2008). Dentre algumas das teóricas feministas, também fica demarcada a

importância da identidade para a mobilização política. Brah (2006) destaca a conformação de uma

identidade coletiva como um processo em que se formam bases para identificação em um

determinado contexto econômico, cultural e político. E Spivak (1985 – apud Miguel, 2014, pp.83-

4), propõe um “essencialismo estratégico”, ou seja, um uso estratégico das categorias tidas como

essencializadoras, como identidade, tendo em vista a importância vital da produção da identificação

para a mobilização política.

Sem dúvida, a questão da criação e da manutenção da identidade política é um marco do

debate sobre ação coletiva, tanto no interior da teoria feminista como na teoria dos movimentos

sociais. E nos parece crucial para compreensão da ideia e dos usos dos lugares de fala nas redes

sociais online. Embora aparentemente oculta das discussões e trocas entre mulheres nas redes

sociais, a necessidade de construção de identidade atravessa as dinâmicas de interação online para

que indivíduos e grupos sejam mais vistos, mais acessados, mais curtidos e para que assim estejam

em posições mais centrais na rede, atribuindo cumulativamente maior visibilidade àqueles

conteúdos e discursos políticos que pretendem replicar amplamente.

Lugares de fala e hierarquias de reconhecimento político: primeiros aspectos

É preciso ter em conta que há uma natureza dinâmica e volátil nas redes sociais online que

precisa ser considerada nas escolhas metodológicas de pesquisa (Braga e Cruz, 2014, p. 146).

Apesar de haver hoje uma série de métodos quantitativos de captação dos dados em redes sociais,

nossas primeiras análises tem enfoque qualitativo. Porque, em primeiro lugar, temos tentado

apreender dinâmicas de debate político e interação; e, em segundo lugar, porque o Facebook não

possui, diferente de outras mídias, uma ampla base de dados disponível à pesquisa. Sendo assim,

embasamos nossa análise empírica na observação participante e na etnografia em mídias sociais, em

sintonia com os debates metodológicos trazidos por Polivanov (2013), Agrosino (2011, apud

Fragoso, Recuero e Amaral, 2011, p. 168), e Hine (2000).

No interior destes primeiros olhares etnográficos para as interações entre mulheres negras

nos grupos fechados ou secretos no Facebook, é possível destacarmos já alguns dentre os

parâmetros mais importantes que circundam a ideia de lugar de fala e os variados reconhecimentos

políticos a ela atrelados. De início, faz-se visível que a dualidade entre sofrimento e privilégio é a

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marca e a régua mensuradora para que a determinação de lugares de fala aconteça. A mobilização

de determinadas narrativas de sofrimento amplamente compartilhadas determina, em cada

ambiência online, o que é uma narrativa de privilégio e qual audiência daquela postagem detém

privilégios frente a outras. E quanto menos privilégios identificados na mensuração junto aos

sofrimentos, maior a legitimidade da fala, e maior a possibilidade de veto à fala de outra pessoa

vista como privilegiada em relação a uma experiência vivida.

Um segundo parâmetro específico destas dinâmicas de interação diz respeito a como a

mobilização das narrativas de sofrimento é peça chave para criação de categorias de identificação

que são vivificadas para manter o debate sobre o feminismo negro nas pautas das redes sociais

online e aumentar a militância em seu entorno. E neste caso, as narrativas de sucesso e superação –

marcadas pela ideia de empoderamento, também surtem o mesmo efeito. Reproduzir postagens com

elementos do que é ser empoderada ou com elementos vividos das experiências com um, ou mais

de um tipo de opressão, dão forma a laços de solidariedade, identidade e reconhecimento político

nas redes. Isto, quando em meio a um público informado sobre o que é a ideia de lugar de fala.

Um terceiro e último parâmetro para reflexão pode ser atribuído à inevitável busca das

militantes feministas por recursos políticos quando no meio online. Inevitável porque esta busca

também ocorre nas organizações e movimentos sociais offline. Mas também, porque as redes

sociais atribuem novos sentidos a estes recursos, através das curtidas, seguidores, visualizações e

ampliação do espectro de alcance de ideias, narrativas e ações em ambientes muitas vezes hostis e

competitivos. E neste sentido, a ideia de lugar de fala contribui para ampliação destes recursos para

aquelas mulheres que acumulam vivências de opressão. No entanto, estes recursos tendem a estar

limitados em meio aos perfis de mulheres e coletivos com vivências próximas e similares de

opressão. Ao mesmo tempo em que a tensão entre as construções do que é sofrimento e do que é

privilégio, tal qual vista nas redes sociais online, tende a potencializar conflitos e diminuir as

chances de criação de laços de solidariedade entre mulheres com experiências muito diversas de

opressão. Ou seja, trata-se de adquirir novos recursos políticos nas redes, mas com eles não

conseguir ampliar diálogos e visibilidades políticas suficientes para fomentar a ação coletiva.

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PLACE OF SPEECH – THE HIERARCHIES OF POLITICAL RECOGNITION AND

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Abstract: The proposed oral communication aims to bring reflections of an initial doctoral research

on Brazilian black feminism in its recent interactions with digital medias. In order to contribute to

the studies on social movements and on feminist political theory, we intend to problematize the so-

called new forms of online activism, having as theoretical parameters the debates about

intersectionality and consubstantiality between gender, class and race, and analytical elements of

part of the Theory of Social Movements. The research presents as empirical parameters the relations

of black women with online spaces of solidarity, identity and political disputes, namely: closed or

secret feminist groups on Facebook. The look at interactions in online spaces between women

appears mediated by the idea of "place of speech", now widely used in the online medias in Brazil.

Keywords: Black Feminism; Online Social Networks; Place of Speech; Intersectionality; Activism;