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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Lucas Eduardo Dornelles APLICAÇÃO DA METODOLOGIA MCT NA CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Santa Maria, RS 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Lucas Eduardo Dornelles

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA MCT NA CLASSIFICAÇÃO DE

SOLOS DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Santa Maria, RS

2017

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Lucas Eduardo Dornelles

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA MCT NA CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Engenharia Civil da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para obtenção do título de

Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Rinaldo José Barbosa Pinheiro

Santa Maria, RS

2017

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Lucas Eduardo Dornelles

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA MCT NA CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Engenharia Civil da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para obtenção do título de

Engenheiro Civil.

Aprovado em 14 de julho de 2017:

____________________________________

Rinaldo José Barbosa Pinheiro, Dr. (UFSM)

(Presidente/Orientador)

___________________________________

Thaís Aquino dos Santos, Me. (URI)

___________________________________

Jéssica Anversa Venturini, Eng. (UFSM)

Santa Maria, RS

2017

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Angela e Mauro, pelo exemplo, apoio, confiança e amor

incondicional. À minha irmã Julianni pelo companheirismo e apoio incondicional. Se eu

cheguei até aqui neste momento, foi por causa do incentivo e suporte que recebi de

vocês ao longo de todo esse caminho.

Aos meus amigos e colegas, alguns em especial. À Marina e Bethania por terem

vivenciado comigo o interesse pela pesquisa científica e por terem compartilhado

diversos momentos da graduação comigo, como trabalhos, artigos, ensaios de

laboratórios e viagens para eventos. À Débora pela amizade e parceria desenvolvida na

escrita de artigos, apresentações e viagens. À Desirre pelo apoio incondicional. Uma das

melhores sensações da vida é ter a certeza de que você pode confiar em alguém. Sou

eternamente grato por ter convivido com vocês nesses cinco anos de faculdade.

Aos mestrandos e doutorandos do Grupo de Estudos e Pesquisa em

Pavimentação e Segurança Viária (GEPPASV), em especial Maurício, Fabio, Fernando,

Pedro, Thaís e Lucas. Agradeço muito pelo suporte oferecido, conselhos e pelas

oportunidades de escrever e apresentar trabalhos com vocês. Mais uma vez, serei

eternamente grato por ter escolhido participar de um grupo tão diferenciado como este.

Aos mestrandos e doutorandos do Grupo de Estudos em Geotecnia e Meio

Ambiente, em especial Taiana, Leila, Ildomar, Juliana e Jéssica. Vocês me

proporcionaram ainda mais interesse na área de Geotecnia. Aos alunos de graduação

pertencentes a este grupo Letícia, Eduarda e Luana pelo apoio e ajuda na realização dos

ensaios deste trabalho. Agradeço também ao Laboratório de Materiais de Construção

Civil, nas pessoas de João e Alison, pelo auxílio na coleta dos materiais em campo e na

realização dos ensaios.

Aos professores do GEPPASV Tatiana, Luciano e Deividi, por terem me

oferecido todo suporte e aparato necessário para desenvolver minhas atividades durante

toda minha iniciação científica. Além disso, agradeço pelo apoio a participação em

eventos, orientações acerca de artigos e trabalhos e pelo incentivo a gostar da área de

Transportes. Vocês foram responsáveis por me apresentar uma área da Engenharia que

eu mal conhecia, e hoje sou apaixonado.

À professora Andrea, pelo suporte e auxílio na parte relacionada à geologia e

pela companhia nas saídas de campo para coletas de solo.

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Ao professor e orientador Rinaldo, por todo conhecimento repassado. Agradeço

pelo interesse e dedicação em me orientar durante os dois últimos anos e também pelo

suporte oferecido em relação às viagens para coleta de solos e participação em eventos.

Sou muito grato de ter aprendido nas suas aulas a gostar da área de Geotecnia. Gosto

muito de trabalhar contigo e te admiro muito como professor e profissional.

Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para eu chegar até

aqui.

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É justamente a possibilidade de realizar

um sonho que torna a vida interessante.

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RESUMO

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA MCT NA CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

AUTOR: Lucas Eduardo Dornelles

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rinaldo José Barbosa Pinheiro

No Brasil, tem-se uma predominância de solos tropicais. Tais materiais possuem

peculiaridades no seu comportamento que não são encontradas nos solos de regiões de

clima temperado. A utilização das classificações tradicionais SUCS e HRB em projetos

de pavimentos assente sobre solos tropicais pode levar a resultados não correspondentes

a seu real desempenho. A partir da necessidade de uma classificação mais condizente

com os solos tropicais brasileiros, Nogami e Villibor desenvolveram na década de 1980

a Metodologia MCT. Baseada em ensaios com corpos de prova em miniatura, ela

permite avaliar características como resistência, deformabilidade e capacidade de

suporte dos materiais. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi classificar quatro

amostras de solos tropicais da região noroeste do Rio Grande do Sul através desta

metodologia, de modo a viabilizar a utilização de tais materiais em projetos de

pavimentos econômicos. Os materiais foram coletados em Cruz Alta/RS e Ijuí/RS. Em

laboratório realizaram-se ensaios de caracterização física, mecânica e química dos solos.

Além disso, foram realizados os dois ensaios classificatórios da MCT, Mini-MCV e

Perda de Massa por Imersão, e o Método das Pastilhas. A partir dos resultados obtidos,

foi possível classificar os solos de acordo com as classificações tradicionais SUCS e

HRB, e confrontar com os resultados obtidos na classificação MCT. Verificou-se

também a concordância entre os dois sistemas classificatórios utilizados para solos

tropicais, a MCT e o Método das Pastilhas. De uma forma geral, foi possível perceber

uma diferença de resultado entre as metodologias tradicionais e a MCT, o que evidencia

que tais classificações não são adequadas para solos tropicais. Em adição, foi possível

identificar uma concordância entre a MCT e o Método das Pastilhas, o que confirma

que este é um bom método de identificação expedita de solos tropicais. Por fim, foi

possível concluir que dois dos solos estudados são de comportamento laterítico e podem

ter sua utilização viabilizada em camadas de pavimentos de baixo custo, propiciando

integração e desenvolvimento a regiões necessitadas.

Palavras-chave: Solos tropicais. Pavimentação. Classificação MCT. Método das

Pastilhas.

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ABSTRACT

APPLICATION OF THE MCT METHODOLOGY IN CLASSIFICATION OF

SOILS IN THE NORTHWEST OF THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL

AUTHOR: Lucas Eduardo Dornelles

ADVISOR: Prof. Dr. Rinaldo José Barbosa Pinheiro

In Brazil, there is a predominance of tropical soils. Such materials have peculiarities in

their behavior that are not found in the soils of temperate regions. The use of traditional

SUCS and HRB classifications in pavement designs built on tropical soils may lead to

results that do not correspond to their actual performance. From the need for a

classification that is more consistent with Brazilian tropical soils, Nogami and Villibor

developed the MCT Methodology in the 1980s. Based on experiments with miniature

specimens, it allows to evaluate characteristics such as strength, deformability and

support capacity of the materials. In this context, the aim of this study was to classify

four samples of tropical soils from the northwestern region of Rio Grande do Sul

through this methodology, in order to make feasible the use of such materials in

economical pavement projects. The materials were collected in Cruz Alta/RS and

Ijuí/RS. In the laboratory, physical, mechanical and chemical characterization of the

soils were carried out. In addition, the two MCT classification experiments, Mini-MCV

and Loss of Mass by Immersion in Water and the Tablet Method were performed. From

the results obtained, it was possible to classify the soils according to the traditional

classifications SUCS and HRB, and to compare with the results obtained in the MCT

classification. It was also verified the agreement between the two classification systems

used for tropical soils, the MCT and the Tablet Method. In general, it was possible to

perceive a difference of result between the traditional methodologies and MCT, which

shows that such classifications are not suitable for tropical soils. In addition, it was

possible to identify a concordance between MCT and the Tablet Method, which

confirms that this is a good method for the rapid identification of tropical soils. Finally,

it was possible to conclude that two of the studied soils are of lateritic behavior and can

be used in layers of low cost pavements, providing integration and development to

regions in need.

Keywords: Tropical soils. Paving. MCT classification. Tablet Method.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Perfil de ocorrência de solos em regiões tropicais ......................................... 17

Figura 2 - Fotografia microscópica de um solo laterítico, com aumento de 3000 e

10000x respectivamente ................................................................................. 19

Figura 3 - Ocorrência de solos lateríticos no Brasil ....................................................... 20

Figura 4 - Fotografia microscópica de um solo saprolítico com aumento de 3000x...... 22

Figura 5 - Ábaco classificatório da MCT-M .................................................................. 23

Figura 6 - Equipamento utilizado no ensaio de Mini-MCV ........................................... 25

Figura 7 - Curvas de compactação obtidas no ensaio de Mini-MCV ............................. 27

Figura 8 - Curva de deformabilidade Mini-MCV .......................................................... 28

Figura 9 - Ensaio de Perda de Massa por Imersão ......................................................... 29

Figura 10 - Ábaco da classificação MCT ....................................................................... 31

Figura 11 - Ábaco classificatório do Método das Pastilhas............................................ 32

Figura 12 - Localização dos materiais alternativos no estado do Rio Grande do Sul .... 35

Figura 13 - Localização dos dois perfis no estado do Rio Grande do Sul ...................... 37

Figura 14 - Perfil localizado em Cruz Alta/RS............................................................... 38

Figura 15 - Localização do perfil de Cruz Alta .............................................................. 39

Figura 16 - Perfil de solo localizado em Ijuí/RS ............................................................ 40

Figura 17 - Localização do perfil de Ijuí ........................................................................ 40

Figura 18 - Ensaio de Análise Granulométrica por Sedimentação em laboratório ........ 42

Figura 19 - Ensaio de Limite de Liquidez ...................................................................... 43

Figura 20 - Ensaio de Limite de Plasticidade ................................................................. 43

Figura 21 - Ensaio de Peso Específico Real dos Grãos .................................................. 44

Figura 22 – Compactador e molde metálico cilíndrico do Ensaio Proctor Normal ....... 45

Figura 23 - Equipamento utilizado no ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC) .... 47

Figura 24 - Equipamento de compactação Mini-MCV .................................................. 49

Figura 25 - Colocação do solo no molde com auxílio de um funil ................................ 49

Figura 26 - Extensômetro utilizado no ensaio de Mini-MCV ........................................ 50

Figura 27 - Corpo de prova extraído 10 mm para fora do molde ................................... 51

Figura 28 - Extrator de corpos de prova ......................................................................... 52

Figura 29 - Corpos de prova dentro do tanque de submersão ........................................ 52

Figura 30 - Penetrômetro utilizado no Método das Pastilhas ......................................... 53

Figura 31 - Pastilhas após o processo de secagem em estufa ......................................... 54

Figura 32 - Pastilhas no processo de reabsorção de água ............................................... 55

Figura 33 - Medição de penetração das pastilhas ........................................................... 55

Figura 34 - Curva granulométrica do solo CA-L ........................................................... 57

Figura 35 - Curva granulométrica do solo CA-S ............................................................ 58

Figura 36 - Curva granulométrica do solo IJ-L .............................................................. 58

Figura 37 - Curva granulométrica do solo IJ-S .............................................................. 59

Figura 38 - Curva de compactação do solo CA-L .......................................................... 60

Figura 39 - Curva de compactação do solo CA-S .......................................................... 61

Figura 40 - Curva de compactação do solo IJ-L ............................................................. 61

Figura 41 - Curva de compactação do solo IJ-S ............................................................. 62

Figura 42 - Ábaco classificatório da MCT ..................................................................... 66

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Figura 43 - Ábaco classificatório da MCT-M ................................................................ 67

Figura 44 - Ábaco classificatório do Método das Pastilhas............................................ 68

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Informações sobre os pontos de coleta dos materiais estudados ................... 38

Tabela 2 - Análise Granulométrica e Classificação dos Solos ....................................... 56

Tabela 3 - Peso Específico Real dos Grãos e Limites de Atterberg ............................... 59

Tabela 4 - Resultados dos ensaios de Compactação....................................................... 60

Tabela 5 - Resultados dos ensaios de Índice de Suporte Califórnia ............................... 62

Tabela 6 - Resultados da Análise Química dos solos ..................................................... 63

Tabela 7 - Índices classificatórios da MCT .................................................................... 65

Tabela 8 - Resultados dos ensaios do Método das Pastilhas .......................................... 67

Tabela 9 - Concordância entre a MCT e o Método das Pastilhas................................... 68

Tabela 10 - Resumo dos resultados de todas as classificações utilizadas no estudo ...... 69

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 15

2.1. A METODOLOGIA MCT ................................................................................. 15

2.2. CARACTERÍSTICAS DE SOLOS TROPICAIS BRASILEIROS ................... 16

2.2.1. Solos lateríticos .................................................................................................. 19

2.2.2. Solos saprolíticos ............................................................................................... 21

2.2.3. Solos transicionais ............................................................................................. 23

2.3. ENSAIOS GEOTÉCNICOS UTILIZADOS NA CLASSIFICAÇÃO MCT ..... 24

2.3.1. Ensaio de compactação Mini-MCV ................................................................ 24

2.3.2. Ensaio de Perda de Massa por Imersão .......................................................... 29

2.3.3. Classificação geotécnica MCT ......................................................................... 30

2.3.4. Método expedito das pastilhas ......................................................................... 31

2.4. PAVIMENTOS DE BAIXO CUSTO ................................................................ 33

2.5. MATERIAIS ALTERNATIVOS NO RIO GRANDE DO SUL ....................... 34

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 36

3.1. ETAPA DE ESCRITÓRIO ................................................................................. 36

3.2. ETAPA DE CAMPO .......................................................................................... 36

3.2.1. Perfil em Cruz Alta/RS .................................................................................... 38

3.2.2. Perfil em Ijuí/RS ............................................................................................... 39

3.3. ETAPA DE LABORATÓRIO ........................................................................... 41

3.3.1. Ensaios de Caracterização Física .................................................................... 41

3.3.2. Ensaios de caracterização mecânica ............................................................... 44

3.3.3. Ensaio de análise química completa ................................................................ 47

3.3.4. Ensaio de Mini-MCV ........................................................................................ 47

3.3.5. Ensaio de perda de massa por imersão ........................................................... 51

3.3.6. Método das Pastilhas ........................................................................................ 53

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................... 56

4.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS MATERIAIS .................. 56

4.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DOS MATERIAIS .......... 60

4.3. ANÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS .................................................................. 63

4.4. ENSAIO DE COMPACTAÇÃO MINI-MCV E ENSAIO DE PERDA DE

MASSA POR IMERSÃO ................................................................................... 64

4.5. MÉTODO DAS PASTILHAS ............................................................................ 67

4.6. COMPARAÇÃO ENTRE AS CLASSIFICAÇÕES .......................................... 68

5 CONCLUSÕES ................................................................................................. 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 72

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13

1 INTRODUÇÃO

No âmbito da Engenharia Civil, os solos podem ser considerados um dos

materiais mais versáteis existentes, devido ao baixo custo de aquisição e abundância em

todas as regiões. Além da possibilidade de utilização como elemento de suporte em

fundações e subleitos rodoviários, eles podem constituir estruturas como barragens,

muros de arrimos, aterros, entre outros.

Na pavimentação, assim como em outras áreas da engenharia, busca-se

atualmente o desenvolvimento de projetos visando rodovias que atendam os mínimos

requisitos técnicos e que contemplem soluções econômicas e sustentáveis.

O crescimento econômico demanda rodovias pavimentadas e em boas

condições de uso, de modo a facilitar a integração entre as regiões de produção agrícola

aos pontos de exportação. Por outro lado, a utilização de agregados convencionais como

brita graduada simples e rocha sã como base e sub-base de pavimentos se torna inviável

em algumas regiões do Rio Grande do Sul, principalmente pelo alto custo de exploração

e grandes distâncias de transportes.

Nesse contexto, a utilização de materiais alternativos de ocorrência local ou

regional possibilita o projeto e a construção de pavimentos econômicos ou de baixo

custo. Tais materiais são comumente encontrados próximos ou às margens de rodovias

já implantadas, mas não pavimentadas. No Rio Grande do Sul, é possível verificar a

ocorrência de materiais alternativos, tais como basalto alterado, plintosolo, laterita e

solos arenosos finos lateríticos. A utilização desses materiais como camadas de

pavimentos pode contribuir com o crescimento econômico das regiões sem prejudicar o

meio ambiente.

Os dois principais sistemas de classificação de solos para utilização na área

rodoviária são o Sistema Unificado de Classificação de Solos (S.U.C.S) e o Highway

Resarch Board (H.R.B). O primeiro estabelece uma hierarquização para solos de

subleito a partir dos ensaios de análise granulométrica por peneiramento e determinação

dos limites de consistência. Já o segundo, desenvolvido para aplicação em projetos de

aeroportos, considera como parâmetros classificatórios a curva granulométrica, limite

de liquidez, índice de plasticidade e a compressibilidade dos solos.

No Brasil, tem-se uma predominância de solos tropicais. Devido ao

comportamento diferenciado destes solos, a utilização das classificações tradicionais em

projetos de pavimentos assente sobre solos tropicais pode levar a resultados não

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correspondentes a seu real desempenho. Tais classificações foram desenvolvidas para

solos de clima frio e temperado, o que dificulta sua aplicação em solos de formação

tropical.

A partir da necessidade de um sistema de classificação para solos tropicais

brasileiros, Nogami e Villibor desenvolveram a Metodologia MCT (Miniatura,

Compactada, Tropical). Essa metodologia permite uma classificação dos solos

compactados tropicais baseada em propriedades mecânicas e hidráulicas, através de

ensaios com corpos de prova em miniatura compactados em diferentes teores de

umidade. Assim, é possível uma avaliação direta das propriedades dos solos tropicais de

maneira mais efetiva.

Além disso, tal metodologia permite identificar o comportamento laterítico ou

não-laterítico dos solos. Solos lateríticos são aqueles que, quando compactados em

determinados teores de umidade, apresentam boa capacidade de suporte e pequena

perda dessa capacidade quando imersos em água. Ou seja, materiais que podem ter sua

utilização viabilizada em projetos de pavimentos de baixo custo.

Nogami e Villibor desenvolveram também uma metodologia expedita de

identificação de solos tropicais, o Método das Pastilhas. Baseado em medições

realizadas em pequenas pastilhas de solo moldadas em anéis metálicos, este método

permite classificar de forma rápida, prática e econômica os solos tropicais nos mesmos

grupos da Metodologia MCT.

Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral classificar e identificar

quatro amostras de solos tropicais da região noroeste do Rio Grande do Sul através da

Metodologia MCT e do Método das Pastilhas, de modo a propor a utilização de tais

materiais em projetos de pavimentos econômicos. Paralelo a isso, visa-se também

classificar as amostras de acordo com as duas classificações tradicionais de solos –

Sistema Unificado de Classificação de Solos (S.U.C.S) e Highway Research Board

(H.R.B) – para efeito de comparação com os resultados obtidos na Metodologia MCT.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo será apresentada uma revisão da bibliografia acerca dos seguintes

temas: (a) histórico da Metodologia MCT; (b) solos tropicais brasileiros; (c) ensaios

geotécnicos utilizados na classificação MCT, (d) pavimentos de baixo custo e (e)

materiais alternativos no Rio Grande do Sul.

2.1. HISTÓRICO DA METODOLOGIA MCT

A identificação e classificação de solos existentes na natureza têm vital

importância para o conhecimento das características geotécnicas desses materiais, seja a

partir de análise táctil-visual ou por meio de ensaios de laboratório. A classificação de

um solo permite a seleção do melhor material indicado para determinado projeto de

engenharia, levando em conta suas características físicas e mecânicas.

Atualmente, é praticamente exclusiva a utilização no mundo inteiro de

procedimentos baseados na granulometria e características plásticas para classificar os

solos em pavimentação. Devido à predominância de solos tropicais no Brasil, tais

classificações conduzem a solos classificados de maneira não condizente com seu real

comportamento quando aplicados em um projeto rodoviário. Esse tema tem sido

assunto de diversas pesquisas no âmbito acadêmico e profissional, de modo a se buscar

um sistema de classificação de solos de clima tropical, quente e úmido.

Na década de 1950, Nogami constatou que os procedimentos adotados a partir

de classificações desenvolvidas nos Estados Unidos não correspondiam com o real

desempenho dos solos brasileiros em obras rodoviárias.

Entre os anos de 1956 e 1960, com a execução do Plano de Pavimentação no

Brasil, se tornou possível o desenvolvimento de uma tecnologia mais adaptada aos solos

tropicais brasileiros e suas condições tropicais. Antes deste plano, era comum a

utilização de bases rodoviárias constituídas de macadame hidráulico ou betuminoso e de

revestimentos betuminosos usinados a quente.

A partir dos anos 1960, começou-se a utilizar outros materiais nas camadas dos

pavimentos rodoviários. São exemplos as bases de solo-cimento, bases estabilizadas

granulometricamente, revestimentos de tratamento superficial e reforço do subleito com

utilização de solos lateríticos arenosos ou argilosos.

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16

No estado de São Paulo, entre as décadas de 1960 e 1970, alguns trechos

experimentais foram executados com bases de solos arenosos finos lateríticos. O

excelente desempenho destes materiais em campo comprovou que os procedimentos

tradicionais para escolha de solos estabilizados granulometricamente na época eram

limitados.

A metodologia MCT foi desenvolvida especificamente para o estudo de solos

tropicais, visando estudos geotécnicos em projetos de pavimentos de baixo custo. Nesse

contexto, Nogami e Villibor (1981) fizeram grande contribuição com o

desenvolvimento desta metodologia. Além de constituir um marco na Geotecnia

brasileira, essa metodologia permite identificar e caracterizar propriedades mecânicas e

hidráulicas de solos tropicais de maneira direta e eficaz.

Em 1972, baseado no procedimento desenvolvido na Iowa State University,

Nogami desenvolveu o primeiro ensaio de Mini-CBR, caracterizado por dimensões

reduzidas. Isso permitiu a correlação dos valores encontrados com resultados de CBR

realizados de acordo com o método de dimensionamento de pavimentos asfálticos

vigente no Brasil.

A partir do procedimento denominado Moisture Condition Value – MCV,

desenvolvido por Parsons (1976) no Laboratório de Pesquisas em Transportes e

Estradas (Transport and Road Research Laboratory – UK), Nogami e Villibor

adaptaram tal ensaio para estudos em solos tropicais. Mais tarde, em 1979, eles

utilizaram corpos de prova compactados para identificar outras propriedades dos solos,

tais como contração, infiltrabilidade e permeabilidade.

A introdução do ensaio de Perda de Massa por Imersão permitiu o

desenvolvimento de uma classificação geotécnica (Nogami e Villibor, 1981)

denominada Classificação MCT (Miniatura, Compactada, Tropical).

Mais recentemente, Nogami e Villibor (2001) propuseram algumas atualizações

na metodologia, de modo a reduzir o número de golpes no ensaio de compactação,

visando uma simplificação do processo de classificação dos solos.

2.2. CARACTERÍSTICAS DE SOLOS TROPICAIS BRASILEIROS

Solo tropical pode ser definido como aquele que apresenta propriedades e

comportamento peculiar em relação a solos não tropicais. Essa peculiaridade ocorre

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17

devido à atuação de processos geológicos e/ou pedológicos no mesmo, típicos de

regiões tropicais úmidas (Committe on Tropical Soils of ISSMFE, 1985).

Os solos tropicais são encontrados em regiões com características climáticas

tropicais e úmidas. Como consequência do processo de laterização, esses materiais

podem apresentar diferentes comportamentos em relação às suas propriedades

mecânicas e hidráulicas. Tal processo, também chamado de latolização, ocorre em

regiões onde os cátions básicos sofrem lixiviação, com concentração residual de óxidos

de ferro e de alumínio.

De acordo com Nogami e Villibor (1996), os solos precisam apresentar duas

condições para que sejam considerados tropicais. Além de possuir propriedades e

comportamentos diferentes de solos tradicionais (classificados pelos sistemas de

classificação SUCS e HRB), eles devem ocorrer em clima quente e úmido.

Nas regiões de clima tropical, encontram-se solos lateríticos, saprolíticos e

transportados. A Figura 1 esquematiza um perfil típico de ocorrência desses solos em

ambientes tropicais. No Brasil, de acordo com os autores citados acima, destacam-se

duas classes de solos tropicais: solos de comportamento laterítico e solos de

comportamento não-laterítico.

Figura 1 - Perfil de ocorrência de solos em regiões tropicais

Fonte: http://www.portaldetecnologia.com.br/ Acesso em 01 de junho de 2017.

Com o intuito de identificar as propriedades e características geotécnicas dos

solos tropicais brasileiros, Nogami e Villibor desenvolveram na década de 80 uma

metodologia denominada MCT (Miniatura, Compactada, Tropical). Através de ensaios

com corpos de prova em miniatura, esta metodologia permite a avaliação de

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propriedades relacionadas à resistência, deformabilidade e permeabilidade dos solos.

Nesta classificação, os solos foram divididos em duas classes. São elas solos de

comportamento laterítico (L) e solos de comportamento não-laterítico (N). Além disso,

eles são subdivididos em sete grupos, conforme descrito por Nogami e Villibor (1995):

• Areias lateríticas (LA) – neste grupo estão inclusas as areias com poucos

finos de comportamento laterítico, típicas do horizonte B dos solos conhecidos

pedologicamente como areias quartzosas e regosolos;

• Solos arenosos lateríticos (LA’) – solos tipicamente arenosos, e

constituintes do horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente no Brasil por

latossolos arenosos e solos podzolizados arenosos (textura média). Estes solos, além da

presença de matizes vermelho e amarelo, dão cortes firmes (pouco ou não erodíveis)

nitidamente trincados, quando expostos às intempéries;

• Solos argilosos lateríticos (LG’) – este grupo é formado por argilas e

argilas arenosas que constituem o horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente

por latossolos, solos podzólicos e terras roxas estruturadas. Quando apresentam

porcentagem de areia elevada, tem um comportamento semelhante aos solos do grupo

LA’;

• Areias não lateríticas (NA) – Os solos pertencentes a este grupo são as

areias, siltes e misturas de areias e siltes, nos quais os grãos são constituídos

essencialmente de quartzo e/ou mica. Praticamente não possuem finos argilosos

coesivos siltes caoliníticos;

• Solos arenosos não lateríticos (NA’) – compostos granulometricamente

por misturas de areias quartzosas (ou de minerais de propriedades similares) com finos

passando na peneira 0,075mm, de comportamento não laterítico. Geneticamente os tipos

mais representativos são solos saprolíticos originados de rochas ricas em quartzo tais

como os granitos, gnaisses, arenitos e quartzitos impuros;

• Solos siltosos não lateríticos (NS’) – este grupo compreende os solos

saprolíticos silto-arenosos peculiares, resultantes do intemperismo tropical nas rochas

eruptivas e metamórficas, de constituição predominantemente feldspática-micácea-

quartzosa. As variedades mais ricas em areia quartzosa podem ter características

mecânicas e hidráulicas que se aproximam dos solos do grupo NA’;

• Solos argilosos não lateríticos (NG’) – este grupo compreende os solos

saprolíticos argilosos, provenientes de rochas sedimentares argilosas (folhelhos,

argilitos, siltitos), ou cristalinas pobres em quartzo e ricas em anfibólios, piroxênios e

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feldspatos cálcicos. Classificam-se neste grupo os solos superficiais pedogênicos não

lateríticos, como os vertissolos bem como muitos solos transportados.

2.2.1. Solos lateríticos

De acordo com Johnston (2010), um solo é considerado laterítico quando for

considerado de comportamento geotécnico laterítico. Ou seja, ele é caracterizado por

possuir diversas propriedades que levam a classificá-lo como solo de comportamento

laterítico na classificação MCT.

Devido à laterização, a fração argila dos solos lateríticos é constituída

basicamente por argilominerais do tipo caulinita e por hidróxidos e óxidos hidratados de

ferro e alumínio. A combinação de tais componentes torna esses solos estáveis na

presença de água, graças ao recobrimento dos argilominerais pelos hidróxidos e óxidos

hidratados. Estes últimos, além de reduzirem a capacidade de adsorção de água pelos

argilominerais, também atuam como agentes cimentantes naturais entre as partículas do

solo. Nas frações silte e areia, são encontrados essencialmente quartzo, agregações

lateríticas e, em menor escala, minerais pesados.

A Figura 2 mostra, em escala microscópica com aumento de 3000 e 10000

vezes, um solo laterítico estudado por Takeda (2006). É possível perceber que os grãos

mais finos se encontram agregados e que o solo apresenta um aspecto cimentado.

Figura 2 - Fotografia microscópica de um solo laterítico, com aumento de 3000 e

10000x respectivamente

Fonte: Takeda (2006).

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Conforme Nogami e Villibor (1981), solos de comportamento laterítico

constituem a camada mais superficial de áreas bem drenadas, acima do lençol freático.

São caracterizados por sua cor, onde predominam os tons vermelhos e amarelos. Sua

espessura geralmente ultrapassa 2 metros e raramente é superior a 10 metros.

Além disso, os solos lateríticos são caracterizados pela sua macroestrutura

aparentemente homogênea e isotrópica. As variedades argilosas exibem aglomeração,

formando torrões que geralmente são resistentes à ação da água, e grande quantidade de

vazios preenchidos por ar. Já nas variedades arenosas, são encontrados vazios

intergranulares. Por causa dessas características peculiares, os solos lateríticos são

considerados porosos pela sua aparência macroscópica. Isso justifica sua baixa massa

específica aparente e elevada permeabilidade.

Em relação à sua distribuição geográfica, os solos lateríticos estão situados

geralmente na faixa do planeta localizada entre os trópicos. Essas regiões são

caracterizadas por condições climáticas favoráveis ao intemperismo intenso e rápido,

com altas temperaturas, ambiente úmido, chuvas intensas e percolação d’água.

(BERNUCCI, 1995)

De toda a superfície do planeta, estima-se que 8,1% é ocupado por solos

lateríticos. No Brasil, este tipo de solo pode ser encontrado em diversas regiões,

conforme a figura 3.

Figura 3 - Ocorrência de solos lateríticos no Brasil

Fonte: http://www.portaldetecnologia.com.br/ Acesso em 01 de junho de 2017.

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Quanto às propriedades mecânicas dos solos lateríticos, é importante diferenciar

sua condição natural da compactada. Em obras de pavimentação, tem-se o interesse pelo

conhecimento das características e propriedades do material compactado. Um solo de

comportamento laterítico adquire, após compactação, alta capacidade de suporte e

pequena perda dessa capacidade quando imerso em água.

Segundo Santana e Gontijo (1987), os solos lateríticos, em geral, apresentam

CBR relativamente alto e baixa expansão, elevados Limite de Liquidez (LL) e Índice de

Plasticidade (IP) e alto valor de módulo resiliente. Além disso, eles podem apresentar

contração elevada quando secos e possuem aglomeração bem desenvolvida, o que os

torna permeáveis e resistentes à erosão.

De acordo com a classificação MCT os solos de comportamento laterítico são

designados pela letra L. São subdivididos em três diferentes grupos:

• LA – areia laterítica

• LA’ – solo arenoso laterítico

• LG’ – solo argiloso laterítico

2.2.2. Solos saprolíticos

Solos saprolíticos são aqueles que resultam da decomposição e/ou desagregação

in situ da rocha (considerada material consolidado da crosta terrestre). São peculiares

por manter, de maneira nítida, a estrutura da rocha que lhe deu origem (Comittee on

Tropical Soils of ISSMFE, 1985).

Nogami e Villibor (1995) classificam o solo saprolítico como um solo

genuinamente residual, frequentemente designado solo residual ou solo residual jovem.

São caracterizados por espessuras variadas, podendo chegar a dezenas de metros de

profundidade. Grande parte desses solos se encontra em boas condições de drenagem.

Possuem manchas e mosqueamentos que tornam sua estrutura visivelmente

heterogênea. Tais feições foram herdadas da rocha de origem ou desenvolvidas durante

o processo de intemperismo. Nestes solos, as cores mais variadas podem ocorrer, entre

elas branco, preto, cinza, roxo, azul, entre outros.

Além disso, os solos saprolíticos possuem uma composição mineralógica

caracterizada por um grande número de minerais, sendo formados pela intemperização

ou herdados da rocha matriz. Na fração argila, é comum encontrar grande variedade de

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argilominerais, enquanto que na mineralogia da fração silte pode se encontrar

macrocristais de caulinitas e micas. Tais minerais podem conferir um comportamento

particular a estes solos. A Figura 4 ilustra um solo saprolítico em escala microscópica

estudado por Takeda (2006).

Figura 4 - Fotografia microscópica de um solo saprolítico com aumento de 3000x

Fonte: Takeda (2006).

Em relação à plasticidade e expansibilidade, os solos saprolíticos possuem um

comportamento muito peculiar. Eles podem variar de extremamente plástico até não

plástico e de altamente expansivo (quando saturados) até muito contrátil (quando seco).

São considerados bastante erodíveis, geralmente apresentando baixos valores de CBR e

módulo de resiliência. A presença de mica na composição destes solos pode alterar seu

comportamento. Quando presente em elevada concentração na fração silte, este mineral

torna o solo muito expansivo, tanto no umedecimento quanto na secagem.

Ainda, de acordo com Nogami e Villibor (1981), os solos saprolíticos

geralmente apresentam um valor de capacidade de suporte abaixo das previsões dos

índices classificatórios tradicionais ou dos grupos tradicionais. Associado a um valor de

expansão comumente alto, devido ao baixo LL e IP, são geralmente considerados

inadequados para uso em pavimentação.

Solos de comportamento não laterítico são designados pela letra N na

classificação MCT e são subdivididos em quatro grupos:

• NA – areias, siltes e misturas de areias e siltes com predominância de

grão de quartzo e/ou mica, não laterítico;

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• NA’ – misturas de areias quartzosas com finos de comportamento não

laterítico (solo arenoso);

• NS’ – solo siltoso não laterítico;

• NG’ – solo argiloso não laterítico.

2.2.3. Solos transicionais

Vertamatti (1988) estudou solos plínticos da Amazônia, que podem passar

totalmente ou ter uma parcela de material retido na peneira de 2 mm. O autor propôs a

utilização de um equipamento semelhante ao utilizado no ensaio de Mini-MCV,

desenvolvido por Parsons (1976), para avaliar as características geotécnicas dos solos

granulares da Amazônia.

A partir deste estudo, foi apresentada uma proposta de modificação da

classificação MCT, com a inclusão do grupo de solos transicionais (T) no ábaco

classificatório. Este ábaco apresentado por Vertamatti (1988), mostrado na figura 5, foi

denominado MCT-M. O sufixo M indica a condição de modificação do gráfico. Surgiu

assim o conceito de solos transicionais, compreendidos na faixa intermediária entre os

solos de comportamento laterítico e os de comportamento não laterítico.

Figura 5 - Ábaco classificatório da MCT-M

Fonte: Vertamatti (1988).

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2.3. ENSAIOS GEOTÉCNICOS UTILIZADOS NA CLASSIFICAÇÃO MCT

A Metodologia MCT é composta por uma série de ensaios geotécnicos. São eles:

Compactação Mini-MCV, Perda de Massa por Imersão, Mini-CBR, Contração,

Infiltrabilidade, Permeabilidade e Penetração da Imprimação. Ela se aplica somente aos

solos com no mínimo 95% de material passante na peneira de abertura de 2mm. São

utilizados corpos de prova em miniatura compactadas, com dimensões de 5cm de

diâmetro e 5cm de altura. Através dos ensaios desta metodologia, é possível avaliar

diversas características dos solos tropicais, como contração, permeabilidade, expansão,

capacidade de suporte e curvas de compactação.

Para a classificação MCT, ou seja, para enquadrar o solo em determinado grupo

de solos, são necessários apenas dois ensaios, os chamados classificatórios da MCT.

São eles o ensaio de Compactação Mini-MCV e o ensaio de Perda de Massa por

Imersão.

2.3.1. Ensaio de compactação Mini-MCV

Neste ensaio, a compactação do solo é realizada em um equipamento miniatura.

O processo de compactação está baseado no processo desenvolvido por Parsons (1976).

Consiste na aplicação de energias crescentes, para cada teor de umidade, até se

conseguir uma massa específica aparente máxima. Este procedimento, denominado de

Moisture Condition Value (valor da condição de umidade) foi desenvolvido na

Inglaterra para controle de compactação em cilindros de 100mm de altura e soquete de

7kg. No Brasil, foi adaptado por Nogami e Villibor na década de 80 para corpos de

prova menores, com 50mm de altura e soquete de 2,270Kg.

Para a execução do ensaio de Compactação Mini-MCV devem ser seguidos os

procedimentos das normativas DNER-CLA 259/96 e DNER-ME 258/94. Utiliza-se um

equipamento de compactação em miniatura composto por uma base cúbica de concreto,

soquete cilíndrico de aço com peso de 2,270Kg e altura de queda de 30,5 cm. Na ponta

do soquete existe um cilindro padrão de aço com diâmetro de 49,8mm de faces

perfeitamente paralelas e polidas com altura de 50mm. Para medição da variação de

altura dos corpos de prova, utiliza-se um extensômetro com curso mínimo de 50mm,

graduado em 0,01mm e provido de contragiros. Para extração dos corpos de prova após

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a compactação, o equipamento conta com um dispositivo de alavanca. A Figura 6 ilustra

o equipamento de compactação Mini-MCV.

Figura 6 - Equipamento utilizado no ensaio de Mini-MCV

Fonte: Adaptado de DNER-ME 258/94.

A realização do ensaio inicia-se com a determinação da umidade ótima do

material, obtida a partir da compactação Proctor Normal. Sabendo o valor de umidade

ótima do solo, separa-se cerca de 2500g de material passante na peneira de abertura de 2

mm, dividindo-se o material em cinco porções diferentes com 500g cada uma. O

umedecimento deve ser feito de forma a se obter porções com umidades crescentes e

sucessivas. A diferença de umidade entre as porções deve ser de 1,5 a 2% nos solos

arenosos, 3 a 4% nos solos argilosos lateríticos e de 5% nas argilas não lateríticas e

siltes micáceos e cauliníticos. Essas porções devem abranger uma faixa de umidade

composta por um ponto próximo à umidade ótima, dois no ramo seco e dois no ramo

úmido da curva de compactação.

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As amostras de 500g devem ser umedecidas, homogeneizadas e acondicionadas

em sacos de polietileno ou potes plásticos com tampa, passando por um período mínimo

de repouso de 24 horas antes da realização do ensaio. Dessa forma evita-se a perda de

umidade do material.

Outro procedimento a ser realizado antes de iniciar o ensaio é a medição da

altura do cilindro padrão que será utilizado, por exemplo, Ac= 50mm. A partir desta

medição é feita a aferição do equipamento de compactação, de modo a se determinar,

durante o ensaio, a altura do corpo de prova. São colocados sobre o pistão do

compactador os discos de papel filtro, o cilindro padrão e o soquete de compactação de

forma centrada. Faz-se então a leitura do extensômetro (La) e calcula-se a constante de

aferição (Ka) do conjunto compactador-soquete através da equação abaixo. O sinal

negativo deve ser utilizado quando o extensômetro for colocado de cabeça para baixo e

positivo no caso contrário.

(1)

Após a aferição, o equipamento então é preparado para a realização do ensaio.

As etapas do processo e da realização do ensaio estão descritas abaixo:

Colocar os espaçadores envolvendo o pistão do compactador, o molde

cilíndrico sobre o mesmo e o disco de papel filtro para evitar aderência do material na

base do equipamento de compactação;

Homogeneizar novamente as porções de 500g de material e retirar

pequena porção de solo para determinação do teor de umidade através de secagem em

estufa;

Separar 200g de material homogeneizado e despejar, com auxílio de um

funil, dentro do molde. Nivelar o solo dentro do molde utilizando uma espátula.

Posicionar o soquete anteriormente aferido sobre o solo do molde.

Efetuar golpes sucessivos com leitura do extensômetro de acordo com a série de golpes

a seguir: 2, 3, 4, 6, 8, 12, 16, 24, 32, 48, 64, 96, 128, 192 e 256.

O ensaio inicia com a porção que possui maior teor de umidade, de forma que o

mesmo procedimento é repetido para os cinco teores de umidade. O ensaio é

interrompido e finalizado em três possíveis situações. Quando a diferença entre a leitura

obtida após 4n golpes for inferior a 2mm, quando houver exsudação de água de forma

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intensa no topo e/ou na base do corpo de prova ou quando o número de golpes atingir

256 golpes.

A realização do procedimento descrito acima permite identificar as curvas de

compactação de um solo. Essas curvas representam em abscissa os teores de umidade de

compactação e em ordenada os valores de massa específica aparente seca. O coeficiente

d’é definido como a inclinação da parte retilínea mais inclinada do ramo seco da curva

de compactação, sendo correspondente a 10 golpes no ensaio de Mini-MCV e ao teor de

umidade de compactação. A Figura 7 apresenta um exemplo de família de curvas de

compactação obtidas através deste ensaio.

Figura 7 - Curvas de compactação obtidas no ensaio de Mini-MCV

Fonte: Venturini (2015).

Além disso, o ensaio de Mini-MCV permite a obtenção das curvas de

deformabilidade Mini-MCV de um solo. Para cada teor de umidade, são traçados em

escala mono-log, curvas correspondentes na abcissa ao número de golpes (n) e na

ordenada à diferença de altura (na) dos corpos de prova compactados. Tais curvas são

denominadas de Mini-MCV, pois a partir delas é possível a determinação do valor da

condição de umidade. Procurando-se a intersecção com a reta de equação a=2mm,

adotada como referência para os corpos de prova da metodologia, determina-se o valor

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28

de golpes B correspondente. O Mini-MCV, para cada teor de umidade, é definido a

partir da equação:

(2)

A Figura 8 apresenta um exemplo de curva de deformabilidade Mini-MCV.

Figura 8 - Curva de deformabilidade Mini-MCV

Fonte: Venturini (2015).

O parâmetro classificatório denominado c’ é o coeficiente angular da parte mais

inclinada e retilínea da curva Mini-MCV, correspondente ao valor de Mini-MCV igual a

10. Este parâmetro reflete a argilosidade do solo. Solos com um c’ elevado, superior a

1,5, são caracterizados como argilas e solos argilosos, enquanto que valores de c’

inferiores a 1,0 caracterizam areias e siltes não plásticos ou pouco coesivos. Os demais

solos, como areias argilosas, areias siltosas, argilas siltosas e argilas arenosas estão

compreendidos no intervalo entre 1,0 e 1,5.

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2.3.2. Ensaio de Perda de Massa por Imersão

O ensaio de Perda de Massa por Imersão segue as diretrizes da normativa

DNER-ME 256/94. Ele é realizado utilizando-se os corpos de prova compactados no

procedimento do ensaio de Mini-MCV. Utiliza-se um tanque de imersão, de modo a se

manter uma lâmina de água de cerca de 1 cm acima da superfície externa do molde de

compactação. O molde é posicionado horizontalmente sobre um suporte, disposto a uma

altura de cerca de 4 cm do fundo do tanque. Para cada molde é disposta uma cápsula

com cerca de 8 cm de diâmetro e capacidade de 75mL no fundo do tanque. Utilizando o

dispositivo de alavanca, o corpo de prova deve ser extraído cerca de 10 mm do seu

molde. Em seguida, o corpo de prova é submerso em água, conforme o esquema da

Figura 9.

Figura 9 - Ensaio de Perda de Massa por Imersão

Fonte: Adaptado de Nogami e Villibor (1995).

Ao passar do tempo de ensaio, o solo começará a se desprender do corpo de

prova e cair na cápsula disposta no fundo do tanque. Após 20h do início do período de

imersão, as cápsulas são retiradas e levadas para secagem em estufa, de modo a se

determinar a massa de solo seco desprendida no ensaio.

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A perda de massa “Pi” é expressa em porcentagem e está relacionada à massa

seca da parte primitivamente saliente do corpo de prova, para cada teor de umidade.

Para a classificação do solo, esse parâmetro é obtido por interpolação gráfica da curva

de variação das porcentagens Pi em função do Mini-MCV. Procura-se no gráfico o valor

correspondente a Mini-MCV 10 ou 15, dependendo se a massa específica aparente seca

(MEAS) do solo for baixa ou elevada. Quando a altura final do corpo de prova para

Mini-MCV igual a 10 for acima de 53mm, a MEAS é considerada baixa. Já quando a

altura final do corpo de prova para Mini-MCV igual a 15 for inferior a 53mm, a MEAS

é considerada elevada.

2.3.3. Classificação geotécnica MCT

Com a realização dos dois ensaios descritos nos itens anteriores, é possível a

obtenção do parâmetro classificatório e’. Ele é calculado a partir do coeficiente d’ e da

perda de massa por imersão Pi, conforme a equação abaixo.

(3)

A classificação dos solos nos grupos da Metodologia MCT se dá a partir do

ábaco proposto por Nogami e Villibor (1981) apresentado na figura 10. O coeficiente c’

é associado à argilosidade do solo e corresponde às abcissas do ábaco da classificação

MCT. Já o índice e’ é relacionado ao caráter laterítico do solo e corresponde às

ordenadas do gráfico. De acordo com estes autores, algumas ressalvas são necessárias:

Quando o ponto cair sobre uma das proximidades dos limites L e N

(comportamento laterítico e não laterítico), o solo será considerado L quando Pi

decrescer tendendo a zero, para Mini-MCV no intervalo entre 10 e 15, e a curva Mini-

MCV apresentar concavidade para cima no intervalo de Mini-MCV de 1 a 15;

O solo será considerado N quando Pi variar de maneira diferente e a

referida curva for sensivelmente retilínea ou com concavidade para baixo;

O solo será considerado transicional quando as condições não

correspondem às acima especificadas. Assim, será representado por símbolos dos

grupos adjacentes.

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Figura 10 - Ábaco da classificação MCT

Fonte: Nogami e Villibor (1981).

2.3.4. Método expedito das pastilhas

Nas décadas passadas, vários estudos buscaram simplificar os ensaios

necessários para classificação geotécnica. Assim, é possível proporcionar resultados

coerentes com o real comportamento dos solos utilizados em obras de pavimentação. A

partir da experiência com a Metodologia MCT, foi desenvolvido um novo método de

classificação denominado Método Expedito das Pastilhas.

De acordo com Nogami e Villibor (1994), este método foi proposto com a

finalidade de simplificar os procedimentos dos ensaios de classificação de solos

tropicais. Além de utilizar menor quantidade de material do que nas outras

metodologias, este método possui equipamentos mais simples, requer mão de obra com

menor treinamento e pode ser utilizado para fins gerais e classificatórios.

O procedimento de ensaio consiste na moldagem de pastilhas em anéis de aço

inox com 20 mm de diâmetro e 5 mm de altura. Através de medições de contração (Ct)

e penetração (consistência) das pastilhas, é possível avaliar propriedades de resistência,

deformabilidade e permeabilidade dos solos.

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O ábaco classificatório do Método Expedito das Pastilhas está apresentado na

Figura 11. O gráfico apresenta as classes de solo de acordo com a Metodologia MCT.

Figura 11 - Ábaco classificatório do Método das Pastilhas

Fonte: Nogami e Villibor (1994).

Na parte superior do gráfico, estão situados os valores do coeficiente c’,

calculado através das expressões abaixo:

Para valores de contração (Ct) entre 0,1 e 0,5 mm:

(4)

Para valores de contração (Ct) maiores ou iguais a 0,6 mm:

(5)

Assim, é possível classificar de forma expedita os solos a partir dos valores de

penetração e da contração diametral ou coeficiente c’.

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33

2.4. PAVIMENTOS DE BAIXO CUSTO

De acordo com relatório técnico do DAER/RS, um pavimento é dito de baixo

custo quando, na camada de base e/ou sub-base, são utilizados materiais com custo de

execução substancialmente menor, medido em m³ executado, em relação aos materiais

tradicionais. Tais pavimentos, também denominados de pavimentos de baixo tráfego,

são dimensionados para um VDM igual ou inferior a 500 com até 40% de tráfego

comercial e N inferior a 5,5x105, sendo o período de projeto em geral de 10 anos.

Conforme a AASHTO (1986), as rodovias de baixo volume de tráfego suportam

até 106 repetições do eixo padrão de 82kN, considerando um método de

dimensionamento expedito de três níveis para um tráfego de até 106: baixo, médio e

alto.

Villibor e Nogami (2001) caracterizaram os pavimentos ditos de baixo custo por:

Utilizar bases compostas por solos, que tem custos de execução

substancialmente menores que as convencionais, como por exemplo: brita graduada,

macadame hidráulico, solo cimento, etc.;

Utilizar revestimento betuminoso tipo tratamento superficial, com

espessura de não mais que 3 cm, geralmente da ordem de 1,5 cm;

Considerar o trânsito no máximo do tipo médio, com Nt < 106

solicitações.

De acordo com o DNIT (2014), 78,6% da malha rodoviária brasileira é

composta por rodovias não pavimentadas, sendo que 91,26% delas estão sob

responsabilidade de governos municipais. No Rio Grande do Sul, apenas 7,25% da

malha rodoviária é pavimentado, o que corresponde a 11377,1Km.

Uma das maneiras de baixar os custos de execução de pavimentos é minimizar a

distância de transporte de materiais, utilizando os solos locais, ou seja, materiais

alternativos que devem ser criteriosamente selecionados nas jazidas (JOHNSTON,

2010).

Segundo Oliveira (2000), o emprego de materiais regionais, mais econômicos,

pode tornar possível a pavimentação de muitas rodovias, proporcionando evolução

econômica e integração a muitas áreas rurais hoje necessitadas de desenvolvimento. No

Rio Grande do Sul, é possível encontrar materiais alternativos já utilizados ou com

potencial de uso em pavimentação, tais como plintossolo, laterita, basalto alterado,

saibros de granito/gnaisse e solos arenosos finos lateríticos.

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2.5. MATERIAIS ALTERNATIVOS NO RIO GRANDE DO SUL

No Rio Grande do Sul, teve início na década de 80 a utilização de basalto

alterado nas obras rodoviárias executadas pelo DAER/RS. Tal material, resultante de

processos de alteração de rochas vulcânicas, está presente em grande parte do território

do estado.

Em 1982, técnicos da Divisão de Normas e Pesquisas do DAER/RS dedicaram-

se no desenvolvimento de uma solução econômica para viabilização da trafegabilidade

da chamada “Estrada do Inferno” (RST/101, trecho Bacopari – Mostardas). Foi

executado um trecho experimental de 500 m de extensão com a utilização de um

material local chamado de “barrinho”, horizonte B de um plintossolo. Consiste em um

solo areno-argiloso, de ocorrência na Formação Chuí, caracterizado por uma

concentração significativa de óxidos de ferro, alumínio e manganês.

De acordo com Passos (2000), a primeira utilização de lateritas como bases de

pavimentos no Rio Grande do Sul se deu em 1985, em um trecho de 13Km da RS/536,

entre o município de Caibaté e a BR/285. As lateritas são concreções ferruginosas de

cor avermelhada, formadas pelo processo de laterização. Sua ocorrência pode ser em

crostas lateríticas ou em solos e pedregulhos lateríticos.

O DAER/RS (apud PASSOS, 2000) iniciou, em 1988, uma pesquisa em relação

aos solos arenosos finos lateríticos do Rio Grande do Sul em convênio com a

Universidade de São Carlos – USP. Foi coletado material de doze diferentes jazidas,

com posterior realização da classificação MCT. A pesquisa foi interrompida no meio do

cronograma, sem a construção dos previstos segmentos experimentais com materiais

alternativos.

A partir das experiências realizadas na década de 80, estabeleceu-se um interesse

no Rio Grande do Sul de utilizar materiais alternativos nas camadas dos pavimentos.

Desde então, diversas pesquisas foram realizadas neste âmbito, assim como diversos

trechos experimentais foram executados com a utilização destes materiais. Norback

(2015) e Flora (2015) realizaram estudos com solos lateríticos da região noroeste do Rio

Grande de Sul, propondo a utilização destes materiais em projetos de pavimentos

econômicos.

A Figura 12 apresenta um mapa com o local de ocorrência dos principais

materiais alternativos utilizados em pavimentação no estado do Rio Grande do Sul.

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Figura 12 - Localização dos materiais alternativos no estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Oliveira (2001, apud Johnston, 2010).

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36

3 METODOLOGIA

A metodologia aplicada neste trabalho foi dividida em três etapas básicas: (a)

etapa de escritório: revisão bibliográfica acerca da Metodologia MCT, solos tropicais

lateríticos, ensaios geotécnicos de classificação, pavimentos de baixo custo e materiais

alternativos para pavimentação; (b) etapa de campo: escolha das áreas de coleta dos

solos para o estudo e retirada de amostras deformadas de cada perfil para realização dos

ensaios de laboratório; (c) etapa de laboratório: realização dos ensaios básicos de

caracterização física e mecânica, assim como dos ensaios classificatórios da

Metodologia MCT, Método das Pastilhas e análise química do solo.

Com o término da etapa de laboratório, os dados obtidos foram processados e

analisados. Assim, foi possível classificar os solos através das classificações

geotécnicas tradicionais S.U.C.S e H.R.B e confrontar com a Classificação MCT. As

etapas listadas acima estão descritas abaixo.

3.1. ETAPA DE ESCRITÓRIO

Esta etapa inicial consistiu de um levantamento da bibliografia existente acerca

do tema do trabalho em estudo. Utilizaram-se livros, dissertações, teses, artigos,

publicações em congressos relacionados à Metodologia MCT, abrangendo sua

classificação, os ensaios de Mini-MCV e Perda de Massa por Imersão, e também

relacionados à pavimentação de baixo custo.

3.2. ETAPA DE CAMPO

Em campo, as amostras foram coletadas em dois perfis localizados em Cruz

Alta/RS e Ijuí/RS. Tais locais foram escolhidos de modo a obter amostras de uma

mesma região geográfica (noroeste do estado do Rio Grande do Sul), porém de

unidades de mapeamento diferentes. Neste contexto, buscou-se a possibilidade de

classificar solos próximos à rodovias do interior do estado através da Metodologia MCT

e do Método das Pastilhas. As coletas de material em campo permitiram conhecer os

tipos de solo, identificar horizontes e fazer a coleta das amostras deformadas necessárias

para a etapa de laboratório. A Figura 13 ilustra a localização geográfica dos locais de

coleta dos solos no mapa do Rio Grande do Sul.

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Figura 13 - Localização dos dois perfis no estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Google Earth (2016).

De acordo com a Classificação Taxonômica das Unidades de Mapeamento do

Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado do Rio Grande do Sul elaborado

pela Emater/RS, ambos os pontos de coleta estão localizados na classe de mapeamento

Latossolo Vermelho Distroférrico típico (STRECK et al, 1999). Estes solos possuem

baixos valores de saturação por bases (inferior a 50%) e elevado teor de ferro (superior

a 18%). Devido ao fato de serem solos muito intemperizados, possuem um predomínio

de caulinitas e óxidos de ferro, o que lhes confere baixa capacidade de troca catiônica

(CTC).

Além disso, os dois pontos de coleta estão localizados sobre rochas do Grupo

São Bento, Formação Serra Geral, Fáceis Gramado, de acordo com o Mapa Geológico

do Estado do Rio Grande do Sul desenvolvido pela Companhia de Pesquisa e Recursos

Minerais (CPRM, 2006). Tais rochas correspondem a derrames basálticos granulares

finos a médio, de cor cinza, horizontes vesiculares preenchidos por zeolitas, carbonatos,

apofilitas e saponita. Neste caso, são comuns as estruturas de fluxo, sendo que nos

primeiros derrames podem ocorrer intercalações com os arenitos Botucatu.

A Tabela 1 apresenta um resumo das informações acerca dos dois pontos onde

os solos foram coletados.

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Tabela 1 - Informações sobre os pontos de coleta dos materiais estudados

3.2.1. Perfil em Cruz Alta/RS

O primeiro perfil estudado é um talude de corte à beira da BR-158 em Cruz

Alta/RS, adjacente ao entroncamento com a RS-342 Neste local foram coletadas

amostras de dois solos para estudo, denominados CA-L (horizonte laterítico) e CA-S

(horizonte saprolítico). Esse ponto está localizado unidade de mapeamento Cruz Alta. A

Figura 14 mostra o local onde os solos CA-L e CA-S foram coletados.

Figura 14 - Perfil localizado em Cruz Alta/RS

A localização geográfica do perfil em Cruz Alta extraída do software Google

Earth está mostrada na Figura 15.

Latitude Longitude

CA-L Laterítico

CA-S Saprolítico

IJ-L Laterítico

IJ-S Saprolítico

28º40’20’’ S 53º35’36’’ W

53º53’22’’ W

Amostra Local de coleta RodoviaCoordenadas do ponto

Horizonte

Ijuí/RS RS-342 28º26’14’’ S

Cruz Alta/RS BR-158

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Figura 15 - Localização do perfil de Cruz Alta

Fonte: Google Earth (2016).

3.2.2. Perfil em Ijuí/RS

O segundo perfil estudado também é um talude de corte, localizado à beira da

RS-342 em Ijuí/RS. As amostras coletadas para estudo foram denominadas IJ-L

(horizonte laterítico) e IJ-S (horizonte saprolítico). O ponto onde foram coletados os

solos IJ-L e IJ-S está inserido na unidade de mapeamento geotécnico Santo Ângelo. De

acordo com o IBGE (1986), está formação é um agrupamento de vulcanitos

predominantemente basálticos entremeados com termos ácidos, sobretudo no topo, e

intercalados com arenitos de origem eólica da Formação Botucatu. A Figura 16 mostra

o perfil de coleta em Ijuí.

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Figura 16 - Perfil de solo localizado em Ijuí/RS

A localização geográfica do perfil em Ijuí extraída do software Google Earth

está mostrada na Figura 17.

Figura 17 - Localização do perfil de Ijuí

Fonte: Google Earth (2016).

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Para as coletas, inicialmente foi feita uma limpeza superficial dos perfis. As

amostras deformadas foram coletadas com o auxílio de pás. Coletou-se cerca de 60Kg

de cada solo em estudo, sendo que as amostras foram identificadas e colocadas em

sacos plásticos.

Após a coleta em campo, as amostras foram transportadas ao laboratório, e

foram deixadas em padiolas para secagem ao ar. Procedeu-se então para o

destorroamento das amostras, com posterior passagem pela peneira nº 4 (4,8mm). O

solo passante por esta peneira foi acondicionado novamente em sacos plásticos e

armazenado no galpão do Laboratório de Materiais de Construção Civil.

3.3. ETAPA DE LABORATÓRIO

Nesta etapa, foram realizados os ensaios de caracterização física e mecânica de

solos. São eles a Análise Granulométrica, Limites de Atterberg, Peso Específico Real

dos Grãos, Ensaio de Compactação Proctor Normal e Ensaio de Índice de Suporte

Califórnia (ISC ou CBR). Além destes, foram realizados os dois ensaios classificatórios

da Metodologia MCT. São eles o Ensaio de Mini-MCV e o Ensaio de Perda de Massa

por Imersão. Por último, realizou-se o Método das Pastilhas. Todos os ensaios citados

acima foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFSM.

Além disso, procedeu-se também a Análise Química Completa dos Solos, realizada no

Laboratório de Análise de Solos da UFSM.

3.3.1. Ensaios de Caracterização Física

Os ensaios de caracterização dos solos em estudo foram feitos com a utilização

das amostras deformadas coletadas em campo. Nesta etapa, foram realizados os ensaios

de Análise Granulométrica, Limites de Atterberg e Peso Específico Real dos Grãos.

A Análise Granulométrica por Peneiramento e Sedimentação foi realizada com e

sem a utilização de agente defloculante. A utilização desta substância é importante, pois

ela promove um desprendimento entre as partículas mais grossas e as mais finas do

solo. O ensaio é preconizado na norma ABNT NBR 7181/16, sendo que a classificação

se dá através da escala ABNT NBR 6502/95 (Solos e Rochas). A Figura 18 mostra a

etapa de sedimentação em andamento no laboratório.

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Figura 18 - Ensaio de Análise Granulométrica por Sedimentação em laboratório

Os ensaios de Limites de Atterberg seguiram as preconizações das normas

ABNT NBR 6459/16 e NBR 7180/16. Foram realizados os ensaios de Limite de

Liquidez e Limite de Plasticidade, mostrados nas Figuras 19 e 20.

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Figura 19 - Ensaio de Limite de Liquidez

Figura 20 - Ensaio de Limite de Plasticidade

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O ensaio de Peso Específico Real dos Grãos foi realizado pelo método do

picnômetro, recomendado para materiais finos. O ensaio seguiu a normativa ABNT

NBR 6508/16 e está representado na Figura 21.

Figura 21 - Ensaio de Peso Específico Real dos Grãos

3.3.2. Ensaios de caracterização mecânica

Nesta etapa, realizaram-se os ensaios de Compactação Proctor em Energia

Normal e o Ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR).

3.3.2.1. Ensaio de Compactação Proctor Normal

Este ensaio foi realizado com o intuito de se obter o teor de umidade ótima e a

massa específica máxima real aparente para cada um dos quatro solos em estudo. O

ensaio seguiu a normativa ABNT NBR 7182/16.

A compactação do solo consiste na estabilização mecânica do mesmo através da

aplicação de alguma forma de energia. Esse processo promove no solo um aumento do

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seu peso específico e resistência ao cisalhamento, e uma diminuição do índice de

vazios, permeabilidade e compressibilidade. O ensaio Proctor permite a obtenção de

uma correlação entre o teor de umidade e o peso específico seco do solo compactado

por um soquete padronizado em uma determinada energia.

Para a realização do ensaio, utilizou-se 3000 g do material seco, destorroado e

passante pela peneira nº 4. Adicionou-se água até verificar a consistência necessária

para homogeneizar a amostra. A amostra foi compactada em um molde metálico

cilíndrico em três camadas, sendo que em cada camada são aplicados 25 golpes de

soquete. Os golpes são distribuídos uniformemente sobre a superfície do solo. Após a

compactação, o molde contendo o solo úmido compactado é pesado. Após isso, a

amostra é retirada do molde, retirando-se duas cápsulas com solo úmido para

determinação do teor de umidade da amostra. Este teor é determinado após secagem da

cápsula em estufa.

Após isso, com a utilização da mesma amostra de solo e com a adição de 60 mL

de água, representando um aumento de 2% de umidade no solo, o processo é repetido

no mínimo quatro vezes. Assim, é possível obter diferentes pesos específicos para

diferentes teores de umidade no solo. A Figura 22 mostra o equipamento utilizado na

realização do ensaio em laboratório.

Figura 22 – Compactador e molde metálico cilíndrico do Ensaio Proctor Normal

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Neste trabalho, a realização deste ensaio teve duas finalidades. A primeira foi a

determinação da densidade máxima do solo que serviu como um valor padrão de

compactação. A segunda foi a determinação da umidade ótima do solo necessária para

obtenção da compactação. Este valor é muito importante, sendo utilizado no Ensaio de

Índice de Suporte Califórnia e no Ensaio de Mini-MCV.

3.3.2.2. Ensaio de Índice de Suporte Califórnia – ISC ou CBR

O ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR), tem como principal

objetivo estimar a resistência de um solo compactado para utilização em bases, sub-

bases e subleitos de pavimentos rodoviários, através da penetração de um pistão na

amostra. Além disso, o ensaio permite obter o valor de expansão do solo sob um

pavimento na condição de saturação. A realização do ensaio seguiu a normativa NBR

9895/16.

O ensaio é iniciado com a umidificação da amostra no valor de sua umidade

ótima e posterior compactação da amostra em cinco camadas com doze golpes cada

uma. Após isso, a amostra é pesada e coloca-se um expansômetro sobre o solo para

medição da expansão. O cilindro com o corpo de prova e uma sobrecarga é então

imergido em um tanque com água, onde permanece por 96 horas. Passado este tempo, o

cilindro é colocado na prensa, onde se mede a penetração de um pistão no solo a cada

trinta segundos, até o tempo de dez minutos. A Figura 23 mostra o equipamento

utilizado na determinação do Índice de Suporte Califórnia (ISC) em laboratório.

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Figura 23 - Equipamento utilizado no ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC)

3.3.3. Ensaio de análise química completa

A caracterização química completa dos solos em estudo foi realizada no

Laboratório de Análise de Solos do Centro de Ciências Rurais da UFSM. Este ensaio

permite analisar os parâmetros de percentual de argila, classe textural, pH em água,

teores de P e K disponíveis, presença de matéria orgânica, Al, Ca e Mg trocáveis. Além

disso, ele permite também analisar a saturação por bases e por Al, CTC efetiva e CTC

pH 7,0.

3.3.4. Ensaio de Mini-MCV

Este ensaio, junto do Ensaio de Perda por Imersão, é realizado para a

classificação dos solos de acordo com a Metodologia MCT. Seguiram-se os

procedimentos das normativas DNER-CLA 259-96 e DNER-ME 258-94.

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Inicialmente, para cada solo em estudo, foram preparadas cinco amostras de

aproximadamente 500g com diferentes teores de umidade, sendo duas amostras com

umidade abaixo do teor ótimo, uma próxima a umidade ótima e outras duas com

umidade acima do teor ótimo. A preparação das amostras se dá com pelo menos 24h de

antecedência à realização do ensaio. As umidades utilizadas foram baseadas nos valores

obtidos no ensaio de Compactação Proctor Normal.

O equipamento utilizado no ensaio de Compactação Mini-MCV é mostrado na

figura 24. Com o auxílio de um funil, coloca-se 200g de material dentro de um molde

cilíndrico metálico (Figura 25). Após isso, são aplicadas energias crescentes, de acordo

com uma série de golpes com o soquete, de modo a se conseguir um aumento sensível

de densidade para os diferentes teores de umidade. Desta forma, é obtida uma família de

curvas de compactação para cada um dos solos em estudo. Para cada série de golpes,

realiza-se uma leitura de altura do corpo de prova com o auxílio de um extensômetro

(Figura 26). O ensaio é finalizado quando houver uma diferença inferior à 2 mm de

altura no corpo de prova obtida após 4n golpes e a obtida após n golpes, ou se houver

intensa exsudação de água no topo e na base do corpo de prova ou quando o número de

golpes atinge o valor de 256.

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Figura 24 - Equipamento de compactação Mini-MCV

Figura 25 - Colocação do solo no molde com auxílio de um funil

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Figura 26 - Extensômetro utilizado no ensaio de Mini-MCV

Os resultados obtidos no ensaio são plotados, com auxílio de planilha eletrônica,

num gráfico. A abscissa representa a relação entre o número de golpes em escala

logarítmica e a ordenada a diferença de leitura obtida após 4n golpes e a obtida após n

golpes para cada sequência de golpes. Assim, é formada uma família de curvas de

compactação. Estas são denominadas curvas de deformabilidade ou de Mini-MCV, pois

elas permitem a determinação do valor de Mini-MCV. O coeficiente c’, utilizado na

classificação MCT, é obtido a partir da curva de deformabilidade correspondente ao

valor que mais se aproxima do Mini-MCV igual a 10. Esse coeficiente representa o

coeficiente angular da parte retilínea da curva de deformabilidade. Já o coeficiente d’,

também utilizado na classificação MCT, é obtido a partir da inclinação da parte retilínea

do ramo seco da curva de compactação, correspondente a 10 golpes do ensaio de Mini-

MCV. Neste caso, o gráfico plotado relaciona o Teor de Umidade (%) e a Massa

Específica Aparente Seca (g/cm³).

É importante ressaltar que todo o processo de compactação Mini-MCV dos

quatro solos estudados foi feito de forma manual por este autor. Isso evita uma possível

variabilidade associada à execução do ensaio por outra pessoa.

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3.3.5. Ensaio de perda de massa por imersão

Após a realização do ensaio de Mini-MCV, procedeu-se o ensaio de Perda de

Massa por Imersão, de acordo com a normativa DNER-ME 256/98. Com ajuda de uma

alavanca, os corpos de prova compactados são extraídos cerca de 10 mm para fora do

molde, conforme Figura 27. Utiliza-se o extrator do equipamento de compactação

(Figura 28). Os cinco corpos de prova são então dispostos na posição horizontal a cerca

de 4 cm do fundo do tanque de submersão (Figura 29). Os moldes permaneceram nessa

condição por 20h. Ao longo do tempo de ensaio, o solo desprende-se do corpo de prova

e cai dentro de cápsulas metálicas dispostas no fundo do tanque. Após a finalização do

período de submersão, essas cápsulas são retiradas e lavadas à estufa para secagem.

Esse ensaio permite a obtenção do parâmetro Pi, relativo à porcentagem da massa seca

primitivamente saliente do corpo de prova.

Figura 27 - Corpo de prova extraído 10 mm para fora do molde

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Figura 28 - Extrator de corpos de prova

Figura 29 - Corpos de prova dentro do tanque de submersão

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3.3.6. Método das Pastilhas

O ensaio das pastilhas foi realizado de acordo com o método proposto por

Nogami e Villibor (1994). Inicialmente, é feito o destorroamento das amostras e

passagem pela peneira de abertura de 0,42 mm. Após essa etapa, separa-se cerca de

100g de material, que é umedecido com água destilada e espatulado sobre uma placa de

vidro esmerilhada, de modo a obter uma pasta de solo homogênea. O ensaio pode ser

iniciado quando a penetração de uma agulha padrão medida no penetrômetro (Figura

30) for menor do que 1 mm.

Figura 30 - Penetrômetro utilizado no Método das Pastilhas

Para cada amostra de solo, foram moldadas cinco pastilhas com 20 mm de

diâmetro e 5 mm de espessura. Em seguida, as pastilhas são secas por 12 horas em

estufa à temperatura constante de 60º C. Quando o solo em estudo é muito argiloso,

inicialmente as pastilhas são colocadas para secagem ao ar livre para só posteriormente

serem transferidas à estufa. Assim, evitam-se trincas durante o processo de secagem do

material.

Após o período de secagem em estufa, as pastilhas são retiradas e procede-se a

medida dos seus diâmetros com auxílio de um paquímetro. Para cada pastilha são feitas

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três medidas diferentes de diâmetro, sendo que a variação aceitável entre elas é de 0,2

mm entre as leituras. O valor de contração diametral (Ct) para cada pastilha é definido

com a média aritmética das três medidas realizadas. Na Figura 31 é possível perceber

como as pastilhas contraem após a secagem.

Em seguida, as pastilhas são submetidas à reabsorção de água por um período de

duas horas. Elas são dispostas sobre uma placa de pedra porosa saturada coberta com

papel filtro, também saturado, conforme mostrado na Figura 32. A superfície da placa

deve ser mantida sobre um nível de água constante. Após o período de reabsorção, as

medidas de penetração são feitas com o aparelho chamado penetrômetro (Figura 33).

Figura 31 - Pastilhas após o processo de secagem em estufa

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Figura 32 - Pastilhas no processo de reabsorção de água

Figura 33 - Medição de penetração das pastilhas

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentados e discutidos os resultados dos ensaios

realizados em laboratório descritos na metodologia apresentada no capítulo 3.

Inicialmente, são exibidos os resultados dos ensaios de caracterização física e mecânica

dos materiais estudados. Em seguida, são apresentados os resultados da análise química

e da classificação MCT dos solos. Por fim, são expostos os valores obtidos no Método

das Pastilhas.

4.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS MATERIAIS

A Análise Granulométrica foi realizada com e sem uso de hexametafosfato,

agente defloculante de partículas. Os resultados do ensaio com uso de defloculante estão

apresentados na Tabela 2. A divisão das frações constituintes do solo utilizadas é

baseada na NBR 6502 e estão expressos em percentual.

Tabela 2 - Análise Granulométrica e Classificação dos Solos

Neste estudo, utilizaram-se dois sistemas tradicionais de classificação de solos, o

Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e o Highway Research Board

(HRB).

De acordo com a SUCS, o solo CA-L é classificado como CH, ou seja, uma

argila muito plástica com areia. Conforme a HRB, o material foi enquadrado como A-7-

5, um solo argiloso. O solo CA-S foi classificado como MH (silte elástico) na SUCS e

como A-7-5 na HRB, um solo argiloso. O solo IJ-L, por sua vez, foi classificado como

CL na SUCS, o que o enquadra como uma argila pouco plástica. Já de acordo com a

HRB, este solo foi classificado como A-7-6, um solo argiloso. Por fim, o solo IJ-S foi

considerado uma argila plástica (CH) na SUCS e um solo argiloso na HRB (A-7-5).

Pedregulho Areia Grossa Areia Média Areia Fina Silte Argila SUCS HRB

CA-L 0 2 13 14 18 53 CH A-7-5

CA-S 0 4 4 4 61 26 MH A-7-5

IJ-L 0 0 4 6 19 71 CL A-7-6

IJ-S 0 0 10 10 37 43 CH A-7-5

Frações granulométricas ClassificaçãoAmostra

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De uma forma geral, todos os quatro solos estudados apresentaram um

predomínio das frações finas silte e argila. Avaliando os resultados da classificação

obtida pelo sistema HRB, os quatro materiais estudados são considerados de fraco a

pobre comportamento quando utilizados como subleitos rodoviários. Além disso, foi

possível perceber uma inconsistência entre as granulometrias e as classificações obtidas.

Devido ao alto valor de limite de liquidez, a amostra CA-S foi classificada como

solo argiloso pelo sistema HRB. Entretanto, este material possui predomínio de silte

(61%). Isso reforça a limitação das classificações tradicionais quando aplicadas ao

estudo de solos tropicais.

Nas Figuras 34 a 37, são apresentados os gráficos com a curva granulométrica

de cada solo estudado. Fora realizados ensaios com e sem o uso de defloculante. Estas

curvas permitem identificar a porcentagem de material passante e retido em cada

peneira e os limites entre as frações granulométricas.

Figura 34 - Curva granulométrica do solo CA-L

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Figura 35 - Curva granulométrica do solo CA-S

Figura 36 - Curva granulométrica do solo IJ-L

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Figura 37 - Curva granulométrica do solo IJ-S

A Tabela 3 apresenta os resultados dos ensaios de Limites de Atterberg (limite

de liquidez e limite de plasticidade) e do Peso Específico Real dos Grãos realizados

neste estudo. Estes ensaios seguiram as preconizações das normativas NBR 6508, 7181,

6459 e 7180.

Tabela 3 - Peso Específico Real dos Grãos e Limites de Atterberg

Em relação ao índice de plasticidade (IP), as quatro amostras foram enquadradas

como altamente plásticas, com IP variando entre 16 e 29%. A predominância de

materiais finos nos materiais estudados confere essa característica plástica aos solos. Os

ensaios de limite de liquidez apresentaram valores elevados de porcentagem, variando

entre 46 e 79%. Enquanto isso, os ensaios de limite de plasticidade apresentaram

valores variando entre 30 e 60%.

O peso específico real dos grãos apresentou pouca variabilidade, com valores

variando entre 28,87 e 30,94kN/m³. Esses valores são consistentes com a mineralogia

dos solos estudados.

Amostra γs (kN/m³) LL (%) LP (%) IP (%)

CA-L 29,07 50 34 16

CA-S 29,86 74 45 29

IJ-L 28,87 46 30 16

IJ-S 30,94 79 60 19

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4.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DOS MATERIAIS

O ensaio de Compactação Proctor Normal foi realizado para as quatro amostras

em estudo. Este ensaio permite a obtenção dos parâmetros de umidade ótima e da massa

específica aparente seca máxima. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 4.

As curvas de compactação dos quatro solos estão apresentadas nas Figuras 38 a 41.

Tabela 4 - Resultados dos ensaios de Compactação

Figura 38 - Curva de compactação do solo CA-L

AmostraMassa Específica Aparente Seca

Máxima (kg/m³)Teor de Umidade Ótima (%)

CA-L 1590 25,3

CA-S 1395 35,6

IJ-L 1488 29,8

IJ-S 1402 34,7

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Figura 39 - Curva de compactação do solo CA-S

Figura 40 - Curva de compactação do solo IJ-L

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Figura 41 - Curva de compactação do solo IJ-S

Os resultados dos ensaios de Compactação seguiram um comportamento padrão

esperado. Entre as amostras estudadas, o solo CA-L apresentou o maior valor de

densidade seca máxima. Isso se justifica pelo fato de que tal solo é o que possui a maior

fração granular dentre os quatro estudados. Os maiores valores de umidade ótima foram

encontrados nos solos CA-S e IJ-S, assim como os menores valores de densidade seca

máxima.

Com os parâmetros obtidos através das curvas de compactação, foi realizado o

ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR). Os resultados obtidos neste

ensaio estão apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 - Resultados dos ensaios de Índice de Suporte Califórnia

Observa-se que os dois solos de horizontes lateríticos, o CA-L e o IJ-L,

apresentam baixos valores de expansão, inferiores a 0,2% e os maiores valores de ISC.

Enquanto isso, os dois solos de horizontes saprolíticos, CA-S e IJ-S, apresentam os

maiores valores de expansão, superiores a 2% e os menores valores de ISC. Conforme o

Amostra Densidade Aparente Seca (kg/m³) ISC (%) Expansão (%)

CA-L 1610 13,2 0,15

CA-S 1326 6,5 2,5

IJ-L 1432 12,3 0,11

IJ-S 1387 5,2 2,21

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Manual de Pavimentação do DNIT, nenhum dos materiais poderia ser utilizado como

base ou sub-base de pavimentos devido aos valores de ISC abaixo dos especificados.

Para utilização como subleito ou reforço de subleito, os solos CA-L e IJ-L são

considerados adequados para uso, ao contrário dos solos CA-S e IJ-S, que apresentaram

valores de expansão acima do limite aceitável.

4.3. ANÁLISE QUÍMICA DOS SOLOS

A realização de ensaios químicos é muito importante para solos empregados em

subleitos rodoviários. Além de apresentar aspectos químicos, ela oferece resultados e

informações acerca da fração argila dos solos, o que é determinante no comportamento

mecânico dos mesmos.

A análise química completa dos solos estudados foi realizada no Laboratório de

Análise de Solos do Centro de Ciências Rurais da UFSM. Avaliou-se a presença de

matéria orgânica (MO), o potencial hidrogeniônico (pH), a capacidade de troca de

cátions (CTC), a saturação por bases e alumínios, além da presença de elementos

químicos. Os resultados deste ensaio estão apresentados na Tabela 6.

Tabela 6 - Resultados da Análise Química dos solos

A partir da interpretação dos resultados da análise química dos solos, foi

possível perceber que o solo IJ-L apresentou a maior porcentagem de saturação por

bases (V), 63,2%. Este valor, quando superior a 50%, caracteriza um solo eutrófico ou

fértil. Os demais solos em estudo apresentaram valores de V inferiores à 50%, sendo

considerados solos distróficos, ou seja, pouco ou muito pouco férteis e sem reservas de

nutrientes. Em relação à saturação por alumínio (S), o solo IJ-L, que possui S igual a

18,2%, é o único cuja quantidade de alumínio não é tóxica para plantas, sendo um solo

Ca K Mg Al H+Al V S

CA-L 0,76 0,041 0,35 1,5 4,9 2,6 18,9 58 0,9 4,8

CA-S 0,205 0,01 0,08 3,4 10,9 3,7 2,6 92 0,1 5,1

IJ-L 2,903 0,051 0,66 0,8 2,2 4,4 62,3 18 2,1 4,9

IJ-S 0,43 0,143 0,4 2,4 6,9 3,4 12,3 71 0,3 5,1

Amostra pHMOCTC

cmolc/dm³ (%)

Cátions Básicos Acidez Saturação

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não álico. Os solos CA-L, CA-S e IJ-L possuem S superior à 50%, sendo considerados

solos álicos e possivelmente tóxicos para plantas.

Os valores de pH obtidos foram bastante próximos, variando entre 4,8 e 5,1. Isso

indica que os quatro materiais estudados são considerados solos ácidos. Em relação à

capacidade de troca catiônica (CTC), os valores inferiores à 5% encontrados em todos

os solos são típicos de materiais de baixa atividade com pouca ou nenhuma presença de

matéria orgânica. Os baixos valores de porcentagem de matérias orgânica (MO)

encontrados comprovam esta condição.

4.4. ENSAIO DE COMPACTAÇÃO MINI-MCV E ENSAIO DE PERDA DE

MASSA POR IMERSÃO

Os ensaios de Mini-MCV e Perda de Massa por Imersão são os ensaios básicos

utilizados na classificação dos solos de acordo com a Metodologia MCT. Eles permitem

classificar os solos tropicais de um modo mais adequado e condizente com a realidade.

Devido ao número considerável de dados, operações numéricas e traçado de

gráficos que os ensaios citados acima demandam, utilizou-se uma planilha eletrônica do

Excel. Optou-se por utilizar a planilha desenvolvida por Damo (2016) em sua

dissertação de mestrado. Assim, foi possível agrupar as informações relacionadas aos

ensaios de uma forma mais organizada.

Durante o ensaio de Mini-MCV, os seguintes dados são preenchidos na tabela:

teor de umidade de cada corpo de prova, leitura do extensômetro no momento da

calibração do equipamento (La), medida da altura do cilindro padrão (Ac) e leitura do

extensômetro durante a série de golpes aplicados durante a realização do ensaio. O

critério de parada utilizado é quando o corpo de prova atinge o número máximo de 256

golpes, quando ocorre intensa exsudação na base e/ou topo ou quando a diferença de Δh

for inferior a 2mm.

No ensaio de Perda de Massa por Imersão, os itens da planilha preenchidos são:

medida do comprimento saliente do corpo de prova (aproximadamente 10mm), peso da

cápsula onde o solo desprendido durante o ensaio irá cair e peso da cápsula mais solo

seco após secagem em estufa.

No ensaio de compactação miniatura, nenhum dos 20 corpos de prova moldados

chegou aos 256 golpes ou apresentou exsudação excessiva. Para todos estes o ensaio foi

finalizado quando a diferença de altura Δh foi menor que 2mm.

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Em relação ao ensaio de Perda de Massa por Imersão, os solos CA-S e IJ-S

apresentaram maior desprendimento de material do cilindro do que os solos CA-L e IJ-

L. Esse comportamento é esperado e pode ser explicado pelas características dos solos

estudados.

Após a realização do ensaio, todas as lacunas da planilha foram preenchidas.

Dessa forma, foram obtidos os gráficos que representam as curvas MCV (número de

golpes x diferença de altura), curvas de compactação (umidade x MEAS), curva (Mini-

MCV x altura final do CP) e curva (Mini-MCV x Perda de Massa por Imersão).

A partir de uma interpretação visual das curvas obtiveram-se os valores de

golpes relacionados ao Δh=2,0mm, assim como os valores das coordenadas das retas

que representam os coeficientes angulares necessários para determinação do c’ e d’.

Assim, é possível realizar a leitura dos valores correspondentes a situação de densidade

máxima que encontre o CP na condição de Mini-MCV igual a 10, determinando-se o

parâmetro Pi.

O índice classificatório denominado c’ é o coeficiente angular da parte mais

inclinada e retilínea da curva Mini-MCV, correspondente ao valor de Mini-MCV igual a

10. Já o coeficiente d’ é o coeficiente angular da parte retilínea mais inclinada do ramo

seco da curva de compactação, correspondente a 10 golpes, obtido na compactação em

miniatura. Com os valores de c’ e Pi, foi possível calcular o parâmetro e’.

Os índices classificatórios obtidos a partir dos ensaios de Mini-MCV e Perda de

Massa por Imersão estão apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 - Índices classificatórios da MCT

O parâmetro c’ reflete a argilosidade do material. As amostras CA-L e CA-S

apresentaram valores de c’ entre 1,0 e 1,5, valores típicos de areias argilosas, areias

siltosas, argilas siltosas e argilas arenosas. Os solos IJ-L e IJ-S apresentaram valores

próximos de 2,0, encontrados em argilas e solos argilosos.

 

Amostra

c’ d’ Pi(%) e’

CA-L 1,29 50,7 38 0,92 LA’

CA-S 1,16 18 262 1,55 NS’

IJ-L 2,06 66,47 44 0,9 LG’

IJ-S 1,94 42,86 160 1,27 NG’

Índices ClassificatóriosClassificação MCT

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Em relação ao parâmetro e’, que indica o caráter laterítico do solo, é possível

perceber que as duas amostras de horizontes lateríticos (CA-L e IJ-L) apresentaram

valores inferiores a 1,0, enquanto as amostras de horizontes saprolíticos (CA-S e IJ-S)

apresentaram valores superiores a 1,0.

A partir dos índices classificatórios e do ábaco da classificação MCT, é possível

identificar que dois dos solos estudados possuem comportamento laterítico e dois

apresentam comportamento não laterítico. O solo CA-L é considerado LA’, ou seja, um

solo arenoso laterítico. O solo CA-S, por sua vez, foi enquadrado como NS’, um solo

siltoso não laterítico. Já o solo IJ-L foi classificado como LG’, solo argiloso laterítico.

Por fim, o solo IJ-S pode ser considerado um solo não laterítico argiloso (NG’). A

Figura 42 mostra o ábaco classificatório da MCT e a posição dos quatro solos

estudados.

Figura 42 - Ábaco classificatório da MCT

Vertamatti (1988) propôs uma modificação na classificação MCT original,

incluindo uma faixa intermediária entre os solos de comportamento laterítico e não

laterítico. Tais solos, compreendidos nesta região do ábaco, foram denominados solos

transicionais. A Figura 43 mostra a classificação dos solos de acordo com o ábaco da

MCT-M proposto pelo autor.

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Figura 43 - Ábaco classificatório da MCT-M

Somente o solo IJ-L manteve a mesma classificação da MCT original (LG’). O

solo CA-L apresentou comportamento laterítico, mas foi enquadrado como LA’G’. O

solo CA-S foi enquadrado como NS’G’ e o solo IJ-S foi classificado como um solo

transicional argiloso (TG’).

4.5. MÉTODO DAS PASTILHAS

Conforme descrito no capítulo 3, foi realizado para os quatro solos em estudo o

ensaio de classificação geotécnica pelo Método das Pastilhas de acordo com Nogami e

Villibor (1994). Neste método, são determinados os parâmetros de contração e

penetração. Estes valores e a classificação dos solos estão apresentados na Tabela 8. A

Figura 44 ilustra o ábaco de classificação dos solos estudados de acordo com o Método

das Pastilhas.

Tabela 8 - Resultados dos ensaios do Método das Pastilhas

Amostra Contração diametral (mm) c’ Penetração (mm) Classificação dos solos

CA-L 1,21 1,56 0,23 LA’-LG’

CA-S 1,38 1,68 4,56 NS’-NG’

IJ-L 2,16 2,07 0,31 LG’

IJ-S 1,25 1,59 2,08 NA’/(NG’-NS’)

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Assim como na classificação MCT, os solos CA-L e IJ-L foram classificados

como solos de comportamento laterítico. Enquanto a primeira amostra foi classificada

como LA’-LG’, o segundo foi classificado como LG’. As outras duas amostras foram

enquadradas como solos de comportamento não laterítico. O solo CA-S foi classificado

como NS’-NG’ e o solo IJ-S foi considerado NA’/(NG’-NS’. A Figura 43 apresenta o

ábaco de classificação do Método das Pastilhas com a distribuição das quatro amostras

estudadas.

Figura 44 - Ábaco classificatório do Método das Pastilhas

4.6. COMPARAÇÃO ENTRE AS CLASSIFICAÇÕES

A Tabela 9 mostra a classificação dos solos segundo a Metodologia MCT e o

Método das Pastilhas, verificando se há ou não concordância entre os dois métodos.

Tabela 9 - Concordância entre a MCT e o Método das Pastilhas

Analisando-se a tabela, é possível perceber que houve concordância entre as

classificações obtidas pela MCT e pelo Método das Pastilhas nos quatro solos

MCT Método das Pastilhas

CA-L LA’ LA’-LG’ SIM

CA-S NS’ NS’-NG’ SIM

IJ-L LG’ LG’ SIM

IJ-S NG’ NA’/(NG’-NS’) SIM

Classificação dos solosAmostra Concordância entre os dois métodos

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estudados. Isso confirma que este método é eficiente na identificação expedita de solos

tropicais.

Após a realização do Método das Pastilhas foi possível comparar a classificação

dos solos obtida através desta metodologia com a MCT e com as classificações

tradicionais. A Tabela 10 apresenta este comparativo.

Tabela 10 - Resumo dos resultados de todas as classificações utilizadas no estudo

É possível perceber que somente as amostras CA-L e IJ-L foram enquadradas

em grupos de características semelhantes nas quatro metodologias. Entretanto, isso não

indica uma concordância entre as classificações. Enquanto estes dois solos são

considerados com potencial de uso em camadas de pavimentos conforme a MCT, eles

são enquadrados como de fraco a pobre comportamento como subleito pela HRB. Para

as amostras saprolíticas CA-S e IJ-S, houve concordância de características na

classificação SUCS em comparação com as metodologias voltadas para solos tropicais.

Amostra Classificação SUCS Classificação HRB Classificação MCT Classificação Método das Pastilhas

CA-L CH A-7-5 LA’ LA’-LG’

CA-S MH A-7-5 NS’ NS’-NG’

IJ-L CL A-7-6 LG’ LG’

IJ-S CH A-7-5 NG’ NA’/(NG’-NS’)

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5 CONCLUSÕES

A utilização de materiais alternativos em camadas de base e sub-base de

pavimentos possibilita a construção e pavimentação de diversas rodovias ainda não

pavimentadas. No Brasil, tem-se abundância de tais materiais, entre eles os solos

lateríticos. Quando compactados em determinadas energias e teores de umidades, estes

materiais apresentam uma capacidade de suporte considerável, baixa expansão e

elevado módulo de resiliência.

Neste contexto, o principal objetivo deste trabalho foi classificar quatro amostras

de solos coletadas no noroeste do Rio Grande do Sul através de diferentes

metodologias. Utilizou-se a Classificação MCT e o Método das Pastilhas, ambos

desenvolvidos para classificação de solos tropicais. Além destas metodologias,

utilizaram-se as classificações tradicionais SUCS e HRB, fundamentadas em regiões de

clima temperado e frio.

Conforme o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS), o solo CA-L

é uma argila muito plástica com areia (CH), o IJ-L é uma argila pouco plástica (CL), o

solo CA-S é um silte elástico (MH) e o IJ-S é uma argila plástica (CH). Em relação à

classificação HRB, mais difundida na área rodoviária, os solos CA-L, CA-S e IJ-S são

do grupo A-7-5, ou seja, argilas plásticas ou medianamente plásticas com pouco ou

nenhum material grosso e de baixa compressibilidade. O solo IJ-L também é

classificado como um solo argiloso, porém no grupo A-7-6. De acordo com esta

classificação, todos os materiais são considerados de fraco a pobre comportamento

como subleito.

Em ambas as classificações tradicionais foi possível perceber uma inconsistência

entre a granulometria dos solos e sua classificação. O solo CA-S, por exemplo, possui

um predomínio de silte (61%) e, devido ao seu alto valor de limite de liquidez, foi

classificado como um solo argiloso. Isso evidencia as peculiaridades dos solos tropicais

e a falha na classificação por parte desses sistemas.

Em relação à classificação MCT, duas amostras apresentaram comportamento

laterítico. O solo CA-L é considerado um solo arenoso laterítico (LA’) e o solo IJ-L é

considerado argiloso laterítico (LG’). Os outros dois solos foram enquadrados como

solos de comportamento não laterítico. Enquanto o CA-S foi classificado como um solo

siltoso não laterítico (NS’), o solo IJ-S foi enquadrado como NG’, um solo argiloso não

laterítico.

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Utilizando o Método das Pastilhas, a amostra CA-L foi classificada como LA’-

LG’, enquanto a CA-S foi considerada NS’-NG’. O solo IJ-L foi enquadrado como LG’

e o IJ-S foi classificado como NA’/(NG’-NS’). Comparando as classificações obtidas na

MCT com o Método das Pastilhas foi possível identificar uma concordância entre as

duas metodologias. Esta concordância confirma que o método é eficiente na

identificação expedita de solos tropicais.

Fazendo-se uma comparação entre as classificações obtidas pelos sistemas

tradicionais com a MCT, é possível perceber que apenas as amostras CA-L e IJ-L foram

enquadradas em grupos de características semelhantes, mas ainda assim com ressalvas.

Conclui-se que, entre os sistemas utilizados para classificar os solos em estudo, a

Metodologia MCT e o Método das Pastilhas são os mais eficientes e os que condizem

mais com a realidade dos solos tropicais. A utilização dos sistemas tradicionais SUCS e

HRB conduz a uma classificação incoerente, classificando solos lateríticos, como dois

dos solos estudados, como inadequados para uso em pavimentação.

Por fim, fica evidente a importância da Metodologia MCT na identificação e

classificação de materiais alternativos de pavimentação como os solos lateríticos. Dessa

forma, a construção de rodovias de baixo custo na região noroeste do estado do Rio

Grande do Sul com utilização de solos de ocorrência local pode propiciar

desenvolvimento a áreas necessitadas.

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