lopez, edson pereira, fundamentos da teologia da educação cristã
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Educação, Filosofia e Teologia
GIOVANNI MOREIRA GUIMARÃES
RESENHA
Fundamentos da Teologia da Educação Cristã
São Paulo 2013
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GIOVANNI MOREIRA GUIMARÃES
RESENHA
Fundamentos da Teologia da Educação Cristã
Resenha apresentada ao Dr. Edson Pereira Lopes professor da cadeira de História e Teologia da Educação do curso de Convalidação em Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção de nota.
São Paulo 2013
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Lopez, Edson Pereira, Fundamentos da Teologia da Educação Cristã. 2ª ed. Brasília:
Monergismo, 2012, 250p.
Edson Pereira Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil em Vila Esperança, São Paulo.
Doutor em Ciências da Religião, na área de Práxis, Religião e Sociedade, pela Universidade
Metodista. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Especialista em Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Possui Licenciatura Plena em Filosofia pelas Faculdades Associadas do Ipiranga. Bacharel em
Teologia — Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. Docente no Mestrado de
Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É autor dos livros: O conceito
de teologia e pedagogia na Didática magna de Comenius, A inter-relação da teologia com a
pedagogia no pensamento de Comenius, Trabalho científico: teorias e aplicações e
Fundamentos da teologia da salvação. É um dos organizadores do livro O impacto da práxis
religiosa na construção de vínculos sociais, Possui artigos publicados em livros e revistas
especializadas em educação e religião. É editor da Revista de Ciências da Religião História e
Sociedade, do Programa de Mestrado de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
O livro focaliza a educação cristã como de fundamental importância para a história da Igreja
cristã, considerando-a como divulgadora do e sedimentadora dos fundamentos bíblicos.
A obra está dividida em três grandes capítulos. NO PRIMEIRO o autor analisa a educação
greco-romana destacando os mais importantes filósofos e seus pensamentos sobre educação
para o avanço da formação do cidadão.
Citando Aristófanes em “As Nuvens” demonstra que a educação por volta do século VI a.C.
funcionava da seguinte forma:
1. A disciplina e o castigo: "... não se devia ouvir um menino cochichar nem um “a”;
depois, os moradores de um mesmo bairro andavam pelas ruas, bem disciplinados, indo à
casa do professor de citara, sem manto e em fila [...] e, se algum deles se fazia de “bobo e
difícil de modular, era moído de muitas pancadas, como se tivesse prejudicado as musas”.
2. A ginástica e a música: constituíam a matriz curricular — “indo à casa do professor de
citara [...]. O professor, por sua vez, começava ensinando-os a cantar com as coxas bem
apartadas”. O foco de Aristófanes era a educação dos jovens e, por isso, não contemplava
outras disciplinas da matriz curricular da antiga educação ateniense. A educação dos
jovens atenienses comportava três partes: primeiras letras, a cargo do gramatista; poesia e
música, com o citarista; os exercícios físicos. Na casa do professor de ginástica, pode-se
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verificar a questão disciplinar, haja vista que eles deveriam sentar-se com as pernas
esticadas para a frente, para não mostrar nenhuma indecência aos estranhos. Na hora da
ceia, não se devia comer gulodices, dar gargalhadas ou ficar de pernas cruzadas.
3. A questão moral: Aristófanes revelava-se adversário convicto da homossexualidade e não
perdia oportunidade para ridicularizar aqueles que não lhe eram simpáticos. Por outro
lado, ainda, quem se levantava devia aplainar a areia, tomando a precaução de não deixar
aos amantes nenhum vestígio de sua mocidade; ninguém amolecia a voz para aproximar-
se do amante, prostituindo-se a si mesmo com os olhos.
4. A finalidade da educação: consistia em preparar o jovem para a coragem, semelhante aos
guerreiros de Maratona, como afirma Aristófanes: “Mas, na realidade, foi com essas
coisas que a minha educação criou os homens guerreiros de Maratona”.2
Esse modelo era tipicamente uma educação de nobres, privilégio de uma elite que conseguia
frequentar os cursos do início ao fim (dos sete aos catorze anos), tendo sempre os olhos
voltados para uma vida de aristocratas ociosos e ricos, que não necessitavam do trabalho
manual para viver.
O século V a.C. chega trazendo uma crise no conceito de virtude anteriormente apresentada
pela aristocracia que relacionava virtude com nascença. Para esses os nobres já traziam em si
como dons inatos e indispensáveis ao bom aprendizado. Mas com o crescimento da polis viu-se
o surgimento de uma virtude política, passível de ser adquirida, e o constante aumento no
número de estrangeiros ampliou o comércio e trouxe novos conhecimentos pessoais.
É neste contexto que surgem os sofistas, educadores que apareceram em muitas partes do
mundo grego e que tinham em comum a consciência de seu papel como mestres de virtude
política. O desprezo pelo sofista se dá pelo fato dele, se pago, fazer uma causa pior parecer a
melhor e vencer com discursos nas causas justas e injustas. Apesar disso, havia três classes
distintas de sofistas: a) os grandes mestres da primeira geração, dentre eles Protágoras, morais
em seus princípios, aos quais Platão considerou dignos de respeito; b) os erísticos, que levaram
o aspecto moral do método à exasperação, perderam o interesse pelo conteúdo e não seguiram a
moral dos mestres; e c) os políticos-sofistas, que utilizaram as ideias dos sofistas com
finalidades políticas, o que resultou em imoralismo.
Apesar de seu método, os sofistas contribuíram para a educação de várias formas, entre elas
escrevendo as primeiras gramáticas e os primeiros manuais de retórica e crítica literária.
Contribuíram ainda para a sistematização do ensino introduzindo as bases para o quadrivium e
a paideia do homem adulto.
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Sócrates, o famoso filósofo grego, entendia que o conhecimento seguro deveria partir da
alma, do interior para o exterior. Por conseguinte, o homem só poderia encontrar
conhecimento verdadeiro por meio do selo de sua alma. Para isso havia necessidade de se
despir de sua arrogância. Assim surge o método da ironia que consistia em perguntas
dirigidas ao interlocutor com o fim de levá-lo à contradição de suas afirmações derrubando
assim a pretensão ou presunção do saber. O próximo passo era despertar no discípulo o desejo
de procurar suas respostas por meio de suas próprias reflexões, o que chamava de maiêutica.
Assim, em Sócrates a educação era a tarefa de prover condições para a reflexão a partir de si
mesmo.
Platão, outro filósofo expoente da Grécia antiga, fundou sua própria escola, denominada
Academia, cuja tônica era forma um novo tipo de dirigentes para o mundo grego. Trata-se de
uma concepção educacional oposta à dos sofistas. Sua posição ficou clara quando buscou
construir seus pressupostos filosóficos da educação sob a noção fundamental da verdade, a
qual segundo os sofistas era relativa; mas conforme Sócrates e Platão, real absoluta. Além
disso, a educação concebida por Platão, com vistas à formação do dirigente político, é um tipo
de educação dotada de valor e alcance universais. Para Platão a busca da verdade é o
fundamento da vida humana, e é por assim pensar que ele ressalta uma educação que prioriza
o cuidado da alma e isso está diretamente relacionado com a educação cristã, uma vez que ela
também prioriza o cuidado com a alma.
Para Aristóteles, cuja maior preocupação era a natureza (phisis), é ela [a natureza] quem
destina os que devem mandar e governar, que são os nobres, e os que devem obedecer, os
destinados à servidão. Para ele, só os nobres por natureza são dignos de formação, haja vista
que foi capacitado pela natureza para isso. Os outros podem no máximo receber um ensino
artificial, ou seja, saberes ou técnicas que se podem inculcar do exterior nesse indivíduo;
todavia, ele jamais alcançará o conhecimento por excelência, uma vez que a natureza não o
dotou para isso. Entretanto nem sempre a natureza consegue seu intento, dessa forma, há
necessidade de complementar a natureza com certos princípios reguladores: a) Idade
apropriada para união conjugal – para o homem 37 anos, para as mulheres 18. Considerada
época de máximo vigor de ambos, assim os filhos nasceriam robustos; b) Controle de
natalidade – deveria ser feito para que a população não crescesse muito. O aborto apenas em
casos de deformação do feto e antes que tivesse começado a vida; c) Cuidar do regime
alimentar – Para ele o regime alimentar faz grande diferença para o vigor do corpo; d)
Conceder toda liberdade que se possa permitir à criança – Ela deve movimentar-se
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constantemente para que não sofra nenhuma deformação; e) Até aos cinco anos a criança não
deve se dedicar aos estudos, nem a trabalho pesados, para que não se interrompa seu
crescimento.
Em matéria de educação, eis alguns dos principais fundamentos de Aristóteles: a) É dos
principais deveres dos legisladores prover a educação, quando isso não acontece o Estado fica
prejudicado; b) É dever do Estado prover a educação, criticava os pais que enviavam seus
filhos para usufruírem de uma educação particular por entender que ela deve ser aprendida
comunitariamente e administrada pelo Estado; c) A educação deve se preocupar
fundamentalmente com a virtude, o pensamento e a liberdade – para ele, a educação não deve
visar só à utilidade das coisas, essa preocupação deve aparecer em segundo lugar. A
prioridade deve ser a honra; e d) Embora não estivesse preocupado em apresentar uma nova
matriz curricular, contemplava a ginástica mas questionava a importância da música.
Depois de mostrar o desenvolvimento da educação entre os gregos o Dr. Edson passa a
discorrer sobre a educação entre os romanos, ao qual ele organiza segundo os três períodos: o
primeiro deles vai da fundação de Roma até a conquista da Grécia.
Nesta fase, a educação é vista com base na família, meio natural onde a criança devia crescer
e se formar. Assim, até aos seis anos a criança estava sob a direção exclusiva da mãe que era
responsável pela sua educação, quando esta não podia desempenhar essa função escolhia-se
então uma governanta, normalmente alguém da família.
A partir dos sete anos de idade o pai assumia a responsabilidade de educar a criança. O pai,
segundo a pedagogia romana, era considerado o verdadeiro educador. Quando jovem, o nobre
romano era vestido de uma toga bordada de púrpura, símbolo de aprendiz, e assim se vestia
até os dezesseis anos, ocasião em que terminava a educação familiar.
No primeiro ano, no exército, o jovem servia nas fileiras, pois um futuro chefe deveria antes
de tudo aprender a obedecer. Mas os jovens nobres eram tratados com distinção e logo saiam
das fileiras para servirem como oficiais do Estado. Nessas funções eles concluíram sua
formação junto a alguma alta personalidade, a quem cercavam de respeito e veneração.
O conteúdo educacional dessa fase era literatura, retórica e, eventualmente filosofia grega,
mas, sobretudo a moral romana, que consistia nos valores pertinentes a um estilo de vida feito
de sacrifício, renúncia e devoção à pátria. Assim era o ideal educativo dos romanos: a
preparação de uma juventude forte, sadia e guerreira para o serviço do Estado.
O segundo período, que vai da conquista da Grécia ao reinado de Adriano, caracterizou-se
pela crescente influência da cultura grega. Surgiram a primeiras escolas dirigidas por
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professores gregos e destinadas a completar a educação doméstica.
No terceiro período, chamado de greco-romano, a educação romana se subordinou à cultura
grega, haja vista que os professores eram gregos, em sua maioria e os estudos preferidos eram
a gramática, a oratória e o direito. O método de ensino era empírico e rudimentar; a disciplina
era severa e cruel. As escolas romanas eram desdobradas em três fases: a escola primária
confiada ao litterator ou primus magister como gostavam de serem chamados, que
correspondia às crianças dos sete aos onze ou doze anos de idade; a segunda fase era entregue
ao grammaticus, quando recebiam a toga viril até que passassem à terceira fase, a dos estudos
superiores, também chamada retórico, o que acontecia por volta dos quinze anos e estendia-se
até aos vinte anos ou mais.
Entre os hebreus, a grande diferença da educação se dá pelo fato de ressaltarem as evidências
históricas de Deus. Por esse motivo a cultura hebraica deu pouca ênfase às questões
filosóficas e investigações científicas para se dedicar à literatura como método para ensinar os
preceitos divinos.
Inicialmente não havia escolas na sociedade hebraica e a educação era focada na família. Até
aos quatro anos a mãe era a única a cuidar da criança, depois, as meninas continuavam com a
mãe e os meninos passavam aos cuidados dos pais para aprenderem suas profissões e
principalmente as leis do Senhor. Somente depois do cativeiro egípcio é que, além da
educação familiar, os ensinos passaram a ser ministrados pelos sacerdotes.
Com a diáspora surge a necessidade de ensinar a língua e a gramática hebraica para manter
acessa a chama nacionalista e religiosa e isso levou ao surgimento da sinagoga, onde o ensino
centrava-se na Torá (a Lei) e seus comentários, interpretações e complementos.
Ela surgia na vida estudantil aos dez anos de idade; antes disso as crianças de seis a dez anos
recebiam noções de leitura e ensino hebraicos. Depois aos alunos dos quinze aos dezoito anos
estudos profundos nas leis orais da Mishná além de conhecimentos de história natural,
anatomia e medicina. Todas essas etapas exigiam dos alunos prolongados exercícios.
Entre os métodos de ensino destaca-se aqueles que estimulavam o raciocínio e o gosto pelo
ensino. Dentre esses jogos para aprendizado do alfabeto, o método expositivo, a repetição e a
revisão. A mnemônica era técnica largamente utilizada.
Quanto à matriz curricular, o centro era a Torá. Ela era usada para ensinar a todas as coisas,
inclusive para o aprendizado do alfabeto, linguagem, gramática, história e geografia ou pelo
menos os rudimentos dessas matérias.
NO SEGUNDO capítulo o rev. Edson Lopes trata a educação cristã nos dias dos primeiros pais
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da igreja aos quais ele distingue: Clemente de Roma, Policarpo, Carta de Barnabé, O pastor
de Hermas, Didaquê, Justino Mártir e Tertuliano.
De Clemente de Roma sabemos muito pouco. Orígenes o identifica como o colaborador de
Paulo citado no texto bíblico de Filipenses 4:1. Irineu de Lião afirma que Clemente conheceu
pessoalmente Pedro e foi o terceiro sucessor de Pedro em Roma; Tertuliano pontuou que a
ordenação de Clemente foi realizada pelo próprio Pedro. Eusébio de Cesareia segue a
concepção de Orígenes e o coloca entre os seguidores dos apóstolos na tarefe a de evangelizar
e ensinar. Dos textos de Clemente, observamos que ele foi bispo de Roma. Sua carta à igreja
em Corinto é comumente chamada de 1ª Clemente é provavelmente o primeiro documento
cristão, escrito e preservado, fora o Novo Testamento. Nesta carta, há alguns princípios
relevantes que demonstram a organização da Igreja e algumas de suas principais doutrinas,
destacam-se a prática da oração.
Clemente é lembrado como o criador da expressão: paideia cristã. A paideia cristã de
Clemente não pretendia se fundamentar os conhecimentos intelectuais e filosóficos, tão
intensos naqueles dias, e sim, no ensino do temor a Deus, o que implicaria agradar-lhe,
apresentar-se diante dele com humildade, puro amor santidade e mente pura. Aqui percebe-se
claramente a distinção entre educação em geral, intelectualista, sob influência dos gregos e
prática sob a influência dos romanos; e a proposta da educação cristã, cujos princípios estava
nos ensinos de Cristo. Ainda que Clemente não tenha citado o espaço onde essa educação se
dava é fácil perceber que este era o seio da família e nos estudos ministrados pelos líderes da
Igreja.
Policarpo de Esmirna, segundo a Tertuliano e Eusébio de Cesareia, chegou ainda a ver e
ouvir o apóstolo João que o teria investido no cargo de bispo de Esmirna. A história revela
que Policarpo foi martirizado e narra que quando o procônsul Estácio ordenou-lhe amaldiçoar
a Cristo, ouviu como resposta a seguinte frase: “Há oitenta e seis anos o sirvo; jamais ele me
fez mal algum; como poderei eu blasfemar contra meu Rei e Salvador?” O que vale ressaltar
de Policarpo é que, diferentemente de Clemente e de Inácio, não estava preocupado
puramente com questões administrativas ou com autoridades eclesiásticas, e sim em fortalecer
a vida diária prática dos cristãos. É com essa perspectiva que ele evidenciou sua preocupação
com a educação cristã: “Em primeiro lugar, ensinemos a nós mesmos a andar nos
mandamentos do Senhor. Depois, ensinem suas esposas a andar na fé que receberam, e de
modo puro e terno a amarem seus maridos e outras pessoas com toda castidade, educando os
filhos no caminho do Senhor”.
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Percebe-se daí que a educação cristã para Policarpo fundamentava-se nos seguintes
princípios: a) No compromisso pessoal e individual; b) no compromisso com o cônjuge; e c)
no compromisso de educar os filhos.
A Carta de Barnabé, segundo Clemente de Alexandria e Orígenes é atribuída ao companheiro
de Paulo. Jerônimo e Eusébio de Cesareia não concordavam com essa proposição e hoje em
dia já está praticamente descartado que tenha escrito esta epístola. Uma das contribuições
desta epístola é a fé de seu autor na divindade do Filho de Deus, em sua encarnação e na
redenção que ele traz ao mundo. Do ponto de vista da educação, a contribuição da Carta de
Barnabé se dá pelo fato de estar diretamente relacionada à escola de Alexandria, a qual
fundamentou sua interpretação do texto bíblico no método da alegorese, isto é, interpretação
alegórica das Escrituras, ainda vista nos dias atuais, mas rejeitada pelos reformadores. Do
texto podem ser extraídas algumas concepções cristãs relevantes até os dias de hoje, tais
como: a) Que o aborto e o assassinato dos filhos recém-nascidos são condenados; b) que a
bênção; e c) a disciplina são importantes para os filhos e que os cristãos devem ensinar os
filhos a temer a Deus desde a infância.
Fica claro então que a Carta de Barnabé confirma que a educação cristã se alicerçava na
responsabilidade dos pais ensinarem seus filhos a confiar no Senhor e a temê-lo.
O Didaquê, também conhecido como Doutrina dos doze apóstolos, foi descoberto em 1883
no mosteiro do Santo sepulcro, em Constantinopla. Trata-se de um compêndio de preceitos
morais, de instrução sobre a organização das comunidades, sobre a oração, o jejum, a
ministração do batismo e a celebração da comunhão.
Trata-se de uma das principais obras que relatam a educação cristã no período dos primeiros
pais da Igreja, pois servia de catequese ou instrução aos convertidos que viveram entre 70 e
120 d.C.. O que se percebe é que além do lar, a Igreja passou a assumir a responsabilidade da
educação cristã de seus membros. Desta forma, a educação cristã que começava no lar era
complementada na Igreja, principalmente para aquele que desejasse se tornar membro da
Igreja.
O Pastor, de Hermas, um texto com gênero apocalíptico, rico em símbolos e visões, mas com
objetivo moral e prático, narra a triste sorte de um pai que se eximiu da responsabilidade de
educar seu filho no temor do Senhor. Deste texto fica claro a relevância da educação cristã no
lar cristão, sem a qual grandes prejuízos podem ser vistos.
Justino Mártir é reputado como o maior apologista do século II, por ter escrito um grande
número de obras extremamente úteis. Ao se tornar cristão, Justino reconhece ser a doutrina
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![Page 10: Lopez, Edson Pereira, Fundamentos da Teologia da Educação Cristã](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022100313/55cf9b31550346d033a5131b/html5/thumbnails/10.jpg)
cristã a única filosofia fidedigna e proveitosa, superior a qualquer sistema filosófico. Na
questão educacional a contribuição de Justino se dá na evangelização por meio do ensino.
Desde o apóstolo Paulo até Orígenes não havia distinção entre evangelização e ensino, ao
contrário, ambos andavam junto, lado a lado. Segundo Green, Justino fundou o primeiro
espaço escolar após a era apostólica, em que eram instruídos na fé todos os que quisessem.
Tertuliano, o último dos primeiros pais da Igreja citados pelo Dr. Edson Lopes, é uma
personagem controvertida na história da Patrística. As críticas a Tertuliano giram em torno de
ser ele o mais famoso propagador do montanhismo, especialmente no norte da África. O
montanhismo foi um movimento surgido na Igreja do século II; seus partidários criam em
novas revelações e profecias, tendo como líder principal Montano, o qual era sacerdote da
região da Frígia. Como apologista da fé cristã, escreveu aos governadores romanos negando
as antigas acusações feitas contra os cristãos, isto é, de que eles seriam desleais cidadãos do
império. Para ele, a perseguição é um fracasso geral porque os cristãos aumentam quanto mais
os perseguem as autoridades.
Tertuliano, apesar de não ser favorável à educação clássica, entendia que os estudos religiosos
eram necessários para aprender a ler, e, assim, parece ter admitido a necessidade de que a
criança cristã frequentasse, como aluna, a escola clássica, desde que não se deixasse vencer
pela idolatria e a imoralidade.
Para que a criança fosse imunizada, era apresentada a educação cristã, oferecida pela família e
complementada pela igreja, haja vista que, se a criança tivesse consciência religiosa cristã,
devidamente esclarecida e enraizada nos ensinos cristãos, ela saberia efetuar as correções e
distinções necessárias relativas aos ensinos de Homero, o poeta, e as outras fábulas.
Digno de nota é o fato de Tertuliano e outros não simpatizarem a profissão do magistério [das
escolas clássicas], comparando-a à profissão dos atores, dos fabricantes de ídolos e dos donos
de casas de prostituição. Por outro lado não propunham neste tempo a criação de escolas
cristãs pelas seguintes razões: a) Compreendiam que não era possível nenhum compromisso
entre a verdade cristã e o mundo; b) Criam que a segunda vinda de Cristo era iminente; c) Por
causa da perseguição e do exílio que sofreram.
Com o passar do tempo esse pensamento mudou e surgiram as primeiras escolas denominadas
catecumenato, termo derivado de katecheo (informar, instruir), dirigidas pelas autoridades
eclesiásticas, que ensinavam conteúdos bíblicos com vistas ao batismo e funcionavam nas
dependências dos templos. Tratava-se de uma preparação, durante três anos, com ênfase nas
questões morais, intelectuais e espirituais.
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![Page 11: Lopez, Edson Pereira, Fundamentos da Teologia da Educação Cristã](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022100313/55cf9b31550346d033a5131b/html5/thumbnails/11.jpg)
Com as escolas de catecumenato, os pais da Igreja reconheciam, pela primeira vez, a
necessidade de um estudo mais aprofundado dos conteúdos bíblicos e teológicos pelas
pessoas desejosas de fazerem parte do rol de membros das igrejas naqueles dias.
O TERCEIRO CAPÍTULO e último capítulo da obra o Rev. Edson Lopes contempla um estudo
das várias abordagens da educação até chegar à abordagem cristã, no qual há uma maior
ênfase.
Abordagem Tradicional. Trata-se de uma abordagem do processo de ensino, cujo foco está na
transmissão do professor ao aluno. Privilegia o especialista, os modelos e o professor,
elemento imprescindível na transmissão dos conteúdos. O adulto nessa concepção é
considerado como um homem acabado, pronto e o aluno, um adulto em miniatura, que precisa
ser atualizado. Na abordagem tradicionalista, o ensino possui como fundamento as
informações fornecidas externamente, independente do interesse e da vontade do aluno.
Abordagem Comportamentalista. Essa abordagem caracteriza-se pelo primado do objeto
(empirismo), isto é, o conhecimento é resultado direto da experiência. Neste caso, ensinar
consiste num arranjo e planejamento, também denominado instrução programada de
contingência e reforço, sob os quais os estudantes aprendem, sendo de responsabilidade do
professor assegurar a aquisição do comportamento. Os comportamentos desejados dos alunos
serão instilados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como elogios,
graus, notas, prêmios etc.
Abordagem Humanista. Esta abordagem consideram a centralidade do sujeito. Enfatiza suas
relações interpessoais e o crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento da
personalidade do indivíduo em seus processos de construção e organização. Dessa maneira, o
professor em si não transmite conteúdo, mas dá assistência, sendo um facilitador da
aprendizagem, haja vista que esta advém das próprias experiências dos alunos, motivadas por
uma curiosidade natural de conhecer.
Abordagem Cognitivista. Tendo como principal expoente Piaget, esta escola se propõe a
estudar cientificamente a aprendizagem como um processo do conhecimento, o qual passa por
quatro estágios [sensorial-motor: de 0 a 2 anos; pré-operações: de 2 a 7 anos; Operações
concretas: de 7 a 11 anos e operações formais: de 11 a 15 anos] que se inter-relacionam e se
sucedem até que se atinjam estágios da inteligência caracterizados por maior mobilidade e
estabilidade. A contribuição de Jean Piaget é inegável, até para aqueles que consideram a
Teoria Cognitiva insuficiente para explicar como o desenvolvimento e a aprendizagem
acontecem.
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Abordagem Sociocultural. Amplamente difundida pelo educador nordestino Paulo Freire, essa
abordagem tem como foco as camadas socioeconômicas menos favorecidas. Freire parte do
princípio que vivemos numa sociedade dividida em classes, onde o privilégio de uns impedem
a maioria de usufruir os bens produzidos, entre eles a educação e, por isso, a educação
libertária fundamenta-se nos próprios oprimidos que lutam pela transformação dessa
realidade, pela recuperação da humanidade do homem.
Abordagem Cristã da Educação. Embora admitamos dificuldade de definir a educação cristã,
no geral a compreendemos como um processo educacional que busca o desenvolvimento da
pessoa e de seus dons, bem como o conhecimento da realidade, do mundo e do homem sob a
perspectiva cristã. Suas bases fundamentais são: a) A Bíblia é o livro didático que deve
nortear todo o conteúdo educacional, de maneira que o mestre cristão deve estar consciente de
que sua tarefa é ensinar a doutrina bíblica; b) Deus é apresentado na Bíblia como educador, do
qual deriva toda autoridade dos demais educadores; c) Jesus é apresentado como o Mestre, do
qual todos os demais só podem ser discípulos; d) a educação tem como finalidade conduzir o
homem ao temor, ao amor e a ensiná-lo a guardar as ordenanças de Deus; e) a educação
prioriza a responsabilidade dos pais, ou, a família deveria ser o centro da educação cristã.
Entre os principais doutrinas a serem estudadas pela educação cristã estão: a teontologia,
doutrina do ser de Deus, com seus atributos comunicáveis, incomunicáveis e morais; a
antropologia teológica, com a imago Dei; a cristologia, com ênfase em seus ofícios profético,
sacerdotal e real, a soteriologia, doutrina da salvação.
Quando esses conteúdos são assimilados o resultado é, não só a transformação do indivíduo,
mas também de toda a comunidade na qual ela está inserida.
Ao concluirmos a leitura do livro, percebemos que trata-se de uma obra muito ampla e bem
embasada, apesar da quantidade de páginas serem relativamente poucas para um trabalho
dessa envergadura. A leitura, agradável e corrente, facilitada pelo uso de termos precisos e
bem definidos, é indicada para aqueles que estão envolvidos com a tarefa de ensinar, quer seja
na Igreja, nas salas de aulas das Escola Dominicais, mas sobretudo nas escolas seculares, onde
há uma verdadeira confusão sobre a educação cristã.
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