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Se, ao invés de barulhos de motores, esses indígenas ouvissem o cantar do sabiá laranjeira...

Prof. João Machado(awa-guasu)*

Vi pessoas debaixo deplástico passando

frio, calor, fome e tanto sofri-mento, às margens do chãopreto, por onde passam cami-nhões, carros, ônibus, carrõesluxuosos. Será que não é des-truir a esperança? Essa vidaem busca do amanhã melhor,será que vale apena essa vidaincerta, sonho insensato? E

Lonas pretas na beira da estrada

pela janela dessa pobreza umKaiowá vê a incerteza do fu-turo e ao mesmo tempo a von-tade de viver. Viver? Vivercomo? Numa situação devida de cão. Nem os cães vi-vem assim, porque eles têmum lar, uma casa, um territó-rio que seus donos guardampara eles.

Como a crueldade e a fal-ta de humanismo imperamnos corações dos homens, dosdirigentes públicos!

Terra! Terra que para os“não índios” é ouro. Que ocriador do universo deixoupara todos produzirem e se-mearem o alimento de sub-sistência e dela extraírem aágua que sacia a sede de to-dos. Terra! Que para o Kaio-wá é como mãe e por issodeve respeitá-la e protegê-la.

Terra que um dia foi dosKaiowá, mas hoje é do boi eda cana de açúcar, cuja sei-va é sugada em nome do pro-gresso, da produção. Progres-so que explora milhares detrabalhadores e favorece meiadúzia, que nem sempre mo-ram nesse lugar. Seria melhordizer que ficam os rastros damiséria e da poluição domeio-ambiente para as futu-ras gerações.

Se, ao invés de barulhos demotores, esses indígenas ouvis-sem às margens de rodovia ocantar do sabiá laranjeira, o es-turro da parda, o mugido dobugio anunciando chuva, oplanchar de um pirapitãngacom o murmúrio do rio ou oamanhecer com a alvorada dajuriti... Essas palavras são so-

nhos, sonhos que se foram.Talvez um dia o Kaiowá

consiga retomar suas terras epossa reconstruir a vida e dei-xar a natureza reviver, recons-truir para ambos viverem emharmonia num Tekoporã (lu-gar de viver bem). Onde pos-sa plantar o jakaira (milhocultural) e a kunhata (moça)fazer a chicha e ter o guachi-ré (dança), festejar a colhei-ta com todos compartilhandoalimentos e felicidades.

Se nessa terra em que oshomens ocidentais ocuparam,onde existe tanto egoísmo,ódio e preconceito, o povo in-dígena não conseguir retomarseus tekohá, fica a esperan-ça que um dia chegaremos aotekomarangatu (lugar santo),onde todos viverão bem, semsofrimentos onde está “xirúguasu” (criador supremo), lána nossa terra, no yvy-imara-eù (céu) e a alma kaiowá,quem sabe, não verá o egoís-mo e a ganância dos homensdo ocidente construir sua pró-pria destruição.

* [email protected]

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Duplicação perigosaAna Cláudia de Souza

Os moradores da Reserva Indígena de Dourados não estão

satisfeitos com a duplicação da rodoviaMS-156, que liga Dourados a Itaporã epassa no meio da Reserva, pois vai sig-nificar mais riscos à população.

“Até cachorro eles matam, não pode-mos mais passar”, desabafa Geraldo Fer-nandes que mora às margens da MS-156.

Segundo Geraldo, o número de que-bra-molas é insuficiente para controlara velocidade dos carros e isso está ame-drontando a população.

Os moradores da Reserva atraves-sam a rodovia com frequência, inclu-sive crianças que muitas vezes preci-sam passar de um lado para o outropara ir à escola.

Na edição de dezembro de 2008 do

Moradores da Reserva Indígena de Dourados acham que foramprejudicados pela obra de duplicação da MS-156, que corta a Reserva

Jornal AJIndo, havia sido publicada umareportagem sobre negociação que estavasendo feita entre os indígenas da Reservade Dourados e o governo do Estado.

Até então, tinham sido realizadastrês reuniões, em que os indígenas pe-diram mais passarelas e também rei-vindicaram contrapartidas para com-pensar os inconvenientes da duplica-ção. Foram solicitados cascalhamen-to das vias internas da Reserva, me-lhoria na segurança e indenização pelaperda de terrenos.

Na reportagem publicada em de-zembro de 2008, o antropólogo HomeroFerreira Lima, analista do MinistérioPúblico, esclareceu que conforme a Con-venção 169 da OIT (Organização Mun-dial do Trabalho), assinada pelo Brasilem 1989 e em vigor desde 2004, as co-munidades indígenas devem ser consul-

tadas sempre que a implementação dealgum projeto cause impacto sobre elas.

Procurada pela reportagem do JornalAJIndo, a Secretaria de Estado de ObrasPúblicas e de Transporte (Seop) não deunenhuma informação sobre a construçãode passarelas e disse que o número dequebra-molas não aumentou, mas a lo-calização deles foi alterada a pedido dacomunidade indígena da Reserva deDourados.

Ainda segundo a Seop, já está con-cluído 70% do serviço de patrolamentoe cascalhamento nas vias internas daReserva, reivindicado pelos moradores.A Secretaria não deu nenhuma informa-ção sobre reforço na segurança nem so-bre indenização pelos terrenos perdidos.

O valor total da obra de duplicaçãoda MS-156 foi de aproximadamente 20milhões de reais.

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Tania Porto

A dona de casa Zenilda Isnarde,moradora da Aldeia Bororó na

Reserva Indígena de Dourados, tem qua-tro filhos e espera pela casa que foi pro-metida pelo governo para este ano.

Ela e outros moradores da Bororóaguardam as 50 casas que, segundo oGoverno Estadual, estão em fase deconstrução, sem especificar a data daentrega das moradias.

“Minha casa está rachada, a telhade Eternit está quebrada, precisamos deoutra casa o mais rápido possível”, dizZenilda preocupada com as crianças.

Priscila Ramires, outra dona de casaque mora na Aldeia Bororó e tem trêsfilhos, conta que ganhou a casa, masela não está terminada. Segundo Pris-cila, há tubos e tijolos que foram dei-xados há mais de um ano e ela nãosabe se os trabalhadores da construto-ra vão voltar para finalizar a obra.

Sem casaMoradores da AldeiaBororó reclamam que nãoreceberam casa prometidapelo governo

“A maioria das casas está assim nes-se lugar. Se eu tivesse dinheiro, ia termi-nar, mas não tenho então temos que es-perar”, conta Priscila ao Jornal AJIndo.

De acordo com a assessoria da Se-cretaria de Estado de Habitação e dasCidades (Sehac), 50 famílias receberamcasas no dia 20 de março e outras 50casas estavam em fase de construção.Ainda segundo a Sehac, o Projeto CasaIndígena conta com recursos estaduaise federais para construir ao todo 200casas na Reserva Indígena de Dourados.Na Aldeia Jaguapiru, já foram entregues100 casas, informou a assessoria.

No entanto, até o fechamento des-ta edição, a Sehac não explicou sobrea situação da dona de casa Priscila Ra-mires, que diz ter recebido a casa an-tes do término da construção. A Sehactambém não informou quando serãoentregues as 50 casas que estão sendoconstruídas na Aldeia Bororó, nem ovalor total investido nessa obra.

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O dia 3 de agosto de2010 entrou para a

história do movimento indíge-na brasileiro como uma datahistórica. Depois de anos deintensa articulação das lide-ranças indígenas junto ao go-verno, o Senado Federal apro-vou a criação da SecretariaEspecial de Saúde Indígena(Sesai), que substitui a Funa-sa (Fundação Nacional deSaúde).

Com essa decisão, aresponsabilidade pela Saú-de Indígena passou a ser daSesai, que estará vincula-da diretamente ao Ministé-rio da Saúde.

O projeto foi aprovadopor unanimidade, sem alte-rações, e sancionado pelopresidente Lula no dia 19 deoutubro. A nova secretariaserá a sexta do Ministério daSaúde, no mesmo nível hie-rárquico das demais existen-tes, e além da saúde será res-ponsável pelo saneamentonos territórios indígenas, o

Mudanças naSaúde IndígenaResultado do movimento indígena brasileiro,Sesai é criada para substituir Funasa

que também era responsabi-lidade da Funasa.

PROCESSODurante o acampamento

Terra Livre em Brasília emabril de 2008, o movimentoindígena denunciou a atuaçãoda Funasa (Fundação Nacio-nal de Saúde) dentro das al-deias. Índios de várias partesdo Brasil diziam estar insatis-feitos com a atuação da Fu-nasa, pois o órgão não cum-pria suas obrigações.

Após uma discussão du-rante o encontro de 2008, osindígenas reunidos propuse-ram a municipalização dasaúde indígena, mas a propos-ta foi recusada porque a gran-de maioria dos municípiosnão tinha estrutura para aten-der a essa demanda.

Em novembro de 2008,a criação da secretaria desaúde indígena foi discutidamais uma vez no seminárioque reuniu o movimento in-dígena e o CNPI (Conselho

Nacional de Políticas Indí-genas). Então, em janeiro de2009, o Ministério da Saúdecriou o grupo de trabalho eos princípios voltados à saú-de indígena, concluindo em2010 a proposta da criaçãode Secretaria de Saúde In-dígena, que foi levada aoSenado em Brasília.

Com a aprovação doCongresso Nacional emagosto e a sanção do presi-dente Lula, as competênci-as da Secretaria, sua estru-tura de organização e a exe-cução descentralizada dasações de atenção à saúdedos indígenas por meio dosDistritos Sanitários EspeciaisIndígenas (DSEI), foram de-finidos e a Secretaria passaa funcionar.

Enquanto a SESAI e osDSEI vão se estruturando e anomeação dos novos gestoresseja feita, a Funasa continu-ará responsável pela execu-ção das ações de atenção àsaúde dos povos indígenas.

COMEMORAÇÃOA criação da Sesai foi

comemorada pelos indígenasque participaram do VII ATL(Acampamento Terra Livre),realizado na aldeia urbanaMarçal de Sousa em CampoGrande entre os dias 16 e 19de agosto de 2010.

Marcos Apurinã, coorde-nador geral da Coordenaçãodas Organizações Indígenasda Amazônia Brasileira (COI-AB), disse que vale apenacomemorar porque essa é aprova de que a união dos po-vos indígenas do Brasil dábons frutos. Por isso, todos osindígenas devem lutar porseus direitos unidos para con-quistarem muitas vitórias.

Romancil Kretã, liderançaKaingang do Paraná, disse quea nova gestão da Secretaria deSaúde Indígena depende doesforço dos próprios indígenas,para que, quando entrar emação, seja humanizada, poisa situação da saúde indígenahoje no Brasil é lastimável.

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Jaqueline Gonçalvese Nilcimar Morales

Ao canto dos Guarani-Kaiowá deMato Grosso do Sul, deu-se iní-

cio ao VII Acampamento Terra Livre(ATL) 2010, que aconteceu em CampoGrande entre os dias 16 a 19 de agostoreunindo na aldeia urbana Marçal deSouza mais de 500 indígenas de todosos lugares do Brasil.

Esse evento que acontece anualmen-te em Brasília, foi excepcionalmente re-alizado em Mato Grosso do Sul este ano,para discutir as demarcações de terrasindígenas do Estado.

Foram quatro dias de reuniões, de-sabafos, reivindicações e reencontros deparentes. Uma oportunidade para colo-car em debate os problemas vividos nasaldeias indígenas do país e buscar solu-ções em conjunto.

Nos momentos de denúncia, os in-dígenas reforçaram a importância da

Acampamento Terra LivrePovos indígenas de todo o Brasil unidos na capital de Mato grosso do Sul

demarcação das terras para a preserva-ção da cultura, da vida em comunidadee da auto-sustentação.

Outros temas discutidos foram: osimpactos do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) e de grandes empre-endimentos em terras indígenas (Trans-posição do Rio São Francisco, Hidrelé-trica de Belo Monte, etc.); o Estatuto dosPovos Indígenas; a Secretaria Especialde Saúde Indígena; a reestruturação daFundação Nacional do Índio (Funai); aPolítica Nacional de Gestão Ambientalem Terras Indígenas (PNGATI) e o Con-selho Nacional de Política Indigenista.

A cacique da Aldeia Urbana Mar-çal de Sousa Enir da Silva Bezzerra, daetnia Terena, disse ao Jornal AJIndo quese sente muito honrada com a realiza-ção do acampamento em sua aldeia. Eladiz ter a certeza de que com todos uni-dos sairá um bom resultado, ainda queele não seja imediato.

“Só o fato de o acampamento teracontecido aqui na capital deMato Grosso do Sul já é um gran-de passo que damos em relação anossas terras e nossos problemas,”disse.

O ATL é uma organização daArticulação dos povos indígenasdo Brasil, que é composta pelaAPOIME (Articulação dos PovosIndígenas do Nordeste, Minas Ge-rais e Espírito Santo), ARPIN SU-DESTE (Articulação dos Povos In-dígenas da Região Sudeste), AR-PIN SUL (Articulação dos Povos In-

dígenas do Sul), ARPIPAN (Articulaçãodos Povos Indígenas do Pantanal), ATYGUASSU (Grande Assembléia Guarani-Kaiowá) e COIAB (Coordenação das Or-ganizações Indígenas da Amazônia Bra-sileira).

PROGRAMAÇÃONo dia 16 de agosto, foi realizada

uma coletiva de imprensa, em que aslideranças falaram para os veículos decomunicação sobre os anseios dos po-vos indígenas do Brasil, enfatizando arecuperação de suas terras tradicionais.

Os coordenadores do encontro rea-firmaram que essa é uma necessidadede todos os povos indígenas do país elembraram que a Constituição Federalnão é respeitada quando se fala em di-reitos indígenas.

No segundo dia do Acampamento,lideranças indígenas de Mato Grosso doSul batizaram os integrantes da organi-zação do evento e rezaram em home-nagem à Aldeia Marçal de Sousa com o“Canto do Tupa’í”, e ainda comemora-ram os sucessos conquistados por essemovimento indígena, como a criação daSecretaria Especial de Saúde Indígena(Sesai).

Ainda no decorrer do segundo dia, oprocurador do Ministério Público Fede-ral de MS, Marco Antônio Delfino, rela-tou um pouco do histórico dos povos in-dígenas no Estado, apresentando dadosatuais e assustadores de confinamento,discriminação e violência contra osGuarani-Kaiowá, Terena, Guató, Guara-

ni-Ñandeva e outros povos.Segundo o procurador, 68 mil indí-

genas vivem em 0,5% do território doMS e o embate pela terra tem sempre oagronegócio como ator principal. Sãovárias comunidades no Estado que vi-vem em beira de estradas e em terrasdiminutas, sem oportunidade de auto-sustentação e de disseminação da cul-tura tradicional. De acordo com o pro-curador, as terras indígenas muito peque-nas ocasionam uma grande desorgani-zação social.

“A violência fica muito grande, sur-ge a criminalização interna, a saída dosjovens para a cidade sem perspectivade vida”, afirmou.

O procurador Marco Antônio infor-mou que, anualmente, os homicídios naReserva Indígena de Dourados aconte-cem na proporção de 140 para cada 100mil habitantes. Um número extremamen-te alto, que chega a ser maior que osíndices registrado em países em guerracivil, como o Iraque.

No terceiro dia, os indígenas senta-ram e discutiram terras indígenas, gran-des empreendimentos, saúde indígena,educação indígena, reestruturação daFunai, entre outros.

A educação e a demarcação foramtemas de muita discussão, que começoude manhã e só foi terminar no fim datarde, com a definição de propostas paraserem encaminhadas às autoridades. Nofinal, muita reza.

No quarto dia do Acampamento, foilido por uma das coordenadoras da CO-

AIB o documento final do acampamen-to, intitulado “Pelo direito de viver bemem nossas terras”, contendo todas as rei-vindicações levantadas no Acampamen-to Terra Livre 2010.

Além da demarcação de terras, osparticipantes ainda pedem que a saúdeindígena seja estendida a toda popula-ção independentemente do local em quemoram (terras demarcadas, aldeias urba-nas ou acampamentos), e que duranteesse atendimento sejam respeitados osconhecimentos e a medicina tradicionaldos pajés e parteiras, além do uso de plan-tas medicinais durante o tratamento.

Com relação ao tema educação, elesreivindicaram o acesso à educação dequalidade nas próprias comunidades ouem áreas próximas a elas, de forma per-manente e diferenciada, atendendo àsnecessidades de cada povo, com condi-ções apropriadas de infra-estrutura, recur-sos humanos, equipamentos e materiais.

“Que seja implementada a escolaindígena em todas as aldeias, comprojeto político-pedagógico pró-prio, calendário e currículo diferen-ciado, conforme a tradição e a cul-tura dos nossos povos e de acordocoma Resolução nº 3, do ConselhoNacional de Educação (CNE), as-segurando apoio operacional téc-nico, financeiro e político”.

O documento ainda trata dasquestões e discussões que envolvemo Decreto 7.056/2009, que estrutu-ra a Fundação Nacional do Índio(FUNAI) e sobre os grandes empre-

endimentos previstos pelo Programa deAceleração do Crescimento (PAC) do go-verno federal.

Os indígenas cobram respeito às leisbrasileiras e internacionais que tratamdos direitos dos povos indígenas, comoa Constituição Federal, a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos e aConvenção 169 da Organização Inter-nacional do Trabalho (OIT).

Além do documento final, foi ela-borado também um manifesto contra ogovernador de Mato Grosso do Sul An-dré Puccinelli, que se manifesta publi-camente contra os indígenas e a favordos fazendeiros. Segundo a organizaçãodo ATL, o governador do Estado, comofigura pública, não pode tomar partidoe defender só um lado.

O Acampamento foi encerrado comuma passeata no centro de Campo Gran-de, durante a qual os indígenas partici-pantes do ATL reivindicaram seus direi-tos e clamaram por justiça.

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Ana Cláudia de Souza

O uso do preservativo para evitar a

transmissão de doenças sexu-almente transmissíveis, comoa sífilis e a AIDS ainda é umabarreira tanto entre índios,quanto entre não-índios. Porisso, o trabalho das equipesde saúde é tão importantepara promover a conscienti-zação sobre essa prática tãosimples, mas que pode evitarmuitos problemas.

“O trabalho na Reservade Dourados é feito com agen-tes de saúde e pelas equipesmultidisciplinares no atendi-

Enfrentando o tabuDe acordo com dados da Funasa, 39 indígenas são portadoresdo HIV, 19 deles só na Reserva Indígena de Dourados.

mento cotidiano de pré-natal,educação em saúde, e consul-tas individuais”, explica omédico Zelik Trajber coorde-nador das equipes multidisci-plinares da Fundação Nacio-nal de Saúde (Funasa) na Re-serva Indígena de Dourados.

Zelik explica ainda quenos últimos anos tem sido fei-to também um trabalho nasescolas, que é conduzido pelopsicólogo Kaiowá Valter Be-nites Martins.

Além disso, há alguns anosuma cartilha informativa feitaem guarani foi elaborada emparceria com o Estado, mas adistribuição não durou muito

tempo porque ela era conside-rada muito “chocante”.

De acordo com dados doPrograma de controle de do-enças sexualmente transmis-síveis (DST/AIDS), em Dou-rados 1.237 pessoas são por-tadoras do HIV, o vírus daAIDS. Desses, 19 são indíge-nas moradores da Reserva deDourados, onde o primeirocaso foi verificado em 2004.

A Reserva de Dourados éa que reúne o maior númerode casos de AIDS no Estado.Ao todo, estão registrados naFunasa 39 casos entre indíge-nas de Mato Grosso do Sul,mas o número pode ser maior

porque pode haver registroentre não-índios sem constarespecificação étnica.

Segundo o médico ZelikTrajber, sete indígenas já mor-reram em função de compli-cações da AIDS. Ele explicaque eram andarilhos que nãoseguiram o tratamento corre-tamente.

O Estado de Mato Grossodo Sul (MS) atualmente abri-ga aproximadamente 67.574indígenas de oito etnias (Gua-rani/Kaiowá, Terena, Ka-dwéu, Kinikinaw, Atikun,Ofaié e Guató) distribuídosem 75 aldeias que abrangem29 municípios.

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Visite o blog da AJIwww.ajindo.blogspot.com

Rosivânia Benites

Existem muitos desentendimentos entre alunos nas escolas tanto na Aldeia Bororó quanto na Aldeia Ja-

guapiru, que às vezes acabam resultando em comportamen-tos violentos.

Algumas explicações para isso são que, além dos jo-vens muitas vezes já terem problemas em casa e isso serefletir em seu comportamento na escola, a violência tam-bém pode ser provocada pelo uso de drogas.

Por isso, existem pessoas que defendem que os alunosdeveriam ser revistados antes de entrar nas escolas, paraevitar que entrem com armas ou drogas.

“Eu diria que revistar os alunos não resolve o problema,poderia amenizar, mas não resolve. Precisamos de muitaconscientização, não só da escola como também da comu-nidade em geral, dos pais, das igrejas”, diz Elias Moreira,coordenador pedagógico da escola Tengatuí Maragatu.

Ele acredita que o trabalho deve ser feito em conjuntoporque esse trabalho de conscientização não é uma res-ponsabilidade só das escolas.

“A escola não educa ninguém, a escolatransmite conhecimento”, defende Elias,alertando para a importância da con-versa entre pais e filhos. “Muitasvezes o jovem chega pedin-do socorro, mas a escolafica de mãos atadas, nãotem o que fazer. Por isso aprevenção é a melhor solu-ção”, acrescenta.

Conscientizar: a melhor soluçãoO uso de drogas na Reserva Indígena de Dourados, que muitas vezes resulta em

comportamento violento, pode ser evitado se houver conscientização

Nesse sentido, a colaboração da escola é possibili-tar o trabalho da Polícia Militar através do Proerd (Pro-grama Educacional de Resistência às Drogas) e ofereceratividades em parceria com a Funasa.

O Proerd é desenvolvido com os jovens do 5º ano, quetêm dois encontros semanais de uma hora cada com umpolicial militar. Ele trabalha a auto-estima dos alunos e ex-plica como dizer não às drogas. “Ele se mostra como umparceiro e não como um opressor”, explica Elias.

Além disso, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde)disponibiliza um psicólogo e uma assistente social para iruma vez por semana em cada escola da Reserva.

“Eles fazem uma roda de conversa com os alunos, comassuntos escolhidos pelos próprios estudantes. É um trabalhorecente, é como uma semente que foi jogada para ver quefrutos vai dar”, explica a enfermeira Liliane Ferreira, coor-denadora técnica das equipes multidisciplinares do pólo-baseda Funasa em Dourados.

Segundo Liliane, quando tem algum caso de menor queprecise de acompanhamento, o médico avalia e a Fu-

nasa recorre ao Ministério Público para pedir auto-rização para internação.

Para Elias Moreira, a situação tem me-lhorado na Escola Tengatuí devido à

intensificação do trabalho de cons-cientização. Está sendo cadavez mais raro encontrar alu-nos entrando com armas nasescolas, o que já foi mais co-mum há dois anos, segundo ocoordenador.

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Josimara Ramires Machado(Kunhã Poty Rory)

Sou uma jovem indígena da etnia Kaio-

wá. Bom, eu me consideroKaiowá, porque assim estána minha identidade, só quena verdade eu já venho damistura das três etnias Gua-rani-Ñandeva, Aruak-Terenae Guarani-Kaiowá. E aindatem alguns casos de mistu-ra com brancos (karaí).

Como d iz minhavovó, hoje em dia nós, ajuventude de hoje, somostudo jopará (mestiços). Eeu vejo que os jopará so-fremos preconceito naReserva Indígena de Dou-

Nilcimar Morales

O primeiro Fest Music aconteceu no dia 14 de agosto na Es-

cola Tengatuí, localizada na ReservaIndígena de Dourados, e reuniu 1.200pessoas.

Participaram 14 bandas indígenas,das quais sete eram de outras aldeias:Amambaí, Pirajuí, Paranhos, Caarapó,Lagoa Rica, Sidrolândia e Miranda. To-dos participaram com o objetivo de ale-grar sua tribo através da música Gospel.

O Fest Music foi registrado e poste-riormente será lançado um DVD com agravação feita ao vivo.

Segundo organizador do evento Esa-el Reginaldo, o objetivo é mostrar ao Bra-sil que existem pessoas talentosas nas

Afinal, quem somos nós?rados. Por exemplo, o jo-vem que tem pai brancoe a mãe Avá (índia), nãoé bem aceito pelos quese dizem super tradicio-nal, pois dizem que eleé branco.

Além disso, quando o jo-vem tem a mistura de Gua-rani-Kaiowá com Aruak-Te-rena ou Guarani-Ñandevatambém é visto de outra for-ma pelos que se dizem tra-dicionais. Quando vãonuma reunião geral (atygua-su) com as lideranças Gua-rani-Kaiowá, são vistos pe-las lideranças como Terena,quando vão em reuniõescom lideranças Terena sãovistos como Guarani e vi-

vem nesse impasse.Eu mesma já passei vá-

rias vezes por isso, pois aminha mãe é Guarani-Kaio-wá e meu pai é Guarani-Kai-owá com Aruak-Terena.

Muitos criticam os jo-vens jopará por causa dalíngua (ñe’e), dizendo queeles não falam mais a lín-gua guarani, que não pre-servam mais a cultura, omodo de ser Guarani-Kaio-wá. Mas essas pessoas quecriticam não fazem nadapara reverter essa situação,porque querendo ou nãonós fazemos parte dessacomunidade desse conjun-to desse tekohá.

Eu mesma fui batizada

no ritual Guarani-Kaiowá(Ne´emogarai) quando ti-nha um ano de vida. Umcacique da aldeia Takara,que hoje já é falecido, medeu o nome indígena deKunhã Poty Rory por issoque eu me identifico mui-to como Kaiowá.

Na verdade, não deve-mos discriminar uns aos ou-tros, mas sim fazer políticaspúblicas indígenas paraabranger todo mundo semprivilegiar só alguns porquedesse jeito nunca teremosuma aldeia unida.

Espero que um dia pos-samos viver no nosso modode ser (Teko) com muita paze harmonia.

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eiro

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aldeias indígenas de Mato Grosso doSul, eles só precisam de oportunidades.

Ele também destacou a importânciada participação de não-índios no even-to, mostrando que a Reserva Indígena épacífica, e agradeceu o apoio da Escolade Música Santa Cecília e da loja Musi-cal.

Além dos shows, foi realizada tam-bém uma oficina de música instrumen-tal para os participantes, com o profes-sor Samuel, do Rio de Janeiro.

O presidente das Igrejas Presbiteria-nas Indígenas do Brasil Jaison Moraesdisse que esse evento era muito espera-do e vai ser ainda melhor no próximoano. Ele acredita que festas como essassão importantes para os jovens, porquea música “espanta a tristeza”.

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Receita da tia Vera

Esco

ndid

inho

de

fran

go

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É uma delícia e muitosimples de se preparar

INGREDIENTES1 peito de frango1 lata de milho1 lata de ervilha4 batatas inglesas2 colheres de molho de tomate1 caixa de creme de leite1 cebola ralada1 colher de margarinaCoentro e cebolinha a gostoSal a gosto

MODO DE PREPARO:Cozinhe o peito do frango, desfie-o, e o refogue numa panela com a

cebola e a manteiga (reserve). Cozinhe as batatas cortadas em cubos pe-quenos

Em uma tigela misture a batata, o frango já desfiado, a ervilha, o milho,a cebolinha, o coentro picadinho, o molho de tomate e o creme de leite.

Coloque os ingredientes num refratário untado com margarina e leve aoforno pré-aquecido por cerca de 15 minutos. Retire do forno quando borbu-lhar e bom apetite! Dica: Esta receita pode ser realizada com aquela sobra defrango assado, fica muito bom!

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FotosEventos 2010

ApoioApoio

Mulheresapreendem afazer sabonetemedicinal noCRAS bororó 2

Alguns dosalunos CRAS

quinta de manhã

Turma nova de informáticaAJI 2º semestre

Mulheres da aldeia Bororó se unem e preparam o sopão

Alunos do curso de informática da AJI recebem certificado

Aluno AJI duranteoficina de filmagem