logística e infraestrutura terraviva maio 2009
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Alvo constante de críticas, a produção agropecuária ainda carrega o peso das censuras – não cristalinas – por desperdício e contribuição com a possível escassez de água no PaísTRANSCRIPT
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(1.841,5 m³/s) para uso consuntivo em 2006 não faça do setor o grande vilão. Ain-da que responda pela maior parcela desta retirada, em torno de 43%, bem como pela vazão outorgada em 2007 (55%).
A baixa qualidade dos recursos hídricos é um dos principais motivos de sua escas-sez. Segundo o relatório da ANA, conside-rando os setores usuários – criação animal, irrigação, indústria, mineração, saneamen-to, termoelétrica e outros –, a agropecuária
é a que menos polui. Na bacia do Paraíba do Sul, por exemplo, a predominância, em número de em-preendimentos e vo-lume de utilização, é do setor industrial (79 usuários), segui-do pelo de sanea-mento (75). Por se tratar de uma área que abrange 180
municípios da região Sudeste do País, nos quais se somam 5,5 milhões de habitantes, população quase que totalmente urbana, segundo o Censo 2000 (IBGE), a carga de lançamento em demanda bioquímica de oxigênio (DBO – medida da quantidade de oxigênio consumido no processo biológico
ma das premissas do agronegócio é utilizar com sabedoria tudo o que a natureza oferece. Tal atenção é re-
dobrada quando o recurso em questão é a água. O uso hídrico no campo traz uma série de informações que rebatem as freqüentes críticas à atividade. Líder na lista dos nove países detentores de 60% da água doce do mundo, o Brasil está em 16º lugar no ranking que determina a área de agricultura irriga-da, com cerca de 1% do total. Nem o fato de o setor responder por 83% do consumo total de água do País (986,4 m³/s) justifica as pesadas críticas que tem recebido ao longo dos anos.
De acordo com o Relatório de Con-juntura dos Recursos Hídricos no Brasil, da Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil usufrui pouco mais de 179 mil m3/s de va-zão média anual, número que corresponde a algo em torno de 12% da disponibilidade hídrica superficial do mundo, de 1,5 milhão de m3/s, e ainda conta com uma reserva explotável de 4 mil m3/s de água subter-rânea. Talvez por isso o volume retirado
de oxidação da matéria orgânica na água, referenciando que quanto maior o grau de poluição maior a DBO) é bastante alta, chegando a 33,1 mil toneladas/ano. Neste caso, 88,1% correspondem ao setor de sa-neamento, 11,6%, ao industrial e o restante é dividido entre os outros usuários, sendo nula a participação da atividade rural.
A mesma lógica é seguida na bacia PCJ (Piracicaba, Capivari, e Jundiaí): empreendi-mentos industriais (50) e de saneamento (24) dominam o volume de poluição ambiental, com 2,5 mil toneladas DBO/ano (20,19%) e 10,1 mil toneladas DBO/ano (79,64%), res-pectivamente. A carga despejada referente ao setor agropecuário não chega a 0,5%, com menos de 7 toneladas DBO/ano.
Agricultura irrigada – “Apesar de o potencial de solos para o desenvolvimento sustentável da irrigação alcançar cerca de 30 milhões de hectares, no Brasil, somente uma pequena parcela é explorada. (...) É um dos países de menor relação área irrigada/área irrigável (cerca de 10%), além de exibir bai-xíssima taxa de hectares irrigados/habitante (0,018 ha/hab.), a menor da América do Sul.” O trecho inicial do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil oferece uma boa mostra do quanto o sistema de irriga-ção nacional pode crescer. Informação con-
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Alvo constante de críticas, a produção agropecuária ainda carrega o peso das censuras – não cristalinas – por desperdício e contribuição com a possível escassez de água no País
Silvia Palhares
Água no campoEm 2006, o setor rural respondeu por 43% do volume retirado para uso consuntivo e, em 2007, por 55% da vazão outorgada
Brasil lidera a lista dos nove países detentores de 60% da água doce do mundo e está em 16º lugar no ranking que determina a área de agricultura irrigada
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firmada pelos pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Solo, Água e Meio Ambiente da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Paulo Emílio Pereira de Albuquerque, Rei-naldo Lúcio Gomide, Ricardo Augusto Lopes Brito e Camilo de Lelis Teixeira de Andrade. Segundo eles, 70% da água captada nas fontes do resto do mundo é usada na irri-gação, “portanto há ainda boa margem para expansão da atividade no País”.
Entretanto, o problema que figu-ra nesta questão é a utilização racional dos recursos hídri-cos disponíveis para o campo. De acordo com a ANA, as cultu-ras irrigadas possuem a maior parcela de vazão retirada, 47% dos 1.841,5 m³/s e consomem 69% do volume total do Brasil (986,4 m³/s). E é essa diferença que abre precedentes: “Na maioria das vezes, o des-perdício é um fato real na irrigação, pois a eficiência do sistema é muito baixa em de-corrência de projetos mal dimensionados, com vazamentos em canais, adutoras, no conjunto motobomba, tubulações e emis-
sores. Além de serem mal manejados, com pouca ou nenhuma utilização de critérios técnicos”, ressaltam os especialistas.
O pesquisador da Embrapa Meio Am-biente (Jaguariúna, SP) José Maria Gusman Ferraz confirma o problema e acrescenta: “Este recurso é essencial ao desenvolvimento da cultura, mas a utilização de forma inade-quada tende a gerar efeito inverso ao dese-jado. Água em excesso pode comprometer a
respiração da planta, afetar seu desen-volvimento e causar danos irreversíveis, além de aumentar o ataque de fungos e intensificar a incidên-cia de doenças. Outro aspecto de um solo molhado demais, e em local com gran-de movimentação de
máquinas, é o aumento da compactação”.
Setores usuários – Outros pontos a se considerar são o uso de recursos hídri-cos na geração de energia e navegação e a relação demanda/disponibilidade hídrica das 12 Regiões Hidrográficas (RH) do Bra-sil. Neste sentido, observar as informações
do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) com relação à composi-ção do parque gerador de energia elétrica é muito importante, afinal, mais de 75% da eletricidade produzida no País (76.757,2 MW) é gerada em 158 usinas hidroelétri-cas e 294 pequenas centrais hidroelétricas. As restantes – usinas termoelétricas (995 unidades), térmicas a gás natural (215), nucleares (2), eólicas e a única usina solar – representam apenas 23.622,4 MW.
E apesar de a hidrografia brasileira com-preender 8.533 milhões km², segundo o Mi-nistério dos Transportes, somente 28,8 mil km são considerados navegáveis e, destes, apenas 8,5 mil km são efetivamente nave-gáveis durante todo o ano. As seis hidrovias responsáveis pelo suporte ao transporte de carga têm participação modesta no setor de logística, representando o carregamento de cerca de 23 milhões de toneladas por ano, entre os quais destaca-se o transporte de 6,3 milhões de toneladas de minérios e apenas 3,9 milhões de toneladas de grãos.
Com este cenário em vista, analisar as questões relacionadas à demanda x disponi-bilidade hídrica não fica tão difícil. De acor-do com o relatório da ANA, há uma área de
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Agricultores devem buscar tecnologias que otimizem utilização da água
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Poluição80% dos esgotos são
lançados em corpos d’água sem tratamento. Destes,
85% são domésticos e 15%, industriais
conforto nas RHs Amazônica, Tocantins/Ara-guaia e Paraguai, resultado da combinação de alta disponibilidade e baixa procura, com exceção de algumas localidades onde se tem agricultura irrigada e criação animal. Situa-ção que não ocorre nas RHs Atlântico Nor-deste Oriental, Atlântico Leste, Atlântico Sul e São Francisco, cujos percentuais de classi-ficação “muito crítica”, “crítica” e “preocu-pante” (medida a partir do quociente entre a retirada total anual e a vazão média de longo período) ultrapassam os 40%.
A mesma regra vale para classificação da qualidade da água. Apesar de o Índice de Qualidade das Águas (IQA), medido em 2006, apontar para uma condição ótima em 9% dos pontos de monitoramento, boa em 70%, razoável em 14%, ruim em 5% e pés-sima em 2%, as principais bacias encontram-se nas duas faixas de classificação mais pre-ocupantes: Alto Tietê e Piracicaba (SP); São Francisco (PR); Jaguaribe (PB); Coruripe (AL); Gravataí (RS); Paraibuna (MG); entre outras.
Neste ponto, Ferraz, da Embrapa Meio Ambiente, faz uma ressalva. Para ele, das fontes de captação utilizadas para a agri-cultura irrigada, as águas de superfície – rios, lagos e represas – normalmente são as mais empregadas, mas em muitos casos os produtores optam pelas subterrâneas, com substancioso aumento por essa escolha de-vido à escassez de recursos hídricos ou falta de qualidade dos mesmos. “Em alguns locais a água de superfície é tão ruim que fica impossível utilizá-la, devido a contaminan-tes industriais e de esgoto das cidades.” De acordo com o pesquisador, 80% dos esgotos
brasileiros são lançados em corpos d’água sem qualquer tratamento. Destes, 85% são domésticos e 15%, industriais. “Em casos mais raros, até a água subterrânea pode ser contaminada, em função de defensivos e até da adubação nitrogenada”, alerta.
Exatamente por isso os profissionais do Núcleo de Pesquisa em Solo, Água e Meio
Ambiente da Embrapa Milho e Sorgo acredi-tam que as críticas ao meio rural não tenham muito fundamento. “Embora o consumo hí-drico seja alto, a irrigação – feita de forma racional – traz grandes benefícios.” Para eles, é óbvio que, em regiões com questões sérias de oferta de água, as necessidades humanas devem ser priorizadas.
Manutenção e regulagem adequadas garantem eficiência dos
equipamentos e evitam desperdícios
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Animal Rural Irrigação Urbano Industrial Total
Fonte: ANA
OperaçãoVazão de retirada por tipo de uso (m3/s)
66,891,819,6
226,6191,8275,629,5
492,740
180,878,4
148,41.841,7
9,319,61,6
26,3637,546,72,3
155,61,4
17,45,368,8
312,6
19,326,98,3
46,196,433,46,4
185,56,3
27,3158,1
479
11,441,63,4
144,649,4
186,88,9
108,128,7
123,332,7
122,4861,3
3,15
2,24,53,12,20,46,51,23,72,41,4
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AmazônicaAtlântico LesteAtlântico Nordeste OcidentalAtlântico Nordeste OrientalAtlântico SudesteAtlântico SulParaguaiParanáParnaíbaSão FranciscoTocantins - AraguaiaUruguaiTotal
deMAndAs consUnTIvAs no bRAsIL (M3/s) PoR RegIão hIdRogRÁfIcA - 2006
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Fonte: Unesco
6.2204.0593.7603.2902.8002.5301.8501.2001.1711.100
BrasilRússiaEstados UnidosCanadáChinaIndonésiaÍndiaColômbiaUnião Européia (UE 15)Peru
distribuição mundialNove países dividem cerca de
60% das fontes renováveis de água doce do mundo (bilhões de m3)
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