livros raros - os apostolos antigos - david o mckay (em portugues)

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Os Apóstolos Antigos por DAVID O. McKay tradução de MYRIAM B. M. DE CASTRO — JUNTA DA ESCOLA DOMINICAL — Missão Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias BUA HENRIQUE MONTEIRO, 21. (Pinheiros) — SÃO PAULO (SP). CAIXA POSTAL 863 — TEL. 8O-4638 SÃO PAULO – 1963

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Page 1: LIVROS RAROS - Os Apostolos Antigos - David O Mckay (Em Portugues)

Os Apóstolos Antigos

por DAVID O. McKay

tradução de MYRIAM B. M. DE CASTRO

— JUNTA DA ESCOLA DOMINICAL —

Missão Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

BUA HENRIQUE MONTEIRO, 21. (Pinheiros) — SÃO PAULO (SP).

CAIXA POSTAL 863 — TEL. 8O-4638

SÃO PAULO – 1963

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Í N D I C E PRIMEIRA

PARTE — PEDRO

1 — Fontes de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 — Infância e Meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 — Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 — Os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255 — Gloriosas Experiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326 — O Testemunho de Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 367 — Uma Soberba Manifestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418 — Lições de Verdadeira Liderança . . . . . . . . . . . . . . . . 469 — Na Noite da Traição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

10 — Da Escuridão Para a Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5811 — Um Verdadeiro Líder e Valoroso Defensor . . . . . . 6512 — Pedro e João Aprisionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70í3 — Perseguidos Mas Incansáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7514 — Uma Visita Especial a Samaria . . . . . . . . . . . . . . . . . 8015 — Em Lida e Jope . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8316 — O Terceiro Aprisionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8917 — Cenas Finais de um Grande Ministério . . . . . . . . . . 94

SEGUNDA PARTE — TIAGO

18 — Tiago — O Filho de Zebedeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

TERCEIRA PARTE — JOÃO

19 — Com o Redentor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 107 20 — Com Pedro e os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 21 — últimas Cenas do Ministério . . . . . . . . . . . ... 116

3 —

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QUARTA PARTE — PAULO E SEUS COMPANHEIROS

22 — Saulo de Tarso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

2)3 — A Convenção de Saulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

24 — Em Outra Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

25 — Mensageiros Especiais a Jerusalém . . . . . . . . . . . . . . 137

20 — Primeira Viagem Missionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

27 — A Primeira Viagem Missionária — (continuação) .. 146

28 — Uma Grande Controvérsia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

29 — Paulo Inicia Sua Segunda Viagem Missionária . . . . 156

30 — Em Filipos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

31 — Na Macedônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

32 — Em Atenas e Corinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172

33 — A Terceira Viagem Missionária de Paulo de Antió-quia a Ëfeso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179

34 — Terceira Viagem do Missionário — (continuação) 185

35 — Excitantes Experiências em Jerusalém . . . . . . . . . . 190

36 — Dois Anos em Prisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196

37 — A Viagem a Roma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203

318 — O Mundo Enriquecido Por Um Prisioneiro Açor-

rentado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210

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PRIMEIRA PARTE

PEDRO

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LIÇÃO I FONTES

DE LUZ

Todos gostam de ler e ouvir falar sobre grandes homens. As crianças e os adultos têm satisfação em sa-ber como os líderes dos homens no passado fizeram o mundo melhor e mais feliz com seus atos nobres. Após passarem-se muitos e muitos anos, ainda se vê o bem que esses líderes fizeram ao mundo, despertando grandes e admiráveis aspirações nos meninos e me-ninas que hoje em dia desejam imitar esses heróis do passado.

Todos os meninos têm alguém que representa o seu ideal. Talvez haja mais de uma pessoa represen-tando esse ideal — um menino, por exemplo, pode de-sejar ser como um bom atleta, como um bom violinis-ta, e também como um músico algum dia. Podem tam-bém desejarem ser como um bom orador. Mas, algu-mas vezes, as crianças escolhem maus exemplos para seus ideais. Isto acontece quando lêem maus livros ou se associam com homens de má índole. Como é infeliz o menino que lê sobre um salteador de estradas ou la-drão e vê despertar em sua jovem mente o desejo de ser como aquele homem mau! Como é infeliz o menino que escolhe para seu ideal um homem que fuma, bebe e passa a vida toda despreocupado e sem trabalhar!Assim as vidas dos homens são como sinais que nos indicam os caminhos que levam a existências úteis e felizes ou a vidas de egoísmo e miséria. É importante, então, que procuremos, tanto na vida como nos li-

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vros, a companhia dos melhores e mais nobres homens e mulheres.

Carlyle, um grande escritor inglês, diz:"Os grandes homens são sempre boas

companhias, não importa sob que ponto de vista sejam considerados. Não podemos olhar, ainda que ligeiramente um grande homem, sem dele ganhar algo. É a fonte de luz perto da qual é útil e agradável estar."

Se você estudar a vida dessas grandes fontes de luz do mundo, aprenderá pelo menos uma coisa, que fez seus nomes imortais. É o seguinte: cada um deu alguma coisa de sua vida para fazer o mundo melhor. Não passaram seu tempo procurando prazer, ou diversão para si mesmo, mas encontraram sua maior alegria em fazer os outras felizes e mais confortados. Todos esses bons atos vivem para sempre, mesmo que o mundo jamais tenha conhecimento deles.

Há uma história muito antiga que diz que um homem de um outro planeta visitou a terra. Do alto de uma montanha ele olhou para as movimentadas ci-dades do mundo. Milhares de homens, como formigas, estavam ocupados construindo palácios de prazer e outras coisas que não duram muito. Ao partir de volta, disse: "Toda essa gente está gastando seu tempo para construir frágeis ninhos. Não é de se admirar que fracassem e se envergonhem".

Todos os homens verdadeiramente grandes no mundo construíram algo além de frágeis ninhos. Do fundo de suas mentes e de seus corações, saíram pre-ciosidades que fizeram o mundo mais rico. Realizaram feitos c!e amor e de sacrifício que inspiraram milhões. Ao assim fazerem, podem ter sofrido; muitos, realmen-te, tiveram morte prematura, mas todos que assim de-ram suas vidas, as salvaram. O que fazemos por Deus e nosso próximo, vive para sempre; aquilo que faze-mos só para nós não pode durar.

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Quando ouvimos qualquer coisa sobre um grande homem, logo queremos saber tudo a seu respeito — onde nasceu, quem eram seus pais, onde viveu, como brincava, com quem brincava, em que espécie de casa morava, onde ia nadar, onde pescava, etc. Estas coisas ditas a respeito de George Washington e Abraão Lincoln são sempre interessantes. Qual é o menino que não gosta de ouvir a história do pequeno Lincoln que vivia na cabana de troncos no sertão de Indiana? Ima-giná-lo entre os ursos e outros animais selvagens? Imaginá-lo sentado ao pé do fogo aprendendo a fazer contas com auxílio de um pedaço de carvão e uma pá porque não tinha lousa, nem papel e nem lápis? Abraão Lincoln foi um homem grande e bom, e queremos saber tudo a seu respeito, mesmo quando era menino, em parte para que isto nos ajude a ser mais ou menos como ele, pois, como Lincoln escreveu, "os meninos que se dedicam aos livros, aos poucos se tornarão grandes homens".

Infelizmente, muito pouco sabemos a respeito da infância dos apóstolos antigos, sobre quem leremos neste pequeno livro. Naturalmente, podemos imaginar que espécie de meninos eram, se considerarmos a es-pécie de homens que se tornaram mas, os pequenos in-cidentes de sua infância e mocidade, que tenderam a modificar seu caráter e que poderiam nos interessar tanto, apesar de se terem passado mil e novecentos anos, nunca foram escritos e talvez jamais sejam co-nhecidos. Cresceram e se tornaram adultos antes de te-rem a oportunidade de prestar ao mundo o trabalho que os imortalizou.

Sob um aspecto, contudo, eram os homens mais favorecidos que o mundo conheceu, porque tiveram o privilégio de estar em contacto diário durante cerca de dois anos e meio, com o Salvador do mundo. Não é de se admirar, portanto, que tenham se tornado grandes, tendo um exemplo de verdadeira grandeza cons-

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tantemente diante de si. Assim que aprenderam a amar Jesus, quizeram ser como Ele e guardaram os seus ensinamentos e procuraram agir como Ele havia agido. Sem dúvida, será proveitoso para nós se nos familiarizarmos com tais homens.Pensem bem: o único motivo pelo qual o mundo ouviu falar deles foi por terem encontrado o Salvador e feito Dele o Guia de suas vidas. Se eles não o tivessem feito, ninguém saberia hoje que tais homens existiram um dia. Teriam vivido, morrido, e sido esquecidos da mesma forma que milhares de outros homens que em seus dias morreram sem que ninguém tomasse conhe-cimento de sua existência, da mesma forma como mi-lhares e milhares vivem hoje, desperdiçando sua vida e energias numa vida inútil, escolhendo a espécie errada de homens para seus ideais, dirigindo seus passos à estrada do prazer e indolência, em vez de dirigi-los à estrada do trabalho. Logo chegarão ao fim de sua jornada na vida e ninguém poderá dizer que o mundo se tornou um pouco melhor por eles terem nele vivido. Ao fim de cada dia, tais homens deixam o caminho que palmilharam, tão estéril como o encontraram -— não plantam árvores para dar sombra a outros nem ro-seiras para fazer o mundo mais doce e belo para aque-les que virão — nenhum ato nobre e nenhuma realiza-ção qualquer — apenas um caminho infrutífero, esté-ril, árido, entremeado, talvez, com espinhos e cardos. Mas o mesmo não aconteceu com os discípulos que escolheram Jesus para seu guia. Suas vidas são como jardins de rosas do qual o mundo pode colher belas flores para sempre.

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LIÇÃO 2

INFÂNCIA E MEIO

"A mocidade é como as plantas: desde os primei-ros frutos que produzem nos fazem saber o que esperar no futuro".

Correndo ao norte do Lago de Utah, através de parte da Grande Bacia, e esvasiando-se no Grande Lago Salgado, o Mar Morto da América, acha-se o Rio Jordão. No Lago Utah a água é doce e há grande abundância de peixes; no Lago Salgado, como o próprio nome indica, a água é salgada; e tão salgada que os peixes nela não podem viver. Ao presidente Brigham Young e aos valorosos pioneiros que o acompanhavam, o Vale do Lago Salgado, com o Mar Morto refletindo os raios gloriosos do sol de Julho, eram sem dúvid.i a "terra prometida".

Muito longe, além do Oceano Atlântico, estenden-do-se na parte oriental do Mar Mediterrâneo, encon-tra-se um outro mar salgado, um outro Rio Jordão e um outro lago doce, correndo o rio através da "Terra Prometida" ou a "Terra de Canaan". Contudo, se consultarmos um mapa daquele país, veremos que as posições relativas deste lago, rio e mar, são exatamente opostas às de Utah. Na Terra Santa, o lago, de água doce encontra-se ao norte, o Rio Jordão corre para o Sul, para dentro do Mar Morto.

A terra que contém estes três marcos impor-tantes na história, tem vários nomes. Como menciona-mos acima, é chamada a Terra Santa, também a Ter-

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ra de Canaan, a Terra dos Hebreus, ou, ainda, a Casa de Israel, porque os filhos de Jacob um dia lá se esta-beleceram. É 'ainda algumas vezes chamada a Terra de Judá, como se chamava um dos filhos de Jacob na Palestina, provavelmente por causa dos Filisteus que viveram, como sabemos, nos dias do menino pastor David.

Tamanho de Canaan — O Lago Salgado tem cerca de oitenta milhas de comprimento e quarenta de lar-gura. A terra de Canaan tem quasi o dobro do compri-mento e da largura, ou cento e setenta milhas de com-primento e oitenta de largura. A cidade de Dan encon-trava-se ao Norte e Barsheba ao sul.

O lago de água doce da Terra Santa, também tem vários nomes. É geralmente conhecido como o Mar da Galiléia, mas algumas vezes é chamado Mar de Tibe-riades, Lago de Genezaré, Lago de Tiberíades e Mar de Ceneró. Tem cerca de dezesseis milhas de compri-mento e seis de largura. "As (águas deste lago se en-contram numa profunda bacia, rodeada de todos os lados por colinas, exceto a estreita entrada e saida do Jordão em cada extremo.

Este mar visto da cidade de Capernaum, que está situada perto da extremidade superior da encosta do lado ocidental, parece extremamente grande; seu maior comprimento vai de norte a sul. O aspecto estéril das montanhas que se vêem em ambos os lados e a completa ausência de madeira, dão contudo, uma aparência de tristeza à paisagem que é aumentada com a melancolia da calma morta de suas águas".

No lado ocidental deste lago encontrava-se unia das mais importantes regiões da Palestina, chamada Gali-léia. Um escritor antigo diz que em certa ocasião esta província "continha duzentas e quatro cidades e vila-rejos, com pelo menos quinze mil habitantes".

Betsaida — Em algum lugar desta província, pró- vàvelmente muito perto de Capernaum, achava-se uma

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cidadezinha chamada Betsaida. Havia uma outra ci-dade com o mesmo nome na parte noroeste, mas é em Betsaida, perto de Capernaum, que agora estamos mais interessados. Deve ter sido perto do lago, porque muitas das pessoas que lá viviam ganhavam a vida pescando, não com anzóis e linhas como os meninos pescam hoje em dia, mas com redes, que lançavam ao mar, e passavam pelo lago até que apanhassem os peixes que eram então arrastados para a praia.

Simão — Na casa de um desses pescadores, prova-velmente alguns anos antes do nascimento do Salva-dor, nasceu um dia uma criança a quem seus pais cha-maram Simão ou Simeão. Tinha um irmão chamado André (João 1:42-43). O nome de seu pai era Jonas ou Johanas, mas muito pouco se sabe a seu respeito e na-da absolutamente a respeito de sua mãe. Nada defi-nitivo se conhece a respeito da infância ou da mocida-de de Simão. Contudo, podemos concluir sem medo de errar, pelo que sabemos dos costumes, crenças e prá-ticas dos judeus de seu tempo, que ele vivia numa casa pequena de telhado chato, contendo pouca ou ne-nhuma mobília. Sabemos também que em casa e na escola ele aprendeu tudo sobre os profetas no que hoje é o nosso Velho Testamento; que observou estrita-mente o dia do Sábado, e, o que é mais importante, aprendeu a esperar pelo dia em que o Salvador do mundo viria a Seu povo.

Em fantasia, podemos imaginar Simão, André e seus companheiros de brinquedos divertindo-se na praia da Galiléia; mas é somente em imaginação que podemos ver quaisquer dos acontecimentos da infân-cia de Simão. "Podemos pensar nele. diz George L. Weed, "como um menino útil, auxiliando sua mãe nos deveres da casa — trazendo cuidadosamente as peque-nas lâmpadas de argila vermelha para serem enfeita-das, ou o milho para ser amassado, o peixe que seu pai havia apanhado, o carvão para cozinhá-lo, o pão

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do forno, óleo e pães de mel para serem comidos por ele, ou água do riacho que corria na colina atrás da sua casa, em direção ao lago, ou enchendo as jarras de água ia porta. Não foi ele um orgulho para sua mãe quando pela primeira vez sacudindo a oliveira trouxe as azeitonas para ela como parte de sua refeição frugal, ou quando esparramava o milho e o cânhamo para secarem no telhado chato de sua casa, ao sol do verão? Não foi ele um orgulho para seu pai quando pela primeira vez tomou o remo e mergulhou-o na onda, ajudou a lançar a rede e contou os peixes que haviam apanhado? Ele admirava o voo das pardais e colhia flores — papoulas, margaridas e anémonas — como aquelas das quais o Grande Mestre, a quem ele ainda não conhecia, ensinaria a ele lições de sabedoria e amor. Infantilmente ele colhia conchinhas à beira-mar e fazia buracos na branca areia da praia com um pe-daço de pau com o mesmo prazer que uma criança mo-derna brinca na praia com sua pàzinha e seu balde.

Nenhum dos pescadores que viram Simão com seus companheiros brincando com redes e barcos, ja-mais suspeitou que quando ele crescesse estaria entre os maiores homens do mundo!

Alguns escritores nos dizem que os Galileus eram geralmente corajosos, destemidos e amavam a liber-dade. Os homens davam bons soldados, pois eram "ou-sados e intrépidos". O menino Simão, ao se tornar adulto, deve ter admirado os homens corajosos que havia ao seu redor, pois ele também se tornou um homem de cartáter forte, como vemos pelo primeiro incidente de sua vida que foi registrado.

O NOME DE SIMÃO É MUDADO

Logo após ter Simão se tornado adulto, veio um homem do deserto do Jordão, vestido somente com pêlo de camelo e uma túnica de couro em seus quadris,

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mas pregando com tal poder que o povo da "Judéia e de todas as regiões ao redor" vieram ouvi-lo. Este gran-de pregador era João Batista, o precursor de Cristo. Entre aqueles que vieram ouvi-lo encontrava-se Simão que, sem dúvida alegrou-se ao ouvir este pregador do Arrependimento declarar que o Filho do Homem de-veria em breve se manifestar na terra. Simão, André e alguns de seus amigos, creram no que João Batista pregava.

Um dia, quando juntamente com alguns de seus seguidores, João se encontrava perto de Betabara (uma palavra que significa encruzilhada) vendo Jesus que se dirigia para ele, disse: "Eis aqui o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: Após inim vem um varão que já foi antes de mim; porque já era primeiro do que eu".

No dia seguinte, 'italvez pelas proximidades das dez da manhã, João estava falando com dois discípu-los, eram eles André, irmão de Simão, e João. Cami-nhando a curta distância deles se achava o mesmo ho-mem a quem João havia apontado no dia anterior, co-mo o Cordeiro de Deus. "E vendo por ali andar a Je-sus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. E os dois dis-cípulos ouviram-no dizer isto e seguiram a Jesus".

O Irmão de Simão crê em Jesus — Aceitando o convite de Jesus para acompanhá-lo até onde estava morando, estes dois homens permaneceram com Ele, ouvindo Suas palavras durante o resto do dia. Ao par-tirem, acreditavam que Jesus fosse o Rei de Israel, o Salvador do mundo. Assim foram eles naquele dia, os primeiros, dois, além de João Batista, a crer em Jesus.

Sempre que temos algo que é muito bom, quere-mos partilhar com os que amamos. Assim aconteceu com estes dois irmãos. Logo que sentiram a influência divina irradiar do Salvador, encheram-se de grande vontade de fazer com que os que amavam ficassem sob a mesma influência. André saiu a procurar seu

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irmão Simão e João seu irmão Tiago. André encontrou Simão primeiro e disse: "Já achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)".

Simão é chamado Cefas — E ele o trouxe a Jesus quando Este o viu, disse: "Tu és Simão, filho de Jonas; lu -serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)". Naqueles dias os judeus falavam a língua hebraica, mas o Novo Testamento foi escrito em grego. Em hebraico, Cefas significa "pedra", mas em grego a palavra pedra é "Petras" ou Pedro. Assim, daquele momento em diante, Simão foi conhecido como Simão Pedro, ou Simão a Rocha.

Quando pensamentos neste mundo maravilhoso no qual vivemos, em suas grandes divisões de terra cha-madas continentes, que no continente ocidental se en-contram os países da Europa, Ásia, África; que num cantinho da Ásia, há uma faixa de terra quase só duas vezes maior do que o Lago Salgado; que naquela faixa de terra havia uma divisão como um de nossos es-tados, chamada Galiléia; que nesta província havia mais de duzentas cidades e que em cada cidade habitavam vários milhares de pessoas, entre as quais um dia nasceu um menino cujos pais eram desconhecidos, e que este menino cresceu para se tornar um homem de tal caróter que Jesus o chamou "A Rocha" e que du-rante mil e novecentos anos ele foi conhecido e honrado por milhões e milhões de pessoas, precisamos com-preender, mesmo em nossa mocidade, que um nasci-mento humilde não é um impecilho para a grandeza!

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LIÇÃO 3

DESENVOLVIMENTO

"Oh, sê meu amigo e ensina-me a ser teu amigo".

SEU LAR EM CAPERNAUM

Desde o momento em que Pedro encontrou Jesus, seus pontos de vista na vida mudaram. Até aquele tempo, ele havia esperado a vinda do Rei dos Judeus como um acontecimento a se realizar em futuro inde-finido. Com os outros judeus, ele havia pensado que a vinda do Salvador seria marcada por maravilhosas manifestações e que, vestido em trajes púrpura e ser-vido por muitos anjos ele viria em poder infinito e nu-ma expressão divina de Sua ira, quebrar as cadeias ro-manas que prendiam a cativa nação judia.

Mas agora, Pedro havia encontrado o Messias — um homem solitário nas margens do Jordão. Somente cerca de cinco homens sabiam então que Ele clamava ser o Messias. Não havia legiões de hostes celestes acompanhando-O! Ele não trazia vestes purpúreas! Não possuía meios visíveis ao seu alcance com os quais pudesse quebrar o jugo romano. Seria Ele realmente o Messias que deveria vir, ou deveria Pedro esperar outro?

A influência de Jesus sobre Pedro — Êsíes pensa-mentos e centenas de outros sem dúvida assomavam à mente de Pedro, ao sair ele das proximidades do Jordão e voltar à sua pesca na Galiléia. André e João, naquela memorável visita, pareciam ter recebido um

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testemunho da divindade da missão de Jesus e eles le-varam aquele testemunho aos seus irmãos, ao excla-marem com alegria: "Já achlámos o Messias". Mas Pedro, impetuoso e que, como aprenderemos, era na-turalmente livre para falar o que sentia, até onde sa-bemos ainda não havia expressado tal segurança. Contudo, ele havia se impressionado profundamente; pois não havia Jesus, à primeira vista, lido seu caráter? Não havia Ele penetrado no mais profundo da sua natureza? Não havia Ele irradiado um espírito que tão com-pletamente envolvia Pedro que ele não mais queria sair de Sua influência?

O Lar de Pedro — Pedro nessa ocasião era casado, sendo, talvez, pai de um pequeno menino. Ele havia mudado de seu antigo lar em Betsaida, e vivia com a mãe de sua esposa, ou ela com ele, em Capernaum. Com ele, achavam-se também André e seus dois fiéis companheiros e amigos, Tiago e João, os filhos de Zebedeu.

A casa de Pedro tornou-se conhecida em Caper-naum e, posteriormente tornou-se, um dos pontos memoráveis do mundo. Lá, sem dúvida, Jesus ficava sempre que se achava em Capernaum. Depois que Jesus foi tão impdedosiamente (rejeitado por seus próprios conterrâneos em Nazaré, fez de Capernaum sua cidade; e supõe-se que grande parte do tempo, coube a Pedro a honra de hospedar em seu lar o Salvador do mundo. Cada palavra, cada ato de seu grande hóspede deve certamente ter aumentado a confiança de Pedro em Jesus como o Messias!

UMA LIÇÃO DE OBEDIÊNCIA

Nas praias da Galiléia — Numa bela manhã, vá-rios meses após os acontecimentos narrados na lição anterior, e pouco tempo após ter sido renegado em Nazaré, Jesus estava pregando a uma multidão nas praias

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da Galiléia. Pedro e André estavam ocupados nas proximidades, lavando suas redes, após terem passado a noite toda no lago em tentativa baldada de apanhar alguns peixes.

"E aconteceu que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava Ele junto ao lago de Genezaré. E viu estar dois barcos juntos à pram do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando suas redes. E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra e, assentando-se, ensinava do barco a multidão".

Primeiro caso registrado da obediência de Pedro — Quando Pedro satisfez o pedido de Jesus "que o afastasse um pouco da terra", fez o primeiro ato de obediência à voz de Cristo, que foi registrado. Agora, contudo, seguiu-se uma obediência que era completa-mente contrária à maneira de pensar do pescador. Quando Jesus havia acabado de falar à multidão, disse à Pedro: "Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. As folhas e a sujeira haviam sido tiradas da rede vazia; estava seca, e os fios arrebentados haviam sido emendados. Pedro estava cansado e queria descançar. Estava com fome também, ou talvez desencorajado. Não é de se espantar, portanto, que tenha respondido: "Mestre, havendo trabalhado toda a noite nada apanhámos". Era o mesmo que dizer: "Não adianta nada, pois não há peixes nesta manhã, nesta parte do lago e também não havia nenhum durante toda a noite". Mas 'Pedro estava aprendendo a honrar e obedecer este Homem entre os homens; assim, rapidamente acrescentou estas palavras: "mas sobre tua palavra lançarei a rede". Como um pescador expe-rimentado que era, seu bom senso lhe dizia que uma outra tentativa seria inútil; como um seguidor de .Jesus, sua Fé lhe ordenava que tentasse.

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(ZindocoResultado da Obediência — "E fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, encheram ambos os barcos de maneira tal que quase iam a pique. É-nos relatado que "o espanto se apoderara deles e de todos que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito". Pedro, o lider dos quatro e que mais tarde se tornou o chefe dos Doze, "prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor ausenta-te de mim, que sou um pecador".

Teria sido simplesmente a dúvida e hesitação expressas quando, alguns minutos antes, Jesus havia pedido a ele que se "fizesse ao alto mar?" ou seria a compreensão das muitas dúvidas da divindade de Cristo que agora o abatiam, e lhe faziam sentir sua própria inferioridade e fraqueza na presença deste Todo Poderoso? Jesus havia manifestado seu poder, e assim fazendo havia ensinado a Pedro uma lição que ele e o mundo todo, mais cedo ou mais tarde deveriam aprender: que a obediência às palavras de Cristo traz bênçãos, tanto materiais como espirituais. Enquanto a compreensão desta verdade embalava seus sentimentos cheios de respeito, Jesus lhe disse: "Não temas: de agora em diante serás pescador de homens".

UM SÁBADO MEMORÁVEL

Após ter sido rejeitado em sua própria cidade, Nazaré, Ele "desceu a Capernaum e ali os ensinava nos sábados".

Culto na Sinagoga — A última parte do culto na sinagoga naqueles tempos, era a exposição das escrituras e a sua pregação ao povo. Isto não era feito sempre por um oficial mas por uma pessoa distinta que estivesse na congregação. Naturalmente, Jesus era conhecido em todos os lugares naquele tempo como um gran-

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de mestre, um operador de milagres e um capaz intér-prete da lei; "e admiravam a sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade".

Cura de Um Endemoninhado — Certo slábado, quando Jesus estava pregando, Pedro e todos os pre-sentes firam surpresos por ver um homem levantar-se na audiência e, repentinamente, interromper gritando em alta voz: "Ah! que temos nós contigo, Jesus Naza-reno? vieste a destruir-nos? Bem sei quem és; O Santo de Deus". Ao calar-se este homem, que estava possuído por um espírito mau, a audiência toda estava em suspenso quando Jesus o repreendeu, dizendo: "Cala-te e sai dele." E o demónio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mau algum. E veio espanto sobre todos, e falavam entre si uns e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espí-ritos imundos manda com autoridade e poder e eles saem?"

A Cura da Sogra de Pedro — Ao terminar este culto, Jesus foi com Pedro à casa deste, acompanhado de André, Tiago e João.

Pedro, André, Tiago e João eram companheiros de de infância, sócios como pescadores, companheiros co-mo discípulos de João Batista e agora estavam se tor-nando inseparáveis e amados elos da Irmandade de Cristo! Ao entrarem em casa souberam que a mãe da esposa de Pedro estava muito doente, com febre. Sem dúvida, foi Pedro que contou a Jesus as condições de sua sogra e rogou que Ele a abençoasse. "Inclinando-se sobre ela, repreendeu a febre e esta a deixou. E, levantando-se logo, servia-os".

É fácil imaginar como toda Capernaum comentava como Jesus havia repreendido o espírito mau do homem aflito, na sinagoga! E que então, alguns minutos n pós o culto, Ele havia curado uma mulher instantân-ncnmentc, de febre! As notícias se esparramaram de casa em casa e de grupo em grupo até que "sua fama

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Domínio divulgou-se por todos os lugares em redor daquela comarca" .

Muitos Curados — Durante toda a tarde a casa de Pedro e as ruas ao seu redor estavam cheias de pes-soas, algumas movidas por curiosidade, mas a maioria desejando uma bênção. Homens possuídos de demónios eram levados através da multidão até Jesus e eram curados; aqueles que durante muitos dias haviam sofrido de febre escaldante, aqueles que eram afligidos por várias espécies de moléstias, eram todos trazidos à presença deste Grande Médico que impunha suas mãos sobre todos e os curava.

O sol desceu, veio a meia luz, e as sombras da noite começaram a cair, mas os doentes e os sofredores ainda buscavam aquela cura divina que somente Cristo, o Senhor poderia dar. "Jamais", diz Eidersheim, "jamais, sem dúvida, foi Ele mais verdadeiramente o Cristo do que quando, no silêncio daquela noite passou por aquela multidão sofredora colocando suas mãos sobre os doentes curando todos os expulsando muitos demónios".

Provavelmente naquele dia Jesus só pôde descan-çar bem tarde. Depois que o povo havia partido para os seus lares, agora mais alegres, Pedro e os de sua casa queriam conversar com o hóspede ilustre, sobre os grandes milagres daquele dia. Finalmente, todos se retiraram e dormiram ao escoarem-se as últimas horas daquele inesquecível sábado.

OUTRA SEMANA DE PREPARO

A Manhã de Domingo — Antes de surgir a luz, con-tudo, Jesus levantou-se quietamente, respirando o puro ar da manhã; procurou um lugar quieto e solitário e lá orava. Pedro deve ter se surpreendido quando ao ir cumprimentar seu hóspede, encontrou seu quarto vazio. Talvez tivesse adivinhado onde Jesus havia ido, pois nos é dito que "seguiram-nO Simão e os que com

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ele estavam. E, achando-o, lhe disseram: "Todos Te buscam".

Que gloriosa será a situação deste velho mundo quando puder ser verdadeiramente dito de Cristo, — "Todos Te buscam".

O egoísmo, a inveja, o ódio, a mentira, o roubo, a desonestidade, a desobediência aos pais, a crueldade para com as crianças e animais, a discussão entre os vizinhos e as lutas entre as nações — tudo desaparecerá quando se puder dizer verdadeiramente ao Redentor da humanidade, — "Todos Te buscam".

Parece que Jesus e Seus amigos saíram de Carper-naum naquele dia e "pregava nas sinagogas deles por toda Galiléia e expulsava os demónios". Onde quer que fossem, os doentes eram curados e os leprosos eram limpos. Alguns dias mais tarde, voltaram a Caper-naum. Assim que o povo soube que Jesus se encontrava "na casa" (sem dúvida, na casa de Pedro), "Logo que se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam; e anunciava-lhes a palavra".

O Paralítico de Capernaum — Foi nesta ocasião que quatro homens trouxeram um paralítico. O pobre infeliz jazia em sua cama que era carregada pêlos quatro homens. "E não podendo aproximar-se d'Êle por causa da multidão", subiram ao telhado. Ali fizeram uma abertura comunicando com a sala "e baixaram o leito em que jazia o paralítico".

"E Jesus vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, estão perdoados os teus pecados. E levantou-se e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos". Todas estas gloriosas manifestações de poder divino e, sem dúvida muitas e muitas mais, Jesus havia feito mesmo antes de escolher Seus Do/c Apóstolos.

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'Pedro, como se vê, foi uma testemunha de todas elas. Se ele tivesse tido qualquer dúvida alguns meses antes, quando seu irmão André disse: "Já encontramos/ o Messias", certamente elas haviam há muito tempp sido banidas de sua mente; e podemos entender porque, quando Jesus disse: "de agora em diante serás pescador de homens", Pedro deixando tudo, seguiu após Ele.

Mas, mesmo assim, não obstante todas as experi-ências, a fé de Simão ainda não era a pedra em que Jesus queria que ela se transformasse.

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LIÇÃO 4

OS DOZE

"Os Doze conselheiros viajantes são cha-mados para serem os Doze Apóstolos, ou testemunhas especiais do nome de Cristo em todo o mundo".

Provavelmente muitos meses após os acontecimen-tos narrados no capítulo anterior e um pouco antes da Festa da Páscoa, Jesus foi a uma montanha perto de Capernaum. Como era de costume deste tempo de sua vida, uma grande multidão O seguia. Mas Ele afastou-se da multidão, foi ao alto da montanha para que pudesse estar a sós com Seu Pai nos Céus, ao qual Ele orou a noite toda.

Os Doze Escolhidos — Sem dúvida, muitos de seus mais ardentes seguidores também permaneceram na montanha por toda noite, pois "quando já era dia, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também nomeou apóstolos".

A palavra apóstolo significa "Enviado" ou "Aque-le que é enviado". Um apóstolo é uma "testemunha especial do nome de Cristo em todo o Mundo".

Em todos os relatos feitos deste importante acon-tecimento, o nome de Pedro é mencionado primeiro, indicando que ele foi escolhido como chefe dos após-tolos, e foi sem dúvida indicado e abençoado como o Presidente do Conselho dos Doze. Os nomes dos Doze a quem Jesus ordenou naquele tempo, são:

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(1) Simão Pedro, e seu irmão; (2) André; (3) Tiago e (4) João, os dois filhos de Zebedeu; (5) Filipe de Betsaida e (6) Natanael, também chamado Bar-tolomeu; (7) Tomé, também chamado "Dídimos", nome que significa "gémeo"; (8) Miateus, o publi-cano, ou coletor de impostos; (9) Tiago, filho de Alfeu; (10) Lebeu, que era também chamado Ta-deu e também Judas, mas não o Iscariotes; (11) Simão o "Cananita" ou Simão o "Zelador" e (12) Judas Iscariotes, que foi o traidor.

Quem Eram os Doze — Estes doze homens eram, em sua maioria, pescadores galileus que trabalhavam em seu ofício nas praias da Galiléia. Mateus, contudo, era um publicano e, portanto, desprezado petos Judeus; e Judas era Judeu. Alguns dos líderes dos judeus pensaram que eles fossem "homens sem letras e indoutos", isto é, sem instrução e ignorantes. Indoutos eles o eram; mas não ignorantes, pois pela sua sabedoria e pregação, sobrepujaram toda a estrutura do conhecimento humano, e conduziram o mundo à luz e à verdade".

Como um humilde discípulo de Jesus, Pedro havia sido testemunha de muitas coisas maravilhosas relacionadas com a missão do Salvador; mas era difícil para ele compreender o significado do plano do Evangelho. Ao continuarmos com sua biografia, notaremos que sua compreensão se desenvolveu vagarosamente, apesar de ter ele estado, durante um ano mais ou menos, na presença de seu Senhor. Aqui estão algumas das coisas que ele testemunhou imediatamente após a sua ordenação como apóstolo.

NA FESTA DE MATEUS

J oiro — Um dia Jesus e os Doze aceitaram um con-vite para ir à casa de Mateus, o que muito ofendeu os

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fariseus, pois Jesus comeu com um publicano e os pe-cadores. Enquanto Jesus e os Doze ainda estavam na festa, e Jesus estava respondendo à acusação dos fari-seus, "eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribun-da; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva".

Jesus imediatamente abandonou os prazeres da festa de seu amigo e irmão Mateus, e seguiu Jairo à sua casa.

A MULHER QUE TINHA UM FLUXO DE SANGUE

".. .E seguia-o uma multidão que o apertava". Nesta multidão achava-se uma senhora que vinha so-frendo por doze anos em virtude de uma ferida que não podia ser curada. O sangue havia corrido por tan-to tempo que ela estava fraca e era muito pobre, pois "havia dispendido tudo quanto tinha, tentando curar-se". Ela havia ouvido falar em Jesus e em seu poder pa-ra curar os doentes, e tinha tanta fé que havia dito a si mesma: "Se tão somente tocar os seus vestidos, sa-rarei" .

Ao passar Jesus ela esticou suas mãos e tocou a barra do Seu vestido, "e logo se lhe secou a fonte do seu sangue e sentiu no seu corpo estar já curada daquele açoite".

"Quem tocou os meus vestidos"? Jesus, sentindo imediatamente que havia saído virtude dÊle, virou-se e perguntou: "Quem tocou os meus vestidois". Pedro respondeu, "Mestre, a multidão te aperta e oprime, e dizes: "Quem é que me tocou?" (Lucas 8:45).

Que grande visão deve Pedro ter recebido dos po-deres divinos de Cristo, ao notar que a mulher que estava doente vinha através da multidão, atirando-se

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aos pés de Cristo, e confessava tudo a Ele. Que sa-tisfação deve ter ele experimentado, ao ouvir seu Se-nhor dizer: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu açoite".

Mas logo Pedro foi testemunha de um milagre ainda maior.

A FILHA DE JAIRO

Enquanto Jesus ainda estava falando à mulher que agora havia sido abençoada e estava feliz, e enquanto Pedro e seus companheiros e a multidão ainda olhavam com grande admiração, viu uni dos principais da sina goga, a quem diziam: "A tua filha está morta, não in comodes o Mestre". /

Pobre Jairo! Ele havia saído apressadamente do lado da cama de sua filhinha apenas meia hora antes para pedir a Jesus de Nazaré que viesse salvá-la. O médico divino havia saído imediatamente para atendê-lo, porém era tarde demais. O coração de Pedro deve ter se movido de simpatia e pena pelo pobre pai. Mas então, após o triste anúncio de falecimento, eles ouviram a voz confortadora de Jesus: "Não temas, crê somente e será salva".

Ao aproximarem-se da casa, ouviram o pranto dos amigos e os lamentos da mãe infeliz. Mas, Pedro, como também os outros, ouviram o Mestre dizer "Não choreis: Não está morta, mas dorme. E riam-se dÊle sabendo que estava morta". O Salvador então pediu que todos deixassem a sala, com exceção de Pedro, Tiago e João, o pai e a mãe. Então dirigiu-se à cama, tomou a pequenina e branca mão nas suas e disse: "Levanta-te menina". "E o seu espírito voltou e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer".

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Estes acontecimentos na vida de Pedro são apenas algumas das gloriosas experiências que ele teve antes de partir como "uma testemunha especial do nome de Cristo". Jesus sabia que nem Pedro e nem ninguém poderia converter outros à verdade antes que eles mesmos a conhecessem. Ninguém pode ensinar o que não sabe. Sem dúvida, por esta ocasião Pedro cria, com todo o seu coração, que Jesus, o fazedor de maravilhas, era realmente o Messias que deveria vir; mas seu testemunho ainda não era firme como uma "pedra".

A PRIMEIRA MISSÃO DE PEDRO

Contudo, chegou o tempo em que ele estava sufi-cientemente instruído para partir em missão "e Jesus chamou a si os doze e começou a enviá-los a dois e dois" (Marcos, 6).

" . . . e lhes ordenou dizendo: Não ireis pelo cami-nho das gentes, nem entrareis em cidade de samarita-nos; mas ide às ovelhas perdidas da casa d'Israel e, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, purificai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demónios: de graça recebestes, de graça dai. (Mateus, 1:5-42).

Ele lhes disse que viajassem sem dinheiro e sem roupas extras e que levassem bênçãos e paz a todos que os recebessem. Disse-lhes que seriam perseguidos, presos e julgados diante de governadores e reis, mas deu-lhes a certeza de que o Senhor os livraria. Disse ainda que "se ninguém vos receber, nem escutar vos-sas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juizo, haverá menos rigor para as cidades de Sodo-ina e Gomorra do que para aquela cidade".

"Quem vos recebe, me recebe a mim; e quem me recebe a mim, recebe Aquele que me enviou. E qual-

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quer que tiver dado só que seja um copo d'água fria a um destes pequeninos na qualidade de discípulos, em verdade vos digo que de modo nenhum perderá seu galardão".

Não sabemos quem foi o companheiro de Pedro nesta missão mas sabemos que eles foram e pregaram arrependimento aos homens, que expulsaram demónios e fizeram muitas outras coisas em nome de Jesus de Nazaré.

Foi enquanto estavam empenhados nesta missão que João Batista foi decapitado por ordem do perverso rei Herodes.

Ao voltarem, "Os apóstolos ajuntaram-se a Jesus (provavelmente em Capernaum) e contaram-lhe tudo, tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado. Mas havia tantos que "iam e vinham" que "não tinham tempo para comer", assim Jesus, querendo estar sozinho com os Doze, disse: "Vinde vós aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco". Assim eles entraram num barco "em particular", e navegaram ao lado de Capernaum para a costa noroeste. Mas algumas das pessoas os viram partir e correram a pé ao redor da costa noroeste do lago. Outras pessoas as vendo correr, juntaram-se a elas, e quando Jesus e os Doze desembarcaram havia centenas, se não milhares de pessoas lá para cumprimentá-los.

Ao aproximar-se a noite, os discípulos pediram a Jesus para dispersar a multidão, para que pudessem ir à cidade e comprar algo que comer.

Foi nesta ocasião que Pedro testemunhou outra manifestação do poder de Deus e viu repetida a lição que ele aprendera um ano atrás quando fez a maravilhosa pesca, isto é, que a obediência k palavra de Cristo sempre traz conforto e felicidade. Em lugar de dispersar a multidão que estava com fome, Jesus disse: "Onde compraremos pão para estes comerem?"

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Respondeu Filipe: "Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um poueo" (João 6). Mas de cinco pães de cevada e dois peixinhos, Jesus, por algum processo que lhe era natural, mas milagroso para nós, alimentou a vasta multidão em número de quase cinco mil.

Pedro ajudou não só a distribuir os pães e os peixes entre a multidão, mas também a juntar doze cestas de sobras. Sem dúvida ele foi um dos que disseram: "Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo". Vamos esperar, contudo, que ele não tenha sido um dos que tomariam Jesus pela forca para fazê-lo Rei.

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LIÇÃO 5

GLORIOSAS EXPERIÊNCIAS

"Os passos da fé caem no nada aparente, mas sob eles encontram a rocha".

"Tudo o que vi me ensinou: a confiar no Criador, pelas coisas que não vi".

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Quanto Jesus chamou Simão "Pedro" ou "A Ro-cha", sem dúvida expressou com aquele nome uma das* características que Ele desejava ver na fé de Seus discípulos, e, particularmente, em Seus Apóstolos. Queria que eles tivessem uma fé inabalável — uma fé que os faria firmes na verdade, a despeito de milagre ou milagres de homens — fé no Senhor em todos os íem-pos e sob todas as circunstâncias, fossem elas quais fossem. Jesus sabia que os Judeus eram facilmente influenciáveis, que um milagre feito hoje poderia despertar neles um sentimento de que Ele era o rei pelo qual eles estavam esperando e que a verdade ensinada amanhã poderia despertar neles um sentimento de que Ele era um impostor. Ele queria leviá-los a Deus e ao Seu Evangelho. Queria que compreendessem as verdades da vida para que as vivessem após a sua partida do meio deles.

Imaginem então qual não foi a sua dor, quando, após o milagre mencionado no último capítulo, o povo se levantou e o aclamou rei e pensou que por lhe ofe-

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recer uma coroa vazia lhe estava prestando honras. Ele não queria que eles o honrassem. Queria apenas que vissem o poder de Deus e cressem em sua divina verdade.

Querendo estar a sós mais uma vez com Seu Pai, não querendo a companhia nem mesmo dos três principais apóstolos, Pedro, Tiago e João, Jesus dispersou a multidão, disse aos Doze que embarcassem e voltas, sem a Capernaum e Ele se dirigiu a um local solitário para orar.

O MAR TEMPESTUOSO

Durante a noite, enquanto Jesus ainda orava, caiu uma grande tempestade, que fazia levantar grandes ondas no mar. Da montanha, Jesus podia ver Seus discípulos lutando, mas incapazes de fazer muito pro-gresso, embora eles não o vissem.

Quando o barco estava cerca de trinta estádios da praia, Jesus decidiu ir a ele. Já passava da meia noite e os discípulos ainda estavam lutando contra o mar encapelado.

Jesus anda sobre o mar — Imagine seu medo quan-do, na escuridão, viram um objeto dirigindo-se a eles sobre as ondas! E quando alguém gritou: "É um fan-tasma", ficaram mais amedrontados que nunca.

"Jesus, porém, lhe falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não tenhais medo".

Pedro imediatamente falou, dizendo: "Senhor, se és tu, manda-me ir ter consigo por cima das águas".

"Vem", disse Jesus.E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas

para ir ter com Jesus".Pedro, firme em crença e forte em determinação

quando seus olhos vêem somente a magestade da fé e a perfeita manifestação de seu poder: Poderoso e des-

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temido, quando vê somente a glória de Deus e sua alma grita para ir ter com Ele:

Mas quando vê "o vento forte" fica com medo e, começando a afundar-se, grita, dizendo: "Senhor, salva-me" (Mateus 14).

Assim é na vida, quando os ventos da tentação e as ondas do desespero se abatem sobre nós, o olho da fé se eleva mais para estes elementos de que para a luz da vida, enfraquecendo o poder da fé, como Pedro, começamos a afundar. Muitos, sim, muitos, afundam-se sob as vagas; poucos gritam como ele: "Senhor salva-me".

"E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pouca fé, porque duvidaste?".

OUTRA EXPERIÊNCIA

Na manhã seguinte o povo de Capernaum que sabia que Pedro e os outros discípulos haviam partido do lado oposto sem Jesus, muito se admiraram por vê-lo junto com eles e disseram: "Rabi, quando chegasteaqui?".

"Vós me buscais, não pêlos sinais que vistes, mas

porque comestes do pão e vos saciastes"."Trabalho, não pela comida que perece, mas pela

comida que permanece para a vida eterna, a qual oFilho do homem vos dará", (João 6:25-27).

Ele então proferiu o famoso sermão sobre o Pão da Vida, parte do qual, como João dele se lembrava, acha-se registrado no capitulo sexto do evangelho de João. Havia tantas coisas que eram faladas e que os Judeus não podiam compreender, por causa de seu preconceito, que primeiramente ficaram meio confusos, depois enraivecidos e finalmente muito ofendidos. Aqueles que tinham pouca fé, influenciaram-se pêlos murmúrios da multidão e disseram: "Não cremos que

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este homem seja o Filho de Deus. Mesmo alguns de Seus discípulos afastaram-se da Verdade "e já não andavam com Ele".

A massa de homens e mulheres enraivecidos muito se assemelhava com o mar encapelado que fustigava os discípulos na noite anterior. Os ventos do ridículo e as ondas do descontentamento batiam-se contra os discípulos inconstantes. Ao olharem para estes maus elementos da paixão humana, sua fé em Cristo enfraqueceu-se e eles "começaram a afundar".Em vão, Jesus testificou "Sou Eu, o Filho do Ho-mem!" Eles não lhe dariam ouvido, pois Ele era para eles nada mais que o filho de José o carpinteiro. Ao afastarem-se dele os vários grupos, Ele virou-se para os apóstolos e disse: "Quereis vós também retirar-vos?" Mais uma vez foi Pedro que quebrou o silêncio. Com os outros ele havia olhado para a barulhenta multidão, com os outros ouvira as palavras enraivecidas dirigidas ao seu Mestre. No meio deste mar de paixão humana, diria ele, "Senhor, se és tu, manda-me ir ter consigo?"

Como que um pouco hesitante, como se sua fé não fosse tão firme como Jesus queria que se tornasse, ele respondeu: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna". (João 6:68).

Então, sua certeza se fortaleceu e seus pensamentos se afastaram da multidão apóstata e ele acrescen-tou: "E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus". Apesar do não ter vindo dos lábios de Jesus, nessa ocasião, a palavra "Abençoado", sem dúvida Ele se sentia satisfeito por ver a fé incerta de seus discípulos se tornar firme nos corações de seus Apóstolos.

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LIÇÃO 6

O TESTEMUNHO DE PEDRO

Em Tiro e Sidon. — Pouco tempo depois que o povo de Capernaum negou o Salvador, como foi n ar-rado no capitulo anterior, Jesus levou seus doze discí-pulos ao oeste, através da Galiléia, para a terra de Tiro e Sidon, perto do Mar Mediterrâneo. Ele queria estar sozinho com os Doze, para que pudesse ensinar-lhes muitas coisas relacionadas com o reino de Deus e assim prepará-los para levar adiante o trabalho, depois que Ele os deixasse.

A Mulher Cananea — Muitas coisas aconteceram nesta viagem que deve ter sido memorável para Pedro e os outros membros dos Doze. Primeiro, houve uma mulher cananea que procurou Jesus e implorou que Ele curasse sua filhinha.

Porque ela não pertencia à raça judia, os discípulos disseram: "Despede-a, que vem gritando após nós".

Naturalmente, eles devem ter pensado então, e por muito tempo depois, que o Evangelho era somente para os Judeus. Mas Jesus lhes ensinou que Ele amava à mulher cananea tanto quanto aos judeus. Mas Pedro não compreendeu inteiramente.

Outros milagres — Da Costa de Tiro e Sidon, eles viajaram ao redor da Galiléia e chegaram ao lado este do Mar da Galiléia. Aqui os discípulos testemunharam outras manifestações do poder de Jesus. Um homem surdo que não podia falar claramente, foi curado e ouviu e falou; e quando o povo ouviu sobre isto, se-

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guiu a Jesus e os Doze, fora da cidadezinha, até "um lugar deserto".

Mais uma vez Pedro viu uma multidão ser ali-mentada, desta vez, tendo somente sete pães e alguns peixinhos.

Pode parecer que depois de todos estes meses jun-to do Salvador — ouvindo Suas parábolas, vendo Seus milagres, sentindo Seu espírito e recebendo Seus ensinamentos diariamente, os apóstolos compreenderiam certamente a missão do Redentor..ás palavras de Jesus não são compreendidas. — Mas lemos que após terem sido alimentados estes "quatro mil homens, além de mulheres e crianças" os discípulos entraram com Jesus num barco e remaram para o lado oeste do lago. Lá eles encontraram alguns Fariseus e Saduceus, que começaram a se opor a Jesus. Quando Ele e os Doze estavam sozinhos novamente, disse: "Adverti-vos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus".

Sabemos o que Ele queria dizer com isto, mas os discípulos disseram entre si: "É porque não nos for-necemos de pão".

Quando Jesus viu que eles não o compreenderam, disse: "Como não entendestes que não vos falei a res-peito de pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?"

"Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos íuriscus e dos saduceus". (Mateus, 16:1-12).

Sem dúvida, havia viários entre eles cujo testem u-nliu estava se tornando firme e inabalável. Sabemos «l u e apenas alguns dias mais tarde o apóstolo chefe mostrou em palavras que não poderiam ser mal inter-prcludus, sua firme convicção de que Cristo era real-mente o Filho do Deus Vivo.

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A inesquecível confissão de Pedro — Eles haviam se dirigido para o norte, para Cesaréia de Filipo, aos pés do monte Hermon. Aqui, Jesus, um dia, fez aos seus discípulos esta pergunta: "Quem dizem os homens ser o filho do homem?"

"E eles disseram: "Uns João Batista, outros Elias, e outros Jeremias ou um dos profetas".

Então Jesus disse: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?

Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".

Não havia hesitação agora, nem medo, nem incer-teza, para a expressão direta de uma alma convencida da verdade: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".

"Bemaventurado és tu, Simão Barjonas, porque t'o não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus", disse-lhe Jesus.

Finalmente Jesus descobre em Pedro a certeza que estava há muitos meses procurando desenvolver. Ele agora sabe que o espírito de Pedro recebeu certeza di-vina de que todos estes milagres e poderosas manifes-tações haviam sido feitas pelo poder de Deus através de Seu filho unigénito. Ele sabe que o testemunho de Pedro não tinha vindo dos homens mas de Deus, e não importava o que os homens pudessem fazer ou pensar. Pedro levantar-se-ia firme como uma rocha sobre este testemunho.

"E também te digo", continuou Jesus, "que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela".

A Igreja de Cristo edificada sobre revelação — Com isto Jesus queria dizer que, como o nome de Simão era "Pedro", que significa "pedra", assim também seu testemunho que veio por revelação seria a rocha sobre a qual a Igreja de Cristo seria construída. Porque quando alguém recebe certeza divina em sua alma, da vera

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cidade do evangelho, nem os homens, nem as ondas da tentação e nem o poder do inferno poderão privá-lo dela. Logo que Jesus encontrou Simão, Ele disse que ele seria chamado "a Rocha". Parecia que desde então Jesus havia estado esperando o tempo em que o testemunho de Pedro fosse como seu caráter — expressivo e firme. Este tempo chegou; e Pedro estava agora preparado para receber uma responsabilidade maior.

Chaves do reino — "E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus".

Uma chave era para abrir a porta do evangelho aos gentios, mas levou algum tempo para que Pedro soubesse como uslá-la.

Uma coisa é saber que o evangelho é verdadeiro; mas outra coisa é compreender seu propósito e significado .

Jesus prediz sua própria morte — Desse tempo em diante Jesus começou a dizer aos Apóstolos que ele sofreria e morreria e que eles precisavam continuar a pregar o evangelho. Disse-lhes que dentro de alguns meses Ele seria levado pêlos principais sacerdotes, ser ia morto e ressurgiria novamente no terceiro dia.

Zelo desnecessário — Quando Pedro ouviu isto, levou o Salvador para um lado, e ainda esperando que Jesus um dia viesse a ser rei, disse: "Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te aconteça isso". Kru o mesmo que dizer, eles não O levarão se pudermos evitá-lo.

Pedro é repreendido — Corajoso, mas incompre-eiiHÍvel Pedro! Ele não compreendia que era necessário (jue seu Senhor morresse, antes que Sua missão de redenção fosse cumprida. Assim, em seu amor cego, rv i lnr i i i que o Senhor completasse Seu trabalho! O Salvador, percebendo isto, virou-se e disse a Pedro:

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"Arreda-te de diante de mim, Satanaz, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens". (Mateus 16:16-23).

Esta era uma reprensão severa, e deve ter causado profundo efeito em Pedro com o pensamento de que o seu plano não era o de Deus; sem dúvida ele compre-endeu que ainda tinha muito o que aprender antes de poder levar a cabo a grande tarefa que o Senhor lhe havia atribuido naquele dia. Mas em seu zelo para salvar Jesus da morte, ele errou, em amor.

De qualquer modo, sabemos que Jesus estava sa-tisfeito com o testemunho de Pedro e com seu amor, e que esperaria pacientemente pela sua compreensão do plano do evangelho.

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LIÇÃO 7 UMA

SOBERBA MANIFESTAÇÃO

O Monte Santo — Na região de Cesaréia de Filipo, onde Pedro deu seu testemunho e recebeu bênção e po-der de seu Mestre, achava-se uma alta montanha da ca-deia do Líbano, conhecida como Monte Hermon. Pedro a chamava Monte Santo. Após sabermos o que aconteceu lá, todos concordaremos que Pedro deu-lhe um nome adequado.

Um escritor que visitou esta região nos diz que o "magnífico esplendor" deste pico "elevando-se como um gigante sobre todos os outros picos da cadeia do Líbano, com sua cabeça coberta de neve, é visível de to-das as direções. É provavelmente o lugar mais alto na terra sobre o qual o Senhor jamais se encontrou e do qual Ele tinha uma vista das mais amplas. Do alto, Ele olhava para baixo sobre a Galiléia, onde havia ensinado c trabalhado, onde havia sido recebido por poucos e ne-gado por muitos".

A renúncia a si mesmo é necessária — Seis dias (Lucas diz oito) haviam se passado desde que Pedro linvia dado seu grande testemunho — seis dias, sem dú-vida, de importantes instruções a Pedro e aos outros «m/c.

1'oi provavelmente durante aquele tempo que os Do/c aprenderam que para ser um verdadeiro seguidor i lr .lesus, é preciso negar a si mesmo muitos desejos e npclitcs — controlar os sentimentos de raiva, ciúmes e uuirus paixões. Disse o Salvador: "Se alguém quizer vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a cruz

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e siga-Me. Porque aquele que quizer salvar a sua vida, perde-la-á e quem perder a sua vida por amor de Mim, acha-laJá. Pois que aproveita ao homem, se ganhar o o mundo inteiro e perder a sua alma? ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" (Mateus 16: 24-26).

Estas e muitas outras verdades gloriosas Pedro, sem dúvida, ouviu durante aquela memorável semana em Cesaréia de Filipo.

Mas ele ouvira coisas ainda mais gloriosas.Ainda perplexo com alguns dos dizeres de Jesus,

ainda imaginandjo porque era necessário que o Se-nhor sofresse muitas coisas e fosse rejeitado e mesmo morto, Pedro, Tiago e João certamente, acompanharam Jesus ao lado do Monte Hermon. Parece, pelo breve relato que temos deste incidente, que eles gastaram várias horas em solene conversação, perguntando-lhe os apóstolos muitas coisas relacionadas com Suas palavras.

A meia-luz transformava-se em escuridão, e as som-bras da noite escondiam o Monte Hermon completa-mente dos vales adormecidos abaixo.

A transfiguração — Talvez os três líderes estives-sem sonolentos, e ao afastar-se o Senhor para orar, eles estavam profundamente adormecidos. Mias, seja como for, sabemos que quando seus olhos voltaram-se para Jesus "transfigurou-se diante deles; e os seus ves-tidos tornaram-se brancos como a neve, tais como ne-nhum lavadeiro sobre a terra os poderia branquear. E apareceu-lhes Elias corri Moisés e falavam com Je-sus". (Marcos 9:1-6).

Não Morte mas transformação — Estes personagens celestes falaram, com Jesus, sobre a sua aproximação da morte, e ressurreição, uma das coisas vitais no ministério de Cristo, que Pedro não podia com-preender. Após esta gloriosa visão de dois seres celes-

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tiais, a Morte perderia muito se não todo o terror pe-rante Pedro, Tiago e João. Eles saberiam que mesmo se os homens maus matassem seu Mestre, Ele viveria e ainda seria seu Senhor e Salvador. A Morte, para eles, depois disto, seria apenas uma separação. Eles com-preenderam que "a morte nada tinha de terrível em si mas o que a vida tinha a fazia assim."

"E bom que nós estejamos aqui" — Pedro, por ins-piração, havia recebido certeza de que Jesus era real-mente o Cristo; agora ele testemunhava um sinal visível de seu testemunho. Desejoso de ter um monumento erigido a este sinal externo, alguma coisa que outros olhos além do seu pudessem ver, ele gritou, pela impulsividade de seu coração: "Mestre, é bom que nós estejamos aqui, e façamos três cabanas, uma para li, uma para Moisés e uma para Elias". Mas repenti-namente ao desaparecerem Moisés e Elias, uma nuvem os cobriu e uma voz saiu da nuvem dizendo: "Este é meu filho amado, a Ele ouvi",

Fontes de Testemunho — O testemunho de Pedro eslava, neste tempo, fortalecido e a sua fé provada: (Pedro 1:7).

(1) Pela confirmação de milagres; (2) pela visão de seres celestiais; (3) por inspiração; (4) por ouvir não somente o testemunho destes anjos mas também o divino Testemunho do próprio Deus.

Sim, a sua fé estava construída sobre a pedra e as portas do inferno não podiam prevalecer contra ela!

Isto é verdade e, de agora em diante podemos con-cluir com segurança, ao acompanhar sua carreira, que nem uma sombra de dúvida da divindade da missão de Cristo jamais atravessou a mente de Pedro.

A Pureza e a sinceridade são essenciais — Quando pensamos que Pedro esteve em contacto quase diário <-om o Salvador dos homens, podemos concluir que seu testemunho cresceu muito vagarosamente, mas, se as-

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sim aconteceu, como o carvalho que também cresce vagarosamente, tornou-se tanto mais durável.

Afinal de contas, a experiência de Pedro é a ex-periência que virá a quase todos os meninos e meninas que lerem estas páginas. O conhecimento da verdade, e o testemunho do Evangelho podem vir gradualmente a quase todos eles. A grande lição a ser aprendida mesmo na mocidade é a de pureza de pensamento e busca com coração sincero, da orientação diária do Salvador que conduzirá a um testemunho da veracidade do Evangelho de Cristo, tão seguro e permanente como o que Pedro possuía ao descer do Monte Hermon onde presenciou a transfiguração de Cristo e ouviu a voz de Deus testificar da Sua divindade.

Mas, o saber que Jesus era o Salvador da Humani-dade, não deu a Pedro uma compreensão do plano do Evangelho. Quanto a isto ele ainda tinha muito o que aprender. E pode ser que a sua força de caráter ou melhor, seu julgamento, não fossem tão firmes como deveriam ter sido num homem cuja vida toda deveria ser firme como uma pedra.

Na força de seu testemunho e numa atitude até certo ponto resignada ao destino que mais cedo ou mais tarde levaria o Mestre, Pedro continuou a fazer muitas perguntas relacionadas aos aspectos vitais da missão de Cristo. Uma pergunta que os apóstolos fizeram a si mesmos ao descerem à multidão que permanecia ao pé da colina, foi: o que o Mestre queria dizer quando falou que o Filho do Homem se levantaria dentre os mortos?

Enquanto o Salvador estava respondendo esta pergunta e explicando as profecias a ela relacionadas, chegaram ao lugar onde, na noite anterior, eles haviam deixado os outros discípulos. Uma grande multidão se reunia ao redor deles, e os escribas lhes faziam per-guntas.

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O jovem, lunático — Entre esta multidão encontrava-se um pequeno garoto que padecia por influência de um mau espírito. Quando ele estava "possuído" caia ao chão, espumava pela boca, rangia os dentes. O pai encontrou Jesus e implorou a Ele que aliviasse seu pobre filho, e acrescentou que os discípulos haviam tenlado fazê-lo, sem conseguí-lo.

"Quanto tempo faz, perguntou Jesus "que lhe sucede isto?" "Desde a infância," disse o pai "e muitas vezes o tem lançado no fogo, e na água para o destruir, mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos." E Jesus repreendeu o espírito imundo e o menino foi curado.

Um contraste — Para Pedro, Tiago e João, quão grande era o contraste entre a cena que eles presenciaram na noite anterior no Monte e esta. Aqui se manifestava o poder do mal, causando suspeita, dor, agonia, morte; lá, havia se manifestado o poder do Senhor, proclamando felicidade, paz, glória, e imortalidade!Tais têm sido os resultados destes dois grandes poderes, influenciando as vidas dos homens em todas as idades. Tal é o resultado hoje em dia. Uma pergun-la vital para nós é: Permaneceremos nós ao lado do pecado onde o mal triunfa, ou mostraremos nós pelo menos boa vontade para subir ao monte da Santidade c deixar que Deus transforme nossas vidas?

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LIÇÃO 8 LIÇÕES DE

VERDADEIRA LIDERANÇA

"O cará ter é formado pelas circunstâncias. Com os mesmos materiais, um homem . constrói palácios enquanto outro constrói cabanas"

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Entre a transfiguração e a última semana cheia de acontecimentos da vida do Salvador na terra, há ape-nas alguns casos registrados nas escrituras nos quais Pedro é pessoalmente mencionado. É significativo, con-tudo, que quase todos estes confirmam direta ou indi-retamente, o caráter de Pedro como um líder apostó-lico. IPedro sabe que Jesus é o Cristo que deveria vir, mas teria força para defendê-lo com palavras e atos? Compreende ele os princípios divinos do Evangelho suficientemente para manifestá-lo em sua vida diária nas conversações e em todas as suas associações com o seu próximo? Com a excessão provável do incidente do dinheiro do tributo, que salienta para Pedro a fi-liação do seu Mestre, todas as lições seguintes baseiam-se diretamente sobre força de canáter e princípios de conduta.

T R I B U T O

Uma antiga lei — Naquele tempo existia uma taxa sobre todo Judeu homem, de vinte anos ou mais, para

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a manutenção do Templo e de seus serviços. Esta lei havia estado em vigor desde os dias dos filhos de Is-rael, quando o grande Moisés disse: "a metade dum siclo é a oferta do Senhor". (Êxodo 30-13).

Maleus nos relata que "chegando eles a Caper-niuini, nproximaram-se de Pedro os que cobravam as didrucmas e disseram: O vosso mestre não paga as didracmas?" "Sim", prontamente respondeu Pedro.

Se ele soubesse quando estava falando com os co-lotores de impostos, que não havia dinheiro disponí-vel, teria se preocupado sobre como poderiam pagar o meio siclo devido como tributo, naquele dia.

Os filhos são livres — Quando Pedro voltou à ca-sa, Jesus antecipou-se ao que ele ia dizer, e pergun-tou-lhe: "De quem cobram os reisi da terra os tributos, ou o censo? De seus filhos ou dos alheios?"

"Dos alheios", respondeu Pedro."Logo, são livres os filhos", disse Jesus, querendo

dizer que desde que esse dinheiro de tributo se desti-nava à manutenção da casa de Seu Pai, Ele, o Filho, não teria que pagá-lo; mas acrescentou:

"Mas para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca encontrarás um státer; toma-o e dá-o por inim e por ti:" (Mateus 17:24-27).

Esta experiência deve ter introduzido na mente de IPedro de que é melhor sofrer ofensa do que ofen-der.

UMA LIÇÃO DE PERDÃO

Mais ou menos nessa ocasião, Pedro perguntou: "Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra

mini e eu lhe perdoarei? Até sete? (Mateus 18:21). Talvez já estivesse sido necessário que Pedro re-

Holvesse alguma dificuldade entre os homens em dis-

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puta ou pode ser que ele tenha sido provocado durante o argumento que surgiu entre os discípulos, sobre quem era o maior entre eles. Se algum deles o tivesse insultado por ele ser o maior, é muito provável que sua paciência se tivesse esgotado. De qualquer forma, ele queria saber se há um limite no número de vezes que um homem deveria perdoar seu irmão. Que grande lição deu a este impetuoso apóstolo quando respondeu: "Não te digo: Até sete, mas até setenta vezes sete". (Mateus 18:22).

Então, para tornar o ensinamento mais firme, o Senhor lhes contou a parábola do servo impiedoso.

Um certo rei quiz fazer contas com seus servos, para ver os que lhe deviam e descobriu que um lhe de-via dez mil talentos. O servo não podia pagar esta di-vida, e assim o rei ordenou que fosse vendido, junta-mente com sua esposa e filhos e tudo o que tinha. O servo pediu misericórdia, dizendo: "Senhor sê generoso para comigo e tudo te pagarei."

"Então o senhor daquele sorvo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida."

O rei não somente teve piedade do infeliz devedor, como também o libertou da prisão, deixando que fi-casse com sua esposa e filhos e cancelou a divida.

O Servo ingrato — Mas, aquele mesmo servo saiu e encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros, milhares de vezes menos do que o primeiro servo devia a seu mestre.

Lançando mão do seu conservo, sufocava-o, dizen-do: "Paga o que me deves".

Então o seu conservo, prostando-se aos seus pés, rogava-lhe misericórdia, dizendo: "Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei".

Mas o maldoso servo, recusando-se a ter piedade, "foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida".

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Assim, quando o seu senhor ouviu como o servo a quem ele havia perdoado, havia tratado o seu conservo, chamou-o à sua presença e disse: "Servo malvado, perdoei-te Ioda aquela dívida, porque me suplicaste; não devias tu igualmente ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?

A este servo impiedoso foi ordenado que pagasse os dez mil talentos, e foi entregue aos "atormentadores" até que pagasse tudo o que devia.

Então concluiu o Salvador: "Assim vos fará tam-bém meu Pai celestial se do coração não perdoardes cada um a seu irmão as suas ofensas". (Mateus 18: 23-35).

Será que Pedro se esqueceu da lição?

A RECOMPENSA DO SACRIFÍCIO

O governador jovem e rico — Um dia Pedro e os outros ouviram uma conversação entre o seu Senhor e um rico e jovem governador. Era jovem e rico e, como pintado pêlos antigos mestres, muito simpático. Ele havia se mantido moralmente limpo e queria conseguir a vida eterna. Mas seu coração estava com suas riquesas; assim, quando o Salvador disse: "vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres, e terias um te-souro no céu; vem e segue-me", o jovem se afastou muito triste.

Então Pedro disse: "Eis que nos deixámos tudo e te seguimos". Era o mesmo que dizer: Senhor, deixa-mos tudo por sua causa, agora qual será a recompen-sa?" Jesus disse:

"...ninguém há que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, e não haja de receber muito mais neste tempo e no sé-culo vindouro a vida eterna".

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"Porém", acrescentou Ele, "muitos primeiros se-rão derradeiros e muitos derradeiros serão primeiros".

Humildade — Esta última afirmativa deve ter con-tido, para Pedro, o primeiro entre os Doze, uma im-portante lição de humildade.

UMA LIÇÃO DE FÉ

Foi provavelmente na terça-feira da última sema-na que Jesus passou com os seus apóstolos, que Pedro chamou a sua atenção para o resultado de uma divina maldição.

A figueira seca — Um dia ou dois antes, Jesus ha-via se afastado de seu caminho para colher alguns fi-gos de uma figueira que ficava a alguma distância. Quando descobriu que a árvore não produzia figos, dis-se que ela jamais produziria frutos novamente. Na manhã desta têrça-feira, £|o passarem os discípulos, "viram que a figueira se tinha secado desde as raízes".

"E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, secou-se".

O Poder da Fé — Jesus respondeu: "Tende fé em Deus. Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. (Marcos 11: 21-23).

Naquele mesmo dia, Pedro, sem dúvúda, estava com os Doze no Monte das Oliveiras, quando eles per-guntaram a Jesus, em particular, sobre a destruição do Templo. (Marcos 13; Mateus 24; Lucas 21)

Guardar mandamentos — A Pedro e a todos, Ele disse: "Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem".

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LIÇÃO 9 NA NOITE DA

TRAIÇÃO

"O ponto mais fraco do homem é o se julgar o mais sábio".

NO CENÁCULO

Na quinta-feira da semana da paixão, Jesus cha-mou Pedro e João a Ele e disse: "Ide, preparai-nos a páscoa para que a comamos". (Lucas, 22-8).

A Páscoa — A páscoa, como lembramos, é o nome dado à festa estabelecida para comemorar o tempo em que o anjo destruidor passou sobre as casas dos he-breus, que haviam sido marcados pelo sangue do cor-deiro. Neste festival, era morto um cordeiro, que era chamado o cordeiro pascoal. * Foi no dia em que o cordeiro deveria ser morto, que Pedro e João foram instruídos para fazer os preparativos.

Um cenáculo é preparado — "Onde queres que a preparemos?", perguntaram eles.

"Eis que quando entrardes na cidade", disse Ele, "vos encontrará um homem, levando um cântaro d'á-gua: seguí-o até a casa em que ele entrar. E direis ao

* N. R. — Perfeita analogia entre a morte do Salvador e a ocasião em que o sangue de um cordeiro inocente marcou as portas das casas daqueles que não iriam ter a visita da morte que ceifaria as vidas dos seus primo-génitos.

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dono da casa. O Mestre te diz: Onde está o aposento cm que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado; aí fazei preparativos".

Os dois apóstolos procederam de acordo com as instruções e fizeram os necessários preparativos.

Na hora determinada Jesus e os Doze se reuniram neste cenáculo. Alguns pensam que foi em casa de Marcos, alguns em casa de José de Arimatéia, mas nós não sabemos e também não tem muita importância. Estamos mais interessados no que aconteceu lá.

Uma reunião solene — Jesus presidiu a festa. De um lado, suficientemente perto para reclinar-se sobre o peito do Mestre, sentou-se João e do outro lado, Pedro. Foi talvez, a reunião mais solene que os Apóstolos tiveram, pois o Salvador disse no princípio da mesma:

"Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus".

Queria dizer que havia chegado a hora em que Seus inimigos viriam para levá-lo e matá-lo.

Quase ao terminar a ceia, Jesus levantou-se de onde estava reclinado, depoz ao lado seus vestidos ex-teriores ,tomou uma toalha e cingiu-se como criado. Tomou então uma bacia d'água e começou a lavar os pés dos discípulos.

Jesus lava os pés dos discípulos — Talvez o Salvador tenha descoberto nas mentes dos discípulos o mesmo pensamento que havia certa vez causado uma disputa entre eles, isto é, quem era o maior. Talvez este pensamento tenha surgido quando eles viram Pedro e João ocupando os lugares de honra. De qualquer modo, seu Senhor, o maior dentre eles, assumiu uma atitude de servo, o menor e mais humilde dentre eles.

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protesta — Quando Ele se aproximou de Pe-dro, esto disse: "Senhor, tu lavas-me os pés a mim?" 1'edm serviria seu Mestre, mas seu Mestre jamais ser.Vini l n r l e !

"O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o Hiilirnis depois", respondeu Jesus. "iNimca me lavarás os pés". "Sc eu te não lavar, não tens parte comigo", continuou Jesus.

Quando Pedro pensou que sua recusa a submeter-HC a ser servido pelo Senhor, podia realmente afastá-lo «Ir si, ele disse:

"Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos <• :i cabeça".

Um Exemplo — "Depois que lhes lavou os pés e tomou os seus vestidos, tornou a se assentar à mesa e lhes disse. Entendeis o que vos tenho feito?" Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. IPois se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós <lcveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também".

Assim, esses doze homens receberam, de maneira clara e prática, a divina lição de utilidade ao próximo. Assim eles aprenderam que aqueles que eram maiores entre eles, eram em verdade servos de todos.

"f/m de vós me há de trair" — Imediatamente após esta impressionante e sagrada cerimónia, cujo signifi-cado completo apenas alguns compreendem, o Senhor disse: — Um de vós me há de trair".

lista notícia lançou tristeza sobre todos. O dá-la, lê/; com que perturbação viesse sobre o "espírito" de Cristo e o ouvi-la fez todos muito tristes.

Começaram a perguntar uns aos outros qual deles seria tão infiel; e logo cada um perguntava ao Mestre, "Porventura sou eu, Senhor?"

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Judas, o último de todos disse: — "Porventura sou eu, Rabi?"

Jesus respondeu: — "Tu o disseste". A sua respos-ta entretanto, parece não ter sido ouvida pêlos outros, porque Pedro pediu a João que perguntasse ao Mestre "quem era aquele de quem ele falava". (João 13).

Jesus respondeu com voz baixa: — "É aquele a quem eu der o bocado molhado".

Judas Iscariotes — E molhando o bocado, deu-o a Judas Iscariotes. Pedro e João, então souberam quem era o traidor; mas os outros provavelmente não o sa-biam; pois não compreenderam Jesus quando disse a Judas: "O que fazes fá-lo depressa".

LEALDADE COMO PEDRO A SENTIA

Após ter desaparecido na noite o traidor — oh! que noite para ele! — Jesus continuou a ensinar e a consolar os Onze.

Amai-vos uns aos outros — "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis".

Entre outras coisas, Ele disse, referindo-se à apro-ximação da morte: "Para onde eu vou não podes agora seguir-me".

Isto aumentou o amor de Pedro e ele perguntou: "Porque não posso seguir-te agora? Por ti darei a mi-nha vida". (João 13: 34-37).

Pedro seria experimentado — "Simão, Simão, eis que Satanaz vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, (isto é, voltar a ser discípulo penitente) conforta a teus irmãos". (Lucas 22: 31-32).

Isto aborreceu Pedro grandemente. Pensar que seu Mestre levemente suspeitaria que ele, Pedro, enfra-

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queceria em sua firmeza no Senhor (é significativo qu« o Senhor o tivesse chamado pelo seu antigo nome, Si-mão) !

Pedro, protestando, disse "Senhor, estou pronto ;» ir contigo até a prisão e à morte" (Lucas 22:33).

Uma Profecia — Digo-vos Pedro", continuou Jesus "que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces".

Mas ele falou com grande veemência: "Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E o mes-mo todos os discípulos disseram" (Mateus 26:35).

Pedro foi sincero em todas as palavras que disse c sentiu-se profundamente a verdade do que disse; mas sua força real ainda não tinha vindo a ele e seu Mestre o sabia. Viria, mas nasceria do profundo silêncio de um coração sofredor.

A LEALDADE COM QUE PEDRO AGIA

Getsemane — Mais tarde naquela noite, o grupo deixou o cenáculo, atravessou o regato Kedron, e diri-giu-se ao Jardim Getsemane, ao oeste do Monte das Oliveiras.

Mandando que oito dos Doze permanecessem jun-tos, Ele tomou os outros três, Pedro, Tiago e João apar-te. Sua alma estava "cheia de tristeza até à morte".

Ele disse: "Ficai aqui e velai comigo".Não como eu quero mas como tu queres — Afastando-

se um pouco deles, orou. Os apóstolos puderam vê-lo e talvez ouvi-lo, ao dizer: "Meu Pai, se é possi-vel, passe de mini este cálice; porém, não como eu que-ro, mas como tu queres". (Mateus 26).

Ao voltar, encontrou os três dormindo e disse "Si-mão (chama-o Simão novamente) dormes? Não podes vigiar uma hora?"

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"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação", o Espírito na verdade, está pronto, mas a carne é fra-ca".

A sonolência de Pedro e de seus irmãos — Afastou-se novamente; novamente voltou e novamente en-controu-os dormindo, "porque os seus olhos estavam pesados e não sabiam que responder-lhe".

Ao voltar pela terceira vez, disse com bondade "Dormi agora e descançai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores".

Após um sono um pouco mais longo, os três foram despertados por Jesus, apenas para ver aproximando-se "uma grande multidão com espadas e varapaus, da parte dos principais dos sacerdotes e dos escribas e dos anciãos"; à frente estava Judas que se aproximou do Senhor e traiu-o com um beijo.

Pedro defende seu Senhor — Ao aproximarem-se os soldados para lançarem suas mãos sobre Jesus, Pedro que agora estava completamente acordado, saltou para libertar seu Mestre e, tomando "a espada, desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha direita".

Este servo, cuja orelha direita Pedro cortou, com um só golpe chamava-se Malco.

Uma lição — "Mete a sua espada na bainha',' or-denou o Salvador, "não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" Que lição para Pedro! Apesar do dever o ter conduzido ao sofrimento e à morte, mesmo assim o Senhor não fraquejava em sua força.

Então disse Jesus: "Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou". (Lucas, 22:52).

Ao levarem os oficiais a Jesus, os discípulos dei-xando-os, fugiram.

Pedro segue Jesus — A força de Pedro e sua leal-dade oscilavam; mas ele não podia fugir com os ou-

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tros. Nem podia ele concluir que seria melhor ir com Jesus. Assim, ele não fez nem um e nem outro, mas "o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote".

A princípio, ele permaneceu no exterior, mas mais tarde aventurouse no palácio, onde estavam os criados.

A FRAQUEZA TRAZ SOFRIMENTO

Enquanto Pedro estava sentado ao pé do fogo. aquecendo-se, entrou uma criada e, reconhecendo-o como um dos que tinham estado com Jesus disse: "Tu também estavas com Jesus da Galiléia".

Num momento de fraqueza — "Não sei o que dizes" disse Pedro diante de todos.

Saiu então para fora, talvez para esfriar sua consciência que queimava ou para resolver o que seria melhor fazer.

Uni homem, vendo-o lá, gritou: "Este também es-tava com Jesus de Nazaré".

"Não conheço tal homem" disse Simão; e neste momento fez um juramento.

Um dos servos do sumo sacerdote, que era paren-te de Malco, aproximou-se de Pedro um pouco mais tarde e disse: "Não te vi eu no horto com ele?" (João 18:26).

Então ele começou a praguejar e jurar dizendo: "Homem não sei o que dizes". Neste momento, Pedro ouviu o galo cantar.

Dor — Quase imediatamente também, o Salvador passando por ele, voltou-se e olhou para Pedro. Então, lemlbrando-se das palavras do Seu Senhor, "Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes", Pedro saiu e chorou amargamente.

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LIÇÃO 10 DA

ESCURIDÃO PARA A LUZ

"A força nasce do profundo silêncio e dos corações sofredores e não da alegria".

—x. x. x. x—

Força oriunda da fraqueza — Diz-se que quando Pedro se afastou, sem fala, da face de todos e, cheio de silêncio, chorou amargamente, sua dor era tão grande que ele permaneceu sozinho durante a Sexta-feira e o Sábado, após a crucificação do Salvador. Se assim foi, sua dor pelo que havia feito, tornou-se muito mais profunda ao lembrar-sc das muitas palavras bondosas que o Salvador lhe havia dito e dos muitos e muitos momentos fcli/es que ele havia passado em companhia do Salvador, dada palavra, alo e olhar associados com seu Mestre surdia c-in sua mrnlc com uni novo signifi-cado. Talvez pela primeira vê/ em sua vida compreen-dia porque o Senhor linha querido que sua natureza e fé fossem como uma "pedra". Através de amargas lágrimas, ele viu todos os verdadeiros atributos da hu-manidade, personificados em .k sus. Reverência, Fra-ternidade, Paciência, Sinceridade, Coragem. Estas e muitas outras qualidades nobres faziam Jesus parecer a ele grandioso e, mais claramente compreendia sua pequenez e miséria. Esta última manifestação de sua fraqueza, que o levou a negar o seu Senhor, fez com que ele se visse a si mesmo sob nova luz, e isto teve um efeito decisivo sobre ele. Do profundo silêncio de

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seu sofrimento, naqueles dois dias, nasceu aquela for-ça que Cristo lhe tentava dar desde que o chamara "Pedro".

Uma triste reunião — Deve ter sido uma triste reu-nião quando João e Pedro reuniram-se pela primeira vez após a crucificação. Quando foi, ou onde, não nos é dito; mas estamos certos de que João deve ter reconhecido uma grande mudança em seus companheiros apóstolos. Do olhar macilento e das profundas linhas de dor, deve ter brilhado uma humildade que João jamais havia visto antes na face de 'Pedro. Podemos somente imaginar quais eram os sentimentos de Pedro ao ouvir João contar tudo o que havia acontecido ante Herodes e Pilatos e na Cruz. Misturando-se com a dor de Pedro estava o profundo desapontamento de saber que o Messias, seu Rei, não ia libertar os judeus e governá-los como ele havia esperado. Em dúvida sobre o que fazer, eles provavelmente decidiram visitar o lugar onde seu Mestre havia sido posto e então voltar à sua antiga profissão de pescadores.

No Sepulcro — Mas havia uma cujo amor e devo-ção a conduziram ao túmulo mesmo antes dos após-tolos. Maria Madalena, quando ainda estava escuro, aproximou-se do lugar onde pensava que Jesus dormia na morte. Mas em vez de ver o corpo de seu Senhor no sepulcro frio e escuro, ao redor do qual nada mais havia além de tristeza e dor, ela encontrou um túmulo vazio. Alarmada, correu a Pedro e João e, sem fôlego, gritou: "Levaram o Senhor do sepulcro". "Então Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao sepulcro". A princípio eles correram juntos, mas Pedro, já cansado do sofrimento, logo se distanciou do Apóstolo João que era mais jovem, e que alcançou o local primeiro. "E abaixando-se, viu postos os lençóis; todavia não entrou".

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Olhar para dentro, contudo, não satisfez Pedro; pois assim que chegou, "entrou no sepulcro". João o seguiu. Notaram que o lenço que tinha sido posto sobre a cabeça de Jesus não estava com os lençóis enrolado num lugar à parte; os lençóis de linho também, estavam bom dobrados c colocados ao lado, com cui-dado, files concluíram que ladrões não teriam feito isto o assim desfizeram a teoria de Maria pela qual o corpo do Senhor havia sido roubado. Mas, "ainda não sabiam a Escritura: que era necessário que ressuscitas-se dos mortos".

Maria vê o Redentor Ressuscitado — Perplexos e cheios de admiração, os dois discípulos "tornaram pa-ra casa" mas Maria permaneceu perto do túmulo, e como recompensa por sua fidelidade e devoção, tornou-se a primeira pessoa no mundo a ver o Redentor ressuscitado.

Pedro vê seu Senhor — Outras mulheres que ti-nham vindo ao túmulo naquela manhã para render, como pensavam, o último serviço ao Senhor, também puderam vê-lo. Mais tarde, no mesmo dia, Ele deve ter aparecido a Pedro; mas onde, ou sob quais circuns-tâncias, ou o que foi dito, não sabemos. Podemos ter certeza, contudo, que a alma arrependida de Pedro encheu-se de eterna alegria ao receber o perdão divino de Seu Senhor.

Os discípulos de Emaús — Naquela noite, ao se reunirem os Onze no cenáculo, discutindo os aconte-cimentos do dia e particularmente a aparição do Se-nhor a Pedro, entraram dois discípulos de Emaús. Lo-go ao entrarem na presença dos Onze, ouviram a ma-ravilhosa mensagem "Ressuscitou verdadeiramente o Senhor e já apareceu a Simão". Eles podiam crer pron-tamente nisto pois contaram que quando voltaram de Jerusalém, naquele dia, tendo ouvido dos anjos e do

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sepulcro vazio, Jesus em pessoa aproximou-se e foi com eles.

Jesus apareceu aos onze — Enquanto estavam assim reunidos, Jesus apareceu a eles novamente e disse-lhes: Paz seja convosco". Cenas como estas não podem ser descritas e os evangelistas que nos contam a respeito dela simplesmente mencionam o fato e nos deixam imaginar o que eles pensaram e sentiram naquela gloriosa ocasião.

O PESCADOR SE TORNA PASTOR

No Mar de Tiberíades — Viários dias depois disto Pedro e seis outros discípulos estavam de volta ao mar de Tiberíades, pescando. Estavam na Galiléia, evi-dentemente esperando encontrar o Senhor lá como Ele havia prometido. Uma noite, como se já estivesse quase desesperado de esperar disse ele aos outros:

— "Vou pescar".— "Também nós vamos contigo" disseram eles.Entraram num barco imediatamente e baixaram

suas redes. Trabalharam a noite toda e nada pesca-ram, da mesma forma como havia acontecido numa noite memorável alguns meses atrtás.

Ao levantar-se a manhã, viram um homem de pé na praia, porém, à distância, não puderam reconhecê-lo. De repente o homem gritou:

Muitos peixes são apanhados — "Filhos, tendes al-guma coisa de comer?"

— "Não", foi a resposta."Lançai a rede para a banda direita do barco e

achareis, disse o homem.Assim fizeram e apanharam tantos peixes que

mal podiam retirar a rede.

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João cujos olhos cheios de amor foram feitos mais agudos por um coração cheio de amor, correu ao lado de Pedro e murmurou: — "É o Senhor".

No mesmo momento, Pedro sabia que João havia falado a verdade e, homem de ação que era, colocou seu paletó de pescador, mergulhou no mar e correu aos pés do seu Mestre. Os outros vieram no pequeno barco, arrastando uma rede de peixes.

Jesus já havia começado a acender fogo, e estava cosinhando algo para comer. Após as saudações, Ele disse: "Trazei dos peixes que agora apanhastes".

Pedro foi à rede fez com que fosse puxada para a terra. Enquanto os peixes estavam cosinhando, os dis-cípulos contaram o número apanhado e verificaram que duma vez haviam cento e cincoenta e três e, "sen-do tantos, não se rompeu a rede".

Pedro, um Pastor do rebanho de Cristo — Jesus havia lhes mostrado onde apanhar os peixes, havia acendido o fogo sobre o qual cozinhá-los e agora "tomou o pão c deu-lhes e, semelhantemente, o peixe". Certamente estes pequenos incjidentes serviam para salientar a eles a verdade de que se eles 'buscassem primeiramente o Heino de Deus o a sua justiça tudo o mais lhes seria acrescentado. De qualquer modo, esta foi a lição ensinada na grande ocasião: Os apóstolos não deveriam agora passar suas vidas buscando as coisas que perecem, mas procurando almas que durariam através de toda a eternidade. Muitos estariam então reunidos no redil de Crislo, e o pastor foi dele afasta-do. Daquele momento em diante Pedro e seus compa-nheiros deveriam ser os guardadores deste rebanho.

Quando eles quebraram seu jejum, Jesus disse a Simão Pedro, "Simão, f i lho de Jonas, amas-me mais do que estes?"

— "Sim, Senhor; tu sabes que te amo", respondeu Pedro.

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— "Apascenta os meus cordeiros". Isto é, lomr ton-ta dos pequeninos da minha Igreja. Não deixe que se afastem por veredas que os levarão ao pecado e ú mi-séria.

Disse-lhe ele novamente, pela segunda vez:— "Simão, filho de Jonas, amas-me?"— "Sim, Senhor: Tu sabes que te amo".— "Apascenta as minhas ovelhas". Mantenha os

mais velhos juntos e dê-lhes as palavras de vida como as tens recebido de mini.

Unxa terceira vez. Jesus disse:— "Simão, filho de Jonas, amas-me?" E Pedro, entristecido, respondeu: — "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo".

— "Apascenta as minhas ovelhas".O Dever Primeiro — Então o Salvador admoestou

Pedro a não seguir sempre as suas próprias inclinações e a sua natureza impulsiva, mas sempre fazer o seu dever como Pastor do Rebanho. Quando Pedro era jovem, e não possuia o conhecimento e responsabilidade de agora, podia ir pescar, ganhar dinheiro, ou estudar, ou fazer qualquer outra coisa que queria, mas agora precisava realizar seus deveres no Reino de Deus, não importando o que pudesse suceder ia ele pessoalmente ao fazer isto. Apesar dos deveres de Pedro o levarem à cruz, o Salvador disse: — "Siga-me".

Enquanto esta conversação se desenvolvia, Jesus e Pedro estavam conversando a sós um pouco adiante dos outros.

— Senhor, disse Pedro, o que seria de João?— "Se eu quizer que ele fique até que eu venha,

que te importa a ti? Segue-me tu". Era o mesmo que dizer. Limite-se aos seus deveres, Pedro, ensine os ou-tros a fazerem o mesmo e tudo estará bem.

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Esta é a última palavra registrada de Cristo a Pedro, mas ele estava presente, naturalmente, quando o Salvador deu suas últimas instruções aos Doze (Veja Marcos 16:16).

Deste tempo em diante, o zelo de Pedro no traba-lho do seu Ministério foi constante e sua ousadia insu-perada.

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LIÇÃO 11 UM VERDADEIRO

LÍDER E VALOROSO DEFENSOR

"A recompensa de alguém pelo cumpri-mento do seu dever é a capacidade de poder cumprir outros deveres". —x. x. x. x—

Com o conhecimento de que Jesus Cristo era seu Salvador, que ele era mais feliz quando ele, Pedro, fazia o que o Senhor queria que ele fizesse, e que quando ele agia errado ou cedia à tentação do mal, ele era infeliz, Pedro iniciou sua grande missão como principal apóstolo e presidente dos Doze.

Em Jerusalém — De acordo com a ordem do Sal-vador, pela qual eles não deviam sair de Jerusalém, até que tivessem recebido o Espírito Santo, Pedro, por algum tempo após a ascenção do Senhor, estabeleceu-se na Cidade Santa. Aqui, ele, Tiago e João e outros dos Onze, frequentemente reuniam-se num cenáculo, talvez no mesmo em que Jesus havia comido a páscoa com Seus discípulos. Com eles estava Maria, a Mãe de Jesus e algumas outras mulheres.

UM APÓSTOLO ESCOLHIDO

Numa dessas ocasiões, estavam presentes cento e vinte pessoas. "Todas perseverando unanimemente em oração e súplicas". Pedro se levantou em seu meio e disse que era necessário escolher um homem que ti-vesse sido fiel em seguir o Salvador, para tomar o lu-

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gar do traidor, Judas, no Quorum dos Doze Apóstolos. Dois nomes foram sugeridos: José, chamado Barsabás e Matias. Sabendo que o Senhor é que deveria escolher os homens que deveriam ser suas testemunhas espe-ciais, eles oraram, dizendo: "Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos mostra qual destes dois tens es-colhido". Então lançaram sortes e caiu a sorte sobre Matias; e "foi contado com os onze apóstolos".

O DIA DE PENTECOSTES

O Espirito Santo — Antes das nove horas da ma-nhã, dez dias após a ascenção do Salvador e cincoenta dias após a Páscoa associada com a crucificação, os Apóstolos realizaram uma reunião memorável. Estan-do "reunidos num mesmo lugar" de repente veio um .so;ii dos céus" como de um vento veemente e encheu toda a casa em que estavam assentados". Assim veio o batismo pelo fogo e o Espírito Santo, como Cristo ha-via prometido. O Confortador sobre o qual seu Mestre havia tantus vezes falado, tinha finalmente vindo a eles, para guiá-los e inspirá-los como Jesus havia feito em pessoa.

O Dom de Línguas — Imediatamente uma maravi-lhosa manifestação teve lugar. — Apesar de quase todos os apóstolos serem Galileus e falarem a mesma lingua, quando passaram a dar o seu testemunho de Cristo e de seu Evangelho, "começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem".

Logo se ouviu em toda a cidade que algo de notá-vel havia acontecido e o povo, em grande número, reu-niu-se ao redor dos apóstolos. Na multidão encontra-vam-se judeus de muitas nações que tinham vindo a Jerusalém para celebrar o dia de Pentecostes. Estes falavam as linguas dos países de onde tinham vindo.

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lutlflinem o seu espanto quando ouviram o evangelho pregado em sua própria língua!

— "Pois que não são galileus todos estes homens (|iic estuo falando?" perguntaram. — "Sim",, foi a resposta.

— "Como pois os ouvimos, cada um, na nossa pró-priti lingua em que somos nascidos?"

Ao contarem os apóstolos, um após outro, da sal-vação dos homens através do evangelho de Jesus Cristo, algumas das pessoas se admiraram, outras se divertiram, mas todos estavam perplexos.

— "Que quer isto dizer?" perguntaram alguns.— "Estão cheios de mosto (isto é: bêbados)".O discurso de Pedro — Então Pedro se levantou e,

com grande poder, dirigiu-se à multidão. "Varões ju-deus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados como vós pensais, sendo a terceira hora do dia.

Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: (Leia tudo o que foi dito, como se acha registrado em Atos 2:14-37).

Sem dúvida, somente uma pequena parte de discur-so de Pedro nos é dada, mas ao lermos suas palavras inspiradas, e ao partilharmos do destemor com o qual disse aos judeus que eles haviam crucificado o Cristo, lornamo-nos prontamente convencidos que a fraqueza que ele manifestou cerca de um mês e meio antes, foi .substituída pela força de um homem de Deus. Naquela ocasião ele havia gaguejado e dito: "Não o conheço", mas agora, ele declarava: "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas".

Seu destemor — Com toda a coragem de sua con-vicção, e como o poder do Espirito Santo, ele acrescen-tou: "Sabia pois com certeza toda a casa d'Israel que

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a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo".

Ao ouvirem da iniquidade da crucificação de Cristo e de muitos outros pecados, desejaram obter perdão pelo que haviam feito, e gritaram a Pedro e aos outros apóstolos:

— "Que faremos, varões irmãos?"Na resposta de Pedro, vemos a porta aberta através

da qual todos precisam passar para serem salvos no Reino de Deus:

"Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados: e recebereis o dom do Espírito Santo".

Então aqueles que acreditaram no que Pedro havia dito, foram batizados; e o pequeno grupo de cento e vinte pessoas cresceu para três mil cento e vinte. E todos os dias, dali em diante, muitos outros foram convertidos e juntaram-se à Igreja.

O HOMEM QUE NÃO ANDAVA

O local de reuniões gerais - Cerca de três horas certa tarde, Pedro e João iam ao Templo para orar. Ali iam Iodos os dias para reunirem-se com os santos e então visitar as casas, "partindo o pão". Assim sendo, o Templo parece ter sido o local de reuniões gerais dos primeiros seguidores do Redentor. Era a Sua casa, e lá eles gostavam de se reunir para adoração. A entrada principal do templo era por intermédio do "Alpendre de Salomão", através dum portão que era chamado "O Belo Portão". Ali se reuniam todas as pessoas pobres, os cegos, aleijados, fracos e doentes — que viviam pedindo esmolas dos que vinham ao Templo.Um Apelo — Certa tarde, um desses fez, um piedoso apelo a Pedro e João. Era um homem de quarenta anos de idade, mas jamais tinha dado um passo

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em sua vida. Os amigos o carregavam lá pela numlul 6 o levavam de volta à noite. Em resposta ao sen pedido de dinheiro, Pedro disse: — "Olha para nós".

A Resposta. — Enquanto o homem tentava adivinhar quanto dinheiro os apóstolos lhe dariam, Pedro acrescentou: — "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-se e anda".

Tomando-o pela mão direita, Pedro levantou-o, e imediatamente os ossos de seus pés e tornozelos rece-beram energia.

O homem ficou tão contente que entrou no tempo saltando e louvando a Deus pelo grande milagre que tinha vindo à sua vida.

Novamente o povo ficou "cheio de pasmo e assom-bro" e reuniram-se em grande número no alpendre de Salomão ,olhando para Pedro e João e tentando adivinhar que espécie de homens eram.

Outro impressionunte discurso. — Aqui Pedro fez outro grande discurso no qual ele disse que este homem havia sido curado através da fé no nome de Jesus Cristo, a quem Deus glorificou e a "quem vós entregastes e, perante a face de Pilatos negastes, tendo este determinado que fosse solto.Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas. (Atos 3:12-26).

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LIÇÃO 12 PEDRO E

JOÃO APRISIONADOS

"Pois nenhum bem é feito, ou dito, ou ima-ginado pelo homem, sem o auxílio de Deus... portanto nenhum mal é feito, ou dito, ou imaginado, sem o auxílio do Demónio".

— x . x . x . x —

Pedro é interrogado. — Quando Pedro ainda estava pregando aos milhares que se achavam no "alpendre de Salomão", viu aproximar-se do castelo perto do Templo, o capitão da guarda e seus comandados.

Os sacerdotes judeus tinham ficado enciumados e desconfiados dos apóstolos e olhavam com alarme para os milhares que se juntavam à Igreja. Assim decidiram chamar seus soldados, dispersar a multidão e prender Pedro e João como homens responsáveis por toda aquela agitação. Contudo, cerca de cinco mil pessoas foram convertidas naquela tarde.

Aprisionados. — Assim os soldados "lançaram mão deles e os encerraram na prisão pois era já tarde" e, portanto não dava mais tempo de levá-los a julgamen-to. Apesar de terem sido encerrados em celas fechadas, seus espíritos estavam livres e suas consciências limpas. Podiam dormir mais socegadamente do que o sacerdote que havia sido responsável pela sua prisão.

Perante o Sinédrio. — Pela manhã os prisioneiros foram levadas ao Sinédrio, onde se assentava Anãs, o

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N I I I I K I Hiiccrdote e Caifás, e João c Alexandre, c parcn li ••, i In Mimo-sacerdote. Estes homens haviam condenado JCMIS, talvez naquela sala, e haviam determinado que a pregação em nome de Jesus de Nazaré deveria terminar.

Outros estavam presentes naquela manhã, e entre t'11 es, verdadeiros amigos dos apóstolos. Um deles era o aleijado que havia sido curado.

Curiosidade e Espanto. — Como ele havia sido a causa inocente da reunião da multidão na noite ante-rior, todos pareciam estar ainda mais interessados nele do que nos prisioneiros. Ele havia sido carregado, sabiam todos, somente há vinte e quatro horas atrás para o portão do templo e agora estava andando firmemente através da multidão para aproximar-se dos apóstolos.

"Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?" perguntou um dos Juizes.

Então Pedro cheio do Espírito Santo lhe disse: — "Principais do povo, e vós, anciãos d'Israel.

Visto que hoje somos interrogados acerca do bene-fício feito a um homem enfermo, e do modo como foi curado".

Pedro testifica de Cristo — "Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo dlsrael, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos em nome desse é que este está são diante de vós".

Como aqueles homens pecadores devem ter fra-quejado ao ver a dignididade de Pedro, sentir sua sin-ceridade e ouvir as agudas palavras que penetravam suas almas culpadas!Disse-lhes mais que não poderiam obter salvação a menos que também eles tomassem sobre si mesmos o nome de Cristo: "porque também debaixo do céu ne nhum outro nome há, dado entre os homens, pelo q mi l devemos ser salvos".

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O que poderiam dizer os sacerdotes? O que pode-riam fazer? Nada.

Os Inimigos ficam confusos. — Lá estava um ho-mem curado e são, que havia estado inutilizado por quarenta anos!

Lá estava Pedro, ousadamente proclamando que o milagre fora operado em nome de Jesus de Nazaré, a quem haviam condenado à morte.

Eles consideravam Pedro como sem instrução, mas ele os havia aturdido a todos.

Conselho. — Após mandar que os prisioneiros fos-sem levados para outra sala, disseram entre eles: "Que havemos de fazer a estes homens porque a todos que habitam em Jerusalém é manifesto que por eles foi fei-to um sinal notório, e não o podemos negar".

Assim, para que a doutrina que os apóstolos esta-vam pregando não se esparramasse mais, eles combi-naram de ameaçar Pedro e João e mandar que eles não falassem "nesse nome" a homem algum.

Chamando os prisioneiros novamente à sua pre-sença, disseram-lhes que "absolutamente não falassem, nem ensinassem no nome de Jesus".

Disseram os Apóstolos: "Julgais vós se é justo di-ante de Deus, ouvirmos antes a vós do que a Deus?"

É melhor obedecer a Deus que aos homens". — "Porque não podemos deixar de falar do que temos vis-to e ouvido".

Sem dúvida estes sacerdotes teriam punido os após-tolos naquele momento se não tivessem medo do povo, "porque todos glorificavam a Deus pelo que acon-tecera" .

Quando foram postos em liberdade, (Pedro e João foram "para os seus" e contaram aos seus amigos tudo o que havia acontecido. Quando ouviram estas coisas, os santos uniram-se em oração de graças a Deus por todas as Suas bênçãos. (Atos 4:23-31).

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Nesta reunião verificou-sc nova e poderosa manifestação do Espírito Santo "e anunciavam com ousadia a palavra de Deus".

PERIGO DENTRO DO REDIL

Infiéis. — Estes líderes tinham que lutar não so-mente com os inimigos fora da Igreja, mas com o povo contencioso e desonesto que havia penetrado no redil. Havia homens e mulheres que não haviam se arrepen-dido de seus pecados antes de serem batizados; portanto não haviam recebido o Espírito Santo.

Dois destes eram Ananias e sua esposa Safira.Todos que se filiavam à Igreja tinham tudo em

comum. Aqueles que tinham terras e outras proprie-dades, vendiam-nas e traziam o dinheiro aos Apósto-los . Não havia ricos e nem pobres — todos tinham tudo que os outros tinham e o que um possuía pertencia a todos.

Dois enganadores. — Aranias e Safira venderam uma propriedade mas trouxeram somente parte do dinheiro e disseram que era tudo. Assim eles disseram uma mentira, e, mostraram pertencer à pior classe do mundo.

A mentira é descoberta. — Através da inspiração do Espírito Santo, Pedro descobriu a mentira e disse a Ananias: "...porque encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo, o retivesses par-te do preço da herdade?"

A severa punição. — "Porque formaste este desíg-nio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus".

"E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou".

Cerca de três horas mais tarde, sua esposa entrou e contou a mesma história que seu marido. Ela, lam-

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bem, recebeu a divina repreensão e pagou a penalida-de de seu pecado, pela morte.

Depois disto, ninguém ousava enganar os apóstolos ao fazer suas contribuições à Igreja.

Esta é uma boa lição para todos guardarmos em mente hoje em dia, especialmente quando pagarmos dizimos ao Senhor.

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LIÇÃO 13

PERSEGUIDOS MAS INCANSÁVEIS

"Eu não amaldiçoarei Senhor, pois ouvi dizer que uma maldição é como uma pedra atirada para os céus e cai sobre a cabeça de quem atirou".

—x. x. x. x—l

A sinceridade com que Pedro e os outros Apóstolos pregavam o Evangelho de Jesus Cristo tinha um ma-ravilhoso efeito sobre as multidões que os ouviam. No alpendre de Salomão, dia após dia, homens e mulhe-res ouviam os Doze testificarem que o Redentor do Mundo tinha vindo de fato.

Doentes são curados. — Estes testemunhos eram corroborados também, por maravilhosas manifestações, pois "muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos". Tão grande era a fé no poder de Deus que "transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em macas para que ao menos a sombra de Pedro, quando estes passasse cobrisse alguns deles".

As pessoas doentes de Jerusalém não eram as úni-cas abençoadas; pessoas das cidadezinhas perto de Je-rusalém que estavam doentes e afligidas por espíritos maus, apelavam aos apóstolos, e pelo poder de Deus, eram curadas.Regozijo e união. — Deve ter sido para Pedro e seus companheiros apóstolos um motivo de alegria ver

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o interesse e a fé de tantos milhares, na mensagem de Cristo. Que alegria, também, nos corações de todos aqueles inválidos que, curados, pulavam de suas camas e também louvavam o Redentor! Como os Doze devem ter se amado mutuamente e as batidas de seus cora-ções devem ter sido como uma, pois, dia a dia, eles le-vavam seu testemunho da morte e ressurreição de seu Senhor e recebiam certeza divina de que Ele ainda esta-va se manifestando a eles através do Espírito Santo! Como este Espírito permeava aqueles que se juntavam à Igreja, não é de se admirar que a multidão dos que acreditavam tivessem um só coração e uma só alma!

Ódio. — Mas haviam alguns homens em Jerusa-lém que tinham muitos ciúmes dos Apóstolos, e cujos corações estavam cheios, não de alegria, mas de inve-ja. Esses homens tinham sido os líderes na crucifica-ção de Jesus. Diz-se que: "Logo que se levanta um templo a Deus, o demónio levanta uma capela ao la-do". Assim, enquanto o Senhor derramava o espírito de amor sobre aqueles que se ligavam à Igreja, o de-mónio derramava ódio no coração dos que eram maus e não queriam se arrepender.

Pedro é aprisionado. — Assim, "levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, enche-ram-se de inveja, e lançaram mãos dos apóstodos e os puzeram na prisão pública". Estes governadores igno-rantes e cheios de preconceitos estavam determinados a fazer com que os Doze cessassem de pregar Crist* porque se o que os Doze diziam fosse verdade, estes magistrados seriam culpados da morte do Rei dos Ju-deus. Mas o homem fraco e pusilânime não pode inter-romper o trabalho do Senhor.

Uma libertação milagrosa. — Durante a noite, en-quanto os prisioneiros estavam reunidos na prisão —talvez cantando e orando — um anjo do Senhor lhes

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apareceu. Abriu as portas da prisão, trouxe-os para fora e disse:

"Ide, e apresentai-vos no templo e dizei ao povo todas as palavras desta vida".

A respeito desta ordem, George L. Weed escreve: "Ide" — apesar das ameaças e comando, ferrolhos e barras e guardas da prisão. Em nome Dele que lhes ordenou "Ide e pregai meu Evangelho", "apresentai-vos no templo" — exatamente o mesmo lugar de onde haviam sido expulsos — "dizei ao povo" todos os que ouvirem, pois seu Mestre que é também o meu, é o Sal-vador de todos eles. Dizei todas as palavras desta vida — "a prometida vida futura da qual a ressurreição de Jesus é a primeira realização".

Obedientes à ordem do anjo, os Doze entraram no tempo bem cedinho e ensinavam. Como sua mensa-gem deve ter emocionado os ansiosos ouvintes que ha-viam se reunião tão cedo para ouvir a palavra de Deus!

Os judeus ficam perplexos. — Na mesma hora da manhã um outro grupo se reuniu. O surno sacerdote chamou seu conselho e "todos os anciãos dos filhos de Israel". Quando o conselho estava reunido, o sumo sacerdote mandou buscar Pedro e seus irmãos na pri-são. Logo os oficiais voltaram dizendo:

"Achamos realmente o cárcere fechado, com toda segurança e os guardas que estavam fora, diante das portas; mas quando abrimos, ninguém achamos dentro".

Perplexos por este inesperado acontecimento, o su-mo sacerdote e o conselho pareciam ser incapazes de decidir exatamente o que fazer. Enquanto ainda bus-cavam uma explicação satisfatória ou decidiam qual o próximo passo a dar, entraram alguns dizendo:

"Eis que homens que encerrastes na prisão, estão no Templo e ensinam ao povo".

Ao ouvir isto o capitão do templo com seus oficiais foram buscar os Apóstolos para colocá-los ante o con-

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selho. Então os oficiais trouxeram-nos sem violência, isto é sem feri-los e sem brutalidade, "porque temiam ser apedrejados pelo povo".

Perante o conselho. — Assim que os Doze apare-ceram, o sumo sacerdote perguntou: "Não vos admoes-tamos nós expressamente que não ensinásseis nesse no-me? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa dou-trina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse ho-mem".

Seu coração cheio de preconceito o induzia a falar de Jesus sem nem siquer mencionar o seu nome. Mas mesmo em sua rudeza, ele nos dá um grande tes-temunho do sucesso da pregação dos Apóstolos. "En-chestes Jerusalém dessa vossa doutrina" disse ele, "e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem". Te-ria o sumo sacerdote se esquecido então que os Judeus gritaram no julgamento de Jesus "O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos?" Se assim era, devem ter se sentido temerosos de que se cumprisse a impre-cação.

Então disse Pedro e os outros apóstolos:"Mais importa obedecer a Deus que aos homens".

Mostrando tanta ansiedade quanto o sumo sacerdote havia manifestado relutância ao nome de Jesus, Pedro acrescentou:

Um discurso ousado — "O Deus de nossos pais res-suscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro. Deus com a sua dextra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados. E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo".

Esse ousado discurso foi como uma agulhada no coração dos juizes iníquos. Enfureceu-os tanto que eles falaram em matar os Doze, da mesma forma como haviam matado o Salvador.

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A Defesa 'de GamtílieJ,. — Mas havia x hábil ad-vogado entre eles, que tinha justiça em seu coração. Seu nome era Gamaliel. Levantou-se entre eles e disse que levassem os Apóstolos para fora por um pouco de tempo.Quando isto foi feito, ele continuou: "Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém, a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens, o qual foi morto e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada; e depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos". Agora vos digo: deixai estes homens; porque se esta obra é dos homens, perecerá; mas se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça porventura, serdes achados combatendo contra Deus". (Atos 5:33-39).

Espancados e libertos. — Prevaleceu a influência de Gamaliel; e a vida dos apóstolos foi poupada; mas não foram soltos antes de serem espancados e ordena-dos a não falarem no nome de Jesus. Cada um foi amarrado pela cintura com os braços amarrados numa coluna baixa, para que se pudessem inclinar a fim de que as batidas os atingissem mais facilmente e receberam trinta e nove chicotadas.

Ao deixarem a câmara do conselho, com suas fe-ridas sangrando, seus corações encheram-se, não de amargura e sofrimento, mas de alegria "regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus".

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LIÇÃO 14 UMA VISITA

ESPECIAL A SAMARIA

Diáconos. — Ao aumentar o número de membros na Igreja, os homens foram chamados e ordenados aos v.ários cargos no trabalho do ministério. Além dos Apóstolos, havia Evangelistas, Pastores, Mestres, Diá-conos, etc. Entre os primeiros a ser escolhidos e orde-nados para um cargo determinado na Igreja, encontra-vam-se "sete varões de boa reputação, cheios do Espi-rito Santo e de sabedoria". Seus nomes eras Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Parmenas e Nicolau. Foram chamados diáconos e um de seus deveres era o de observar a distribuição de alimentos entre os pobres.

O martírio de Estêvão. — Logo após a sua indicação, uma perseguição amarga c cruel levantou-se contra a Igreja em Jerusalém, durante a qual os Santos se esparramaram para fora, pelas regiões da Judéia e Samaria. Estêvão, um homem cheio de fé e do Espirito Santo, foi apedrejado até à morte. Filipe desceu para a cidade de Samaria e lá continuou a pregar Cristo aos Samaritanos.

Filipe. — Parece que maior poder acompanhava o ministério de Filipe, pois "muitos espíritos imundos saiam de muitos que os tinham, clamarido em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade". O povo ouvia a mensagem de Filipe e se batisava na Igreja.

Autoridade Limitada. — Mas o batismo pela água não é suficiente. Deve ser seguido pelo batismo do Es-pirito Santo. Parece, contudo, que Filipe, apesar de ter

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autoridade para batisar, não tinha o direito de conferir o Espírito Santo. Ele, portanto, tinha o cargo de sacerdote.

O Espírito Santo. — Quando a notícia de que Sá. maria havia recebido o Evangelho chegou a Jerusalém, "enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo desci-do, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo". Sobre as cabeças destes crentes batisados, Pe-dro e João punham suas mãos e lhes conferiam o Espi-rito Santo.

Pretendentes. — O Senhor não aceita na Igreja to-dos os que são batisados. Sòmentes aqueles que since-ramente acreditam em Jesus Cristo como o Redentor do Mundo e que se arrependem de seus pecados e recebem o Espírito Santo. Aqueles que são batizados sem fé e arrependimento, são meros pretendentes.

Uma pessoa nessas condições juntou-se à Igreja da Inglaterra há alguns anos atrás. Um dia um membro, vendo que o jovem não tinha fé, perguntou-lhe porque havia se juntado 'à Igreja. "Oh, só para sair da Améri-ca", respondeu ele.

Um pouco mais tarde, em conversação, confessou ter se afiliado à Igreja Católica uma certa vez, para conseguir um rosário, e mais tarde juntou-se à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, para vir a Utá. Naturalmente, não demorou muito para que fosse excomungado e um pouco mais larde caiu nas profun-dezas do pecado e da miséria.

Simão, o Feiticeiro. — Na ocasião em que Filipe foi a Samaria, havia um homem chamado Simão na ci-dade, que era um grande pretendente. Ele clamava ser um feiticeiro, e ganhava muito dinheiro enfeitiçando as pessoas com as suas mandingas. Contudo, quando o povo ouviu o verdadeiro Evangelho e viu os milagres feitos pelo poder de Deus, perderam interesse nas feiti-çarias de Simão e foram batisados por Filipe.

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"E creu o próprio Simão; e sendo batisado ficou de contínuo com Filipe; e vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atónito". Mas ele não se converteu. Seu único propósito em reunir-se à Igreja era descobrir como esses milagres eram feitos, pensando que poderia usá-los para ganhar dinheiro.

Sua ambição. — Quando Simão viu que através da imposição das mãos dos Apóstolos o Espirito Santo era concedido, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo "Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puzer as mãos receba o Espirito Santo". Pobre homem ambicioso! Sua sede de dinheiro levou-o ao sacrifício de sua própria honra.

Simão é Repreendido. — Se ele pensou que o co-ração de Pedro era tão avarento como o seu próprio, logo se convenceu de que estava errado, pois o apósto-lo indignado, olhando diretamente para a alma sórdida deste mercenário hipócrita, respondeu:

— "O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro.

"Tu não tens parte nem sorte nesta palavra porque o teu coração não é relo d iante de Deus".

"A aparência exterior e as pretenções hipócritas não podiam influenciar Pedro mais do que poderiam conseguir o favor de Deus. Somente era aceitável um coração sincero. Vendo que o coração de Simão estava em conseguir dinheiro, com o sacrifício de sua honra e da contaminação da palavra de Deus, Pedro lhe disse que se arrependesse de sua iniquidade e que orasse a Deus por perdão, "pois", terminou ele, "Vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade".

Tal repreensão encheu o feiticeiro de temor e ele pediu a Pedro que orasse a Deus "para que nada do que disseste venha sobre mim". Pedro continuou a pregar por algum tempo em outras cidades em Samaria e então voltou a Jerusalém.

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LIÇÃO 15 EM

LIDA E JOPE

A Igreja é estabelecida. — Apesar de apenas alguns anos se terem passado desde que os apóstolos tinham recebido a comissão final "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho", através de seu trabalho contínuo e sincero, muitas Igrejas foram estabelecidas em toda Judéia, Galiléia e Samaria. Como era o dever dos doze cuidar dos interesses de toda a Igreja, tornou-se necessário que eles viajassem através de toda a terra dos Judeus. Pedro foi de lugar em lugar, organizando, ordenando, abençoando e pregando o Evangelho de Cristo.

Enéias, o Paralítico. — Em uma dessas viagens, ele visitou as cidades nas planícies de Sharon, na costa do Mar Mediterrâneo. Uma dessas cidades era Lida, na parte sul da planície. Enquanto estava visitando os san-tos, "achou ali certo homem, chamado Enéias, jazendo numa cama havia oito anos, o qual era paralítico". Esta era uma doença que afetava os membros dos que a sofriam, e fazia com que não pudessem andar. Este pobre aleijado não tinha dado um só passo por oito anos. Sem dúvida, ele ouvira que Cristo havia curado homens tão doentes como ele próprio e também, que Pedro, em nome de Cristo, havia ordenado ao aleijado do portão do Templo que se levantasse e andasse. De qualquer forma, quando Pedro o encontrou, ele pediu a Pedro que lhe desse a mesma bênção.

"E disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te dá saú-de; levanta-te e faze a tua cama. E logo se levantou.

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E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona os quais se converteram ao Senhor".

Tábua. — Não muito distante de Lida havia outra cidade chamada Jope. Um dos motivos pêlos quais há escritos sobre Jope é porque era a cidade de uma mu-lher muito boa a quem todos amavam. Seu nome em hebreu era Tabita e em grego Dorcas — Ambos estes nomes significam "Gazela", o nome de um belo animal, parecido com o veado. Tabita parece ter sido tão bela como boa, e todo o seu tempo evidentemente era gasto em dar conforto e felicidade a outros. Fazia benefício aos pobres, dando-lhes agasalhos e roupas que ela mes-ma fazia. Mas um dia ficou doente e todos os seus inú-meros amigos ficaram muito preocupados. Quando sua doença piorou e ela morreu, os seus corações encheram-se de tristeza. Entre os que choravam, haviam algumas viúvas a quem Tabita havia confortado. Estavam mesmo muito tristes, como toda a Igreja em Jope. Após terem lavado cuidadosamente o corpo, foi este levado a um quarto a]to.

Não fizeram nenhuma cerimónia fúnebre, pois al-guns dos discípulos ouviram dizer que Pedro estava ern Lida, e "lhe mandaram dois varões, rogando-lhe que não se demorasse em vir ler com eles".

Pedro consentiu em atender seu pedido e foi ime-diatamente a Jope. "... e quando chegou, levaram-no ao quarto alto e todas as viuvas o rodearam chorando e mostrando as túnicas e vestidos que Dorcas fizera quando estava com elas" e, sem dúvida, entre seus so-luços, louvando as virtudes da irmã que partira.

Seguindo o exemplo de seu Mestre quando a pe-quena filha de Jairo voltou à vida, Pedro pediu a todos que estavam no quarto que saissem. Ele então ajoelhou-se e orou. ^7irando-se para o corpo, disse: "Tabita, levanta-te".

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Tabitn volta à vida. — À primeira rnanifcstiirào de-vida, como nos é dito, "ela abriu os olhos". Quiil não deve ler sido a sua surpresa ao ver o Principal Apóstolo ao seu lado, em vez de seus amigos mais próximos, — que troca de cumprimentos foi feita, que expressões de gratidão, não podemos dizer; mas, "ele, lhe dando a mão, a levantou e chamando os santos e as viúvas, apresentou-lh'a viva".

Como um resultado deste milagre, que ficou conhecido em toda Jope "muitos creram no Senhor".

Pregação dòmenle aos judeus. — Até esta ocasião os apóstolos pregavam somente aos Judeus porque, sendo eles próprios judeus, pensavam que Jesus era o seu Salvador mas não Salvador de outras nações, especial-mente daquelas nações que adoravam ídolos.

Todos os que não eram judeus, eram chamados gentios e eram considerados pêlos judeus "comuns" ou "não limpos".

Cornélio. — Apesar do Senhor ter comandado, "ensinai todas as nações", os apóstolos não pareciam ter compreendido sua missão, até que Pedro recebeu uma visão especial.

Enquanto ele estava em Jope, com um homem chamado Simão, um curtidor, havia um oficial romano cm Cesaréia, a trinta milhas ao norte. Seu nome era Cor-nelius. Era o capitão de cem soldados, e era portanto chamado um "centurião". Apesar de ser gentio, Cor-iiélio aão adorava ídolos como fazia a maioria dos gentios.

Um homem devoto. — Sem dúvida, ele ouviu falar de Cristo e sabia que muitos dos Judeus O aceitavam como seu Salvador; e imaginava porque o verdadeiro Evangelho não podia salvá-lo da mesma forma que aos judeus. Era um homem "piedoso e temente a Deus" e ensinava o mesmo a todos em sua casa. Não somente

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isto, mas vivia também uma vida direita e, o que é me-lhor, ajudava os pobres.

Uma tarde estava orando em sua casa quando um anjo lhe apareceu e disse "Cornélio".A inesperada aparição do anjo encheu o centurião de medo; mas ele respondeu: "Que é Senhor?"

São respondidas as suas orações. — "As tuas «'ra-ções e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus; agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro. Este está com um certo Simão curtidor, que tem a sua casa junto ao mar. Ele te dirá o que deves fazer".

Assim que o anjo se foi, Cornélio chamou dois ser-vos e um soldado que também adoravam o Senhor, e dizendo-lhes o que o anjo havia dito, os enviou a Jope. Seguiram pela praia rumo ao sul, toda a noite, e che-garam a Jope mais ou menos ao meio dia do dia se-guinte.

Uma visão ao meio dia. — Mais ou menos na hora em que estes mensageiros entraram na cidade, Pedro, como era costume, foi ao terraço para orar. Enquanto estava lá, esperando que fosse preparada a sua refeição do meio dia, foi-lhe arrebatado o sentido e viu o céu aberto e descendo um vaso, "como se fosse um grande lençol, atado pelas quatro pontas e vindo para a terra, no qual havia de todos os animais quadrúpedes e reptis da terra e aves do céu".

Enquanto Pedro olhava estes animais, pensando que não eram próprios para comer, uma voz disse: "Levanta-te, Pedro, mata e come".

"De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda".

"Não faças tu comum", continuou a voz, "o que Deus purificou".

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Isto foi repetido três vezes, e então o lençol foi U1

vado novamente para os céus.Pedro perplexo. — Pedro estava perplexo, e sen-

tou-se tentando adivinhar o significado da visão. Con-tudo, não ficou muito tempo em dúvida; pois enquanto estava pensando na visão "disse-lhe o Espirito: Eis que três varões te buscam. Levanta-te pois e desce e vai com eles, não duvidando, porque eu os enviei".

Aconteceu que enquanto Pedro recebia sua visão, os três mensageiros de Cornélio bateram à porta de Simão e foram admitidos à sua casa. Ao vê-los entrar Pedro disse: "Sou eu a quem procurais qual é a causa porque estais aqui?"

"Cornélio, o centurião *** foi avisado por um santo anjo para que te chamasse à sua casa e ouvisse as tuas palavras".

Os mensageiros permaneceram naquela noite com Pedro, na casa de Simão; na manhã seguinte, conduziram-no e a "alguns irmãos de Jope", para Cesárea. No dia seguinte, ao chegarem em casa do centurião, encontraram toda a sua casa, seus parentes e amigos reunidos para recebê-los. Ao aproximar-se Pedro da porta, Cornélio saiu para encontrá-lo, caiu aos seus pés e começou a adorá-lo. Mas Pedro levantou-o dizendo gentilmente :

"Levanta-te que eu também sou homem".Ao entrarem os dois na casa, Pedro, vendo uni

grupo de pessoas presente, disse:Pedro se mistura com gentios. — "Vós bem sabeis

que não é licito a um varão judeu ajuntar-se ou che-gar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo, *** "Por que razão me mandastes chamar?"

Cornélio então contou tudo sobre seu jejum e oração, a visita do anjo e as suas instruções. (Veja Atos 10:30-34).

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O preconceito que havia impedido que Pedro compreendesse o significado total da ordem "Ensinai todas as nações" começou a desaparecer de sua alma, seus olhos começaram a ver mais claramente a misericórdia de nosso Pai Celestial; e ao terminar Cornélio de falar, exclamou:

"Reconheço por verdade que Deus não faz accep-ção de pessoas. Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o leme e obra o que é justo". (Veja Atos 10:31-13).

Então, nesta primeira reunião dos gentios na primitiva igreja, Pedro contou a história do redentor, testificando da morte e ressurreição do Salvador.

É concedido o Espírito Santo. — Como prova final o principal dos Apóstolos viu que Deus aceitaria os gentios da mesma forma que aos judeus, em sua Igreja, "caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra".

Aceitando isto como uma manifestação direta de Deus, Pedro declarou:

"Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batisados estes, que também receberam como nós o Espirito Santo?"

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LIÇÃO 16 O TERCEIRO

APRISIONAMENTO

"Aqueles que procuraram a Deus, jamais o fizeram em vão"."Não faça aquilo sobre o que não puder orar pela benção de Deus. Um segredo que não dirias a Deus é um segredo que deveria ser afastado de teu próprio co-ração".

—x. x. x. x—

Após haver completado seu trabalho em Lida, Jope e nas cidades adjacentes, Pedro voltou a Jerusalém e continuou em seu trabalho sincero no ministério.

f/m Rei iníquo. — Mas havia um rei iníquo que governava a Judéia naquela ocasião, chamado Herodes Agripa, que "estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar". Era o neto de Herodes o Grande, que, como nos lembramos, matou todas as criancinhas em Belém em seus esforços para matar o pequeno me-nino Jesus. Era também sobrinho de Herodes Anlipas, o rei iníquo que mandou cortar a cabeça de João Ba-tista. Herodes Agripa, tinha as mesmas paixões iníquos de seu avô e de seu tio; assim, naturalmente, odiava e desprezava os homens direitos que, ao pregar o Evan gelho, condenavam o pecado e a iniquidade.

Pedro é joç/ado na prisão. — O primeiro apóstolo a sofrer pela iniquidade do rei Agripa, foi Tiago, irmão de João, a quem ele matou "à espada". Quando v iu que Isso agradara aos judeus orgulhosos, pensou nu

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matar mais alguns do grupo dos apóstolos. Assim, prendeu Simão Pedro; mas, felizmente, resolveu não matá-lo até depois da Páscoa e assim atirou-o na prisão até uma ocasião mais favorável para a execução.

Fortemente guardado. — Para ter certeza de que Pedro não escaparia desta vez, "entregou-o a quatro quaternos de soldados para que o "guardassem". Isto queria dizer quatro piquetes de quatro guardas, dezes-seis no total. Cada grupo devia vigiar três horas e então ser substituído por outro durante a vigília noturna. Dois oficiais deveriam guardar o portão exterior da prisão e dois deveriam estar na cela, um em cada lado do prisioneiro com seus braços acorrentados a ele". Assim firmemente guardado e acorrentado, Pedro deitou-se para dormir "entre os dois soldados, ligados com duas cadeias e os guardas diante da porta guardavam a prisão".

A morte cruel de Tiago e a notícia da prisão de Pedro, causou grande consternação entre os santos na Judéia. Alguns, talvez, estivessem atemorizados; mas todos oravam.

Reuniões Especiais de Oração. — Parece que grupos de santos sinceros reuniam-se em diferentes lugares, e rogavam em sincera oração a Deus para que poupasse a vida de seu líder. Realmente, na Igreja, oravam a Deus incessantemente por ele. Alguns historiadores pensam que entre estes que assim suplicavam ao Senhor, encontrava-se Paulo e Barnabé, que estavam provavelmente em Jerusalém nessa ocasião.

Uma das principais reuniões foi feita em casa de Maria, mãe de João Marcos, que muitos anos depois escreveu o evangelho segundo S. Marcos.

Em Casa de Maria. — Enquanto os deixamos em solene oração na noite anterior ao dia em que Pedro seria morto, voltemos à prisão e vejamos o que está acontecendo lá.

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Um anjo aparece a Pedro. — Enquanto Pedro es-tava dormindo em seu catre de palha, "eis que sobrc-veio um anjo do Senhor, e resplandeceu uma lu/ nn prisão". Evidentemente, os guardas estavam adorme-cidos, e não viram ou ouviram nada porque o anjo tocou Pedro na ilharga e o levantou, dizendo: "Levanta-te depressa".

Ao obedecer, suas cadeias caíram de suas mãos. Então o anjo lhe disse: "Cinge-te e ata as tuas al-parcas".

Pedro, mal sabendo o que fazia, obedeceu. Então o anjo continuou:

"Lança às costas a tua capa e segue-me".Ainda pensando estar sonhando, Pedro seguiu o

anjo.

Pedro é libertado da prisão. — Deixaram os guar das na cela, passaram a primeira guarda, e a segunda; ninguém tentou detê-los. Quando chegaram "à porta de ferro, que dá para a cidade", ela "se lhes abriu por si mesma". O anjo continuou a dirigir Pedro através de uma das ruas da cidade e deixou-o tão repentina-mente como havia aparecido.

Nesta altura, contudo, Pedro compreendeu clara-mente que não estava sonhando mas que estava de fato fora da prisão. Disse consigo mesmo:

Sua vida é salva. — "Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus esperava". Com este último comentário ele se referia à execução pública que Herodes havia prometido fazer realizar naquele mesmo dia. Mas a fé e as orações foram mais poderosas a favor de Pedro do que o decreto de reis, e as exigências dos perversos judeus.

Pensando por alguns momentos a que lugar se di-rigir, dirigiu-se à casa de Maria, mãe de João Marcos,

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onde, sabemos, alguns dos santos estavam no mesmo momento orando pela sua libertação.

Rode. — "Batendo Pedro à porta do páteo" uma jovem chamada Rode veio atender e perguntou quem era. Quando ela ouviu a voz de Pedro, ficou tão con-tente que não parou para abrir o portão, mas correu imediatamente para a sala, dizendo:

O espanto dos amigos. — Pedro está aqui; está à p<)rta.

Assim repentinamente interrompidos em sua ora-ção as pessoas não acreditaram em Rode e disseram que ela estava fora de si. Rode insistiu que estava cer-ta. Ela conhecia a voz de Pedro e sabia que ele estava à porta. Eles finalmente concluíram que era um anjo.

Enquanto isso, Pedro continuava batendo até que foi finalmente atendido. Parece que o pequeno grupo não esperava que suas orações fossem atendidas de maneira tão literal; assim "quando abriram, viram-no e se espantaram".

Pedro levantando sua mão, e pedindo-lhes que fi-zessem silêncio, contou como o Senhor o havia liberta-do da prisão. Então acrescentou: "Anunciai isto a Tia-go e aos irmãos". Este Tiago era provavelmente o ir-mão de Jesus que parece ter sido encarregado da Igreja de Jerusalém (Gal. 1:19).

Pedro foge. — Sabendo que assim que fosse nota-da a sua falta na prisão os soldados de Herodes esta-riam procurando por ele, "Pedro partiu para outro lugar". Quando veio a manhã, ihouve grande alvoroço entre a multidão em virtude da fuga de Pedro. Herodes ordenou que se fizesse uma busca completa, mas foi em vão.Os guardas são mortos. — Pensando então que os guardas da prisão tivessem sido negligentes, o perver-so rei mandou que fossem mortos. Não muito tempo depois ele próprio morreu tão repentina e tão miserà-

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velmente que alguns disseram que a ira de Deus o vi. sitara por sua maldade. Lucas nos diz que o anjo do Senhor o matou.A morte de Herodes. — Mas Pedro, a quem Herodes tinha procurado matar, foi poupado, através de bênçãos do Senhor, para abençoar a Igreja e pregar o Evangelho ainda por muitos anos.

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LIÇÃO 17 CENAS FINAIS DE UM

GRANDE MINISTÉRIO

"O evangelho é a concretização de todas as esperanças, o aperfeiçoamento de todas as filosofias, o intérprete de todas as re-velações e uma chave para todas as apa-rentes contradições da verdade no mundo físico e moral".

—x. x. x. x—

O caráter de Pedro. — Muitos anos se passaram desde que Pedro se encontrou com Jesus e foi chamado Cephas que, por interpretação, significa "Pedra". Pe-dro não imaginava então porque o Senhor queria que o caráter deste pescador se tornasse como uma rocha. Não havia compreendido a grande responsabilidade que seu Mestre queria colocar sobre ele. Os anos que se passaram foram Iodos plenos de grandes e maravi-lhosas experiências, que tendiam fazer de Pedro não somente o homem de rocha que Cristo havia querido que ele se tornasse, mas o grande líder e principal apóstolo da Igreja de Cristo.

Destemor, fidelidade, oração, humildade e zelo in-cansável em seus esforços para instruir e abençoar o povo eram característicos do caráter de Pedro, que brilharam em toda sua vida.

Devemos nos lembrar, contudo, que este caráter de rocha não foi formado repentinamente. Cresceu gra-dualmente. O leitor se lembra de como Jesus, obser-vando sua formação, reprovava as fraquezas de Pedro,

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elogiava sua força e o encorajava sempre, a permne-cer fiel e verdadeiro no trabalho de "pescador de lio. mens".

O Pescador de Homens. — Chegamos agora naquele período de sua vida em que este homem que uni dia puxava redes cheias de peixes do Mar da Galiléia poude olhar para traz, para seus anos de ministério e ver inúmeras redes cheias de homens, mulheres e crian-ças, retiradas do mar da ignorância e do pecado e co-locadas a salvo na Igreja de Cristo.

Havia diferença, contudo, entre os resultados de sua pesca de peixes e de homens: os peixes, ele retirava do elemento de vida para morte física; os homens ele tirava do elemento da morte para vida eterna.

Durante cinco anos após sua libertação do terceiro aprisionamento, Pedro continuava suas visitas de cida-de em cidade, de província em província, pregando a Palavra do Senhor. Durante muitas dessas viagens ele foi, sem dúvida, acompanhado por sua fiel esposa.

Aberta a porta aos gentios. — Havia sido dever e privilégio de Pedro pregar o Evangelho primeiramente aos gentios. Note que quando o Senhor queria que os gentios ouvissem sua palavra, ele instruía o chefe dos Apóstolos a girar a chave que abria a porta do Evan-gelho a eles. Este é um doa deveres especiais do Apos-tolado.

Cristãos. — Desde aqueles tempos, muitos gentios se converteram; e em algumas cidades eles se reuniam e prestavam culto juntamente com os judeus. Isto acontecia particularmente na Antióquia, uma impor-tante cidade da Síria, onde os seguidores de Jesus fo-ram pela primeira vez chamados cristãos.

Mas haviam certos homens na Judéia, que foram a Antióquia e ocasionaram atrapalhações. Estes eram judeus que haviam aceitado o Evangelho, mas que a i n -da acreditavam que os gentios teriam que fazer ludo o

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que os judeus faziam antes de poderem obter a sal-vação.

Pedro justifica os gentios. — A questão quanto à possibilidade dos gentios receberem o evangelho e se-rem salvos, sem estar de acordo com o rito judaico, chegou aos apóstolos e outros líderes da Igreja em Jerusalém.

"E havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho ecressem.

"E Deus, que conhece os corações, deu testemunho deles, dando-lhes o Espirito Santo, assim como também a nós.

"E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé".

Ele então os exortou a não provocar Deus inven-tando uma regra que faria com que os gentios fizessem o que o Senhor não pedia deles. "Pois", acrescentou ele "seremos salvos péla graça do Senhor Jesus Cristo como eles também".

Apoio ao direito. — Houve um tempo quando Si-mão, o pescador judeu, com todos os seus preconceitos judeus, teria apoiado o lado judeu da questão; mas agora, não era Simão, o pescador que falava, mas Pedro, o chefe dos apóstolos do Senhor. O que eram os preconceitos para ele à luz da inspiração da verdade! Tudo o que era preciso é que ele soubesse o que estava certo e, com ou sem preconceito, com ou sem favor, ele o defenderia.

É verdade que após este conselho, assim diz Paulo, (Gal. 2:7) Pedro retirou-se da companhia de alguns gentios porque alguns judeus desceram de Jerusalém. Paulo diz que repreendeu Pedro por suas ações nesta ocasião, mas nada foi registrado sobre o que Pedro-

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disse ou fez. Conhecendo Pedro como nós, j concluir com segurança que ele não deve ler se do da retidão intencionalmente. Parece mais provável que Paulo tivesse compreendido mal o motivo das acõrs de Pedro. De qualquer modo, podemos ter certeza d r que o que Pedro disse e fez foi para ajudar os que st-achavam influenciados por seus atos.

Visita às igrejas. — Daquele tempo em diante, pouco sabemos a respeito das viagens de Pedro. Pela leitura de suas epístolas, temos uma pequena visão da natureza dos seus trabalhos e viagens durante os últi-mos anos de sua vida. Sem dúvida, ele visitou todos os países em que existiam ramos organizados da Igreja, até mesmo as "sete Igrejas da Ásia".

Trinta e cinco anos de trabalho. — Não se sabe exatamente onde morreu, e nem a espécie de morte que sofreu; mas é evidente que o fim não estava longe quando ele escreveu sua segunda carta às Igrejas. Isto foi cerca de trinta e cinco anos após ter encontrado seu Salvador. Ele havia estado no.ministério então, apro-ximadamente trinta e cinco anos, ou talvez ainda mais.

Referindo-se à profecia do Senhor nas praias da Galiléia, o velho apóstolo, escrevendo aos Santos e os encorajando a serem verdadeiros ao Evangelho, disse:

"Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já m'o tem revelado, mas também ou procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lem-branças destas coisas".

Alguns dos mais antigos autores cristãos nos dizem que Pedro e Paulo foram ambos aprisionados em Ro ma durante as terríveis perseguições aos Santos pelo perverso rei Nero.

Uma Lenda. — Conta-se que antes de Nero apri-sionar Pedro, os Cristãos, percebendo o perigo em quo ele se encontrava, rogaram que deixasse Roínn. C.oni

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muita relutância, ele cedeu aos seus pedidos e fugiu da cidade à noite. Ao fugir, encontrou o Senhor levando Sua cruz e dirigindo-se a Roma. "Mestre, para onde vais?", perguntou Pedro, "Para Roma, para ser cruci-ficado pela segunda vez", foi a resposta.

Pensando que o seu Senhor poderia ser crucificado pela segunda vez, pela Verdade, ele também queria morrer por ela, e voltou a Roma, e algum tempo mais tarde, foi condenado pelo imperador Nero a sofrer morte por crucificação. Ao aproximar-se do local da execução, contudo, Pedro pediu que lhe fosse permitido ser crucificado com a cabeça para baixo, o que lhe foi concedido.

As circunstâncias são mais ou menos lendárias e podem ou não ser verdadeiras. Mas seja qual for a maneira ou tempo da morte de Simão Pedro, ele mor-reu fiel a todas as tarefas que o Senhor e Mestre lhe havia dado.

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Segunda Parte

TIAGO

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LIÇÃO TIAGO -O FILHO DE ZEBEDEU

Entre as mulheres devotas que seguiram Jesus na Galiléia, que o auxiliaram e que assistiram com zelo e sofrimento os julgamentos em Jerusalém, achava-se uma dedicada mãe chamada Salomé. Com Maria Ma-dalena e Maria, mãe de Jesus, e José, presenciou à dis-tância a crucificação do Salvador.

Ela não se esqueceria de seu Senhor nem mesmo na cruz. Foi também uma das que, com unguentos e perfumes, foi cedinho ao sepulcro na manhã de domin-go, para participar do embalsamento do corpo de Je-sus. A ela e a outros, o Salvador apareceu naquela ma-nhã dizendo:

"Não temais; ide, e anunciai a meus irmãos que vão a Galiléia, e lá me verão". (Matheus 28:10).

"Feliz era ele com tal mãe! A fé nas mulheres pulsa com seu sangue, e a confiança em todas as coisas ele-vadas vêm facilmente a ele, e apesar dele tropeçar e cair, não cegará sua alma com argila". (Tennyson).

Orgulhosa de Seus Filhos. — Assim era a fiel e de-votada mulher a quem Tiago e João, os filhos de Zebe-deu, chamavam mãe. E ela era tão orgulhosa de seus filhos como estes o eram dela; pois pareciam haver her-dado de sua mãe, e talvez de seu pai também, aquelas qualidades verdadeiras e constantes que os faziam dis-cípulos tão devotos de Cristo.

Um pedido de mãe. — Como a maioria das mães, Salomé queria ver seus filhos honrados; e um dia pediu ao Salvador que seus filhos pudessem sentar-se,

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uniu à sua esquerda e outro à sua direita, em seu Reino. Jesus disse: "Podeis vós beber do cálix que eu hei de beber e ser balizados com o batismo com que eu sou balizado?"

files responderam: "Podemos".Hebcreisi do meu cálix. — "Na verdade bebereis do

meu cálix e sereis balizados com o batismo com que eu sou batizado", respondeu o Senhor, "mas assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence concedê-lo".

Verdadeiros servos. — A anciedade da mãe por ter seus filhos assim honrados, fez os outros dez ficarem um pouco enciumados mas Jesus viu seus sentimentos, e disse-lhes que enquanto os homens que têm alta po-sição no mundo exercem um domínio iníquo, aqueles que recebem cargos em Sua Igreja são servos de todos.

"E qualquer que entre vós quizer ser o primeiro, seja vosso servo".

De Bethsaida. — Tiago era de Bethsaida, na Gali-léia, e era pescador.

Estava trabalhando em seu ofício quando o Senhor chamou ao ministério. Quando veio a chamada, Tiago e seu irmão estavam sentados num barco, remendando suas redes. Seu pai e os servos empregados também se encontravam no mesmo local. Naturalmente, Tiago tinha visto Jesus antes disto e sem dúvida havia ouvido as suas palavras; pois quando André apressou-se para encontrar Simão Pedro, após ter encontrado o Senhor. João havia corrido para encontrar seu irmão Tiago.

A chamada é aceita. — Assim, também Tiago, ha-via encontrado o Messias e jiá havia se convertido ao Evangelho. Portanto, quando Jesus parou naquela ma-nhã na praia, disse: "\rinde após mim, eu vos farei pescadores de homens" eles imediatamente deixaram seu pai com os servos e seguiram Jesus.

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Um dos doze. — Quando os doze foram escolhidos, Tiago foi escolhido após Pedro, e era um dos que cons-tituíam o que podemos chamar a Presidência dos Do-ze. Nesta posição, ele tornou-se bastante próximo do Redentor, e foi uma testemunha de vista de alguns dos acontecimentos mais sagrados do ministério do Seu Se-nhor. Assim, com Pedro e João, ele foi apresentado na sala quando a pequena filha de Jairo foi restaurada à vida.

No Monte. — Ele foi também um dos três favore-cidos no Monte da Transfiguração; e foi um daqueles escolhidos para acompanhar o Mestre ao lugar deserto no Jardim de Getsêmani quando Cristo sofreu aquelas amargas agonias preparatórias para sua traição e sofrimentos na cruz.

O Filho do Trovão. — Tiago era chamado filho do Trovão; e há um incidente na Ríblia que nos dá uma pequena visão da sua natureza, e que talvez tenha dado origem àquele nome. Quando chegou o tempo em que Jesus havia decidido ir a Jerusalém para ser oferecido como um sacrifício, ele "mandou mensageiros adiante da sua face; e indo eles, entraram numa aldeia de sa-maritanos, para lhe prepararem pousada. (Lucas 9:52). Tiago foi um desses mensageiros.

Mas os Samaritanos, que nada queriam saber dos judeus, e que estavam particularmente ofendidos nesta ocasião porque Jesus estava determinado a cultuar em Jerusalém, recusaram-se a receber Jesus. Sua recusa tornou Tiago e João tão indignados que viraram-se para seu Mestre e disseram: "Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?"

Repreensão. — Mas o Senhor desagradou-se por eles estarem zangados e disse "Vós sabeis de que es-pírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. Por

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esta manifestação de fogo em suas nature/as, é que se acredita que Tiago e João fossem chamados "Boaner-ges", ou "filhos do trovão".

Mas, se ele tinha natureza impetuosa e tempera-mento nervoso, ele o controlava, e através de sua fé e devoção conquistou o favor de seu Senhor.

Pouco é registrado sobre seus trabalhos — Acredita-se que ele tenha viajado bastante, pregando o Evangelho, a todas as tribus dispersas de Israel, Mas de seus trabalhos, muito pouco foi registrado.

O Primeiro mártir — Cerca de quarenta e dois ou quarenta e quatro anos depois de Cristo, Herodes Agri-pa, como já aprendemos, iniciou uma terrível perseguição contra os Santos. Tiago se encontrava entre os primeiros a serem presos.

Oficial convertido — Foi ele sentenciado logo após sua prisão mas, tão grande era sua fé e sua coragem durante o julgamento que o oficial que o guardava (que como dizem alguns, era seu acusador) arrependeu-se de seus pecados, converteu-se e declarou sua fé no Cristianismo.

Ao ser Tiago conduzido ao lugar da execução, este oficial lançou-se ao pés do apóstolo, e humildemente implorou perdão pelo que havia dito contra ele. Colocando seus braços ao redor do homem penitente, Tiago respondeu "paz, meu filho, paz seja contigo e perdão pêlos teus pecados".

Execução — Ambos foram então executados por ordem do cruel rei Herodes.

Assim, Tiago, o primeiro apóstolo mártir, partilhou da taça que muitos anos atrás ele disse ao Seu Senhor que beberia.

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TERCEIRA PARTE

JOÃO

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REDENTOR

"A modéstia é uma luz brilhante; prepara a mente para receber conhecimento, e o coração para a verdade".

"Humildade é o sólido alicerce de todas as virtudes".

— x. x .x. x —

Modéstia — No primeiro capítulo do evangelho segundo São João, lemos que dois discípulos de João Batista ouviram seu mestre testemunhar da divindade de Jesus. Disse o Batista, referindo-se a Jesus cami-nhando sozinho à distância "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". Um dos dois discípulos que ouviram este testemunho é mencionado. Em todo o livro, que, sem dúvida, foi escrito pelo próprio São João, o nome de João, filho de Zebedeu, jamais foi es-crito. No relato da iiltima Ceia, lemos de um discípulo "a quem Jesus amava" que se sentava perto do Se-nhor para que sua cabeça pudesse descançar no peito de Jesus.

Estes dois casos e ainda outros podem ser men-cionados para indicar-nos uma das importantes características de São João, uma modéstia sincera, que lhe grangearam o amor e respeito de todos quantos o conheceram.

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chamado "Boanerges", ou filho do Trovão. Isto nos dá uma pequena visão de uma outra faceta de seu ca-ráter. Como seu irmão Tiago, ele era evidentemente inflamado em seu zelo em tudo que se propuzesse a realizar, e destemer ao fazer as coisas que ele achava certas.

Amor — Uma modéstia que sempre o afastou de glorificar-se ou adiantar-se indevidamente; um deste-mor em defender o que era certo, e amor por seu Mes-tre que lhe deu o maior lugar no coração de Jesus —-estas eram as três características do canáter de João, que sobressaem distintamente no relato fragmentário de sua vida.

Ele viveu e provavelmente nasceu em Bethsaida, a cidade de Pedro, André e Filipe. Era pescador de pro-fissão, e trabalhava com seu pai e seu irmão Tiago. Seu pai, Zebedeu, era proprietário de seus próprios barcos e tinha servos; assim concluímos que estivesse bem de finanças. (Marcos 1:20:).

Buscava a verdade — Buscava ele sempre o verda-deiro aprendizado, e especialmente aquelas coisas que lhe dissessem algo sobre Deus e a próxima vida. Man-tinha sua mente e coração puros, para que pudesse apreciar a verdade quando a ouvisse.

Assim, quando João Batista saiu do deserto pre-gando arrependimento e declarando que o Reino de Deus estava próximo, João foi um dos jovens destemi, dos que creram em João Batista e o seguiram. Assim ele estava preparado para aceitar o testemunho de João sobre Jesus, após ter sido este batisado, no Jor-dão, e foi um dos dois que falara com o Salvador do mundo do princípio de seu ministério.

Segue a Jesus — Na mesma ocasião em que Simão Pedro e seu irmão foram chamados como discípulos de

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os chamou, eles imediatamente deixaram o barco e seu pai e seguiram-no (Matheus 4:21-22. Lucas 5:1-11).

A primeira lição — Lucas nos relata que João es-tava presente à primeira pesca miraculosa de peixes e muito se admirou pelo que viu e ouviu na ocasião. Foi uma das primeiras lições, se não a primeira que lhe ensinou a grande verdade de que a obediência às pala-vras de Cristo trazem obediência.

O mais jovem dos doze — Deste tempo, até o fim de sua acidentada vida, ele esteve sempre no ministério. Quando Jesus escolheu seus discípulos, João foi escolhido como um dos três principais, apesar de ser o mais jovem membro dos Doze.

Memoráveis experiências — Desde aquele tempo João permaneceu sempre bem perto de Jesus, e teste-munhou alguns dos mais notáveis e divinos incidentes registrados na história do ministério de Cristo. Ele foi um dos três apóstolos que tiveram! a permissão de permanecer na sala quando a pequena filha de Jairo foi restaurada à vida. (Lucas 8:51). Ele estava no Monte da Transfiguração quando o Salvador conversou com Moisés e Elias e quando uma voz dos céus disse "Este é meu filho amado, ouvi-o" (Lucas 9:28).

Com 'Pedro, Tiago e André, João estava presente no Monte das Oliveiras quando Jesus lhes ensinou quanto à destruição do templo e da segunda vinda de Cristo. Como a lerribrança de tais ocasiões deve ter en-chido sua memória nos anos que se seguiram, de ale-gria e doce contentamento.

Ele e Pedro foram encarregados de fazer os pre-parativos para a Páscoa. (Lucas 22:8).

Próximo de Jesus — No momento solene em que o Senhor disse "um de vós me há de trair", foi João, "o

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Em Getsêmani — Quando a tristeza de Getsêmani começou a pesar sobre o espírito de Jesus, João foi um dos três a quem ele disse: "A minha alma está profun-damente triste ate a morte: ficai aqui, e vigiai". (Mar-cos 14:33).

Em casa do Sumo Sacerdote — Mais tarde naquela mesma noite, quando o traidor deu o beijo da traição e os soldados prenderam Jesus e o levaram como prisio-neiro, todos os outros discípulos fugiram, mas João acompanhou seu mestre à casa do sumo sacerdote e mais tarde deixou entrar Pedro, que, como já foi dito, seguia à distância.

Um terrível sofrimento — Apesar de não nos ter sido contado, podemos imaginar quais foram os sentimentos deste amado discípulo ao ouvir as falsas e perversas acusações contra o Senhor, e como seu coração deve ter doído ao ver Jesus ser espancado e maltratado e uma coroa de espinhos ser posta sobre sua cabeça. Se ele tinha querido invocar fogo dos céus para consumir os samaritanos que haviam se recusado a abrigar e acomodar ao Senhor, qual não deve ter sido o estado de sua alma inflamada quando viu os judeus e seus juizes perseguindo Cristo até a morte!

O último Pedido — Como sua alma deve ter sido presa de agonia ao ver seu Salvador pregado na cruz, e, não obslante, que paz deve ter vindo a ele quando recebeu dos lábios agonizantes de seu Mestre uma das mais queridas tarefas jamais dada a um mortal. Quan-do as três Marias e João estavam o pé da cruz, Jesus olhou para eles e disse à sua mãe: "Moilher, eis aí teu filho" e a João: "Eis aí tua mãe".

"E desde aquela hora o discípulo a recebeu em suacasa

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lena veio correndo dizer-lhes: "Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puzeram".

Assim que os apóstolos ouviram estas palavras, correram para o local onde Jesus tinha sido sepultado. João, sendo mais jovem chegou primeiro que Pedro e foi o primeiro a ver o túmulo vazio, "e, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou". Um mo-mento mais tarde, contudo, seguiu Pedro para dentro do túmulo, examinou cuidadosamente as roupas de li-nho e o lenço que estava envolto na cabeça; mas não compreendendo ainda que Cristo deveria ressuscitar no terceiro dia, voltaram às suas próprias casas.Seu testemunho — João estava com os dez e mais tarde com os Onze quando Cristo apareceu a eles no cenáculo. Desta e de outras experiências gloriosas, ele dá seu testemunho em seu Evangelho. "Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome".

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LIÇÃO 20

COM PEDRO E OS DOZE

"Ame um ser humano com pureza e ternura e amarias a todos" "O amor dá-se a si mesmo e não é comprado".

—x. x. x. x—

No mar da Galiléia — João foi um dos que, após a morte e ressurreição de Jesus, quando Simão Pedro disse: "Vou pescar", responderam: "Também nós va-mos contigo". Labutaram toda a noite e nada apanha-ram, mas quando a manhã veio, um homem que se achava na praia lhes disse: "Lançai a rede para a ban-da direita do barco". Isto eles fizeram imediatamente e apanharam uma enorme quantidade de peixes. Quasi imediatamente João reconheceu Jesus e disse a Pedro: "É o Senhor".

Apascenta as minhas ovelhas — Um pouco mais tarde, na praia, ele ouviu a admoestação a Pedro, para apascentar ovelhas e cordeiros no rebanho de Cristo e sem dúvida João partilhava do sentimento de respon-sabilidade que então foi atirado sobre os Doze.

Foi nesta ocasião que Pedro perguntou a Jesus o que aconteceria a João a que Jesus deu a significativa resposta: "Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?" "Segue-me tu".

Uma profecia — Divulgou-se pois entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer, Jesus, porém, não lhes disse que não morreria, mas: Se

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eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?

A este respeito, lemos em Doutrinas e Convénios (secção 7) que João havia dito ao Senhor "Dá-me poder sobre a morte, para que eu possa viver e trazer almas a ti".

E o Senhor respondeu: "Na verdade, na verdade te digo que, visto como o desejaste permanecerás até que Eu venha em Minha glória e profetizarás perante nações, tribos, línguas e povos".

O Senhor então disse a Pedro que Ele faria João como "o fogo abrasador e um anjo ministrador e ele ministrará àqueles que serão herdeiros da salvação e habitam a terra".

Verdadeira grandeza — Assim foi expresso o amor de João não somente por seu Senhor e Mestre mas por todos os filhos de homens aos quais ele queria trazer Cristo e participar das alegrias do evangelho eterno. Por este espírito, João provou ter sido um dos maiores homens que já viveram, pois a verdadeira grandeza consiste em perder-se por amor de outros.

Fiel ao encargo — Cerca de quinze anos após a ascenção do Salvador, acredita-se que João continuou em Jerusalém e permaneceu um verdadeiro filho de Maria. Durante todo o tempo, contudo, ele permaneceu ativo no ministério.

O aleijado — Ele estava com Pedro, a caminho do Templo, quando o aleijado do portão do templo pediu esmolas.

Com Pedro ele exerceu sua fé na ocasião em que abençoou o pobre homem que nunca tinha andado. (Atos 3:1-12).

Aprisionado —- João, sem dúvida, testificou à mul-tidão que se reuniu no Alpendre de Salomão no dia deste milagre; mas nenhum historiador nos diz o que ele disse. Deduzimos pelo que Lucas nos diz, que João

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falou na ocasião, mas somente o sermão de Pedro e somente parte dele foi guardado.

Enquanto eles estavam falando, o capitão do tem-plo prendeu-os e aprisionou-os.

Perante o conselho — Quando foram trazidos pe-rante o Conselho no dia seguinte e lhes disseram que não mais falassem de Jesus, João mostrou-se tão ousa-do como Pedro, ao declarar: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido" (Atos 4:19-20).

Após terem sido soltos, continuaram a pregar ao povo e a louvar ao Senhor por todas as suas maravi-lhosas manifestações a eles. A grande festa espiritual que resultou de seus trabalhos, deve ter enchido a al-ma de João com uma paz divina, tal como ele jamais havia experimentado, pois, de todos os apóstolos, ele era o mais espiritual.

Um verdadeiro servo — Durante este periodo, ele foi aprisionado várias vezes, mas jamais hesitou em sua determinação de fazer com que todo o povo sou-besse que Jesus era o Redentor do Mundo.

Ele podia sofrer e ser feliz porque amava todos aqueles a quem servia. Assim, no princípio de seu mi-nistério, seu caráter brilhou em verdadeira grandeza, pois ele era paciente, serviçal e forte para sofrer pé-los outros".

Em Samaria — Quando os samaritanos receberam o Evangelho através da pregação de Filipe, João acom-panhou Pedro a Samaria, e conferiu o Espírito Santo pela imposição das mãos, sobre aqueles a quem Filipe batizara (Atos 8:5-14).

Vários Oficiais — Sem dúvida esta foi apenas uma das muitas visitas que ele fez durante aqueles quinze anos em que permaneceu em Jerusalém. Os Doze, os setentas, anciãos, sacerdotes, mestres e diá-

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conos foram pregando em todas as cidades dos arredo-res de Jerusalém e os três apóstolos principais Pedro, Tiago e João seriam necessários e quando não necessá-rios seriam convidados a organizar ramos e conhecer os novos conversos e encorajá-los em sua fé gloriosa.

O Pilar da igreja — Quando surgiu a grande ques-tão sobre os gentios que se filiavam à Igreja e sobre o que deveriam fazer, João foi um dos que se assentaram no conselho convocado em Jerusalém. Paulo, es-crevendo sobre este conselho, menciona Tiago, Cephas e João, que pareciam ser colunas. À luz da organização da Igreja hoje, sabemos que Pedro, Tiago e João eram os homens que presidiam naquela ocasião, sendo Tiago o que tomava as decisões que eram adotadas em todas as províncias.

Coração amoroso — Depois daquele tempo, sabe-mos muito pouco sobre o ministério de João. Parte do que é conhecido será ensinado na próxima lição. Sabe-mos mais sobre a espécie de homem que ele era do que de seus atos. Quando lemos suas cartas escritas à igreja e seu Evangelho, podemos entender prontamen-te porque Jesus o escolheu para cuidar de Sua Mãe Maria. O coração de João estava cheio de amor, e ele queria que todos se amassem. Disse que ninguém que diz que "está na luz, e aborrece a seu irmão, até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz".

"Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deve ir; porque as trevas lhe cegaram os oihos"."Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados". Naquela carta ele diz "E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda".

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LI CÃO 21

ULTIMAS CENAS DO

MINISTÉRIO

"O amor era para a sua alma não sòmen-le uma parte de sua existência, mas o to-do, o verdadeiro alento de seu coração.

—x. x. x. x—Passam-se 18 anos — O importante conselho men-

cionado no último capítulo, foi realizado cerca de 50 anos depois do nascimento de Cristo (50 D.C.). Duran-te os próximos 18 anos, João parece ter estado fora de vista. Nada se sabe sobre o que ele fez ou onde esteve. Presume-se que tenha deixado Jerusalém e raramente, voltado, se é que o fez. Se assim foi, podemos concluir que Maria, a mãe de Jesus também tenha saído de Je-rusalém deixando-a e a todos os seus queridos paren-tes e amigos na terra, para um feliz, e glorioso encon-tro com o seu Filho, em seu lar celestial nas alturas. O amor e a atenção que João dedicou a Maria podiam ser dedicados inteiramente à Igreja que agora levava o nome de seu Filho.

Sem dúvida ele visitou todos ou quasi todos os lugares importantes onde os cristãos habitavam; mas a maioria de seus últimos anos parecem ter sido pas-sados na Ásia Menor.

Em Éfeso — A tradição nos informa que ele fez seu lar em Éfeso, uma cidade grande e populosa de lona, cerca de 40 milhas de Smirna. Era notória prin-cipalmente por sua iniquidade e por seu belo templo dedicado a Diana. Alguns dizem que Maria mãe de Je-sus e Maria Madalena, foram a Éfeso com João, e lá

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morreram. A tradição agrada porque moslrn como h devoção de um filho à sua mãe, como é moslnuln por João, se associou o amor de Maria Madalena, q m- p<» deria bem ser expresso nas palavras de outra bela mu-lher, que disse à mãe de seu marido: "Não me ins tes para que te deixe e me torne de detrás de ti; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morre-res, morrerei eu e ali serei sepultada". (Ruth 1:16-17).

De Éfeso João visitou todos os ramos da Igreja, trabalhando especialmente entre "As Sete Igrejas da Ásia".

Quando João havia passado muitos anos em Éfeso, um cruel imperador Romano, durante sua perseguição à Igreja, prendeu-o, mandou levá-lo a Roma, conde-nou-o à inorte e mergulhou-o em óleo fervente. Tendo sido a vida de João preservada pelo poder de Deus, foi ele então banido para Patmos. Tudo o que João diz so-bre isto é que ele esteve "na ilha que é chamada Pat-mos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo". É evidente daí que ele tenha sido per-seguido por sua crença no Evangelho e por seu indes-trutível testemunho da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele foi provavelmente a última testemu--nha viva dos milagres e ensinamentos do Salvador. Tal-vez este tenha sido o motivo pelo qual foi degredado. Mas os homens iníquos não podiam banir o testemu-nho que ele havia deixado. Este achava-se plantado nos corações de milhares de crentes sinceros e como se-mentes esparramadas em solo fértil, cresceriam e pro-duziriam ricas colheitas anos e anos depois.

O degredo não feriu o velho apóstolo, pois ele uno estava só nem mesmo naquela rocha estéril e dcsnbi-tada. Numa manhã de domingo ou o "dia do Senhor" como ele o chamava, ele "ouviu atrás dele "unin gnin

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Ho voz, <-omo de trombeta, que dizia: O que vês, escrevi1

i» n u m livro e envia-o às sete igrejas que estão na AHÍM : A fifeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, o n Sardo, e a Filadélfia, e a Laodicéia". Ele virou-se r v i u o Filho do Homem vestido até os pés com um vestido comprido e cingido com um cinto de ouro. Ao deparar com o Senhor vestido com tal divino esplendor, caiu aos seus pés como morto. Mas o Salvador, diz João, "pôs sobre mim a sua dextra, dizendo-me: "Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre". Ele foi novamente mandado escrever tudo o que havia presenciado e o que lhe seria mostrado em visão. Assim foi dado às sete Igrejas da Ásia, e subse-quentemente ao mundo, o que é conhecido como "Apo-calipse", o último livro da Bdblia, mas o primeiro escrito por seu autor.

Ao morrer Domiciano, o cruel imperador que o havia banido, o Apóstolo poude voltar a Éfeso, onde continuou sua pregação, suas escrituras e seu testemunho.

Os escritos de João — Além do "Apocalipse", ele escreveu seu Evangelho e suas três epistolas. A segunda epistola de João deve ser de especial interesse aos jovens. Dela nós inferimos que ele escrevia cartas a dois lares Cristãos. As mães desses lares eram irmãs. Sua carta é endereçada "à Sra. Eleita", como é algumas vezes chamada e a seus filhos. João diz de seu amor e do amor de outros para com eles — mãe e filhos — em virtude de seu caráter cristão. Diz de sua grande alegria por caminharem as crianças na verdade, vivendo como devem viver os que aprenderam os ensinamentos de Cristo.

Conta-se que quando ele ficou tão velho e fraco que não mais podia caminhar para a Igreja, nem pre-tfnr ao seu povo, seus amigos o carregavam para o lo-cnl da reunião. Nestas ocasiões, ele repetia freqüente-

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mente: "Queridos filhinhos, amai-vos uns aos outroi". Um dia alguns lhe perguntaram :"Mestre, porque tem* pré dizeis isto?. Ao que ele respondeu: "Isto é o <{Ut o Senhor te ordena; e isto, se o praticares, é suficiente".

Diz-se que ele viveu mais de cem anos, mas de seus últimos dias nada está especificamente registrado. Sa-bemos, contudo, que ele resistiu à mais amarga perse-guição, viveu mais que seus perseguidores, instruiu com sua vida e ensinamentos milhares no Caminho da vida, e está abençoando muitos milhares no mundo hoje em dia por amor sublime e infantil.

"Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem é de Deus: mas quem faz mal não tem visto a Deus".

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QUARTA PARTE

PAULO E SEUS COMPANHEmOS

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LIÇÃO 22 SAULO

DE TARSO

"Boa companhia e bons sermões são os verdadeiros tendões da vida".

—x. x. x. x—

Um Benjaminita — No tempo em que Pedro, An-dré, Tiago e João eram meninos e brincavam em Beth-saida, nas praias da Galiléia, havia um outro rapazola inteligente e hábil, brincando e estudando numa cida-de, cerca de trezentas milhas distante e a quem aqueles apóstolos conheceriam depois de muitos anos, primei-ramente como um perigoso inimigo e depois como um amigo e irmão. O nome deste menino era Saulo, e vivia em Tarso, a capital da Sicília. Era judeu e pertencia à tribo de Benjamim, o filho mais novo de Jacó. O pai de Benjamim, como nos lembramos, manteve-o em casa quando os outros filhos partiram pela primeira vez para o Egito, para comprar milho. A tribo de Ben-jamim era tida como muito valorosa; e sobre isto, ve-remos que Saulo era um verdadeiro Benjaminita.

Outros membros da Família — A respeito dos pais de Saulo e de sua meninice, sabemos muito pouco. Seu pai, certa vez, viveu na Palestina, e teria naturalmente, ensinado seu filho a ser um bom judeu ortodoxo. De sua mãe nada sabemos, mas podemos estar certos de que ela cuidava dele com grande cuidado, guiando-o em seus jogos e estudos e o inspirava, mesmo em sua mocidade, para crescer sendo um homem úl i l c gran-

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de. Sem dúvida, uma boa mãe ele tinha, pois todos os grandes homens foram abençoados com mães nobres. Não sabemos, entretanto, se tinha algum irmão; mas sabemos que tinha pelo menos uma irmã, a quem ele sempre amou e para quem foi um irmão verdadeiro e nobre toda a sua vida.

Um bom estudante — Saulo era um bom estudan-Ic, e frequentou escola provtàvelmente desde os seis anos de idade, até se tornar um homem. Mas naqueles dias. os meninos não tinham livros. Limitavam-se a ouvir o que lhes era dito pelo professor, lembrá-lo, e tentar repeti-lo quando lhes pedissem que o fizessem. O principal estudo na sala de aula, naquele tempo, era o das santas escrituras. Naturalmente, eles não tinham a Bíblia como a temos agora, mas tinham o Velho Tes-tamento e podiam aprender tudo sobre Abrão, Isaque, e Jacó, os filhos de Israel. Rei Saul. o Rei Davi. o Rei Salomão e os profetas. Assim, ele aprendeu desde cedo e aguardar a vinda do Messias que seria Rei dos Ju-deus.

Fariseus e Saduceus — Entre os judeus encontra-vam-se diferentes seitas ou religiões, sendo as princi-pais a dos Fariseus e Saduceus. Nos dias de Saulo, a geita dos fariseus era a mais popular de todas elas, e tinham eles os mais altos postos no governo do Estado e na igreja. Acreditavam na lei oral dada por Deus a Moisés, bem como na lei escrita. Acreditavam também na ressurreição do corpo. Mas oravam longa c frequentemente, não somente nas sinagogas e no tem-plo, mas nas ruas, para que pudessem ser ouvidos pê-los homens. Também em outras coisas eram muito hi-pócritas.

Os saduceus não aceitavam a ressurreição do cor-po. Veremos, mais tarde, como Saulo usou com vanta-gem a diferença de crença destas duas seitas.

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Fariseu — Saulo era fariseu e por sinal um bom fariseu. Era justo e sincero em sua crença e educação, como qualquer homem poderia ser. Se Saulo tivesse sido um Fariseu hipócrita, provavelmente jamais teria encontrado a verdade, mas sendo sincero, isto é. sempre fazendo o que julgava certo, foi conduzido ao evangelho.

Um cidadão romano — Há mais uma coisa a aprender a respeito deste menino, Saulo de Tarso. Ele nasceu um cidadão romano. Tarso, uma cidade muito rica e populosa, era um município romano, ou corpo-ração livre. Isto significa que a liberdade de Roma (que governava todos aqueles países naquela ocasião) havia sido dado aos homens livres de Tarso. Esta liberdade havia sido concedida porque os homens de Tarso haviam defendido dois imperadores de Roma durante uma rebelião contra eles.

Assim, Saulo, apesar de judeu, era um cidadão romano livre. Nesta condição dupla, tinha dois nomes. Saulo e Paulo; o primeiro, seu nome judeu e o viltimo seu nome romano ou latino.

Fazedor de lendas — Como já foi dito, Saulo era um estudante; mas era trabalhador, não somente com suas mãos. Fazia tendas. Este oficio ele o aprendeu quando ainda era menino. Era uma prática constante dos judeus conduzir seus filhos a um oficio honesto para que, em caso de necessidade, pudessem ganhar suas vidas com o trabalho de suas próprias mãos. Hou-ve tempo em que Paulo, apesar de ser um apóstolo, trabalhou em intervalos durante vinte e nove anos no oficio que seu pai lhe dera. Foi durante esse tempo que ele escreveu: "Estas mãos me serviram".

Gamaliel — Quando havia completado o estudo que era ministrado nas escolas judaicas de Tarso, e ha-via aprendido seu oficio, quiz aumentar sua educação. Tinha ele então, cerca de catorze anos de idade. Ha-

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via as universidades dos gentios, perto de sua cidade, mas, como ele queria se tornar um Habí, foi a Jerusa-lém e se tornou aluno da famoso "Escola de Hillel". O presidente desta famosa instituição de ensino era "um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, vene-rado por todo o povo" (Atos 5:34). Supõe-se que ele tenha sido filho de Simão que estava no templo quando o menino Jesus foi abençoado e que disse: "Agora. Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação". Mas, apesar de Gamaliel ser o homem mais instruído de seus dias, não sabia que o Messias tinha vindo. Evidentemente, ele não acreditou no que seu pai havia dito sobre o menino Jesus.

Instruído e influenciado por este grande mestre. Saulo continuou por vários anos estudando em hebreu e grego, e decorando todos os mandamentos importan-tes contidos no Velho Testamento.

Estêvão — Paulo completou seu curso sob a ins-trução da Gamaliel e provavelmente retornou à Sicília. Durante esse tempo, Jesus havia sido crucificado e ha-via começado uma terrível perseguição contra alguns de Seus discípulos. O primeiro a sofrer a morte durante esta perseguição foi Estêvão, um dos sete diáconos escolhidos para cuidar das provisões aos pobres. Estê-vão era um servo muito fiel "cheio ,de fé e do Espírito Santo". Ele declarou que Jesus era o Salvador do mun-do e que todos os homens deviam crer em Seu nome se quizessem ser salvos. Estêvão sabia que os fariseus es-tavam errados no que acreditavam ser a salvação, e ele, sem dúvida, lhes disse isto. De qualquer modo, discutiu com eles na sinagoga.

Estêvão perante o Sinédrio — Tendo sido derrotados em suas disputas, os judeus enraivecidos arrastaram Estêvão perante o Sinédrio e o acusaram de blasfémia. Mesmo no tribunal ele manteve o seu testemu-

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nho da divindade, morte e ressurreição do Snlvndor o que enraiveceu de tal modo os judeus que eles "mu-giam os dentes contra ele" e finalmente o arraslannn para fora do tribunal e o apedrejaram até a morlc.Entre estes cegos fariseus que disputavam com Estêvão, encontrava-se o jovevn e instruído Saulo de Tarso. E quando eles "gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos e arremeteram unânimes contra ele", presenciou a morte cruel deste primeiro mártir cristão. Saulo era sincero em acreditar que Estêvão era um inimigo da religião judaica. Provavelmente Estêvão reconheceu este fato então, pois, ao morrer, orou: "Senhor, não lhes imputes este pecado". (Atos 7).

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LIÇÃO 23 A

CONVERSÃO DE SAULO

"Melhor é estar errado com sinceridade do que certo com falsidade".

Um grande perseguidor — Após a morte de Este vão, "houve uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém", e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos" (Atos 8:1). Um dos perseguidores mais valorosos e in-cansáveis dos Santos, durante aqueles dias terríveis, era o cego fariseu Saulo de Tarso. Estava tão determi-nado a por um fim no que ele pensava ser uma heresia que adquiriu o direito de oficial do Sinédrio para prender os seguidores de Jesus onde quer que os en-contrasse. Ia de casa em casa, afastando homens de suas mulheres e crianças; Prendia mesmo mulheres e as atirava em prisões. Certamente os gritos e as súpli-cas das crianças devem ter cortado seu amargo cora-ção mais que o martírio do fiel Estêvão. Ao afastar ho-mens e mulheres de seus lares, as faces pálidas das criancinhas devem ter impressionado sua alma de ma-neira a humilhá-lo e perseguí-lo todos os dias de sua vida.

Sua sinceridade — Somente uma coisa poderia dar-lhe conforto em sua vida mais tarde, ao se recor-dar destas terríveis experiências. Era isto, expresso em suas próprias palavras: "Bem tinha eu imaginado que

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contra o nome de Jesus nazareno devia m pratiClf! muitos atos". Saulo era sincero no que fu/ ia. Não acre-ditava que Jesus Cristo fosse o filho de Deus, c acredi-tava que seria agradável ao seu Pai Celeslial fazer Io -dos os crentes em Cristo negarem o Seu nome.

Assolava as Igrejas — Assim, Saulo assolava as igrejas e quando havia aprisionado ou expulso de Je-rusalém todo homem que podia encontrar e que con-fessava Cristo, com sua alma "respirando ainda amea-ças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao Sumo Sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco para as sinagogas, afim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os condu-zisse presos a Jerusalém". (Atos 9:1-2).

Dúvida — Damasco, fica a cerca de cento e cin-coenta milhas ao norte de Jerusalém, e, assim sendo, levaria cerca de uma semana para Paulo e seus acom-panhantes vencerem a distância. Talvez durante alguns daqueles dias de relativa inatividade, ele tivesse começado a pensar se de fato o que estava fazendo era cer. to. Talvez a face resplendente de Estêvão agonizante e a última oração do mártir tivessem começado a calar mais profundamente em sua alma do que antes. Os gritos das criancinhas chorando pêlos seus pais a quem Saulo havia perseguido, começavam a penetrar mais agudamente em sua alma e fizeram-no sentir-se miserável e infeliz ao olhar para as outras experiências que o aguardavam em Damasco. Faria o trabalho do Senhor com que ele se sentisse tão amargurado e nervoso, se estivesse empenhado nele?, Deve ter pensado Saulo. Logo aprendei-ia que somente o trabalho do mal produz aqueles sentimentos, e que o verdadeiro serviço do Senhor sempre trás paz e contentamento.

Luz — Mas, fossem quais fossem os seus pensa-mentos e sentimentos, a verdade é que ele se apressa-va, com a determinação de prender todos os seguido-

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rés de Jesus, que pudesse encontrar. Ao se aproximar da cidade, contudo, "subitamente o cercou um resplen-dor de luz do céu" Saulo caiu ao chão, e os homens que estavam ao seu redor ficaram mudos em silêncio. A revelação — Desde aquele momento, Saulo era um homem mudado. Quando caiu ao chão, era um fa-riseu orgulhoso e altivo, um perseguidor de inocentes: quando se levantou, era um humilde procurador da verdade, um arrependido seguidor daquele a quem havia perseguido. Do meio da luz veio uma voz que dizia: "Saulo, Saulo, porque me persegues?"

— "Quem és, Senhor?" perguntou Saulo.— "Eu sou Jesus, a quem tu persegues", e então

acrescentou: "duro é para ti recalcitrar contra os agui-Ihões".

Quando Saulo o compreendeu e viu que estava igin-do errado, perguntou — "Senhor, que queres que faça?"

— "Levanta-te e entra na cidade e lá será dito o que te convém fazer", e não o que Saulo gostaria de fa-zer, nem o que poderia fazer, mas o que conviria fa-zer para ser aceito pelo Senhor. Saulo havia sido aben-çoado com olhos, mas tinha estado cego espiritual-mente. Agora ele estava cego fisicamente mas chega-va luz ao seu espírito. Ao levantar-se nada podia ver e seus acompanhantes o conduziram à cidade, onde se hospedou em casa de Judas, numa rua chamada Direita.

Ananias — Enquanto isto o Senhor, em visão, dis-se a um de seus servos, chamado Ananias: "Levanta-te e vai à rua chamada Direita, e pergunte em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; pois eis que ele está orando".Mas Ananias respondeu: "Senhor, de muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem autorização dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invo-

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cam o teu nome". Ananias era dos que, provavelmente, Saulo prenderia primeiro.

O Senhor disse a Ananias que fosse como huvhi sido instruído pois Ele havia escolhido Saulo para "le-var o Seu nome diante dos gentios e dos reis e dos f i -lhos dTsrael".

Saulo é ministrado — Ananias procedeu de acor-do com as instruções recebidas, e quando entrou na ca-sa de Judas encontrou Saulo penitente, como cego. To-da a impiedade do orgulhoso fariseu havia desaparecido e ele orava pela luz — luz, em seus olhos e luz em sua alma. Suas orações foram respondidas, pois o humilde servo de Deus pôs suas mãos sobre ele e disse: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo".Sua visão é restabelecida — E Saulo recebeu sua visão imediatamente e levantou-se e foi batizado. Isto era algo que precisava fazer se quizesse ser contado como membro da Igreja de Cristo. Assim, na conversão deste grande homem, encontramos ilustrada a aplicação dos vários princípios do Evangelho, isto é: Fé em Jesus Cristo; Arrependimento dos maus atos; Ba-tismo e reconhecimento da autoridade de Cristo na terra.

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LIÇÃO 2A EM OUTRA

ESCOLA

"Todo o cabedal de conhecimento cai co-mo um medifício ante uma única palavra — Pé".

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Durante muitos dias, que seguiram a sua maravi-lhosa conversão e a restauração de sua vista, Saulo permaneceu "com os discípulos que estavam em Da-masco". Havia agora encontrado uma outra escola, e como era esta diferente da escola em que antes se as-sentara aos pés do sábio Gamaliel. Lá ele ouviu as ins-truções dos homens mais sábios de seus dias; agora ele ouvia a homens que eram julgados ignorantes. Lá recebeu treino de intelecto; agora ele recebia treino da alma. Lá ele estudou cegamente; agora ele estudava, vendo verdadeiramente. Seu instrutor era um dos ho-mens fiéis a quem ele desprezava e a quem viera pren-der. "Nem Pedro, Tiago ou João, ou qualquer dos gran-des e eminentes apóstolos precisaram ser ouvidos para instruir o sábio e talentoso Saulo, mas Ananias, um cristão pobre e de coração simples de quem a Palavra divina não fizera menção anteriormente, foi capaz, nas mãos de Deus, de ensinar o mais bem aquinhoado de todos os antigos conversos".

Verdadeiro zelo — A aprender horas seguidas, na-queles dias memoráveis, sua alma incendiou-se com verdadeiro zelo. "E logo nas sinagogas pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus".

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O Espanto dos Judeus — Não nos c dito se qual-quer dos homens que o acompanharam a Damasco se converteu. Talvez vim ou dois o tenham feito; mas, sem dúvida, alguns deles pensaram que Saulo havia se tor-nado um traidor. Assim também pensaram os Judeus em Damasco, que se espantaram e murmuraram entre si: "Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para nos levar presos aos principais dos sacerdotes?" Mas, quanto mais eles se opunham a ele, com maior eloquência defendia o nome de Jesus e provava a eles que Jesus era o Cristo.

A Escola da Solidão — Após alguns dias de fla-mantes disputas nas sinagogas, Saulo decidiu deixar Damasco e fazer um retiro. Assim, despediu-se de seus novos amigos, partiu para a Arábia, nas montanhas perto do Mar Vermelho. Aqui ele recebeu instruções na Escola da Solidão.

Da mesma forma que Moisés, Elias, João Batista e mesmo o próprio Salvador, Saulo agora procurava estar a sós com Deus e aprender a comungar com o Es-pírito Santo.

Quanto tempo ficou lá não o sabemos. Tudo o que ele diz sobre a sua viagem é que "parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco".

FUGA DE DAMASCOAssim que ele volou à cidade em que havia sido convertido, começou a pregar novamente nas sinago-gas. Novamente os Judeus começaram a disputar com ele, e novamente ele os confundiu. Dia após dia, e se-mana após semana a controvérsia religiosa prosseguiu até que os judeus não puderam mais aguentar e "tomaram conselho entre si para o matar".

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Todos os portões guardados — Ao redor da cidade de Damasco havia um grande muro, e ninguém poderia entrar ou sair a não ser através dos portões. Portanto, quando os Judeus decid^r)am<mtitar Saulo, a primeira coisa que fizeram foi tentar barrar sua saída. Colocaram guardas em todos os portões tanto de dia como de noite para poderem tirar-lhe a vida".

Mas Saulo tanto tinha amigos como inimigos, e tinha um Amigo que o havia escolhido para uma gran-de e útil missão, e enquanto Saulo tivesse fé, sua vida seria poupada até que seu trabalho especial fosse exe-cutado. Por inspiração ou de qualquer outra maneira. Saulo sabia que seus inimigos estavam esperando por ele, e assim manteve-se fora de seu caminho.

Sobre o muro — Felizmente, um de seus amigos vivia numa casa construída perto dos muros da cidade e dali alguns dos discípulos auxiliaram Saulo a fugir. Puzeram-no num cesto e então vigiando cuidadosamen te para ver se havia algum inimigo à vista, eles carre-garam Saulo para o alto do muro, e baixaram-no do outro lado. Assim aconteceu que enquanto os guardas vigiavam dia e noite, para apanhar Saulo, aquele dis-cípulo do Mestre estava a caminho de Jerusalém.

COM OS DISCÍPULOS EM JERUSALÉM

Três anos antes, ele havia deixado Jerusalém como um oficial do Sinédrio, portador de comissão especial e acompanhado de servos e oficiais. Partiu com inimizade em seu coração por toda pessoa que profes-sava acreditar em Jesus Cristo. Agora ele viajava de volta, sozinho, rejeitado por aqueles a quem ele havia servido, um fugitivo dos judeus que, alguns anos antes, esperavam aclamá-lo como herói» Mas Saulo sente-se mais feliz agora, sozinho como está, do que quando foi com pompa prender os servos de Deus. E

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não obstante até nem pode esperar qualquer espécie de boa acolhida em Jerusalém, Seus antigos antigos e professores pensavam que ele havia se tornado um traidor de sua causa e os Apóstolos de Jesus duvida-vam de sua conversão". ... todos o temiam, não crendo que fosse discípulo".

Barnabé — Mas havia um velho e verdadeiro ami-go, colega de escola, e concidadão, que estendeu a Saulo uma mão amiga. Era Barnabé que "tomando-o con-sigo o trouxe aos apóstolos" contando como Saulo ti-nha sido convertido por uma luz e a voz do Senhor e como 31e havja pregado em Damasco em nome de Jesus.

Com este testemunho os Apóstolos aceitaram Sau-lo, e deram-lhe sua companhia. Logo estava ele pre-gando em Jerusalém com tanta ousadia como tinha feito em Damasco. Em suas disputas com os gregos, ele evidentemente os confundiu como havia feito com os de Damasco e com o mesmo efeito: "tomaram con-selho entre si para o matar".

Retorno a Tarso — Quando os irmãos ouviram isto "o acompanharam à Cesaráia e o enviaram a Tarso" de volta ao seu antigo lar aos seus pais e à sua irmã. Mas que homem diferente era ele do que quando >havia partido para praticar em Jerusalém! Em nome, ainda "Saulo de Tarso", mas em natureza era "Paulo e discípulo de Jesus Cristo".

Chamado a auxiliar Barnabé — Durante a perse-guição na qual Estêvão foi martirizado, os Santos se esparramaram para diferentes lugares c, onde quer que fossem, pregavam as alegres novas de grande ale-gria. "E a mão do Senhor era com eles; e grande nú-mero creu e se converteu ao Senhor'.

Cristãos — Muitos desses conversos reuniram-se em Antióquia e foi lá, como já sabemos, qu<' os Smilos foram pela primeira vez chamiidos Cristãos. Foi pri-

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meiramente aplicado este apelido a eles como a pala^/ vra Mórmon é aplicada à Igreja nestes dias, mas pojsí-teriormente foi aceito como título honroso.

Barnabé procura Saulo — Barnabé, que "era um bom homem, e cheio do Espírito Santo e de fé" foi in-dicado para cuidar dos Santos naquela cidade. Encon-trando uma grande oportunidade missionária naquele campo, e desejando ter alguém capaz para ajudá-lo a levar adiante o grande trabalho que lhe foi destinado, Barnabé decidiu ir a Tarso, sua antiga cidade, para encontrar Saulo. Que felicidade esses antigos colegas de infância devem ter sentido quando novamente se encontraram nas cenas familiares de seus dias de in-fância. Não sabemos o que fizeram, nem o que disse-ram, e nem o que seus antigos amigos e parentes pen-savam de sua nova religião. O que sabemos, contudo, é que Paulo aceitou o chamado para ir com Barnabé a Antióquia. Lá "eles se reuniram naquela igreja e ensi-naram muita gente". Esta parece ter sido a primeira tarefa de Saulo na Igreja.

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LIÇÃO 25 MENSAGEIROS

ESPECIAIS A JERUSALÉM

"Deus ordenou aos homens, necessitando estes uns dos outros, a se amarem mutua-mente, e a carregaem as cargas do pró-ximo"."Lamentar os infortúnios, é somente hu-mano; aliviá-los é divino".

—x.x.x.x—

Ágabo — Enquanto Saulo e Barnabé estavam na Antióquia, vieram profetas de Jerusalém, um dos quais era chamado Ágabo. Acredita-se que ele tenha sido um dos setenta escolhidos pelo Salvador; mas exatamen-te que grau do sacerdócio ou que posição na Igreja ele ocupava, não sabemos ao certo. Mas ele deve ter sido um homem direito, e cheio do Espírito Santo, pois podia prever através de inspiração do Espirito, coisas que outras pessoas, por sua própria inteligência, não podiam ver. No tempo do qual falamos, ele profetizou que "haveria uma grande fome em todo o mundo".

Ofertas aos pobres -— Os discípulos tinham fé em Ágabo e acreditavam ser verdadeiro o que ele dizia. Conheciam alguns santos na Judéia, que não poderiam suportar a fome; muitos deles haviam dado tudo o que possuíam à Igreja; assim "os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na "Judéia". Saulo e Harnabó foram escolhidos como mensageiros de socorro.

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Fome — Foi bom que assim tivessem procedido, pois a fome veio com Ágabo havia previsto. Lucas nos diz que aconteceu nos dias de Cláudio César (44 D.C.) e os historiadores profanos nos dizem que foi tão severa que até mesmo o imperador foi insultado no mercado por aqueles que passavam fome.

Perseguição sob Herodes — Mais ou menos no tempo em que os dois élderes foram enviados da Antióquia para Jerusalém, houve uma amarga perseguição con-tra os Santos; e "o rei Herodes estendeu suas mãos so-bre alguns da Igreja para os maltratar; e matou à es-pada Tiago, irmão de João". Aqueles foram os dias nos quais Pedro foi aprisionado e acorrentado aos seus guardas, mas através da intervenção milagrosa de Deus foi solto por um anjo. Saulo e Barnabé talvez estivessem presentes na casa de Maria, a mãe de João Marcos, unindo-se às orações para a preservação da vida de Pedro, quando, como já aprendemos na lição sobre Pedro, Rode anunciou a presença de Pedro à porta.

Volta a Cesaréia — Após testemunhar esta mara-vilh°sa manifestação de poder de Deus a favor de seus servos, Saulo e Barnabé provavelmente tenham teste-munhado como Deus pune os iníquos. Se assim foi. aconteceu da seguinte maneira: Seu dever como men-sageiro dos Santos da Antióquia havia sido fielmente executado e o socorro enviado aos membros da Igreja na Judéia, devidamente entregue a/queles a quem o deveriam fazer. Haviam gasto muitos dias revendo ve-lhos amigos e gozando da companhia, mesmo em per-seguição, dos líderes e membros da Igreja de Cristo. Estavam agora prontos para retornar e relatar os seus trabalhos prestados à Igreja na Antióquia. Sua viagem de volta os levou a Cesaréia. Talvez eles tenham visitado Cornélio, cujo lar, como você se lembra, lá ficava. De qualquer modo, alguns dos que estudaram cuidadosamente a vida e as viagens de Saulo nos dizem

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que ao voltar para Jerusalém, desta vez, ele testemu-nhou a morte do perverso Rei Herodes. Weed descreve a cena da seguinte maneira:

Morte, de Herodes — "O Imperador Cláudio havia conseguido grandes vitórias na Grã-Bretanha. Ao vol-tar a Roma, houve grande alegria. Herodes pensou que obteria grandes favores do imperador, oferecendo um grande festival em sua honra em Cesaréia, para onde se apressou partindo de Jerusalém. Na manhã do segundo dia, o teatro estava lotado com uma massa enorme de seres humanos para presenciarem a exibição desumana de gladiadores que lutavam para divertimento público. Herodes apresentou-se vestido em maravilhoso manto, brilhando de prata. Ao cair sobre ele os raios do sol da manhã, os olhos dos espectadores foram feridos pelo brilhante manto. Lisongeado por seus tolos gritos de admiração, ele disse uma oração ao povo que gritava dizendo: "É a voz de um Deus e não de um homem". Ele gostava de assim ser chamado, apesar de ser isto blasfémia, dando a um homem o que pertence a Deus somente. Imediatamente o anjo do Senhor feriu-o porque não deu a glória a Deus". Esta experiência não foi diferente da que Pedro teve na prisão, quando o anjo do Senhor desceu sobre ele e o tocou na ilharga, afastando-o da morte.

O golpe do anjo sobre Herodes feriu-o com uma terrível doença, tal como a que havia causado a morte de seu avô. Ele foi levado do teatro ao seu palácioi onde permaneceu cinco dias em agonia até que a morte encerrou sua vida no quinquagésimo quarto ano de sua vida. Era o quarto ano do seu reinado sobre a região onde havia reinado seu avô, cujo mau exemplo ele seguiu para um fim igualmente inglório.

Quando no teatro a cena foi repentinamente mu-dada, das diversões gladiatórias e iníquas, para o julgamento

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do rei, a multidão fugiu horrorizada, abando, liando MS roupas de acordo com o costume.

João Marcos — Todas estas coisas e muitas mais, Paulo c H;irnnt>é relatariam aos santos ao voltarem a Anlióqiiia. Lucas nos diz que após terem cumprido seu niinislrrio, eles voltaram de Jerusalém e levaram com (Mrs João cujo sobrenome era Marcos".

Interessantes reuniões foram realizadas na Antió-i | i i ia, nas quais o relatório da missão de Saulo e Bar-nabé foi dado. Presentes a estas reuniões e residentes na Antióquia nesta ocasião, haviam "alguns profetas, doutores a saber: Barnabé e Simeão, chamado Níger, e Uúcio Cireneu e Manahen, que fora criado com He-rodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espirito Santo: "Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado". Eles haviam se desempenhado de um dever com fidelidade e estavam agora melhor preparados para um maior, para o qual o Senhor os havia escolhido. Tratava-se de uma missão especial aos gentios.

Algum tempo mais tarde, após terem orado e je-juado, alguns dos profetas e mestres impuseram suas mãos sobre os missionários escolhidos, abençoaram-nos e mandaram que se preparassem para sua viagem.

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LIÇÃO 26 PRIMEIRA

VIAGEM MISSIONÁRIA

"Permita que sua religião seja vista. As lâmpadas não falam, brilham. Um farol não toca nenhum tambor, não soa nenhum gongo; não obstante, longe, longe no oceano sua luz amiga é vista pelo navegante".

—x. x. x. x—

Logo após as reuniões especiais mencionadas no último capitulo, S. Paulo, Barnabé e João Marcos ini-ciaram sua missão que é conhecida como a primeira viagem missionária de Paulo.

Em Chipre. — Partindo da famosa cidade de Atió-quia, na Siria, eles navegaram rio abaixo para a Se-lêucia, um porto do Mar Mediterrâneo. Ali embarca-ram no mar aberto, e navegaram para o sul, para a ilha de Chipre.Desembarcando em Salamina, um porto de Chipre, os missionários iniciaram seus trabalhos imediatamente, pregando a palavra de Deus na sinagoga dos Judeus. Ali Barnabé estava em casa, e sem dúvida experimentou grande alegria em pregar o Evangelho aos seus antigos amigos e companheiros de brinquedos. Mas deve ter ficado profundamente aborrecido por ver o grande número deles que rejeitou sua mensagem e continuou em pecado e idolatria.

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Os gentios nesta ilha adoravam a deusa Vénus, a quem haviam construído um Templo e ofereciam sa-crifícios .

Sua religião, em vez de torná-los mais puros em seus pensamentos e mais virtuosos em suas ações, os fazia pecadores. Assim Saulo e seus companheiros acharam o povo de f a l o muito iníquo. Onde quer que fossem, êsles Ires missionários pregavam o único evan-gelho verdadeiro, e chamavam os homens em todos os lugares ao arrependimento.

Viajaram por Ioda Chipre, uma distância de cerca de cem milhas, falando ao povo sobre Cristo o Re-dentor do Mundo.

KM >PAFOS

O Governador ouve o evangelho. — Na parte su-doeste de Chipre encontrava-se a principal cidade da ilha. chamada Pafos. lira ali que o governador roma-no ou, como diy. laicas, o procônsul vivia. Como era seu costume, logo após sua chegada os missionários entraram na cidade c proclamaram sua mensagem ao povo. Quando o governador Sérgio Paulo ouviu falar deles, "chamando a si llarnabó e Saulo, procurava muito ouvir a palavra de Deus". Lucas diz que ele era um "varão prudente" e, assim sendo, concluímos que tenha sido sincero em seu desejo de conhecer a verdade.

ELIMAS, O ENCANTADOR

Um encantador rejeita o evangelho. — Vivendo em casa do preconsul, na ocasião, havia um homem que não era sincero e que dizia ser um encantador. Ele rejeitou a mensagem de Saulo e opoz-se aos seus ensi-namentos. Barjesus era o seu verdadeiro nome e era

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judeu e falso profeta. Saulo leu seu coração perverso e sabia que era por egoísmo e amor ao dinheiro que ele rejeitava o Evangelho.

Então Saulo, também chamado Paulo, "cheio do Espírito Santo e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo engano e de toda malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?"

"Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo".

O Governador Crê. — Sérgio Paulo, contudo, "creu, maravilhado, na doutrina do Senhor". Muitos outros também acreditaram e na perversa cidade de Pafos onde os habitantes adoravam a deusa do amor, uma igreja foi organizada, e um pequeno corpo de cris-tãos se reuniu para adorar o verdadeiro Deus e Seu Filho, Jesus Cristo.

EM PAMFÍLIA

De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram em direção ao norte, para Perge na Panfília. Neste lugar algo aconteceu sobre o qual devemos aprender mais. Tudo o que Lucas relata é o seguinte: "Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém".

Sabemos que mais tarde, esta circunstância tornou-se uma questão de grande disputa entre Barnabé e Paulo, mas o motivo exato, porque João quiz voltar, não nos foi dito. Talvez, não tivesse sido sua intenção viajar para tão longe; ou talvez assuntos em sua casa necessitassem de sua atenção; ou talvez tenha sido muito sensível e julgado que "dois é bom, três é demais". Mas, seja qual for a causa, Paulo e Barnabé tinham que continuar sua viagem sem o jovem Marcos. Mais tarde ele reiniciou seus trabalhos missionários, viajando com Barnabé. Não há nenhum registro de que

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ele tenha reiniciado suas viagens com Paulo; apesar do último ter escrito sobre ele mais tarde, como um conforto, e um companheiro no reino de Deus.

NA PISÍDIA

Através de Montanhas. — De Perge, na Panfília, Paulo e Barnabé continuaram para o norte, para a Antióquia, na Pisídia. Dia após dia, estes dois missio-nários viajaram a pé através duma região montanhosa, onde poucas pesoas moravam. Algumas vezes, talvez, eles tenham podido encontrar alojamento com algum pastor, mas, mais frequentemente, dormiam em cavernas ou entre as árvores. Mas tinham uma mensagem de salvação em seus corações e por isso sentiam-se felizes. Após cerca de sete dias de viagem cansativa e perigosa chegaram a Antióquia, na Pisidia.

Na sinagoga. — Ao chegar o dia de sábado, como era seu costume ,os missionários foram à sinagoga, e sentaram-se com a congregação. Após os líderes terem lido a lei e os profetas, perguntaram aos visitantes se eles tinham "alguma palavra de consolação para o povo". Ao ouvir isto, Paulo levantou-se e pronunciou um sermão muito expressivo, tão expressivo que o povo convidou Paulo para falar novamente no próximo sábado. "Muitos que estavam presentes aceitaram o Evangelho". (Atos 13:14-21).

"E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus.

"E então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja: e blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia": "Sua oposição e contradição fez com que os missionários se tornassem mais empolgados e positi-vos, quando era aparente que os Judeus não aceitariam a verdade, Paulo e Barnabé, usando de ousadia disseram: "Era mister que a vós se pregasse primeiro a

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palavra de Deus; mas visto que as rejeitaes, e vos não julgaes dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios". Quando os gentios ouviram isto, alegraram-se e muitos deles aceitaram os princípios do Evangelho.

Judeus ciumentos. — Os judeus ficaram enciuma-dos; encheram-se de inveja e decidiram expulsar os missionários para "fora de seus termos". Isto eles fi-zeram com o auxílio de "mulheres religiosas e hones-tas, e os principaes da cidade". A perseguição se tor-nou tão grande que Paulo e Barnabé "sacudindo con-tra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio.

EM ICÔNIO

Novamente na sinagoga. — Cheios da alegria que vem do verdadeiro serviço ao próximo, Paulo e Bar-nabé, começaram sua pregação em Icônio. Entrando na sinagoga, como haviam feito na cidade da qual aça bavam de ser expulsos, "falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho da palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios".

Novamente contraditos. — Judeus e gregos se ajun. taram ao redor do estandarte que era levado por estes grandes missionários; mas também judeus e gregos se organizaram para se opor a eles. O resultado foi que a cidade de dividiu, "uns eram pêlos judeus e outros pêlos apóstolos".Ouvindo que se havia organizado uma trama para causar-lhes danos e apedrejá-los, Paulo e Barnabó re-tiraram-se da cidade e foram a "Listra e Derbe, ruln-des da Lycaonia, e para a província circunvi/inlin".

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LIÇÃO 27

Á PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA — (continuação)

EM LISTRA E DERBE

"Os ataques externos e as atribulações mais firmam do que abalam o Cristão, da mesma forma como as tempestades só servem para melhor firmar o carvalho ao solo".

"Se Deus puzer Seus filhos na fornalha, Ele estará na fornalha com eles, com toda certeza".

—x. x. x. x—

Entre os pagãos. — Em Listra, Paulo e Barnabé en-contraram um povo que era quase inteiramente pagão, pois adoravam Júpiter, Mercúrio e outros deuses fal-sos, e sabiam pouco ou nada sobre o verdadeiro Deus. Havia judeus entre eles mas não em número suficiente para construir uma sinagoga.

O país era selvagem e inculto e os seus habitantes eram bem parecidos com o país. Eram "pobres, de pequeno conhecimento e rudes no vestuário e nas ma-lieiras". Um povo assim é comumente acanhado entre extranhos e vagaroso para aceitar qualquer coisa no-va. Mas assim que começa a ganhar confiança no extranho, pode ser facilmente levado por ele, não ten-do opiniões próprias muito definidas.

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A doutrina pregada por Paulo e Barnabó, era nova para eles, e após um certo tempo começou a dfci* perlar sua curiosidade, e então o seu interesse.

Povo escolhido entre eles. — Alguns dos mais in-teligentes compreenderam a verdade e a aceitaram. Para que não se pense que entre os pagãos não existia povo superior, mencionarei que entre estes pagãos ha-via pelo menos uma família cuja participação na Igre-ja a Bíblia menciona, e em Derbe havia outras.

Timóteo. — Nestas cidades, fora da perseguição e aflição que desciam sobre eles, movidas pêlos igno-rantes e maus, Paulo e Barnabé trouxeram à fé alguns dos melhores membros da antiga Igreja. Entre estes encontrava-se Timóteo, a quem Paulo mais tarde chamou seu filho; Eunice, a Mãe de Timóteo e Loide, avó de Timóteo, cuja fé Paulo comentou anos mais tarde-Sem dúvida, somente a amizade deste nobre povo pagava Paulo em sobejo por toda perseguição que ele sofreu durante sua primeira missão.

Mas, para o povo em geral, a mensagem era extra-nha e incompreensível, Eles não podiam separar a doutrina de Cristo de suas divindades pagãs, como nos mostra uma admirável experiência.

Um Milagre. — Paulo e Barnabé e alguns conver-sos estavam reunidos um dia ao ar livre. Na audiência sentava-se um homem "leso dos pés" que tinha estado aleijado desde o seu nascimento e que jamais havia andado. Este fato, naturalmente, todo o povo sabia, pois muitos estavam familiarizados com ele e tinham visto ser ele carregado à reunião. "E ouviu falar Paulo" e a convicção entrou em seu cansado coração de que o que Paulo dizia era verdadeiro. Paulo olhou para ele e "vendo que tinha fé para ser curado", disse: "Levanta-te direito sobre teus pés", isto ordenado pelo poder do Redentor.

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"E ele saltou e andou". Quando o povo viu isto, levantou-se um clamor na cidade e disseram em sua linguagem, que era uma mistura de grego e sírio: "Chamaram a Paulo e Barnabé pêlos nomes de seus deuses. Barnabé era alto, assim eles o chamaram Jú-piter; e Paulo, sendo baixo e orador de talento, eles chamaram Merciirio, porque Mercúrio era o deus da instrução e da eloquência.

Oferecer Sacrifícios. —- Algum tempo após a reu-nião, os sacerdotes de Júpiter que oficiavam no templo de Júpiter que havia na cidade, decidiram oferecer sa-crifícios aos seus deuses, personificados em Paulo e Barnabé. Assim, todos eles, juntaram-se nos portões da cidade, trouxeram touros e começaram a fazer os pre-parativos para oferecer sacrifícios.

Os missionários protestam. — Quando «Paulo e Bar-nabé ouviram isto, correram para entre o povo e "ras-garam os seus vestidos" em protesto contra tal sacrifí-cio. Rasgar seus vestidos era uma expressão de intenso sentimento e o povo o compreendeu. Além de fazer isto, eles gritaram: "Varões, porque fazeis estas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos conver-testes dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu e a terra, e o mar e tudo quanto há neles".

Paulo apedrejado. — Contudo, eles mal podiam evitar que o povo os adorasse, mas alguns judeus ha-viam seguido os missionários da Antióquia e Icònio tendo convencido a multidão que Paulo e Barnabé eram impostores, e que o milagre tinha sido feito pelo poder do mal. Instaram o povo de tal maneira que, em vez de adorarem a Barnabé e Paulo, apanharam pedras e apedrejaram Paulo até que este caiu ao chão, aparentemente morto. Pensando que estivesse morto, a multidão então arrastou seu corpo para fora da cidade e o abandonou.

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Um monstro de muitas cabeças. — Esta multidão era como um monstro de muitas cabeças. Primeiro estavam prontos a adorar os homens como deuses e então, apenas em alguns minutos tornaram-se tão perversos que chegariam a manchar sua alma com um assassínio.

Paulo volta a si. — Dispersada a multidão, ao re-dor do corpo silencioso e sangrento que ainda jazia inerte ao solo, reuniram-se alguns discípulos fiéis e inte-ligentes que haviam acreditado no verdadeiro evange-lho . Como devem ter ficado satisfeitos e gratos quando viram Paulo mover-se e mais; tarde recobrar seus sentidos!

Ele havia sido apedrejado, mas não ferido seria-mente assim uns poucos cuidados deram-lhe força pa-ra se manter sobre seus pés e caminhar de volta à cidade.

Gaio. — No dia seguinte ele saiu de Listra e via-jou vinte milhas, para Derbe. Aqui ele pregou com ousadia e efetivamente, e converteu muitos à verdade, e entre eles um homem chamado Gaio, que provou ser um amigo firme e verdadeiro de Paulo e da Igreja em geral.

Outro ramo organizado. — Como haviam feito em outras cidades, os missionários organizaram em Derbe um ramo da Igreja e ordenaram Élderes para dirigi-lo. Instruiu a estes e se reuniram a eles e com os membros em jejum e oração, e "os encomendarem ao Senhor" e deles se despediram, pois havia chegado o tempo em que os primeiros missionários da Antióquia deveriam regressar para seu lar,

De volta a casa — Eles visitaram todos os ramos, pregando o Evangelho, instruindo, abençoando e con-fortando os Santos em Listra e nas regiões circunvizi-nhas. Voltaram então quarenta milhas para Icònio e sessenta milhas para Antióquia, na Pisidia. De lá,

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partiram para Gergue na Panfilia e navegaram de Atta-lia para Antióquia, na Síria.

Aqui os Santos se reuniram e lhes deram boas vin-das, e ouviram o relato dos Élderes de "quão grandes coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios a porta da fé".

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LIÇÃO 28 UMA

GRANDE CONTROVÉSIA

Textos: Atos 15 1-35.

"A união dos cristãos em Cristo, sua ca-beça comum, por meio da influência que dele emana, pode ser ilustrada por um imã. Não somente junta as partículas de ferro a si mesmo por sua virtude magné-tica, mas também por esta virtude as une umas às outras".

—x.x.x.x—Os judeus espalhados pelo império — Ao seguirmos

Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, notamos que em quase todas as cidades que visitaram Judeus e que judeus estavam espalhados por quase todo o império romano. Estavam nas costas e Ühas da Ásia ocidental, no litoral do Mar Cáspio, e alguns se encontravam até mesmo na China.

Os judeus mantinham-se em sua religião — Mas não importa onde o judeus vivesse, ele sempre mantinha sua religião e estudava cuidadosamente a Lei de Moisés. Foi isto que Tiago quiz dizer quando disse "Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o segue, e cada sábado é lido nas sinagogas". Sua religião os ensinava a não se misturarem com os gentios em casamento ou intercurso social.Os gentios, por outro lado, olhavam com desprezo para os judeus, enquanto as festividades alegres e li-cenciosas da adoração grega e romana fazia com que

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chocada; pois obedecer seria quebrar a Lei de seus antepassados, associando-se aos gentios. Os cristãos judeus que estavam com Pedro desde Jope até Cesaréia, admiraram-se quando viram o dom do Espi-rito Santo derramado sobre os "imundos" gentios. Quando Pedro chegou a Jerusalém, foi acusado não so-mente de ter se associado com gentios mas também co-mido com eles. Porém Pedro havia aprendido por Re-velação que "o que Deus purificou" ninguém os judeus olhassem com desprezo para os gentios. Eles faziam, negócios entre si, e se misturavam em seus afazeres diários, mas de regra, era só até aí que iam suas ligações. Diriam com Shylock (Mercador da Veneza, Ato I, Cena 3): "Comprarei com você, venderei com você .falarei com você, caminharei com você e assim por diante; mas não comerei com você, não beberei com você e nem orarei com você".

Naturalmente havia certqs gentios que algumas vezes se convertiam à religião judaica e havia alguns que se casavam com mulher judia, mas a barreira de desapreciação e suspeita não se desfazia.

Os Preconceitos de Pedro — Como já vimos, foi difícil para o Senhor convencer Pedro de que os gentios mereciam ser batizados na Igreja de Cristo. Pedro viu numa visão uni grande lençol descendo dos céus no qual havia animais imundos e ele ouviu uma voz: "Levanta-te Pedro, mata e come". Mas Pedro disse "De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum ou imunda". (Veja toda a experiência).

A Revelação de Pedro — Quando Pedro compre-endeu o significado da visão, toda a sua natureza judia ficou deveria chamar "Comum ou imundo", que o Senhor "não faz acepção de pessoas" e que tôdasi as nações que O aceitam, O temem e trabalham com justiça, podem receber Suas bênçãos.

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A QUESTÃO É AGITADA

A Igreja é agitada — Mas havia muitos judeus na Igreja que não criam nisto e a única condição sob a qual aceitariam um gentio, era que estes deveriam também obedecer à religião mosaica. Quando esta classe de Cristãos ouviu que Paulo e Barnabé haviam batizado centenas de gentios .ficaram muito agitados em seus sentimentos, e alguns deles foram a Antióquia e começaram a pregar, primeiro particularmente e de-pois publicamente, que a menos que os gentios obede-cessem um certo rito judeu, não poderiam ser salvos. Paulo e Barnabé haviam dito aos Santos que a obediên-cia ao Evangelho de Cristo salvaria os Gentios da mes-ma forma que os judeus e que os gentios não tinham que se tornar judeus. Estes homens do principal ramo da Igreja declararam que Paulo e Barnabé estavam errados. Sem dúvida aqueles que dentre os gentios se voltaram para Deus estavam perturbados e perplexos. A controvérsia se tornou tão aguda que ameaçou de afastar alguns da Igreja.

MENSAGEIROS ENVIADOS A JERUSALÉM

Mensageiros a Jerusalém — Assim foi determinado que Paulo e Barnabé e outros dentre eles fossem a Jerusalém e levassem esta questão perante os apóstolos e anciãos.

A Igreja em Antióquia, evidentemente acreditava que (Paulo e Barnabé estavam certos pois quando ini-ciaram sua viagem foram acompanhados em seu ca-minho pela Igreja. Ao passarem através da Siro-^Fení-cia e Samaria, e dizerem aos Santos que os cumpri-mentavam, como os gentios haviam sido convertidos, «lês "davam grande alegria a todos os irmãos".

A Terceira visita de Paulo — Esta foi a terceira visita de Paulo a Jerusalém desde a conversão. A pri-

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meira foi três anos após ter se afiliado à Igreja, quando ele passou duas semanas com Pedro e então fugiu por estar em perigo de vida. A segunda foi quando ele acompanhou os mensageiros que trouxeram socorro aos Santos na Judéia durante a fome. Foi nesta ocasião que Pedro foi condenado à morte. Quinze anos haviam se passado desde que ele havia partido de Jerusalém para Damasco, com papéis para prender todos os Cristãos que encontrasse. Agora ele entra na cidade como defensor de uma das maiores verdades que a Igreja Cristã do mundo pode conhecer, isto é, que Deus não faz acepção de pessoas, mas que abençoará toda nação que obedeça os princípios de vida e salvação.

NO CONSELHO COM OS LÍDERES

Tito — Ele primeiramente se reuniu a Pedro, Tiago e João, e recebeu pela primeira vez, pelo que nos é dado conhecer, "a mão direita e amizade" de João, o discípulo amado. Tito estava com Paulo como um exemplo do que eram os conversos gentios.

Um Apelo à Presidência — Esta visita foi realmente um apelo à Presidência dos Doze, e confirma a crença dos membros da Igreja hoje em dia, que Pedro, Tiago e João foram nomeados lideres naquela ocasião, da mesma forma como temos hoje os três Sumo Sacerdo-tes que são escolhidos como a Primeira Presidência da Igreja de Cristo.

Uma reunião importante — Finalmente a grande reunião. Foi uma cena de grande debate e talvez, em seu início, de grande discussão, mas finalmente Pedro se dirigiu à audiência e contou como Deus lhe havia revelado a fato de que os gentios podiam aceitar o Evangelho sem obedecer todas as cerimónias judaicas.

Os Missionários testificam — Então Paulo e Bar-nabé falaram em meio a grande silêncio, todos os olhos

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estando como que presos a esses dois grandes missio-nários que haviam sido os primeiros a organizar ramos da Igreja entre as nações dos gentios. Finalmente, Tiago, o irmão do Senhor, que era conhecido entre os judeus como "Tiago o Justo", levantou-se e proclamou a decisão do conselho, que estabelecia a união dos cristãos judeus e gentios.

PAULO VOLTA A ANTIÓQUIA

Judas e Silas — Assim terminou a controvérsia e a missão de Paulo aos gentios estava oficialmente aprovada. Quando ele partiu de volta a Antióquia, achava-se acompanhado de Judas, cujo sobrenome era Barsabás e Silas que era chefe entre os irmãos. Parece que João Marcos também partiu com eles. Levaram com eles o decreto do conselho para ser lido às Igrejas que haviam sido tão perturbadas com a controvérsia.

Quando chegaram a Antióquia, toda a Igreja se reuniu, para ouvir a decisão do conselho. Podemos imaginar com que interesse e consolo os Santos ouvi-ram o decreto de que não deveria haver uma igreja para os gentios e outra para os judeus, mas que todos que sinceramente criam em Cristo e obedeciam Seu evangelho seriam salvos.

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LIÇÃO 29

PAULO INICIA SUA SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA

"O homem deveria confiar em Deus, como se Deus cuidasse de tudo, e não obstante, trabalhar tanto como se ele mesmo fizesse tudo".

—x. x. x. x—Paulo deseja visitar os ramos — Depois que Silas e

Judas Barsabás permaneceram na Anüóquia por al-gum tempo "ensinando e pregando a palavra do Senhor" com Paulo e Barnabé e "muitos outros", Judas provavelmente retornou a Jerusalém, e "pareceu bem a Si Ias ficar ali". Dois anos se passaram desde que Paulo e Barnabé haviam voltado de sua primeira missão e Paulo quiz visitar novamente as igrejas que eles haviam estabelecido naquela memorável viagem. Assim, um dia ele disse a Barnabé: "Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que j/á anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão".

Desacordo — Barnabé logo consentiu, mas disse "Vamos levar meu primo João Marcos conosco". "Não", respondeu Paulo, "não adianta levar Marcos conosco pois ele se afastou de nós em Pamfilia e não foi trabalhar conosco".

Separação — Mas Barnabé sabia porque Marcos havia feito aquilo e tinha certeza de que ele não de-sistiria desta vez. Paulo contudo não consentiu e assim estes dois grandes missionários concordaram em se se-parar e cada um tomar seu próprio companheiro. Bar-

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nabé escolheu João Marcos e Paulo escolheu Silas. Eles provavelmente concordaram que Barnabé e Marcos fossem visitar as igrejas nas ilhas e Paulo e Silas visitariam as do continente.

Não nos consta que Paulo e Barnabé jamais te-nham se encontrado novamente, mas Paulo se refere a ele posteriormente, como um apóstolo ativamente empenhado no serviço do Mestre. Marcos também, pos-teriormente, conquistou a confiança de Paulo, pois mais tarde se refere a ele como um companheiro de trabalho e um dos que tinham sido úteis no ministério.

Barnabé e Marcos em Chipre — Barnabé e Marcos partiram primeiro e navegaram para Chipre, a ilha natal de Barnabé. Aqui Marcos também se sentiria em casa, pois foi onde iniciou seu trabalho missionário. Aqui os deixaremos entre os novos cristãos e seguire-mos Paulo e Silas.

PROVÁVEL VISITA À TERRA NATAL DE PAULO

Estes dois missionários iniciaram por terra, em di-reção ao norte, através da "Síria e Sicília, confirman-do as igrejas". Levaram com eles, naturalmente, a de-cisão do Conselho que, sem dúvida, deu grande con-forto aos gentios cristãos nestes ramos.

Exatamente quais cidades Paulo e Silas visitaram na Siria e na Sicília, não sabemos; mas havia uma pela qual Paulo certamente passaria: a sua cidade natal, Tarso. Se ele conseguiu estabelecer uma igreja lá, com que alegria e satisfação ele não retornaria agora. Pau-lo sempre foi muito orgulhoso de Tarso e referiu-se a ela mais tarde como "cidade não pouco célebre".

EM DERBE E OUTRAS CIDADES

Derbe, Primeiro — Em sua primeira viagem Paulo e Barnabé visitaram, por ordem, Icônio, Listra e

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Derbe. Agora ele e Silas se aproximam destas cidades em ordem contrária, visitando Derbe primeiro e então Listra e Icônio.

Bem recebidos em Listra — Em Listra a sua che-gada foi comemorada pela bela Eunice que era judia, a mãe de Timóteo, Loide, sua avó e seu companheiro Silas.

CHAMADA E ORDENAÇÃO DE TIMÓTEO

Timóteo é fiel — Em Icônio e Listra, Paulo soube pêlos irmãos que aquelas boas mulheres e seu nobre filho, Timóteo, haviam sido fiéis (à fé. Ele já sabia que Timóteo havia sido instruído desde a infância a repar-tir as escrituras e a viver uma vida pura. Timóteo foi um dos que permaneceram ao seu lado quando a mul-tidão o arrastou para fora da cidade e o abandonou como morto e agora ele ainda encontra no coração do jovem a fé que primeiro tinham sua avó Loide e sua mãe Eunice. Sem dúvida, Paulo disse à senhora: "Eu desejo que Timóteo me acompanhe".

Timóteo é ordenado — A mãe consentiu e Timóteo foi ordenado pela imposição das mãos, para ser um missionário e servo do Senhor Jesus Cristo. Paulo posteriormente chamou este jovem "meu verdadeiro filho na fé", (l Tim. l :2) Este fato confirma a verdade contida no Artigo de Fé que declara ser crença dos Santos dos Últimos Dias que "um homem deve ser cha-mado por Deus, por profecia e pela imposição das mãos por aqueles que tenham autoridade para pregar o Evangelho e ministrar as suas ornenanças".

Para a Galácia — Após batizar muitos mais con-versos e estabelecer as Igrejas na fé, e sem dúvida vi-sitando a Antióquia, Pisidia e outras cidades no inte-rior onde ele e Barnabé organizaram ramos da Igreja, Paulo, Silas e Timóteo se dirigiram para a direcão norte, através da região da Galácia.

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Paulo adoece — Enquanto estavam atravessando aquela região Paulo adoeceu. Que espécie de doença? não sabemos se era "o espinho na carne". O certo é que ele estava muito doente, e ficou detido na Galácia, aparentemente contra sua vontade. A despeito de sua doença, contudo, ele pregou o Evangelho ao povo e muitos creram. A maneira como ele amava os amigos que fez naquela ocasião, pode ser parcialmente com-preendida por uma carta que ele lhes escreveu na qual ele diz: "E vós sabeis que primeiro vos anunciei o Evangelho estando em fraqueza da carne; e não re-jeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo. Porque vos dou testemunho de possível fora, arrancaríeis os vossos olhos e m'os darieis". (Gal. 4:13-15).

Naquela mesma carta ele os chama "meus filhi-nhos" (Gal. 2-19) e expressa o desejo de estar com eles novamente e fortalecê-los no Evangelho.

Ramos estabelecidos — Antes dos missionários dei-xarem a Galácia, ramos da Igreja foram organizados, e a carta de Paulo a eslas Igrejas é parte do Novo Tes-tamento.

Rumo ao Oeste — Partindo da Galácia, os três via-jantes continuaram para o oeste, em direcão ao Mar Egeo, e "tendo passado por Misia, desceram a Troas", cujo nome completo era Alexandria Troas. Paulo tinha suas vistas voltadas para a Europa e deste lugar podia olhar através do Mar Egeo e ver as distantes colinas da Macedônia".

Uma visão — Certa noite ele foi para a cama, tal-vez pensando no povo que vivia no outro lado das águas e inspirado com o sentimento de que o Senhor queria que ele fosse para eles. Naquela noite apareceu a ele uma visão, na qual "se apresentou um varão da

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Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos".

Lucas — Mas antes deles tomarem o barco para atravessar, ele e seus companheiros haviam recebido entre eles outro converso fiel a quem introduziremos agora em nossa lição. Pode ser que Paulo o tenha en-contrado quando estava doente pois o homem era um médico, e podia ser de grande utilidade para ele em sua doença. Este novo companheiro fez várias notas e posteriormente escreveu os "Atos dos Apóstolos" em que aprendemos a maioria das coisas que ora estamos estudando. Seu nome era Lucas, chamado por Paulo "o amado médico".

Paulo contou sua visão aos irmãos e "imediata mente" Lucas disse: "e logo depois desta visão, pro-curamos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evange lho".

Eles navegaram de Troa, em caminho direito atra-vés da Samotrácia e no dia seguinte para Nápoles e dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia.

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LIÇÃO 30

EM FILIPOS

"O Evangelho é a realização de todas as esperanças, a perfeição de toda filosofia, o intérprete de todas as revelações, e uma chave para todas as aparentes contradi-ções da verdade no mundo físico e moral".

—x. x. x. x—

Nas margens do rio — Perto da cidade de Filipos, corria o rio Gagitas. Em suas margens "fora das por-tas" achava-se um lugar de oração, provavelmente ao ar livre, no qual algumas pessoas se reuniam para adorar ao Senhor. Não havia sinagoga em Filipos e os poucos judeus que lá se encontravam se reuniam neste lugar, "lá beira do rio" para orarem. Quando chegou o primeiro dia de sábado, após terem os Élderes estado em Filipos por vários dias, foram a este lugar de ora-ção "e falaram às mulheres que ali se ajuntaram".O Evangelho é pregado — Sem dúvida os homens maus acusaram os missionários naqueles dias de afastarem as mulheres do bom caminho da mesma forma como os inimigos acusam os Élderes da Igreja hoje em dia. Mas as mentiras e as falsas acusações não podiam evitar que Paulo e seus companherios continuassem seu trabalho. A estas mulheres, eles pregaram o Evangelho de Jesus Cristo e contaram a história de Sua vida, Sua morte cruel e Sua gloriosa ressurreição.

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LÍDIA

Entre o grupo que ouvia a maravilhosa mensagem, achava-se uma certa mulher chamada "Lídia" que vivia em Tiatira mas que estava naquela ocasião em Filipos, cuidando de seus negócios relacionados com a venda de púrpura. Ela vendia corantes e púrpura usados pêlos ricos e pela nobreza. O Senhor lhe deu um testemunho da verdade, como Paulo a explicou e ela pediu para ser batizada. Ela e sua casa foram ad-mitidas como membros naquele dia. Se Lídia foi a pri-meira a ser batizada, então ela teve o privilégio de ser a primeira pessoa na Europa a aceitar o cristianismo. Se a referência à sua "casa" significa que ela tinha filhos ou se se refere somente aos seus escravos ou a ambos, não sabemos, mas eles se tornaram o núcleo de um ramo esforçado da Igreja naquela cidade, e na cidade de Lídia também.

Após o batismo, Lídia convidou os missionários para irem 'à sua casa e disse: "Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa".

A PITONISA

O mau Espírito é repreendido — Um dia quando os Élderes se dirigiam ao lugar de oração, eles encon-traram uma infeliz mulher que os perturbava. Era uma moça que parecia ser possuída por "espírito de adivinhação", que seus mestres (pois ela tinha mais de um) usavam para para fazer dinheiro. Quando ela se encontrou com os Élderes, gritou: "Estes homens que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo".

Depois que ela repetiu isto em vários dias dife-rentes, Paulo "perturbado", não particularmente pelo que ela dizia, mas porque sabia que o mau espírito a

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estava atormentando, voltou-se para ela um dia e disse aos maus espíritos:

"Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias de-la" e imediatamente ela foi curada.

Efeito — Quando seus mestres compreenderam que sua escrava tinha sido curada, e que a esperança de ganhos havia desaparecido, ficaram muito zanga-dos, "prenderam Paulo e Silas e os levaram à praça, à presença dos magistrados" Mas eles foram suficien-temente espertos para não contarem aos magistrados a verdadeira razão porque Paulo e Silas haviam sido levados lá. Não disseram "estes homens curaram nos sã escrava e não mais podemos enganar o povo por dinheiro". Não. Eles os acusaram de quebrar a lei ro-mana introduzindo costumes e crenças que eram ile-gais perante a lei romana.

"E a multidão se levantou unida contra eles" e os magistrados sem dar aos Élderes uma oportunidade para se defenderem mandou açoitá-los com varas.

AÇOITADOS E APRISIONADOS

No cárcere interior — Com suas mãos amarradas e com suas costas desnudas para o chicote, os Élderes foram açoitados com muitos açoites. Sangrentos e ator-doados, foram então levados para a prisão. Quando o carcereiro os recebeu, teve ordens de guardá-los "com segurança". Ouvindo esta ordem e julgando que os prisioneiros fossem homens muito maus, o carcereiro os levou e "os lançou no cárcere interior". O cárcere interior de uma prisão romana, era um subterrâneo escuro, úmido e triste. Um escritor a chama de cela pestilenta, úmida e fria, da qual a luz foi excluída e onde as correntes se enferrujam nos membros dos prisioneiros". Mas, não satisfeito em fechar os Élderes em lal Imraco, o carcereiro "lhes segurou os pés no tron-

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co". Ao prender somente seus pés, contudo, ele de-monstrou um pouco de misericórdia pois havia bu-racos no tronco para os punhos e o pescoço também.

Alegria na tristeza — Com suas costas feridas e sangrentas, seus corpos gelados pelo frio e humidade, suas pernas apertadas e doendo, esfaimados e sono-lentos e rodeados pela escuridão da noite, Paulo e Silas que sabiam estar sofrendo pelo verdadeiro Evangelho, podiam regosijar-se e louvar a Deus. Isto eles fizeram à meia noite, orando e cantando "hinos a Deus". Suas vozes soaram através das celas da prisão e os prisioneiros de corações duros e pecadores ouviram com surpresa o primeiro hino cristão que jamais tinham ouvido. O Poder de Deus se manifestou não somente nos corações de Seus verdadeiros servos, mas em toda a prisão e também na cidade, pois "de repente sobreveiu um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram". Todos os ferrolhos e barras das portas caíram e as portas da prisão se abriram e "foram soltas todas as prisões", mas nem um prisio-neiro tentou fugir.

O temor do carcereiro — Acordado de seu sono pelo barulho e tremor de terra, o carcereiro correu para a prisão somente para encontrar as portas escancaradas. Lembrando-se de sua vida se algum deles escapasse ,desembainhou sua espada para suicidar-se, quando Paulo gritou: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos".

Então ele, (o carcereiro) "pedindo luz, saltou den-tro, e, todo trémulo, se prostrou ante Paulo e Silas".

SUA CONVERSÃO

Umai pergunta muito importante — Talvez ele tivesse ouvido a pitonisa dizer, "estes homens são servos do Deus Altíssimo", pode ser que os tivesse ouvido

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pregar, ou pelo menos tenha ouvido pela boca de oa-tros o que eles pregavam. Provavelmente o próprio tremor de terra o tivesse convencido de que aqueles homens não somente eram inocentes, mas também servos de Deus. De qualquer modo, ele gritou: "Senho-res, que é necessário que eu faça para me salvar?" Es-ta é a pergunta que todos deviam fazer e a resposta, quando dada com verdade, todos deveriam obedecer. A Resposta — Note a resposta: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa". Então os servos do Senhor explicaram o que é a verdadeira crença, expondo "a palavra do Senhor", ensinou-lhes fé, arrependimento e batismo ;e quando o carcereiro e sua família disseram que acreditavam ser verdadeiro o Evangelho, ele levou-os para fora lavou seus vergões e foi batizado na mesma noite "ele e todos os seus".

Então eles os levou, não de volta è prisão, mas à sua própria casa, e lhes pôs a mesa. Conta-se que seu coração encheu-se de alegria porque ele creu no Senhorcom toda a sua casa.

Por fazer o bem havia aberto as janelas de sua al-ma e o sol de pura felicidade havia irradiado através de todo o seu ser.

Os Prisioneiros são soltos — O terremoto ou qual-quer outra coisa havia amedrontado outros homens da cidade, também, e entre estes os magistrados que haviam sentenciado e condenado, dois homens inocen-tes a serem açoitados e aprisionados. Compreendendo seu erro, logo de manhã enviaram a seguinte ordem ao carcereiro. "Soltai aqueles homens".

Paulo surpreende o carcereiro — Satisfeito com a mensagem o carcereiro correu a Paulo e Silas, dizen-do: "Os magistrados mandaram que vos soltasse; ago-ra pois saí e ide em paz".

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Ele surpreendeu-se ao ouvir Paulo responder friamente: "Açoitaram-nos publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na prisão e agora encobertamente nos lançam fora? Agora eles querem que saiamos quietamente para que o povo pense que somos pestilentos que fugimos da cadeia. "Não será assim; mas venham eles mesmos e ti-rem-nos para fora".

Os magistrados se humilham — Quando os magis-trados perceberam ter eles sido açoitados e lançados na prisão sem mesmo um julgamento, ficaram muito amedrontados e compreenderam que poderiam até mesmo perder o seu cargo. Assim eles vieram e le-varam Paulo e Silas para fora da prisão, e expressa-ram o desejo de que os missionários saissem da cida-de.

Os prisioneiro»! soltos haviam conquistado uma grande vitória e embora não fizessem ostentação na frente dos seus perseguidores, aproveitaram a ocasião para irem à casa de Lídia e encontrar-se com todos os Santos. Talvez Paulo tenha relembrado aos santos a noite em Jerusalém em que Pedro foi solto da prisão e veio à casa de Maria.

Não sabemos o que foi dito, com exceção de que "vendo os irmãos, os confortaram e depois partiram".

Lucas ficou para fortalecer e levantar a Igreja em Filipos e Paulo e seus outros companheiros prossegui-

ram para Tessalônica.

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LIÇÃO 31 NA

MACEDÔNIA

"Uma luta constante, uma batalha inces-sante para trazer sucesso nos meios inós-pitos, é o preço de toda grande realização".

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"Banir, aprisionar, pilhar, passar fome, enforcar, e queimar homens por religião, não é o Evangelho de Cristo, mas a política do demónio. Cristo jamais usou qualquer coisa que se parecesse com a força, com ex-cessão de uma vez, que foi para expulsar os mercado-res para fora do templo e não para fazê-los entrar".

É muito fácil fazer o bem quando estamos em boa companhia, mas não é fácil defender o direito quando a maioria se opõe a ele e, não obstante, é quando de-vemos mostrar verdadeira coragem. O Profeta Joseph Smith por exemplo, foi aviltado e perseguido por di-zer que havia recebido uma visã/o, mas ele sempre permaneceu fiel ao seu testemunho. Apesar de ser odia-da e perseguido, ele afirmava que Deus havia falado com ele e que "todo o mundo não podia fazer com que ele pensasse e acreditasse o contrário".

Esta é a coragem e a firmeza que todos deveriam. ter. Quando se sabe que alguma coisa é verdadeira, deve-se sempre ter a coragem para defendê-la mesmo diante do ridículo e da punição.

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Quanto à coragem para pregar o Evangelho em face da grande perseguição os missionários em Tessa-lônica e Beréia provaram ser verdadeiros heróis.

Após o cruel tratamento que Paulo recebeu em Filipos, não estava em condições de suportar longas viagens. Não obstante, ele e seus companheiros viaja-ram mais de cem milhas antes de chegarem a Tessa-lônica.

Esta cidade, a capital da Macedônia, em direção à qual Paulo havia dirigido seu roteiro desde que deixou Troas, era um importante centro comercial. "Em toda Grécia, com excessão de Corinto, não havia porto com melhor situação; a ancoragem era das melhores; as estradas eram lisas como lagos enquanto os vales da vizinhança davam acesso às estradas que levavam a Epirus e lá Macedônia superior". (Touard).

Seu nome — Certa vez a cidade fora chamada Terma, mas nos dias de Alexandre o Grande, foi cha-mada Tessalònica, em homenagem à irmã de Alexan-dre, Tessolônica, esposa de um dos generais de Ale-xandre. A cidade ainda é chamada por este nome, li-geiramente modificado. É agora chamada Salonique, e foi um dos centros da grande guerra que em 1915 as-solou toda a Europa. Em importância é a segunda ci-dade da Turquia Europeia.

Cansados fisicamente, mas alertas em Espirito — Cansado e sem dinheiro, Paulo entrou nesta grande cidade. Exausto fisicamente mas vigoroso e animado como nunca em espírito, ele deu os primeiros passos para dar ao povo a gloriosa mensagem do Evangelho do Redentor. A primeira reunião foi provavelmente realizada na sinagoga, pois Tessalònica era naquele tempo e tem sido até hoje, um forte centro judeu. Du-rante três semanas consecutivas, Paulo e Silas disser-taram com eles sobre as, escrituras", expondo e de-monstrando que convinha que o Cristo padecesse e

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ressucitasse dos mortos". E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo".

Não era só na sinagoga que os esforçados missio-nários proclamavam a mensagem, mas também nas ruas.

Com Jason — Paulo e Silas hospedaram-se com um homem chamado Jason, onde Paulo trabalhava no ofício que havia aprendido em Tarso. O próprio Paulo relata que "trabalhando noite e dia para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus", (l Tess. 2:9). Assim, tarde da noite, quando o sol há muito se havia deitado sobre os incessantes trabalhos espirituais do dia, o apóstolo poderia ser visto à luz da vela trabalhando no áspero pano de crina, para que não fosse uma carga para ninguém. (Sua profissão era tendeiro, isto é fabricante de tendas).

Auxiliados pêlos santos — Podemos bem imaginar que ele tenha sido frequentemente interrompido neste trabalho por homens e mulheres que procuravam mais luz nas doutrinas do Evangelho. O resultado foi que Paulo mal ganhava o necessário para pagar seus alimentos e roupas, e se os bons santos de Filipos não lhes tivessem enviado socorro, ele e Silas teriam talvez passado grandes necessidades.

Poucos judeus aceitaram sua mensagem e assim Paulo e seu companheiro se voltaram para os gentios, muitos dos quais acreditaram e "também uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas distintas mulheres".

ARMA-SE A TEMPESTADE

Quando os judeus descrentes viram grande número de pessoas aceitarem este novo Evangelho, ficaram enciumados e zangados. Dirigiram-se a uma classe bai-

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xá e ignorante de cidadãos "homens perversos, dentre os vadios" e lhes disseram que estes cristãos estavam pondo o mundo todo em alvoroço e deviam ser expulsos da cidade. Assim reuniram uma multidão e cercaram a casa de Jason onde os Élderes estavam hospedados.

Os missionários são avisados — Mas, felizmente, Paulo e Silas não estavam e não puderam ser encontrados. Talvez algum amigo ou o Espirito do Senhor tivesse prevenido os servos de Deus para que não fossem para casa naquela hora. Não encontrando os Élderes, a multidão arrastou Jason e alguns outros irmãos para diante dos magistrados da cidade e disseram:

Jason é preso — Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui". Os quais Jason recolheu; e todos estes procederam contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus".

Como é fácil, às vezes, fazer da verdade uma mentira.Paulo e Seus companheiros escapam — Jason e seus

amigos dando "satisfação" (pelo que talvez se que-ra dizer que tiveram de depositar dinheiro como ga rantia de que nada fariam contra o governo), foram postos em liberdade. Mas a multidão ainda estava movida contra Paulo e Silas que foram aconselhados pêlos irmãos a partirem imediatamente.

Eles partiram à noite, viajando cincoenta e uma milhas para Beréia.

EM BERÉIA

Muitos aceitam o evangelho — A perseguição e o sofrimento não mais podiam deter estes inspiradores Élderes em sua pregação; assim, logo que chegaram a Beréia "foram à sinagoga dos judeus". Os judeus daqui eram mais nobres do que os da Tessalônica, e dis-

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cutiram sobre as escrituras que eram constituídas pelo Velho Testamento, guardado em pergaminhos sagrados na sinagoga. Assim, concluímos que os bereanos não somente ouviram atenciosamente ao que os missionários disseram mas também buscaram nas escrituras para ver se o que diziam estava de acordo com a lei. Quando verificaram que estava, muitos acreditaram e" também mulheres .gregas da classe nobre e não poucos varões".

A TEMPESTADE OS SEGUE

Da mesma forma como os judeus foram de Icônio a Lastra, assim vieram de Tessalônica a Beréia, como caçadores sobre sua presa, e "excitaram as multidões".

Silas e Timóteo permanecem — As sementes da verdade já haviam se enraizado no rico solo e conquanto a tempestade de perseguição ameaçasse cair sobre Paulo* iserviu sjòmente para fortalecer e vitalizar o campo do evangelho.

Deixando Silas e Timóteo para* continuarem o trabalho, para abençoar e encorajar os Santos, Paulo tornou-se mais uma vez um fugitivo e foi levado por alguns dos irmãos para o mar.Paulo foge — Do mesmo ponto na costa, ele embarcou para Atenas.

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LIÇÃO 32 EM

ATENAS E CORINTO

"Algumas vezes um nobre fracasso serveao mundo tão fielmente como um grandesucesso"."Na vida não há maior bênção do que ade ter-se um amigo prudente".

—x. x. x. x—

Solidão. — Talvez poucos dos que leram este livro tenham tido a oportunidade de ficar sozinhos, mesmo por pouco tempo, numa cidade estranha; mas pode ser que alguns de seus parentes o tenham feito. Se assim é, poderão saber como se pode sentir sozinho, mesmo quando se está entre uma grande multidão, numa cida-de extranha, e sem a amizade das pessoas que o ro-deiam. Esta deve ter sido a condição de Paulo depois que se despediu de seus irmãos e caminhava pelas ruas de Atenas, sozinho.

Esta solidão o impressionou tanto que posterior-te escreveu aos Tessalonicenses dizendo que fora deixado só em Atenas. Ele enviou uma ordem a Beréia, para que "Silas e Timóteo fossem ter com ele o mais depressa possível" mas até que eles chegaram, ele era o único cristão na grande cidade pagã.

Estátuas e divindade. — Ao caminhar através das ruas de Atenas, Paulo viu muitas estátuas e monumen-tos erigidos em homenagem a homens e a deuses mís-ticos. Algumas destas eram as estátuas de grandes ho-

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MH-IIS de Alenas, tal como "Solon o fazedor de leis, Co-iioii, o almirante, Demóstenes, o orador". Entre seus heróis se encontravam Hércules, Mercúrio, Apoio, Ne-liino, Júpiter, Minerva e muitos outros e num lugar, no centro de todos esses encontrava-se um altar erigido aos "Doze Deuses". Havia mais estátuas em Atenas do que em todo o resto da Grécia. Diz-se como quase verdade que era mais fácil encontrar um deus em Atenas do que um homem" (Weed). Havia também altares erigidos à Fama, à Modéstia, à Energia, á Persuassão, à Piedade e Paulo viu uma inscrição:

"Ao Deus desconhecido"Na cidade havia um local de reunião comum cha-

mado Agora. Ali os atenienses se reuniam para falar e discutir as questões do dia. Os vadios e os grandes fi-lósofos se misturavam, anciosos para ouvir algo de no-vo. Enquanto Paulo esperava por seus companheiros, visitava diariamente este local e conversava com aque-les que encontrava. Dele a multidão ouviu, pela primei-ra vez, sobre Jesus e sobre a ressurreição.

Ele também frequentava o culto na sinagoga, e discutia com os judeus.

Interesse despertado. — Assim, Paulo, apesar de sozinho e desencorajado, e talvez triste por ver a igno-rância e a iniquidade que havia ao seu redor, começou a agitar a cidade, por causa da mensagem que anunciava. Os atenienses e estrangeiros também, começaram a ficar curiosos; pois alguns deles, nos conta Lucas, "de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade".

Então alguns filósofos o notaram e ouviram falar dele. Alguns disseram:

"Que quer dizer este paroleiro?"E outros:"Parece que é pregador de deuses estranhos;

porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."

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A colina de Marte. — No alto da colina do Areópago, existia uma plataforma e um lance de degraus de pedra, saindo diretamente de Agora, davam acesso a ela. Nesta haviam se sentado os principais juizes que haviam, desde tempos imemoriais, decidido as impor-tantes questões de religião, ou pronunciado sentenças sobre os maiores criminosos. Supunha-se que Marte ti-vesse sido julgado ali, e porisso era chamada "A colina de Marte". No alto desta colina erguia-se o templode Marte.

Para este lugar importante e memorável, os filósofos levaram o apóstolo, dizendo: "Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos: queremos pois saber o que vem a ser isto.

Um discurso memorável. — Paulo aceitou o con-vite, e pronunciou um dos discursos mais notáveis no mundo. Pode-se notar, entretanto, que ele nem siquer menciona o nome de Cristo, mas tenta influenciar seus ouvintes atraindo-os para o que queria que eles se interessassem (Atos 17:22-31).

Logo que Paulo mencionou a ressurreição dos mortos, foi interrompido. Alguns começaram a rir e fazer pouco de sua afirmativa. Outros eram mais cortezes e disseram ao afastar-se dele "Acerca disso te ouviremós outra vez".

Dionísio é convertido. — Paulo deve ter se sentido quasi esmagado com o pensamento de que seu sermão tivesse sido um grande fracasso; mas ele havia se desin-cumbido de seus deveres e as sementes da verdade haviam sido semeadas. Produziram frutos na forma da conversão de Dionisio membro da corte do Areópago e uma mulher cujo nome era Damaris, "e outros com

eles".Após permanecer curto tempo, ele partiu de

Atenas como havia nela vivido, um 'homem desprezado e solitário. Não obstante, aquela curta visita e aquele

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discurso interrompido, foram caracterizados por um sincero desejo de reunir os que andam no erro e na iniquidade para arrependimento e fizeram Paulo mais famoso do que qualquer dos filósofos, tão sábios em seu próprio conceito, que caçoaram e o desprezaram.

NO FIM DA SEGUNDA MISSÃO

Sozinho em Corinto. — É provável que Timóteo tenha se juntado a Paulo em Atenas; mas, se assim aconteceu, ele voltou imediatamente às Igrejas na Ma-cedônia. Assim, Paulo partiu de Atenas sozinho e tendo desembarcado no porto de Cencrea, caminhou dezoito milhas para Corinto. Lá ele encontrou muitos gregos e judeus. Havia também uma multidão de es-tranhos que vinham ver os grandes jogos e corridas; os comerciantes, os mercadores e outros negociantes de longe e perto constituiam a sua população. Assim, a solidão de Paulo aqui deve ser sido tão aguda como o tinha sido em Atenas. Ele próprio relata que lá che-gou "em fraqueza, em temor e em grande tremor".

Áquüa e Priscila, — Mais ou menos naquele tempo o imperador romano, chamado Cornélio, assinou um decreto mandando que todos os judeus fossem afastados de Roma. Entre os que tiveram que partir encontrava-se um homem chamado Áquila e sua esposa Priscila. Se eram cristãos antes de chegarem a Corinto, não se sabe. De qualquer maneira, estiveram entre os primeiros amigos que Paulo encontrou naquela cidade. Pode ser que se tenham conhecido porque Áquila e Paulo tinham o mesmo ofício. Seja como for, Paulo vivia com Áquüa e Priscila e se já não o haviam feito antes converteram-se ao Evangelho, ao qual permaneceram firmes e fiéis. Estes amigos foram muito úteis a Paulo dando-lhe emprego, mas principalmente, provando ser verdadeiros amigos.

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Na Sinagoga. — Todos os dias de Sábado, estes três amigos e companheiros de trabalho punham de lado suas tendas e iam à sinagoga adorar a Deus. Pau-lo, como de costume, falava aos seus compatriotas e aos gregos conversos, e proclamava a eles a gloriosa mensagem do Redentor ressurreito. Discutia com eles sobre as escrituras e os persuadia a se tornarem cris-tãos.

Timóteo e Silas reunem-se a Paulo. — Por algum tempo ele parecia ser menos enérgico do que o comum. Mas naquele mesmo período, juntaram-se a eles seus queridos amigos, Timóteo e Silas. Sua vinda deu-lhe novo alento, ou como diz Lucas, "impulsionado pela palavra, testificava aos Judeus que Jesus era o Cristo". Julgando pela força que Paulo recebeu de seus compa-nheiros, ele compreendeu que "Um verdadeiro amigo é um dom de Deus e somente Ele que fez os corações pode uni-los".

Os judeus recusam a verdade. — Quanto mais ou-sadamente Paulo pregava, mais acirradamente os ju-deus inconversos se opunham a ele. Finalmente, quan-do blasfemaram em nome de Deus e se recusaram a aceitar a verdade, Paulo "sacudiu os vestidos" e disse: "O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo e desde agora parto para os gentios".

A conversão de Crispo. — Mas muitos se converte-ram e entre esses se encontrava Crispo, o principal da sinagoga — "ele com toda a sua casa". Sua conversão, com as multidões de coríntios que também foram bati-zados, somente fizeram os judeus mais ofendidos que nunca; e começaram a ameaçar Paulo.

Conforto. — Mais ou menos nesta ocasião Paulo escreveu sua segunda carta aos Tessalonicenses. Nesta ele pede, especialmente, orações para que eles pu-dessem se libertar dos homens iníquos que tinham ao seu redor. "Rogai por nós, para que a palavra do Se-nhor tenha livre curso e seja glorificada, como tam-

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l>t'm o é entre vós. E para que sejamos livres de ho-mens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos." (II. Tess. 3:1-2).

E Paulo orou também e recebeu uma resposta di-rcta do Senhor, que disse: "Não temas mas fala e não lê cales; porque eu estou contigo e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade".

Na casa de Justo. —- Quando Paulo deixou a sina-goga, promoveu reuniões na casa que estava "junto de sinagoga", talvez vizinha. Aqui Paulo e seus dois companheiros continuaram a pregar. Isto exasperou os judeus de tal modo que eles decidiram fazer com que Paulo fosse expulso ou punido. Mias aconteceu que naquele mesmo tempo, um novo governador foi nomeado para governar Acais.

Ante Gálio. — Seu nome era Gálio e era conheci-do como um homem muito amável e gentil. Pensando que ele seria facilmente influenciado, os judeus pren-deram Paulo e o levaram perante a cadeira do julga-mento, dizendo falsamente "Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei".

Paulo levantou-se e indicou de qualquer maneira que queria responder à acusação; mas Gálio o impe-diu e, dirigindo-se aos judeus, disse: "Se houvesse ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria; mas se a questão é de palavras e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos: porque eu não quero ser juiz dessas coisas".

E expulsou-os do tribunal.Assim Paulo não sofreu injúrias, como o Senhor

havia prometido. Mas os judeus sim, pois os gregos pegaram seu líder e o açoitaram mesmo diante da ca-deira de julgamento.

Paulo permaneceu em Corinto um ano e meio, e estabeleceu lá uma forte igreja.

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Então, como se aproximasse o tempo da Páscoa em Jerusalém, ele despediu-se dos Santos; e tomando Áquila, Priscila, Silas e Timóteo, seus amigos e com-panheiros fiéis, partiu para Éfeso, daí para a Cesaréia e Jerusalém.

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LIÇÃO 33

A TERCEIRA VIAGEM MISSIONARIO DE PAULO DE ANTOQUIA A EFESO

“E niguém toma para si esta honra se não o que é chamado por Deus como Aarão”

—x. x. x. x—

Uma Promessa. — Quando Paulo se deteve em Éfeso a caminho de Jerusalém, como mencionamos na lição anterior, os Judeus a quem ele pregou pediram-lhe que permanecesse um pouco mais entre eles. Não sendo possível atendê-los, prometeu voltar novamente, se Deus quizesse. Esta promessa, como veremos, Paulo cumpriu literalmente.

Saudações à Igreja. — Não sabemos se ele chegou a Antióquia em tempo de estar presente à Páscoa. Somos levados a crer que não o fez, pois tudo o que sabemos de sua visita é que ele saudou a Igreja e continuou para Antióquia.

Início da Terceira Viagem. — Após ter ficado algum tempo com a importante Igreja da Antióquia, Paulo iniciou sua terceira viagem missionária. É difícil determinar exatamente o curso que ele seguiu, mas desde que Lucas nos conta que ele esteve "cm todo ò país da Galácia e Frigia", podemos concluir com segu-rança que ele visitou sua cidade natal, Tarso, bem como as cidades de Derbe, Listra, Icônio e possivelmente Antióquia na Pisídia. O bom povo da Galácia tam-

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bem teve o prazer de receber o apóstolo que foi o pri-meiro a lhes pregar o Evangelho, e a quem ele havia tão bondosamente administrado em aflição.

Também não sabemos com certeza quem foram seus companheiros. Timóteo, sem dúvida, foi um dos que o acompanharam em toda a sua viagem.

APOLO

Um Eloquente Pregador. — Enquanto «Paulo e Ti-móteo estava visitando as Igrejas na Galácia e na Fri-gia, vamos adiante deles até Éfeso, pois lá se encontra um homem que devemos conhecer. Seu nome é Apoio e ele veio a Alexandria. Era, sem dúvida, um dos mais eloquentes pregadores do Evangelho naqueles dias.

Mas logo que chegou a Éfeso, "conhecia somente o batismo de João". Havia aceitado a mensagem de João Batista, mas não tinha ouvido o Evangelho como havia sido ensinado por Jesus e Seus discipulos. Parecia desconhecer também a missão do Espírito Santo.

Com ele havia outros homens que tinham a mesma crença incompleta.

Nova Luz — Acreditando ter a verdade, estes ho-mens foram à mesma sinagoga na qual Paulo pregou quando os judeus lhe pediram que ficasse mais tempo e Apoio falou ao povo. Na congregação se achavam Áquila e Priscila. Estes dois bons cristãos perceberam imediatamente que Apoio não compreendia o evange-lho; assim, eles o convidaram para ir à sua casa e "lhe expuseram minuciosamente os caminhos de Deus".

Logo depois disto, Apoio deixou Éfeso e partiu para Corinto, levando consigo uma carta de recomendação dos Santos em Éfeso.

É CONCEDIDO O ESPÍRITO SANTO

As coisas se achavam neste pé quando Paulo che-gou a Éfeso. Encontrou os doze homens que haviam

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aprendido o evangelho como Apoio o sabia. Quiindo disseram a Paulo que acreditavam no Evangelho, ôlr lhes perguntou: "Recebestes vós já o Espírito Sanlo quando crestes?"

E eles disseram-lhe: "Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo".

— "Em que sois batizados então?"— "No batismo de João" responderam-lhe eles.— "Certamente João batizou com o batismo do

arrependimento dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.

Eles foram batizados pela autoridade própria em nome do Senhor Jesus. Paulo então "impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo e falavam lín-guas e profetizavam".

Três meses na sinagoga — Durante três meses Pau-lo continuou a pregar na sinagoga, "disputando e per-suadindo-os acerca do reino de Deus". Durante este tempo, ele trabalhou em seus ofício mantendo-se a si próprio com suas mãos. Diariamente a Igreja crescia em força, e diariamente seus inimigos se tornavam tão mais acérrimos em sua oposição que Paulo saiu da si-nagoga, e fazia suas reuniões numa escola onde ensina-va um homem chamado Tirano.

Dois anos em Éfeso — Neste lugar Paulo trabalhou durante dois anos, um período em sua vida marcado por maravilhosas manifestações do Senhor. Doentes eram curados pelo poder da fé, nas formas mais mila-grosas. Algumas vezes Paulo não podia visitar em pes-soa estes doentes, eles se curavam apenas tocando um lenço ou um avental que ele tivesse usado. "Assim o nome do Senhor Jesus Cristo era engrandecido".

HOMENS QUE AGIAM SEM AUTORIDADE

Filhos de Sceva — Entre aqueles que testemunharam estes milagres haviam alguns vagabundos judeus

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que ganhavam a vida angariando do povo, fingindo ser mágicos. Quando viram Paulo curar os doentes em nome de Jesus, pensaram que podiam fazer o mesmo e assim ganharem uma grande quantidade de dinheiro. Assim, um dia estes sete homens, que eram filhos de Sceva, encontrando um homem que se achava dominado por um mal espírito, disse um deles: "Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega", a sair dele.

— "Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo, masquem sois vós?"

"E, saltando neles o homem que tinha o espirito maligno e assenhoreando-se de dois, poude mais que eles, de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa".

A Grande Fogueira — O tratamento que estes sete homens receberam pela sua hipocrisia, logo se esparramou por toda a cidade. Muitos que haviam praticado tais artes, como os filhos de Sceva, trouxeram todos os seus livros de mágica e fizeram uma fogueira com eles. Paulo viu se queimar naquele dia uma quantidade de papeis e livros que valiam cerca de cincoen-ta mil peças de prata.

Festa anual — Todos os anos em Éfeso, no mês de maio, havia um grande festival em honra à Deusa Diana. Homens ricos vinham de todas as partes da Ásia "e pagavam vastas somas de dinheiro para diversões entre o povo". Eram de diferentes espécies. Nos teatros haviam consertos e espetáculos; no hipódromo, corridas; no estádio, jogos de ginástica, de correr, pular e lutar. Havia cenas barulhentas tanto de dia como de noite. Em todas as horas do dia havia alegres procissões ao templo, seguindo-se os animais coroados com guirlandas, levados ao sacrifício. "Vagabundos e bêbados podiam ser vistos quase em todos os lugares naquela época" (Weed). As lojas e bazares enchiam-se de todas as coisas atraentes daquela época, que os pais e os amigos compravam para eles próprios e para aque-

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lês que estavam distantes. Os principais enfeites eram os pequenos modelos de Diana e seu santuário. Os com-pradores mais pobres compravam modelos feitos de madeira, enquanto os ricos os compravam de ouro.

Paulo, sem dúvida havia dito aos efésios, como o fez aos atenienses, que Deus não é feito de madeira, de prata ou de ouro, e nem esculpido pela arte do homem. Milhares de pessoas acreditavam em Paulo e adoravam o verdadeiro Deus. Conseqüentemente, nesta festa anual, não havia tantas imagens de Diana como tinha havido nos outros festivais.

REUNE-SE UMA MULTIDÃO

Demétrio — Demétrio, um ourives de prata, que fazia nichos de prata para Diana, ficou muito agitado quando viu interferência em seu negócio. Reuniu os que trabalhavam no mesmo ramo e disse: "Varões, vós bem sabeis que deste oficio temos a nossa prosperidade. E bem vedes et ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos".

Ele continuou a falar a eles até que todos se agi-taram e gritaram: "Grande é a Diana dos efésios".

Os companheiros de Paulo são presos — Logo a cidade toda entrou em confusão. Reuniu-se uma multidão que tentava encontrar Paulo. Não o conseguindo, apanharam Gaio e Aristarco, dois dos companheiros de Paulo e os arrastaram ao teatro.

Paulo foi mantido em segurança por seus amigos que se recusaram deixá-lo entrar no teatro, apesar dele insistir em fazê-lo.

Um judeu chamado Alexandre tentou falar com a multidão, mas ninguém queria ouvir e continuaram a gritar por duas horas: "Grande é a Diana dos efé-sios".

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Quando cansaram, o escrivão de cidade levantou-se e lhes disse que era melhor que fossem para casa e ficassem quietos, ou os romanos poderiam acusá-los de "sedição". Ele disse também que se Demétrio tinha qualquer questão contra Paulo, poderia mandar pren-dê-lo e apresentá-lo na corte.

Como a metade deste povo, como no caso de todas as multidões, não sabia porque tinha vindo, começa-ram a evacuar o teatro. "Os assentos de pedra foram esvasiados gradualmente, cessou o grande clamor e os arruaceiros se dispersaram para as svias várias ocupa-ções e diversões".

Como Paulo já havia feito os necessários prepa-rativos para ir à Macedônia, chamou seus discípulos a si e após abraçá-los, deixou Éfeso, até onde sabemos, para sempre. Posteriormente, contudo, como veremos na próxima lição, ele encontrou alguns Élderes e San-los de Éfeso.

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LIÇÃO 34

TERCEIRA VIAGEM DO MISSIONÁRIO(Continuação)

Visita de despedida de Paulo às Igrejas que ele havia estabelecido. —x.x.x.x—

Durante os seguintes nove ou dez meses — do verão de 57 A. D. até à primavera de 58 A. D. após a carinhosa despedida de Paulo aos discípulos de Éfeso, sabemos muito pouco a respeito de suas viagens. Dasepístolas que ele escreveu durante este período tiramos a maioria do que é conhecido a respeito de seus trabalhos e deveres nos lados da Macedônia.

Ele primeiramente foi a Troas, onde esperava en-contrar Tito, o qual ele havia enviado a Corinto. Aqui ele diz: "Não tive descanco no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito". (II. Cor. 2:13)

Preocupado com o que tinha ouvido sobre as más condições predominantes na Igreja de Corinto, ele partiu de Troas para Filipos.Uma alegre recepção — Aqui ele encontrou alguns <ie seus mais queridos Santos, pois os conversos fili-penses, apesar de estarem entre os mais pobres, financeiramente, eram dos mais fiéig de todas as Igrejas. Paulo aceitou seu auxilio quando recusou-o de outras fontes. Esta foi uma Igreja que Paulo não reprovou. Que alegre acolhida estes fiéis santos devem ter dado ao apóstolo! Como seus corações devem ler exultado ao recordarem as experiências que viveram quando

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Paulo, Timóteo e Silas pregaram pela primeira vez às mulheres que se achavam às margens do rio. Lídia e o carcereiro e um enorme grupo de outros membros fiéis / estavam todos lá para relembrarem a sua prisão, seu açoitamento, o tronco, os hinos cantados à meia noite, o terremoto, o temor das autoridades e todas as maravilhosas experiências daquela primeira visita a Filipos.

.A depressão de Paulo — Não obstante, apesar da boa acolhida, Paulo diz: "a nossa carne não teve re-pouso algum, antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Ti to". (II Cor. 7:6).

Segunda epístola aos Coríntios — Tito contou-lhes que os membros da Igreja em Corinto que não estavam agindo direito foram excomungados e que muitos dos santos haviam melhorado. Ao ouvir isto, Paulo escreveu outra carta a eles (a segunda epístola aos corin-tios) e mandou Tito de volta com ela.

Ofertas — Tito parece ter sido um dos principais em arrecadar contribuições para o socorro dos pobres na Judéia. Quando voltou a Corinto continuou a fazer arrecadações para Paulo levar a Jerusalém em futuro próximo. (II Cor. 8)

A próxima vez que ouvimos de Paulo, ele se en-contrava em Corinto. Aí ele ouve que os Gaiatas esta-vam dizendo que ele não era um apóstolo porque Je-sus não o havia escolhido como um dos Doze. Assim, ele escreveu uma carta aos Gaiatas, na qual ele diz:

Os Gaiatas são reprovados — "Maravilho-me que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho". (Gal. 1:6)

Então ele admoesta a não aceitarem qualquer outro Evangelho, pois qualquer que pregar outro Evangelho, "seja anátema" (amaldiçoado).

Aqui ele também escreveu sua espístola aos ro-manos.

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Paulo preparou-se para ir à Palestina, dirclnmm-te de Corinto, mas soube que estava sendo tramado um plano para tirar sua vida. Para frustá-lo, ele volln polo mesmo caminho até a Macedônia. Quando o grupo chegou novamente a Filipos, Timóteo e vários ou lios seguiram na frente para Troas. Paulo e Lucas permii-neceram por algum tempo e depois juntaram-se novii-mente ao grupo em Troas.

UMA LONGA E MEMORÁVEL REUNIÃO

Quando chegou o domingo, todos os discípulos se reuniram "para partir o pão" e Paulo pronunciou seu discurso de despedida. Quando estava para deixá-los, cedo, persuadiram-no a continuar seu discurso até à meia-noite, o que ele fez.

A reunião foi feita num cenáculo, cujas janelas es-tavam abertas para que a congregação pudesse gozar o ar fresco da noite.

Êutico cai — Sentado numa das janelas estava um jovem chamado Êutico, que havia ouvido o sermão o tanto quanto tinha podido e então adormecera. En-quanto Paulo falava, Êutico ia se inclinando sempre até que perdeu o equilíbrio e caiu ao pátio em baixo. Sem dúvida, um grito de mulher interrompeu primei-ramente o sermão. O povo levantou-se e correram pa-ra baixo, e levantaram o jovem como morto.

Revivido — Paulo também desceu e abraçando o rapaz, disse: "Não vos perturbeis que a sua alma m" lê está".

Cheios de graça por ter sido restaurada a vida do jovem, o povo voltou ao cenáculo e Paulo lhes pregou até pela manhã.

Os companheiros de Paulo foram de navio ale Assos, mas ele preferiu andar as vinte milhas sozinho.

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Em Assos ele embarcou e navegou até Mitilene, daí a Chios e depois para Samos, e permaneceram em Tro-gilio cerca de uma milha de lá.

Em Mileto — No dia seguinte, Paulo passou de na-vio por Éfeso, julgando que não teria tempo para visi-tar os Santos, pois queria estar em Jerusalém no dia de Pentecostes. Mas quando chegou a Mileto, a algumas milhas de Éfeso, enviou uma mensagem para que os Élderes da Igreja viessem ter com ele. Isto eles fizeram com toda a satisfação e ouviram com intenso interesse suas palavras, (veja Aios 20:17-35)

"E havendo dito isto pôs-se de joelhos e orou com todos eles".

Aquele pequeno grupo de cristãos reunidos num lugar obscuro na praia, apresenta às nossas mentes uma das mais belas figuras do mundo, e sua saudação de despedida uma ds mais impresionantes e patéticas.

Uma triste despedida — Quando o querido apóstolo estava para de(ixtá-los, "Levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pe-la palavra que dissera, que não viriam mais o seu ros-to". Parecia que eles não podiam suportar a dor de vê-lo partir. Agarraram-se a ele até mesmo quando embarcou e foi com dificuldade que seus companheiros conseguiram afastá-lo.

Uma cena semelhante verificou-se em Tiro, onde o grupo permaneceu sete dias. Enquanto Paulo visitava e confortava os Santos ali, eles o aconselhavam a não ir a Jerusalém onde sua vida estaria em perigo. Mas Paulo não se deixou convencer.

Quando chegou a hora da despedida, os homens, mulheres e crianlças, todos foram com Paulo e seu grupo até a praia. Ali se ajoelharam, oraram e fizeram as despedidas. Paulo e seus companherios embarca-

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ram e os Santos tristemente regressaram para seus lares.

EM CESARÉIA

Em Cesaréia os missionários foram hospedados por Filipe, o evangelista, um dos sete diáconos esco-lhidos.

Uma profecia — Enquanto lá estavam, Ágabo, um profeta, desceu de Jerusalém e após cumprimentar a todos, tomou a "cinta de Paulo e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta, e o en-tregarão nas mãos dos gentios".

Ouvindo esta profecia, Lucas e o grupo de Paulo rogavam para que ele não fosse a Jerusalém. Mas Paulo respondeu:

"Que fazeis vós, chorando e magoando-me o co-ração? Porque eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Se-nhor" ao que seus amigos responderam: "Faça-se a vontade do Senhor".De Cesaréia viajaram de carruagem até Jerusalém onde foram recebidos festivamente pêlos irmãos

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LIÇÃO 35 EXCITANTES

EXPERIÊNCIAS EM JERUSALÉM

"Na grande massa do mal, ao rolar e au-mentar, há sempre um bem trabalhando pela libertação e pelo triunfo".

No quartel-general — Em Jerusalém, Paulo e seus companheiros se reuniram à Igreja e sem dúvida de-ram o dinheiro que lhe havia sido entregue pelas igre-jas dos gentios para benefício dos pobres na judéia. Aconselhado por Tiago, o irmão do Senhor, que pre-sidia a igreja em Jerusalém, Paulo fez a barba, cortou o cabelo e fez outras coisas para mostrar aos judeus que ele tinha boa vontade em observar as leis judaicas.

Falsamente acusado — Depois de estar em Jerusa-lém por cerca de uma semana, foi ao templo para ado-rar. Aconteceu que se achavam no Templo alguns ho-mens que tinham visto Paulo na Ásia com os gentios. Pensando que ele tinha trazido alguns dos gentios ao templo, agitaram o povo, prenderam Paulo e gritaram: "Varões israelitas, acudi: este é o homem que por todas as partes ensina a todos contra o povo e contra a lei e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos e profanou és lê santo lugar".

Naturalmente, isto não era verdade, mas serviu para agitar a multidão que arrastou Paulo para fora do templo e fechou as portas. Em sua agitação esta-vam prestes a matar Paulo, o que teriam feito se não

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fosse a providencial interferência de um oficial romano.

Postada num castelo ao norte do templo havia uma guarda de soldados, sob o comando de um oficial chamado o "tribuno da corte".

Salvo da Morte — Quando alguém disse ao capi-tão, cujo nome era Cláudio Lisias que havia confusão na parte exterior do templo apressaram-se os soldados para o local, chegando lá exatamente quando a multidão começava a bater e a pisar em Paulo para que morresse. Os soldados salvaram 'Paulo, mas o capitão, pensando que era um desordeiro, mandou que fosse acorrentado.

"Quem é e o que tem feito?" perguntou Cláudio aos enraivecidos judeus.

Alguns gritaram uma coisa, outros outra, em tal confusão que o tribuno nada poude compreender. Assim, disse aos soldados: "conduzam-no à fortaleza".

Nos degraus do castelo — Ao levarem Paulo, a multidão, agindo como lobos atrás da presa, acompanhou-os, gritando: "Mata-o". Ao subirem os degraus da fortaleza, Paulo, faiando em grego, disse ao tribuno :

— É-me permitido dizer-te alguma coisa?"— "Sabes o grego", respondeu o capitão, "Não

és porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteado-res?"

— "Sou um homem judeu, cidadão de Tarso, ci-dade não pouco célebre na Sicília: rogo-te, porém que me permitas falar ao povo".

Na esperança de saber alguma coisa a respeito do motim, o tribuno deu seu consentimento. Paulo voltou-se à multidão e pediu-lhes que fizessem silêncio. Cessaram de gritar, especialmente quando ouviram que Paulo falava em hebreu, sua própria língua (Leia todo o discurso, como se acha registrado em Atos 22:1-21)

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A palavra "gentios" — Os judeus ouviram em si-lêncio até que ele mencionou a palavra "gentios". En-tão eles gritaram: "Tira da terra um tal homem, por-que não convém que viva". Em seu rancor, arranca-ram suas vestes e jogavam pó no ar para mostrar o quanto o odiavam.

Paulo é açoitado — Estando ainda em dúvida quanto ao que Paulo havia feito, o tribuno mandou que ele fosse levado para dentro da fortaleza e o açoi-taram até que Paulo dissesse porque os judeus grita-vam tanto contra ele. Ao prenderem-no para açoitá-lo. Paulo disse ao centurião que estava ao seu lado: "É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?"

Ouvindo isto o centurião correu ao tribuno dizen-do: "Vê o que vais fazer, porque este homem é ro-mano". Então o tribuno veio e disse a Paulo:

— "Dize-me, és tu romano?"— "Sim", respondeu Paulo.— "Eu com grande soma de dinheiro alcancei es-

te direito de cidadão", respondeu Cláudio.— "Mas eu sou-o de nascimento", respondeu or

gulhosamente Paulo.Quando eles ouviram isto, aqueles que iam tortu-

rá-lo afastaram-se dele e o tribuno também se pertur-bou, pois que não tinha o direito de acorrentar um ci-dadão romano que não tenha tido um julgamento jus-to.

PERANTE ANANIAS, O SUMO-SACERDOTE

Na manhã seguinte Paulo foi levado à presença de Ananias, o Sumo-Sacerdote, e do Conselho.

Paulo é espancado — "E, pondo Paulo os olhos no conselho, disse: Varões irmãos, até ao dia de hoje te-nho andado diante de Deus com toda a boa consciên-cia".

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Ao ouvir isto, Ananias enfureceu-se e disse aos que estavam ao lado de Paulo:

— "Firam-no na boca".— "Deus te ferirá, parede branqueada", respon-

deu Paulo com repentina fúria, "tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir?"

Aqueles que estavam sentados ao lado de Paulo, disseram: "Injuriais o sumo-sacerdote de Deus?" Então, Paulo, controlando seus sentimentos, disse:

— "Não sabia, irmãos, que era o sumo-sacerdote: porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo.

Duas Seitas — Paulo então notou que no conselho haviam dois grupos, alguns fariseus e outros sadu-ceus; assim, falando sabiamente sobre a ressurreição, conquistou os fariseus para o seu lado, que disseram: "Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espí-rito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus". Isto enfureceu os fariseus e as duas seitas começaram a discutir e tanto se enfureceram que o tribuno, temen-do que eles esfacelassem Paulo, mandou que seus sol-dados Q levassem de volta à fortaleza.

Na noite seguinte, quando Paulo ainda estava no castelo, o Senhor surgiu ao seu lado e disse:

Conforto Divino — "Paulo, tem ânimo: porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma".

Conjuração assassina — Na manhã seguinte, cer-ca de quarenta desses judeus enraivecidos, ligaram-se por um juramento, de que não comeriam e nem beberiam enquanto não matassem Paulo. Para isto real i/a r, disseram ao sumo-sacerdote: "conjuramo-nos, sol) poiui de maldição, e nada provaremos até que matemos ;i 1'an Io. Agora, pois, vós, como conselho, rogai no Irilmno que v<Ho traga amanhã, como que querendo snlx-r

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mais alguma coisa de seus negócios e, antes que che-gue, estaremos prontos para o matar".

Mas o filho da irmã de Paulo soube da conjura-ção e indo à fortaleza, contou, a seu tio tudo o que sa-bia. Após ouvir a história de seu sobrinho, Paulo cha-mou um dos centuriões e disse: "Leve este mancebo ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comuni-car". O centurião fez como lhe havia sido dito e disse ao tribuno:

— "O preso Paulo, chamando-me a si rogou-me que te trouxesse este mancebo, que tem alguma coisa que te dizer".

— "Que tens a me contar?" perguntou o tribuno."Os judeus combinaram rogar-te que amanhã

leves Paulo ao conselho, como que tendo de inquirir dele mais alguma coisa, mas tu não creias porque mais de quarenta homens dentre eles lhe andam armando ciladas: os quais se obrigaram, sob pena de maldição, a não comerem nem beberem até que o tenham morto.

O tribuno acreditou no que lhe dizia o jovem e disse:

— "Não contes a ninguém que me mostrastes es-tas coisas".

E chamando dois centuriões, disse:— "Aprontai para as três horas da noite,

duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos arqueiros para irem até Cesaréia. Aparelhai as cavalgaduras, para que pondo nelas a Paulo, o levem a salvo ao presidente Félix".

Cláudio escreveu então uma carta ao Governador Pélix, explicando brevemente porque Paulo lhe estava sendo enviado (Atos 23:25-30).

Mandou também um recado aos acusadores de Paulo, dizendo que fossem ao governador fazerem suas queixas.

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Quando Paulo, são e salvo, apareceu diante de Fé-lix, o governador, este lhe perguntou:

— "De que província sois?"— "Da Silícia", respondeu Paulo."Ouvir-te-ei, disse, quando também aqui vieram

os teus acusadores".Paulo foi então colocado na sala de julgamento de

Herodes, até o seu julgamento cinco dias mais tarde.Preso — Assim, a vida de Paulo, dentro do curto

espaço de alguns dias, havia sido salva por duas vezes daqueles que queriam matálo. Deus lhe havia falado dizendo: "Paulo, tem ânimo" e apesar de ainda ser um prisioneiro, havia paz em sua alma pois ele sabia que somente havia feito o que era certo e que Deus aprovava suas ações.

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LIÇÃO 36 DOIS ANOS

EM PRISÃO

"Tenho a consciência livre de ofensas a Deus e aos homens".

Joseph Smith

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PERANTE FÉLIX

Cinco dias após ter sido Paulo colocado na prisão, o sumo-sacerdote Ananias e alguns dos Élderes vieram a Cesaréia, para depor contra ele. Trouxeram com ele um advogado chamado Tértulo.

Félix, o governador romano, mandou buscar o pri-sioneiro para ouvir do advogado judeu as coisas que Paulo tinha feito. O advogado começou seu discurso lisonjeando Félix, para obter seu favor e então acusou Paulo da seguinte maneira:

Paulo é falsamente acusado — "Temos achado que este homem é uma peste, promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e o principal de-fensor da seita dos nazarenos . O qual intentou também profanar o templo: e por isso o prendemos e conforme a nossa lei o quizemos julgar".

E todos os judeus gritavam:— "Sim, estas coisas são assim"."Quando acabaram de falar, Félix acenou com sua

mão para que Paulo falasse em sua própria defesa, o que ele fez, dizendo:

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— "Porque sei que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo por mini. Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar, mas nego que tenha disputado com qualquer homem ou que tenha amotinado o povo, nas sinagogas nem na cidade. Nem tão pouco podem provar as coisas de que agora me acusam. Mas confesso-te isto: que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas, e na ressurreição dos mortos, tanto para os justos como para os injustos. E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa tanto para com Deus como para com os homens".

Inocente, mas prisioneiro. — íPaulo falou com tanto entusiasmo e sinceridade que Félix se convenceu de que falava a verdade. Quando ele concluiu, Félix sabia que era inocente, mas, com medo de desagradar os judeus, que como ele via, odiavam a Paulo, disse aos oficiais que mantivessem Paulo prisioneiro, mas que lhe dessem alguma liberdade, e que permitissem que seus amigos viessem vê-lo. Assim Ananias e Tértulo tiveram que voltar a Jerusalém sem ter visto Paulo punido. Eles ainda esperavam, contudo, fazer com que fosse açoitado ou morto.

Perante Félix e Druscila. — Vários dias mais tarde, Félix e sua esposa Druscila, uma judia, chamaram Paulo perante eles para ouvirem a respeito de sua doutrina cristã. Infelizmente o presidente e sua cxpòsn não tinham vivido corretamente. E assim, quando Paulo falou da "justiça e da temperança, e do j u i / o vindouro, Félix, espavorido, respondeu:

— "Por agora vai-te e em tendo oporlunidi idc Ic chamarei".

Félix não era um juiz justo, mas ijucrin livrnrl Paulo. Queria porém dinheiro paru fa/.ê-lo. <',liiiinnil|

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o prisioneiro perante si muitas vezes e sugeriu que se Paulo lhe desse dinheiro ele o libertaria; mas Paulo desprezava a intimação de suborno.

Assim, durante dois anos Paulo permaneceu na pri-ceu mas, durante aquele tempo ele pregou o Evangelho a muitos de seus amigos e talvez a muitos estranhos também. Quando Félix foi sucedido, "que-rendo comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso".

PERANTE FESTO

Outra conspiração perversa. — Félix foi sucedido por Festo, que era uni presidente mais justo e honrado. Festo permaneceu em Cesaréia cerca de três dias, e subiu para visitar Jerusalém. Então os sacerdotes principais e outros tentaram envenenar sua mente contra Paulo e perguntaram se podiam trazê-lo de Cesaréia a Jerusalém para julgá-lo. O seu plano perverso era matá-lo no caminho.

Mas Festo respondeu: "Este prisioneiro será man-tido em Cesaréia e eu mesmo irei para lá. Quem den-tre vós tem poder, desça comigo e prove que este ho-mem é tão mau como dizem".

Paulo nega as acusações. — Dez dias mais tarde, em Cesaréia, Festo assentou-se na cadeira do julgamento e mandou que trouxessem Paulo perante ele. No-vamente acusaram Paulo de muitas coisas más, mas não podiam provar nenhuma delas. Paulo novamente respondeu por si mesmo, dizendo:

— "Eu não pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o Templo, nem contra César".

Festo, desejoso de agradar os judeus e não saben-do que eles queriam matar Paulo, disse:

— "Queres tu subir a Jerusalém e ser lá perante mim julgado acerca destas coisas?"

— "Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus

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como tu bem o sabes; ninguém me pode entregar a eles, apelo para César.

Apelo a César. — Paulo, como já vimos, era um cidadão romano, e portanto a lei lhe facultava o direito de ser julgado em Roma, perante César, o imperador.

Então Festo, tendo falado com o conselho, disse a Paulo:— "Apelaste para César? Para César irás!" Assim Paulo voltou <à prisão à espera de uma ocasião favorável para ser enviado a Roma.

PERANTE O REI A GRIPA

Quando Paulo esteve cego logo após a sua visão, o Senhor disse: "... este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos filhos d'Israel".

Entre as pessoas a quem Paulo pregou o Evange-lho, estava o rei Agripa e sua irmã Berenice. Agripa, que reinava sobre parte da terra no lado este do rio Jordão, fez uma visita a Festo; e o presidente aprovei-tou a ocasião para falar com o rei a respeito de Paulo, a maneira como tinha sido feito prisioneiro por Félix, como os Judeus o acusavam, sem conseguirem provar suas acusações; como ele se recusou a ir a Jerusalém e como finalmente havia apelado para César. (Atos 25:13-22).

Disse Agripa: — "Festo, eu mesmo gostaria de ouvir este homem".

— "Está bem", disse Festo, "amanhã o ouvirás".Uma Assembleia Real. — Pela manhã, Agripa r

Berenice vieram com grande pompa", o que signifini, sem dúvida, que ele estava vestido com sons mimlns de púrpura e ela com suas jóias brilhantes c servidos por escravos vestidos com cores berrantes. lira u n i u

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assembleia real e a ocasião era solene, mas o persona-gem mais real entre eles era o humilde prisioneiro que apareceu em correntes para defender sua inocência e buscar a justiça de sua causa.

O rei, olhando Paulo com mais curiosidade do que desprezo, disse:— "Permite-se que te defendas". Então Paulo, dirigindo-se principalmente a Agri-pa, disse um impressionante discurso, como se segue:

— "Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pêlos judeus; mormente sabendo eu que tens conhecimentos de todos os costumes e ques-tões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.

A minha vida, pois,desde a mocidade, qual haja sido, desde o principio em Jerusalém, entre os de mi-nha nação todos os judeus o sabem.

Sabendo mais de mim, desde o princípio (se o qui-zerem testificar) que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.

E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado, á qual as nossas doze tribos esperam alcançar, servindo a Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó Rei Agripa, eu sou acusado pêlos judeus.

Pois que? julga-se coisa incrível entre vos que Deus ressucite os mortos? Bem tinha eu imaginado que con-tra o nome de Jesus nazareno devia eu praticar muitos atos. O que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. "E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasidamente contra eles, até nas cida-des estranhas os persegui. Sobre o que, indo então a

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Damasco, com poder e comissão dos principais dos sa-cerdotes, ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que vinham comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, porque me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues: Mias levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livran-do-te do povo e dos gentios, para os quais agora te en-vio. Para lhes abrires os olhos, e das trevas os conver-teres à luz, do poder de Satanaz a Deus; afim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os san-tificados pela fé em mim.

"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à vi-são celestial. Antes anunciei primeiramente aos que está em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se con-vertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependi-mento. Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo, e procuraram matar-me. Mas alcan çando socorros de Deus, ainda até ao dia de hoje per-maneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os pro-fetas a Moisés disseram que devia acontecer.

"Isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o pri-meiro da ressureição dos mortos, devia anunciar ;i l u/, a este povo e aos gentios. E, dizendo ele islo cm sim defesa, disse Festo em alta voz: — Estás louco, 1'imlo; as muitas letras te fazem delirar. Mas ele disse1: Nn<> deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palnvrn.s «Ir verdade e de um são juizo. Porque o rei, i l i anu- de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois mm rn-iii

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que nada disto lhe é culto; porque isto não se fez em qualquer canto". (Atos 26:11-26).

— "Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês.

Então disse Agripa: — "iPor pouco me queres persuadir a que me faça cristão".

— "Prouvera a Deus" disse Paulo, "que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também to-dos quantos, hoje me estão ouvindo se tornassem tais e quais eu sou, exceto estas cadeias".

Após ouvir o grande discurso de Paulo, o rei e sua irmã e o presidente retiraram-se para um lado e disseram que não havia motivo para manter Paulo prisioneiro, pois ele nada tinha feito que merecesse morte ou cadeias.

Bem se podia soltar este homem", disse Agripa a Festo, "se não houvesse apelado para César".

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Lição 37

A VIAGEM A ROMA

"Deus prometeu que se O respeitarmos em todos os nossos caminhos, ele dirigirá com segurança nossos passos e em experiências veremos esta promessa cumprida".

—x.x.x.x—•

Júlio, o Capitão Romano. — Em virtude do apelo de Paulo a César, tornou-se necessário que ele fosse a Roma, na Itália, onde vivia o imperador Romano. As-sim, quando tudo estava pronto, e a passagem no navio garantida, Paulo e alguns outros prisioneiros em-barcaram para Roma. Foi posto a cargo de um capitão romano, chamado Júlio, um homem gentil, honrado, e verdadeiro amigo de íPaulo. Ele reconheceu que o apóstolo seu prisioneiro, era um homem grande e bom, e possuia sabedoria superior ia dos mais sábios. Emo-cionantes experiências se verificaram em sua viagem que provaram a Júlio que Paulo não somente era sábio, mas também inspirado pelo Senhor. Não imporia onde Paulo estivesse, em cuja companhia fosse coloon-do, em paz, ou em perseguição, tendo diante de si a vida ou ameaçado pela morte, ele sempre era o mesmo esforçado pregador do Evangelho — um verdmlciro servo de Seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo. (•: por i^lo que mesmo seus inimigos o respeitavam e o trmiimi «< porque Júlio e outros homens honestos o mlmirnvmn e o amavam.

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Companheiros. — Dois dos verdadeiros amigos de Paulo estavam com eles, Lucas o douto historiador, e Aristarco de Tessalônica. Navegando ao norte de Ce-saréia, eles pararam um dia em Sidon, onde, por cor-tesia de Júlio, Paulo desembarcou para ver seus ami-gos que lá viviam. Que alegre e ao mesmo tempo triste reunião deve ter sido esta. De Sidon eles navegaram para o norte, além da ilha de Chipre, daí para oeste, além das praias da Ásia Menor. Em Mira, uma cidade da Lícia, Júlio, o Centurião encontrou um navio navegando de Alexandria para a Itália e assim transferiu seus prisioneiros do navio de Adranitum para o de Alexandria. Este último navio estava carre-gado de trigo destinado à Itália, vindo do Egito.

Bons Portos. — Durante muitos dias o navio mo-veu-se vagarosamente em virtude de uma forte venta-nia, mas finalmente chegou a uma ilha chamada Creta. Seguiram a sua praia até que encontraram um an-coradouro chamado "Bons Portos", perto da cidade de Lasea. Como não era um bom lugar para passar o in-verno, o proprietário decidiu navegar para outro porto.

PAULO ADVERTE

Como a viagem fosse perigosa, sendo já quasi in-verno, Paulo os preveniu a não partir, dizendo:

"Varões, vejo que a navegação há de ser incómo-da, e com muito dano, não só para o navio e carga mas também para as nossas vidas", e aconselhou-os a per-manecer onde estavam, durante o inverno.

Mas o proprietário do navio, acreditando que Pau-lo nada soubesse a respeito de navegação, disse que podiam ir; e o centurião, crendo que o proprietário do navio tinha melhor julgamento que Paulo, consentiu em navegar novamente.

Os navios naqueles dias não eram como os vapo-res de hoje. Eram rudemente construidos. tendo um

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grande mastro, em cuja cabeça passavam enormes cor. das e uma grande vela. Era dirigido por dois limões. Estando facilmente sujeito a fazer água, corria o peri-go de adernar, apesar das cordas para amarrar o cas-co, quando este se enfraquecia pelas tempestades. Na proa estava pintado um olho, como que para procurar a direção e vigiar contra perigos. Seus ornamentos eram figuras de divindades pagãs, a quem os marinheiros idólatras e supersticiosos procuravam para pedir proteção".

Na opinião de Paulo, seria perigoso tentar cruzar o Mediterrâneo em tal barco, e ele sabia por inspiração do Senhor que, se os marinheiros tentassem fazê-lo. encontrariam o desastre.

Havia duzentas e setenta e seis pessoas a bordo quando levantaram âncoras em Bons Portos e, conti-nuaram sua viagem. O bom tempo e o vento favorável prometiam uma viagem bem sucedida e segura; e sem dúvida os marinheiros riam-se de Paulo por seus temores.

Inicia-se a Tempestade. —Mas, de repente, tudo se modificou. Um forte vento descendo das montanhas pela praia, abateu-se sobre o navio e o fazia andar à roda. Os marinheiros eram incapazes de controlá-lo e o leme se desgovernou. Atraz do navio havia um pequeno barco, que eles agora puxavam a bordo para que quando o navio estivesse ameaçado de se despedaçar, eles o amarrassem com cordas para que, não se esfa-celasse e não fizesse água.

Mas, não obstante todos os seus esforços, o barco começou a vazar e a ser levado para alto mar. Foi en-tão que começaram a aliviar o barco. Mas ainda o veiu to tempestuoso açoitava o navio e a chuva aliali»-sc contra ele e o perigo de afundamento era imi i icn lo aumentava sempre. As horas se prolongai ain pnn dias e os passageiros e marinheiros esfomeados cn i i i i nhavam aterrorizados dia e noite. No loivoiro din. n-

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lata Lucas, "lançamos ao mar a armação do navio, com as nossas próprias mãos", donde concluimos que o navio estava fazendo tanta água, que mesmo os passageiros auxiliavam a jogar para fora tudo o que podia ser dispensado.

"E não aparecendo, havia muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena

tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos". Mesmo Lucas, parece, perdeu a coragem,

e estava a ponto de desistir.Ttodos em desespero, com exceção de um. — Sem

alimentação regular, pois o que tinham estava prova-velmente estragado, ensopados e gelados, o desespero se apossou de todo o grupo. Mas havia uma exceção •— (Paulo. Enquanto os outros estavam perdendo a es-perança, empenhou-se em oração. Nem a falta de con-forto e nem o perigo, nem a oposição aos seus conse-lhos, nem tudo isto junto poderia perturbar sua calma que tanto diferia do temor e da angústia que havia ao seu lado. Havia um grande contraste entre o inseguro navio e a sua firmeza; estava na escuridão mas a luz divina subsistia nele. Ele distinguia entre a fraqueza física e a força espiritual, entre os gritos desesperados ao seu redor e a paz interior, entre os olhos pintados na proa do navio e o olho que tudo via e que estava com ele, entre as imagens ornamentais de deuses falsos e impotentes e o governador de todas as coisas.

Em meio a este desespero e escuridão, Paulo le-vantou-se e disse: "Fora na verdade razoável, varões, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim evitariam este incómodo e esta perdição. Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: "Paulo, não temas: importa que sejas apresentado a César e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.

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Portanto, ó varões, tende bom ânimo, porque creio cm Deus que há de acontecer assim como a m in i me fo i dito. É contudo necessário irmos dar numa ilhn".

A tempestade durou catorze dias; e então 11111:1 m>i te os marinheiros pensaram estar se aproximando d:i terra. Sondaram a profundida e viram que a íigim es-tava a vinte braças. Dentro de algum tempo, mediram novamente e verificaram que estava somente a 15 bra-ças de profundidade e portanto sabiam que a terra un o estava distante.

Os marinheiros tentam escapar. — Ancoraram navio e esperaram anciosamente pelo dia. Então alguns marinheiros começaram a abaixar um pequeno barco, fingindo estar lançando mais âncoras mas na verdade tentando abandonar o navio e deixar tudo no navio entregue à destruição. Quando Paulo descobriu seus intentos, disse ao centurião":

Paulo os previne. — "Se estes não ficarem no na-vio não podereis salvar-vos". Ao ouvir isto uns mari-nheiros cortaram a corda e deixaram o barco cair c deste modo aqueles não puderam fugir.

Conforto e Alimentos. — Quando estava amanhe-cendo, 'Paulo dirigiu-se novamente à tripulação, man-dando que comessem. "É já hoje o décimo quarto dia que esperais e permaneceis sem comer, não havendo provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais al-guma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós".

Ele então tomou pão e deu graças na presença de todos e quando o partiu, começou a comer. Enconijn-dos pela fé e segurança de Paulo, todos quebraram seu jejum e então aliviaram o navio atirando o trigo puni fora do navio.

Assim que veio a luz do dia, puderam ver lerni. mas não sabiam que lugar era. Contudo, virnm um regato que desembocava no mar, e concluirnin que po-deriam levar seu navio em segurança paru n bnin. A1*-

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sim eles cortaram a âncora levantaram velas e dirigiram-se para a praia.

Como uni clímax de todos os desastres, o navio fi-cou preso na areia. A proa enterrou-se fundo na areia e a popa começou a se despedaçar.

O Navio afunda. — Havia uma lei romana que dizia que um soldado devia tomar o lugar do prisioneiro se permitisse que este escapasse; assim os soldados temendo que os prisioneiros pudessem nadar para a praia e escapar, pediram ao centurião para matar todos os prisioneiros enquanto ainda estavam a bordo. Mas Júlio, querendo salvar a vida de Paulo se recusou a permitir que os prisioneiros fossem mortos.

Alguns deles nadaram para a praia e, auxiliando os outros, conseguiram salvar a todos — nem uma só vida se perdeu, exceto o navio, exatamente como Paulo havia previsto.

A ilha era Malta, logo ao sul da Sicília. É

MANIFESTO O PODER DE DEUS

Lucas relata que "os bárbaros usaram conosco de não pouca humanidade; porque acendendo uma gran-de fogueira, nos recolheram a todos por causa da chu-va que caía e do frio".

Paulo estava ocupado ajudando a manter o fogo, e a dar maior conforto aos outros quando algo aconte-ceu que assustou os nativos. Uma víbora que se achava no meio dos paus de lenha, rastejou-se e prendeu-se à mão de Paulo, o qual sacudindo a mão lançou-a ao fogo. Quando todos a viram e souberam o quanto era venenosa, disseram "Certamente este homem é um ho-micida, visto como, escapando do mar a Justiça não o deixa viver".

A admiração dos nativos. — Eles estavam esperando que ele inchasse e morresse. Mas surpreende-

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ram-se ao ver que nenhum dano veio a ele. Então mu-daram de ideia e disseram que era um deus.

É pregado o evangelho. — Sem dúvida Paulo lhes disse quem ele era, e pregou o Evangelho de Jesus Cria-to a eles. Ficaram em casa de Públio, o chefe da ilha, que também ouviu o evangelho e viu o poder do Sacer-dócio manifestado. Seu pai estava doente com febre c muito mal. Paulo administrou-lhe virtude pela impo-sição das mãos e ele curou-se imediatamente. As no-tícias destes milagres logo se esparramaram e o resul-tado foi que muitos que estavam doentes "vieram tam-bém ter com ele e sararam".

"Os quais nos distinguiram também com muitas honras", diz o historiador Lucas, "e havendo de nave-gar, nos prouveram das coisas necessárias".Semeadas as sementes da verdade. — Que bênção para este povo foram os três meses que Paulo e seus companheiros passaram lá, e que grande tristeza eles devem ter experimentado ao se despedirem quando o "Castri e Polux", o navio de Alexandria, levou Paulo para sempre. Levou a ele, mas não às verdades que ele ensinara. Estas permaneceriam com eles e, se fossem aceitas, os abençoariam eternamente.

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LIÇÃO 38

O MUNDO ENRIQUECIDO POR UM PRISIONEIRO ACORRENTADO

"O Sangue dos mártires é a semente daIgreja."

/—x. x. x. x—

Antecipação versas Realização. — Alguns meninos da escola reuniram-se um dia para discutir a questão: A Antecipação dá mais prazer que a realização". Um do lado dos que tentavam provar que a Antecipação dá mais prazer, referiu-se a todas as experiências de um menino no Natal, dizendo que o dia antes do Natal que é a véspera de Natal, sempre dá maior satisfação que o próprio Natal — "Assim que o menino recebe seus presentes, começa a lamentar-se que o Natal não seja amanhã".

O menino expressou em seus modos simples, mais ou menos o mesmo pensamento contido nesta sentença de Emerson: "O homem olha para a frente com sorri-sos, mas para traz com suspiros" ou, como outro autor o descreve "O que esperamos é sempre melhor do que o que gozamos".

Nem sempre é assim na vida; mas certamente deve ter sido isto o que aconteceu com Paulo e sua esperada visita a Roma. Durante muitos anos ele havia aguardado com prazer a ocasião em que pregaria o Evangelho na famosa capital do grande Império Ro-mano. Mas agora, ao aproximar-se da realização de

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suas esperanças, é um homem velho, gasto pelo trabalho e pela prisão, e um prisioneiro.

Contudo, não devemos concluir que ele não tivesse conforto, ou que tivesse menos desejo de levar seu testemunho ao mundo, sua mensagem da divina missão do seu Salvador. Ao contrário, ele continuava a aproveitar toda oportunidade que tinha para pregar o evangelho eterno.

Siracusa. — Assim ele fez quando o Castri e Po-lux ou "Os Gémeos" pararam a oitenta milhas ao norto. de Malta, num lugar chamado Siracusa, a antiga capital da Sicilia. É bem provável que Paulo tenha pedido permissão para desembarcar e pregar o Evangelho aos judeus e gentios que se achavam naquela celebrada cidade. Se isto aconteceu, estamos certos de que Júlio acedeu ao seu pedido. De qualquer modo, os Sicilianos posteriormente clamaram que Paulo fundou uma Igreja naquela cidade.

Puteoli. — Sua próxima parada importante foi na parte norte da bela baía de Nápoles, onde estava situada uma cidade chamada Puteoli; agora conhecida como Pozzuoli. Ao entrar no porto, o navio que levava Paulo e seus amigos foi saudado por uma multidão. Entre estes havia irmãos que tinham vindo apresentar boas vindas e confortar o missionário prisioneiro. Talve/ por um desejo de Júlio de permanecer naquele local tempo suficiente para se comunicar com Roma ou lal vez em consideração a Paulo, o grupo permaneceu cm Puteoli por sete dias, dando assim aos Éldcrcs uma oportunidade de passar o domingo com os sanlos naquele local. Como deve ter sido refrescante para o es pírito de Paulo adorar mais uma vez com aqueles «pie tinham o mesmo testemunho do Evangelho «pie eletinha.

Tendo sido enviada uma mensagem t ia f r e n t e , «p ie Paulo estava em seu caminho de 1 'nteo l i p a r a Kmmi. muitos dos irmãos naquela c idade p a r t i r a m p a i a en

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contrar o amado e famoso missionário. Sem dúvida OF Santos de Roma compreenderam que o espírito de Pau-lo bem como o seu corpo deveriam estar gastos e can-sados, e, como verdadeiros amigos, preparam-se para recebê-lo. A verdadeira adversidade sempre encoraja uma pessoa a ir a um amigo na adversidade mais do que em prosperidade. Pode ser que eles tivessem que-rido somente dar a ele uma acolhida real na sua cida-de, pois ele era de fato um personagem real, apesar de estar a ferros. Seja qual for o motivo, alguns dos ir-mãos viajaram quarenta milhas e encontraram seu amado apóstolo na praça d'Apio. Outro grupo o encon-trou nas "Três Vendas", a trinta milhas de Roma. O coração de Paulo estava tocado por esta manifestação de amizade e verdadeira irmandade, e ele "deu graças a Deus e tomou ânimo".Sob guarda. — Quando o grupo alcançou a famosa capital do mundo antigo esta deve ter parecido a Paulo como uma grande prisão; e quando seus amigos dele se separaram para ir para suas casas e ele para o seu lugar guardado, seu coração deve ter se sentido bastante pesado. Contudo, Júlio gentilmente entregou seu prisioneiro ao capitão da guarda pretoriana, a mais alta autoridade na cidade o guarda encarregado de todos os que deveriam ir à presença do Imperador para julgamento. Felizmente, Paulo não foi posto em prisão mas permitiram-lhe, que morasse sozinho numa casa, sob a guarda constante de um soldado. Ali ele gozou de toda a liberdade possível a um prisioneiro; assim, fiel ao seu espírito enérgico, ele descobriu muitas oportunidades para continuar sua pregação. Isto ele fez primeiramente aos soldados a quem estava ligado diariamente. Como eles se revezavam constante-mente, teve ampla oportunidade para pregar a verdade a muitos guardas e assim pregou indiretamente ao próprio Imperador.

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Apelo aos judeus. — Ele teve ocasião de também pregar aos judeus. Chamou os chefes desta nação e lhes contou porque ele era então um prisioneiro. "Na-da havendo eu feito contra o povo ou contra os ritos paternos", disse ele, "vim contudo preso desde Jerusa-lém, entregue nas mãos dos romanos, os quais, haven-do-me examinado, queriam soltar-me por não haver em mim crime algum de morte. Mas opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César",

"Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança d'Israel estou com esta cadeia".

Os judeus negam a mensagem. — Os judeus dis-seram que nada tinham ouvido contra ele, mas "quanto a esta seita (referindo-se aos Cristãos) notório nos é que em toda a parte se fala contra ela". De fato, em Roma como em todos os outros lugares, os judeus recusaram a mensagem do evangelho e obrigaram Paulo a regressar aos gentios.

O Evangelho se divulga. — Durante cerca de oito-centos dias, Paulo permaneceu prisioneiro aguardando seu julgamento perante o Imperador. Durante este tempo, ele pregou o Evangelho a centenas de soldados que tinham um após outro lhe servido de guardas. Es-tes, quando convertidos, convertiam outros e quando enviados para as províncias romanas, espalhavam o evangelho por novas terras, aumentando assim a área sobre a qual a luz da verdade podia brilhar.Mas esta não era a única maneira como ele irradiava da habitação humilde do missionário prisioneiro. Durante aqueles dois anos de reclusão, ele se manteve em comunicação com as Igrejas da Europa e da Ásia. Como não havia estradas de ferro, nem navios e nem telégrafo, todas as cartas que recebia ou que enviava eram levadas por um correio que viajava muito vagarosamente por terra e mar, algumas vexes por centenas de milhas. Mas ele tinha ólimos c dedicados amigos que o serviam e que estavam sempre prontos para

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levar suas mensagens. Alguns destes nós já conhece-mos. Lucas, o fiel médico; Timóteo, seu filho no Evan-gelho; João Marcos o que partiu com Paulo e Barnabé em sua primeira missão; Aristarco de Tessalônica; Epafrodito, um amigo da Macedônia; Onésimo, um es-cravo pertencente ao amigo de Paulo, Filemon, e ou-tros. Com estes servos fiéis como mensageiros, Paulo escreveu cartas que são chamadas epistolas, que fize-ram o mundo todo melhor e mais rico em conhecimen-to da verdade. Estas cartas estão agora no Novo Tes-tamento e são chamadas Epístolas aos Filipenses, a Filemon, aos Colossenses, aos Efésios, etc.

Assim se tornaram as epístolas escritas por Paulo na prisão romana, mensageiras aladas que podem voar do este ao oeste em missão de amor.

Livre. — A certeza do que Paulo fez após ter sido prisioneiro em Roma por dois anos, termina com a afir-mativa de Lucas de que ele "recebia todos quantos vi-nham vê-lo, pregando o reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Je-sus Cristo sem impedimento algum". Acredita-se, con-tudo, que ele tenha finalmente recebido sua liberdade e pregado em muitas terras, dizendo a tradição que ele chegou mesmo a ir à Inglaterra. Acredita-se que tenha sido durante esta viagem missionária que ele escreveu sua primeira carta a Timóteo, que havia sido indicado para tomar conta da Igreja em Éfeso e também a carta a Tito que estava com as Igrejas na ilha de Creta.

Preso novamente. — Cerca do ano de 64 A.D., con-tudo, ele foi novamente preso em Roma. Somente um ano antes os santos haviam sido perseguidos até à mor-te pelo perverso Nero. Eles haviam sido atirados na arena, devorados por animais selvagens, queimados como tochas humanas e martirizados de outras formas cruéis.

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Degolado. — Foi logo depois do incêndio de Roma por este perverso imperador, que Paulo, o mais enérgico de todos os missionários, após 30 anos de cons-tante serviço no ministério, foi degolado. Um pouco antes de sobrevir a morte, ele escreveu a Timóteo estas belas e patéticas palavras: "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício e o tempo da mi-nha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mini. mas tam-bém a todos os que amarem a sua vinda".Ao inclinar sua cabeça para receber o golpe fatal, sabemos que poderia ter dito em toda verdade: "Sinto minha imortalidade sobrepujar todas as dores, todas as lágrimas, todo o tempo, todos os temores e penetrar, como os eternos trovões das profundezas, nos meus ouvidos esta verdade — tu vives para sempre!"

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