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ESPORTEnfase no esporte-educao

E ST UD O S BRASILEIROS SOBRE O

MINISTRIO DO ESPORTEMinistro de Estado do Esporte: Orlando Silva de Jesus Junior Secretrio Executivo do Ministrio do Esporte: Wadson Nathaniel Ribeiro Secretrio Nacional de Esporte Educacional: Fbio Roberto Hansen Assessora Tcnica do Gabinete: Elaine Cristina Siciliani Coordenadora Geral de Formalizao de Convnios: Luciana Homrich Coordenadora de Apoio Administrativo: Eidilamar Ribeiro Diretora do Departamento de Vivncia e Iniciao Esportiva - Segundo Tempo: Gianna Lepre Perim Assessoria Tcnica da Diretoria do Departamento de Vivncia e Iniciao Esportiva - Segundo Tempo: Milena Bastos Coordenadora Geral de Operao: Raquel Tallarico Coordenadora de Implementao: Thais Massumi Higuchi Coordenadora de Anlise Tcnica de Relatrio de Cumprimento de Objeto: Jssyka Campos Coordenadora Geral de Eventos e Suprimentos: Silva Regina de Pinho Bortoli Coordenadora Geral de Acompanhamento Pedaggico e Administrativo: Claudia Bernardo Diretor do Departamento de Esporte Estudantil: Apolinrio Rebelo Coordenadora Geral de Polticas Pblicas de Juventude e Recursos Incentivados: Danielle Fermiano Gruneich

EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGReitor: Prof. Dr. Dcio Sperandio. Vice-Reitor: Prof. Dr. Mrio Luiz Neves de Azevedo. Diretor da Eduem: Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado. Editor-Chefe da Eduem: Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini CONSELHO EDITORIAL Presidente: Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado. Editor Associado: Prof. Dr. Ulysses Cecato. Vice-Editor Associado: Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza. Editores Cientficos: Prof. Adson C. Bozzi Ramatis Lima, Profa. Dra. Ana Lcia Rodrigues, Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer, Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva, Prof. Dr. Clves Cabreira Jobim, Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli, Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto, Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso, Prof. Dr. Evaristo Atncio Paredes, Prof. Dr. Joo Fbio Bertonha, Profa. Dra. Larissa Michelle Lara, Profa. Dra. Luzia Marta Bellini, Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva, Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini, Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado, Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima, Prof. Dr. Raymundo de Lima, Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias, Prof. Dr. Ronald Jos Barth Pinto, Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves, Profa. Dra. Terezinha Oliveira, Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco, Profa. Dra. Valria Soares de Assis. EQUIPE TCNICA Projeto Grfico e Design: Marcos Kazuyoshi Sassaka. Fluxo Editorial: Edneire Franciscon Jacob, Mnica Tanamati Hundzinski, Vania Cristina Scomparin, Edilson Damasio. Artes Grficas: Luciano Wilian da Silva, Marcos Roberto Andreussi. Marketing: Marcos Cipriano da Silva. Comercializao: Norberto Pereira da Silva, Paulo Bento da Silva, Solange Marly Oshima.

Manoel Tubino

ESPORTEnfase no esporte-educaoPrefcio Julio Filgueira

E ST UD O S BRASILEIROS SOBRE O

Maring 2010

Copyright 2010 para o autor Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo mecnico, eletrnico, reprogrfico etc., sem a autorizao, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edio 2010 para Eduem. Reviso textual e gramatical: Cludia Maria Perrone Normalizao: Cludia Maria Perrone Projeto grfico e diagramao: Marcos Kazuyoshi Sassaka Capa - imagens: Cedidas pelo Ministrio do Esporte Capa - arte final: Marcos Kazuyoshi Sassaka Ficha catalogrfica: Marinalva Aparecida Spolon (CRB 9-1094) Reviso final: Amauri Aparecido Bssoli de Oliveira Fonte: Minion Pro Tiragem (verso impressa): 2.000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) (Eduem - UEM, Maring PR., Brasil) Tubino, Manoel Jos Gomes Estudos brasileiros sobre o esporte: nfase no esporte-educao / Manoel Tubino. -Maring : Eduem, 2010. 163 p. ISBN: 978-85-7628-177-1 1. Manifestaes esportivas. 2. Legislao esportiva. 3. Esporte educacional. 4. Polticas pblicas - Esporte educacional. CDD 21.ed. 796

T885

Eduem - Editora da Universidade Estadual de MaringAv. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitrio 87020-900 - Maring-Paran Fone: (0xx44) 3011-4103 - Fax: (0xx44) 3011-1392 Site: www.eduem.uem.br - E-mail: [email protected]

Sumrio

Apresentao ............................................................ Prefcio ..................................................................... 1 EstudoPesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas ......................................................

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2 EstudoElementos de superao do conceito das manifestaes esportivas presentes na lei vigente que abranjam o esporte e sua totalidade .....................................................................

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3 EstudoRelao do esporte com a educao evidenciando fatores que possam incidir sobre a conceituao, organizao e realizao de competies/jogos escolares para subsidiar a construo do novo sistema..................................................

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4 EstudoPesquisa e anlise crtica sobre a relao do nexo esporteeducao com os jogos escolares .......................................... 119

Apresentao

O Ministrio do Esporte, por meio da Secretaria Nacional de Esporte Educacional, idealizou editar e disponibilizar para a comunidade esta obra no ano de 2008, inaugurando a Coleo Esporte Educacional, srie de publicaes editadas com a contribuio de autores que discutem e contribuem com os conhecimentos da rea. O primeiro livro da Coleo, como no poderia deixar de ser, dado o seu protagonismo no estudo do Esporte no Brasil e no mundo, do grande mestre Manoel Jos Gomes Tubino. Infelizmente, naquele ano fomos pegos pela trajetria inexorvel da vida. Perdemos nosso amigo, companheiro e incansvel colaborador. A perda do professor Manoel Jos Gomes Tubino foi algo realmente doloroso e frustrou nossa expectativa de homenage-lo em vida, retribuindo s um pouquinho do muito que ele nos proporcionou. Afinal, mesmo com tantas obras produzidas e publicadas, sabemos que um novo material editado sempre um novo filho, uma nova responsabilidade a ser disponibilizada e avaliada pela sociedade. Mas o tempo coloca-se como o remdio imprescindvel para abrandar os ferimentos do percurso da vida. O Professor Tubino, como costumeiramente era chamado por todos, pois sua simplicidade assim o exigia, foi um homem mpar para a rea da Educao Fsica no Brasil e no mundo. Nos ltimos anos, estava frente da Federao Internacional de Educao Fsica, a mais antiga e representativa associao da categoria em nvel mundial. Ele no foi alado a essa posio

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

simplesmente por sua competncia, mas tambm porque soube atender a um chamamento da categoria. Essa apenas uma das posies de um homem que transitou pela rea contribuindo com conhecimentos e estudos do processo de iniciao esportiva, treinamento esportivo, pedagogia do esporte e polticas pblicas. Ocupou, igualmente, os postos mais representativos e importantes da rea em nosso pas. Assim, no poderamos deixar de manter o compromisso e o pacto com o Professor Tubino, disponibilizando mais um pouco de seus conhecimentos comunidade e proporcionando o saudvel debate e a explorao do contraditrio, necessrios para o avano de nossa atuao. Com este esprito, apresenta-se esta produo para a crtica, avaliao e apreciao geral. Este material foi elaborado por solicitao do Ministrio do Esporte, por meio da Secretaria Nacional do Esporte Educacional. Nele, o Professor Tubino abordou quatro temticas que se complementam em um panorama da realidade das manifestaes esportivas e esporte educacional em nosso pas. No primeiro estudo h uma pesquisa bsica sobre o esporte e sua conceituao dentro da trajetria histrica, da pr-histria aos dias atuais, que vem se alterando e atendendo aos diversos interesses e prticas de cada um dos perodos trabalhados. Como citado pelo autor, o Esporte uma das maiores manifestaes culturais desde a Antiguidade. A histria cultural do mundo passa pela histria do esporte. Contudo, o autor no se isenta de apontar a necessidade premente de o governo brasileiro trabalhar para definir o esporte como uma questo de Estado, o que o elegeria como obrigao de atendimento pelos governantes de nosso pas, independentemente de sigla partidria. No segundo, h uma preocupao especfica com a questo legal do esporte em nosso pas. Da mesma forma que no primeiro, refora-se a necessidade da legitimao do esporte dentro das polticas pblicas, com nfase no apoio ao esporte educacional e esporte lazer. No terceiro o autor centrou sua ateno ao esporte educacional e sua forma de desenvolvimento e estmulo junto comunidade estudantil. A realizao de eventos esportivos que atendam s propostas contemporneas de jogos cooperativos vinculados sociomotricidade defendida por Parlebas, os quais se apoiam no princpio da cooperao, em que as comunicaes motrizes entre os adversrios no so de oposio, mas sim de cooperao. Da mesma forma, o autor defende a necessidade de se trabalhar a educao8

Apresentao

olmpica dentro do processo formativo de nossas geraes, sendo esta estimulada nos eventos de esporte educacional e esporte escolar, com o uso do fair-play e da simbologia olmpica, questes mais que atuais no momento esportivo brasileiro. No quarto estudo a ateno voltou-se para a relao do esporte com a educao, registrando a extenso e influncia nas competies/jogos escolares. Neste estudo o autor detecta a pouca relao entre o esporte e a educao at o ano de 1985, mantendo como foco o recorde, a medalha, e a competio como alvo. A partir de 1988, com a nova Constituio Federal, observaram-se movimentos no sentido de ampliao da relao esporte e educao, com eventos que superaram o paradigma at ento vivenciado e defendido. Cabe registrar aqui que os avanos obtidos desde ento, na compreenso do esporte como uma poltica de Estado, se devem em grande parte ao compromisso do Professor Tubino como homem pblico. A vitria na incluso do art. 217 na Constituio Federal, reconhecendo o esporte como direito de todos, uma das muitas histrias que ele protagonizou e se orgulhava em nos contar. Por tudo isso, acreditamos que esta contribuio do Professor Tubino ser de grande valia para todos os profissionais de Educao Fsica e Esporte, servindo como um referencial imprescindvel aos estudos e trabalhos da rea. Porm, se verdade que nem todas as ideias expostas neste texto encontram sintonia e aderncia direta com as polticas emanadas deste Ministrio, a publicao que ora vai a pblico tambm implica na manifestao do respeito do Ministrio do Esporte ao profissional que representou o Professor Manuel Jos Gomes Tubino para a rea da Educao Fsica e Esporte no Brasil. Ficam aqui os nossos mais sinceros agradecimentos. Julio Filgueira

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Prefcio

O convite para prefaciar a obra pegou-me de surpresa. Num primeiro instante, o telefonema da Professora Dra. Vera Lcia Costa, minha eterna amiga, colega e mestra, pareceu-me um prmio ou uma honraria. Senti-me elevado, levitando, mas no demorei para dimensionar o peso da imensa responsabilidade, e isto me obrigou a aterrisar. Aceitei a empreitada sem que os sentimentos que me envolveram naquele momento me permitissem o discernimento e a necessria humildade de um exame crtico: seria eu capaz de faz-lo? Inmeras so as razes que me levaram a tais indagaes: a representatividade internacional do Professor Dr. Manuel Jos Gomes Tubino como acadmico e cientista; a magnitude do seu legado intelectual; a densidade de suas obras ao longo de sua brilhante trajetria de vida; o seu invulgar exemplo de tica; sua tolerncia zero com injustias, sobretudo aquelas que levariam vitimizao dos cidados brasileiros, alijandoos do direito fundamental educao e prtica esportiva; sua presena humana, sua energia psquica, sua fora espiritual. No, talvez o inventrio de tudo isso no seja suficiente para dimensionar aquilo que entendemos por idolatria. Sim, de idolatria que estou falando. Tive o Professor Tubino como dolo profissional, mesmo antes de tornar-me acadmico de Educao Fsica. Admirava suas incurses na Cincia do Esporte e da Atividade Fsica e, com ele, aprendi a amar a arte do Karat. Como praticante e atleta da arte marcial, ele, muitas vezes, indicou-me os caminhos da tolerncia e

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

dos valores universais. Lembro-me de uma conversa, quando, entre outros tpicos, o Professor Tubino chamou minha ateno para a importncia de saber cavalgar os ventos. Custei a compreender o sentido da lio e, muitas vezes, incauto, ca da montaria, at assimilar que, diante do conhecimento que adquirimos e da autoconfiana que por vezes nos acomete, imperativo despojarmo-nos da arrogncia e do orgulho. S assim, leves como humanos, seremos homens e compreenderemos que o maior valor da cincia , paradoxalmente, ser efmera e, por mais que a conheamos, somos hipossuficientes diante do Universo. Assimilada a lio, pude sentir o xtase da brisa no rosto ao cavalgar os ventos e ainda trago na minha histria de vida, gravada na alma como tatuagem, a importncia de poder t-lo tido como dolo, como exemplo de vida, como mestre e, para minha alegria, como companheiro de ideais, como colega, como amigo. O Professor Tubino, com sua mais que envolvente personalidade, professava e disseminava conhecimento por onde passasse. Tinha, durante as lies, a jovialidade e a motivao de um aprendiz, a sagacidade do cientista e a imperativa sensibilidade de quem procura os meios de tornar a complexidade algo simples e inteligvel a seus discpulos. A sentena de Edgar Morin, em Os Sete Saberes para a Educao do Futuro, provavelmente traduz a forma como os mistrios circunscrevem nossa passagem por este planeta: Ns, seres vivos, constitumos uma ninharia da dispora csmica, umas migalhas da existncia solar, uma germinao mida da existncia terrena. O Professor Tubino entendeu, enquanto esteve fisicamente entre ns, que nada poderia substituir a plenitude da emoo que s a convivncia com seus pares proporcionaria. A todos aqueles que, como eu, tiveram o privilgio de partilhar do seu afeto familiar e profissional, no constitui tarefa das mais difceis compreender a felicidade e o prazer com que administrava seu tempo. A propsito, bem me recordo de uma sentena que sempre repetia quando, por algum motivo, reclamvamos da falta de tempo para as tarefas: Eu nunca tive tempo para nada e fiz e continuo a fazer tudo que a vida me oferece. Sbias palavras que nos conduziram, por vezes, a um exerccio de coragem e, sempre, a um esforo de superao. Na lio de Pedro Demo, em Dialtica da Felicidade, temos uma pista da tentativa de discernir a mixagem mgica entre prazer e felicidade: Em termos de componentes de felicidade, a pessoa, ao apreciar sua histria12

Prefcio

de vida, recorre a outras fontes de informao: afetos e pensamentos. No precisam coincidir, ainda que normalmente apaream interconectados. Tratando-se de felicidade entendida como satisfao com a vida como um todo, o nvel hednico do afeto refere-se ao grau em que vrios afetos experimentados pela pessoa so prazerosos em seu carter... O contentamento diz respeito ao grau em que o indivduo percebe que suas aspiraes esto alcanadas (p. 87). Sua preocupao com o exerccio dos direitos fundamentais do homem levou o Professor Tubino a ocupar o mais alto estatuto da Nao nos mbitos da Educao Fsica e dos Esportes. Cumpriu com bravura e discernimento o seu mandato. Com tica rechaou os casusmos polticos que culminariam por colocar em risco o cidado brasileiro. Seu idealismo incessante e contumaz fez do esporte com objetivos educacionais a sua bandeira como homem. Assim como Coubertin viu seu sonho ser realizado ao resgatar o olimpismo na contemporaneidade, o Professor Tubino viveu e conviveu com a glria de ver seu sonho materializado ao emprestar todo o seu conhecimento e a sua sensibilidade ao legislador, no sentido de delinear o escopo do artigo 217 da nossa Lex Magna. Ainda, com base em seus estudos profundos e em suas publicaes inspiradas, tornou possvel o delineamento do esprito da lei (proteger o direito prtica esportiva com vistas ao desenvolvimento integral do ser humano), consagrando na Constituio Brasileira o Esporte Educacional como um direito social. Esta foi, sem dvida, a mais significativa entre as suas mais significativas e brilhantes vitrias como homem e educador. Em um pas de memria efmera e distrada, foi mister perpetuar a figura humana do Professor Tubino em uma esttua de bronze na Casa da Educao Fsica (FIEP) em Foz do Iguau/PR. Todavia, alm desse monumento, existe outro: trata-se do Dicionrio Enciclopdico Tubino do Esporte, realizado em coautoria com os pesquisadores Fernando Garrido e Fbio Tubino, publicado em 2007 pela Editora SENAC. importante acrescentar que entre dicionrios e enciclopdias relativos ao Esporte, h somente 14 no mundo, o Dicionrio Tubino os ultrapassa em abrangncia. Para o seu autor, uma obra de vida que na verdade se constitui numa exaltao e celebrao ao Esporte. Neste livro que tenho a honra de prefaciar, esto reunidos, na forma de textos, os contornos ideolgicos de suas lutas pelo ideal. O leitor, certamente, sentir-se- em uma de suas aulas cercado de toda a objetividade13

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

e simplicidade que marcaram a sua trajetria como professor. Alguns dos textos nos remetem aos sumrios de suas lies que ocorriam, no raro, de forma deliberada, no importando se na formalidade das salas de aula, na imponncia dos palcios e ministrios onde conferenciou, nos corredores e at nos passeios beira do Tejo ou do Sena. Sim, beira do Sena, aps frequentar por horas como num ritual (quase sagrado), como de costume, as cosmopolitas e empoeiradas livrarias do Quartier Latin, onde adquiria as obras que depois nos indicaria. Por tudo isso, ou melhor, s por isso, esta obra, caro leitor, traz em cada pgina a maestria do fazer cincia com alma, corpo e mente privilgio dos idealistas. Aprendemos com Ortega y Gasset que, algumas vezes, para que possamos ouvir o rudo da cachoeira, necessrio dela sairmos, mesmo que por alguns instantes! Sou levado a crer que o tnue afastamento fsico do Professor Tubino constitui mais uma de suas jogadas de mestre e, talvez, s os Deuses do Olimpo sejam capazes de compreender. Por ora, Mestre, ficam as saudades e, como alento, a sua presena em obras como esta que, indubitavelmente, ajudaro a formar novas geraes de professores e idealistas da Educao Fsica e do Esporte. Sua obra uma sbia estratgia de nos compreender e aceitar, de iluminar o caminho, de continuar conversando noite adentro, alm de uma forma sutil (terna, eterna) de permanecer um pouco mais entre ns. Angelo Luis Vargas

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1 Estudo

Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

I IntroduoO esporte, como um dos mais importantes fenmenos scioculturais desta transio de sculos, tem merecido da intelectualidade e da mdia internacional uma ateno especial, que tem permitido aprofundamentos polticos, sociais, culturais, educacionais, cientficos e antropolgicos. Esses estudos vo, pouco a pouco, inserindo, de forma consolidada, fatos esportivos na contemporaneidade, fazendo com que o esporte cada vez mais se torne uma das prioridades das diversas sociedades do mundo atual. Paralelamente, o nmero de praticantes esportivos crescente, o espao do esporte na mdia maior a cada momento, h uma cincia do esporte ganhando espao, as modalidades de prticas esportivas vo se multiplicando, a tecnologia especfica vai se transformando pela sofisticao e o debate, chamado por Humberto Eco e Mauro Betti de Falao Esportiva, vai se impondo aos demais tipos de falaes (como, por exemplo, a cultural, a econmica etc). evidente que uma pesquisa que possa explicar a trajetria do esporte at o conceito atual ter de ser iniciada desde a sua origem e dever obrigatoriamente passar pelas prticas pr-esportivas e esportivas dos diferentes perodos histricos at chegar ao final do sculo XX e comeo do XXI, evidenciando o entendimento internacional aceito para esse fenmeno scio-cultural.

II ObjetivosII.1 Objetivo Geral A partir de uma diviso histrica, desenvolver uma anlise crtica do Esporte Antigo at a chegada do Esporte Contemporneo.17

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

II.2 Objetivos Especcos 1. Levantar as diferentes percepes de origem do esporte e dos termos mais usuais desse fenmeno; 2. Identificar as Prticas Pr-Esportivas desde a Pr-Histria at a Civilizao Grega; 3. Explicar os Jogos Gregos como a primeira concepo de Esporte; 4. Descrever a crise do movimento esportivo na decadncia da Civilizao Romana, na Idade Mdia e na Renascena; 5. Descrever a criao do Esporte Moderno na Inglaterra; 6. Descrever as caractersticas dos perodos histricos do Iderio Olmpico e do Uso Poltico-Ideolgico do Esporte Moderno; 7. Listar e analisar as reaes da segunda metade do sculo XX ao chauvinismo da vitria no Esporte Moderno; 8. Evidenciar a passagem do Esporte Moderno para o Esporte Contemporneo.

III Justicativa da pesquisaPara o entendimento do Esporte Contemporneo em todas as suas dimenses, faz-se necessrio desenvolver uma pesquisa que considere dados relacionados origem desse fenmeno, que veio trocando e acrescentando caractersticas ao longo dos sculos passados. Evidentemente que, nos diversos contextos anteriores histricos, as prticas esportivas tiveram lgicas diferentes, s vezes explicitadas pelas caractersticas dos participantes. Na verdade, o Esporte Contemporneo apenas uma etapa, atual, do processo histrico esportivo, instalado na humanidade desde os tempos antigos.18

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

IV Esquema de desenvolvimento e organizao do estudo

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E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

V Desenvolvimento da pesquisaV.1 Referencial terico sobre a evoluo do esporteV.1.1 Classicao do Esporte Quanto aos Perodos Histricos

Segundo Tubino, Garrido e Tubino (2006), o Esporte, no seu foco histrico, deve ser dividido em: Esporte Antigo, Esporte Moderno e Esporte Contemporneo. Da Antiguidade at a primeira metade do sculo XIX, ocorreu o Esporte Antigo. O Esporte Moderno, concebido depois de 1820 pelo ingls Thomas Arnold, comeou a institucionalizar as prticas esportivas existentes, codificando-as por meio de regras e entidades. No final da dcada de 1980, a partir da aceitao do direito de todos ao esporte, tem incio o Esporte Contemporneo, para o qual a Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte foi, sem dvida, o grande marco.V.1.2 A Origem do Esporte

Segundo Carl Diem (1966), a histria do esporte ntima da cultura humana, em que os povos tiveram, em cada poca, seus esportes, que foram a essncia de cada povo. Depois, Ueberhost (1973), apoiado em Diem, justificou a origem do esporte pela busca do conhecimento do homem sobre o prprio homem na sua natureza, sua vida pessoal e comunitria. Os norte-americanos Van Dalen, Mitchel e Bennet, citados por Ueberhost, afirmaram que o esporte nasceu para resolver problemas pedaggicos primitivos. Eppensteiner (1973) liga a origem do esporte s motivaes da ao esportiva. Elas vm da natureza e da cultura. Para esse autor, o esporte um fenmeno biolgico e no histrico. Em todos os momentos histricos, a natureza e a cultura coexistem ao criar um instinto esportivo, que para ele a resultante da combinao do ldico, do movimento e da luta.20

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

Percebe-se que, na Antiguidade, as prticas esportivas eram muito diferentes das atuais; por isto as denominamos de Prticas Presportivas, muitas de carter utilitrio para a prpria sobrevivncia das pessoas (natao, corrida, caa etc.) e tambm para as preparaes para as guerras (marchas, caminhadas, esgrima, lutas etc.).

V.1.3 As Prticas Pr-Esportivas das Civilizaes Antigas

As antigas civilizaes j tinham atividades fsicas/pr-esportivas em suas culturas, a maioria com caractersticas utilitrias. As principais civilizaes foram: Chinesa lutas chinesas, tiro ao arco chins, esgrima de sabre, TsuChu e artes marciais chinesas; Egpcia arco e flecha, corrida, saltos, arremessos, equitao, esgrima, luta, boxe, natao, remo, corridas de carros e jogos de pelota; Etrusca duelos armados; Hitita equitao, natao, remo, esgrima, tiro e luta; Japonesa Artes marciais. Muitas dessas prticas pr-esportivas do Esporte Antigo desapareceram com o tempo. Outras se transformaram em Esportes Auttonos, que podem ser considerados esportes puros, isto , esportes que continuaram a ser praticados ao longo do tempo sem receber influncias de outras culturas. Quando os Esportes Auttonos permanecem como prtica, mas com modificaes de outras culturas, geralmente de naes colonizadoras, passam a ser chamados Esportes ou Jogos Tradicionais.

V.1.4 Os Jogos Gregos como Primeiras Manifestaes Esportivas

O humanismo foi reconhecido por Jaegger (1945) como uma das principais marcas da sociedade grega. Para esse autor, o humanismo explica a educao dos gregos, que visava formar pessoas autnomas e fundamentalmente com idias. Os Jogos Gregos, para Jaegger, realizavamse na perspectiva do humanismo grego.21

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

Os Jogos Gregos eram festas populares, religiosas, verdadeiras cerimnias pan-helnicas, cujos participantes eram as cidades gregas. Marrou (1950) mostrou que, inicialmente, esses Jogos ocorriam somente nas cidades da Grcia Continental e, mais tarde, estenderam-se a outros povos. Como exemplo dos Jogos Gregos, pode-se citar os Jogos Fnebres, os Jogos Pticos, os Jogos stmicos, as Panatenias, outros Jogos e principalmente os Jogos Olmpicos da Antiguidade. Os Jogos Fnebres, segundo os escritos de Homero, eram em homenagem a figuras de destaque nas cidades gregas que haviam morrido. Homero cita a homenagem a Ptroclo, Tleopolino e s vtimas das batalhas da Maratona (490 a.C.) e Salamina (480 a.C.). Os Jogos Pticos eram celebrados em homenagem a Apolo e foram criados em 528 a.C., em Delfos. Os Jogos stmicos tinham as mesmas competies dos Jogos Olmpicos e eram celebrados em Corinto, de dois em dois anos. Os Jogos Nemeus eram disputados em honra a Zeus de Kleonae. Foram os ltimos Jogos a desaparecer. Os Jogos Olmpicos da Antiguidade, principal manifestao esportiva de toda a Antiguidade, eram celebrados em Olmpia, lida, num bosque sagrado chamado Altis, em homenagem a Zeus Horquios, a cada quatro anos. Esses Jogos eram anunciados pelos arautos e desenvolvidos pelos helenoices. As principais provas eram: corrida de estdio, corrida do duplo estdio, corrida de fundo, luta, pentatlo, corrida das quadrigas, pancrcio, corrida de cavalos montados, corrida com armas, corrida de bigas, pugilato e outras. A Ekcheiria era a dimenso pacfica das Olimpadas da Antiguidade, embora estas compreendessem lutas e confrontaes. Os vencedores dos Jogos Olmpicos da Antiguidade recebiam, como preferidos dos deuses, uma coroa de ramo de oliveira e outras honras e recompensas. Pode-se concluir, em relao aos Jogos Gregos, que representaram os primeiros fatos esportivos, j que anteriormente o que aconteceram foram prticas pr-esportivas.22

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

V.1.5 A Crise do Movimento Esportivo na Decadncia da Civilizao Romana, Idade Mdia e Renascena

A civilizao romana diminuiu o movimento esportivo grego. Apenas criaram espaos especializados para a higiene corporal, como as termas, e desenvolveram jogos pblicos chamados de jogos circenses, que, inclusive, deturpavam o sentido anterior ao adaptar os preceitos helnicos para os combates entre gladiadores. Na Idade Mdia e na Renascena, as prticas esportivas foram escassas e, s vezes, muito violentas. Entre elas, podem-se citar algumas que conseguiram destaque na Histria do Esporte: a) O Torneio Medieval consistia numa verdadeira batalha corporal, com duas equipes contrrias usando cavalos, espadas e at lanas. Os vencedores recebiam prmios e os perdedores, muitas vezes, morriam nas disputas. b) A Soule era um esporte medieval popular, de grande violncia, praticado na Europa Ocidental, variando em cada local, com nmero ilimitado de jogadores, que tentavam conduzir uma pelota (bexiga animal com ar) at um ponto pr-estabelecido de cada lado. Os jogos provocavam muitos feridos. Essa modalidade foi iniciada no sculo XI e chegou at o XIX. c) O Jeu de Palme era um jogo de bola, de origem francesa, que consistia em bater numa pelota com a palma das mos. Era disputado em salas fechadas e teve o seu auge no sculo XVI. Ainda praticado. d) O Gioco del Calcio ou Calcio Fiorentino era um jogo medieval, codificado no Renascimento, com 27 jogadores por equipe, cujo objetivo era conduzir a pelota com os ps ou mos at o final da rea adversria. Essa modalidade, iniciada no sculo XVI em Florena, permanece sendo exibida no Carnaval Florentino. Muitos afirmam que esse esporte um dos precursores do Futebol. e) As Justas eram disputadas entre dois cavaleiros com armaduras e lanas de ferro. O final das Justas ocorreu em 1559. Alm dessas prticas esportivas descritas acima, existiram muitas outras modalidades (Austball, Carrossel, Mintonetti etc.).23

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

Nos sculos XVIII e XIX, as prticas esportivas passaram a compreender apostas, o que foi uma nova e poderosa motivao para as disputas. Eram corridas curtas, lutas e provas de remo.

V.1.6 A Criao do Esporte Moderno

O Esporte Moderno foi criado pelo ingls Thomas Arnold, diretor do Rugby College, que, a partir de 1820, comeou a codificar os jogos existentes com regras e as competies. Rapidamente a ideia de Arnold se estendeu por toda a Europa. Com essa ideia surgiram os clubes esportivos, originados no Associacionismo ingls. Esse Associacionismo tornou-se o primeiro suporte para a tica esportiva. O Esporte Moderno recebeu um grande estmulo com a restaurao dos Jogos Olmpicos por Pierre de Coubertin, em 1896 (Atenas). O reincio do movimento olmpico consolidou o Esporte e ainda trouxe o segundo suporte da tica esportiva: o Fair-play. A chegada do Olimpismo fixou o amadorismo como uma das referncias. Naquele contexto do sculo XIX, o esporte, principalmente na Inglaterra, era praticado pela aristocracia e alta burguesia, que tinham suas prticas esportivas voluntrias e seu profissionalismo. O amadorismo era uma defesa contra o ingresso popular na prtica do esporte.

V.1.7 O Perodo do Iderio Olmpico do Esporte Moderno

Como j foi visto, o Olimpismo trouxe ao Esporte um impulso muito grande, alm de inserir a necessidade do amadorismo nos esportes olmpicos. O amadorismo era a base do iderio olmpico e, com a tica e o associacionismo, formava a prpria tica esportiva. O iderio olmpico prevaleceu at a metade da dcada de 1930, tendo o incio de seu rompimento nos Jogos Olmpicos de Berlim (1936), quando Hitler tentou usar os Jogos para mostrar uma suposta supremacia ariana. Foi durante esse perodo histrico de iderio olmpico que surgiram os principais smbolos, emblemas e marcas olmpicas, alm da realizao dos I Jogos Olmpicos de Inverno (Chamonix/1824).24

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

V.1.8 O Perodo do Uso Poltico-Ideolgico do Esporte Moderno

O ensaio, Hitler (1936), do uso poltico no esporte teve xito a partir dos Jogos Olmpicos de Helsinque (1952). O Esporte tornou-se mais um palco da chamada Guerra Fria entre capitalismo e socialismo. J nos Jogos de Helsinque, a mdia ocidental, ao perceber que os Estados Unidos (EUA) tinham mais medalhas que a Unio Sovitica, que pela primeira vez disputava os Jogos, convencionou uma classificao priorizando as medalhas de ouro e, com isto, enalteceu uma frgil superioridade esportiva capitalista. Devido prtica esportiva feminina, a ento Unio Sovitica j era a primeira colocada nos Jogos Olmpicos do Mxico (1968) e nos Jogos de Montreal (1972); os EUA eram os terceiros colocados, atrs da ex-Alemanha Oriental e Unio Sovitica. Essa classificao tambm j acontecia nos Jogos Olmpicos de Inverno. Os pases capitalistas fraudavam o amadorismo com o chamado amadorismo marrom, que consistia em facilidades, bolsas e ajudas de custo aos atletas. Enquanto isso, os pases socialistas tambm fraudavam o conceito de amadorismo, ao colocar seus atletas numa carreira esportiva estatal, que comeava na deteco de talentos e seguia em escolas esportivas at as altas performances. O uso poltico do Esporte era to grande, que at pases nodesenvolvidos jogavam para o Estado as responsabilidades sobre o esporte. No Brasil, isso ocorreu desde o Decreto-Lei n 3.199/1941 e a Lei substituta de n 6.251/1975. Nesse Perodo de uso poltico-ideolgico, aconteceram muitas manifestaes extremamente polticas e graves em Jogos Olmpicos: a) manifestao dos negros norte-americanos Tommie Smith e Don Carlos, que, no podium dos 200 metros nos Jogos do Mxico (1968), descalaram-se e simbolizaram o movimento Black Power, fechando os punhos com luvas negras; b) os atletas israelenses foram seqestrados e assassinados por terroristas do Setembro Negro, nos Jogos Olmpicos de Munique (1972); c) muitos pases africanos boicotaram os Jogos Olmpicos de Montreal (1976), protestando pela presena da Nova Zelndia nesses Jogos25

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(a Nova Zelndia havia disputado uma partida de rugby contra a Rodsia, que mantinha a poltica racial do apartheid); d) os EUA boicotaram os Jogos Olmpicos de Moscou (1980), alegando a invaso da Unio Sovitica no Afeganisto; e) a Unio Sovitica revida o boicote nos Jogos Olmpicos de Los Angeles (1984), alegando a interveno norte-americana em Granada. Por tudo que foi desenvolvido acima, pode-se afirmar que esse foi um perodo de enfraquecimento do Comit Olmpico Internacional, em funo do contexto internacional, inserido em conflitos, principalmente a Guerra Fria. A decadncia do Olimpismo era to grande, que foram criados os Goodwill Games, os quais, de alguma forma, equilibravam os desejos de competies de alto nvel para os grandes atletas. A tica esportiva, vtima constante dos ilcitos (Doping, inclusive), foi se desmanchando, sem fora para enfrentar o chauvinismo da vitria, isto , a vitria a qualquer custo.V.1.9 As Reaes ao Chauvinismo da Vitria

O quadro esportivo negativo do Perodo histrico do uso polticoideolgico do Esporte gerou reaes importantes, que aos poucos foram criando as bases do Esporte Contemporneo. Entre as reaes, podem-se citar: a) a criao do Movimento Esporte para Todos (EPT); b) os Manifestos das organizaes internacionais; c) a adeso da intelectualidade internacional s questes do esporte. O Esporte para Todos (EPT) conceituado como um movimento esportivo que defende e promove acesso s atividades fsicas para todas as pessoas. Nesse Movimento, o esporte no deve ser considerado um privilgio para aqueles que se apresentam com talento esportivo ou bitipos adequados para as prticas esportivas. Nasceu na Noruega com o nome de TRIMM, com Hauge-Moe. Teve grande aceitao inicialmente na ento Alemanha Ocidental, Noruega, Blgica, Sucia e Holanda. A TAFISA (Trim and Fitness International Sport for All Association) e a Fdration Internationale du Sport pour Tous so as instituies26

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internacionais que mais promovem o EPT. A Fdration Internationale dEducation Physique (FIEP) tem nas suas aes a Seo Esporte para Todos. Os Manifestos dos organismos internacionais, de modo geral, reagiram s exacerbaes do esporte de alto rendimento e foram importantes nas reflexes sobre o sentido que as competies esportivas estavam tomando. Os principais documentos internacionais de reao foram: o Manifesto do Esporte (1968), do Conseil Internationale dEducation Physique et Sport (CIEPS), assinado pelo Prmio Nobel da Paz Noel Baker, no qual, pela primeira vez, foi defendido que o esporte no era somente rendimento, mas que existia um esporte na escola e um esporte do homem comum; o Manifesto Mundial da Educao Fsica, da Fdration Internationale dEducation Physique (FIEP/1970), no qual esse organismo internacional tentou reforar as conexes da Educao Fsica com o Esporte; a Carta Europia de Esporte para Todos, em que foi praticamente estabelecido o referencial terico para o Movimento EPT; o Manifesto do Fair Play, editado em 1975, que mostrou a relevncia do Fair-play nas competies, no sentido da tica e convivncia humana; a Carta de Paris, resultante do I Encontro de Ministros de Esporte e Responsveis pela Educao Fsica (1976), em que o Esporte foi considerado uma efetiva manifestao de Educao permanente. Outra reao das mais importantes ao chauvinismo pelos resultados foi o surgimento de intelectuais (socilogos, filsofos e cientistas polticos principalmente) preocupados em desintoxicar as prticas esportivas de vcios, deformaes e ilcitos que apresentavam. Pode-se citar George Magnane, Ren Maheu, Jos Maria Cagigal, Pierre Parlebas, Cazorla Prieto, Ferruccio Antonelli, Phillip Noel-Baker, Norbert Elias, Eric Dunning e muitos outros. Muitos estudos, teses e posicionamentos sobre o esporte comearam a ser publicados. Esse quadro negativo do Esporte, apesar das reaes, perdura at o final da dcada de 1970, quando, devido publicao da Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO/1978), aparece a percepo de que o Esporte um direito de todos.27

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V.1.10 A Chegada do Esporte Contemporneo

Em 1976, durante a I Reunio de Ministros de Esporte (em Paris), ficou decidido que at o final da dcada a UNESCO se responsabilizaria pela publicao e divulgao de um documento com diretrizes efetivas para que governos e populaes em geral se referenciassem nas questes relativas ao esporte, para um mundo melhor. Esse documento foi a Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO/1978). Nessa Carta, logo no artigo primeiro, ficou o reconhecimento de que as prticas esportivas so direito de todas as pessoas. Esse pressuposto rompeu com a perspectiva anterior do Esporte Moderno de que o Esporte era uma prerrogativa dos talentos e anatomicamente indicados, isto , fez o Esporte sair da perspectiva nica do rendimento para a perspectiva do direito de todos s prticas esportivas. Nesta nova perspectiva, o Esporte passou, na sua ampliada abrangncia social, a compreender todas as pessoas, independentemente das suas idades e de suas situaes fsicas. Depois da Carta da UNESCO, todos os documentos do Esporte (Carta Olmpica, Agendas, Concluses de Congressos, Manifestos etc.) passaram a tambm reconhecer o direito de todos s prticas esportivas, defendendo a incluso social no esporte.

V.2 Anlise das manifestaes esportivas no Brasil

V.2.1 O Surgimento das Manifestaes Esportivas no Brasil

No contexto internacional, na dcada de 1960, j existiam movimentos que contestavam o Esporte na perspectiva nica do rendimento. O Manifesto do Esporte (1968), o Movimento Esporte para Todos e os depoimentos de intelectuais j criavam uma atmosfera de aumento da abrangncia social do Esporte. Entretanto, o marco desse novo entendimento do fenmeno esportivo , sem dvida, a Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte da UNESCO (1978).28

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

No Brasil, o esporte de rendimento era reproduzido nas escolas e fora do mbito institucionalizado. As pessoas reconheciam as prticas fsicas ligadas a qualquer tipo de jogo/esporte como recreao. Foi a Comisso de Reformulao do Esporte Brasileiro de 1985, presidida por Manoel Tubino e instalada pelo Decreto n 91.452, que sugeriu, sob a forma de indicaes, que o conceito de Esporte no Brasil fosse ampliado, deixando a perspectiva nica do desempenho e, tambm, compreendendo as perspectivas da educao e da participao (lazer). Foi assim que foram introduzidas, na realidade esportiva nacional, as manifestaes Esporte-educao, Esporte-participao (lazer) e Esporte-performance (desempenho). O texto constitucional de 1988 consolidou esse entendimento ao priorizar recursos pblicos para o esporte educacional e, no caput do art. 217, estabelecer como dever do Estado fomentar prticas esportivas formais e no-formais, como direito de cada um. Recorda-se que a Carta da UNESCO de 1978 consolidava, logo no seu primeiro artigo, o direito de todas as pessoas s prticas esportivas. Embora a Constituio Federal de 1988 j se referenciasse num novo conceito de Esporte, o Brasil permaneceu at 1993 sem uma lei especfica do Esporte que acompanhasse o texto constitucional. Isso aconteceu na Lei n 8.672/1193 (Lei Zico). A Lei Zico foi marcante, pois logo no incio determinou conceitos e princpios para o Esporte brasileiro, inclusive contemplando o reconhecimento das manifestaes esportivas (Esporte-educao, Esporte-participao e Esporte-performance).V.2.2 As Manifestaes Esportivas na Legislao Nacional Limites e Atualidade

Depois da Lei Zico (n 8.672), a Lei Pel (n 9.615/1998) praticamente manteve o texto anterior quanto aos conceitos e princpios. Esses preceitos legais levaram o governo federal e os estaduais a inclurem o Esporte nas suas atividades programticas. Inicialmente, no Ministrio da Educao, depois no Ministrio do Esporte e Turismo e, agora, no Ministrio do Esporte, foram institudas Diretorias e Departamentos com responsabilidades sobre o Esporte-educao e o Esporte-participao (lazer), alm do Esporte de rendimento.29

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A ao federal do Estado fica limitada a atuar no Esporte-educao, justamente porque cabe aos estados e municpios as responsabilidades sobre os ensinos mdio e fundamental, alm da funo do Ministrio da Educao, que permaneceu com a misso de desenvolver a Educao brasileira nas escolas. Por outro lado, os Estados brasileiros tm criado Secretarias ligadas ao Esporte. Existem secretarias ligando o Esporte ao Lazer, Cultura, ao Turismo, Juventude e at considerando o Esporte isoladamente. Os municpios brasileiros, por sua vez, constitucionalmente comprometidos com o ensino fundamental, tambm criaram, em grande nmero, secretarias que tratam dos assuntos do Esporte. s vezes, apenas criaram departamentos com essa responsabilidade. Percebe-se, nessa diviso de responsabilidades, uma grande limitao para o desenvolvimento do Esporte, justamente pela dificuldade de integrao de papis dos diversos segmentos em diferentes nveis de ao pblica. A iniciativa privada, pela falta de estmulos para atuar no chamado Esporte Social (Esporte-educao e Esporte-lazer), somente promove estmulos tmidos para o Esporte, reservando-se a apoiar o Esporte de desempenho (performance), tendo em vista as possibilidades de retorno publicitrio que recebe. Mesmo assim, busca as atividades esportivas de rendimento que trazem perspectivas de mdia. O governo federal, dentro do seu possvel, estimula os estados e municpios, encarregando-se de formular polticas pblicas com prescries setoriais, fomentando melhorias nos recursos humanos, contribuindo para a cincia do esporte (apoiando eventos, publicaes etc.). Entretanto, no difcil perceber que o Brasil no est integrado no Esporte, com choques de contedo nas iniciativas da Unio, dos estados e dos municpios.V.2.3 Relevncia para a Poltica Nacional do Esporte

Um dos pontos de debate nas reas de atuao do Estado a discusso de seu papel em relao ao esporte. O papel do Estado no Esporte tem sido tema de documentos e at de seminrios em todo o mundo esportivo, principalmente devido s mudanas de responsabilidade social que surgem a cada novo momento histrico.30

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

No papel do Estado, sempre fica a dvida sobre a responsabilidade estatal diante do Esporte de desempenho (rendimento), que fundamentalmente privado. O papel do Estado incide sobre a proteo ao esporte de desempenho, o que significa assumir como protagonista de algumas responsabilidades de natureza pblica, como: legislao adequada, segurana nos locais de competies, contribuio efetiva nas representaes esportivas nacionais, controle e estimulao antidoping (atravs de normas prprias). Em estudo recente, foi possvel estabelecer alguns tpicos para o papel do Estado diante do Esporte. So eles: a) formulao da Poltica Nacional do Esporte; b) fomento ao Esporte Social; c) mediao no Esporte de Rendimento, tratando: - da violncia/segurana - da responsabilidade civil - do doping/ilcito - dos estmulos s representaes nacionais - incentivos cooperao da iniciativa privada; d) Desenvolvimento da infraestrutura (instalaes, equipamentos, planos etc.); e) Desenvolvimento de recursos humanos; f) Fomento das Cincias do Esporte. Nessa referncia, observa-se, de forma dedutiva, que as polticas pblicas e as aes relativas s manifestaes esportivas fazem parte do elenco de responsabilidades do Estado para que o Esporte torne-se um meio de desenvolvimento da Sociedade. importante entender que, quando se fala de Estado, est se referindo aos poderes executivos, legislativos e judicirios da Unio, estados e municpios. Tambm se pressupe uma integrao em todas essas unidades e setores pblicos. Logicamente, h a necessidade de uma Poltica Nacional que trate dessa integrao, reconhecida teoricamente. Um ponto de sada para a relevncia das manifestaes esportivas na atual Poltica Nacional do Esporte observar que, no seu texto, o conceito31

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de Esporte est perfeitamente atualizado e envolve as trs manifestaes (Esporte-educao, Esporte-lazer/participao e Esporte performance/ desempenho), prescrevendo aes para os seus desenvolvimentos. Entretanto, tambm se percebe que mesmo uma Poltica abrangente e de contedo, como a do Brasil, no consegue integrar os poderes da Repblica (legislativo e judicirio) e os nveis pblicos de deciso administrativa (estados e municpios). No prprio executivo, seria desejvel uma integrao efetiva entre os ministrios de Esporte, Cultura, Educao, Turismo, Cincia e Tecnologia e outros.

V ConclusesNesta pesquisa, foi possvel extrarem-se algumas concluses julgadas importantes pelo autor, a seguir descritas. 1- O esporte, aceito atualmente como um dos fenmenos scioculturais e polticos mais importantes nesta transio de sculos, no pode ser explicado por percepes de seus momentos histricos. Ele s pode ser compreendido se o situarmos num processo com interatuaes culturais e contextuais, variando a cada novo momento histrico. 2- As lgicas do Esporte tm uma variabilidade marcante praticamente desde a sua origem, recebendo diferentes sentidos nas civilizaes antigas, nas primeiras manifestaes esportivas pelos gregos, nos sculos de suas decadncias (civilizao romana, Idade Mdia e Renascena), depois quando se tornou Esporte Moderno e, finalmente, chegou ao Esporte Contemporneo. 3- O Esporte uma das maiores manifestaes culturais desde a Antiguidade. A histria cultural do mundo passa pela histria do esporte. 4- O conceito de Esporte no Brasil est atualizado com a evoluo conceitual do fenmeno scio-cultural esportivo, ao aceit-lo como direito de todas as pessoas, e com as formas de exerccio desse direito (Esporte-educao, Esporte-lazer e Esporte-desempenho).32

1 Estudo - Pesquisa e anlise crtica sobre o conceito atual das manifestaes esportivas

Esta atualizao ocorre, inclusive, em termos de legislao atual (Lei n 9.615/98) e tambm na Poltica Nacional do Esporte. 5- No Brasil, embora esteja coerente com o atual status conceitual internacional do Esporte, nas suas gestes pblicas, o Esporte permanece sem ser considerado uma Questo de Estado. O Ministrio do Esporte, talvez a prpria cultura explique, continua tratando o Esporte predominantemente como uma misso separada do Ministrio do Esporte.

VI RefernciasBRASIL. Poltica Nacional do Esporte. Braslia, 2005. CAGIGAL, J. M. Cultura intelectual e cultura fsica. Buenos Aires: Kapelusz, 1979. CAZORLA PRIETO, L. M. Los poderes pblicos ante el deporte popular y el esporte espetculo. In: Deporte popular-Deporte de elite. Elementos para la reflexin. Valncia: Ayuntamineto de Valencia, 1984. DIEM, C. Historia de los deportes. Barcelona: Coralt, 1966. EPPENSTEINER, F. El origen del deporte. In: Citius, Altius e Fortius. Madri, XV, 259-272, 1973. GILLET, B. Histoire du sport. Paris: Presses Universitaires de Paris, 1975. MARROU, H. I. Histoire de leducation dan lAntiquit. Paris: Seuil, 1950. TUBINO, M. J. G. 500 anos de legislao esportiva brasileira do Brasil ao incio do sculo XXI. Rio de Janeiro: Shape, 2002. TUBINO, M. J. G. Esporte e cultura fsica. So Paulo: Ibrasa, 1992. TUBINO, M. J. G. Teoria geral do esporte. So Paulo: Ibrasa, 1987. TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F.; TUBINO, F. Dicionrio enciclopdico Tubino do esporte. Rio de Janeiro: SENAC, 2006. ULMANN, J. De la gymnastique aux sports modernes Histoire des doutrines de leducation physique. Paris: Vrin, 1982. UNESCO. Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte. Paris, 1976.33

E STUDOS

BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE

UEBERHOST, H. Teorias sobre el origen del deporte. In: Citius, Altius, Fortius. INEF, Madri, XV-9-57 1973.

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2 Estudo

Elementos de superao do conceito das manifestaes esportivas presentes na lei vigente que abranjam o esporte e sua totalidade

2 Estudo - Elementos de superao do conceito das manifestaes esportivas...

I IntroduoA Constituio Federal do Brasil de 1988, em seu art. 217 (Captulo III, Seo III Do Desporto), alterou profundamente o conceito de Esporte no pas, uma vez que, alm de criar uma ruptura na tutela estatal, formalizada desde 1941 com o Decreto Lei n 3.199 de 14/04/1941, tratou, de forma pioneira, a prtica esportiva como direito de todos os brasileiros e ampliou o entendimento do fenmeno esportivo para atividades formais e no-formais. Esse artigo ainda, nos seus incisos e pargrafos, priorizou os recursos pblicos para o chamado esporte educacional, incentivou a proteo s modalidades de criao nacional, estabeleceu a necessidade de diferenciar o esporte profissional do amador e, finalmente, reconheceu o lazer como mais uma forma de promoo social. Essas alteraes chegaram ao Brasil praticamente dez anos depois da Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO/1978) e aps algumas iniciativas de expanso do Esporte, como o Movimento Esporte para Todos, e principalmente aps a rediscusso do papel do Estado diante dos fatos esportivos, a partir da criao da Comisso Legislativa do Esporte na Cmara Federal. Na verdade, j havia um debate aprofundado das questes nacionais do esporte, e a Constituio de 1988 chegou no momento apropriado para romper as estruturas do status quo. Em 1985, quando j presidia o Conselho Nacional de Desportos (CND), em ao conjunta com Bruno da Silveira, ento Secretrio de Educao Fsica e Desportos (SEED) do Ministrio de Educao e Cultura, conseguimos com o Ministro de Estado da Educao, Senador Marco Maciel, a instalao de uma Comisso de Reformulao do Esporte Brasileiro com 33 membros, sob a minha direo, qual caberia propor novos caminhos para o processo esportivo nacional. Nessa Comisso, propomos 80 indicaes de mudana. As nove primeiras objetivavam renovar o prprio conceito de esporte no pas, atualizando-o com o contexto internacional. A Constituio de 1988, no seu artigo 217, pode-se afirmar, foi a resultante das indicaes dessa Comisso. A seguir, a Constituio Federal de 1988 influiu diretamente na Lei n 8.672 de 06/07/1993, chamada Lei Zico, que, por sua vez, foi referncia direta nas Leis n 9.615 de 24/03/1998, conhecida como Lei Pel, e a n 9.981 de 14/07/2000, chamada de Lei Maguito Vilela.37

E STUDOS

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Na Constituio de 1988, o Esporte foi tratado sem maiores explicaes conceituais. A Lei Zico (n 6.215) foi a que teve o mrito de constituir-se, pela primeira vez no Brasil, numa referncia conceitual e principiolgica. At a antiga Lei n 6.251 de 08/10/1975 e seu decreto regulamentador, Decreto n 80.225 de 25/08/1997, o Esporte era fundamentalmente abordado na perspectiva nica do rendimento. As prticas formais e no-formais, o direito de cada brasileiro prtica esportiva, a defesa dos esportes de criao nacional e a vinculao do lazer a um pargrafo do Captulo Constitucional do esporte afastaram de vez a perspectiva nica anterior voltada para o rendimento. A Lei Zico, alguns anos depois, veio tentar evidenciar que o Esporte, no Brasil, no era somente rendimento e tinha outras perspectivas. Por isso, afirma-se que essa Lei, que veio consolidar o texto constitucional, teve como mritos, principalmente, seus aspectos conceituais e principiolgicos. Esses mesmos aspectos foram contemplados na Lei Pel (Lei n 9.615). Uma das conseqncias mais importantes do art. 217 da Constituio e das Leis n 8.672/1993 e n 9.615/1988 foi a mudana do papel do Estado antes, voltado para o esporte de alto nvel; depois, com uma abrangncia social considervel. Entretanto, nesta transio de sculos, j existem sinalizaes e balizamentos ntidos que marcam a imprescindibilidade de uma ampliao conceitual do Esporte nos instrumentos legais vigentes, o que pode ser explicado pelos novos fatos esportivos que vo surgindo a cada momento histrico. Esse problema, causado por inmeros fatores scio-econmicos, sociais, culturais e polticos, o foco do presente estudo.

II ObjetivosII.1 Objetivo Geral Propor novos conceitos para as manifestaes esportivas citadas na legislao esportiva brasileira, que possam atender as novas perspectivas da sociedade brasileira.38

2 Estudo - Elementos de superao do conceito das manifestaes esportivas...

II.2 Objetivos Especcos Apresentar um quadro ampliado de manifestaes esportivas, na referncia da totalidade do esporte; Propor princpios de referncia s manifestaes esportivas ora apresentadas, aprofundando seus entendimentos em vrias perspectivas, inclusive as histricas; Apresentar caminhos para uma acelerao no processo esportivo brasileiro, inclusive na legislao esportiva nacional.

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III JusticativaNum mundo em constante mudana, a atualizao de informaes e referncias tornou-se cada vez mais imperativa. O mesmo processo ocorre nos fatos e campos sociais, pois a necessidade de mudanas/ inovaes nos papis dos diferentes segmentos da sociedade marginaliza as pessoas e instituies que no acompanham as renovaes de percepes e concepes. O campo social do Esporte no poderia ser diferente, principalmente pela forte ao constante da mdia a exigir e a expor os fatos esportivos. Mesmo os fatos esportivos ligados Educao e ao Lazer, estas manifestaes, ligados sistematicamente ao Esporte de Desempenho, tambm vo recebendo novos aspectos e entendimentos renovados conseqentes. No Brasil, no plano legal, embora as leis de mudana sejam relativamente recentes, j mostram algumas exaustes conceituais, solicitando novos suportes acadmicos. Por isso tudo, este estudo justifica-se plenamente, principalmente se considerar-se seu objetivo de atender novas perspectivas para a sociedade brasileira.39

E STUDOS

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IV Esquema de desenvolvimento e organizao da pesquisaA pesquisa foi organizada e desenvolvida em etapas previamente definidas que permitiram atingir os objetivos propostos. Eis o esquema:

LEGENDA: V.1.1 - da perspectiva nica do rendimento no esporte moderno ao direito de todos s prticas esportivas do esporte contemporneo V.1.2 - as formas de exerccio do direito de todos s prticas esportivas V.1.3 - as manifestaes (formas) de exerccio do direito s prticas esportivas e seus princpios norteadores V.1.4 - a necessidade da ampliao do mundo do esporte pela percepo de correntes e movimentos esportivos V.2.1 - a comisso de reformulao do esporte brasileiro como o marco de novos caminhos V.2.2 - a chegada do direito ao esporte no Brasil e as formas de exerccio deste direito atravs das manifestaes esportivas V.2.3 - diferenas entre as manifestaes nas suas aplicaes no Brasil V.2.4 - a posio conceitual do esporte no Brasil em relao ao contexto internacional V.2.5 - as relaes entre as manifestaes esportivas e as correntes esportivas, movimentos esportivos internacionais na perspectiva da poltica nacional do esporte

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V Desenvolvimento do estudo

V.1 Percepo do esporte contemporneo No desenvolvimento deste estudo, considera-se por bem, primeiramente, caracterizar a passagem do Esporte Moderno para o Esporte Contemporneo, isto , da perspectiva nica do rendimento para a amplitude do direito de todos s prticas esportivas. Depois, mostramse as formas de exerccio do direito ao Esporte. A seguir, desenvolve-se a evoluo dessas manifestaes (formas) de prticas esportivas. Aps chegar aos princpios das manifestaes esportivas atuais, apresenta-se a necessidade de um entendimento mais amplo do Esporte pelas percepes das correntes e movimentos esportivos internacionais, estabelecendo-se algumas consideraes finais.V.1.1 Da perspectiva nica do rendimento no esporte moderno ao direito de todos s prticas esportivas do esporte contemporneo

No Esporte Moderno, e at um pouco antes da concepo de Thomas Arnold na dcada de 1820, a perspectiva nica sempre foi o rendimento, em que havia a necessidade de campees, classificaes, regras, entidades, dirigentes, rbitros e outros aspectos imprescindveis. Esse quadro durou at praticamente o final da dcada de 1970, quando, a partir da Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO), surgiu a defesa do direito de todas as pessoas s prticas esportivas. Em outras palavras, o rendimento esportivo era substitudo gradualmente pelas prticas esportivas de todos, independentemente de idade, raa, estado fsico e outras situaes humanas.V.1.2 As formas do exerccio do direito de todos s prticas esportivas

Depois de reconhecido internacional, o direito de todos s prticas esportivas, por meio de vrios documentos importantes (Carta Olmpica,41

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Agenda 21 do World Summit on Physical Education, Declaraes de Punta Del Este e de Atenas dos Ministros do Esporte/UNESCO) e do Manifesto Mundial FIEP 2000 de Educao Fsica, foi inadivel o debate sobre as formas de exerccio desse direito. Das diversas percepes nacionais da exposio de formas que, de fato, expressaram a apresentao do direito ao Esporte, foi possvel extrair-se, por comparao e at por consenso, que o Esporte nos meios educativos, o Esporte nos meios populares e comunitrios e o Esporte institucionalizado abrangeriam todas as possveis prticas esportivas. Assim, referenciado neste estudo comparado, pode-se concluir a questo do Direito ao Esporte afirmando que as formas de exerccio desse direito so: 1) o Esporte-Educao; 2) o Esporte-Lazer; 3) o Esporte de Desempenho. evidente que, nessa amplitude, aberta s prticas esportivas por todas as pessoas, o Esporte Adaptado, o Esporte para a Terceira Idade etc. tambm podero ser exercidos nas perspectivas do Esporte-Educao, Esporte-Lazer e Esporte de Desempenho. Essas manifestaes recebem outras denominaes que sero mostradas a seguir.V.1.3 As manifestaes (formas) do exerccio do direito s prticas esportivas e seus princpios norteadores

Depois de reconhecido o Direito de Todos s prticas esportivas e expostas as formas de exerccio desse direito, faz-se necessrio diferencilas por meio de referncias especficas. Como o entendimento de princpios remete para referncias aceitas e insofismveis, as formas de exerccio de direito podem perfeitamente ser expressas por princpios especficos de cada manifestao. Assim, cada manifestao esportiva est diretamente relacionada a um ou mais princpios, a seguir descritos. a) Esporte-Educao (voltado para a formao da cidadania) est dividido em: Esporte Educacional e Esporte Escolar.42

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O Esporte Educacional, tambm chamado de Esporte na Escola, pode ser oferecido tambm para crianas e adolescentes fora da escola (comunidades em estado de carncia, por exemplo). O Esporte Educacional, segundo Tubino, Garrido e Tubino (2006), deve estar referenciado nos princpios da: incluso, participao, cooperao, co-educao e co-responsabilidade. O Esporte Escolar praticado por jovens com algum talento para a prtica esportiva. O Esporte Escolar, embora compreenda competies entre escolas, no prescinde de formao para a cidadania, como uma manifestao do Esporte-Educao. O Esporte Escolar est referenciado nos princpios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Esprito Esportivo. O Esprito Esportivo mais do que Fair-play, pois compreende tambm a determinao em enfrentar desafios e outras qualidades morais importantes. b) Esporte-Lazer, tambm conhecido como Esporte Popular, praticado de forma espontnea, tem relaes com a Sade e as regras. Estas podem ser oficiais, adaptadas ou at criadas, pois so estabelecidas entre os participantes. O Esporte-Lazer, que tambm conhecido como Esporte Comunitrio, Esporte-cio, Esporte-Participao ou Esporte do Tempo Livre, tem como princpios: a participao, o prazer e a incluso. c) Esporte de Desempenho, conhecido tambm como Esporte de Competio, Esporte-Performance e Esporte Institucionalizado, aquele praticado obedecendo a cdigos e regras estabelecidos por entidades internacionais. Objetiva resultados, vitrias, recordes, ttulos esportivos, projees na mdia e prmios financeiros. A tica deve ser uma referncia nas competies e nos treinamentos. Os dois princpios do Esporte de Desempenho so: a Superao e o Desenvolvimento Esportivo. Convm esclarecer que o Esporte de Desempenho pode ser: de Rendimento ou de Alto Rendimento (Alta Competio, Alto Nvel etc.). Os princpios para essas duas manifestaes do Esporte de Desempenho so comuns. Para uma melhor visualizao, apresenta-se, abaixo, um quadro com as manifestaes esportivas atuais e seus respectivos princpios:43

E STUDOS

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ESPORTE FORMAS DE EXERCCIO DO DIREITO AO ESPORTE DIVISES DAS FORMAS DE EXERCCIO AO ESPORTE Esporte-Educao Esporte-Lazer Esporte de Desempenho

Esporte Educacional Participao Co-Educao Cooperao Co-Responsabilidade Incluso

Esporte Escolar Desenv. Esportivo Desenv. do Esprito Esportivo

Esporte-Lazer

Esporte de Rendimento

Esporte de Alto Rendimento

PRINCPIOS

Participao Prazer Desenv. Esportivo

Desenv. Esportivo Superao

V.1.4 A necessidade da ampliao do mundo do esporte pela percepo de correntes e movimentos esportivos internacionais

No h dvida de que o Quadro Esportivo Internacional cresce aceleradamente, o que pode ser facilmente observado pelos seguintes efeitos do aumento de modalidades e praticantes; crescimento da mdia especializada; multiplicao de congressos, reunies, revistas especializadas; e outros aspectos. Este novo mundo esportivo, pela amplitude considervel que vai se formando, pode ser melhor entendido pelas correntes e pelos movimentos esportivos da contemporaneidade. As correntes esportivas, cada uma compreendendo lgicas diferentes, segundo Tubino, Garrido e Tubino (2006), so as seguintes: - Esportes Tradicionais; - Esportes Aventura / na Natureza / Radicais; - Esportes das Artes Marciais; - Esportes de Identidade Cultural; - Esportes Intelectivos; - Esportes com Motores; - Esportes com Msica; - Esportes com Animais; - Esportes Adaptados;44

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- Esportes Militares; - Esportes Derivados de Outros Esportes. Os Esportes Tradicionais compreendem as modalidades tradicionalmente consolidadas (como Atletismo, Basquetebol, Futebol, Boxe, Baseball, etc.). Os Esportes Aventura / na Natureza / Radicais, numa abrangncia de interatuao pela proximidade das suas fronteiras, compreendem esportes na gua, no ar, na terra e no gelo/neve. Os desafios so maiores, envolvendo inclusive riscos. Os Esportes das Artes Marciais so aqueles derivados das artes militares ou marciais da sia (exemplos: Jiu-Jitsu, Jud, Karat etc.). Os Esportes de Identidade Cultural tm vinculao cultural com as naes. Compreendem os esportes de criao nacional ou de outras nacionalidades que se fixam em outros pases (exemplos: Cricket, Capoeira, Petanque etc.). Os Esportes Intelectivos, praticados na maioria em sales, so modalidades de movimento humano reduzido (exemplos: Xadrez, Bilhar etc). Os Esportes com Motores so modalidades nas quais as pessoas conduzem um veculo com motor. Podem ocorrer no ar, na terra, na gua e at no gelo (exemplos: Automobilismo, Motonutica, Motociclismo etc). Os Esportes com Msica compreendem a sintonia entre as pessoas e as msicas de acompanhamento (exemplos: nado Sincronizado, Ginstica Rtmica etc.). Os Esportes com Animais abrangem tambm animais (exemplos: Hipismo, Turfe, Rodeio etc.). Os Esportes Adaptados so modalidades esportivas adaptados a pessoas com deficincias. Geralmente, so modalidades de outras correntes que so adaptadas aos diversos tipos de deficincia. Existem outras que foram criadas especificamente para deficientes (exemplo: Goalbal). Os Esportes Militares so aqueles esportes originrios dos meios militares e que, atualmente, so praticados no meio civil (exemplos: Praquedismo, Tiro, Esgrima etc.). Existem ainda modalidades esportivas essencialmente militares (Pentatlo Militar, Pentatlo naval).45

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Os Esportes Derivados de Outros Esportes, como a prpria denominao j est esclarecendo, compreende as modalidades que tiveram origem em outras (exemplo: Futsal, Squash, Futevlei etc.). O aumento ininterrupto do movimento esportivo mundial se deve ao surgimento de novas modalidades esportivas principalmente nas correntes Esportes Aventura / na Natureza / Radicais e Esportes Derivados de Outros Esportes. Depois da descrio das Correntes Esportivas, para a percepo do mundo esportivo da atualidade, relevante tambm considerar os movimentos esportivos internacionais que completam este quadro intenso de atividades esportivas. Existem vrios tipos de movimentos que Tubino, Garrido e Tubino (2006) apresentam segundo a classificao abaixo. Movimentos Esportivos Mundiais Movimento Esporte para Todos; Movimento Olmpico Internacional; Movimento pelo Fair Play. Movimentos Esportivos Continentais/Regionais Movimento Esportivo Africano; Movimento Esportivo Asitico; Movimento Esportivo Centro-Americano e do Caribe; Movimento Esportivo da Oceania; Movimento Esportivo Europeu; Movimento Esportivo Mediterrneo; Movimento Esportivo Pan-Americano; Movimento Esportivo Sul-Americano. Movimentos Esportivos de Identidade Cultural Movimento Esportivo da Comunidade Britnica; Movimento Esportivo dos Pases de Lngua Portuguesa; Movimento Esportivo Ibero-Americano; Movimento Maccabi.46

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Movimentos Esportivos Especiais Movimento Esportivo de Deficientes; Movimento Esportivo dos Esportes Radicais; Movimento Esportivo Militar; Movimento Esportivo Universitrio. O Movimento Esporte para Todos (EPT), desde o seu incio, defendeu a democratizao das prticas esportivas. Agora, incorporou a busca da Sade / Qualidade de Vida. O Movimento Olmpico Internacional, a manifestao suprema do Esporte Contemporneo, a prpria operacionalizao do Olimpismo. A Carta Olmpica a referncia principal do Movimento Olmpico, que dirigido pelo Comit Olmpico Internacional (COI). O Movimento pelo Fair Play compreende todas as manifestaes e entidades que protegem o Fair Play. A principal entidade internacional de defesa do Fair Play o Comit Internationale pour le Fair Play (CIFP), que apresentou o Manifesto do Fair Play na dcada de 1970. Os Movimentos Esportivos Continentais / Regionais so aqueles movimentos que compreendem as diversas manifestaes concentradas em continentes ou regies na rea do Esporte. Os principais eventos desses movimentos so os Jogos, como os Jogos Pan-Americanos, os Jogos Centro-Americanos e do Caribe etc., alm de congressos cientficos e outros eventos localizados regionalmente (Jogos Mediterrneos, por exemplo). Os Movimentos Esportivos de Identidade Cultural fortalecem culturas prximas historicamente e promovem Jogos / Competies no sentido de defender aspectos culturais (um exemplo o Commonwealth Games no Movimento Esportivo da Comunidade Britnica). Os Movimentos Esportivos Especiais renem manifestaes especficas dando sentido e fortalecendo determinados agrupamentos (como, por exemplo, Deficientes, Militares, Universitrios etc.). Esse quadro de movimentos esportivos so estimulados pela mdia e so acrescidos de novos movimentos, que do mais dinmica ao Esporte Contemporneo.47

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V.2 O esporte brasileiro no contexto esportivo internacional O Quadro Internacional Esportivo permite avaliaes com os diversos paises, oferecendo oportunidades para avaliaes, comparaes e at interferncias teis nas polticas nacionais. No caso brasileiro, achou-se por bem passar: pela Comisso de Reformulao do Esporte Brasileiro (1985); pelo Direito ao Esporte no pas e formas de exerccio desse direito; pelas diferenas entre as manifestaes esportivas no pas; pela comparao com o exterior e pelas relaes com as correntes e manifestaes esportivas.V.2.1 A comisso de reformulao do esporte brasileiro como o marco de novos caminhos

A Comisso de Reformulao do Esporte Brasileiro foi instalada em 1985, primeiro ano de redemocratizao do pas. Essa afirmao importante porque, naquele ano, ainda estava vigente para o esporte brasileiro a Lei n 6.251/75 e seu decreto regulamentador, Dec. n 80.228/77, emitidos no perodo autoritrio anterior. A tutela estatal vinha desde o Decreto-Lei n 3.188/1941, e a Lei n 6.251 e seu regulamento somente modernizaram o Esporte brasileiro sem romper a ao tutelar do Estado, que ocorria por meio do Conselho Nacional de Desportos (CND). Essa Comisso, instituda pelo Decreto n 91.542 de 19/07/1985, buscava novos caminhos, procurando dissolver os vcios histricos que tanto prejudicavam a conjuntura esportiva naquele momento. Sem dvida, as 80 indicaes propostas como novos caminhos receberam uma diviso, prtica e pedaggica, que permitia visualizar os pontos prioritrios de mudana. Estes pontos foram: a) a questo da Reformulao do Esporte e a sua natureza; b) a necessidade de redefinio de papis nos diversos segmentos, inclusive do Estado, em relao ao Esporte; c) as mudanas jurdico-esportivo-institucionais; d) a carncia de recursos humanos, fsicos e financeiros; e) a insuficincia de conhecimentos cientficos aplicados ao Esporte.48

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Na questo fundamental de reconceituao do Esporte, a Comisso defendeu com nfase a insero do direito das pessoas prtica esportiva e o alargamento do conceito com a conquista da dimenso social. Foram as 12 indicaes iniciais que deram contedo a essa proposta. Quanto necessidade de redefinio de papis diante do Esporte, foi observado que somente o Estado dirigiu o Esporte, tendo se apropriado anteriormente desse fenmeno, incrementando um paternalismo que se juntava com a tutela estatal. Nesse aspecto, a Sociedade era desafiada a pensar, em todos os seus segmentos e setores, sobre os papis sociais a serem exercidos. No aspecto mudanas jurdico-esportivo-institucionais, a proposta da Comisso foi romper com o arcabouo jurdico que emperrava, de forma tutelar e autoritrio, o Esporte nacional. A partir da nova perspectiva jurdica do direito de todos s prticas esportivas, terminava a nfase nica no Esporte de rendimento. No que diz respeito carncia de recursos humanos, fsicos e financeiros, o que de certa forma um problema crnico do esporte brasileiro, a Comisso, pelo menos, denunciou essa situao, que, de fato, reduz qualquer processo de desenvolvimento. A Lei AgneloPiva, a Timemania, a provvel futura Lei de Incentivos Fiscais e outros instrumentos legais tm favorecido muito uma melhoria quanto aos recursos financeiros para o esporte. Tambm os recursos humanos melhoraram significativamente para o Esporte (mestres, doutores, pesquisadores, professores, fisioterapeutas etc.). Finalmente, quanto insuficincia de conhecimentos cientficos aplicados ao Esporte, a Comisso tambm constatou um dbito cientfico naquele momento histrico (1985). Atualmente, pode-se afirmar que o quadro j outro, em que Congressos, Peridicos Cientficos, mais de 300 doutores em Educao Fsica, brasileiros ocupando cargos cientficos no exterior e outras manifestaes do sentido afirmao de desenvolvimento da Cincia Aplicada ao Esporte no Brasil. Pela anlise de cada ponto/aspecto considerado pela Comisso de Reformulao de 1985, pode-se verificar que todos os cinco itens de ateno apresentaram progresso visvel. Sem dvida, a Constituio Federal de 1988, no seu artigo 217, o marco inicial dos novos caminhos propostos por essa Comisso.49

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V.2.2 A chegada do direito ao esporte no brasil e as formas de exerccio deste direito por meio das manifestaes esportivas

At meados da dcada de 1980, nenhum instrumento legal ou plano que abordasse o Esporte havia sido expedido. Foi a Comisso de Reformulao do Esporte Brasileiro que primeiro tratou desse assunto no Brasil. essencial relatar que tal posicionamento da Comisso tinha como referncia a Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO, 1978), que, logo no seu primeiro artigo, determinava que a atividade fsica e a prtica esportiva eram direito de todas as pessoas. Anteriormente, o Esporte era somente compreendido na perspectiva isolada e nica do rendimento esportivo. No Brasil, a Lei n 6.251/1975 praticamente s abordava o esporte de alto nvel e institucionalizado. evidente que, quando a UNESCO expediu sua Carta de 1978, j se configurava um contexto internacional que defendia direitos das pessoas para outras prticas esportivas fora do alto nvel. O movimento Esporte para Todos, o texto sobre Esporte e Educao de Ren Maheu (diretor da UNESCO) e o prprio Manifesto do Esporte (assinado pelo Nobel da Paz Phillip Noel-Baker) j defendiam um Esporte com maior abrangncia social. Entretanto, o Direito ao Esporte chegou verdadeiramente ao Brasil com a Constituio Federal de 1988, quando o caput do artigo 217 (Captulo III, Seo III, do Desporto) estabelecia: dever do Estado fomentar prticas esportivas formais e no-formais, como direito de cada um. Esse artigo do texto constitucional rompeu o conceito anterior de Esporte no Brasil, perspectivado no alto rendimento, e abriu as possibilidades de um esporte social no pas. No h dvida que esse artigo constitucional influenciou todas as constituies estaduais, oferecendo renovadas possibilidades de relaes entre o Estado e o Esporte. Foi a Lei n 8.672/1993 (Lei Zico) que veio dar forma, no Captulo II, art. 2, aos preceitos constitucionais e reforou o esporte como direito individual. O fenmeno esportivo, no Captulo II, art. 3, foi reconhecido conceitualmente por meio das manifestaes do esporte educacional (inciso I), esporte de participao (inciso II) e esporte de rendimento (inciso III). Na50

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verdade, estava legitimado por legislao o reconhecimento constitucional do direito das pessoas s prticas esportivas. No existem dados, mas possvel deduzir que, a partir da Lei Zico, os estados e os municpios comearam a atuar predominantemente num Esporte Social, em que as manifestaes Esporte-Educao e EsporteLazer (participao) eram mais enfatizados nas aes polticas e dotaes oramentrias. Comearam a ser criadas Secretarias e Departamentos, objetivados no Esporte, que priorizavam as responsabilidades sociais do Esporte diante do Esporte. O Esporte de rendimento, pouco a pouco, foi se tornando uma responsabilidade e at uma atuao principal da iniciativa privada. Pode-se afirmar que o Brasil, aps a Constituio de 1988, acertou o passo com o cenrio internacional, onde o direito s prticas esportivas j estava consolidado. As formas de exerccio deste direito j eram reconhecidas como: a) Esporte-Educao, na Escola e fora dela; b) Esporte-Lazer, tambm chamado de Esporte-participao; c) Esporte de Desempenho, tambm conhecido como Esporte de Rendimento ou Esporte de Elite. Essa mudana cultural nos procedimentos esportivos do pas foi, mais uma vez, incrementada pela Lei n 9.615/1998 (Lei Pel), que repetiu, no seu texto, o Esporte como direito individual (Captulo II, art. 2) e as manifestaes (Captulo III, art. 3) que explicavam o conceito de esporte (Esporte Educacional, Esporte de Participao e Esporte de Rendimento). Essa continuidade de percepo conceitual do Esporte promoveu programas federais esportivo-sociais importantes, que trouxeram a incluso para as aes do Estado. A instalao do Programa Esporte Solidrio e o Esporte no 2 Tempo so dois bons exemplos de responsabilidade social do Estado usando o Esporte como meio.V.2.3 Diferenas entre as manifestaes nas suas aplicaes no brasil

Gilberto Freire, um dos melhores conhecedores da realidade brasileira, j dizia que o Brasil um pas uno e plural, comeando ser uno no idioma, mas j plural no sotaque e nas grias. Esse multiculturalismo nacional, expresso culturalmente nas expresses da arte, msica, culinria, hbitos,51

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vocaes etc., apresenta-se tambm de forma diversificada na rea social do Esporte, principalmente nas prticas de modalidades esportivas. Isso pode ser explicado pelas condies naturais, pelos estgios de desenvolvimento scio-econmico, pelos processos de colonizao, pela migrao de outras culturas estrangeiras e, no atual momento, at pela influncia da mdia. Embora a Legislao seja a mesma para toda a extenso nacional, as dificuldades de desenvolvimento das manifestaes so distintas. No Esporte-Educao, a nfase continua no Esporte Escolar, e as iniciativas curriculares do Esporte Educacional, que integram a Educao Fsica Escolar, continuam deficientes, principalmente pela literatura escassa a respeito, embora j existam algumas teses/dissertaes de mestrado e doutorado que estudaram e ofereceram caminhos para a utilizao educativa. O Esporte Escolar, alm dos Jogos Escolares Brasileiros, por nossa observao, ao que tudo indica, mais desenvolvido e praticado nas regies Sul e Sudeste, por promoes da iniciativa privada. O Esporte-Lazer mais difundido nos litorais dos estados brasileiros, pelas possibilidades que oferece. Entretanto, no caso especfico do Futebol, segundo dados recentes do IBGE, as prticas ocorrem em todo o Brasil, principalmente nos municpios do interior. fundamental abordar as diferenas (descritas a seguir) entre o Esporte-Educao e o Esporte-Lazer, j que estas manifestaes compem o chamado Esporte Social: a) o Esporte-Educao objetiva a formao para a cidadania, ao passo que o Esporte-Lazer deve ser destinado para o Bem-estar Social; b) embora ambos possam ser praticados com regras e regulamentos adaptados, muitas vezes sem vinculao aos esportes de rendimento de referncia, as regras, no Esporte-Educao, por ser dirigido por professores, devem ser estabelecidas pelos educadores, enquanto, no Esporte-Lazer, as convenes das regras so estipuladas pelos prprios praticantes; c) o Esporte-Educao destinado principalmente a crianas, adolescentes e jovens em perodo de formao, ao passo que, no Esporte-Lazer, todas as pessoas, independentemente da faixa etria, tm direito de participar; d) no Esporte-Educao, na manifestao Esporte Educacional, os princpios so scio-educativos (participao, co-educao,52

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cooperao, co-responsabilidade e incluso social). No Esporte Escolar, tambm voltado para a cidadania, referenciado em princpios comprometidos com os desenvolvimentos esportivos e do esprito esportivo, sem abandonar a busca da cidadania. O Esporte-Lazer, por sua vez, por ser voluntrio e eleito pelos praticantes, tem no prazer o seu princpio fundamental. Depois de abordar o Esporte-Educao e o Esporte-Lazer, inclusive evidenciando suas diferenas, relevante explicar que o Esporte-Desempenho visa especificamente a recordes, vitrias, desafios etc. e pode ser explicado pelo Princpio da Superao. Nesse princpio, os atletas e as equipes devem superar-se. Essa superao estimula os esquemas de treinamento de alta solicitao individual e coletiva. Entretanto, o Esporte-desempenho no deve se afastar dos caminhos ticos que o envolvem. O Esprito Esportivo, que envolve determinao e tica (em que o Fair-Play est inserido) o parmetro de observao. No Brasil, o crescimento esportivo visvel no Esporte de Rendimento pode ser constatado pelas melhorias de resultados nas competies internacionais nos esportes tradicionais (Voleibol, Futebol, Atletismo, Ginstica etc.), nos Esportes Aventura / na Natureza / Radicais (Surfe e alguns outros), nos Esportes de Artes Marciais (Jud, Jiu-Jitsu, Taekwondo e outros), nos Esportes com Motores (principalmente Automobilismo), nos Esportes com Msica (Nado Sincronizado, Ginstica Rtmica, Ginstica Aerbica e outros), nos Esportes com Animais (principalmente Hipismo), nos Esportes Adaptados (com timos resultados nas Paraolimpadas) e nos Esportes derivados de outros Esportes (Futsal, Vlei de Praia etc.).V.2.4 A posio conceitual do esporte no Brasil em relao ao contexto internacional

Quando disse que o Brasil tinha acertado os seus passos no conceito de Esporte referenciado no direito, no cenrio internacional, pensou-se nas interpretaes de acordo com as Declaraes de Punta del Este (1999) e de Atenas (2000) da UNESCO e, ainda, na Agenda de Berlim (1999), publicada como concluso do World Summit on Physical Education, desenvolvido pelo International Council of Sport Science on Physical Education (ICSSPE), os quais enfatizaram a questo do direito ao Esporte para todos os grupos humanos.53

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Outro parmetro de comparao do Esporte brasileiro a anlise dos Millennium Development Goals, estabelecidos pela Organizao das Naes Unidas (ONU). Nesse documento, produto de aprofundados estudos, a ONU relacionou parmetros que coincidem com algumas nfases que os poderes pblicos do Brasil tm exercido em processo crescente desde a Constituio de 1988. A ONU estabeleceu os seguintes parmetros de relaes: 1) A ONU, o Esporte e a Sade; 2) A ONU, o Esporte e a Educao; 3) A ONU, o Esporte e o Desenvolvimento Sustentado; 4) A ONU, o Esporte e a Paz; 5) A ONU, o Esporte e a Comunicao; 6) A ONU, o Esporte e a Cooperao. Observa-se que o Esporte-Educao compreende o 2, o 4 e o 6, enquanto o Esporte-Lazer abrange o 1 e o 3, e o Esporte-Desempenho, por estar comprometido com o espetculo, liga-se ao 4. Logicamente, essas relaes devem ser entendidas numa perspectiva sistmica, isto , com inter-relaes e interdependncias. O Esporte no Brasil, quando teve o seu conceito ampliado a partir do direito das pessoas, teve as formas de exerccio desse direito tambm inter-relacionadas, interdependentes e interatuantes numa concepo sistmica, o que coincide com as prioridades da Organizao das Naes Unidas.V.2.5 As relaes entre as manifestaes esportivas e as correntes esportivas, movimentos esportivos internacionais na perspectiva da poltica nacional do esporte

O contexto internacional do Esporte Contemporneo pode ser explicado pelas onze correntes esportivas que dividem em grupos as modalidades segundo suas lgicas e os chamados movimentos esportivos internacionais, juntando sentidos nas diversas iniciativas esportivas do mundo. Esse quadro exige, para as anlises crticas nacionais, interpretaes s vezes pontuais, relacionando-se os aspectos legais e conjunturais de cada pas com o imenso mundo esportivo. o que se vai ensaiar com o atual estgio do esporte brasileiro.54

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No caso especfico do Brasil, o importante ser considerar o conceito de Esporte vigente, j com uma prxis que compreende a referncia do direito s prticas esportivas e que tem como formas de exerccio desse direito o Esporte-Educao, o Esporte-Lazer (participao) e o Esportedesempenho (rendimento). Primeiramente, tratando-se das correntes esportivas, considero por bem, nesta anlise, list-los e evidenciar observaes (faltam dados efetivos) sobre a situao em cada uma delas. 1) Esportes Tradicionais so Esportes consolidados pela prtica durante muito tempo. Os Esportes Olmpicos, em sua maioria, fazem parte dessa corrente. Exemplos: Futebol, Basquetebol, Ginstica, Atletismo, Natao, Golfe, Boxe etc.). No Brasil, observa-se que: a) No Esporte-Educao, os mais usuais (Basquetebol, Voleibol, Futebol etc.) so contemplados em competies de Esporte Escolar e at praticados nas escolas e em ambientes comunitrios (Projeto Mangueira/RJ, por exemplo). Tambm programas pblicos de incluso, como o Segundo Tempo do Ministrio do Esporte, envolvem um nmero razovel de jovens. Na verdade, h uma ateno desejvel para essa manifestao nos esportes tradicionais. b) No Esporte-Lazer, os estados e municpios tm se comprometido apenas em termos reguladores com essa manifestao. Entretanto, o extenso litoral e espaos que existem no pas permitem as prticas esportivas das pessoas comuns, bastando apenas que estejam disponveis as instalaes. O Futebol, pela expresso que tem no pas, a prtica mais usual de Esporte-Lazer em todo o territrio nacional. c) No Esporte de Rendimento, que movido por recursos financeiros, vocaes esportivas e competncias de gesto, a Lei Agnelo-Piva praticamente instalou um processo de desenvolvimento a mdio prazo para os esportes olmpicos. Os resultados j aparecem com grandes perspectivas futuras. Os esportes tradicionais fora da nova cultura esportiva (como Golfe, Beisebol) permanecem restritos a algumas iniciativas privadas localizadas.55

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2) Esportes Aventura / na Natureza / Radicais, realizados nos quatro ambientes (terra, gua, ar, gelo/neve), so esportes de conquistas individuais e de desafios, em que as manifestaes esportivas interagem com fronteiras muito prximas. uma corrente que, pelos riscos que oferece e as possveis leses ambientais que podem provocar, precisa, num pas continental como o Brasil, de incontveis possibilidades, receber regulamentaes que possam colocar essas importantes prticas esportivas em caminhos desejveis. As iniciativas pblicas nessa corrente so escassas, principalmente na manifestao Esporte-Educao. 3) Esportes das Artes Marciais so provenientes da sia, onde, inicialmente, eram praticados militarmente pelos guerreiros feudais; hoje, so prticas esportivas contemporneas. So elas: a) No Esporte-Educao, as artes marciais tem grande nfase, em todo o territrio nacional, em academias, clubes e at escolas. Os prprios ritos desta modalidade, embora se afastem dos princpios reconhecidos no Esporte-Educao, levam os jovens praticantes a caminhos pedaggicos muito interessantes, desenvolvendo o respeito, a auto-estima, o fair-play, dentre outros valores. Existe, no Brasil, um grande nmero de praticantes, entre crianas e adolescentes, principalmente no Jud, Jiu-Jitsu, Karat e Taekwondo. b) No Esporte-Lazer, a existncia de faixas, que expressam progressos individuais, servem de estmulo para a procura de pessoas comuns a essas modalidades das Artes Marciais. Evidentemente, o nmero de praticantes no se compara ao dos jovens, embora seja considervel. c) no Esporte de Rendimento, talvez por uma tendncia do brasileiro s prticas de luta, reconhecida internacionalmente, o Brasil vai se destacando nas competies olmpicas, pan-americanas e mundiais, principalmente no Jud e Jiu-Jitsu. 4) Esportes de Identidade Cultural so aqueles com vinculao cultural. Exemplos: Capoeira, Peteca, Luta Marajoara, Tamboru etc. Apesar de a Constituio Federal de 1988 contemplar os esportes de criao nacional com a defesa de uma priorizao, pouco se veem56

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no Esporte-Educao (principalmente nas escolas) iniciativas desta natureza. H algumas iniciativas pblicas e particulares em relao Capoeira principalmente. As demais modalidades esportivas de criao nacional so de prtica localizada nos seus lcus, inclusive as indgenas (Uka-Uka, Corrida de Toras etc.), sem preocupaes de prticas por manifestao. Entretanto, como o Brasil foi construdo com migraes relevantes, muitas modalidades esportivas originadas de outras culturas so praticadas pelo imenso territrio (como Futebol, Jud, Voleibol etc.), praticamente nas trs manifestaes (Esporte-Educao, Esporte-Lazer e EsporteDesempenho). 5) Esportes Intelectivos, de movimento humano reduzido, so muito praticados em salo. Exemplos: Xadrez, Bilhar etc. a) No Esporte-Educao, so muito poucas as iniciativas desses esportes. O Xadrez, por exemplo, que ainda incentivado por alguns grupos de educadores em vista das possibilidades educativas que oferece, poderia ser mais difundido no sistema escolar brasileiro. b) No Esporte-Lazer, esses esportes so mais praticados. Clubes, residncias, espaos pblicos e at bares so locais de prtica prazerosa e voluntria das modalidades chamadas intelectivas. 6) Nos Esportes com Msica, as regras exigem sincronizao dos movimentos com a msica. Exemplos: Ginstica Rtmica Esportiva, Nado Sincronizado etc. a) No Esporte-Educao, esses Esportes praticamente no existem. H apenas alguns grupos isolados nos esportes que promovem escolas de iniciao esportiva. b) No Esporte-Lazer, dificuldades tecnolgicas e de ocupao de espaos no tm permitido iniciativas pblicas e