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  • Vera Lucia Marques da Silva

    Denise Chrysstomo de Moura Junc

    Organizao

    Territrio,Vulnerabilidades

    e Sade

    Campos dos Goytacazes, RJ

    FBPN/FMC

    2012

  • FUNDAO BENEDIT O PEREIRA NUNESPresidente - Almir Jesus do Nascimento

    FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOSDiretor Geral - Dr. Nlio Ar tiles FreitasVice-Diretora - Dr Maria das Graas Sepulveda Campos e CamposDiretor Acadmico - Dr. Paulo Gustavo ArajoDiretor Administrativo - Luiz Fernando da Silva PradoDiretor de Recursos Humanos - Wainer Teixeira de CastroCoordenador de Graduao em Medicina - Dr Maria das Graas Seplveda Campos e CamposCoordenador de Graduao em Farmcia - Prof. Carlos Eduardo Faria FerreiraCoordenador da Ps-Graduao e Extenso - Dr. Abdalla Dib ChacurCoordenador de Internato e de Estgios - Dr. Mrcio Sidney Pessanha de SouzaCoordenadora de Pesquisa - Dr Regina Clia de Campos Souza FernandesCoordenadora de Extenso - Dr Vera Lcia Marques da SilvaCoordenador de Egressos - Dr. Gilson Gomes da Silva Lino

    Ficha catalogrfica preparada na Biblioteca da Faculdade de Medicina de Campos

    FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOSAv. Alber to Torr es, 217 - Centro - Campos dos Goytacazes - RJ - CEP: 28035-580 - Tel/Fax: (22) 2101-2929

    Coordenao Grfica e Projeto Grfico: Wellington CordeiroReviso Gramatical: Selma SolangeBibliotecria: Maria Cristina M. LimaFotografias de Capa: Wellington CordeiroImpresso: Wall PrintTiragem: 1.000 exemplaresDistribuio: Gratuita e Dirigida

    S677a T327 Territrio, vulnerabilidades e sade / Vera Lucia Marques da Silva, Denise Chrysstomo de

    Moura Junc, organizao. Campos dos Goytacazes, RJ: FBPN / FMC, 2012. 104 p. ; il. color ; 26 cm

    Inclui Bibliografia.

    1. Sade pblica Custodpolis (Campos dos Goytacazes, RJ). 2. Inquritos epidemiolgicos -Custodpolis (Campos dos Goytacazes, RJ). 3. Sade da populao urbana - Custodpolis(Campos dos Goytacazes, RJ). 4. Indicadores ambientais Custodpolis (Campos dosGoytacazes, RJ). I. Silva, Vera Lucia Marques. II. Junc, Denise Chrysstomo de Moura.

    CDD 362.1098153

  • 2EQUIPE PARTICIPANTE DO PROJETO CIDADE DE PALHA: 2008/2011

    COORDENAO GERAL DO PROJETODenise Chrysstomo de Moura Junc Docente - GRIPES/UFF

    RESPONS`VEIS PELO LEV ANTAMENT O DOCUMENTALCarla Iolanda Sant Ana Ferreira - Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFFJaqueline Crespo Torr es - Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFFPaula Emely Cabral Torres Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFF

    RESPONS`VEIS PELO TREINAMENT O DA EQUIPECarlos Antnio de Souza Moraes - Docente - GRIPES/UFFEdilamar Viana da Silva - Assistente Social - GRIPES/UFFVernica Gonalves Azeredo - Docente - GRIPES/UFF

    PESQUISADORES DE CAMPOAna Paula Pessanha Cordeiro Assistente Social - GRIPES/UFFDanielle Felix Gomes da Silva - Assistente Social - GRIPES/UFFEllen Christel Gomes Moraes Assistente Social - GRIPES/UFFJosemara Henrique da Silva Pessanha - Assistente Social GRIPES/UFFKatarine S dos Santos Docente - GRIPES/UFFRosana S Cruz Ribeiro Acadmica de Servio Social/UFFSulen Azevedo Ramos - Assistente Social

    COLABORADORESCelma Cristina Morais de Oliveira Batista Professora GRIPES/UFFIlzimar Amorim Louzada Moraes Enfermeira GRIPES/UFFMaria Elisa Pereira Alves Assistente SocialMari de Oliveira Otal Assistente SocialNatlia Ribeiro dos Santos Acadmica de Enfermagem da Universidade Estcio de SSylvio Rogrio Ribeiro da Costa Bacharel em Comunicao Social GRIPES/UFFVanessa Pessanha Menezes Gomes Assistente Social

    FASE 1: DIAGNSTICO PRELIMINAR 2008/2009

  • EQUIPE PARTICIPANTE DO PROJETO CIDADE DE PALHA: 2008/2011

    COORDENAO GERAL DO PROJETODenise Chrysstomo de Moura Junc Docente - GRIPES/UFF

    FASE 2: INQURIT O POPULACIONAL 2009/2011

    COORDENADORES DAS INSTITUIES P ARCEIRASChristovam Cardoso Docente UNIVERSODenise Chrysstomo de Moura Junc Docente - GRIPES/UFFrik Schunk Vasconcellos Docente - FMCKatarine S dos Santos Docente - GRIPES/UFFRegina Coeli Martins Paes de Aquino Docente - IFFTeresa Claudina de O. Cunha Assistente Social - IFFVera Lucia Marques da Silva Docente - FMC

    RESPONS`VEIS PELO TREINAMENT O DA EQUIPEAna Paula Pessanha Cordeiro Assistente Social - GRIPES/UFFCarlos Antnio de S. Moraes - Docente - GRIPES/UFFDenise Chrysstomo de Moura Junc Docente - GRIPES/UFFEllen Christel Gomes Moraes Assistente Social - GRIPES/UFFKatarine S dos Santos Docente - GRIPES/UFFVernica Gonalves Azeredo - Docente - GRIPES/UFF

    COORDENAO DO TRABALHO DE CAMPO Setor 1Ana Paula Pessanha Cordeiro Assistente Social - GRIPES/UFFEllen Christel Gomes Moraes Assistente Social - GRIPES/UFFVernica Gonalves Azeredo - Docente - GRIPES/UFF

    COORDENAO DO TRABALHO DE CAMPO Setor 2Carlos Antonio de S. Moraes Docente - GRIPES/UFFMarilene Parente Gonalves Assistente Social - GRIPES/UFFRoberta Coutinho Assistente Social - GRIPES/UFF

    EQUIPE DE APOIO OPERACIONAL 1Gerlaine J. de Souza Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFFIgor Leal Pena Enfermeiro - FMCJosemara Henrique da S. Pessanha - Assistente Social GRIPES/UFFLeyza Helena de Souza Barreto - Assistente Social - GRIPES/UFFPaula Emely C. Torres Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFF

    EQUIPE DE APOIO OPERACIONAL 2Aline da Silva Viana Jorge Acadmica de Servio Social - GRIPES/UFFLuana Pessanha Martins Assistente Social GRIPES/UFFMaria Ins Terra Petrucci Assistente Social - FMCSilvnia Maria da Silva Acadmica - GRIPES/UFF

    ACADMICOS DE SER VIO SOCIAL - UFFAline da Silva Viana JorgeCarla da Silva SantosDayana Sales RibeiroGerlaine Jesus de SouzaHarissa Morgan MarquesIvone dos Santos MagaldiJeovnia Bolelli Guimares Tavares

    Joelma Cndido BastosKsia da Silva TostaLeonela Lima SanchesLeyza Helena de Souza BarretoLuana Fernandes dos SantosMelina Martins VazquezNatalia Meritello da LuzPaloma BastosPaola Barros de Faria FonsecaPaula Emely Cabral TorresSilvnia Maria da SilvaSimone do S. F. Sales RibeiroVivian Abreu de Souza Rangel

    ACADMICOS DE MEDICINA - FMCAdilea Lopes da SilveiraAline Alves BarbosaAna Elisa Batista AguiarBruna Barreto FalcoJuliana Siqueira PessanhaLaura Ramos SilvaLucas Rangel de Souza AzevedoMaria de Ftima Miranda de AbreuMayra Rodrigues Chaves SantannaRaquel Siqueira de MenezesRayane Barreto PovoaRaphael Freitas Jaber de OliveiraSara Fonseca LucasSarah Santos Nascimento

    ACADMICOS DE ENFERMAGEM - UNIVERSOClarissa de Santana SilvaJuliana Gomes BarretoKeila Cristina da SilvaLuclia Alves PaixoLaura Paes Farias LamnicaLorenna AnequimMaith dos Santos AraujoMrcio PereiraMicheli JoseaneRafaella Castellar dos Santos CorraThatiane Costa Ribeiro SilvaThiago de Paula G. Rebel

    ACADMICOS DE ARQUITETURA E URBANISMO - IFFFabrcio Pinto EscfuraIsadora Marques de Souza OliveiraJlia Lima ArajoJuliana Peixoto Rufino Gazem de CarvalhoRaphael Mesquita de Aguiar

  • Sumrio

    Custodpolis e os primordios da medicina social e Preventiva na Faculdade de Medicina de Campos ------ 06

    Editorial --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 08

    Prefcio --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10

    Apresentao --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12

    Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania ------------------------------------------------- 14

    Do diagnstico preliminar ao inqurito populacional: movimentos de investigao-ao em um territriovulnervel ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 32

    Territrio de Custodpolis: mapeando memrias e lugares ---------------------------------------------------------- 44

    O lugar: entre lembranas do passado e vivncias do presente ----------------------------------------------------- 49

    Moradia: lugar de apropriaes e prticas ------------------------------------------------------------------------------ 54

    A questo habitacional e seu entorno em Custodpolis -------------------------------------------------------------- 65

    Na sade e na doena: um retrato do cotidiano das famlias em Custodpolis ----------------------------------- 74

    Caminhos do empoderamento: redefinindo sons, coros e instrumentos do (com) viver em comunidade ----- 88

    Uma cidadania esperada: e agora, o que fazer? ----------------------------------------------------------------------- 97

    Este Livro dedicado aos moradores do Bairro de Custodpolis.

  • 1

    6

    Em uma noite no incio de outubro de 1967, quandoeu estudava no escritrio do meu apartamento, situado na Praiade Botafogo 520/702, no Rio de Janeiro, por volta das 10 horasda noite, sa a campainha da porta da sala de estar contguaao escritrio. Estranhei aquela visita a essa hora da noite, ena ponta dos ps fui ver quem tocava a campainha. Olheipelo visor e vi trs cavalheiros de estatura mdia, bem vestidos,usando gravatas, um deles de face avermelhada e cabelostotalmente brancos, o outro um pouco mais alto e semi-calvo,aparentando uns 40-50 anos de idade e o terceiro moreno, decabelos escuros, aparentando uns 30 e poucos anos. Como euhavia escondido na minha casa alguns alunos fugidos darepresso do regime militar da poca, por questo humanitria,embora no participasse de suas ideologias, pensei que oscavalheiros fossem agentes do SNI ou do DOI-CODI, queviessem me interpelar ou at me prender por ter dado abrigo acomunistas. Para me certificar perguntei sem abrir a porta: oque desejam?. Os visitantes me responderam em unssono:somos professores da Faculdade de Medicina de Campos egostaramos de falar com o senhor. Abri a porta e os convideipara sentar em um sof perto da janela que dava vista para oCristo Redentor iluminado. Os visitantes me pediram desculpaspela hora da visita e me explicaram que estavam vindo de umaentrevista com o ento Ministro da Educao Raymundo Monizde Arago, e se apresentaram: Geraldo Venncio (o de cabelosbrancos), Dcio Azevedo(o semi-calvo) e Oswaldo Cardosode Melo (o mais jovem).

    O Dr. Geraldo Venncio, que me parecia o lder dogrupo, foi direto ao assunto: sabemos que o senhor ProfessorTitular de Doenas Infecciosas e Chefe do Departamento deMedicina Preventiva da Universidade Federal Fluminense.Estamos fundando uma Faculdade de Medicina em Campos,tendo a Fundao Benedito Pereira Nunes como mantenedorae somente est nos faltando um Professor de MedicinaPreventiva para inaugur-la nos prximos dias. Viemosconvid-lo para esse cargo. Respondi: eu no sou Professorde Medicina Preventiva e sim de Doenas Infecciosas. Poracaso, como a minha disciplina est dentro do Departamentode Medicina Preventiva sou o seu Chefe por ser o nico Titulardo Departamento. Diante dessa resposta, os professores DcioAzevedo e Oswaldo Cardoso de Melo argumentaram: o cursoser iniciado em maro do prximo ano (1968) e at l o senhor

    Custodpolis e os primordios da medicina social epreventiva na Faculdade de Medicina de Campos

    Prof. Jos Rodrigues Coura1

    pode organizar um programa de Medicina Preventiva e indicarassis tentes especia l izados que ns nomearemos. Adeterminao e necessidade dos professores me convencereme trs dias depois eu lhes enviei o meu curriculum-vitae e umacarta de aceitao do cargo, o que lhes permitiu completar oquadro de professores da nova faculdade, que foi inauguradaem 14 de outubro de 1967 com a minha presena, tendo comoo seu primeiro Diretor o honorvel Dr. Oswaldo Luiz Cardosode Melo, pai do jovem Oswaldo da Costa Cardoso de Melo,Professor de Oftalmologia e hoje ex-Diretor daquela Faculdade,meu amigo e colega da Academia Nacional de Medicina desde2005, quando tomou posse como Membro Honorrio. O Prof.Oswaldo Luiz Cardoso de Melo foi diretor da FMC de 1967 a1968, quando faleceu, sendo substitudo na Direo daFaculdade pelo Prof. Ewert Paes da Cunha, Diretor de 1968 a1973, em cuja gesto a FMC formou a sua 1 turma de medicinaem 1972 e foi reconhecida pelo Decreto n 71814 de 07/02/1973.

    A Organizao do Programa da DisciplinaDe outubro de 1967 a fevereiro de 1968 trabalhamos

    intensamente para formulao de um programa moderno deMedicina Social e Preventiva na nova Faculdade de Medicina emCampos. Conseguimos com a direo e congregao daquelafaculdade que a disciplina fosse desdobrada na 1, 2 e 3 sriesdo curso mdico, fato indito no Brasil, em uma mesma disciplinainserir o seu ensino em trs anos seriados. No 1 ano os alunosdeveriam apresentar seminrios sobre Antropologia MdicoSocial e acompanhar, do ponto de vista social, familiares de umafavela plana denominada Cidade de Palha na margem esquerdado outro lado do Rio Paraba do Sul, em relao ao centro deCampos, ou seja, o atual bairro, onde hoje se localiza o Centro deSade Escola de Custodpolis. No 2 ano os estudantes tinhamaulas tericas de Epidemiologia e faziam relatrios sobre asocorrncias de doenas nas famlias por eles acompanhadas, e no3 anos tinham aula de Sade Pblica e Medicina Ocupacional efaziam relatrios dos cuidados desenvolvidos com a populaopelos servios de sade do municpio, que com frequncia notinham as condies para atender os doentes adequadamente.Encaminhvamos os pacientes para a Santa Casa de Misericrdia,que na maioria das vezes no podia atender todos os pacientespor falta de vaga.

    1 Doutor em Medicina (Doenas Infecciosas e Parasitrias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil (1965), Pesquisador Titular. Chefe de Laboratrio daFundao Oswaldo Cruz , Brasil

  • 7

    O Corpo Docente e as Atividades Didticas da DisciplinaO corpo docente da disciplina de Medicina Social e

    Preventiva era composto por mim, como Professor Titular daDisciplina, pelo Dr. Ayrton da Rocha Claussen, Professor Adjunto,meu colaborador na Faculdade de Medicina da UFF e em Campos,o mdico Maurcio Pereira, meu ex-residente na UFF, nomeadoProfessor Auxiliar na Faculdade de Medicina de Campos e suaesposa enfermeira que monitoravam os alunos no trabalho decampo, ambos residentes naquela cidade.

    As turmas eram compostas de 64 alunos. Nas 6as feirasdurante todo o dia o Prof. Ayrton Claussen preparava com gruposde 8 alunos os 8 seminrios de Antropologia Mdico-Social aserem apresentados pelos alunos e discutidos por mim e pelo Prof.Ayrton no sbado, de 08:00 s 12:00 na parte da manh e 14:00s 18:00 na parte da tarde, todas as semanas durante o 1 ano docurso. Uma vez por semana, de manh ou tarde, de 2 a 5feira, uma turma de 8 alunos acompanhados pelo Dr. Mauricio esua esposa visitavam a populao das 6 residncias acompanhadaspelos respectivos grupos de alunos, que faziam um breve relatriosobre as ocorrncias sociais, epidemiolgicas e de sade/doena,calendrio vacinal etc, ocorrido semana a semana. Com isso haviaum acompanhamento contnuo da comunidade durante todo o anodurante os trs primeiros anos do curso.

    As aulas tericas de Epidemiologia, Sade Pblica eMedicina Ocupacional eram dadas as 6s feiras pelo Dr. AyrtonClaussen e aos sbados por mim, respectivamente para os alunosdo 2 ano (Epidemiologia) e do 3 ano (Sade Pblica e MedicinaOcupacional).

    Organizao da Infraestrutura para ateno primria naCidade de Palha

    Inicialmente conseguimos com a Prefeitura de Camposou com o Departamento de Endemias Rurais (DENERu) no melembro bem, por meio do Dr. Olimpio da Silva Pinto ex-Diretordo DENERu e meu amigo pessoal, um local para instalar um postode sade para ateno primria populao de Custodpolis,acompanhada pelos nossos alunos. Inicialmente o posto de sadeera atendido pelo Dr. Mauricio e a enfermeira, sua esposa.Posteriormente conseguimos que a Escola de Servio Socialcolocasse alunos estagirios no posto e depois conseguimos ainstalao de consultrio odontolgico da Escola de Odontologiacom alunos e supervisores para ateno dentria e logo depois daFaculdade de Direito para orientao da populao em suasquestes trabalhistas. Consideramos uma excelente integraosocial para o tipo de trabalho que desenvolvamos. Ao mesmotempo esse local servia de treinamento para alm dos estudantesde Medicina, outros de Servio Social, Odontologia e Direito,condio pouco comum de ser encontrada no Brasil.

    Por meio do Dr. Olimpio da Silva Pinto ex-Diretor doDENERu, conseguimos um guarda sanitrio, que numerou ascasas da Cidade de Palha, cujas famlias eram atendidas pelosestudantes. Esse guarda era um senhor muito atencioso, conheciatodas as famlias de Custodpolis e embora um pouco surdo era

    muito afvel e ajudava muito os estudantes em seu trabalho naabordagem das famlia, os quais (estudantes) o apelidaram de JIMDA SELVA pelo uniforme e tipo de chapu ingls que ele usava.Durante anos, depois que deixei Faculdade de Medicina de Camposem 1971, o JIM DA SELVA me escrevia lamentando a minhaausncia, a quem eu respondia com cordialidade.

    Observaes e concluses do trabalho realizadoEsse trabalho foi um desafio e um aprendizado na minha

    vida de mdico e Professor de Medicina e at mesmo uma aula decidadania. Colocar estudantes de Medicina, Servio Social,Odontologia e Direito em contato com uma comunidade carente edespertar neles o sentido de solidariedade humana foi para mim amais gratificante de todas as atividades e ttulos recebidos at agora.Formar profissionais de alto nvel, muitos dos quais so ou foramimportantes mdicos e professores de medicina, prefeitos, vereadoresedeputados foi um dos maiores privilgios da minha vida comoProfessor. Por outro lado ter a honra de ser homenageado por pessoasdo nvel dos Professores Oswaldo Cardoso de Melo, Nelio ArtilesFreitas e Vera Lucia Marques da Silva, muito me engrandece com omeu nome no atual Centro de Sade Escola de Custodpolis.

    Prof. Jos Rodrigues Coura

  • 2

    8

    Editorial

    Dr. Nelio Artiles Freitas1

    Em 2005 quando iniciamos a gesto da Faculdadede Medicina de Campos tnhamos um grande desafio pelafrente que era alm de manter a tradio de nossa escolaem ser uma Instituio de Ensino Superior - IES que buscaum ensino de qualidade, tambm inserirmos o perfil dehumanismo em todas as aes seja na rea pedaggica sejade incluso e de aes sociais, focados na formao deum profissional de sade diferenciado . E foi assim que aFMC passou a imprimir um perfil diferente do padro dasescolas da rea de sade deste pas, instituindo a arte emnosso calendrio oficial anual com mostras de cinema,exposies, festivais de msicas, saraus entre outrasaes, sem deixar de manter as atividades de cunhocientfico e pedaggico de qualidade. Transformamos otrote vexatrio em uma recepo agradvel objetivandosempre a tica nas relaes entre os alunos, docentes ecolaboradores. Nesta perspectiva miramos o nosso Centrode Sade Escola em Custodpolis de uma forma tambmdiferente, onde alm da assistncia na ateno bsica,buscssemos uma melhoria da qualidade de vida daquelapopula o t o carente e que manteve sempre umaexpectativa positiva de uma escola de ensino superiorpresente por l, h tantos anos. Imbudos nesta filosofiahumanista, convidei a Prof Vera Marques para ser a nossacoordenadora tcnica, passando a desenvolver umexcelente t rabalho na organizao daquele Centro,tornando um notvel cenrio para o processo ensino eaprend izagem e produ o c ient f i ca . Mas a lm dareestruturao organizacional investimos em melhorias darea fsica, ampliando e humanizando o espao compinturas, forraes, climatizao entre outras aes.

    A presena de outras IES de forma pontual emalgumas pesquisas, nos fez sonhar em compartilhar coma maioria das IES de nossa cidade, quele cenrio semnos atentar para que em um incio no muito distante, oProf. Jos Rodrigues Coura na dcada de 70 , iniciavaaes semelhante na implantao do ento Centro deSade Universitrio com a presena de outras IES.

    Porm o que fo i imp lan tado adormeceu epassamos a participar naquela localidade como um Centrode Sade Escola, apenas com atendimento de seqelas dasociedade, recebendo uma diversidade de patologias

    oriundas algumas vezes da misria e da pobreza. Um cenriode demonstrao para alunos aprenderem e exercitarem,oferecendo comunidade um pouco de alvio e soluespaliat ivas para sofr imentos crnicos. Sem dvida umabno para quela comunidade, mas muito longe do querealmente deveramos ou poderamos fazer.

    Vrias reunies foram realizadas para construode programaes conjuntas com a aproximao de diversasescolas de ensino superior de Campos. Alm de compor umcenrio ideal para o processo de ensino e aprendizagem, aidia era promover uma melhoria na qualidade de vida paracerca de 10 mil pessoas daquele bairro. Unir o ensinomdico e fa rmacut i co da Fmc com a f i s io te rap ia ,enfermagem, psicologia, educao f s ica, arqui tetura,direito, pedagogia, artes visuais, servio social entre outrosdas demais escolas seria um grande desafio. Na visoholstica do conceito de sade, a idia seria transformarquele bairro em um local diferente para viver, apesar dascarncias sociais e econmicas daquelas famlias. Inspiradoento no livro Aprendiz de mim um Bairro que virouEsco la do escr i to r Rubem Alves es te novo pro je tointerinstitucional foi denominado Programa Bairro Saudvelem uma reunio histrica no anfiteatro da Fmc com direitoa emocionantes posicionamentos e lgrimas na maioria dospresentes. Olhos marejados e coraes em um mesmoacelerado compasso, para comear uma longa viagem, ondeo caminho se r ia a a t ra o e o des t ino , es te a indadesconhecido, porm belo e aparentemente no to distante.Um sonho compartilhado no teria chance de dar errado.

    A prof Vera Marques passou ento a reger comouma exmia maestr ina uma l inda pea onde os atoresbuscavam uma harmonia de aes em prol de todos. Uniflu,Fafic, FOC, IFF, Uenf, UFF, FMC, Estcio, Universo eUcam com: oficinas de artes plsticas, dinmica artsticapara idosos, dana, teatro, circo, pesquisas e trabalhos depreven o em paras i toses e Aids, or ienta es sobref i t o te rap ia e uso de med icamentos , cu rsosprofissionalizantes, atendimento mdico e odontolgico,pro je tos de c r ia o de novos espa os , caminhadas ,campanha anti-tabagista, entre outras atividades, umpequeno exemplo da beleza de nosso caminho. Interessescomuns, acima de competi o, de mercado, buscando

    1 Mestre em Medicina (Doenas Infecciosas e Parasitrias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Prof Titular de Doenas Infecciosas e Parasitrias e Diretor daFaculdade de Medicina de Campos

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    unicamente criao de um novo tempo e espao, de viadupla, onde quem ensina aprende e quem aprende estensinando tambm, tomou corpo e fora.

    Tal foi o destaque que houve um reflexo nacionalquando a Fmc foi agraciada com o prmio nacional deges t o educac iona l de 2010 na ca tegor ia deresponsabilidade social. Construir um novo planeta, umnovo continente, um novo pas, uma nova cidade, um novobairro e fazer de um destes cenrios algo belo, onde aeducao faa parte de cada ao poderia ser um sonho.Como diz o Pequeno Prncipe: O deserto belo, porqueem algum lugar ele esconde uma fonte, Um local belo, ondetodos trabalhem por, para e na educao. Onde se busca asade em seu significado mais amplo. Sade fsica comoconseqncia de uma sade social, ambiental, emocional,espiritual e da alma. Neste contexto que est implantadoo Programa Bairro Saudvel.

    Este livro um produto da materializao de umsonho coletivo de tornar um espao de ensino que tem naateno primria seu principal foco, em uma rea de ao

    mult iprof iss ional e inter inst i tucional com o objet ivo depromover sade global para todos que ali participam, sejammoradores sejam funcionrios, alunos e docentes. E neste piceda produo deste l ivro, a lm da presena importante einconteste do Prof Jos Rodrigues Coura neste processo, quej havia plantado uma semente especial, fertilizada com amore sonhos, fazendo aps tantos anos, germinar um lindo projetode ex tenso da Fmc, t raduz indo a f i losof ia de toda acomunidade acadmica de trazer t ica e humanismo nasrelaes pessoais e principalmente de formar e transformarpessoas que faro um futuro melhor.

    Bairro Saudvel um projeto sem um nico dono, que movido pelo idealismo e pela viso de um novo tempo.

    Deus quer, o homem sonha, a obra nasce Fernando Pessoa

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    Prefcio

    Carlos Antonio de Souza Moraes1

    O que no est em nenhum lugar, no existe. Esta celebrefrase de Aristteles denota a extrema relevncia do espao para aanlise da realidade social e, portanto, ele no pode ser consideradoum mero reflexo ou palco das aes humanas. O espao se reproduzna totalidade social, na medida em que essas transformaes sodeterminadas por necessidades sociais, econmicas e polticas.

    possvel ressaltar que estas transformaes histricasocorridas nas ltimas trs dcadas alteraram a face do capitalismoe de nossas sociedades na Amrica Latina. Neste perodo, houveavano na tentativa de internacionalizar produo e mercados, oque contribuiu para aprofundar o desenvolvimento desigual entreas naes e, em seus interiores, entre classes e grupos.

    A mundializao do capital repercute incisivamente naspolticas pblicas (em seus processos de focalizao,desfinanciamento, descentralizao...), nos processos de inserodos trabalhadores nos mercados de trabalho, nas relaes e condiesde trabalho, bem como, nas condies de vida e nas expressespolticas e culturais dos distintos segmentos de trabalhadores.

    Este cenrio, avesso aos direitos, radicaliza asdesigualdades e associa cidadania a consumo, mundo do dinheiro eposse de mercadorias. Alm disso, h investida ideolgica do capitale do Estado para cooptao dos trabalhadores, buscando torn-los parceiros.

    Mas, ao mesmo tempo, um conjunto de resistncias e lutasdirias construdo pela sociedade, atravs de reivindicaes queenvolvem o cenrio rural, urbano, as relaes de gnero, questestnico-raciais, relaes com o meio ambiente, dentre outros... Estasmanifestaes tm por base a precarizao das condies de vida,o aumento das vulnerabilidades e a busca da dignidade e respeitohumanos.

    Sobreviver em espaos marcados por desigualdades,rebeldia e conformismo se torna desafio para mltiplos sujeitossociais no contexto brasileiro. Sujeitos que so responsabilizadosexclusivamente por suas precrias condies de vida, alm deviverem os dilemas do desemprego, atravs da reduo dos postosde trabalho ou, terem seus trabalhos intensificados ou ainda,vivenciarem a clandestinidade e invisibilidade do trabalho informale precrio. Alm disso, estes sujeitos observam a crescentecriminalizao de suas lutas sociais, bem como, da questo social.

    Percebe-se desta forma, a banalizao do ser, a partir daindiferena diante de suas necessidades e de seus direitos.

    1 Doutorando em Servio Social pela PUC/SP; Mestre em Polticas Sociais pela UENF; Bacharel em Servio Social pela UFF; Professor do Departamento de Servio Social deCampos/ Universidade Federal Fluminense; Membro do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Cotidiano e Sade (GRIPES).2 A abordagem referente as transformaes atuais da sociedade capitalista tem por base A discusso de Marilda Villela Iamamoto no Livro Servio Social em tempos deCapital Fetiche..., 2010.

    Indiferena perante o destino de trabalhadores submetidos a umapobreza histrica e, portanto, tornam-se subjugados e desprezadosdiante de sua disfuncionalidade para o capital2.

    No contexto destas transformaes sociais, sujeitossingulares e coletivos, influenciam e so influenciados pelo espaovivido. Nele criam estratgias particulares de conduo de sua prpriavida, no seu lar, local de trabalho, na rua, comunidade, pontos deencontro... Estas transformaes que geram desigualdades, tambmdeterminam socialmente o processo de adoecimento da populao.

    A esse respeito, estudos desenvolvidos, sobretudo a partirde 1970, comeam a indicar que o carter histrico da doena conferido no processo que ocorre na coletividade humana, ou seja,a natureza social da doena deve ser verificada na forma deadoecimento e morte dos grupos humanos (NUNES, 2000). Paraesta compreenso, o conceito de formao social apresenta granderelevncia.

    possvel perceber que estas transformaes nasconcepes em torno de sade - doena so fundamentais paraampliao de espao de anlise e interveno nesta realidade. Ouseja, preciso compreender que o processo de adoecimento frutode mltiplos fatores histricos e estruturais e devem ser pensados nainterseo de aspectos no apenas sociais, mas tambm biolgicos,econmicos, culturais, polticos.

    Para compreenso destes fatores e seus vnculos com ascondies de sade da populao, o conceito de desigualdade social fundamental. Para maioria dos autores, ele incorpora uma repartiodesigual que se produz no processo social, ou seja, o acesso a bense servios e a um nvel de sade mais elevado da populao determinado veementemente pela posio que os sujeitos ocupamna organizao social (BARATA, 2006).

    Assim, as desigualdades sociais em sade so as diferenasproduzidas pela insero social dos indivduos e que estorelacionadas com a repartio do poder e da propriedade (IDEM,2006).

    Ao adotar a corrente politizada e/ou scio - histrica dasdesigualdades em sade, entendemos que sade um produto sociale determinadas organizaes podem ser mais sadias que outras.Trabalhar com esta vertente, que tem como base o conceito dereproduo social, significa romper com a concepo linear decausalidade e negar possibilidades de identificar "cadeias de causa-efeito entre caractersticas ou indicadores sociais e problemas de

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    sade, bem como entre indicadores de desigualdades sociais esade" (BARATA, 2006, P. 471).

    Com base neste referencial, um trabalho de pesquisaemprico pode ser dividido em dois grupos: os que privilegiam aestrutura de classes, trabalhando com o conceito de classe sociale os que privilegiam condies de vida e trabalham com o conceitode espao social. De qualquer modo, a unidade espao - populaotem a possibilidade de ser uma unidade onde operam os processosdeterminantes, onde se expressam os problemas de sade e sedesenvolvem as aes ou respostas sociais a estes problemas.

    Diante do apresentado, preciso sinalizar que a categoriacondies de vida no deve ser entendida em sua relao com asade numa perspectiva linear de causa e efeito. Defendemos quea sade deva ser concebida numa perspectiva scio-histrica e,portanto, coletiva. Mediada por aspectos materiais, sociais,culturais, polticos, econmicos e pela realidade vivida pelossujeitos atravs de suas relaes cotidianas, ou seja, pelastrajetrias histricas individuais dos sujeitos que se relacionamcoletivamente e, portanto, influenciam e so influenciados no/pelo grupo e espao em que vivem.

    Alm disso, o texto que o leitor tem em mos, resultadode estudos que insistem na compreenso da sade em umaperspectiva ampliada. A tentativa de conhecer um espao/territrioespecfico foi um grande desafio deste grupo de pesquisadores,que se comprometeu a identificar mediaes do processo sade -doena. Para tanto, o grupo assumiu outro e, talvez, o maiordesafio, que foi o de construir este estudo de forma interdisciplinare interinstitucional, articulando as dimenses quantitativas equalitativas de pesquisa ao longo de seu processo. E se o trabalhode pesquisa se constri "artesanalmente", h aqui uma experinciade aproximao sucessiva deste espao/territrio especfico e deseus sujeitos, o que contribuiu para conhecer algumas de suashistrias, as experincias compartilhadas pelos moradores atravsdo estmulo a tantas memrias. Essa aproximao inicial foifundamental na resposta a um montante de questes de quem tem"curiosidade" e quer saber. Portanto, atravs desta aproximaoinicial construiu-se um resultado provisrio que sinalizou maisindagaes que respostas, o que foi expressivo para construo edesenvolvimento do inqurito populacional - fase posterior dapesquisa.

    Aproximaes, encontros, caminhadas pela Comunidade,identificao de informantes-chave, observaes e aplicao deformulrios foram fundamentais para ir alm do "absolutamentebvio" no intuito de compreender o "surpreendentemente oculto"nas condies de vida da populao. Para tal foi e sempre sernecessrio, nos tempos atuais, repensar estratgias que valorizeme fortaleam seus princpios. E se "(...) No basta que opensamento procure realizar-se; a realidade deve igualmentecompelir ao pensamento" (MARX, 2005, p. 152), h aqui dadoscapazes de se fazer pensar, construdos com a paixo que sealimenta da crtica.

    REFERNCIAS BIBLIOGR`FICAS

    BARATA, R. B. Desigualdades sociais e sade. IN: CAMPOS, G. W.de S.; MINAYO, M. C. S. ET ALL. Tratado de sade coletiva. SoPaulo: Hucitec. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. Cap 14, p. 457 - 468.IAMAMOT O, M. V. Servio Social em tempo de capital fetiche:Capital financeiro, trabalho e questo social. 2 ed. - So Paulo:Cortez, 2008.MARX, K. Crtica da filosofia do direito de Hegel. SoPaulo:Boitempo, 2005.NUNES, E. D. A doena como processo social. In: CANESQUI, A.M. (ORG), Cincias Sociais e Sade para Ensino Mdico. SP:Hucitec/Fapesp, 2000. Cap11 (p.217-2290).

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    Apr esentao

    Vera Lucia Marques da Silva1

    Apresentar um trabalho coletivo, resultado de um grupode pesquisa de Instituies de Ensino Superior integradas aoPrograma Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadaniafoi uma tarefa prazerosa, mas, ao mesmo tempo, de muitaresponsabilidade. Embora fizesse parte do grupo de pesquisa e tenhaescrito um artigo, impus-me a leitura de todos os outros artigoscomo se fosse de fora. Isso reafirmou-me a dimenso da importnciadeste trabalho.

    apresentao deste trabalho coletivo, coube-me a dotexto escrito pelo Dr. Jos Rodrigues Coura, somando-se, portanto,maior prazer e responsabilidade. Primeiramente, um breve currculodeste grande pesquisador brasileiro, nascido no serto da Paraba,que ser mais bem conferido pelo seu brilhante Currculo Lattes ede fcil acesso por todos. Cabe ressaltar os mais de 200 trabalhos eos 4 livros publicados. Alm de grande pesquisador da doena deChagas, da esquistossomose e de doenas parasitrias na AmazniaBrasileira, sempre se dedicou ao ensino mdico e carreirauniversitria. neste contexto que se d a sua relao com aFaculdade de Medicina de Campos, como ele mesmo relata. Assim,no poderamos deixar de relatar o seu ineditismo caracterizadopela insero dos alunos da medicina, j no primeiro ano, numacomunidade, - Custodpolis, tambm chamada de Cidade de Palha- e pelo projeto de interdisciplinaridade e interinstitucionalidade aoenvolver a Escola de Servio Social, a Escola de Odontologia e aFaculdade de Direito. Sem sabermos deste primrdio, o ProgramaBairro Saudvel tem sido uma tentativa do resgate dainterdisciplinaridade e interinstitucionalidade.

    Para mim, particularmente, por me dedicar ao campo daSade Coletiva, cabe destacar o nome da disciplina sob aresponsabilidade do Dr. Jos Rodrigues Coura como professor daFaculdade de Medicina de Campos (FMC), nos idos dos anos 60:Medicina Social e Preventiva. A partir do entendimento de que aSade Coletiva tem suas razes nos projetos preventivistas e damedicina social, ela um campo de trplice dimenso: como correntede pensamento, como movimento social e como prtica terica.Como corrente de pensamento, em termos cronolgicos, nos anos50 se instaura a medicina preventivista, que se refora a partir dosanos 70 pela medicina social e que vai se estruturando, a partir dosanos 80 at a atualidade, como campo da sade coletiva. Se nocampo do conhecimento, a sade coletiva passa a incorporar algunsconceitos sociolgicos, antropolgicos, demogrficos,epidemiolgicos e ecolgicos, no plano poltico-ideolgico ela passaa consolidar a chamada medicina comunitria e seusdesdobramentos nos programas extra-muros. s expensas destacronologia mais atual, sabe-se que a medicina nasce como medicina

    social na segunda metade do sculo XIX, sendo a expresso cunhadana Frana em 1848. Ou seja, a medicina como campo deconhecimento sempre relacionou a sade com as condies de vidadas populaes. Condies de vida nos seus diversos aspectos, comoos anteriormente citados (sociolgicos, antropolgicos,demogrficos, epidemiolgicos, ecolgicos, polticos e ideolgico).Mas, se houve um tempo de aprofundamento da medicinabiologicista, a retomada de idias sobre a Medicina Social foi objetode documento da OPS, de 1974, quando esse organismo assumeque o objeto da medicina social deve ser entendido como o campode prticas e conhecimentos relacionados com a sade como suapreocupao principal e estudar a sociedade, analisar as formascorrentes de interpretao dos problemas de sade e da prticamdica (OPS, 1976). Nesta questo, temos a certeza de estarmosconcretizando este iderio nas aes realizadas no CSEC, alm deestarmos realizando aes de assistncia curativa.

    Recuperando a histria, encontramos que em trabalhoescrito em 1973, o Prof. Guilherme Rodrigues da Silva afirmouque ... alguns departamentos de Medicina Preventiva passaram aadotar, tendencialmente, uma posio potencialmente maisinovadora, uma posio de crtica construtiva da realidade mdico-social e da prtica da medicina, fundamentada bem mais no modelode medicina social do que no modelo original de MedicinaPreventiva (SILVA, 1973). Ao lermos o relato do Prof. Coura,temos a certeza de que a disciplina por ele implantada na FMCtinha uma posio como a afirmada acima pelo Prof. GuilhermeRodrigues da Silva. E, temos, mais uma vez, a certeza de que ahomenagem a ser prestada ao Dr. Jos Rodrigues Coura, dando oseu nome ao CSEC, por reconhecer que, alm de inovar enquantoprofessor da medicina preventiva da FMC, ele inovou ao inserir osalunos na realidade da Cidade de Palha. O nosso papel, atual, temsido, junto Direo da FMC, manter esse iderio no CSEC e noPrograma Bairro Saudvel. E, neste sentido, gostaramos de destacaro conceito de Medicina Social adotado por Arouca: como o estudoda dinmica do processo sade-doena nas populaes, suasrelaes com a estrutura de ateno mdica, bem como das relaesde ambas com o sistema social global, visando transformaodestas relaes para a obteno dentro dos conhecimentos atuais,de nveis mximos possveis de sade e bem-estar das populaes(AROUCA, 1975).

    Em relao identidade do grupo de pesquisadores queredundou nesta publicao, esta foi dada pela proposta de darcontinuidade a uma pesquisa anterior, desenvolvida pela UFF,que teve como objeto o bairro de Custodpolis. A pesquisaanterior precisava ser aprofundada em algumas dimenses. O

    1 Mdica, Professora da Faculdade de Medicina de Campos, Ps Doutora em Sade Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio deJaneiro e Coordenadora do Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania (gesto 2009-2013)

  • convite para a execuo deste projeto foi feito para todas asoito Instituies parceiras do Programa Bairro Saudvel, comparticipao de quatro: Universidade Federal Fluminense (UFF),Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense(IFF), Universidade Salgado Filho (UNIVERSO) e Faculdadede Medicina de Campos (FMC). A coordenao do projeto ficousob a responsabilidade Departamento de Servio Social deCampos/Universidade Federal Fluminense, atravs do GRIPES(Grupo Interdisciplinar de Estudo e Pesquisa em Cotidiano eSade).

    As diretrizes norteadoras do Programa Bairro Saudvelforam consideradas no desenvolvimento do projeto de pesquisa,principalmente as que se referem metodologia, pesquisa-ao, e interdisciplinaridade, com o esforo de congruncia dos diversosolhares sobre o objeto. Portanto, no um trabalho do servio socialcom a arquitetura, com a enfermagem e com a medicina. umtrabalho que se refere a um conjunto de profissionais dessas reasque fizeram um esforo ao olhar o objeto considerado e ao analisaros resultados encontrados.

    Outro ponto relevante que demarca a identidade dosautores o fato de todos terem uma atuao, em algum momento,no Programa Bairro Saudvel. Se, por um lado, essa condio osaproxima do objeto pesquisado, por outro, exigiu de cada um dosintegrantes um esforo nas anlises dos resultados encontrados.

    No primeiro artigo, Programa Bairro Saudvel: tecendoredes, construindo cidadania, Vera Marques desenvolve umaapresentao do Programa Bairro Saudvel, suas dimenses(antecedentes, inseres, objetivos, conceitos norteadores, mtodode pesquisa, resultados alcanados aps 03 anos de implantao) eos projetos que foram executados desde o incio de sua implantao,em 2008, at dezembro de 2011. Ainda, neste artigo, soapresentadas as lies aprendidas no decorrer da execuo doprojeto, que serviro de reflexes para outros que tenham propostasemelhante.

    No segundo artigo, Do diagnstico preliminar ao inquritopopulacional: movimentos de investigao em um territriovulnervel, Denise Junc nos apresenta a estruturao dos passosque foram dados para que fosse construdo um diagnsticosocioambiental de Custodpolis. Faz uma anlise do grande desafioposto, pois, como a prpria autora cita, uma comunidade configura-se como um objeto de estudo indisciplinado. A metodologia minuciosamente detalhada, configurando-se, portanto, um artigonorteador para outras pesquisas a serem desenvolvidas com adimenso desta. O desafio da interdisciplinaridade e dainterinstitucionalidade claramente descrito e analisado, comexposio das dificuldades ocorridas no decorrer do processo.

    No artigo O Territrio de Custodpolis: mapeandomemrias e lugares, de Vernica Gonalves, os significados eexperincias ganham destaque. So conceitos implicados noprocesso sade-doena, ou seja, na construo de um bairro tantono aspecto de sua vulnerabilidade como no aspecto de torn-lo maissaudvel. A memria do territrio Custodpolis resgatada numaescrita feita por todos que participaram da pesquisa. Uma lio quefica para todos ns: o resgate da memria de um territrio nos coloca

    a dimenso, para o bem e para o mal, do sujeito que somos da histria ese ns assim a fizemos, ns assim poderemos mud-la.

    No quarto artigo,O lugar: entre lembranas do passado evivncias do pesente,Vernica Gonalves Azeredo aborda o conceitode territrio em suas diversas dimenses. Uma delas diz respeito importncia da reconstruo do passado, no qual os sentidos coletivosdo passado se contrapem s vivncias da individualidade. A degradaode valores e a decadncia das experincias pblicas so outros aspectosanalisados., alm das experincias com a violncia e com as diversasformas de sociao.

    Em Moradia: lugar de apropriaes e prticas de IsadoraMarques de Souza Oliveira, Jlia Lima Arajo, Juliana Peixoto RufinoGazem de Carvalho, Raphael Mesquita de Aguiar, Regina Coeli MartinsPaes de Aquino e Vernica Gonalves Azeredo, nos apresentada adimenso do que seja uma moradia como objeto sinalizador e mediadorde relaes culturais, sociais e econmicas. O artigo vai mais alm,pois descreve suscintamente as condies de habitao dos moradoresde Custodpolis, estuda o caso de uma moradia e prope soluespossveis de serem realizadas para torn-la saudvel.

    O artigo A questo habitacional e seu entorno emCustodpolis, de Katarine de S Santos, Ksia Silva Tosta e Paula EmelyTorres, aborda a questo de que o que reflete os resultados das aeshumanas o produto das relaes sociais concretas que se do no espao-tempo de determinado territrio. Assim, o territrio como correlaode foras polticas e relaes de poder presente na sociedade civil nosapresentado, colocando-nos, mais uma vez, como responsveis pelo quens construimos e pela forma que ns vivemos, como a segregaoespacial que tanto caracteriza o nosso pas. Os desafios de moradia nessesnichos de segregao espacial so descritos e analisados, merecendoreflexes de todos ns.

    Na sade e na doena: um retrato do cotidiano das famliasem Custodpolis, Adilea Lopes da Silveria, Christovam Luiz MachadoCardoso, Denise Chrysstomo de Moura Junc, Ivone dos SantosMagaldi e Ksia da Silva Tosta apresentam um retrato das condies desade e de doena das famlias de Custodpolis numa abordagem querelaciona as condies de moradia, de empregabilidade, de grau deestudo com a ocorrncia das doenas mais comuns na comunidade.

    O artigo Caminhos do empoderamento: redefinindo sons, corose instrumentos do (com)viver em comunidade, de Carlos Antonio deSouza Moraes aborda o conceito empoderamento e ao mesmo tempo ocoloca frente a frente realidade apreendida no trabalho de campo. Apobreza, por si s, um estado de desempoderamento, como o artigonos aponta. Mas, se por um lado nos coloca frente a quase um obstculo(a pobreza ), por outro lado nos coloca frente a uma possibilidade (um estado), como faz o artigo ao apresentar estratgias prticas para odesenvolvimento de empoderamento numa comunidade.

    O artigo final Uma cidadania esperada: e agora, o que fazer?,de Christovam Cardoso, Denise Chrysstomo de Moura Junc e VernicaGonalves Azeredo apresenta as possibilidades, diante dasvulnerabilidades detectadas, de avanar para a construo de um bairrosaudvel em Custodpolis. Muito h de ser feito. A afirmao docompromisso entre instituies e atores envolvidos tem sido mantidapor uns. Para outros, segundo os prprios autores, esse compromissoprecisa ser reafirmado.

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  • 5 Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania Vera Lucia Marques da Silva 1

    1 Mdica, Professora da Faculdade de Medicina de Campos, Ps Doutora em Sade Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiroe Coordenadora do Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania (gesto 2009-2013).2 As reas escolhidas para serem cobertas pelo Programa Sade da Famlia so as consideradas mais vulnerveis.3 Centro de Informaes e Dados do Rio de Janeiro.4 Estimativa obtida junto Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Promoo Social em 2006.5 Diagnstico elaborado pelo NETRAD/UFF Ncleo de Estudos em Trabalho, Cidadania e Desenvolvimento, sob a coordenao do Prof. Dr. Jos Luis Vianna da Cruz.6 Projeto concludo, fruto de uma parceria da Universidade Federal Fluminense com a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, tendo na coordenao da produode dados os seguintes professores vinculados ao GRIPES (Grupo Interdisciplinar de Estudo e Pesquisa em Cotidiano e Sade): Prof Dr Denise Chrysstomo de MouraJunc e Prof Dr. Ronney Muniz Rosa.

    1-Intr oduoEste artigo tem como proposta a apresentao do

    Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania(PBS), entendo-o como norteador, a partir das suas diretrizesbsicas, para os projetos de ensino-pesquisa-extenso das oitoInstituies de Ensino Superior que o compem. Seroapresentadas as diversas dimenses do PBS (antecedentes,inseres, objetivos, conceitos norteadores, mtodo de pesquisa,resultados alcanados e lies aprendidas aps 03 anos deimplantao) e os projetos que foram desenvolvidos desde o inciode sua implantao, em 2008, at dezembro de 2011. Um dosprojetos o que gerou a presente publicao, tendo sido elaboradoe executado por quatro instituies: Universidade FederalFluminense (UFF), Instituto Federal Fluminense de Educao(IFF), Universidade Salgado Filho (UNIVERSO) e Faculdade deMedicina de Campos (FMC). A partir do entendimento de quealguns projetos envolvem intervenes, com consequncias, emgraus diferentes na comunidade, o tema vigilncia abordadonuma breve anlise. Considerando que grande parte dos projetosde ensino-pesquisa-extenso se realizou na estrutura fsica doCentro de Sade Escola de Custodpolis, justifica-se aapresentao desta unidade nas suas dimenses histricas e deateno sade.

    2- Programa Bairro Saudvel: tecendo redes, construindocidadania

    2.1-Antecedentes e inseres: municpio de Campos dosGoytacazes, bairro de Custodpolis e Centro de Sade Escolade Custodpolis.

    O municpio de Campos dos Goytacazes, localizado nonorte do Estado do Rio de Janeiro, tem uma histria marcada pelaproduo sucro-alcooleira e, mais recentemente, pela exploraodo petrleo, o que pode ser evidenciado pela vultosa injeo derecursos financeiros na regio, provenientes dos royalties(Pessanha; Silva Neto, 2004). Atualmente, a histria serprovavelmente remarcada com a implantao do distrito industrialdo Porto do Au, no municpio vizinho de So Joo da Barra,devido projeo de um crescimento explosivo, com esperadas

    repercusses no entorno.Diferentes expresses de pobreza caracterizam a histria

    desse municpio, embora com melhorias em todos os ndices dedesenvolvimento humano na ltima dcada (Campos dos Goytacazes,Perfil 2005: 77). Mesmo com essas melhorias, pesquisas realizadas,tambm, na ltima dcada, demonstraram nichos de desigualdades(Marques da Silva, 2003), que so diludos quando se analisamsomente dados referentes rea total geogrfica do municpio. Napesquisa realizada por Marques da Silva (2003), analisando aefetividade do Programa Sade da Famlia (PSF) no decorrer de 03anos de sua implantao (1999-2000) foram evidenciadasdesigualdades sociais e desigualdades em sade, em grausconsiderveis, ao comparar as reas cobertas com as reas nocobertas pelo PSF. Uma das taxas analisadas na pesquisa foi a Taxade Mortalidade Infantil (TMI). A TMI na rea coberta pelo PSF eraigual ou muito prxima quela observada em alguns pases pobresda frica, apresentando valores de 59,33 para 1000 nascidos vivos.2

    De acordo com o CIDE dos Municpios (CIDE 3 , 2005),Campos dos Goytacazes a stima cidade melhor colocada como amenos carente do estado, verificando-se, portanto, que mudanastm ocorrido, destacando-se, entre outras, a construo de unidadeshabitacionais, a ampliao da rede de atendimento sade e educao, alm da implantao de novos programas sociais.Entretanto, mesmo diante de tais iniciativas e com uma populaoestimada em 442.363 habitantes (IBGE, 2010), o municpio atendea mais de 20 mil famlias atravs de programas de transferncia derenda 3 . Partindo-se do pressuposto que tais famlias so compostaspor, em mdia, 03 a 04 pessoas, tais dados levam a admitir que cercade um tero da populao do municpio enquadra-se na categoria depobre ou extremamente pobre. Isto pode significar tambm quemuitos programas e aes no tm produzido mudanas favorveisno perfil desta populao. Sua porta de entrada e de sada apresenta,provavelmente, a mesma cara e, portanto, mantm a pobreza nomesmo lugar: os sujeitos continuam pobres de direitos (Junc, 2007:72). Alguns exemplos deste quadro so encontrados em recentespublicaes como o Diagnstico das condies scio-econmicasda infncia e juventude de Campos dos Goytacazes 5 (2006), oumesmo, na pesquisa Perfil scio-econmico das famlias de baixarenda de Campos dos Goytacazes 6 (2007-2008).

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  • Nas reas rurais e nos bairros perifricos este retratomostrou-se mais agravado. Adicionado condio de desigualdadesocial e de sade, constatou-se uma inrcia social de longo tempo,demonstrada por ausncia de investimentos em infra-estrutura bsica(Marques da Silva, 2003). Estas condies geraram reaes emalgumas comunidades, como em Custodpolis. o bairro mais antigode Guarus. Localiza-se a uma distncia de sete kilmetros do centrode Campos e delimitado pelos parques Nova Campos, SoDomingos, Bonsucesso, Novo Mundo e Presidente Vargas (videmapa abaixo).

    Mapa 1: Campos dos Goytacazes/RJ, 2005Fonte: Cidade de palha: diagnstico preliminar. Campos dos Goytacazes, 2008.

    No final da dcada de 1960, as lideranas de Custodpolisse mobilizaram aps vivenciarem por longo tempo problemasreferentes ausncia de abastecimento de gua e inadequadalocalizao de fossas rudimentares ao lado de poos caseiros.Algumas faculdades da regio se articularam ao movimentocomunitrio e implantaram o Centro Social Comunitrio,posteriormente denominado Centro Social Universitrio, emparceria com o MUDES Movimento Universitrio deDesenvolvimento Econmico e Social. Nesta mesma poca (1970),foi implantado o projeto-piloto assistencial integrado, com aparticipao de universitrios de diversas especialidades 7 , queprocurava responder s demandas referentes aos servios mdicos,odontolgicos e sociais.

    Mais recentemente, em 1999, outras mudanas ocorreram. OCentro Social Universitrio se reestruturou como Centro de Sade Escolade Custodpolis (CSEC), uma unidade de ateno sade da Faculdadede Medicina de Campos 8 .

    Desde ento, o Centro de Sade Escola de Custodpolis tempassado por diversas transformaes. Aps sua reestruturao, em 1999,a Faculdade de Medicina de Campos implantou a disciplina CuidadosBsicos de Sade (CBS), cujo objetivo principal era a insero precocedos alunos na comunidade. A partir de 2002, a disciplina CBS foiincorporada ao eixo Fundamentos Humansticos Biopsicossociais

    Aplicados Sade (FHBS). Esse eixo teve como umadas estratgias de ensino-aprendizagem a prtica AoCuidadora da Famlia, que mantinha, como um dosprincipais objetivos, a insero precoce dos alunos nacomunidade, mas com a incorporao dos fundamentoshumansticos a essa prtica. A estratgia AoCuidadora da Famlia envolveu uma instituioprivada de domnio pblico (Faculdade de Medicinade Campos com seus docentes), uma instituio pblicade servio de sade (Secretaria Municipal de Sadecom profissionais das 03 Equipes Sade da Famlia) ea comunidade de Custodpolis. Esta estratgiapossibilitou uma experincia na relao ensino-servio-comunidade que foi fundamental como proto-idiapara a construo do Programa Bairro Saudvel, jque alguns profissionais de sade que fizeram partedesta estratgia continuaram a atuar na unidade CSEC.

    A partir de 2006, o CSEC ampliou suareestruturao fsica e nmero de profissionais ecolaboradores administrativos 9 . A indicao de umaDireo Clnica redundou na reestruturao do projetopedaggico anterior, ampliando-o, principalmente apartir do reconhecimento de que a populao deCustodpolis demandava outras necessidades alm das

    de assistncia mdica, em que pese a excelncia de atendimento que erarealizado por mdicos docente-assistenciais da Faculdade de Medicinade Campos e por profissionais de sade da Secretaria Municipal deSade de Campos.

    Inicialmente, o projeto pedaggico foi composto por duasdiretrizes e quatro conceitos. Essas diretrizes e conceitos so atualmentemantidos, sendo a eles adicionados outros a serem apresentados adiantenesse artigo. A primeira diretriz centrava-se na melhoria da qualidadeda assistncia sade a ser prestada aos moradores do bairro e a segundaenfatizava a vocao desta unidade como um ambiente privilegiado doprocesso de ensino-aprendizagem para os diferentes profissionais dasade e reas correlatas.

    Em relao s diretrizes, o CSEC passou a se constituir comoum espao de prtica para os alunos de graduao dos cursos de Farmciae de Medicina da Faculdade de Medicina de Campos estendendo-se,tambm, para os cursos de ps-graduao em Sade da Famlia e

    7 Fundao MUDES (http://www.mudes.org.br/home/institucional/default.asp?ID=93&P=27)8 Faculdade de Medicina de Campos na gesto do Dr Jair Arajo.9 Faculdade de Medicina de Campos na gesto do Dr Nlio Artiles.

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  • Gerontologia e Geriatria desta mesma faculdade. melhoria daqualidade de assistncia associaram-se diversas aes deinterveno em uma abordagem de sade coletiva, destacandos das reas de Sade Integral da Criana, da Mulher, do Adulto,do Idoso e Sade Mental.

    Um dos conceitos norteadores tem sido o CAPITALSOCIAL, entendendo que a parceria ensino-servio-comunidade uma das estratgias que possibilitam o desenvolvimento domesmo. De acordo com Putnam (1996), o Capital Social definido como bem pblico, envolvendo a confiana e adisponibilidade de normas e sistemas que facilitam as aescooperativas entre os atores sociais. Como capital, tende aaumentar com o uso e a se esgotar com a no utilizao. Osestoques de capital social, como confiana, normas e sistemasde participao, tendem a ser cumulativos e a reforar-semutuamente. Segundo o autor, as instituies formais podempossibilitar a mudana da prtica poltica e o desenvolvimentodo capital social. Este entendido como um bem pblico cadavez mais necessrio nas sociedades complexas, onde as vantagensdo oportunismo, da trapaa e da transgresso tendem cada vezmais a aumentarem, medida que prossegue o desenvolvimentoeconmico. A criao de capital social no fcil, mas ser cadavez mais fundamental para fazer a democracia funcionar. Aproposta do CSEC tem sido, desde ento, criar uma relao derespeito e confiana, envolvendo os profissionais e colaboradoresentre si e entre eles e a comunidade. uma tarefa difcil queenvolve desde aes menores, como o uso racional de papis e ano utilizao de copos descartveis, at a discusso de conflitosde relacionamentos humanos e o limite da solicitaoindiscriminada de medicamentos e exames pelos pacientes.

    Outro conceito norteador, associado ao anterior, o deRESPONSABILIDADE SOCIAL. Temos, cada vez mais, aconvico de que a participao dos estudantes e professores dauniversidade no trabalho coletivo a sade propicia uma formaode profissional mais envolvido com a poltica de sade do pas econsequentemente uma maior responsabilidade social. Estetambm o entendimento de ODwyer e Pastrana (2000), segundoos quais o ensino mdico no pode estar dissociado do contextosocial, pois do contrrio estar formando profissional descoladoda realidade e distante das necessidades e dos anseios dapopulao. Ou seja, a escola mdica deve favorecer odesenvolvimento do compromisso social, procurando atender snecessidades da sociedade em termos de sade e de tratamentodos problemas. Neste contexto, cabe destacar que uma dasdiretrizes do Programa de Incentivo a Mudanas Curricularesnos Cursos de Medicina PROMED foi incentivar a utilizaode cenrios reais para o processo ensino-aprendizagem e aabertura dos servios universitrios s necessidades do SUS,implicando, portanto, possibilitar maior compromisso social dasescolas mdicas. Esta tem sido uma tarefa difcil, pois o pesohegemnico do ensino hospitalar, a dimenso do capital simblicoe financeiro do valor das especialidades, a valorizao datransmisso do conhecimento terico desarticulado da realidade

    da prxis, entre outros, ainda contribuem para a desvalorizao do ensinona realidade da prtica ambulatorial e comunitria, principalmentequando essa realidade implica uma distncia social, cultural e econmicaentre profissionais e pacientes.

    Todas as aes de assistncia sade e do processo ensino-aprendizagem foram norteados, e continuam sendo, por dois outrosconceitos incorporados na estruturao pedaggica do CSEC, quaissejam o da INTERDISCIPLINARIDADE e o de EDUCAOPERMANENTE. O conceito de Educao Permanente ser apresentadoa seguir. A Interdisciplinaridade norteadora do PBS a partir de quecolabora para promover saltos qualitativos que reconfiguram as reasde conhecimento e prope muitas outras possibilidades que podemdefinir novos campos cientficos (Janine, 2008). Esta afirmao, entreoutras, foi um estmulo para a formao das equipes interdisciplinaresque atuam nas aes de interveno na unidade e para a busca de outroscampos de conhecimentos e saberes, busca esta que redundou na idiade construo do PBS. A interdisciplinaridade um desafio que, quando,pelo menos, um pouco vencida, redunda em publicaes como esta:uma viso de um pequeno microcosmo social, mas, visto numacomplexidade do mundo real, visto por pesquisadores de mltiplossaberes e conhecimentos e com a participao dos sujeitos pesquisados,levando em considerao a utilizao da metodologia pesquisa-ao.

    Atualmente, principalmente aps a construo do projetoPrograma Bairro Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania(PBS), a incorporao de suas diretrizes norteadoras e o compromissode alcanar as metas programadas, o CSEC, como a materialidadeestruturante do PBS, consolida-se, cada vez mais, como um espao deexcelncia na assistncia sade e nas atividades de ensino-pesquisa-extenso, o que envolve produo de conhecimentos e reflexo constantede sua prxis. Esse artigo uma possibilidade de reflexo dessa prxise, ao mesmo tempo, do compromisso com a sua publicizao.

    2.2- A histria mais r ecenteComo a prpria denominao sugere, o Programa Bairro

    Saudvel: tecendo redes, construindo cidadania tem como objetivoprincipal transformar um bairro vulnervel - o bairro de Custodpolis -em um bairro saudvel, atravs de redes inter-institucionais, inter-disciplinares e de sujeitos cidados. A constituio do conceito e doPrograma tem uma histria a ser descrita. Histria decorrente do encontrode atores com convergncia de idias num determinado momento. Atoresprovenientes do CSEC e das Instituies Parceiras. E, principalmente,dos atores que constituram o PBS em sua fase inicial e da Direo daFaculdade de Medicina pelo apoio constitucional.

    Considerando essa histria, os profissionais de sade do CSEC,aps anos de atuao e de experincia, constataram que somente asaes desenvolvidas de assistncia mdica nesta unidade no estavamcobrindo satisfatoriamente as necessidades da comunidade deCustodpolis, bairro localizado no distrito de Guarus, no qual a unidadeest instalada. Neste sentido, a idia de Sade, numa viso ampliada, ea de Sade Coletiva foram os primeiros conceitos que marcaram atrajetria do processo de construo do PBS. Essas idias continuamatuais, sendo incentivadoras de projetos, como o de alfabetizao deadultos (Mova Brasil, em parceria com a Petrobrs e o Instituto Paulo

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  • Freire e iniciado em maro de 2012) e o de Juventude Saudvel(iniciado em maro de 2012), a ser desenvolvido por trs alunos doProjeto Bolsa Trabalho-CSEC. Essas aes sofrem algumas crticas,devido a uma concepo ortodoxa e, ainda arraigada de que umaunidade de sade deveria apenas se ater ao atendimento de doena,sendo esta apenas de cunho biolgico, e no desenvolver aes eatividades de promoo da sade em mbitos mais alargados econsoantes com o conceito de determinao social do processosade-doena, como se ver mais adiante.

    Diversos fatores convergiram para a construo do PBS,destacando-se, entre outros: constatao de uma realidade socialque demandava outras aes, alm das de cunho somente mdico-assistencial, como j exposto anteriormente; legitimizao dopotencial do CSEC que cada vez mais se fortalecia como espao deensino-pesquisa-extenso; apoio institucional e efetivo da Direoda FMC; convergncia de idias e contribuies efetivas dos atoresrepresentativos das diversas instituies. Justificou-se, assim, o PBS,que objetivou consolidar a ampliao e atuao do CSEC, elaborarum modelo de prtica que congregasse os esforos de diferentesinstituies de ensino e aperfeioar e aprofundar conhecimentos eaes para a melhoria da qualidade de vida da populao residenteno bairro de Custodpolis e seu entorno. Teve-se como pressupostoo de que tal articulao entre as instituies do ensino superiorreforaria a relevncia social e cientfica da proposta, considerandoos impactos que poderia produzir no s no espao acadmico,investindo na sintonia entre ensino, pesquisa e extenso, comotambm na prpria experincia a ser vivenciada com a comunidade,atravs da implementao de esforos para sua passagem de bairrovulnervel para bairro saudvel.

    O PBS constituiu-se, portanto, como um programainterinstitucional e interdisciplinar, integrando diversos projetos deensino-pesquisa-extenso das 08 Instituies de Ensino Superior:Faculdade de Medicina de Campos (FMC), Universidade FederalFluminense (UFF), Instituto Federal Fluminense (IFF), UniversidadeCndido Mendes (UCAM), Universidade Salgado de Oliveira(UNIVERSO), Universidade Estcio de S (UNESA), Faculdadede Filosofia de Campos (FAFIC) e Universidade Estadual do NorteFluminense Darcy Ribeiro (UENF). O organograma comps-se deum Coordenador Geral (no momento com um representante daFaculdade de Medicina de Campos), e do Grupo Gestor (formadopor um Titular e por um Suplente representando cada instituioparceira).

    No decorrer de 2007, foram realizadas diversas reuniescom as representaes do Grupo Gestor, nas quais se construiu oprojeto do PBS e o documento - Termo de Cooperao Tcnico-Cientfico - que instituiu as parcerias institucionais. No documento,assinado em 08 de junho de 2009, com a presena dos Dirigentesdas Instituies Parceiras e representantes que formam o GrupoGestor, destaca-se no pargrafo nico:

    O Programa Bairro Saudvel ser desenvolvido medianteprojetos de ensino, pesquisa e extenso, que devero ser norteadospela busca e exerccio da cidadania, visando melhoria da qualidadede vida da populao local.

    Uma das clusulas a respeito de que os projetos devero sersomente executados aps passarem por uma apresentao para todos oscomponentes do grupo gestor, no sentido de serem analisados quanto pertinncia em relao aos preceitos e conceitos norteadores doPrograma, como tambm de serem publicizados e avaliados em relaos questes ticas das pesquisas. Desde ento, alguns projetosapresentados e executados integraram-se no trip ensino-pesquisa-extenso e outros se situaram em um ou dois dos trs componentes,respeitando a vocao de cada Instituio. A exigncia que tem sidofeita a de que os projetos sejam balizados pelo compromisso assumidono Termo de Cooperao Tcnico-Cientfico e pelos objetivos, metas,resultados esperados e conceitos norteadores, como descritos a seguir.Estas dimenses sero apresentadas de forma sistematizada, como asso no Projeto. Em relao ao mtodo, sugere-se o de pesquisa-aosempre que a abordagem do objeto assim o permitir.

    3- Objetivos, metas, resultados esperados e conceitos norteadores

    3.1- Objetivos

    Geral:Desencadear um processo de transformao de um bairro vulnervelem um bairro saudvel na comunidade de Custodpolis, atravs dacriao de um modelo de prtica, pautado na interao servio-comunidade-instituies de ensino superior.

    Especficos: Fortalecer e expandir as condies de atuao do CSEC. Implementar um cenrio multidisciplinar de ensino, pesquisa e extenso. Realizar um estudo scio-ambiental da comunidade de Custodpolis. Fortalecer a responsabilidade social no processo de formao profissional. Estimular o processo de empoderamento e controle social na comunidade de Custodpolis.

    3.2- Metas Estruturao do plo interinstitucional e interdisciplinar no CSEC Construo de um diagnstico scio-ambiental participativo. Elaborao e implantao de planos de aes interdisciplinares. Consolidao do Plo na lgica de Educao Permanente. Instrumentalizao das lideranas comunitrias.

    3.3- Resultados esperados Constituio progressiva de um bairro saudvel. Consolidao do CSEC como Plo Interinstitucional, Interdisciplinar e de Educao Permanente. Criao de um banco de dados. Apropriao pela comunidade do conhecimento produzido e sua habilitao para processar uma atualizao permanente do Banco de Dados. Produo e publicizao de textos cientficos.

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  • Viabilizao da Residncia Interdisciplinar em Ateno Bsica Sade, no CSEC. Consolidao das linhas de pesquisa existentes e criao de outras. Colaborao tcnico-cientfica com redes brasileiras que atuam na Ateno Bsica.

    3.4- Conceitos norteadores Os conceitos so considerados balizadores dos projetos a

    serem desenvolvidos. O que diz respeito ao reconhecimento daimportncia da educao para a autoformao e para a constituioda cidadania (Morin, 2001) o de EDUCAO PERMANENTE.Este um conceito que tem, cada vez mais, se solidificado,principalmente aps os anos 80, quando a OPAS (Organizao PanAmericana de Sade) estabeleceu uma distino conceitual entreEducao Continuada e Educao Permanente. O Ministrio daSade incorporou este desafio, instituindo a Poltica Nacional deEducao Permanente em Sade, como estratgia do Sistema nicode Sade para a formao e o desenvolvimento dos trabalhadorespara o setor, atravs da Portaria n198/GM/MS de 13 de fevereirode 2004. Este conceito enfoca a importncia da reflexo coletiva daequipe de trabalho a partir dos problemas reais encontrados na prticacotidiana. Isso significa assumir a educao na prxis, pela prxis epara a prxis, admitindo-se que os problemas se situam alm daracionalidade tcnica e esto imersos em redes complexasinterpessoais, interinstitucionais e polticas. Como Ceccin (2005:976) afirma: a Educao Permanente em Sade constitui estratgiafundamental s transformaes do trabalho no setor para que venhaa ser lugar de atuao crtica, reflexiva, propositiva, compromissadae tecnicamente competente. A Educao Permanente remete, assim, discusso da aprendizagem significativa, organizao e gestodo trabalho em sade, propiciando a construo de novas prticas enovos saberes profissionais, elaborando-se estratgias mais efetivasde ao. Est em oposio da prtica educacional que Paulo Freire(1987) denominou de Educao Bancria em que os alunos sodepsitos nos quais os professores jogam informaes que devemser memorizadas e arquivadas. Ou seja, a Educao Permanenteconstitui-se como uma educao articulada realidade e asnecessidades do grupo social.

    Outro conceito o de ATENO B`SICA, compreendo-ocom um conjunto de aes de sade, no mbito individual e coletivo,que abrangem a promoo e a proteo da sade, a preveno deagravos, o diagnstico, o tratamento, a reabilitao e a manutenoda sade (Poltica Nacional de Ateno Bsica, 2006: 10). Seudesenvolvimento deve se processar atravs de prticas gerenciais esanitrias democrticas e participativas, valorizando o trabalho emequipe, a delimitao de territrios de ao, a singularidade dossujeitos, e, orientando-se pelos princpios da universalidade, daacessibilidade e da coordenao do cuidado, do vnculo econtinuidade, da integralidade, da responsabilizao, dahumanizao, da equidade e da participao social (ibid.).

    Dentro de tal concepo, a SADE, como expresso de

    um direito de cidadania, entendida como produo social, processodinmico e em permanente transformao (Meirelles; Erdmann, 2006:70). Isto significa romper com a setorializao da realidade, tanto nombito do conhecimento, quanto da ao, privilegiando olhares e aesinterdisciplinares direcionados qualidade de vida de sujeitos que soprotagonistas de seu cotidiano. Portanto, os conceitos deINTERSETORIALIDADE e de VIGILNCIA SADE se impemnesta viso de sade e, consequentemente, tambm, como norteadorespara a transformao de um bairro vulnervel em um bairro saudvel.De acordo com Mendes, (1999), a Vigilncia Sade uma forma deresposta social organizada aos problemas de sade, referenciados peloconceito positivo de sade e pelo paradigma da produo social da sade.O conceito positivo da sade envolve, por sua vez, uma concepo doprocesso sade-doena mais vinculado qualidade de vida de umapopulao, sendo, portanto, um produto social, ou seja, uma aproximaopositiva. Por sua vez, o paradigma da produo social da sade umaproposta de rompimento com o paradigma flexneriano, este apoiadopredominantemente no setor biologicista. Desta forma, o paradigmaproposto, alm de dar conta de um estado de sade em permanentetransformao (e no uma viso estanque de sade ou doena), permitea ruptura com a ideia de um setor exclusivamente biologicista, erigindo-o como produto social resultante de fatos econmicos, polticos,ideolgicos e cognitivos. A prtica da Vigilncia Sade parte doreconhecimento de um territrio, identificando os problemas existentespara, a partir da, atuar sobre eles com aes organizadasintersetorialmente. Desta forma, a intersetorialidade exige a ao dedistintos setores, implicando tomar problemas concretos, de gentesconcretas, em territrios concretos. Reconhece-se esta proposta,avanando-a no sentido de que a ela seja incorporada excelncia noatendimento sade biolgica. Ambos os conceitos possuem umadimenso alm da atuao de um programa como o PBS ou de umaunidade de sade como o CSEC. Sab-los, no entanto, tem representadoum passo importante para cobrar suas execues em outras instncias,principalmente s relacionadas ao poder pblico.

    A PROMOO DA SADE, uma das dimenses da Vigilncia Sade, tem sido valorizada neste contexto. uma dimenso quecomporta uma atuao sobre os determinantes da sade, considerando,paralelamente, um conjunto de valores que abrangem uma revalorizaoda vida e uma qualificao dos modos de vida em um determinadocontexto, assumindo-se suas dimenses sociais, culturais, econmicase polticas. Para sua operacionalizao, os conceitos discutidosanteriormente de intersetorialidade e interdisciplinaridade devero serincorporados para a melhoria da vulnerabilidade de um bairro.

    Aps um ano de implantao do Programa Bairro Saudvel,consideramos que as intervenes a serem realizadas no Bairro deCustodpolis devero ser norteadas pelo modelo explicativo maisadequado em relao s determinaes do processo sade-doena, e daPROMOO DA SADE, que o da proposta de Dahlgren &Whitehead (1991). Este modelo, que incorpora de uma formasistematizada alguns dos conceitos anteriores e o de PARTICIPAO,est sendo o norteador do Projeto Famlia Saudvel.

    O conceito EMPODERAMENTO, a ser discutido mais

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  • profundamente em outro artigo, est implicado, de uma maneiraresumida, no mecanismo atravs do qual as pessoas, organizaese comunidades tomam controle de seus prprios assuntos e de suaprpria vida, desenvolvendo uma conscincia da sua habilidade ecompetncia para produzir, criar e gerir.

    A partir de tais consideraes possvel, ento, apontarmospara a discusso em torno da expresso CIDADE SAUD`VEL,aproximando-a da proposta de BAIRRO SAUD`VEL assumidaneste projeto. Mendes (1996) considera que o tema sinaliza umprojeto estruturante do campo da sade, onde diferentes atores,ou seja, o governo, as organizaes da sociedade civil e organizaesno governamentais articulam uma gesto social direcionada paratransformar a cidade em um espao de produo social da sade.Em termos operacionais, tal perspectiva implica o compromissodos cidados e organizaes locais na direo de um processocontnuo de melhoria das condies de sade e bem estar doshabitantes melhoria contnua e no ponto de chegada. O que seassume aqui a sade em sua positividade, articulada gerao deprocessos participativos, sociais e institucionais, na direo depolticas pblicas saudveis, removendo determinaes ambientais,socioeconmicas e culturais associadas s enfermidades. Trata-sede uma opo que implica a postura permanente de trabalhar aspolticas de forma integrada, admitindo-se as inter-relaesexistentes entre sade, educao, habitao, saneamento, transporte,lazer e tantos outros aspectos, que compem a vida dos sujeitosinseridos em determinados territrios.

    Mais uma vez, assumimos o desafio de estarmos sendonorteados por esses conceitos, sabendo-os como imagem objetivopara a busca da transformao de um bairro vulnervel em um bairrosaudvel, numa condio no puramente econmica que, emboraimportante, no representa a nica varivel de qualificao de umterritrio na condio desejada.

    4- Projetos implantadosConsiderando os trs anos do PBS, vrios projetos das

    Instituies parceiras foram implantados. Nem todos os projetosobjetivaram o desenvolvimento de ensino-pesquisa-extenso.Alguns so essencialmente de pesquisa, outros de extenso e outrosde ensino. .

    Os projetos de ensino-extenso foram incorporados, nasua maior parte, como estgios de prtica para os alunos das diversasinstituies parceiras. Estes projetos contriburam e tm contribudopara fortalecer e expandir as condies de atuao do CSEC e paraque esta unidade se consolide como um cenrio multidisciplinar deextenso. Os projetos e os respectivos estgios realizados at omomento foram os decorrentes das seguintes instituiesenvolvendo as categorias profissionais abaixo descritas:

    1- Diversos estgios foram realizados at o momento:enfermagem (UNIVERSO), fisioterapia (UNESA), servio social(UFF), farmcia (FMC), movimento corporal e artstico (FAFIC),sade coletiva (FMC), sade da mulher, da criana, do homem, do

    idoso (FMC, sade da famlia e sade mental (FMC).

    Os projetos de pesquisa j executados pelas Instituiesparceiras foram:1- Significarte: tecendo significados por meio da arte, cincia etecnologia.Integrantes: Vnia Machado Seabra Puglia, Tssia Silva NunesPereira, Jssica Luiza da Silva Oliveira, Raquel de Lima e CirneVieira, Antnio Carlos da Silva Souza.Objetivo: O Projeto SignificARTE, dentro de uma perspectiva inter etransdisciplinar e no mbito de um programa extensionista, junto acrianas e adolescentes em situao de risco social, busca por meio daspotencialidades da sustentabilidade incorporar s situaes reais deensino e aprendizagem de forma interativa e ldica. Ancorada numambiente artstico-cultural de aprendizagem, conceitos dasustentabilidade so aplicados, experimentados estabelecendo-se arelao do sujeito com o objeto de aprendizagem. Metodologia: Utiliza-se como proposta metodolgica a pedagogia de projetos, que busca pormeio da interao e da construo coletiva e cooperativa, numaperspectiva inter e transdisciplinar, uma estratgia de inter-relao,integrao dos atores envolvidos a construo e reconstruo de saberese conhecimentos. Todo esse processo exige uma nova abordagem terica,centrada na valorizao do conhecimento que signifique aprender abuscar o saber - novas formas de aprender fundamentadas muito maisnos sentidos, sentimentos, valores e emoes.Resultados e Discusso: A proposta de utilizao da arte-educao comoinstrumento de ao/interveno tem contribudo para a quebra deparadigmas, rompendo com a padronizao. Tem possibilitado a criaode espaos de comunicao, de expresso das pessoas. Instrumento derepresentao da realidade, e, principalmente de transformao de seusmundos. O projeto teve como resultados positivos o envolvimento de25 (vinte e cinco) crianas e adolescentes, podendo-se observar aparticipao dos mesmos nas oficinas temticas sobre sustentabilidade.Concluses: Os resultados indicam que possvel implementar umprojeto social, embora possam ocorrer uma srie de dificuldades, taiscomo infraestrutura fsica e tecnolgica disponibilizada pela instituio,instabilidade na frequncia das crianas e adolescentes nas oficinas (emfuno do momento poltico por exemplo algumas crianas e ouadolescentes esto faltando para trabalhar na campanha poltica).Foram encontradas as seguintes possibilidades pedaggicas: rodas deconversas no incio e final das oficinas; aproveitamento de situaesconcretas surgidas nas oficinas para discutir valores; procedimentos quevalorizam a participao ativa na resoluo de conflitos. Os resultadosdeste estudo permitem apontar para a expectativa de que hajapossibilidades de um programa mais efetivo e eficaz no mbito de umprojeto social.

    2- Conceitos e percepes da terceira idade sobre DST e AIDSIntegrantes: Joo Carlos de Aquino Almeida e colaboradores.Objetivo: Estabelecer uma relao dialgica com os gruposinvestigados, captar seus conceitos e percepes sobre sexualidade,reproduo e desenvolvimento embrionrio e, a partir da, desenvolver

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  • materiais e metodologias relacionados ao desenvolvimento dessetema em cenrios formais e no-formais de ensino-aprendizagem,de modo a: a) Registrar os conceitos e percepes de indivduosda terceira idade sobre os temas investigados, com o auxlio deuma equipe multidisciplinar; b) Discutir propostas de ensino a fimde se detectar a significncia dos temas para os sujeitos da pesquisa;c) Produzir material didtico significativo e preciso; d) Desenvolvermetodologias apropriadas de ensino-aprendizagem; e) Obter umganho real no processo de ensino-aprendizagem, avaliado pelosindicadores criados no desenvolvimento do Projeto. Mtodo:trabalho investigativo, mediante a aplicao de questionrios,realizao de entrevistas, palestra e debates com o grupo de terceiraidade. Fases do projeto: a) Realizao de reunies com os prpriossujeitos da pesquisa, a fim de se explicar os objetivos do projeto ede se obter autorizao para participao, mediante preenchimentode termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), e termo deautorizao para uso da imagem, quando for o caso; b) Aplicaode questionrios; c) Realizao de entrevistas, debates e mesas-redondas, em diferentes momentos e com diferentes atoresenvolvidos (membros da terceira idade, lderes comunitrios,equipe); d) Criao de material didtico; e) Avaliao do materialdidtico pelos participantes; f) Criao de kits didticos; g) Criaoe aplicao de aulas e outras estratgias visando o processo deensino-aprendizado; h) Avaliao da fixao de conceitos; i)Avaliao dos participantes sobre o projeto

    3-Prevalncia da Doena Renal Crnica e fatores de riscoassociados nos idosos do Programa Idoso Saudvel, Camposdos Goytacazes-RJ.Integrantes: Joo Carlos Borromeu Piraciaba, Vera Lucia Marquesda Silva, Tamires Teixeira Piraciaba, Amanda Freire de Almeida,Laila Crespo Lamnica, Monique do Vale da Silveira, Renata deAlmeida Frana, Maria Clara Teixeira Piraciaba, Laisse MarinsDefanti, Rachel Siqueira de Menezes.Objetivo: Avaliar prevalncia e grau de leso renal em idososparticipantes do Grupo Idoso Saudvel, RJ, associando-os aosfatores de risco. Mtodo: estudo observacional transversal, comamostra no-probabilstica de convenincia composta por 57 idosos,de ambos os sexos. O grau de funo renal foi quantificado pelafrmula de Cockcroft-Gault e estadiado segundo os critrios doNational Kidney Foudation. Resultados: Dos 58 idososinvestigados, 31% encontraram-se no estgio I da DRC; 25,8% emestgio II; 34,5% em estgio III; 5,1% em estgio IV; 1,7% emestgio V. No estgio I encontrou-se 66,7% obesos, 72,2% HAS e38,9% DM. No estgio II: 33,3% so obesos, 73,3% possuem HASe 26,7% possuem DM. No estgio III: 15% so obesos, 90%possuem HAS e 40% possuem DM. No estgio IV: 66,7% possuemHAS, neste estgio no foram observados idosos com DM e/ouobesidade. No estgio V: 100% possuem DM e HAS, porm noforam observados obesos. CONCLUSO Detectou-se 25,8% dosidosos em estgio II e 34,5% em estgio III da DRC, sendo a HASo fator de risco associado mais encontrado. Torna-se fundamental,portanto, a deteco precoce e o controle dos fatores de risco

    associados DRC, alm da identificao precoce nas alteraes na Taxade Filtrao Glomerular em idosos, a fim de institurem-se medidaspreventivas capazes de impedir e/ou reduzir o avano da DRC, comoprogramas de controle de fatores de risco modificveis.4-Impacto de um grupo interdisciplinar de ateno sade do idososobre os fatores determinantes da capacidade funcionalIntegrante: Raphael Freitas Jaber de Oliveira, Vera Lucia Marques daSilvaObjetivo: Avaliar a efetividade das aes do grupo interdisciplinar queatua sobre os idosos. Mtodo: Entrevistas livres com 60 idosospertencentes ao GIS e 60 idosos no pertencentes ao GIS do bairro deCustodpolis utilizando as escalas de Katz, Lawton e Tinetti e aCaderneta de Sade da Pessoa Idosa. Para anlise comparativa utilizamoso software EpiInfo. Resultado: Em relao ao perfil dos idosos dacomunidade: os idosos do GIS apresentaram idade mdia mais elevada;o sexo feminino representou a maioria nas amostras; a anlise do perfilsocioeconmico demonstrou, predominantemente, baixa escolaridade,atividade laboral de intensa exigncia fsica e, economicamente,beneficirios de um salrio mnimo proveniente da aposentadoria. Emrelao avaliao funcional: a anlise comparativa dos fatores de riscode h um ano e sete meses atrs e da atualidade dos idosos do GISdemonstrou diminuio nos percentuais de obesidade, etilismo etabagismo, representados por queda de, respectivamente, 25%, 16,7 e8,4%. O perfil patolgico dos idosos do GIS ilustrou uma transiocom queda de pelo menos 3,4% em todas as patologias, destacando-sehipertenso arterial, diabetes melito tipo 2 e depresso, com valores de21,6%, 15% e 11,7%, respectivamente. Nos idosos pertencentes ao GIS,a avaliao das atividades de vida diria, atividades instrumentais devida diria e habilidades de equilbrio e caminhada demonstrou melhora,respectivamente, de 20,0%, 18,4% e 8,3% em comparao ao outrogrupo. Diante destas alteraes, 71,6% dos idosos participantes do GISreferem timo estado de sade. Concluso: Conclui-se que, apesar dasvulnerabilidades sociais, ambientais e econmicas, caractersticas dobairro de Custodpolis, o GIS pde intervir nesta realidade, oferecendo populao idosa a prtica regular de atividade fsica, educao emsade, aferio da presso arterial, medio da glicemia eaconselhamento nutricional, que proporcionaram prognstico positivopara a sade dos idosos, que se concretizaram na melhora da capacidadefuncional.

    5- Perfil e avaliao soroepidemiolgica da toxoplasmose em idososno programa da terceira idade do Centro de Sade Escola deCustodpolis, em Campos dos Goytacazes, RJ.Integrantes: Meire Cardoso da Mota Bastos, Monique do Vale daSilveira, Nathlia Mota de Faria Gomes, Dr. Ricardo Guerra Peixe, Dra.Annelise Wilken de Abreu,Doena infectocontagiosa causada pelo Toxoplasma gondii, em geral,assintomtica em 10 a 20% dos imunocompetentes. As manifestaesclnicas decorrem de sua reativao em imunocomprometidos. O idosoem decorrncia de mudana no sistema imunolgico pode desenvolverdoenas infectocontagiosas (Netto, 1996). Dados recentes revelam aalta prevalncia da toxoplasmose na cidade de Campos dos Goytacazescomprovando que a idade um importante fator de risco para esta doena,

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  • e ainda o uso de gua no filtrada e/ou de poos, e a presena degatos no domiclio. Objetivo: Estudar, mediante anlisesoroepidemiolgica, a toxoplasmose nos idosos atendidos peloPrograma da Terceira Idade do Centro de Sade Escola deCustodpolis (CSEC), no Municpio de Campos dos Goytacazes-RJ, visando contribuir para um melhor entendimento da doena nestapopulao. Mtodo: Estudo observacional transversal, realizado em2009 com amostra no probabilstica. Foram avaliados 52 idosos,ambos os sexos, atendidos no CSEC. A varivel principal, tertoxoplasmose, foi avaliada atravs da presena da imunoglobulinaG (IgG) especfica no sangue perifrico. Os fatores de risco foramavaliados por entrevista com uso do protocolo de pesquisa contendoas seguintes variveis: sexo, idade, tipo de residncia, prtica dejardinagem e exposio a animais, gua e aos alimentos. A anlisedos dados foi estatstica. Resultados: A amostra era formada por9,62% de homens e 90,38% de mulheres, idade mdia de 67,63.Dos 52 idosos analisados, 92,31% eram IgG positivo paraToxoplasmose. Dos fatores de risco associados, 100% dos idososmoravam em casa; 78,85% mexiam em jardins; 78,85% possuamanimais; 44,23% bebiam gua no filtrada; 19,23% consumiam carnede boi e/ou de galinha mal passadas; 59,62% consumiam legumes e/ou verduras cruas. Concluso: A prevalncia de toxoplasmose foibem alta nesta populao, em acordo com Bahia de Oliveira et al.(2002) que mostrou que aos 40 anos 80% da populao localapresentou toxoplasmose. A mudana no sistema imunolgicoobservada no geronte levanta a possibilidade de reativao datoxoplasmose nesta faixa etria. Os dados observados permitiroainda um melhor acompanhamento prospectivo dos idosos e odelineamento de estratgias de sade pblica.

    6-Cidade de Palha: re-conhecendo o territrio de Custodpolis/Campos dos Goytacazes/RJ.Integrantes: Denise Chrysstomo de Moura Junc, Katarine SSantos, Vernica Gonalves Azeredo, Carlos Antnio de SouzaMoraes, Marilene Parente Gonalves, Ana Paula Pessanha Cordeiro,Ellen Christel Gomes Moraes, Josemara Henrique da Silva Pessanha,Celma Cristina Morais de Oliveira Batista, Paula Emely CabralTorres, Aline da Silva Viana Jorge, Ksia da Silva Tosta, Vera LuciaMarques da Silva, Igor Leal Pena, Christovam Cardoso, Regina CoeliMartins Paes de Aquino, alm de aproximadamente 50 acadmicosda UFF, IFF, FMC e UNIVERSO.

    O projeto Cidade de Palha, inserido no PBS, consiste em umaexperincia interdisciplinar e interinstitucional, envolvendo docentese discentes do ensino superior das reas de servio social, medicina,enfermagem e arquitetura e urbanismo. Trata-se de uma proposta depesquisa e extenso que busca responder s seguintes questes: Comose desenham as vulnerabilidades socioeconmicas, ambientais e civisexistentes em Custodpolis e que influncias elas exercem no sentidode dificultar sua constituio como um bairro saudvel? Objetivo:Construir um diagnstico scio-ambiental do bairro, disponibilizandosubsdios para a implementao de estratgias direcionadas

    promoo de melhorias na sade (Meirelles; Erdmann, 2006) de seusmoradores, investindo-se no exerccio da cidadania deliberativa (Tenrio,2006). Mtodo: A primeira fase do projeto (2008) fundamentou-se nodesenvolvimento de uma pesquisa-ao, articulada histria oral eanlise documental, culminando com a elaborao de um diagnsticopreliminar da comunidade, disponibilizado tanto a prpria comunidade,quanto as instituies parceiras do PBS. Em seguida (2009 e 2010), foirealizado um inqurito populacional, cuja importncia como canal deinformaes reconhecida, principalmente, no campo da sade (Viacava,Dachs; Travassos, 2006), uma vez que se constitui como fonte primriade dados e propicia a construo de indicadores capazes deinstrumentalizarem estudos epidemiolgicos, sinalizando parmetrospara o planejamento de aes. Buscava-se, portanto, um aprofundamentodas discusses sobre o territrio (Santos, 2007) investigado, focalizandoo cotidiano das famlias e observando-se as indicaes de Busso (2002,p.12), sobre as principais dimenses da vulnerabilidade, ou seja, dehabitat, de capital humano, econmica, de proteo social e de capitalsocial. Atingiram-se mais de 50% das famlias residentes no territriopesquisado e, ainda em 2010, foi iniciada a tabulao, anlise einterpretao dos dados, bem como a elaborao do relatrio, concludoem 2011. Resultado: O diagnstico apontou uma paisagem caracterizadapor um processo de descidadanizao (Kovarik, 2003), pondo emdestaque situaes e contextos onde trs elementos se combinam: aexistncia de riscos, a incapacidade de reao, alm de dificuldades deadaptao face materialidade do risco (Moser, 1998). Conclusoparcial: Com um olhar voltado para o passado e com um presentepermeado por contradies, Custodpolis vivencia um confronto entreo cenrio real e o desejado, com vulnerabilidades em vrias dimenses,desenhando modos de vida que precisam ser redimensionados pel