livro_19_leitura_e_ensino

Upload: thamires-dearo

Post on 07-Mar-2016

138 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Leitura e ensino

TRANSCRIPT

  • Leitura e ensino

  • Maring2010

    editora da universidade estaduaL de Maring

    Reitor Prof. Dr. Dcio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mrio Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini

    ConseLho editoriaL

    Presidente Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor Associado Prof. Dr. Ulysses Cecato Vice-Editor Associado Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza EditoresCientficos Prof. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lcia Rodrigues Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Prof. Dr. Clves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Prof. Dr. Evaristo Atncio Paredes Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Prof. Dr. Joo Fbio Bertonha Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Profa. Dra. Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Prof. Dr. Ronald Jos Barth Pinto Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves Profa. Dra. Terezinha Oliveira Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valria Soares de Assis

    equipe tCniCa

    ProjetoGrficoeDesign Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mnica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio ArtesGrficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercializao Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima

  • Maring2010

    Formao de ProFessores - ead

    Leitura e ensino

    RENILSON JOS MENEGASSI(ORGANIZADOR)

    19

    2. ed.

  • Leitura e ensino / Renilson Jos Menegassi. 2. ed. Maring : Eduem, 2010. 190 p. ; 21 cm. (Formao de Professores - EAD; v. 19).

    ISBN 978-85-7628-285-3

    1. Leitura Estudo e ensino. 2. Leitura Conceitos. 3. Ensino de leitura Estratgias. 4. Literatura para crianas Narrativas. I. Menegassi, Renilson Jos, org.

    CDD 21. ed. 372.4

    L533

    Coleo Formao de professores - ead

    Apoio tcnico: Rosane Gomes Carpanese

    Normalizao e catalogao: Ivani Baptista CRB - 9/331

    Reviso Gramatical: Annie Rose dos Santos

    Edio, Produo Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio

    Jnior Bianchi

    Eliane Arruda

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Copyright 2010 para o autor

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo

    mecnico, eletrnico, reprogrfico etc., sem a autorizao, por escrito, do autor. Todos os direitos

    reservados desta edio 2010 para Eduem.

    Endereo para correspondncia:

    eduem - editora da universidade estadual de Maring

    Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitrio

    87020-900 - Maring - Paran

    Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392http://www.eduem.uem.br / [email protected]

  • 3Sobre os autores

    Apresentao da coleo

    Apresentao do livro

    CaptuLo 1Conceitos de leitura

    Renilson Jos Menegassi / Cristiane Malinoski Pianaro Angelo

    CaptuLo 2Estratgias de leitura

    Renilson Jos Menegassi

    CaptuLo 3A produo de sentidos na aula de leitura

    Llian Cristina Buzato Ritter

    CaptuLo 4Avaliao de leitura

    Renilson Jos Menegassi

    CaptuLo 5Literatura para crianas: a narrativa

    Rosa Maria Graciotto Silva

    CaptuLo 6A leitura de poesia na escola

    Mirian Hisae Yaegashi Zappone

    CaptuLo 7Perguntas de leitura

    Renilson Jos Menegassi

    > 5

    > 7

    > 9

    > 15

    > 41

    > 65

    > 87

    > 109

    > 139

    > 167

    umrioS

  • 5CRISTIANE MALINOSKI PIANARO NGELO

    Professora da Universidade do Centro-Oeste (Unicentro). Graduada em

    Letras (Unicentro). Mestre em Letras (UEM).

    LLIAN CRISTINA BUZATO RITTER

    Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em

    Letras (UEM). Mestre em Lingustica Aplicada (UEM).

    MIRIAN HISAE YAEGASHI ZAPPONE

    Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em

    Letras (UEM). Mestre em Letras (Unesp). Doutora em Teoria da Literatura

    (Unicamp).

    RENILSON JOSE MENEGASSI

    Professor da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduado em

    Letras (UEM). Mestre em Lingustica (UFSC). Doutor em Letras (Unesp).

    ROSA MARIA GRACIOTTO SILVA

    Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em

    Letras (Feeclep). Mestre em Letras (USC). Doutora em Letras (Unesp).

    obre os autoresS

  • 7A coleo Formao de Professores - EAD teve sua primeira edio publicada em

    2005,com33 ttulosfinanciadospelaSecretariadeEducaoaDistncia(SEED)do

    MinistriodaEducao(MEC)paraqueoslivrospudessemserutilizadoscomomaterial

    didticonoscursosdelicenciaturaofertadosnombitodoProgramadeFormaode

    Professores(Pr-Licenciatura1).Atiragemdaprimeiraediofoide2500exemplares.

    Apartirde2008,demosincioaoprocessodeorganizaoepublicaodasegunda

    ediodacoleo,comoacrscimode12novosttulos.Aconclusodostrabalhos

    deverocorrersomentenoanode2012, tendoemvistaqueofinanciamentopara

    estaedioserliberadogradativamente,deacordocomocronogramaestabelecido

    pelaDiretoriadeEducaoaDistncia(DED)daCoordenaodeAperfeioamentode

    PessoaldoEnsinoSuperior(CAPES),queresponsvelpeloprogramadenominado

    UniversidadeAbertadoBrasil(UAB).

    Aprincpio,seroimpressos695exemplaresdecadattulo,umavezqueoslivros

    da nova coleo sero utilizados como material didtico para os alunos matriculados

    noCursodePedagogia,ModalidadedeEducaoaDistncia,ofertadopelaUniversi-

    dadeEstadualdeMaring,nombitodoSistemaUAB.

    Cadalivrodacoleotraz,emseubojo,umobjetodereflexoquefoipensado

    paraumadisciplinaespecficadocurso,masemnenhumdeles seusorganizadores

    e autores tiveramapretensodedar contada totalidadedasdiscusses tericas e

    prticasconstrudashistoricamentenoquesereferemaoscontedosapresentados.O

    quebuscamos,comcadaumdoslivrospublicados,abrirapossibilidadedaleitura,

    dareflexoedoaprofundamentodasquestespensadascomofundamentaisparaa

    formaodoPedagogonaatualidade.

    Por isso mesmo, esta coleo somente poderia ser construda a partir do esforo

    coletivo de professores das mais diversas reas e departamentos da Universidade Esta-

    dualdeMaring(UEM)edasinstituiesquetmsecolocadocomoparceirasnesse

    processo.

    Nestesentido,agradecemossinceramenteaoscolegasdaUEMedasdemaisinsti-

    tuiesqueorganizaramlivroseouescreveramcaptulosparaosdiversoslivrosdesta

    coleo.

    Agradecemos, ainda, administrao centraldaUEM,quepormeioda atuao

    diretadaReitoriaedediversasPr-Reitoriasnomediuesforosparaqueostraba-

    lhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possvel. De modo bastante

    presentao da ColeoA

  • Leitura e ensino

    8

    especfico,destacamosoesforodaReitoriaparaqueosrecursosparaofinanciamento

    destacoleopudessemserliberadosemconformidadecomostrmitesburocrticos

    ecomosprazosexguosestabelecidospeloFundoNacionaldeDesenvolvimentoda

    Educao(FNDE).

    Internamente enfatizamos, ainda, o envolvimento direto dos professores do De-

    partamentode Fundamentos da Educao (DFE), vinculado aoCentrodeCincias

    Humanas, Letras eArtes (CCH),quenodecorrerdosltimos anos empreenderam

    esforosparaqueocursodePedagogia,namodalidadedeeducaoadistncia,pu-

    dessesercriadooficialmente,oqueexigiuumrepensardotrabalhoacadmicoeuma

    modificaosignificativadasistemticadasatividadesdocentes.

    No tocante ao Ministrio da Educao, ressaltamos o esforo empreendido pela

    Diretoria da Educao a Distncia (DED) da Coordenao de Aperfeioamento de

    Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e pela Secretaria de Educao de Educao a

    Distncia(SEED/MEC),queemparceriacomasInstituiesdeEnsinoSuperior(IES)

    conseguiramromperbarreirastemporaiseespaciaisparaqueosconvniosparaali-

    beraodosrecursosfossemassinadoseencaminhadosaosrgoscompetentespara

    aprovao,tendoemvistaaaodiretaeeficientedeumnmeromuitopequenode

    pessoasqueintegramaCoordenaoGeraldeSupervisoeFomentoeaCoordenao

    GeraldeArticulao.

    EsperamosqueasegundaediodaColeoFormaodeProfessores-EADpossa

    contribuirparaaformaodosalunosmatriculadosnocursodePedagogia,bemcomo

    deoutros cursos superiores adistnciade todas as instituiespblicasde ensino

    superiorqueintegrameoupossamintegraremumfuturoprximooSistemaUAB.

    MariaLuisaFurlanCosta

    Organizadora da Coleo

  • 9para que Ler?

    Minhafilhadeseteanosestavarealizandosuatarefadaprimeirasrie,nolivrode

    Portugus,ecomeouareclamarsobreocontedo,perguntando-me:Paraqueessas

    perguntas?Nomelhorslerotexto?

    Inicialmente,indaguei-lheoqueestavaperguntando,poisnoconseguiaentender.

    Suarespostafoipronta,porm,atravsdeduasoutrasperguntas:Paraqueperguntas,

    searespostaestnotexto?!Nomelhorlersomenteotexto?!.

    Paracompreenderessasituao,transcrevoatarefaqueapequenarealizava:

    Essanotciaapareceuemumarevista.Leia:

    Cachorro CiclistaCachorro tambm sabe pedalar. No Japo, o dlmata Momotar vem encantando adultos e crianas com suas habilidades em cima de uma bicicleta. Momotar tem 3 anos e seu dono garante que o animal aprendeu a pedalar em apenas seis semanas. O dlmata ciclista virou at estrela de televiso, participando, constantemente, de programas (Revista Z, ano I, n. 9 abril 1997, p. 9).

    interpretao oraLProcure,comseuprofessoreseuscolegas,arespostaparacadaperguntaabaixo.Voltem

    notciaparaencontrarainformaoeanotemarespostanalinhadiantedecadapergunta:

    Emquerevistafoipublicadaestanotcia?Z

    Emqueanofoipublicadaanotcia?1997

    Oqueocachorrosabefazer?Pedalar, andar de bicicleta

    Emquantotempoeleaprendeuafazerisso?Seis semanas

    Qualaraadocachorro?Dlmata

    Qualonomedocachorro?Momotar

    Emquepasocachorrovive?No Japo

    Quantosanosocachorrotinhaquandoanotciafoipublicada?3 anos

    Quantosanosocachorrotemagora,quandovocestlendoanotcia?A reposta depende do ano em que o livro esteja sendo usado: somar o nmero de anos transcorridos desde 1997 aos 3 anos que o cachorro tinha nesse ano.

    (SOARES,Magda.Portugus:umapropostaparaoletramento:ensinofundamental.SoPaulo:Moderna,1999.v.1.p.116-117.).

    presentao do livroA

  • Leitura e ensino

    10

    Depoisdelerasquestes,percebiqueminhafilhatinharazo.Suaprofessorado

    primeiro ano, assimcomo todas asprofessorasdaEducao Infantil queestiveram

    desenvolvendo a sua leitura, est fazendo um trabalho interessante de formao e de-

    senvolvimentodoleitorcomcriticidade,apartirdasnoesdosociointeracionismo.

    Contudo,oexercciodolivrodidticoempregado,consideradoumdosmelhoresna

    poca(em2005),mostracrianaquealeituraalgosemsentido,poisbastabuscar

    notextoasrespostascertasecopi-lasparateraatividadecompleta.Comominhafilha

    aprendeu a ler, com a professora, o texto a partir de sua idiossincrasia, construindo

    sentidosprprios,aquestionarotexto,ainteragircomoautor,arealizarumdilogo

    comotextoeconsequentementecomseuautor,elapercebeuqueasperguntasapre-

    sentadasnofaziamsentidoalgum,oumelhor,nolhepossibilitavamaconstruode

    umnovosentido,noafaziamtrabalharcomaleiturasobreotexto.

    Apsessareflexo,voltei-meparaminhafilhaeperguntei:Oquepodeserfeito,

    ento?.Suaresposta foinovamentepronta: Lero texto!.Foioquefizemos. Jun-

    tos,conversamossobreotexto,retirandodeleinformaesqueestavamexplcitase

    implcitas,criando,duranteesseprocesso,umasriedeperguntas,queoraeufazia,

    ora ela me fazia, sempre buscando respostas, servindo como uma mediao para a

    manutenodenossas interaes,paraaproduodeumdilogoemqueestavam

    presentestrsatores:acriana,otextoCachorro Ciclistaeopai.Aofinal,depoisde

    encontrarmosjuntosmuitasinformaesrelevantesaotexto,pequenaeamim,ela

    aindamedisse:Viu,assimquesel!.

    Comessadescrio,possoafirmarquenossosprofessoresdoprimeiroesegundo

    ciclos do Ensino Fundamental, assim como tambm os professores de Educao Infan-

    tiledoEnsinoMdio,estobuscandoconstruirumensinodeleituramaisprximoda

    realidadenecessriasociedadeatual.Ascrianasnoaceitammaistratamentossu-

    perficiaisparaotexto,emqueperguntasdecopiaosoapresentadasparaquepre-

    enchamumespaomecanicamente,construindoumainaptidoleitura,formando

    leitoresquesetornemeleitoresapenas,quesaibamleroqueasinstnciasideolgicas

    superioresdesejamqueleiamparapodervotarnocandidatocerto.Pelocontrrio,elas

    trazemparaasaladeaulasuasleiturasdomundoexternoescolaedesejamquens

    professorespossamosajud-lasadesenvolveraleiturademodoeficaz.

    Para compreender como esse processo de leitura se efetiva na sala de aula, auxilian-

    do o professor de Ensino Fundamental a conhecer, entender, ensinar e desenvolver a

    leituranascrianas,estelivroapresentaumasriedecaptulosquediscutemmuitos

    aspectosqueenvolvemoensinoeaaprendizagemde leitura,permitindoaoaluno

    deEducaoaDistnciaestudarecompreendermelhorarealidadedaeducaobra-

    sileiraatual,nosseusaspectos tericoseprticos.Os textos foramproduzidospor

  • 11

    professores-pesquisadoresenvolvidosdiretamentecomaformaodoleitor,abordan-

    doquestessobrealnguaealiteraturaempregadasnoBrasil,apartirdoolharda

    leituranaescola.

    Dessaforma,estelivroestorganizadoemumasequnciaquepermiteaoalunoler

    oscaptulosemumaordemquelhefacilitarosprocessosdecompreensoedeensi-

    noeaprendizagemdaleitura,apartirderefernciasssituaesdeensinodelngua

    materna.Assim,sugerimosaleituradecadacaptulonaordemdesuasapresentaes.

    OcaptuloConceitos e leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM)eCristianeMa-

    linoskiPianarongelo(Unicentro),apresentaumavisopanormicadosconceitosde

    leituratrabalhadosnoBrasil.Otextodiscutealeituraapartirdequatroperspectivas

    diferentes,queenvolvemvariadasposiesdaLingustica,daLingusticaAplicadaede

    suasvertentesdepesquisa:aperspectivadotexto;aperspectivadoleitor;aperspecti-

    vainteracionista;aperspectivadiscursiva.Cadaconceitoexplicadoapartirdeexem-

    plosqueelucidamecaracterizamsuasposiestericas.Aofinal,ocaptuloressaltaa

    importnciadeoprofessorconhecerosconceitosqueperpassamaescolabrasileira,

    paradominareaplicaraposioterico-prticaqueembasamuitasatividadesdelei-

    turaatuaispropostasnosmateriaisdidticosempregadosemsaladeaula.

    OcaptuloEstratgias de leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM),apresentao

    quesoestratgiasdeleituraapartirdaconcepointeracionistadeleitura,discutin-

    dosuarelaocomoensino.Paraelucidaroprocesso,oferecidoumexemplode

    leituracomasestratgiasemumahistriaemquadrinhos,parailustrarcomoproceder

    aoensinodeestratgiasdeleiturajuntamentecomalunos.Almdisto,otextotambm

    apresentaumadiscussoacercadasestratgiasdecompreensoqueocorremnopro-

    cessodeleitura,enfatizando-seoantes,oduranteeodepoisnaleitura.

    OcaptuloA produo de sentidos na aula de leitura,deLlianCristinaBuzatoRit-

    ter(UEM),apresentaasanlisesdeaulasdeleituraefetivadasnoEnsinoFundamental,

    refletindoacercadosporqusdeprocedimentosmetodolgicostradicionaissemani-

    festaremtopresencialmentenasaladeaula.Paraisto,aautoradescreveetrazpartes

    degravaesrealizadasduranteaulasdeleitura,quedemonstramaformaodoleitor

    nosistemaeducacionalbrasileiro,oucomoelamesmaemprega:aformaodeum

    pseudo-leitor.Duranteadiscussodosprocedimentostradicionaisempregadospela

    professora,ocaptulocaracterizadeformaobjetivaospontosquetodoprofessordeve

    atentarduranteoplanejamento,aexecuoeaavaliaodesuasaulasdeleitura.Ao

    final,mantendoaobjetividadecomosuacaracterstica,aautoraapresentaosaspectos

    metodolgicosadequadossaladeleitura.

    Almde apresentar oque tradicionalmente se faz em sala e oque seria o ade-

    quadoaumaaulade leitura, a autora convidao leitor,umprofessorem formao

  • Leitura e ensino

    12

    universitria,arefletirsobresuaprpriaprticadeleituraededocnciadeleitura,que

    oprincpiobsicodequalquertransformao:aauto-reflexo.

    O captuloAvaliao de leitura, de Renilson JosMenegassi (UEM), apresenta

    umadiscussorelativaaoqueaavaliaoformativaemleitura,enfocando-acomo

    uminstrumentoparaaformaodoleitornaescola.Tambmsoapresentadasvrias

    atividadesrelacionadasavaliaodeleitura,emumaperspectivainteracionista,que

    podemserutilizadasemsaladeaula.Doispontossoenfatizadosnotexto:adiscusso

    relativaproduodeperguntasnaavaliaodeleituraeareflexosobrealeituraem

    vozaltanasaladeauladeEnsinoFundamental.

    OcaptuloLiteratura para crianas: a narrativa,deRosaMariaGraciottoSilva

    (UEM), abordaumpanorama sobre a Literatura Infantil, abrangendo as fbulas, os

    contosdefadas,ashistriasdeMonteiroLobatoedeautoresmaisatuais,comoAna

    MariaMachado.Destacamosamaneiradidticadaautoraque,emsuaexposio,con-

    taahistriadaLiteraturaInfantil,sendocoerentecomasanlisesdenarrativasque

    evidenciaao longodo texto.AlmdeelucidaroscaminhosdaLiteratura Infantil,a

    autora apresenta uma comparao analtica da histria de Chapeuzinho Vermelho,

    envolvendoautoresdaLiteraturaUniversaledaLiteraturaBrasileira.Tambmmostra

    aoleitorcomoanalisarumaobradeliteraturaparacrianasapartirdereflexesrefe-

    renteshistriaMenina bonita de lao de fita,deAnaMariaMachado.Percebemos

    queotextoricoeminformaes,mostrandoaimportnciadaLiteraturaInfantilna

    formaoenodesenvolvimentodoleitornoEnsinoFundamental.

    OcaptuloA leitura de poesia na escola,deMirianHisaeYaegashiZappone(UEM),

    apresenta a poesia como uma forma de ler, sentir e fruir o mundo, sempre a partir da

    formaodoleitornaescola,muitasvezesesquecidaenocompreendidacomotraba-

    lhodeleituraeformaodocidadobrasileiro.Assim,nodecorrerdotexto,aautora

    explicaaimportnciadeselerpoesiaparaecomosalunosdoEnsinoFundamental,

    enfatizandoosmodoscomoelafoielidanaescolabrasileira.Parailustrarumaan-

    lise de como proceder ao trabalho com a poesia em sala de aula, o texto apresenta,

    inicialmente, um poema de Carlos Drummond de Andrade, Os Cantores Inteis, em

    queanalisacadaumdosprocedimentosliterriosnecessriosasualeitura.Almdisso,

    aautoraespecificaminuciosamenteaproduodeleituradepoesiasinfantisapartir

    dedoisexemploscomentadosdepoemas:Pagodeira,deJosElias,eAula de leitura,

    deR.Azevedo,emqueanalisa,juntocomoleitor,cadaelementonecessrioaoconhe-

    cimentodoprofessorparaotrabalhodeleituradepoesiacomoaluno.

    OcaptuloPerguntas de leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM),discorresobre

    comoasperguntasdeleitura,empregadascomoinstrumentosdeavaliao,soconsi-

    deradasemcadaumadasperspectivasdeleituraempregadasemsaladeaula,sempre

  • 13

    atravsdeexemplos recolhidosde situaesnaturaisdeensinode lnguamaterna.

    Tambmdiscuteumapropostadetrabalhodeproduodeperguntasdeleituraapar-

    tirdaconcepointeracionista,emqueseconsideramaordenaoeasequenciao

    dasquestes,comoobjetivodelevaroleitoraumdesenvolvimentonoseuprocesso

    deleitura.Ademais,otextotambmenfocaaimportnciadeseterrespostascomple-

    tassperguntas,paraquea relao leitura-escrita seestabeleade formanaturale

    dialgicanasaladeaula.

    A partir da leitura e estudo dos captulos apresentados, o aluno de Educao a Dis-

    tnciaconseguircompreenderoprocessodeleituraestudadoepropostoatualmente

    noBrasil,possibilitando-lheconhecimentosnecessriosimplementaodeensino

    eaprendizagemdeleituramaiscondizenterealidadeemqueatuaouatuar,ofere-

    cendo-lheumasriedeconceitos,exemplosereflexesqueauxiliamnacompreenso

    de seuprprioprocessode leitura,enquanto leitoreprofessor,parapermitiruma

    compreensomaisapuradadoprocessodeleituradosalunos.Nestesentido,apsa

    apresentaodestelivro,possvelvoltarmosquestoqueoabre:Paraqueler?,res-

    pondendoqueparaformarleitores-cidadoscompetentes(notequeumapalavra

    s,poisespera-sequejuntasformemumserhumanomelhor)quelevemoBrasileos

    brasileirosaumamelhorianaeducao,e,consequentemente,constituiodeum

    futurocertosnossascrianas.

    RenilsonJosMenegassi

    Organizador

  • 15

    Renilson Jos Menegassi / Cristiane Malinoski Pianaro Angelo

    Ahistriadoensinodeleituranaescolabrasileirademonstraquevriosconceitos

    deleituraperpassampelassalasdeaulas.Aqui,soexpostososprincipaisconceitos

    trabalhadosnoensinode lnguamaterna,paraqueoprofessorem formao saiba

    identificar,nomaterialdidtico,noplanejamentodasaulasenasprticascotidianasda

    saladeaulaqualconceitodeleituraestsubsidiandooensinonasituaoespecfica

    emqueseencontra.

    Odesenvolvimentodeteoriassobreleituraestatreladoaodesenvolvimentoda

    prpria Lingustica, comoa cinciaqueestuda a linguagemhumana articulada,no

    casoafalaeaescrita.Aprincpio,oobjetodeinvestigaoeramasunidadesisoladas

    dalngua,comoosfonemas,ossons,aspalavras,asfrases;comodesenvolvimentodas

    pesquisasdascinciasdalinguagem,enfocandoaquitodasasvertentesquesurgiram

    apartir da Lingustica, como a Psicolingustica, oGerativismo, a Sociolingustica, a

    Pragmtica,aLingusticaAplicada,aAnlisedoDiscurso,aLingusticaTextual,paraci-

    tarmosapenasalgumas,ofocofoialterando-seatchegarconcepodetextocomo

    unidade comunicativa e s condies scio-histricas-ideolgicas emqueo texto

    produzido,propostaemvoganaatualidadecomocaractersticaprincipaldoconceito

    deleituradifundidonasescolasbrasileiras.

    Kato(1986)apresenta,aindaquesumariamente,umpanoramadastendnciasque

    exerceraminfluncianomododeseconceberaleituraaolongodosculoXX.Nalin-

    gusticaestruturalista,pensa-sealeituracomodecodificao,palavraquenateoriada

    leiturasignificapassardocdigoescritoparaocdigooral,isto,lernaescritaapala-

    vra casa e produzir na fala a palavra [caza],comsomde[z],sabendo-sequeseescreve

    coms,emumatransposiodapalavraescritaparaapalavrafalada.Acredita-seque,

    umavezrealizadaessadecodificao,depalavraempalavra,chega-sesemproblemas

    aocontedo,isto,oleitorapenasdecodificandoapalavra,conseguiria,porumdis-

    positivomgicoexistenteemseucrebro,juntartodasaspalavras,mesmoasqueno

    conhece,dandoaotextoumcontedocomoopretendidopeloautorqueoproduziu.

    Durantemuitosanosessefoioconceitodeleituradifundidonasescolasbrasileiras.

    Conceitos de leitura1

  • Leitura e ensino

    16

    Um segundo conceito surge quando se constata a importncia do conhecimen-

    tolexicaldoleitorparaidentificarapalavra,ouseja,oconhecimentovocabulardas

    palavrasqueoleitortemnamemriasobrealnguaqueutilizanodiaadia.Oleitor

    considerado,apartirda,comoantecipadordapalavraquevailer(KATO,1986,

    p.61),umavezquejteminternalizadanamemriaapalavra,bastaanteciparoseu

    significadonocontextoemqueocorre.

    Nalingusticagerativista(umadascorrentesdaLingustica,conhecidacomoGerati-

    vismoouTransformacionalismo,quepregavaoconceitodegeraodepalavras,frases

    esentenaspelosindivduosfalantesdeumalnguaapartirdemecanismosespecficos

    deaquisiode linguagemdaadvmonomegerativismo-gerao), apreocupao

    desloca-separaonveldasentena.Osinvestigadorescomearamaperceberqueno

    bastaoleitorconhecerpreviamenteapalavra,masqueprecisoconsiderarocontexto

    lingusticoemqueasentenaproduzida,ondeocorreapalavranotexto.

    Entretanto,logoseobservaqueocontextodeseestudarotextoapartirdasen-

    tenaapenasnoparecesuficiente.Surge,ento,a lingustica textual,queseope

    scorrentesanterioresaotomarcomoobjetoparticularde investigaonomaisa

    palavra ou a frase, retiradas, muitas vezes, de seu contexto de produo, mas sim o

    textounidadebsicademanifestaoda linguagem(nopodemosesquecerque

    o homemnoproduz apenas palavras isoladas; ele produz textos, que podem ser

    expressosapenasporumapalavra).Porexemplo,aopassarpeloptiodaescola,voc

    observadoisalunosjuntos,semdizerumapalavraumaooutro;derepente,umde-

    lesviraparaocolegaedizemaltavoz: -Sai!;essanicapalavracarregaemsitodo

    umtexto,emfunodasituaoemquefoiproduzida,daintenodoalunoquea

    disseaocolegaedoaceitequeestetevearespeitodotextoemitido.Nestesentido,a

    preocupaoparaalingusticatextualvolta-separaosprincpiosdeconstituiodo

    texto(oquefazcomqueotextosejaumtexto,quesooselementosjcomentados:a

    situao,ainteno,oaceite,enfim,ocontextodesuarealizao).Almdisso,dentro

    dessaperspectivatextual,outracorrentesurgiu,considerandoquehavianecessidade

    deselevaremcontaasinformaestextuaiseextratextuais(aquelasquenoestodi-

    retamente na matria do texto, porm so consideradas no contexto de sua produo

    edesuarecepoemfunodaposiosocialdoautoredoleitor)queinterferem

    naconstruodosignificado.Diz-seconstruoenomaisdecodificao,porquese

    compreendequeosignificadonoestnosdadoslingusticosdotexto,masprovm

    doleitor,desuasexperincias,dasuacapacidadedepredizereconfirmarashipteses.

    Porsuavez,apragmtica,outracorrentelingusticaqueinfluenciaosestudosatu-

    aissobrealinguagemarticuladadohomem,aparecesublinhandoaleituracomoum

    processode interaoentreo leitoreo texto.Nesseprocesso,o leitor,atravsdas

  • 17

    informaesexplcitaseimplcitasqueotextofornece,procuraalcanarosobjetivose

    asintenesdoautor.Ento,diferentementedeoutrastendnciaslingusticaspreocu-

    padasexclusivamentecomqueotextodiz,aPragmticaatenta-seaoporqueoautor

    dizoquediz.

    Cabe salientar, ainda, a influncia da anlise dodiscursonomododepensar a

    leitura, pois ela traz para o bojo das discusses a historicidade na constituio do dis-

    curso,isto,considera-separaoestudoomomentoscio-histricodeleituratantodo

    autorquantodoleitor.Nessaperspectiva,otextosozinhonofazsentido,eleprecisa

    deumleitor,quetemumahistriadevida,queviveemumadeterminadacamadada

    sociedade,quetemcrenaseculturascertas,asquaissotrazidasparaotextonomo-

    mentodaleitura.Esseconceitonegaaintencionalidadedoautorsimplesmente,como

    sepropunhanosconceitosanteriores,jque,paraela,aideologiaquedetermina

    aconfiguraodossentidos.Portanto,aperguntaquedeveserfeitaComootexto

    significa?,enomaisaperguntatradicional:Oqueoautorquisdizernotexto?.

    Emumaperspectivapsicolingustica,Sol(2003)constataque,emboraasformula-

    estericasqueatribuemumpapelimportanteaoleitoreaseuconhecimentoprvio

    estejamganhandodestaque,asposturasquedonfaseaotextoequeveemaleitura

    comoumprocessodeidentificaodesinaisgrficosaindapersistemnaconcepo

    escolardeensinodeleitura,nopodendoserdesconsiderada.Destaforma,coexis-

    tem,nodomniodaspesquisasedaprticaescolar,diferentesperspectivasdeleitura

    que,doravante,soobjetodeumestudomaisaprofundado:aperspectivadotexto,a

    perspectivadoleitor,aperspectivainteracionistaeaperspectivadiscursiva.

    Ospressupostos tericosqueamparamcadaumadessasdiferentesperspectivas

    deleituraenvolvemumavisodiferentedoqueconsisteoatodelereorientame/ou

    justificamdeterminadaspropostasdidticasemtornodacompreensodaleitura,eda

    formaoedodesenvolvimentodoleitornaescolabrasileira.

    a perspeCtiva do texto

    Osestudosdeleiturasobaperspectivadotextocentralizam-senosistemalingusti-

    co,correspondendosteoriasdedecodificaodebaseestruturalista(correntete-

    ricaquepropunhaoestudodalnguaapartirdasuaestrutura,isto,tudodeveriaser

    estudadoeproduzidoapartirdeumaestruturacerta,jmarcadanalngua),portanto

    umavisoimanentistadalngua,comumafinalidadeespecficaquereduzoestudoda

    lnguaaumfimnicoqueconcebeoatodelercomoumprocessodedecodificao

    deletrasemsons,earelaodestescomosignificado.Umdostericosquemelhor

    representaessaacepoGough(1976apudKLEIMAN,1989),atravsdeseumodelo

    deprocessamentoserial,oqualtemcomoobjetivoapresentarasequnciadeeventos

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    18

    queocorrememumsegundodeleitura,comvistasasugeriranaturezadosprocessos

    queunemesseseventos.ParaGough,oleitornoumadivinhador,poiselecaminha

    pelasentena,letraporletra,palavraporpalavra.comoseasimplesidentificao

    dossinaisgrficosgarantissealeituraeficiente,reduzindo-sealnguaaumasimples

    identificaodeletras,depalavras,defrases.

    Assim, a concepo de leitura sob a perspectiva do texto constitui um modelo de

    processamentoascendente(bottom-up,emingls,comomuitoconhecidonali-

    teraturasobreleitura),isto,umprocessamentoquevaidotextoparaoleitor,como

    seascendesse,considerando-seaposiodotextoquenormalmenteestabaixodos

    olhos.Essemodelosupequeoleitorpartedosnveisinferioresdotextoparasuces-

    sivamentecomporasdiferentesunidadeslingusticas(asletrasvoformandopalavras,

    aspalavrasfraseseasfrasespargrafos)echegaraosnveissuperioresdotexto.De

    acordocomColomereCamps(2002),nesseprocessooleitordecodificaossignos,

    oraliza-osmesmo que na forma subvoclica (em vozmuito baixa, quase inaudvel,

    comoseestivesserezandomuitobaixo),ouve-sepronunciando-os,recebeosignifi-

    cadodecadaunidadeeune-osunsaosoutrosparaqueasuasomalheapresenteo

    significadoglobal.Leffa(1996)acrescentaqueavisoexerceumpapelfundamental

    nessaacepodeleitura.Oleitorrecebeosignificadoatravsdosolhos.Seuraciocnio

    conduzidopelasinformaesqueentrampelosolhos.

    Bezerra(2003)expequeessaabordagemtericainfluencianoensinodelngua

    maternadesdeosprimeirosanosdeescolaridadeatofinaldoEnsinoMdio.Ospro-

    cessosascendentesdeleituraaliceramosmtodosdealfabetizaoquesepreocu-

    pamcomletras,slabas,parasechegarspalavrasesentopoderemserlidas;esto

    na base de propostas de leitura dos textos apresentados nos manuais didticos, os

    quaissolicitamrespostasaumquestionriocomperguntasprontamenteidentificadas

    notexto;estonaorientaoquesedaoalunoparaqueeleconsulteumdicionrio

    aoencontrarnotextoalgumapalavradesconhecida;eesto,tambm,naposturade

    professoresque,porexemplo,solicitamaoalunoleituraemvozalta,paraaprendera

    decodificarcomrapidezeentonaoadequada.Soexemplosdessaconcepo:

    Perguntasprontamenteidentificadasnotexto:

    Quais so as personagens da histria lida? Joo e Maria

    Onde eles foram deixados pelo pai?Na floresta

    Consultaaodicionrio:

    No texto aparece a palavra impresso; procure no dicionrio o que ela

    significa.

  • 19

    Leituraemvozalta:

    Leia o texto em voz alta para o seu professor e os colegas. Lembre-se de dar

    uma entonao adequada, pois eles esto prestando ateno em sua leitura.

    Kleiman (1996) tambm examina algumas prticas escolares fundamentadas na

    concepoascendente.Umadelasobservaotextocomoumconjuntodeestruturas

    gramaticaisqueapresentasignificadoefunoindependentementedocontextoem

    queseinserem.Destaforma,orienta-seoalunoparaumaleituragramatical,jqueo

    textotorna-sepretextoparaaproposiodediversasatividadesgramaticaiscomo,por

    exemplo,encontrarsujeitoepredicado,retirarsubstantivos,copiarpalavrasdotexto.

    Acredita-se,portanto,queoaprendizadodateoriagramaticalconfereaoleitormaior

    competncianaleituradotexto.Porexemplo,

    Retiredotextodoissubstantivosmasculinossingulares.Meninoegato.

    Copiedotextoumsubstantivomasculino,umfemininoeummasculinoplural.

    Cachorro,menina,meninos.

    Outraprticaapontaotextocomoumconjuntodepalavrasquesooveculodas

    mensagenseinformaes.Nessaperspectiva,oalunoorientadoparaumaleitura

    depalavras: Vamos ler palavra por palavra para depois interpretar, como tam-

    bm comum solicitar um produto mensurvel desse processo de domesticao das

    palavras Qual a mensagem do texto?(KLEIMAN,1996,p.18),emqueoprofessor

    pode,pormeiodas respostasque surgemdessapergunta, avaliaroqueos alunos

    compreenderamdotextoqueesttrabalhando.Nessaatividade,surgeumproblema

    muitosrio:comoumalunopodeencontraramensagemdotextologoapsasua

    leiturasilenciosaouemvozalta,semantespoderconversar,interagircomoscolegase

    oprofessorsobreocontedoqueacaboudeler?Aqui,aleituratemafunoespecfica

    deservircomoavaliao,comomensuraodeumadecodificao,normalmenteoral,

    parasaberseoalunoentendeuotexto,isto,seeleconseguerepetirasideiasdo

    texto,paramostrarsualeitura.Assim,observamosquenohleituracomoobjetivo

    deproduodesentido,apenasdeidentificaodocontedodotexto,emumpro-

    cessomecnico.

    Aindaavisodeleituracomoumaatividadededecodificaoencontrasustentao

    naprticaescolar.Dessaforma,enfatiza-seumasriedeautomatismosdeidentifica-

    oepareamentodaspalavrasdotextocomaspalavrasidnticasnumaperguntaou

    comentrio(KLEIMAN,1996,p.20).Querdizer,paraoalunoresponderaumaper-

    guntareferenteaocontedodotexto,bastapassarosolhospelasuperfcielingustica

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    20

    eencontrarpartesquerepitamaspalavraspresentesnapergunta.Porexemplo:

    Quantos anos Marina far? 10 anos.

    O que ter na sua festa de aniversrio? Bolo, bales, brigadeiro e refrigerante.

    A perspectiva do texto na leitura tem fomentado vrias crticas tambm de outros

    autores.Leffa (1999)aponta trs razesprincipais:nfasenoprocessamento linear

    da leitura;defesada intermediaodosistema fonolgicoda lnguaparaacessoao

    significado; valorizao das habilidades de nvel inferior, como reconhecimento de

    letrasepalavras.

    Aprticademonstraqueno se lumaenciclopdiadamesmamaneiraque se

    lumromance,comonoselummanualdeinstruesparamontarumaparelho

    eletrnicodomesmomodoqueselumpoema.Hdiferentesmodosdeler,confor-

    mevariamosgneroseossuportestextuaiseosobjetivosdoleitor.Portanto,ape-

    naseventualmenteocorreextraolineardesignificados,isto,demaneiraexplcita

    comoestnotexto.

    ColomereCamps(2002)esclarecemquenohnecessidadedeleremvozalta

    paracaptarosignificadodoquesel.Testescomprovamqueselumtextoemum

    tempomuitomaisbrevedoqueexigiriasuaexposiooral,mesmoquefossesubvoc-

    lica(comvozmuitobaixa,comoseestiverezando,movimentandooslbios,produzin-

    doumrudodevozapenas).Apossibilidadedeleituracompreensivadeumtexto,de

    maneira silenciosa, apenas com os olhos, situa-se mais ou menos em 400 palavras por

    minuto,enquantoaemissooralnomesmoperodorestringe-seacercade250pala-

    vrasporminuto,muitomaislentadoquenaleiturasilenciosa.Asautorasacrescentam

    quenaescolaanfasenaleituraemvozaltaeaexignciadeexatidofazemcomque

    o aluno se habitue a decifrar mecanicamente, sem procurar entender e construir o

    sentido,oqueprejudicaasuaformaoeoseudesenvolvimentocomoleitor.

    Outracrticaquesepodeimpingirperspectivatextualrefere-secrenadeque

    otextopossuiumsignificadocompleto,exatoenico,noprecisandodoleitor.Ja-

    maisotextoofereceatotalidadedeinformaes;oautoroconstrisomentecoma

    informaoquejulganecessriaparaqueoleitorentenda,eliminandotudoqueno

    precisoexplicitar.Issoexigequeoleitor,levandoemcontaseusconhecimentos,infira

    demaneiracontnua.Comosodiferentesasexperinciasdevidaeosconhecimentos

    demundodecadaleitor,diferentestambmseroossignificadosgeradospordife-

    rentesleitores,comoaindaserodiferentesossignificadosgeradosporummesmo

    leitoraolerummesmotextoemsituaesdiferenciadasdeleitura.Porexemplo,o

    texto Carroa Vazia,quandofoiproduzido,tinhaumaintenopeloautorparauma

  • 21

    significao.Agora,aoserlidonessasituaodeensinoeaprendizagem,permitev-

    riaspossibilidadesdeleitura:

    Carroa vazia

    Certa manh, meu pai, muito sbio, convidou-me a dar um passeio no bosque e

    eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silncio

    me perguntou:

    - Alm do cantar dos pssaros, voc est ouvindo mais alguma coisa?

    Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

    - Estou ouvindo um barulho de carroa.

    - Isso mesmo, disse meu pai, uma carroa vazia.

    Perguntei ao meu pai:

    - Como pode saber que a carroa est vazia, se ainda no a vimos?

    - Ora, respondeu meu pai, muito fcil saber que uma carroa est vazia por

    causa do barulho. Quanto mais vazia a carroa, maior o barulho que faz.

    Tornei-me adulto e, at hoje, quando vejo uma pessoa falando de mais, gritando

    (no sentido de intimidar), tratando o prximo com grossura inoportuna, prepoten-

    te, interrompendo a conversa de todo mundo, querendo demonstrar que a dona

    da razo e da verdade absoluta, tenho a impresso de ouvir a voz do meu pai dizen-

    do: Quanto mais vazia a carroa, mais barulho ela faz....

    (WallaceLealV.Rodrigues.E, para o resto da vida... Mato,SP:EditoraOClarim,s/d.).

    Certamente,aolerotexto,oleitordeveterformadoemsuamenteaimagemde

    umapessoaqueconhecequeseaproximadacarroavaziadescrita.Essa imagem

    noigualdocolegaoudoprofessor,pormaisquesetenhapensadonamesma

    pessoa.Dessamaneira,naperspectivadaleituracomodecodificao,oleitorapenas

    poderia ler o texto em voz alta e esperar pelo professor para determinar o seu enten-

    dimento,sempoderexporosignificadoqueproduziuaele.

    a perspeCtiva do Leitor

    Enquantoaperspectiva textual sustentaquea construodo sentidoocorrede

    modo ascendente sobe do texto ao leitor, em uma maneira metaforicamente sim-

    plesdedizeraperspectivadoleitordefendequeosentidoconstrudodemodo

    descendente(emingls,top-down,comoencontramosnaliteraturadarea), isto

    ,vaidoleitoraotexto,emumavisoinversaaoprocessamentoascendente.Desta

    forma,aobtenodosignificadonosedatravsdeumprocedimentolinear,palavra

    por palavra, mas se d sempre por fora da contribuio do leitor, dos conhecimentos

    armazenadosemsuamemria,isto,dosconhecimentosprvios.Portanto,ler,nessa

    perspectiva,atribuirsignificadoaotexto,oquecorrespondeconcepodeleitura

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    22

    defendidaporestudiososdaleitura(GOODMAN,1987;SMITH,1999)orientadospela

    psicologiacognitivista.

    ParaGoodman(1987),oqueoleitorcapazdecompreenderdependedaquilo

    queconheceeacreditaa priori,ouseja,antesdaleitura.Diferentespessoaslendoo

    mesmotextoapresentamvariaesnoquesereferecompreensodomesmo,por-

    quevariamosseuspropsitos,seusconhecimentosprviosaquelesconhecimentos

    armazenadosnamemriadoleitoraolongodesuavidasuasatitudes,seusesque-

    masconceptuais,aculturasocialdecadauma.Porexemplo,nomaterialdidtico

    frequenteencontrar-seumexercciocomoesteantesdaleituradotexto:

    Antes da leitura do texto O gato siams, suscitar uma discusso com os

    alunos sobre a presena de gatos em suas casas e o que acham desses animais.

    Essascontribuies,quesogeradasnadiscussoinicial,quandoseativamosco-

    nhecimentos prvios do leitor, so utilizadas durante toda a leitura e cabe ao leitor

    empregarumasriedeestratgiasparaavaliarecontrolaraprpriacompreenso.So

    asestratgiasdeseleo,predio,inferncia,confirmao,autocorreoeverificao

    quetambmsoapregoadaspelosParmetrosCurricularesNacionais(BRASIL,1998).

    AdiscussomaisdetalhadaacercadasestratgiasdeleituraestnocaptuloEstratgias

    deLeitura,nestelivro.

    Aolerotexto,oleitorselecionaoquelheconvm,vistoquenemtudooqueest

    escritoigualmentetil.Escolhem-sealgunsdados,chamadosrelevantes,edespre-

    zam-seoutros,quesodesnecessriosparaaconsecuodoobjetivoaseratingido.

    Seosleitoresutilizassemtodososndicesdisponveis,oaparelhoperceptivoficaria

    sobrecarregado com informao desnecessria, intil ou irrelevante (GOODMAN,

    1987,p.17),oquecertamentedificultariaacompreenso,impossibilitandoaleitura.

    Nesse mbito, se uma pessoa precisa saber como deve tomar omedicamento que

    lhefoireceitadoetememmosabuladoremdio,deverlerapenasaquelesdados

    referentesposologia,isto,maneiracomodevesertomadooremdio;osdemais

    referentescomposio,ainformaestcnicassosimplesmenteignorados,pelo

    menosnessemomento.

    Paraquesejapossvelacompreensodomaterialexpresso,precisoqueoleitor

    inferencie,isto,complementeainformaodisponvelutilizandooconhecimento

    conceptualelingusticoeosesquemasquejpossui(GOODMAN,1987,p.17).Por

    exemplo, ao tomar o jornal e ler a manchete Rebelio na Penitenciria de Piraquara,

    imediatamenteoleitoraportaaotextooutrasinformaesquefazempartedeseure-

    pertriodeconhecimentosprvios.Devidoaseuconhecimentodemundo,adquirido

  • 23

    atravs da leitura das notcias veiculadas pelos jornais, rdio e televiso pelas revistas,

    elesabequerebeliocausadaporpessoasqueestodetentas,tornando-sedesneces-

    srio um ttulo como Pessoas detentas por crime causam rebelio na penitenciria

    de Piraquara.Portanto,aoinferir,oleitoravanamaisfcilerapidamentenaleiturae

    permitequeotextotorne-semaisconciso,manifestandoumacaractersticapertinente

    aoleitorcompetentequeaescolabuscaformar.

    Tambmapartirdoconhecimentoprviodealgunsaspectosdotextosuperes-

    truturas, ttulos, subttulos, cabealhos e ilustraes o leitor capaz de predizer o

    quevirna leiturado texto.Retornandoaoexemploanterior, aodeparar-secoma

    manchete Rebelio na Penitenciria de Piraquara,possvelqueoleitorantecipe

    algumasdasinformaesqueestaropresentesnotexto,taiscomo:funcionriosdo

    presdioe/oufamiliaresdosdetentostornaram-serefns;podehavermortosouferi-

    dos,almdedestruiodepartesdointeriordopresdio;apolciadeveterpromovido

    negociaes,afimdeacabarcomarebelio.Almdisso,conhecendoaestruturade

    umanotcia,oleitoresperaencontrarolide,ouseja,asrespostassperguntas:Quem?

    Quando? Onde? O qu? Como? Por qu?,queaparecemlogoapsottulodanotcia.

    Oatodelevantarinferncias,selecionareanteciparexigedoleitorousodeduas

    outrasestratgias:confirmaoouautocorreo.Casoconfirmesuashipteses,olei-

    toravanasemproblemasnaleitura;casonoconfirme,necessrioquerepenseas

    infernciasehiptesesanteriormentelevantadas,formuleoutraseretomeaspartes

    anterioresdotextoparafazerosdevidosajustes.Noexemploseguinte,podemosvis-

    lumbrarcomooleitorconfirmaashipteseslevantadasnotexto:

    Aps ler o texto, as hipteses que voc levantou antes de sua leitura foram

    confirmadas? Quais foram encontradas no texto?

    Ousodessaseoutrasestratgiaspressupeumleitormuitoativo,queutilizaom-

    nimonecessriodosndicesdotexto.IstolevouGoodman(1987,p.11)acaracterizar

    aleituracomoumjogopsicolingsticodeadivinhaes.

    Smith (1999) tenta evitar a palavra adivinhao, pois esta, sendo associada ao

    comportamentoimpensadoeimprudenteoustentativasdeobteralgosemodevido

    esforo,acabaporganharumaconotaonegativaparamuitospaiseprofessores.O

    autorprefereutilizarotermoprevisoeliminaodeopesimprovveisjque

    estefazrefernciaaumaatividadehbil,aousodoconhecimentoprvioparaante-

    ciparofuturo.Smithassinalaquealeituradependemaisdaquiloqueestportrs

    dosolhosdainformaono-visualdoquedainformaoqueestdiantedeles

    (1999,p.38),isto,oleitorjamaisseprende,exclusivamente,aossinaisimpressos

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    24

    napgina,masutilizaosconhecimentosehabilidadesquejdispeparaconstruir

    significados.

    Leffa(1999,p.26)acrescentaoutropressupostobsicodaperspectivadoleitor:O

    conhecimentoprvioestorganizadonaformadeesquemas.Osesquemasformam

    umarededeconhecimentosquesoarmazenadosdeformaextremamenteorgani-

    zadanamemriadoleitorequesoacionadosquandoeleprocessaotexto.medida

    queampliaousealteraoconhecimentodemundodoleitor,osesquemasautomodi-

    ficam-se.Porexemplo,oprofessortememsuamemriaumesquemadeaula.Nesse

    esquemaestoconhecimentoscomoplanodeaula,contedo,textoasertrabalhado,

    exerccios, tempoda aula,usodoquadrodegiz,posiodas carteirasdos alunos,

    participaodosalunosetc.Aolerestetextosobreconceitosdeleitura,oprofessor

    estampliandoseuesquemasobreauladeleitura,umavezqueotextoapresenta

    umasriedeinformaesqueanalisaosconceitosdeleituraqueperpassamasaulas

    deleituradaescolabrasileira.Nestesentido,oesquemaarmazenadonamemriaest

    semodificando,ampliando-se,possibilitandoaoleitorproduzirnovossignificadoss

    leiturasquefarapartirdaleituradesteartigo.

    Emborasejaatribudoumpapelaltamenteativoaoleitor,porqueeleatribuisignifi-

    cado,fazprevises,selecionainformaes,inferencia,confere,corrigehiptesessobre

    o texto, a perspectiva do leitor tambm tem sido alvo de muitas crticas, principalmen-

    tepelofatodedescartarosaspectossociais,confiarexageradamentenasadivinhaes

    doleitoreporconsiderar,naspropostasdeensino,qualquerinterpretaodetexto

    realizadapeloaluno.Istoumproblema,poismuitasvezesoalunoacionaumes-

    quemaimpertinentesobreocontedodotextolido,construindoumacompreenso

    inadequadaleitura.SegundoLeffa(1999,p.28),

    Namedidaemqueprivilegiaoprocessosobreoproduto,aperspectivadolei-torrepresentaumaevoluosobreaabordagemanteriorcomnfasenotexto.Namedida,porm,emqueignoraosaspectosdainjuno[imposio,exign-cia]socialdaleitura,consegueverapenaspartedoprprioprocessoquetentadescrever,produzindo-se,ento,umavisolimitadadaleitura.

    Oleitor-atribuidorcaracteriza-sepelarapidezcomqueprocessaotextojque

    nolamensagemnantegra,pelafacilidadedeapreenderasideiasgeraisdotexto,

    pelapoucaimportnciaquedspalavrasdesconhecidasumavezqueelaspodem

    ser ignoradas ou deduzidas pelo contexto. Tambm o leitor que tira concluses

    apressadas,quefazexcessosdeadivinhaessemprocurarverific-las,quedeixade

    processarinformaessecundriasimportantesparaacompreensoglobaldotexto

    (KATO,1990).Soexemplosenunciadosdeexerccioscomoesses:

  • 25

    Apartirdaleituradotexto,aqueconclusovocchegasobreamoraldahistria?

    Explique,empoucaspalavras,otemaeottulodotexto.

    Ofinaldotextopessimistaouotimista?Justifiquesuaresposta.

    Nesses exerccios, comuns no material didtico, o aluno-leitor deve responder a

    partirdasatribuiesquefezaotexto,apartirdesuasadivinhaes,oqueolevaa

    perceberque,quantomaisadivinhar,melhorvaiagradaraoprofessor,poispassara

    ideiaequivocadadequeumleitorcompetente.

    Na concepo de leitura como atribuio, o professor o facilitador da aprendiza-

    gem,cabendo-lhepropiciarosmomentoseomaterial.Diantedaconvicodeque

    precisovalorizaraleituradoaluno,todaequalquerinterpretaopassaaserconsi-

    deradacomolegtima.Seainterpretaodoalunonocorrespondedoprofessor,

    prevaleceainterpretaodoaluno,jqueeleoleitor.Porexemplo,noexerccioa

    seguirsooferecidasduaspossibilidadesdeleituraparaainfernciaproduzidaauma

    expressoqueconstanotexto:

    Com a expresso o nosso querido amigo patro, o autor:( ) d a entender que o patro era um amigo de todos;( ) refere-se ao patro de maneira irnica, isto , fala de uma coisa para dar a entender outra, fazendo pouco caso.

    Assim,oleitorpodeoptarpelaleitura,mesmoqueaexpresso,notexto,sejamar-

    cadapelaironia:comoaleituradoalunoprevalece,oprofessoracabaaceitandoque

    aprimeiraopo,quandoescolhidapeloleitor,permitida,mesmoquesejaoposta

    significaoapresentadanotexto.

    Oconceitodeleituracomoatribuio,centradoprimordialmentenoleitor,assim

    comooconceitodeleituracomodecodificao,centradonotexto,soconceitosco-

    munsnaescola,comosquaisoprofessoreosalunossedeparamconstantemente.

    Ambosapresentampontospositivosenegativosaotrabalhocomleitura,tudodepen-

    dedecomooprofessorvaitrabalharaleituracomosalunos.

    a perspeCtiva da interao Leitor-texto

    Na perspectiva interacionista, ocorre a inter-relao entre processamentos ascen-

    dentesedescendentesnabuscadosignificado.Destemodo,oatodelerpassaaser

    vistocomoumprocessoqueintegratantoasinformaesdapginaimpressaum

    processoperceptivoquantoasinformaesqueoleitortrazparaotextoumpro-

    cessocognitivo.Istoimplicareconhecerqueosignificadonoestnemnotextonem

    namentedoleitor;osignificadotorna-seacessvelmedianteoprocessodeinterao

    entre leitor e texto, produzindo-se, assim, um processo de interao, no mais um

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    26

    produtodeleituraquesecentraemumsdosparticipantes:otextoouoleitor.

    Stanovitch (1980 apud LEFFA, 1999), em sua abordagem que ficou conhecida

    como interativo-compensatria, consideraquealeituraenvolvediferentesnveisde

    conhecimento(lexical,sinttico,enciclopdicoetc.)equeessesnveisinteragementre

    si com a participao maior ou menor na construo dos sentidos, dependendo da

    contribuiodosoutrosnveisdeconhecimento.Casooleitorapresenteumadefici-

    nciaemumdessesnveis,eletentarcompens-laapoiando-seemumoutronvel,

    oquepermitirinferirosignificadodovocbuloquenoconhece.Porexemplo,se

    o leitor leroenunciado:A taxonomia produzida pelas pesquisas permite classifi-

    car os leitores em vrios nveiseapresentardeficincianacompreensodapalavra

    taxonomia, ele ter a seu dispor as demais informaes para construir, atravs do

    acionamentodoprocessamentodescendente,ouseja,dasinformaesquepossuina

    suamemriasobreaspalavrasquecompemoenunciado,umsignificadopossvelao

    texto.Assim,aoleraspalavrasproduzida, pesquisas e classificar, o leitor, atravs

    deseuprocessamentocognitivo,vaireuni-las,produzindoumnovosignificado: as

    pesquisasproduzidasclassificaramosleitores,oquelhepermitirprocessarnotexto

    umsignificadopalavrataxonomia,comoclassificao.Portanto,comessetrabalho

    decompensao,oleitorconsegueentenderqueoenunciadooferecidoparaleitura

    refere-seclassificaodeleitoresproduzidapelaspesquisasemleitura.

    Casoo leitorsaibapoucosobreumdeterminadocontedo,deverutilizarmais

    o processamento ascendente para compensar a incapacidade de realizar predies a

    respeitodocontedo.Porexemplo,noenunciado:

    O mesoderma ventral produz os mesotlios...

    oleitor,notendodomniodocontedoapresentado,poderealizarumacompen-

    sao na leitura, utilizando-se do processamento ascendente, isto , aproveitando-se

    domateriallingusticooferecidonotextoparaconstruirsignificado.Aoiniciaralei-

    tura,encontraaprimeiraproposioquelhecausaestranheza:mesoderma ventral.

    Analisando as palavras, o leitor consegue perceber que h termos conhecidos que

    podem,atravsdaanlisedotexto,facilitaracompreenso.Assim,observaquederma

    significapele,meso, meio e ventralrefere-seaventre,formandoumaprimeiraimagem

    mentaldequesetratadeumapeledomeiodoventre.Emseguida,dcontinuidade

    leitura, sempre buscando a compensao de sua deficincia de compreenso no

    processamentoascendente.

    Dessaforma,percebemosqueambososprocessamentossousadosdemaneiraa

    compensaraleitura.claroqueesseprocedimentoempregadopeloleitorquej

    apresentaumacompetnciamaioremleitura,contudo,eleperfeitamentepossvel

  • 27

    deserensinadoaosalunos,independentementedonveldeensinoemqueest.

    Sobreisto,Meurer(1988,p.265)alertaqueainterdependnciaequilibradaen-

    tre a informao contida no texto e os conhecimentos prvios do leitor a condio

    essencialparaa compreenso, isto,os leitoresnodevemseapoiaremumdos

    nveisde informaounicamenteemdetrimentodeoutro.Dessemodo,seo leitor

    prende-seemdemasiaaoselementostextuais,podernoperceberamensagemem

    seuaspectoglobal.Se,pelocontrrio,ignoraotextoeacreditaexageradamenteem

    suashipteses,prediese inferncias,semprocurarconfirm-lasnotexto,poder

    realizarumainterpretaotendenciosa.Porconseguinte,ascausasdadificuldadede

    compreenso,deacordocomVidalAbarcaeMartinezRico(2003,p.139),nodevem

    seratribudasaoleitorouaotextoemseparado,masnainadequaoentreotextoe

    oleitore,maisconcretamente,noprocessonoqualseconjugamambososelementos,

    isto,asinferncias.

    Fulgncio e Liberato (1996) conceituam a inferenciao como um processo de

    construodepontesdesentido,deintegraoentreasinformaesvisuaisofereci-

    daspelotextoeosconhecimentosdoleitor.Esseprocessoexigeumtipoespecialde

    conhecimentosemntico-pragmtico:asexpectativas.Osautoresutilizamoseguinte

    exemplopara ilustrarosconceitos: JoomatouMaria.Amanhvouvisitar Joona

    cadeia.Soasinfernciaseexpectativasquepossibilitamqueasfrasessejamproces-

    sadasnocomoblocosdesconexos,mascomoduassentenasrelacionadasentresi.

    Assim,apartirdoconceito(quetambmumesquemaqueestnamentedoleitor)

    assassinato,oleitorativaoutrosrelacionadosaessanoo:assassinatossocrimes,

    punidosporlei;astransgressesleisopassveisdepunio;umadasformasde

    puniocolocaroinfratornacadeia.Espera-se,portanto,queoassassinosejapre-

    so.Fundamentadonessaexpectativa,oleitorpodeinferirqueJooestpresoporque

    matouMaria.

    Em resumo, os conceitos presentes no texto evocam uma cadeia de conhecimen-

    tosprvios,queestopresentesnamemriadoleitor,entreosquaisasexpectativas,

    quesoabaseparaoestabelecimentodeinferncias,paraasconexesqueconferem

    coernciaesignificadoaotexto,sempreapartirdainteraodoleitorcomotexto.

    Vrios outros autores Colomer e Camps (2002), Kleiman (1996; 2000), Silva

    (1991),paracitarmososmaistradicionaisposicionam-seemfavordeumaperspec-

    tivainteracionistaetrazemimportantescontribuiesparaaspesquisaseoensinoda

    leitura.

    ColomereCamps(2002)apontamqueafinalidadenaturaldequalqueratohabitu-

    aldeleituraacompreenso.Hdiversosfatoresquepodeminterferirnacompreen-

    sodaleitura.Asautoras,assinalandoopontodevistadoleitor,dividem-nosemdois

  • Leitura e ensino

    28

    grupos:a)oobjetivodaleitura;eb)osconhecimentosprvios.

    Opropsitodaleituradeterminaomodocomooleitorabordarotextoeograu

    deexignciacompreensiva.Assim,lerumaobraliterriacomaintenoderealizarum

    trabalhoacadmico;paraemumfuturoprximorealizarumaprovadevestibular;ou

    comodesejodedistrair-se,exigecomportamentosdiferentesduranteoprocessamen-

    todotexto:umaleituramaislentaecuidadosanosdoisprimeiroscasos,umaleitura

    maisrpidaeseletivanoltimocaso.

    Osconhecimentosprviospodemserdescritoseagrupadosemdoisitens:conhe-

    cimentossobreoescritoeconhecimentossobreomundo.Osconhecimentossobre

    oescritoenvolvemoconhecimentodasituaocomunicativa(queobjetivotemaco-

    municao;ondeequandoseproduz;querelaorefleteoregistrolingusticodeque

    oescritorseutiliza);osconhecimentosmorfolgicos,sintticos,semnticos,paralin-

    gusticoseoconhecimentodaestruturatextual.

    ColomereCamps(2002)advertemque,naescola,comumocorrersituaesem

    queosalunos:a)lemsemomenorinteresse,poisotextonolhesacrescentanada

    denovo;eb)situaesemquealeiturairrealizvel,porqueosalunosnodispem

    denenhumconhecimentosobreotemaenoconseguemrelacionarainformaodo

    textocomnenhumesquemaconceitualprvio.Ento,oequilbrioentreodado(asin-

    formaesjconhecidas)eonovo(asnovasinformaesproporcionadaspelotexto)

    condioessencialparaacompreenso.

    Kleiman(2000)expequeocarterinteracionaldaleiturapressupeafigurado

    autorpresentenotextoatravsdasmarcasformaisporexemplo:operadoreseco-

    nectivos lgicos, expresses modalizadoras (talvez, evidentemente...) adjetivaes,

    nominalizaesqueatuamcomopistas,necessriasparaqueoleitorrefaaotrajeto

    delineadopeloautorduranteaproduodo texto.Devehaver,ento, umacordo

    deresponsabilidademtua(KLEIMAN,2000,p.67)entreautoreleitor,poisambos

    precisamcuidarparaqueocontatosejamantido,emborapossamexistirdivergncias

    deopiniese interesses.Seo leitorvaiaotextocompr-concepes,podemocor-

    rerembaraosnacompreensoquandoestasnocorrespondemquelasqueoautor

    apresenta,pois,nessecaso,oleitor,absortoemsuasideias,noconseguereconstruir

    oquadroreferencialatravsdosmecanismosformais.Dessamaneira,atendncia

    queoleitorimponhaaoautor,demodonoexplcito,comoemumdilogoface-a-

    face,porm,prpriodesseprocessoidiossincrtico,informaesrelacionadasassuas

    crenaseopinies,apesardeaspistasnopermitiremessaconcluso.

    Kleiman(1996,p.92)enfatizaaindaqueaintencionalidadeconstitutivadainte-

    rao:processarotextoperceberoexterior,asdiferenasindividuaissuperficiais;

    perceber a inteno, ou melhor, atribuir uma inteno ao autor,chegaraontimo,

  • 29

    personalidadeatravsdainterao(grifosnossos).Nessaperspectiva,oleitorpodese

    aproximar das intenes do autor, atribuir possibilidades de intenes por isso, ler

    construirenoreconstruirsentido,masnochegaraontimo,conformepropea

    pesquisadora.Aautoraindicaparaaescolaumtrabalhodeconscientizaolingstica

    crtica(p.94),isto,otrabalhodeverificarnoapenascomoalinguagemfunciona

    notexto,mastambmcomoelaestaserviodasintenesdoautor.Aoatribuirin-

    tencionalidade, o leitor percebe-se como sujeito e percebe tambm o outro o autor

    comosujeito.

    Silva(1991)postulaqueoprocessodeinteraotexto-leitorumtrabalhoidios-

    sincrtico(prpriodecadaleitorparticular),vistoqueasexperincias,ahistriados

    leitoresnuncasoiguais.Ento,torna-sepraticamenteimpossvelqueduasoumais

    pessoasfaamumaleituraigual,destacandoasmesmasideias.Emtermosdeensino-

    aprendizagem,Silva(1991,p.50)enunciaque,nastarefasdeleitura,oprofessorpre-

    cisacriarsituaesquepermitamaoalunoconstatardeterminadossignificados,refle-

    tircoletivamentesobreelesetransform-los,isto,leraslinhas,asentrelinhasealm

    daslinhas.Dessaforma,duranteaconstatao,oleitorpercebeosentidoprimeiro do

    texto;nareflexo,eleconcluiquehmaissentidosparaotexto;natransformao,ele

    geramaissentidosparaotexto.Portanto,aoler,osujeito-leitorconstriumoutro

    texto,produtodesuahistriadevida,de seu repertriodeexperincias,dos seus

    conhecimentos, sempreapartirda interaocomo texto,consequentemente,com

    oautordotextoqueseapresentanodiscursoefetivadonomateriallingusticolido.

    Paraexemplificar,retomamosotextoCarroa Vazia e apresentamos as atividades

    produzidasparaele,apartirdaperspectivainteracionista.

    Carroa vazia

    Certa manh, meu pai, muito sbio, convidou-me a dar um passeio no bosque

    e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno

    silncio me perguntou:

    - Alm do cantar dos pssaros, voc est ouvindo mais alguma coisa?

    Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

    - Estou ouvindo um barulho de carroa.

    - Isso mesmo, disse meu pai, uma carroa vazia.

    Perguntei ao meu pai:

    - Como pode saber que a carroa est vazia, se ainda no a vimos?

    - Ora, respondeu meu pai, muito fcil saber que uma carroa est vazia por

    causa do barulho. Quanto mais vazia a carroa, maior o barulho que faz.

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    30

    Tornei-me adulto e, at hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando

    (no sentido de intimidar), tratando o prximo com grossura inoportuna, prepoten-

    te, interrompendo a conversa de todo mundo, querendo demonstrar que a dona

    da razo e da verdade absoluta, tenho a impresso de ouvir a voz do meu pai dizen-

    do: Quanto mais vazia a carroa, mais barulho ela faz....

    (TextoveiculadonaRedeMundialdeComputadorInternet).

    a)Apartirdaleituradotexto,oqueumacarroavazia?b)Aexplicaooferecidapeloautordotexto,noltimopargrafo, fezvocse lembrarde

    algumqueseenquadranascaractersticasdescritas?Determinequaiscaractersticasmaislhechamaramaateno.

    c)Oquesignificaaltimafrasedotexto,apartirdaimagemdapessoaquevocformounamente?

    Com essas atividades, o leitor poder interagir com o texto, produzindo seus

    significados,indoalmdaslinhasdotexto.Dessemodo,oleitorpercebeosentido

    primeirodo texto,aqueleoferecidopeloautor,atravsdeumahistriaentrepaie

    filho;contudo,tambmrefletesobreosignificadoqueotextolhepermiteconcluir,

    transformando-o,gerandonovossentidos.Seconsiderarmosquecadaleitorformar

    umaimagemmentaldiferentedotextolido,asrespostassatividadespropostascerta-

    mentepermitirotambmquesemanifesteminteraesdiversasparaotexto.

    A viso de leitura apenas como atividade mental, isto , como interao das fontes

    deconhecimentoarmazenadosnamemriadoleitor,vemsendoquestionadapelas

    pesquisasatuais.Hoje,reconhece-sealeituratambmcomoumaatividadesocial,com

    nfasenapresenadooutro,daquelequeinterlocutordoleitor.Acredita-se,ento,

    queosignificadonoestnemnotexto,nemnoleitor,masnasconvenesdeinte-

    raosocialemquesedaleitura(LEFFA,1999).stendoodomniodasprticas

    sociaisemqueosdiferentestextosestoinseridos,ouseja,conhecendo-seascircuns-

    tnciaseomomentoemquesoproduzidos,porquemeparaquemsoescritos,que

    oleitortercondiesdeseapropriardosentidoedafunodotexto.

    MoitaLopes(1996)tambmapontalimitaesdaperspectivainteracionista,visto

    queestano levaemcontaos aspectos sociais epsico-sociais.Oautor sugereque

    essaabordagemsejacomplementadacomintravisesdeanlisedodiscurso, isto,

    que seja verificadooprocessodenegociaodo significado entre os partcipes de

    uma interao comunicativa leitor e autor posicionados social, poltica, cultural e

    historicamente.ParaMoitaLopes,lerenvolver-seemumainteraocomalgumem

    momentoscio-histricoespecfico.

    NoentenderdeCoracini(1995,p.15),aperspectivainteracionistaconsisteemum

  • 31

    prolongamentodaabordagemascendente,medidaqueelavaindaotextocomo

    objetoautoritrio,poisemsualeituraliteralqueoleitorencontraasmarcaspara

    inferirsignificadosnoliterais:

    Seotextoquepredetermina,ouseja,autorizaumcertonmerodeleituras(atravsdaschamadasinfernciasautorizadas)eimpedeouimpossibilitaou-tras,ento,otextoaindaautoridade,portadordesignificadosporelelimita-dos,oumelhor,autorizados:otextoteria,assim,primaziasobreoleitor,queprecisa,comcompetncia,apreendero(s)sentido(s)neleinscrito(s).

    Assim,navisodeMascia(2005,p.47):

    emboraoaspectosocialpasseasercogitado,poisoleitoracionaotextoapartirdeconhecimentosprvios,socialmenteadquiridos,otextoautoritrio,poiss so aceitas as leiturasque fazempartedeum ncleo comum, tolhendoqualqueroutra.

    Apartirdessascrticas,aautoraindicaoutraabordagemquedcontadosaspectos

    histricos,sociaiseideolgicosenvolvidosnoprocessodeproduodalinguagem:a

    perspectivadiscursiva.

    a perspeCtiva disCursiva

    Naperspectivadiscursiva,noselumtextocomotexto,mascomodiscurso,ou

    seja, levando-se em considerao ascondiesdeproduo.aanlisedodiscurso

    deorientaofrancesa(abreviadamente:AD),disciplinaedificadaporMichelPcheux

    nosfinsdosanos60,queorientaejustificaessemododepensaroler.AADope-se

    s tendncias lingusticas preocupadas exclusivamente com o normativismo, a que

    seseguempensamentoscomo:Este texto est em conformidade com as normas da

    lngua? Quais as normas prprias a esse texto?,e/oucomoconteudismodasanlises

    de texto:Que significao contm esse texto? Quais as ideias principais contidas

    neste texto? O que o autor quis dizer?AAD,comoestudodadiscursivizao(FIO-

    RIN,1990,p.175), isto,comooestudodoprocessodeconstituiododiscurso,

    desloca-se para o Como este texto significa?Nestesentido,podemosdizerqueaAD

    seeximedopapeldejulgaroqueounoumaleituraadequada.Seuinteresseest

    emexplicitarosmovimentos,opercursoqueosujeitofazparalercomol,porissoas

    crticasdeCoracinieMasciaaoconceitointeracionistadeleitura.

    Ressaltamosque,naperspectivadiscursiva,que textoediscursonoseconfun-

    dem.Odiscursoapresenta-secomoefeitodesentidosentreoslocutores(PCHEUX,

    1990)ouumprocessodesignificaoemqueestopresentesalngua,ahistriae

    osujeito,interpeladopelaideologiadasociedade,semliberdadediscursiva.Otexto

    organizaadiscursividade.Portanto,deveservistonarelaocomoutrostextos,com

    ossujeitos,comascircunstnciasdeenunciao,comaexterioridade,comamemria

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    32

    dodizer(ORLANDI,2001).Otextoamaterializaododiscurso.

    ParaaAD,ossentidosnoestosomentenaspalavras,masnarelaocomoque

    estforadotexto,nascondiesemqueelessoproduzidos.Ascondiesdepro-

    duocompreendem,essencialmente,ossujeitoseasituao(ocontextoimediatoe

    ocontextoscio-histrico-ideolgico)deocorrnciadosenunciados.Ferreira(1998,

    p.203)fazumacomparaointeressanteparaexplicarquenaADoexteriorparte

    integrantedointerior:

    Comoseestivssemosfrenteaumquadrodeumpintor:amoldura,aluz,oambiente,aparedeemqueestcolocadosoelementosquecompemjuntocomatelaosefeitosdesentidoquevoproduzirparaoobservador.Comoutramoldura,sobdiferenteluz,emnovaparede,asignificaoseriaoutra.

    Nestesentido,aoabordarotexto,oleitorprecisaconsiderarascircunstnciasde

    produo,poisestassoconstitutivasdossentidos.NaspalavrasdeCoracini(2005,

    p.27):

    [...]novemosounolemosoquequeremos(deformaindependente)aqual-quermomentoeemqualquerlugar,assimcomonopodemosdizeroufazeroquequisermosemqualquerlugareaqualquermomento:hregras,leisdomomentoqueautorizamaproduodecertossentidosenodeoutros.

    Ascondiesdeproduosoacionadaspelamemriadiscursiva.Estaserefere

    aossentidosjditosporalgum,emalgumlugar,emoutrosmomentos,mesmomui-

    tosdistantes, eque so reavivadospara sustentar cadanovapalavrae trazernovos

    efeitosdesentidos.ComopriorizaOrlandi(2000,p.33),tododizer,narealidade,se

    encontranaconflunciadosdoiseixos:odamemria(constituio)eodaatualidade

    (formulao).dessejogoquetiramseussentidos.Istoequivaleaafirmarqueodis-

    cursocompostotambmpelahistoricidade,pelarelaocomoutrosdiscursos.Ao

    sujeitoleitorcabeopapeldeverificaroqueditoemumdiscursoeoqueditoem

    outro,oqueditodeummodoeoqueditodeoutro(p.33).Portanto,aADrompe

    osefeitosdeevidnciaeexpeoolhardoleitoropacidadedotexto.

    Oquepodeeoquedeveserditodesignadoapartirdeumlugarmarcado

    emumadadaconjuntura, isto,apartirdeumaformaodiscursiva.Nosepode

    dizerqualquercoisa,emqualquerlugar,emqualquermomento.Assim,porexemplo,

    nointeriordeumainstituioescolar,olugardoprofessor,dodiretor,doaluno,da

    merendeiraestmarcadopordeterminadaspropriedadesdiferenciais.Ahiptesede

    Pcheux(1990)adequeesseslugaresestorepresentadosnointeriordosprocessos

    discursivos.Outroexemplo:apalavraliberdadetemsentidosdiferentesparaumpre-

    sidirio,paraumaluno,paraumpadre.Istoporquediferentesformaesdiscursivas

    determinamefeitosdesentidodiferenciados.Orlandi(2001,p.62)acrescentaqueh

  • 33

    umahistriadeleituradetextoeumahistriadeleitores,ouseja,omesmoleitorlo

    mesmotextodemaneirasdiferentesemmomentoseemlugaresdistintos,eomesmo

    textolidodemaneirasdiferentes,emdiferentespocas,emdiferentescircunstn-

    cias,pordiferentesleitores.

    ParaCoracini(2005,p.30):

    [...] tododiscurso j traz em si a definiomais, oumenos, precisadelugaresoudeposiessubjetivasaseremocupadosporesteouaqueleindiv-duo,segundoasrelaespolticasesociaise,portanto,ideolgicasadmitidaseconstrudasnumdadomomentohistrico-social,numdadodiscursosempreemformao-,determinantesda(s)verdade(s)aser(em)assumida(s).claroqueessasposiespodemsofrermodificaes,masjamaisrepentinas:muitasvezes,passamimperceptveis,atquealgumacontecimentoasevidencie.

    Pcheux (1990, p. 83) salienta que os lugares sociais no estomeramente re-

    produzidosnointeriordosprocessosdiscursivos,masocorreumaespciedejogo

    deimagensdelugaressociais;isto,intervmnodiscursoumasriedeformaes

    imaginrias,que supe,dapartedoemissor,umaantecipaodas representaes

    doreceptor,sobreaqualsefundaaestratgiadodiscurso.Asformaesimaginrias

    designam:a)aimagemqueolocutortemdesimesmo(Quem sou eu para lhe falar

    assim?);b)aimagemqueolocutortemdeseuinterlocutor(Quem ele para que eu

    lhe fale assim?);c)aimagemqueolocutorjulgaqueointerlocutortenhadolocutor

    (Quem ele para que me fale assim?);e)a imagemqueolocutorfazdoreferente

    (De que eu lhe falo?)etc.Orlandi(2001)expeque,atravsdasimagens,osujeito-

    autorprojeta-senolugardeseuinterlocutore,assim,orientadopelomecanismode

    antecipao,constitui,natextualidade,umleitorvirtual.Quandooleitorrealaborda

    otexto,depara-secomumoutroleitoraconstitudo,comoqualdeveserelacionar.

    Dessamaneira,otextoconstrudopeloleitorrealquasenuncacorrespondeaotexto

    produzidoporumdeterminadoautor.Daserintilbuscarasideiasprincipaisbem

    comoasintenesdoautor;estas,noentenderdeCoracini(1995),sosemprecons-

    trues,produtodainterpretaodeumdadoleitoremumdadomomentoelugar.

    Autor e leitor, inseridos em um contexto scio-histrico-ideolgico, so, ento,

    produtoresdesentidos.Aproduodesentidossedemcircunstnciassempreno-

    vas.Porisso,nootextoquedeterminaasleituras,masaposioapartirdaqualfala

    osujeito.L-sesempreapartirdeumaformaodiscursiva.Htantasleiturasquantas

    foremasformaesdiscursivas.

    Retomando o texto Carroa Vazia,voc,naposiodealunodocursodeEdu-

    caoaDistncia,estpassandoporumasituaonovaemsuavida,quedetermina

    umcontextoscio-histrico-ideolgicomarcadoporcircunstnciasnovas,queofaz

    produzirsentidosdiferentesnaleituradotexto,comparando-seaosmomentosque

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    34

    viviaanteriormente.Assim,apartirdessaposiosocial,histricae ideolgicapela

    qualestpassando,suasleiturasproduzemsentidosdirecionadosporessaperspecti-

    va.Dessemodo,aolerotextoCarroa Vazia,possvelquevocestejaformando

    namenteaimagemdeumapessoaedesuascaractersticas,diferentementedoque

    visualizavaantesdeiniciarocurso.Istosignificaqueaimagemquevocformoudesi

    edosoutroscomqueserelacionafoimodificada:consequentemente,voctambm

    estproduzindonovossentidosaostextoslidos.

    Muitasvezes,apessoaquevocviunaimagemqueotextoCarroa Vazia possi-

    bilitouconstruirfoialteradaemfunodeseucontextoscio-histrio-ideolgico,pro-

    duzindonovossentidos,novascaractersticas,novasvises,novosolharespessoa.

    justamenteessapossibilidadederessignificarasleituraseascoisasqueaperspectiva

    discursivapropecomoleitura.

    Possenti (1996)apresentacrticasperspectivadiscursiva.Oautordefendeque

    aADquepriorizaoprocessohistricodeproduo,amemriadiscursivadeve

    incorporarosfatorespragmticosprocessointerpessoaldeproduoecompreen-

    so e o conhecimento partilhado para a anlise dos textos ou discursos, elementos

    discutidospeloconceitointeracionistadeleitura.Nestesentido,paraPossenti,ofun-

    cionamentodotextonecessitadosseguintesfatores:a)materiallingustico;b)fatores

    histricosepsicanalticososdiscursosprvios;c)fatorespragmticosopapeldo

    prpriofalantenaanlisedosfatosdalinguagem,isto,osaberdofalante.Podemos

    propalar,ento,que,segundooautor,aperspectivadodiscursopecaaodesconside-

    rarosaspectoscognitivoseosconhecimentosdoleitor.

    os ConCeitos de Leitura na saLa de auLa

    Emboraaspesquisaseos tericosapontemvriosconceitosde leituraemvoga

    nassalasdeaulabrasileiras,conformepodemosobservarnestetexto,possvelque

    muitasestabeleamcontatosemsuascaractersticas,quepermitemoaproveitamento

    daquelaspertinentessituaodeensinodesejada.Dessaforma,certoqueopro-

    fessorpodeenquadrar-se,ouatmesmovisualizar-seemumouemoutroconceito,

    contudo,aprticademonstraqueamaneiramaisadequadadetrabalhocomaleitura

    comosalunosaindaoecletismoterico,isto,oaproveitamentodascaractersticas

    dosconceitosdeleituraquesoteissituaoemqueprofessorealunosestointe-

    ragindo,paraproduzir-sesentidos,emfunodasleiturasestabelecidasparaotexto

    trabalhado.

    Ritter(1999,p.22-23),emestudossobrea leituraemambienteescolar,prope

    umaarticulaoentreosenfoquescognitivistaediscursivo,asperspectivasdoleitor,

    do texto edodiscurso, resultandoemumaperspectiva cognitivo-discursivaparao

  • 35

    ensinodaleitura.Aautoraquestiona:

    Ora,seoquesequerformarleitorescrticos,desconfiados,queconsigamchegar ao implcito, s entrelinhas de um texto, resgatando a dimenso so-ciocultural da leitura, como podemos considerar o papel ativo desse sujeito, semconceb-loenquantosersocialehistrico?Comoadmitirsuashistriasdeleituras,semlevaremcontasuasexperinciasrelevantes,seusconhecimentosanteriores?

    Essasindagaesevidenciamanecessidadedeseconsiderartantoosconhecimen-

    tos enciclopdicos do leitor, ou seja, os conhecimentos prvios armazenados em sua

    memriadeleitura(aquelaqueseconstriaolongodosanos,emtodososambientes

    sociaispossveis),comoascondiesscio-histricasdaproduodaleitura,proposta

    pelasperspectivasinteracionistaediscursiva,emumaconstruomistadeteoriasque

    sepoderiadenominarinteracionista-scio-discursiva.

    Emumaperspectivamaisabrangente,apartirdaconsideraodaleituracomoum

    conceitointeracionista-scio-discursivo,DellIsola(1996),aoinvestigarascondies

    deinteraosujeito/linguagemnaleitura,analisaoatodelersobtrsenfoques:a)a

    leituracomohabilidadefundantedoserhumano;b)aleituracomoprticasocial;c)

    aleituracomoatodeco-produo.Asreflexesapartirdessesenfoquescontribuem

    para solidificaraperspectivadeensinode leituraemsaladeaulademaneiramais

    prximadecomoalinguagemhumanaentendidaeestudadaatualmente.

    Oprimeiroenfoquesugerequealeiturainauguraoindivduocomosujeitohuma-

    no,compreendendo-sesujeitocomosujeitosujeitadoaalgoesujeitoagentesobre

    algo.DeacordocomDellIsola(1996,p.75),

    osujeito,comoagenteda interaotexto-leitor, fazumaleituratextualcomtodooseuser:olhos,ouvidos,sentimentos,pensamentoseasuabagagemso-ciocultural.Comopaciente,comoaquelequesesujeitaaoprocessointerativo,oleitorconstitui-se,representa-se,identifica-seeprojeta-senotexto.

    Assim,aleitura,emprimeirolugar,umahabilidadequedaoleitoracondio

    derevelar-secomoserhumano.Essacondiolevadaparaasaladeaulaenopode

    serdesconsideradanomomentodaleitura.

    Aleituratambmconsisteemumaprticasocialporqueosujeitoleitoreosujeito

    autorrevelamnaleituramarcasdaindividualidadeedolugarsocialdeondeprovm.

    Ento, estabelece-se, durante o ato de ler, uma relao de intersubjetividade entre lei-

    toretexto,determinadasemprepelocontextodesuarealizao.Nestesentido,essa

    relaopodesimplesmenteserdirecionadapeloprofessor,quandoestenotemoco-

    nhecimentodosvriosconceitosdeleitura.Porisso,fundamentalaoprofessorsaber

    quaisosconceitosdeleituraqueperpassamosistemaeducacionalbrasileiro,parapo-

    deridentificaresaberorientaroalunodemaneiraadequadanaconstruodaleitura.

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    36

    DellIsola(1996)aindaconceituaaleituracomoatodeco-produodotexto.Isto

    porqueotextonuncaestacabado,poisapresentaespaoslacunaresqueseropreen-

    chidosdeacordocomascondiessociais,ideolgicas,culturais,histricaseafetivas

    doleitor,comopropeaperspectivadiscursivadeleitura.Sendoassim,considerando

    asleituraseasreflexesapresentadasparaotextoCarroa Vazia, o leitor

    pode produzir do mesmo texto diferentes leituras, passveis de variao de mo-mentoparamomento,poisarelaoleitor/mundo/contextotambmpassveldemudanas (asnovasexperinciaspessoais interferemnas impressesquese tmsobrea realidade, sobreomododever,deestare vivernomundo)(DELLISOLA,1996,p.73).

    Essareflexopermitereconhecerque:a)todaleituraenvolveumaproduoe

    no uma extrao, simplesmente de sentidos, constitudos a partir do saber do leitor

    edascircunstnciasdaleitura;b)tantoosditoscomoosnoditosfazempartedo

    texto;assim,saberlersignificaperceberaincompletudedotextoedesfazerosefeitos

    detransparncia;c)cabeaoleitorperceberasestratgiasdemanipulaopresentes

    notexto,oqueotornaumsujeitoativoenoumsujeitopassivo,talcomopropem

    asteoriasdadecodificaoumavezqueelepodeperceberaideologiapresenteno

    texto,question-la,julg-laecolocar-secontra.

    Assim,aofinaldestetexto,ficamarcadaaexistnciadevriosconceitosdeleitura

    quesodiscutidosepraticadosnoensinodeleituranasescolasbrasileiras.Nopode-

    mosnegarsuasexistncias,oquedevemossaberqueexistem,queco-existem,que

    podemseraproveitadosparaaformaoeodesenvolvimentodeleitorescompetentes.

    BEZERRA,M.A.Concepesdeleituraesuainfluncianoslivrosdidticosde

    portugus.In:SEMINRIONACIONALSOBRELINGUAGEMEENSINO,2.,1997,

    Pelotas. Anais...:Pelotas:Educat,2003.1CD-ROM.

    BRASIL.SecretariadeEducaoFundamental.Parmetros curriculares nacionais:

    terceiroequartociclosdoensinofundamental:lnguaportuguesa.Braslia,DF:MEC/

    SEF,1998.

    COLOMER,T.;CAMPS,A.Ensinar a ler, ensinar a compreender.Traduode.

    FtimaMurad.PortoAlegre:Artmed,2002.

    Referncias

  • 37

    CORACINI,M.J.(Org.).O jogo discursivo na aula de leitura.Campinas,SP:

    Pontes,1995.

    ______.Concepesdeleiturana(ps)-modernidade.In:LIMA,R.C.C.P.(Org.).

    Leituras:mltiplosolhares.Campinas,SP:MercadodeLetras,S.J.daBoaVista,SP:

    Unifeob,2005.

    DELLISOLA,R.L.P.Ainteraosujeito-linguagememleitura.In:MAGALHES,I.

    (Org.).As mltiplas faces da linguagem.Braslia,DF:UNB,1996.p.69-75.

    FERREIRA,M.C.L.Nastrilhasdodiscurso:apropsitodeleitura,sentidoe

    interpretao.In:ORLANDI,E.P.(Org.).A leitura e os leitores.Campinas,SP:

    Pontes,1998.p.201-208.

    FIORIN,J.L.Tendnciasdaanlisedodiscurso.Cadernos de Estudos Lingsticos,

    Campinas,SP,n.19,p.173-179,jul./dez.,1990.

    FULGNCIO,L.;LIBERATO,Y.A leitura na escola.SoPaulo:Contexto,1996.

    GOODMAN,K.S.Oprocessodaleitura:consideraesarespeitodaslnguasedo

    desenvolvimento.In:FERREIRO,E;PALACIO,M,G(Org.).Os processos de leitura e

    escrita:novasperspectivas.PortoAlegre:ArtesMdicas,1987.p.11-22.

    KATO,M.A.No mundo da escrita:umaperspectivapsicolingstica.SoPaulo:

    tica,1986.

    ______.O aprendizado da leitura.3.ed.SoPaulo:MartinsFontes,1990.

    KLEIMAN,A.Leitura:ensinoepesquisa.Campinas,SP:Pontes,1989.

    ______.Oficina de leitura:teoriaeprtica.Campinas,SP:Pontes,1996.

    ______.Texto e leitor:aspectoscognitivosdaleitura.7.ed.Campinas,SP:Pontes,

    2000.

    LEFFA,V.J.Aspectos da leitura:umaperspectivapsicolingstica.PortoAlegre:

    Sagra:DCLuzzatto,1996.

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    38

    LEFFA,V.J.Perspectivasnoestudodaleitura:texto,leitoreinteraosocial.In:

    LEFFA,VilsonJ.;PEREIRA,AracyE.(Org.).O ensino da leitura e produo textual.

    Pelotas:Educat,1999.

    MASCIA,M.A.A.,Leitura:umapropostadiscursivo-desconstrutivista.In:LIMA,R.C.

    C.P.(Org.).Leituras:mltiplosolhares.Campinas,SP:MercadodeLetras;SoJos

    daBoaVista,SP:Unifeob,2005.

    MEURERJ.L.Compreensodelinguagemescrita:aspectosdopapeldoleitor.

    In:BOHN,H.I.;VANDRESEN,P.(Org.).Tpicos de Lingstica aplicada.

    Florianpolis:Ed.UFSC,1988.p.258-269.

    MOITALOPES,L.P.Oficina de Lingstica aplicada.Campinas,SP:Mercadode

    Letras,1996.

    ORLANDI,E.P.Anlise de discurso:princpioseprocedimentos.Campinas,SP:

    Pontes,2000.

    _______.Discurso e texto:formulaoecirculaodossentidos.Campinas,SP:

    Pontes,2001.

    PCHEUX,M.Anliseautomticadodiscurso(AAD-69).In:GADET,F.;HAK,T.

    (Org.).Por uma anlise automtica do discurso:umaintroduoobradeMichel

    Pcheux.TraduodeBethaniaS.Marianietal.3.ed.Campinas,SP:Unicamp,1990.

    p.61-105.

    _______.O discurso:estruturaouacontecimento.TraduodeEniPuccinelli

    Orlandi.Campinas,SP:Pontes,1997.

    POSSENTI,S.Pragmticanaanlisedodiscurso.Caderno de Estudos Lingsticos,

    Campinas,SP,n.30,p.71-84,jan./jun.1996.

    RITTER,L.C.B.Em busca dos produtores de sentido na leitura.1999.142f.

    Dissertao(MestradoemLingsticaaplicada)-UniversidadeEstadualdeMaring,

    Maring,1999.

  • 39

    SILVA,E.T.De olhos abertos:reflexessobreodesenvolvimentodaleiturano

    Brasil.SoPaulo:tica,1991.

    SMITH,F.Leitura significativa.TraduodeBeatrizAffonsoNeves.PortoAlegre:

    Artmed,1999.

    SOL,I.Ler,leitura,compreenso:semprefalamosamesmacoisa?.In:

    TEBEROSKY,A.(Org.).Compreenso na leitura:alnguacomoprocedimento.

    TraduodeFtimaMurad.PortoAlegre:Artmed,2003,p.17-34.

    VIDALABARCA,E.;MARTINEZRICO,G.Porqueostextossotodifceis

    decompreender?Asinfernciassoaresposta.In:TEBEROSKY,A.(Org.).

    Compreenso de leitura:alnguacomoprocedimento.PortoAlegre:Artmed,2003,

    p.139-153

    http://www.leffa.pro.brStiodoprofessorVilsonLeffa.

    http://www.alb.com.brAssociaodeLeituradoBrasil.

    http://www.escrita.uem.br-GrupodePesquisaInteraoeescrita.

    http://www.ple.uem.br/geduem/publica.htmlGrupodeEstudosemAnlisedo

    DiscursodaUEM.

    http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturoProgramaSaltoparaoFuturo.

    http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/educadoresPortalEducacionaldo

    EstadodoParan.

    Stios na internet

    Conceitos de leitura

  • Leitura e ensino

    40

    1) Realizar o levantamentodas caractersticas de cada conceito de leitura apresentadonoartigo,caracterizandocomooleitordeterminadoemcadaumdeles.

    2) Procurarnoslivrosdidticosexemplosdeatividadesdeleituraquerepresentamcadaumdosconceitosestudados.

    Proposta de Atividade

    Anotaes

  • 41

    Renilson Jos Menegassi

    Estratgias de leitura2

    as estratgias de Leitura

    OtrabalhocomestratgiasdeleituranoEnsinoFundamentalextremamentere-

    levanteparaaformaodeumleitorcompetente,queconsigalerqualquertextoda

    sociedade,compreend-loefazerusodeseusconhecimentosparaconseguirtransitar

    pelocorposocialemqueconvive.Assim,osprincpiosbsicosdoletramentosoaqui

    considerados,paraqueoprofessorproponhaumtrabalhodeleituraemqueotexto

    socialsejalido,analisado,refletidoeutilizadocomomeioparaodesenvolvimentoda

    leituracomosalunos.

    Paraqueessedesenvolvimentoocorra,faz-senecessriootrabalhocomasestrat-

    giasdeleituraemsaladeaula,apartirdomaterialdidticoquesetememmosetam-

    bmatravsdetextosquesotrazidosparaaescolaeretiradosdoconvvionormalda

    sociedadeemqueoalunoeoprofessorvivem.Comessaafirmao,instaura-seuma

    certeza:precisoensinarestratgiasde leituraaosalunosnoEnsinoFundamental.

    Com esse ensino, o aluno aprende a desenvolver sua leitura com mais facilidade e de

    maneiramaisadequada.

    Estratgiassoprocedimentosconscientesouinconscientesutilizadospeloleitor

    paradecodificar,compreendereinterpretarotextoeresolverosproblemasqueen-

    contradurante a leitura.Umprocedimento, com frequncia chamado tambmde

    regra,tcnica,mtodo,destrezaouhabilidade,umconjuntodeaesordenadase

    finalizadas,isto,dirigidasconsecuodeumameta(COLL,1987apudSOL,1998,

    p.68).Nesseponto,necessrioquefaamosdistinoentreestratgiasetcnicas.

    Menegassi(1992,p.159)consideraqueastcnicas,comoumprocedimentodeao

    ordenada,

    sosempreaprendidasatravsdeinstruoouobservao.Jasestratgiassodecorrentesdaaprendizagemdastcnicasoudacriaoespontneadoleitor.Ouseja,apsaprendercertas tcnicas,o leitorcriaouadaptaestratgiasdeleituraapartirdosconhecimentosadquiridoscomaquelas; tambmcapazdecriarestratgiasespontneasqueotempoeamaturaonaleiturapropor-cionam,sendoumfatoqueocorretantocomobomquantocomomauleitor.

  • Leitura e ensino

    42

    Ao se ensinar aos alunos a tcnica de sublinhar textos, por exemplo, os proce-

    dimentos so apresentados de modo ordenado, demonstrando como as aes para

    a realizao da tcnica so efetivadas. Ao aprend-la, o leitor, considerando-se sua

    maturidade no trato com a leitura, pode desenvolver estratgias prprias, que lhe

    possibilitamummelhortratamentocomotextoouumamcondutanaleitura.Assim,

    o leitor, a partir dos procedimentos determinados pela tcnica de sublinhar, vai desen-

    volversuaprpriaestratgiadesublinhartextos,quediferentedeleitorparaleitor.

    Istosignificaquecadaleitortemdesenvolvidosuasestratgiasprpriasdeleitura,que

    podem,dependendodatarefaedotexto,sereficazesouno.Dessaforma,oquese

    temcomocertoqueoensinodasestratgiasseefetivanasaladeaulaapartirdas

    condutasqueoprofessorproporcionaaosalunos.

    o ensino de estratgias de Leitura

    Aoconsiderarmosasestratgiascomoprocedimentos,partimosdaideiadequede-

    vemserensinadasaosalunos,paraqueoscontedosdoensinosejamaprendidosde

    maneiramaisadequada,tornandootrabalhodoprofessoredoalunomaispropcio.

    As estratgias no amadurecem sozinhas, nem se desenvolvem, nem emergem,

    nemaparecemnoalunosporqueoprofessordeseja.Elasprecisamdeumprincpio

    deensino,queconformediscutimosanteriormente,podeserapresentadoapartirda

    instruodetcnicasoumesmodeestratgiascertasdeleituradetextos.Elasreque-

    rem, por parte do professor, um conhecimento mnimo de trabalho com o texto, pois

    cadatextorequerumaleituraespecfica,jqueostextosquecirculamnasociedade

    nosolidossempredamesmaforma.Cadatextorequerumaestratgiadeleitura,em

    funodesuaespecificidade,deseucontedo,desuaforma.certoquemuitostex-

    tossolidoscomamesmaestratgia,pormseuempregodiferenciadopeloleitor.

    Dessa forma, o ensinodas estratgias necessrio porque se pretende formar

    leitoresautnomos,capazesdeenfrentardeformainteligentetextosdendolemuito

    diversa,namaioriadasvezesdiferentesdosutilizadosdurantea instruo.(SOL,

    1998, p. 72).Neste sentido, a formao de um leitor competente necessariamente

    passapeloensinodeestratgiasde leitura,pelaprticaem textos sociais,pelode-

    senvolvimentodeumaautonomianoleitorparaescolheraestratgiacertaaotexto

    trabalhado.

    A formao de leitores competentes, autnomos, possibilita ao aluno a capacida-

    dedeaprenderapartirdostextosquel,isto,acadanovotextooleitoraprende

    novosconhecimentos,novasestruturas,desenvolvenovasestratgias;eleaprendea

    aprender.Paraqueistosejapossvel,necessrioqueesseleitorinterajacomotexto,

    compreendendo-o;estabelearelaesentreoqueleosconhecimentosprviosque

  • 43

    temarmazenadonamemriasobreotemadiscutidonotexto;questioneoconheci-

    mentoaprendido,conseguindorealizarassociaescomoquejtinhanamemria,

    comasnovasinformaesqueseformouemsuamente,permitindosuautilizaoem

    outros contextos sociais diferentes da escola, onde est aprendendo a trabalhar com o

    texto.Enfim,oalunoaprendenaescolaotrabalhocomasestratgiasdeleitura,para,

    posteriormente,usufruirdesseprocedimentona leiturade textosqueencontrano

    cotidianosocialemqueconvive,noserestringindootrabalhocomoestudodotexto

    somentesaladeaula.Istoformarumleitorcompetente!

    o Leitor e as estratgias de Leitura

    Soquatroasestratgiasfundamentaispararealizaracompreensoaseremdesen-

    volvidasnosalunos,paraotrabalhoemtodosostextos:seleo, antecipao, infe-

    rncia e verificao.Elasforamsistematizadasapartirdeestudosrealizadosporpes-

    quisadoresemPsicolingustica,comoGoodman(1987)eSmith(1991),eapresentadas

    comorefernciaaorientaesnotrabalhocomleituranosParmetrosCurriculares

    Nacionais(BRASIL,1997,1998).Muitasoutrasestratgiassoconsideradasnoproces-

    sodeensino,pormessasquatrosoasprincipais,poisessaclassificaofoiresultado

    demuitaspesquisasdesenvolvidasnasltimasquatrodcadasemtodoomundo.

    Paraentenderoquesignificam,apresentamosassuasdefinieseexemplosqueex-

    plicitamseufuncionamentoduranteoprocessodeensinoeaprendizagemdelngua.

    A) Seleo: Soaesquepossibilitamaoleitorater-sesomenteaoquelhetil

    paraacompreensodotexto,desprezando-seitensconsideradosirrelevantes.

    Aolerumarevista,umjornal,oleitoriniciaaleiturapelaseleodostextosque

    estoalidispostos.Primeiro,oleitorfolheiatodooperidico,lendocadattulo

    eobservandoasfigurasqueacompanhamotexto.Seottulolhechamaraaten-

    o,despertandointeresse,eleacabalendoolide,aquelaparteintrodutriada

    matriajornalsticaqueresumeofatoobjetivaesinteticamente,respondendo

    asquestes:oqu,quem,quando,onde,comoeporquesobreoassuntodo

    texto.Entretanto,oleitornolareportagem,elecontinuaafolheararevista

    ouojornal,selecionandooqueirlerapsainvestigaopreliminar.Nessase-

    leo,oleitordeterminaquaistextoslheservemparaleituranaquelemomento

    desuavida.Feitaaseleoinicial,lana-seleituradostextosescolhidos.

    A seleo um importante recurso para a escolha de textos e tambm de suas

    ideiasrelevantes.Assim,aolerumtexto,oleitornoseaproveitadetodasasinfor-

    maesaliconstantes.Eleselecionaoquelhepertinenteemfunodeseuobjetivo

    estratgias de leitura

  • Leitura e ensino

    44

    deleitura.Porissoqueoensinoqueseefetivaemsaladeaulasobreasestratgiasde

    leitura deve ser consciente de seu processo, para no causar danos na leitura do aluno,

    apartirdainternalizaodeprocedimentosinadequadosou,atmesmo,afaltadeles.

    B) Antecipao: Soprediesqueoleitorconstrisobreotextoqueestlendo,

    possibilitando-lheaantecipaodocontedo,mantendoaatenonoobjetivo

    determinadoinicialmente.Oleitor,durantealeituradotexto,criahiptesese

    previsessobreossignificadosapartirdasinformaesexplcitaseimplcitas

    constantesno texto.Essas antecipaespodemser comprovadasouno.Ao

    seremcomprovadas,o leitorsentemaiorsegurananasestratgiasqueesco-

    lheu,dandoprosseguimentoconduta iniciada,poisestnocaminhocerto.

    Poroutrolado,aotersuasprediesnocomprovadas,eleobrigadoarever

    seuprocedimento,reavaliandoousodasestratgias, readequando-asou,at

    mesmo,trocandodeestratgia,escolhendoumaquelhepossibiliteumaanteci-

    paomaiseficiente.

    Noexemplocomentadonaestratgiadeseleo,oleitor,aorealizaraseleode

    textoemumjornalouemumarevista,iniciaasualeitura.Deimediato,apartirdalei-

    turadottulo,oleitorjantecipaalgumasprevisessobreocontedodotexto.Aoler

    o lide, o leitor pode comprovar ou no sua predio iniciada no ttulo, possibilitando a

    continuaodaestratgiaescolhidao