livro_19_leitura_e_ensino
DESCRIPTION
Leitura e ensinoTRANSCRIPT
-
Leitura e ensino
-
Maring2010
editora da universidade estaduaL de Maring
Reitor Prof. Dr. Dcio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mrio Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini
ConseLho editoriaL
Presidente Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor Associado Prof. Dr. Ulysses Cecato Vice-Editor Associado Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza EditoresCientficos Prof. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lcia Rodrigues Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Prof. Dr. Clves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Prof. Dr. Evaristo Atncio Paredes Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Prof. Dr. Joo Fbio Bertonha Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Profa. Dra. Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Prof. Dr. Ronald Jos Barth Pinto Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves Profa. Dra. Terezinha Oliveira Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valria Soares de Assis
equipe tCniCa
ProjetoGrficoeDesign Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mnica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio ArtesGrficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercializao Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima
-
Maring2010
Formao de ProFessores - ead
Leitura e ensino
RENILSON JOS MENEGASSI(ORGANIZADOR)
19
2. ed.
-
Leitura e ensino / Renilson Jos Menegassi. 2. ed. Maring : Eduem, 2010. 190 p. ; 21 cm. (Formao de Professores - EAD; v. 19).
ISBN 978-85-7628-285-3
1. Leitura Estudo e ensino. 2. Leitura Conceitos. 3. Ensino de leitura Estratgias. 4. Literatura para crianas Narrativas. I. Menegassi, Renilson Jos, org.
CDD 21. ed. 372.4
L533
Coleo Formao de professores - ead
Apoio tcnico: Rosane Gomes Carpanese
Normalizao e catalogao: Ivani Baptista CRB - 9/331
Reviso Gramatical: Annie Rose dos Santos
Edio, Produo Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
Jnior Bianchi
Eliane Arruda
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Copyright 2010 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo
mecnico, eletrnico, reprogrfico etc., sem a autorizao, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edio 2010 para Eduem.
Endereo para correspondncia:
eduem - editora da universidade estadual de Maring
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitrio
87020-900 - Maring - Paran
Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392http://www.eduem.uem.br / [email protected]
-
3Sobre os autores
Apresentao da coleo
Apresentao do livro
CaptuLo 1Conceitos de leitura
Renilson Jos Menegassi / Cristiane Malinoski Pianaro Angelo
CaptuLo 2Estratgias de leitura
Renilson Jos Menegassi
CaptuLo 3A produo de sentidos na aula de leitura
Llian Cristina Buzato Ritter
CaptuLo 4Avaliao de leitura
Renilson Jos Menegassi
CaptuLo 5Literatura para crianas: a narrativa
Rosa Maria Graciotto Silva
CaptuLo 6A leitura de poesia na escola
Mirian Hisae Yaegashi Zappone
CaptuLo 7Perguntas de leitura
Renilson Jos Menegassi
> 5
> 7
> 9
> 15
> 41
> 65
> 87
> 109
> 139
> 167
umrioS
-
5CRISTIANE MALINOSKI PIANARO NGELO
Professora da Universidade do Centro-Oeste (Unicentro). Graduada em
Letras (Unicentro). Mestre em Letras (UEM).
LLIAN CRISTINA BUZATO RITTER
Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em
Letras (UEM). Mestre em Lingustica Aplicada (UEM).
MIRIAN HISAE YAEGASHI ZAPPONE
Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em
Letras (UEM). Mestre em Letras (Unesp). Doutora em Teoria da Literatura
(Unicamp).
RENILSON JOSE MENEGASSI
Professor da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduado em
Letras (UEM). Mestre em Lingustica (UFSC). Doutor em Letras (Unesp).
ROSA MARIA GRACIOTTO SILVA
Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em
Letras (Feeclep). Mestre em Letras (USC). Doutora em Letras (Unesp).
obre os autoresS
-
7A coleo Formao de Professores - EAD teve sua primeira edio publicada em
2005,com33 ttulosfinanciadospelaSecretariadeEducaoaDistncia(SEED)do
MinistriodaEducao(MEC)paraqueoslivrospudessemserutilizadoscomomaterial
didticonoscursosdelicenciaturaofertadosnombitodoProgramadeFormaode
Professores(Pr-Licenciatura1).Atiragemdaprimeiraediofoide2500exemplares.
Apartirde2008,demosincioaoprocessodeorganizaoepublicaodasegunda
ediodacoleo,comoacrscimode12novosttulos.Aconclusodostrabalhos
deverocorrersomentenoanode2012, tendoemvistaqueofinanciamentopara
estaedioserliberadogradativamente,deacordocomocronogramaestabelecido
pelaDiretoriadeEducaoaDistncia(DED)daCoordenaodeAperfeioamentode
PessoaldoEnsinoSuperior(CAPES),queresponsvelpeloprogramadenominado
UniversidadeAbertadoBrasil(UAB).
Aprincpio,seroimpressos695exemplaresdecadattulo,umavezqueoslivros
da nova coleo sero utilizados como material didtico para os alunos matriculados
noCursodePedagogia,ModalidadedeEducaoaDistncia,ofertadopelaUniversi-
dadeEstadualdeMaring,nombitodoSistemaUAB.
Cadalivrodacoleotraz,emseubojo,umobjetodereflexoquefoipensado
paraumadisciplinaespecficadocurso,masemnenhumdeles seusorganizadores
e autores tiveramapretensodedar contada totalidadedasdiscusses tericas e
prticasconstrudashistoricamentenoquesereferemaoscontedosapresentados.O
quebuscamos,comcadaumdoslivrospublicados,abrirapossibilidadedaleitura,
dareflexoedoaprofundamentodasquestespensadascomofundamentaisparaa
formaodoPedagogonaatualidade.
Por isso mesmo, esta coleo somente poderia ser construda a partir do esforo
coletivo de professores das mais diversas reas e departamentos da Universidade Esta-
dualdeMaring(UEM)edasinstituiesquetmsecolocadocomoparceirasnesse
processo.
Nestesentido,agradecemossinceramenteaoscolegasdaUEMedasdemaisinsti-
tuiesqueorganizaramlivroseouescreveramcaptulosparaosdiversoslivrosdesta
coleo.
Agradecemos, ainda, administrao centraldaUEM,quepormeioda atuao
diretadaReitoriaedediversasPr-Reitoriasnomediuesforosparaqueostraba-
lhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possvel. De modo bastante
presentao da ColeoA
-
Leitura e ensino
8
especfico,destacamosoesforodaReitoriaparaqueosrecursosparaofinanciamento
destacoleopudessemserliberadosemconformidadecomostrmitesburocrticos
ecomosprazosexguosestabelecidospeloFundoNacionaldeDesenvolvimentoda
Educao(FNDE).
Internamente enfatizamos, ainda, o envolvimento direto dos professores do De-
partamentode Fundamentos da Educao (DFE), vinculado aoCentrodeCincias
Humanas, Letras eArtes (CCH),quenodecorrerdosltimos anos empreenderam
esforosparaqueocursodePedagogia,namodalidadedeeducaoadistncia,pu-
dessesercriadooficialmente,oqueexigiuumrepensardotrabalhoacadmicoeuma
modificaosignificativadasistemticadasatividadesdocentes.
No tocante ao Ministrio da Educao, ressaltamos o esforo empreendido pela
Diretoria da Educao a Distncia (DED) da Coordenao de Aperfeioamento de
Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e pela Secretaria de Educao de Educao a
Distncia(SEED/MEC),queemparceriacomasInstituiesdeEnsinoSuperior(IES)
conseguiramromperbarreirastemporaiseespaciaisparaqueosconvniosparaali-
beraodosrecursosfossemassinadoseencaminhadosaosrgoscompetentespara
aprovao,tendoemvistaaaodiretaeeficientedeumnmeromuitopequenode
pessoasqueintegramaCoordenaoGeraldeSupervisoeFomentoeaCoordenao
GeraldeArticulao.
EsperamosqueasegundaediodaColeoFormaodeProfessores-EADpossa
contribuirparaaformaodosalunosmatriculadosnocursodePedagogia,bemcomo
deoutros cursos superiores adistnciade todas as instituiespblicasde ensino
superiorqueintegrameoupossamintegraremumfuturoprximooSistemaUAB.
MariaLuisaFurlanCosta
Organizadora da Coleo
-
9para que Ler?
Minhafilhadeseteanosestavarealizandosuatarefadaprimeirasrie,nolivrode
Portugus,ecomeouareclamarsobreocontedo,perguntando-me:Paraqueessas
perguntas?Nomelhorslerotexto?
Inicialmente,indaguei-lheoqueestavaperguntando,poisnoconseguiaentender.
Suarespostafoipronta,porm,atravsdeduasoutrasperguntas:Paraqueperguntas,
searespostaestnotexto?!Nomelhorlersomenteotexto?!.
Paracompreenderessasituao,transcrevoatarefaqueapequenarealizava:
Essanotciaapareceuemumarevista.Leia:
Cachorro CiclistaCachorro tambm sabe pedalar. No Japo, o dlmata Momotar vem encantando adultos e crianas com suas habilidades em cima de uma bicicleta. Momotar tem 3 anos e seu dono garante que o animal aprendeu a pedalar em apenas seis semanas. O dlmata ciclista virou at estrela de televiso, participando, constantemente, de programas (Revista Z, ano I, n. 9 abril 1997, p. 9).
interpretao oraLProcure,comseuprofessoreseuscolegas,arespostaparacadaperguntaabaixo.Voltem
notciaparaencontrarainformaoeanotemarespostanalinhadiantedecadapergunta:
Emquerevistafoipublicadaestanotcia?Z
Emqueanofoipublicadaanotcia?1997
Oqueocachorrosabefazer?Pedalar, andar de bicicleta
Emquantotempoeleaprendeuafazerisso?Seis semanas
Qualaraadocachorro?Dlmata
Qualonomedocachorro?Momotar
Emquepasocachorrovive?No Japo
Quantosanosocachorrotinhaquandoanotciafoipublicada?3 anos
Quantosanosocachorrotemagora,quandovocestlendoanotcia?A reposta depende do ano em que o livro esteja sendo usado: somar o nmero de anos transcorridos desde 1997 aos 3 anos que o cachorro tinha nesse ano.
(SOARES,Magda.Portugus:umapropostaparaoletramento:ensinofundamental.SoPaulo:Moderna,1999.v.1.p.116-117.).
presentao do livroA
-
Leitura e ensino
10
Depoisdelerasquestes,percebiqueminhafilhatinharazo.Suaprofessorado
primeiro ano, assimcomo todas asprofessorasdaEducao Infantil queestiveram
desenvolvendo a sua leitura, est fazendo um trabalho interessante de formao e de-
senvolvimentodoleitorcomcriticidade,apartirdasnoesdosociointeracionismo.
Contudo,oexercciodolivrodidticoempregado,consideradoumdosmelhoresna
poca(em2005),mostracrianaquealeituraalgosemsentido,poisbastabuscar
notextoasrespostascertasecopi-lasparateraatividadecompleta.Comominhafilha
aprendeu a ler, com a professora, o texto a partir de sua idiossincrasia, construindo
sentidosprprios,aquestionarotexto,ainteragircomoautor,arealizarumdilogo
comotextoeconsequentementecomseuautor,elapercebeuqueasperguntasapre-
sentadasnofaziamsentidoalgum,oumelhor,nolhepossibilitavamaconstruode
umnovosentido,noafaziamtrabalharcomaleiturasobreotexto.
Apsessareflexo,voltei-meparaminhafilhaeperguntei:Oquepodeserfeito,
ento?.Suaresposta foinovamentepronta: Lero texto!.Foioquefizemos. Jun-
tos,conversamossobreotexto,retirandodeleinformaesqueestavamexplcitase
implcitas,criando,duranteesseprocesso,umasriedeperguntas,queoraeufazia,
ora ela me fazia, sempre buscando respostas, servindo como uma mediao para a
manutenodenossas interaes,paraaproduodeumdilogoemqueestavam
presentestrsatores:acriana,otextoCachorro Ciclistaeopai.Aofinal,depoisde
encontrarmosjuntosmuitasinformaesrelevantesaotexto,pequenaeamim,ela
aindamedisse:Viu,assimquesel!.
Comessadescrio,possoafirmarquenossosprofessoresdoprimeiroesegundo
ciclos do Ensino Fundamental, assim como tambm os professores de Educao Infan-
tiledoEnsinoMdio,estobuscandoconstruirumensinodeleituramaisprximoda
realidadenecessriasociedadeatual.Ascrianasnoaceitammaistratamentossu-
perficiaisparaotexto,emqueperguntasdecopiaosoapresentadasparaquepre-
enchamumespaomecanicamente,construindoumainaptidoleitura,formando
leitoresquesetornemeleitoresapenas,quesaibamleroqueasinstnciasideolgicas
superioresdesejamqueleiamparapodervotarnocandidatocerto.Pelocontrrio,elas
trazemparaasaladeaulasuasleiturasdomundoexternoescolaedesejamquens
professorespossamosajud-lasadesenvolveraleiturademodoeficaz.
Para compreender como esse processo de leitura se efetiva na sala de aula, auxilian-
do o professor de Ensino Fundamental a conhecer, entender, ensinar e desenvolver a
leituranascrianas,estelivroapresentaumasriedecaptulosquediscutemmuitos
aspectosqueenvolvemoensinoeaaprendizagemde leitura,permitindoaoaluno
deEducaoaDistnciaestudarecompreendermelhorarealidadedaeducaobra-
sileiraatual,nosseusaspectos tericoseprticos.Os textos foramproduzidospor
-
11
professores-pesquisadoresenvolvidosdiretamentecomaformaodoleitor,abordan-
doquestessobrealnguaealiteraturaempregadasnoBrasil,apartirdoolharda
leituranaescola.
Dessaforma,estelivroestorganizadoemumasequnciaquepermiteaoalunoler
oscaptulosemumaordemquelhefacilitarosprocessosdecompreensoedeensi-
noeaprendizagemdaleitura,apartirderefernciasssituaesdeensinodelngua
materna.Assim,sugerimosaleituradecadacaptulonaordemdesuasapresentaes.
OcaptuloConceitos e leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM)eCristianeMa-
linoskiPianarongelo(Unicentro),apresentaumavisopanormicadosconceitosde
leituratrabalhadosnoBrasil.Otextodiscutealeituraapartirdequatroperspectivas
diferentes,queenvolvemvariadasposiesdaLingustica,daLingusticaAplicadaede
suasvertentesdepesquisa:aperspectivadotexto;aperspectivadoleitor;aperspecti-
vainteracionista;aperspectivadiscursiva.Cadaconceitoexplicadoapartirdeexem-
plosqueelucidamecaracterizamsuasposiestericas.Aofinal,ocaptuloressaltaa
importnciadeoprofessorconhecerosconceitosqueperpassamaescolabrasileira,
paradominareaplicaraposioterico-prticaqueembasamuitasatividadesdelei-
turaatuaispropostasnosmateriaisdidticosempregadosemsaladeaula.
OcaptuloEstratgias de leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM),apresentao
quesoestratgiasdeleituraapartirdaconcepointeracionistadeleitura,discutin-
dosuarelaocomoensino.Paraelucidaroprocesso,oferecidoumexemplode
leituracomasestratgiasemumahistriaemquadrinhos,parailustrarcomoproceder
aoensinodeestratgiasdeleiturajuntamentecomalunos.Almdisto,otextotambm
apresentaumadiscussoacercadasestratgiasdecompreensoqueocorremnopro-
cessodeleitura,enfatizando-seoantes,oduranteeodepoisnaleitura.
OcaptuloA produo de sentidos na aula de leitura,deLlianCristinaBuzatoRit-
ter(UEM),apresentaasanlisesdeaulasdeleituraefetivadasnoEnsinoFundamental,
refletindoacercadosporqusdeprocedimentosmetodolgicostradicionaissemani-
festaremtopresencialmentenasaladeaula.Paraisto,aautoradescreveetrazpartes
degravaesrealizadasduranteaulasdeleitura,quedemonstramaformaodoleitor
nosistemaeducacionalbrasileiro,oucomoelamesmaemprega:aformaodeum
pseudo-leitor.Duranteadiscussodosprocedimentostradicionaisempregadospela
professora,ocaptulocaracterizadeformaobjetivaospontosquetodoprofessordeve
atentarduranteoplanejamento,aexecuoeaavaliaodesuasaulasdeleitura.Ao
final,mantendoaobjetividadecomosuacaracterstica,aautoraapresentaosaspectos
metodolgicosadequadossaladeleitura.
Almde apresentar oque tradicionalmente se faz em sala e oque seria o ade-
quadoaumaaulade leitura, a autora convidao leitor,umprofessorem formao
-
Leitura e ensino
12
universitria,arefletirsobresuaprpriaprticadeleituraededocnciadeleitura,que
oprincpiobsicodequalquertransformao:aauto-reflexo.
O captuloAvaliao de leitura, de Renilson JosMenegassi (UEM), apresenta
umadiscussorelativaaoqueaavaliaoformativaemleitura,enfocando-acomo
uminstrumentoparaaformaodoleitornaescola.Tambmsoapresentadasvrias
atividadesrelacionadasavaliaodeleitura,emumaperspectivainteracionista,que
podemserutilizadasemsaladeaula.Doispontossoenfatizadosnotexto:adiscusso
relativaproduodeperguntasnaavaliaodeleituraeareflexosobrealeituraem
vozaltanasaladeauladeEnsinoFundamental.
OcaptuloLiteratura para crianas: a narrativa,deRosaMariaGraciottoSilva
(UEM), abordaumpanorama sobre a Literatura Infantil, abrangendo as fbulas, os
contosdefadas,ashistriasdeMonteiroLobatoedeautoresmaisatuais,comoAna
MariaMachado.Destacamosamaneiradidticadaautoraque,emsuaexposio,con-
taahistriadaLiteraturaInfantil,sendocoerentecomasanlisesdenarrativasque
evidenciaao longodo texto.AlmdeelucidaroscaminhosdaLiteratura Infantil,a
autora apresenta uma comparao analtica da histria de Chapeuzinho Vermelho,
envolvendoautoresdaLiteraturaUniversaledaLiteraturaBrasileira.Tambmmostra
aoleitorcomoanalisarumaobradeliteraturaparacrianasapartirdereflexesrefe-
renteshistriaMenina bonita de lao de fita,deAnaMariaMachado.Percebemos
queotextoricoeminformaes,mostrandoaimportnciadaLiteraturaInfantilna
formaoenodesenvolvimentodoleitornoEnsinoFundamental.
OcaptuloA leitura de poesia na escola,deMirianHisaeYaegashiZappone(UEM),
apresenta a poesia como uma forma de ler, sentir e fruir o mundo, sempre a partir da
formaodoleitornaescola,muitasvezesesquecidaenocompreendidacomotraba-
lhodeleituraeformaodocidadobrasileiro.Assim,nodecorrerdotexto,aautora
explicaaimportnciadeselerpoesiaparaecomosalunosdoEnsinoFundamental,
enfatizandoosmodoscomoelafoielidanaescolabrasileira.Parailustrarumaan-
lise de como proceder ao trabalho com a poesia em sala de aula, o texto apresenta,
inicialmente, um poema de Carlos Drummond de Andrade, Os Cantores Inteis, em
queanalisacadaumdosprocedimentosliterriosnecessriosasualeitura.Almdisso,
aautoraespecificaminuciosamenteaproduodeleituradepoesiasinfantisapartir
dedoisexemploscomentadosdepoemas:Pagodeira,deJosElias,eAula de leitura,
deR.Azevedo,emqueanalisa,juntocomoleitor,cadaelementonecessrioaoconhe-
cimentodoprofessorparaotrabalhodeleituradepoesiacomoaluno.
OcaptuloPerguntas de leitura,deRenilsonJosMenegassi(UEM),discorresobre
comoasperguntasdeleitura,empregadascomoinstrumentosdeavaliao,soconsi-
deradasemcadaumadasperspectivasdeleituraempregadasemsaladeaula,sempre
-
13
atravsdeexemplos recolhidosde situaesnaturaisdeensinode lnguamaterna.
Tambmdiscuteumapropostadetrabalhodeproduodeperguntasdeleituraapar-
tirdaconcepointeracionista,emqueseconsideramaordenaoeasequenciao
dasquestes,comoobjetivodelevaroleitoraumdesenvolvimentonoseuprocesso
deleitura.Ademais,otextotambmenfocaaimportnciadeseterrespostascomple-
tassperguntas,paraquea relao leitura-escrita seestabeleade formanaturale
dialgicanasaladeaula.
A partir da leitura e estudo dos captulos apresentados, o aluno de Educao a Dis-
tnciaconseguircompreenderoprocessodeleituraestudadoepropostoatualmente
noBrasil,possibilitando-lheconhecimentosnecessriosimplementaodeensino
eaprendizagemdeleituramaiscondizenterealidadeemqueatuaouatuar,ofere-
cendo-lheumasriedeconceitos,exemplosereflexesqueauxiliamnacompreenso
de seuprprioprocessode leitura,enquanto leitoreprofessor,parapermitiruma
compreensomaisapuradadoprocessodeleituradosalunos.Nestesentido,apsa
apresentaodestelivro,possvelvoltarmosquestoqueoabre:Paraqueler?,res-
pondendoqueparaformarleitores-cidadoscompetentes(notequeumapalavra
s,poisespera-sequejuntasformemumserhumanomelhor)quelevemoBrasileos
brasileirosaumamelhorianaeducao,e,consequentemente,constituiodeum
futurocertosnossascrianas.
RenilsonJosMenegassi
Organizador
-
15
Renilson Jos Menegassi / Cristiane Malinoski Pianaro Angelo
Ahistriadoensinodeleituranaescolabrasileirademonstraquevriosconceitos
deleituraperpassampelassalasdeaulas.Aqui,soexpostososprincipaisconceitos
trabalhadosnoensinode lnguamaterna,paraqueoprofessorem formao saiba
identificar,nomaterialdidtico,noplanejamentodasaulasenasprticascotidianasda
saladeaulaqualconceitodeleituraestsubsidiandooensinonasituaoespecfica
emqueseencontra.
Odesenvolvimentodeteoriassobreleituraestatreladoaodesenvolvimentoda
prpria Lingustica, comoa cinciaqueestuda a linguagemhumana articulada,no
casoafalaeaescrita.Aprincpio,oobjetodeinvestigaoeramasunidadesisoladas
dalngua,comoosfonemas,ossons,aspalavras,asfrases;comodesenvolvimentodas
pesquisasdascinciasdalinguagem,enfocandoaquitodasasvertentesquesurgiram
apartir da Lingustica, como a Psicolingustica, oGerativismo, a Sociolingustica, a
Pragmtica,aLingusticaAplicada,aAnlisedoDiscurso,aLingusticaTextual,paraci-
tarmosapenasalgumas,ofocofoialterando-seatchegarconcepodetextocomo
unidade comunicativa e s condies scio-histricas-ideolgicas emqueo texto
produzido,propostaemvoganaatualidadecomocaractersticaprincipaldoconceito
deleituradifundidonasescolasbrasileiras.
Kato(1986)apresenta,aindaquesumariamente,umpanoramadastendnciasque
exerceraminfluncianomododeseconceberaleituraaolongodosculoXX.Nalin-
gusticaestruturalista,pensa-sealeituracomodecodificao,palavraquenateoriada
leiturasignificapassardocdigoescritoparaocdigooral,isto,lernaescritaapala-
vra casa e produzir na fala a palavra [caza],comsomde[z],sabendo-sequeseescreve
coms,emumatransposiodapalavraescritaparaapalavrafalada.Acredita-seque,
umavezrealizadaessadecodificao,depalavraempalavra,chega-sesemproblemas
aocontedo,isto,oleitorapenasdecodificandoapalavra,conseguiria,porumdis-
positivomgicoexistenteemseucrebro,juntartodasaspalavras,mesmoasqueno
conhece,dandoaotextoumcontedocomoopretendidopeloautorqueoproduziu.
Durantemuitosanosessefoioconceitodeleituradifundidonasescolasbrasileiras.
Conceitos de leitura1
-
Leitura e ensino
16
Um segundo conceito surge quando se constata a importncia do conhecimen-
tolexicaldoleitorparaidentificarapalavra,ouseja,oconhecimentovocabulardas
palavrasqueoleitortemnamemriasobrealnguaqueutilizanodiaadia.Oleitor
considerado,apartirda,comoantecipadordapalavraquevailer(KATO,1986,
p.61),umavezquejteminternalizadanamemriaapalavra,bastaanteciparoseu
significadonocontextoemqueocorre.
Nalingusticagerativista(umadascorrentesdaLingustica,conhecidacomoGerati-
vismoouTransformacionalismo,quepregavaoconceitodegeraodepalavras,frases
esentenaspelosindivduosfalantesdeumalnguaapartirdemecanismosespecficos
deaquisiode linguagemdaadvmonomegerativismo-gerao), apreocupao
desloca-separaonveldasentena.Osinvestigadorescomearamaperceberqueno
bastaoleitorconhecerpreviamenteapalavra,masqueprecisoconsiderarocontexto
lingusticoemqueasentenaproduzida,ondeocorreapalavranotexto.
Entretanto,logoseobservaqueocontextodeseestudarotextoapartirdasen-
tenaapenasnoparecesuficiente.Surge,ento,a lingustica textual,queseope
scorrentesanterioresaotomarcomoobjetoparticularde investigaonomaisa
palavra ou a frase, retiradas, muitas vezes, de seu contexto de produo, mas sim o
textounidadebsicademanifestaoda linguagem(nopodemosesquecerque
o homemnoproduz apenas palavras isoladas; ele produz textos, que podem ser
expressosapenasporumapalavra).Porexemplo,aopassarpeloptiodaescola,voc
observadoisalunosjuntos,semdizerumapalavraumaooutro;derepente,umde-
lesviraparaocolegaedizemaltavoz: -Sai!;essanicapalavracarregaemsitodo
umtexto,emfunodasituaoemquefoiproduzida,daintenodoalunoquea
disseaocolegaedoaceitequeestetevearespeitodotextoemitido.Nestesentido,a
preocupaoparaalingusticatextualvolta-separaosprincpiosdeconstituiodo
texto(oquefazcomqueotextosejaumtexto,quesooselementosjcomentados:a
situao,ainteno,oaceite,enfim,ocontextodesuarealizao).Almdisso,dentro
dessaperspectivatextual,outracorrentesurgiu,considerandoquehavianecessidade
deselevaremcontaasinformaestextuaiseextratextuais(aquelasquenoestodi-
retamente na matria do texto, porm so consideradas no contexto de sua produo
edesuarecepoemfunodaposiosocialdoautoredoleitor)queinterferem
naconstruodosignificado.Diz-seconstruoenomaisdecodificao,porquese
compreendequeosignificadonoestnosdadoslingusticosdotexto,masprovm
doleitor,desuasexperincias,dasuacapacidadedepredizereconfirmarashipteses.
Porsuavez,apragmtica,outracorrentelingusticaqueinfluenciaosestudosatu-
aissobrealinguagemarticuladadohomem,aparecesublinhandoaleituracomoum
processode interaoentreo leitoreo texto.Nesseprocesso,o leitor,atravsdas
-
17
informaesexplcitaseimplcitasqueotextofornece,procuraalcanarosobjetivose
asintenesdoautor.Ento,diferentementedeoutrastendnciaslingusticaspreocu-
padasexclusivamentecomqueotextodiz,aPragmticaatenta-seaoporqueoautor
dizoquediz.
Cabe salientar, ainda, a influncia da anlise dodiscursonomododepensar a
leitura, pois ela traz para o bojo das discusses a historicidade na constituio do dis-
curso,isto,considera-separaoestudoomomentoscio-histricodeleituratantodo
autorquantodoleitor.Nessaperspectiva,otextosozinhonofazsentido,eleprecisa
deumleitor,quetemumahistriadevida,queviveemumadeterminadacamadada
sociedade,quetemcrenaseculturascertas,asquaissotrazidasparaotextonomo-
mentodaleitura.Esseconceitonegaaintencionalidadedoautorsimplesmente,como
sepropunhanosconceitosanteriores,jque,paraela,aideologiaquedetermina
aconfiguraodossentidos.Portanto,aperguntaquedeveserfeitaComootexto
significa?,enomaisaperguntatradicional:Oqueoautorquisdizernotexto?.
Emumaperspectivapsicolingustica,Sol(2003)constataque,emboraasformula-
estericasqueatribuemumpapelimportanteaoleitoreaseuconhecimentoprvio
estejamganhandodestaque,asposturasquedonfaseaotextoequeveemaleitura
comoumprocessodeidentificaodesinaisgrficosaindapersistemnaconcepo
escolardeensinodeleitura,nopodendoserdesconsiderada.Destaforma,coexis-
tem,nodomniodaspesquisasedaprticaescolar,diferentesperspectivasdeleitura
que,doravante,soobjetodeumestudomaisaprofundado:aperspectivadotexto,a
perspectivadoleitor,aperspectivainteracionistaeaperspectivadiscursiva.
Ospressupostos tericosqueamparamcadaumadessasdiferentesperspectivas
deleituraenvolvemumavisodiferentedoqueconsisteoatodelereorientame/ou
justificamdeterminadaspropostasdidticasemtornodacompreensodaleitura,eda
formaoedodesenvolvimentodoleitornaescolabrasileira.
a perspeCtiva do texto
Osestudosdeleiturasobaperspectivadotextocentralizam-senosistemalingusti-
co,correspondendosteoriasdedecodificaodebaseestruturalista(correntete-
ricaquepropunhaoestudodalnguaapartirdasuaestrutura,isto,tudodeveriaser
estudadoeproduzidoapartirdeumaestruturacerta,jmarcadanalngua),portanto
umavisoimanentistadalngua,comumafinalidadeespecficaquereduzoestudoda
lnguaaumfimnicoqueconcebeoatodelercomoumprocessodedecodificao
deletrasemsons,earelaodestescomosignificado.Umdostericosquemelhor
representaessaacepoGough(1976apudKLEIMAN,1989),atravsdeseumodelo
deprocessamentoserial,oqualtemcomoobjetivoapresentarasequnciadeeventos
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
18
queocorrememumsegundodeleitura,comvistasasugeriranaturezadosprocessos
queunemesseseventos.ParaGough,oleitornoumadivinhador,poiselecaminha
pelasentena,letraporletra,palavraporpalavra.comoseasimplesidentificao
dossinaisgrficosgarantissealeituraeficiente,reduzindo-sealnguaaumasimples
identificaodeletras,depalavras,defrases.
Assim, a concepo de leitura sob a perspectiva do texto constitui um modelo de
processamentoascendente(bottom-up,emingls,comomuitoconhecidonali-
teraturasobreleitura),isto,umprocessamentoquevaidotextoparaoleitor,como
seascendesse,considerando-seaposiodotextoquenormalmenteestabaixodos
olhos.Essemodelosupequeoleitorpartedosnveisinferioresdotextoparasuces-
sivamentecomporasdiferentesunidadeslingusticas(asletrasvoformandopalavras,
aspalavrasfraseseasfrasespargrafos)echegaraosnveissuperioresdotexto.De
acordocomColomereCamps(2002),nesseprocessooleitordecodificaossignos,
oraliza-osmesmo que na forma subvoclica (em vozmuito baixa, quase inaudvel,
comoseestivesserezandomuitobaixo),ouve-sepronunciando-os,recebeosignifi-
cadodecadaunidadeeune-osunsaosoutrosparaqueasuasomalheapresenteo
significadoglobal.Leffa(1996)acrescentaqueavisoexerceumpapelfundamental
nessaacepodeleitura.Oleitorrecebeosignificadoatravsdosolhos.Seuraciocnio
conduzidopelasinformaesqueentrampelosolhos.
Bezerra(2003)expequeessaabordagemtericainfluencianoensinodelngua
maternadesdeosprimeirosanosdeescolaridadeatofinaldoEnsinoMdio.Ospro-
cessosascendentesdeleituraaliceramosmtodosdealfabetizaoquesepreocu-
pamcomletras,slabas,parasechegarspalavrasesentopoderemserlidas;esto
na base de propostas de leitura dos textos apresentados nos manuais didticos, os
quaissolicitamrespostasaumquestionriocomperguntasprontamenteidentificadas
notexto;estonaorientaoquesedaoalunoparaqueeleconsulteumdicionrio
aoencontrarnotextoalgumapalavradesconhecida;eesto,tambm,naposturade
professoresque,porexemplo,solicitamaoalunoleituraemvozalta,paraaprendera
decodificarcomrapidezeentonaoadequada.Soexemplosdessaconcepo:
Perguntasprontamenteidentificadasnotexto:
Quais so as personagens da histria lida? Joo e Maria
Onde eles foram deixados pelo pai?Na floresta
Consultaaodicionrio:
No texto aparece a palavra impresso; procure no dicionrio o que ela
significa.
-
19
Leituraemvozalta:
Leia o texto em voz alta para o seu professor e os colegas. Lembre-se de dar
uma entonao adequada, pois eles esto prestando ateno em sua leitura.
Kleiman (1996) tambm examina algumas prticas escolares fundamentadas na
concepoascendente.Umadelasobservaotextocomoumconjuntodeestruturas
gramaticaisqueapresentasignificadoefunoindependentementedocontextoem
queseinserem.Destaforma,orienta-seoalunoparaumaleituragramatical,jqueo
textotorna-sepretextoparaaproposiodediversasatividadesgramaticaiscomo,por
exemplo,encontrarsujeitoepredicado,retirarsubstantivos,copiarpalavrasdotexto.
Acredita-se,portanto,queoaprendizadodateoriagramaticalconfereaoleitormaior
competncianaleituradotexto.Porexemplo,
Retiredotextodoissubstantivosmasculinossingulares.Meninoegato.
Copiedotextoumsubstantivomasculino,umfemininoeummasculinoplural.
Cachorro,menina,meninos.
Outraprticaapontaotextocomoumconjuntodepalavrasquesooveculodas
mensagenseinformaes.Nessaperspectiva,oalunoorientadoparaumaleitura
depalavras: Vamos ler palavra por palavra para depois interpretar, como tam-
bm comum solicitar um produto mensurvel desse processo de domesticao das
palavras Qual a mensagem do texto?(KLEIMAN,1996,p.18),emqueoprofessor
pode,pormeiodas respostasque surgemdessapergunta, avaliaroqueos alunos
compreenderamdotextoqueesttrabalhando.Nessaatividade,surgeumproblema
muitosrio:comoumalunopodeencontraramensagemdotextologoapsasua
leiturasilenciosaouemvozalta,semantespoderconversar,interagircomoscolegase
oprofessorsobreocontedoqueacaboudeler?Aqui,aleituratemafunoespecfica
deservircomoavaliao,comomensuraodeumadecodificao,normalmenteoral,
parasaberseoalunoentendeuotexto,isto,seeleconseguerepetirasideiasdo
texto,paramostrarsualeitura.Assim,observamosquenohleituracomoobjetivo
deproduodesentido,apenasdeidentificaodocontedodotexto,emumpro-
cessomecnico.
Aindaavisodeleituracomoumaatividadededecodificaoencontrasustentao
naprticaescolar.Dessaforma,enfatiza-seumasriedeautomatismosdeidentifica-
oepareamentodaspalavrasdotextocomaspalavrasidnticasnumaperguntaou
comentrio(KLEIMAN,1996,p.20).Querdizer,paraoalunoresponderaumaper-
guntareferenteaocontedodotexto,bastapassarosolhospelasuperfcielingustica
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
20
eencontrarpartesquerepitamaspalavraspresentesnapergunta.Porexemplo:
Quantos anos Marina far? 10 anos.
O que ter na sua festa de aniversrio? Bolo, bales, brigadeiro e refrigerante.
A perspectiva do texto na leitura tem fomentado vrias crticas tambm de outros
autores.Leffa (1999)aponta trs razesprincipais:nfasenoprocessamento linear
da leitura;defesada intermediaodosistema fonolgicoda lnguaparaacessoao
significado; valorizao das habilidades de nvel inferior, como reconhecimento de
letrasepalavras.
Aprticademonstraqueno se lumaenciclopdiadamesmamaneiraque se
lumromance,comonoselummanualdeinstruesparamontarumaparelho
eletrnicodomesmomodoqueselumpoema.Hdiferentesmodosdeler,confor-
mevariamosgneroseossuportestextuaiseosobjetivosdoleitor.Portanto,ape-
naseventualmenteocorreextraolineardesignificados,isto,demaneiraexplcita
comoestnotexto.
ColomereCamps(2002)esclarecemquenohnecessidadedeleremvozalta
paracaptarosignificadodoquesel.Testescomprovamqueselumtextoemum
tempomuitomaisbrevedoqueexigiriasuaexposiooral,mesmoquefossesubvoc-
lica(comvozmuitobaixa,comoseestiverezando,movimentandooslbios,produzin-
doumrudodevozapenas).Apossibilidadedeleituracompreensivadeumtexto,de
maneira silenciosa, apenas com os olhos, situa-se mais ou menos em 400 palavras por
minuto,enquantoaemissooralnomesmoperodorestringe-seacercade250pala-
vrasporminuto,muitomaislentadoquenaleiturasilenciosa.Asautorasacrescentam
quenaescolaanfasenaleituraemvozaltaeaexignciadeexatidofazemcomque
o aluno se habitue a decifrar mecanicamente, sem procurar entender e construir o
sentido,oqueprejudicaasuaformaoeoseudesenvolvimentocomoleitor.
Outracrticaquesepodeimpingirperspectivatextualrefere-secrenadeque
otextopossuiumsignificadocompleto,exatoenico,noprecisandodoleitor.Ja-
maisotextoofereceatotalidadedeinformaes;oautoroconstrisomentecoma
informaoquejulganecessriaparaqueoleitorentenda,eliminandotudoqueno
precisoexplicitar.Issoexigequeoleitor,levandoemcontaseusconhecimentos,infira
demaneiracontnua.Comosodiferentesasexperinciasdevidaeosconhecimentos
demundodecadaleitor,diferentestambmseroossignificadosgeradospordife-
rentesleitores,comoaindaserodiferentesossignificadosgeradosporummesmo
leitoraolerummesmotextoemsituaesdiferenciadasdeleitura.Porexemplo,o
texto Carroa Vazia,quandofoiproduzido,tinhaumaintenopeloautorparauma
-
21
significao.Agora,aoserlidonessasituaodeensinoeaprendizagem,permitev-
riaspossibilidadesdeleitura:
Carroa vazia
Certa manh, meu pai, muito sbio, convidou-me a dar um passeio no bosque e
eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silncio
me perguntou:
- Alm do cantar dos pssaros, voc est ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroa.
- Isso mesmo, disse meu pai, uma carroa vazia.
Perguntei ao meu pai:
- Como pode saber que a carroa est vazia, se ainda no a vimos?
- Ora, respondeu meu pai, muito fcil saber que uma carroa est vazia por
causa do barulho. Quanto mais vazia a carroa, maior o barulho que faz.
Tornei-me adulto e, at hoje, quando vejo uma pessoa falando de mais, gritando
(no sentido de intimidar), tratando o prximo com grossura inoportuna, prepoten-
te, interrompendo a conversa de todo mundo, querendo demonstrar que a dona
da razo e da verdade absoluta, tenho a impresso de ouvir a voz do meu pai dizen-
do: Quanto mais vazia a carroa, mais barulho ela faz....
(WallaceLealV.Rodrigues.E, para o resto da vida... Mato,SP:EditoraOClarim,s/d.).
Certamente,aolerotexto,oleitordeveterformadoemsuamenteaimagemde
umapessoaqueconhecequeseaproximadacarroavaziadescrita.Essa imagem
noigualdocolegaoudoprofessor,pormaisquesetenhapensadonamesma
pessoa.Dessamaneira,naperspectivadaleituracomodecodificao,oleitorapenas
poderia ler o texto em voz alta e esperar pelo professor para determinar o seu enten-
dimento,sempoderexporosignificadoqueproduziuaele.
a perspeCtiva do Leitor
Enquantoaperspectiva textual sustentaquea construodo sentidoocorrede
modo ascendente sobe do texto ao leitor, em uma maneira metaforicamente sim-
plesdedizeraperspectivadoleitordefendequeosentidoconstrudodemodo
descendente(emingls,top-down,comoencontramosnaliteraturadarea), isto
,vaidoleitoraotexto,emumavisoinversaaoprocessamentoascendente.Desta
forma,aobtenodosignificadonosedatravsdeumprocedimentolinear,palavra
por palavra, mas se d sempre por fora da contribuio do leitor, dos conhecimentos
armazenadosemsuamemria,isto,dosconhecimentosprvios.Portanto,ler,nessa
perspectiva,atribuirsignificadoaotexto,oquecorrespondeconcepodeleitura
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
22
defendidaporestudiososdaleitura(GOODMAN,1987;SMITH,1999)orientadospela
psicologiacognitivista.
ParaGoodman(1987),oqueoleitorcapazdecompreenderdependedaquilo
queconheceeacreditaa priori,ouseja,antesdaleitura.Diferentespessoaslendoo
mesmotextoapresentamvariaesnoquesereferecompreensodomesmo,por-
quevariamosseuspropsitos,seusconhecimentosprviosaquelesconhecimentos
armazenadosnamemriadoleitoraolongodesuavidasuasatitudes,seusesque-
masconceptuais,aculturasocialdecadauma.Porexemplo,nomaterialdidtico
frequenteencontrar-seumexercciocomoesteantesdaleituradotexto:
Antes da leitura do texto O gato siams, suscitar uma discusso com os
alunos sobre a presena de gatos em suas casas e o que acham desses animais.
Essascontribuies,quesogeradasnadiscussoinicial,quandoseativamosco-
nhecimentos prvios do leitor, so utilizadas durante toda a leitura e cabe ao leitor
empregarumasriedeestratgiasparaavaliarecontrolaraprpriacompreenso.So
asestratgiasdeseleo,predio,inferncia,confirmao,autocorreoeverificao
quetambmsoapregoadaspelosParmetrosCurricularesNacionais(BRASIL,1998).
AdiscussomaisdetalhadaacercadasestratgiasdeleituraestnocaptuloEstratgias
deLeitura,nestelivro.
Aolerotexto,oleitorselecionaoquelheconvm,vistoquenemtudooqueest
escritoigualmentetil.Escolhem-sealgunsdados,chamadosrelevantes,edespre-
zam-seoutros,quesodesnecessriosparaaconsecuodoobjetivoaseratingido.
Seosleitoresutilizassemtodososndicesdisponveis,oaparelhoperceptivoficaria
sobrecarregado com informao desnecessria, intil ou irrelevante (GOODMAN,
1987,p.17),oquecertamentedificultariaacompreenso,impossibilitandoaleitura.
Nesse mbito, se uma pessoa precisa saber como deve tomar omedicamento que
lhefoireceitadoetememmosabuladoremdio,deverlerapenasaquelesdados
referentesposologia,isto,maneiracomodevesertomadooremdio;osdemais
referentescomposio,ainformaestcnicassosimplesmenteignorados,pelo
menosnessemomento.
Paraquesejapossvelacompreensodomaterialexpresso,precisoqueoleitor
inferencie,isto,complementeainformaodisponvelutilizandooconhecimento
conceptualelingusticoeosesquemasquejpossui(GOODMAN,1987,p.17).Por
exemplo, ao tomar o jornal e ler a manchete Rebelio na Penitenciria de Piraquara,
imediatamenteoleitoraportaaotextooutrasinformaesquefazempartedeseure-
pertriodeconhecimentosprvios.Devidoaseuconhecimentodemundo,adquirido
-
23
atravs da leitura das notcias veiculadas pelos jornais, rdio e televiso pelas revistas,
elesabequerebeliocausadaporpessoasqueestodetentas,tornando-sedesneces-
srio um ttulo como Pessoas detentas por crime causam rebelio na penitenciria
de Piraquara.Portanto,aoinferir,oleitoravanamaisfcilerapidamentenaleiturae
permitequeotextotorne-semaisconciso,manifestandoumacaractersticapertinente
aoleitorcompetentequeaescolabuscaformar.
Tambmapartirdoconhecimentoprviodealgunsaspectosdotextosuperes-
truturas, ttulos, subttulos, cabealhos e ilustraes o leitor capaz de predizer o
quevirna leiturado texto.Retornandoaoexemploanterior, aodeparar-secoma
manchete Rebelio na Penitenciria de Piraquara,possvelqueoleitorantecipe
algumasdasinformaesqueestaropresentesnotexto,taiscomo:funcionriosdo
presdioe/oufamiliaresdosdetentostornaram-serefns;podehavermortosouferi-
dos,almdedestruiodepartesdointeriordopresdio;apolciadeveterpromovido
negociaes,afimdeacabarcomarebelio.Almdisso,conhecendoaestruturade
umanotcia,oleitoresperaencontrarolide,ouseja,asrespostassperguntas:Quem?
Quando? Onde? O qu? Como? Por qu?,queaparecemlogoapsottulodanotcia.
Oatodelevantarinferncias,selecionareanteciparexigedoleitorousodeduas
outrasestratgias:confirmaoouautocorreo.Casoconfirmesuashipteses,olei-
toravanasemproblemasnaleitura;casonoconfirme,necessrioquerepenseas
infernciasehiptesesanteriormentelevantadas,formuleoutraseretomeaspartes
anterioresdotextoparafazerosdevidosajustes.Noexemploseguinte,podemosvis-
lumbrarcomooleitorconfirmaashipteseslevantadasnotexto:
Aps ler o texto, as hipteses que voc levantou antes de sua leitura foram
confirmadas? Quais foram encontradas no texto?
Ousodessaseoutrasestratgiaspressupeumleitormuitoativo,queutilizaom-
nimonecessriodosndicesdotexto.IstolevouGoodman(1987,p.11)acaracterizar
aleituracomoumjogopsicolingsticodeadivinhaes.
Smith (1999) tenta evitar a palavra adivinhao, pois esta, sendo associada ao
comportamentoimpensadoeimprudenteoustentativasdeobteralgosemodevido
esforo,acabaporganharumaconotaonegativaparamuitospaiseprofessores.O
autorprefereutilizarotermoprevisoeliminaodeopesimprovveisjque
estefazrefernciaaumaatividadehbil,aousodoconhecimentoprvioparaante-
ciparofuturo.Smithassinalaquealeituradependemaisdaquiloqueestportrs
dosolhosdainformaono-visualdoquedainformaoqueestdiantedeles
(1999,p.38),isto,oleitorjamaisseprende,exclusivamente,aossinaisimpressos
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
24
napgina,masutilizaosconhecimentosehabilidadesquejdispeparaconstruir
significados.
Leffa(1999,p.26)acrescentaoutropressupostobsicodaperspectivadoleitor:O
conhecimentoprvioestorganizadonaformadeesquemas.Osesquemasformam
umarededeconhecimentosquesoarmazenadosdeformaextremamenteorgani-
zadanamemriadoleitorequesoacionadosquandoeleprocessaotexto.medida
queampliaousealteraoconhecimentodemundodoleitor,osesquemasautomodi-
ficam-se.Porexemplo,oprofessortememsuamemriaumesquemadeaula.Nesse
esquemaestoconhecimentoscomoplanodeaula,contedo,textoasertrabalhado,
exerccios, tempoda aula,usodoquadrodegiz,posiodas carteirasdos alunos,
participaodosalunosetc.Aolerestetextosobreconceitosdeleitura,oprofessor
estampliandoseuesquemasobreauladeleitura,umavezqueotextoapresenta
umasriedeinformaesqueanalisaosconceitosdeleituraqueperpassamasaulas
deleituradaescolabrasileira.Nestesentido,oesquemaarmazenadonamemriaest
semodificando,ampliando-se,possibilitandoaoleitorproduzirnovossignificadoss
leiturasquefarapartirdaleituradesteartigo.
Emborasejaatribudoumpapelaltamenteativoaoleitor,porqueeleatribuisignifi-
cado,fazprevises,selecionainformaes,inferencia,confere,corrigehiptesessobre
o texto, a perspectiva do leitor tambm tem sido alvo de muitas crticas, principalmen-
tepelofatodedescartarosaspectossociais,confiarexageradamentenasadivinhaes
doleitoreporconsiderar,naspropostasdeensino,qualquerinterpretaodetexto
realizadapeloaluno.Istoumproblema,poismuitasvezesoalunoacionaumes-
quemaimpertinentesobreocontedodotextolido,construindoumacompreenso
inadequadaleitura.SegundoLeffa(1999,p.28),
Namedidaemqueprivilegiaoprocessosobreoproduto,aperspectivadolei-torrepresentaumaevoluosobreaabordagemanteriorcomnfasenotexto.Namedida,porm,emqueignoraosaspectosdainjuno[imposio,exign-cia]socialdaleitura,consegueverapenaspartedoprprioprocessoquetentadescrever,produzindo-se,ento,umavisolimitadadaleitura.
Oleitor-atribuidorcaracteriza-sepelarapidezcomqueprocessaotextojque
nolamensagemnantegra,pelafacilidadedeapreenderasideiasgeraisdotexto,
pelapoucaimportnciaquedspalavrasdesconhecidasumavezqueelaspodem
ser ignoradas ou deduzidas pelo contexto. Tambm o leitor que tira concluses
apressadas,quefazexcessosdeadivinhaessemprocurarverific-las,quedeixade
processarinformaessecundriasimportantesparaacompreensoglobaldotexto
(KATO,1990).Soexemplosenunciadosdeexerccioscomoesses:
-
25
Apartirdaleituradotexto,aqueconclusovocchegasobreamoraldahistria?
Explique,empoucaspalavras,otemaeottulodotexto.
Ofinaldotextopessimistaouotimista?Justifiquesuaresposta.
Nesses exerccios, comuns no material didtico, o aluno-leitor deve responder a
partirdasatribuiesquefezaotexto,apartirdesuasadivinhaes,oqueolevaa
perceberque,quantomaisadivinhar,melhorvaiagradaraoprofessor,poispassara
ideiaequivocadadequeumleitorcompetente.
Na concepo de leitura como atribuio, o professor o facilitador da aprendiza-
gem,cabendo-lhepropiciarosmomentoseomaterial.Diantedaconvicodeque
precisovalorizaraleituradoaluno,todaequalquerinterpretaopassaaserconsi-
deradacomolegtima.Seainterpretaodoalunonocorrespondedoprofessor,
prevaleceainterpretaodoaluno,jqueeleoleitor.Porexemplo,noexerccioa
seguirsooferecidasduaspossibilidadesdeleituraparaainfernciaproduzidaauma
expressoqueconstanotexto:
Com a expresso o nosso querido amigo patro, o autor:( ) d a entender que o patro era um amigo de todos;( ) refere-se ao patro de maneira irnica, isto , fala de uma coisa para dar a entender outra, fazendo pouco caso.
Assim,oleitorpodeoptarpelaleitura,mesmoqueaexpresso,notexto,sejamar-
cadapelaironia:comoaleituradoalunoprevalece,oprofessoracabaaceitandoque
aprimeiraopo,quandoescolhidapeloleitor,permitida,mesmoquesejaoposta
significaoapresentadanotexto.
Oconceitodeleituracomoatribuio,centradoprimordialmentenoleitor,assim
comooconceitodeleituracomodecodificao,centradonotexto,soconceitosco-
munsnaescola,comosquaisoprofessoreosalunossedeparamconstantemente.
Ambosapresentampontospositivosenegativosaotrabalhocomleitura,tudodepen-
dedecomooprofessorvaitrabalharaleituracomosalunos.
a perspeCtiva da interao Leitor-texto
Na perspectiva interacionista, ocorre a inter-relao entre processamentos ascen-
dentesedescendentesnabuscadosignificado.Destemodo,oatodelerpassaaser
vistocomoumprocessoqueintegratantoasinformaesdapginaimpressaum
processoperceptivoquantoasinformaesqueoleitortrazparaotextoumpro-
cessocognitivo.Istoimplicareconhecerqueosignificadonoestnemnotextonem
namentedoleitor;osignificadotorna-seacessvelmedianteoprocessodeinterao
entre leitor e texto, produzindo-se, assim, um processo de interao, no mais um
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
26
produtodeleituraquesecentraemumsdosparticipantes:otextoouoleitor.
Stanovitch (1980 apud LEFFA, 1999), em sua abordagem que ficou conhecida
como interativo-compensatria, consideraquealeituraenvolvediferentesnveisde
conhecimento(lexical,sinttico,enciclopdicoetc.)equeessesnveisinteragementre
si com a participao maior ou menor na construo dos sentidos, dependendo da
contribuiodosoutrosnveisdeconhecimento.Casooleitorapresenteumadefici-
nciaemumdessesnveis,eletentarcompens-laapoiando-seemumoutronvel,
oquepermitirinferirosignificadodovocbuloquenoconhece.Porexemplo,se
o leitor leroenunciado:A taxonomia produzida pelas pesquisas permite classifi-
car os leitores em vrios nveiseapresentardeficincianacompreensodapalavra
taxonomia, ele ter a seu dispor as demais informaes para construir, atravs do
acionamentodoprocessamentodescendente,ouseja,dasinformaesquepossuina
suamemriasobreaspalavrasquecompemoenunciado,umsignificadopossvelao
texto.Assim,aoleraspalavrasproduzida, pesquisas e classificar, o leitor, atravs
deseuprocessamentocognitivo,vaireuni-las,produzindoumnovosignificado: as
pesquisasproduzidasclassificaramosleitores,oquelhepermitirprocessarnotexto
umsignificadopalavrataxonomia,comoclassificao.Portanto,comessetrabalho
decompensao,oleitorconsegueentenderqueoenunciadooferecidoparaleitura
refere-seclassificaodeleitoresproduzidapelaspesquisasemleitura.
Casoo leitorsaibapoucosobreumdeterminadocontedo,deverutilizarmais
o processamento ascendente para compensar a incapacidade de realizar predies a
respeitodocontedo.Porexemplo,noenunciado:
O mesoderma ventral produz os mesotlios...
oleitor,notendodomniodocontedoapresentado,poderealizarumacompen-
sao na leitura, utilizando-se do processamento ascendente, isto , aproveitando-se
domateriallingusticooferecidonotextoparaconstruirsignificado.Aoiniciaralei-
tura,encontraaprimeiraproposioquelhecausaestranheza:mesoderma ventral.
Analisando as palavras, o leitor consegue perceber que h termos conhecidos que
podem,atravsdaanlisedotexto,facilitaracompreenso.Assim,observaquederma
significapele,meso, meio e ventralrefere-seaventre,formandoumaprimeiraimagem
mentaldequesetratadeumapeledomeiodoventre.Emseguida,dcontinuidade
leitura, sempre buscando a compensao de sua deficincia de compreenso no
processamentoascendente.
Dessaforma,percebemosqueambososprocessamentossousadosdemaneiraa
compensaraleitura.claroqueesseprocedimentoempregadopeloleitorquej
apresentaumacompetnciamaioremleitura,contudo,eleperfeitamentepossvel
-
27
deserensinadoaosalunos,independentementedonveldeensinoemqueest.
Sobreisto,Meurer(1988,p.265)alertaqueainterdependnciaequilibradaen-
tre a informao contida no texto e os conhecimentos prvios do leitor a condio
essencialparaa compreenso, isto,os leitoresnodevemseapoiaremumdos
nveisde informaounicamenteemdetrimentodeoutro.Dessemodo,seo leitor
prende-seemdemasiaaoselementostextuais,podernoperceberamensagemem
seuaspectoglobal.Se,pelocontrrio,ignoraotextoeacreditaexageradamenteem
suashipteses,prediese inferncias,semprocurarconfirm-lasnotexto,poder
realizarumainterpretaotendenciosa.Porconseguinte,ascausasdadificuldadede
compreenso,deacordocomVidalAbarcaeMartinezRico(2003,p.139),nodevem
seratribudasaoleitorouaotextoemseparado,masnainadequaoentreotextoe
oleitore,maisconcretamente,noprocessonoqualseconjugamambososelementos,
isto,asinferncias.
Fulgncio e Liberato (1996) conceituam a inferenciao como um processo de
construodepontesdesentido,deintegraoentreasinformaesvisuaisofereci-
daspelotextoeosconhecimentosdoleitor.Esseprocessoexigeumtipoespecialde
conhecimentosemntico-pragmtico:asexpectativas.Osautoresutilizamoseguinte
exemplopara ilustrarosconceitos: JoomatouMaria.Amanhvouvisitar Joona
cadeia.Soasinfernciaseexpectativasquepossibilitamqueasfrasessejamproces-
sadasnocomoblocosdesconexos,mascomoduassentenasrelacionadasentresi.
Assim,apartirdoconceito(quetambmumesquemaqueestnamentedoleitor)
assassinato,oleitorativaoutrosrelacionadosaessanoo:assassinatossocrimes,
punidosporlei;astransgressesleisopassveisdepunio;umadasformasde
puniocolocaroinfratornacadeia.Espera-se,portanto,queoassassinosejapre-
so.Fundamentadonessaexpectativa,oleitorpodeinferirqueJooestpresoporque
matouMaria.
Em resumo, os conceitos presentes no texto evocam uma cadeia de conhecimen-
tosprvios,queestopresentesnamemriadoleitor,entreosquaisasexpectativas,
quesoabaseparaoestabelecimentodeinferncias,paraasconexesqueconferem
coernciaesignificadoaotexto,sempreapartirdainteraodoleitorcomotexto.
Vrios outros autores Colomer e Camps (2002), Kleiman (1996; 2000), Silva
(1991),paracitarmososmaistradicionaisposicionam-seemfavordeumaperspec-
tivainteracionistaetrazemimportantescontribuiesparaaspesquisaseoensinoda
leitura.
ColomereCamps(2002)apontamqueafinalidadenaturaldequalqueratohabitu-
aldeleituraacompreenso.Hdiversosfatoresquepodeminterferirnacompreen-
sodaleitura.Asautoras,assinalandoopontodevistadoleitor,dividem-nosemdois
-
Leitura e ensino
28
grupos:a)oobjetivodaleitura;eb)osconhecimentosprvios.
Opropsitodaleituradeterminaomodocomooleitorabordarotextoeograu
deexignciacompreensiva.Assim,lerumaobraliterriacomaintenoderealizarum
trabalhoacadmico;paraemumfuturoprximorealizarumaprovadevestibular;ou
comodesejodedistrair-se,exigecomportamentosdiferentesduranteoprocessamen-
todotexto:umaleituramaislentaecuidadosanosdoisprimeiroscasos,umaleitura
maisrpidaeseletivanoltimocaso.
Osconhecimentosprviospodemserdescritoseagrupadosemdoisitens:conhe-
cimentossobreoescritoeconhecimentossobreomundo.Osconhecimentossobre
oescritoenvolvemoconhecimentodasituaocomunicativa(queobjetivotemaco-
municao;ondeequandoseproduz;querelaorefleteoregistrolingusticodeque
oescritorseutiliza);osconhecimentosmorfolgicos,sintticos,semnticos,paralin-
gusticoseoconhecimentodaestruturatextual.
ColomereCamps(2002)advertemque,naescola,comumocorrersituaesem
queosalunos:a)lemsemomenorinteresse,poisotextonolhesacrescentanada
denovo;eb)situaesemquealeiturairrealizvel,porqueosalunosnodispem
denenhumconhecimentosobreotemaenoconseguemrelacionarainformaodo
textocomnenhumesquemaconceitualprvio.Ento,oequilbrioentreodado(asin-
formaesjconhecidas)eonovo(asnovasinformaesproporcionadaspelotexto)
condioessencialparaacompreenso.
Kleiman(2000)expequeocarterinteracionaldaleiturapressupeafigurado
autorpresentenotextoatravsdasmarcasformaisporexemplo:operadoreseco-
nectivos lgicos, expresses modalizadoras (talvez, evidentemente...) adjetivaes,
nominalizaesqueatuamcomopistas,necessriasparaqueoleitorrefaaotrajeto
delineadopeloautorduranteaproduodo texto.Devehaver,ento, umacordo
deresponsabilidademtua(KLEIMAN,2000,p.67)entreautoreleitor,poisambos
precisamcuidarparaqueocontatosejamantido,emborapossamexistirdivergncias
deopiniese interesses.Seo leitorvaiaotextocompr-concepes,podemocor-
rerembaraosnacompreensoquandoestasnocorrespondemquelasqueoautor
apresenta,pois,nessecaso,oleitor,absortoemsuasideias,noconseguereconstruir
oquadroreferencialatravsdosmecanismosformais.Dessamaneira,atendncia
queoleitorimponhaaoautor,demodonoexplcito,comoemumdilogoface-a-
face,porm,prpriodesseprocessoidiossincrtico,informaesrelacionadasassuas
crenaseopinies,apesardeaspistasnopermitiremessaconcluso.
Kleiman(1996,p.92)enfatizaaindaqueaintencionalidadeconstitutivadainte-
rao:processarotextoperceberoexterior,asdiferenasindividuaissuperficiais;
perceber a inteno, ou melhor, atribuir uma inteno ao autor,chegaraontimo,
-
29
personalidadeatravsdainterao(grifosnossos).Nessaperspectiva,oleitorpodese
aproximar das intenes do autor, atribuir possibilidades de intenes por isso, ler
construirenoreconstruirsentido,masnochegaraontimo,conformepropea
pesquisadora.Aautoraindicaparaaescolaumtrabalhodeconscientizaolingstica
crtica(p.94),isto,otrabalhodeverificarnoapenascomoalinguagemfunciona
notexto,mastambmcomoelaestaserviodasintenesdoautor.Aoatribuirin-
tencionalidade, o leitor percebe-se como sujeito e percebe tambm o outro o autor
comosujeito.
Silva(1991)postulaqueoprocessodeinteraotexto-leitorumtrabalhoidios-
sincrtico(prpriodecadaleitorparticular),vistoqueasexperincias,ahistriados
leitoresnuncasoiguais.Ento,torna-sepraticamenteimpossvelqueduasoumais
pessoasfaamumaleituraigual,destacandoasmesmasideias.Emtermosdeensino-
aprendizagem,Silva(1991,p.50)enunciaque,nastarefasdeleitura,oprofessorpre-
cisacriarsituaesquepermitamaoalunoconstatardeterminadossignificados,refle-
tircoletivamentesobreelesetransform-los,isto,leraslinhas,asentrelinhasealm
daslinhas.Dessaforma,duranteaconstatao,oleitorpercebeosentidoprimeiro do
texto;nareflexo,eleconcluiquehmaissentidosparaotexto;natransformao,ele
geramaissentidosparaotexto.Portanto,aoler,osujeito-leitorconstriumoutro
texto,produtodesuahistriadevida,de seu repertriodeexperincias,dos seus
conhecimentos, sempreapartirda interaocomo texto,consequentemente,com
oautordotextoqueseapresentanodiscursoefetivadonomateriallingusticolido.
Paraexemplificar,retomamosotextoCarroa Vazia e apresentamos as atividades
produzidasparaele,apartirdaperspectivainteracionista.
Carroa vazia
Certa manh, meu pai, muito sbio, convidou-me a dar um passeio no bosque
e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno
silncio me perguntou:
- Alm do cantar dos pssaros, voc est ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroa.
- Isso mesmo, disse meu pai, uma carroa vazia.
Perguntei ao meu pai:
- Como pode saber que a carroa est vazia, se ainda no a vimos?
- Ora, respondeu meu pai, muito fcil saber que uma carroa est vazia por
causa do barulho. Quanto mais vazia a carroa, maior o barulho que faz.
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
30
Tornei-me adulto e, at hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando
(no sentido de intimidar), tratando o prximo com grossura inoportuna, prepoten-
te, interrompendo a conversa de todo mundo, querendo demonstrar que a dona
da razo e da verdade absoluta, tenho a impresso de ouvir a voz do meu pai dizen-
do: Quanto mais vazia a carroa, mais barulho ela faz....
(TextoveiculadonaRedeMundialdeComputadorInternet).
a)Apartirdaleituradotexto,oqueumacarroavazia?b)Aexplicaooferecidapeloautordotexto,noltimopargrafo, fezvocse lembrarde
algumqueseenquadranascaractersticasdescritas?Determinequaiscaractersticasmaislhechamaramaateno.
c)Oquesignificaaltimafrasedotexto,apartirdaimagemdapessoaquevocformounamente?
Com essas atividades, o leitor poder interagir com o texto, produzindo seus
significados,indoalmdaslinhasdotexto.Dessemodo,oleitorpercebeosentido
primeirodo texto,aqueleoferecidopeloautor,atravsdeumahistriaentrepaie
filho;contudo,tambmrefletesobreosignificadoqueotextolhepermiteconcluir,
transformando-o,gerandonovossentidos.Seconsiderarmosquecadaleitorformar
umaimagemmentaldiferentedotextolido,asrespostassatividadespropostascerta-
mentepermitirotambmquesemanifesteminteraesdiversasparaotexto.
A viso de leitura apenas como atividade mental, isto , como interao das fontes
deconhecimentoarmazenadosnamemriadoleitor,vemsendoquestionadapelas
pesquisasatuais.Hoje,reconhece-sealeituratambmcomoumaatividadesocial,com
nfasenapresenadooutro,daquelequeinterlocutordoleitor.Acredita-se,ento,
queosignificadonoestnemnotexto,nemnoleitor,masnasconvenesdeinte-
raosocialemquesedaleitura(LEFFA,1999).stendoodomniodasprticas
sociaisemqueosdiferentestextosestoinseridos,ouseja,conhecendo-seascircuns-
tnciaseomomentoemquesoproduzidos,porquemeparaquemsoescritos,que
oleitortercondiesdeseapropriardosentidoedafunodotexto.
MoitaLopes(1996)tambmapontalimitaesdaperspectivainteracionista,visto
queestano levaemcontaos aspectos sociais epsico-sociais.Oautor sugereque
essaabordagemsejacomplementadacomintravisesdeanlisedodiscurso, isto,
que seja verificadooprocessodenegociaodo significado entre os partcipes de
uma interao comunicativa leitor e autor posicionados social, poltica, cultural e
historicamente.ParaMoitaLopes,lerenvolver-seemumainteraocomalgumem
momentoscio-histricoespecfico.
NoentenderdeCoracini(1995,p.15),aperspectivainteracionistaconsisteemum
-
31
prolongamentodaabordagemascendente,medidaqueelavaindaotextocomo
objetoautoritrio,poisemsualeituraliteralqueoleitorencontraasmarcaspara
inferirsignificadosnoliterais:
Seotextoquepredetermina,ouseja,autorizaumcertonmerodeleituras(atravsdaschamadasinfernciasautorizadas)eimpedeouimpossibilitaou-tras,ento,otextoaindaautoridade,portadordesignificadosporelelimita-dos,oumelhor,autorizados:otextoteria,assim,primaziasobreoleitor,queprecisa,comcompetncia,apreendero(s)sentido(s)neleinscrito(s).
Assim,navisodeMascia(2005,p.47):
emboraoaspectosocialpasseasercogitado,poisoleitoracionaotextoapartirdeconhecimentosprvios,socialmenteadquiridos,otextoautoritrio,poiss so aceitas as leiturasque fazempartedeum ncleo comum, tolhendoqualqueroutra.
Apartirdessascrticas,aautoraindicaoutraabordagemquedcontadosaspectos
histricos,sociaiseideolgicosenvolvidosnoprocessodeproduodalinguagem:a
perspectivadiscursiva.
a perspeCtiva disCursiva
Naperspectivadiscursiva,noselumtextocomotexto,mascomodiscurso,ou
seja, levando-se em considerao ascondiesdeproduo.aanlisedodiscurso
deorientaofrancesa(abreviadamente:AD),disciplinaedificadaporMichelPcheux
nosfinsdosanos60,queorientaejustificaessemododepensaroler.AADope-se
s tendncias lingusticas preocupadas exclusivamente com o normativismo, a que
seseguempensamentoscomo:Este texto est em conformidade com as normas da
lngua? Quais as normas prprias a esse texto?,e/oucomoconteudismodasanlises
de texto:Que significao contm esse texto? Quais as ideias principais contidas
neste texto? O que o autor quis dizer?AAD,comoestudodadiscursivizao(FIO-
RIN,1990,p.175), isto,comooestudodoprocessodeconstituiododiscurso,
desloca-se para o Como este texto significa?Nestesentido,podemosdizerqueaAD
seeximedopapeldejulgaroqueounoumaleituraadequada.Seuinteresseest
emexplicitarosmovimentos,opercursoqueosujeitofazparalercomol,porissoas
crticasdeCoracinieMasciaaoconceitointeracionistadeleitura.
Ressaltamosque,naperspectivadiscursiva,que textoediscursonoseconfun-
dem.Odiscursoapresenta-secomoefeitodesentidosentreoslocutores(PCHEUX,
1990)ouumprocessodesignificaoemqueestopresentesalngua,ahistriae
osujeito,interpeladopelaideologiadasociedade,semliberdadediscursiva.Otexto
organizaadiscursividade.Portanto,deveservistonarelaocomoutrostextos,com
ossujeitos,comascircunstnciasdeenunciao,comaexterioridade,comamemria
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
32
dodizer(ORLANDI,2001).Otextoamaterializaododiscurso.
ParaaAD,ossentidosnoestosomentenaspalavras,masnarelaocomoque
estforadotexto,nascondiesemqueelessoproduzidos.Ascondiesdepro-
duocompreendem,essencialmente,ossujeitoseasituao(ocontextoimediatoe
ocontextoscio-histrico-ideolgico)deocorrnciadosenunciados.Ferreira(1998,
p.203)fazumacomparaointeressanteparaexplicarquenaADoexteriorparte
integrantedointerior:
Comoseestivssemosfrenteaumquadrodeumpintor:amoldura,aluz,oambiente,aparedeemqueestcolocadosoelementosquecompemjuntocomatelaosefeitosdesentidoquevoproduzirparaoobservador.Comoutramoldura,sobdiferenteluz,emnovaparede,asignificaoseriaoutra.
Nestesentido,aoabordarotexto,oleitorprecisaconsiderarascircunstnciasde
produo,poisestassoconstitutivasdossentidos.NaspalavrasdeCoracini(2005,
p.27):
[...]novemosounolemosoquequeremos(deformaindependente)aqual-quermomentoeemqualquerlugar,assimcomonopodemosdizeroufazeroquequisermosemqualquerlugareaqualquermomento:hregras,leisdomomentoqueautorizamaproduodecertossentidosenodeoutros.
Ascondiesdeproduosoacionadaspelamemriadiscursiva.Estaserefere
aossentidosjditosporalgum,emalgumlugar,emoutrosmomentos,mesmomui-
tosdistantes, eque so reavivadospara sustentar cadanovapalavrae trazernovos
efeitosdesentidos.ComopriorizaOrlandi(2000,p.33),tododizer,narealidade,se
encontranaconflunciadosdoiseixos:odamemria(constituio)eodaatualidade
(formulao).dessejogoquetiramseussentidos.Istoequivaleaafirmarqueodis-
cursocompostotambmpelahistoricidade,pelarelaocomoutrosdiscursos.Ao
sujeitoleitorcabeopapeldeverificaroqueditoemumdiscursoeoqueditoem
outro,oqueditodeummodoeoqueditodeoutro(p.33).Portanto,aADrompe
osefeitosdeevidnciaeexpeoolhardoleitoropacidadedotexto.
Oquepodeeoquedeveserditodesignadoapartirdeumlugarmarcado
emumadadaconjuntura, isto,apartirdeumaformaodiscursiva.Nosepode
dizerqualquercoisa,emqualquerlugar,emqualquermomento.Assim,porexemplo,
nointeriordeumainstituioescolar,olugardoprofessor,dodiretor,doaluno,da
merendeiraestmarcadopordeterminadaspropriedadesdiferenciais.Ahiptesede
Pcheux(1990)adequeesseslugaresestorepresentadosnointeriordosprocessos
discursivos.Outroexemplo:apalavraliberdadetemsentidosdiferentesparaumpre-
sidirio,paraumaluno,paraumpadre.Istoporquediferentesformaesdiscursivas
determinamefeitosdesentidodiferenciados.Orlandi(2001,p.62)acrescentaqueh
-
33
umahistriadeleituradetextoeumahistriadeleitores,ouseja,omesmoleitorlo
mesmotextodemaneirasdiferentesemmomentoseemlugaresdistintos,eomesmo
textolidodemaneirasdiferentes,emdiferentespocas,emdiferentescircunstn-
cias,pordiferentesleitores.
ParaCoracini(2005,p.30):
[...] tododiscurso j traz em si a definiomais, oumenos, precisadelugaresoudeposiessubjetivasaseremocupadosporesteouaqueleindiv-duo,segundoasrelaespolticasesociaise,portanto,ideolgicasadmitidaseconstrudasnumdadomomentohistrico-social,numdadodiscursosempreemformao-,determinantesda(s)verdade(s)aser(em)assumida(s).claroqueessasposiespodemsofrermodificaes,masjamaisrepentinas:muitasvezes,passamimperceptveis,atquealgumacontecimentoasevidencie.
Pcheux (1990, p. 83) salienta que os lugares sociais no estomeramente re-
produzidosnointeriordosprocessosdiscursivos,masocorreumaespciedejogo
deimagensdelugaressociais;isto,intervmnodiscursoumasriedeformaes
imaginrias,que supe,dapartedoemissor,umaantecipaodas representaes
doreceptor,sobreaqualsefundaaestratgiadodiscurso.Asformaesimaginrias
designam:a)aimagemqueolocutortemdesimesmo(Quem sou eu para lhe falar
assim?);b)aimagemqueolocutortemdeseuinterlocutor(Quem ele para que eu
lhe fale assim?);c)aimagemqueolocutorjulgaqueointerlocutortenhadolocutor
(Quem ele para que me fale assim?);e)a imagemqueolocutorfazdoreferente
(De que eu lhe falo?)etc.Orlandi(2001)expeque,atravsdasimagens,osujeito-
autorprojeta-senolugardeseuinterlocutore,assim,orientadopelomecanismode
antecipao,constitui,natextualidade,umleitorvirtual.Quandooleitorrealaborda
otexto,depara-secomumoutroleitoraconstitudo,comoqualdeveserelacionar.
Dessamaneira,otextoconstrudopeloleitorrealquasenuncacorrespondeaotexto
produzidoporumdeterminadoautor.Daserintilbuscarasideiasprincipaisbem
comoasintenesdoautor;estas,noentenderdeCoracini(1995),sosemprecons-
trues,produtodainterpretaodeumdadoleitoremumdadomomentoelugar.
Autor e leitor, inseridos em um contexto scio-histrico-ideolgico, so, ento,
produtoresdesentidos.Aproduodesentidossedemcircunstnciassempreno-
vas.Porisso,nootextoquedeterminaasleituras,masaposioapartirdaqualfala
osujeito.L-sesempreapartirdeumaformaodiscursiva.Htantasleiturasquantas
foremasformaesdiscursivas.
Retomando o texto Carroa Vazia,voc,naposiodealunodocursodeEdu-
caoaDistncia,estpassandoporumasituaonovaemsuavida,quedetermina
umcontextoscio-histrico-ideolgicomarcadoporcircunstnciasnovas,queofaz
produzirsentidosdiferentesnaleituradotexto,comparando-seaosmomentosque
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
34
viviaanteriormente.Assim,apartirdessaposiosocial,histricae ideolgicapela
qualestpassando,suasleiturasproduzemsentidosdirecionadosporessaperspecti-
va.Dessemodo,aolerotextoCarroa Vazia,possvelquevocestejaformando
namenteaimagemdeumapessoaedesuascaractersticas,diferentementedoque
visualizavaantesdeiniciarocurso.Istosignificaqueaimagemquevocformoudesi
edosoutroscomqueserelacionafoimodificada:consequentemente,voctambm
estproduzindonovossentidosaostextoslidos.
Muitasvezes,apessoaquevocviunaimagemqueotextoCarroa Vazia possi-
bilitouconstruirfoialteradaemfunodeseucontextoscio-histrio-ideolgico,pro-
duzindonovossentidos,novascaractersticas,novasvises,novosolharespessoa.
justamenteessapossibilidadederessignificarasleituraseascoisasqueaperspectiva
discursivapropecomoleitura.
Possenti (1996)apresentacrticasperspectivadiscursiva.Oautordefendeque
aADquepriorizaoprocessohistricodeproduo,amemriadiscursivadeve
incorporarosfatorespragmticosprocessointerpessoaldeproduoecompreen-
so e o conhecimento partilhado para a anlise dos textos ou discursos, elementos
discutidospeloconceitointeracionistadeleitura.Nestesentido,paraPossenti,ofun-
cionamentodotextonecessitadosseguintesfatores:a)materiallingustico;b)fatores
histricosepsicanalticososdiscursosprvios;c)fatorespragmticosopapeldo
prpriofalantenaanlisedosfatosdalinguagem,isto,osaberdofalante.Podemos
propalar,ento,que,segundooautor,aperspectivadodiscursopecaaodesconside-
rarosaspectoscognitivoseosconhecimentosdoleitor.
os ConCeitos de Leitura na saLa de auLa
Emboraaspesquisaseos tericosapontemvriosconceitosde leituraemvoga
nassalasdeaulabrasileiras,conformepodemosobservarnestetexto,possvelque
muitasestabeleamcontatosemsuascaractersticas,quepermitemoaproveitamento
daquelaspertinentessituaodeensinodesejada.Dessaforma,certoqueopro-
fessorpodeenquadrar-se,ouatmesmovisualizar-seemumouemoutroconceito,
contudo,aprticademonstraqueamaneiramaisadequadadetrabalhocomaleitura
comosalunosaindaoecletismoterico,isto,oaproveitamentodascaractersticas
dosconceitosdeleituraquesoteissituaoemqueprofessorealunosestointe-
ragindo,paraproduzir-sesentidos,emfunodasleiturasestabelecidasparaotexto
trabalhado.
Ritter(1999,p.22-23),emestudossobrea leituraemambienteescolar,prope
umaarticulaoentreosenfoquescognitivistaediscursivo,asperspectivasdoleitor,
do texto edodiscurso, resultandoemumaperspectiva cognitivo-discursivaparao
-
35
ensinodaleitura.Aautoraquestiona:
Ora,seoquesequerformarleitorescrticos,desconfiados,queconsigamchegar ao implcito, s entrelinhas de um texto, resgatando a dimenso so-ciocultural da leitura, como podemos considerar o papel ativo desse sujeito, semconceb-loenquantosersocialehistrico?Comoadmitirsuashistriasdeleituras,semlevaremcontasuasexperinciasrelevantes,seusconhecimentosanteriores?
Essasindagaesevidenciamanecessidadedeseconsiderartantoosconhecimen-
tos enciclopdicos do leitor, ou seja, os conhecimentos prvios armazenados em sua
memriadeleitura(aquelaqueseconstriaolongodosanos,emtodososambientes
sociaispossveis),comoascondiesscio-histricasdaproduodaleitura,proposta
pelasperspectivasinteracionistaediscursiva,emumaconstruomistadeteoriasque
sepoderiadenominarinteracionista-scio-discursiva.
Emumaperspectivamaisabrangente,apartirdaconsideraodaleituracomoum
conceitointeracionista-scio-discursivo,DellIsola(1996),aoinvestigarascondies
deinteraosujeito/linguagemnaleitura,analisaoatodelersobtrsenfoques:a)a
leituracomohabilidadefundantedoserhumano;b)aleituracomoprticasocial;c)
aleituracomoatodeco-produo.Asreflexesapartirdessesenfoquescontribuem
para solidificaraperspectivadeensinode leituraemsaladeaulademaneiramais
prximadecomoalinguagemhumanaentendidaeestudadaatualmente.
Oprimeiroenfoquesugerequealeiturainauguraoindivduocomosujeitohuma-
no,compreendendo-sesujeitocomosujeitosujeitadoaalgoesujeitoagentesobre
algo.DeacordocomDellIsola(1996,p.75),
osujeito,comoagenteda interaotexto-leitor, fazumaleituratextualcomtodooseuser:olhos,ouvidos,sentimentos,pensamentoseasuabagagemso-ciocultural.Comopaciente,comoaquelequesesujeitaaoprocessointerativo,oleitorconstitui-se,representa-se,identifica-seeprojeta-senotexto.
Assim,aleitura,emprimeirolugar,umahabilidadequedaoleitoracondio
derevelar-secomoserhumano.Essacondiolevadaparaasaladeaulaenopode
serdesconsideradanomomentodaleitura.
Aleituratambmconsisteemumaprticasocialporqueosujeitoleitoreosujeito
autorrevelamnaleituramarcasdaindividualidadeedolugarsocialdeondeprovm.
Ento, estabelece-se, durante o ato de ler, uma relao de intersubjetividade entre lei-
toretexto,determinadasemprepelocontextodesuarealizao.Nestesentido,essa
relaopodesimplesmenteserdirecionadapeloprofessor,quandoestenotemoco-
nhecimentodosvriosconceitosdeleitura.Porisso,fundamentalaoprofessorsaber
quaisosconceitosdeleituraqueperpassamosistemaeducacionalbrasileiro,parapo-
deridentificaresaberorientaroalunodemaneiraadequadanaconstruodaleitura.
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
36
DellIsola(1996)aindaconceituaaleituracomoatodeco-produodotexto.Isto
porqueotextonuncaestacabado,poisapresentaespaoslacunaresqueseropreen-
chidosdeacordocomascondiessociais,ideolgicas,culturais,histricaseafetivas
doleitor,comopropeaperspectivadiscursivadeleitura.Sendoassim,considerando
asleituraseasreflexesapresentadasparaotextoCarroa Vazia, o leitor
pode produzir do mesmo texto diferentes leituras, passveis de variao de mo-mentoparamomento,poisarelaoleitor/mundo/contextotambmpassveldemudanas (asnovasexperinciaspessoais interferemnas impressesquese tmsobrea realidade, sobreomododever,deestare vivernomundo)(DELLISOLA,1996,p.73).
Essareflexopermitereconhecerque:a)todaleituraenvolveumaproduoe
no uma extrao, simplesmente de sentidos, constitudos a partir do saber do leitor
edascircunstnciasdaleitura;b)tantoosditoscomoosnoditosfazempartedo
texto;assim,saberlersignificaperceberaincompletudedotextoedesfazerosefeitos
detransparncia;c)cabeaoleitorperceberasestratgiasdemanipulaopresentes
notexto,oqueotornaumsujeitoativoenoumsujeitopassivo,talcomopropem
asteoriasdadecodificaoumavezqueelepodeperceberaideologiapresenteno
texto,question-la,julg-laecolocar-secontra.
Assim,aofinaldestetexto,ficamarcadaaexistnciadevriosconceitosdeleitura
quesodiscutidosepraticadosnoensinodeleituranasescolasbrasileiras.Nopode-
mosnegarsuasexistncias,oquedevemossaberqueexistem,queco-existem,que
podemseraproveitadosparaaformaoeodesenvolvimentodeleitorescompetentes.
BEZERRA,M.A.Concepesdeleituraesuainfluncianoslivrosdidticosde
portugus.In:SEMINRIONACIONALSOBRELINGUAGEMEENSINO,2.,1997,
Pelotas. Anais...:Pelotas:Educat,2003.1CD-ROM.
BRASIL.SecretariadeEducaoFundamental.Parmetros curriculares nacionais:
terceiroequartociclosdoensinofundamental:lnguaportuguesa.Braslia,DF:MEC/
SEF,1998.
COLOMER,T.;CAMPS,A.Ensinar a ler, ensinar a compreender.Traduode.
FtimaMurad.PortoAlegre:Artmed,2002.
Referncias
-
37
CORACINI,M.J.(Org.).O jogo discursivo na aula de leitura.Campinas,SP:
Pontes,1995.
______.Concepesdeleiturana(ps)-modernidade.In:LIMA,R.C.C.P.(Org.).
Leituras:mltiplosolhares.Campinas,SP:MercadodeLetras,S.J.daBoaVista,SP:
Unifeob,2005.
DELLISOLA,R.L.P.Ainteraosujeito-linguagememleitura.In:MAGALHES,I.
(Org.).As mltiplas faces da linguagem.Braslia,DF:UNB,1996.p.69-75.
FERREIRA,M.C.L.Nastrilhasdodiscurso:apropsitodeleitura,sentidoe
interpretao.In:ORLANDI,E.P.(Org.).A leitura e os leitores.Campinas,SP:
Pontes,1998.p.201-208.
FIORIN,J.L.Tendnciasdaanlisedodiscurso.Cadernos de Estudos Lingsticos,
Campinas,SP,n.19,p.173-179,jul./dez.,1990.
FULGNCIO,L.;LIBERATO,Y.A leitura na escola.SoPaulo:Contexto,1996.
GOODMAN,K.S.Oprocessodaleitura:consideraesarespeitodaslnguasedo
desenvolvimento.In:FERREIRO,E;PALACIO,M,G(Org.).Os processos de leitura e
escrita:novasperspectivas.PortoAlegre:ArtesMdicas,1987.p.11-22.
KATO,M.A.No mundo da escrita:umaperspectivapsicolingstica.SoPaulo:
tica,1986.
______.O aprendizado da leitura.3.ed.SoPaulo:MartinsFontes,1990.
KLEIMAN,A.Leitura:ensinoepesquisa.Campinas,SP:Pontes,1989.
______.Oficina de leitura:teoriaeprtica.Campinas,SP:Pontes,1996.
______.Texto e leitor:aspectoscognitivosdaleitura.7.ed.Campinas,SP:Pontes,
2000.
LEFFA,V.J.Aspectos da leitura:umaperspectivapsicolingstica.PortoAlegre:
Sagra:DCLuzzatto,1996.
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
38
LEFFA,V.J.Perspectivasnoestudodaleitura:texto,leitoreinteraosocial.In:
LEFFA,VilsonJ.;PEREIRA,AracyE.(Org.).O ensino da leitura e produo textual.
Pelotas:Educat,1999.
MASCIA,M.A.A.,Leitura:umapropostadiscursivo-desconstrutivista.In:LIMA,R.C.
C.P.(Org.).Leituras:mltiplosolhares.Campinas,SP:MercadodeLetras;SoJos
daBoaVista,SP:Unifeob,2005.
MEURERJ.L.Compreensodelinguagemescrita:aspectosdopapeldoleitor.
In:BOHN,H.I.;VANDRESEN,P.(Org.).Tpicos de Lingstica aplicada.
Florianpolis:Ed.UFSC,1988.p.258-269.
MOITALOPES,L.P.Oficina de Lingstica aplicada.Campinas,SP:Mercadode
Letras,1996.
ORLANDI,E.P.Anlise de discurso:princpioseprocedimentos.Campinas,SP:
Pontes,2000.
_______.Discurso e texto:formulaoecirculaodossentidos.Campinas,SP:
Pontes,2001.
PCHEUX,M.Anliseautomticadodiscurso(AAD-69).In:GADET,F.;HAK,T.
(Org.).Por uma anlise automtica do discurso:umaintroduoobradeMichel
Pcheux.TraduodeBethaniaS.Marianietal.3.ed.Campinas,SP:Unicamp,1990.
p.61-105.
_______.O discurso:estruturaouacontecimento.TraduodeEniPuccinelli
Orlandi.Campinas,SP:Pontes,1997.
POSSENTI,S.Pragmticanaanlisedodiscurso.Caderno de Estudos Lingsticos,
Campinas,SP,n.30,p.71-84,jan./jun.1996.
RITTER,L.C.B.Em busca dos produtores de sentido na leitura.1999.142f.
Dissertao(MestradoemLingsticaaplicada)-UniversidadeEstadualdeMaring,
Maring,1999.
-
39
SILVA,E.T.De olhos abertos:reflexessobreodesenvolvimentodaleiturano
Brasil.SoPaulo:tica,1991.
SMITH,F.Leitura significativa.TraduodeBeatrizAffonsoNeves.PortoAlegre:
Artmed,1999.
SOL,I.Ler,leitura,compreenso:semprefalamosamesmacoisa?.In:
TEBEROSKY,A.(Org.).Compreenso na leitura:alnguacomoprocedimento.
TraduodeFtimaMurad.PortoAlegre:Artmed,2003,p.17-34.
VIDALABARCA,E.;MARTINEZRICO,G.Porqueostextossotodifceis
decompreender?Asinfernciassoaresposta.In:TEBEROSKY,A.(Org.).
Compreenso de leitura:alnguacomoprocedimento.PortoAlegre:Artmed,2003,
p.139-153
http://www.leffa.pro.brStiodoprofessorVilsonLeffa.
http://www.alb.com.brAssociaodeLeituradoBrasil.
http://www.escrita.uem.br-GrupodePesquisaInteraoeescrita.
http://www.ple.uem.br/geduem/publica.htmlGrupodeEstudosemAnlisedo
DiscursodaUEM.
http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturoProgramaSaltoparaoFuturo.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/educadoresPortalEducacionaldo
EstadodoParan.
Stios na internet
Conceitos de leitura
-
Leitura e ensino
40
1) Realizar o levantamentodas caractersticas de cada conceito de leitura apresentadonoartigo,caracterizandocomooleitordeterminadoemcadaumdeles.
2) Procurarnoslivrosdidticosexemplosdeatividadesdeleituraquerepresentamcadaumdosconceitosestudados.
Proposta de Atividade
Anotaes
-
41
Renilson Jos Menegassi
Estratgias de leitura2
as estratgias de Leitura
OtrabalhocomestratgiasdeleituranoEnsinoFundamentalextremamentere-
levanteparaaformaodeumleitorcompetente,queconsigalerqualquertextoda
sociedade,compreend-loefazerusodeseusconhecimentosparaconseguirtransitar
pelocorposocialemqueconvive.Assim,osprincpiosbsicosdoletramentosoaqui
considerados,paraqueoprofessorproponhaumtrabalhodeleituraemqueotexto
socialsejalido,analisado,refletidoeutilizadocomomeioparaodesenvolvimentoda
leituracomosalunos.
Paraqueessedesenvolvimentoocorra,faz-senecessriootrabalhocomasestrat-
giasdeleituraemsaladeaula,apartirdomaterialdidticoquesetememmosetam-
bmatravsdetextosquesotrazidosparaaescolaeretiradosdoconvvionormalda
sociedadeemqueoalunoeoprofessorvivem.Comessaafirmao,instaura-seuma
certeza:precisoensinarestratgiasde leituraaosalunosnoEnsinoFundamental.
Com esse ensino, o aluno aprende a desenvolver sua leitura com mais facilidade e de
maneiramaisadequada.
Estratgiassoprocedimentosconscientesouinconscientesutilizadospeloleitor
paradecodificar,compreendereinterpretarotextoeresolverosproblemasqueen-
contradurante a leitura.Umprocedimento, com frequncia chamado tambmde
regra,tcnica,mtodo,destrezaouhabilidade,umconjuntodeaesordenadase
finalizadas,isto,dirigidasconsecuodeumameta(COLL,1987apudSOL,1998,
p.68).Nesseponto,necessrioquefaamosdistinoentreestratgiasetcnicas.
Menegassi(1992,p.159)consideraqueastcnicas,comoumprocedimentodeao
ordenada,
sosempreaprendidasatravsdeinstruoouobservao.Jasestratgiassodecorrentesdaaprendizagemdastcnicasoudacriaoespontneadoleitor.Ouseja,apsaprendercertas tcnicas,o leitorcriaouadaptaestratgiasdeleituraapartirdosconhecimentosadquiridoscomaquelas; tambmcapazdecriarestratgiasespontneasqueotempoeamaturaonaleiturapropor-cionam,sendoumfatoqueocorretantocomobomquantocomomauleitor.
-
Leitura e ensino
42
Ao se ensinar aos alunos a tcnica de sublinhar textos, por exemplo, os proce-
dimentos so apresentados de modo ordenado, demonstrando como as aes para
a realizao da tcnica so efetivadas. Ao aprend-la, o leitor, considerando-se sua
maturidade no trato com a leitura, pode desenvolver estratgias prprias, que lhe
possibilitamummelhortratamentocomotextoouumamcondutanaleitura.Assim,
o leitor, a partir dos procedimentos determinados pela tcnica de sublinhar, vai desen-
volversuaprpriaestratgiadesublinhartextos,quediferentedeleitorparaleitor.
Istosignificaquecadaleitortemdesenvolvidosuasestratgiasprpriasdeleitura,que
podem,dependendodatarefaedotexto,sereficazesouno.Dessaforma,oquese
temcomocertoqueoensinodasestratgiasseefetivanasaladeaulaapartirdas
condutasqueoprofessorproporcionaaosalunos.
o ensino de estratgias de Leitura
Aoconsiderarmosasestratgiascomoprocedimentos,partimosdaideiadequede-
vemserensinadasaosalunos,paraqueoscontedosdoensinosejamaprendidosde
maneiramaisadequada,tornandootrabalhodoprofessoredoalunomaispropcio.
As estratgias no amadurecem sozinhas, nem se desenvolvem, nem emergem,
nemaparecemnoalunosporqueoprofessordeseja.Elasprecisamdeumprincpio
deensino,queconformediscutimosanteriormente,podeserapresentadoapartirda
instruodetcnicasoumesmodeestratgiascertasdeleituradetextos.Elasreque-
rem, por parte do professor, um conhecimento mnimo de trabalho com o texto, pois
cadatextorequerumaleituraespecfica,jqueostextosquecirculamnasociedade
nosolidossempredamesmaforma.Cadatextorequerumaestratgiadeleitura,em
funodesuaespecificidade,deseucontedo,desuaforma.certoquemuitostex-
tossolidoscomamesmaestratgia,pormseuempregodiferenciadopeloleitor.
Dessa forma, o ensinodas estratgias necessrio porque se pretende formar
leitoresautnomos,capazesdeenfrentardeformainteligentetextosdendolemuito
diversa,namaioriadasvezesdiferentesdosutilizadosdurantea instruo.(SOL,
1998, p. 72).Neste sentido, a formao de um leitor competente necessariamente
passapeloensinodeestratgiasde leitura,pelaprticaem textos sociais,pelode-
senvolvimentodeumaautonomianoleitorparaescolheraestratgiacertaaotexto
trabalhado.
A formao de leitores competentes, autnomos, possibilita ao aluno a capacida-
dedeaprenderapartirdostextosquel,isto,acadanovotextooleitoraprende
novosconhecimentos,novasestruturas,desenvolvenovasestratgias;eleaprendea
aprender.Paraqueistosejapossvel,necessrioqueesseleitorinterajacomotexto,
compreendendo-o;estabelearelaesentreoqueleosconhecimentosprviosque
-
43
temarmazenadonamemriasobreotemadiscutidonotexto;questioneoconheci-
mentoaprendido,conseguindorealizarassociaescomoquejtinhanamemria,
comasnovasinformaesqueseformouemsuamente,permitindosuautilizaoem
outros contextos sociais diferentes da escola, onde est aprendendo a trabalhar com o
texto.Enfim,oalunoaprendenaescolaotrabalhocomasestratgiasdeleitura,para,
posteriormente,usufruirdesseprocedimentona leiturade textosqueencontrano
cotidianosocialemqueconvive,noserestringindootrabalhocomoestudodotexto
somentesaladeaula.Istoformarumleitorcompetente!
o Leitor e as estratgias de Leitura
Soquatroasestratgiasfundamentaispararealizaracompreensoaseremdesen-
volvidasnosalunos,paraotrabalhoemtodosostextos:seleo, antecipao, infe-
rncia e verificao.Elasforamsistematizadasapartirdeestudosrealizadosporpes-
quisadoresemPsicolingustica,comoGoodman(1987)eSmith(1991),eapresentadas
comorefernciaaorientaesnotrabalhocomleituranosParmetrosCurriculares
Nacionais(BRASIL,1997,1998).Muitasoutrasestratgiassoconsideradasnoproces-
sodeensino,pormessasquatrosoasprincipais,poisessaclassificaofoiresultado
demuitaspesquisasdesenvolvidasnasltimasquatrodcadasemtodoomundo.
Paraentenderoquesignificam,apresentamosassuasdefinieseexemplosqueex-
plicitamseufuncionamentoduranteoprocessodeensinoeaprendizagemdelngua.
A) Seleo: Soaesquepossibilitamaoleitorater-sesomenteaoquelhetil
paraacompreensodotexto,desprezando-seitensconsideradosirrelevantes.
Aolerumarevista,umjornal,oleitoriniciaaleiturapelaseleodostextosque
estoalidispostos.Primeiro,oleitorfolheiatodooperidico,lendocadattulo
eobservandoasfigurasqueacompanhamotexto.Seottulolhechamaraaten-
o,despertandointeresse,eleacabalendoolide,aquelaparteintrodutriada
matriajornalsticaqueresumeofatoobjetivaesinteticamente,respondendo
asquestes:oqu,quem,quando,onde,comoeporquesobreoassuntodo
texto.Entretanto,oleitornolareportagem,elecontinuaafolheararevista
ouojornal,selecionandooqueirlerapsainvestigaopreliminar.Nessase-
leo,oleitordeterminaquaistextoslheservemparaleituranaquelemomento
desuavida.Feitaaseleoinicial,lana-seleituradostextosescolhidos.
A seleo um importante recurso para a escolha de textos e tambm de suas
ideiasrelevantes.Assim,aolerumtexto,oleitornoseaproveitadetodasasinfor-
maesaliconstantes.Eleselecionaoquelhepertinenteemfunodeseuobjetivo
estratgias de leitura
-
Leitura e ensino
44
deleitura.Porissoqueoensinoqueseefetivaemsaladeaulasobreasestratgiasde
leitura deve ser consciente de seu processo, para no causar danos na leitura do aluno,
apartirdainternalizaodeprocedimentosinadequadosou,atmesmo,afaltadeles.
B) Antecipao: Soprediesqueoleitorconstrisobreotextoqueestlendo,
possibilitando-lheaantecipaodocontedo,mantendoaatenonoobjetivo
determinadoinicialmente.Oleitor,durantealeituradotexto,criahiptesese
previsessobreossignificadosapartirdasinformaesexplcitaseimplcitas
constantesno texto.Essas antecipaespodemser comprovadasouno.Ao
seremcomprovadas,o leitorsentemaiorsegurananasestratgiasqueesco-
lheu,dandoprosseguimentoconduta iniciada,poisestnocaminhocerto.
Poroutrolado,aotersuasprediesnocomprovadas,eleobrigadoarever
seuprocedimento,reavaliandoousodasestratgias, readequando-asou,at
mesmo,trocandodeestratgia,escolhendoumaquelhepossibiliteumaanteci-
paomaiseficiente.
Noexemplocomentadonaestratgiadeseleo,oleitor,aorealizaraseleode
textoemumjornalouemumarevista,iniciaasualeitura.Deimediato,apartirdalei-
turadottulo,oleitorjantecipaalgumasprevisessobreocontedodotexto.Aoler
o lide, o leitor pode comprovar ou no sua predio iniciada no ttulo, possibilitando a
continuaodaestratgiaescolhidao