livro o fator china e o novo normal

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TERÇA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2016 8 UMA “NOVA CHINA” WEG: MUITA CONFIANÇA PLANOS CONFIRMADOS SEM PERDER TEMPO FALANDO NISSO O FATOR MEDO “A China, como potência eco- nômica, representa o aconteci- mento mais importante no ce- nário internacional nos últimos 50 anos”, afirma o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas no prefácio de O Fator China 2, de Henry Quaresma, ex-diretor da Fiesc. Os quatro anos que separam as duas edições do livro mostram que em 2012 Quaresma fazia o relato de um país “de fulgurante trajetória que assombra o empresário brasileiro”. Na edição 2016 ele reafirma que a China “puxa a expansão global, mas a desace- leração provoca distúrbios nos mercados financeiros e reajusta para baixo os preços de ativos em todo o planeta”. “A economia chinesa é muito dinâmica e muda muito rapi- damente”, lembra Siegfried Kreutzfeld, diretor da WEG China, onde a companhia tem duas unidades industriais, em Nantong e Rugao. A WEG está muito confiante: “Neste momen- to o governo está dando ênfase ao consumo e ao investimento em tecnologia, com redução da poluição. Nossas oportunida- des aqui são muito boas, para a venda de produtos de altíssimo rendimento. De acordo com as informações oficiais, será man- tido o crescimento do PIB entre 6 a 7%, porém, com mais força ao consumo e ao serviço, apesar de a indústria ainda representar a maior parcela do PIB”, avalia Kreutzfeld. Um ano depois da inauguração, a unidade Rugao da WEG com- pleta a primeira etapa dentro do previsto: começou com 100 motores/dia e hoje chega a 1500, com 500 colaboradores. Siegfried Kreutzfeld diz que a previsão de investir U$ 135 milhões para produção de 800 mil motores/ano, com 3 mil colaboradores, “está mantida para complementar outras duas etapas em momento oportuno”. Já na WEG Nantong “estamos investindo para capacitar a fábrica para produzir motores de tamanho médio e grande, uma vez que a demanda aumentou bastante este ano e prevemos que será ainda melhor em 2017”, afirma o confiante Kreutzfeld. “Os chineses estão lideran- do as aquisições nos países emergentes e entrando com tudo no Brasil”, diz Henry Quaresma, dando como exemplo a recente compra de parte da CPFL Energia pela chinesa State Grid. Na semana passada, a gigante chinesa Commu- nications Construction Company fechou a compra da Concremat Engenharia. Os chineses também estão investindo na compra de imóveis no Brasil, inclusive em SC. Mas também tem movimento contrário: a BRF/Sadia anuncia uma fábrica na China dentro de três a cinco anos. Em 2012, Henry Quaresma, um dos maiores especialistas em China do país, ensinava que “é necessário interagir, e não fugir” do gigante chinês. Quatro anos depois, ele nos diz que a integração chinesa com a economia mundial tende a se aprofundar, fato confirmado pela missão de “caixeiro-viajante” do presidente chinês Xi Jinping à América Latina na sema- na passada. “Quem, em vez de tentar se proteger dessa influência, optar por aprofundar a integração com a China, terá diante de si novas e surpreendentes oportunidades”, garante Quaresma. Bondeconomia Fernando Bond ECONOMIA [email protected] A economia mundial en- frenta duas revoluções ao mesmo tempo: Do- nald Trump rompe com os blocos econômicos, como a Par- ceria Transpacífico (TPP), e a China ocupa os espaços que Trump está abandonando. O que isso tem a ver com a gente? Tudo. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, posto que era dos EUA. “Um espirro na China pode provocar uma gripe na SC”, diz o economista cata- rinense Henry Quaresma (foto), que semana passada lançou em todo o país O Fator China e o Novo Normal, 2ª. Edição do livro publicado em 2012 que mostra como as relações brasileiras, catarinenses e chinesas mudaram nos últimos quatro anos, mudança constatada por este co- lunista, que esteve duas vezes na China nesse período. Para mostrar os impactos Trump-China, a coluna entrevistou na China pela internet o diretor da catarinense WEG naquele país, Siegfried Kreutzfeld, e o diretor da China Trade Link, o paulistano Lincoln Fracari. Em Santa Catarina, além do próprio Henry Quaresma, falou o presidente da Federação da Agricultura (Faesc), José Zeferino Pedroso. Aliás, nosso agronegócio é que sofre a maior dependência da China. “Se Trump adotar essa linha protecionista e, eventualmente, não reconhecer os tratados dos quais os EUA são signatários, com o Naf- ta, Otan e Parceria Transpacífico, pode acabar criando uma grande oportunidade para o Brasil. Apro- ximar-nos cada vez mais da China, Ásia, Oriente Médio, México, países africanos, países latino-americanos, assim como a Europa, será a nossa saída”, aponta Zeferino Pedrozo. O EFEITO TRUMP E CHINA NA ECONOMIA DOS NOVOS TEMPOS MARCO CEZAR Se Trump adotar a linha protecionista, temos o resto do mundo e a China. SC tem muita competência no agronegócio. Por isso, não deve temer os novos tempos. José Zeferino Pedroso, Presidente da Federação da Agricultura (Faesc) De Shenzhen, zona econômica especial ao sul da China, o paulistano Lincoln Fracari diz pelo site da sua empresa, a China Link Trading (www. chinalinktrading.com), que o fato de Donald Trump ter repelido o Tratado Transpacífico (TPP) – área de livre comércio de 12 países, mas que excluía o gigante asiático – foi bem recebido por lá. “O TPP era visto como um plano americano para frear a China na região do Pacífico, mas a recente presença do presidente chinês Xi Jinping na cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), no Peru, mostra que os chineses já vêm buscando fortalecer as relações com aqueles que fariam parte do TPP, aproveitando a lacuna deixada pelas declarações de Trump”, analisa Fracari. No vácuo dos EUA

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Page 1: Livro O Fator China e o Novo Normal

TERÇA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 20168

Li

UMA “NOVA CHINA”

WEG: MUITA CONFIANÇA

PLANOS CONFIRMADOS

SEM PERDER TEMPO

FALANDO NISSO

O FATOR MEDO“A China, como potência eco-nômica, representa o aconteci-mento mais importante no ce-nário internacional nos últimos 50 anos”, afi rma o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas no prefácio de O Fator China 2, de Henry Quaresma, ex-diretor da Fiesc. Os quatro anos que separam as duas edições do livro mostram que em 2012 Quaresma fazia o relato de um país “de fulgurante trajetória que assombra o empresário brasileiro”. Na edição 2016 ele reafi rma que a China “puxa a expansão global, mas a desace-leração provoca distúrbios nos mercados fi nanceiros e reajusta para baixo os preços de ativos em todo o planeta”.

“A economia chinesa é muito dinâmica e muda muito rapi-damente”, lembra Siegfried Kreutzfeld, diretor da WEG China, onde a companhia tem duas unidades industriais, em Nantong e Rugao. A WEG está muito confi ante: “Neste momen-to o governo está dando ênfase ao consumo e ao investimento em tecnologia, com redução da poluição. Nossas oportunida-des aqui são muito boas, para a venda de produtos de altíssimo rendimento. De acordo com as informações ofi ciais, será man-tido o crescimento do PIB entre 6 a 7%, porém, com mais força ao consumo e ao serviço, apesar de a indústria ainda representar a maior parcela do PIB”, avalia Kreutzfeld.

Um ano depois da inauguração, a unidade Rugao da WEG com-pleta a primeira etapa dentro do previsto: começou com 100 motores/dia e hoje chega a 1500, com 500 colaboradores. Siegfried Kreutzfeld diz que a previsão de investir U$ 135 milhões para produção de 800 mil motores/ano, com 3 mil colaboradores, “está mantida para complementar outras duas etapas em momento oportuno”. Já na WEG Nantong “estamos investindo para capacitar a fábrica para produzir motores de tamanho médio e grande, uma vez que a demanda aumentou bastante este ano e prevemos que será ainda melhor em 2017”, afi rma o confi ante Kreutzfeld.

“Os chineses estão lideran-do as aquisições nos países emergentes e entrando com tudo no Brasil”, diz Henry Quaresma, dando como exemplo a recente compra de parte da CPFL Energia pela chinesa State Grid. Na semana passada, a gigante chinesa Commu-nications Construction Company fechou a compra da Concremat Engenharia. Os chineses também estão investindo na compra de imóveis no Brasil, inclusive em SC. Mas também tem movimento contrário: a BRF/Sadia anuncia uma fábrica na China dentro de três a cinco anos.

Em 2012, Henry Quaresma, um dos maiores especialistas em China do país, ensinava que “é necessário interagir, e não fugir” do gigante chinês. Quatro anos depois, ele nos diz que a integração chinesa com a economia mundial tende a se aprofundar, fato confi rmado pela missão de “caixeiro-viajante” do presidente chinês Xi Jinping à América Latina na sema-na passada. “Quem, em vez de tentar se proteger dessa infl uência, optar por aprofundar a integração com a China, terá diante de si novas e surpreendentes oportunidades”, garante Quaresma.

BondeconomiaFernando Bond

ECONOMIA

[email protected]

A economia mundial en-frenta duas revoluções ao mesmo tempo: Do-nald Trump rompe com

os blocos econômicos, como a Par-ceria Transpacífi co (TPP), e a China ocupa os espaços que Trump está abandonando. O que isso tem a ver com a gente? Tudo. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, posto que era dos EUA. “Um espirro na China pode provocar uma gripe na SC”, diz o economista cata-rinense Henry Quaresma (foto), que semana passada lançou em todo o país O Fator China e o Novo Normal, 2ª. Edição do livro publicado em 2012 que mostra como as relações brasileiras, catarinenses e chinesas mudaram nos últimos quatro anos, mudança constatada por este co-lunista, que esteve duas vezes na China nesse período. Para mostrar os impactos Trump-China, a coluna entrevistou na China pela internet o diretor da catarinense WEG naquele país, Siegfried Kreutzfeld, e o diretor da China Trade Link, o paulistano Lincoln Fracari. Em Santa Catarina, além do próprio Henry Quaresma, falou o presidente da Federação da

Agricultura (Faesc), José Zeferino Pedroso. Aliás, nosso agronegócio é que sofre a maior dependência da China. “Se Trump adotar essa linha protecionista e, eventualmente, não reconhecer os tratados dos quais os EUA são signatários, com o Naf-ta, Otan e Parceria Transpacífi co, pode acabar criando uma grande oportunidade para o Brasil. Apro-ximar-nos cada vez mais da China, Ásia, Oriente Médio, México, países africanos, países latino-americanos, assim como a Europa, será a nossa saída”, aponta Zeferino Pedrozo.

O EFEITO TRUMP E CHINA NA ECONOMIADOS NOVOS TEMPOS

MARCO CEZAR

Se Trump adotar a linha protecionista, temos o resto do mundo e a China. SC tem muita competência no agronegócio. Por isso, não deve temer os novos tempos.José Zeferino Pedroso,Presidente da Federação da Agricultura (Faesc)

De Shenzhen, zona econômica especial ao sul da China, o paulistano Lincoln Fracari diz pelo site da sua empresa, a China Link Trading (www.chinalinktrading.com), que o fato de Donald Trump ter repelido o Tratado Transpacífi co (TPP) – área de livre comércio de 12 países, mas que excluía o gigante asiático – foi bem recebido por lá. “O TPP era visto como um plano americano para frear a China na região do Pacífi co, mas a recente presença do presidente chinês Xi Jinping na cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífi co), no Peru, mostra que os chineses já vêm buscando fortalecer as relações com aqueles que fariam parte do TPP, aproveitando a lacuna deixada pelas declarações de Trump”, analisa Fracari.

No vácuo dos EUA