livro - moeda, sistema financeiro e banco central - analistas

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MOEDA, SISTEMA FINANCEIRO E BANCO CENTRAL

UMA ABORDAGEM TERICA E PRTICA SOBRE O FUNCIONAMENTO DE UMA AUTORIDADE MONETRIA NO MUNDO E NO BRASIL

Autor:

Mrcio Antnio Estrela

Preparado com base nas informaes disponveis at 10/05/2010.

Braslia, 10 de maio de 2010.

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APRESENTAOO contedo deste livro visa transmitir conhecimento atualizado terico e prtico sobre Moeda, Sistema Financeiro e Autoridades Monetrias. O objetivo maior permitir o entendimento do que um banco central e o que significa ser o guardio da moeda. A partir da experincia do autor no dia a dia do funcionamento de um banco central, o presente livro, alm de tratar das questes tericas relacionadas ao funcionamento de uma Autoridade Monetria, aborda detalhadamente as questes prticas e operacionais com base na atuao dos principais bancos centrais do mundo e no Brasil. Para tanto, apresenta, detalha e discute noes sobre a moeda, seu surgimento e evoluo, suas funes, caractersticas e importncia na organizao scio-econmica no mundo moderno; a evoluo da arquitetura do Sistema Financeiro Internacional e de suas instituies mais relevantes FMI, Banco Mundial, G-20 e BIS; a evoluo e as principais instituies do sistema financeiro nacional; a origem dos bancos centrais e o desenvolvimento de suas funes; uma comparao internacional entre as mais importantes autoridades monetrias do mundo; o Banco Central do Brasil, sua criao e evoluo, estrutura administrativa atual e operacionalizao das funes a seu encargo; e uma resumida discusso sobre autonomia e independncia de bancos centrais. Em relao aos objetivos deste livro, vale realar a frase constante na entrada do Centro de Treinamentos hoje Unibacen: aqui se aprende o que foi, o que e o que deve ser o Banco Central do Brasil. O Autor.1-2-3

1

Esta publicao uma atualizao da edio de 2006 de ESTRELA, M.A.; ROSEK, R.J.; ORSI, R.V.; SCHNEIDER, V.M. (2006), Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central Uma Abordagem Prtica e Terica sobre o Funcionamento de uma Autoridade Monetria no Mundo e no Brasil; Braslia: 2006.2

Embora se tenha utilizado, na elaborao deste livro, da experincia acumulada do autor no exerccio de suas atribuies enquanto servidor do Banco Central do Brasil e da troca de informaes com colegas das diversas reas da instituio, a responsabilidade pelas afirmaes exclusiva do autor.3

Agradeo a colaborao do colega Werter de Macdo na reviso deste material. Ressalve-se que, a despeito da colaborao do colega, quaisquer incorrees so de responsabilidade do autor.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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NDICEAPRESENTAO NDICE 1 MOEDA 2 3 11

1.1. IMPORTNCIA E FUNES DA MOEDA 11 1.1.1. FUNES DA MOEDA NO ESPAO. 11 1.1.2. FUNES DA MOEDA NO TEMPO. 11 1.1.3. INSTRUMENTO DE PODER E FUNO LIBERATRIA DA MOEDA. 12 1.1.4. A INFLAO E AS FUNES DA MOEDA. 12 1.2. CARACTERSTICAS ESSENCIAIS DA MOEDA 12 1.3. HISTRICO E EVOLUO DA MOEDA 13 1.3.1. MERCADORIAS DE ACEITAO GERAL 14 1.3.2. MOEDA METLICA 14 1.3.3. MOEDA CUNHADA 14 1.3.4. MOEDA-PAPEL 15 1.3.5. PAPEL-MOEDA 15 1.3.6. MOEDA BANCRIA. 16 1.3.7. DESMATERIALIZAO DA MOEDA. 16 1.4. O FUTURO DA MOEDA 17 1.4.1. PAGAMENTOS EM ESPCIE. 17 1.4.2. PAGAMENTOS SEM UTILIZAO DE PAPEL-MOEDA (NON-CASH). 17 1.4.2.1. Cheque 17 1.4.2.1.1. O cheque no Brasil 18 1.4.2.2. Transferncias de recursos 19 1.4.2.3. Cartes de pagamento 19 1.4.2.3.1. Cartes de crdito 20 1.4.2.3.2. Cartes de dbito 20 1.4.2.3.3. Cartes de loja (retailer cards) 21 1.4.2.3.4. Cartes com valor armazenado (charge cards ou pr-pagos) 21 1.4.2.3.5. E-money 21 1.4.2.4. Dbitos diretos 21 1.4.2.5. Vales 21 1.4.3. MOEDA ELETRNICA COMO SUBSTITUTO DA MOEDA MANUAL 22 1.4.3.1. Requisitos fundamentais para se intensificar a substituio da moeda manual pela moeda eletrnica 22 1.4.3.2. Fatores que podem acelerar o uso da moeda eletrnica 22 1.4.3.3. Fatores que podem dificultar o uso da moeda eletrnica. 22 1.4.3.4. Tendncias 23 2 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E ORGANISMOS INTERNACIONAIS 2.1. INTRODUO 2.1.1 SISTEMA MONETRIO INTERNACIONAL 2.2. HISTRIA DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL 2.2.1. O TRILEMA DA POLTICA MACROECONMICA. 2.2.2. O PADRO-OURO TERICO 2.2.3. DO PADRO-OURO-LIBRA AT BRETTON WOODS 25 25 25 26 26 27 29

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2.2.4. O SISTEMA DE BRETTON WOODS E O PADRO OURO-DLAR 2.2.5. O FIM DO PADRO OURO-DLAR E AS CRISES REGULATRIAS PS BRETTON WOODS 2.2.5.1. Os Direitos Especiais de Saque DES 2.2.5.1.1 Evoluo da composio do DES 2.2.6. A LIBERALIZAO DA CONTA DE CAPITAL, AS CRISES E O CMBIO FLEXVEL. 2.2.7. NOVOS INVESTIDORES NO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL: FUNDOS DE HEDGE, FUNDOS DE PENSO, CORPORAES DE INVESTIMENTO. 2.2.8. OS NOVOS DESAFIOS DO CONTEXTO ATUAL. 2.2.8.1 A Crise das Subprimes. 2.2.8.1.1 O Impacto no Sistema Bancrio. 2.2.8.1.2 Impacto nos pases em desenvolvimento 2.2.8.1.3. Incio do enfrentamento da Crise 2.2.8.1.4. Desdobramentos da Crise 2.2.8.2. A Forma do Ajuste, Ao Coordenada, Auto-seguro e Instituio Multilateral. 2.3. O FUNDO MONETRIO INTERNACIONAL 2.3.1. ORGANIZAO E ATIVIDADES DO FMI 2.3.2. SNTESE DAS EMENDAS AO CONVNIO CONSTITUTIVO DO FMI. 2.3.3. LINHAS DE FINANCIAMENTO, PREVENO E SOLUO DE CRISES NO FMI 2.3.3.1. Linhas de financiamento no FMI. 2.3.3.2. Preveno de crises no FMI. 2.3.3.3. Soluo de crises no FMI. 2.3.3.4. Histrico dos Programas de ajuda do FMI ao Brasil. 2.3.4. SURVEILLANCE DO FMI 2.3.4.1. A Deciso de 2007 (atualizao da Deciso de 1977). 2.3.5. PAPEL DO FMI JUNTO A PASES DE BAIXA RENDA. 2.3.6. VOZ, VOTO E GOVERNANA NO FMI. 2.3.7. FINANCIAMENTO DAS OPERAES DE ASSISTNCIA DO FMI. 2.3.7.1. Plano de Transaes Financeiras Financial Transactions Plan (FTP). 2.3.7.2. GAB, NAB, Acordos Bilaterais e lanamento de bnus (Bond Issuance). 2.3.7.2.1 O Acordo Geral de Emprstimo General Arrangements to Borrow (GAB). 2.3.7.2.2 O Novo Acordo de Emprstimo New Arrangements to Borrow (NAB). 2.3.7.2.3 Acordos Bilaterais. 2.3.7.2.4 Lanamento de Bnus (Bond Issuance). 2.3.8. O DEPARTAMENTO DE DES 2.3.8.1. O Plano de Designao e Acordos Voluntrios no Departamento de DES 2.3.9. ATUAO RECENTE DO BCB NO FMI 2.4. O GRUPO BANCO MUNDIAL 2.4.1. ORGANIZAO E ATIVIDADES DO BANCO MUNDIAL 2.4.2. FINALIDADES 2.4.3. COMPOSIO DO GRUPO BANCO MUNDIAL 2.5. A ORGANIZAO MUNDIAL DO COMRCIO (OMC) 2.5.1. PRINCIPAIS FUNES DA OMC 2.5.2. ACORDO GERAL SOBRE O COMRCIO DE SERVIOS (GATS) 2.6. O G-24 2.7. O G-20 2.7.1. ORIGEM 2.7.2. O G-20 COMO PRINCIPAL FRUM DE COORDENAO FINANCEIRA INTERNACIONAL. 2.7.3. A GESTO DO G-20 2.7.4. ATUAO RECENTE DO BCB NO G-20. 2.8. O BANCO DE COMPENSAES INTERNACIONAIS BIS. 2.8.1. ORGANIZAO 2.8.2. OBJETIVOS 2.8.3. ATUAO RECENTE DO BCB NO BIS 2.8.4. O ACORDO DE BASILEIA 2.8.4.1. Basileia 1 2.8.4.2. Basileia 2

30 33 36 36 37 39 43 44 45 46 47 47 49 51 52 55 56 56 58 61 61 62 63 65 66 67 68 69 69 70 71 72 73 74 75 75 76 76 77 78 79 79 80 80 80 81 83 84 84 85 86 88 89 90 91

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2.8.4.2.1. Primeiro Pilar Requerimento mnimo de Capital a Risco de Crdito b Risco de Mercado c Risco Operacional 2.8.4.2.2. Segundo Pilar Reviso do rgo Supervisor 2.8.4.2.3. Terceiro Pilar Disciplina de Mercado 2.8.4.3. A crise de 2007-2010 e as crticas a Basileia 2 Iniciativas internacionais para mitigar a pro-ciclicalidade 2.9. O CONSELHO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA FSB 2.10. INTEGRAO 2.10.1. VANTAGENS DOS PROCESSOS DE INTEGRAO 2.10.2. CLASSIFICAO DOS PROCESSOS DE INTEGRAO 2.10.3. LIBERALIZAO FINANCEIRA 2.10.3.1. Conceitos 2.10.3.2. Etapas 2.10.4. O MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL) 3 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

92 92 92 92 93 93 93 94 94 94 95 95 96 96 96 96 99

3.1. INTRODUO 99 3.2. FUNES DO MERCADO FINANCEIRO 99 3.3. SEGMENTAO DO MERCADO FINANCEIRO 100 3.3.1. POR TIPO DE CONTROLE 100 3.3.2. MERCADO DE CRDITO X MERCADO DE TTULOS 101 3.3.3. MERCADO MONETRIO 101 3.3.4. MERCADO DE CAPITAIS 102 3.3.5. MERCADO CAMBIAL 102 3.3.6. MERCADO DE DERIVATIVOS 103 3.3.7. MERCADO PRIMRIO X MERCADO SECUNDRIO 103 3.3.8. MERCADOS PBLICOS X MERCADOS PRIVADOS 104 3.4. ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) 104 3.4.1.RGOS NORMATIVOS 104 3.4.2. ENTIDADES SUPERVISORAS 104 3.4.3. OPERADORES 105 3.4.3.1. Supervisionados pelo Banco Central do Brasil 105 3.4.3.1.1. Instituies financeiras captadoras de depsitos vista 105 3.4.3.1.2. Demais instituies financeiras 105 3.4.3.1.3. Outros intermedirios financeiros e administradores de recursos de terceiros 105 3.4.3.2. Supervisionadas pela CVM 106 3.4.3.3 Supervisionadas pela Susep 106 3.4.3.4. Supervisionadas pela Previc 106 3.5. CARACTERSTICAS E PRINCIPAIS ATRIBUIES DAS INSTITUIES FINANCEIRAS106 3.5.1. RGOS NORMATIVOS 106 3.5.1.1. Conselho Monetrio Nacional (CMN) 106 3.5.1.2. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) 107 3.5.1.3. Conselho Nacional de Previdncia Complementar (CNPC) 107 3.5.2. ENTIDADES SUPERVISORAS 108 3.5.2.1. Banco Central do Brasil (BCB) 108 3.5.2.2. Comisso de Valores Mobilirios (CVM) 109 3.5.2.3. Superintendncia de Seguros Privados (Susep) 109 3.5.2.4. Superintendncia Nacional de Previdncia Complementar (Previc) 110 3.5.3. INSTITUIES OPERADORAS 112 3.5.3.1. Supervisionadas pelo Banco Central 112 3.5.3.1.1. Instituies captadoras de depsitos vista 112 3.5.3.1.1.1. Bancos mltiplos 112

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3.5.3.1.1.2. Bancos comerciais 112 3.5.3.1.1.3. Caixa Econmica Federal (CEF) 113 3.5.3.1.1.4. Cooperativas de crdito 113 a)Tipos e caractersticas das cooperativas de crdito 114 3.5.3.1.2. Demais instituies financeiras 116 3.5.3.1.2.1. Agncias de fomento 116 3.5.3.1.2.2. Associaes de poupana e emprstimo 116 3.5.3.1.2.3. Bancos de desenvolvimento 116 3.5.3.1.2.4. Bancos de investimento 117 3.5.3.1.2.5. Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) 117 3.5.3.1.2.6. Companhias hipotecrias 118 3.5.3.1.2.7. Sociedades de crditos, financiamento e investimento 118 3.5.3.1.2.8. Sociedades de crdito imobilirio 118 3.5.3.1.2.9. Sociedades de crdito ao microempreendedor 119 3.5.3.1.3. Outros intermedirios financeiros e administradores de recursos de terceiros 119 3.5.3.1.3.1. Administradoras de consrcio 119 3.5.3.1.3.2. Sociedades de arrendamento mercantil (leasing) 120 3.5.3.1.3.3. Sociedade corretoras de cmbio 121 3.5.3.1.3.4. Sociedades corretoras de ttulos e valores mobilirios 121 3.5.3.1.3.5. Sociedades distribuidoras de ttulos e valores mobilirios 121 3.5.3.2. Supervisionadas pela CVM 122 3.5.3.2.1. Bolsas de mercadorias e futuros 122 3.5.3.2.2. Bolsas de valores 122 3.5.3.3. Supervisionadas pela Susep 122 3.5.3.3.1. Sociedades seguradoras 122 3.5.3.3.2. Sociedades de capitalizao 122 3.5.3.3.3. Entidades abertas de previdncia complementar 122 3.5.3.4. Supervisionadas pela Previc 123 3.5.3.4.1. Entidades fechadas de previdncia complementar (fundos de penso) 123 3.5.3.5. Outras instituies 123 3.5.3.5.1. Fundos de investimento 123 a) Caractersticas bsicas 123 b) Instituies Financeiras Autorizadas a Administrar Fundos de Investimento Financeiro: 124 3.5.3.5.2. Correspondente bancrio 124 3.5.3.5.3. Sistema Financeiro da Habitao (SFH) e Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo (SBPE) 126 3.5.3.5.4. Cartes de Crdito 128 3.5.4. CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO (CRSFN) 129 3.6. TAXAS DE OPERAES DE CRDITO: JUROS E SPREAD BANCRIOS 130 4 BANCOS CENTRAIS ORIGENS E FUNES 4.1. HISTRICO 4.1.1. O BANCO DA INGLATERRA ASSUMINDO AS FUNES DE BANCO CENTRAL. 4.1.2. A CRIAO DE BANCOS CENTRAIS NA EUROPA. 4.1.3. A CRIAO DE BANCOS CENTRAIS NA AMRICA LATINA. 4.1.4. A DEFINIO DE BANCO CENTRAL. 4.1.5. INDEPENDNCIA DE BANCO CENTRAL. 4.2. FUNES TPICAS 4.2.1. EXECUTOR DA POLTICA MONETRIA 4.2.2. BANCO DOS BANCOS 4.2.3. REGULADOR DE RISCO SISTMICO RRS (SYSTEMIC RISK REGULATION SRR) 4.2.4. REGULADOR E SUPERVISOR DO SISTEMA FINANCEIRO 4.2.5. EXECUTOR DA POLTICA CAMBIAL 4.2.6. MONOPLIO DE EMISSO 132 132 133 134 134 135 136 136 137 140 143 144 145 147

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4.2.7. BANQUEIRO DO GOVERNO 4.2.8. ASSESSOR ECONMICO DO GOVERNO 5 BANCOS CENTRAIS MODELOS

147 148 148

5.1 BANCO CENTRAL DOS ESTADOS UNIDOS FED 149 5.1.1. ORIGEM 149 5.1.2. ORGANIZAO 152 5.1.3. FUNES 154 5.1.4. RELACIONAMENTO INSTITUCIONAL 154 5.2. SISTEMA EUROPEU DE BANCOS CENTRAIS (SEBC) E O BANCO CENTRAL EUROPEU (BCE) 155 5.2.1. FUNES 155 5.2.2. PARTICIPAO NO CAPITAL SUBSCRITO DO BANCO CENTRAL EUROPEU 157 5.3. BANCO CENTRAL DO CHILE 159 5.3.1. ORIGEM E NATUREZA 159 5.3.2. ORGANIZAO 160 5.3.3. FUNES 161 5.3.4. RELACIONAMENTO INSTITUCIONAL 162 6 BRASIL HISTRICO DA MOEDA, ANTECEDENTES, CRIAO E MISSO DO BANCO CENTRAL NO BRASIL 163 6.1. A HISTRIA DA MOEDA NO BRASIL: DOS PRIMRDIOS AO REAL 163 6.1.1. DO DESCOBRIMENTO CHEGADA DA FAMLIA REAL (1808) 163 6.1.1.1. As primeiras Casas da Moeda 163 6.1.1.2. Bilhetes da Extrao: a primeira moeda-papel 164 6.1.1.3. Barras de ouro e certificados 164 6.1.1.4. Troco do Ouro em P 164 6.1.2. DA CHEGADA DA FAMLIA REAL (1808) CRIAO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL (1964) 165 6.1.2.1. A chegada da Famlia Real e o primeiro Banco do Brasil (1808-1822). 165 6.1.2.2. O Brasil independente: Casas das Moedas e Tesouro Nacional (1822-1836) 165 6.1.2.3. Emisso por diversos bancos (1836-1862) e s pelo Banco do Brasil (1862-1866). 165 6.1.2.4. Emisso novamente pelo Tesouro Nacional (1866-1889). 165 6.1.2.5. O Brasil Republicano: Emisso por diversos bancos (1889-1892). 166 6.1.2.6. Emisso s pelo Banco da Repblica do Brasil (1892-1896) e pelo Governo (1896-1906). 166 6.1.2.7. Caixa de Converso (1906-1913). 166 6.1.2.8. Criao da Inspetoria Geral de Bancos (1920). 166 6.1.2.9. Emisso novamente pelo Banco do Brasil (1923-1926) e pela Caixa de Estabilizao (1926-1930). 166 6.1.2.10. Emisso com o Banco do Brasil, em nome do Tesouro (1930-1964), e a criao do Cruzeiro. 166 6.1.3. O BANCO CENTRAL E OS PADRES MONETRIOS DE 1964 AT O REAL 167 6.1.3.1. Do Regime Militar Nova Repblica (1964-1986). 167 6.1.3.2. O Plano Cruzado (1986-1987) e o Cruzado. 167 6.1.3.2. O Plano Bresser (1987). 168 6.1.3.3. O Plano Vero e o Cruzado Novo (1989-1990). 168 6.1.3.4. O Plano Collor e a volta do Cruzeiro (1990-1993). 168 6.1.3.5. O Cruzeiro Real (1993-1994) 169 6.1.3.6. O Plano Real e o Real (a partir de 1994). 169 6.1.3.6.1. A nova famlia de cdulas do Real (2010). 171 6.1.4. PLANOS ECONMICOS E DIREITO ADQUIRIDO A REGIME MONETRIO. 171 6.1.4.1. Inexistncia de direito adquirido a regime monetrio 172 6.2. A CRIAO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. 173 6.2.1. A CRIAO DA SUMOC 173

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6.2.2. A REFORMA DE 1964 E OS AJUSTES SEGUINTES. 6.2.3. A REFORMA DO REAL 6.3. CONSELHO MONETRIO NACIONAL (CMN) 6.4. BANCO CENTRAL DO BRASIL MISSO. 6.4.1. DEFINIO. 6.4.2. MISSO E PLANEJAMENTO ESTRATGICO NO BCB. 6.4.3. FUNES DO BCB.

174 176 176 178 178 178 178

7 BCB FUNES RELACIONADAS A ASSEGURAR A ESTABILIDADE DO PODER DE COMPRA DA MOEDA 179 7.1. MONOPLIO DE EMISSO 7.2. CONTA RESERVAS BANCRIAS CENTRALIZADOR DAS DISPONIBILIDADES DOS BANCOS 7.2.1. OPERAES QUE SENSIBILIZAM A CONTA RESERVAS BANCRIAS 7.3. RECOLHIMENTO COMPULSRIO OU RESERVAS COMPULSRIAS OU ENCAIXE OBRIGATRIO 7.4. OPERAES DE REDESCONTO 7.5. SALVAGUARDAR O SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO (SPB). 7.5.1 INTRODUO 7.5.1.1. Efeito Herstatt e a ateno dos bancos centrais 7.5.1.2. A importncia do sistema de pagamentos 7.5.1.3. Princpios Fundamentais sobre Sistemas de Pagamento de Importncia Sistmica (SPIS) 7.5.2. O SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO 7.5.2.1. O papel do Banco Central 7.5.2.2 Cmaras de Compensao e de Liquidao 7.5.2.2.1 Sistema de Transferncia de Reservas STR 7.5.2.2.1.1. O STR e o redesconto do Banco Central 7.5.2.2.2 Sistema Especial de Liquidao e de Custdia Selic 7.6. EXECUTOR DA POLTICA MONETRIA 7.6.1. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE POLTICA MONETRIA 7.6.1.1 Operaes de mercado aberto 7.6.1.1.1 Mercado Primrio versus Mercado Secundrio 7.6.2. DEFINIO DAS METAS DE POLTICA MONETRIA E METAS DE INFLAO 7.6.2.1. Sistema de Metas para a Inflao (SMPI) 7.6.2.1.1 Funcionamento do SMPI O Comit de Poltica Monetria (Copom) no Banco Central do Brasil As etapas da execuo do SMPI no Brasil. Procedimentos no Caso de Eventual Descumprimento da Meta de Inflao no Brasil Resultados Recentes da Inflao e das Metas 7.6.2.1.2 A necessria credibilidade de um sistema de metas de inflao 7.6.2.1.3 A conduo da poltica monetria no Brasil no Sistema de Metas para Inflao 7.6.2.1.4 O mecanismo de transmisso da poltica monetria 7.6.2.1.5. A interdependncia da poltica monetria com a poltica fiscal 7.6.3. BANCO CENTRAL, ESTABILIDADE, REDUO DO IMPOSTO INFLACIONRIO SOBRE A SOCIEDADE E AUMENTO REAL DE RENDIMENTOS. 7.7. POLTICA CAMBIAL E DE RELAES FINANCEIRAS COM O EXTERIOR 7.7.1 REGULAO DO MERCADO DE CMBIO 7.7.1.1. Agentes autorizados a operar com cmbio. 7.7.1.2. Operaes que podem ser realizadas no mercado de cmbio 7.7.1.3 Atuao do BCB no Mercado de Cmbio Domstico Operaes de interveno no mercado cambial 7.7.2. ADMINISTRAO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS 7.7.2.1. Operaes internacionais do BCB como investidor institucional 7.7.2.1.1. Gerenciamento Ativo das Reservas Internacionais 7.7.3. ACOMPANHAMENTO DOS MOVIMENTOS DE CAPITAIS 7.7.4. RELACIONAMENTO COM ORGANISMOS INTERNACIONAIS. 179 183 184 185 189 192 192 192 193 195 196 196 196 197 199 200 201 201 201 204 204 204 204 206 207 208 209 209 210 210 211 212 214 215 217 219 220 220 221 221 223 225 225

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7.7.5. GERENCIAMENTO E SISTEMAS DE PAGAMENTOS INTERNACIONAIS CCR E SML. 7.7.6. NEGOCIAO DA DVIDA EXTERNA 7.7.7. BRASIL CREDOR INTERNACIONAL 7.7.8. BRASIL GRAU DE INVESTIMENTO 7.8. BANQUEIRO DO GOVERNO

227 228 228 229 230

8 BCB FUNES RELACIONADAS A ASSEGURAR UM SISTEMA FINANCEIRO SLIDO E EFICIENTE 231 8.1. AUTORIZAO PARA O FUNCIONAMENTO DE INSTITUIES FINANCEIRAS 233 8.1.1. INCLUSO FINANCEIRA 233 8.2. NORMATIZAO E REGRAS PRUDENCIAIS 234 8.2.1. BASILEIA 234 8.2.1. OUTROS FRUNS RELACIONADOS ESTABILIDADE 236 8.3. SUPERVISO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 237 8.3.1. SUPERVISO INDIRETA 237 8.3.1.1. Sistemas de Informao e Cadastros do Banco Central do Brasil 238 8.3.1.1.1. Sistema de Informaes de Crdito SCR. 239 8.3.1.1.2. O Registro Comum de Operaes Rurais Recor. 240 8.3.1.1.3. O Sistema de Registro de Operaes de Crdito com o Setor Pblico Cadip. 241 8.3.1.1.4. O Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos CCF. 241 8.3.1.1.5. O Cadastro Informativo de Crditos No-Quitados do Setor Pblico Federal Cadin. 242 8.3.1.1.6. O Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional CCS. 243 8.3.2. SUPERVISO DIRETA 245 8.3.2.1. Superviso Direta de Bancos e de Conglomerados Bancrios 245 8.3.2.2. Superviso Direta de Cooperativas e Instituies No Bancrias 245 8.3.2.3. Tipos de inspees 246 8.3.2.3.1. Inspeo Global Consolidada IGC. 246 8.3.2.3.2. Inspeo Modular IM. 246 8.3.2.3.3. Verificao Especial VE. 246 8.3.3. PREVENO DE ILCITOS CAMBIAIS E FINANCEIROS 247 8.3.4. PROCESSOS ADMINISTRATIVOS PUNITIVOS 248 8.3.5. ATENDIMENTO AO PBLICO 250 8.4. SANEAMENTO DO SFN 250 8.4.1. PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS DA ATUAO DOS BANCOS CENTRAIS FRENTE S CRISES BANCRIAS 251 8.4.2. ANTECEDENTES NA REA DOS REGIMES ESPECIAIS. 252 8.4.3. OS REGIMES ESPECIAIS. 252 8.4.3.1. A Interveno 253 8.4.3.2. A Liquidao Extrajudicial 253 8.4.3.3. A Administrao Especial Temporria (RAET) 254 8.4.4. INSTRUMENTOS DE SANEAMENTO DA LEI 9.447/97 255 8.4.5. O PROGRAMA DE ESTMULO REESTRUTURAO E AO FORTALECIMENTO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL PROER. 257 8.4.5.1. Diferenas da Atuao do Banco Central em Crises Bancrias antes e aps o Proer. 259 8.4.6. O PROGRAMA DE INCENTIVO REDUO DO SETOR PBLICO ESTADUAL NA ATIVIDADE BANCRIA PROES. 261 8.4.7. O FUNDO GARANTIDOR DE CRDITOS FGC. 263 8.4.8. SIGILO BANCRIO E BACENJUD 264 8.4.8.1. Sigilo Bancrio 264 8.4.8.2. Sistema BacenJud 266 9 BANCOS CENTRAIS AUTONOMIA 9.1. INTRODUO 266 266

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9.1.1. BREVE HISTRICO 9.2. AUTONOMIA, RESPONSABILIZAO E GOVERNANA 9.2.1 OBJETIVOS E FUNES 9.2.2 AUTONOMIA EM RELAO AO EXECUTIVO 9.2.3 FUNO, DESIGNAO E DEMISSO DO PRESIDENTE E DOS DIRETORES 9.2.4. COOPERAO COM O GOVERNO 9.2.5. RESPONSABILIDADE FORMAL NA CONDUO DA POLTICA MONETRIA 9.2.6. FINANCIAMENTO DAS ATIVIDADES DO BANCO CENTRAL 9.2.7. CONTROLE EXTERNO 9.2.8 INDEPENDNCIA EM RELAO AOS MERCADOS 9.2.9 AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL E CREDIBILIDADE. 9.3. AUTONOMIA E CONTROLE DA INFLAO: ESTUDOS EMPRICOS 9.3.1. EVIDENCIAS PARA PASES EMERGENTES 9.4. ARGUMENTOS PR E CONTRA UM BANCO CENTRAL AUTNOMO BIBLIOGRAFIA

268 269 269 269 271 271 272 273 274 275 275 275 276 276 277

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1 MOEDA1.1. IMPORTNCIA E FUNES DA MOEDAA moeda foi criada para facilitar as trocas, viabilizando, com isto, a especializao do trabalho. Seria impossvel imaginar a atual organizao scio-econmica sem a moeda, o crdito e as instituies que a emitem e intermedeiam. Aa importncia da moeda hoje decorre no s de suas tradicionais funes de meio de troca, de unidade de conta (ou de valor), reserva de valor e padro de pagamentos diferidos, mas tambm do seu preo (juros) e da sua estabilidade interna (inflao/deflao) e externa (cmbio). Finalmente, a moeda tambm influencia e serve de referncia para a avaliao das condies e perspectivas econmicas do pas que a emite. O aumento da importncia da moeda est ligado ao desenvolvimento do processo de diviso do trabalho e consequente perda da auto-suficincia econmica dos indivduos. Salvo em comunidades extremamente afastadas da civilizao, um homem dos nossos tempos produz parcela minscula daquilo que consome. Portanto, a perda de auto-suficincia uma contingncia do progresso e da produo em massa, alcanveis apenas com intensa diviso do trabalho. Ou seja, quanto mais um pas se desenvolve mais se especializam seus indivduos, e maior passa a ser a interdependncia entre eles. Obviamente o corolrio imediato da diviso do trabalho o estabelecimento das trocas. A introduo da moeda no sistema econmico conduziu dissociao de cada troca em duas operaes: uma de compra e outra de venda. A moeda, por sua vez, passou a desempenhar as seguintes funes fundamentais: intermedirio de trocas; unidade de conta ou valor; reserva de valor; e padro de pagamentos diferidos.

1.1.1. Funes da moeda no espao. O papel da moeda como intermedirio das trocas inerente sua prpria definio. O segundo papel, o de unidade de valor ou de conta, resume-se na praxe de exprimir o valor de troca das mercadorias em termos de uma unidade comum o padro monetrio. A existncia desse padro deu origem aos sistemas atuais de preos, tornou possvel a contabilizao da atividade econmica e permitiu a construo de sistemas agregativos de contabilidade social. 1.1.2. Funes da moeda no tempo. Dentre as funes no tempo, a principal a de reserva de valor, que decorre do desdobramento das trocas em compras e vendas. No momento em que um indivduo vende servios ou mercadorias recebendo moeda em troca, pode guard-la para gastar no futuro. O que leva preferncia pela utilizao da moeda como reserva de valor a sua pronta e imediata aceitao, pois tem como caracterstica a liquidez por excelncia, podendo ser convertida em outros ativos, financeiros ou reais.

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A outra funo no tempo, que corresponde ao papel da moeda como padro de pagamentos diferidos, decorre das facilidades relacionadas ao crdito e da distribuio temporal de formas de adiantamentos. Dessa forma, so viabilizados os processos de investimento, de produo e de consumo, pois a moeda permite interpor parcelas de pagamentos ao longo das etapas de gerao dos bens econmicos. 1.1.3. Instrumento de poder e funo liberatria da moeda. A moeda tem tambm como caracterstica a funo liberatria, pois detm o poder de saldar dvidas, de liquidar dbitos e de livrar o detentor de uma situao passiva. O poder liberatrio garantido pelo Estado, que pode forar o curso da moeda, impondo sua aceitao como forma de pagamento. Alm disso, a moeda um instrumento que traduz o poder econmico, poltico e social. medida que se admite a moeda como um ttulo de crdito, os que a detm possuem direitos de haver sobre os bens e servios disponveis no mercado, tanto maiores e mais amplos quanto maior for o montante disponvel de moeda. 1.1.4. A inflao e as funes da moeda. Em perodos caracterizados por altas taxas de inflao, muitas vezes causadas por emisses desenfreadas, as funes da moeda passam a ser negadas econmica e socialmente. As primeiras a sofrerem esse processo so as funes no tempo, pois com a perda de valor a moeda deixa de ser usada como reserva de valor e, em seguida, como padro de pagamentos diferidos. A persistncia de taxas de inflao elevadas interfere tambm nas funes da moeda no espao, que substituda por outros ativos que passam a desempenhar o papel de unidade de conta. Num regime hiper-inflacionrio, a moeda pode perder at mesmo sua funo de intermediria de troca. A perda do poder de compra da moeda eleva os custos de sua reteno e de contabilidade das transaes. O uso de ativos alternativos como meio de conta provoca dissociao entre o meio de conta e o meio de troca. No Brasil, por exemplo, entre 1981 e 1986, muitos contratos eram celebrados em ORTNs (Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional), enquanto o acerto final se dava em cruzeiros. Essa separao trouxe ineficincia para o sistema econmico, pois os clculos para converter os preos dos bens em ORTNs (ou em dlar) e reconvert-los para a moeda por ocasio de sua venda envolviam um custo fixo por transao, independentemente do valor total da operao. Do ponto de vista do vendedor, entretanto, a dissociao era vantajosa, pois ele se livrava da necessidade de repetida remarcao dos preos denominados em valores monetrios. A separao entre meio de conta e meio de troca se acentua nas fases de inflao elevada, que se caracterizam por remarcaes frequentes, atingindo preponderantemente os bens e servios transacionados em maiores intervalos de tempo. A denominao de preos em ORTNs foi adotada principalmente em transaes de longo prazo, como nos financiamentos para aquisio de moradias. A inflao elevada tambm reduz sensivelmente a eficincia da moeda como reserva de valor, principalmente na ausncia de mecanismos de correo. importante destacar, contudo, que nos anos que antecederam a implementao do Plano Real (1994), o uso intenso de indexadores, que corrigiam os valores de praticamente todas as transaes, foi o que impediu a dolarizao da economia brasileira.

1.2. CARACTERSTICAS ESSENCIAIS DA MOEDAHipoteticamente, todas e quaisquer mercadorias podem, potencialmente, ser consideradas formas de moeda. Trs fatores, no entanto, delimitam essa possibilidade:

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os custos de transao, os custos de estocagem e os custos relacionados sua funo como meio de conta.

Em relao especificamente ao papel-moeda, para cumprir bem suas funes, deve possuir caractersticas essenciais, que foram sendo requeridas por sua evoluo e pelo aumento da complexidade das economias monetrias, sendo as mais relevantes: indestrutibilidade e inalterabilidade a moeda deve ser suficientemente durvel a fim de que no se destrua ou deteriore rapidamente medida em que manuseada. Sem o uso de papel especial, ao final de poucas transaes, as cdulas estariam irreconhecveis e fisicamente deterioradas. Alm disso, a indestrutibilidade e inalterabilidade so obstculos sua falsificao, constituindo-se em elementos de fundamental importncia para a confiana do pblico e aceitao geral da moeda; homogeneidade expressa a necessidade de que unidades monetrias de mesmo valor sejam efetivamente iguais, assegurando facilidade de identificao e reforando o aspecto da segurana; divisibilidade a moeda deve possuir mltiplos e submltiplos em quantidade tal que permita sejam realizadas, sem dificuldade, transaes de pequeno e grande porte; transferibilidade tendo em vista que uma das funes bsicas da moeda viabilizar o processo de troca, a unidade monetria no deve possuir qualquer vnculo que identifique seu possuidor pois se houvesse necessidade de transferncia de cdulas via endosso, aps poucas transaes no haveria espao fsico para registro; facilidade de manuseio e transporte trata-se de um requisito de especial importncia relativamente ao aspecto prtico das operaes de transporte e manuseio, que envolvem custos e requerem segurana. A evoluo da expresso fsica da moeda, da moeda-mercadoria ao papel-moeda, foi em grande parte motivada por esta convenincia.

Esses mesmos fatores tm condicionado, ao longo do tempo, a evoluo da moeda, condicionando, inclusive o aparecimento da moeda eletrnica e de plstico, cujo uso tem se intensificado.

1.3. HISTRICO E EVOLUO DA MOEDACom a diviso do trabalho e o consequente estabelecimento de trocas, cada indivduo passou a destinar a maior parte de sua produo no ao seu consumo prprio, mas s trocas com terceiros que tenham mercadorias do seu interesse. Historicamente, as trocas passaram por duas etapas: (i) (ii) a das trocas diretas, mercadorias por mercadorias, e a das trocas indiretas, por intermdio da moeda.

As trocas diretas, ou escambo, so eficientes para promover a circulao da produo apenas nas economias rudimentares, onde a diviso do trabalho pouco extensa. Quando esta se aprofunda, as trocas diretas se tornam difceis e complicadas: um indivduo, A, pode desejar consumir mercadorias produzidas por outro indivduo, B; mas, talvez, o indivduo B no queira as mercadorias produzidas por A, e sim as de um outro indivduo C, e da por diante. Assim, somente as trocas indiretas, por meio da moeda, so eficientes numa economia onde exista diviso do trabalho.

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1.3.1. Mercadorias de aceitao geral Historicamente, as primeiras formas de moeda foram mercadorias de aceitao geral, como o trigo, o gado (pecus, de onde vem o termo pecnia e a expresso valores pecunirios; do gado, usado para medir a riqueza das pessoas, tambm vem o termo capital) e o sal (usado para pagar os saldados romanos deu origem palavra salrio) etc. Contudo, estas mercadorias possuam inmeros inconvenientes que comprometiam sua eficincia, como o fato de no serem homogneas, sofrerem a ao do tempo e apresentarem problemas relacionados falta de divisibilidade e dificuldades de manuseio e de transporte. Alm disso, a justaposio do valor de uso (como bem de consumo) e do valor de troca (estabelecido no mercado) comprometia o seu papel como instrumento de troca. So exemplos adicionais de moeda mercadoria as sementes de cacau usadas pelos astecas; o milho, pelos guatemaltecos; e a manteiga, pelos noruegueses. Entre tribos pastoris era comum o uso de animais vivos (renas entre tribos siberianas e bfalos em Bornu). O gado tambm desempenhou papel importante nas economias de antigas tribos Europeias e por todo subcontinente indiano. 1.3.2. Moeda metlica A evoluo do uso de mercadorias como moeda levou seleo de alguns metais para esta funo em decorrncia de sua durabilidade e pelo fato de poderem ser divididos em partes maiores e menores. Alm disso, o metal pode ser convertido em algo til (valor de uso) e ainda assim conservar o seu valor. Por exemplo: uma barra de metal podia ser fundida em uma espada, depois fundida de novo em uma panela e posteriormente fundida de volta em barras. Inicialmente, os metais mais utilizados foram o cobre, o bronze e o ferro, posteriormente substitudos pela prata e principalmente pelo ouro. A preferncia pelo ouro decorreu do fato de que, pelas suas propriedades, no fica esverdeado como o cobre, no enferruja como o ferro e no perde o lustro como a prata. 1.3.3. Moeda cunhada J no final do terceiro milnio a.C. iniciou-se o uso de lingotes de metais preciosos (talentos) no comrcio em troca de produtos. Com a difuso do uso de metais como moeda e para minimizar a necessidade de pesar e verificar a autenticidade dos metais passou-se a utilizar a cunhagem como forma de padronizao e de certificao. A moeda metlica cunhada foi rapidamente difundida, tornando-se a base de todos os sistemas monetrios durante sculos. A primeira cunhagem governamental de moedas metlicas de que se tem notcia foi realizada pelo Rei Creso da Ldia, entre 640 e 630 a.C., dando origem prerrogativa (monoplio) do governo na emisso monetria, posteriormente consolidada pelos imperadores romanos, inclusive como forma de impor sua soberania sobre as regies e povos sob seu domnio. Na poca, pela cunhagem, os governos tinham como objetivo padronizar o meio circulante, avalizando o peso e a pureza dos metais que j eram utilizados como meio de troca. A atividade de cunhagem, evidentemente, era tambm utilizada para obter receita para os governantes ou senhores. At hoje, a receita governamental oriunda da emisso monetria conhecida como senhoriagem.4

4

Atualmente a senhoriagem est associada aos ganhos do emissor advindos da desvalorizao da moeda. Uma vez que a moeda representa uma dvida de seu emissor para com os que a detm, na medida em que a moeda perde valor por sua desvalorizao em decorrncia da inflao, da reduo de sua cotao frente a outras moedas (cmbio) e ativos , o valor real da dvida de seu emissor reduzido, acarretando um ganho que denominado senhoriagem.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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1.3.4. Moeda-papel Os registros mais antigos do uso de papel como moeda remontam China Imperial do sculo XIII. Nesse caso, o papel era uma mercadoria (moeda-mercadoria), pois no assumia a forma de uma cdula que registrasse depsito correspondente de metal. Foi na civilizao ocidental, com o advento de instituies bancrias a partir dos sculos XIV e XV, que o uso da moeda-papel ganha progressiva importncia, consolidando-se nos sculos seguintes. As primeiras notas ou certificados a circular surgiram como conseqncia do desenvolvimento de sistemas monetrios base de metais preciosos e o paralelo incremento das atividades de produo e de comrcio. A multiplicao das trocas entre regies e pases exigia o transporte de metais que, muitas vezes, era difcil e arriscado. Forados por essas circunstncias, os comerciantes passaram a recorrer cada vez mais s casas de custdia. Essas recebiam depsitos, principalmente em ouro e prata, fornecendo aos seus proprietrios certificados correspondentes, que poderiam ser descontados em suas filiais. Estes certificados, por comodidade e segurana, passaram a circular no lugar dos metais monetrios. Estava criada uma nova modalidade de moeda, denominada moeda representativa ou moeda-papel, inicialmente com lastro de 100% e garantia total de conversibilidade. Apesar da popularizao do uso de cdulas ao longo dos trs sculos seguintes, at o incio do sculo XX o conceito de moeda continuava associado aos metais (ouro e prata), pois o regime monetrio predominante no mundo era o do padro-ouro e o dinheiro circulava lastreado naquele metal. 1.3.5. Papel-moeda O uso generalizado da moeda-papel permitiu o desenvolvimento de uma nova modalidade de moeda. A experincia da custdia e da conversibilidade demonstrou que o lastro metlico integral em relao aos certificados em circulao no era necessrio para a operacionalizao desse novo sistema. A despeito do fluxo permanente de converso e de emisses de certificados, mediante novos depsitos, era comum a existncia de uma parcela ociosa de metais. Assim, tendo em conta a confiana dos comerciantes e da comunidade, comearam as emisses de certificados nolastreados, ensejando a criao da moeda fiduciria (dependente de confiana), ou papel-moeda, com as seguintes caractersticas: Carter fiducirio (dependente de confiana) ou de curso forado (aceitao forada por lei); Valor: capacidade de adquirir outras mercadorias, ou seja, funcionar como meio de troca. Observe-se que o papel-moeda s possui valor de troca ou seja, no h valor intrnseco.

Os riscos relacionados s emisses excessivas pela rede bancria, sem a existncia de reservas correspondentes, levaram os governos de diversos pases a limitar progressivamente a emisso de papel-moeda pelos bancos. Muitas vezes retiveram esse monoplio (Estados Unidos e Canad, previamente criao de seus bancos centrais), ou o concederam a um nico banco comercial, que acumulava essa funo com suas atividades tradicionais (Inglaterra, Frana, Alemanha, Itlia etc.). No obstante tal tendncia, houve experincias de free banking (na Esccia, no Canad e em algumas regies dos Estados Unidos), que correspondia a um sistema bancrio desregulamentado, onde os bancos eram livres para emitir sua prpria moeda. Assim, a histria registra trs sistemas monetrios de emisso: (i) diretamente pelo Governo;

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(ii) (iii)

por um nico banco emissor; e um regime de livre competio, com grande nmero de bancos emissores.

Enquanto foi respeitado um regime monetrio de moeda-papel (padro-ouro ou prata), qualquer dos trs sistemas monetrios era relativamente eficiente para manter a estabilidade dos preos, j que a relativa escassez dos metais monetrios se encarregava de ancorar os preos. Ou seja, qualquer que fosse a instituio emissora de moeda papel, havia a limitao dada pelo fato de que essas instituies (governo, banco central ou bancos comerciais) tinham a obrigao de garantir a transformao dessas notas ou depsitos em moeda metlica. Nesses regimes, a inflao (ou deflao) dependia basicamente da disponibilidade fsica de metal precioso. Por ocasio dos diversos ciclos de descoberta e explorao de ouro e prata pelos europeus no continente americano (sculos XVI e XVII), observaram-se surtos inflacionrios na Europa, notadamente nos pases em que a maior oferta monetria no foi acompanhada por aumento da atividade econmica. Entretanto, na ausncia de aumento na oferta do metal, o incremento das atividades econmicas causaria deflao, o que limitava o crescimento econmico. Tal restrio passou a ser contornada, a partir do sculo XIX, com o desenvolvimento dos bancos, do papel-moeda e dos depsitos bancrios (moeda escritural). Ou seja, com base num mesmo nvel fsico de ouro, pelo sistema de reservas fracionrias, foi possvel aumentar o volume de meios de pagamento na economia. O papel-moeda surgiu aos poucos no sistema econmico: primeiro, como simples certificado de depsito nos bancos comerciais; segundo, como certificado transfervel de depsito (moeda-papel); e finalmente, como certificado inconversvel, que o prprio papel-moeda, com o qual foi eliminada a idia de moeda representativa. Como intermediria de trocas, a moeda passou a valer no por sua utilidade intrnseca, ou valor de uso, mas por sua capacidade de adquirir outras mercadorias. Pelas suas caractersticas especiais de divisibilidade, homogeneidade e facilidade de manuseio e de transporte, o papel-moeda (notas e moeda de metal) surgiu como candidato privilegiado funo de meio de troca, em boa parte pelo seu baixo custo de transao. Como sua aceitao normalmente garantida por meios institucionais, sua utilizao generalizada como intermedirio de trocas se tornou um ponto pacfico. Hoje predominam regimes de papel-moeda no conversvel, com os governos detendo o monoplio ou o controle sobre sua emisso. A derradeira moeda importante a manter o padro-ouro foi o dlar norte-americano, que se tornou inconversvel em agosto de 1971. 1.3.6. Moeda bancria. Cabe observar que, a partir do sculo XIX, o pagamento das transaes passou a ocorrer progressivamente por meio da utilizao dos servios prestados pelos bancos. Com o desenvolvimento da compensao das transaes bancrias, tornou-se usual fazer pagamentos com base em recursos depositados em bancos de depsitos (depsitos vista), surgindo a moeda contbil ou bancria. Os depsitos bancrios, inicialmente movimentveis por cheques, posteriormente passaram a ser movimentveis tambm por transferncias eletrnicas ou outro tipo de ordem de pagamento. 1.3.7. Desmaterializao da moeda. Verificou-se, assim, ao longo dos sculos, um processo de desmaterializao gradativa da moeda, com perda de importncia do material que a constitua, ou seja, a moeda deixou de ter valor de

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uso. Assim, a moeda mercadoria foi substituda pela moeda metlica e pela moeda cunhada, que possuam valor intrnseco (lastro ou ncora). Posteriormente, surgiu a moeda-papel, que era um certificado conversvel e transfervel de depsito em bancos comerciais. A moeda hoje conhecida como papel-moeda (notas e moedas) inconversvel, fiduciria ou de curso forado, garantido por meios institucionais. Com o aparecimento dos bancos, disseminou-se o uso da moeda escritural ou moeda bancria. Atualmente, cada vez mais freqente o uso de meios de pagamento eletrnicos.

1.4. O FUTURO DA MOEDAO contraste entre o funcionamento da economia atual, que se caracteriza por alta complexidade, extrema especializao e elevado fluxo de recursos financeiros, e o passado, quando iniciou a industrializao e o comrcio entre as naes, deixa clara a importncia da evoluo dos meios de pagamento para viabilizar o desenvolvimento em escala planetria. Os aspectos que mais influenciaram esse processo, foram, sem dvida, as facilidades de manuseio, de transporte e de segurana. Nesse sentido, a moeda-mercadoria deu lugar ao metalismo, moeda-papel, ao papelmoeda, moeda bancria (cheque), primeiro substituto da moeda manual, e a formas cada vez mais eficientes de moeda eletrnica. 1.4.1. Pagamentos em espcie. O dinheiro em espcie (moeda manual) usado principalmente para pagamentos de baixo valor, relacionados com as pequenas compras do dia-a-dia. Tomando como exemplo o caso brasileiro, as cdulas so atualmente emitidas em seis denominaes (R$100; R$50; R$20; R$10; R$5; e R$2), assim como as moedas metlicas (R$1; R$0,50; R$0,25; R$0,10; R$0,05 e R$0,01). Tanto cdulas quanto moedas metlicas tm curso forado no pas, mas a aceitao de moeda metlica como meio de liquidao obrigatria apenas at 100 unidades de cada valor. Para o usurio, a utilizao da moeda manual apresenta as vantagens do anonimato do pagador, ausncia de risco de crdito e liquidao imediata e final do pagamento, sem intermedirio. Suas desvantagens so os custos de transporte e de segurana5. 1.4.2. Pagamentos sem utilizao de papel-moeda (non-cash). Pagamentos que no envolvem a utilizao de papel-moeda so efetuados principalmente por meio de cheques, transferncias de crdito, cartes de crdito e de dbito e, tambm, por dbitos diretos (dbito automtico). 1.4.2.1. Cheque O cheque uma ordem de pagamento vista que cumpre satisfatoriamente a funo de meio de troca. Diferencia-se do papel-moeda pelo fato de no possuir curso forado, pois a aceitao de um cheque depende da credibilidade do emissor ou do banco depositrio. A contraparte no est obrigada a aceit-la. Recentemente, tem sido progressivamente substitudo por formas eletrnicas de transferncia de recursos. O cheque permite a transferncia de moeda escritural, pois est ligado moeda bancria, mas no um equivalente de moeda escritural, no afetando o conceito de M1 (papel moeda em poder do

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No quesito segurana, entre a moeda manual e a moeda eletrnica, no h ainda vantagem evidente de uma sobre a outra.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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pblico mais depsitos vista) ou outro, at porque no tem valor definido pela autoridade monetria, nem pelas instituies financeiras, mas pelo emitente. Por moeda escritural entende-se a moeda criada pela multiplicao bancria (a diferena entre M1 e a Base Monetria).6 O uso de cheques propiciou, at recentemente, a movimentao de enormes somas de recursos financeiros e, portanto, transaes de valores elevados que, se fossem realizadas com moeda manual, teriam srias restries pelas dificuldades de manuseio e de segurana. Com formato e caractersticas bsicas padronizados, as folhas de cheque contm registros magnticos que possibilitam a leitura automtica de seus dados fundamentais (Magnetic Ink Character Recognition MICR). O cheque, algumas vezes, entregue ao beneficirio para ser sacado em data futura (cheque pr-datado), situao em que funciona como instrumento de crdito, embora de forma informal, dada a prpria natureza do cheque como ordem de pagamento vista. No Brasil, as contas de depsito vista so as nicas movimentveis por cheques. Atualmente, no Brasil, o sistema bancrio tem desestimulado o uso do cheque, por exemplo, por meio de limitaes no fornecimento de tales e estabelecimento de tarifas, que so relativamente elevadas para operaes de valores menores. Tais medidas encorajam o uso dos meios eletrnicos de transferncia e, para as pequenas transaes, o uso do dinheiro. A progressiva substituio do cheque por instrumentos eletrnicos tem sido incentivada tambm pelo atual Sistema de Pagamentos Brasileiro. Assim, a partir de 18.02.2005, os cheques de valor igual ou superior ao valor referencial, atualmente fixado em R$250 mil, passaram a ser liquidados bilateralmente entre os bancos, sem compensao multilateral, por intermdio do Sistema de Transferncia de Reservas STR. Os de valor inferior continuam sendo liquidados por intermdio do servio de Compensao realizado pelo Banco do Brasil. O desestmulo de transaes liquidadas por meio de cheques visou reduzir o risco de liquidao de instituies participantes da Cmara de Compensao. Com esse objetivo, para compensar cheques acima de R$5 mil exigido depsito compulsrio prvio, o que eleva o custo da transao. Como alternativa, tem sido estimulada a transferncia eletrnica de recursos em tempo real (TED Transferncia Eletrnica Disponvel). 1.4.2.1.1. O cheque no Brasil O cheque uma ordem de pagamento vista, sacada por pessoa fsica ou jurdica contra uma instituio financeira bancria (banco comercial, mltiplo com carteira comercial, caixa econmica ou cooperativa de crdito). regulado pela Lei 7.357, de 2 de setembro de 1965 a Lei do Cheque e subsidiariamente pelo Decreto 57.595, de 7 de janeiro de 1966, cujo Anexo I conhecido como Lei Uniforme do Cheque. O cheque pagvel vista, desconsiderando-se qualquer meno em contrrio. Caso apresentado para pagamento antes da data indicada na emisso, considera-se que a data de emisso a mesma da apresentao. O cheque pode ser nominativo ou ao portador (at R$100,00), podendo ser transferido por endosso em branco (assinatura do beneficirio ou portador) ou em preto (assinatura do beneficirio ou portador e nome do endossatrio).

6

A multiplicao decorre da possibilidade da instituio bancria manter em caixa apenas frao do total de depsitos acolhidos, emprestando o restante. Tal padro de comportamento, no sistema bancrio como um todo, resulta a criao de moeda.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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O cheque deve ser apresentado ao sacado diretamente ou via compensao, no prazo de 30 dias a contar da data indicada como de emisso, se emitido na praa onde houver de ser pago. Se emitido em outra praa, o prazo de apresentao de 60 dias. A falta de apresentao do cheque dentro desse prazo acarreta para o beneficirio ou portador a perda de execuo direta contra o emitente, se o cheque tinha fundos durante o prazo de apresentao e deixou de t-los em razo de fato que no lhe seja imputvel. O banco sacado pode se recusar a pagar a ordem por qualquer um dos motivos previstos nos normativos do CMN e pelo BCB (insuficincia de fundos, no conferncia da assinatura etc). Havendo razes para tanto, o emitente pode revogar o cheque ou sustar seu pagamento. A sustao tem efeito imediato, ao passo que a revogao s produz efeito depois de expirado o prazo de apresentao. Mesmo durante o prazo de apresentao, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento do cheque, manifestando ao sacado, por escrito, oposio fundada em relevante razo de direito. No cabe ao sacado julgar da relevncia da razo invocada pelo oponente. A Lei do Cheque no estabelece que esse ttulo de crdito tenha aceitao obrigatria. Tampouco existe qualquer dispositivo legal tornando forado seu uso como forma de pagamento. Portanto, diferentemente da moeda nacional, no tem curso forado, isto , no h obrigatoriedade na sua aceitao, sendo facultada a deciso de acolh-lo. Observe-se que um cheque pode ser emitido na forma ao portador, apenas at certo valor. Pela Circular 2444, de 6 de julho de 1994, do Banco Central do Brasil, os cheques de valor superior a R$100,00 (cem reais), emitidos sem a identificao do beneficirio, passaram a ser desenvolvidos no servio de compensao de cheques e outros papis. 1.4.2.2. Transferncias de recursos As transferncias interbancrias efetuadas por no-bancos compreendem, alm das Transferncias Eletrnicas Disponveis (TEDs) por conta de cliente, os Documentos de Crdito (DOCs) e as movimentaes interbancrias relacionadas com os bloquetos de cobrana. A transferncia de crdito por intermdio da TED disponibilizada para o favorecido no mesmo dia (same day funds), geralmente poucos minutos aps a emisso da correspondente ordem pelo remetente. No caso do DOC, os recursos so disponibilizados para saque do favorecido no dia til seguinte (D+1). A transferncia de crdito relacionada com bloqueto de cobrana, cuja liquidao interbancria tambm ocorre em D+1, colocada disposio do favorecido em prazo menor ou maior conforme acordo entre ele e seu banco. O pagamento por transferncia de crdito pode ser iniciado nos caixas das agncias bancrias, em mquinas de atendimento automtico (ATM Automatic Teller Machines) ou pela Internet (Internet banking). Os bloquetos de cobrana contm cdigo de barras que possibilita a leitura tica de seus dados (Optical Character Recognition OCR). Quaisquer que sejam o modo e o meio utilizado para dar incio transferncia de crdito (sob o ponto de vista do cliente, a transferncia de crdito pode ser iniciada em papel ou eletronicamente), a movimentao sempre ocorre eletronicamente. 1.4.2.3. Cartes de pagamento Os cartes de pagamento incluem os cartes de dbito, de crdito, os cartes de loja, os cartes prpagos, e o e-money.

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A indstria de cartes de pagamento compreende os participantes responsveis pelas atividades relacionadas emisso de cartes de pagamento, pelo credenciamento de estabelecimentos comerciais e pela proviso de infraestrutura de redes que processam as transaes efetuadas pelos portadores de cartes nos estabelecimentos comerciais. Os cartes de pagamento so um bem de rede e como tal esto sujeitos aos efeitos de externalidades de rede, caracterizada pelo aumento no valor do bem ou servio disponibilizado por intermdio de uma rede de acesso, a cada vez que um novo usurio incorporado ao sistema. A existncia de inmeros portadores de cartes dispostos a efetuar seus pagamentos estimula o credenciamento de estabelecimentos comerciais e, ao mesmo tempo, a existncia de estabelecimentos comerciais dispostos a aceitar cartes de pagamento estimula a demanda de usurios pelos cartes. O valor de um carto aumenta para seu usurio medida que mais estabelecimentos passam a aceit-lo e mais usurios entram no sistema. Para os estabelecimentos comerciais, o aumento na quantidade de potenciais usurios aumenta suas vantagens em pertencer rede de aceitao. A coexistncia de vrias infraestruturas de rede, sem cooperao, fragmenta os efeitos das externalidades de rede. J um arranjo cooperativo faz com que os benefcios gerados pelas externalidades de rede sejam potencialmente alcanados por todos os participantes desse mercado: portadores, estabelecimentos comerciais, emissores e credenciadores. Bancos centrais e organismos internacionais tm manifestado posio favorvel cooperao em infraestrutura nessa indstria. O Banco de Compensaes Internacionais (BIS) recomenda a interoperabilidade entre redes que processam transaes no ponto de venda como fator de expanso da cobertura dos servios disponveis aos usurios finais e de melhoria da infraestrutura. No Brasil, em 2009, foram adotadas medidas em direo a um maior compartilhamento entre as redes. 1.4.2.3.1. Cartes de crdito Os cartes de crdito surgiram nos Estados Unidos, na dcada de 50. Esta nova forma de pagamento se apresentou, no incio, limitada a determinados tipos de transaes. Sua disseminao foi possvel graas ao ambiente favorvel propiciado pela evoluo tecnolgica da computao aliada telecomunicao. Nos anos 80, popularizou-se o seu uso. Comparativamente aos cheques, os cartes apresentam vantagens quanto aceitao e confiabilidade, mas necessitam de meios adequados para autenticao e autorizao da transao. Os cartes de crdito so representativos de limites de crditos pr-aprovados. Operacionalmente, concedido ao portador um limite de crdito que pode ser usado para pagamento de bens e servios e para saques em espcie. Lanado no Brasil em 1956, o carto de crdito ganhou maior importncia a partir da dcada de 90, com a eliminao de algumas restries, como a que proibia sua utilizao para compra de combustveis, bem como a extino da regra da bandeira exclusiva, existente at 1996, que impedia um mesmo emissor (banco) de operar com mais de uma bandeira (as principais bandeiras so Visa, Mastercard, American Express e Hipercard). Os cartes de crdito diferenciam-se de outros meios de pagamento como papel-moeda e cheques, entre outras razes, pela necessidade de meios adequados para autenticao e autorizao da transao 1.4.2.3.2. Cartes de dbito Os cartes de dbito so emitidos pelo banco no qual o cliente tem conta corrente, ocorrendo o pagamento de bens e servios adquiridos no momento da prpria compra, por meio de dbito naC:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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respectiva conta de depsitos. Tambm podem ser utilizados em caixas automticos, de uso exclusivo (rede proprietria de um banco) ou compartilhado, ou em estabelecimentos comerciais que contam com mquinas apropriadas para a realizao de transferncias eletrnicas de fundos a partir do ponto de venda (EFTPOS Electronic Funds Transfer from the Point of Sale). Os principais produtos so o Cielo, da Visa, o Maestro e o RedeShop, da Mastercard, e o Cheque Eletrnico da TecBan. A exemplo dos cartes de crdito, os cartes de dbito com tarja magntica esto sendo substitudos por unidades dotadas de microprocessador (chip), que oferecem maior segurana para a autenticao das operaes. O dbito na conta do titular do carto normalmente feito no momento do pagamento, enquanto o crdito na conta do estabelecimento comercial feito em determinado prazo, maior ou menor conforme o contrato estabelecido com a administradora do carto. 1.4.2.3.3. Cartes de loja (retailer cards) Os cartes de loja, emitidos principalmente por grandes redes varejistas, ou postos de gasolina, inicialmente s eram utilizados nas lojas da rede emissora. Atualmente estes cartes, tambm conhecidos como private labels, so oferecidos para uso em outras lojas e para outras transaes como aquisio de seguros e de ttulos de capitalizao. Para as empresas, alm do ganho financeiro, o lanamento de cartes de marca prpria permite maior controle sobre o banco de dados da clientela, facilita a realizao de propaganda de promoes dirigidas para seu pblico e torna o portador do carto um cliente mais fiel. 1.4.2.3.4. Cartes com valor armazenado (charge cards ou pr-pagos) Os cartes pr-pagos caracterizam-se por ter uma carga de crdito pr-definida para gastos em determinado produto ou servio. So exemplos de cartes pr-pagos os cartes telefnicos, os de alimentao, de pedgio, de estacionamento, de transporte etc. 1.4.2.3.5. E-money O e-money pode ser um carto ou software. No caso do carto, h um microprocessador ou circuito integrado com valor armazenado que pode ser transferido mediante a insero do carto em uma leitora. Esse tipo de carto pode ser recarregado vrias vezes, observando-se o valor limite de carregamento fixado pelo emissor. Se assumir a forma de software, o valor eletrnico armazenado no computador do usurio e a transferncia de recursos ocorre por redes de comunicao, como a Internet, quando os pagamentos so efetuados. 1.4.2.4. Dbitos diretos O dbito automtico em conta, ou dbito direto, normalmente utilizado para pagamentos recorrentes, isto , que observam certa periodicidade, tais como os referentes aos servios de gua, luz e telefone. Nesses casos, mediante iniciativa do prestador do servio, beneficirio do pagamento, o valor da obrigao debitado direta e automaticamente na conta bancria do devedor, ao amparo de prvia autorizao por ele dada ao seu banco. Essa autorizao normalmente concedida por tempo indeterminado, com validade, portanto, enquanto no for revertida. 1.4.2.5. Vales Existem tambm meios alternativos de pagamentos, representados pelos vales vales-refeies, vales-transportes, entre outros que ocuparam o espao do dinheiro, ainda que restritos a pequenos valores. Embora tenham sido criados para fins previamente estabelecidos, em funo da disseminao de sua aceitao, principalmente na economia informal, passaram a ser utilizadosC:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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como meio de pagamento. Recentemente, principalmente os vales-refeies e os vales-transporte tm assumido a forma de cartes com valores armazenados. 1.4.3. Moeda eletrnica como substituto da moeda manual fato inegvel o uso progressivo de moeda eletrnica que tem, dentre outras vantagens, a de permitir o pagamento de qualquer quantia sem necessidade de troco; a recarga de valores at por via telefnica, eliminando a ida aos bancos; e a possibilidade de que o dinheiro eletrnico possa ser transferido por meio das redes de comunicao, o que diminui, obviamente, a necessidade de portar dinheiro em espcie. Vale destacar que, no aspecto segurana, no so ainda evidentes as vantagens do uso do carto. No caso de perda ou extravio, a situao para o portador similar do dinheiro, pois pode perder a quantia contida no carto. 1.4.3.1. Requisitos fundamentais para se intensificar a substituio da moeda manual pela moeda eletrnica Para se intensificar a substituio da moeda manual pela moeda eletrnica, superadas as dificuldades atuais, ser necessrio o atendimento a dois requisitos fundamentais: meios tecnolgicos totalmente disponveis em qualquer parte do mundo, e aceitao generalizada.

1.4.3.2. Fatores que podem acelerar o uso da moeda eletrnica No atual estgio de evoluo, as questes relativas segurana, inviolabilidade das informaes e compatibilidade entre os diferentes sistemas em desenvolvimento precisam ser mais bem resolvidas. Dentre os fatores que podem acelerar o uso da moeda eletrnica esto: a) b) c) d) e) o crescimento de sistemas de aceitao, contribuindo para dar familiaridade ao uso; imposio de uso, pelos rgos governamentais, a exemplo dos sistemas de previdncia; acelerao do avano tecnolgico que viabilize a implantao a baixo custo de um sistema aberto e integrado para todos os bancos e pontos de venda; acelerao do comrcio eletrnico via Internet ou TV interativa combinada com comrcio eletrnico; ampliao do uso do carto inteligente para guardar informaes pessoais, de sade, seguro, documentos de identificao, informaes para emergncias mdicas, milhagens de viagens internacionais etc. alm de permitir pagamentos.

1.4.3.3. Fatores que podem dificultar o uso da moeda eletrnica. Por outro lado, so fatores que podem dificultar o avano da moeda eletrnica: a) preferncia pela privacidade, caso o uso dos cartes inteligentes requeira identificao. As transaes com cartes de crdito, de dbitos e outros meios eletrnicos permitem rastrear os gastos das pessoas e seu padro e hbitos de consumo; limites de valores em alguns tipos de cartes (com valor armazenado, pr-pagos) podem exigir permanente necessidade de recarga;

b)

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c) d)

as transaes diretas entre pessoas dificultam o uso do carto inteligente, j que iriam requerer que cada um tivesse meio de intercambiar os valores; possibilidade de perda do carto, de fraude eletrnica e de clonagem.

1.4.3.4. Tendncias Ainda que a importncia da moeda manual como meio de pagamento tenha decrescido nos ltimos tempos, fato que hoje existe no mundo muito mais moeda em circulao do que jamais se verificou em qualquer perodo anterior. Conforme observa Weatherford (2004), no livro A Histria do Dinheiro, ...no final do sculo XX, o dinheiro em todas as suas formas, inclusive cdulas e moedas, teve sua importncia reduzida pelo mundo. Antes mesmo de o dinheiro perder a sustentao no ouro, estava-se tornando menos importante para a elite financeira e portanto para a sociedade de modo geral. Ao mesmo tempo, contudo, o dinheiro passou a ser mais utilizado entre os pobres. No moderno sistema de duas classes, os consumidores pobres pagam com dinheiro, enquanto os consumidores de classe mdia usam preferencialmente cartes e cheques. Todas as naes mantm um meio circulante para viabilizar o fluxo de determinados bens e servios entre os agentes econmicos. Alm disso, o segmento da populao de baixa renda, em especial nos pases em desenvolvimento, no tem acesso a outras formas de pagamento. Para tornarse detentor de uma conta corrente com talo de cheques para livre movimentao, ou de um carto de dbito ou de crdito, o indivduo necessita preencher requisitos mnimos exigidos pelos bancos ou pelas empresas emissoras de cartes. Desse modo, o desequilbrio de renda e as dificuldades de acesso ao mercado formal de trabalho mantm um enorme contingente de excludos desses sistemas de pagamento. O segmento da economia informal ou paralela, cuja existncia no se pode ignorar, utiliza quase que exclusivamente a moeda manual como meio de pagamento e, dessa forma, permanece fora do controle e superviso da lei, das estruturas e regras financeiras normais. Ademais, aspectos relacionados segurana so fatores bastante importantes para o fechamento de uma operao de venda. Assim, transaes com cheques ou cartes so precedidas de verificaes quanto ao portador e, em ltima instncia, a contraparte pode recusar-se a realizar a transao. A incidncia de fraudes impe a necessidade de cautela. Em contraste, o poder liberatrio e o curso forado da moeda manual a tornam um instrumento de pagamento irrecusvel uma de suas caractersticas a de ser a liquidez por excelncia. O detentor da moeda manual tem assegurado a possibilidade de realizar quaisquer transaes. No se pode, alm disso, desconsiderar aspectos comportamentais e de preferncias dos indivduos pelo uso da moeda, at porque a sua existncia antes de tudo um fenmeno socialeconmico ditado pela necessidade de viabilizar as trocas. Assim, entre outras motivaes, determinam as preferncias dos indivduos por utilizar dinheiro para realizar transaes: anonimato, privacidade, comodidade.

O carter de imprevisibilidade quanto ao futuro um fator de reforo para deter moeda manual. Quanto mais estvel o ambiente em que atuam os agentes econmicos, maior a propenso para abrir mo dessa preferncia. Em oposio, nas situaes de instabilidade, a preferncia por moeda manual prevalece, passando os indivduos a privilegiar a funo reserva de valor.

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Conclui-se que a facilidade de manuseio, os custos de movimentao, de transporte e de segurana so fatores que precipitaram mudanas na forma como a moeda se expressa. O uso da tecnologia aplicada ao segmento financeiro fez surgir os meios eletrnicos de pagamento, que proporcionam comodidade e facilidade de movimentao, agilizando o processo de pagamento/transferncia. Resolvidas, de forma satisfatria, as questes de segurana das operaes realizadas por meio eletrnico, elevadas somas passaram a ser movimentadas instantaneamente por meio eletrnico, eliminando-se as etapas de manuseio e transporte. Existe tambm a importante questo da acessibilidade ao sistema financeiro uma vez que parcela da populao sem acesso a servios bancrios e financeiros maior em pases subdesenvolvidos e emergentes tampouco ter acesso moeda eletrnica e outros servios. Em funo dessa questo, crescem em importncia programas de insero bancria como bancos populares, microcrdito etc. O fator custo, relativamente produo, ao transporte, segurana e ao processamento de grandes quantias de dinheiro, tem influncia significativa sobre o futuro da moeda (cdulas e moedas metlicas). Considere-se, por exemplo, o custo de manter ou transferir determinado valor em espcie comparado ao custo de um registro eletrnico de valor equivalente. Esse aspecto restringe o uso do dinheiro apenas a situaes necessrias e inevitveis. Quanto mais se ampliam as possibilidades de uso de meios eletrnicos, provavelmente menor ser o uso da moeda manual. Entretanto, apesar de a moeda manual ser utilizada preferencialmente para pagar bens e servios de menor valor, decrescendo, portanto, sua utilizao, dificilmente ser totalmente eliminada. Tanto assim que estudo encomendado pelo Banco Central do Brasil 7 e divulgado em maro de 2008, constatou que, em termos quantitativos, 55% dos brasileiros ainda recebem seus salrios em dinheiro no Nordeste, esse ndice sobe para 70% e 77% dos gastos efetuados em um ms so feitos com cdulas e moedas. Os dados confirmam que quanto menor a renda, menor a diversidade na forma usada para realizar o pagamento e, quanto menor o valor do pagamento, maior a utilizao de dinheiro. Dessa forma, em um ms tpico um brasileiro maior de 16 anos gasta em mdia R$577 com pagamentos de contas e compras de produtos. Desse total, 77% em dinheiro, 11% com carto de crdito, 8% com carto de dbito, 3% em cheque e 2% por outros meios. J nas compras de super/hipermercados, eletrodomsticos, roupas e calados, o uso do carto de crdito ou dbito prevalece, especialmente nas classes A e B. A histria mostra que novos meios de pagamento surgiram mais para viabilizar novos tipos de transaes das letras de cmbio do final da idade mdia at as atuais transferncias de fundos entre instituies financeiras modernas e as compras via Internet do que para substituir o uso do dinheiro. Tanto assim que, as moedas metlicas surgidas h mais de dois mil anos circulam ainda nas economias de todos os pases, convivendo normalmente com os demais meios de pagamento. Quanto s transaes por meio eletrnico e prpria moeda eletrnica, observa-se que a postura adotada pelos governos e pelos bancos centrais visa principalmente acompanhar sua evoluo

7

BCB, 2 Edio da Pesquisa O brasileiro e sua relao com o dinheiro, encomendada em 2007 pelo Banco Central do Brasil ao Datafolha. Foram feitas 2.041 entrevistas, entre 9 e 15 de julho de 2007, metade com cidados comuns e a outra metade com trabalhadores ligados ao comrcio (intranet do BCB, http://portal.bcb.gov.br/webapp/appmanager/bacen/bacen?_nfpb=true&portlet_publicacoes_publicacoes_1_actionOverr ide=%2Fresources%2Fportlets%2Ftemplates%2FescolherTemplate&_windowLabel=portlet_publicacoes_publicacoes_ 1&_pageLabel=Publica%C3%A7%C3%B5esajv404).C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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procurando criar dispositivos legais e regras, que disciplinem as operaes e protejam as partes, e estabelecer procedimentos operacionais que minimizem os riscos para o sistema financeiro.

2 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E ORGANISMOS INTERNACIONAIS2.1. INTRODUOAssim como a diviso social do trabalho, associada s trocas, levou ao desenvolvimento da moeda, a associao entre diviso internacional do trabalho e comrcio internacional levou necessidade do desenvolvimento de intermedirios de trocas internacionais. O comrcio internacional pode ser realizado por trocas diretas de mercadoria por mercadoria (escambo), mas o mais comum so as trocas indiretas, tendo moedas como intermedirios. Os metais (ouro, prata) j desempenharam este papel, mas a disseminao das moedas fiducirias nas naes (papel-moeda), sem curso forado no mercado mundial, ensejou o desenvolvimento de moedas fiducirias internacionais com base na confiana internacional , que passaram a ser intercambiveis entre si a taxas definidas entre os detentores de cada uma delas. Passou, tambm, a ser objeto de intercmbio o papel-moeda de um pas, no aceito internacionalmente, pelo papelmoeda internacionalmente aceito de outro, a taxas definidas entre os detentores de cada moeda mediante trocas, em geral, limitadas aos mercados dos pases emissores das moedas fiducirias no aceitas internacionalmente. Com base nas trocas e nas moedas, desenvolveram-se as relaes econmico-financeiras e, para ordenar e dar suporte a estas, uma srie de instituies. As instituies desenvolvidas como suporte s relaes financeiras que tm por base a moeda nacional podem ser denominadas de Sistema Financeiro Nacional. Aquelas desenvolvidas como suporte s relaes financeiras baseadas nas trocas internacionais moedas internacionais podem ser denominadas de Sistema Financeiro Internacional. O Brasil membro de vrios organismos financeiros internacionais e deles participa como subscritor de capital e tomador de emprstimos. O BCB um dos rgos de ligao entre o governo brasileiro e esses organismos. No desempenho desta tarefa, analisa e fornece os fundamentos tcnicos para negociaes de recomposio ou de aumento de capital, assim como para processos de adeso a novos organismos. Alm disso, o BCB informa s empresas brasileiras as oportunidades de exportao decorrentes de projetos a serem financiados pelos organismos em todo o mundo. Esses organismos so responsveis por um conjunto de acordos, regras, prticas e instituies sob os quais so realizadas transaes comerciais e financeiras alm das fronteiras domsticas. Seu surgimento, que decorre da existncia de estados soberanos, ocorreu principalmente aps a Segunda Guerra Mundial, quando a confirmao da falncia do sistema baseado no padro-ouro deixou clara a necessidade de estabelecer novas regras para o comrcio, os fluxos de capitais e a cooperao internacional em geral. 2.1.1 Sistema Monetrio Internacional Partindo da hiptese que uma ao coletiva, em geral, d melhores resultados que uma ao individual pode-se, dentro do Sistema Financeiro Internacional, criar um subconjunto denominado de Sistema Monetrio Internacional voltado para as instituies e aes nas quais predominam aC:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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ao coletiva e a atuao dos bancos centrais. Este Sistema compreende, assim, um conjunto de regras como as contidas no Convnio Constitutivo do FMI8 e Banco Mundial , acordos e consultas no mbito da OMC9, BIS10 e OCDE11 , sistemas internacionais de pagamentos CCR12 e SML13 que liquidam operaesrealizadas alem dos limites nacionais dos pases. Dessa forma, poder-se-ia afirmar que, em termos gerais, os objetivos desse Sistema Monetrio Internacional seriam: Facilitar o processo de especializao das trocas e a plena utilizao dos recursos. Maximizar o crescimento econmico.

Com base nesses objetivos, pode-se, resumidamente, estabelecer as funes gerais do Sistema Monetrio Internacional: Constituir regras de ajustamento de balano de pagamentos, incluindo o estabelecimento e alteraes de taxas de cmbio. Estabelecer regras de financiamento dos desequilbrios entre pases pelo uso de crdito, investimento ou reservas internacionais. Definir de regras de criao e fornecimento de moeda internacional.

2.2. HISTRIA DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL2.2.1. O Trilema da poltica macroeconmica. Dada a estreita conexo entre as polticas monetria e cambial e a relao destas com a liberdade de movimentao de capitais, os pases, em geral, tm de optar por no mximo dois dos trs itens abaixo: I. II. Liberdade no movimento de capitais entre suas fronteiras LMC. Taxa de cmbio fixa TCF.

8

FMI Fundo Monetrio Internacional, organismo financeiro multilateral internacional. O FMI ser detalhadamente analisado neste captulo.9

OMC Organizao Mundial do Comrcio, instituio multilateral internacional voltada para a liberalizao do comrcio global.10

BIS Banco Internacional de Compensaes, instituio financeira internacional com atuao reflexiva e operativa. O BIS ser detalhadamente analisado neste captulo.11

OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico, organizao internacional que agrupa os pases mais industrializados com economia de mercado para trocar informaes e definir polticas com o objetivo de maximizar o crescimento econmico e o desenvolvimento dos pases membros.12

CCR Convnio de Pagamentos e Crditos Recprocos, sistema de pagamentos internacionais baseado em compensao multilateral quadrimestral com LDL (Liquidao diferida pelo lquido). operado pelos bancos centrais da Amrica latina e promove a liquidao de operaes de exportaes. O CCR ser analisado quando do detalhamento das operaes internacionais do Banco Central do Brasil.13

SML Sistema de Moedas Locais, sistema bilateral de pagamentos internacionais operado pelos bancos centrais que permite o uso de moedas locais nas exportaes entre os pases operadores Brasil e Argentina.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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III.

Poltica monetria independente, orientada para atingir objetivos domsticos PMI.

Essa opo denominada Trilema da poltica macroeconmica. Dessa forma, se um pas optar por garantir a liberdade de movimentao de capitais internacionais e fixar as taxas de cmbio, reduz-se a capacidade de o banco central influir na quantidade de moeda. Portanto, o estoque monetrio endgeno a varivel interna do modelo , sendo determinado por um outro fator, no caso, pela oferta cambial em um contexto de mobilidade de capitais. Desta maneira, o estoque monetrio no controlvel pelo banco central, ajustando-se s variaes na quantidade de moeda estrangeira. Ou seja, uma vez que a autoridade monetria no controla o estoque monetrio, a poltica monetria considerada passiva. No caso de liberdade de movimentao internacional de capitais e poltica monetria independente, reduz-se a capacidade de o banco central influir no preo da moeda estrangeira, o que determina a adoo de um sistema de taxas de cmbio flexveis. O cmbio se torna a varivel endgena, se ajustando s variaes na quantidade de moeda em um contexto de mobilidade de capitais. Como o estoque de moeda exgeno varivel externa do modelo , sendo controlvel pela autoridade monetria, a poltica monetria considerada ativa. Por fim, se um pas opta por fixar as taxas de cmbio e fazer uma poltica monetria ativa, necessariamente ter de impor restrio liberdade de movimentao internacional de capitais. A mobilidade de capitais se torna a varivel endgena, ajustando-se s variaes na quantidade de moeda em um contexto de taxa de cmbio fixa. Quaisquer mobilidades de capitais tornariam insustentveis a taxa de cmbio fixa ou a poltica monetria ativa. A eventual adoo de uma poltica monetria restritiva, visando reduzir a liquidez com um aumento de taxa de juros, com cmbio fixo atrairia capitais internacionais que, alm de pressionarem essa taxa fixa de cmbio, aumentaria o estoque de moeda domstica, anulando o efeito da poltica monetria restritiva. 2.2.2. O Padro-Ouro Terico Antes de tratar das experincias relacionadas ao padro ouro-libra e ouro-dlar mister conceituar o padro-ouro. O chamado padro-ouro era um sistema pelo qual se viabilizavam as trocas internacionais. Este sistema, sobre o qual se baseou o padro ouro-libra e, posteriormente, o dlar-ouro, baseava-se nas seguintes premissas: i) ii) A oferta de moeda em cada pas proporcional ao seu estoque de ouro. O nvel interno de preos proporcional oferta de moeda.

A primeira premissa descrevia o sistema monetrio no padro-ouro. A moeda em circulao era o prprio ouro metlico, ou notas de banco (moeda-papel), cujo volume deveria guardar proporcionalidade com o lastro-ouro, para garantir sua conversibilidade. A segunda era a teoria quantitativa da moeda. Assim, no padro-ouro, a oferta de moeda era determinada pelos estoques de ouro. A base monetria (B) dependia de trs variveis: O preo do ouro, em termos da moeda nacional (g). O estoque de ouro monetrio (G).

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A percentagem da quantidade de moeda em circulao que coberta pelo ouro, ou seja, a quantidade fsica de ouro (r). Ou seja:

B = (1/r) g. GA base monetria pode aumentar quando aumenta o estoque de ouro (G), quando aumenta o preo do ouro (g) e quando h reduo na relao entre quantidade de ouro e quantidade de moeda (r), isto , h um aumento na quantidade de moeda, mantida a quantidade de ouro. Pelas regras do padroouro, entretanto, g e r so constantes. Por isto o nico instrumento de poltica monetria disponvel no padro-ouro a relao entre o estoque de ouro e a quantidade de moeda, na medida em que o estoque de ouro e o seu preo no esto sob controle das autoridades monetrias. Assim, variaes na base monetria so determinadas por alteraes no estoque de ouro, o que determina que o ajustamento sob este padro seja automtico. Somente um aumento em G, causado por supervits no balano de pagamentos ou compra de ouro no-monetrio, aumenta a base monetria. A Teoria Quantitativa da moeda (TQM) 14, por sua vez, expressa por meio da relao a seguir: MV = PT. Onde: M = quantidade de moeda em circulao. V = velocidade de circulao da moeda. P = nvel de preos. T = transaes.

Considera-se que no curto prazo V e T so constantes, portanto, havendo alteraes em M, dever haver uma mudana no nvel de preos. Ou seja, para a teoria quantitativa, o nvel de preos proporcional oferta monetria (M). Em meados do sculo XVIII, David Hume15 justificou que no regime padro-ouro, as foras de mercado se encarregariam de equilibrar o balano de pagamentos automaticamente. Assim, se um pas fosse deficitrio no balano de pagamentos, a cobertura do dficit se daria pela transferncia de ouro para o exterior. Com isto, o estoque de moeda se contrairia em relao quantidade de bens e servios transacionada na economia, forando a baixa dos preos internos e a desvalorizao real da taxa de cmbio, o que estimularia as exportaes e desestimularia as importaes, at o ponto de equilbrio do balano de pagamentos. Por outro lado, num pas superavitrio aumentaria o estoque de moedas. Em conseqncia, os preos internos se elevariam e, como reflexo, haveria valorizao das taxas de cmbio reais. Essa valorizao desestimularia as exportaes e expandiria as importaes, at que os supervits fossem eliminados.

14 15

Sistematizada por Irving Fisher, economista norte-americano (1867-1947). Filsofo, historiador e economista escocs (1711-1776)

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2.2.3. Do Padro-ouro-Libra at Bretton Woods O perodo compreendido entre 1870 e 1914 caracterizou-se pelo auge do funcionamento do padro ouro-libra, que tinha a libra como moeda internacional, exatamente a moeda da nao economicamente mais importante na poca a Inglaterra. Por este sistema, as transaes internacionais funcionaram perfeitamente por quase 50 anos. No sistema vigente, o controle da poltica monetria domstica pelas autoridades nacionais era mnimo dada a liberdade de movimentao internacional de capitais e a taxa de cmbio rgida. Entretanto, este padro no conseguiu reequilibrar os diferenciais de produtividade e inflao acumulados no tempo entre os pases, gerando desequilbrios na paridade entre as moedas, que levaram contestao do sistema na prtica. O crescimento mais acelerado da produtividade num determinado pas permite a produo de bens e servios a um custo menor, aumentando a vantagem comparativa dessa nao nas relaes comerciais com o exterior. Com isso, ao longo do tempo, o pas passaria a acumular saldos comerciais crescentes, pressionando a paridade fixada em relao a outras moedas no sentido de valorizar a moeda nacional. De modo similar, a menor inflao em relao a outros pases acarretaria efeito similar ao da maior produtividade. No perodo compreendido entre as duas grandes guerras mundiais, permeadas pela depresso de 1930, o sistema ouro-libra j se tornara ineficiente. Esse perodo caracterizou-se por total desorganizao do sistema monetrio mundial. Os pases adotavam taxas de cmbio fixas ou flutuantes, conforme suas convenincias do momento, praticando desvalorizaes competitivas que desorganizaram o sistema financeiro internacional e dificultaram o equilbrio das relaes internacionais. As constantes desvalorizaes cambiais, adotadas pelos pases com o objetivo de aumentar individualmente sua competitividade no comrcio internacional resultaram, pelo contrrio, em substancial queda geral nas exportaes e importaes mundiais. No final da dcada de 20, as principais naes reestabeleceram taxas cambiais fixas e, algumas delas, tentaram voltar ao padro-ouro. Todavia, essas paridades encontravam-se fora da realidade. Algumas, como no caso da libra, estavam supervalorizadas, enquanto outras se achavam desvalorizadas. Por isto, a Inglaterra passou a sofrer presses para converter em ouro os saldos em libras em poder dos demais pases, o que a obrigou a suspender, em 1931, a converso da sua moeda em ouro. Os Estados Unidos seguiram o exemplo em 1933, durante a Grande Depresso, retomando posteriormente o padro-ouro. Dada a baixa liquidez internacional vigente, como forma de viabilizar o comrcio, surgiram e cresceram em importncia, principalmente na Europa, acordos bilaterais e multilaterais de pagamentos. Mais tarde esses acordos serviram de inspirao para acordos bilaterais de pagamentos entre pases europeus e latino-americanos16, bem como entre latino-americanos17.

16

Convnios bilaterais eram acordos entre pases que davam curso a operaes comerciais que eram acumuladas e liquidadas pelo saldo diretamente pelos bancos centrais LDL (Liquidao diferida pelo lquido). No Brasil existiam os Convnios Brasil Hungria, Brasil Polnia, Brasil Romnia etc.17

O maior exemplo o CCR Convnio de Pagamentos e Crditos Recprocos , sistema de pagamentos internacionais baseado em compensao multilateral quadrimestral com LDL (Liquidao diferida pelo lquido). operado pelos bancos centrais da Amrica latina e promove a liquidao de operaes de exportaes.C:\Arquivos de Documentos\Estrela\Documentos do Estrela\Cursos\Concurso\2010\Analistas\Material Pedaggico-Analista\Livro - Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - Analistas.docx

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2.2.4. O Sistema de Bretton Woods e o Padro Ouro-Dlar Quando autoridades de 44 pases reuniram-se em Bretton Woods, New Hampshire, em julho de 1944, tinham na memria a forma como haviam falhado ao longo do perodo de paz entre 19181939, quando no apenas foraram suas economias internas para a depresso, como tambm cortaram a maior parte dos elos internacionais que poderiam ter suavizado as suas conseqncias. Para substituir o padro ouro-libra, nica regra at ento conhecida para regular o comportamento do comrcio internacional, duas propostas foram ento confrontadas: (i) A da Inglaterra, liderada por Keynes18, que propunha a criao de uma moeda fiduciria internacional, o bancor. Essa moeda seria emitida por uma Clearing Union, uma espcie de banco central dos bancos centrais que trataria de regular a liquidez e supervisionar o balano de pagamentos dos diferentes pases. O bancor serviria exclusivamente para a liquidao dos dbitos entre bancos centrais enquanto os negcios privados seriam realizados nas moedas locais que, por sua vez, estariam referidas ao bancor mediante um sistema de taxas de cmbio fixas, mas ajustveis. Os dficits e supervits dos pases corresponderiam a redues ou aumentos das contas dos bancos centrais nacionais (em bancor) junto Clearing Union. A dos Estados Unidos, a chamada proposta White19, que indicava o dlar como moeda internacional, mediante o compromisso dos Estados Unidos de assegurar a conversibilidade do dlar em ouro, ao preo de 35 dlares por ona-troy.

(ii)

A proposta de Keynes aceitava a manuteno do ouro como ancora nominal do sistema monetrio, mas este no teria nenhum papel efetivo na liquidao de transaes e contratos, funo que seria exercida exlusivamente pelo bancor, administrado pelas regras da Clearing Union (BELLUZZO, 2008 a). O plano de Keynes visava, sobretudo, eliminar o papel pertubador exercido pelo ouro enquanto ltimo ativo de reserva, instrumento universal da preferncia pela liquidez. Uma peculiaridade do Plano Keynes era a distribuio mais eqitativa do nus do ajustamento dos desequilbrios dos balanos de pagamentos entre deficitrios e superavitrios. Isto significava, na verdade, dentro das condicionalidades estabelecidas, facilitar o crdito aos pases deficitrios e penalizar os pases superavitrios20. O propsito de Keynes era evitar os ajustamentos deflacionrios e manter as economias na trajetria do pleno-emprego. Keynes pretendia evitar os mtodos de ajustamento recessivos e assimtricos impostos aos pases deficitrios e devedores por um sistema internacional em que os problemas de liquidez ou de solvncia dependem da busca da confiana dos mercados de capitais (BELLUZZO, 2008 b).

18

John Mayard Keynes, clebre economista ingls, considerado um dos mais influentes economistas do sculo XX. Suas idias fundamentaram as aes que levaram superao da Crise de 1929. Defendeu o papel regulatrio do Estado na economia, por meio de medidas de poltica monetria e fiscal, para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econmicos recesso, depresso e booms econmicos. Keynes considerado um dos pais da moderna teoria macroeconmica. Foi autor, entre outros, da Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda.19

Harry Dexter White, representante do Tesouro dos Estados Unidos na reunio de Bretton Woods, pertenceu chamada ala esquerda dos New Dealers e foi, depois da guerra, investigado duramente pelo Comit de Atividades AntiAmericanas do Congresso, no que ficou conhecido como Macarthismo.20

Avaliava-se que problemas de excesso de importaes poderiam ser resolvidos com o aumento das export