livro fraternidade, chama inextinguivel
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SUMÁRIO
PREFÁCIO ...............................................................................................................
GLOSSÁRIO ...........................................................................................................
I – FRATERNIDADE
1 . Fraternizar ...........................................................................................................
Fraternidade ........................................................................................
Fraternidade ...................................................................................
2 . Fraternidade, luz que jamais se apaga ......................................................
Ternura .............................................................................................
3 . Confraternizar .........................................................................................
Maior Ideal .........................................................................................
4 . Encontro Fraterno Regional em Floriano/Piauí ......................................
na da Fraternidade ...........................................................................
Mensagem de Lydio Diniz Henriques .......................................
II – PRESENÇA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
1 . Francisco Cândido Xavier nos primórdios do Movimento da
Fraternidade ...........................................................................................
III – PERSONAGENS DO MOVIMENTO DA FRATERNIDADE
1 . André Luiz ............................................................................................
No Grupo da Fraternidade ..............................................................
André Luiz na 20ª Semana da Fraternidade ....................................
2 . Scheilla ..................................................................................................
Ciência, Paz e Amor .......................................................................
3 . Adamastor .............................................................................................
À Mocidade do Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Palminha .....
Aos diletos companheiros da OSCAL ...............................................
4 . Jair Soares ..................................................................................................
5 . Rubens Costa Romanelli ............................................................................
Posto Avançado ..................................................................................
6 . Daniela Moura Teixeira ............................................................................
IV – PROGRAMA DE TRABALHO PERMANENTE
1 . PTP – Programa de Trabalho Permanente ................................................
A Missão do Grupo da Fraternidade ...................................................
1.a - Ensino da Doutrina Espírita e do Evangelho ..........................................
1.b - Assistência Social Espírita ...................................................................
Campanha do Quilo .............................................................................
Na Campanha do Quilo ....................................................................
Sopa Fraterna ........................................................................................
Sopa do Socorro ...............................................................................
Visita Fraterna ......................................................................................
Às Equipes Visitadoras ......................................................................
Visita aos Enfermos .....................................................................
1.c – Tarefa de Passes ..............................................................................
1.d - Formação de Ambientes Espiritualizantes .....................................
V – SEARA MEDIÚNICA COM JESUS
1 . Manifestações Espirituais ....................................................................
Mistificação e Animismo ...............................................................
Estagnação ou Acomodação ..........................................................
Personalismo e Exibicionismo .......................................................
Mediunidade Ideal .........................................................................
2 . Diálogo dos jovens com o espírito Joseph Gleber ...............................
3 . Materialização de espíritos em Reuniões de Ectoplasmia ...................
Qual é o título da mensagem? ...................................................
VI – CRIANÇA
1 . Criança ..................................................................................................
CIFRATER: Núcleo de Amor .......................................................
VII - COMUNIDADE CRISTÃ-ESPÍRITA
1 . Comunidade Cristã-Espírita ...................................................................
CIFRATER - A Mansão Hospedeira ..............................................
Cidade da Fraternidade - Não duvideis ...........................................
CIFRATER - Mais Luz ..................................................................
Cidade da Fraternidade: Uma realização interior .......................
Chancela do Amor ............................................................................
2 . Glebas Cristãs ..........................................................................................
3 . CONCIFRATER – Condomínio Rural da Cidade da Fraternidade .........
Fraternidade ....................................................................................
Fazenda RECIFRA ..................................................................................
1
Fraternizar
De variadas maneiras e por reiteradas vezes, os benfeitores do mundo espiritual têm
aventado a necessidade de “retorno à origens”; por desídia ou incompreensão pouco temos
refletido sobre esta alertiva. Guardamos a convicção de que a Doutrina Espírita, o
“Consolador prometido por Jesus”, nos remete ao Evangelho do Nazareno e propõe a
revivescência do Cristianismo Primitivo em toda a sua simplicidade e pureza. O retorno às
origens é a vivência mais pura da fraternidade conforme exemplificação dos cristãos
daquela época.
São memoráveis os inúmeros momentos de vivência da fraternidade exemplificados
pelo apóstolo Paulo. Como Saulo, ainda envergando o título de doutor da lei, o implacável
perseguidor dos cristãos, após os sucessos do seu encontro com Jesus na estrada de
Damasco, já tendo-se rendido a Jesus, exclamou extasiado ao bondoso Ananias: “Digne-
se ao Senhor perdoar os meus pecados e iluminar os meus propósitos para uma vida nova”.
Por orientação de Ananias, a sua estrada de recomeço ensejou-lhe um período longo de
meditação, distanciado do burburinho das cidades grandes, para fluir o reino da paz
imperturbável.
Foi acolhido em pleno Deserto de Dan na residência do casal Áquila e Prisca,
cristãos que sofreram como que um exílio em face às perseguições que culminaram na
morte do pai de Áquila. O casal não perguntou quem era Saulo, de onde ele vinha e a que
vinha e nem reconheceram nele a figura do perseguidor implacável; acolheram-no
simplesmente. Saulo observou-lhes o respeito mútuo, a perfeita conformidade de idéias e a
elevada noção de deveres. Áquila e Prisca, antes que marido e mulher, mais pareciam
irmãos.
Arrependido e profundamente impressionado com as atitudes cristãs do casal, Paulo
resolveu, depois de muitos dias, abrir seu coração para eles, que o tratavam como irmão.
- "O que vocês pensam do Dr. Saulo?
- O Evangelho manda considerá-lo irmão extremamente necessitado da luz de Jesus Cristo,
afirmou Áquila. Prisca, você recorda como se orava por ele na intimidade da Igreja? Você
se lembra da declaração de Pedro, de que toda perseguição de Saulo era útil, porque nos
levava a pensar em nossas misérias, a fim de estarmos vigilantes nas responsabilidades
com Jesus?
- Áquila, o que fariam vocês se, repentinamente, encontrassem o Dr. de Tarso?
- Procuraríamos estimar nele um irmão".
Em lágrimas, o Dr. Saulo pediu-lhes perdão e Áquila, interrompendo-o, assim
falou-lhe ao coração: “Irmão Saulo, regozijemo-nos no Senhor porque, como irmãos,
estávamos separados e agora nos encontramos juntos novamente. Não falemos do passado,
comentemos Jesus, que nos transforma pelo seu amor”.
Rememoramos o livro “Há Dois Mil Anos”, que se detém em relatos históricos
dos primeiros anos do Cristianismo e particularmente dos testemunhos e sofrimentos
acérrimos de Públio Lentulus Cornelius e Lívia, sua esposa. A doce Lívia, convertida ao
Cristianismo, percorreu caminhos de extremas desventuras e sofreu silenciosamente na
intimidade do próprio lar em face ao afastamento afetivo do esposo, que agasalhou
difamação e injúrias injustas contra ela.
Quando se anunciava a chegada de algum apóstolo da Galiléia ou das regiões que
lhe são fronteiriças, Lívia fazia questão de comparecer às pregações que eram realizadas
nas catacumbas, para ali comungar com os irmãos de crença os ideais do Evangelho de
Jesus. O severo senador romano não desconhecia as saídas furtivas de sua esposa, sempre
acompanhada da bondosa Ana, servidora de confiança do seu lar e alma unida nas
mesmas aspirações, em busca do convívio com os cristãos que destemidamente seguiam o
doce Rabi da Galiléia.
Sabedoras de que a pregação daquela noite seria feita por João de Cleófas, um
emissário da igreja de Antioquia, recém-chegado da Síria, Lívia e Ana aproveitaram-se das
primeiras sombras da noite para atingirem as catacumbas. Ao final da reunião, quando
davam início às preces singelas e espontâneas das primitivas lições do Cristianismo, já
tendo trocado saudações afetuosas, com as mais doces demonstrações de júbilo e
fraternidade, eis que surgem numerosos soldados para a caçada de cristãos. A massa
atônita dos cristãos indefesos, na sua maioria, mulheres, foi aprisionada e encaminhada ao
circo para sofrer morte humilhante, por ordem do imperador romano Domício Nero.
Pelo seu ascendente nobre e romano, fatalmente Lívia seria reconduzida ao seu lar.
No entanto, emocionada, dirige-se a Ana nestes termos:
- "Ana, querida, tenho um derradeiro pedido a fazer-te ...
- Ana, se é verdade que temos de testemunhar ainda hoje a nossa fé, eu desejava
comparecer ao sacrifício como aquelas criaturas desamparadas, que ouviam as consolações
divinas junto do Tiberíades. Se puderes atender-me, troca hoje comigo a toga da senhora
pela túnica da serva! Desejava participar do sacrifício com as vestes humildes e pobres da
plebe, não porque me sinta humilhada perante as pessoas da minha condição, no momento
ditoso do testemunho, mas porque, arrancando para sempre os derradeiros preconceitos do
meu nascimento, daria à minha consciência cristã o conforto do último ato de humildade...
Eu, que nasci entre as púrpuras da nobreza, desejava buscar o Reino de Jesus com as
vestiduras singelas dos que passaram pelo mundo no torvelinho doloroso das provações e
dos trabalhos! ...
- Senhora! ... - obtemperou a serva, hesitante ...
- Não vaciles, se queres proporcionar-me a satisfação derradeira".
Por não desejar complicações com família nobre, o centurião Clódio Varrus
ordenou que fosse afastada com discrição a mulher que trajava a toga do patriciado. Ana
foi constrangida a retornar ao lar, tão logo os cristãos adentraram à arena para o espetáculo
de impiedade e pavor, em que criaturas humanos tombariam vítimas de leões famintos, sob
aplausos delirantes e ensurdecedores de quase meio milhão de espectadores insanos.
Angustiada, ela concluiu que a indumentária da senhora lhe salvara a vida!
Ficamos a imaginar o desenrolar dos acontecimentos, a couraça da coragem
ostentada pelos cristãos, o espírito de resignação e fé, o sentimento da solidariedade, a
compreensão do significado da vida e o convite ao amor profundo que os fortalecia na
crença de que estavam prestes a atingir o reino dos céus prometido por Jesus. Não existe
melhor definição para a fraternidade do que essas vivências.
Retornamos aos tempos atuais para aquilatarmos a importância da fraternidade nas
nossas vidas, como proposta de interiorização do Cristo. A Cidade da Fraternidade
(CIFRATER), obra assistencial do Movimento da Fraternidade, em edificação permanente
no município de Alto Paraíso/Estado de Goiás, tem como proposta implementar um novo
sistema de vida comunitária, em que as criaturas, não necessariamente vinculadas por laços
consangüíneos, estarão formatando um novo modelo de família, em atendimento à
assertiva do Cristo: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”. A comunidade é orientada por
princípios cristãos-espíritas, tem densidade populacional reduzida e possui significativa
área territorial circundada por terras pertencentes ao patrimônio da União.
Em outubro de 2003, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)
inesperadamente acampou certa de 150 (cento e cinqüenta ) famílias nas terras da União,
nos limites com as da Cidade da Fraternidade. Sem olvidar a nobreza dos seus ideais, os
integrantes do MST criaram grande constrangimento aos comunitários, pelas constantes
ameaças de invasão às terras da CIFRATER, por extrapolarem os limites do respeito e por
desconsiderar o direito de propriedade. Não raras vezes, o MST exerceu ação coercitiva e
até mesmo atemorizante; no entanto, nunca se deparou com reação natural de medo,
revide e agastamento por parte dos comunitários, que pautaram suas atitudes com a
serenidade e postura cristã.
Desde longa data, dois microônibus da CIFRATER percorrem grandes distâncias
para recolherem nos lares, na segunda-feira pela manhã, as crianças residentes na região
vizinha, todas alunas do Educandário Humberto de Campos. Essas crianças são abrigadas
nos lares dos comunitários, que as têm como extensão da própria família, e somente na
sexta-feira, a cada quinze dias, retornam ao convívio familiar para o fim de semana. A
resposta mais espontânea e natural da CIFRATER para o MST foi oferecer tratamento
análogo ao que dispensa às crianças dos sítios distantes: ofereceu vagas no Educandário
Humberto de Campos para que mais de cem filhos dessas famílias também recebam, no
espaço físico da Cidade da Fraternidade, a oportunidade de escolarização. A CIFRATER
ainda se incumbe do transporte diário no percurso entre o Educandário e o acampamento.
Também essas crianças são recebidas como filhos legítimos do coração que compreende e
ama. Isto é fraternidade!
Muitos outros exemplos poderiam ser evocados, mas importa a Jesus que
materializemos a fraternidade nos nossos pensamentos, atos e atitudes, internalizando o
Evangelho na nossa própria essência. Para enriquecer essas lembranças, inserimos uma
mensagem de autoria do espírito Rodolfo Henriques, recebida pela mediunidade de Ruth
Birman em 07/09/1974, na Casa Espírita André Luiz pertencente ao Grupo da Fraternidade
Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte.
Em 27/10/1949, o espírito André Luiz brindou-nos com um conceito primoroso de
fraternidade, durante a reunião de materialização no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã
Scheilla, em Belo Horizonte.
Concomitante ao transcurso da reunião de materialização, uma equipe de visitação a
enfermos se fazia presente na residência do senhor Orlando Cardoso, cuja filha estava
abalada por sérios problemas orgânicos. Fugindo ao comportamento habitual, os espíritos
Joseph Gleber e José Grosso materializaram-se na residência em questão, em cabine
improvisada para tratar a enferma. O fenômeno ectoplásmico era inédito e dele
participaram Fábio Machado (médium de efeitos físicos), Jair Soares, Ed Soares, Atílio
Pena e Felipe Randoso.
Ao término da reunião de materialização/ectoplasmia, César Brunier, que estava á
frente dos trabalhos junto com Rubens Romanelli, encontrou a seguinte mensagem por
escrita direta ou pneumatografia de autoria do espírito André Luiz.
Fraternidade
Vamos sempre procurar compreender que, se trabalhamos na
fraternidade, devemos sempre,
F azê-la - com amor
R ompê-la - com esforço
A mpará-la - com boa vontade
T rabalhá-la - no evangelho
E ncontrá-la - com Jesus
R iscá-la - do orgulho
N ascendo-a - da humildade
I rradiando - paz e harmonia
D ando - o que nos pertence
A mando - a nossos inimigos
D esignando - a todo irmão
E mendando - nossos erros.
Fraternidade
Na jornada de fé em que, unidos, buscamos empunhar a
bandeira do amor através do Movimento da Fraternidade, é
necessário que a intenção sublimada se faça realmente
resplandecente na consciência de cada um. Porque este não é
um Movimento de fantasias, de grandezas ou de personalismos.
Unidos, companheiros, somos os bandeirantes do espiritismo-
amor a desbravar os imensos sertões dos corações humanos,
enrijecidos pela indiferença ou talvez por cristalização
mental de uma formação religiosa deficiente.
A renúncia deverá se alojar nos corações dos que
comandam, como uma força de coesão. O silêncio da prece, no
recolhimento da meditação, deverá ser o caminho mais curto de
ligação entre os dois planos: o espiritual e o material.
Que a palavra fraternidade jamais seja empregada como
escudo a censuras não construtivas ou para aquecer intenções
dúbias. Mas que ela seja realmente a bandeira do Amor a
tremeluzir Planalto Divinal, como um raio de luz a esparzir
pelos rincões do nosso amado Brasil.
Irmãos, sigamos com o Cristo na intenção renovadora de
amarmos e servirmos a todas as criaturas: sejam elas de que
raça forem ou de que religião praticarem; vivamos Jesus,
amando fraternalmente, ou melhor, como irmãos, aos publicanos
de hoje, aos fariseus e até aos ateus, porque, isto, sim, é
que constitui a verdadeira fraternidade, dentro do sublimado
lema de que “Fraternidade é o amor que se expande”.
E o amor do Cristo não tem preconceito, não tem
fronteira: é o verdadeiro amor Universal e é este o amor que
devemos iluminar a alma e aquecer os corações de todos os
espíritos, principalmente os espíritos de todos os
fraternistas.
Que o Senhor da Vida nos abençoe hoje, agora e sempre.
São os votos de muita paz.
Do Irmão
Rodolfo Henriques
2
Fraternidade, luz que jamais se apaga
Em 04/09/2004, estávamos em São Carlos/SP, na sede do Grupo da Fraternidade
Espírita Irmão Batuíra, tratando de assuntos importantes para a disseminação da real
fraternidade no seio dos agrupamentos cristãos espíritas, como é desejo dos espíritos
liderados por André Luiz. Compareceram a esta reunião vários companheiros de ideal
como representantes de:
- Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Batuíra, São Carlos / SP;
- Grupo da Fraternidade Espírita José Grosso, Águas da Prata / SP;
- Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Narcisa, Poços de Caldas / MG;
- Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Joseph, São João da Boa Vista / SP;
- Grupo da Fraternidade Espírita João Cabete, Campinas / SP;
- Grupo da Fraternidade Espírita Em Torno do Mestre, Dourado / SP;
- Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Tobias, Santo Antônio do Jardim / SP.
Num instante de descontração, a fraternista Fani Campelo Corrêa, do Grupo da
Fraternidade Espírita José Grosso, achegou-se a nós com o desejo de rememorar um
acontecimento simples que muito tocou seu coração.
Referiu-se ao confrade José Rocha Lins, a quem conheci quando de uma visita que
fiz ao Grupo da Fraternidade Espírita José Grosso. Alagoano, como era carinhosamente
tratado, por largo tempo foi notável servidor da instituição de Águas da Prata, onde
assumiu responsabilidades na área de educação espírita e também ofereceu sua inteligência
e discernimento ao Conselho de Administração da Casa.
Pesarosamente para nós, ele acabou retornando para Alagoas para atender interesses
profissionais e do seu coração. Algum tempo atrás, fez contato telefônico comigo para
narrar um episódio que tocou as fibras mais intimas do seu ser e que a mim fez derramar
lágrimas copiosas.
Contou que rapidamente se adaptou ao novo trabalho e retomou às atividades
espíritas com muito empenho. Paulatinamente foi recebendo atribuições na casa mater do
espiritismo em Maceió e logo foi lhe conferido o encargo de vice-presidente da Federação
Espírita do Estado de Alagoas.
Dentre as viagens costumeiras que empreendia para orientar os Centros Espíritas e
assim atender aos objetivos de unificação propugnados pela Federação Espírita Brasileira,
destacou para mim a sua visita a uma instituição em Santana de Ipanema. Foi recebido com
imensa cordialidade e como era o seu próprio jeito expandiu-se em demonstrações de muito
afeto aos confrades. Inesperadamente, um companheiro se aproxima e estabelece com ele
o seguinte diálogo:
- Você é um dos nossos!
- Como assim, meu amigo?
- É um amigo espiritual, aqui ao meu lado, quem faz esta afirmação.
- Peça a ele para clarear este ponto para mim ponto.
- Disse o amigo espiritual: Você se esqueceu que é do Movimento da
Fraternidade?
Veja o tamanho da minha distração! Só aí que é que me dei conta de que estava em
meu estado de origem, numa longínqua cidade e no Grupo da Fraternidade Espírita André
Luiz, um agrupamento que comunga com os ideais do Movimento da Fraternidade, tal qual
o que atuei em Águas da Prata.
Fani, você não imagina a minha alegria! Quisera que todos nós, cristãos espíritas,
por onde passássemos, deixássemos marcas profundas da fraternidade ensinada por Jesus.
Este Movimento que conheci naquela formosa estância hidromineral de São Paulo nada
mais propõe do que a revivescência do amor em padrões de simplicidade e humildade do
coração.
Ternura
Meu Coração, neste instante,
Exala suave perfume,
Como se da escuridão,
Surgisse possante lume.
Assim, nas asas do amor,
Eu viajo ao infinito,
Chamando que me acompanhem,
Vindo atrás deste grito.
Mas é um grito assim
Tão suave e profundo,
Que envolve e emociona,
Os quatro cantos do mundo.
É a pura fraternidade,
A raiar, com profusão,
Envolvendo com alegria,
As fibras do coração.
Por isso, voem comigo,
Rumo à fraternidade,
Trabalhando com ardor,
No labor da caridade.
Os meus olhos se umedecem
Ao enxergar, no momento,
Que a terra pode ser palco,
Dos frutos do Movimento.
Alegria! Muita Coragem,
Força e paz, perseverança,
O mundo sempre tem jeito,
Sempre vige a esperança.
Um irmão
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Kaja Krisna, de Muriaé/MG, em
23/08/1997, pelo médium Robério.
3
Confraternizar
Certamente que o primeiro grande momento de confraternização no Cristianismo
Primitivo se deu durante o Pentecostes, uma das três festas anuais que os israelitas
celebravam. A festa de Pentecostes era conhecida também como " Festas das Primícias" ou
" Festas das Semanas", por acontecer sete semanas depois da Páscoa. A Páscoa, uma
dessas três grandes festas, era celebrada no primeiro mês do ano, a partir de 14 de janeiro, e
significava evocação à libertação dos israelitas ao jugo do Egito. A última festa do ano,
conhecida como Tabernáculo se dava em grande alegria e trazia o significado da gratidão a
Deus pela colheita. O trigo abundava nas terras da Palestina e a colheita farta fazia o povo
reconhecer a generosa proteção do Senhor da Vida!
Retrocedendo na história, situamo-nos em Jerusalém, durante o primeiro
Pentecostes, após a crucificação de Jesus, quando Pedro, tocado pelas mais sublimes
aspirações, reuniu o corpo apostolar para dar vida ao Evangelho do amor derramado pelo
sublime Carpinteiro de Nazaré em tempos ainda tão recentes. Repentinamente, todos os
apóstolos ficaram cheios do Espírito Santo, passando a falar em variadas línguas, tomando
de perplexidade a multidão que, pouco a pouco, foi se achegando. “Partos e medos e
elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, Ponto e Ásia, e Frígia
e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus
como proslélitos, cretenses e arábes, todos os temos ouvido em nossas próprias línguas
falar das grandezas de Deus.” (Atos 2:9 a 11)
A multidão atônita e admirada dizia: “Pois quê! não são galileus todos esses
homens que estão falando?” - Atos 2:7. Maravilhados, naquele momento inesquecível
ouviram a predica e a exortação de Pedro, ficando todos tomados pelos mais divinos
presságios. Foram centenas dessa multidão, que chegava a quase três milhares, que
permutaram sentimentos fraternais profundos e se sentiram juntos e batizados na fé do
Evangelho de Jesus.
Outro momento de confraternização aparentemente paradoxal se deu nas
catacumbas da velha e legendária Roma, tendo sido inesquecível, para duas centenas de
cristãos, o convívio de duas horas antecedentes à prisão que significaria para eles, poucos
dias depois, o suplício de serem devorados por feras, no Circo Máximo da capital imperial,
por ordem do imperador Domiciano Nero.
Ouviram as preleções de João de Cleófas, o apóstolo de Antioquia, empolgaram-se,
na condição de crentes e seguidores do Nazareno, com as mais inesquecíveis exortações
sobre os dias gloriosos do futuro e os embates das forças do bem e do mal preludiando o
estabelecimento definitivo no mundo das mensagens do Evangelho do Senhor. “Palavras de
amor e saudações afetuosas eram trocadas entre todos, com as mais doces demonstrações
de júbilo e fraternidade.” (livro "Há Dois Mil Anos")
Os agrupamentos cristãos espíritas da atualidade estão isentos de perseguições de
qualquer natureza e tão pouco são chamados a testemunhos que podem significar-lhes a
própria morte. Aqueles que seguem os preceitos e se encantam com as revelações da Boa
Nova e as consolações dos espíritos do bem são procedentes de variadas classes sociais e se
ajustam, dentro de certos limites, compreendendo a mensagem do Evangelho do Senhor.
Não é difícil, pois, abrandar, calar as vozes da violência e do ressentimento para que ecoe
mais alto o verbo sonante do entendimento e do amor.
Os tempos novos clamam o retorno às origens pela convivência fraternal. É
indispensável confraternizar! Inadiável se faz o encontro daqueles irmanados pelos mesmos
sentimentos do Evangelho de Jesus!
Convém que, periodicamente, os trabalhadores da vinha se reencontrem, como no
Pentecostes agora porém para vivenciarem situações algo diferenciadas, pois não existem
divisões nem tampouco bandeiras pátrias ou diferenças religiosas a separar os discípulos do
Evangelho. As confraternizações então aludidas significam oportunidades de permutas
afetivas, revitalização de energias esgotadas, escola de aprendizagem e águas de renovação
sugerindo prosseguir sempre a fertilizar novos caminhos.
O Movimento da Fraternidade tem se esforçado na produção desse sentido de
unidade, proporcionando a espiritualização de ambientes para os profitentes da fé cristã
espírita. Três eventos de dimensões diferenciadas ensejam momentos intensos de
confraternização para que a fraternidade de converta em luz permanente e clareie as
jornadas dos caminheiros do bem.
Quatro modelos de confraternização, ou quatro grandes festas, mais detalhadamente
explicados no capítulo IV item 1.d, são sugeridos:
- Encontro regular de trabalhadores de uma mesma tarefa na realização do Culto
do Evangelho no lar de cada um deles, alternadamente;
- Reunião de Confraternização dos trabalhadores de uma mesma instituição para
ensejar, inclusive, o encontro daqueles que já compartilharam tarefas e que
passaram a estagiar em outras modalidades de serviço cristão na própria
instituição;
- Encontros Fraternos Regionais de agrupamentos de uma mesma região
geográfica;
- Semana da Fraternidade que, numa dimensão maior, propicia momentos
sublimados para confraternizar.
É desejável que os dois primeiros ocorram com a periodicidade de trinta dias; o
terceiro, a cada 120 dias; e último, de dois em dois anos.
Em cada um desses encontros com periodicidade preestabelecida, existem espaços
para:
- momentos de arte, em que se apresentam corais, grupos teatrais, declamações
poéticas, peças musicadas;
- breves estudos consentâneos com os interesses da causa do Evangelho do
Senhor, para que os viajores da Casa Cristã multipliquem os fatores da
afinidade, de intensa permuta de idéias pressagiando a formação de laços
afetivos e duradouros;
- a palavra dos espíritos benfeitores, dignificando a mediunidade por meio de
médiuns que transitam com elevados valores de moralidade e de muita alegria
cristã;
- abraços e largos sorrisos ensaiando aqui na Terra os pródomos da família
verdadeiramente espiritual.
MAIOR IDEAL
01
Tristeza dor e angústia
Te atormenta o coração?
Cultiva a fraternidade.
Melhores dias virão.
Casimiro Cunha
02
Não fazer mal a ninguém
Serve pra qualquer pessoa
Fraternidade urgente
Deixa o cristão numa boa.
Jair Presente
03
Poeta pensa na trova
Homenagem merecida
A OSCAL em Venda Nova
Essa família é cumprida
Sebastião Lasneau
04
Multiplicar o talento
A caridade em ação
Com base no movimento
De confraternização.
Newton G. de Barros
05
A morte acabou comigo
Meu Deus, que decepção!
Já não me chamam de amigo
Sou agora assombração.
Emílio de Menezes
06
Movimento pioneiro
Quanta alegria conduz
No território mineiro
Concentrado em Jesus.
Belmiro Braga
07
Repentista não descansa
Com jeito de nordestino
Traz no balaio esperança
E o coração de menino
Leandro Gomes de Barros
08
Os companheiros cantando
Revivem nosso ideal
O seresteiro voltando
Com muito amor à OSCAL
João Cabete
09
Protege com teus carinhos
Afetos que Deus te deu
Mas não esquece os filhinhos
Que a orfandade escreveu.
Meimei
10
Não pensa no sofrimento
Nem digas que não tem sorte
Somente o que nos pertence
Levamos depois da morte.
Aura Celeste
11
Na divisão dos teus bens
O maior investimento
É a soma do que já tens
Guardado no sentimento.
Irene de Souza Pinto
12
Com Jesus alma querida
A influência do mal
Será batalha vencida
Com seu amor fraternal.
Maria Dolores
Versos psicografados por Léa Neves de Souza , na 20ª Semana da Fraternidade, no dia
20/04/2003.
Belo Horizonte– Minas Gerais
4
Encontro Fraterno Regional em
Floriano/Piauí
Para historiar acerca momentos de agradável convívio fraterno, descrevemos a
beleza de um Encontro Fraterno Regional realizado em 2001 na cidade de
Floriano/Piauí. Este evento evoca a importância da confraternização cristã espírita, em
que os seareiros, em reencontros inesquecíveis, permutam impressões, acendem a
chama do convívio fraternal, distendem laços afetivos, ouvem os espíritos e
prodigalizam os inefáveis sentimentos da alegria.
Todos os companheiros (fraternistas) provenientes de localidades várias ficaram
hospedados nos lares de companheiros de ideal e até nos de outros que, sem serem
espíritas, demonstravam ser cristãos autênticos. A acolhida nos lares nos fez lembrar o
tempo das inesquecíveis viagens de Paulo e de outros trabalhadores da vinha que
generosamente se hospedavam nas casas de criaturas sequiosas pelas mensagens do
Evangelho do Senhor.
Esse encontro regional de confraternização cristã espírita aconteceu no dia
03/11/2001. Estiverem presente irmãos do:
- Grupo da Fraternidade Espírita Bittencourt Sampaio - Aracaju / SE;
- Grupo da Fraternidade Espírita Guillon Domênico - Olinda / PE;
- Grupo da Fraternidade Espírita Amor Divino - Olinda / PE;
- Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Ismael - Recife / PE;
- Grupo da Fraternidade Espírita Allan Kardec - Floriano / PI;
- Grupo da Fraternidade Espírita Ângelo Francisco - Floriano / PI;
- Centro Espírita Casa do Caminho - Terezina / PI;
- Centro Espírita André Luiz - Terezina / PI;
- Centro Espírita Irmãos Fraternos - Terezina/ PI;
- Lar Amor de Maria - Amarante / PI;
Pela característica do Movimento da Fraternidade, os primeiros momentos do
encontro foram marcados por imensa alegria. Os irmãos procedentes das variadas
localidades se abraçaram efusivamente ficando patenteado o desejo de trocas mútuas de
idéias e de energias vitalizadoras para o prosseguimento da faina diária. As apresentações
se deram em clima de descontração e vários hinos foram entoados, sendo a maioria deles de
autoria de João Cabete, o seresteiro do Evangelho.
O Presidente e o Vice-Presidente da Federação Espírita do Piauí, os irmãos Ornálio
Bezerra Monteiro e Otávio Costa, criaturas simples e fraternas, dignificaram o encontro
com a sua honrosa presença.
Com grande entusiasmo, o fraternista Marco Antônio Souza Brito fez uma digressão
acerca de vivências do Movimento da Fraternidade no Estado de São Paulo e estas
rememorações foram possíveis porque, na sua juventude, acompanhou os seus pais nas
atividades do Grupo da Fraternidade Espírita João Ramalho, de São Bernardo do Campo e
muitos encontros assemelhados a este.
Após o delicioso almoço preparado por tarefeiros das Casas de Ângelo Francisco e
Allan Kardec, coube-nos dissertar sobre o tema “Nova Era”. Finalizada a nossa palestra,
permitimo-nos momentos de efusiva alegria que nos sentir estarmos como que no seio de
uma grande e antiga família erigida e sustentada pela seiva do amor.
Preludiando outro instante importante, como é comum nos encontros dessa
natureza, foram entoados outros hinos que, fortalecendo o ambiente espiritual onde nos
encontrávamos, favoreceu que nossos corações se expandissem em vibrações harmoniosas.
Haveria o momento mediúnico, o Pentecostes da atualidade!
Previamente, fomos solicitados a organizar o quadro dos médiuns para aquele
acometimento inolvidável que denominamos usualmente de "Palavra da Espiritualidade".
Naturalmente que convidamos médiuns conhecidos, experimentados para ações de tanta
responsabilidade, porém, da assembléia, um irmão de nome João de Souza Coelho, que
conhecêramos naquele dia, moderadamente grita: “Alan, eu sou médium e posso
colaborar”. Não era do nosso domínio o seu desempenho mediúnico e tampouco
conhecíamos o formato de trabalho da Casa a que ele se vinculava ou mais propriamente o
Centro Espírita Casa do Caminho. Uma voz interior, certamente sob os auspícios da
mediunidade intuitiva advertiu-nos: “Chame-o”!
Embevecidos, ouvimos exposição emocionada do mentor Ângelo Francisco pela
mediunidade de Osvaldo José da Silva e uma mensagem carinhosa do Palminha pelas mãos
psicográficas de Rosali Freire Bezerra de Matos, dedicada tarefeira do Grupo da
Fraternidade Espírita Guillon Domênico.
A grande surpresa ficou por conta do desconhecido médium para nós que, em
transe mediúnico, levanta-se e põe-se a falar com características e trejeitos sobejamente
conhecidas por nós que lidamos nos agrupamentos cristãos espíritas adesos ao Movimento
da Fraternidade. Era o José Grosso! Este espírito indubitavelmente era desconhecido do
médium. Habitualmente o José Grosso desenvolve trabalhos e se comunica em vários
Grupos da Fraternidade Espírita espalhados pelo Brasil.
Sabe-se que a sua última existência foi no Brasil, como José da Silva e nasceu em
1896, em pequeno lugarejo próximo a Crato, nos áridos rincões do Ceará. Pertenceu ao
bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e muitos indagam intimamente como um
espírito tão afável e bom pode ter trilhado os caminhos ásperos e indignos do cangaço.
É conhecido da história que o Lampião e seus seguidores causaram muitas mortes
levando o desassossego em muitas aldeias e pequenas cidades. Consta das proezas de
Lampião que ele e seu bando percorreram sete Estados (Ceará, Rio Grande do Norte,
Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia). No entanto, desconhece-se que Lampião
também era idolatrado pois do que surrupiava dos abastados e ricos distribuía para famílias
pobres e desamparadas. É célebre a sua frase “Tenho cometido violências e depredações
vingando-me dos que me perseguem. Costumo, porém, respeitar as famílias por mais
humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher,
castigo severamente”.
O José Grosso juntou-se ao bando do Lampião para assumir a causa dos pobres!
Quando a turba invadia as cidades, a cometer as maiores atrocidades e saques, ele
procurava intervir para minimizar os efeitos da violência, de modo a poupar, tanto quanto
possível, as mulheres, crianças e velhos. Sem dizer a sua estratégia de, quando em vez,
avisar às cidades sobre as iminentes invasões.
Retornemos a fala do espírito vozeiro! Após os seus cumprimentos e brincadeiras de
praxe ele diz assim:
“Quero aproveitar a oportunidade para fazer-lhes uma
confidência. Naqueles tempos não muitos distanciados em que
lidei no cangaço, tive puras intenções mas naturalmente que
cometi excessos. Com aquela gente e instrumentos, eu desejava
defender a causa dos pobres e estes se multiplicavam tanto
pelo sertão. Era o tempo do coronelismo, dos governantes
insensíveis, e a multidão dos aflitos e desamparados era
imensa. Contudo, quero falar-lhes de outro anseio que
brandia no meu coração na forma de sentimento pátrio.
Conhecia a história do nosso País e marcou-me muito as
invasões de povos com a intenção de domínio da nossa nação
para apropriarem-se das nossas terras, submeterem nosso povo
ao seu jugo. Apesar dos tantos séculos passados era temível
que o fato se repetisse já que o nordeste brasileiro era uma
região esquecida até dos governantes maiores; eu entendia que
esses movimentos de homens tidos como bandoleiros ou
cangaçeiros, de uma certa forma, protegeriam criaturas
simples, esquecidas e desamparadas”.
No final, cantamos o hino a André Luiz e, após a prece de encerramento, cada um
retornou ao lugar de origem levando as marcas inesquecíveis de momentos tão fraternais!
II
Francisco Cândido Xavier nos primórdios do
Movimento da Fraternidade
Francisco Cândido Xavier foi uma das personalidades mais importantes a marcar
presença na Terra, tanto que criaturas das mais variadas crenças religiosas, correntes
filosóficas e ramos da ciência contemporânea renderam-lhe tributo, considerando-o como
missionário do bem, um digno servidor de Jesus. No meio espírita, por onde ele conduziu a
sua existência, foi um exemplo de fé, abnegação e devotamento, sempre apresentando o
coração solícito para atender e servir o seu semelhante.
Conferiram-lhe títulos justos como o “Homem Amor”, o “Apóstolo do Triângulo”,
o ”Apóstolo do Bem” e muitos passaram a considerá-lo a reencarnação de Allan Kardec, o
grande missionário lionês, codificador da Doutrina Espírita. Jamais considerou-se digno
dessas honrarias e humildemente esquivava-se sempre quando desejavam identificá-lo em
importantes personagens da história da humanidade, em encarnações pregressas.
No meio espírita, existe a convicção de que, ao tempo de Jesus, seu espírito
animou a personalidade de Flávia, filha do romano Públio Lentulus Cornelius. Seu pai, o
orgulhoso senador, encontrou-se com Jesus e a ele suplicou curá-la de enfermidade grave,
conforme está retratado, com rara beleza, no livro “Há 2000 Mil Anos” ditado pelo espírito
Emmanuel. Segundo o mesmo autor, Flávia retornou àquelas paragens para sequência do
seu roteiro evolutivo, todavia desconhecemos o detalhamento das suas experiências.
Francisco Cândido Xavier é a mais pura demonstração de devotamento cristão. Não
existiram pessoas e nem segmentos religiosos que não fossem tocados pela sua presença,
seu verbo manso, suas vibrações cariciosas, seus ensinos consoladores, estimulando
consciências na busca permanente de progresso.
Francisco Cândido Xavier teve significativa importância na vida do Grupo da
Fraternidade Espírita Irmã Scheilla e do Movimento da Fraternidade. Simbolizou um
aceno dos céus para que as criaturas de convicção cristã-espírita não se distanciem da
vivência pura e simples da fraternidade.
No “Movimento da Fraternidade”, existem registros da preciosa presença desse
servidor do Cristo nas lides do Movimento da Fraternidade, como pode ser destacado:
O capítulo II alude à reunião festiva de fundação da Mocidade Espírita Maria João de
Deus, no dia 29 de setembro de 1948, ocasião em que, pela psicografia do
extraordinário médium, o poeta Castro Alves fez verter aos presentes uma obra-prima
em forma de versos intitulada “Apelo à Mocidade Espírita Cristã”;
o capítulo VI mostra fragmentos de algumas das numerosas cartas do médium para o
“Grupo da Irmã Scheilla”, em que reporta-se com maestria espiritual imprescindível aos
sucessos das inesquecíveis reuniões de materialização ocorridas desde o início do ano
de 1949, além de umas cartas de cunho pessoal endereçadas ao saudoso Jair Soares,
então com responsabilidades junto ao agrupamento cristão mencionado e condução do
MOVIMENTO DA FRATERNIDADE em seus primórdios;
mensagens magníficas direcionadas ao movimento nascente, como as que estão
grafadas nos capítulos XV, XVI, XX e XXXIV com os títulos de “No Grupo da
Fraternidade”, “Em prece com os irmãos de luta”, “Diretrizes individuais nos Grupos da
Fraternidade” e “Deus quer misericórdia”.
As mãos santas da psicografia e os sábios conselhos deste homem virtuoso é que
levantaram a confiança e o entusiasmo de centenas de confrades espíritas que abraçaram o
ideal da fraternidade. Em raras ocasiões ele se fez presente no grupo- mãe do Movimento
da Fraternidade e iremos recordar, agora, uma de suas participações nas reuniões de
materialização que encantaram os cristãos espíritas do nosso Brasil.
No dia 29 de setembro do mesmo ano, aconteceu a primeira tarefa de visitação a
enfermos nos lares ( descrita no capítulo VII do livro “Movimento da Fraternidade”) sob os
auspícios e orientação da espiritualidade superior. A reunião seguinte, realizada em 06 de
outubro, contou com a presença de Chico Xavier, quando, pela mediunidade de psicofônica
de Fábio Machado, o dirigente Jair Soares foi instruído a destacar alguns integrantes da
reunião para fazerem visita a uma irmã enferma residente à rua Goitacases no Centro de
Belo Horizonte, enquanto a reunião de materialização ou ectoplasmia seguia seu curso
normal. Foram convocados os irmãos César Brunier, Elvira Soares (Ló), Márcio Catoni e
Laurita Gonçalves.
José Grosso, materializado, dirigiu-se particularmente ao querido Chico Xavier e ao
seu irmão André Xavier, e sobretudo com o primeiro, manteve descontraída conversação.
Contou-lhes anedotas e no momento de mais seriedade trouxe notícias da Colônia
Espiritual Nosso Lar, causando indizível contentamento nos presentes. Reportou-se aos
processos de segurança na Colônia, que visa a conter as investidas daqueles que se
entregam às atividades do mal, mencionou a existência de aparelhos que captam
movimentos e imagens desses irmãos infelizes nas imediações do “Nosso Lar”.
Nessas reuniões de ectoplasmia, era muito comum ocorrerem brincadeiras variadas
dos espíritos benfeitores, notadamente do Palminha e do José Grosso. Em uma essas
reuniões, enquanto os espíritos procediam ao tratamento dos enfermos, formou-se um
espectro que, aos poucos, formou a figura materializada de Maria Alice. A seguir, ouviu-
se o tamborilar suave de um pandeiro seguido dos passos rítmicos da bailarina, que em
existência pretérita desenvolvera esta arte. Nessa reunião, de quando em quando, a jovem
ressurgia em vestes deslumbrantes, sempre alegre, a exibir sua exímia arte da dança
sapateado. O capítulo VII do livro “Movimento da Fraternidade” dá idéia da
espontaneidade da jovem e nos faz compreender que os espíritos não diferem muito de
nós, no que concerne aos sentimentos, emoções e vivências.
Logo depois, deu entrada no recinto o irmão Joseph Gleber, espírito com imensa
responsabilidade no Movimento da Fraternidade e que, à semelhança de Scheilla, viveu na
Alemanha a sua última existência, quando foi médico e físico nuclear.
Mentalmente, o professor Rubens Romanelli considerava inadequadas as
brincadeiras, imaginando-as destoantes da seriedade que deve caracterizar as reuniões
mediúnicas cristãs-espíritas. Não conviria um clima de mais reserva, compatível com a
grandeza dos fenômenos?
Após cumprimentos fraternais, Joseph Gleber dirigiu-se ao professor Romanelli
para dissipar esta dúvida que intrigava sua aguda inteligência. Certamente, penetrando no
pensamento do Romanelli, o irmão Joseph afirmou que tudo quanto ocorria na reunião
estava nos planos traçados por André Luiz. A dificuldade da equipe encarnada em manter
alto nível de concentração é um fato patente e os momentos de descontração propiciam a
geração de clima de alegria e fraternidade. Tais recursos elevam o clima vibracional,
afastam as preocupações de feição material e concorrem para instaurar atmosfera santa e
evangélica. Comovido, Romanelli agradeceu pelos esclarecimentos.
Um fenômeno mediúnico notável ocorreu simultaneamente na cozinha do prédio,
sem a presença de qualquer um dos circunstantes. O irmão César Brunier houvera deixado
sobre uma mesinha uma máquina de datilografia na expectativa de que os espíritos
escrevessem qualquer coisa por ela. Aparentemente seria uma pretensão quase descabida.
O que pretendia o nosso César era algo muito difícil; no entanto, ouviu-se, naqueles
momentos, o batido das teclas da máquina de escrever. No final do encontro, todos,
inclusive o Chico Xavier, leram, com alegria, versos grafados pela inesquecível poetisa
Nina Aroeira.
Sabe-se da possibilidade da escrita automática pelos espíritos, conhecida
tecnicamente como pneumatografia, exigindo-se, é claro, o concurso de médium de efeitos
físicos. No caso específico, poderíamos afirmá-lo como uma variedade de fenômeno
pneumatográfico: os espíritos escreveram sem a intermediação de mãos humanas,
utilizando todavia instrumento para produzir a escrita!
No período científico do espiritismo, sobretudo no último quartel do século XIX,
os fenômenos foram pesquisados com muito êxito por eminentes cientistas espíritas como
Gabriel Delanne, William Crookes e Alexandre Aksakof. Fenômenos desta estirpe
aconteceram inúmeras vezes com a fundadora da teosofia a célebre Helena Petrovna
Blavatsk.
O espírito José Grosso, pela voz direta ou pneumatofonia, lamentou a
impossibilidade de produção de outros fenômenos ectoplásmicos para brindar presença do
amoroso Chico Xavier, médium missionário da Doutrina Espírita. José Grosso justificou
que o eclipse lunar, ocorrido naquela data, foi o causador de prejuízos psíquicos e com
afetação para os trabalhos de ectoplasmia.
O querido José Grosso ainda ditou algumas receitas, aplicou sua pequena lâmpada
radioativa em alguns pacientes presentes, deu conselhos e ouviu pacientemente diversos
confrades acerca de assuntos variados, endereçando-lhes palavras de estímulo e reconforto.
Logo a seguir, em decorrência do horário avançado, o irmão Jair Soares, que coordenava
aquela reunião inesquecível, tomou as providências para despertamento dos médiuns,
realização da prece de gratidão a Deus e conclusão dos trabalhos.
Deixamos registrada a mensagem pessoal de Chico Xavier endereçada, em 1950,
aos irmãos do Movimento da Fraternidade:
A nossa querida irmã Scheilla e nós permanecemos em
prece esperando que o vaso da harmonia se refaça, a fim de
que a água límpida e renovadora do serviço encontre a
instrumentação adequada para a empresa que iniciamos, em
sagrado compromisso diante de Jesus. O Mestre é o Pastor e
somos as ovelhas necessitadas.
Que haja em todos nós a força suficiente para a união
humana e divina.
A Fraternidade brilhará em nosso roteiro, que deve ser
de trabalho, caridade, entendimento e paz, em nós, fora de
nós, por nós, e através de nós, hoje e sempre.
Abraços do irmão menor
Francisco Cândido Xavier
1
André Luiz
O Espírito André Luiz é muito reverenciado, admirado e querido pela comunidade
espírita brasileira. Não só espíritas mas muitos católicos, irmãos de outras crenças e
mesmos agnósticos se interessaram em conhecer o livro “Nosso Lar”, de psicografia do
médium Francisco Cândido Xavier e editado pela Federação Espírita Brasileira - FEB em
1944. O nobre André Luiz narra, com raro encanto e riqueza de detalhes, a vida nesta
colônia espiritual e desmistifica a vida após a morte.
A partir desta obra, outras tantas foram vertidas das paragens do invisível por este
espírito culto, de grande sensibilidade e humildade, que, posicionando-se como mero
repórter, encanta-nos com os mais deslumbrantes ensinos nos variados campos do
conhecimento da vida universal. Existe uma conjunção perfeita entre os ensinos que
promanaram dele pela mediunidade santa de Francisco Cândido Xavier e os preceitos e
conteúdos da Codificação Kardequiana.
Sempre houve interesse dos espíritas em geral em descobrir a sua verdadeira
identidade. Dentre as hipóteses, ele teria sido doutor Álvaro Alvim (1863-1928), grande
mártir da medicina brasileira, ou o doutor Oswaldo Cruz (1872-1917), notável médico
sanitarista brasileiro, ou o doutor Carlos Chagas médico e bacteriologista nascido em
Oliveira/ MG no dia 09/07/1879 e falecido no Rio de Janeiro em 08/11/1934.
Nos primórdios de seu roteiro de trabalho com o médium, indagado acerca de seu
nome, o nobre espírito asseverou que utilizaria o pseudônimo de André Luiz, o mesmo
nome do irmão de Chico que, naquele instante, dormia na cama ao lado. Naturalmente que
ele tinha razão para este procedimento. Cativou aos espíritas pela qualidade e profundeza
dos livros que ditou e, em reverência ao mentor espiritual, estaremos listando mais a frente
a relação destas magníficas publicações que precisam ser lidas, relidas e estudadas.
Muitos médiuns clarividentes puderam contemplar a fisionomia ou sua feição
perispiritual atual e alguns pouco puderam vê-lo materializado. Nas inesquecíveis reuniões
de materialização que marcaram ao surgimento do Movimento da Fraternidade, em uma
oportunidade ele dignou-nos com a sua presença no Grupo da Fraternidade Espírita Joseph
Gleber, na Fazenda Eureka, na de Fábio Machado, médium de efeitos físicos.
André Luiz compareceu algumas vezes também no Grupo da Fraternidade Espírita
Irmã Scheilla, em Belo Horizonte / MG, não constando fenômeno de sua materialização
ostensiva, porém, pela pneumatofonia ou voz direta, ele proporcionou grande júbilo aos
presentes. Retornemos a 09/09/1949, após a conclusão dos trabalhos ectoplásmicos, são
encontradas 02 (duas) páginas de escrita direta pelos espíritos Maria Alice e de André Luiz.
O conteúdo da mensagem do mentor:
Meus irmãos, que a paz do Senhor conforte os vossos
corações. Escrevo esta com o fim de jubilar-me convosco pelos
êxitos que vamos obtendo. Desejo indicar-vos o vasto campo
para iniciardes a semeadura do bem; na imensidão deste mundo,
podemos encontrar infinitos campos para lançar as sementes do
progresso, mas não desperdicemo-las porque são poucas, são
restritas. Cultivem-nas no lugar próprio. Deus convosco. André
Luiz
Em abril de 1956 quando já existiam 18 (dezoito) Grupos da Fraternidade Espírita,
todos entusiasmados com os ensinos e vivências cristãs sob a direção espiritual da irmã
Scheilla, Francisco Cândido Xavier remete para Belo Horizonte uma mensagem da sua
lavra mediúnica e que o espírito André Luiz intitulou " No Grupo da Fraternidade" .
No Grupo da Fraternidade
No Grupo da Fraternidade,
o coração está incessantemente disposto a servir e em seu
santuário a alma do irmão
Não indaga,
Não desconfia,
Não fere,
Não perturba,
Não humilha,
Não se afasta dos infelizes para que o programa de Cristo se
cumpra nos mais necessitados,
Não reclama,
Não desanima,
Não se revolta,
Não chora perdendo tempo,
Não asila pensamentos envenenados,
Não destrói as horas em palestras inúteis,
Não exibe braços imóveis,
Não mostra o rosto sombrio,
Não cultiva o espinheiro do ciúme,
Não cava abismo de discórdia,
Não dá pasto à vaidade,
Não se julga superior,
Não se adorna com as inutilidades do orgulho,
Não se avilta com a maledicência,
Não despreza o ensejo de auxiliar indistintamente,
Não se ensoberbece e não foge à paciência e à esperança para
confiar-se às trevas da indisciplina e da perturbação, porque
o companheiro da fraternidade, em si mesmo, é
O perdão vivo e constante,
O trabalho infatigável,
A confiança que nunca se abate
A luz que jamais se apaga,
A fonte do entendimento que não seca,
A bondade que nunca descrê da Providência Divina e é,
sobretudo,
O amor incessante e puro, fazendo a vida florir e frutificar,
em toda parte, em pensamentos, palavras, atitudes e atos de
redenção com o Senhor que, aceitando a manjedoura, nos
ensinou a simplicidade na grandeza e, imolando-se na cruz,
exemplificou o sacrifício supremo, pela felicidade de todos,
até o fim da luta.
Como André Luiz retornou outras vezes, foi acontecimento natural escolhê-lo como
patrono ou mentor espiritual da OSCAL – Organização Social Cristã Espírita André Luiz,
entidade concebida para orientar os Grupos adesos ao ideal do Movimento da Fraternidade.
Tornou-se cada vez mais aguçado o interesse dos espíritas brasileiros em conhecer a
identidade real deste tão notável espírito, possuidor de tantos méritos e simpatia. O
Anuário Espírita de 2004 relata o encontro ocorrido em 20/02/1993 entre Hércio Marcos
C. Arantes, Dorival Sortino (Presidente das Casas Fraternais O Nazareno, Santo André/SP),
um médico do Rio Grande do Sul que integrou a última turma de alunos do Dr. Carlos
Chagas e o médium Francisco Cândido Xavier.
“A certa altura da conversa, Chico Xavier contou, com naturalidade, que, ao
terminar a psicografia do livro “Nosso Lar”, esperava que seu autor, o Dr. Carlos Chagas,
usasse o seu próprio nome da última encarnação. Com esta observação, Chico revelou a
identidade última do querido espírito André Luiz, identidade esta confirmada recentemente
pelo Dr. Inácio Ferreira (Espírito) na obra “Na Próxima Direção” do médium Carlos A.
Baccelli.
Como médico e cientista, Carlos Chagas obteve sucesso no combate à Malária. Em
1907 foi admitido no Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Conseguiu descobrir o
agente causador da Doença de Chagas e denominou-o “Tripanossoma Cruzi” em
homenagem ao Dr. Oswaldo Cruz. Em 1911 foi concedido a ele o prêmio SCHAUDIM,
conferido por um júri internacional ao melhor trabalho em Protozoologia e Microbiologia.
Em 1912 foi guindado à chefia dos estudos da Malária no Vale do Amazonas,
posteriormente nomeado Diretor do Instituto Oswaldo Cruz e culminou a sua carreira como
diretor geral do Departamento Nacional de Saúde Pública e professor emérito de medicina
tropical da Universidade do Rio de Janeiro.
O articulista Hércio Marcos C. Arantes, com rara felicidade, reporta-se ao livro
“MEU PAI”, de autoria de Carlos Chagas Filho (1911-2000), em que o autor destaca alguns
segmentos que ilustram a personalidade de Carlos Chagas:
“De seu último período em Manguinhos, guardo a recordação de nossas conversas.
Eram horas e horas em que ficava a escutá-lo e, pelas suas palavras, pude penetrar em
grande parte de sua alma e conhecer episódios de sua vida. Foi o momento no qual,
certamente, mais procurou influir em mim e formar a minha personalidade, contando-me
sobretudo os erros – tão poucos! – que cometera. Ensinou-me a difícil tarefa de
compreender as gentes e amá-las.
Guardo de meu pai a certeza de que era um homem simples, no que a palavra tem
de mais autêntico. Honrarias, louvações e atitudes de subserviência nada lhe diziam. Sendo
um homem forte, queria que os que o acompanhassem assim o fossem e não aceitassem
suas palavras como irrebatíveis.
Sua indiferença frente dos aspectos materiais da vida era total, a não ser a pequena
vaidade de gostar de vestir-se com esmero, vaidade que aos poucos foi desaparecendo.
Quando morreu não deixou bens, senão a casa da rua Paissandu.
Várias vezes procurei saber qual a sua posição em face da religião. Mostrou-se
sempre avesso a esse debate. Creio que o seu espírito se dividia entre a profunda
religiosidade de sua mãe e de seus tios – muitos dos quais sempre de terço na mão – e o
agnosticismo, que era a tônica da grande maioria dos cientistas de sua geração.
Profundamente respeitador do sentimento alheio, nunca o ouvi discutir este assunto, nem
dizer uma frase de mínimo desacordo com o fato de que, a partir de um certo momento,
comecei a freqüentar a Igreja. Não importa tentar perquirir a intimidade de seu sentimento
religioso. O importante é assinalar que a sua vida se completou dentro dos preceitos mais
fundamentais do Evangelho.
Meu pai não foi um cientista acadêmico, um homem de laboratório, interessado
somente no seu próprio progresso intelectual e na ascensão do seu reconhecimento
internacional. O que desejou, na verdade, foi servir ao povo brasileiro, tirando do seu
convívio com os filhos dos colonos das fazendas em que viveu, com as gentes com quem
conviveu em Lassance e com aqueles que amou na bacia Amazônica, a força para entregar-
se ao que há de mais importante na vida de um homem: não viver para si, mas viver para
servir o seu próximo. Analisando a vida de meu pai, penso que ele nos deixa uma grande
mensagem: a de que a vida humana só tem significação quando utilizada para servir. Esta é
a lição que ele aprendeu na freqüência da miséria que viu em Minas, na Amazônia e um
pouco por todo o Brasil.
Até mesmo quando, no ano de sua morte, Gustavo Pitaluga, chefiando um grupo de
patologistas europeus, escreveu-lhe pedindo todas as suas publicações e o seu currículo
para apresentá-lo como candidato ao prêmio Nobel de 1936, sua emoção não chegou a
modificar-lhe o clima de vida, nem mesmo suas aspirações. Seu interesse pelos de menor
situação na sociedade traduzia-se, perfeitamente, na maneira suave e carinhosa com a qual
se aproximava dos pacientes nos hospitais que o vi freqüentar. Para ele, cada ser humano
tinha uma expressão própria que devia ser respeitada no mais profundo sentido ético que
tem o substantivo “ser”. Sua vida pode traduzir-se pela oposição que deu ao “ser” em
relação ao “haver”.
Quando cheguei a Lassance, 21 anos depois do momento em que meu pai descobriu
a doença de Chagas, as histórias de sua devoção aos enfermos e de sua preocupação com os
pobres com quem se avistava era a moeda mais corrente dos entretenimentos que tive com
a parte da população que tão bem se lembrava dele.
Durante o exercício da medicina, na ocasião de sua instalação, pouco duradoura, na
rua da Assembléia, muitas vezes – como já foi assinalado – tirava do seu bolso a soma
necessária para pagar a receita que prescrevera na consulta, as mais das vezes nem cobrada.
Não por uma injustificável soberba, mas porque achava que a medicina devia ser exercida
gratuitamente. (...) Chagas era um homem devotado ao seu semelhante qualquer que fosse a
sua situação social ou econômica. Entretanto, o dinheiro que não recebia dos pacientes, ou
que lhes dava para aviamento da receita, faltava, às vezes, fortemente, ao orçamento
doméstico.”
Para aqueles que não conhecem, listamos a seguir as extraordinárias obras de
autoria do espírito André Luiz vazadas ao mundo pela mediunidade de Francisco Cândido
Xavier, ou parceria deste com o médico e médium Waldo Vieira.
Listagem das Obras e respectivo ano em que foram publicadas:
- Nosso Lar 1944
- Os Mensageiros 1944
- Missionários da Luz 1945
- Obreiros da Vida Eterna 1946
- No Mundo Maior 1948
- Agenda Cristã 1948
- Libertação 1949
- Entre a Terra e o Céu 1954
- Nos Domínios da Mediunidade 1955
- Ação e Reação 1957
- Evolução em Dois Mundos 1959
- Mecanismos da Mediunidade 1960
- Conduta Espírita 1960
- Opinião Espírita (parceria com Emmanuel) 1963
- Sexo e Destino 1963
- Desobsessão 1964
- E a Vida Continua 1968
- Sinal Verde 1971
- Respostas da Vida 1975
- Endereços da Paz 1982
- Apostilas da Vida 1986
A bondade desse espírito é uma constância e queremos registrar a sua presença em
um encontro de âmbito nacional do Movimento da Fraternidade, conhecido como Semana
da Fraternidade que aconteceu de 18 a 21 de abril de 2003, em Belo Horizonte/MG. É
preciso atentar para a singularidade e do mecanismo diferenciado, tornando possível o
ajustamento psíquico-espiritual entre o médium e o mentor comunicante.
André Luiz na 20ª Semana da Fraternidade
Amigos queridos, a voz me embarga pelo que meus olhos espirituais podem ver
neste instante. Vejo o nosso ambiente se dilatando, as paredes se abrindo... Há um céu
acima de nós que irradia um clarão suave. No entanto, os meus olhos se dirigem para o solo
que se abre também e eu vejo muitas almas aflitas, muitos espíritos desfigurados,
estropiados, que trazem lamentos em seus olhos e se acotovelam, às centenas. São espíritos
sombrios e infelizes que nos dirigem olhares ansiosos e parecem clamar por esperanças.
Há ainda um pedestal de cristal e sobre ele um espírito iluminado, com suas vestes
brancas e luminosas. Ele nos dirige um sorriso terno, mas não nos fala diretamente, ele
aponta as almas infelizes que aqui estão e se dirige a elas.
Companheiros, este espírito é André Luiz, o nosso mentor a quem tanto devemos e
neste instante vem-nos o desejo de ajoelhar aos seus pés. Ele está falando aos espíritos
infelizes. Eu não saberei, infelizmente, acompanhar a magnificência de suas palavras, mas
eu o ouço dizer assim:
Irmãos, sob a excelcitude de Jesus, nos reunimos nesta
assembléia bendita, nos limites das almas encarnadas. Vejam,
irmãos, olhem para cada um destes irmãos encarnados que aqui
estão, observem como eles transpiram tranqüilidade, como eles
anseiam e palpitam veemente pelo exercício do evangelho em
suas vidas.
Aqui hoje estamos reunidos porque Jesus lhes permite uma
experiência diferente. Todos vocês, amigos, que neste
instante consideramos como irmãos, trazem pequenos números e
eu lhes digo que, ao terminar esta assembléia, se unirão
aos encarnados que têm no peito estampado este mesmo número.
Acompanharão os seus passos pelo tempo que acharem
necessário, porque assim lhes foi concedido. Irão
experimentar com eles o evangelho vivo; observar-lhes os
passos no exercício da vida; acompanhar-lhes os pensamentos,
os sentimentos, serão testemunhas invisíveis de suas ações e
aprenderão com eles, porque eles são como a mim mesmo. Jesus
colocou-os sob a minha responsabilidade e esta é a minha
seara de trabalhos.
E vocês, irmãos, que estão cansados de palmilhar na dor,
na sombra, na agonia, encontram-se infelizes por haverem
exercitado tantos e tantos séculos de maldade, como nós
mesmos. Vocês se ressentem dos ecos do mundo porque lá fora
ecoa a guerra, lá fora os homens se degladiam em pelejas
infindas, em lutas de egoísmos e de orgulhos intermináveis.
O planeta anseia por paz verdadeira e, hoje,
acompanhando estes encarnados, aprenderão o caminho da luz.
Verão que eles realmente representam, neste instante, os
seres humanos mais favorecidos de nosso orbe porque eles
detêm a luz do evangelho em seus corações. Irão aprender com
eles que no exercício da fraternidade verdadeira encontra-se
o caminho para que todos nós possamos evadir-nos dos círculos
das dores, de trevas e de infelicidades que todos nós
palmilhamos.
Fiquem com eles o tempo que julgarem necessário. O Plano
Superior lhes concede esta oportunidade, estejam juntos, eles
não se amedrontarão se porventura lhes perceberem, eles sabem
que todos somos enfermos carentes de luzes, eles não irão
rechaçá-los se porventura sentirem que ainda não emanam as
luzes do alto, porque eles sabem, em seus corações, que assim
é necessário e eles irão acomodá-los na fraternidade
verdadeira.
E depois que vocês observarem como estes encarnados são
distinguidos na sociedade do mundo atual, não são como os
antigos seguidores do Cristo que, em nome do meigo Rabi
muitos foram levados à fogueira, não são como aqueles
hipócritas que batem no peito e prometem o exercício pleno do
amor para, uma vez que voltem os seus olhos para os templos,
prosseguirem no exercício de crueldades infindas.
Estes irmãos encarnados irão, enfim, convencê-los de que
somente herdaremos a felicidade se a semearmos ao redor dos
nossos passos, que bendito é aquele que exerce a fraternidade
porque ele herdará a ventura celeste. E, uma vez convencidos
de que eles são, realmente, ovelhas que já se entregaram ao
exercício do amor, voltem então às furnas sombrias, que por
tantos séculos lhes acomodaram, voltem então aos seus
superiores, voltem aos amigos que ainda palmilham as
trajetórias infelizes das regiões abissais da Terra,
esquecidos de que nascemos para a felicidade e fomos criados
com toda a potência do universo. E digam aos seus
companheiros, levem esta notícia alvissareira, de que há na
Terra espíritos encarnados renovados para o bem, dispostos ao
exercício do amor, entregues à docilidade, digam-lhes para
que todos venham rumo a este páramo de luz, porque este é o
caminho, esta é a certeza absoluta de que assim
transformaremos a face do planeta e a nossa humanidade
resplandecerá à luz para a qual foi criada.
André Luiz
A visão está se desfazendo, queridos, o nosso André Luiz entrega-nos esta tarefa.
Estaremos sob a vigilância de olhos invisíveis que estarão vigiando as nossas ações. Já
recebemos lições suficientes, não podemos deixar mais os nossos livros nas estantes como
repositórios de palavras belas. É preciso entregarmo-nos ao exercício pleno das lições que
já sabemos de cor.
E neste instante uma luz resplandece aqui no alto. E um coração se delineia, é um
coração imenso, prateado. Ele pulsa e no seu pulsar gotículas de prata caem como grinaldas
de luz sobre nós. Este coração tem uma auréola de flores que se desfazem em pétalas
suaves e que neste instante caem mansamente sobre o nosso coração. É um coração
ectoplasmático, plasmado pelas energias carnais que aqui estamos desenvolvendo e este
jogral de luzes cai sobre os espíritos infelizes aqui reunidos e eu vejo faces sorridentes,
olhos iluminados de esperanças. São espíritos infelizes que depositam em nós certeza de
que encontrarão, enfim, o caminho tão ansiado.
Armemo-nos de heroísmo suficiente a fim de suplantarmos nossas deficiências e
aceitarmos esta tarefa que o nosso querido mentor carinhosamente nos suscita.
Que a paz do Cristo seja conosco, diz-nos o querido mentor.
Relato do médium Gilson Teixeira Freire. Mensagem recebida pela psicofonia do mesmo
médium em 18/04/2003, na noite de abertura da 20ª Semana da Fraternidade realizada em
Belo Horizonte.
2
Scheilla
Descrever algo acerca desta personalidade espiritual constitui missão emocionante e
espinhosa ao mesmo tempo! Emocionante, em face a empatia e ternura que esplende da sua
alma sensível; espinhosa, pela impossibilidade de retratar com alguma riqueza a
exuberância da sua obra, seja na sua atual condição de Espírito ou quando mergulhada na
carne, no círculo majestoso das vidas terrenas.
Mas de algo podemos falar segura e orgulhosamente: a sua estatura moral que
facultou-lhe uma readaptação rápida no Mundo Invisível e, sem delongas, pôs-se a serviço
do Cordeiro de Deus, esparzindo as virtudes do seu coração na condição humilíssima de
operária da gleba do Senhor.
Pouco tempo depois de seu desenlace terreno ocorrido em 1943, Scheilla foi
convocada para labores junto a nós, criaturas no corpo físico. Temos notícias de sua
participação grandiosa nas reuniões de ectoplasmia/materialização, pelos idos de 1948, no
Centro Espírita André Luiz, na cidade do Rio de Janeiro, onde pontificou a exuberância dos
dotes mediúnicos de Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho.
Consta de ata do Grupo Espírita Pedro, de Macaé/RJ, onde o Peixotinho laborou
com a sua extraordinária mediunidade, o registro de um espírito de nome Rudolph Fritz
manifestou-se psicofônicamente pela primeira vez em reunião mediúnica no final do
segundo semestre de 1939. Noutra oportunidade ,mais a frente, rogou preces dos presentes
a benefício da sua irmã Scheilla, que estava sofrendo processo de desligamento do corpo
físico. O mesmo espírito comunicante informou, pela mediunidade de Peixotinho, que o
seu pai, de nome Fritz, médico homeopata, houvera sofrido morte decorrente de queda de
avião de combate sobre a sua casa, durante bombardeio aéreo realizado pela Real Força
Aérea da Inglaterra. Vale recordar que o primeiro ministro inglês Winston Churchill
ordenou os primeiros ataques à Alemanha, em represália ao bombardeio alemão sobre
Londres.
O espírito Rudolph Fritz identificou-se como Tenente Reformado do Exército
Alemão e que fora convocado para a Guerra. Junto com outros oficiais haveria de executar,
a sangue frio, prisioneiros de guerra poloneses e a sua pronta recusa valeu-lhe o título de
traidor da nação e a condenação à morte, junto dos sentenciados, e alvejado pelos seus
próprios compatriotas.
O dócil e amoroso espírito Scheilla materializou-se algumas vezes, em Pedro
Leopoldo, na casa do senhor Rômulo Joviano e com a presença do notável médium
Francisco Cândido Xavier. O livro “Memórias de um presidente de trabalhos” de autoria de
Luiz Rocha de Lima, menciona também a presença de Scheilla nas inesquecíveis reuniões
de materialização de espíritos para fins de curas espirituais no Santuário do Frei Luiz.
A partir daí, Scheilla marcou presença no Espiritismo no Brasil e a vertente talvez
mais importante do seu trabalho tenha sido no Movimento da Fraternidade – MOFRA,
onde sinalizou-nos para tempos de esperanças e trabalhos.
Transparece recaírem sobre duas personagens as responsabilidades mais diretas na
condução operacional do Movimento da Fraternidade: Joseph Gleber e Scheilla. A
conjunção de idéias e a interação de procedimentos os faz tão sintonizados a ponto de
parecerem um só. No seio da comunidade fraternista, uma parcela considerável chega a
conjecturar sobre um noivado espiritual, interligando-os em laços de uma afeição mais
profunda. Independente disso, a afinidade desses espíritos é notória e os situa nos trâmites
da verdadeira família espiritual, aquela que transcende os laços da consangüinidade.
Quando das inesquecíveis reuniões de materialização ocorridas com os
companheiros do Centro Espírita Oriente, de Belo Horizonte, que encantaram o Brasil,
Scheilla introduziu o canto espiritualizante nas reuniões mediúnicas. As humildes senhoras,
ao formarem o primeiro coro em 1949, deram origem ao formoso Coral Espírita Irmã
Scheilla e hoje muitos corais, notadamente nos agrupamentos fraternistas, não só alegram
mas divulgam o Evangelho de Jesus através da música. Rudolph Fritz informou-nos que,
naqueles distanciados tempos, sua irmã Scheilla foi musicista.
Centros espíritas, creches, corais espíritas e departamentos diversos de casas
espíritas levam o nome de Scheilla, certamente pelo respeito, confiança e amor que a
respeitável Entidade soube granjear em suas andanças. Só para exemplificar, no âmbito do
Movimento da Fraternidade existem três agrupamentos com o seu nome, que a têm como
mentora: o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte / MG, o Grupo
da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Nova Iguaçu /RJ, e o Grupo da Fraternidade
Espírita Irmã Scheilla, de Tijucas / SC.
De sua trajetória reencarnatória consta a existência em que envergou a
personalidade de Joana Francisca Frémiot, nascida em Dijon em 28/01/1572. Aos 20 anos
casou-se com o Barão de Chantal. Ainda jovem perdeu o esposo, ficando como arrimo de
uma família de 04 filhos, porém seu coração virtuoso honrosamente enfrentou os encargos
supervenientes e, além disso, dedicou tempo ao exercício das obras piedosas.
Já em 1604 fazia pregações e a tanto chegava sua ascendência espiritual que o
Bispo Francisco de Sales (canonizado santo pela igreja), submeteu-se à sua direção
espiritual. No ano de 1610 ela fundou, em Annecy, a Congregação da Visitação de Maria;
em 1612 alugou uma casa num bairro pobre de Paris e galhardamente dirigiu a Instituição
até 1619, quando transferiu a missão para uma das mais virtuosas criaturas que já transitou
pela Terra: Vicente de Paulo, o Santo da Humildade, naquela época, confessor e orientador
espiritual de Joana de Chantal. Quando do desencarne de Joana, em 13/12/1641, já
existiam 87 Conventos e 6.500 religiosas seguidoras do seu ideal.
Clóvis Tavares conta (livro “Mediunidade dos Santos”) que, antes do desencarne de
Joana, São Vicente de Paulo teve a visão de um globo luminoso, subindo da Terra e
alcançando um outro globo, maior e mais luminoso, que o acolhia e, um terceiro globo,
bem maior que recebia a ambos. Compreendeu que o primeiro era Joana que se libertava; o
segundo era o Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, desencarnado em 1622, e o
terceiro, a essência divina que abraçava Joana a saudar o seu retorno à pátria espiritual.
Em romagem mais recente, Scheilla experimentou existência rápida porém virtuosa
na orgulhosa Alemanha. Viveu entre a presunção de uma filosofia materialista, pretensiosa,
sequiosa de poder e sonhadora por uma “raça pura e superior”. Scheilla optou por atender a
voz da sua consciência interior, vivendo na simplicidade e servindo aos enfermos que a
rodeavam.
Preferiu voltar sua dedicação aos atingidos pelo tormento das doenças e em
particular aos vencidos pelo ódio e pelo egoísmo. Como enfermeira ela cuidava das feridas
físicas e como amiga da caridade tratava chagas morais e enxugava lágrimas dos vitimados
de si mesmos.
A enfermagem situou-a no contato direto com os doentes de todos os matizes e ela
fez com que a fraternidade pura representasse a tônica da sua vida. O seu abnegado espírito
não se furtou a conviver nos ambiente belicosos, ensinando a paz na guerra e o amor
espiritual na ação silenciosa, apontando para os seus assistidos o porto seguro da fé cristã.
Certamente com a intenção de dirimir contradições sobre o desenlace da virtuosa
mentora, o abnegado espírito José Silveira Baessa, em reunião mediúnica de desobsessão
de que participamos no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla espontaneamente
assim se expressou pela mediunidade psicofônica de Oswaldo Miranda no dia 09/10/2004:
Estamos no ano de 1943, numa quinta feira, dia 29 de
julho!
Sofremos o ataque aéreo mais devastador que o estado
alemão, já em decadência, contemplou. Foram mais de
oitocentos bombardeios realizados pela Real Força Aérea da
Inglaterra em ataques noturnos. O exército americano
encarregava-se do ataque diurno e uma cidade de
aproximadamente um milhão de habitantes é arrasada. Uma
catástrofe estarrecedora!
Homens, mulheres e crianças desnorteadas pelas ruas de
Hamburgo, até que um bombardeio ceifa a vida de milhares de
alemães. Muitos são socorridos pelo destemor, pela fé de
abnegadas enfermeiras a serviço do Reich.
É o fim de um ciclo de vida cheio de dor e de
testemunhos. Contudo, após a morte, veio o triunfo ao
receberem a palavra consoladora de Jesus e de Maria
Santíssima!
Sessenta e um anos se passaram e, quando ouvimos a
narrativa de Scheilla num salão do mundo espiritual, saturado
de emoções superiores, elevamo-nos em preces silenciosas
confiantes e agradecidos a Jesus. Trabalhemos com o Cristo
para que o ser humano não necessite mais de resgates
dolorosos de muitas e muitas vidas!
Scheilla estava no trabalho ativo quando desencarnou em Hamburgo, em 1943,
vitimada por violento bombardeio aéreo: seu corpo foi consumido pelas chamas do
incêndio provocado por explosão, quando heroicamente tentou salvar uma criança.
E desde esta época ela faz ponte entre o céu e a terra e, nós encarnados já nos
habituamos com a sua presença, que contabiliza ensinamentos, emoções e, de quando em
vez, o substrato inesquecível do perfume de uma rosa que ela bem representa.
Afora as atividades enunciadas, inúmeras foram as suas mensagens psicofônicas ou
psicográficas, muitas condensadas em livros, tais como: Convite aos Corações, Flor de
Vida, Chão de Rosas e Visão Nova - Abençoa Sempre.
Em visita que fizemos, em 04/11/2002, ao Grupo Espírita da Bênção, na cidade de
Mário Campos/MG, fomos tocados de profunda emoção quando, no final da reunião
pública, recebemos a seguinte mensagem de Scheilla pela psicografia do médium Wagner
Gomes da Paixão.
Ciência, Paz e Amor
Alan, meu filho,
Reunindo o teu aos corações dos irmãos amados que junto
a ti aqui aportam para as manifestações da fraternidade,
abraça-os a serva e amiga de muito, com o pensamento fixo em
Jesus perante a Humanidade que tanto ama.
A Seara é a escola que a Providência Divina nos
franquia, simbolizando nova fase de emancipação e
espiritualidade para quantos vêm laborando com fervor.
Volvendo os olhos para o princípio, com todos os
empreendimentos que nos marcaram a participação efetiva em
louvor da proclamação da Verdade imortalista e do valor da
Caridade por ingrediente único de merecimento e ascensão,
catalogamos os muitos servidores desencarnados e encarnados
mobilizados para o certame com Jesus.
Às claridades de Ministros de Nosso Lar, mas tutelados
por outros abnegados expoentes de “Alvorada Nova”, uma
sementeira de amor e verdade pode ser levada a efeito,
fecundando os terrenos adustos do entendimento e da
credulidade humana, com êxito apreciável.
Após décadas de labores exaustivos e santificantes, meus
amigos, quantos não puderam se levantar para a esperança do
Bem triunfante, mesmo depois da morte corporal?
Quantos trabalhadores com ação decisiva no meio social
precário do País, deixando rastros de amor e fé para o
Mundo?!
Somos os operários da ressurreição, do aprimoramento, da
esperança! Ao Espiritismo, o Movimento da Fraternidade
ofertou sua cota porque irmanado a tantas ações pela causa da
ciência, da paz e do amor.
Scheilla
Durante a 20ª Semana da Fraternidade ocorrida entre os dias 18 a 21 de abril de
2003, os espíritos Almir Fontoura e José Grosso travam interessante colóquio, fazendo
resultar na mensagem a seguir descrita.
O Júbilo de Scheilla
Ao lado de José Grosso, acabara de chegar à rude casinha
do sertão nordestino.
Prestaríamos ali o socorro imprescindível, a finalização
do processo de desenlace de simpático e humilde irmão, que
naquele dia chegara ao fim de suas possibilidades físicas.
Ao adentrarmos o humilde lar - quase uma tapera –
deparamo-nos com Scheilla, toda iluminada por sublime
vibração de prece, derramando lágrimas de contentamento, a
velar a forma perispiritual do enfermo já exteriorizada com
seu efetivo auxílio.
Ali, nenhuma sombra, ninguém, mesmo encarnado, somente
Scheilla, e agora José Grosso e eu, em posição de respeito
ante a manifestação de infinita ternura da Benfeitora
iluminada.
Após instruções a nós, despediu-se, feliz, aquela flor
do céu, deixando-nos o encanto de seu perfume cristão.
Sem me conter, indaguei ao meu parceiro: José, por que
Scheilla tão feliz, emocionada perante o irmão em despedida
do corpo?
E ele, com sorriso discreto e matreiro na boca,
explicou: Este é um irmão que, embora pobre, fervoroso e
humilde nesta existência, animou, na antiga Prússia e depois
nos domínios da Alemanha nazista, a veste de um incrédulo e
malfadado elemento, que, ao contrário de considerar seus
irmãos, combatia-os em corrida louca.
Indaguei: Mas como ele mudou tanto, de lá para cá ?
Sem demora, olhou para mim significativamente e
respondeu: Por necessidade, ligou-se a um Centro Espírita
muito fraternal, aprendeu a receber apoio e a servir, ensinou
e aprendeu, desenvolveu a fé e venceu, conhecendo a
fraternidade legítima, a própria conversão a Jesus, ao Seu
Evangelho.
E batendo em meus ombros, antes de proceder ao
desligamento final do desencarnante, brincou: Evangelho é
vida; fraternidade é fenômeno de materialização do amor de
Deus. Você não acha que é motivo de sobra para o júbilo de
nossa Scheilla?!
Almir Fontoura
(Mensagem psicografada por Wagner Gomes da Paixão, em 20/04/2003, durante a 20ª
Semana da Fraternidade, em Belo Horizonte/MG. Este evento contou com a presença de 61
agrupamentos cristãos espíritas)
3
Adamastor
A Mocidade Espírita do Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Palminha, de Juiz de
Fora/ MG, por ter como patrono espiritual o querido Adamastor, cogitou da possibilidade
de ter os seus dados biográficos. Em 10 de agosto de 1993, a própria entidade assim se
expressou pela mediunidade psicográfica de Gilson Teixeira Freire (do GFE irmão Vitor,
de Belo Horizonte- MG):
À Mocidade do Grupo da Fraternidade
Espírita Irmão Palminha
Queridos Amigos,
É dificultosa para nós a tarefa solicitada, tendo em
vista nossa disposição íntima de superar os laços do
personalismo inferior que ainda nos anima o ser e nos prende
às amarras do egoísmo e do orgulho.
Gostaríamos de nos apresentar como singelo trabalhador
do Cristo, dispensando outros dados tão ao gosto do mundo,
ávido de identificar no plano espiritual aqueles que
incorporaram personalidades de expressão.
Não tivemos, no entanto, esta posição quando de nossa
última encarnação terrena.
Vivemos como modesto médico no Rio de Janeiro e, como
espírita, contribuímos com os trabalhos doutrinários da Casa
de Ismael.
Introduzimo-nos nas lides espíritas na França, no início
do século, quando ainda cursávamos a faculdade médica e
conhecemos a extraordinária figura humana de Camille
Flammarion. Este grande espírito nos deu a mão e nos
conduziu como verdadeiro pai nas primeiras letras do
Evangelho e da Doutrina dos Espíritos. Continuamos seguindo-
lhe os passos no plano espiritual, por imensa dádiva do
Senhor.
Nos tempos escuros da Segunda Grande Guerra,
contribuímos com a nossa modesta colaboração junto aos
necessitados que desencarnavam em condições lamentáveis nos
bombardeios, nos campos de batalhas.
Aí entramos em contato com as falanges de Adolfo
Bezerra de Menezes, quando, então, tivemos a imensa alegria
de receber-lhe o convite para trabalhar ao seu lado. Após
anos de estudos e trabalhos pudemos, enfim, receber o maior
mérito de ser-lhe o porta-voz nos trabalhos mediúnicos junto
a grupos espíritas, onde nos situamos no momento.
Sem méritos e sem valores, desprovidos de conhecimentos
e ainda menos de capacidade de amar, temos trabalhado nesta
seara sustentados unicamente pela boa vontade de acertar e
pela Misericórdia de Jesus.
Não tivemos expressão de personalidade entre os homens e
não gostaríamos de tê-la como espírito.
Acima de tudo, pretendemos ser chamado, considerado e
lembrado apenas como trabalhador do Cristo. Por isto, rogamos
aos amados companheiros da Mocidade do Grupo da Fraternidade
Espírita Irmão Palminha que guardem em seus corações este
nosso desejo e modifiquem o nome da mesma para “Mocidade do
Cristo” e estaremos jubilosos pelos seus carinhos e
considerações, que de modo algum nos fazemos meritórios.
Estaremos junto aos corações de todos. Muito não
poderemos fazer, mas nos esforçaremos para trazer-lhes, pelo
amor, pensamentos de bom ânimo e alegria.
Tenham a paz do Senhor sempre.
Adamastor
Em síntese, são estas as informações acerca deste espírito que tem derramado
preciosas orientações para a OSCAL e para os Grupos da Fraternidade Espírita
naturalmente adesos ao Movimento da Fraternidade. No ensejo, grafamos uma das suas
tantas orientações que trazem alento e ânimo para os corações fraternistas.
Aos diletos companheiros da OSCAL
Buscai o Reino de Deus e sua justiça e todas as outras coisas vos serão dadas de
acréscimo.
Nossos orientadores recebem, felizes, os cuidados dos
amigos queridos, desejosos do melhor desempenho nas funções
que lhes cabem. Estejam seguros de que, embora as dimensões
do existir pareçam nos apartar, estamos muito mais unidos do
que podem imaginar e ocupamos suas mentes de forma tão
natural que nossos pensamentos se lhes misturam às idéias,
sem que se apercebam de nossa presença intensiva e decisiva,
norteando-lhes todas as intenções. É absolutamente certo que,
sob a égide de Jesus, nossa jornada de trabalhos deve se
realizar nos dois planos da vida e nossos esforços estão, por
isso, permanentemente unidos na realização da nobre tarefa.
Assim é que não há motivos para se temer o erro de decisões
importantes, desde que mantenhamos puro o coração e nobre as
intenções de acertar.
E não olvidem que o plano superior mantém ininterrupta
vigilância, conferindo nossos passos através da intuição,
porta segura por meio da qual as assertivas destinadas à
orientação de nosso Movimento podem atingir a todos, pois
cada qual, sem exceção, no desempenho das tarefas que lhes
competem, todas igualmente importantes no patamar em que se
desenvolvem, estão sob o exercício de sublime mediunidade
com Jesus. Pela voz da intuição, poderosa força de
comunicação entre todos os seres que se sintonizam em
objetivos comuns, as sugestões e resoluções necessárias à
concretização dos objetivos propostos encontram guarida na
mente dos encarnados. Aqueles que detêm boa vontade de servir
e reservam a humildade suficiente para fazer calar a própria
arrogância estão preparados o bastante para ouvir a voz que
vem da alma e nos fala da vontade do Cristo. Basta segui-la
com confiança e determinação.
Eis porque os amigos já trazem no coração a resposta à
formulação solicitada e nossa sugestão é apenas uma
confirmação que atende incertezas que ainda povoam nosso
mundo íntimo, destituído da fé necessária ao sustento do
espírito.
A Esfera Superior se esmera, com grande empenho, para a
implantação da obra evangélica no coração humano,
transformando condutas e sentimentos em imorredouras
edificações espirituais, objetivando, sobretudo, a renovação
da face planetária em base ao amor ao semelhante. Enfastiados
do domínio das Trevas, cansados do vendaval de crueldades e
ignorâncias que somente nos trazem infelicidades, os
espíritos de boa vontade desejam ver o orbe iluminado pelo
Evangelho, sanando todas as discórdias e enriquecendo o homem
de prolífero relicário divino. Afeitos às venturas dos planos
celestiais, anseiam trazê-las para brindar a vida planetária,
paupérrima de alegrias genuínas e sedenta da elísia paz. É
inútil fugirmos espavoridos da dor que corrige e encontra
sempre o seu alvo, estabelecendo coerções onde impera a
revolta e a maldade. Já não podemos mais suportar a ausência
do bem nas sendas humanas e nossa sociedade agoniza, sob o
sufrágio da iniqüidade infrene. Somente a renovação de todos
os sentimentos da alma, dirigida pelos apelos sublimados do
Cristo, pode transformar o cenário do mundo, banindo os
charcos sombrios da expiação que ainda campeiam as suas
paisagens, afastando-nos do Reino de Deus que tanto ansiamos.
Eis então que todos os esforços dos seareiros cristãos,
de ambos os lados da vida, devem se investir destes objetivos
prioritários, sobrepujando todos os outros intentos de ordem
transitória do mundo físico. As conquistas monetárias,
indispensáveis ainda ao sustento da própria massa física que
o espírito carreia, devem ter por base estas mesmas intenções
para que não se dissolvam em ideais vazios e improdutivos de
bens espirituais, secando-se, peremptoriamente, o ideal
sublime, qual a figueira estéril da parábola evangélica. Se
todo nosso empenho se esmerar na confecção de realizações
efêmeras e ilusórias da matéria, ainda que se apóiem em
propósitos nobilitantes, estarão fadados ao inevitável
derruir do tempo que a tudo consome.
Não se iludam, companheiros, o labor na carne é mera
motivação para que o patrimônio espiritual floresça em nossos
campos interiores, burilando-nos a contumaz e secular
maldade e faça despertar em nós o amor pelo bem, abrindo-nos
as portas da alma para a pujança e a felicidade que vicejam
na obra divina.
Objetivando, sobretudo, o desenvolvimento destes fins,
os recursos materiais, necessários ao sustento da obra
fraternista são secundários e entregues ao labor humano,
afeitos às suas necessidades mais imediatas. Portanto,
sintam-se em liberdade para deliberarem como lhes aprouver
na busca das soluções indispensáveis à manutenção do
arcabouço físico sobre o qual se desenvolve o progresso
espiritual pretendido, sem olvidar jamais que a intuição é
idioma de fácil entendimento para aquele que segue os
preceitos morais implantados no imo da própria consciência.
Convocados a opinar, destarte, nossos superiores
recomendam, de fato, a disponibilidade da propriedade em
questão, a Fazenda Flamengo, saldando compromissos de “César”
a fim de que os “investimentos do Cristo” se libertem dos
onímodos fardos humanos e os esforços conjuntos se unifiquem
na reformulação dos valores eternos que realmente nos
interessam, confeccionando-se “tesouros que a ferrugem não
corrói e não se sujeitam ao assalto dos flibusteiros.”
Há necessidade urgente de que a máquina administrativa
do Movimento da Fraternidade se simplifique ao máximo
possível, evadindo-se do guante econômico, evitando-se o
desperdício de recursos e o desvio de verbas espirituais dos
títulos divinos, encaminhados prioritariamente para a
investidura na construção evangélica. Desgovernados pelas
exigências de “César”, os patrimônios da alma jazem oprimidos
pela sobrecarga de diligências improfícuas que sufocam os
sentimentos e deixam sedento o espírito; por isso, a
extinção da empresa RECIFRA é, sem dúvida, o caminho mais
condizente para que o labor no campo do Evangelho não
encontre óbices intransponíveis, retardando-se a marcha
indispensável rumo às luzes do Cordeiro.
O Condomínio Rural da Cidade da Fraternidade vem
atendendo ao que se espera de uma entidade voltada para um
escopo eminentemente cristão, apesar da espiritualidade ainda
aguardar maior rendimento no plano das vocações humanas para
que os esforços empreendidos não os deixem depauperados dos
bens divinos.
Se o ideal da fraternidade cristã é nortear nossos
passos, em momento algum estaremos inseguros quanto aos rumos
a seguir e o Senhor estará ao nosso lado, afugentando-nos as
incertezas da ignorância, que ainda prolifera em nossos
caminhos. E colimando nossas intenções estritamente nas rotas
do Evangelho, seguiremos a braços dados e a passos decisivos,
unidos para sempre no alcance da felicidade suprema.
Paz a todos.
Adamastor (sob a orientação de André Luiz)
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vitor, de Belo
Horizonte/MG, em 05/02/2002, pelo médium Gilson Teixeira Freire.
4
Jair Soares
Com motivada saudade lembramo-nos do desencarne do irmão Jair Soares, ocorrido
aos trinta minutos do dia 03/08/1992, no Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte, onde se
achava internado para tratamento de afecção cardiovascular.
Foi o fundador do mensário Voltando às Origens e do Grupo da Fraternidade Irmã
Ló, aos quais emprestou o calor de sua dedicação, com o mais puro idealismo. Tonou-se,
assim, merecedor da nossa imorredoura gratidão.
Nasceu na cidade de Teixeiras, em Minas Gerais, em 27/02/1910, e seus pais
foram Manoel Luis Soares Gomes e Laura Augusta Nogueira Soares. Aos 29 anos
transferiu residência para Belo Horizonte, então bucólica cidade, a qual passou a amar
como à própria terra natal.
Exerceu a profissão de Técnico em Contabilidade para várias casas comercias, até a
merecida aposentadoria. Dotado de ilibado caráter, profundo conhecedor da ciência
contábil, conquistou invejável reputação no comércio atacadista local.
Casou-se em 22/09/1932 com Elvira de Barros Soares, a Dona Ló como era
conhecida na intimidade. Foi o seu anjo bom pela vida afora. Do consórcio nasceram os
filhos Ed, Edgard, Elcy e Vila.
Nascido de família católica, converteu-se ao Espiritismo em 1934, conduzido pela
amorável esposa. Desde que chegou a Belo Horizonte passou a colaborar ativamente no
Centro Espírita Oriente, emprestando o brilho de sua dedicação em várias diretorias.
Sua residência à rua Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, era como que a Meca
do Espiritismo. A partir de 11/02/1949 assumiu a incumbência de coordenar as reuniões de
ectoplasmia que, à época, produziam fenômenos de materialização. Dadas suas
características, estas reuniões ficaram muito conhecidas e foram muitos os espíritas de
variadas cidades do Brasil que para ali acorreram para receberem o benefício dos
tratamentos espirituais ou para verem materializados os espíritos e ouvirem os seus sábios
conselhos.
Sessões memoráveis foram realizadas com o médium Francisco Peixoto Lins, o
Peixotinho, e depois com os médiuns Fábio Machado, Levi Guerra e Ênio Wendling.
Os livros "Materializações Luminosas" e "Forças Libertadoras", ambos do
consagrado escritor R.A. Ranieri, são repositórios de algumas dessas reuniões que
constituíram fase brilhante de materialização em nossa Pátria. Também os livros
"Movimento da Fraternidade", de Célio Alan Kardec de Oliveira, e "Materializações
Luminosas – Leis Cósmicas em Ação", de Dante Labatte, historiam com muita riqueza
estas inesquecíveis reuniões de materialização.
Nosso querido Jair Soares desfrutou de amizade estreita com Francisco Cândido
Xavier e com ele permutou inúmeras correspondências. No livro "Movimento da
Fraternidade" estão registrados tópicos dessas missivas inesquecíveis, todas elas retratando
comentários, particularidades e belezas dos acontecimentos durante as formosas reuniões
de materialização que aconteciam sob a direção da amorosa Scheilla.
Durante o exercício da sua presidência do Centro Espírita Oriente e à frente destas
reuniões de ectoplasmia, de inigualável beleza, surgiu o Grupo da Fraternidade Espírita
Irmã Scheilla. Em 04/11/1956, o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla e muitos
outros agrupamentos oficializaram a fundação da OSCAL – Organização Social Cristã
Espírita André Luiz, com a incumbência de conduzir, no plano físico, o “Movimento da
Fraternidade”, que representa a união voluntária de criaturas conscientes que, sob a égide
de Jesus Cristo, se propõe a espalhar à luz da Doutrina Espírita, a Verdade do Evangelho e
a praticá-la junto aos irmãos da humanidade.
Com rara alegria, fez inúmeras viagens pelo Brasil na companhia de irmãos
embalados pelos mesmos sentimentos, para levar a orientação e o espírito fraternal a
inúmeros grupos sensibilizados pelos ideais da fraternidade. Foi inesquecível para ele a
fundação da Cidade da Fraternidade, uma comunidade cristã-espírita localizada no
município de Alto Paraíso/GO, assentada nos mesmos propósitos da Casa do Caminho, nos
tempos primeiros do Cristianismo aqui na Terra, e foram incontáveis as viagens realizadas
pelo valoroso cristão-espírita àquele ambiente destinado a colher criancinhas órfãos e
espíritos viajores ainda da infância espiritual.
Após o desencarne de Dona Ló, ocorrido em 18/01/1971, adaptou a própria
residência para o funcionamento de mais um Grupo da Fraternidade Irmã Ló. Passou a
viver, então, inteiramente dedicado à intensa atividade espiritual e assistencial.
Entre outras instituições que também receberam o esforço de sua dedicação está o
“Abrigo Jesus”, a respeitável obra fundada pelo irmão Osório de Morais, que acolhe e
educa crianças desprotegidas. Durante anos foi o Diretor Tesoureiro dessa entidade.
Afastou-se de lá para fundar o Hospital Espírita André Luiz.
Jair Soares desencarnou no dia 02/08/1992 e o velório foi realizado na sede do
Grupo da Fraternidade Irmã Ló, transcorreu em ambiente de preces e suaves canções
espiritualizantes entoadas pelos Corais Espíritas “Irmã Ló” e “Irmã Scheilla”, em cenário
de resignada saudade. Falaram os fraternistas Ruth Birman, Pedro Ziviani e Jarbas Franco
de Paula.
Pouco tempo depois ele se manifestou, recebendo a incumbência de participar da
reunião de orientação espiritual às segundas-feiras, no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã
Scheilla. Em muito dos encontros regionais fraternos e em todas as Semanas da
Fraternidade, Jair Soares tem sido visto por médiuns clarividentes junto de outros espíritos
que se devotaram também à causa fraternista, com evidência de que ele prossegue a sua
jornada de dedicação à implantação do Evangelho de Jesus na nossa Pátria.
5
Rubens Costa Romanelli
Há seres que justificam e enobrecem a espécie humana: os sábios e os cientistas,
pelo valor intelectual; as criaturas generosas e puras, pelo valor moral. Alguns poucos
surgem com conteúdos de inteligência, de sabedoria e peregrina conduta moral; dentre
esses destaca-se a figura do professor Romanelli.
Órfão de mãe ainda pequenino, aos 11 anos de idade trabalhou na estrada de ferro
oeste de Minas Gerais, em Divinópolis, como ajudante de mecânico; aos 14 anos, já em
Araxá, desenvolveu habilidades nas profissões de carpinteiro e marceneiro. Aos 21 anos
transferiu-se para Belo Horizonte onde pode retomar os estudos. Concluiu o curso de
madureza e depois graduou-se no curso superior de Letras.
Dedicou-se ao Magistério lecionando português e latim em inúmeros
estabelecimentos educacionais. Na Universidade Federal de Minas Gerais, ele conquistou,
os graus de doutor, de livre-docente e de professor titular da cadeira de língua latina. Fez o
curso de especialização em Gramática Comparada das Línguas Indo-Européias na
Sorbonne/França, entre os anos de 1966 e 1967, e concluiu o curso de Filologia Latina
(lexiologia latina e ciência dos textos), tornando-se uma criatura de renomados
conhecimentos.
Participou da fundação do Colégio “O Precursor”, da União Espírita Mineira, e foi o
primeiro diretor pedagógico da entidade. Em 1939, Romanelli, Noraldino de Mello Castro
e Eugênio Carlos Monteiro fundaram a União da Juventude Espírita de Minas Gerais, que
foi a segunda criada no País. Em 20/05/1941 ele propôs a incorporação da União da
Juventude Espírita de Minas Gerais ao Centro Espírita Oriente.
Em 29/09/1948 cooperou para a fundação da Mocidade Espírita Maria João de
Deus no Centro Espírita Oriente. Neste dia memorável, Francisco Cândido Xavier, de
quem Romanelli privava intimidade e sólida amizade, se fez presente e, ao final da
solenidade, recebeu um poema dedicado aos jovens com o título de “Apelo à Mocidade
Espírita-Cristã” , de autoria do espírito Castro Alves.
Como escritor, suas publicações de maior envergadura foram: “Vocabulário Indo-
Europeu e seu Desenvolvimento Semântico”; “A História das Idéias através da História das
Palavras, em trinta línguas da Família Indo-Européia”, ambos publicados pela UFMG.
Como escritor espírita, produziu, além de inúmeros artigos para jornais, o livro “O Primado
do Espírito”, obra de rara beleza intelectual e moral.
O seu envolvimento com o Centro Espírita Oriente passou a acontecer mais
intensamente, a partir de 16/12/1940, quando aceitou o cargo de Vice-Presidente da
Diretoria Executiva, acumulando a responsabilidade de dirigente da reunião pública da
sexta-feira.
Romanelli foi um dos poucos agraciados que lograram participar ativamente e
durante largo tempo das inesquecíveis reuniões de materialização que ocorreram com os
companheiros do Centro Espírita Oriente, na rua Paraisópolis 658, no Bairro Floresta, em
Belo Horizonte. A sua natureza altamente sensível, o espírito investigativo e com
propensão para penetrar na ciência das coisas, além da sólida formação cristã-espírita,
certamente outorgaram-lhe merecimento para estar em comunhão com acontecimentos
raros, envolvendo contatos, de forma tangível, com os espíritos benfeitores do além túmulo.
Nessas reuniões de efeitos físicos, conhecidas também como reuniões de ectoplasmia, os
espíritos procediam a tratamentos de doentes portadores de enfermidades com as mais
diferentes etiologias, derramavam conselhos e fartas orientações sobretudo para as
atividades de Casas Espíritas de outras cidades além de produzirem outros fenômenos
ectoplásmicos.
Entusiasmou-se com as orientações que vertiam dos espíritos que se corporificavam
nessas assembléias inesquecíveis capitaneadas pela figura respeitável e bondosa do espírito
Scheilla.
O professor Romanelli era muito requisitado e sempre disponibilizava o seu tempo
sem comprometimento da qualidade dos serviços realizados; tanto é que dedicava-se à
União Espírita Mineira, ao Abrigo Jesus, de quem participou da fundação junto com
Alencar Braga, além de ter servido durante um certo tempo e com espírito de dedicação
cristã ao Centro Espírita Amor e Caridade, no bairro Floresta.
Realizou conferências e seminários em vários Grupos da Fraternidade Espírita
espalhados pelo Brasil e participou de várias Semanas da Fraternidade, evento que
congrega os fraternistas adesos aos ideais da fraternidade sob a condução da OSCAL.
Um acidente automobilístico ocorrido nas proximidades de Itápolis, cidade de São
Paulo, ocasionou o seu desencarne como também o de sua esposa, a professora Otaiza de
Oliveira Romanelli, e também o de sua filhinha Elisa. Cessou, assim, sua experiência
reencarnatória mais recente na Terra.
Durante a "Palavra da Espiritualidade", em 25/07/04, no 62º Encontro da 1ª Região
Fraterna dos Grupos da Fraternidade Espírita adesos à OSCAL, realizado em Barra de
Guaratiba/RJ, o espírito Romanelli, para alegria de todos, deixou a mensagem a seguir,
recebida pela mediunidade psicográfica de Léa Neves de Souza.
Posto Avançado
Valeu a pena o sacrifício que fizemos
Porque a semente meus amigos produziu
Posto avançado da verdade que aprendemos
Multiplicando-se por todo o Brasil
Ideal que nosso esforço conduziu
Uma bandeira que sempre defendemos
Foi assim que a querida OSCAL surgiu
E por isso junto a ela nós crescemos
Caminho aberto à espiritualidade
O coração pulsando na fraternidade
Sob o carinho do amado benfeitor
Das esferas luminosas onde brilha
O espiritismo será sempre a cartilha
Nos ensinos sagrados do consolador
Rubens Romaneli
6
Daniela Moura Teixeira
Peço permissão para contar uma história que muito tocou
meu coração. É uma história de amor e renúncia, em que os
ingredientes da dor e do sofrimento solicitaram de sua
protagonista altas doses de coragem, fé e resignação,
próprias das almas que já aprenderam a confiar no Senhor.
Trata-se da nossa irmã Daniela Moura Teixeira.
Ainda jovem, aos 10 anos de idade, ela notou, pela
primeira vez, uma alteração no osso da mandíbula, que seu
dentista acreditava tratar-se de uma tumoração benigna,
confirmada pela análise do material de biópsia. Na época, foi
submetida a raspagem, tendo prosseguido a vida sem maiores
preocupações.
Aos quinze ano de idade, por conta própria, ela procurou
uma espírita para freqüentar, achando-a no catálogo
telefônico, dentre as que estavam mais próximas de sua
residência. Foi assim que ela conheceu o Grupo da
Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, em Belo Horizonte, e
logo afeiçoou-se à tarefa de visitação ao hospital
psiquiátrico Raul Soares. Este fato causou admiração aos
companheiros de equipe, não habituados a ver uma pessoa tão
jovem procurar uma tarefa daquela envergadura; e, por outro
lado, causou desgosto ao seu pai, que não era espírita e não
entendia o porquê de sua filha, tão moça, enveredar-se por
esses caminhos.
Mais tarde, já membro atuante da Mocidade Espírita Maria
João de Deus, conheceu aquele que seria seu futuro marido e
companheiro de lutas.
Aos 18 anos submeteu-se a nova cirurgia devido a
recidiva da tumoração, agora não mais com o diagnóstico de
fibroma, mas de hemangioendotelioma. No ano seguinte ela
iniciou o curso de medicina, cheia de alegrias e sonhos.
Os anos transcorreram em relativa calmaria até que, no
terceiro ano do curso de medicina, ela se submeteu a nova
intervenção cirúrgica, desta vez mais agressiva, com
ressecção de metade da mandíbula, devido ao mesmo tumor que
teimava em não abandoná-la. Dois anos mais tarde fez uma
cirurgia complementar reparadora, com a colocação de
implantes dentários. Mas a nossa companheira não se abalava!
Apesar de muito jovem, experimentando deformidades e dores,
jamais reclamava e nem permitia que as sombras do pessimismo
anuviassem seus sonhos de um futuro promissor.
Vencendo barreiras e dificuldades, chegou ao último ano
de graduação do curso de medicina, novamente surpreendida
pela recidiva do tumor, agora de forma diversa, em um gânglio
localizado na região cervical. Desta vez ela se submeteu ao
procedimentos de ressecção e radioterapia, como tratamento
coadjuvante. Convém relatar que este tipo de tumor é
extremamente raro: o seu caso foi catalogado como o 14°
identificado em todo o mundo. Em razão disso, foram maiores
as dificuldades de leitura prognóstica e de decisões
terapêuticas pois os médicos não tinham experiência e não
estavam familiarizados com a evolução desta enfermidade.
Finalmente ela se graduou e ingressou quase que
imediatamente nas lides de trabalho no município de
Contagem, na condição de médica de família. Ao mesmo tempo,
iniciou ao lado de seu noivo, também médico, o curso de
especialização em homeopatia, concluído com excelente
aproveitamento três anos mais tarde.
A vida continuava a transcorrer para esta jovem
admirável, como se nada de mal tivesse lhe acontecido. No
lar, era a luz que fazia abrir os sorrisos onde antes havia
tristeza. No trabalho, era a médica dedicada e competente, a
espargir o perfume invisível do amor junto aos enfermos. Por
onde ela passava, granjeava amigos e admiradores. Seus
pacientes a adoravam, seus subordinados e colegas de trabalho
dedicavam-lhe grande estima e respeito, pois a todos tratava
com carinho, cordialidade e amor. Vezes inúmeras foi a mão
caridosa e anônima a socorrer os mais infelizes, extrapolando
as funções de auxílio que a própria profissão lhe facultava.
Tinha prazer no que fazia, o trabalho de cada dia era a sua
bênção, fortalecendo-lhe o coração nas lutas interiores.
No ano seguinte casou-se; alguns meses depois seu lar
recebeu uma linda criança na condição de filha querida,
dando as primeiras vazões ao seu coração de mãe dedicada.
Mais dois anos transcorreram e Daniela decide ter outro
filho, seguindo os fortes impulsos do coração, como se uma
voz já lhe dissesse, no imo da alma, que ela não tinha tempo
a perder, pois que novas realizações espirituais estavam
reservadas a ela.
Mas eis que nas proximidades do terceiro mês de
gestação, o seu corpo começa a sinalizar problemas mais
graves. A dispnéia acusa de forma inegável que algo terrível
estava acontecendo em seu pulmão, antes saudável. Aguardando
o tempo propício para a realização dos exames radiológicos,
descobre que o pulmão já estava largamente tomado pelas
metástases daquela enfermidade pertinaz.
O choque é terrível para ela e o marido. Aquilo era como
uma condenação à morte, e no entanto, ela estava ali
albergando uma nova vida em formação. Milhares de perguntas e
dúvidas perpassam as mentes daquele jovem casal, cujo futuro
era agora incerto. Afinal, qual a melhor atitude naquele
momento crucial de suas vidas? Seria possível levar a
gestação a termo? E os riscos para a mãe e para o feto? Não
seria justificável, até pela própria doutrina espírita, o
aborto terapêutico, quando havia risco de vida inquestionável
para a mãe?
Mas não havia espaço para dúvidas em seu coração
grandioso e em sua mente não havia campo para pensamentos
outros que não os de vida... e vida em abundância. Chorou
copiosamente, um pranto que nos seria quase impossível
decifrar, mas que talvez já significasse o reconhecimento
pelo seu espírito das duras provas que a aguardavam, no
limiar de uma nova vida.
Prosseguiu a gravidez, de alto risco para mãe e feto. Os
exames realizados revelam que as metástases estavam
generalizadas pelo corpo, atestando uma enfermidade assaz
avançada, e muito provavelmente incurável do ponto de vista
humano.
Reuniões de tratamento espiritual, que já haviam sido
realizadas em etapas anteriores no curso das intervenções
cirúrgicas e da radioterapia, são neste instante reiniciadas
no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vítor. Durante o
tratamento, a palavra amiga dos mentores é sempre de
incentivo e reconhecimento, diante da postura moral e fé de
nossa companheira. Jamais prometeram a cura, afirmando vez
por outra o caráter cármico da dolorosa experiência. O
consolo, porém, também jamais faltava, incutindo-lhe coragem
e resignação.
Durante os últimos cinco anos de enfermidade,
concomitantemente ela fez tratamento homeopático. Assim, a
somatória dos recursos da medicina, da fé e da terapêutica
espírita, eram a sua sustentação nas provas dolorosas, no
resgate indispensável.
A gravidez transcorreu penosa do ponto de vista físico,
embora interiormente o único pensamento que ela tinha era de
poder conceber aquela criança, com a qual sentia ter um forte
compromisso, assumido antes da atual reencarnação. O seu
coração de mãe não se enganava: aquela era sua maior missão
neste instante.
As complicações esperadas não tardaram a aparecer,
sobrevindo a piora da dispnéia pelo derrame pleural
neoplásico e anemia, forçando o curso para uma interrupção
mais precoce da gravidez, com 29 semanas.
Outra drama se iniciava, pois que além da luta pela sua
sobrevivência, através do tratamento quimioterápico,
altamente tóxico e debilitante, também a criança, muito
fragilizada, começava sua via crucis, nos longos cinco
meses de sofrimento em que esteve internada na UTIP – Unidade
de Terapia Intensiva Pediátrica e se submetido, inclusive, a
intervenções cirúrgicas. E no dizer dos próprios médicos, a
sobrevivência da criança foi um verdadeiro milagre para a
medicina, tamanhas foram as complicações.
Durante todo o período de internamento do filho, esta
mãe abnegada, embora extremamente fraca e debilitada pela
doença e pelo tratamento, ai todos os dias visitar o seu
querido bebê, para que não lhe faltasse a presença amiga, a
cantiga doce, a prece fervorosa, as lágrimas balsamizantes,
as palavras de esperança.
O final, meus irmãos, ainda está sendo escrito. O que
sabemos é que ela veio a desencarnar dois meses depois que
seu filho recebeu alta hospitalar, já devidamente
restabelecido. A vida aguardara tão somente o tempo
necessário para que seu espírito, mais tranqüilo e seguro do
dever cumprido, pudesse retornar vitorioso ao plano do
imortais, para continuar sua caminhada evolutiva.
Para nós, fica seu exemplo de fé, coragem, determinação,
resignação, amor e renúncia, até da própria vida. Porque
aquele que perde a sua vida, por amor ao Cristo, na pessoa do
próximo, a ganha na glória da eternidade.
Seu exemplo permanece indelevelmente gravado na memória
de todos que puderam conviver com esta criatura
extraordinária. Nos momentos finais de sua dura prova, na
agonia da dispnéia, jamais a vimos reclamar ou demonstrar
qualquer atitude de revolta e covardia.
Seu desencarne ocorreu no dia 12/08/2004, em meio a
preces fervorosas, cânticos de louvor, sendo permeado por
emoções intraduzíveis e somente compreensíveis quando
reconhecemos a grandeza e a bondade infinita do criador da
vida!
O exemplo espírita de fé e confiança ficou gravado na
retina espiritual de todos os que compareceram ao velório de
Daniela. Embora a tristeza e a saudade, sem revolta nem
desespero, a certeza da imortalidade foi confirmada ali
mesmo, por espontânea manifestação mediúnica psicofônica do
espírito Scheilla pelo médium Oswaldo Miranda, em meio aos
hinos entoados pelo Coral Espírita Irmã Scheilla. Um dia, os
velórios no mundo serão marcados pelo selo da esperança e da
imortalidade indefectível.
Ficamos sabendo que, ainda durante seu velório, dois
espíritos seareiros do Movimento da Fraternidade, o Almir
Fontoura e o José Grosso, conversavam, mais ou menos nestes
termos. O Almir a dizer que o exemplo da Daniela lembrava-
lhe a passagem evangélica do centurião romano, quando este
pediu para Jesus curar seu servo sem necessitar ir
fisicamente ao local; o Cristo comenta jamais ter visto
tamanha fé em toda Israel. E que Daniela havia cumprido
fielmente a sua missão, particularmente de dar a vida àquela
preciosa criança.
No livro "No Mundo Maior" André Luiz comenta: ... e
recordando Cipriana, com sua milagrosa atuação salvadora,
compreendi que a mulher, santificada pelo sacrifício e pelo
sofrimento, se converte em portadora do Divino amor maternal,
que intervém no mundo para enobrecer o sentimento das
criaturas. É este amor maternal, que se multiplica em tantos
corações femininos no mundo, que opera os milagres da
transformação das criaturas endurecidas, que dormitam nas
faixas sombrias do primitivismo humano.
Possamos nós, um dia, compreender a grandiosidade do
sentimento do Amor, que encontrou a sua expressão máxima no
exemplo do Cristo, ele que sacrificou a própria vida no
madeiro infamante para depois ressurgir na glória da
imortalidade, deixando-nos a certeza de que somente aqueles
que morrem para o mundo alcançam a eternidade, na divina
alegria de servir a Jesus.
Obrigado Daniela. Que Deus a abençoe na nova etapa que se
inicia, para que você recomece, radiante e vitoriosa, seus
esforços de aperfeiçoamento na seara bendita de Jesus. Até
breve...”
Este relato surgiu das mãos de Thales Onofri de Oliveira, um filho que Deus me deu
de presente e que as circunstâncias sublimes da vida imortal ligaram à Daniela, igualmente
um espírito que tenho na conta de filha legítima do coração. Na presente encarnação, eu a
conheci antes que o Thales, ela ainda menina-moça, nas tarefas de visitação aos pacientes
psiquiátricos no Hospital Raul Soares. Daniela e eu tivemos oportunidades de efetuar
algumas viagens para participarmos de Encontros Regionais do Movimento da
Fraternidade, onde realizamos conjuntamente estudos e seminários, tendo sido
inesquecíveis os eventos de Juiz de Fora/MG, Bicas/MG, Vila Velha / ES.
Na Semana da Fraternidade realizada em 2003, no SESC/Venda Nova, em Belo
Horizonte, quando já ocorrera a reincidiva do câncer com um dos tumores grassando e
atingindo o pulmão, ei-la solícita não arredando fé em participar do encontro
espiritualizante, buscando forças inauditas e silenciosamente falando a nós: "estou doente
mas eu sou saúde!" Não transpareceu para ninguém o seu estado orgânico enfermiço e foi
com muita emoção que juntos apresentamos o seminário e participamos dos debates em
torno do tema “Atendendo almas e corpos”.
Com raro entusiasmo, Daniela participou da Mocidade Espírita Maria João de Deus
e esteve presente em várias COMEMOFRA – Confraternização das Mocidades Espíritas do
Movimento da Fraternidade. Era lidadora em reunião mediúnica de desobsessão,
desincumbindo-se, com muito êxito, na confabulação com os espíritos sofredores. Amava
também a tarefa de orientação espiritual da Casa de Scheilla, onde era dedicada integrante.
Esta reunião, que é uma característica dos agrupamentos ligados ao Movimento da
Fraternidade, guarda o propósito de ouvir instruções, seja pela psicografia ou psicofonia, de
mentores espirituais sobre variados assuntos, desde os relativos a questões de trabalho do
agrupamento até as indicações de terapêuticas espirituais e conselhos a irmãos que portam
cargas emocionais conflitivas e aflições de variados matizes.
Até o limite de suas forças físicas esteve integrada no trabalho de assistência a
famílias em estado de exclusão social desenvolvido na Casa Espírita André Luiz, unidade de
assistência social espírita do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla. Além do
atendimento médico homeopático que prestava, aos sábados, às crianças das famílias
assistidas pela Casa, Daniela colaborou ativamente na organização do programa e na
condução do Curso para Gestantes que é realizado mensalmente na Casa Espírita André
Luiz.
Com isenção e cautela, relatamos o ocorrido em reunião de desobsessão no dia
19/09/2004 no Centro Espírita Campos Vergal localizado na Colônia de Hansenianos Santa
Isabel, em Betim / MG. Há mais de dez anos, em todo terceiro domingo do mês,
participamos da tarefa de visitação aos enfermos da referida colônia. A reunião mediúnica,
que precede a tarefa de visitação, dispõe de equipe mista de trabalho, com médiuns tanto do
Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla como do Centro Espírita Campos Vergal.
Estabelecíamos conversação com um espírito sofredor, vitimado por lepra na sua
existência última. Depois de um certo tempo, quando mais acalmadas estavam as suas
emoções, ele aludiu à presença de uma jovem muito bonita, que tocava-lhe as mãos e
mencionava ter deixado a Terra recentemente. A jovem manifestou o desejo de ajudá-lo para
que, em breve, ele pudesse restabelecer o seu estado de saúde e de paz. Espontaneamente o
manifestante declinou o nome da sua benfeitora: Daniela!
De nossa parte fomos cuidadosos, pois raros espíritos podem se manifestar tão
precocemente, ainda sejam eles dotados de elevado estatura moral e clarividência espiritual.
Contudo, a citação do nome remetia para essa possibilidade. A médium reside a colônia
Santa Isabel e não tinha conhecimento do desenlace e nem do nome de Daniela.
Já mais ao final da reunião de desobsessão, outra médium dá passividade à própria
Daniela e com ela travamos, com muita emoção, um colóquio inesquecível. Ela relatou a
acolhida generosa que recebeu no mundo espiritual, para ela imerecida, e exprimiu sua
alegria por ter convivido e trabalhado na Casa de Scheilla. Em lágrimas e comunicando o
mesmo tipo de emoção a nós presentes, ela agradeceu a Deus pela bênção da enfermidade e
pela riqueza da família.
Considerou sublime o amor erigido no seu lar e o presente de Deus na forma de
filhos, certa de que os tesouros de sua vida estarão bem protegidos pelos familiares. O
silêncio foi a forma mais bendita de despedida.
A Medicina do Amor
Pela nossa comunhão de idéias, Daniela e eu conversávamos com habitualidade. Por
isso, sinto-me à vontade para discorrer acerca de um fato interessantes de sua vida. Era
médica da família em Contagem, vizinha cidade de Belo Horizonte. Em uma de suas visitas
ao um bairro muito afastado e pobre ela foi assistir a uma senhora com quem já estivera
antes, sendo portadora de um carcinoma com prognóstico irreversível e delineando um
estado de muita gravidade.
A senhora já idosa estava muito arredia, não conversava, revelava sintoma de
profunda depressão, com o quadro agravado por estar sofrendo de incontinência urinária.
Não houve sucesso na abordagem e a médica retirou-se triste por não ter sido possível
deixar o alívio e o reconforto conforme o seu coração pedia. Deu seqüência às outras
visitadas programadas para aquele dia.
A imagem da sofrida mulher não lhe escapava dos íntimos pensamentos e considerou
por bem, à noite, assistir a reunião pública na Casa de Scheilla com o objetivo de ajustar
melhor as emoções do seu ser. No lar, confidenciou ao esposo as ocorrências do dia e este
sugeriu que ambos viajassem de encontro ao Criador da Vida, orando em benefício da
infeliz irmã que não dispunha de compreensão e forças para vencer a si mesma no
testemunho de uma enfermidade tão insidiosa como é o câncer. Foram dormir albergando os
presságios mais indescritíveis para quem convive com a paz aqui na Terra.
Acordou e comunicou ao amado companheiro sua disposição em alterar a agenda do
dia para fazer nova visita à paciente e no ensejo levaria uma cesta básica para a família em
estado de miserabilidade. Ministraria também à paciente um medicamento homeopático.
Quando chegou à residência em menção, para a sua surpresa, a paciente é quem veio atende-
la, nestes termos:
- Doutora, a senhora aqui? Que bom! Graças a Deus!...
- Sim, voltei, queria muito ver a senhora.
- Sonhei a noite que a senhora viria hoje a minha casa mas quando acordei caí na
realidade, pois isto não passara de um sonho. Vejo agora que ele era real. Posso
abraçá-la?
Enquanto permutavam o abraço sincero lágrimas furtivas percolavam a face de uma
e de outra, dando vazão as emoções que promanam do coração visitado pelo amor.
- Doutora, desde a madrugada que eu estou curada do problema da urina e agora
nem tenho motivos mais de envergonhar-me diante dos familiares que tem sido
tão importantes para mim.
- Isto mesmo, confie sempre em Deus e recorra a Ele em preces sinceras sobretudo
nos momentos de desânimo e Ele sempre trará os recursos para que a senhora,
dia após dia, tenha forças para lutar contra a prova difícil da enfermidade.
Nós, cristãos-espíritas, guardamos a convicção de que o espírito de Daniela,
provavelmente com o do esposo, exteriorizou-se à noite e visitou a criatura desalentada e
sem desejo de viver. Na visita fraterna, foram deixadas, para a enferma, energias radiantes
do amor que agiram no psiquismo da enferma, alterando-lhe as disposições íntimas. Como
resultante, foi amenizado o quadro do transtorno depressivo com ação imediata no
organismo de modo a corrigir uma disfunção em órgão importante do corpo físico.
1
PTP - Programa de Trabalho Permanente
Uma das mais belas preciosidades que a OSCAL produziu foi o seu Estatuto Social,
que espelha o modelo e a filosofia que norteiam a condução do Movimento da
Fraternidade, movimento este que guarda a missão nobre da revivescência do Cristianismo
Primitivo e da divulgação das verdades do Evangelho de Jesus sob a égide da Doutrina
Espírita.
Tal Estatuto foi fruto do labor de cinco seareiros espíritas: Luiz Sabino Neto,
Djalmas dos Santos Ferraz, José Silveira Baessa, Arym Moisés e João Martins da Silva;
os três primeiros com formação no campo jurídico.
Durante seis meses consecutivos, em três dias da semana, eles devotaram o seu
tempo com reuniões demoradas na Casa Espírita André Luiz (em Belo Horizonte), valendo-
se dos seus conhecimentos espíritas, de consultas ao Evangelho e das atas das inesquecíveis
reuniões de materialização levadas a efeito à rua Paraisópolis nº 654, Bairro Santa Tereza,
em Belo Horizonte, ocasião em que espíritos de elevado padrão espiritual derramaram belas
mensagens e sábios conselhos.
Duas questões fervilhavam na mente dos abnegados lidadores oscalinos: uma
atinente à advertência dos espíritos que houveram se materializado e reiterado “é preciso
retornar às origens”; outra, da necessidade de inserir na referida carta estatutária a linha
filosófica norteadora da vida dos agrupamentos com atividades no Movimento da
Fraternidade. Depois de muito confabular e de endereçar preces ao Criador da Vida, eles
encontraram as respostas em uma das atas acima referidas. O fato se deu na reunião de
materialização de 11 de outubro de 1949, quando os espíritos estabeleceram diretrizes de
trabalho para os Grupos da Fraternidade, com o título “ORGANIZAÇÃO, TRABALHO E
FINALIDADE”.
Luiz Sabino Neto, médium ostensivo, relatou que sentiu-se numa relva verde,
ladeado por espíritos amigos. Experimentou o encantamento de uma natureza de
inenarrável beleza a emoldurar sua visão espiritual e foi possível registrar a fala doce e
pausada do padre Vítor que o esclareceu quanto aos objetivos reais da espiritualidade
acerca dos pontos em menção. O retorno às origens tem o significado do trabalho efetivo e
real na causa do Cristo. Já estava superado o período das materializações luminosas de
espíritos e outros fenômenos ectoplásmicos, que certamente tiveram sua importância, mas,
doravante, cabem ações práticas de vivência do Evangelho de Jesus.
O espírito exteriorizado do Sabino, atento à prédica do mentor espiritual, registrou
o conteúdo de caráter norteador do Estatuto Social da OSCAL - o PROGRAMA DE
TRABALHO PERMANENTE (PTP) -, certamente o detalhamento de “Organização,
Trabalho e Finalidade” que os espíritos transmitiram na inesquecível reunião de
11/10/1949. O PTP sinaliza para uma compreensão mais sublimada dos deveres da Casa
Espírita e a linha de ação que devem levar a termo de modo a cooperarem efetivamente na
consolidação do trabalho que o Cristo delineou para a evolução da humanidade.
Na reunião seguinte, raro entusiasmo tomou conta do coração dos membros da
comissão, na medida em Sabino transmitia as lembranças tão amorosamente guardadas na
sua memória: é que foram tomando forma os aspectos inequivocamente mais importantes
do Estatuto, por conterem matizes de efetivo trabalho na seara cristã.
Também por orientação dos amigos espirituais, em 18/10/1949 foi oficialmente
instalado o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla (de Belo Horizonte), o Grupo-mãe
do Movimento da Fraternidade.
O Programa de Trabalho Permanente (PTP) tem como proposta:
a) Ensino da Doutrina Espírita e do Evangelho
b) Assistência Social Espírita
c) Tarefa de Passes
d) Formação de Ambientes Espiritualizantes.
A seguir transcrevemos a mensagem de autoria do espírito Adamastor, recebida no
Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vitor, de Belo Horizonte, pelo médium Gilson
Teixeira Freire, em 10/10/1992, que expõe, com grande beleza, os deveres espiritualizantes
dos nossos agrupamentos cristãos espíritas.
A Missão do Grupo da Fraternidade
A paz do Senhor esteja em nossos corações!
Recordemos hoje os três princípios que norteiam a
formação de um agrupamento espírita cristão, para assim
revisarmos os delineamentos que estruturam a nossa entidade.
Os mentores do movimento espírita já de muito
estabeleceram, que os núcleos espíritas deveriam ser
estruturados nos seguintes princípios:
1 - Difusão das verdades eternas do espírito;
2 - Atendimento aos carentes do corpo e da alma;
3 - O estabelecimento de relações fraternas entre os
membros.
O espírita sincero e devotado ao seu ideal deveria
dedicar-se à vivência destes três objetivos. Não são senão o
desdobramento do mandamento deixado pelo Espírito de Verdade:
amor e instrução.
No exercício do primeiro, o discípulo se desdobra no
aprimoramento de seus conhecimentos das verdades sublimes,
para então difundi-las aos sedentos de alma. Para isso, a
literatura espírita está farta de ensinamentos, sendo dever
de cada um praticar o exercício constante do aprendizado e o
esforço para a difusão dessas verdades, dirigidas às mentes
já preparadas, certos de que não convencemos ninguém e nem
podemos doar a contra gosto aquilo que nos parece bom. O
patrimônio mental de cada um está perfeitamente adaptado à
sua realidade evolutiva, e a verdade requer uma mente apta a
recebê-la, pois a Luz, quando muito intensa, poderá cegar os
olhos ainda não preparados para mirá-la.
A difusão das verdades que libertam do mal e da
ignorância deve merecer do Grupo especial empenho. Representa
o maior patrimônio que podemos adquirir e distribuir, pois é
o único que levaremos conosco. Possui força de renovação
capaz de tirar o homem da miséria espiritual. Os mentores
atentam para o carinho com que devemos tratar o assunto. Na
atualidade, o melhor meio para realizar tal desiderato é
pelo do estudo comprometido em forma de cursos, estruturados
em didática superior, para que o conhecimento se fixe com
valor e responsabilidade. Recomendamos, assim, a instituição
de cursos formais com programa definido, participantes
regulares e expositores devidamente habilitados. Cursos de
Doutrina, de Evangelho, de Mediunidade, de Passes, e outros
que atendam às necessidades mais prementes de todos. Cursos
estruturados em um programa lógico e de desenvolvimento
continuado.
O freqüentador assíduo encontrará melhores condições de
participação e mais facilmente será integrado como
colaborador do agrupamento. O aprendiz estará melhor motivado
e apto a dar seqüência ao seu progresso dentro da doutrina
salvadora.
As palestras isoladas são necessárias para o neófito,
pois são os seus primeiros contatos informais com a Doutrina
Espírita; porém, elas não se prestam à continuidade do
engajamento daqueles elementos mais aptos e capacitados a uma
elaboração elucidativa e responsável dentro da doutrina.
Tais elementos poderão logo cair no tédio e, com enfado, irão
buscar outras fontes que saciem sua sede de conhecimento mais
aprimorados.
O segundo princípio objetiva adestrar o colaborador na
arte cristã de servir e amar sem medidas: compreende a
assistência espiritual. Enquanto esta estabelece valores
eternos, a assistência material, atendendo as necessidades
físicas básicas, propicia a formação de um campo de simpatias
favoráveis à semeadura evangélica, ao mesmo tempo que lhe
permite a subsistência da vida. Trata-se de uma continuação
do primeiro. Aqui, o agrupamento espírita deverá empenhar-se
na distribuição de consolos, beneplácitos, acolhidas amorosas
e donativos materiais aos carentes de toda sorte.
Tornar-se-á apto, assim, a atender às diversas carências
do corpo e do espírito que serão estudadas e atendidas na
medida do possível. A verdade que consola, o carinho amigo, o
passe, o recurso da água fluidificada e a visitação aos
enfermos complementam a assistência cristã. O tratamento
espiritual, baseado na ectoplasmia, deve objetivar elementos
selecionados, desde que nem todos estão aptos ao seu devido
aproveitamento, pois temos observado que muitos elementos
destinados para tal terapêutica por caridade, menosprezam o
esforço de abnegados trabalhadores, incapazes que são de
aproveitarem a oportunidade a eles dispensados. A Providência
Divina não deve se prestar a esbanjamentos.
Uma metodologia própria deverá nortear a prestação de
serviço material que objetive sobretudo a não manutenção do
ócio no assistido, mas que o oriente numa troca de benefícios
facilitados, visto que, na vida, tudo é troca de valores.
Cooperadores ainda não preparados para a difusão do pão
espiritual poderiam iniciar o exercício do serviço cristão,
distribuindo o pão material como primeiro adestramento de
trabalho. As campanhas de alimentos e roupas, de costuras e
outros serviços habilitarão o trabalhador, que posteriormente
irá progredindo até tornar-se apto a prestação de serviços
espirituais. Então ele será encaminhado aos cursos de
formação espiritual e poderá ingressar-se nas tantas
especialidades, como a visitação aos enfermos. O colaborador
passaria, assim, por uma ordem de maturação natural e estaria
melhor preparado para o serviço cristão. Seu convívio no
agrupamento também seria facilitado, absorvendo-lhe
totalmente o entusiasmo e construindo enormes possibilidades
de serviços. Terminará como palestrista, passista,
colaborador vibracional ou apto a exercer funções
administrativas de confiança.
É verdade que alguma vez encontraremos companheiros, que
devido as suas conquistas anteriores, poderão saltar etapas,
realizando em menor tempo as tarefas diferenciadas, quando
derem mostras de seus valores espirituais. Porém, a grande
maioria deverá passar por esses estágios de amadurecimento
progressivo.
Recordemos que o objetivo maior é a transformação do
assistido, revertendo assim a profunda carência espiritual em
que vive o homem terreno. Sem olvidar que aquele que coma do
pão espiritual é que verdadeiramente saciará a sua fome. A
distribuição do pão material é apenas um ato de caridade e
uma oportunidade para adentrar-se no coração do mais
necessitado. Prestando-se ainda para adestrar-se o
trabalhador na arte de servir, sensibiliza-lo para as
carências humanas, facilitando a sua renovação espiritual.
E finalmente observemos o último objetivo mencionado,
que é o estabelecimento das relações fraternas entre os
membros ativos da instituição. Aqui, o companheiro deverá se
habilitar na arte do convívio cristão, renunciando aos seus
interesses egoísticos em favor do interesse da comunidade,
onde o irmão, qual célula de um organismo, deve trabalhar em
função desse organismo, crescer e se fortalecer. Se, no
âmbito da instituição, o beneficiário recebe os valores do
seu esforço em forma de interesses isolados, o tumulto se
estabelecerá, comprometendo sua própria existência, qual
célula cancerosa que, no afã de crescimento egoístico, leva à
falência o organismo que a sustenta e, com isto, a sua
própria vida.
Aqui, o irmão se chama fraternista e se esforça para
olvidar seus melindres, seus rancores e antipatias, para
viver a cooperação em toda a sua plenitude. Aqui, o irmão se
afasta do jogo de interesses mesquinhos e da busca do brilho
pessoal.
Nosso objetivo deve ser amar e desempenhar um papel na
ordem das comunidades do Cristo, a fim de nos sustentarmos na
Sua causa. Para isso, precisamos ajustar personalismos,
sentimentos doentios que nos pedem glórias, respeito,
importância, consideração e outros vernizes que, se nos fazem
brilhar diante dos homens, obscurecem-nos diante de Deus.
Ante o irmão mais problemático, facilitemos
oportunidades de diálogo. Perante o colaborador
irresponsável, eximir-se de cobranças inoportunas que ainda
mais poderão afastá-lo. Frente aos ânimos exaltados
apliquemos a doçura.
Recordemos que somos soldados de um novo exército
enfrentando uma nova batalha. A batalha contra nós mesmos.
Soldados armados de benevolência e passividade.
Os laços da fraternidade se dilatam tornando o
agrupamento a continuidade da família humana. Aqui somos, de
fato, chamados irmãos. Aqui deveremos comungar nossas dores e
abraçar a alma mais rude como abraçamos os irmãos
consangüíneos mais rebeldes.
Ressaltemos que se hoje possuímos certas conquistas de
educação e tolerância é porque outrora foram tolerantes e
bondosos para conosco. Se o outro penetra-nos o convívio com
inseguranças e timidez sem fundamento, saibamos também dar-
lhe a mão acolhedora e caminhemos juntos aos seus passos para
permitir-lhe o desenvolvimento das possibilidades. Diante
daquele que profere impropérios e difunde inverdades
ameaçando o bem-estar do grupo, fechemos nossos ouvidos ao
invés de, por nossa vez, maldizer também, porque ninguém fala
para quem não quer ouvir, e a língua maledicente, que não
encontra ouvidos, perde o seu meio de propagação. Aquele que
jaz ofendido, pensando em abandonar o agrupamento, ferido em
seus melindres, recorde sempre que o pretenso ofensor pode
não ter tido a intenção que julgamos. Perdoemo-lo, certos de
que todos nós temos também nossos momentos de invigilância.
O convívio fraterno é um ato de amor que deve ser a todo
momento adestrado no exercício da renúncia e da paciência.
Atendendo a esses objetivos, estaremos nos aprimorando
na prática evangélica e tornando-nos aptos à participação em
mundos mais felizes. E, à medida que essa prática se fixar
nos corações humanos, a Terra será um mundo feliz por sua
vez.
Sem esse esforço, estacionaremos por longo tempo nas
fileiras dos espíritos sofredores, perambulando pelas trevas
por longos e intermináveis dias de infortúnios, até que a
Misericórdia do Senhor nos favoreça com novas oportunidades .
Conviver no grupo cristão-espírita é oportunidade ímpar na
evolução do espírito que não deve ser menosprezada em nome de
nossos caprichos mesquinhos. Somos espíritas famintos de Luz
e compaixão, e não podemos desperdiçar os preciosos recursos
da Misericórdia do Senhor para a nossa redenção.
Lembremos, finalmente, que a potencialidade espiritual
do grupo é diretamente proporcional ao grau de convívio de
seus membros, a fraternidade legítima, a realização dos
trabalhos de assistência espiritual e alcance das defesas
vibratórias. Essas barreiras, como uma delicada tela de
forças, facilmente se rompem pela desarmonia dos membros da
entidade.
Essas palavras não trazem novidades. Há muito os
encarnados souberam captar a vontade dos orientadores
espirituais, e as têm aplicado. Nossa alertiva traz apenas a
intenção de aprimorarmos nossas possibilidades. Investindo
nesses objetivos, poderemos diminuir a continuada perda de
tempo, de possibilidades, observadas no nosso Movimento da
Fraternidade.
Adamastor
1.a) Ensino da Doutrina e do Evangelho
Através do “Ensino da Doutrina Espírita e do Evangelho”, buscar-se-á com que o
fraternista promova a sua própria reforma interior, como condição básica para prestar a
“Assistência Social Espírita”.
Para que a Instituição atenda a este propósito, que é o de criar condições para que o
fraternista, pelo conhecimento dos postulados da Doutrina Espírita e vivência do
Evangelho, promova a sua reforma íntima, a OSCAL instituiu o CURSO BÁSICO DA
DOUTRINA ESPÍRITA, conhecido também como Ciclo de Estudos.
O Curso Básico de Doutrina Espírita está estruturado em 3 módulos seqüenciais; por
isso a designação de "Ciclo de Estudos de Doutrina Espírita", "Ciclo de Estudos de
Evangelho" e "Ciclo de Estudos de Mediunidade", respectivamente alicerçados nas obras
básicas: "O Livro dos Espíritos", "O Evangelho segundo o Espiritismo" e o "Livro dos
Médiuns".
O Curso Básico de Doutrina Espírita tem a característica da regularidade e é aberto ao
público em geral, tem o propósito de atender criaturas em busca de consolo para suas
enfermidades ou indagações íntimas.
A forma participativa e didática propugnada pela OSCAL está consoante a afirmativa
de Allan Kardec em “Obras Póstumas”: “Um curso regular de Espiritismo seria
professado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos
estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer
adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as idéias espíritas e de desenvolver grande
número de médiuns.”
Para se entender a magnitude desses Ciclos de Estudos, vale consignar que o Conselho
Regional Espírita da Zona Metalúrgica – 10ª Região de Minas Gerais adotou-os como
proposta de trabalho e imprime bastante empenho em divulgá-los tanto pelo site da Aliança
Municipal Espírita de Belo Horizonte - AME/BH (www.ame-mg.com.br) como por
cartilha editada em conjunto pelo 10º CRE, AME-BH e OSCAL. Hoje, mais de trinta
Casas Espíritas do referido CRE, não necessariamente adesas à OSCAL, já instituíram tal
metodologia de ensino. A experiência tem sido altamente compensatória, pois que podemos
constatar o dinamismo nos núcleos espíritas pela multiplicação de trabalhadores espíritas
com sólidos conhecimentos e comprometidos com o trabalho, em decorrência da instrução
a eles propiciada. Tem- se observado que as reuniões mediúnicas se desenvolvem com mais
senso de equilíbrio decorrente do maior nível de instrução ,responsabilidade e segurança
dos membros componentes, trazendo maior aproveitamento geral.
Mendiga de Luz
Chovia muito nquela tarde. Sozinha em minha casa, preparava uma palestra. A
Doutrina Espírita era apaixonante! A cada livro de Kardec eu me surpreendia com as lições
sobre o Espiritismo. Em duas semanas, eu estaria de partida para a Inglaterra, onde faria
uma palestra.
A campainha soou. Meu estudo foi interrompido a contra-gosto. Atendi à porta e me
deparei com uma mulher esquálida e mal vestida. Pele bem morena, saia surrada e
comprida. Ao seu lado, um menino de nove anos. Ele me pediu súplice:
- Moça, estou com fome! Minha mãe está com fome! A gente ainda não comeu!
A mulher apenas sorriu. Seu sorriso tinha algo de sublime. Humildade estampada
nos olhos vivos.
Pensei por alguns instantes. Dividida entre a vontade de ajudar uma família faminta
e o desejo de voltar logo às minhas pesquisas.
Todos haviam saído de casa e a empregada estava de folga. O almoço já havia sido
servido. Não havia comida pronta na geladeira. Fiquei irritada e impaciente e não me
passou pela cabeça esquentar algumas sobras para servir à família carente.
Infelizmente, ser espírita ou estudar a Doutrina Espírita nem sempre é sinal de
pureza ou evolução. Naquela tarde chuvosa, fui experimentada através da Lição da
Caridade.
Na cozinha, lancei um olhar para a cesta de pão dormido em cima da mesa. Fiz um
rápido embrulho e entreguei ao menino. Ele sorriu e seus olhos brilharam:
- É pão, mãe! – disse, animado. A criança adorável me jogou um beijo e se afastou
com a mãe.
Retornei aos meus estudos. No entanto, não era mais a mesma. O remorso e a
vergonha me espicaçaram o íntimo. Após alguns minutos, a sensação desagradável
desapareceu. Encontrei uma desculpa para minha omissão. Afinal, estudava a Doutrina
Espírita!
Semanas depois, viajei com meu marido para Inglaterra para um ciclo de palestras.
Foi um sucesso! Cansada, mas feliz, caminhava ao longo do corredor do auditório. Meu
marido proseava com alguns ingleses.
De repente, fui colhida por um inesperado mal-estar. Tudo rodou à minha volta e
desmaiei. Quando dei por mim, estava num leito de hospital. Sozinha num hospital da
Inglaterra. O mal-estar continuava e procurei por meu marido.
Um sentimento de medo e insegurança me envolveu. Onde estariam o médico e meu
esposo? Por que estava no hospital? Fiz uma prece singela aos mentores siderais. Em
poucos minutos, meu quarto foi iluminado por uma luz atordoante. Na minha frente, dois
espíritos vestiam túnica branca. Reconheci-os imediatamente. Eram a mãe e o menino que
semanas atrás haviam mendigado comida no portão de casa.
- Moça, fique tranqüila. – disse a criança. Tivemos permissão para uma visita.
Assistimos a sua palestra. A senhora não tem nada de grave. E nos deu pão! Lembra-se?
Fazia alguns dias que estávamos sem alimento. Fique com Deus! Continue sua missão!
Naquele momento, me dei conta da sublime envergadura espiritual daqueles
espíritos. Fiquei sabendo que eles haviam desencarnado dias depois de estarem em minha
casa. Foram colhidos por uma enchente. Cumpriram a missão na Terra. Agora estavam
livres e felizes! Meus olhos se encheram d’água. Estava com muita vergonha. O menino leu
meus pensamentos e me tranqüilizou:
“Fique em paz! Continue sua missão!”
“Eu nada fiz por você! Não mereço falar sobre Espiritismo se... não exemplifico... não
mereço...”- chorei copiosamente.
“Sempre é tempo de aprender!” – disse o garoto.
A visão se desvaneceu de repente. No quarto, um suave aroma de rosas.
Quem poderia imaginar que aqueles mendigos possuíam tanta luz? Na verdade, a
mendiga de Luz era eu!
Meu esposo e um médico jovem de ar sereno adentraram ao quarto do hospital. Eu
estava tonta e confusa; no entanto, aprendi a lição. Meus mentores haviam me testado.
Queriam saber se eu estava aprendendo a lição.
Meia hora depois, saí do hospital. Meu mal-estar súbito não tinha sido nada grave,
apenas uma hipotensão causada pelo cansaço e pela diferença de fuso horário.
Nunca mais fui a mesma. Continuei ensinando a Doutrina Espírita, mas a lição mais
dura e proveitosa... foi a de exemplificar a doutrina em minha vida íntima, no lar e com as
pessoas.
O Amor e a Caridade são a verdadeira sabedoria!
Anne
Mensagem psicografada no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Altino, em
Guaratinguetá/SP, em 20/03/2004, pela médium Sandra Cecília.
1 .b) Assistência Social Espírita
O Movimento da Fraternidade considera como Assistência Social Espírita a que,
através de um plano conscientemente elaborado:
- Ampare o assistido, vendo nele um Espírito em evolução, buscando conscientizá-lo de
sua realidade espiritual, incentivando-o ao soerguimento e à realização de conquistas
espirituais, visando a transformá-lo de assistido em assistente, de pedinte em doador,
procurando integrá-lo no quadro de cooperadores de algum Grupo da Fraternidade
Espírita;
- Tenha sempre em mente a idéia de ajudar ao próximo, contribuindo igualmente, no que
puder, para solucionar ou amenizar os problemas de ordem social da comunidade;
- Faça com que a assistência social e filantrópica seja praticada sempre que possível
com recursos próprios, a partir dos lares dos fraternistas.
Os Grupos da Fraternidade Espirita, a Cidade da Fraternidade e as associações
de caráter filantrópico e cultural filiados ao Movimento da Fraternidade, com vistas à
prestação da assistência social espírita, procurarão alcançar o princípio da auto-
suficiência, evitando que o funcionamento das atividades filantrópicas dependam
exclusivamente de contribuições ou doações de terceiros, inclusive de conveniados, que
possam, de alguma forma, ferir os seus princípios filosóficos e doutrinários.
Para os efeitos da expansão de fronteiras deve existir, no coração de cada
fraternista, um conceito mais amplo da Cidade da Fraternidade, abrangendo a totalidade
dos Grupos da Fraternidade Espírita, cujos membros devem ser preparados para
vivenciarem a fraternidade no próprio ambiente em que vivem, abrindo as portas de seus
lares para adotarem, cada um, pelo menos, urna criança ou abrigarem um irmão carente
em qualquer área, e, na impossibilidade disto, fazendo ou propiciando assistência social e
recursos a uma família necessitada.
Conforme postula o Movimento da Fraternidade, a realização da Assistência Social
há de se dar de forma integrada e harmônica, destacando-se cinco pontos: pão, saúde,
visitação, luz e afeto. Por analogia, consideremos uma mão humana para alcançar o
objetivo da unidade.
O dedo mindinho simboliza o pão que “assegura a existência dos que não podem
trabalhar e provê a vida dos fracos, sem humilhação para eles e sem deixá-los à mercê do
acaso e da boa vontade. Assiste-se simplesmente ao irmão carente do caminho sem julgar e
condenar a sua atitude. Registre-se a anotação de Mateus 25:35 e 36: “Porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
estava nu, e vestistes-me...”
O dedo anelar representa os cuidados dispensados às criaturas descompensadas na
sua saúde física, mental e espiritual. O agrupamento espírita pode disponibilizar para elas o
tratamento desobsessivo, o atendimento fraterno, a reunião de ectoplasmia para o exercício
da medicina de profundidade e as orientações emanadas dos benfeitores espirituais
utilizando os canais sutis da mediunidade equilibrada. Em Mateus 10:08 aprendemos:
“Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: de
graça recebestes, de graça daí".
O dedo médio significa a visitação em favor de criaturas enfermas nos lares, nos
presídios, nos asilos, nos orfanatos e nos hospitais de uma forma geral. Destaque-se a
anotação de Mateus 25:36: “... adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.”
O dedo indicador sinaliza a luz que pode clarificar as mentes e os caminhos das
pessoas desnorteadas e sedentas de conhecimento espiritual. Na tarefa de assistência, os
agrupamentos fraternistas podem oferecer a evangelização infantil, o trabalho da mocidade,
as palestras públicas, os ciclos de estudos da Doutrina Espírita e a riqueza da literatura
espírita.
O dedo polegar simboliza o afeto que se concretiza na resposta às seguintes
indagações: Que temos de nós próprios para dar? Que espécie de emoção estamos
comunicando aos outros? Que reações provocamos no próximo? Qual é o estoque de
nossos sentimentos? Que tipo de vibrações espalhamos? (Livro Fonte Viva – Espírito
Emmanuel). O dedo polegar é o único que abraça todos os outros e a Assistência Social
plena só se realiza com muito afeto.
Destacamos a seguir três importantes tarefas de assistência social espírita,
comumente realizadas no âmbito do Movimento da Fraternidade que serão tratadas em
subcapítulos e seqüencialmente:
- Campanha do Quilo
- Sopa Fraterna
- Visitação Fraterna
Campanha do Quilo
Ascendentes Cristãos
"E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas
propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E,
perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos
com alegria e singeleza no coração". (Atos 2: 44 a 46)
Depreende-se que os próprios seguidores, numa atitude de despojamento, é que
mantinham, com recursos próprios, as atividades da Comunidade Cristã primitiva. Deve ter
sido de rara beleza o convívio em torno das idéias do Cristo!
A Casa do Caminho experimentava aumento continuado das atividades caritativas
pelo incessante trabalho de assistência à grande massa de atingidos pelas misérias do
mundo. Em vista disso, a alternativa dos "seguidores do Caminho" foi a de buscar a
cooperação no seio da sociedade judia; com o passar do tempo, tal procedimento
estabeleceu dependência e induziu à introdução de práticas características do judaísmo às
atividades da comunidade, o que, de uma certa forma, reduzia os rigores da perseguição do
sinédrio à igreja nascente.
Mais tarde, Paulo tentou dissuadir os apóstolos no sentido de romper com essa
dependência, de modo a resgatar o caráter de pureza das idéias e práticas cristãs; todavia,
o fanatismo vigente opôs forte resistência a tal pretensão.
Histórico
José do Livramento Godoy, antigo lidador da Doutrina Espírita em Belo
Horizonte/MG contou-nos que, por volta de 1950, freqüentava o Centro Espírita “Poder da
Boa Vontade”, localizado na rua João Carlos nº 435, Bairro Sagrada Família, e que ali
presidia a Mocidade Espírita Paulo de Tarso. Informou-nos que, em julho de 1950, sete
representantes de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte passaram a realizar um trabalho
de integração, que culminou em uma viagem a Pedro Leopoldo para visitarem o Francisco
Cândido Xavier e dele receberem preciosas orientações.
Durante uma reunião realizada naquela cidade, Oli de Castro, Sargento da
Aeronáutica, que houvera militado na base aérea de Natal/Rio Grande do Norte, pediu a
palavra e discorreu detalhadamente sobre um projeto desenvolvido no nordeste brasileiro
há alguns anos e conhecido como "Campanha do Quilo". Todos os presentes ficaram
empolgados com a idéia e pouco tempo depois a Sociedade Espírita Nina Aroeira, de Belo
Horizonte, sob a direção e entusiasmo de um valoroso espírita mineiro, o irmão Machado,
passou a realizar a Campanha do Quilo com o nome de "Caravana de Alegria Cristã".
Tal atividade foi de pouca duração, provavelmente em face da implacável vigilância
e reação do clero que, nas pregações em cerimônias religiosas e com distribuição de
folhetos, conclamava os fiéis a não colaborarem com aquela iniciativa. Chegou-se ao
disparate de convocar os jovens que realizavam a atividade a comparecerem ao Distrito
Policial a fim de prestarem depoimento ao delegado, em decorrência de queixa registrada
contra a realização da Campanha do Quilo.
No ano de 1952, em uma reunião pública da quinta-feira, realizada no Grupo da
Fraternidade Espírita Irmã Scheilla (de Belo Horizonte), mais conhecido à época como
Centro Espírita Oriente, a irmã Leda Morais exortou o público freqüentador a doar à
Instituição, na semana seguinte, um quilo de alimento que destinava a famílias pobres
assistidas pelo agrupamento. Sensibilizado com o apelo da devotada irmã Leda Morais, o
jovem Jarbas Franco de Paula, que freqüentava a instituição há pouco mais de um ano,
tomou a iniciativa de procurar o presidente da Instituição, irmão Gabriel Sândi, no intuito
de apresentar a ele tais idéias.Assim se deu o diálogo:
- Senhor presidente, permita-me uma sugestão, já que vejo o esforço sem muitos resultados
da nossa irmã Leda, de angariar gêneros alimentícios para serem distribuídos às famílias
assistidas pela nossa instituição.
- Do que se trata, meu jovem?
- Por que não realizamos uma campanha nas ruas, para aumentar a arrecadação de
mantimentos a serem ofertados às famílias necessitadas?
- Ora, Jarbas, isso poderá trazer problemas inesperados e de difícil solução! Ademais, uma
atividade assim só comporta ser realizada por criaturas jovens.
- Compreendo, mas faço-lhe um pedido e ficarei imensamente grato, se atendido.
- Qual é? Eu preservo a instituição; no entanto, sou uma pessoa aberta e tenho
sensibilidade.
- Autorize a realização de uma campanha, uma só, a título de experiência.
- Bem, só uma eu autorizo.
Na quinta-feira seguinte, cheio de entusiasmo, o Jarbas fez o convite, em plena
reunião pública, para as pessoas participarem da nova atividade a acontecer a partir das
8 horas do domingo seguinte. Percorreriam a rua Itajubá e algumas ruas adjacentes no
bairro Floresta.
Assim foi feito, num belo domingo de junho de 1952, pelo grupo formado por
Jarbas Franco de Paula, Leda Morais, José Lopes Souza Lima e sua esposa Isaura, Vicente
Wendling e Cacilda Morais. Foi tanta a arrecadação, que os sacos de farinha destinados a
abrigar as doações não foram suficientes. A pequena despensa ficou abarrotada.
Ficamos a imaginar a alegria daqueles caravaneiros e a sintonia fina que eles
alcançaram com a Espiritualidade.
Atendamos agora a expectativa do leitor: é claro! O presidente da instituição não
teve como permitir que "A Campanha do Quilo" sofresse solução de continuidade. Foi
assim que o grupo de abnegados tarefeiros inaugurou o ciclo permanente da Campanha do
Quilo em Minas Gerais. Consta que, a partir de julho do mesmo ano, ele, a esposa e filha
reforçaram o time do bem.
Generalidades
A Campanha do Quilo é uma das mais nobres atividades realizadas pelos espíritas.
Existem notícias de tal atividade desde os primórdios da segunda metade do século
passado, o que significou uma verdadeira revolução e mudanças de costumes, já que o
centro espírita era tradicionalmente fechado em si mesmo e suas ações externas, além de
restritas, sofriam um julgamento equivocado do público em geral.
Hoje, um universo significativo de Casas Espíritas realiza a campanha com
regularidade, aos sábados ou domingos, exatamente pela facilidade de arregimentar
tarefeiros ou voluntários como pela possibilidade de encontrar os moradores em seus
lares.
Essa é das primeiras tarefas recomendadas ao incipiente espírita! Tão logo o
freqüentador se identifique com a Casa e alcance relativo padrão de harmonia interior,
desde que manifeste desejo e se disponha a atender as normas explicitadas, estará apto a
participar de tão sublimada atividade espiritualizante. Desse tarefeiro não é exigido
profundos conhecimentos doutrinários e evangélicos nem atestado de bons antecedentes
morais, até porque a maioria de nós está à semelhança do filho pródigo. Ou seja, o Senhor
da Vida nos dignifica com oportunidades de reparação dos nossos equívocos pretéritos e de
construção de um futuro mais feliz. O hoje é, então, oportunidade inadiável!
A Campanha do Quilo atende, em simultâneo, duas missões características do
centro espírita: a de OFICINA, pelo trabalho assistencial propriamente dito; a de TEMPLO,
pela dilatação dos limites físicos da instituição, irradiando a Casa até os lares visitados.
A Campanha do Quilo e a Oficina de Trabalho a serviço do Cristo
Trabalhadores deixam a comodidade dos seus lares, o prazer do divertimento nos
clubes ou dos passeios nos sítios para deslocarem-se para ali ou acolá, muitas vezes em
árduas caminhadas e enfrentando situações inesperadas e de perigo, para carregarem
sacolas ou fardos lotados com a roupa, o remédio, o brinquedo velho, o livro, a barra de
sabão, o pacote de arroz, de macarrão, o sapato usado, seja lá o que for, até um pedaço de
pão, tudo recolhido de corações generosos.
O CAMPANHEIRO, assim é chamado o tarefeiro da Campanha do Quilo, retorna
alegre e descontraído, ciente de que os produtos arrecadados serão cuidadosa e
criteriosamente guardados na despensa, por ele ou outros tarefeiros. As sacolas a serem
montadas, análogas às populares cestas básicas, conterão o indispensável para atender as
necessidades mínimas de famílias carentes, previamente cadastradas, que vivem em estado
de exclusão social.
O Campanheiro rejubila-se em ser instrumento dos Céus por auxiliar os
desprovidos do conforto material. Lembra-se ele da afirmação carinhosa do meigo Rabi da
Galiléia: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai,
possui por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque
tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e
fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com
fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos
estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na
prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando
o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus, 25:34 a 40)
A Campanha do Quilo e o Templo
Em seus deslocamentos pelos recantos da cidade, as equipes de Campanheiros
levam a cada lar visitado as vibrações imanentes e características da própria casa espírita.
Agem à semelhança de um centro espírita ambulante, espalhando o odor do Cristo por
onde se movem. Nenhum outro propósito toca a alma do Campanheiro que não o desejo de
servir. Impregnado do sentimento de solidariedade, ele é instrumento para outros também
praticarem a solidariedade!
A alegria cristã a vestir a sua alma estancará, ainda que momentaneamente, emoções
controversas de muitos que receberem o seu cumprimento cordial. A casa espírita que se
irradia e se dinamiza é um templo vivo a penetrar a intimidade dos lares onde um coração
servidor bate e se apresenta!
A Campanha do Quilo e os aspectos Morais que se destacam
Esta tarefa tão meritória enseja conquistas morais de alta relevância, nem sempre
registradas pela nossa percepção vulgar. Alguns sensos são desenvolvidos no tarefeiro,
principalmente os da humildade, da solidariedade, do respeito e da benevolência. Este
servidor do Bem é também agente de transformação de muitas criaturas conclamadas a
doar, que somente aguardam uma oportunidade, um aviso, um empurrão para darem novos
rumos a sua trajetória existencial. Por isso que é preciso que o Campanheiro leve as
marcas do Cristo para o interior de cada lar visitado.
Aquele cujo coração se sensibiliza pela visita da Campanha do Quilo, internaliza
no seu imo o embrião de futuras aquisições, todas nascentes do gesto da caridade induzida!
Poderá ser despertado nele o desejo do gesto futuro de caridade espontânea; da reflexão
quanto a sua relação com o semelhante; da busca de novos roteiros para dar nova
motivação e alegria a sua vida; da revisão da própria conduta no meio familiar para buscar
o verdadeiro significado da existência terrestre.
Alguns casos interessantes
O irmão presidente
Nos primórdios da década de setenta, residíamos na cidade de Teófilo Otoni/MG e
freqüentávamos o Grupo da Fraternidade Joseph Gleber. Como éramos egressos de
movimento juvenil espírita de outra localidade, colaboramos para a fundação da Mocidade
Espírita naquela instituição. Depois de algum tempo sugerimos a criação da tarefa da
Campanha do Quilo. A diretoria da casa aprovou a idéia e o presidente, com muito
entusiasmo, incentivou a mocidade a iniciar imediatamente tão nobre atividade.
Convidamos presidente para participar da tarefa conosco; no entanto, habilmente
ele esquivou-se alegando compromissos familiares e também justificando ser a tarefa mais
apropriada aos mais moços. O nosso querido presidente era pessoa culta, de prestígio e
muito conhecido na sociedade. Ante nossa insistência fraterna, ele acabou cedendo e
esclareceu que iria conosco na seguinte, mais para conhecer a tarefa, conviver conosco e
servir de motorista para transportar Campanheiros e produtos arrecadados. Ficamos deveras
satisfeitos e tudo transcorreu conforme combinado.
Algo tímido, invariavelmente o irmão permanecia no interior do veículo ou nas suas
proximidades. Até que, de um belo jardim de determinada rua de moradias ricas, surgiu o
proprietário da residência para nos atender. O cavalheiro, logo após os cumprimentos, teve
sua atenção desviada e, de repente, gesticulando e em alta voz chamou o nosso presidente
pelo nome. Dirigiu-se assim a ele:
- Você, por aqui! Que boa surpresa. Há muito tempo não nos víamos!
- É verdade. Respondeu o nosso irmão, com certo constrangimento.
- Que bons ventos o trazem à porta de minha casa? Venha, vamos entrar.
- Não posso, fica para outro dia.
- Como assim, meu amigo? Você não vai me fazer essa desfeita!
- Mas... Eu... estou com eles!
- Se são seus amigos, serão meus também. Entremos todos; vamos conversar e tomar um
cafezinho.
Atendendo a um dever cristão, aproximei-me e envolvi-me no diálogo:
- Que bom conhecer um amigo do querido irmão presidente. Ele tem razão, hoje não nos é
possível entrar na sua casa para uma conversa agradável e mais demorada. Estamos
fazendo a campanha do quilo.
- O que é isto? O que é campanha do quilo?
- É uma atividade que realizamos aos domingos por conta do Grupo da Fraternidade Joseph
Gleber. Deslocamo-nos para bairros diversos e batemos à porta de corações generosos,
para que nos ajudem a ajudar. Tudo para nós é de utilidade, seja lá uma roupa antiga,
brinquedos usados, gêneros alimentícios, moedas, o que for. Com o que arrecadamos,
preparamos sacolas que são distribuídas a famílias muito pobres e em estado de miséria
social.
- Amigo, você participa de tudo isso?
- Sim, junto com eles, os meus amigos.
- Parabéns! Eu sei que você é espírita, porém ignorava que esta religião fosse capaz de
tanta expressão de generosidade. Quero ainda conhecer os trabalhos de vocês com mais
detalhes.
Nosso irmão presidente permaneceu no alpendre enquanto aguardava o retorno do
amigo. Depois o vimos sorridente, a segurar um pesado fardo de arroz e caminhar
majestosamente até o jipe. Daí em diante, quase sempre ele se encarregava dos contatos
iniciais com os irmãos em humanidade, convidados a encher as sacolas da campanha do
quilo.
A ação policial
A equipe número treze da Campanha do Quilo, do Grupo da Fraternidade Espírita
Irmã Scheilla, deslocava-se por ruas do bairro São Pedro, na região de Venda Nova, quando
dois soldados, que estavam num bar, indagaram o que aquela equipe fazia ali e qual o
conteúdo das sacolas que transportavam.
Educadamente, o irmão Moacir esclareceu-os. Em seguida, um soldado indagou:
- Como vocês podem comprovar a veracidade de tudo isso?
- Perfeitamente, disse o Moacir, e logo apresentou uma sacola com caracteres impressos,
além entregar a ele uma mensagem psicografada que continha os dados principais de
identificação do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla.
- Isso nada comprova, respondeu asperamente o policial. Ato contínuo, ele ordenou a
entrada dos dois Campanheiros na viatura policial.
Nesse momento, chega o Almir Lima acompanhado de um senhor que realizava,
pela primeira vez, a Campanha do Quilo. Surpreso perguntou:
- O que se passa ? Por que estão nesse veículo?
- Quem é você? Por que também tem essa sacola na mão?
- Eu sou o Almir e tenho a responsabilidade de coordenar a equipe treze da campanha do
quilo!
- Ah, é?! Você também faz essa tal de campanha, não é?
- Sim, e com muita alegria no coração.
- Venham cá, você e seu amigo, e também entrem no camburão. Eu sei que campanha é
essa!
Nisso, o irmão que acompanhava o Almir, com muita calma, entrou no diálogo:
- Meu amigo, posso até ir com você, mas não aí. Tem de ser num carro especial.
- Como assim? Não brinque conosco! As coisas podem complicar para o seu lado!
Sem pressa, ele retirou do bolso sua carteira funcional de Coronel da Polícia Militar
e a apresentou. De imediato, os homens da lei fizeram-lhe continência e pediram-lhe mil
desculpas.
O novo Campanheiro poderia ter tomado várias atitudes, algumas até com prejuízos
graves para os policiais, no entanto, somente asseverou: “sigam seus caminhos e procurem,
doravante, ser justos e retos no exercício de uma profissão tão importante para a
sociedade”.
A Testemunha de Jeová
Estava a relembrar com o Jarbas Egídio Martins alguns casos ocorridos na tarefa da
Campanha do Quilo, da qual ele participa há trinta e nove anos. Escolhemos um para relatar
e ele disse: Alan, logo esse tão negativo? Expliquei que o negativo, muitas vezes, instrui e
serve de preciosa lição para o futuro.
Este fato aconteceu há cerca de trinta anos atrás. Em determinado dia, a equipe
número dezessete percorria o bairro União. Tão logo o Campanheiro bateu palmas no
portão de uma residência, um senhor de meia-idade apareceu no alpendre e travaram o
seguinte diálogo:
- Bom dia, meu irmão. Estamos pedindo algo em favor de criaturas pobres.
- Bom dia! De onde vocês são?
- Fazemos a Campanha do Quilo e somos do Centro Espírita Oriente.
- Espírita? Sai de mim, Satanás!
- Não somos criaturas malignas. Somos do bem.
- Os espíritas têm pacto com as trevas.
- Nós também somos filhos de Deus!
- Vocês são filhos do Diabo!
- Você está sendo tão cruel conosco! Qual é a sua religião?
- Sou Testemunha de Jeová e acredito no poder de Jesus.
- Nós, espíritas, também.
- Vocês evocam os mortos e Moisés condenou essa prática. Vocês são mestres em
bruxarias, adivinhações e sortilégios.
- O irmão está muito enganado. Jesus enalteceu a mediunidade utilizada para o bem. Paulo,
o apóstolo, também.
- Saiam já da minha casa.
- O senhor é atrevido. Nós nem entramos na sua casa e o senhor está nos expulsando?
- Estou, sim. Não quero mais discutir e estou perdendo a paciência.
- Pelo que vejo, o senhor não tem argumentos. Não temos como chegar a um acordo. O seu
desrespeito foi enorme.
- Espere só, que volto já!
- Venha até aqui que resolveremos nossas diferenças no braço.
Nisso, o Jarbas tomou o irmão Campanheiro pelo braço, concitou-o ao silêncio e a
pensar em Deus. Dirigiu-se logo a seguir ao evangélico e disse-lhe:
- Peço-lhe perdão, não temos o direito de ofendê-lo. Jesus ampare o seu coração. Fique em
paz.
Jarbas conta esta foi uma lição inesquecível. A partir de então os Campanheiros
ficaram mais vigilantes com a palavra, sem olvidar que, para atingir os objetivos da tarefa,
importa até sofrer humilhações, se for da vontade do Criador.
Os aspectos espirituais que se destacam na tarefa da Campanha do Quilo
Tão importante quanto ofertar o mantimento ao corpo físico do irmão que sofre é
levar uma parcela de luz a tantos lares que jazem em trevas profundas, onde muitos são
ricos de moedas, mas pobres de paz. Esse é um quadro muito comum na Terra. A paisagem
exterior, mesmo ao retratar beleza e conforto, nem sempre reflete os sentimentos íntimos
das criaturas albergadas nas moradas terrestres. É comum, mesmo diante da abastança,
depararmo-nos com lares tristes e almas angustiadas, depauperadas, a viverem dramas e
padecimentos morais inimagináveis ao observador comum. Acrescem-se a isso a
dissonância entre os integrantes do grupo familiar e situações de maior ou menor gravidade
no campo das doenças obsessivas.
São incontáveis os lares do mundo que se encontram vergastados por dor invisível,
que os recursos terapêuticos da medicina tradicional não conseguem debelar. São dores
agudas a sinalizar dramas morais que têm sua causa no pensamento infeliz, na palavra
insensata e na atitude cruel do ontem.
Nem sempre o tarefeiro da Campanha do Quilo é sabedor da sua missão ao contato
com esses infelizes ocultos. Recolher doações nesses domicílios será mero pretexto. A
espiritualidade pretende muito mais e, para isso, uma multidão de espíritos engrossa a
caravana para: preparar o ambiente psíquico; cuidar da assepsia da trilha por onde se
deslocam os servidores do bem e amortecer as vibrações contraditórias dos lares a serem
visitados.
Ademais, enquanto o Campanheiro é atendido pelo irmão que oferta mantimentos
que irão alimentar corpos desafortunados, a Espiritualidade Amiga aproveita o ensejo da
boa receptividade do doador do mundo material e da virtude das emissões vibratórias
sublimadas pelo Amor Fraterno de que se reveste o trabalhador do Cristo para resgatar, de
cada lar visitado, muitos irmãos do mundo espiritual que ali estagia, quase sempre em
profundo desequilíbrio.
Outros irmãos do outro plano da vida, os transeuntes habituais da via pública,
acompanham, entre curiosos e atentos, os Campanheiros em todo o trajeto que
desenvolvem durante a tarefa da Campanha do Quilo. Sensibilizam-se ao reconhecerem a
sinceridade dos sentimentos e a nobreza da conduta do Campanheiro, pautada pela
humildade, compreensão, fraternidade e bondade, e abrem seus corações ao apelo do Bem.
Confiantes na ajuda do plano superior, já alimentados de propósitos regeneradores e
construtivos, são conduzidos, em caravanas do plano invisível, para se tratarem nas
inúmeras Casas de Jesus.
O Senhor da Vida protege todos os seus filhos e é da lei ninguém ficar à margem
do progresso. Mencionamos que a Campanha do Quilo assume o aspecto de uma casa
espírita ambulante, isto é, o Centro Espírita vai para as ruas e adentra a intimidade dos
lares. Cada Campanheiro torna-se um médium dos céus e por ele transitam recursos, na
forma de auxílio ao que sofre. Também é da lei que todas as criaturas se movimentem em
regime de liberdade; assim, o Senhor da Vida não impõe a transformação de ninguém.
Ilustremos com alguns dentre tantos casos de auxílio desse jaez:
O pai infeliz
Há anos participamos de reunião de desobsessão. Pouco antes do início da reunião,
dedicamo-nos regularmente ao atendimento fraterno voltado para irmãos portadores de
transtornos indicativos de obsessão espiritual. Notamos um cavalheiro, algo mais ansioso,
que aguardava atendimento.
Após as saudações iniciais, ele nos confiou que o seu estado era de desesperança.
Indaguei-lhe:
- O que foi, meu irmão? Por que a tristeza profunda?
- O meu martírio é imenso. Minha vida perdeu significado, aliás, nem sei bem a razão de
minha presença aqui. Já havia decidido exterminar a minha vida.
- Como assim, meu irmão? A vida é um dom precioso e mesmo diante de pungentes
dificuldades ela merece ser vivida. Se você quiser, fale do seu drama.
- Ah moço, eu era feliz até descobrir que meu único filho tinha comportamento
homossexual, o meu lar desmoronou. Todos os meus projetos passavam pela felicidade
dele.
- Sim, meu irmão, nós sempre queremos o melhor para os nossos filhos e, às vezes, até
projetamos para eles o que desejaríamos para nós.
- Está certo, porém a humilhação foi imensa e achei como melhor solução expulsá-lo de
casa, mas esse procedimento não resolveu o problema. Por isso, decidi matar-me.
- Você não fará isso. Deus não quer e para tudo existe solução, mesmo que ela não esteja
visível e tão próxima! Você quer a ajuda desta casa?
- Claro, diga o que me convém fazer?
Explicamos a ele a linha de tratamento. No entanto, não refreamos o impulso de
formular uma pergunta:
- Como o irmão veio parar em nossa instituição?
- Ah, sim! Algumas pessoas bateram à porta do meu apartamento e disseram estar
realizando a Campanha do Quilo. Fiquei atraído pela gentileza de uma senhora de relativa
idade, vestida simplesmente, a ajudar um jovem a carregar uma pesada sacola com os
produtos já obtidos em outras residências. A conversa com eles, despertou-me o interesse
em conhecer um lugar que torna as pessoas tão boas e desprendidas.
A moça desesperada
A equipe n° oito da Campanha do Quilo do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã
Scheilla, bastante numerosa, percorria vasta região do Barreiro sob a coordenação do
Ernesto. De uma das casas surgiu uma moça de aspecto muito aflitivo, a apresentar visível
sofrimento interior.
Certamente sintonizado com a espiritualidade, Ernesto indagou:
- Por que uma moça jovial e bonita está tão triste?
- Ah, eu sofro muito! Ninguém me compreende e estou muito revoltada com a vida.
- Ainda assim, não vale a pena sentir tristeza; afugente-a e sua vida estará mudada.
- Olhe, moço, vou contar-lhe algo que pessoa alguma sabe. Já tenho guardado no banheiro
da minha casa um frasco de formicida. Vou me matar!
- Você não fará isso. Dar-lhe-ei o endereço do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã
Scheilla, onde as pessoas recebem consolação. Fique em paz. Estaremos orando por você.
A moça daqueles tempos, hoje é valorosa servidora do Cristo. Participa como
cooperadora de reunião de desobsessão, faz a Campanha do Quilo e alegra os pacientes
dementados do Hospital Raul Soares, dedilhando, no violão, músicas de grande enlevo
espiritual.
Normas e Procedimentos a serem observados na realização da tarefa
Para o bom êxito da atividade, é imprescindível que a instituição tenha normas
claras de funcionamento da atividade e que os Campanheiros as observem. Elas devem ser
simples, elementares, norteadoras e revestidas do espírito cristão. Destaquemos alguns
pontos que se nos afiguram mais importantes na sua elaboração:
a) Aspectos organizacionais:
Nomeação de coordenador da Campanha do Quilo, tanto como os responsáveis pelas
equipes, caso exista número mais significativo de Campanheiros;
Mapeamento prévio dos bairros e ruas a serem visitados, evitando-se a improvisação
contraproducente;
Planejamento do roteiro a ser percorrido a cada semana, elaborado com a devida
antecedência;
Boa articulação com o movimento espírita local, de modo a evitar o comparecimento de
equipes de casas espíritas distintas num mesmo logradouro e no mesmo dia;
Dimensionamento da equipe de modo a haver um desejável equilíbrio entre elementos
masculinos e femininos. Lembrar-se que tal momento não é para namoro;
Exclusão de crianças nesse tipo de ação assistencial. A elas deve ser propiciado o
ensino moral e atividades lúdicas na intimidade da própria casa espírita;
Se possível, as sacolas ou similares devem conter identificação da instituição. Isso
granjeia simpatia e confiança daqueles convidados à atitude fraternal;
A instituição deve aplicar as doações recebidas em espécie exclusivamente na
assistência às famílias carentes;
Formação de equipes de, no máximo, dez membros, quando existirem muitos tarefeiros
disponíveis.
b) Recomendações necessárias ao Campanheiro:
A tarefa deve ser iniciada com uma leitura evangélica e prece. Concluída com oração
de agradecimento, respeitando-se a impossibilidade do retorno de alguns ao local de
encontro;
Disciplina de horário para o início e fim da atividade;
Abordagem aos moradores dos lares visitados sempre com dois ou mais Campanheiros,
de forma breve, serena e genuinamente cristã;
Atenção para não ocorrer dispersão entre os membros da equipe, que pode resultar em
desgoverno e ausência de unidade, tão essenciais ao sucesso da ação;
Desde o encontro dos integrantes da equipes, as conversações não devem ser contrárias
aos objetivos da tarefa. Conversação sadia mantém ambiente propício a atrair a
presença dos bons espíritos;
Abstinência de bebidas alcoólicas, do fumo e de assemelhados durante todo o período
da tarefa, guardando a sintonia indispensável entre os membros do grupo e os espíritos
que assistem a atividade na invisibilidade;
Gentileza, fineza de trato e discrição no contato com o morador. A primeira impressão é
fundamental;
Os Campanheiros devem adotar permanente a alegria e a cordialidade, mesmo diante
dos transeuntes apressados ou zombeteiros;
Os Campanheiros devem portar crachá que contenha os dados da casa espírita e o seu
próprio nome, como forma de apresentação diante dos lares visitados;
Distribuição de mensagens de conteúdo evangélico, se possível, porém guardando o
respeito indispensável à opinião e crença dos outros;
Manutenção da serenidade diante da recusa do auxílio solicitado ou da agressão de
qualquer natureza, afastando-se silenciosamente e emitindo pensamentos fraternais. O
Mestre nos recomendou evitar as contendas. As polêmicas em situações como essas são
geradoras de mal-estar e azedume;
Aproveitamento do momento adequado para externar convite para visitas à instituição e
lá conhecer suas atividades assistenciais;
Procedimento coletivo em que Campanheiro algum se aproprie de recursos de qualquer
natureza angariados na Campanha do Quilo, ainda que sob o pretexto de assistir
alguma família carente;
Cooperação por parte dos mais jovens para transportar as mercadorias e fardos obtidos;
Educação na abordagem, com especial cuidado de evitar, inclusive, o acionamento
insistente da campainha face à demora no atendimento;
Atitudes de prudência e evitar descrever quadros espirituais percebidos num ou noutro
ambiente visitado, susceptíveis de traumatizar ou de criar situações embaraçosas;
Conversão do Campanheiro em trabalhador ativo da casa espírita e em participante
regular de reuniões públicas e de estudos evangélico-doutrinários.
Vale considerar que a grandeza da tarefa muitas das vezes desperta e estimula os
visitados a conhecerem o espiritismo, sem dizer daqueles que se tornaram espíritas, quando
um dia, na plena intimidade dos seus lares, foram tocados pelas vibrações harmoniosas dos
tarefeiros da Campanha do Quilo!
Na Campanha do Quilo
Equipe de estrelas que ilumina o Céu da Vida
Dos que se demoram na noite da aflição;
Para o jovem, o velho, a criança sem guarida,
Busca a gota de remédio e a migalha de pão!
Porta-voz do Cristo no campo da mensagem,
Murmurando súplicas em prol de teu irmão;
Não te falte o sorriso em tua imagem
abençoando o sim e compreendendo o não!
Não receia a jornada! Nem pensa no fim
Ao negarem auxílio ao triste do abandono
Experimenta outra casa sem flores no jardim
mas com rosas no coração do dono.
A palma carinhosa, que no portão estala,
É doce voz de um instrumento amigo,
É berço móvel que a criança embala,
É carreto de tábuas que constrói abrigo!
É concha amorosa que carrega a sopa
É mala de remédios subindo o morro
É retalho transformado em roupa
É lareira de inverno fazendo socorro.
É réstia de luz devassando a treva,
É lírio ambulante perfumando a vida,
É correio celeste que traz e leva
Concessões e pedidos da fome sofrida!
É estímulo e impulso ao caído no caminho,
É ramalhete de flores no altar da esperança,
É visita de ternura ao que vive sozinho,
É sol aquecendo onde o sol não alcança!
Ao deixar teu lar em abandono de aparência,
O interior da casa todo se embeleza!
Pois, no sublime instante de tua ausência,
A presença do Cristo te revela.
José Grosso
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão de Sagres/SP pelo médium
Álvaro Basile Portughesi
Sopa Fraterna
Em “Paulo e Estêvão” o espírito Emmanuel relata que a residência de Pedro, futura
Casa do Caminho, regurgitava de enfermos e desvalidos sem esperança. Eram velhos
procedentes de Cesaréia, a exibirem úlceras asquerosas; crianças paralíticas, da Iduméia;
anciães abandonados e criaturas esquálidas e famintas. Não só isso. À hora habitual das
refeições, extensas filas de mendigos imploravam a esmola da sopa. À frente dessas
atividades estavam Pedro; Tiago, filho de Alfeu; Tiago e João, filhos de Zebedeu; Filipe e
suas filhas; além de outros cooperadores voluntários que foram se agregando ao trabalho a
partir de Pentecostes.
Apesar do contínuo aumento do contingente de assistidos, Pedro e João
consideraram oportuno não descuidarem o labor das idéias evangélicas, não
menosprezando a sementeira da palavra divina. Com outros “Seguidores do Caminho”
construíram um pavilhão de menor porte destinado aos trabalhos de evangelização, ocasião
em que foram nomeados, para os serviços de enfermaria e dos refeitórios, sete auxiliares
entusiasmados: Estêvão, Parmenas, Nicolau, Timom, Nicanor, Filipe e Prócoro.
Devido à insuficiência de recursos financeiros, Pedro zelava, com imensa
habilidade, para que não faltasse o socorro aos desfavorecidos da vida, o que não o impedia
de sentir-se "cada vez mais escravo dos seus amigos benfeitores”. Ainda assim, o trabalho
nobre da assistência sofreu graves prejuízos ao longo do tempo em face tanto da
dependência financeira como pela perseguição progressiva do judaísmo à Igreja Nascente.
Depreende-se o notável esforço dos discípulos de Jesus, que, em épocas tão
distanciadas, enfrentaram adversidades sem conta e perseguições implacáveis, que
culminaram em suplícios e até na morte. Não arredaram pé, permaneceram confiantes e
confiados nos desígnios do Senhor, deixando exemplos de coragem, abnegação e devotado
amor ao semelhante no exercício da mais pura caridade.
Com o advento da Doutrina Espírita, Allan Kardec, restabelecendo conceitos
crísticos, afirma: “Fora da Caridade não há salvação” (livro “O Evangelho Segundo o
Espiritismo – cap. XV). As mãos santas de Francisco Cândido Xavier grafaram o
pensamento de Emmanuel (livro “Vinha de Luz”): “Quem dá o pão ao faminto e água ao
sedento, remédio ao enfermo e luz ao ignorante, está colaborando na edificação do Reino
Divino. Assistência, medicação e ensinamento constituem modalidades santas da caridade
generosa que executa os programas do bem. São vestiduras diferentes de uma virtude
única”.
Para o cristão espírita são insofismáveis as duas vertentes da caridade: a moral e a
material. No que concerne à caridade moral, é preciso compreender que a Doutrina Espírita
é a religião da assistência gratuita, concebendo-se, então, a necessidade de que a assistência
seja realizada com os próprios recursos e à custa do esforço próprio, fugindo tanto quanto
possível de tarefeiros pagos, cooperações financiadas, subvenções governamentais,
susceptíveis de levar à dependência e ao descaminho do profissionalismo religioso.
Uma das mais lindas tarefas que os agrupamentos fraternos realizam é a Sopa
Fraterna. Lembramos que ela já era realizada nos primórdios da Casa do Caminho. Esta
tarefa é destinada a todos, indiscriminadamente, até mesmo aos que, na aparência, se
mostram saudáveis e robustos para o trabalho. A tarefa guarda a finalidade de alimentar
corpos, sim, todavia os benefícios que propicia podem ser ampliados. Além da sopa é
possível ofertar ao assistido: uma peça de roupa, corte de barba, cabelo e unha,
atendimento em enfermagem e, sobretudo, uns minutos de muita afabilidade em
conversações que adentrem ao centro de sua emoção. Dentro de certos limites, é um
atendimento fraterno ao irmão, em geral desguarnecido do sentimento da fé e
provavelmente distante da formação cristã-espírita.
Escapa a nós do plano da formas físicas, o desenrolar da execução desta tarefa no
mundo invisível. Inúmeros espíritos, nos mais diferenciados quefazeres, verdadeiramente
conduzem o trabalho da assistência: auscultam as mais íntimas necessidades dos assistidos,
inclusive as de natureza espiritual; aplicam-lhes passes espirituais revitalizadores do
organismo físico, com inferência no reequilíbrio das mentes; ao alimento adicionam
recursos energéticos que eles muito bem sabem manipular, dando muito mais conteúdo
nutritivo à refeição. Também estabelecem ambiente espiritualizante propício a desarmar o
espírito dos assistidos, de modo a favorecer o trabalho da conversação e do atendimento
fraterno.
Depreende-se da imperiosa necessidade da preparação dos tarefeiros, sob o ponto
de vista do equilíbrio emocional, das posturas íntimas, comprometimento com a tarefa,
assiduidade, higiene, cooperação mútua e esforços para legitimar o ambiente solidário e
fraternal.
Com esta postura, o alimento é mero atrativo para que os serviços da iluminação e
da solidariedade cristã prevaleçam. Cumpre-se o preceito do espírito Cornélio Pires, em
mensagem recebida no Grupo Espírita de Fraternidade Albino Teixeira, de Belo Horizonte,
pela médium Sônia Cunha:
“Caridade não é só dar o pão,
para quem padece a fome.
É auxiliar um amigo, irmão,
nos vícios que o consomem”.
Sopa do Socorro
Convém estarem atentos pois os Centros Espíritas são
destinados a todos indistintamente, sem restrições de castas,
cor, intelecto, riqueza, status, etc. Nunca é demais lembrar
também que o perigo da elitização é ameaça grave, tramada
pela espiritualidade das sombras, adredemente organizada para
o objetivo de desintegrar e esvair estes templos da caridade,
da elevação espiritual, do auxílio aos necessitados, quer
encarnados, quer desencarnados.
É com preocupação que vemos as forças negativas
triunfarem parcialmente em várias ocasiões, levando ao estado
deplorável da falência mediúnica aqueles irmãos que com tanto
carinho e desvelo foram preparados por longos períodos para
desempenhar, aqui no plano material, as tarefas de direção,
de doutrinação, de passistas, de resgates especiais e
mormente de médiuns, ai incluindo os de psicofonia,
psicografia, de materialização e vibracionais.
No caso dos agrupamentos fraternos, rogamos para que não
sejam transformados em templos para a elite. A continuação de
todas as tarefas assistenciais é por demais importante,
mormente aquelas destinadas à pobreza, sofredores maiores
deste mundo de regeneração, nestes momentos de anarquia,
sofrimento, dor e dementação.
É com esse intuito que lembramos ser a Sopa da Amizade
uma tarefa imprescindível na assistência aos pobres
necessitados, bem como aos espíritos em aprendizado de
socorro e ajuda de diversas nuances. Assim é que temos, além
dos assistidos encarnados, espíritos famintos e sofredores,
além de entidades que se opõem à realização de tão nobre
tarefa; contudo, os espíritos benfeitores estabelecem
barreiras magnéticas impeditivas de ações malévolas das
trevas.
São inúmeros os casos de curas que dir-se-iam milagrosas
entre esses pobres famintos e que passam desapercebidos entre
vocês, não sendo avaliados estatisticamente.
No meio espiritual, nós a chamamos de “ Sopa do
Socorro”, e isto é lindo. É belo demais para que esses
trabalhos sofram ataques e sejam atingidos por adversários
com argumentos supostamente convincentes e objetivando a sua
extinção.
Muitos irmãos, ou melhor, todos que da tarefa
participam, para isto foram preparados e treinados no plano
espiritual e para cá vieram, encarnados, desempenhar a nobre
tarefa que lhes é delegada pelos sábios instrutores das mais
diversas cidades espirituais.
Em toda semana acontecem visitas, de fins educativos, de
mestres e trabalhadores devotados do mundo invisível.
Há algo mais meritório e mais belo que, além de servir à
pobreza sofredora, saciando-lhe a fome material e as dores
físicas, tocar-lhe as almas para o reconforto e a lembrança
alentadora de que a dor de agora é o resgate glorioso do
pretérito, incutindo-lhes maior coragem e resignação? Não,
queridos irmãos!
É por demais necessário para nós, para vocês e para eles
a continuação perene do que foi traçado no espaço sideral,
com a concordância e o consentimento de todas as partes.
Que seja inquebrantável a palavra empenhada. Não há nada
mais triste, desolador e negro do que a falência mediúnica
que envolve os altos propósitos previamente acertados.
Muita paz.
Saldanha
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte/
MG, em 28/03/1983, pelo médium Maricélio Soares Cunha.
Visita Fraterna
Quando da sua vinda missionária à Terra, Jesus estabeleceu como templo a natureza
e como sagrado objetivo elevar o homem até Deus e ensiná-lo a sentir e viver, em
profusão, a sublimidade do amor. Situou todos como irmãos e os ensinos e atos de Jesus
guardaram sempre o propósito de estimular as criaturas a viverem em regime permanente
de solidariedade e respeito. Incitou a busca da paz sem acomodação, da iluminação íntima
ausente da reclusão mística, da cooperação sem exigências e do serviço ao próximo sem
distinção de qualquer espécie.
Jesus não passou simplesmente pela Terra. Ele nos legou as marcas inapagáveis do
perdão, da compreensão superlativa e do amor às raias do infinito! Ele próprio inaugurou a
prática sublime de visitas ao coração humano e, para tanto, mesmo considerando a
exiguidade do seu tempo no mundo, não se eximiu de levar o reconforto a lares premidos
pelos mais afligentes infortúnios.
Lembramo-nos de que, após Jesus passar para outra banda do mar da Galiléia, uma
multidão já o aguardava, ansiosa por seus ensinos e atos de amor. Surgiu Jairo, o chefe da
sinagoga, que vendo-o, prostrando-se aos seus pés, rogou-lhe muito, dizendo sua filha estar
moribunda e que Jesus fosse e lhe impusesse as mãos para que ela sarasse e vivesse.
Certamente, Jesus acolheu, em seu coração, a súplica daquele homem.
Enquanto dispensava atenção à multidão, sentiu alguém tocar-lhe as vestes. Era uma
mulher que vertia sangue há doze anos e imediatamente aconteceu uma transfusão de
energias radiantes, independente da vontade do meigo Nazareno. Logo após este fenômeno
inesquecível, os que estavam próximos de Jairo disseram:“ A tua filha está morta; para que
enfadas mais o Mestre? e Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da
sinagoga: “Não temas, crê somente. E não permitiu que alguém o seguisse a não ser
Pedro, e Tiago, e João, irmão de Tiago. E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga,
viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam. E, entrando, disse-lhes: Por que
vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E, tomando a mão da
menina, disse-lhe: Talita cumi – que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te”.
(Marcos 5:35 a 39 e 41)
Também os seguidores de Jesus, aconchegando o Evangelho em seus próprios
corações e levando bom ânimo às almas sedentas de afeto e de paz, realizaram, em
profusão, muitas visitas fraternas.
Ainda para atestar a vivência do Evangelho, na forma do calor que se leva na
visitação fraternal, retornamos aos ambientes do cristianismo primitivo, particularmente na
velha Roma, onde Paulo, o apóstolo dos gentios, iria submeter-se ao julgamento de César.
César.
Paulo recebera a prerrogativa da “custódia libera”, isto é, viveria fora do cárcere até
o julgamento. Ele deliberou residir com Lucas, Aristarco e Timóteo, a quem aconselhou
fixarem residência na via Nomentana e procurarem trabalho para não serem pesados aos
"irmãos do caminho". Contudo, ia diariamente até as grades do calabouço, onde tomava a
sua ração alimentar. “Aproveitava, então, essas horas de convivência com os celerados ou
com as vítimas da maldade humana para pregar as verdades confortadoras do Reino,
ainda que algemados. Eram criminosos do Esquilino, bandidos das regiões provincianas,
malfeitores da Suburra, servos ladrões entregues à justiça pelos senhores ... A palavra de
Paulo de Tarso atuava como bálsamo de santas consolações”. (livro “Paulo e Estêvão”,
psicografia de Francisco Cândido Xavier)
Na acepção lídima do termo, as visitas fraternas são mais que um ato de
cordialidade, de retribuição, de sociabilidade, de simpatia e de amizade. Falamos de visitas
em que levamos a solidariedade, a esperança, o nutriente da fé, a paz interior e deixamos
energias radiantes fortalecedoras do hemisfério orgânico ou da mente em desassossego e as
vibrações positivas que nascem da intimidade do nosso ser.
Raramente nos lembramos que colhemos dessas visitas a gratidão, o agradecimento
e vibrações de simpatia que se revertem a benefício de nós mesmos, sem contar as benesses
de um tempo utilizado para o bem.
A princípio são relevantes as visitas realizadas em instituições como hospitais,
presídios, manicômios, leprosários, asilos e congêneres, além do atendimento a enfermos
de variados matizes em seus lares. Não se pode desconsiderar a magnitude das visitas
fraternas a irmãos não catalogados como enfermos dentro da conversão humana. Nem
sempre logramos fazer boa leitura das carências que afetam nossos irmãos em trânsito na
Terra e quantos deles estão próximos de nós. Muitos deles esposam os mesmos princípios
filosóficos que nós e foram valorosos tarefeiros do bem em determinado momento e,
circunstâncias que nos escapam a compreensão abafaram-lhes o entusiasmo e as crenças.
Se visitados pode ser que a vida lhes reserve a bênção do recomeço.
Nessa configuração merece menção visitas fraternais a lares de companheiros que se
desdobram em atividades comuns a nós, como por exemplo compondo em grupos
mediúnicos, trabalhos de evangelização e outros. Visitas periódicas e programadas de
forma alternada, propiciam o estabelecimento do sentido de família, o germinar de
sentimentos afins que frutificam na forma de alimentos da paz e realização.
A cura de um tuberculoso
Em meados de 1958, Ataíde Lemos da Silva, freqüentador do Grupo da
Fraternidade Rodolfo Henriques de Manhuaçú/MG, transferiu moradia para Belo
Horizonte. Registra-se que o mentor espiritual do Grupo em referência era o pai de Lídio
Diniz Henriques, um entusiasmado trabalhador do Movimento da Fraternidade, e filho de
Manoel Henriques, que fora um homem do campo que exerceu durante largo tempo a
simples profissão de tropeiro.
Conforme diagnóstico médico em hospital renomado de Belo Horizonte, Ataíde
estava acometido de tuberculose. Orientado por parentes freqüentadores do Grupo da
Fraternidade Rodolfo Henriques, Ataíde procurou o Jair Soares, no Grupo da Fraternidade
Espírita Irmã Scheilla, para receber uma orientação espiritual acerca do seu problema.
Dentre as terapêuticas espíritas sugeridas pelo espírito Joseph Gleber uma foi a de receber
uma série de aplicações na reunião de tratamento espiritual (ectoplasmia), antiga reunião de
materialização do agrupamento em referência.
Em simultâneo e em decorrência do tratamento, Ataíde recebeu no seu lar,
semanalmente, uma equipe de visitação a enfermos sob a coordenação de Ênio Wendling e
Jair Soares. Consta que um médico que teve sua última existência na França, de nome
Chapot Presvot, assistiu e conduziu, no nível espiritual, o tratamento em questão. Encerrado
o ciclo da visitação indicado na orientação espiritual, o paciente submeteu-se a nova
consulta médica, constatando-se não só o desaparecimento completo dos sintomas como a
inexistência de manchas da doença, observáveis no exame radiográfico.
Quanto a outra enfermidade que acometia o Ataíde, a diabete, o médico espiritual, já
na primeira orientação, afirmou que o tratamento específico deveria atender as prescrições
dos médicos da Terra.
Às Equipes Visitadoras
Lembramos que todos os irmãos visitadores estão e
deverão continuar dando o máximo aos lares que recebem o
carinho das equipes. Para que o auxílio se faça mais
objetivo, pedimos precaução aos companheiros para todas as
atividades desta maravilhosa tarefa.
Para sermos mais objetivos no auxílio aos irmãos
enfermos, necessários se fazem certos cuidados de higiene ao
se aproximarem do visitado. Muitos colaboram despretensiosos.
Alguns chegam ao lar despreocupados e, naturalmente desejosos
da demonstração de carinho e fraternidade, se abraçam e se
beijam. Nós, da Espiritualidade, fraternalmente, discordamos
deste procedimento.
Muitas vezes o enfermo está possuído de uma enfermidade
contagiosa, ou em caso inverso, pela dificuldade física do
visitado naquele momento, poderíamos também transmitir-lhe
agravação para o seu quadro.
É bom lembrar-lhes que, naturalmente, não será
distanciando-se do enfermo, mas evitando o contato mais
direto através do beijo, pois desta forma, fica fácil tanto
levar como receber a enfermidade.
Achamos que a palavra amiga, o sorriso, são importantes
formas de demonstração de carinho e afeto, para chegarmos aos
objetivos.
Não podemos nunca esquecer de que também temos a parte
contrária às nossas metas. Precisamos estar vigilantes.
Reforçando a nossa afirmativa, esclarecemos que em muitas
vezes o nosso visitado está sendo influenciado por um
processo espiritual e que, com o desenrolar do tempo, se o
assédio atingir-lhe o organismo físico, a doença poderá
grassar, perturbando os participantes desse quadro.
Por isto, solicitamos cautela, além do esquema que rege
essa atividade de visitar aos lares.
Que Jesus ampare a todos e que possam continuar
oferecendo os seus corações neste trabalho a nós confiado.
Desejamos a todos muita paz.
Joseph Gleber
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espirita Irmã Scheilla, de Belo
Horizonte/MG.
Visita aos Enfermos
Tão importante quanto os métodos mais sofisticados,
nestes tempos de crises e vibrações cósmicas negativas,
oriundas das hordas infernais que rondam a crosta, as
visitações feitas pelas equipes são processos de cura e
doutrinação de rara eficiência.
Nos casos mais agudos, de famílias não espíritas
principalmente, devem ser a solução dada em primeiro lugar,
antes de se receitar ou sugerir captações, evocações,
reuniões de desobsessão, etc.
Do plano espiritual podemos contemplar toda a magnitude
das transformações operadas em um lugar no momento das
visitas e na seqüência do tempo que se segue.
Brumas escuras e toda a parafernália de zumbidos extra-
sensíveis que envolvem a casa, originadas das energias
magnetizadas dos grupos obsessos, entram em reações
eletromagnéticas sob o influxo das energias polarizadas pelo
grupo visitante, e se desfazem em explosões visíveis,
brilhantes e inaudíveis, tal como filme sem som.
Imagens de paz e tranqüilidade são plasmadas e,
tenuemente coloridas, refletem-se na bruma escura. Cascatas,
relvas e gramas passam a integrar aquele ambiente. Irmãos
ainda em trevas, que ali obsidiam, odeiam e fazem padecer,
saem em disparada, espavoridos, olhando para trás e buscando
socorro, que agora eles imploram e desejam.
Por isso, nos diversos casos, o grupo deve sempre, como
preâmbulo, fazer ligeira doutrinação, explicando aos
presentes os fatos que se passam com o enfermo, a necessidade
de preces e pensamentos positivos, continuadamente, para que
as imagens e sons de paz ali plasmados não de desfaçam tão
logo dali se retirem.
É mister alertar a todos os pacientes para a necessidade
de se entender o mecanismo dos fatos que se desenrolam no
Universo deles e de seus familiares, com o que muito tempo
será ganho.
Os resultados avaliados pela Espiritualidade demonstram
que as equipes visitadoras obtiveram maior percentual de
êxito, curas e encaminhamento à doutrina espírita do que
quaisquer outros processos, mesmo os mais sofisticados, como
captações e materializações de espíritos para cura.
Cada um dos processos tem as suas indicações específicas
e não podemos indicá-los aleatória e egoísticamente, de
acordo com os nossos gostos, amizades e laços.
Aqui, nesta casa mesmo, temos os mais, milagrosos casos
de cura e recuperação, conseguidos com os passes das equipes
de visitação.
Não é o momento de olvidá-las, muito pelo contrário; é
hora de ampliar os seus raios de ação.
É de transfigurante beleza o momento da visita num lar
enfermo. Sim, queridos irmãos, na maioria das vezes, não
existe um doente, e sim um lar enfermo a necessitar de
injeções de ânimo, vibrações elevadas e energias positivas.
Muita paz e reflexão para todos.
Saldanha
Mensagem recebida pelo médium Maricélio Soares Cunha, em Reunião de Orientação
Espiritual do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte/MG, em
16/03/1981.
Como organizar Equipe de Visita Fraterna
Objetivo da Visitação Fraterna:
Levar assistência cristã espírita aos lares, asilos, hospitais e congêneres, propiciando
vibrações fraternas de carinho, harmonia e paz.
Composição da Equipe de Visitação Fraterna:
Cada equipe será composta de pelo menos 03 (três) membros, todos eles comprometidos
com a causa do Cristo e imbuídos do propósito de servir com muito amor aos seus
semelhantes.
Requisitos Necessários Aos Componentes da equipe de Visitação Fraterna:
- Possuir indispensáveis conhecimentos da Doutrina Espírita do Evangelho;
- Ser trabalhador efetivo do agrupamento cristão espírita;
- Cultivar hábitos de renovação íntima;
- Dominar os vícios do fumo, do álcool e das drogas;
- Desfrutar de boa saúde física, mental e espiritual;
- Ser assíduo e pontual;
- Manifestar, na realização da tarefa, sinceridade de propósitos, discrição e
simplicidade;
- Ter concluído o curso sobre o passe espírita;
- Realizar semanalmente o Culto do Evangelho no Lar;
- Subordinar-se às normas da instituição a que se vincula para o cumprimento da tarefa
Conduta da Equipe durante a Tarefa:
- Criar atmosfera positiva, por meio de conversação edificante;
- Exprimir sempre otimismo, alegria cristã, afastando sabiamente o azedume, o
desequilíbrio e o desespero;
- Não interferir no tratamento médico ou psicoterápico em vigor;
- Auxiliar sempre, sem interferir na vida familiar, falando e agindo sem impor
convicções;
- Atender às necessidades físicas, materiais e morais com recursos ao alcance da equipe;
- Abster-se do transe mediúnico;
- Em tempo algum, relatar quadros de vidência que possam criar desconfiança,
incredulidade ou medo;
- Ter cuidado no trato com os obsidiados, evitando relatos mediúnicos ou considerações
relativas ao quadro de etiologia espiritual em questão, susceptível de atormentar mais
ainda o enfermo ou a família;
- Evitar ações individualizadas, priorizando sempre o trabalho coletivo, com o mínimo de
improvisações;
- Respeitar o modo de vida dos lares e as normas internas dos hospitais e outras
instituições;
- Recusar qualquer ajuda monetária para a consecução da tarefa, proclamando o esforço
para a auto-suficiência;
- Evitar a distribuição de objetos de uso pessoal, cigarros e dinheiro;
- Iniciar e concluir a tarefa com prece ao criador e abster-se de conversações menos
dignas durante o transcurso da atividade.
1.c) Tarefa de Passes
Vivenciando o segundo estágio, estará o fraternista desenvolvendo, simultaneamente,
a sua capacidade de doar energia espiritualizante onde e quando for necessário, através
da “Tarefa de Passes”, objetivando a evolução e a espiritualização do assistido, segundo o
modelo praticado e ensinado por Jesus aos seus Apóstolos e Discípulos.
Segundo o espírito André Luiz (livro “Evolução em Dois Mundos”) “o passe é o
exercício da medicina da alma na execução do alívio ou cura da dor, dor esta que se
manifesta na forma de alarme ou emergência no império do organismo humano”. Por este
conceito percebe-se a profundidade da ação terapêutica das energias radiantes, sendo o
espírito o seu objetivo último e naturalmente que sua profilaxia produz efeitos salutares no
organismo e na mente promovendo o reequilíbrio natural da criatura humana. Neste
trabalho de assistência, convém ao passista fazer regime de vida e comparecer ao trabalho
com a “veste nupcial”.
Nos agrupamentos fraternistas, a transfusão de energias radiantes por meio dos passes
se traduz numa terapêutica extraordinária que convém ser exercitada com singeleza,
humildade, conhecimento e espírito cristão. Para tal desiderato, de forma sucinta, alguns
pontos devem ser destacados:
1) Natureza dos passes:
passe magnético
passe espiritual
passe de magnetismo humano-espiritual.
O passe magnético é aplicado desde épocas remotas da humanidade, naturalmente
conhecido sob denominações diferenciadas. A partir do século XVIII, com o
aprofundamento do interesse pelo estudo do magnetismo, pesquisadores como Mesmer,
procuraram conhecer os seus mecanismos e as leis reguladoras de tais fenômenos, dando-
lhes, pois, tratamento científico.
O passe magnético apresenta inúmeras variedades e técnicas, todavia é
desnecessária sua aplicação nos agrupamentos cristãos-espíritas em face à opção pelos
modelos a seguir discriminados, mais condizentes com os trabalhos que desenvolvem.
O passe espiritual é aplicado diretamente pelos espíritos, sem o concurso dos
médiuns e eles podem aplicá-lo na medida que julgarem conveniente. Assim é que em
reuniões públicas e assemelhadas os espíritos benfeitores, auscultando os presentes,
distribuem energias balsâmicas de conteúdo radiante, deixando de ter sentido, então, o
passe coletivo, por vezes enunciado pelos dirigentes de reuniões ou assembléias.
Por possuírem elementos de auscultação e processos diagnósticos mais avançados,
que melhor identificam as necessidades dos pacientes, e no intuito de beneficiar os que
apresentam estado de descompensação orgânica, emocional ou espiritual, os amigos
espirituais utilizam-se do Passe de magnetismo humano-espiritual. Este tipo de Passe
resulta da combinação de recursos balsâmicos e restauradores do plano espiritual com as
energias humanizadas do médium; no Passe, estas energias transformadas são direcionadas
pelos espíritos aos órgãos e regiões carentes ou lesadas do paciente. Quanto maior a
sintonia entre o espírito e o médium passista, mais perfeito será o processo de interação
energética; quanto maior a receptividade e o merecimento do paciente, de melhor
expressividade serão os benefícios colhidos por ele. Daí a recomendação desta modalidade
de passe aos agrupamentos espíritas, o que dispensa a prática de outros recursos
terapêuticos à conta de medicina alternativa como: reike, florais, pirâmides, fitoterapia. Não
se questiona o valor dessas terapias e a seriedade de quem as aplica e, sim, a inoportunidade
do uso delas no seio do agrupamento fraterno, pois os recursos de cunho espiritual, em sua
totalidade, constituem a terapêutica por excelência.
2) Tipos de passes:
em equipe (aconselhável nos casos de obsessão instalada, acometimentos orgânicos
graves e visitas fraternas a enfermos);
individuais (os que acontecem rotineiramente na cabine de passes);
do sopro (conquanto habituais no mundo espiritual, não recomendáveis por questão
higiênica);
coletivo (expressão algo inadequada pois que os espíritos benfeitores presentes no
recinto, independente da vontade dos presentes, podem, a próprio juízo, aplicar o
"passe espiritual", utilizando os recursos da sua mente e do fluido cósmico universal);
à distância (os espíritos superiores possuem habilidades e conhecimentos para ação a
distância, podendo, inclusive, manipular recursos extraídos do fluido vital de criaturas
encarnadas, já o médium passista, por si, só age com os recursos substanciosos da
oração).
3) Técnicas do Passe:
Fundamentalmente, o passe implica na movimentação de energias reparadoras a
benefício do paciente, podendo ocorrer com a simples imposição das mãos conforme
acentuou Jesus: "Se impuserem as mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados" –
Marcos (?) , capítulo 16, versículo 8.
Alternativamente preceitua-se o movimento de mãos e isto acontece desde o século XVIII
com Mesmer, o pai do magnetismo animal, que introduziu o "passe magnético".
Nesta questão existe muito empirismo e técnicas individuais. No Movimento da
Fraternidade há a preferência por técnicas adotadas no mundo espiritual, conforme discorre
e exemplifica o espírito André Luiz (livro “Missionários da Luz”). Em síntese, propugna-
se:
movimentos longitudinais – repetidas vezes, as mãos espalmadas na altura da cabeça
(centro frontal) deslocam-se na direção dos membros inferiores de forma a dispersarem
maus fluidos. Se os movimentos das mãos forem mais lentos e pausados haverá
distribuição eqüitativa de energias restauradoras.
Movimentos circulares ou rotatórios - uma das mãos descreve movimentos
circulares, lentos, sobre determinada região; a outra permanece à altura da fronte.
Haverá concentração ou inoculação de forças positivas, beneficiando uma ou mais
regiões do organismo humano ou perispiritual, representando uma autêntica transfusão
de energias radiantes.
Decálogo do Passista
1) desfrutar de boa saúde física e mental;
2) dominar os vícios do fumo e outras substâncias tóxicas que operam distúrbios nos
centros nervosos, modificam certas funções psíquicas e anulam os melhores esforços na
transmissão dos elementos regeneradores e salutares (livro Missionários da Luz);
3) deter indispensáveis conhecimentos da doutrina espírita;
4) possuir grande domínio sobre si mesmo;
5) estar iluminado pelos sentimentos da fé e da boa vontade que são fontes de
movimentação das energias radiantes e elo de ligação com os espíritos do bem;
6) controlar qualitativa e quantitativamente os alimentos ingeridos que interferem nas
emissões energéticas, segundo esclarece o espírito André Luiz (livro Missionários da
Luz);
7) dedicar elevado amor aos semelhantes;
8) exprimir-se com humildade guardando a certeza de que o medianeiro não é o senhor do
benefício e sim alguém que recebe para dar (o passista é algo semelhante a singela
tomada elétrica, dando passagem à força que não lhe pertence e que servirá na produção
de energia e luz (livro Nos Domínios da Mediunidade);
9) vincular-se amorosamente à tarefa, comprometendo-se com o agrupamento cristão;
10) ter domínio sobre a técnica da transmissão das energias radiantes.
1.d) Formação de Ambientes Espiritualizantes
Atingido o terceiro estágio, passará o fraternista a gerar, de forma natural, um
verdadeiro "ambiente espiritualizante", em torno de si, objetivo final da Espiritualidade,
programado para ser colimado no decurso de várias reencarnações.
Para espiritualizar um ambiente onde comparecem duas ou mais pessoas faz-se mister
a presença do sorriso gentil, da palavra amiga, da audição compreensiva, do interesse pela
dor alheia, da paciência fraternal, das mãos estendidas e da atenção às necessidades do
outro. O treinamento dessas conquistas passa necessariamente pelos pontos anteriores do
PTP – Programa de Trabalho Permanente. O Movimento da Fraternidade indica alguns
caminhos que ensejam a ampliação paulatina dos laços que formam a família universal.
Representam momentos de integração e neles temos: o ambiente espiritualizante, a palavra
que eleva, a música que enleva, o carinho fraterno, o encontro que renova as energias.
Nesses momentos, o interesse fraternal estimula o bom ânimo, a conversação amiga
alimenta as almas, a confiança mútua fortalece nosso espírito, o gesto afetuoso é pura
energia! São eles:
- Reuniões de Confraternização dos trabalhadores do agrupamento fraternista, com
periodicidade mensal. Ocasião propícia para que os servidores do Cristo, num
encontro lítero-musical, reabasteçam suas energias e permutem, de forma descontraída,
energias, impressões e conhecimentos;
- Encontros Fraternos Regionais, que representam oportunidades de profícua convivência
de fraternistas vinculados aos vários Grupos Fraternistas. Encontro análogo ao da
reunião de confraternização dos trabalhadores do agrupamento fraternista, todavia com
maior amplitude, onde naturalmente podem ser desenvolvidos temas de interesse geral
sem que se polarize com primazia a questão dos estudos. É ensejo para promover a
convivência afetiva, carinhosa, “adubada” por ricos momentos de apresentação artística
de cunho espiritualizante;
- Culto do Evangelho no Lar de membros integrados em determinada tarefa.
Acontecimento periódico que proporciona o encontro de todos os integrantes de
determinada tarefa, no lar de um deles alternadamente, com o objetivo de
confraternizar e consolidar os laços de amizade;
- Reuniões periódicas de avaliação para enriquecimento do convívio e qualidade de
determinada tarefa do agrupamento cristão-espírita;
- Confraternização das Mocidades Espíritas do Movimento da Fraternidade –
COMEMOFRA. Evento organizado pelos jovens que sempre se realiza na Cidade da
Fraternidade durante o período de Carnaval e visa à formação de valores nobres e
edificantes, nascidos da convivência fraterna no seio da sociedade humana;
- Caravanas regulares à Cidade da Fraternidade - Cifrater, obra comum dos Grupos
adesos ao Movimento da Fraternidade. Os objetivos da Caravana são: oferecer
oportunidade ao fraternista de conhecer a comunidade e de conviver fraternalmente
com os caravaneiros e comunitários, além de aproximar Cidade da Fraternidade e
Grupos da Fraternidade.
- Semana da Fraternidade, um encontro nacional com proporções maiores que um
Encontro Fraterno Regional, na medida em que congrega fraternistas de todas as
Regiões Fraternas. Para se ter a dimensão da importância da Semana da Fraternidade,
apresentamos a seguir uma das tantas mensagens recebidas dos amigos espirituais
quando da organização da 20ª Semana da Fraternidade realizada no ano de 2003, em
Belo Horizonte.
1
Manifestações Espirituais
Os aprendizes dos tempos apostólicos, em que pese não dominarem a ciência da
mediunidade, exerceram-na com rara beleza. Os apóstolos, sem exceção, foram portadores
de dons mediúnicos portentosos e produziram tanto fenômenos de efeitos físicos como
intelectuais. Os seguidores da Boa Nova, espalhados pelo mundo afora, igualmente
prodigalizavam fatos mediúnicos inaugurando uma nova era.
Atendendo ao chamamento de Jesus e acionando a virtude da fé, curavam enfermos,
narravam quadros de vidência espiritual, recebiam mensagens magníficas pelas vias da
intuição ou escreviam cartas, como Paulo, o Apóstolo, nas suas célebres epístolas, inspirado
por Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo. O próprio apóstolo dos gentios e Simão
Pedro, em decorrência das suas possibilidades ectoplásmicas, produziram fenômenos de
efeitos físicos em plena luz do dia, sendo inesquecível, por mais de uma vez, a abertura de
celas das prisões atribuídas pelo povo a anjos celestiais, em verdade pelos espíritos
benfeitores, quando de suas reclusões nas tarefas cristãs.
Os fenômenos das curas se transformaram em atos corriqueiros e naturalmente que
os seguidores do Nazareno, além de médiuns ostensivos, estavam estribados na fé e no
desejo fraternal de servir à causa do Cristo. O ambiente entre eles era da mais pura alegria
cristã e praticamente se confundiam os atos da vida comum com as realizações mediúnicas.
A premonição de Ananias quanto à chegada de Paulo em seu lar para acolhê-lo e
restituir-lhe o dom da visão; a cura do proconsul Sérgio Paulo por Jesiel, antes mesmo
deste converter-se na figura de Estêvão, que se tornaria, na Casa do Caminho, o orador
mais inspirado da história cristã; o reaparecimento de Jesus para o quadro discipular, em
variadas oportunidades ou isoladamente, trazendo-lhes alento para a persistência na direção
do porvir; as visões de centenas de cristãos no Circo de Roma, quando se avizinhavam os
seus martírios, a contemplarem personagens e quadros espirituais que lhes fortaleciam o
ânimo, suprimia-lhes a dor e isolava-os da maldade humana. Essas são singelas citações
das expressões mais dignas de mediunidade, sublimando o intercâmbio com o mundo
invisível naqueles distantes tempos!
Foi um período inesquecível em que a mediunidade dignificou a afirmativa crística:
“Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: de
graça recebestes, de graça daí” Mateus 10:08.
O Espiritismo, como o Consolador Prometido, veio ao mundo para restabelecer os
ensinos de Jesus e proporcionar novas verdades não reveladas em atendimento a
circunstâncias da própria evolução da humanidade. O Movimento da Fraternidade se vale
de Grupos Fraternos para, à luz dos postulados espíritas, dar sua efetiva contribuição para a
concretização da missão transformadora de tornar o Brasil em Pátria do Evangelho. A
proposta do Movimento da Fraternidade é a de reviver as belezas, a simplicidade e os
sentimentos lídimos da fraternidade, característicos dos cristãos primitivos. Neste
particular, os aspectos de ternura, despojamento e simplicidade, no que tange a
mediunidade, não podem ser esquecidos.
Entendemos que, com o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, quando a
partir de 1949 aconteceram as extraordinárias reuniões de materialização, com variados
fenômenos ectoplásmicos, restituiu-se à mediunidade o sentido de fenômeno comum,
singular e belo. Desde então essas reuniões se espalharam pelos agrupamentos afins,
fazendo eclodir muitos médiuns e vulgarizando as práticas mediúnicas, despojadas,
todavia, de misticismo, de ambientes esdrúxulos adredemente preparados para
impressionar e de improvisações indesejáveis e improdutivas. Com amparo nas obras
básicas e nas complementares, sobretudo com a mediunidade de Francisco Cândido Xavier,
considerou-se importante prestar ouvido aos espíritos, no entanto, com alta consideração e
respeito à ciência espírita no estabelecimento dessas relações.
Os equívocos então cometidos(onde?) tendem
cada vez menos recorrentes, pois procura-se alinhar as
virtudes mediúnicas dos tempos primitivos com as
instruções da Codificação Kardequiana. Infelizmente é observável uma onda pseudo-
modernista sob o pretexto de acompanhar a evolução da ciência, com a inserção de novos
modelos nas práticas mediúnicas, corroborando com a necessidade de experimentação tão
a gosto dos inovadores. O codificador do espiritismo sempre enfatizou o caráter dinâmico
da doutrina, asseverando mesmo sobre mudanças conceituais se a ciência demonstrasse
erro em algum ponto doutrinário.
Nessa onda de atualizar Kardec e revisar preceitos emanados das obras mediúnicas
de Chico Xavier, muitas instituições orientadas por eméritos espíritas ainda
desnecessárias porque os recursos
espíritas – quais – são suficientes? : - realizam
reuniões de intercâmbio mediúnico com presença aberta ao público;
- adotam o sistema de manifestações simultâneas, com muitos médiuns em transe ao
mesmo tempo e , cada qual , recebendo a atenção de um doutrinador;
- expõem médiuns ostensivos ao público, notadamente os de efeitos físicos, sob a
premissa velada de atrair e multiplicar adeptos;
- introduzem práticas psicoterapêuticas como a TVP-
terapia de vidas passadas, abertamente ou não (???), seja pelo canal mediúnico ou pela via
anímica, para que inumeráveis criaturas perturbadas
ou não no seu psiquismo adentrem no próprio
inconsciente profundo para rememorar experiências
e personagens do passado espiritual.
Não é absolutamente condenável o espírito de investigação e tampouco é justo
cercear criaturas sérias, bem intencionadas e de ideal cristão espírita de caminharem
considerando os avanços da ciência (precisa ser feito na casa
espírita ou é procedimento próprio de
profissionais da área de saúde mental?. Faz-se
imprescindível, entrementes, agir com prudência e parcimônia, de modo a evitar
incorrência em lastimáveis erros desarmonizadores do agrupamento cristão-espírita.
Para alcançar sucesso nas comunicações mediúnicas, alguns elementos devem ser
observados relativamente às questões a seguir propostas:
- Qual é o primeiro compromisso do médium cristão-espírita?
Com a mediunidade. Resposta do espírito Joseph Gleber em Reunião de Orientação
Espiritual do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte.
- Qual é o maior dever do médium cristão-espírita?
Evangelizar a si mesmo. Resposta do espírito Emmanuel.
- Qual é a missão do médium cristão-espírita?
Praticar santamente a mediunidade, pois esta é uma coisa santa. (Evangelho
Segundo o Espiritismo - capítulo XXVI)
Qual a maior caridade para com a mediunidade?
Exercê-la com profundo respeito e amor às criaturas humanas e aos espíritos.
A Mediunidade Ideal é a que é se faz acompanhar de determinadas virtudes a
adornar o sensitivo: a instrução, a lucidez, o comprometimento, a discrição, o exercício
e o amor.
Instrução: domínio dos mecanismos da mediunidade e das conseqüências morais
advindos do seu exercício, pelo estudo permanente.
Lucidez: consciência do processo e compostura moral para estar sempre receptivo às
intuições que emanam dos bons espíritos.
Comprometimento: com a causa do Cristo e com a casa espírita.
Discrição: ausentando-se de alardear sobre os próprios dotes mediúnicos e fatos
produzidos na atividade de intercâmbio.
Exercício: continuado, perseverante, considerando a oportunidade rara e grandeza do
trabalho de envergadura espiritual.
Humildade: perante a vida, diante do Criador, certo de que o médium é a ponte entre os
dois planos para que se transitem por ele valores essencialmente
oriundos, fora dele e emanados de seres semelhantes
a ele e noutra dimensão física.
Amor: aos componentes da equipe de intercâmbio, aos espíritos benfeitores
responsáveis pelo êxito do trabalho, aos espíritos menos felizes que comparecem às
práticas mediúnicas e a tarefa em si mesma.
Deduzimos que a combinação dessas virtudes e a qualificação do medianeiro
sustentando-se crescentemente nelas, garantirá o êxito das atividades, o equilíbrio do
sensitivo e a confiabilidade do grupo que se propõe à comunhão com o mundo
espiritual.
Dissertaremos a seguir acerca de dificuldades e ocorrências que médiuns e
agrupamentos fraternos experimentam nas lides mediúnicas, quase sempre decorrentes do
despreparo e invigilância no trato da mediunidade e que significam riscos e perigos
altamente expressivos.
Mistificação e Animismo
“As dificuldades da experimentação mediúnica são proporcionais ao
desconhecimento das leis psíquicas que regem os fenômenos, desconhecimento esse que
mergulha o homem em crendices, absurdidades nas águas turvas da ignorância” (1). Em
tais condições pode suceder que o exercício mediúnico reserve numerosas ciladas, com
prejuízos relativos aos observadores e imensos para os médiuns e Casas Espíritas.
A mistificação é um desses perigos pois pode acarretar conseqüências desagradáveis
para os que não se achem em guarda. O ato ou efeito de mistificar significa enganar,
mentir, burlar, iludir e abusar da credulidade do outro. Depreende-se facilmente que o
mistificador ou embusteiro, porque usa de ardis para ludibriar outras criaturas, é um ser
com baixo conteúdo moral ou como diz Allan Kardec “falso sábio, semi-sábio, orgulhoso,
presunçoso e sistemático” (2).
A mistificação possui duas vertentes: a primeira, que conceituamos como
mistificação propriamente dita (?), ocorre por parte de espíritos
desencarnados que fazem transitar as suas idéias ludibriantes por meio de médiuns
desguardados de reservas morais; a segunda, que definimos como animismo consciente,
resultante das próprias ideações do médium, que insere na manifestação mediúnica, de uma
forma consciente, pensamentos como se fossem de terceiros quando na verdade estão a
exprimirem a si próprios. No entanto, estas idéias externadas pelo médium são
propositadas e ele tem consciência disso... Estes médiuns mal formados estão à conta de
vaidosos, orgulhosos, tendo como característica da personalidade a insegurança, o
personalismo e até o fanatismo.
Na primeira categoria vale a assertiva de Allan Kardec sobre a existência, entre os
desencarnados, “dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhos e pseudo-sábios que
passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes venerados para, sob a máscara de
que se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas idéias” (3). Essas
são as fraudes mais difíceis de erradicar, porque, pela lei de afinidade, esses espíritos
procuram os médiuns orgulhos e vaidosos que não estudam, não se renovam sob o ponto de
vista das vivências evangélicas e se rebelam ante as advertências dos mais prudentes e
comedidos. Os espíritos que aproveitam o vacilo desses médiuns, por vezes ignorantes ou
ingênuos, guardam o objetivo de ridicularizar o próprio medianeiro e levar ao descrédito a
Casa Espírita. Noutras vezes, para se vingarem de desditas do passado espiritual
provocadas pelo próprio médium, deles se acercam para engendrarem a oportunidade da
mistificação, de modo a atingirem o seu objetivo.
São João Evangelista adverte aos homens dizendo: “Meus bens amados, não
acrediteis em todo Espírito; mas, experimentais se os Espíritos são de Deus, porquanto
muitos falsos profetas se tem levantado no mundo” (4). Não raras vezes, os Espíritos
mistificadores agem de forma muito sutil para imiscuírem lentamente as suas idéias,
fascinando aqueles a quem desejam iludir e, para tanto, se apropriam, sem escrúpulos, de
nomes altamente respeitáveis pelas suas boas obras aqui deixadas na Terra.
Há que se atentar para o fato dos Mentores
Espirituais nunca promoverem deliberadamente
qualquer acontecimento de mistificação. (é preciso
registrar esta informação, se para serem mentores os
espíritos são sérios de natureza? ) Allan Kardec afirma que “Deus
permite as mistificações, para permitir a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os
que do Espiritismo fazem objeto de divertimento” (2). Acresceríamos que igualmente a
mistificação pune as criaturas que buscam a mediunidade para satisfação dos interesses
pessoais e tratamento de assuntos eminentemente materiais.
Convém tratar com suspeição ou reserva muitos casos de manifestações mediúnicas,
mormente as que têm caráter de misticismo, de extravagância, de práticas ridículas, de
conceitos que as mais rudimentares noções de ciência contradizem. Uma regra básica para
saber discernir o engodo ou futilidade das manifestações mediúnicas: “ O papel dos
Espíritos não consiste em vos informar sobre as coisas desse mundo, mas em vos guiar
com segurança no que vos possa ser útil para o outro mundo. Quando vos falam do que a
esse concerne, é que o julgam necessário, porém não porque o pesais”(2).
Deduz-se, portanto, a dimensão do risco que se corre quando se dá uma atenção
desmedida às comunicações de espíritos que aconselham em assuntos da vida pessoal, dos
problemas da vida familiar, das questões financeiras dos agrupamentos espíritas e outras de
conteúdo mais materialista.
A mistificação pode ser classificada em :
- Consciente: o médium é o próprio autor do embuste ou faculta-o deliberadamente; neste
caso dá oportunidade para que a entidade desencarnada promova o engano. É um
grave delito moral.
- Involuntária: o médium em aturdimento moral, desajustado emocionalmente, em stress
ou estafa, oferece involuntariamente campo para que entidades inferiores promovam o
engodo por seu intermédio.
- Inconsciente: médium capta telepaticamente correntes mentais parasitas de espíritos
desencarnados ou encarnados. O fenômeno acontece em resultado da invigilância do
médium ou do próprio grupo mediúnico.
Para combater em si mesmo a possibilidade da mistificação, o médium há que ser:
- um estudioso permanente da Doutrina Espírita;
- alguém que entende como sua primeira missão a de evangelizar a si mesmo;
- uma simples criatura que reconhece que é um instrumento a serviço do seu próximo e,
portanto, um médium de Deus.
- um servidor disciplinado, assíduo, comprometido com a Casa Espírita e a causa do
Cristo;
- um cristão que absorve, em real proveito para si mesmo, a beleza dos ensinos dos
Espíritos Superiores e as lições de vida dos Espíritos que se demoram angustiados no
além-túmulo.
Para evitar as mistificações sempre danosas ao equilíbrio das suas atividades, a Casa
Espírita, no trato com os médiuns, deve proceder com grande circunspecção, de modo a
preservá-los, criando ambientes verdadeiramente espiritualizantes para os cometimentos
mediúnicos. Os dirigentes haverão de tornar as reuniões mediúnicas, sérias, instrutivas e
produtivas, cuidando para que os componentes dessas equipes tenham sólidos
conhecimentos da Doutrina Espírita e interajam à semelhança de uma família unida na
crença, no ideal e no trabalho.
Convém um exame mais delicado no que concerne ao animismo. Antes, em rápida
síntese, convém aludir sobre o animismo inconsciente, que a princípio não significa
nenhum mal. É o caso de sensitivos que adentram aos ambientes das reuniões mediúnicas
portando uma carga de conflitos emocionais, perturbações psicológicas não resolvidas;
durante o transe mediúnico, de forma inconsciente, eles podem eventualmente adulterar o
conteúdo das idéias que o espírito manifestante se propõe expressar. O fato é perfeitamente
natural, significando dizer que o aparelho mediúnico não está à semelhança de um vaso
perfeito. Só o exercício permanente e a auto-evangelização é que irão favorecer
crescentemente o médium, tornando-o um aparelho cada vez mais confiável. Outras vezes
são encontradas pessoas encarnadas, nas reuniões mediúnicas, “mergulhadas nos mais
complexos estados emotivos, qual se personificassem entidades outras, quando, na
realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em
que se externavam em outras épocas” (5), que quer dizer noutras vidas.
Já o animismo consciente significa um grande mal para o médium e à instituição a
que se vincula e quase sempre os conselhos que derrama e as idéias que exprime têm
direções certas: seduzir os que não descem ao fundo das coisas, os que estão na busca da
satisfação do ego, da convergência sobre si da atenção das pessoas, do interesse pessoal, do
domínio das mentes ou da instituição, sob o pretexto de que as mensagens fluem de
entidades altamente consideradas. O mais grave é que ele não tem consciência do ato
inconseqüente, mesmo levando-se em conta a pureza do seu ideal, e justifica a si mesmo,
por vezes, com o argumento de que os pensamentos que lhe ocorrem transitam pelas vias
magníficas da intuição.
Estagnação ou Acomodação
Sem suspeitar, muitos médiuns mal formados, de conhecimentos inconsistentes e
acomodados, lidam com a mediunidade sem espírito crítico e
desmotivados (?). Tornam a mediunidade repetitiva e monótona,
exercitando-a como se fosse uma rotina qualquer.
Paulatinamente vão perdendo o interesse por novos estudos, pelo aprimoramento de
conhecimentos em torno da própria mediunidade e não cuidam da renovação interior.
Cultivam a mesmice e tornam-se presa fácil de espíritos frívolos, brincalhões e
mistificadores.
Os médiuns verdadeiramente espíritas jamais se acomodam e incessantemente
buscam o conhecimento e a renovação de seus hábitos íntimos, certos de que a
mediunidade é santa e santamente deve ser praticada.
Comumente, no estágio da estagnação, os médiuns são pouco produtivos e
ciclicamente sofrem injunções de entidades malévolas experimentando os indesejáveis
transtornos obsessivos.
Personalismo e Exibicionismo
Existem instituições e médiuns ávidos por louvações humanas e outras expressões
de reconhecimento do mérito que clamam por aplausos e elogios. A instituição,
provavelmente com o intuito de multiplicar adeptos; os e os médiuns para ratificarem
veladamente a sua vaidade.
As instituições que não preservam os médiuns do público, mantendo-os em
ambiente privativos, protegidos vibracionalmente, correm um risco de contaminá-los com o
vírus enganoso da exibição de si mesmos. Com o tempo, sub-repticiamente, ficam sob a
dominação de entidades inteligentes que alcançam moderadas realizações , entretanto, as
quedas futuras serão fatais.
Médiuns vaidosos e orgulhosos acreditam-se jamais enganados e nem crêem na
possibilidade de que espíritos moralmente inferiores se valem dos seus instrumentos
mediúnicos para emitirem mensagens ou orientações. É um caminho seguro para se
converterem em fontes únicas e campo aberto para o personalismo.
Bibliografia:
(1) Obsessão e Transtornos Psíquicos – Terapêutica Espírita – Célio Alan Kardec de
Oliveira
(2) O Livro dos Médiuns – Allan Kardec
(3) O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
(4) Novo Testamento – Evangelho de Mateus
(5) Mecanismos da Mediunidade – Espírito André Luiz. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier
Mediunidade Ideal
M Ministério de atividades múltiplas, movimenta variados
recursos com oportunidades de trabalho e renovação para
as almas domiciliadas na terra.
E Elevado compromisso de ordem moral para o exercício da
caridade revela altura de propósitos e objetivos
superiores.
D Defesa contra elogios e bajulações, incompatíveis com os
postulados que abraçamos.
I Inviabiliza qualquer tentativa da sombra, através da
prece, fundamentada no exemplo.
U Utiliza créditos na captação de recursos do plano
espiritual sob a custódia e garantia de benfeitores do
mundo maior.
N Não se detêm nas circunstâncias desfavoráveis do
caminho, mantendo bom ânimo e serenidade nos momentos
mais graves.
I Intensifica a fraternidade nos corações na aquisição de
valores a edificação da paz.
D Desembaraço de toda postura artificial. Simplicidade é
alicerce de construções mais sólidas.
A Atende com precisão e dilatado sentimento de amor, os
compromissos perante as leis da vida.
D Diante de qualquer solicitação de ordem inferior,
resguarda-se na resistência moral do evangelho.
E Em momento algum, admite privilégios, diante de Jesus
somos todos iguais com deveres e obrigações a cumprir.
I Incentiva o estudo e a divulgação do livro espírita,
visando a própria iluminação. Quem sabe enxerga mais
longe.
D Demonstra disposição íntima para desculpar com mais
freqüência agravos e ofensas. O perdão é o melhor
remédio contra os males da alma.
E Examina com apurado rigor e mais atenção quanto à origem
dos próprios impulsos.
A Aproveita todo o tempo disponível para multiplicar a
extensão do bem favorecendo mais amplo domínio de si
mesmo.
L Longe ainda do perfil que acabamos de apresentar aos
queridos amigos, encontramos numerosos medianeiros
estacionando na câmara escura do desencanto e do
sofrimento, desencorajados de servir e trabalhar.
André Luiz
Página psicografada por Léa Neves de Souza, no dia 18/04/2003, nas dependências do
Sesc-Venda Nova, em Belo Horizonte, durante a 20ª Semana da Fraternidade.
2
Diálogo dos jovens com o espírito Joseph
Gleber
Muitos consideram primazia ou privilégio só das pessoas maduras o contato com o
mundo invisível. Assertiva inteiramente despropositada. Tudo na vida tem a sua estação
apropriada e os jovens de hoje , muito cedo acessam aos conhecimentos espíritas cristãos
e, conseqüentemente, ao campo mediúnico.
Desde que manifestem interesse, não existe o inconveniente de os jovens
participarem dos cometimentos mediúnicos, até mesmo como médiuns em formação. No
Movimento da Fraternidade, com habitualidade, eles são atendidos neste desejo e gostam
muito de ouvir os bons espíritos. Vejamos um exemplo, quando eles pretenderam fazer
uma série de perguntas aos espíritos que orientam as atividades do COMEMOFRA,
durante uma reunião de ectoplasmia ou de efeitos físicos, em um Agrupamento Cristão
Espírita na cidade de Hortolândia - S.P. O espírito Joseph Gleber foi o autor das respostas.
Joseph Gleber– Queridos companheiros, boa noite. É com grande satisfação que
estamos aqui, neste momento, para debater assuntos importantes para o Movimento da
Fraternidade.
Esperamos que os irmãos saibam manter a vibração positiva, durante todo o
trabalho, para que pequenos inconvenientes possam ser evitados. Contamos com a
colaboração dos companheiros na compreensão das dificuldades. Assim, devemos
selecionar os assuntos, pois temos programações muito importantes e esperamos que a
maioria delas seja cumprida.
Sempre temos em grande conta os encontros de jovens como importante meio de
fortalecer a Cidade da Fraternidade.
Consideramos importante esta espécie de reunião que está sendo tratada neste
instante, porque a ligação com os dois pólos se faz de maneira mais eficaz.
Gostaríamos de elucidar as dúvidas acaso existentes e que os irmãos sejam claros,
concisos e breves. Estamos aqui à disposição dos irmãos.
Walmor Camargos (do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo
Horizonte/MG) – Irmão Joseph, há alguns anos a gente vem desenvolvendo um trabalho a
fim de estruturar o trabalho de pré-mocidade em nível nacional. Pedimos que o irmão nos
passe alguns comentários, com críticas e sugestões referentes ao trabalho que vem sendo
desenvolvido.
Joseph – Nós, do plano espiritual, consideramos este tipo de trabalho extremamente
importante, uma vez que se trata de faixa etária que passa por transformações psicológicas.
São pessoas que estão ganhando personalidade. Este aspecto traz grande responsabilidade
a quem lidera este tipo de tarefa. Por serem pessoas influenciáveis, os jovens podem mudar
de comportamento de acordo com as orientações dadas. Este é um aspecto muito delicado.
Mas estamos de acordo com a maneira que está sendo estruturado o trabalho.
Apenas sugerimos que sejam abordados temas evangélicos e também temas de aspectos
social e cultural, para que as pessoas possam contar, neste tipo de reunião, não só com o
fortalecimento espiritual, mas o doutrinário, o mediúnico e o comportamental também,
lembrando a situação complicada em que se encontra a sociedade encarnada neste
momento, buscando também discernimento, lucidez, para enfrentar momentos mais
Durante este ano, os irmãos verão que bastante mocidades florescerão nos
Grupos da Fraternidade Espírita. Esse é um aspecto delicado que tem que ser abordado de
maneira adequada, porque ao longo dos anos temos visto várias mediunidades brilhantes
serem cerceadas por falta de orientação, adiando compromissos. Cuidados
comportamentais são muito importantes. De maneira geral, estamos satisfeitos com este
trabalho. Estatutos e diretrizes são muito importantes, pois, nessa fase da existência, a
disciplina é muito importante.
Áulus Carciofi (do Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Américo, de
Hortolândia/SP) – Irmão Joseph, nós queremos uma orientação para a Coordenação da
Mocidade Espírita - CME. Pretendemos realizar um novo festival de música, que
chamaríamos de Festival de Artes e Oficinas João Cabete, ou uma tarefa mais próxima às
Mocidades, com visitação, deixando o festival para o ano que vem. Qual dessas duas
alternativas seria mais adequada para este ano?
Joseph – Este é um ano de estudos. Vamos nos empenhar no estudo profundo,
sério e compenetrado. Esperamos que os irmãos fortaleçam este aspecto e procurem em,
níveis de complexidade, avançar em termos de discernimento, em termos de evangelho,
sempre buscando as obras básicas, nunca fugindo a estas.
Áulus – Tenho uma preocupação particular com a Cifrater, que está passando por
uma grande crise no sentido de que ela está mudando agora com a discussão do
Condomínio Rural da Cidade da Fraternidade e assentamento de 33 famílias. Também
gostaríamos de receber do irmão uma orientação sobre este assunto.
Joseph – Irmãos, este mundo tem passado por dificuldades extremas. Quero fazer
entender que seria muito egoísmo de nossa parte dispor de quantidades imensas de terras
não aproveitadas, sendo que existe tanta gente necessitada. Já que o projeto original foi
desfeito, vamos nos adaptar, e isto inclui cativar novos companheiros para que se
transformem em colaboradores. Porque o nosso intuito primeiro é de a Cidade da
Fraternidade disseminar Amor e Evangelho e isto tem de ser cumprido a partir de onde ela
está fundada.
O trabalho está só começando, ele é enorme; portanto, mãos à obra. Vamos abrir
novo campo de trabalho e para isto serão muito importantes novas equipes, novos estudos,
novas reuniões. Esperamos a colaboração de cada um de vocês para que isto possa se
realizar.
Daniela Moura Teixeira (do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo
Horizonte) – Querido Joseph, é do conhecimento da Espiritualidade que a Mocidade Maria
João de Deus, no ano anterior, passou por uma crise. Assim, gostaríamos de pedir ao irmão
algumas orientações e críticas para que possamos realizar o trabalho da melhor maneira
possível.
Joseph – Em primeiro lugar, consideramos que o perdão precisa ser exercitado e
que nossas atitudes infelizes são frutos da nossa inferioridade. Todos nós carecemos ainda
de muitos séculos para desenvolver o perdão perfeito. Portanto, a receita de todos os
problemas está no Evangelho, buscando, através do Mestre, o perdão, o discernimento, o
critério; nunca nos esquecendo de que só deve atirar a primeira pedra aquele que não tem
pecado no coração. Abstenhamo-nos de julgamentos e deixemos a Deus a observação.
Cabe a nós o trabalho incessante, porque o desânimo é o pai de todos os males e a mágoa é
a mãe de todas as incertezas.
Áulus – Para a ocupação do Condomínio da Cidade da Fraternidade existem duas
correntes de pensamento. Uma, que a ocupação dos lotes de terra seja feita pelos Grupos da
Fraternidade Espírita. Outra, que seja feita por agricultores, pessoas que fossem lá residir, e
que poderiam inclusive ser do município de Alto Paraíso.
Joseph – Consideramos que os agrupamentos dos fraternistas estão muito longe do
local. Se houver pessoas dispostas a se mudarem, a conversa é outra. Mas se for para
dividir terras e ficarmos longe, não vejo sentido. Não seria melhor dar àqueles que mais
necessitam? Vamos deixar o pensamento. Sempre lembrando que a nossa casa deve ser
aberta àqueles que são como irmãos, filhos de Deus. Mas precisamos de alguns critérios e
estes devem ser bem discutidos. Sugerimos encontro breve com dirigentes da OSCAL, na
Cidade da Fraternidade, para debate destes critérios. Estamos esperando a boa vontade dos
irmãos e ficamos à disposição para orientação em tempo oportuno.
Acácio Carciofi (do Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Américo, de
Hortolândia/SP) – Irmão Joseph, esta cessão de terras para determinadas pessoas que não
são comunitários ou fraternistas não poderia criar dificuldades para a filosofia da obra?
Joseph – Como lhes disse, o projeto original já foi desfeito devido às atitudes que
foram tomadas ao longo de todos estes anos. Algumas acertadas, outras descabidas, que
não vem ao caso citar e que são do conhecimento de todos. Portanto, cada um colhe o que
semeou, cada um sabe o que fez, a atitude que tomou e a repercussão que houve a partir
disso. A Cidade da Fraternidade é um sonho maravilhoso, que ainda está em gestação.
Quem sabe que com este tremendo barulho, possamos despertar! A nós, da Espiritualidade,
coube alertar e orientar durante todos estes anos. Estivemos presentes, aconselhando e
falando. Ouviram aqueles que tiveram ouvidos de ouvir.
Somos imperfeitos e vacilantes. Ainda não enxergamos nem percebemos o cheiro
do fogo ao nosso lado. Só sentimos as suas chamas a arder quando já é tarde demais.
Saibamos contornar o incêndio antes que ele aconteça, este é o ponto fundamental que nos
escapa, que nos foge e que tem conseqüências.
Acácio – O assunto é complexo para o nosso entendimento, mas quando o irmão diz
que o projeto original foi abandonado, seria aquele de formar um novo sistema de viver
naquele local ou o caso dos lares-família?
Joseph – Estamos nos referindo à parte material da construção. A filosofia se
mantém.
Marcos Novak (do Grupo da Fraternidade Espírita João Ramalho, de São Bernardo
do Campos/SP) – Quando perguntamos sobre o trabalho de visitação, nós, da
Coordenação de Mocidades, pensamos realmente em desenvolvê-lo. Um trabalho com que
pudéssemos elucidar as Mocidades sobre o Movimento da Fraternidade e como a
Coordenação de Mocidades está envolvida nisso, pensamos também em auxiliar, com esse
trabalho, a coordenação regional, aproximando dela os jovens envolvidos na Representação
de Mocidades. Gostaríamos de uma opinião sobre este trabalho.
Joseph – Na nossa visão, o Movimento da Fraternidade está em uma crise muito
importante. Consideramos que o nosso único alicerce, solidamente fincado, é a
Coordenação de Mocidades, é o único pilar em que nós podemos nos apoiar no momento
com toda segurança. A partir disso, consideramos este trabalho de importância
fundamental. Com todas as Mocidades se integrando de maneira sólida, firme, poderemos,
a partir de então, fortalecer outros aspectos.
Estamos depositando toda a nossa energia na juventude, porque encontramos alguns
companheiros de longa data com a mente extremamente cristalizada, não nos dando
abertura. Portanto, consideramos que a sua responsabilidade está aumentando a cada dia.
Esperamos que suas mentes ainda maleáveis possam ouvir nossas palavras, porque,
a partir do momento em que nos é dada a informação, somos responsáveis por aquilo que
ouvimos. A partir daí as nossas atitudes serão medidas, porque a nossa responsabilidade
aumenta.
Antônio Ferreira Neto (do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo
Horizonte) – Como seria possível realizar o trabalho de divulgação na 4ª Região Fraterna,
sendo esta tão grande?
Joseph – Irmãos, será necessário formar várias equipes, porque indivíduos não
faltam, a não ser que a boa vontade esteja escassa. Dividindo as equipes, todas elas com
regimentos internos elaborados, regras únicas, sons uníssonos, tudo será perfeitamente
possível.
Contando também, com a ajuda da Coordenação Regional, porque, se necessário,
pode-se deslocar membros da 2ª Região para atender as demandas, pelo menos no início.
Mas cremos que o número de indivíduos não seja escasso.
Acácio – Parece que, pelo que foi dito, o trabalho de visitação indica deixar o
Festival para o ano que vem?
Joseph – Corretamente.
Acácio – Em pronunciamentos anteriores foi dito que a Espiritualidade não tinha
como preocupação o crescimento material da Cidade da Fraternidade. Não houve o
crescimento material esperado?
Joseph – Irmão, nós queremos dizer, como já fizemos anteriormente, que o
planejamento foi mudado no que tange ao plano material. Estamos somente ratificando o
que foi dito anteriormente.
Acácio – Então o Conselho de Administração da OSCAL deverá reunir-se para
discernir sobre a distribuição destas áreas?
Joseph – Correto, irmão.
Walmor – Joseph, aliado a esse festival, tínhamos a intenção de promover um
encontro de educadores de pré-mocidade para buscar a formação de novos educadores.
Com a não realização do festival este ano, você considera conveniente a realização deste
encontro de pré-mocidade?
Joseph – Uma coisa pode ocorrer independente da outra, certo ?
Irmãos, consideramos que, de maneira geral, no que concerne ao trabalho de
mocidades, estamos caminhando adequadamente. Problemas sempre existirão, mas o que
não é permitido é o desvio do Evangelho, porque nele estão todas as respostas, todo alento.
Jesus, em sua vida, nos brindou com sua caridade infinita, com a jóia mais preciosa que
possa existir, o seu amor.
Se os irmãos estão vendo problemas naqueles que os cercam, imediatamente parem,
porque os problemas estão em si mesmos. Saibam ver os seus problemas, enfrentá-los e
resolvê-los; após isto, sirvam de guia para aqueles que não conseguem enxergar, dentro da
sua própria escuridão, as suas deficiências.
O Movimento da Fraternidade não é uma instituição que pertença a um, a outro ou
a outrem. O Movimento da Fraternidade é um sentimento, é uma atitude que pertence a
toda a Espiritualidade e aos encarnados também, espíritas e não espíritas, fraternistas e não
fraternistas. Porque existe uma grande diferença entre ser fraternista e ser fraterno. Nós
temos que buscar é ser fraternos, antes de fraternistas: esta diferença deve estar sempre
presente no pensamento.
A Mocidade é o início deste movimento, porque, enquanto crianças, ainda somos
muito imaturos e o nosso despertar, que é a mocidade, é o momento mais importante de
nossa encarnação, porque depois, velhos e cristalizados, poucas coisas podem mudar-nos.
Estamos visualizando em vocês a oportunidade de ouro de mudanças. Não vamos
desperdiçá-la. Não vamos deixar que o mundo imperfeito e cruel nos enfeitice, nos iluda e
nos leve novamente à condição estacionária em que estivemos por tantos séculos.
Irmãos, agradecemos a Deus e a Jesus, nosso Mestre, a oportunidade da convivência
fraterna. Esperamos ter sido claros, objetivos e úteis, porque neste momento nos
despedimos, deixando a cada um o abraço fraterno, esperando a oportunidade de nos
reencontrarmos na tarefa, com mais aproveitamento da energia despendida da parte dos
irmãos. Que possamos analisar, mentalizar o amor. Jesus nos abençoe hoje e sempre.
Orientação recebida na Reunião de Ectoplasmia realizada no Grupo da Fraternidade
Espírita Irmão Américo (Hortolândia/SP), em 22/03/1997, durante encontro de jovens para
avaliação da VIII COMEMOFRA (Confraternização das Mocidades Espíritas do
Movimento da Fraternidade).
3
Materialização de espíritos em Reuniões de
Ectoplasmia
Tecnicamente, a materialização é o resultado da combinação de forças nervosas
exteriorizadas por médium de efeitos físicos ou ectoplásmicos com os recursos fluídicos
extraídos da natureza, alcançando os estágios da tangibilidade e da visibilidade. Advém daí
a forma materializada nascida das energias passivas do médium e das energias ativas de
cooperadores espirituais que muito bem sabem manipular os recursos da natureza.
A materialização de espíritos envolve uma certa complexidade a partir da emissão
de ectoplasma do médium, que é o agente passivo no fenômeno. Segundo o instrutor
Aulus, no capítulo XXVIII do livro “Nos Domínios da Mediunidade”: “O ectoplasma está
situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica. É o elemento amorfo, mas de
grande potência e vitalidade. Infinitamente plástico, dá forma parcial ou total às entidades
que se fazem visíveis aos olhos dos companheiros terrestres, dá consistência aos fios,
bastonetes e outros tipos de formações, visíveis ou invisíveis nos fenômenos de levitação.”
Na história da humanidade, de todas as épocas existem inúmeros registros de
materialização de espíritos. Quantas criaturas, altamente respeitáveis, foram canonizadas
pela igreja por terem presenciado ou sido instrumento para a produção de tais fenômenos,
não significando isto que elas não tivessem méritos. Merece menção um dos mais belos e
extraordinários fenômenos de todos os tempos, o cognominado de “ transfiguração de
Jesus no Monte Tabor”, que contou com a presença dos discípulos Pedro, Tiago e João.
O evangelista Marcos narra o episódio de que, ladeando o Cristo transfigurado e
feéricamente iluminado, surgiram os espíritos de Elias e Moisés absolutamente visíveis aos
discípulos amados. O deslumbramento foi tanto que eles propuseram a Jesus a construção
de três tendas, sendo uma para o Mestre, outra para o maior legislador da história, o
extraordinário médium Moisés, e a última para o grande profeta Elias. Além do
acontecimento invulgar e do diálogo entre o Messias e os luminares da profecia, percebidos
pelos discípulos, eles assistiram ao fenômeno mais fantástico de todos os tempos,
denominado voz direta ou pneumatofonia na classificação espírita, onde um preposto do
Criador ou o Próprio asseverou: “Este é meu filho amado; a ele ouvi.”. Estes fenômenos
para sucederem requisitam energias ectoplásmicas de alta expressão e evidentemente que
um ou mais dentre os presentes as detinham.
Vale ressaltar o fenômeno conhecido como agênere ou “aparição tangível” (livro
“Espírito, Perispírito e Alma”), fartamente estudado pelo eminente cientista brasileiro, o
Dr. Ernani Guimarães Andrade. Este fenômeno pode ser produzido à luz do dia e carece
dos recursos convencionais dos médiuns de efeitos físicos pela a emissão consciente de
ectoplasma. No caso "agênere" há o adensamento do corpo perispiritual do espírito, que
deseja tornar-se ostensivamente visível, pela sua própria vontade e decorrente das
propriedades plásticas do seu veículo de manifestação. Deduz-se que o agênere, no fundo,
apresenta também uma forma materializada.
A partir da segunda metade do século XIX, cientistas eméritos pesquisaram os
aludidos fenômenos e dentre eles destacam-se o Professor Charles Richet, o físico William
Crookes, Alexandre Aksakof, Gabriel Delanne, Dr. W. J. Crawford, e outros, que isolaram
o aspecto místico e miraculoso das aparições tangíveis. Em nosso país, a notícia de
materialização de espíritos vem desde a primeira metade do século XX, no Rio de Janeiro,
mais especificamente no Grupo Espírita André Luiz (RJ), onde o extraordinário médium
Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, tornou-se instrumento para produção de fenômenos
ectoplásmicos variados, inclusive a materialização ostensiva de espíritos.
Fenômenos assemelhados ocorreram também com o grupo dirigido pelo Frei Luiz,
na mesma cidade do Rio de Janeiro, e também em Uberaba, com o notável médium
Francisco Cândido Xavier, que, na época, sofreu perseguição do clero que intentou
ridicularizá-lo e caracterizar como farsa ou engodo as materializações dos seres
considerados mortos e, que na terminologia da Igreja Católica estariam à conta de
ressurreição. Foi em Belo Horizonte que os fenômenos ectoplásmicos alcançaram grande
repercussão e densidade, fazendo convergir para o então Centro Espírita Oriente as
atenções da comunidade espírita brasileira.
A partir de 11/02/1949, o endereço à rua Paraisópolis nº 654, Bairro Santa Teresa,
em Belo Horizonte, tornou-se um centro atrativo, uma espécie de meca brasileira, pela
presença de espíritos materializados orientando, derramando ensinamentos, curas e
iniciando uma relação diferenciada entre os mundos físico e espiritual. Três livros
abordaram com muita propriedade tais acontecimentos:
- Materializações Luminosas, de Rafael Américo Ranieri;
- Movimento da Fraternidade ,de Célio Alan Kardec de Oliveira e,
- Materializações Luminosas – Leis Cósmicas em Ação, de Dante Labbate.
Esses fenômenos ectoplásmicos, com ênfase para a materialização de espíritos, é que
fizeram surgir o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla (de Belo Horizonte/MG),
culminando mais tarde, no surgimento do Movimento da Fraternidade, movimento este
orientado por inumeráveis espíritos benfeitores, sob a direção do espírito André Luiz, e
com o propósito de espalhar, à luz da Doutrina Espírita, a verdade do Evangelho e a
praticá-la junto aos irmãos em humanidade.
Muitos espiritistas, entusiastas dos ensinamentos cristãos-espíritas, questionam a
razão de os espíritos não se materializarem na atualidade, como tão ostensivamente faziam
em tempos pregressos. Enxertamos, nesta oportunidade, algumas considerações de
luminares desencarnados para que o leitor amigo compreenda os motivos e as dificuldades
de semelhantes realizações.
No livro “Nos Domínios da Mediunidade” (lição XXVIII), o instrutor Áulus
assevera: “Venho com vocês até aqui, considerando as finalidades do socorro aos enfermos,
porque embora sejam muitas as tentativas de materializações de forças do nosso plano na
Terra, com raras exceções quase todas se desenvolvem sobre lastimáveis alicerces que
primam por infelizes atitudes dos nossos irmãos encarnados. Só os doentes, por enquanto
no mundo, justificam ao nosso ver o esforço dessa espécie junto das raras experiências,
essencialmente respeitáveis e dignas, realizadas pelo mundo científico, em benefício da
humanidade.”
No capítulo X do livro “Missionário da Luz”, o instrutor Alexandre afirma: “Se
houvesse perfeita compreensão geral, respeito aos dons da vida, e se pudéssemos contar
com valores morais mais espontâneos e legitimamente consolidados no espírito coletivo,
essas manifestações seriam as mais naturais possíveis, sem qualquer prejuízo para os
médiuns e assistentes. Por isso mesmo, na incerteza de colaboração eficiente, as sessões de
materialização efetuam-se com grandes riscos para a organização mediúnica e requisitam
dilatado número de cooperadores do plano espiritual, objetivando o sucesso da tarefa.”
Ainda na obra em referência, o mentor espiritual esclarece que, no próprio mundo
espiritual “as reuniões para serviços de materialização aparecem raramente; a
homogeneidade, aqui, deve ser muito mais intensa. Consagra-se a maioria das nossas
atividades ao esforço da caridade cristã. Os homens, contudo, em sentido geral, não sabem,
por enquanto, compreender a essência divina de tais demonstrações e, quase sempre,
acorrem a elas com raciocino acima dos sentimentos.”
Não significa que não teremos mais materializações de espíritos nas reuniões de
ectoplasmia, comuns aos agrupamentos espíritas. Hoje, a mediunidade está muito mais
conhecida e entendida nos seus variados campos de manifestação, constituindo processos
outros de influência e contato dos espíritos junto a nós, criaturas no escafandro da carne. A
materialização implica em uma planificação e conscientização muito mais aprofundada,
com mobilização de recursos vários, além de ambiente físico e espiritual compatível para o
sucesso do cometimento.
Não se pode desconsiderar que muitos outros fenômenos ectoplásmicos acontecem
nas casas espíritas e mesmo fora delas e, ainda assim, uma multidão de crentes guarda
expectativa, por vezes velada, da ação dos espíritos de forma mais contundente em nossas
vidas. Nos grupos da Fraternidade Espírita, vinculados sob o aspecto organizacional à
Organização Social Cristã Espírita André Luiz - OSCAL, estas reuniões são muito
valorizadas e os recursos, conforme orientam os espíritos benfeitores, são canalizados para
tratamentos espirituais com ação mais direta no psicossoma ou corpo perispiritual.
As antigas reuniões de materialização são designadas hoje de "Reuniões de
Ectoplasmia" ou de "Reuniões de Tratamento Espiritual". Não mais se propõem a produzir
fenômenos de efeitos físicos extraordinários, conquanto isso eventualmente possa suceder.
Na década de 50, os espíritos Scheilla e Joseph Gleber, principais orientadores do
Movimento da Fraternidade, instruíram que tais reuniões ficariam mais centradas no
tratamento a enfermos e que fossem organizadas com muito rigor, dado os recursos de
medicina espiritual a serem utilizados nos ambientes físicos da Terra.
No que concerne a essas reuniões, o espírito Fritz Schein, em mensagem
psicografada por Rafael Américo Ranieri, em janeiro de 1958, em São João da Boa
Vista/SP, advertiu: “os componentes dos trabalhos de efeitos físicos devem aceitar as
restrições referentes à carne, ao fumo, ao álcool, aos divertimentos, aos impulsos, aos
pensamentos, como possibilidade de estruturação de um escafandro espiritual capaz de
garantir-lhes a incursão nas esferas de intercâmbio. As restrições impostas a cada um são
determinações da necessidade e da natureza do próprio serviço. Representamos colméias de
trabalho cristão com o Senhor à frente”.
Nos Grupos da Fraternidade filiados à OSCAL, as reuniões de ectoplasmia são
realizadas com número não excedente a vinte e cinco cooperadores, podendo os pacientes
se fazerem presentes desde que também eles cumpram posturas e regimes absolutamente
indispensáveis. Por ser privativa, a referida reunião deve ser constituída por equipe tão
fixa quanto possível, ensejando, com isso, melhores condições de unidade e harmonia
grupal. A sala mediúnica, à semelhança de uma unidade de terapia intensiva dos hospitais
convencionais do mundo, haverá de contar com uma assepsia plena, inclusive livre de
mentes viciosas que abrem espaço para entidades levianas e perversas produzirem corpos
estranhos e vibriões dentro do organismo da reunião.
O espaço físico deve ser exclusivo para as reuniões de ectoplasmia os operários do
bem que ali adentram estarão à semelhança de uma família unida nos ideais, nas crenças, na
visão de vida e no serviço na causa do Cristo. Para tanto todos eles se proporão a:
- cultivar a prece, a meditação no próprio lar, a vigilância mental e emocional, controle
dos impulsos inferiores da cólera, do desespero e da impaciência;
- dominar os vícios do fumo, do álcool e outras drogas que afetam a saúde física e, como
conseqüência, desalinham as forças psíquicas mantenedoras da paz íntima;
- modificar o regime alimentar, reduzindo, quando não levando à abstenção total, o uso
de carne bovina, suína e de aves. Ainda que isso não ocorra em definitivo, é imperiosa
a abstenção do uso dessas carnes pelo período não inferior a 72 horas que antecede a
reunião. Também evitar sobrecarga de atividades que despendam demasiado esforço
físico e mental, mormente no dia da reunião, visando a manutenção e armazenamento
de energias indispensáveis no serviço mediúnico;
- cuidar da saúde e higiene do corpo e da mente, ausentando de comentários, leituras e
espetáculos degradantes, susceptíveis de contaminar as fontes do equilíbrio.
Nas reuniões de ectoplasmia ou de efeitos físicos, os espíritos produzem
medicamentos pela combinação de recursos recolhidos na natureza, ou do fluido cósmico
universal, com as energias ectoplásmicas emitidas pelos médiuns ostensivos. Os espíritos
agem com a excelência da medicina de profundidade, interferindo nos centros perispirituais
com reflexão imediata nos órgãos conseqüentes do aparelhamento orgânico, aliviando a
dor, revertendo sintomas ou curando enfermidades.
Os agrupamentos devem zelar para que os médiuns sejam preservados para atuarem
apenas na intimidade da reunião, em ambiente de silêncio. Dia virá que a medicina
tradicional reconhecerá e abençoará o que poderá ser chamado de medicina alternativa para
tratamento de doenças de causas profundas.
Os riscos dos trabalhos ectoplásmicos
É evidente que, para o êxito de trabalhos que envolvem a utilização de recursos tão
avançados, que possibilitam a produção de fenômenos ectoplásmicos e culminam até na
materialização de espíritos, faz-se imprescindível atender uma série de requisitos,
principalmente da preparação de tarefeiros sob o ponto de vista moral, emocional e
espiritual. Qualquer desaviso pode trazer conseqüências funestas, como está relatado no
capítulo X do livro "Movimento da Fraternidade". Lembremos um episódio.
Na fase de organização da II Semana da Fraternidade realizada em Caratinga/MG,
entre 26 e 31/01/1959, os espíritos benfeitores do Grupo da Fraternidade Espírita José
Grosso da mesma cidade sinalizaram a intenção de reproduzir no plano espiritual a flâmula
símbolo daquele evento, durante reunião de ectoplasmia (efeitos físicos) do mencionado
agrupamento. Para os irmão presentes o fenômeno ectoplásmico estaria a conta de uma
desmaterialização e uma posterior materialização da referida flâmula.
Ruth Birman, naquela oportunidade em pleno desenvolvimento das suas faculdades
mediúnicas, integrava a equipe de três médiuns de efeitos físicos e cinco auxiliares no
agrupamento em alusão. Constou-nos ela que o despreparo de alguns dos membros da
citada reunião causou perturbação de vulto no transcorrer dos trabalhos. Os espíritos, em
particular Fritz Schein, eram muito rigorosos relativamente a alguns requisitos, com
destaque para: a abstenção da alimentação de carnes (exceto o peixe), alimentação frugal e
vegetariana até cinco dias antes da reunião; domínio dos vícios do fumo e do álcool e
vigilância das próprias emoções.
As emissões descompensadas repercutiram no ambiente e mesmo com a profusão
do fluído ectoplásmico os trabalhos não lograram sucesso, não tendo sido possível a
reprodução da flâmula, que seria uma lembrança permanente do evento inesquecível,
brindada pelo mundo invisível.
Ruth Birman relatou-nos ter experimentado, nos dias seguintes, processo
hemorrágico, levando-a à depauperação das suas energias vitais e ficando sob o influxo de
uma anemia profunda. Porque não tivesse sido debelada a hemorragia no aparelho
genésico, não obstante o esforço de médico especializado, ela considerou de bom alvitre
um contato com o Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, de Belo Horizonte, para
que os espíritos a orientassem sobre o caso. Resumidamente, o mentor Joseph Gleber,
médico espiritual, indicou um tratamento a distância, em que a paciente estaria em repouso
na sua residência no mesmo intervalo de tempo em que transcorria a reunião de tratamento
espiritual (ectoplasmia) no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, às terças-feiras.
Na referida orientação Joseph Gleber alertou que o tratamento espiritual precederia
a intervenção médica convencional e provavelmente haveria extirpação de tumor
cancerígeno com a retirada inclusive do ovário. Destaque-se que, naqueles aqueles
distanciados tempos, a medicina não possuía os recursos de imagens avançados da
modernidade proporcionados pela tomografia computadorizada, ultra-sonografia e outros.
Sem o procedimento cirúrgico, conforme prognóstico do Dr. Abel Carneiro Viana, a
paciente não viveria mais do que 120 dias.
O tratamento espiritual foi de relevante importância e quando o médico procedeu à
cirurgia ficou perplexo diante de um quadro não correspondente ao retratado pelo raio-X. A
gravidade estava reduzida, de forma surpreendente. Sim, convinha retirar o tumor, contudo
os procedimentos poderiam ser realizados com maior segurança. Ruth ficou curada e a
partir daí desenvolveu os seus dotes mediúnicos com muita alegria. Ela própria nos relatou
este fato no dia 17/09/2004.
Cabe um esclarecimento porque alguns leitores poderiam apressadamente atribuir a
enfermidade ao deslize dos componentes da reunião de ectoplasmia do Grupo da
Fraternidade Espírita José Grosso. A ciência espírita nos ensina que as enfermidades sem
raízes no comportamento equivocado do presente estão prescritas e em estado latente no
corpo perispiritual. Em cumprimento à lei de causa e efeito e ao programa reencarnatório,
aguardam o momento oportuno para se transferirem na direção do órgão correspondente do
corpo físico. É o caminho da doença-saúde.
Certos acontecimentos com afetação psicossomática podem suscitar a transferência
em menção e provavelmente assim tenha ocorrido com a Ruth Birman. A aplicação da
medicina de profundidade e os seus méritos foram preponderantes para restituir-lhe estado
de saúde.
É possível imaginar o estado de apreensão e esforços dos irmãos tarefeitos do Grupo
de Caratinga, para não mais repetirem comportamentos inadequados e prejudiciais à tarefa
tão nobre.
Sabe-se que as reuniões de materialização acontecem no escuro e são raros os
agrupamentos que se permitem uma branda luz de tonalidade azul ou esverdeada. Isto em
função do ectoplasma que, em condições naturais, é incompatível com a luz. A mensagem
espiritual a seguir foi recebida, na forma psicofônica, pela médium Léa Neves de Souza
durante a reunião de ectoplasmia realizada no Grupo Espírita da Fraternidade Irmã Scheilla,
de Nova Iguaçu/RJ, em 20/07/2004. Por impulso natural, sem a incidência de iluminação
ambiente, a irmã Conceição Arides grafou a mensagem.
Qual o título da mensagem?
Amigos, por mais difícil que pareça a estrada da vida,
ponderem nos benefícios que possuem. Estão na posse de
recursos que atendem as suas necessidades e as de suas
famílias. Temporariamente têm uma casa, um lar, e podem
erguer-se, a cada manhã, para planejar e organizar seus
roteiros.
Reflitam nas pessoas que se encontram largadas no
caminho, sem esperança, sozinhas, abandonadas, tristes, sem
saberem o rumo a tomar. Pensem naqueles que deixaram o lar,
na falsa suposição de encontrarem a felicidade e não
conseguiram deparar o caminho de volta, perdendo-se nos
labirintos do desespero e loucura. Meditem naqueles que,
encarcerados no egoísmo, perderam o próprio rumo para
adoecerem na própria solidão.
Dirão, por certo, que seu esforço não foi recompensado,
que a concorrência é grande, que a desonestidade campeia em
toda parte, que os bons e honestos não conseguem concentrar a
atenção de muitas pessoas, que a corrida é desenfreada em
busca dos primeiros lugares.
Contudo, sabem o valor da oração, tanto quanto podem
enxergar, caminhar, meditar e valorizar cada minuto da vida
porque o pouco com Deus é muito e muito sem Deus é nada.
Continuem confiando na providência divina. Vejam quantas
oportunidades há de serem úteis e não façam como muitos que
caminham distantes da realidade da família humana,
inconscientes e a mercê de um futuro sombrio e assustador.
Aproveitem a bênção da Doutrina Espírita, em regime de
urgência, buscando valorizar o tempo. Aqueles que ajudam com
a palavra, a prece, o sorriso e a amizade, sem interesses,
verificando que é melhor sofrer com o coração pulsando nos
ensinos de Jesus são os verdadeiros trabalhadores da Seara
Cristã, que não se atrelam aos valores transitórios, que
significam fardos pesados e que ficam retidos no túmulo.
Muita Paz
O amigo
Albino Teixeira
VI
CRIANÇA
1
Criança
Os tempos primeiros do cristianismo nascente deixaram marcas de humanismo
incomparável, sinalizando para uma compreensão nova acerca da vida. Os cristãos
primitivos foram chamados a cada momento para testemunharem sua fé e perseverança nos
valores ensinados por Jesus. Experimentaram situações verdadeiramente inusitadas e para
atingirem os objetivos idealizados não só tomaram a cruz do sacrifício como se valeram de
recursos disponíveis para que a marcha não sofressem prejuízos graves do percurso.
Recorremos ao espírito Emmanuel no livro “50 Anos Depois” no episódio que
retrata o momento de extrema penúria e sofrimento de Célia, cristã que foi exilada do seu
próprio lar. Injustamente, o seu pai a expulsou e sentenciou que, doravante, ela estaria morta perante a família e toda a sociedade romana. Após a superação de inúmeros
obstáculos, acolhida aqui e acolá por irmãos de fé, ei-la albergada no lar do ancião
Marinho, este no crepúsculo da vida, residindo na aldeia de Minturnes, relativamente
afastada de Roma. Pela bondade do seu coração, Marinho achou-se no dever espiritual de
amparar a criatura tão delicada e de predicados morais indefiníveis. Após estabelecer entre
eles a confiança, fruto da simpatia recíproca, confidenciaram as suas mais recentes
experiências.
Mais a frente, Marinho falou do seu projeto de encaminhá-la para as cercanias de
Alexandria, no Egito, onde ela poderia dedicar-se a uma vida monástica, junto de cristãos
com quem ele convivera em período recente e ali ela viveria piedosa e cristãmente,
naturalmente amparada. O Mosteiro seguia regras austeras e era habitado exclusivamente
por homens; para contornar este óbice, após entendimento demorado com Marinho, Célia
concordou em assumir identidade masculina, abrindo mão, pelo resto de sua existência, da
questão da sexualidade. Dada a impossibilidade de mudar as normas da instituição no curto
prazo, por necessidade de sobrevivência e de ideal, ela passou a adotar o nome de
Marinho, o de um dos filhos do seu protetor, vestindo-se como tal.
Em que pese a sua beleza radiante e feminilidade, por imperativo da vida, ela
abandona qualquer possibilidade da formação de um lar. Sem entrar nas minudências da
viagem, da sua adaptação ao Monastério, do trabalho notável sob o ponto de vista cristão
exercido naquele espaço de ideais crísticos, avancemos na narrativa para um momento
singular, quando, como Marinho, Célia assumiu o encargo de ir a Alexandria, duas vezes
por semana, para efetuar as compras regulares no mercado. Essas caminhadas a pé
exigiam que na volta ele pernoitasse em povoado próximo e nessas idas e vindas uma
jovem, filha do dono da pousada, apaixonou-se por Marinho não lhe retribuiu os
sentimentos.
Tempos depois, a filha do estalajadeiro engravidou de outro cidadão e ante o temor
do escândalo e da reação de seu pai optou por responsabilizar Marinho. Tão logo a criança
nasceu, pai e a filha foram até o instituto cristão para efetuarem a denúncia que foi acatada
pelo diretor. Surpreso, respondendo à dura e injusta acusação assim Marinho se expressa:
“Pai Epifânio, quem comete um ato dessa natureza é indigno do hábito que nos deve
aproximar do Cordeiro de Deus! Estou pronto, pois, a aceitar com resignação as penas
que a vossa autoridade me impuser!...”
Em atitude genuína de humildade perante o Criador e de grandeza diante da vida, o
nossa personagem adotou aquele ser inocente, fruto do pecado, silenciou as mais legítimas
justificativas e deu mostras de que o cristão perdoa, ampara, prossegue e ama. A partir daí
não teve mais o direito às comodidades do Mosteiro nem ao convívio com algumas dezenas
de cristãos que lhe admiravam a personalidade amorosa, muito menos de contar com
recursos do mundo para si mesma e para a criança que o seu coração bondoso adotou.
Simplesmente, Marinho desejou proteger alguém que veio ao mundo para cumprir a sua
redenção e ascese espiritual. Passou a residir com o filho em pequeno casebre adjacente ao
mosteiro.
Esta divagação longa guarda o objetivo de deitar olhares para a criança aqui na
Terra. Raros de nós alcança os profundos deveres da paternidade e da maternidade e mais
raros ainda são aqueles que conseguem perceber na criança um ser frágil, carente de
cuidados e que silenciosamente não podem prescindir do afeto dos que transcendem aos
círculos acanhados da consangüinidade. Por isso, o conceito espiritual de orfandade
transcende a visão vulgar do mundo. Existem filhos que moram em casas e que têm pais,
contudo permanecem na orfandade pela ausência dos mais elementares cuidados como a
educação moral e o alimento afetivo encarregado da homeostase espiritual.
Os cristãos espíritas sabem que no corpo frágil da criança habita um espírito
milenar que detém conteúdo de multifárias experiências passadas e que, não raras vezes,
tal espírito carrega graves defeitos e vícios de personalidade.
Nos momentos iniciais da existência não é possível ao espírito manifestar em
plenitude a sua personalidade porque o corpo ainda em formação é fator restringente e os
órgãos frágeis inibem impulsos até mesmo de agressividade. Na fase da infância desse ser
é que os responsáveis pelo lar podem exercer influência sobre os caracteres e imprimir
novos valores educativos para que o espírito, em nova roupagem e no novo ambiente,
experimente a oportunidade de perspectivas e vida em caráter de renovação.
Para contribuir com o trabalho com o Cristo, de amparar crianças, o Movimento da
Fraternidade edificou uma comunidade cristã espírita, a Cidade da Fraternidade -
CIFRATER, para que lá a família seja erigida não necessariamente circunscrita ao
modelo da família consangüínea tradicional, de modo a dar prioridade ao trabalho com as
crianças, sem distinção de qualquer natureza, para dar-lhes orientação segura, formação
moral adequada e prepará-las para as experiências, deveres e provas da existência terrena.
Ficamos a imaginar que, mais umas poucas dezenas de anos a frente, a harmonia que se
irradiará de cada lar desta comunidade, onde os membros devotar-se-ão respeito recíproco e
o mais forte ou o mais instruído ou o mais generoso não hesitará em abdicar de si mesmo
em favor do outro.
O Movimento da Fraternidade também incentiva os cristãos espíritas a irradiarem
para os seus lares estas mesmas vivências e, na medida do possível, adotarem uma criança,
filha do abandono, para que se estabeleça na Terra uma corrente de solidariedade que faça
circular na atmosfera onde vivemos o plasma divino da fraternidade.
Vale conceituar que o homem será o que da sua infância se faz e que a criança
incompreendida de hoje resultará no adolescente inseguro, no jovem revoltado ou na
personalidade de um adulto infeliz.
A criança é sementeira que aguarda, o jovem é campo fecundado e o adulto é a
seara em produção. É no período da infância que melhor se
aprende, enquanto a adolescência é mais propícia para
se apreender (????) , isto sob o ponto de vista da
modelação do caráter. (?)
Quem cuida e dispensa adequada atenção ao espírito infantil economiza frustrações
para o futuro. Muitos mestres da educação asseveram que é nessa faixa etária que o ser
humano é mais aberto e flexível para as coisas novas, apresentando inesgotável curiosidade
acerca de tudo e imensa capacidade para assimilar conhecimentos e idealizar um mundo
melhor.
Vale aduzir sobre o que pode ser conceituado como CRIANÇA ESPIRITUAL!
Existem na Terra milhares de criaturas, morfologicamente na condição de adultos,
isto é, anatômica e fisiologicamente desenvolvidos , comportando-se como crianças.
Trata-se de espíritos imaturos, transitando com insegurança e demorando na
contemplação de paisagens fantasiosas e sonhadoras. Em geral não portam às mãos a
clave da maldade e tampouco caem no embalo da dança rítmica da perversão: são
criaturas com reduzido senso crítico e baixo discernimento espiritual.
Resvalam-se sim em atitudes morais comprometedoras, todavia sem maldade
aguçada. São por vezes espontâneos com uma criança comum mas o incomum é neles
ausente a estatura diante de questões da vida suscitando atitudes e decisão.
Essa massa humana passa esquecida ou por outra, os filhos que a compõem são
tratados como adultos, quando a fraternidade real sugere tratá-los como adultos
crianças ou crianças espirituais.
E muitos de nós somos susceptíveis de apresentar, em determinadas
circunstâncias, as carências próprias da fase infantil e, nestes momentos, conviria
sermos vistos com olhos de ternura e compreensão pelos outros. Por qual razão
deixamos então de acolher irmãos adultos que se comportam como infantes
espirituais, incapazes, por si mesmos, alçarem vôos majestosos de libertação interior?
Os Agrupamentos Cristãos Espíritas e a Cidade da Fraternidade têm, como
resultante dessa visão, ver o ser humano por uma ótica mais abrangente: como um
espírito em evolução! A assistência que se oferece no labor caritativo não pode
reduzir-se somente à criança.
A família há de ser sempre o foco e a criança a prioridade, sem descuidar das
criaturas amadurecidas no corpo de expressão orgânica, porém trazendo conflitos
psicológicos e posturas infantis irradiando de mentes ainda ingênuas ou fragilizadas.
CIFRATER: Núcleo de Amor
Por inspiração do Alto,
em sintonia com Jesus,
surge num grande planalto
formosa cidade luz.
Os mensageiros divinos
trabalham com destemor
a fim de implantar na Terra
um núcleo de imenso amor.
Onde possam, com clareza,
testemunhar a bondade,
a tolerância, o respeito,
a paz e a fraternidade.
Onde possam proteger
a criança, com carinho,
exemplificando, ensinando,
o verdadeiro caminho.
Abnegados irmãos,
humildes trabalhadores,
empunham firmes e fortes
a clava de seus valores.
Brasil, coração do mundo,
a pátria do Evangelho,
cresce amparando a criança
e dando conforto ao velho.
Esta cidade será
escola da evolução,
academia do amor,
da justiça e do perdão.
A OSCAL e os oscalinos
vanguardeiros da Fraternidade
concentram todas as forças
na construção da cidade.
Lutemos, irmãos queridos,
por um mundo mais feliz,
ajudando a evolução
da obra de André Luiz.
De André Luiz e de todos
os assessores divinos,
que carreiam a esperança
para os velhos e os meninos.
Avante, caros confrades,
com redobrado valor,
atendamos o convite
de Jesus, Nosso Senhor
Poeta Nelson N. Magalhães Pinto, do Grupo da Fraternidade Espírita Humberto de Campos
(Itaperuna – RJ).
COMUNIDADE CRISTÃ-ESPÍRITA
1
Comunidade Cristã-espírita
Indubitavelmente, a Casa do Caminho foi a primeira comunidade cristã nascida do
esforço e do trabalho insano de Simão Pedro e outros discípulos do Mestre com objetivo da
vivência plena do Evangelho de Jesus.
A partir dela, outras igrejas foram fundadas pelo mundo afora. Merece uma reflexão
profunda a igreja de Lugdunum ou de Lião, nas Gálias, que se transformou no maior
símbolo do Cristianismo, em face à ressonância dos preceitos do Evangelho de Jesus no
fundo da alma dos integrantes da Comunidade Cristã de Lião.
No livro “Ave Cristo”, o espírito Emmanuel discorre, com rara beleza, acerca
aquela magnífica comunidade:
“A comunidade de Lião guardava, sob a sua custódia de amor, centenas de velhos,
enfermos, mutilados, mulheres, jovens e crianças. A igreja de São João era, pois, acima de
tudo, uma escola de fé e solidariedade irradiando-se em variados serviços sociais”.
Patenteia-se, assim, a caridade cristã na forma de assistência aos desafortunados do
caminho.
“Muitas organizações domésticas tomavam a si a guarda de órfãos e o cuidado
para com os doentes”. Eis aí o embrião de lares-família para albergar criaturas não
necessariamente ligadas pelos vínculos da consangüinidade.
“Os serviços de amparo e educação à infância, de conforto aos velhinhos
abandonados, de sustentação aos enfermos, de cura dos loucos, distribuíam-se em
departamentos especiais, expandindo-se, assim, em moldes mais completos, a primitiva
organização apostólica de Jerusalém, na qual as obras de amor do Cristo, junto aos
paralíticos e cegos, leprosos e obsessos, encontraram a melhor continuidade”. É
incontestável a atenção dos adeptos da comunidade de Lião para com os doentes, utilizando
os recursos da enfermagem tradicional e a terapêutica evangélica no socorro aos doentes de
vários matizes. Centenas de pessoas lograram a cura pela mediunidade prodigiosa dos
cristãos daquele tempo, em que a fé e os valores fraternais compunham os ingredientes
dominantes do coração. Convém atentar também para os interesses com os valores
educativos para com a infância desamparada, como indicativo da necessidade de tratar o
indivíduo de forma integral.
“O culto reunia os adeptos para a prece em comum e para a extensão das práticas
apostólicas, mas os lares de fraternidade multiplicavam-se, como impositivo da obra
espiritual em construção”. Irineu, que manejava o grego e o latim com grande mestria,
cuidou de preservar as tradições apostólicas no cultivo das realizações intelectuais e exame
dos ensinos de Jesus nos cultos domésticos. Fora discípulo de Policarpo, que por sua vez
havia recebido a fé do apóstolo João, o Evangelista, em Êfeso.
Emmanuel nos diz que dificilmente, à distância de séculos, poderá alguém perceber,
com exatidão, a sublimidade do Cristianismo Primitivo e, no caso em pauta, a grandeza da
Comunidade Cristã de Lião.
Em 1960, na cidade de Guaratinguetá/SP, o espírito Irmã Scheilla, pela
mediunidade de Rafael Américo Ranieri, aduziu sobre o desejo da espiritualidade de
implementar no Brasil uma autêntica COMUNIDADE CRISTÃ ESPÍRITA que a própria
mentora alcunhou de “Cidade da Fraternidade”. A CIFRATER foi fundada em 20/12/1963
e ao longo desses anos o seu terreno, na Chapada dos Veadeiros, município de Alto
Paraíso/Goiás, a 213 Km de distância de Brasília, está sendo desbravado.
O texto da Rosângela intitulado “Tardes
Preciosas” (jornal da 20ª Semana da Fraternidade) tem
informações interessantes acerca da CIFRATER:
quantas famílias lá residem, o que a Cidade tem
(Educandário, etc.....). Quantas crianças estudam no
Educandário?
Para muitos, A CIFRATER é uma utopia, fantasia, quimera ou um sonho. Para nós,
cristãos espíritas, ela é uma realidade, porém a sua realização aguarda de nós a
interiorização, o renascimento de Jesus nas nossas entranhas e o esforço intransferível para
que ela, acima das construções materiais, se revista dos sentimentos mais puros de
fraternidade cristã.
(?????? Retrocedendo ao tempo da
construção da comunidade? )
Vale, pois, essa viagem histórica ao
cristianismo primitivo e por que não nos determos
em outro momento, a partir do século III da era
cristã, após a tremenda carnificina de cristãos na
cidade de Lião e localidades vizinhas onde
milhares de seguidores do Cristo foram flagelados e conduzidos
à morte, em postes de martírio, espetáculos de feras, cruzes, machados, fogueiras e
lapidações. Nesses idos tempos, após a calmaria, o grande líder cristão Irineu iniciou a
construção dessa inesquecível comunidade cristã que certamente será exemplo para a
Cidade da Fraternidade.
Destacamos algumas mensagens espirituais relativas à Cidade da Fraternidade,
ricas de entusiasmo e de estímulo para os seus realizadores.
CIFRATER: A Mansão Hospedeira
Companheiros amados, a satisfação é imensa em ver amigos
tão antigos reunidos, ainda hoje, no propósito do amor maior.
Uma luz imensa surgiu nos meandros do plano divinal no
final daquela década de 1950. Corações de outras vidas,
compromissados na tarefa redentora da fraternidade,
finalmente, entenderam a razão do surgimento, na Terra, da
Cidade da Fraternidade. Compromissos assumidos no plano
espiritual estavam sendo relembrados e reafirmados. A Cidade
surgiu antes espiritualmente, que no plano carnal; esta é uma
certeza que embala nossos sentimentos. Sua aura já era viva
em cada um de nossos corações. Graças à força e à centelha
divina este objetivo ocupa nossos centros de interesses.
Estamos aqui reunidos, falando de metas que um dia
tínhamos certeza de que cumpriríamos. No começo, irmãos, o
amor fraterno que cada companheiro tinha no coração e aquela
vontade de fazer o melhor ao próximo foram as molas
propulsoras desta maravilha que é o Movimento da
Fraternidade. Desde então, organizações e frentes
compromissadas com o trabalho vêm surgindo.
Mas a Cidade não pode ser um ideal vivido unicamente
pelos Grupos da Fraternidade, amigos. A Cidade precisa ser
vivida em nosso dia-a-dia. Ela há de resplandecer dentro de
cada um: no trabalho, na família, nos grupos sociais, enfim,
em qualquer lugar. Alto Paraíso abriga comunidades de
variados matizes e tem o dever de proteger os atropelados
pelas desgraças do mundo, que apresentam a alma dilacerada
por superlativos sofrimentos. Cada um de nós tem compromisso
muito grande com a Cidade do Amor, que se situa naquela
região.
A tarefa dos Grupos no caminho da conversão para os
trabalhos do Movimento urge a cada dia. O tempo é precioso e
irrecuperável. Vocês vivem numa época privilegiada, um final
de século, transição para importantes mudanças no orbe. A
cidade não surgiu no século XX, por acaso.
O novo milênio é um período em que a humanidade estará
apta a entender as maravilhas do amor ao próximo, onde as
criaturas compreenderão melhor os ensinamentos do Cristo. A
renovação das mentes alcançará patamares mais expressivos e a
consciência individual será uma marca interior sinalizando a
conquista de novos horizontes. A melhora do mundo depende
da melhoria do próprio ser.
Acreditem, já progredimos muito, companheiros! Contudo,
vocês vivem num período crucial na crosta terrestre e a
Cidade, neste contexto, haverá de ser uma semente em
maravilhosa germinação. Todos do Movimento da Fraternidade
têm um compromisso a ser cumprido, sem vaidade e com amor
ao próximo.
A doutrina de Jesus é sábia, muito sábia e jamais deixa
dúvidas quanto ao nosso papel.
Que possam levar a fraternidade para cada lugar onde
forem chamados. Façamos de nossas vidas momentos de renovação
e cumpramos o objetivo assumido há tanto tempo. Saibam que
sempre estarão amparados e mantenham a força da tarefa
contínua em seus corações. Um abraço bastante afetuoso e
cheio de confraternização.
Scheilla
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Fabiano de Cristo – São Paulo/SP,
em fevereiro/2000, pela médium Patrícia Paixão.
Cidade da Fraternidade - Não
duvideis
A música de fundo... as crianças falando... estudando...
buscando a educação para o espírito eterno, neste lar de
fraternidade, imbuído no grande propósito de cooperar com a
humanidade, no seu aprimoramento para o terceiro milênio,
tudo isso me faz retroceder há quase seis décadas, onde a
equipe espiritual, imbuída do ideal de trasladar, para a
Terra, mais uma colônia espiritual, engrossando núcleos de
continuidade da tarefa sacrossanta de reerguimento moral
deste orbe, para concretização das promessas do Cristo.
Naquela época, começáramos a intuir àqueles de nossa
equipe que já se encontravam na carne, à espera do primeiro
clarim. Companheiros se emocionaram, se identificaram com a
grande causa, se encantaram com aquela que seria a Cidade da
Criança. Companheiros se puseram em ação e conseguiram dar os
primeiros passos materializados no planeta. Passam-se os
anos, companheiros novos chegam, demonstrando capacidade de
continuar esta grande obra.
Porém, o investimento maior ficou no plano da matéria; e
a sensibilidade do espírito, o ideal primeiro, foi ficando
para trás. Decorre mais uma década, mais companheiros
chegam, revestem-se da couraça da fé, da esperança e da
certeza de que a Cidade da Criança deveria se tornar maior,
em benefício do Evangelho.
Perguntas surgem, dúvidas são colocadas no ar, a
espiritualidade é convocada a se pronunciar, uma, duas, três,
dez, vinte, cem vezes. As mensagens chegam dos nossos
superiores através de aparelhos como este que lhes fala. As
respostas são dadas na esperança de que aqueles que as
formulavam as compreenderiam, colocando-as ao nível do
espírito, no campo da matéria.
Mensagens vêm, rogativas vão; Scheilla, Joseph Gleber,
José Grosso, André Luiz, quase que personificados,
incorporam-se às equipes de servidores no mundo corpóreo.
Dezenas de anos se passam, mais mensagens, mais repostas,
mais choros, mais lágrimas. E estas se vêem bloqueadas pelos
sentimentos entorpecidos na vaidade, no orgulho e no egoísmo.
Assim, companheiros, estamos hoje, neste momento, tentando
acordar as mentes e os corações aqui presentes, para que nos
multipliquemos, renovados neste propósito que, para muitos,
é passado.
A Cidade da Criança, hoje cognominada Cidade da
Fraternidade, espera. Porém com a paciência dos que sabem
esperar, daqueles que sabem que o seu momento há de raiar, e
então, a sua trajetória levará para os caminheiros sofridos o
apoio, a amizade, o respeito e o agasalho da fraternidade.
Não duvidemos, companheiros, não duvidemos mais, pois as
obras serão concluídas, conosco ou apesar de nós. Mais
mensagens? O que poderíamos mais dizer, além de tudo o que já
está escrito a não ser implorar obediência às leis do amor,
da dignidade, da moral. Dêem as suas mãos, coloquem-nas em
nossas mãos e, amparados pelas mãos do Nosso Senhor Jesus
Cristo, chegaremos lá, na obra maior, que não é uma cidade da
fraternidade, mas, sim, a Cidade da Fraternidade, um
Movimento integrando todos os movimentos assistenciais
espiritualistas desta Terra.
Conclamamos, companheiros, a continuar lembrando da
alertiva cristã: “aqueles que perseverarem até o fim, serão
salvos”.
Do menor irmão em Cristo
Altino
Mensagem recebida no Encontro Regional da 5ª Região Fraterna realizado no Grupo da
Fraternidade Espírita Irmã Meimei, de Brasília-DF, no dia 18/05/2002, pela médium
Myrian Sousa.
CIFRATER - Mais Luz
A Cidade da Fraternidade
Hoje ainda tem mais luz,
Pois recebe a visita
Dos prepostos de Jesus.
O firmamento se alegra,
Cânticos povoam o ar,
São os cantores do Cristo
Ensinando-nos a amar.
Na escuridão do mundo,
Um foco de luz brilhou,
Indicando a estrada
Daquele que muito amou.
Todo tesouro do mundo
Não brilha com tanto ardor.
É a chama cristalina
Do mais sublime amor.
O coração se alegra,
O sorriso se espalha,
Lembrando Jesus menino
Sendo ninado na palha.
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Kaja Krisna, de Muriaé /Minas
Gerais, no dia 06/12/2003, pelo médium Robério Torres.
Cidade da Fraternidade: Uma
realização interior
Uma estrada luminosa indica-nos o compromisso que
assumimos no nosso processo redentor. São as mãos do Mestre
que se alongam na nossa direção, relembrando-nos a tarefa que
temos de cumprir. Estamos vivendo momentos da maior
significação para os nossos espíritos, nossas vidas, nosso
planeta. O Cristo aguarda que sejamos, dessa feita, capazes
de, definitivamente, seguir os seus passos, apoiarmo-nos nas
suas pegadas, iluminar-nos para contribuir na iluminação do
mundo.
Observemos, queridos irmãos, que todos nós, aqui no
mundo espiritual, sem exceção, gostaríamos de ter feito um
pouco mais. Estamos conscientes de que poderíamos mais ter
realizado. O nosso convite, o nosso relembrar nessa manhã é
para que, a despeito das dificuldades, dos problemas, das
lutas tantas, coloquemos no ponto alto de nossas aspirações,
o ideal, o compromisso assumido com o Cristo de Deus.
Os nossos irmãos carentes, pela ausência da luz, pelo
distanciamento da verdade, precisam de nós. O nosso modelo de
trabalho, o nosso projeto de ação, o nosso esforço devem
centrar-se exclusivamente no Cristo e, apoiados Nele,
ajudados por Ele, haveremos de trabalhar com intensidade
dentro dos nossos sentimentos, para sermos criaturas nobres e
colocar para fora, na forma de atos, o reino dos céus.
A transição tão falada, meus irmãos, processa-se. Está
diante de nós e Jesus espera que sejamos transformadores do
mundo, transformando-nos. Aqui no mundo espiritual, nas
inúmeras colônias de que participam os trabalhadores do
Cristo de Deus, há um trabalho intenso, um esforço denotado,
um planejamento constante, uma busca de objetividade para que
as ações se façam num curto prazo, otimizando esforços para
que a luz da misericórdia alcance cada sentimento,
plenificando a renovação da criatura humana.
Nós precisamos de vocês, queridos irmãos, porque vocês,
os encarnados, representam as nossas mãos, os instrumentos
de que necessitamos para avançar sempre e mais. Jesus precisa
de nós, das suas operosas mãos para que se alonguem as
perspectivas de trabalho. Se conviver com nossos irmãos é
difícil, faz-se necessário cultivar o entendimento para
compreender e não economizar forças físicas, para que a
iluminação interior cresça cada vez mais. Assim aconteceu com
aqueles que se entregaram a Jesus, como o nosso Bezerra, o
Francisco Cândido Xavier e outras criaturas que esqueceram a
si mesmas para colocarem um sol de grandeza maior diante de
nós, amparando-nos para vencermos as nossas limitações.
No entanto, essa geração que vocês representam significa
um marco nas mudanças necessárias da vida planetária, assim
como o Cristo de Deus, em um certo momento, ao chegar aqui,
estabeleceu a mudança da história. Nós estamos observando,
diante de nossos olhos, uma nova fase, uma significativa
mudança, um momento grave nas nossas responsabilidades, para
que Jesus deposite em nossas mãos uma procuração para que
ajamos com equilíbrio, dignidade, cumprindo o nosso papel.
A Cidade da Fraternidade, tantas vezes sonhada pelos
nossos dirigentes maiores, representa lágrimas, suor e
ideais de tantos irmãos; não é sem razão que essas mesmas
criaturas, muitas do lado de cá, vêm até vocês repetidas
vezes para conclamá-los ao trabalho, ao esforço, à coragem,
à misericórdia. Aqueles cobradores que dificultam o nosso
sonhar, que se colocam diante de nossos passos para nos
impedir de sonhar com a luz, que procuram sombrear os nossos
olhos para as coisas santas e nobres da vida, na verdade não
são adversários, são criaturas, irmãs nossas, pequeninas
ainda, que não cresceram para a luz da verdade. Aprendamos a
crescer para representar para eles o modelo que precisamos
ser.
Assim, meus irmãos, nesse final de encontro, nessa hora
observamos as mãos da misericórdia estendidas, alongando-se
na direção dos irmãos sofridos que aqui vieram para receber o
socorro, o auxílio, a ajuda, a misericórdia. Notamos agora o
quanto se pode fazer diante dessa imensidão de dor que
representa a humanidade encarnada e desencarnada. As trevas
labutam para tentar empanar a luz do sol. No amanhecer das
experiências, que se defrontam diante de nossos olhos, é
Jesus de novo. O espiritismo é o Cristo de novo que surge
diante de nós, abrindo novamente os braços! “Vinde a mim”
como um convite para que as ovelhas tresmalhadas possam
ouvir novamente o seu chamado e, de tal modo, nós nos
reunamos junto ao seu coração generoso, para contribuir na
construção da bondade e da paz. As dificuldades do mundo são
as nossas dificuldades, as das nações, as do nosso pequeno
núcleo, as das grandes responsabilidades e as pessoais de
cada um de nós. Precisamos, então, meus irmãos, estabelecer
prioridades, trabalhar nos atos pequeninos, melhorar nas
ações enobrecidas, crescer no trabalho da evangelização
interior e estender as nossas mãos em benefício da dor.
Este é o modelo que o Mestre nos ofereceu. “Amai-vos”
quer dizer: vá ao encontro do sofrimento. E nós enquanto
trabalhamos, estudamos, aprendemos e ajudamos, estaremos
libertando-nos dessas amarras que representam os nossos
comprometimentos do ontem, para que possamos construir as
nossas asas da bondade e voar em direção à paz.
Deus os abençoe, meus queridos amigos. Estamos com
todos, temos estado aqui, estimulando, encorajando e
afirmando: a Cidade da Fraternidade, o sonho, o ideal,
continua sendo o grande projeto que impomos a nós próprios
para realizá-lo em nome de Jesus. Muita paz. Que Jesus nos
tenha sempre no coração.
André Luiz
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Veneranda, na Cidade da
Fraternidade, em 07/03/2003, pelo médium João Pinto Rabelo.
Chancela do Amor
Levantamos, no planalto, a plataforma fria de cimento
armado, que pude transportar para a Capital do Brasil, na
intenção de mudar. Mudar os propósitos, os corações dos
brasileiros, o povo, os valores, mas pequei por um lapso
grande e só situações deste jaez são capazes de proporcionar-
me uma grande explicação. Pequei, meus amados, porque me
esqueci de colocar à frente das plataformas de cimento armado
na construção de uma grande Capital, a chancela do amor e por
esse amor estou lutando agora.
Companheiros amados, a tarefa grandiosa que se levanta
no Alto Paraíso merece do plano espiritual os olhares
sensíveis de apoio, de aplausos, de encorajamento e, quiçá, o
pedido de uma oportunidade para usufruirmos daquela grande
construção do bem em favor do Cristianismo nas terras do
Brasil.
Queridos fraternistas, sob a chancela de André Luiz,
caminhem confiantes na edificação da obra e não se estagnem
na sua edificação. A obra é esperança e estímulo, meus
amados fraternistas.
A criança que habita a Cidade da Fraternidade é, para o
plano espiritual, o tesouro maior que vocês haverão de
edificar sobre este orbe que abre as comportas do coração
para receber aqueles que acorrem às terras brasileiras em
busca de paz, do verdadeiro amor e da verdadeira
fraternidade. E as comportas do Brasil hão de se abrir muito
mais, queridos e amados irmãos, porque os corações estão se
estruturando, o Cristianismo se implantando na Pátria do
Cruzeiro, conforme prognosticou o querido e amado Humberto de
Campos no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”. Afirmamos que a plêiade de companheiros
interessados na caminhada do Brasil, que nem os movimentos
sociais, políticos e administrativos, que afetam
sensivelmente a balança econômica da nação, são capazes de
abalar os alicerces da fraternidade na terra do Cruzeiro.
Amados companheiros, a Cidade da Fraternidade é uma tarefa de
todos nós e, de nossas paragens, somos capazes de entender,
dignificar e participar de um projeto de tão grande porte.
Para frente e para o alto, sob a bandeira de André Luiz,
que sorri agradecido e feliz por contar com os seus
corações na terra escolhida pelo Mestre, para que sua Boa
Nova se estabeleça definitivamente e não se faça mais uma
repetição da Roma destruída pelos falsos valores da
civilização.
Queridos e amados fraternistas, Deus os abençoe. Jesus
caminha conosco e de minha modesta parte envio-lhes um
abraço do amigo que faliu, sim, mas que está de olhos
abertos e pronto a receber as lições que no plano espiritual
procuro aprender. Assevero-lhes que tenho tido a oportunidade
de visitar as nossas crianças e, quem sabe, muito breve
farei parte daquela comunidade, com o coração em festa pela
oportunidade. Abraço-os com humildade, virtude que anseio
por conquistar. Sinto- me honrado em fazer parte desta
caravana de amor e da fraternidade e recebam o abraço do
amigo de sempre.
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Humberto de Campos, de
Itaperuna/RJ, em 15/09/1986, pela médium Edilme e ditada pelo espírito Juscelino
Kubstchek de Oliveira.
2
Glebas Cristãs
Uma célula verdadeiramente cristã não se propõe tão somente disseminar os
conhecimentos do Evangelho e avivar a fé cristã. Em particular, os núcleos cristãos
bafejados com os preceitos da filosofia espírita haverão de propugnar sempre pelas ações
realizantes, em que os recursos para a sustentação das obras e o trabalho caritativo na
direção do mais sofredor partem dos seus próprios componentes.
Historicamente, as instituições religiosas sofreram perturbações pela ausência de
pureza de ideal e submissão aos interesses da política do mundo. Ao tempo dos apóstolos,
para sobreviver a própria Casa do Caminho prevaleceu da ajuda monetária da sociedade
judia, mesclada da permissividade de práticas judaicas dentro da igreja nascente com
intuito de abrandar as perseguições do farisaísmo.
Na atualidade não mais ocorrem perseguições religiosas e preconceitos praticamente
inexistem, propiciando uma liberdade de expressão religiosa. Todavia, as inferências
políticas perduram e a dependência econômica afeta a beleza da expressão livre dos
postulados cristãos, prevalecendo para os tempos atuais o conceito kardequiano de que “os
erros que se enraizaram no cristianismo é mais por culpa dos homens”.
Cada agrupamento cristão espírita possui possibilidades imensas de trabalho e os
trabalhadores convocados são aqueles que atendem à assertiva: “quem quiser vir após mim
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
A Comunidade Cristã de Lião, em tempos distanciados na história da humanidade,
deixou um exemplo que permanece vivo e que convém ser longamente meditado. Um dos
seus maiores expoentes, o irmão Corvino (livro “Ave Cristo”), numa assembléia cristã,
assim se expressou: “Há construções no plano do espírito, como existem no campo da
matéria. A vitória do Cristianismo, com a livre manifestação no nosso pensamento, é obra
que nos compete concretizar”. Um dos irmãos na assembléia referindo-se à perseguição
atroz movida contra os cristãos, inclusive dispensando-os de trabalhos remunerados, propôs
o direito digno da igreja esmolar a benefício deles.
O irmão Corvino respondendo a Ênio, considerou como um direito digno, sim, o de
esmolar; todavia obtemperou: “Temos terra disponível e o arado não mente. Os grãos
respondem com fidelidade ao nosso esforço. Podemos trabalhar, não devemos recorrer ao
concurso alheio, senão em circunstâncias especiais. Não seria aconselhável manter a
comunidade improdutiva. Cabeça vaga é furna de tentações. Creio em nossa possibilidade
de auxiliar a todos, através do esforço bem dirigido. O serviço de cada dia é o recurso de
que dispomos para testemunhar o desempenho dos nossos deveres, diante dos que nos
acompanham de perto, e o trabalho espontâneo no bem é o meio que o Senhor colocou ao
nosso alcance, a fim de que servimos à humanidade, com ela crescendo para a glória
divina”.
O pronunciamento deste cristão notável é muito instrutiva e, no que concerne à Cidade da Fraternidade, ora em edificação permanente na Chapada dos Veadeiros, sugeri-
nos introspeções ainda mais profundas. Durante longos anos a sustentação dos
comunitários dependia dos recursos financeiros enviados pelos irmãos adesos à causa do
Movimento da Fraternidade então espalhados pelo Brasil, dedicando tempo e trabalho nos
Grupos da Fraternidade Espírita a que estavam vinculados. Para reduzir a dependência,
decidiu-se pela criação de uma empresa florestadora e reflorestadora denominada
RECIFRA, nas imediações da comunidade e sob as expensas desses agrupamentos para
viabilizar a geração de recursos para a sobrevivência da CIFRATER.
As duas formas esperadas de sustentação econômica para a CIFRATER não
traduziram os resultados esperados e a comunidade não cresceu nesse período, a despeito
de esforços e sonhos. Com a maturação dos objetivos filosóficos da comunidade, ainda na
fase de desbravamento, foi acalentada a idéia de os próprios comunitários trabalharem a
terra, retirando dela os recursos mantenedores da vida de cada um.
Decidiu-se depois pela criação do CONCIFRATER – Condomínio Rural da
Cidade da Fraternidade, dentro de certos limites nada mais do que uma reforma agrária
cristã espírita. Dos 2.565 hectares de terras na área de influência comunidade cristã espírita
ou Cidade da Fraternidade, reservou-se 1.250 hectares para o núcleo urbano propriamente
dito e a área restante dividida, a princípio, em 33 glebas a serem distribuídas para
comunitários e espíritas adesos ao ideal.
Ao longo do tempo, pretende-se formar um cinturão verde ao redor do núcleo
urbano e todos, no esforço comum e no trabalho solidário, retirarão o sustento da própria
terra, prevalecendo a anotação de Mateus – capítulo 06, versículos 31 e 33: “Não andeis
pois inquietos, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas”.
A Espiritualidade tem uma visão de futuro que nós não alcançamos. O
CONCIFRATER foi imaginado em 1997 e o propósito inicial consistia na implantação
lenta de algumas glebas experimentais. Em 2003, quando foi completada a distribuição da
totalidade das glebas para os cristãos, o Movimento dos Sem-Terra-MST invadiu terras de
terceiros e também terras da União nas adjacências do CONCIFRATER.
Ao mesmo tempo que surge aqueles que poderão receber a assistência espiritual da
comunidade cristã espírita, em terras anteriormente inóspitas e desocupadas, os glebistas,
pelo labor incansável e justo, produzirão alimentos para uma vida digna e dentro das
diretrizes do Evangelho.
Estamos nos referindo às glebas promovedoras de sustentação de vidas mas é
possível falar da gleba íntima que produz alimento imperecível e que se irradia a benefício
daqueles cujo templo interior está amordaçado pela ausência da fé e desconforto de crenças
mais profundas. A evocação do irmão Corvino, conclamando ao labor na comunidade
cristã de Lião, como que inspirou o renascimento da proposta de glebas cristãs, desta feita
nas proximidades da CIFRATER.
3
CONCIFRATER – Condomínio Rural da Cidade
da Fraternidade
O Condomínio Rural da Cidade da Fraternidade foi instituído com o intuito de dar
ocupação produtiva às terras da OSCAL/CIFRATER para transformar-se, a médio prazo,
num recurso de auto-suficiência dessa comunidade cristã-espírita. Os condôminos ou
glebistas habilitam-se a gerir o uso das terras, em conformidade com o meio ambiente,
atentos à vocação do solo e convivendo harmonicamente com os parceiros e o Núcleo
Urbano da Cidade da Fraternidade.
Pelo Estatuto do CONCIFRATER, o candidato a glebista há de ser comunitário ou
espírita indicado por Grupo da Fraternidade Espírita ou, ainda, ser o próprio Grupo da
Fraternidade Espírita (Pessoa Jurídica). Contratualmente, o glebista terá a posse da terra e
não sua propriedade, por um período de 10 anos, renovável. As glebas variam de 32 a 117
hectares, sendo que as maiores constituem, prioritariamente, reservas ecológicas. Como
contrapartida, o glebista destinará para a CIFRATER valor equivalente a 10% da sua
produção e naturalmente este gesto muito contará na contabilidade convivencial entre
condôminos e comunitários.
As glebas ecológicas são as de nº 12, 13, 14, 15, 16, 27, 29, 30, 33 e 34. As outras
23 glebas restantes possuem perfis variados podendo-se nelas criar gado leiteiro, cabras,
peixes e outras atividades como apicultura, plantios de arroz, feijão, soja, milho, mandioca,
amendoim, cana-de-açúcar, além de frutas como laranja, banana, acerola, maracujá,
graviola e hortaliças diversas.
Existem ainda glebas disponíveis e os candidatos deverão submeter o pedido ao
Conselho de Administração do CONCIFRATER, que examina a potencialidade dos
projetos a serem implementados, a programação dos recursos a serem investidos e o
atendimento aos preceitos estabelecidos no Estatuto Condominial.
Particularmente as glebas 4 A e 4 serão divididas em porções de 1 a 5 hectares. O
desejo da OSCAL e da CIFRATER é que fraternistas e sobremodo os Grupos da
Fraternidade Espírita sejam candidatos a glebistas para construírem em tal espaço físico
pelo menos uma casa naturalmente ladeada por jardim e pomar. Desta forma, teremos uma
admirável integração entre a Cidade da Fraternidade e os agrupamentos fraternistas,
atendendo por esta ótica o conceito espiritual de que os Grupos da Fraternidade Espírita
são a extensão da própria CIFRATER e reciprocamente.
A curto prazo, os condomínios instituirão uma cooperativa para centralizar ações
que vão desde a compra de alimentos, implementos agrícolas, equipamentos de uso
coletivo, até a comercialização dos produtos produzidos nas glebas, alcançando como
resultante a unidade e coesão imprescindíveis ao sucesso do empreendimento.
O instrumento condominial estabelece reuniões periódicas do Conselho de
Administração e da Assembléia Geral dos Condôminos como mecanismos de
acompanhamento e de avaliação de forma a manterem as metas e diretrizes norteadas na
concepção do CONCIFRATER.
Dilatemos os nossos vínculos com a Cidade Amor que elegemos para os nossos
ideais e não faltemos com as expectativas nossas e as dos benfeitores espirituais que nos
protegem e nos dirigem dos Planos Maiores da vida.
Fazenda RECIFRA
Aos diletos companheiros da OSCAL,
“Buscai o Reino de Deus e sua justiça e todas as outras coisas vos serão dadas de
acréscimo”.
Nossos orientadores recebem, felizes, os cuidados dos
amigos queridos, desejosos do melhor desempenho nas funções
que lhes cabem. Estejam seguros que, embora as dimensões do
existir pareçam nos apartar, estamos muito mais unidos do que
podem imaginar e ocupamos suas mentes de forma tão natural
que nossos pensamentos se lhes misturam às intenções. É
absolutamente certo que, sob a égide de Jesus, nossa jornada
de trabalhos deve se realizar nos dois planos da vida e
nossos esforços estão, por isso, permanentemente unidos na
realização da nobre tarefa. Assim é que não há motivos para
se temer o erro de decisões importantes, desde que
mantenhamos puro o coração e nobre as intenções de acertar.
E não olvidem que o plano superior mantém ininterrupta
vigilância, conferindo nossos passos através da intuição,
porta segura por meio da qual as assertivas destinadas à
orientação do Movimento da Fraternidade podem atingir a
todos, pois cada qual, sem exceção, no desempenho das tarefas
que lhe compete, todas igualmente importantes no patamar em
que desenvolvem, estão sob o exercício de sublime
mediunidade, com Jesus. Pela voz da intuição, poderosa força
de comunicação entre todos os seres que se sintonizam em
objetivos comuns, as sugestões e resoluções necessárias à
concretização dos objetivos propostos encontram guarida na
mente dos encarnados. Aqueles que detêm boa vontade de servir
e reservam a humildade suficiente para fazer calar a própria
arrogância estão preparados o bastante para ouvir a voz que
vem da alma e nos fala da vontade do Cristo. Basta segui-la
com confiança e determinação.
Eis porque os amigos já trazem no coração a resposta à
formulação solicitada e nossa sugestão é apenas uma
confirmação que atende incertezas que ainda povoam nosso
mundo íntimo, destituído da fé necessária ao sustento do
espírito.
A Esfera Superior se esmera, com grande empenho, para a
implantação da obra evangélica no coração humano,
transformando condutas e sentimentos em imorredouras
edificações espirituais, objetivando, sobretudo, a renovação
da face planetária em base ao amor ao semelhante.
Enfastiados do domínio das Trevas, cansados do vendaval
de crueldades e ignorâncias que somente nos trazem
infelicidades, os espíritos de boa vontade desejam ver o orbe
iluminado pelo Evangelho, sanando todas as discórdias e
enriquecendo o homem de prolífero relicário divino. Afeitos
às venturas dos planos celestiais, anseiam trazê-las para
brindar a vida planetária, paupérrima de alegrias genuínas e
sedenta da elísia paz.
É inútil fugirmos espavoridos da dor que corrige e
encontra sempre o seu alvo, estabelecendo coerções onde
imperam a revolta e a maldade. Já não podemos mais suportar a
ausência do bem nas sendas humanas e, nossa sociedade
agoniza, sob o sufrágio da iniquidade infrene. Somente a
renovação de todos os sentimentos da alma, dirigida pelos
apelos sublimados do Cristo, pode transformar o cenário do
mundo, banindo os charcos sombrios da expiação que ainda
campeiam as suas paisagens, afastando-nos do Reino de Deus
que tanto ansiamos.
Eis então que todos os esforços dos seareiros cristãos,
de ambos os lados da vida, devem se investir destes objetivos
prioritários, sobrepujando todos os outros intentos de ordem
transitória do mundo físico. As conquistas monetárias,
indispensáveis ainda ao sustento da própria massa física que
o espírito carreia, devem ter por base estas mesmas intenções
para que não se dissolvam em ideais vazios e improdutivos de
bens espirituais, secando-se peremptoriamente, o ideal
sublime, qual a figueira estéril da parábola evangélica. Se
todo nosso empenho se esmerar na confecção de realizações
efêmeras e ilusórias da matéria, ainda que se apoiem em
propósitos nobilitantes, estarão fadados ao inevitável
derruir do tempo que a tudo consome.
Não se iludam, companheiros, o labor na carne é mera
motivação para que o patrimônio espiritual floresça em nossos
campos interiores, burilando-nos a contumaz e secular maldade
e faça despertar em nós o amor pelo bem, abrindo-nos as
portas da alma para a pujança e a felicidade que vicejam na
obra divina.
Objetivando, sobretudo, o desenvolvimento destes fins,
os recursos materiais, necessários ao sustento da obra
fraternista, são secundários e entregues ao labor humano,
afeitos às suas necessidades mais imediatas. Portanto,
sintam-se em liberdade para deliberarem como lhes aprouver na
busca das soluções indispensáveis à manutenção do arcabouço
físico sobre o qual se desenvolve o progresso espiritual
pretendido, sem olvidar jamais que a intuição é idioma de
fácil entendimento para aquele que segue os preceitos morais
implantados no imo da própria consciência.
Convocados a opinar, destarte, nossos superiores
recomendam de fato a disponibilidade da propriedade em
questão, a Fazenda Flamengo, saldando compromissos de “César”
a fim de que os “investimentos do Cristo” se libertem dos
onímodos fardos humanos e os esforços conjuntos se unifiquem
na reformulação dos valores eternos que realmente nos
interessam, confeccionando-se “tesouros que a ferrugem não
corrói e não se sujeitam ao assalto dos flibusteiros.”
Há necessidade urgente de que a máquina administrativa
do Movimento se simplifique ao máximo possível, evadindo-se
do guante econômico, evitando-se desperdício de recursos e
desvio de verbas espirituais dos títulos divinos,
encaminhados prioritariamente para a investidura na
construção evangélica. Desgovernados pelas exigências de
“César” os patrimônios da alma jazem oprimidos pela
sobrecarga de diligências improfícuas que sufocam os
sentimentos e deixam sedento o espírito; por isso, a extinção
da RECIFRA é, sem dúvida, o caminho mais condizente para que
o labor no campo do Evangelho não encontre óbices
intransponíveis, retardando-se a marcha indispensável rumo às
luzes do Cordeiro.
O Condomínio Rural da Cidade da Fraternidade vem
atendendo ao que se espera de uma entidade voltada para um
escopo eminentemente cristão, apesar da espiritualidade ainda
aguardar maior rendimento no plano das vocações humanas para
que os esforços empreendidos não os deixem depauperados dos
bens divinos.
Se o ideal da fraternidade cristã nortear nossos passos,
em momento algum estaremos inseguros quanto aos rumos a
seguir e o Senhor estará ao nosso lado, afugentando-nos as
incertezas da ignorância, que ainda prolifera em nossos
caminhos. E colimando nossas intenções estritamente nas rotas
do Evangelho, seguiremos a braços dados e passos decisivos,
unidos para sempre no alcance da felicidade suprema.
Paz a todos.
Adamastor (sob a orientação de André Luiz)
Mensagem recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vitor, de Belo
Horizonte/MG, 05/02/2002, pelo médium Gilson Teixeira Freire
GLOSSÁRIO
AGRUPAMENTOS CRISTÃOS ESPÍRITAS: o mesmo que Grupo da Fraternidade
Espírita.
CASA DO CAMINHO: primeira comunidade cristã da história da humanidade inspirada
nos ensinamentos e vivências de Jesus e erigida pelos apóstolos após o inesquecível
fenômeno do Pentecoste (registro em Atos dos Apóstolos por Lucas).
CENTRO ESPÍRITA: é escola de almas com responsabilidade na educação integral da
criatura humana, devendo promover, com vistas ao aprimoramento íntimo dos seus
freqüentadores, o estudo metódico e sistemático e a explanação da Doutrina Espírita,
consubstanciada na Codificação Kardequiana.
CIDADE DA FRATERNIDADE (CIFRATER): comunidade cristã espírita fundada em 20
de dezembro de 1963, situada no município de Alto Paraíso/GO. É uma sociedade civil,
religiosa, filantrópica, educacional e cultural, e de amparo à criança órfã em lares cristãos
espíritas, de modo que esta receba o amor envolvido pela energia que disciplina, ampara,
moraliza e evangeliza. É obra comum dos comunitários que ali residem e dos fraternistas
que se irradiam pelos Grupos da Fraternidade Espírita espalhados pelo Brasil,
vivenciando nos ambientes onde se encontram os mesmos sentimentos e anseios para
construção de uma família verdadeiramente espiritual. É uma obra de amor a construir-se
com sentimentos e emoções, mais do com que pedras e moedas, nascida do fundo do
coração dos seus idealizadores, inspirada na Casa do Caminho dos tempos primitivos do
Cristianismo.
CONFRATERNIZAÇÃO DAS MOCIDADES ESPÍRITAS DO MOVIMENTO DA
FRATERNIDADE (COMEMOFRA): trata-se de evento que congrega jovens cristãos
espíritas de várias partes do Brasil, vinculados à causa do Cristo e que se reúnem na
Cidade da Fraternidade durante o período do Carnaval. Precede-lhe o PRÉ-COMEMOFRA,
na forma de encontros regionalizados das Mocidades dos Grupos da Fraternidade Espírita,
ocasião aproveitada para permuta de experiências e para a elaboração de toda a
programação e ação futura da COMEMOFRA. Após a COMEMOFRA são realizadas as
Pós-Comemofra, evento igualmente regionalizado abrangendo as Mocidades dos Grupos da
Fraternidade Espírita conforme distribuição da OSCAL. As Pós-COMEMOFRA são
verdadeiras festas de confraternização e de reavaliação dos caminhos percorridos.
CONDOMÍNIO RURAL DA CIDADE DA FRATERNIDADE (CONCIFRATER): é um
instrumento criado para ocupar e fazer produzir as terras da Cidade da Fraternidade, além
do núcleo urbano. São 33 (trinta e três) glebas sendo 10 (dez) ecológicas, variando de 32 a
117 hectares cada uma, destinadas a garantir a auto-suficiência econômica da CIFRATER.
Os glebistas ou condôminos são comunitários ou cristãos espíritas indicados pelos Grupos
da Fraternidade Espírita. Têm o compromisso de destinar, depois de certo tempo, um
percentual equivalente a 10% da produção para a CIFRATER. O CONCIFRATER, dentro
de certos limites é uma reforma agrária cristã espírita, almeja a busca da auto-suficiência da
CIFRATER, livrando-a de dependências susceptíveis de ferir-lhe os objetivos filosóficos.
ECTOPLASMA: trata-se de substância albuminóide unida a um corpo gorduroso e com
células análogas às que se encontram no corpo humano. Particularmente notável é o grande
número de leucócitos; as expectorações, por exemplo, não contêm jamais tanto. Esta
matéria lembra fortemente o líquido linfático, sem contudo ser-lhe idêntico (SCHRENCK-
NOTZING – “Les Phenoménes Physiques de la Mediunité”). O ectoplasma é dócil ao
comando mental do médium e dos espíritos, podendo assumir formas variadas e exercer
inúmeras ações sob a influência do pensamento. Toma formas e características de um ser
vivo completo (agenere ectoplásmico) ou de peças anatômicas parciais, mas com aspecto
de objetos com vida. “A substância, caracterizada por um cheiro especialíssimo, escorria
em movimentos reptilianos, acumulando-se na parte inferior do organismo medianímico,
onde se apresentava o aspecto de grande massa protoplásmica viva e tremulante” – Nos
Domínios da Mediunidade – Espírito André Luiz pela mediunidade de Francisco Cândido
Xavier.
ECTOPLASMIA: é o processo pelo qual o ectoplasma passa do estado amofo ao estado de
organização morfológica. Ao transitar do estado amofo para o organizado, a substância
ectoplásmica muda também as suas propriedades físicas e químicas (“Espírito, Perispírito e
Alma” de Hernane Guimarães Andrade).
ESPÍRITA: ou espiritista é o adepto do Espiritismo, reconhecido pela sua transformação
moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA (FEB): é a instituição responsável pela condução
do Movimento Espírita no Brasil, cabendo-lhe o dever intransferível de orientar a
propagação do Espiritismo, alicerçado na codificação de Allan Kardec, enfatizando os
aspectos de ciências, filosofia e religião. Tem a missão de orientar as Unidades Federativas,
desenvolver amplo trabalho de unificação, conjugando entidades, associações e congêneres,
contribuindo para o desiderato de tornar o “Brasil, coração do mundo e pátria do
Evangelho”.
FRATERNISTA: cristão compromissado com a causa do Cristo e com os ideais do
Movimento da Fraternidade. É aquele que vivencia a fraternidade no próprio ambiente em
que vive, abrindo as portas do seu lar para adotar pelo menos uma criança ou abrigar um
irmão carente em qualquer área e, na impossibilidade disto, fazer ou propiciar assistência
social e recursos a uma família necessitada. Preconiza sua vida no serviço fraternal.
GRUPO DA FRATERNIDADE ESPÍRITA (GFE): um centro espírita centrado na
revivescência do Cristianismo Primitivo e adeso à filosofia do Movimento da Fraternidade.
Uma entidade autônoma com personalidade jurídica e estatuto próprio, com sede e
domicílio nos diversos municípios dos Estados da Federação, que se propõe a vivenciar o
Programa de Trabalho Permanente (PTP) consubstanciado em: ensino da doutrina espírita
e do evangelho; assistência social espírita; tarefa de passes e formação de ambientes
espiritualizantes.
MATERIALIZAÇÃO: sugere o processo plasmador de um modelo organizador de natureza
biológica, podendo ser a forma plasmada a de organismos vivos inteiros, ou de peças
anatômicas perfeitas, com aparência de objetos vivos ou de criaturas humanas. (“Espírito,
Perispírito e Alma” de Hernane Guimarães Andrade).
MOVIMENTO DA FRATERNIDADE (MOFRA): de caráter universalista, é a união
voluntária de criaturas conscientes que, sob a égide de Jesus Cristo, se propõem a espalhar,
à luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, a verdade do Evangelho e a
praticá-la junto aos irmãos em humanidade, convivendo com a dor, levando à criança
desamparada o calor fraternal e ao doente ou carenciado a visitação, o remédio, o repouso,
a habitação, as vestes, a água e o pão. Movimento da Fraternidade objetiva a evangelização,
a espiritualização e o aprimoramento do espírito em evolução, encarnado e desencarnado,
em sintonia com a Espiritualidade Maior. O Movimento da Fraternidade propugna o
exercício da fraternidade simples e desembaraçada, priorizando a ação genuinamente
cristã.
MOVIMENTO ESPÍRITA: guarda o objetivo, antes de tudo, de divulgar os postulados da
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e reafirmar o pensamento original de Jesus,
embasado em conhecimentos que, há dois mil anos, eram impossíveis de ser propalados. Os
novos conhecimentos que o Espiritismo enseja devem ser divulgados nos seios das massas,
nas instituições religiosas, nas associações civis.
ORGANIZAÇÃO SOCIAL CRISTÃ ESPÍRITA ANDRÉ LUIZ (OSCAL): é uma
sociedade civil, religiosa, filantrópica, educacional e cultural, de âmbito nacional,
constituída de entidades espíritas autônomas com personalidade jurídica própria
denominadas Grupos da Fraternidade Espírita, regidas por um Estatuto Padrão, com sede e
foro nos diversos municípios do Estado da Federação, e da Cidade da Fraternidade,
comunidade cristã espírita, com Estatuto próprio, edificada no município de Alto Paraíso /
GO.
RECIFRA - FLORESTADORA, REFLORESTADORA E AGROPECUÁRIA CIDADE
DA FRATERNIDADE: empresa constituída sob a forma de associação, de caráter
filantrópico com o objetivo de prover recursos financeiros para a sustentação financeira da
Cidade da Fraternidade. No total, 27 Grupos da Fraternidade Espírita associaram-se como quotistas para formar a RECIFRA. As atividades de florestamento e reflorestamento
aconteceram em terras do Ministério da Agricultura, mediante Contrato de Comodato,
adjacentes à Cidade da Fraternidade no espaço de 1.000 alqueires. Cumprida a etapa a
ela programada, cuida-se neste momento da sua extinção, sendo que as terras já foram
devolvidas à União.