livro don`t blink

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Capítulo 1 Arrependo-me de não ter prestado atenção aos sinais. Se eu pudesse imaginar que estes seriam os últimos dias da minha vida, ou melhor, da vida a que estava acostumada, faria alguma diferença? De uma coisa eu tinha certeza: eu deveria ter ficado em casa naquele dia e jamais ter colocado os pés naquela maldita praça. Jamais! Venha, Nina chamou Stela eufórica, apontando para um showzinho a ponto de começar na praça Dam, a minha predileta em Amsterdã. Quando me aproximei, foi tudo tão rápido que meu cérebro mal conseguiu processar a sequência de eventos que aconteciam diante de meus olhos. Zooomp! Zooomp! O gemido surdo do ar sendo apunhalado. Fragmentado. Zooomp! Uma praça. Uma aglomeração de pessoas em uma roda. O artista de rua em uma assustadora exibição com facas voadoras. Seu olhar concentrado ficando estranho, aéreo talvez. As cintilantes facas se movimentando com incrível rapidez. O homem se

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UMA VIDA NORMAL E TRANQUILA SERIA TUDO QUE UMA ADOLESCENTE ODIARIA TER, CERTO? Não para Nina! Por que tinha que viver como uma nômade (ou fugitiva!), mudando de cidade ou país a cada piscar de olhos? Por que não podia saber nada sobre o paradeiro de seu pai? Por que sua mãe era tão neurótica e supersticiosa? Milhares de perguntas. Nenhuma resposta. O que significavam aqueles estranhos calafrios, acidentes e mortes que insistiam em acontecer ao seu redor? Teriam eles alguma ligação com o seu defeito de nascença? Ou seriam causados pelo selvagem bad boy de hipnotizantes olhos azuis-turquesa que costumava aparecer nos momentos mais assustadores? Nina jamais poderia imaginar que aquele garoto sombrio, de corpo escultural e fisionomia atormentada lhe abriria os olhos para um universo paralelo. Só ele tinha as respostas para os seus mais íntimos questionamentos, mas cobraria um preço muito alto para fornecê-las: A vida dela.

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Page 1: Livro Don`t Blink

Capítulo 1

Arrependo-me de não ter prestado atenção aos sinais. Se

eu pudesse imaginar que estes seriam os últimos dias da

minha vida, ou melhor, da vida a que estava acostumada, faria

alguma diferença?

De uma coisa eu tinha certeza: eu deveria ter ficado em

casa naquele dia e jamais ter colocado os pés naquela maldita

praça. Jamais!

— Venha, Nina — chamou Stela eufórica, apontando

para um showzinho a ponto de começar na praça Dam, a

minha predileta em Amsterdã.

Quando me aproximei, foi tudo tão rápido que meu

cérebro mal conseguiu processar a sequência de eventos que

aconteciam diante de meus olhos.

Zooomp! Zooomp! O gemido surdo do ar sendo

apunhalado. Fragmentado. Zooomp! Uma praça. Uma

aglomeração de pessoas em uma roda. O artista de rua em

uma assustadora exibição com facas voadoras. Seu olhar

concentrado ficando estranho, aéreo talvez. As cintilantes

facas se movimentando com incrível rapidez. O homem se

Page 2: Livro Don`t Blink

aproximando de mim. Zooomp! As lâminas afiadas se

chocam, produzindo hipnóticas faíscas e gritos de delírio. O

exibicionista se aproximando mais ainda. A atmosfera cinza,

o inebriante tilintar e brilho das facas, o burburinho de

excitação das pessoas e... meu cérebro processando as

imagens com enorme dificuldade. As letais facas cada vez

mais perto. Meu estado de transe subitamente interrompido

por uma voz incisiva atrás de mim.

— Abaixe-se!

No mesmo instante tive a sensação de que alguma

pessoa havia me puxado e ao me inclinar para ver quem era

senti um vento frio passar pelos meus cabelos. Só deu tempo

de ouvir um ohh!!! das pessoas ao meu redor. Por que todas

estavam olhando para mim? Aturdida, instintivamente levei a

mão à ardência em meu pescoço e meus dedos depararam-se

com um filete de sangue. Então entendi o que acabara de

acontecer: uma das facas havia se desprendido da mão do

artista de rua e voado diretamente em minha direção. Com

certeza teria transpassado meu pescoço se meu reflexo não

fosse tão... tão incompreensivelmente rápido!

— Nina, você está bem? — gritava Stela supernervosa.

— Oh, meu Deus, foi por pouco!

Page 3: Livro Don`t Blink

— Eu estou bem, mãe. Foi só de raspão — respondi

atordoada.

— Venha, vamos embora! — Ela me conduziu para

longe da multidão. — Meu Deus! — balbuciou olhando em

pânico para todas as direções.

— Calma, mãe. Não aconteceu nada! — Não conseguia

compreender por que ainda me sentia muito tonta, mas não

mencionaria tal fato com Stela no estado de nervos em que ela

se encontrava. Devia ser pressão baixa.

Ao chegar em casa, o olhar de angústia nos olhos de

Stela era evidente. Pronto! O estrago estava feito. Adeus,

Holanda. Já imaginava o que estava prestes a acontecer: a

neura de minha mãe nos faria deixar Amsterdã, assim como

aconteceu em todas as cidades em que vivemos. Bastava

apenas algo ruim acontecer comigo, o que não era nada

incomum.

— Arrume suas roupas, filha — ela sacudia a cabeça.

Ah, não! Por favor, mãe. Não. Não. Não. De novo, não. —

Partiremos amanhã!

Argh! Eu sabia.

— Eu não quero ir! Mãe, nós acabamos de chegar à

Holanda! Isto é um absurdo! — retruquei inconformada. Por

Page 4: Livro Don`t Blink

mais que tentasse não surtar com os acessos de pânico de

minha mãe, podia sentir minha razão entrando em colapso. Eu

já era crescida e Stela tinha que aprender a respeitar as minhas

vontades também! — Comecei o ano letivo em Oslo, pouco

tempo depois estávamos aqui em Amsterdã e agora você já

quer mudar de novo só porque eu sou a mais azarada garota

da face da Terra? Você não vê que isto está me prejudicando?

— Não! Além do mais, recebi uma irrecusável oferta

caso atue fora da Europa... — a voz dela saía cambaleante.

— EU NÃO VOU! — grunhi.

Excluída.

Diferente.

Solitária.

Infeliz.

Desisti de tentar camuflar a angústia que me invadia a

alma. Como minha mãe poderia achar normal viver em mais

de vinte diferentes cidades e países num curto intervalo de

dezessete anos? Por que tinha que ser assim?

— Nina, se eu recusar este trabalho uma série de portas

vão se fechar para mim. Lembre-se que já fui referência em

Page 5: Livro Don`t Blink

minha área. O mercado está muito competitivo e vem

engolindo os que não se adaptam.

Claro! A desculpa que sempre me fez calar, mas que não

me convencia mais.

Minha mãe especializou-se em um ramo da indústria de

produção de lentes de contato. Sei que fez isto por amor a

mim. Nasci com um defeito em ambas as córneas. Apesar de

ter uma visão perfeita, a anatomia de minhas pupilas é

estranhamente incomum, fina e vertical, assemelhando-se à de

uma cobra, lagarto ou de um felino, como prefiro imaginar.

Assustador, eu sei, mas graças à Stela, nunca me foi

constrangedor. Ela percebeu que aquela aberração poderia

influenciar o modo como as pessoas me tratariam. Como

sempre foi uma mãe protetora e uma mulher muito

inteligente, arregaçou as mangas e começou a estudar por

conta própria os meios de confecção das lentes de contato que

existiam no mercado. Especializou-se nos diversos tipos de

materiais, modelos e matizes das lentes que existiam no

mundo, de maneira que seu grau de conhecimento ficou tão

singular nesta área, que ela foi rapidamente absorvida pela

indústria de produtos oftalmológicos.

Costumava me sentir culpada por nossa solitária vida de

nômades, porque sempre que Stela ouvia falar de algum

Page 6: Livro Don`t Blink

avanço científico na área, lá estávamos nós de novo fazendo

as malas e partindo para outra cidade ou país. Mas hoje não

acredito mais nisso. Sei que sua experiência neste ramo de

atividade é a desculpa perfeita para as suas costumeiras

mudanças bruscas de vida e lugar, e a válvula de escape para

as suas habituais inconstâncias de temperamento.

Para piorar a situação, a minha segurança é a maior das

suas paranoias e o azar é uma constante em minha vida. Para

uma mãe solitária e neurótica isto já seria prato feito, imagine

se essa mãe fosse também tremendamente supersticiosa.

Sempre que algum fato estranho acontecia, já era motivo para

ela pensar em mudar de cidade. Como sempre fui muito

azarada, aprendi a omitir acontecimentos nada convencionais

que, vez ou outra, insistiam em ocorrer comigo. Cheguei a

pensar que talvez fosse algum problema com a minha visão

ou com as lentes de contato especiais que mamãe confecciona

para mim, mas percebi a tempo que era mesmo falta de sorte.

— Por que eu não posso ser como todas as garotas da

minha idade, hein? Sempre que começo a fazer amigos você

parece que fica insatisfeita. Eu quero uma vida normal, mãe!

— rebati.

— Que conversa é esta? Sempre tivemos uma vida

normal e, bem... eu nunca me importei com as suas novas

Page 7: Livro Don`t Blink

amizades. — Mas o semblante culpado de Stela evidenciava o

contrário.

— É claro que não se importa, afinal de contas eu não

tenho amigos mesmo! Eu não tenho tempo sequer de

conhecê-los! Mal consigo gravar os nomes dos meus colegas!

Isto é o normal para você? — indaguei com as sobrancelhas

cerradas, quase obstruindo minha visão. — Já sei! —

continuei. — Normal para você é começar um ano letivo em

Varsóvia, mudar logo em seguida para Viena e terminá-lo em

Copenhague, reiniciarmos o outro ano em Oslo, mudarmos

para Amsterdã, para então irmos não sei para onde —

esbravejava aos quatro ventos. — Aliás, Stela, deve ser por

isso que sou tão boa em Geografia, não é? — completei

enfurecida.

— Não me chame de Stela! Você sabe que eu não gosto!

— e continuou com a voz embargada. — Nina, eu te prometo

que nós vamos mudar cada vez menos. As coisas só precisam

se acalmar um pouco... — puxou o ar com visível dificuldade

—... e aí a gente se estabelece na cidade que você escolher.

Por favor, filha, aguente mais um pouco.

— O que precisa se acalmar?

Page 8: Livro Don`t Blink

No fundo eu sabia que ela não responderia. Nunca

respondeu e agora não seria diferente.

— Na hora devida eu falo — sepultou o assunto com a

enervante resposta de sempre. — Não tive tempo de dizer

para onde vamos nos mudar. — Ela esfregou o rosto e deixou

transparecer o tremor em suas mãos. — É um local que gosto

muito e que você adorou quando criança. Quer uma pista? —

indagou esboçando um sorriso tímido, quase triste.

Eu abaixei a cabeça, e, segurando as lágrimas que

forçavam caminho, não respondi. Por que ela não me contava

o que lhe afligia? Por que fazia questão de manter esta

muralha entre nós?

— Nova Iorque! — continuou, estudando minhas

reações com ansiedade.

Apesar de não querer dar o braço a torcer, minhas

expressões suavizaram-se. Se houve um local de que eu

realmente tinha boas recordações, este local era Manhattan.

Não que eu não gostasse de Amsterdã, seus lindos canais,

passear de bicicleta pela cidade, sua vida tranquila. Mas algo

dentro de mim borbulhava. Agora eu queria mais. Queria

mais gente, mais agitação, e até mesmo mais buzinas, sirenes,

Page 9: Livro Don`t Blink

fumaça, escadas rolantes em minha vida. É isto mesmo: eu

queria mais vida na minha vida!

— Partiremos amanhã à tarde — completou, já

percebendo que meu semblante melhorara.

— Peraí, você já tinha decidido?

— Não tinha nada decidido! A oferta apareceu e pronto.

Fim de papo! — a voz grave confirmava que sua paciência

estava ribanceira abaixo.

Eu sabia que de nada adiantaria estender aquela

conversa, Stela havia se fechado em seu casulo particular.

Dois assuntos costumavam encaminhá-la diretamente para

este casulo: o primeiro era discutir algo que ela já havia

decidido, como mudar repentinamente de uma cidade para

outra; o segundo, que também me incomodava cada vez mais,

era falar sobre nossa família, principalmente sobre meu pai.

Stela nunca falou. Nos últimos dois anos as nossas brigas

aumentaram de forma exponencial. Queria saber algo sobre

ele. Não teria uma foto sequer? Eu deveria ter muitas

semelhanças com ele. Stela é morena, baixa, corpulenta, seus

cabelos são negros assim como seus miúdos olhos.

Completamente diferente de mim! Minha pele muito branca,

meu biótipo longilíneo, meus fartos cabelos castanho-claros

Page 10: Livro Don`t Blink

assim como meus arredondados olhos desta mesma cor eram

a prova viva da herança genética herdada de meu pai. Dela

havia herdado minha incapacidade de aceitar um não como

resposta e meu gênio indomável... Por que não poderia me

dizer algo sobre ele? Ele havia nos abandonado ou estaria

morto?

— Estou indo acertar os detalhes da mudança. Aproveite

para arrumar as malas. Não temos muito tempo — disse Stela

com um olhar distante enquanto abria a porta.

Eu conhecia aquele olhar. O mesmo olhar que

confirmava que minha mãe estava com seus pensamentos bem

longe dali. Aqueles mesmos pensamentos que nos fizeram

mudar constantemente, as mesmas neuras que insistiam em

me afastar de todos ao meu redor, em me isolar. Já deveria ter

me acostumado, mas a cada dia tal situação ficava mais

insuportável. Queria outras pessoas para dividir as minhas

dúvidas e contar meus segredos. Queria amigos de verdade!

Os poucos amigos que fiz se perderam no caminho, ficaram

para trás. Amizade exige presença, e eu não ficava muito

tempo em lugar algum.

— Por que tem que ser assim, mãe? — A tristeza

impregnava meu murmúrio.

Page 11: Livro Don`t Blink

Com a testa lotada de vincos, ela voltou, mexeu na

gargantilha do meu pescoço, beijou minha testa e

desconversou: — Estou indo devolver as chaves do carro e do

apartamento.

Nós nunca comprávamos nada de valor, como imóveis

ou carros. Stela sempre os alugava.

— Eu te amo, filha. Mais do que tudo nesta vida.

— Eu sei, mãe. — Já não mais escondendo as lágrimas,

fui para o meu quarto.

Senti meu coração encolhendo dentro do peito enquanto

uma certeza se agigantava em meu cérebro: eu a amava

demais. E esse amor conseguia suplantar a raiva que

alimentava por suas loucuras e nossa vida de ciganas. Haveria

de aceitar resignada a mudez de minha mãe. Se ela não queria

falar do seu passado é porque deveria existir uma boa razão.

A dor que podia ser vista por detrás do seu semblante sofrido

acabava me calando. Sabia que ela me amava. Mas era um

amor estranho, doentio de certa forma. Talvez porque não

tivéssemos família. Éramos só nós duas. Talvez porque

houvesse algo mais. Talvez.

#

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O entardecer estava nublado quando nos dirigimos para

o aeroporto e Amsterdã despediu-se de nós com gelados

beijinhos em forma de pingos de chuva. Stela mantinha o

hábito de vestir seu semblante frio e ilegível, traje ideal para

as desconfortáveis ocasiões de mudança de cidade ou país.

Eu, por minha vez, aprendi a não me apegar a lugar algum, a

não olhar para trás. Despedidas mexem fundo com a nossa

alma e eu estava cansada de sofrer.

O check-in teria sido tranquilo se eu não tivesse me

aproximado de uma banca de jornal no saguão do aeroporto e

visto algo que me intrigou.

— Mãe, olhe!

— Que foi?

— O artista de rua! Foi... assassinado! Apareceu hoje

boiando em um dos canais, cheio de facadas, ou algo assim.

Stela se aproximou e leu a matéria em silêncio. Não

falou absolutamente nada. Nem um único comentário. Seu

corpo permanecia rígido e o rosto indecifrável. Não gostei

daquela reação.

Page 13: Livro Don`t Blink

— Vamos — disse ela mais seca do que nunca —, temos

que despachar nossas bagagens.

— O que está acontecendo? — perguntei impaciente.

— Nada. Por quê?

— Você parece assustada.

— É impressão sua.

Algo dentro de mim fazia perguntas sem sentido: Será

que Stela sabia de alguma coisa sobre aquele assassinato e

não me contou? Seria por isto que estávamos saindo dali com

tamanha urgência? Não! É óbvio que não! Até porque sair às

pressas de um local para outro já era seu famigerado hobby, e

eu já deveria ter me acostumado a ele.

— Vou comprar um sanduíche. Quer um? — disse ela

apontando para uma lanchonete após despachar nossas malas.

— Não — refutei de má vontade.

— Que foi, Nina?

— Posso perder o meu ano letivo, mãe. Você não fica

nem um pouco preocupada?

— Você sempre se saiu bem e, além do mais, tem coisa

pior nesta vida... — Seu descaso me enervou:

Page 14: Livro Don`t Blink

— Pior?! Ah! Não. O pior é a minha mãe ter de levar

uma vida normal, não é mesmo? — indaguei debochada.

— Você não sabe de nada! Se sentisse o que eu sinto...

— As palavras saíram como um gemido.

Ah, não! Agora ela era a vítima?

— Como não sei? Sou eu quem convive com você! Sou

eu quem aguenta de tempos em tempos este seu olhar de

depressão e suas atitudes egoístas! E em mim você não pensa?

— Claro que sim, Nina! É por você que faço estas

mudanças...

— Eu nunca pedi para me mudar! — berrei e meus olhos

quase saltaram das órbitas.

— Olhe! Estão começando a chamar o nosso voo.

Vamos, eu como no avião! — Ela fechou a cara e levantou-se

rapidamente. — Vamos, Nina! Que lerdeza!

Pronto, mamãe entrara no casulo novamente.

— Que saco! — reclamei baixinho.

Ela não me ouviu, ou fingiu não ouvir. Resolvi então

colocar meu i-pod e me desligar de tudo. Sintonizei

Evanescence no volume máximo e, atrapalhada, deixei meu

fone de ouvido se enroscar em meus cabelos e ele acabou se

Page 15: Livro Don`t Blink

soltando. Ao abaixar para procurá-lo, senti uma fisgada nas

costas e um calafrio muito forte passar e repassar por todo o

meu corpo.

— Acho que vou gripar — sibilei ao levantar e, ao virar

para trás, vi Stela com a expressão petrificada, olhar acuado.

— O que foi agora, mãe?

— Nada, Nina. Fique quieta!

— Como nada? E essa sua cara de quem viu uma

assombração, hein? Por que quer que eu fique quieta? —

explodi. — Você vai ter que me dar uma explicação para isso

tudo, mãe!

— Eu vou dar na hora certa — respondeu entredentes

enquanto me agarrava pelo braço e me conduzia para dentro

do avião às pressas.