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 SUS no Estado de São Paulo Atualizações para os Gestores Municipais

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instrutivo e atual

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  • SuS no Estado de So Paulo Atualizaes para os Gestores Municipais

  • 3

    GOVERNADOR DO ESTADOGeraldo Alckimin

    Secretrio de Estado da SadeGiovanni Guido Cerri

    Secretrio AdjuntoJos Manoel de Camargo Teixeira

    Chefe de GabineteReynaldo Mapelli Jnior

    Coordenadoria de Planejamento de Sade CPSSilvany Lemes Cruvinel Portas

    Coordenadoria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos de Sade CCTIESSergio Swain Muller

    Coordenadoria de Controle de Doenas CCDMarcos Boulos

    Coordenadoria de Regies de Sade CRSAffonso Viviani Junior

    Coordenadoria de Servios de Sade CSSSebastio Andre de Felice

    Coordenadoria Geral de Administrao CGAReinaldo Noboru Sato

    Coordenadoria de Recursos Humanos CRHHaino Burmester

    Coordenadoria de Gesto de Contratos de Servios de Sade CGCSSSonia Aparecida Alves respondendo pelo expediente

    Diretoria do COSEMS/SPPresidente: Ademar Arthur Chioro dos Reis SMS So Bernardo do Campo

    1 Vice-Presidente: Jos Fernando Casquel Monti SMS Bauru2 Vice-Presidente: Slvia Elisabeth Forti Storti SMS Olmpia

    1 Secretria: Luciana Aparecida Nazar Maluf SMS Batatais2 Secretrio: Kelen Cristina Rampo Carandina SMS Cordeirpolis

    1 Tesoureira: Clia Cristina Pereira Bortoletto ex-SMS Suzano2 Tesoureiro: Claudia da Costa Meirelles SMS Salto

    Diretor de Comunicao: Lus Fernando Nogueira Tofani SMS Franco da Rocha

    Vogais:Ana Emilia Gaspar SMS Ubatuba

    Carmem Silvia Guariente Paiva SMS Pereira Barreto Fabiana Arenas Stringari de Parma SMS Votuporanga

    Joo Rogrio de Oliveira SMS Laranjal Paulista Jorge Yochinobu Chihara SMS Adamantina

    Mara Ghizellini Jacinto SMS Cedral Marcia Aparecida Bertolucci Pratta Marco Andr Ferreira DOliveira

    Paulo Villas Bas de Carvalho SMS Mogi das Cruzes Roberta Maia Santos

    Srgio Renato Macedo Chicote Snia Mra Neves Ferri

  • 4

    AUTORES SECRETARIA DE ESTADO DA SADE (SES SP)E CONSELHO DE SECRETRIOS MUNICIPAIS DE SADE SO PAULO (COSEMS SP)

    Adilson Soares Antonio Henrique Alves Gomes

    Carlos Armando Lopes do NascimentoCarlos Eduardo Iamashita

    Cllia Maria Sarmento de Souza Aranda Denise Lopes Pacheco Ramos

    Elaine Maria GiannottiEverton Lopes Rodrigues

    Eliana Ribas Ftima Bombarda

    Floriano Nuno de Barros FilhoJos Dinio Vaz Mendes

    Jovana T. C. Mascarenhas

    Juliana Souza FerreiraMarcia Marinho Tubone

    Marcia Monteiro Alves Fernandes Marta Campagnoni Andrade

    Otlia Simes Janeiro GonalvesRenata Pinheiro de Almeida

    Regina BichaffRosana Ferro Marques Cruz

    Sandra Cristina dos Santos Ferreira Pinheiro Snia Cipriano Stela PedreiraSuely Vallim

    Vanderlei Soares Moya

    AUTORES CONVIDADOS

    Lenir Santos - Doutora em sade coletiva pela Unicamp; especialista em direito sanitrio pela USP; coordenadora do curso de especializao em direito sanitrio IDISA-SIRIO LIBANES;

    consultora do Ministrio da Sade e advogada.Gilson Carvalho Mdico Pediatra e de Sade Pblica, Doutor em Sade Pblica pela FSP--USP; Mdico aposentado da Secretaria Municipal de Sade de So Jos dos Campos foi

    mdico pediatra na rede pblica e em atividade privada; Ex-Diretor de Vigilncia Epidemiol-gica da DRS do Vale do Paraba SES-SP; Ex-Secretrio Municipal de Sade de So Jos dos

    Campos; Ex-Secretrio Nacional de Sade MS; Consultor do CONASEMS.

    PRODUO

    PROJETO GRFICOSecretaria de Estado da Sade Marketing

    DIREO DE ARTEGustavo Palladini e Antonio Jader Marques

    CAPAGustavo Palladini e Antonio Jader Marques

    IMPRESSO E ACABAMENTO

    www.poloprinter.com.br

  • ndiceApresentao .......................................................................................................................... 7Prefcio .................................................................................................................................. 9

    Captulo I Entes Federativos e seu Papel no Sistema nico de Sade ................................................... 11

    Captulo IINovos Marcos Legais do SUS ............................................................................................... 19

    Captulo IIIComisso Intergestores Bipartite CIB, Comisses Intergestores Regionais CIR ou CGR e Comits Gestores de Redes Regionais de Sade CG Redes do Estado de So Paulo .................................................................................... 39

    Captulo IVParticipao e Controle Social .............................................................................................. 45

    Captulo V Financiamento ..................................................................................................................... 57

    Captulo VI Planejamento do Sistema nico de Sade ........................................................................... 71

    Captulo VIIRegulao em Sade ............................................................................................................ 87

    Captulo VIIIInformao em Sade para Gestores do Sistema nico de Sade SUS ........................... 119

    Captulo IXRRAS Redes de Ateno Sade .................................................................................... 131

    Captulo XRecentes Proposies para o Fortalecimento da Ateno Bsica no Estado e Federao ............................................................................................................ 137

    Captulo XIVigilncia em Sade e Ateno Bsica Processo em Busca do Desenvolvimento Saudvel ................................................................................................ 147

  • Captulo XIIAssistncia Farmacutica no SUS ....................................................................................... 165

    Captulo XIIIEducao na Sade no Sistema nico de Sade (SUS) SP ............................................. 183

    Captulo XIVPoltica Estadual de Humanizao ...................................................................................... 191

  • Apresentao com grande considerao que recebemos, nesse ano de 2013, incio das novas admi-

    nistraes municipais, os novos secretrios municipais de sade do Estado de So Paulo.Mantendo uma tradio presente neste estado que tem como objetivo aprimorar o Sistema

    nico de Sade em So Paulo e, conseqentemente, fortalecer o SUS nacional, desenvolve-remos diversas estratgias para recepcionarmos os gestores municipais.

    Esta publicao mais um esforo no sentido de prover informaes atualizadas sobre o SUS e suas diretrizes no mbito do Estado, visando que o SUS-SP seja conduzido de forma harmnica e integrada.

    Hoje, depois de 26 anos da implementao do SUS, sistema de cobertura universal de sade, vimos que em 2011, na sua 64 Assemblia Geral, a Organizao Mundial de Sade estimula seus pases membros a implementar esse mesmo tipo de sistema, demonstrando assim a vanguarda do SUS.

    Saudando os Srs. secretrios esperamos quatro anos de virtuosa administrao e con-quistas para todos os municpios do Estado de So Paulo, com o objetivo maior de melhorar o estado de sade da populao paulista.

    Ademar Arthur Chioro dos Reis Giovanni Guido Cerri Presidente do COSEMS SP Secretrio de Estado da Sade de So Paulo

  • PrefcioUm novo ciclo se completa, com a sada ou mesmo a permanncia dos secretrios muni-

    cipais de sade, mas a administrao nova.Assim, a Secretaria de Estado da Sade e o Conselho dos Secretrios Municipais de Sade

    do Estado de So Paulo recepcionam os secretrios que enfrentaro novos e antigos desafios na consolidao do Sistema nico de Sade.

    No intuito de informar ou mesmo atualizar as novas administraes, o presente trabalho basicamente desenvolvido pelas equipes tcnicas da SES e do COSEMS/ SP, alm de convidados especialistas para assuntos emergentes e de interesse municipal, apresenta os principais aspectos do SUS de forma clara, sucinta e atualizada.

    Destaque-se o captulo que aborda os Novos Marcos Legais do SUS, escrito pela Pro-fessora Doutora Lenir Santos e por Gilson Carvalho.

    O trabalho completo foi estruturado em temas, que podem ser lidos separadamente, mas que no conjunto oferecem uma viso atualizada do SUS-SP.

    Esperamos que os assuntos aqui abordados, junto com a legislao correspondente or-ganizada e disponibilizada no portal da SES, http://www.saude.sp.gov.br, auxiliem de alguma forma os secretrios municipais nessa jornada dos prximos quatro anos.

  • 11

    Captulo IEntes Federativos e seu Papel no

    Sistema nico de Sade

    O objetivo deste texto fornecer ao gestor municipal um resumo sobre a instituio do sistema federativo no Brasil e como a sade se insere neste sistema, instigando-os a aprofundar a leitura sobre o assunto.

    O Federalismo Brasileiro

    Federalismo a denominao feita relao entre as diversas unidades da federao (estados, distrito federal e municpios) entre si, e destas com o Governo Federal. O pressuposto do federalismo a repartio de responsabilidades governamentais de modo a assegurar a integridade do Estado nacional frente s inmeras disputas e desigualdades regionais, diminuindo as iniquidades entre estas regies. As unidades federadas so independentes uma das outras, formando um todo que valida um governo central e federal, que governa sobre todos os entes acima citados.

    Teoricamente o estado federal permite um maior grau de descentralizao do poder, pois se organiza mediante a coexistncia de mais de um centro de poder detentor de autonomia poltica, administrativa, legislativa e tributria.

    A histria do Federalismo Brasileiro nos leva Proclamao da Repblica, em 15 de novembro de 1889, quando o Brasil se torna uma repblica federativa, denominada Estados Unidos do Brasil, objetivando romper com o centralismo absoluto que havia na monarquia. Desta data at a sua consagrao pela Constituio de 1988 o sistema federativo brasileiro sofreu vrios retrocessos em consequncia de golpes de estado (o primeiro logo aps a Procla-mao da Repblica, a seguir o Estado Novo de Getlio Vargas e por ltimo o de 1964). Aps o primeiro golpe de estado, o federalismo ressurge como resultado de um pacto entre paulistas e mineiros instituindo o que se denominou a poltica do caf-com-leite, tendo este nome devido alternncia de polticos paulistas e mineiros no executivo, concentrando desta forma o poder gerando a desigualdade aos demais estados e municpios tornando, principalmente, os estados do Norte e Nordeste extremamente pobres.

    A Federao brasileira est regulamentada pela Constituio de 1988 que buscou distri-buir competncias e poderes entre a unio, estados, distrito federal e municpios, cada um com autonomia poltica, administrativa e tributria, ou seja, no prev relao hierrquica entre eles. Expressa como objetivos fundamentais no seu artigo 3, item III, ou seja, erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

    A Constituio de 1988 d maior autonomia aos municpios, trazendo-os definitivamente para a estrutura federativa brasileira e determina que o Sistema Federativo Brasileiro no pode ser alterado mediante emenda constitucional. Desta forma se d a transferncia de encargos e recursos para os governos municipais responsabilizando-os pelo provimento de bens e servios aos cidados.

  • SUS no Estado de So Paulo - Atualizaes para os Gestores Municipais

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    Para que as unidades federadas tenham real autonomia poltica, necessrio que pos-suam autonomia administrativa e tambm financeira. Em outras palavras, a existncia real da autonomia depende da existncia de recursos suficientes que no sejam sujeitos a determinados programas/projetos, para que possam cumprir com suas atribuies. O equilbrio entre a auto-nomia poltico/administrativa e autonomia financeira fundamental para que o pacto federativo prospere. E quanto menos essas transferncias ocorrerem mediante instrumentos conveniais, emendas parlamentares e outras formas alm das que enfoquem a descentralizao, mais a federao brasileira prospera.

    Existem no federalismo brasileiro prticas poltico-administrativas centralizadoras e pa-ternalistas principalmente em relao ao repasse de recursos financeiros, criando um paradoxo com o que a Constituio determina.

    Como exemplo a Unio substituiu impostos que obrigada a repartir com estados e mu-nicpios por contribuies que no esto sujeitas a esta partilha, criando um desequilbrio em prol da Unio que conduz a uma crescente supresso da autonomia dos estados e municpios e da centralizao do poder. Essa centralizao se d porque o potencial arrecadatrio destas contribuies maior do que os impostos federais e sobre estes que incidem os percentuais de rateio determinados pela Constituio Federal.

    Outro exemplo o condicionamento das polticas pblicas locais a decretos do governo federal, convnios emendas parlamentares, situaes que demonstram centralismo excessivo. A ampliao dos fundos constitucionais levaria a uma menor dependncia financeira do poder central ampliando o grau de descentralizao da federao.

    O Sistema nico de Sade SUS e o Federalismo

    O SUS foi criado pela Constituio Federal de 1988, aps ampla mobilizao de setores brasileiros ligados sade, como consequncia do reconhecimento do direito sade no Brasil e da transferncia de encargos e recursos aos governos subnacionais para que passem a se responsabilizar por bens e servios aos cidados. Os textos constitucional e infraconstitucionais (as Leis Orgnicas da Sade n 8.080 e 8.142) definiram as diretrizes do sistema e os papis de cada ente federado de como atuar para a promoo, proteo e recuperao da sade, com autonomia em cada esfera de governo para a gesto do sistema nos limites de seu territrio (comando nico em cada esfera de governo) criando o que se pode chamar de federalismo sanitrio brasileiro. Aqui devemos destacar a realidade da existncia da assimetria socioecon-mica brasileira, requerendo forte solidariedade entre os entes federativos para a sua superao. Importante destacar a determinao da Lei 8.142 em criar, em cada esfera de governo, os con-selhos de sade, compostos paritariamente entre cidados, usurios e gestores, como um dos sustentculos do federalismo da sade.

    Destacamos abaixo as atribuies comuns e competncias de cada esfera de governo. As competncias do Distrito Federal so as mesmas dos estados e municpios:

    Das Atribuies Comuns

    1) Definio das instncias e mecanismos de controle, avaliao e de fiscalizao das aes e servios de sade;

    2) Administrao dos recursos oramentrios e financeiros destinados, em cada ano, sade;3) Acompanhamento, avaliao e divulgao do nvel de sade da populao e das condies

    ambientais;

  • SUS no Estado de So Paulo - Atualizaes para os Gestores Municipais

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    4) Organizao e coordenao do sistema de informao de sade;5) Elaborao de normas tcnicas e estabelecimento de padres de qualidade e parmetros

    de custos que caracterizam a assistncia sade;6) Elaborao de normas tcnicas e estabelecimento de padres de qualidade para promoo

    da sade do trabalhador;7) Participao de formulao da poltica e da execuo das aes de saneamento bsico e

    colaborao na proteo e recuperao do meio ambiente;8) Elaborao e atualizao peridica do plano de sade;9) Participao na formulao e na execuo da poltica de formao e desenvolvimento de

    recursos humanos para a sade;10)Elaborao da proposta oramentria do Sistema nico de Sade (SUS), em conformidade

    com o plano de sade;11)Elaborao de normas para regular as atividades de servios privados de sade, tendo

    em vista a sua relevncia pblica;12)Realizao de operaes externas de natureza financeira de interesse da sade, autorizadas

    pelo Senado Federal;13)Para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitrias, decorrentes de situa-

    es de perigo iminente, de calamidade pblica ou de irrupo de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poder requisitar bens e servios, tanto de pessoas naturais como de jurdicas, sendo-lhes assegurada justa indenizao;

    14) Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;15)Propor a celebrao de convnios, acordos e protocolos internacionais relativos sade,

    saneamento e meio ambiente;16)Elaborar normas tcnico-cientficas de promoo, proteo e recuperao da sade;17)Promover articulao com os rgos de fiscalizao do exerccio profissional e outras en-

    tidades representativas da sociedade civil para a definio e controle dos padres ticos para pesquisa, aes e servios de sade;

    18)Promover a articulao da poltica e dos planos de sade;19)Realizar pesquisas e estudos na rea de sade;20)Definir as instncias e mecanismos de controle e fiscalizao inerentes ao poder de polcia

    sanitria;21)Fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratgicos e de atendimento

    emergencial.

    Direo Nacional do SUS Compete:

    1) Formular, avaliar e apoiar polticas de alimentao e nutrio;2) Participar na formulao e na implementao das polticas:

    a) de controle das agresses ao meio ambiente;b) de saneamento bsico; ec) relativas s condies e aos ambientes de trabalho;

    3) Definir e coordenar os sistemas:a) de redes integradas de assistncia de alta complexidade;b) de rede de laboratrios de sade pblica;c) de vigilncia epidemiolgica; ed) vigilncia sanitria;

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    4) Participar da definio de normas e mecanismos de controle, com rgos afins, de agravos sobre o meio ambiente ou dele decorrentes que tenham repercusso na sade humana;

    5) Participar da definio de normas, critrios e padres para o controle das condies e dos ambientes de trabalho e coordenar a poltica de sade do trabalhador;

    6) Coordenar e participar na execuo das aes de vigilncia epidemiolgica;7) Estabelecer normas e executar a vigilncia sanitria de portos, aeroportos e fronteiras,

    podendo a execuo ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municpios;8) Estabelecer critrios, parmetros e mtodos para o controle da qualidade sanitria de

    produtos, substncias e servios de consumo e uso humano;9) Promover articulao com os rgos educacionais e de fiscalizao do exerccio profis-

    sional, bem como com entidades representativas de formao de recursos humanos na rea de sade;

    10)Formular, avaliar, elaborar normas e participar na execuo da poltica nacional e produo de insumos e equipamentos para a sade, em articulao com os demais rgos gover-namentais;

    11) Identificar os servios estaduais e municipais de referncia nacional para o estabelecimento de padres tcnicos de assistncia sade;

    12)Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substncias de interesse para a sade;13)Prestar cooperao tcnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios

    para o aperfeioamento da sua atuao institucional;14)Elaborar normas para regular as relaes entre o Sistema nico de Sade (SUS) e os

    servios privados contratados de assistncia sade;15)Promover a descentralizao para as Unidades Federadas e para os Municpios, dos servios

    e aes de sade, respectivamente, de abrangncia estadual e municipal;16)Normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e

    Derivados;17)Acompanhar, controlar e avaliar as aes e os servios de sade, respeitadas as competn-

    cias estaduais e municipais;18)Elaborar o Planejamento Estratgico Nacional no mbito do SUS, em cooperao tcnica

    com os Estados, Municpios e Distrito Federal;19)Estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliao tcnica e financeira

    do SUS em todo o Territrio Nacional em cooperao tcnica com os Estados, Municpios e Distrito Federal.

    Direo Estadual do SUS Compete:

    1) Promover a descentralizao para os Municpios dos servios e das aes de sade;2) Acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema nico de Sade (SUS);3) Prestar apoio tcnico e financeiro aos Municpios e executar supletivamente aes e servios

    de sade;4) Coordenar e, em carter complementar, executar aes e servios:

    a) de vigilncia epidemiolgica;b) de vigilncia sanitria;c) de alimentao e nutrio; ed) de sade do trabalhador;

    5) Participar, junto com os rgos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercusso na sade humana;

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    6) Participar da formulao da poltica e da execuo de aes de saneamento bsico;7) Participar das aes de controle e avaliao das condies e dos ambientes de trabalho;8) Em carter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a poltica de insumos

    e equipamentos para a sade;9) Identificar estabelecimentos hospitalares de referncia e gerir sistemas pblicos de alta

    complexidade, de referncia estadual e regional;10)Coordenar a rede estadual de laboratrios de sade pblica e hemocentros, e gerir as

    unidades que permaneam em sua organizao administrativa;11)Estabelecer normas, em carter suplementar, para o controle e avaliao das aes e

    servios de sade;12)Formular normas e estabelecer padres, em carter suplementar, de procedimentos de

    controle de qualidade para produtos e substncias de consumo humano;13)Colaborar com a Unio na execuo da vigilncia sanitria de portos, aeroportos e fron-

    teiras;14)O acompanhamento, a avaliao e divulgao dos indicadores de morbidade e mortalidade

    no mbito da unidade federada.

    Direo Municipal do SUS Compete:

    1) Planejar, organizar, controlar e avaliar as aes e os servios de sade e gerir e executar os servios pblicos de sade;

    2) Participar do planejamento, programao e organizao da rede regionalizada e hierar-quizada do Sistema nico de Sade (SUS), em articulao com sua direo estadual;

    3) Participar da execuo, controle e avaliao das aes referentes s condies e aos am-bientes de trabalho;

    4) Executar servios:a) de vigilncia epidemiolgica;b) vigilncia sanitria;c) de alimentao e nutrio;d) de saneamento bsico; ee) de sade do trabalhador;

    5) Dar execuo, no mbito municipal, poltica de insumos e equipamentos para a sade;6) Colaborar na fiscalizao das agresses ao meio ambiente que tenham repercusso sobre

    a sade humana e atuar, junto aos rgos municipais, estaduais e federais competentes, para control-las;

    7) Formar consrcios administrativos intermunicipais;8) Gerir laboratrios pblicos de sade e hemocentros;9) Colaborar com a Unio e os Estados na execuo da vigilncia sanitria de portos, aero-

    portos e fronteiras;10)Observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convnios com entidades

    prestadoras de servios privados de sade, bem como controlar e avaliar sua execuo;11)Controlar e fiscalizar os procedimentos dos servios privados de sade;12)Normatizar complementarmente as aes e servios pblicos de sade no seu mbito de

    atuao.

    Durante os anos que seguiram Constituio e s Leis Orgnicas da Sade houve vrios documentos institudos por portarias que visavam operacionalizar o SUS, tais como as normas

  • SUS no Estado de So Paulo - Atualizaes para os Gestores Municipais

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    operacionais bsicas (NOB) e a norma operacional de assistncia sade (NOAS), com maiores e menores xitos. Uma das NOB, a NOB 93, criou as comisses intergestoras do SUS (a bipartite e a tripartite) que so os colegiados intergovernamentais.

    Em 2006, foi efetivado pelas trs esferas de governo, e aprovado pelo Conselho Nacional de Sade, o Pacto pela Sade que objetivava inovar processos e instrumentos de gesto, dando maior eficincia e qualidade s respostas oferecidas pelo sistema.

    No obstante os instrumentos acima citados terem atingido, em parte e em algumas situ-aes, o objetivo de operacionalizar o sistema e aprofundar o mandamento constitucional que implantava e implementava o federalismo da sade, os mesmos foram tornados pblicos atravs de portarias do Ministrio da Sade e no atravs de leis e decretos, que deveriam regulamentar a Constituio Federal e as Leis Orgnicas. A regulamentao realizada da forma acima descrita gerou confuso e, por algumas vezes, chegou a retroceder o que os textos legais determinavam para o setor da sade no Brasil.

    No ano de 2000, em setembro, foi aprovada pelo Congresso Nacional a emenda Consti-tucional n 29 que altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituio Federal e acres-centa artigo ao Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, para assegurar os recursos mnimos para o financiamento das aes e servios pblicos de sade. A EC 29 foi um grande avano para a implantao do SUS e pela primeira vez, estabeleceu clara definio quanto ao seu financiamento:1) Determinou atravs da introduo do 3 no artigo 198 que Lei Complementar esta-

    beleceria os quantitativos e percentuais mnimos para a sade a partir de 2005;2) Permitiu a vinculao de recursos financeiros para a sade;3) Nas disposies transitrias da Constituio Federal definiu quantitativos e percentuais

    mnimos para o setor sade, at o ano de 2004, referindo que, na ausncia de Lei Com-plementar, estes critrios permaneceriam a partir do ano de 2005;

    4) Colocou no texto constitucional o Fundo de Sade e o Conselho de Sade.

    Da data da publicao da EC n 29 at o ano de 2011 continuaram as regulamentaes de alguns dos preceitos constitucionais do SUS atravs de portarias do Ministrio da Sade. Tais regulamentaes definiam repasse financeiro atravs de sries histricas de produo, recursos repassados carimbados e vinculados a determinados programas e projetos quanto ao seu uso nas esferas municipais e estaduais, e outras medidas que prejudicavam a equidade federativa.

    Em junho de 2011 foi publicado o Decreto 7.508 com o objetivo de regulamentar a Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organizao do Sistema nico de Sade - SUS, o planejamento da sade, a assistncia sade e a articulao interfederativa. Este Decreto define e aprofunda temas constitucionais do SUS que sedimentam a questo federativa na sade esclarecendo as competncias dos Entes quanto operacionalizao das aes e servios de sade.

    Ainda em 2011, em agosto, outro grande passo dado no sentido da sedimentao do SUS, com a publicao da Lei 12.466 que acrescenta arts. 14-A e 14-B Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre as comisses intergestores do Sistema nico de Sade (SUS), o Conselho Nacional de Secretrios de Sade (CONASS), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade (CONASEMS) e suas respectivas composies. Reconhece as Comisses Intergestores Bipartite e Tripartite como foros de negociao e pactuao entre gestores, quanto aos aspectos operacionais do SUS; o CONASS e o CONASEMS como entidades representati-vas dos entes estaduais e municipais para tratar de matrias referentes sade e declarados de utilidade pblica e de relevante funo social. Os Conselhos de Secretarias Municipais de Sade (COSEMS) so reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no mbito

  • SUS no Estado de So Paulo - Atualizaes para os Gestores Municipais

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    estadual, para tratar de matrias referentes sade, desde que vinculados institucionalmente ao CONASEMS, na forma que dispuserem seus estatutos.

    No incio do ano de 2012 foi publicada a Lei Complementar (LC) n 141 conforme de-terminao do 3 do artigo 198 da Constituio Federal, lei esta que ser reavaliada a cada cinco anos. Com esta publicao regulamentam-se os repasses de recursos entre os entes fede-rados e ficam conceituados o que so e o que no so as aes e servios de sade para fins de definio das despesas em sade e da apurao dos percentuais mnimos de que devero ser respeitados pelos estados e municpios.

    Esta LC institui:I - o valor mnimo e normas de clculo do montante mnimo a ser aplicado, anualmente,

    pela Unio em aes e servios pblicos de sade;II - percentuais mnimos do produto da arrecadao de impostos a serem aplicados anualmente

    pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municpios em aes e servios pblicos de sade;

    III - critrios de rateio dos recursos da Unio vinculados sade destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, e dos Estados destinados aos seus respectivos Municpios, visando a progressiva reduo das disparidades regionais;

    IV - normas de fiscalizao, avaliao e controle das despesas com sade nas esferas federal, estadual, distrital e municipal.

    A Lei Complementar 141 tem importncia institucional muito grande por dotar a sade pblica de normas que lhe garantem percentuais de receitas tributrias e impe a obrigatoriedade de os entes federativos partilharem recursos, reconhecendo ser o SUS um sistema de interde-pendncias e por exigir cooperao entre os entes federativos.

    Por outro lado esta Lei no espelha, em sua totalidade, as lutas setoriais por recurso mais efetivo por parte da Unio, que seriam os 10 % de sua receita bruta, tendo em vista a insuficincia de recursos pblicos quando se compara o Brasil com demais pases, inclusive os da Amrica Latina tais como Colmbia, Argentina, Uruguai e Chile.

    A luta por este montante iniciou-se em 2003 atravs de Projeto de Lei Complementar (PLP 01/03) de autoria do ento deputado Roberto Gouveia que dentre outras proposituras definia 11% das receitas correntes brutas da Unio, projeto este que recebeu substitutivo do Deputado Guilherme Menezes passando a definir 10% das receitas correntes brutas da Unio. Este projeto de lei tramitou pelo congresso nacional sofrendo adequaes, sendo aprovado como a Lei Complementar n 141, resumida acima, sendo suprimido o texto que versava sobre os 10% das receitas brutas da Unio permanecendo, ento, o descrito originalmente na Emenda 29, quanto ao financiamento.

    Atualmente h trs projetos de Lei Complementar com vistas a regulamentar o montante de aplicao de recursos financeiros da Unio na sade, dando outras providncias. O PLC n 123 de 2012 de autoria do deputado Darcsio Perondi, o PLC n 124 de 2012 do deputado Eleuses Paiva e o PLC de iniciativa popular que entra para votao quando atingir 1,6 milho de assinaturas.

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    Referncias Bibliogrficas

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    Captulo IINovos Marcos Legais do SUS

    II .1 O Decreto 7.508, de 2011 e a Lei 12.466, de 2011

    Lenir Santos1

    O presente trabalho diz respeito ao contedo do Decreto 7.508 que regulamenta artigos da lei 8080, de 1990, que dispem sobre o planejamento da sade, regio de sade, assistncia sade, articulao interfederativa, contrato organizativo de ao pblica.

    O presente estudo analisa, tambm, algumas inovaes necessrias, mas apoiadas na lei, como a Relao Nacional de Aes e Servios de Sade RENASES a qual confere contornos jurdicos para a integralidade da ateno sade e o contrato organizativo de ao pblica, e pode ser definida como um acordo de colaborao firmado entre os entes federativos para disciplinar a integrao das aes e servios de sade e definir as responsabilidades sanitrias no mbito de uma regio de sade que deve conter uma rede de aes e servios de sade dos entes federativos que compem aquela regio para a garantia da integralidade da ateno sade dos seus muncipes.

    O Decreto 7.508, de 2011

    Em 28 de junho de 2011 foi publicado o Decreto federal 7.508, regulamentando alguns artigos da lei 8.080/90, 20 anos depois da sua edio. O decreto regulamenta algumas normas da lei 8.080, de 1990, em especial, os arts. 4, 6, 7, 8 e 36 , tendo sido o primeiro decreto a explicitar suas normas.

    A edio do mencionado decreto de essencial importncia para a estruturao do SUS em coerncia com a lei 8.080, de 1990, garantindo assim uma sintonia nacional, uma unicidade organizativa e uma coeso entre os pensamentos dos dirigentes da sade pblica brasileira.

    1. Regio de Sade

    O decreto tratou de alguns temas da Lei 8.080, em especial aqueles que dizem respeito organizao e funcionamento administrativo-sanitrio do SUS. A lei como um todo no foi regulamentada, tratando o Decreto da organizao do SUS assentada na regionalizao e hie 1 Doutora em sade coletiva pela Unicamp, especialista em direito sanitrio pela USP, coordenadora do curso de

    especializao em direito sanitrio IDISA-SIRIO LIBANES, consultora do Ministrio da Sade e advogada.

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    rarquizao dos servios, trazendo para o centro dessa organizao a regionalizao, uma vez que o SUS descentralizado ao mesmo tempo em que regionalizado uma descentralizao unida pela regionalizao. Ainda que essa regionalizao tenha sido objeto de muitas portarias ministeriais, entre elas a Norma Operacional Bsica 1/96,2 nunca alcanou uma institucionali-dade como agora. A regio a delimitao territorial da rede de ateno sade, uma vez que a Constituio, em seu art. 198 define o SUS como a integrao das aes e servios de sade dos entes federativos em rede regionalizada.

    O decreto define a regio de sade como

    o espao geogrfico contnuo constitudo por agrupamentos de municpios limtrofes, deli-mitado a partir de identidades culturais, econmicas e sociais e de rede de comunicao e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organizao, o planejamento e a execuo de aes e servios de sade. (art. 2, I)

    Dois elementos essenciais surgem nessa definio: o agrupamento de municpios limtrofes, o que encontra respaldo no disposto no art. 25, 3, da CF, que dispe sobre regio, micror-regio e aglomerados urbanos, e o conceito de regio, que tambm no pode ser a simples juno de municpios limtrofes, uma vez que ela precisa estar cercada de outros elementos, como a execuo e o planejamento de funes comuns, as identidades e as possibilidades de comunicao entre eles.

    Na realidade, o territrio regional deve ser o espao da cidadania, o que supe uma abrangncia de servios, como educao, moradia, transporte, lazer, cultura, e no caso da sa-de o territrio regional deve ser aquele que permite ao cidado satisfazer suas necessidades de sade, superando-se assim o que Santos3 insiste em dizer, que as desigualdades sociais, so, em primeiro lugar, desigualdades territoriais, por derivarem do lugar onde cada um se encontra. E sendo esse lugar desigual em relao aos demais, essa desigualdade ir permear os servios existentes naquele territrio promovendo desigualdade entre as pessoas em razo do territrio onde habitam.

    Por isso a Constituio Federal prev em seu art. 3, III, como um dos fundamentos da Repblica a diminuio das desigualdades regionais e no poderia ser de outra forma uma vez que a nossa Constituio ao elevar o municpio condio de ente federativo e considerando as profundas desigualdades que os marcam, criou uma igualdade federativa entre entes profun-damente desiguais. Os entes so desiguais demogrfica e socioeconomicamente falando, ainda que iguais juridicamente. E a equidade regional ser alcana na rede regionalizada de servios.

    Na sade, a regio de sade deve ser o espao que conjuga servios de vrios nveis de densidade tecnolgica, nos termos do disposto no art. 5 do decreto, um mnimo de aes e servios de: a) ateno primria; b) urgncia e emergncia; c) ateno psicossocial; d) ateno ambulatorial especializada e hospitalar; e) vigilncia em sade.

    O decreto, em seu art. 6, dispe ainda ser a regio de sade a referncia para as trans-ferncias de recursos entre os entes federativos, fazendo nascer assim o planejamento regional, que deve integrar as necessidades de sade da populao da regio com os servios de todos os entes e os recursos financeiros, cabendo ao estado e Unio o papel de entes que devem promover a equidade regional, minorando as diferenas regionais, transferindo recursos para a regio de acordo com suas necessidades e suas caractersticas, com vistas a diminuir as assimetrias

    2 Portaria MS n 2.003, de 05 de novembro de 1996.3 Santos , Milton, 2002, p. 151.

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    socioeconmicas e demogrficas para que os bens pblicos deixem de ser exclusividade dos mais bens localizados.4 A regio de sade est imbuda desse forte componente, de garantir ao cidado o direito igual s aes e servios de sade prximos de onde sua vida acontece, sendo um cidado completo, independentemente do lugar onde se encontre.

    A regio de sade deve ser o microcosmo da realizao das necessidades de sade do cidado. Decorrem da o planejamento integrado, a gesto compartilhada, o financiamento regional e uma srie de medidas que visem garantir governana na regio, como os colegiados interfederativos regionais5, do qual o decreto tratou e que deve ser interpretado em consonncia com a lei 12.466, publicada alguns meses depois.

    A regio de sade deve ser regulamentada formalmente pelo Estado por ser sua essa competncia em termos constitucionais.6 E o decreto ainda define que as redes de ateno sade devero estar compreendidas no mbito de uma regio de sade (art. 7).

    2. Rede de ateno sade

    Trata-se de organizar o sistema regional em rede de ateno sade, que deve manter servios de diversos nveis de complexidade tcnico-sanitria, garantindo robustez tecnolgica rede mediante o somatrio de servios dos entes federativos. Servios que se espraiam no sentido de permitir que diversos municpios deles se utilizem e servios que devem se concentrar para ganhar escala, escopo. De acordo com Mendes,7

    em geral, os servios de menor densidade tecnolgica como os de ateno primria sade, devem ser dispersos; ao contrrio, os servios de maior densidade tecnolgica, como hospitais, unidades de processamento de exames de patologia clnica, equipamentos de imagem etc. tendem a ser concentrados.

    Essa rede deve manter servios de diversos nveis e se formatar de tal forma que o ci-dado no busque um servio de maior aparato tecnolgico para satisfazer uma necessidade que poder ser resolvida por um servio de menor porte. Essa racionalidade tem a ver com a eficincia, a economicidade, a facilidade no pronto atendimento e escala e muitos outros ele-mentos administrados pelos agentes pblicos. como afirma Mendes,8 que a organizao das redes de ateno de modo eficiente deve fundar-se em: economia de escala, disponibilidade de recursos, qualidade de acesso, integrao horizontal e vertical, processos de substituio, territrios sanitrios e nveis de ateno.

    relevante transcrever aqui alguns dos elementos essenciais definidos para a existncia de rede integrada (e regionalizada) de sade trazida por Kuschnir e Chorny.9 Os autores apontam os seguintes atributos populao e territrio; rede de estabelecimento de sade com servios integrais; primeiro nvel de ateno com cobertura para toda a populao; porta de entrada do sistema que coordena o sistema; sistema de governana nica para toda a rede.

    4 Santos Milton, op. cit.5 As comisses intergestores regional podem ser tidas como o espao deliberativo de uma regio de sade, caben-

    do a elas nomear uma diretoria executiva para que se possa, assim, garantir governana regional na regio de sade.

    6 Art. 25, 3 num paralelo com as regies metropolitanas e micrroregies.7 Mendes Eugenio Vilaa, 2009, p. 127.8 Op. cit., p. 127.9 Kuschnir R e Chorny AH, 2010, p. 2307.

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    dentro desse fundamento que o decreto define as portas de entrada da rede de ateno sade (regionalizada) como sendo os servios estruturados de: a) ateno primria; b) ateno de urgncia e emergncia; c) ateno psicossocial; d) especiais de acesso aberto, impondo a referncia para os servios de maior complexidade tecnolgica pelos servios ali enumerados, como os servios especializados e os hospitalares. As portas de entrada decorrem da regulao do acesso. So portas reguladas pelo sistema sob o ponto de vista tcnico, sanitrio e administrativo.

    Desse modo, a ateno primria coordena e ordena a rede de ateno sade, conforme exaustivamente defendida por inmeros especialistas de sade.

    Aps 21 anos, ainda que todos tenham se posicionado em favor da ateno primria como principal porta de entrada e ordenadora das redes de ateno sade, isso nunca foi regulamentado. Com a regulamentao feita pelo Decreto institucionaliza-se a ateno primria como principal acesso rede de ateno sade.

    A ordenao do acesso impe aos profissionais de sade a avaliao da gravidade do risco individual e coletivo, que deve preceder a ordem cronolgica (ordem de chegada do cidado). Em situao igual, prevalece a ordem cronolgica; em situao de risco, prevalece sua gravidade.

    Outro dado relevante a imposio de que o cidado tenha assegurado que suas neces-sidades de sade devem ser satisfeitas na rede da regio ou entre regies. Aqui surge a figura das referncias entre servios (a hierarquizao de que fala a Constituio Federal no tocante complexidade ou densidade tecnolgica dos servios).

    Quando as referncias saem de uma regio e adentram outra regio ou outras regies isso precisa ser regulado de modo a haver segurana jurdica entre os entes federativos implicados nessas regies no tocante garantia do atendimento de seu muncipe.

    3. Planejamento ascendente, integrado e regionalizado

    O planejamento, como no poderia deixar de ser, foi regulamentado pelo decreto ante a necessidade de se explicitar o que seria o planejamento ascendente, previsto no art. 36 da lei 8.080, de 1990. Planejamento ascendente, do nvel local ao estadual e federal, precisa de clareza para no se tornar um planejamento estanque, que suplantaria a intrnseca necessidade de o SUS ter planejamento integrado e regionalizado uma vez que ele resulta exatamente da integrao das aes e servios pblicos de sade. Sendo o SUS o resultado dessa integrao de aes e servios de sade dos entes federativos de forma regionalizada, o seu planejamento tambm h que ser integrado e regionalizado como consequncia natural. Esse tema est dis-posto no art. 15 do Decreto.

    Com o planejamento, que obrigatrio para o Poder Pblico e indutor para o setor pri-vado, nos termos do art. 176 da CF, e trazido para o decreto, h que se conformar os mapas de sade, que devero indicar, de maneira regionalizada, a realidade da sade na regio e sua metas de transformao das realidades locais e regionais que precisam ser alteradas para confluir em um mapa estadual e nacional de metas que atendam as necessidades de sade da populao.

    O art. 18 impe que o planejamento estadual seja realizado de forma regionalizada, o que dever acontecer com todo o planejamento, que dever ser realizado nas regies de sade, conformando os planejamentos estadual e nacional. O planejamento deve guardar coerncia com a forma organizativa do SUS: integrao de servios em rede regionalizada que vai apontar para a gesto solidria, compartilhada. A gesto compartilhada acaba por ser uma imposio constitucional e legal, por isso no h escolha nem faculdade. No se trata de um ato de vontade.

    A questo toda acaba sendo a forma, o como fazer. O como fazer tem um itinerrio, que se inicia com o planejamento integrado e regionalizado e se espraia na prestao dos servios,

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    tambm integrados consequentemente. Por isso a regio de sade deve ser uma obrigao e no uma faculdade pondo fim discusso de como fazer no sentido legal, e no tcnico. O fundamento ser sempre a Constituio, que impe rede regionalizada como forma organizativa dos servios, obrigatria, pois. A preocupao expressada por Machado10 em como introduzir padro de conduta solidrio entre os entes governamentais faz sentido na regionalizao. E no SUS da sua essncia. Sem solidariedade na conduo da rede de ateno sade, com suas referencias no h SUS no formato constitucional que o formato da cooperao e solidarie-dade federativas.

    O decreto 7.508 passa, nesse sentido, a ser um marco na institucionalizao do SUS, tanto quanto a lei 12.466. E no deixaremos de insistir que a regio de sade deve ser ato formal praticado pelo estado para garantir governana, coordenao regional ao SUS sem perder a descentralizao.

    4 -Integralidade da assistncia sade

    Quanto integralidade que temos denominada de matriz da organizao do SUS em rede integrada e regionalizada , o decreto dela cuidou ao dispor em seu art. 20 que a integralidade se inicia e se completa na rede de ateno sade mediante referenciamento do cidado na rede regional e interestadual. Poderia traduzir essa norma como o reconhecimento mais cabal de que no SUS a solidariedade entre os entes imposio legal, circunscrita regio de sade ou entre regies de sade que devem se articular para o atendimento das necessidades de sade do cidado de forma integral.

    Outro ponto o contedo da integralidade que surge no decreto como a Relao Nacional de Aes e Servios de Sade RENASES,11 que compreende todas as aes e servios que o SUS oferece ao cidado para atendimento da integralidade da assistncia sade. A integralidade est definida na lei 8.080, de 1990, em seu art. 7, II, e no decreto, em seu art. 20, dando-lhe contedo mediante a RENASES. A RENASES se constitui na forma de tornar pblico o padro de integralidade do SUS para com o cidado. A integralidade tem contornos jurdicos e limites os quais devem ser definidos pelo Estado-Sociedade e tornada pblica pela RENASES.

    Conforme o decreto, art. 43, a primeira RENASES, seu marco zero, o que o SUS ofere-ce como aes e servios de sade na data de sua publicao. As incorporaes, alterao ou excluses, na forma do disposto na recente lei 12.401, de 2011, competncia do Ministrio da Sade, assessorado pela Comisso Nacional de Incorporao de Tecnologias em Sade (CONITEC). Ser o Ministrio, junto com a Comisso, os que cuidaro da RENASES.

    A Constituio determina que os municpios devem cuidar da sade da populao com a cooperao financeira da Unio e dos estados. A lei 8.080/90, em seu art. 35, estabelece critrios para a partilha dos recursos da Unio para os estados e municpios, artigo recepcionado pela lei complementar n 141, de 2012, disps sobre os critrios de rateio dos recursos da Unio para estados e municpios, lembrando que a lei 8.142/90 tambm trata do tema que agora passa a ser integralmente cuidado pela LC n 141, revogando alguns artigos da referida lei.

    A integralidade no pode se confundir com tabela de procedimentos mdicos e terapu-ticos, conceito redutor do direito sade. Sade tem conceito amplo que implica a preveno, proteo e recuperao, alm da qualidade de vida que o pas oferece aos seus cidados. A

    10 Machado Raul Horta, 2010, p. 105.11 A Espanha adota, semelhana da RENASES, a Cartera de servicios comunes del Sistema Nacional de Salud y

    procedimento para su actualizacin. Textos legais, 2009. Ministerio de Sanidad y Poltica Social, Madri.

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    integralidade deve ser satisfeita independentemente de tabela de procedimentos, que foi criada para definir parmetros de custo dos servios de sade contratados do setor privado. E par-metros de custos no equivalem integralidade.

    Por outro lado, complementando a integralidade, a RENAME, Relao Nacional de Medi-camento do SUS integra a RENASES no tocante assistncia farmacutica. O decreto, em seu art. 25, cuidou da RENAME e imps algumas exigncias para o acesso a medicamentos no SUS, que so cumulativos: a) estar o cidado assistido no SUS; b) ter o medicamento sido prescrito por profissional de sade do SUS; c) estar a prescrio em conformidade com a RENAME, os protocolos clnicos e as diretrizes teraputicas; e d) ter sido dispensado nas unidades de sade do SUS.

    Duas excees foram criadas. Uma, no tocante aos medicamentos que os entes federa-tivos, por razes de sade pblica, queiram tornar aberto o acesso, independentemente de o cidado estar em tratamento no SUS, como acontece com os de hipertenso, diabetes e Aids, e os medicamentos de carter especializado, uma vez que nem sempre h a especialidade no mbito do SUS, cabendo ao Ministrio da Sade dispor sobre a possibilidade de o medicamen-to ser prescrito por outro profissional de sade que no integre o sistema, o que j aconteceu, havendo portaria regulando esse tema.

    5. Articulao interfederativa

    A articulao federativa foi tratada no art. 30 a 32 e passar, a partir do decreto, a ser uma instncia formal de pactuao dos entes federativos no SUS, pelo fato de o SUS ser um sistema de interdependncia e gesto compartilhada que sempre requerer arranjos adminis-trativos que contemple essas realidades.

    As Comisses Intergestores j existem no SUS, conforme demonstrado neste trabalho12. A ttulo de informao, a Itlia, mantm arranjo semelhante, que prev a participao dos sindaci (prefeitos) em conferncias com a finalidade de discutir os planos regionais de sade e sua exe-cuo. Na Espanha, no mbito das comunidades autnomas, existem conselhos interterritoriais13 do Sistema Nacional de Sade, que discutem a sade entre governo e os conselheiros de sade das comunidades autnomas.

    O decreto, ao estabelecer regramentos para as comisses intergestores, garantiu segurana jurdica em suas decises, que passam a decorrer de uma instncia prevista em decreto e agora na lei 12.466, de 2011.

    A partir da configurao jurdico-administrativa do SUS, apenas colegiados interfederativos de mbito nacional, estadual e regional sero capazes de operar uma rede de entes federados, todos autnomos entre si, ao mesmo tempo em que so interdependentes na garantia da inte-gralidade da ateno sade dentro do sistema (rede). Os colegiados sero capazes de unir entes autnomos e interdependentes na realizao de servios integrados, sem ferir a autonomia de cada um, uma vez que toda deciso dever ser consensual (consensos interfe-derativos de sade).

    Os colegiados interfederativos devem ser dotados de institucionalidade e segurana jur-dica para de fato ser o locus da negociao-consenso, garantindo assim governana compar- 12 A ttulo de informao, a Itlia, mantm arranjo semelhante, que prev a participao dos sindaci (prefeitos) em

    conferncias com a finalidade de discutir os planos regionais de sade e sua execuo. Na Espanha, no mbito das comunidades autnomas, existem conselhos interterritoriais do Sistema Nacional de Sade, que discutem a sade entre governo e os conselheiros de sade das comunidades autnomas. Locci Palermo e Locci R. 2000.

    13 Somoza JE, 2001, p. 101.

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    tilhada da rede regionalizada de aes e servios de sade, conforme requerer a Constituio. Esses colegiados, compostos pelos entes federados, devero ter suas decises consensuais consubstanciadas em documentos jurdicos (avenas), como contratos que organizem a ao da sade, definindo as responsabilidades de todos os entes nessa rede interfederativa.

    As Comisses Intergestores Federal, Estadual e Regional (o SUS essencialmente regio-nalizado) existentes no SUS precisam ser institucionalizadas e ter segurana jurdica, devendo ser pautadas pela lei, e no por portarias. Com a recente lei 12.466, de 2011 passa-se a garantir outra institucionalidade s comisses intergestores.

    Os consensos interfederativos, tornados pblicos por meio de deliberao, devem ser consubstanciados em contratos de ao pblica, quando envolverem ao conjunta ou integrada dos entes na rede da sade e essas instncias devem atuar no estrito limite de suas competncias legais (conferidas pela Lei 12.466, de 2011).

    6. O contrato organizativo da ao pblica

    Nesse passo, releva destacar a grande inovao existente no decreto: o contrato de ao pblica da sade, contrato de natureza organizativa, ordenatrio de atividades pblicas com-partilhadas. Ser por meio de contrato que as mltiplas responsabilidades sanitrias, de mbito regional, sero definidas. Os entes federativos conjuntamente definem entre si os regramentos da gesto compartilhada. Eles se auto-ordenam quanto a essas responsabilidades, de forma consensual, mediante contrato.

    A outra forma caberia nessa pergunta: as responsabilidades sanitrias deviam ser regula-das, todas elas, a priori? Se assim fosse, seria fcil tecer a rede de ateno sade, sabendo-se, de antemo, as obrigaes de cada um conforme previstas em lei. Mas no SUS sabemos que impossvel regular a priori o que cada ente dever fazer, ante a infinitude de variveis prprias das desigualdades demogrficas, sociais, geogrficas, econmicas, culturais existentes em nosso pas. Por isso, o modelo contratual h de ser o mais adequado meio de se regular as relaes de interdependncia dos entes na rede de ateno sade de uma regio por ser possvel, no contrato, definir, de acordo com a realidade de cada um, as suas atribuies no tocante orga-nizao das aes e servios de sade em rede de ateno sade.

    pelo contrato que os entes federativos podero definir, de acordo com suas realidades e no mbito de suas competncias comuns, o papel de cada um na rede de ateno sade, se autoimpondo regramentos resultantes de negociao solidria e responsvel no tocante competncia comum de cuidar da sade da populao. Trata-se de uma regulao negocial, ajustada mediante clusulas e condies contratuais, as quais passam a exercer o papel que seria previamente reservado lei quanto definio, em mincias, das competncias dos entes na rea da sade.

    Estamos diante de um modelo de inter-relaes federativas que devem ser construdas permanentemente, em interregnos de tempo, de acordo com objetivos definidos em lei, e que devem ser alcanados em nome de um dever constitucional, que o de garantir o direito sade.

    O contrato, nesse caso, visa minudenciar as competncias constitucionais e legais na rea da sade. Para tanto, necessrio delimitar espaos territoriais para a construo da rede de ateno sade, regionalizando-se o que a descentralizao individualizou. Sendo o contrato a nica forma de os entes federativos, de determinada regio de sade, impor a si mesmos responsabilidades sanitrias, individuais, compartilhadas e solidrias, sua assinatura h de ser obrigatria.

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    Se a interdependncia dos entes federativos na garantia do direito sade intrnseca ao SUS, ou seja, de sua natureza constitucional ser um nico sistema decorrente da integrao de servios de entes autnomos, o contrato deve ser o elo obrigatrio nessa cadeia de inter-relaes. o contrato o elo sistmico do SUS.

    O contrato consagra o respeito s assimetrias geogrficas, demogrficas e socioeconmicas uns dos outros e contribui para erradicar as desigualdades regionais e locais, tornando realidade a integralidade da assistncia sade.

    O desempenho de atividades comuns, idnticas como o caso da sade e que no podem ser realizadas isoladamente, mas sim conjuntamente por uma multiplicidade de entes conduz necessidade de atuao harmnica, uma vez que o exerccio isolado pelos diversos entes administrativos das respectivas competncias no satisfar o interesse pblico14. A integrao e cooperao so elementos essncias para o cumprimento adequado das competncias comuns exigindo permanente articulao. No SUS a concertao obrigatria.

    Os contratos organizativos so uma forma de o Estado se relacionar no interior da prpria administrao pblica com o intuito de torn-la mais eficiente. Fundados na cooperao e co-laborao, o Estado muda a forma de suas relaes substituindo a subordinao, a hierarquia, pela ao conjugada de interesses, interesses que muitas vezes somente se satisfaz mediante a conjugao de esforos. Nessa nova forma de relao, a negociao e a fixao de responsabi-lidades mediante contrato so essenciais para o atendimento do interesse pblico.

    No campo da descentralizao territorial, que encerra o risco da fragmentao dos servios, a interao entre os entes prestadores de servios importante para permitir a sua reaglutina-o sem se perder a independncia da gesto. Na sade, a descentralizao das atividades em 5.565 municpios impe remdios que permitam integrar essas aes. Ainda no ensinamento de Oliveira,15 a conduta administrativa h de ser exercida cotidianamente no mbito organizatrio da Administrao Pblica, com o fito de possibilitar um melhor exerccio da funo administrativa.

    O contrato organizativo persegue um fim nico, e as partes reunidas no pretendem tirar nenhum proveito para si. O ganho a soma de esforos de todos os implicados para melhorar seu desempenho pblico, organizar servios comuns ou definir melhor suas obrigaes, responsabi-lidades, financiamento. uma forma de os entes se autorregularem quanto s responsabilidades em relao a determinados servios comuns.

    O contrato organizativo permite que seus participantes definam regras que devem vincul--los, ante a sua fora jurdica. Esses contratos tm regime jurdico diverso dos contratos bilaterais e comutativos so plurilaterais, diferentes, pois do regime jurdico clssico do direito civil.

    Na rea da sade, o contrato organizativo veste como uma luva para a organizao dos sistemas regionais. Pois so contratos que unem os entes federativos, ao mesmo tempo em que se definem as responsabilidades e obrigaes de cada um na rede de servios que dever prover a sade da comunidade.

    o contrato que vai garantir o no fracionamento dos servios na descentralizao, acordando compensaes financeiras para os entes que venham a ser referncia, garantindo solidariedade e equidade, respeitando as autonomias federativas, acordando sanes pelo descumprimento dos acordos e garantindo governana regional rede de ateno sade. Sem o contrato, a governana da rede poder ser falha ante a ausncia de segurana jurdica aos compromissos sanitrios pactuados.

    O contrato de ao pblica na rea da sade se dota de finalidades e caractersticas, tais como:

    14 Justen Filho, p.77, 1996.15 Op. cit., p. 66.

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    a) garantia da integralidade da assistncia sade, que no se realiza de forma isolada, mas somente mediante acordo de colaborao entre os entes federativos implicados na sade de uma regio;

    b) segurana jurdica organizao regional das aes e servios pblicos de sade;c) horizontalidade nas negociaes; d) reconhecimento da interdependncia dos entes contratantes na gesto de aes e servios

    de sade, mantendo a direo nica em cada esfera de governo; e) equilbrio rede de ateno sade em relao s diferenas socioeconmicas dos entes

    contratantes (equalizao e solidariedade sistmica);f) garantia dos referenciamentos do cidado na rede e compensao financeira ao ente

    federativo responsvel;g) funo organizativa e no patrimonialista; h) multilateralidade de contratantes;i) possibilidade de garantir governana regional; ei) igualdade jurdica das partes.

    Os contratos devem ter suas diretrizes convencionadas de forma colegiada na CIR, CIB e CIT16 nas quais esto representados todos os entes federativos implicados nos contratos de ao pblica da sade. Essas convenes, que tenho denominado de consensos interfederativos,17 sero o marco referencial para a celebrao dos contratos, uma forma de regulamentar aspectos da gesto mediante acordo.

    Em nosso pas, o contrato programa previsto na lei dos consrcios18 tem por objeto definir programas conjuntos dos entes federativos consorciados. No contrato organizativo, na rea da sade, se define mais que um programa, a prpria rede de ateno sade, o pr-prio sistema de sade que deve ser organizado em rede. Organiza-se, na realidade, o sistema de sade regional; o meio pelo qual se regulam as relaes de interdependncia dos entes federativos no SUS.

    Por isso, defendo ser o contrato, previsto no decreto 7.508, de 2011, obrigatrio para todos os entes federativos. obrigatrio por ser a forma escolhida pelo decreto para articular as interdependncias na organizao da rede de ateno sade, definir responsabilidades e equalizar as diferenas entre os entes federativos (socioeconmicas). O ente federativo dever se dispor a negociar e, uma vez obtido o consenso, dever firmar o contrato como salvaguarda de suas responsabilidades no provimento da sade da populao brasileira.

    Alm do mais, o art. 17, 3, da Lei Complementar 141, determina que o Poder Execu-tivo informe aos conselhos de sade e tribunais de contas montantes de recursos destinados s transferncias intergovernamentais pela Unio, com base no Plano Nacional de Sade, no termo de compromisso de gesto firmado entre os entes federativos. O primeiro termo de compromisso de gesto surgiu no mbito do Pacto pela Sade, 2006; contudo, tratava-se de um termo de compromisso unilateral, retratado por um documento encaminhado pelo estado ou o municpio ao Ministrio da Sade afirmando que se comprometia a realizar determinada ao (uma decla-rao de intenes). No era um termo multilateral, conforme mencionado no texto legal (LC 141). O termo multilateral o contrato organizativo de ao pblica disposto no decreto 7.508. Referido contrato um acordo entre os entes federativos que dentre outras responsabilidades, destaca-se a das transferncias interfederativas. Esse dispositivo legal confirma a necessidade de os compromissos assumidos pelos entes federativos no mbito do SUS ser formalizado.

    16 Comisso Intergestores Regional, Comisso Intergestores Bipartite e Comisso Intergestores Tripartite.17 Santos L & Andrade LOM, 2007.18 Lei n 11.107, de 6 de abril de 2005.

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    mediante o contrato que se definem as responsabilidades: a) pelas aes e servios de sade na regio de sade; b) por sua prestao ou garantia; c) por seu financiamento (o prprio e os decorrentes do rateio federativo), alm das responsabilidades pelo controle do gasto, da qualidade, da eficincia, desempenho etc.

    No SUS, a colaborao obrigatria. Pode parecer uma contradio em termos, mas no . O SUS um sistema que resulta da colaborao dos entes federativos, colaborao esta que no facultativa. Para garantir o cumprimento do art. 30, VII, da CF, que determina que o municpio cuide da sade com a cooperao tcnica e financeira do estado e da Unio, foram editadas leis impondo o repasse de recursos da Unio e dos estados. Assim, a colaborao pre-vista no art. 30, VII, da CF, no mera faculdade, colaborao. Trata-se de uma obrigao. Os repasses interfederativos da sade so obrigatrios e no voluntrios por fora constitucional e legal. Esse tambm entendimento expressado por Alessandra Silveira19 ao dizer que no SUS a cooperao j no se revela como sugesto, mas como exigncia constitucional.

    O contrato, por ser uma decorrncia natural da forma organizativa do SUS e por estar previsto no decreto regulamentando da lei 8.080, de 1990 e de forma mais genrica e abrangente das partilhas no 3 do art. 17 da lei complementar 141, de 2012, sua celebrao tambm h de ser obrigatria.

    A integrao dos servios dos entes federativos e a consequente alocao de recursos, definio de responsabilidades h de ser instrumentalizada pelo contrato, sob pena de no haver como vincular os entes federativos de uma regio de sade a esses compromissos. A organizao do SUS, por se pautar na inter-relao e interdependncia, encontra no contrato o necessrio respaldo jurdico, vinculando os entes federativos signatrios.

    A Lei 12.466, de 2011

    A lei 12.466, de 2011, reconhece as instncias de pactuao do SUS ao dispor que as Comisses Intergestores Bipartite e Tripartite so reconhecidas como foros de negociao e pac-tuao entre gestores, quanto aos aspectos operacionais do Sistema nico de Sade (SUS). O legislador optou por reconhecer sua existncia em vez de impor sua criao. Esse caminho foi o mais adequado, pois muitas j so as decises dessas instncias que, a partir do reconhecimento, ganham o referendum da lei, ratificando suas decises, desde que estejam em conformidade com o disposto no pargrafo nico do art. 14-A acrescido lei 8.080, de 1990, o qual estabelece seu campo de atuao.

    As Comisses Intergestores no SUS somente podem atuar no campo que a lei lhe reservou, no podendo decidir nada alm daquilo previsto como sua competncia.

    Outro aspecto importante foi o reconhecimento do CONASS, CONASEMS e COSEMS como representantes dos secretrios de estado da sade, secretrios municipais da sade nesses espaos de negociao da gesto compartilhada do SUS.

    Sendo o SUS um sistema nacional de execuo descentralizada, sua gesto interconectada deve ser objeto de pactuaes entre os entes federativos, que devem respeitar as diferenas geo-grficas e socioeconmicas uns dos outros e contribuir para erradicar as desigualdades regionais e locais, tornando realidade a integralidade da assistncia sade.

    Por isso, o SUS impe que sejam criados esses colegiados interfederativos com a finalidade de decidir todos os aspectos da gesto, em especial a explicitao das responsabilidades dos dirigentes da sade e o financiamento desses servios.

    19 Silveira, Alessandra, 2007.

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    A exigncia dessa permanente articulao interfederativa requer que esses colegiados o locus dos consensos tenham segurana jurdica para que suas decises possam ter legitimidade jurdica e serem reconhecidas perante terceiros.

    As Comisses Intergestores Bipartite e Tripartite, criadas em 1991, ainda que cumpram papel relevante na gesto do SUS, so arranjos que no alcanaram a necessria instituciona-lizao, sendo espaos do Ministrio da Sade e da Secretaria de Estado da Sade, e no do Sistema nico de Sade.

    O Conselho Nacional de Sade, pela resoluo n 2, de 26 de abril de 1991, publicada em 12 de dezembro de 1991, j citada neste trabalho, recomendou ao Ministrio da Sade a criao de uma Comisso Especial visando discutir e elaborar propostas para a implementao e operacionalizao do SUS constituda pelas trs instncias gestoras pblicas. Em decorrncia dessa recomendao, foi criada, pelo Ministrio da Sade, em 22 de julho de 1991, pela por-taria MS 1.180, a comisso intergestores tripartite, mas sem implementao at o ano de 1993, conforme j explicitado na primeira parte.

    A partir da edio da NOB 93, constitui-se, no mbito da Direo Nacional do SUS, co-misso intergovernamental trilateral e, no mbito dos estados, as comisses intergovernamentais bilaterais, nas quais tm assento, respectivamente, a Unio, pelo seu Ministrio da Sade, o estado, por sua representao institucional, o CONASS,20 e o municpio, por sua representao institucional, o CONASEMS;21 no mbito do estado, as comisses.

    No mbito do estado, as Comisses Intergovernamentais Bilaterais so compostas pela Secretaria de Estado da Sade e pelos municpios, representados pelo COSEMS,22 sendo essas comisses fruns polticos e administrativos de deciso conjunta da definio de responsabili-dades dos entes federativos. Esses colegiados interfederativos foram um arranjo extremamente criativo e interessante construdo pela rea da sade. E porque os estados e os municpios so representados pelo CONASS e CONASEMS, respectivamente?

    Com esses consensos, que no podem ser tomados com a participao de cada um dos 5.565 municpios e 27 estados brasileiros, por ser operacionalmente invivel, os municpios passaram a ser representados pelo CONASEMS e os estados, pelo CONASS, e no mbito do estado os municpios so representados pelo COSEMS.

    Exatamente por serem os municpios e os estados representados por esses entes privados associativos, e, ainda que tenham adquirido legitimidade poltica, esses entes representam es-tados e municpios, e por isso precisam ser reconhecidos juridicamente para que suas decises possam ter validade perante terceiros e os prprios entes federativos.

    Com a publicao da lei 12.466 passos largos foram dados em sua institucionalidade, reconhecendo-se a necessidade da existncia de instncias de negociao e consenso, o papel desempenhado pelos colegiados interfederativos, aprofundando-se assim as relaes interfede-rativas, nsitas ao SUS e compatveis com sua forma organizativa, contempornea, que alm de retratar os valores das prticas federativas insere o SUS na mais atual forma de estado, que aquele que reconhece toda a diversidade existente sua volta, dialoga, negocia, faz consenso e

    20 CONASS Conselho Nacional de Secretarias de Sade. Essa associao privada de Secretarias de Sade dos Estados reconhecida pela lei 8.142/90 e por diversas portarias ministeriais como o ente de representao insti-tucional dos estados na rea da sade, perante rgos e entes pblicos, como o Conselho Nacional de Sade, o Ministrio da Sade, entre outros.

    21 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade entidade privada associativa que agrupa todas as secre-tarias municipais de sade e as representa institucionalmente perante entes e rgos pblicos e privados, como o Conselho Nacional de Sade, Ministrio da Sade etc.

    22 Conselho Estadual de Secretarias Municipais de Sade. Trata de uma entidade associativa que representa as Secretarias Municipais de Sade perante cada estado e perante entes e rgos pblicos e privados, como o Conselho Estadual de Sade.

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    se vincula a toda forma de contratualizao das vontades pblicas e sociais. A lei 12.466 um avano na consolidao do SUS.

    Por ultimo, importa dizer que tem surgido embate no tocante s competncias dessas instncias e as dos conselhos de sade. No vejo conflito, porque a primeira , na realidade, uma reunio dos entes federativos para discutir a gesto do SUS. A segunda, a expresso da democracia participativa no SUS, instncia de discusso entre Estado e Sociedade com a fina-lidade, nos termos da lei 8.142, de 1990, definir a poltica de sade e fiscalizar sua execuo.

    O conselho tem papel mais poltico ao definir, em conjunto com o Poder Pblico, as polti-cas de sade brasileira, enquanto as Comisses Intergestores tm o papel de definir, em comum acordo, como essas polticas sero, enfim, operacionalizadas, financiadas, responsabilizadas por cada ente. Tanto compatvel que foi o prprio Conselho Nacional de Sade que props sua criao pelo Ministrio da Sade em 1991. Deve-se propugnar todo o tempo pela compatibili-zao entre o papel dos conselhos de sade e o das instancias colegiadas dos entes federativos. O primeiro representa a sociedade, a comunidade no SUS, nos termos do art. 198, III, da CF; a segunda representa os prprios gestores da sade que, em razo de integrao dos servios de uns com os outros em rede regionalizada (art. 198 da CF), devem contar com espaos, instncias prprias de gesto compartilhada de seus servios.

    Referncias Bibliogrficas

    Cassese, Sabino. A crise do estado. Campinas: Saberes Editora, 2010.

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    Santos, Lenir e Andrade, OMA SUS: o espao da gesto inovada e dos consensos interfe-derativos. Campinas: Saberes Editora, 2010. 2 edio.

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    Somoza, Javier Elola. Poltica sanitria espanhola. Madri: Ediciones Diaz de Santos, 2001.

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    II.2 - A Presena e Participao do Municpio na Lei Complementar Federal 141

    Gilson Carvalho231

    Com inmeras demandas de municpios para discutir as novas obrigaes municipais, tenho feito uma seleo dos principais aspectos da LC 141 a eles referentes.

    Cada um destes artigos e pargrafos abaixo destacados esto sendo lidos e relidos por inmeras pessoas. Algumas apenas militantes como eu. Outras preparadas e com formao jurdica, econmica ou em gesto pblica. As interpretaes continuaro por muito tempo e dificilmente se chegar a um consenso em vrias questes.

    O entendimento pode ser diverso pois, foi mal escrito o texto legal. Tambm, ainda que bem escrito, pode ser mal interpretado por interesses os mais diversos e muitas vezes no con-fessos ou inconfessveis.

    A CF tem mais de 23 anos. A Lei 8080 tem mais de 21 anos. Questes essenciais da sade expressas nestes documentos legais jazem descumpridas e os argumentos so os mais diversos para que assim seja.

    Minha participao abaixo de apenas ter tentado resumir essncia o texto legal, segundo minha interpretao que a luz de novos argumentos pode mudar.

    A lei trata sobre:v Disposies preliminaresv Aes e Servios Pblicos de Sade ASPSv Recursos mnimosv Repasse e aplicao dos recursos mnimosv Movimentao dos recursos da uniov Movimentao dos recursos dos estadosv Disposies gerais da aplicao recursosv Transparncia e visibilidade da gestov Escriturao e consolidao de contasv Prestao de contasv Fiscalizao da gestov Disposies finais e transitrias

    1) Municpio s pode fazer ASPS definidos na Lei (Art. 2 e 3) e no pode fazer nada vedado na Lei (Art. 4)

    2) ASPS tm de obedecer a princpios do SUS da LC 141 Art. 2: s podem ser feitas despesas com promoo, proteo e recuperao da sade e que atendam s seguintes diretrizes: acesso universal, igualitrio e gratuito; conformidade com planos de sade em cada esfera; responsabilidade especfica de sade; no incluir aes pblicas determinantes sociais e econmicos, ainda que interfiram nas con- dies de sade na populao; recursos movimentados no fundo; aquelas constantes da lei 8080, Art. 7.

    23 Gilson Carvalho Mdico Pediatra e de Sade Pblica Doutor em Sade Pblica pela FSP-USP Mdico aposentado da Secretaria Municipal de Sade de So Jos dos Campos foi mdico pediatra na rede pblica e em atividade privada; Ex-Diretor de Vigilncia Epidemiolgica da DRS do Vale do Paraba SES-SP; Ex-Secretrio Municipal de Sade de So Jos dos Campos Ex-Secretrio Nacional de Sade MS; Consultor do CONASEMS.

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    ASPS Aes e Servios de Sade LC 141, Arts. 2, 3 e 4

    S pode gastar em: No pode gastar em:

    Universal e gratuito Condicionantes Determinanantes

    Mesmo feito pela sadePresentes no plano

    Vigilncia em sade Inativos (incluindo sade)Ateno integral Assistncia no universal

    Capacitao pessoal Merenda e atividades de nutrioDesenvolvimento cincia &

    tecnologia Assistncia socialInsumos: medicamentos, vacinao, sangue.

    Saneamento Bsico - domiclio/pequena comunidade

    Comunitria: indgena, quilombola

    Tarifado (limpeza urbana e remoo de resduos)

    Meio ambiente e controle vetores Meio ambiente de outras reas

    Investimento rede fsica Obras de infraestrutura

    Pagamento pessoal da rea Pagamento de pessoal fora da rea de sade

    Apoio administrativo ASPS: Custeadas com recursos fora da base de clculo ou

    fundos especficos distintos daqueles da sade

    Gesto e operao de unidades

    3) Municpio aplicar em ASPS no mnimo 15% de suas receitas (Art. 7) e de outras futuras ou compensaes (Art. 9).

    4) Municpio que tiver em suas leis, percentual maior que 15% devem cumpri-los (Art.11)

    Resumo do Montante de Recursos da Uno, Estados e Municpios

    Unio Ano anterior + variao nominal do PIB Estados Mnimo 12%

    Municpios Mnimo 15%

    5) Municpio s pode movimentar recursos do fundo por cheque nominativo, ordem bancria, transferncia eletrnica (Art. 13 4)

    6) Municpio deve manter fundo, criado por lei, como unidade oramentria e gestora (Art. 14)

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    Processo de Transferncia e Aplicao no Fundo

    1 passo Trs esferas devem ter fundo criado por lei (se a lei existente no estiver

    adequada Lei 141 essencial fazer nova lei.

    2 passo Fundo tem que ser unidade oramentria e gestora

    3 passo Do fundo nacional de sade a fundos estaduais e municipais

    4 passo Forma: direta, regular e automtica (Art. 18 )

    5 passo Movimentao s por cheque, ordem de

    pagamento e transferncias diretas

    7) Municpio receber recursos da unio por critrios de rateio definidos por metodologia pactuada na CIT e aprovada no CNS (usando: necessidades de sade, epidemiologia, demografia, espacial, scio econmico, produo de ASPS, Lei 8080 Art.35) (Art.17).

    8) Municpio receber recursos do MS/FNS para ASPS, nos fundos de sade de forma direta, regular e automtica (Art. 18) (Rotina)

    Processo Resumido de Rateio e Transferncia Unio para Estados e Municpios Art. 17

    1 PASSO Identificar os critrios de rateio sendo 2 critrios de investimento

    (investimento: reduo de desigualdades e garantia de integralidade) 2 PASSO CIT define metodologia para uso dos critrios 3 PASSO CNS aprova a metodologia

    4 PASSO MS aplica a metodologia definindo montante de recursos para cada

    Municpio e Estado e publica este montante

    5 PASSO Fazer constar do plano nacional de sade e em termo de compromisso entre

    as trs esferas de governo

    6 PASSO Ministrio da Sade divulga este montante a conselhos e Tribunal de Contas

    9) Municpio cobrar da Unio a definio de transferncias de recursos para situaes especficas onde se pode usar a modalidade de transferncia voluntria (Art. 18 nico) (exceo)

    10) Municpio receber recursos dos estados segundo critrios (necessidades de sade, epide-miologia, demografia, espacial, scio econmico, oferta ASPS) e atendendo necessidade de diminuir as disparidades. (Art.19)

    11) Municpio cobrar dos estados o plano estadual de sade com explicitao da metodolo-gia de alocao de recursos estaduais e de recursos aos municpios, pactuados na CIB e aprovados no CES (Art. 19, 1).

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    12) Municpio cobrar dos estados montante de recursos previstos para transferncias do estado aos municpios (Art. 19, 2).

    13) Municpio cobrar dos estados transferncias fundo a fundo de forma direta, regular e automtica (Art. 20)

    Critrios de Rateio de Recursos da Sadeda Unio para Estados e Municpios LC141, Art. 17

    Lei Complementar 141, Art.17 Lei 8080, Art.35Necessidades de sade Previso no plano plurianual - PPA

    Epidemiologia EpidemiologiaDemografia Demografia

    EspacialDesempenho tcnico-economico-financeiro ano

    anteriorScio-econmico Cumprimento da EC-29

    Capacidade de oferta de ASPSCaractersticas da rede

    (quali-quantitativas)Investimento: plano anual visando

    diminuir as desigualdadesRessarcimento servios prestados a outra esfera

    de governo

    Municpios com migrantes os critrios demogrficos tero outros parmetros.

    14) Municpio cobrar dos estados o significado de transferncias de recursos para situaes especficas onde se pode usar a modalidade de transferncia voluntria (Art. 20, nico).

    15) Municpio com consrcios ou outras formas legais de cooperativismo poder remanejar entre si recursos do fundo, tanto prprios como transferidos da Unio e Estados, segundo normas de Direito Administrativo, Lei 8080 e normas da CIT aprovadas no Conselho. (Art. 21, nico)

    16) Municpio no aceitar restrio de recursos de transferncias obrigatrias, regulares e automticas, exceto se no tiver Plano, Fundo e Conselho funcionando. (Art. 22)

    17) Municpio considerar como aplicados em ASPS despesas: liquidadas e pagas; empenhadas e no pagas mas com saldo no fundo; pagamento de amortizao e encargos financeiros de emprstimos aps Jan/2000 e no includos nos mnimos. (Art. 24)

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    Despesas com Sade Art. 241 Despesas liquidadas e pagas2 Despesas empenhadas e no pagas mas com saldo no

    fundo de sade3 Pagamento de amortizao e encargos financeiros de emprstimos no includos nos

    montantes mnimos a serem aplicados.4 No se pode pagar encargos de emprstimos includos nos

    montantes mnimos a serem aplicados.

    18) Municpio que descumprir o mnimo verificado pelo TCU ou homologado pelo SIOPS poder ter restrio das transferncias at o limite do dbito. (Art. 26, 1).

    19) Municpio que cumprir os mnimos poder ter transferncias voluntrias restabelecidas.(Art. 26, 5).

    20) Municpio que detectar, com seus rgos prprios ou do MS, aplicao errada de recursos (fora do previsto no Art. 3 ou do pactuado) poder devolver os recursos, devidamente corrigidos, a seu prprio fundo, para cumprir os objetivos do repasse (Art. 27).

    21) Municpio no pode excluir da base de clculo do mnimo parcelas de impostos ou trans-ferncias constitucionais vinculadas a fundos ou despesa (Art. 29).

    22) Municpio dever elaborar PPA, LDO, LOA de acordo com a LC 141 (Art. 30).

    23) Municpio far planos e metas regionais resultantes de pactuaes intermunicipais que serviro de base para planos e metas estaduais (Art. 30, 2).

    Tempos e Movimentos da LC 141 devem acontecer no Ano Anterior Execuo Oramentria

    AtividadesFundamento

    LegalPrazo

    Planos municipais + aprovao pelo Conselho 22 U II

    Planos regionais (base municpios) 302

    Planos estaduais (base municipais/regionais) + aprovao pelo Conselho

    22 U II30 3

    Plano nacional (base estaduais) + aprovao pelo Conselho

    30 3

    Lei oramentria anual municipios + Estados

    CF + LC 101 30/9

    LOA Unio CF + LC 101 30/8

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    N Crtico Maior: Tempos e Movimentos da LC 141 devem acontecer no ano anterior Execuo Oramentria

    Atividade 3 Esferas Fundamento Legal Prazos Levantamento necessidades de sade 30 1 Contnuo

    Elaborao do plano 29 4 Audincia pblica 31 nico

    Aprovao Conselho 36 2

    LDO CF + LC 101 15/Abril

    24) Municpio dar divulgao ampla, inclusive pela internet, das prestaes de contas com nfase no cumprimento da 141, do relatrio de gesto, com avaliao CS. (Art. 31)

    25) Municpio incentivar a participao popular em audincias pblicas (Art. 31, nico)

    26) Municpio manter registro contbil relativo a despesas com aes e servios pblicos de sade (Art. 32)

    27) Municpio dever cobrar do rgo central da contabilidade da Unio as normas gerais para segregao da informao financeira da sade (Art. 32, nico)

    28) Municpio prestar contas de seus rgos da administrao direta e indireta (Art. 33)

    29) Municpio demonstrar despesas com ASPS integrantes do relatrio resumido de execuo oramentria (RREO) para parecer prvio (LC 101) (Art. 34)

    30) Municpio demonstrar receitas e despesas com ASPS do balano como tambm o de-monstrativo prprio do relatrio bimestral (Art. 165, 3) (Art. 35)

    31) Municpio far relatrio de gesto do quadrimestre anterior (Art. 36)

    32) Municpio enviar relatrio de gesto at 30/3 e Conselho emite parecer conclusivo com ampla divulgao (Art. 36, 1)

    33) Municpio far programao anual do plano de sade encaminhada ao conselho de sade que deve aprovar antes da ldo ser encaminhada (15/4) e dar ampla divulgao (Art. 36, 2)

    34) Municpio atualizar cadastro no SIOPS (anual) indicando data de aprovao do relatrio de gesto no CNS (Art. 36, 3)

    35) Municpio adotar modelo de relatrio de gesto aprovado no CNS com modelo simplificado para municpios com

  • SUS no Estado de So Paulo - Atualizaes para os Gestores Municipais

    37

    37) Municpio ser fiscalizado pelos rgos fiscalizadores se cumprem CF Art. 198 e LC 141 (Art. 37)

    38) Municpio ser avaliado pelo legislativo sobre: PPA, cumprimento metas LDO, aplicao dos mnimos, transferncia de recursos ao FS; aplicao recursos do SUS; destinao de recursos obtidos com alienao de bens do SUS (Art. 38)

    39) Municpio obrigado ao preenchimento do SIOPS; os gestores so responsveis e o SIOPS tem f pblica (Art. 39)

    40) Municpio disponibilizar ao tribunal de contas informaes sobre cumprimento do 141 e se houver divergncia o tribunal de contas dar cincia ao chefe do executivo e direo do SUS para tomar medidas cabveis (Art. 40)

    41) Municpio apresentar aos Conselhos de Sade o relatrio de gesto a cada quadrimestre fevereiro, maio e setembro sobre repercusso da LC 141 nas condies de sade e na qualidade dos servios de sade e os Conselhos encaminharo ao chefe do executivo indicaes de medidas corretivas (Art. 41)

    42) Municpio ser avaliado pelo Sistema Nacional de Auditoria por amostragem e presencial-mente sobre a veracidade da informao (sem prejuzo do Tribunal de Contas e Ministrio Pblico) (Art. 42)

    43) Municpio cobrar da Unio cooperao tcnica, para implementao dos fundos e SIOPS, e financeira mediante bens, valores e crditos bancrios (Art. 43)

    44) Municpio proporcio