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CONHECENDO O TRATOR:

MECANIZAO AGRCOLA: Fontes Mecanizadas Como contribuio aos Sistemas

de Produo Agrcola

MECANIZAO AGRCOLA

ALCEU PEDROTTI

MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO

MECANIZAO AGRCOLA: Fontes Mecanizadas

como contribuio

aos Sistemas

de Produo Agrcola

90

NDICE

6Apresentao

8Um pouco de histria: o fim do nomadismo e a agricultura de preciso:

81. O uso da trao animal na agricultura

91.1.1. A mecanizao na agricultura

10A agricultura de preciso

101.1.2. A trao animal e os dias de hoje

121.1.3. Aspectos da mecanizao agrcola:

15A mecanizao e a agricultura moderna

16A situao da mecanizao agrcola

19Principais crticas mecanizao agrcola:

261.2. Conhecendo o trator:

261.2.1. Princpios bsicos de funcionamento de um trator agrcola:

271. 2. 2. Definio de motor:

28Os tempos dos motores exploso

30Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo OTTO:

30Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo Diesel;

33CAPTULO 2

33Os sistemas do trator

332. Os sistemas do trator

332.1. O sistema hidrulico

342.1.1. Funcionamento bsico do sistema hidrulico de trs pontos

372.1.2. Autocontrol - Pr-programao operacional suportada por tecnologia de computador (tratores Valtra/Valmet):

382.1.3. O Sistema de levante hidrulico com controle eletrnico Hydrotronic (tratores Massey Ferguson e Maxion)

382.2. O sistema de lubrificao

382.2.1. As siglas utilizadas na classificao dos leos

392.2.2. Manuteno do sistema de lubrificao

462. 3. O Sistema de arrefecimento

482.4. Sistema de embreagens e transmisses

542.4. Sistema de transmisso: Transmisso de fora. A lei das alavancas, um dos princpios dos braos do hidrulico:

572.4.1. Sistema de transmisso de trabalho polias e correias.

582.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequao de implementos:

592.4.2. Dimensionamento de polias:

60A relao: Tipos de correias x potncia do motor

612.4.3. Dimensionamento de correias

61Alguns cuidados com as correias e polias:

622.5. O sistema de alimentao

622.5.1.Sistema de alimentao/ar:

63Manuteno do sistema de filtragem de ar

632.5.2. Sistema de alimentao/combustvel

64Tanque de combustvel:

64Bomba alimentadora

64Drenagem do sedimentador e do filtro de combustvel.

64Substituio do filtro de limpeza do sedimentador de combustvel.

64Sangria do motor

64Sangria do sedimentador e filtro de combustvel

65Sangria da bomba injetora (bomba horizontal e bomba vertical cav)

662.6. Ajustes de bitola e lastrao

702.7. consideraes sobre a correta manuteno dos tratores:

73CAPTULO 3

73Os implementos agrcolas:

743.1. Manuteno dos implementos

743.1.2 Manuteno dos equipamentos de trao animal

753.2.Planejamento e desempenho operacional de mquinas agrcolas

75O Rendimento das operaes de mecanizao

76Gerenciamento econmico do setor de mecanizao

793.3. As atividades agrcolas e os implementos:

793.3.1. Preparo do solo:

79Arao

80Princpio da arao: A reversibilidade da leiva

81Arados fixos e mveis:

82O Arado de aivecas:

83O arado de discos

84A gradagem

89Regulagem das grades de discos

90Sistemas de gradagem

90Grade de dentes com molas ou grade de molas

91Grade de dentes rgidos ou fixos

91O rolo destorroador:

92Escarificadores no preparo do solo.

93Enxada rotativa

94A semeadura

98Tratos culturais - As capinas

101Aplicao de herbicidas

102Condies climticas ideais para a aplicao de defensivos:

103A colheita

107CAPTULO 4

107Preveno de acidentes no uso dos implementos agrcolas e do trator

1074.1. Medidas gerais de segurana

1094.1.1. Identificao dos principais controles e instrumentos de controle do trator:

1104.1.1.2. Partida do motor

1104.2. Conforto na operao do trator:

1104.2.1. A insalubridade do trabalho de tratorista

1134.3. Cuidados com o equipamento: a operao do trator

1144.4. Trao dianteira

115CAPTULO 5

115Manejo e conservao do solo

1155.1. Caractersticas e propriedades edficas que devem ser observadas no preparo do solo:

1165.1.1. Textura

1165.1.2. Estrutura e Umidade:

116a)Estrutura

117b)Umidade do solo

1195.1.3. Cor

1195.1.4. Porosidade

1195.1.5. Profundidade

1195.1.6. Topografia

1205.2. Medidas conservacionistas

122Terraceamento e semeadura em nvel

124Manuteno da cobertura morta na superfcie Sistema de Plantio Direto (SPD):

124Adubao verde

125Rotao de cultura, pousio e cultivo em faixas alternadas

128Alternncia de implementos

129O uso de implementos descompactadores do solo:

129Subsolador X Escarificador

1295.3. A fertilidade do solo

1295.3.1. Amostragem do solo

1305.3.2. Anlise foliar

1305.3.3. Adubao do solo

1335.3.4. Adubao qumica

1335.3.5. Adubao orgnica

1345.3.6. O ph do solo e a correo da acidez

1365.3.7. A adubao e a pecuria:

138REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Apresentao

A modernizao agrcola brasileira baseou-se em mudanas na composio das colheitas pela diversificao, incorporao de novas tecnologias e em modificaes na estrutura e na organizao dos fatores de produo. A mais notvel mudana, no que toca diversificao de culturas, ocorreu na composio da produo na direo de culturas caracterizadas por mercado em forte expanso no comrcio internacional, com destaque para as culturas de maior interesse para a exportao, como a soja. Alm disso, a mecanizao, a pesquisa agrcola e o uso de insumos qumicos tambm foram fundamentais para a expanso da fronteira agrcola na direo centro-oeste de nosso Pas. Graas a esses fatores, nas dcadas de 70 e 80 os ganhos de produtividade passaram a ser uma importante fonte de crescimento da produo agrcola, especialmente das culturas mais modernas, ao contrrio do que ocorreu nas dcadas anteriores. Na dcada de 80, em particular, os ganhos de produtividade explicam cerca de 3/4 do aumento da produo agrcola obtida no Brasil.O avano da rea de mecanizao agrcola registrado j to grande que o termo agricultura de preciso (AP) vem sendo adotado no meio agronmico para identificar um conjunto de tecnologias modernas oriundas de adaptaes informatizadas com uso direto em equipamentos agrcolas, no sentido de melhorar a eficincia e racionalidade de seu uso nas diversas operaes da propriedade rural. O emprego de computadores acoplados mquinas agrcolas em conjunto com informaes geoposicionadas levaram ao campo o que existe de mais avanado em termos de gerenciamento de dados e estratgias de informtica viveis melhoria da atividade agropecuria.

Um dos grandes desafios de quem trabalha envolvido com mquinas agrcolas sempre foi a correta modelagem, com resultados confiveis, para predizer o que o trator pode exercer de fora numa dada condio e o que a mquina ou implemento vai exigir de fora para ser tracionada nessa mesma condio.

Existiram muitas tentativas e modelos propostos, principalmente aps a 1a Guerra Mundial, quando os veculos fora de estrada passaram a ter grande importncia. O trator agrcola apenas pegou carona e desenvolveu-se uma linha de pesquisa aplicada mecanizao agrcola.

Essa diferena entre um veculo de transporte de pessoal e armamentos e um veculo de trao evidente e por isso a linha agrcola acabou tomando seu prprio caminho. Mesmo assim, muita coisa em comum continuou existindo e as teorias de relao pneu-solo e esteira-solo so freqentemente revistas e confrontadas entre as grandes reas (aplicaes agroflorestais, mquinas para construo civil e veculos fora de estrada).

Aquele veculo que hoje conhecido como trator j passou por muitas fases e variaes. Inicialmente, na primeira metade do sculo passado, j existia uma quantidade significativa de mquinas a vapor sobre rodas. As primeiras esteiras, ainda primitivas so dessa poca, e justamente para sustentar mquinas pesadas sobre solo. Na ltima dcada do sculo passado que comearam a surgir os tratores com motor de combusto interna. A partir de ento surgiram inmeras variaes e formas construtivas tanto do trator em si quanto do seu sistema de rodado que , em ltima anlise, o dispositivo responsvel pela transformao da potncia disponvel no motor em fora de trao (Goering, 1992).

Algum tempo depois do seu surgimento que esse veculo passou a ser chamado de trator, pela suas caractersticas e funo. Um anncio de um deles, datado de 1906, o chamava pela primeira vez de tractor machene. Essa a maior funo do trator que hoje impulsiona uma grande fatia da economia, na agricultura e silvicultura.

Em cima destas evolues e ganhos de tecnificao, que este livro vm a contribuir com docentes e pesquisadores, alm de, principalmente os discentes cursantes das disciplinas de graduao, em cursos ligados a cincias agrrias, que tem a necessidade de subsdios na rea de mecanizao agrcola, que ao mesmo tempo que registra evolues e resultados nos sistemas de produo to expressivos, carece de materiais como os propsitos apresentados por esta publicao.

Bom proveito !

CAPTULO 1

Evoluo histrica: o fim do nomadismo e a agricultura de preciso:Desde os primrdios, os nossos antepassados viviam da caa e da coleta de frutos e ervas. Para sobreviverem, andavam em cls por regies diversas, em diferentes pocas, acompanhando a frutificao da flora dessas regies e da disponibilidade de caa. Estavam sujeitos aos rigores das matas ou s grandes distncias das plancies. Sujeitos aos predadores, s endemias e at aos cls rivais.

A partir da observao e descoberta do processo de germinao das sementes e domesticao de vrias espcies vegetais, pelos nossos ancestrais, surgiu a agricultura. (CARVALHO & NAKAWVA, 1983). Essa agricultura primitiva, nascida durante o perodo mesoltico, aps mudanas considerveis no tocante ao clima da terra, quando houve uma diminuio das calotas polares e que fez surgir novas reas habitveis, acompanhou tambm a domesticao de alguns animais e o pastoreio (CRCERES, 1996).

Esse evento foi de extrema importncia, pois a partir da agricultura e da domesticao dos animais, o homem pde deixar o nomadismo e passar a ser sedentrio (GUIMARES, 1982), fixando-se em locais propcios s suas atividades agrcolas e pastoris. A partir do perodo Neoltico o Homo sapiens estabeleceu relaes mais especficas com a natureza, aprimorando principalmente a agricultura, atravs da domesticao de animais de trao e aperfeioamento dos primitivos implementos de auxlio no preparo do solo (CRCERES, 1996).

Com o tempo, surgiram presses de ordem social, como o aumento demogrfico, e a subseqente separao dos homens em dois meios distintos: o meio rural e o urbano, com o aparecimento das vilas, perpetuando-se essa diviso de ecossistemas antrpicos desde as polis gregas at as megalpoles atuais.

1. O uso da trao animal na agriculturaOs primeiros animais domesticados foram os ovinos, a cerca de 6500 a.C. Os bovinos foram domesticados 3000 anos depois, devido sua ferocidade. Por volta de 3000 a.C., passou-se a castrar os touros, para que se tivessem animais de trao fortes e ao mesmo tempo dceis (UNIVERSO, 1973).

A domesticao dos animais trouxe no s para o homem a perspectiva de obter alimento e produtos de origem animal, como tambm, a capacidade de esses animais exercerem algumas atividades, principalmente como fora-motriz, transportando cargas, tracionando implementos nas diversas atividades da agricultura, auxiliando o homem nas tarefas de desmatamento, arao, trao, semeio e colheita. Diversos povos fizeram uso dos animais domsticos, para se desenvolverem. Grandes proprietrios de terras, como o americano Washington, que em sua fazenda fez uso de mulas, de utilidade como fora de trao na agricultura (GUIMARES, 1982), ou os tropeiros, que tantas cargas transportaram no dorso desses animais, Brasil afora.

Os animais tm um potencial de transformarem alimentos baratos (forrageiras e gros) em trabalho mais eficientemente que o homem, pois o homem mesmo, como fonte geradora de potncia, pouco eficiente, gerando apenas cerca de 0,1 hp de trabalho pesado e contnuo e cerca de 0,4 hp de trabalho de esforo contnuo e moderado (HOPFEN & BIESASKI, 1953).

Imagem 1.Cultivadores tracionados por bois. Cena comum no interior do nordeste e em propriedades de mo de obra familiar.Dentre os implementos puxados por animais podem ser citados muitos, entre eles a carroa, o arado de aivecas, o cultivador, a semeadeira adubadeira, a plaina, entre outros.

Alm dos tratos com o animal, relativos nutrio, sanidade e inclusive bem-estar, h evidentemente, os cuidados referentes manuteno dos implementos tracionados por estes animais, desde o mais rsticos, como o carro de boi, at os mais sofisticados, como a semeadeira-adubadeira, variando somente o grau de cuidados e nmero de manutenes desses implementos, como veremos num captulo mais tarde.

1.1.1. A mecanizao na agriculturaAps a revoluo industrial no sculo XVIII, houve uma intensa mudana na estrutura fundiria e de produo. Do sistema feudal, com suas caractersticas de relaes servis, dos camponeses para com os seus senhores - relaes as quais discutiu HUBERMAN (1936) s intensas mudanas do modo de produo agrcola, ao modo de produo atual as modificaes foram muitas. O campo passou a partir da revoluo industrial, tambm a ser trabalhado por mquinas.

Desde a inveno do motor a vapor por James Watt, no final do sc. XVIII somente mais tarde, a partir da montagem de uma mquina a vapor autopropelida sobre rodas, em fins do sc. XIX comeam a surgir os primeiros tratores. No entanto, de acordo com BARGER et alii, (1966) e GUIMARES (1982), s receberam sensvel impulso, aps a 1 Grande guerra, e tornaram-se mais especficos somente aps a 2 guerra mundial. Deste momento em diante, a evoluo do trator acompanhou os nveis de tecnologia agrcola, modelos de explorao e o tamanho das propriedades.

Os passos iniciais da revoluo industrial, que carregou no seu bojo a mecanizao agrcola, foram dados a partir das mudanas do sistema de produo rural, fomentadas pelos processos inerentes prpria revoluo industrial. GUIMARES (op. cit), afirma que por volta de 1800, a mecanizao no campo teve um forte impulso aps o aperfeioamento e inveno de mquinas, como uma charrua de ferro fundido, inventada por Charles Newbold e aperfeioada por Jethro Wood. John Deere, em 1840, cria a primeira charrua inteiramente de ao. Em seguida, grande nmero de implementos so aperfeioados e fazem com que, nos estados Unidos, grandes extenses de terras, antes irremovveis pelos antigos instrumentos, a partir de tais aperfeioamentos, passassem a ser utilizadas na produo de alimentos, especialmente cereais, obtendo maior rendimento e eficincia.

O desenvolvimento do trator e de implementos especficos trao mecanizada ocorreu em detrimento dos antigos implementos puxados por bois e mulas. A prpria evoluo do trator evidencia que o nvel tecnolgico empregado no maquinrio agrcola acompanhou os processos criativos e tecnolgicos das outras reas. Desde o primeiro passo; do trator a vapor, do sc. XVIII, a passos maiores, como a inveno do motor Otto em 1870, e o surgimento dos motores desenvolvidos por Rudolph Diesel em seguida, a invenes tambm importantes, como a introduo de pneumticos por volta de 1930, o sistema hidrulico de Harry Ferguson, em 1937, ao cmbio sincronizado dos tratores Valmet nas dcadas de 60/70.

Atualmente, existe maquinrio que exerce tarefas antes inconcebveis a uma mquina, como a colheita de cana-de-acar, de algodo, de caf, ou de oliva. Algumas so at guiadas por satlite, na chamada agricultura de preciso, atravs do uso de GPS (do ingls: global positioning sat) para a correo e adubao do solo, em glebas heterogneas da propriedade, com aplicao de insumos e fertilizantes, de uma forma bem mais especfica de que a adubao generalizada e extrapolada para toda a rea. Podemos citar ainda, o trator agrcola que no precisa de operador (atualmente apenas um prottipo); vai ao campo e volta ao galpo de mquinas guiado por satlite e por computadores.

Esse nvel de tecnologia, contudo, s seria vivel no emprego de mquinas para grandes propriedades rurais, de produo intensiva e de culturas com altos rendimento e remunerao por unidade de rea (grandes culturas de valor econmico elevado ou alta produtividade como a soja, ou o trigo, alm de algumas culturas olercolas).

A agricultura de preciso

O funcionamento da chamada agricultura de preciso baseia-se na coleta de informaes de produo, bem como a produtividade dos diversos talhes existentes numa mesma rea. So elaborados mapas de produtividade e aps isso, feitas algumas avaliaes desses dados, para em seguida, tomar-se as medidas cabveis para o aumento da produtividade de cada m2 da rea. Segundo SOUZA FILHO e RIORDAN (2003), essas medidas podem ser corretivas, como o ajuste na quantidade de insumos, ou estratgicas, como a deciso de deixar de plantar em determinada rea. DALLMEYER (2004) traa aspectos positivos dessa tcnica, observando que ela do ponto de vista agronmico, corretssima, pois desconstri o manejo realizado pela chamada agricultura das mdias e passa a tratar as glebas de solo com os seus potenciais produtivos de forma individual. DALLMEYER (op. cit), critica contudo, alguns implementos e/ou mquinas de agricultura de preciso importadas.

Esse autor lembra que tais mquinas nem sempre esto em conformidade com as condies do sistema de plantio direto, principalmente no tocante s condies edafoclimticas (o sistema de preparo de solo e plantio de um pas de clima temperado, como se sabe, no aplicvel aos trpicos), como no posicionamento das sementes e do adubo no sulco.

A mecanizao e a pecuria:

A mecanizao atualmente est para a pecuria assim como o boi est para o pasto, ou no caso de uma pecuria mais mecanizada, assim como o boi, para o cocho. Inmeros so os implementos e mquinas utilizadas na pecuria, muitos deles caracterizados inclusive como implementos pecurios e no mais agrcolas. Enumeremos alguns:

O vago transportador de volumoso;

O vago transportador e distribuidor de rao;

As mquinas de distribuio de rao nas granjas modernas;

As enfardedeiras tratorizadas e manuais;

As colheitadeiras de feno;

As colheitadeiras e picadoras de capim;

Desses implementos existem os mais diversos modelos, tamanhos e nveis de preo, cabendo ao pecuarista a escolha de acordo com suas necessidades e possibilidades (vide tpico referente escolha e dimensionamento da frota na pgina 76).

No Nordeste, uma cultura que usada desde muito pelos agricultores (ou pecuaristas) familiares e que sustenta toda sorte de gado nos perodos mais crtico de secas as quais muitas vezes duram anos a palma forrageira (Opuntia sp.). Uma cactcea que, de forma caracterstica dessa famlia botnica, sobrevive aridez mediante as suas estratgias fisiolgicas (armazenamento de gua, metabolismo CAM, atrofiamento das folhas em espinhos etc) e que naturalmente serve de alimento aos animais.

H especificamente nessa regio para o setor pecurio uma certa dificuldade (entre tantas!) que se refere a um carter de ordem tecnolgica e prtica, que uma colheitadeira de palma forrageira disposio no mercado.

De fato, se considerarmos somente o aspecto tcnico de construo da mesma, veremos que h algumas limitaes de ordem tcnica como o corte da palma e deslocamento do material picado da mquina ao vago, alimentao do material atravs de esteira, espaamento padro ideal da cultura a campo, cultura em rea destocada, variedade de palma forrageira mais adequada, robustez do conjunto trator x implemento e velocidade de corte.

J para reas mais abastadas no tocante regularidade de chuvas e mdia pluviomtrica bem definida, as colheitadeiras de feno e sua embalagem em fardos de cerca de 20 kg so as mquinas mais utilizadas por pecuaristas de maior porte, embora existam mquinas com uma grande capacidade de confeco e transporte de feno (em rolos).

De uma forma geral, medida que novas necessidades forem surgindo, tambm surgiro novas respostas tecnolgicas da mecanizao, desde claro, que haja uma viabilidade de mercado, mas que, de forma absoluta, v-se uma forte tendncia de incorporao da mecanizao pecuria brasileira.

1.1.2. A trao animal e os dias de hoje

Com o advento da mecanizao, houve um incremento da produo agrcola e o uso intensivo das mquinas, muitas vezes, substituiu o trabalho dos animais nas atividades rurais, predominantemente nas grandes propriedades.

Contudo, alguns produtores (na sua maioria, de pequenas propriedades agrcolas, minifndios e mdias propriedades) em tarefas especficas, fazem uso da trao animal, com vistas reduo de danos operacionais, que influem no nvel de compactao do solo, ou onde o emprego da mquina no vivel ou no obtm resultados satisfatrios, seja pelas dimenses das parcelas trabalhadas, pelo relevo ou at mesmo pela no disponibilidade de capital para aquisio de maquinrio.

Atualmente, em pases como a China, nas regies montanhosas rizicultoras, onde a mecanizao com o uso de mquinas autopropelidas (tratores) impraticvel, os bufalinos continuam sendo utilizados e realizam as tarefas com perfeio (j existe um maior nmero de tratores na agricultura chinesa, devido abertura econmica que esse pas vem realizando na ltima dcada, do sculo XX, mas que o emprego da mo de obra ainda significativo, o que desejvel do ponto de vista social, j que a China um pas superpopuloso). Na ndia, os bovinos so reverenciados como sagrados e comumente utilizados para diversas atividades, como auxiliadores do homem nas suas tarefas cotidianas.

A tabela seguinte (tabela 1) ilustra o rendimento de algumas operaes mecanizadas utilizando-se a trao animal e a trao mecnica. No pretendemos contudo, com essa tabela, fazermos apologias ao emprego da trao mecnica, conforme foi discutido no item de crticas mecanizao agrcola. Acreditamos que cada produtor tenha uma necessidade diferente em relao ao modo de produzir, cabe somente ou ao tcnico responsvel ver a real necessidade de aquisio de mquinas, principalmente no tocante ao custo-benefcio de semelhante empreitada

Tabela 1 Rendimentos de algumas operaes agrcolas com trao animal e mecanizada.

OperaesTrao animal

- Animal utilizado -Trao mecanizada

Faixa de potncia (cv) para tratores de pneus

Mula1 boi1 junta de bois61-6373-77

Rendimento (ha/turno*)

*considerando um turno (dia/de servio) de 6 horas de trabalho

Arao

0,37-0,451,2 2,42,4 3,6

Gradagem--2,079,6 12,06,0 12,6

Plantio1,90--2,4 6,62,4 7,8

Cultivo1,60--

Sulcamento -1,2-

1.1.3. Aspectos da mecanizao agrcola:

Devido ao crescimento populacional, naturalmente a demanda por alimentos, cresceu e tanto a produo quanto produtividade tiveram que acompanhar esse crescimento. Esse aumento do consumo acompanhou um supervit de produo agrcola baseada na utilizao do maquinrio. O nmero de trabalhadores urbanos tornou-se muito superior aos do campo. Em 1940, a relao entre o nmero de pessoas da cidade e do campo era de 4,24 para 1. Em 1980, era de 9,4 pessoas para um trabalhador (SILVEIRA, 1989). Ou seja, um homem teria que abastecer de alimentos, praticamente dez outros.

inquestionvel o papel da mecanizao agrcola hoje, bem como o papel da agricultura moderna na sustentao da populao atual.

A mecanizao agrcola vem, portanto, aumentar os nveis de produo e o rendimento do trabalho no campo (Quadro 1).

Quadro 1 - Produtividade de um homem com alguns implementos agrcolas

Pasto cortado em um dia de trabalho

Equipamentos

rea (m2)

quantidade (Kg)vacas alimentadas

Foice manual

1.200

480

1

Alfanje manual

2.520

960

2

Segadora tracionada

por animal

40.000

16.000

40

Segadora acoplada

a trator

80.000

32.000

80

Fonte: SILVEIRA (1989)Pode-se observar, no quadro acima, que a eficincia de um servio realizado por um homem, em relao a um mesmo servio realizado por um animal tracionando um implemento e tambm a um trator acoplado a uma segadeira.

Se compararmos as trs situaes, considerando a utilizao por este homem de um equipamento que lhe permita um melhor rendimento, dentre os dois equipamentos comparados (uma foice e um alfanje manual), veremos que o rendimento do servio, no que se refere rea segada, inferior cerca de 16 vezes ao mesmo servio realizado pelo animal e cerca de 32 vezes inferior ao rendimento obtido pelo trator acoplado segadeira. J no que concerne quantidade de volumoso disponvel alimentao das vacas, esses valores so maiores, onde o trabalho realizado pelo homem com uma ferramenta simples produziu forragem suficiente para alimentar apenas 2 vacas, enquanto no mesmo perodo de tempo, o conjunto trator x segadeira obteve forragem suficiente para alimentar 80 vacas. Graficamente, de acordo com o quadro anterior teremos expressa a seguinte situao:

Grfico 1. Rendimento mdio comparativo entre o trabalho humano, o trabalho utilizando a trao animal e o trabalho mecanizado (em nmero de vezes, o trabalho realizado por um homem utilizando apenas o esforo prprio e uma ferramenta simples e os demais tratamentos usando segadeiras trao animal e mecnica).

So necessrios, portanto, para fazer o mesmo servio realizado pelo conjunto trator x segadeira, utilizando o alfanje manual, at 80 homens. V-se ento que, a quantidade de trabalho realizado pelas mquinas agrcolas superior, em muito, ao trabalho feito utilizando-se apenas a mo de obra humana.

Estimava-se nas dcadas 60/70 do sculo passado, uma relao de oferta/demanda para o futuro, de protenas (animal/vegetal) e fibras, tendo a demanda maior que a oferta. Nesse mesmo perodo, apregoou-se a chamada revoluo verde , com base no consumo por parte da agricultura de quantidades maiores de insumos, como uma resposta a ento suposta e inevitvel crise de alimentos.

Segundo alguns autores, poderia haver um colapso na agricultura, em funo de no se obter uma produo que satisfizesse a demanda por alimentos. Essa teoria foi derrubada, em previses para um futuro prximo.

Existem algumas controvrsias na literatura acerca desse fato, mas o que todos concordam que, atualmente, h alimentos suficientes para todos os povos do mundo; o que no existe uma distribuio desses alimentos, criteriosamente e de forma igualitria, o que evidencia a fora dos grandes blocos econmicos, das grandes empresas de capitais internacionais (ou transnacionais, como atualmente denominam-se) e principalmente os pases ricos, com vistas ao protecionismo de suas economias, em detrimento da fome e misria de muitos.

OBJETIVOS DA MECANIZAO AGRCOLA:

Os objetivos primrios da mecanizao no campo so, segundo BARGER et alii (1966):

2. Aumentar a produtividade do agricultor;

3. Modificar o aspecto do trabalho agrrio, tornando-o menos rduo e mais atraente.

4. Permitir a execuo do trabalho agrcola, de uma forma mais rpida, sem, entretanto, comprometer a qualidade dos produtos obtidos e, sobretudo, melhorar a qualidade de vida do agricultor.

A mecanizao e a agricultura moderna

O setor agropecurio no Brasil vem sendo o responsvel desde as ltimas dcadas do sculo passado, pelo supervit na balana comercial brasileira. Houve um incremento da produo do setor primrio da economia nos ltimos 15 anos de cerca de 150%! Esse setor foi o responsvel pelo saldo positivo na balana comercial da ordem de 12 bilhes de dlares, no ano de 2002, ano no qual o volume movimentado pelas exportaes brasileiras de produtos agrcolas foi de aproximadamente 25 bilhes de dlares.

Diversos fatores contriburam para uma situao to favorvel. As fronteiras agrcolas expandiram-se (principalmente para os cerrados), graas ao melhoramento gentico, atravs da obteno de cultivares adequados s diferentes regies do Brasil, o que permitiu sobremaneira o crescimento da fronteira agrcola, principalmente de gros, destacando-se a soja e o milho.

Um fator decisivo tambm foi o manejo de solo, a tecnologia da calagem dos solos do cerrado, para correo da acidez e o desenvolvimento do sistema de plantio direto colaboraram sobremaneira, no crescimento das fronteiras agrcolas do Brasil, confirmando a propenso natural do Brasil: a de ser o maior celeiro agrcola do mundo!

No tocante fruticultura, o surgimento de novos permetros irrigados, tambm contribuiu na expanso das fronteiras agrcolas (Vale do So Francisco, Vale do Au - RN, permetro irrigado de Minas MG, do Mato grosso, entre outros).

Outros aspectos no menos importantes, como a modernizao dos tratores agrcolas e dos implementos com o conseqente aumento da frota de mquinas agrcolas nos ltimos anos, tiveram papel relevante na elevao dos ndices de produo agrcola, conforme abordado na pgina seguinte em que se v na tabela 2, o crescente aumento da frota agrcola e a subseqente modernizao da frota brasileira.

Alm disso, segundo economistas, alguns fatores econmicos foram fundamentais para o favorecimento do agronegcio, como a abertura de novos mercados externos (embora o protecionismo tributrio de alguns pases ricos, como os EUA, prejudique o volume de exportaes, principalmente de pases em desenvolvimento, como o Brasil, a China, Argentina, Mxico, entre outros) com a formao de blocos econmicos que comeam a se consolidar, a estabilidade da moeda brasileira, a desvalorizao do dlar em relao ao euro, observada desde o ltimo semestre de 2003, o que torna a agricultura brasileira mais competitiva, e por fim, os altos ndices de produtividade alcanados principalmente pelos sojicultores do centro-oeste, com ndices superiores, inclusive, a de outros grandes produtores agrcolas, como os norte-americanos.

Toda essa situao (frisemos mais uma vez, isto) ilustra a enorme potencialidade brasileira em se tornar importante celeiro mundial na produo de alimentos, no s de origem vegetal, no tocante aos gros, como tambm em atividades pecurias; seja a avicultura, a bovinocultura de corte (explorao do modelo de produo de carne exclusivamente em regime de pasto, ou semi-confinado o chamado boi verde e do rastreamento da carne, ponto no qual o Brasil detm j tecnologia e know-how bem avanados, superiores inclusive a muitos pases tradicionalmente produtores de carne).

A situao da mecanizao agrcolaTabela 2. Frota brasileira de tratores de roda 1960/2001

ANO

FROTA DE TRATORES DE RODAS (Unidades)REA CULTIVADA

(1.000 ha)NDICE DE MECANIZAO AGRCOLA

196062.68426.672410

196576.69131.637413

197097.16034.912359

1975273. 85241.811153

1980480.34047.64199

1985551.03649.52990

1990515.81547.66692

1995481.31650.022104

2000450.00053.300118

2001430.000 *53.200124

* Estimativa

FONTE: ANFAVEA (2003)

A tabela 2 mostra, conforme j dito anteriormente, que a frota brasileira de tratores vem crescendo ao longo dos anos.

Segundo dados da ANFAVEA, o tempo de uso dos tratores vem diminuindo. A frota brasileira est mais nova, com idade prxima aos 12 anos de uso, idade menor do que dados ilustrados na literatura, idade a qual ultrapassava os 15 anos (dados da dcada de 70). Essa renovao se deu graas melhora nos preos dos commodities e aos grandes volumes comercializados nas duas ltimas dcadas, o que aumentou o capital disponvel dos agricultores e pecuaristas, bem como os financiamentos para aquisio de novos tratores e implementos, ou at de tratores usados, seja atravs de programas oficiais ou de iniciativas de bancos particulares, tendo estes ltimos, aberto linhas de crdito especficas para a aquisio de maquinrio, em algumas regies, principalmente as de maior concentrao do complexo soja-milho-algodo.

Dados referentes ao volume de capital da safra 2003/2004, refletem uma melhora significativa em termos de capitalizao do setor agropecurio. Segundo a CNA (Confederao de Agricultura e Pecuria in: GLOBO RURAL;2004) na safra de gros de 2003, o montante necessrio como verba de custeio era de 95 bilhes de reais. Desse total, o governo liberou 32 bilhes de reais (um volume de verbas recorde, at ento). Do restante, 35 bilhes foi obtido de capital transnacional (atravs das j conhecidas, compras antecipadas dos commodities por empresas importadoras estrangeiras). Cerca de 28 bilhes de reais para custeio foi proveniente do desembolso dos prprios agricultores, o que, sem sombra de dvidas reflete uma excelente capitalizao do setor.

Se por um lado, a agricultura familiar a grande mantenedora da produo agrcola para o mercado interno, notadamente na produo e abastecimento dos mercados nos centros urbanos e no interior do pas, respondendo por mais da metade de alguns gneros bsicos, como o feijo, com a participao macia da produo em pequenas reas, por outro lado, a agricultura agroexportadora, vem sendo, desde a ltima dcada do sculo passado, a mola mestra no supervit da balana comercial e importante setor do PIB nacional. De acordo com diversos autores, no fosse o setor agropecurio, com o crescimento pfio dos outros setores, a economia brasileira teria sofrido um duro golpe nos ltimos anos do sculo XX e primeiros anos do sculo XXI, devido essa estagnao dos outros setores da economia (indstria, servios e comrcio). Segundo a CNA (in: GLOBO RURAL, janeiro de 2004), o PIB agrcola subiu 13% em 2003, mediante uma participao de 31,5% do agronegcio no PIB nacional.

A capitalizao dos agricultores vem se refletindo na compra de equipamentos e maquinrio novo. A NEIVA, fabricante de avies agrcolas, previa uma venda de no mximo 28 aparelhos para o ano de 2003, ao preo de U$ 219 mil (ou cerca de R$ 650 mil), vendeu 56 aparelhos (GLOBO RURAL, janeiro de 2004), j na ltima Exposio e feira de vulto nacional do setor agropecurio, em 2007, com o reaquecimento e nova perspectivas para o lcool, no mbito mundial (provocado pela presso da comunidade cientfica internacional e a mdia na busca pela substituio dos combustveis fsseis pelos biocombustveis) houve uma procura considervel pelas colheitadeiras de cana. O quadro 2 (pgina seguinte) ilustra o aumento nas vendas de tratores agrcolas, considerando, inclusive um aumento de 5% no volume de vendas de tratores novos para 2003, o que chegar, segundo tal estimativa, a cerca de 45 000 unidades. S no primeiro trimestre de 2003 foram vendidos pouco mais de 8 000 unidades.

Tais dados ilustram que h uma procura maior por tratores novos e, conseqentemente, uma renovao da frota agrcola do pas. Segundo as informaes obtidas no Site do GLOBO RURAL (2003), essa renovao se d graas ao programa federal o MODERFROTRA. Alm disso, o aquecimento no tocante modernizao da frota agrcola brasileira aquece tambm um outro setor da economia: a indstria. Dados no oficiais de janeiro de 04 mostram um crescimento de cerca de 5% da indstria do RS, principal plo de produo de mquinas agrcolas.

Entretanto, com os cortes oramentrios promovidos pela equipe econmica do governo, para atingir a meta de 4,5% de supervit, o MODERFROTA, bem como outros planos, sofreu cortes de verbas e um aumento da taxa de juros que propiciou uma procura menor pelos agricultores e a conseqente reduo de 10% do mercado de mquinas agrcolas no ano de 2003. Apesar disso, a economia do Brasil superou as metas, com ndices prximos a 6% de supervit primrio em 2003.

Grfico 2 Vendas de mquinas agrcolas no mercado brasileiro nos ltimos quatro anos. Fonte: GLOBO RURAL (2003).

Logicamente, a aquisio de equipamentos e maquinrios andam juntos com dois pontos: a viabilidade econmica e o crdito. O crdito especfico para a aquisio de maquinrio (o Moderfrota, citado anteriormente) mais um aspecto especfico do crdito como um todo. De acordo com BITTENCOURT (2003,), o crdito o motor para o desenvolvimento do pas, pois favorece a realizao dos projetos. Ainda segundo esse mesmo autor, nas populaes rurais, especialmente as de baixa renda, o crdito rural pode desempenhar um importante papel na gerao de emprego e renda, pois so inmeros os projetos que podem ser desenvolvidos a partir da terra e do capital social existente. De fato, esse aspecto fica ainda mais definido na agricultura mais capitalizada, que tem uma dinmica mais definida e at arrojada em relao ao mercado.Quanto ao crescimento e a expanso do agronegcio no vis ambiental e social, principalmente no que se refere sustentabilidade econmica ambiental de tais empreendimentos agropecurios, existem pesadas crticas, frisemos que reais, do ponto de vista de impactos ambientais e dficit social, no tocante questo agrria, principalmente no que se refere s condies marginais a que historicamente os agricultores familiares foram e continuam sendo submetidos. Tais questes referem se principalmente ao acesso polticas pblicas efetivas e, de um ponto de vista prtico, o acesso ao crdito e aos meios de produo (leia-se: mecanizao voltada para os pequenos agricultores ou agricultores familiares).

Claro que essa poro (a maioria expressiva do ponto de vista quantitativo dos imveis rurais, mas quando confrontados com a rea mdia por imvel, v-se que so pequenos produtores at 100 ha) tem sua forma de produzir e seu mercado natural, que fundamentalmente a produo de gneros alimentcios para o mercado interno, em contraposio ao agronegcio, que na sua quase totalidade volta-se para a exportao ou ao plo agroindustrial brasileiro.H um seno muito relevante no que se refere expanso das fronteiras agrcolas no Brasil, principalmente no que se refere ao avano do desflorestamento do cerrado e matas de transio (pr Amaznia), principalmente pelo efeito mais srio que feito atravs das queimadas ilegais, que confere ao Brasil um grande ndice de desprendimento de carbono na atmosfera, o que o inclu no somatrio dos pases mais poluidores, quando se avalia a questo do aquecimento global e efeito estufa.

De forma objetiva, trataremos destas questes no tpico a seguir, mesmo que possamos ser negligentes ou no esgotarmos todos os aspectos levantados nos dois ltimos pargrafos, j que se remete a uma questo de ordem mais complexa: a questo agrria; objeto de discusses interminveis entre os gurus da economia, sociologia e / ou at de linhas doutrinrias de esquerda ou de direita; nos atrevemos a pelo menos esboar alguns aspectos que julgamos pertinentes e que no seramos mercadores cegos e surdos ao ponto de negligenciar algumas crticas mecanizao. Pelo contrrio, julgamos at necessria essa crtica como uma forma de nos precavermos das unanimidades perniciosas e buscarmos trazer debates que podem sobremaneira enriquecer e auxiliar na busca por uma poltica pblica, ou mais efetivamente, prticas de campo que visem contornar ou agir sobre tais problemas. Principais crticas mecanizao agrcola:

Existem crticas mecanizao agrcola, principalmente no que se refere s questes de carter ambiental. Tal posicionamento lastreia-se na premissa de que o emprego de maquinrio agrcola corresponde s grandes reas agrcolas, de monocultivos, de uso indiscriminado de agrotxicos, de indiferena natureza biolgica das produes e das relaes ecolgicas pr-estabelecidas, hoje sustentadas pela agricultura orgnica, biodinmica e outras demais correntes conservacionistas que deixaram de ser consideradas como cincia militncia e passaram a ter um enfoque muito significativo na prtica, inclusive sendo aproveitado por uma quantidade razovel de produtores como estratgia de mercado ou nicho de mercado (produtos orgnicos, boi verde turismo rural, produtos agroindustrializados com apelo ecolgico etc), esse enfoque tem ganho espao na mdia principalmente no que se refere s conseqncias do desmatamento no quadro ambiental (efeito estufa, principalmente).

Entretanto, h, sobretudo, para sermos mais especficos - a questo do uso incoerente da mecanizao, gerando principalmente problemas de estrutura de solos, atravs da compactao de camadas subsuperficiais (o chamado p-de-grade e/ou o p de arado), interferindo no desenvolvimento do sistema radicular das culturas e na infiltrao dgua no solo (CASTRO et alii,1986), em casos extremos, eroso de moderada a forte e acelereo de processos erosivos significativos, como as voorocas em micro regies do sul do pas que avanaram sobre reas antes produtivas, hoje praticamente estries.

H ainda, os que afirmam que a empresa agrcola altamente mecanizada excludente, do ponto de vista social no tocante oferta de emprego no campo.Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o Brasil o 5 pas mais populoso do mundo, com uma populao de 169,9 milhes, em 2000 e 177,9 milhes em 2003 (GAZETA MERCANTIL, 2003). Entretanto, alm do gravssimo quadro de m distribuio de renda (o Brasil , portanto, um pas de contrastes) h tambm o problema da m distribuio demogrfica, pois segundo dados do prprio instituto, 81,25% dos habitantes concentram-se na zona urbana, sendo desse percentual, uma grande maioria morando nos grandes centros, ocupando apenas 5% do territrio nacional.

Grfico 3 Populaes rural e urbana do Brasil. Fonte: GAZETA MERCANTIL (2003).

Esse aspecto remete-nos ao questionamento de diversos fatores scio-econmicos, como o modelo desenvolvimentista exercido por dcadas, mas sem planejamento. Alm disso, um fenmeno pouco percebido, mas incmodo; que no remete s aos nordestinos, menos favorecidos nos aspectos de fixao terra, devido aos fatores hostis do prprio ambiente (seca, enchente) e que ainda uma realidade: o xodo rural, j discutido, inclusive por Caio Prado Jnior e outros pensadores. Constitu uma problemtica que reflete causas mais profundas que uma mera observao superficial possa vislumbrar: remete-se questo agrria, a falta de polticas de crditos mais fortalecedoras da agricultura familiar, j que o agronegcio historicamente foi mantido atravs da poltica agrcola e seus instrumentos (aes reguladoras de preo, crdito, incentivos fiscais, etc) e ainda se mantm dessa forma.MACIEL (2000) afirma que, nos pases ricos, devido boa estrutura econmica e social, no h uma sada to significativa de mo de obra do campo. A mo -de obra que migra do campo cidade, em sua maioria, absorvida pela zona urbana; transferindo-a para outros setores da economia, ou ainda, atravs de programas de subsidio s novas ou tradicionais atividades agrcolas, com vistas fixao das famlias no campo, uma vez que o custo social e econmico de se manter uma famlia rural bem menor do que mant-la na cidade. V-se que o crdito pode ser uma poltica pblica interessante, como fecundador da produo no campo e fixao das famlias rurais, discutidos em nossa tese de especializao:O atraso na estrutura agrria e at mesmo na forma de produzir, fortalecido pelo baixo nvel tecnolgico empregado nas propriedades diferiu e em muito do perfil das farms americanas, que, desde fins do sc. XIX j contavam com elementos que facilitavam a produo, no s no mbito estritamente produtivo, como tambm elementos facilitadores dos projetos, como o acesso ao crdito rural, essa poltica agrcola parcial atrasou sobremaneira o acesso ao crdito pela agricultura familiar

(Souza Neto, 2007,)Esses aspectos negativos de excluso de uma maior parte da mo-de-obra leva-nos a certeza de que toda tecnologia, toda novidade ou modelo que se estabelece, surge em detrimento de outro j existente, e que as alteraes provocadas por toda e qualquer atividade humana, mesmo de cunho to nobre e essencial como a agricultura, merece ser feita com cautela, evitando-se os extremismos que comprometem o bom andamento de qualquer atividade produtiva.

Tm-se ento uma faca de dois gumes: de um lado uma produo maior, com excluso de parte da mo-de-obra, de outro uma desacelerao da produo, ao se optar pela reduo do emprego das mquinas na agricultura. Esse paradigma, portanto, no vivido somente no campo, mas tambm em todos os setores produtivos. O homem ainda no se adequou velocidade das mudanas que ele prprio vem criando e restam-lhe ainda muitas perguntas sem respostas imediatas.

Abaixo transcrevemos um texto, do site da Rural News (junho de 2001) que fala da mecanizao agrcola:

O campo nunca mais foi o mesmo desde que o homem comeou a inventar mquinas que o auxiliassem no trabalho com a terra. Isto um fato de tamanha importncia para a humanidade quanto as grandes descobertas, invenes e revolues que ocorreram em qualquer poca do desenvolvimento humano. Podemos comparar revoluo industrial, inveno do computador ou s grandes navegaes que desbravaram o mundo a partir do sculo XV. No nem um pouco exagerado de nossa parte tais afirmaes, pois a mecanizao do campo uma das grandes responsveis pelo desenvolvimento humano. Sem ela, o prprio crescimento da populao do planeta estaria em risco, bem como a qualidade de vida de todos ns. (...)

Mas o que faz, exatamente, a mecanizao? Ela ajuda o produtor agrcola a preparar o solo para a plantao, fazer a manuteno das lavouras, transforma o processo de plantio e colheita em operaes rpidas e eficientes, sem falar em uma dezena de outras aplicaes. Arados, colheitadeiras e tratores, entre outros, so as grandes ferramentas de trabalho da agricultura moderna. Alis, o trator o smbolo da mecanizao na agricultura. Mais que um smbolo, poderamos dizer, pois o principal ponto de referncia para os ndices de mecanizao do campo. O que isso significa? Um pas ou regio considerada mais ou menos mecanizada, de acordo com o nmero de tratores em funcionamento; a qualidade da mecanizao medida pela idade da frota de tratores, ou seja, se grande parte da frota de tratores de uma determinada regio ou pas muito antiga, pode-se dizer que os investimentos na agricultura esto em baixa ou so insuficientes. A fabricao e o comrcio de maquinrio agrcola um mercado milionrio, controlado no Brasil e em todo o mundo por grandes empresas que atuam em dezenas de pases e so as responsveis pelo desenvolvimento das novas tecnologias que agilizam e melhoram a qualidade da produo agrcola em todo o planeta. Com o crescimento constante da populao mundial, seria impossvel a produo de alimentos numa escala crescente, da mesma ordem que o crescimento da populao. H algumas dcadas, se difundia a idia de que por volta do ano 2000 a produo de alimentos no teria acompanhado ao crescimento populacional e que o mundo estaria mergulhado numa grande fome. Isso s no ocorreu, principalmente, graas melhoria do aproveitamento das plantaes atravs da mecanizao e da melhoria das tcnicas de plantio. claro que todos sabem que vrias regies do mundo sofrem com a fome, mas isso no se deve a problemas com a produo de alimentos e sim a uma pssima diviso da riqueza mundial que faz com alguns pases tenham superprodues agrcolas enquanto outros no tenham como plantar e produzir alimentos suficientes para as suas populaes.Se observarmos um ou outro deslize nesse trecho, dever ser por uma falta de profundidade, j que, como dissemos, a lgica da agricultura familiar oposta do agronegcio e ambos, ao nosso ver, so necessrios, assim como a mecanizao sem sombra de dvida, uma ferramenta importante, sendo mais entranhada neste ltimo. Existem questes pois, que no so exclusivas ou pertinentes unicamente mecanizao agrcola, mas sim de uma conjuntura, de uma m ou at mesmo da falta de uma poltica agrcola em que, a questo social do uso das mquinas um, dentre muitos fatores que essa poltica no resolve .

lgico que o trator per si no o fator que agrava e ofende a agricultura familiar quando se discute mecanizao, seja no ponto de vista marxista ou weberiano, no importando essa anlise partidria; o ponto a discutir no a questo simplista de ter ou no ter tratores no campo...Isso nos parece ser j uma questo morta; o que se deve discutir o acesso dos pequenos agricultores essas tecnologias, ou tecnologias que se insira a partir delas e no sobre essas classes. Assim o uso coletivo e o financiamento associativo de mquinas, das movidas trao animal s colheitadeiras high tech nos parece que deveria obedecer uma lgica construtivista da mecanizao para os camponeses, a partir dos camponeses.Entretanto, aqui no nos caber dissertar sobre o cunho social que a implantao de novas tecnologias, como a mecanizao acarretou, acarreta ou acarretar, j que este assunto mereceria um tratado econmico - sociolgico, o que aqui no a nossa inteno, nem tampouco fssemos conduzir semelhante discusso de uma forma to apropriada quanto o fazem os socilogos, historiadores, militantes e economistas, esta discusso superficial serve apenas para que se tenha um conhecimento mnimo de questes como poltica agrcola, incluso tecnolgica, distribuio fundiria, entre outros aspectos que requerem uma leitura muito mais aprofundada das mesmas, o que no , infelizmente o eixo deste livro.

Quanto aos aspectos ambientais, no que concerne ao uso intensivo de maquinrio agrcola, junto com os pesticidas por exemplo, em fazendas de produo orgnica, como o caf orgnico, o maquinrio no foi abolido; seu uso foi racionalizado com algumas adaptaes. Segundo MACIEL (2000), em fazendas citrcolas, vem ocorrendo inclusive o contrrio, para propriedades que buscam a produo orgnica, velhos equipamentos, como os distribuidores de caldas, vm sendo reutilizados, substituindo os pulverizadores e atomizadores. Tais equipamentos esto sendo utilizados para a distribuio de caldas, como a calda sulfoclcica, no combate de pragas e doenas da cultura, o que sensivelmente mais seguro aos operadores e ao meio ambiente.Contudo, esse mesmo autor afirma que para o pequeno produtor rural, a aquisio de maquinrio agrcola desvantajosa, pois um investimento muito alto, sendo prefervel que o pequeno produtor alugue as mquinas para o preparo das suas reas agrcolas (o que destoa portanto da nossa discusso de aquisio no sentido estrito, mas que se for tomado no sentido coletivista, est contemplada, j que os custos passariam a ser redistribudos entre eventuais associados).

MACIEL (op. cit), justifica ainda essa atitude no fato de que, a depreciao do maquinrio agrcola torna invivel sua aquisio para a realidade dos minifndios, alm do retorno econmico no ser satisfatrio.

Uma caracterstica peculiar da agricultura familiar que nessas pequenas propriedades as mquinas no substituem totalmente o homem. No h uma dependncia delas para que se possa produzir, como acontece nas grandes propriedades rurais.

Quanto ao solo, no h dvidas que existem impactos negativos, mas que so por vezes plausveis de serem evitados, ou minimizados, pois quase sempre so frutos do desconhecimento das relaes Cultivos x Solos, da falta de um planejamento ambiental, ou ainda, muitas vezes a prpria situao do agricultor o obriga a revolver o solo seco. Esses fatores que podem contribuir na diminuio dos impactos edficos seriam o calendrio de plantio, ou a disponibilidade de maquinrio (um problema para quem depende de maquinrio alugado ou no dispe de maquinrio suficiente para o preparo do solo na poca mais adequada).

Um nmero excessivo de passagens, operaes de revolvimento do solo, como as gradagens ou araes feitas abaixo ou acima do ponto de arao (Ponto de umidade ideal no solo para as atividades de revolvimento e preparo do solo) contribui para, aps cultivos sucessivos ao longo dos anos, a formao de camadas subsuperficiais de solo adensadas (o chamado p de arado e o p de grade).

A partir das ltimas dcadas do sculo passado, comeou-se a pensar mais a respeito dos danos sofridos pelos solos frente ao uso do maquinrio agrcola, geralmente feito at de uma forma despreocupada com os possveis efeitos sob e sobre o solo.

Na dcada de 60, iniciou-se nos EUA, correntes de agricultores que realizavam o chamado preparo mnimo do solo ou das sementeiras (ALDRICH & LENG, 1974), com vistas reduo dos danos estruturais aos solos agrcolas.

Sob essa problemtica, no Brasil, em algumas regies no somente adotaram-se sistemas de preparo mnimo do solo, como tambm desenvolveram se e se implantaram sistemas de manejo de solo que sequer o revolvem como acontece no sistema convencional: o chamado sistema de plantio direto ou plantio na palha (SPD). Nesse sistema, o manejo dos resduos culturais mantm camadas de cobertura vegetal para evitar a eroso.

A adubao verde, na qual incorporam-se adubos verdes ao solo (geralmente leguminosas), a rotao de culturas, o consrcio de culturas, a observao do ponto ideal de arao (umidade do solo), o uso alternado de implementos e de diferentes profundidades de corte (EMBRAPA, 1996), e por fim medidas drsticas como a descompactao do solo (escarificao e subsolagem), so procedimentos utilizados para que sejam reduzidos os impactos negativos do uso da mecanizao aos solos agrcolas. inegvel, porm, que desde o advento do uso dos tratores nas propriedades agrcolas, os ndices de produo tornaram-se gigantescos. Produz-se muito mais, por unidade de rea do que antes da introduo do maquinrio no campo (aspecto defendido pela escola econmica marginalista).Produtos agrcolas oriundos de reas mecanizadas, portanto, no deixam a desejar, em termos de qualidade, nem em quantidade produzida, sobretudo, as mquinas, quando trabalham com culturas rentveis e que, hoje em dia, necessitam do uso intensivo da mecanizao, como as lavouras de soja, por exemplo, reduzem drasticamente os custos de produo, em todas as fases da cultura, e, como dizem no meio rural, acabam se pagando.

1.2. Conhecendo o trator:

importante que se conhea o trator. necessrio que se tenha conhecimento dos princpios de funcionamento dos seus rgos e sistemas, dessa forma, pode-se remeter mais rapidamente aos diagnsticos primrios de mau funcionamento de algum rgo ou que se tome s devidas precaues ao operar o trator, de forma que ele venha render ao mximo no seu servio. A seguir descreveremos o trator, seus principais rgos, sistemas e alguns cuidados (manuteno). Veremos mais tarde alguns desses aspectos.

1.2.1. Princpios bsicos de funcionamento de um trator agrcola:

Os primeiros tratores agrcolas eram movidos por motores a vapor, (motores de combusto externa), no entanto, aps a II guerra mundial, passou-se a utilizar somente motores de combusto interna. A partir de meados do sculo XX, os motores do ciclo Diesel passam a ser os mais usados.

Imagem 2. Incio do sc. XX -Trator movido a vapor (motor de 40 hp) tracionando 65 toneladas. Os motores exploso interna passaram a substituir os motores a vapor a partir de 1870, com os motores de ciclo Otto. Esses tinham como caractersticas serem de menor tamanho, mais leves e com o conveniente de precisar de um combustvel que no ocupava tanto espao como a lenha ou o carvo. No incio do sc.XX, em 1911, o francs Rudolph Diesel exibiu em Paris um motor que tinha a proposta inicial de ser movido a qualquer espcie de leo, motor esse que passou a levar seu nome. Dizia Diesel que : o motor diesel pode ser alimentado com leo vegetal e ajudar consideravelmente, o desenvolvimento da agricultura nos pases que o usaro. A partir do perodo ps-segunda guerra, foram feitas algumas pequenas modificaes pela indstria a qual adotou como combustvel o leo diesel, tendo este tipo de motor diesel difundido-se pelo mundo inteiro, juntamente com a popularizao do trator agrcola.

Como se v, os motores diesel desde a sua concepo, estavam aptos a utilizarem leos vegetais, hoje intitulados de Biodiesel e nos quais no Brasil, comea se a se reinvistir, principalmente do plantio de oleaginosas, com destaque para a mamona, particularmente no nordeste, regio a qual j foi a maior produtora de mamona, e que o prprio Brasil j se destacou como o maior produtor mundial, tendo perdido o posto para a ndia. Hoje o Brasil s produz cerca de 85 mil toneladas, contra 500 mil da ndia (a produo nacional de mamona j chegou a 393mil toneladas, das quais 300 mil provinham somente da Bahia). Um trator agrcola, portanto, apresenta diversos componentes, que em conjunto formam os sistemas que permitem essa mquina realizar as mais variadas (e por que no dizermos, rduas) tarefas no campo, de forma satisfatria, atendendo s mais diversas exigncias de seu projeto. Para que possamos entender como funciona um trator e assim, cuidar para que essa to importante e cara ferramenta seja aproveitada ao mximo. Veremos por partes como se compem seus sistemas e rgos, para ao final, termos uma viso geral de como funciona e de como devemos cuidar das operaes e manutenes do trator.

1. 2. 2. Definio de motor:

O motor um conjunto de peas mecnicas, mecanismos (e sistemas mecnicos), alm de aparelhos eltricos que funcionando harmonicamente e conjuntamente, produzem a fora necessria para o deslocamento do trator e o acionamento de seus sistemas, a chamada fora motriz.

Os motores dos tratores agrcolas dividem-se em trs partes, ou reas, denominadas cabeote, bloco e o carter.

O cabeote a parte superior do motor e serve para fechar o bloco dos cilindros. Nele se encontram as cmaras de exploso, com a base para as velas (Motores de ciclo OTTO), o balancim e os conjuntos de vlvulas com os tuchos.

O bloco do motor a parte intermediria, ou o miolo, por assim dizer; aloja em seu interior os cilindros, os pistes, as bielas e a rvore de manivelas.

O carter, localizado na parte inferior do motor, funciona como um reservatrio do leo lubrificante, como dispersante de calor excessivo do lubrificante, alm de vedar a parte inferior do motor.

O eixo comando de vlvulas e os tuchos comandam as vlvulas, comumente em nmero de 2 para cada cilindro, atravs do balancim. Comandam tambm as bombas, de gasolina, o distribuidor (esses ltimos s em motores de ciclo Otto).

Os motores, usando-se termos anlogos dissecao, possuem na sua anatomia e organografia rgos internos e externos. Relacionamos a seguir os principais componentes ou rgos dos motores (relacionamos os motores de ciclo Otto ainda com carburador s para se entender o princpio de seu funcionamento):

Internos: volante, eixo de manivelas, pistes, bielas, engrenagens de distribuio motora, eixo e comando de vlvulas, tuchos, vlvulas e bomba de leo.

Externos: motor de partida, dnamo, bobina, distribuidor, regulador de voltagem, carburador, bomba de gasolina, velas e tubos de admisso (s motores Otto), ou para os motores diesel teremos a bomba injetora, tubos de distribuio de combustvel da bomba injetora, bomba alimentadora, sedimentador. Radiador, motor de partida, ventilador e acumulador so comuns a ambos os motores.

O bloco dos cilindros compreende a maior parte do motor e aloja os rgos internos e os cilindros. Dentro de cada cilindro existe o pisto (mbolo) que uma pea de ferro fundido ou alumnio que comprime ou succiona a massa gasosa no cilindro, de acordo com o seu movimento ou momento.

O motor de partida imprime ao motor a fora inicial que o gira, iniciando o seu funcionamento. Para os motores diesel, o esforo realizado pelo motor de partida muito maior em relao ao esforo realizado em motores de ciclo Otto semelhantes ou de mesma potncia, isso porque nos motores Otto, as taxas de compresso no so to elevadas quanto nos motores diesel, pois para o segundo momento motor, a exploso causada pela fagulha produzida pelo sistema eltrico atravs das velas, o que no ocorre nos de ciclo diesel, nos quais tem que haver uma compresso fortssima para causar o aquecimento da massa de ar e sua subseqente expanso no interior do cilindro pela adio de combustvel pulverizado atravs dos bicos injetores, gerando o trabalho motor e a reao em cadeia por assim dizer, nos outros cilindros.

A fora transmitida, inicialmente pelo motor de partida e subseqentemente pelo prprio funcionamento do motor transmitida em seguida ao plat, na caixa de embreagem e a partir da, ao sistema de transmisses.

Os tempos dos motores exploso

Os tempos do motor (diga-se de um motor 4 tempos) so: admisso, compresso, exploso e o escape ou descarga.

Figura 1 Esquema demonstrativo de funcionamento dos tempos do motor DIESEL: a figura mostra os 4 tempos motores: a ADMISSO, COMPRESSO, EXPLOSO e ESCAPE. Extrado de:CAMARGO (2004).

Admisso ou aspirao:

O primeiro tempo motor inicia-se quando a vlvula de admisso abre-se admitindo o ar para o interior do cilindro, no caso dos motores diesel, ou da mistura ar + combustvel, para os motores OTTO, mistura esta que foi previamente realizada pelo carburador ou pelo sistema de injeo de combustvel. Esse volume de gases aspirado para o interior do cilindro devido ao vcuo formado pelo deslocamento do pisto, para baixo, em direo ao chamado ponto morto inferior. Esse deslocamento simultneo abertura da vlvula de admisso, a qual fechada quando o pisto atinge o ponto morto inferior, impedindo que a mistura ou a massa de ar saia do interior do cilindro.

Como esto ligados rvore de manivelas, os pistes a cada movimento que realizam, movimentam a rvore de manivelas, a qual transmite o trabalho do motor at o volante e desse ltimo, para o sistema de transmisses e engrenagens. Assim como todos os outros tempos realizados na admisso, o cilindro ir girar a rvore de manivelas 180 (meia volta).

Compresso

O segundo momento ou tempo do motor a compresso, onde h inicialmente uma compresso da mistura ar + combustvel (somente para motores do ciclo OTTO), ou somente da massa de ar, que se aquece fortemente (motores do ciclo Diesel). Nos motores diesel, h uma alta taxa de compresso, pois para o prximo momento ou tempo, haver a queima do combustvel a qual feita devido ao superaquecimento produzido pela compresso fortssima da massa de ar nos motores diesel. A taxa de compresso terica a relao entre o volume do cilindro no incio da compresso e o volume no final da compresso. De acordo com (CAMARGO, 2004) essa relao em alguns motores diesel pode chegar 22:1, dependendo do projeto do motor.

Dessa forma, os motores diesel so construdos com mais robusteza que os outros de ciclo Otto, devido s grandes presses que esses primeiros iro suportar.

Exploso

Nos motores de ciclo OTTO, a mistura comprimida inicialmente sofre ignio, atravs da formao de uma centelha eltrica produzida nas velas, alojadas em uma antecmara no cilindro. Essa mistura explodindo empurra o pisto, que desce pelo cilindro. Esse percurso do pisto at sua posio final dentro do cilindro chama-se trabalho motor. O pisto empurra a rvore de manivelas mais meia volta (180).

Nos motores de ciclo DIESEL, no h centelha eltrica. O movimento do pisto, sendo forado para baixo no cilindro ocorre porque houve anteriormente uma compresso fortssima da massa de ar aspirada para o interior do cilindro, o que faz com que a massa gasosa se aquea. Esse ar aquecido e comprimido pulverizado com combustvel (leo Diesel) e h a exploso, que resulta tambm no chamado trabalho motor.

Escape ou descarga

O ltimo tempo a descarga ou o escape. Ocorre quando o pisto sobe do ponto morto inferior do cilindro empurrando a massa de gases resultantes da queima e ao atingir o ponto morto superior, as vlvulas de escape se abrem, permitindo que a massa de gases saia para o sistema de escape dos gases. Com o momento do escape, a vlvula de manivelas d mais meia volta. Ao todo, a cada ciclo (admisso-compresso-exploso-escape), a rvore de manivelas d duas voltas (720).

Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo OTTO:Nos motores de Ciclo OTTO, o Carburador o rgo responsvel pela mistura do ar + combustvel, que ir participar no primeiro tempo do motor, no interior do cilindro. Essa pea, contudo, encontra-se em desuso, tendo sido substituda pelo sistema de injeo eletrnica, que dispensa uma mistura prvia em um carburador, uma vez que a quantidade de combustvel necessria injetada diretamente, evitando uma mistura rica ou pobre, como acontecia freqentemente nos carburadores. Essa transformao foi decisiva em todos os fabricantes a partir da dcada de 90, do sculo passado, com os motores fabricados a partir de ento, somente com injeo direta de combustvel.

O Alternador produz uma corrente eltrica alternada, para as velas de ignio. Essa corrente eltrica recebida do gerador e/ou do acumulador (bateria, no caso da partida do motor), para produo da centelha eltrica nas velas de ignio.

As Velas de ignio esto alojadas no bloco do motor, nas cmaras de exploso dos cilindros. Produzem uma centelha, atravs de descarga eltrica recebida do sistema eltrico. Essa centelha ir queimar a mistura ar + combustvel e gerar uma exploso, movimentando o pisto dentro do cilindro.

Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo Diesel;

Para os motores Diesel, por ser de um processo diferente de queima do combustvel (atravs do pr aquecimento do ar), no ser necessria a fagulha e, portanto, as peas necessrias produo da mesma, como velas e alternador; so motores mais robustos e que teremos as seguintes peas especficas e rgos principais:

Bomba e bicos injetores: A bomba injetora responsvel pelo bombeamento do combustvel at os bicos injetores. Ela dever sempre estar bem regulada, pois a presso dada ao combustvel para que os bicos injetores possam pulveriz-lo adequadamente no interior dos cilindros deve ser a mais correta possvel, caso contrrio, haver problemas de funcionamento, desempenho e at de vida til do motor.

Como dito anteriormente, os pistes esto inseridos dentro dos cilindros como se cada cilindro fosse uma seringa e cada pisto fosse o mbolo de sua respectiva seringa. Os pistes, portanto, realizam movimentos ascendentes e descendentes que conforme sua situao e posio no seu curso, caracterizam os chamados tempos do motor. Nos cilindros, na parte superior deles, existem vlvulas denominadas de admisso e de escape, conforme a posio do pisto, essas vlvulas se fecham ou se abrem, permitindo ou no, a entrada ou a sada da massa de gases do cilindro. O movimento dos pistes transmitido ao volante do motor (engrenagem que liga o motor ao sistema de embreagens) porque os mesmos encontram-se fixados por um eixo tortuoso que aproveita todos os diferentes momentos dos pistes nos cilindros, transformando em movimento, que o faz girar no prprio eixo, transmitindo a potncia recebida ao volante, ao qual est ligado atravs da cremalheira.

A fora ou potncia do motor, verificada na tomada de fora, ou barra de trao, denominada de potncia nominal. Durante a transmisso do movimento do volante at os pneus ocorrem perdas, tanto atravs dos mecanismos internos, atritos, deslizamentos, como da dissipao de energia (transformao da energia cintica em calor. Um motor de 200 C.V. produz cerca de 125 000 Kcal/h, o qual dissipado, como calor excessivo pelo sistema de arrefecimento dos motores) (FAIRES, 1966), esse rendimento fica abaixo de 80%. (cerca de 65%) Rendimentos maiores s so conseguidos em motores eltricos (em torno de 90%).

Outra grande parte das perdas devem-se ao deslizamento dos pneus do trator com o solo. Dependendo dos solos, segundo SILVEIRA (1989), (bem como da lastrao) essas perdas ficam ao redor de 60%. Assim, um trator com uma potncia nominal de 65 hp s teria disponvel cerca de 36 hp na barra de trao. Um nvel mais tolervel de perdas seria em torno de 30%.

Existem diferenas marcantes entre um trator e um automvel, isso evidente, mas quanto ao motor, os motores dos tratores, quase unanimemente, motores de ciclo diesel, como dito anteriormente (vide pg. 31) so de uma construo mais robusta, devido s altas taxas de compresso internas, so tambm projetados para obterem alto torque mesmo operando em baixa rotao.

Alm do mais, as relaes de transmisso de potncia dadas pelo sistema de embreagens e transmisso, conforme ser visto no captulo pertinente a este sistema, formam uma gama de velocidades de trabalho e opes de fora de trao que tambm diferenciam os projetos dos motores agrcolas dos automotivos.

MRQUEZ (2003), transcreveu um estudo que comparou os motores de um trator New Holland (modelo 8670) e de um automvel Fiat (Stilo Abarth), ambos com a mesma faixa de potncia (125 Kw ou 170 c.v. - No captulo Anexos, fornecemos algumas tabelas de converso de unidades de medidas, inclusive os valores de quilowatts e cavalo - vapor), no qual o autor obteve as seguintes curvas caractersticas:Grfico 3 Curvas resultantes de ensaio comparativo entre um motor automotivo (Fiat Stilo) e um motor de trator agrcola (New Holland 8670). Fonte: MRQUEZ (2003).

Conforme as curvas caractersticas dos motores, observam-se nitidamente as peculiaridades de ambos. O motor do trator alcana seu maior torque em um giro muito mais baixo em relao ao motor do automvel (prximo s 2100 rpm), ao passo que a mxima potncia do automvel s obtida em muito mais alta rotao (cerca de 6000 rpm). Essa situao d ao trator uma grande reserva de torque, to necessria nas operaes agrcolas, principalmente as de tracionamento de cargas. J ao atingir to elevadas rotaes em pouco tempo, confere-se ao automvel uma elevada capacidade de acelerao e deslocamento rpido.CAPTULO 2

Os sistemas do trator

2. Os sistemas do trator

O trator , de um modo simplista, um conjunto de peas e componentes de vrios sistemas que atuam entre si. Analogicamente, podamos comparar tais componentes como rgos que, unidos em funes similares ou complementares, atuam harmonicamente ou de forma sistmica, fazendo com que o organismo (consideremos o trator, como tal) exera suas funes normalmente. Para uma simplificao do nosso breve estudo sobre os tratores, dividimos os seus trator, em sistemas de acordo com as suas respectivas funes e atuao no trabalho do mesmo. Concomitantemente, ilustramos as manutenes mais freqentes ou relevantes (embora todas as medidas referentes manuteno sejam importantes, algumas se sobressaem mais).

2.1. O sistema hidrulico

O sistema hidrulico de trs pontos assim chamado, pois leva o implemento acoplado em 3 pontos de engate no trator. Um sistema hidrulico consiste de parte ou de todos os componentes seguintes:

a) Bomba

b) Motor;

c) Vlvulas;

d) Conexes

e) Arrefecedores;

f) Reservatrio (de alimentao);

g) Acumulador (Energia armazenada);

h) Comandos;

O trator agrcola possui dispositivos que comandam, ou reagem diretamente no sistema hidrulico ou por controle remoto, quer pela disposio quer pelo senso de trao (IOCHPE/MAXION). No caso em que a demanda for maior que a capacidade da bomba, o acumulador, presente no sistema, armazena energia sob a forma de gases comprimidos, tornando assim, disponvel um suprimento extra de fluido hidrulico de alta presso. Um acumulador permite aumentar, por um perodo breve de tempo, a potncia de sada do sistema hidrulico, sem ter aumentado ou sobrecarregado a capacidade da bomba (MIALHE, 1974).

O sistema hidrulico comandado por uma bomba ISYP e uma tampa hidrulica. A bomba ISYP produz o fluxo e a presso do leo. A tampa hidrulica aloja o cilindro de levante, os quadrantes de comando e o eixo de levante.

Operao do sistema hidrulico de trs pontos:

A fim de que voc possa obter o maior rendimento, um grande desempenho, aliado uma boa economia, quando utilizar o sistema hidrulico de trs pontos necessrio saber utiliz-lo corretamente. Vejamos o princpio de funcionamento do sistema hidrulico, bem como algumas instrues operacionais relevantes:

2.1.1. Funcionamento bsico do sistema hidrulico de trs pontos

A engenharia e arquitetura do sistema de trs pontos consideraram cuidadosamente o efeito sobre o implemento e o trator, para as tenses e cargas que o sistema sofreria quando em operao com os mais diversos implementos. Para que se possa entender o funcionamento completo do sistema hidrulico de trs pontos, necessrio um estudo mais aprofundado, devido complexidade do conjunto da Bomba ISYP e o conjunto da tampa hidrulica. Veremos a seguir, de uma forma clara, as foras que atuam no conjunto implemento x hidrulico e as reaes do sistema hidrulico que acontecem com um trator operando em diferentes condies de terreno (adaptado de IOCHPE/MAXION):

A) TRATOR OPERANDO EM TERRENO PLANO, SOB CONDIES NORMAIS.Inicialmente, o arado tende a levantar na parte traseira, devido atuao das foras ocasionadas pelo tracionamento do mesmo: o peso do arado; o sentido do deslocamento; a resistncia do sistema hidrulico entre outras, alm claro, de todas as foras normais de respostas s foras exercidas no solo, originando um esforo de compresso no terceiro ponto.

Figura 4. Trator tracionando implemento de corte (no exemplo, um arado de discos) em solo plano.

B) OPERAO EM TERRENO ACIDENTADO: RODA DIANTEIRA SUBINDO UMA ELEVAO.

Nesta situao, a compresso na mola mestra do terceiro ponto consideravelmente maior que na situao anterior. A fora na mola mestra compensada.Figura 5. Momento em que a Roda dianteira do trator sobe uma elevao.

C) OPERAO EM TERRENO ACIDENTADO: RODA TRASEIRA SOBRE A ELEVAO.Nessa situao, o arado abaixa, embora a profundidade de trabalho seja mantida constante. A presso que antes existia no terceiro ponto agora aliviada e a agulha da mola mestra liberada.

Figura 6. Roda traseira do trator sobre o obstculo

C) O ARADO ATUANDO NA ELEVAO:

Quando o primeiro disco atinge a elevao, h uma maior resistncia nesse disco que nos posteriores, pois o mesmo, logicamente, o primeiro a romper o obstculo. Isso cria uma fora que tende a alavancar, ou erguer a parte traseira do implemento. Ao mesmo tempo, cria-se uma maior presso no terceiro ponto e o hidrulico reagir, mantendo a profundidade de trabalho constante. H um maior esforo sobre os braos inferiores.

Figura 7. Momento em que o 1 disco de corte atinge o obstculo

Profundidade de trabalho: sensibilidade do sistema:

Como foi visto anteriormente, o sistema hidrulico reage s mais diversas situaes, sempre com respostas imediatas para cada diferena existente no terreno.

Entretanto, como sabido, os mais diferentes tipos de solo, reagem das formas mais diversas no que se refere fora de entrada do implemento ao solo, como uma fora de reao normal aos discos, ou s aivecas. Essa reao maior em solos argilosos, menor em solos arenosos.

Para possibilitar a adequao da sensibilidade do sistema com o solo a ser trabalhado, todos os tratores agrcolas possuem uma viga central, com trs furos para o brao do terceiro ponto.

Figura 2. Viga central do terceiro ponto do hidrulico - Extrado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXIONOs orifcios na viga central do terceiro ponto so utilizados de acordo com o tipo de solo que se ir trabalhar com implementos de profundidade. Para solos leves ou macios utiliza-se o furo 1. Para solos de textura mdia, utiliza-se o furo 2 e finalmente, para solos pesados, ou argilosos, usa-se o furo 3. Quando se desejar usar o arado para descompactar reas nas quais houve a formao do p-de-grade, o furo usado o n 3.

Controle e comandos (hidro) eletrnicos:

2.1.2. Autocontrol - Pr-programao operacional suportada por tecnologia de computador (tratores Valtra/Valmet):

O sistema de manuseio do Autocontrol (controle eletrnico do hidrulico) muito simples. Estabelece a profundidade de trabalho, a altura mxima e a velocidade de elevao; depois baixa. Esse tipo de sistema facilita as manobras nas cabeceiras. Apenas um toque ligeiro num interruptor para subir ou descer o implemento para os nveis pr - determinados.

Os tratores VALTRA/VALMET incorporaram no sistema de levante hidrulico componentes eletrnicos de controle de elevao e profundidade, bem como de velocidades de descida e de levante:

O autocontrol ganhou fama como sendo, atualmente um dos sistemas de controle dos mais sofisticados e eficientes (site da Valtra/Valmet - Internet).

2.1.3. O Sistema de levante hidrulico com controle eletrnico Hydrotronic (tratores Massey Ferguson e Maxion)

O sistema de levante hidrulico com controle eletrnico (HYDROTRONIC) foi desenvolvido pela IOCHPE-MAXION em parceria com a BOSCH.

Tambm nesse sistema, todos os comandos e ajustes so alocados em um painel de comandos. Nos tratores Maxion/MF este painel localizado no lado direito do operador.

Nos dois sistemas, (sistema HYDROTRONIC e no Autocontrol), aps feitos os ajustes de profundidade de operao, velocidade de descida e subida do implemento, apenas necessrio que se faa o levante do implemento nas cabeceiras, resultando em uma operao mais rpida e eficiente. Outros fabricantes tambm equiparam seus tratores com sistemas semelhantes.

2.2. O sistema de lubrificao

Um trator agrcola, como toda e qualquer mquina, que apresente motor de combusto interna. Possu centenas de peas que se atritam e se desgastam, sob condies de carga e trabalho severas, de temperaturas e presso altas. Uma boa lubrificao, a escolha de um bom leo lubrificante e uma boa graxa de grande relevncia. Em peas e componentes, como o virabrequim do pisto e do comando de vlvulas do motor, se a lubrificao no ocorrer de uma forma conveniente nessas peas, em alguns minutos pode fundir o motor, causando graves prejuzos.

Alm disso, o leo lubrificante possu a funo de arrefecedor dos mecanismos mveis, absorvendo e dispersando o calor gerado, atuando ainda como elemento de limpeza.

2.2.1. As siglas utilizadas na classificao dos leos

Vrias so as siglas que indicam os mais variados tipos de leo e suas respectivas aplicaes. De um modo mais especfico, a sigla SAE (do ingls: Society Automotive Engineers), classifica os leos quanto sua viscosidade e pelo desempenho que oferecem (BORMIO, 2004).

Existem leos monograu, onde a identificao dada por um nmero (grau) que antecede a sigla SAE. De acordo com BORMIO (op. Cit), existe ainda uma classificao que considera a temperatura de trabalho de um leo 100C (os to conhecidos SAE 90, SAE 120 e SAE 250, leos especficos para transmisses). Uma outra classificao leva em conta o trabalho sob as temperaturas mais frias, de inverno, tanto que na sua terminologia, usada a letra W, de inverno (do ingls Winter), sendo o W colocado imediatamente aps o nmero que designa a temperatura de trabalho mnima, antecedida da sigla SAE (como exemplos, cita-se o SAE 70W leo para temperaturas de at 55C, ou o SAE 85W leo para temperaturas de at 12C).

Existem tambm leos multiviscosos, geralmente aplicados em motores, os quais tm medidas de viscosidade aplicveis para o trabalho em baixas e altas temperaturas. A viscosidade em condies de temperaturas mais frias tende a diminuir, fazendo com que a pelcula protetora que o leo faz normalmente, temperatura padro de 21C, no proteja bem as partes mveis, pois o mesmo no fino o suficiente nessas condies. J para altas temperaturas, ele deve manter uma viscosidade adequada, para que continue a formar a pelcula protetora entre as partes metlicas que se atritam.

Um exemplo de leo multiviscoso o SAE 80 w 90, onde o mesmo testado para os requisitos de um leo monograu SAE 80W com temperaturas de trabalho at 26C e para os requisitos de um monograu SAE 90 para trabalhos em temperaturas de at 90C.

Alm disso, existe uma outra classificao, quanto ao desempenho do lubrificante, o qual classificado segundo normas da API (Americam Petroleum Institute). Para lubrificantes destinados ao sistema de transmisses, d-se esta classificao por duas letra GL (Gear lubrificant). A classificao dada por um nmero aps o GL, onde esse nmero indo do um (1) ao cinco (5), sendo o 5 o leo classificado como o que oferece o melhor desempenho.

Existe ainda uma srie enorme de siglas para classificar os mais diversos leos, de acordo com suas caractersticas e aplicaes, e que neste captulo no caberia anex-la devido sua extenso e a praticidade desta obra (para consult-la quanto s demais siglas observadas nas embalagens dos lubrificantes, com os seus respectivos significados, vide ANEXOS Quadros gentilmente cedidos pela PETROBRS).

2.2.2. Manuteno do sistema de lubrificao

A verificao do nvel do leo lubrificante do Carter do motor deve fazer parte da rotina de verificao e de manuteno do trator agrcola. Diariamente, antes de dar a partida no motor e com o trator em solo plano, remova a vareta e verifique o nvel do leo.

Este nvel deve estar entre as marcas mnima e mxima.

Para completar o nvel do leo do motor, remova a tampa de abastecimento, coloque o leo apropriado at completar o nvel adequado A cada 200 horas de trabalho deve-se substituir o filtro e o leo. Isto capital para uma maior vida til do motor; para tratores novos, a 1 troca deve ser feita com 50 horas de trabalho.

Verificao do nvel de leo do motor e troca do leo

1- Remova o bujo de drenagem do Carter e deixe escoar todo o leo (essa operao deve ser feita aps um perodo de trabalho, quando o leo ainda estiver quente).

2- Manualmente ou com o auxlio de uma cinta, remova o filtro, descartando-o logo em seguida.

3- Limpe o suporte do filtro com um pano ou bucha, que no solte fiapos.

4- Lubrifique a borracha de vedao do filtro novo com um pouco de leo e aperte-o apenas o suficiente para que no haja vazamentos.

5- Coloque o leo novo at completar o nvel (em caso de dvidas acerca do tipo de leo utilizado, bem como suas especificaes, consulte o manual do trator ou o revendedor mais prximo. Geralmente a especificao dos leos lubrificantes utilizados na grande maioria dos tratores, SAE 40, embora alguns tratores utilizem, o leo SAE 30).

Manmetro de presso de leo:

O manmetro possu trs faixas indicadoras de presso:

Figura 9- Manmetro de presso do leoImportante: Sempre que o manmetro indicar uma presso alta ou baixa, pare imediatamente o trator e verifique as causas.BRMIO (2004), recomenda que toda troca de leo deva ser feita o mais prximo possvel, seno no tempo exato, do perodo de troca. Evidentemente, o sobreuso dos lubrificantes muito comum entre os produtores, muitas vezes pelo prprio calendrio de atividades, mas um costume que no deve ultrapassar muito o perodo recomendado pelos fabricantes. BRMIO (op. cit) estima que esse sobreuso, no caso dos lubrificantes para o sistema de transmisses, no deva ultrapassar os 5% do perodo de troca, para o motor, essa taxa de tolerncia deve ser ainda menor. Evidentemente, o ideal, sem dvida nenhuma que se obedeam criteriosamente os perodos recomendados.

Transmisso, eixo traseiro e hidrulico:

A transmisso, o eixo traseiro e o sistema hidrulico dos tratores MF e MAXION utilizam o mesmo leo lubrificante. Para tratores de outras marcas, o principio de manuteno o mesmo, mudando s a locao ou a posio de algumas peas. Como localizao da vareta indicadora do nvel do leo da transmisso. Para todos os casos, s use o leo recomendado pelo fabricante.

A troca do leo lubrificante importante, pois permite que sejam retiradas as sujidades contidas no leo, alm de repor o leo lubrificante anterior por um mais novo, com todas as qualidades esperadas (viscosidade, principalmente).

Nvel de leo e abastecimento:

Verifique o nvel do leo lubrificante do motor uma vez por semana, quando as condies do motor estiverem boas (sem vazamentos significativos) atravs da vareta no lado direito da carcaa (tratores MF) ou na parte traseira (tratores MAXION ou VALTRA/VALMET). Ao verificar a vareta, observe se o nvel est entre as marcas mnima e mxima. O nvel nunca dever estar abaixo do nvel mnimo e nem acima do nvel mximo essa checagem dever ser feita com motor frio ou que tenha parado de funcionar a pelo menos 2 horas. Para adicionar leo ao motor, limpe o bujo de abastecimento com pincel e solvente. Remova o bujo e coloque o leo at o nvel mximo da vareta.Utilize somente o leo recomendado pelo fabricante (Geralmente, usado na grande maioria dos motores agrcolas de ciclo diesel o leo SAE 40).

importante que se atente para a limpeza do bujo de abastecimento, bem como da correo de vazamentos nos filtros, para evitar contaminaes no leo do motor (BRMIO, 2004). Para a troca de leo, limpe os dois bujes de dreno e remova-os, deixando escoar todo o leo. recomendvel que a troca de leo seja feita logo aps um perodo de trabalho, pois o leo ainda quente, facilita o escoamento.

Figura 3. Bujo de drenagem e filtro do leo lubrificante. Extrado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXION

Substituio do leo e limpeza do filtro metlico da bomba ISYP

Limpe os dois bujes de dreno e remova-os, deixando escoar todo o leo. Limpe cuidadosamente os bujes magnticos. Remova a tampa de proteo sob o trator e retire o filtro da bomba ISYP.Observe a ordem da figura a seguir.

Figura 4. Componentes retirados durante a limpeza do filtro da bomba ISYP. Extrado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXION

Limpe o filtro com solvente e seque-o com ar comprimido, reinstalando-o em seguida. Recoloque a tampa com uma nova junta e cola.

Abastea a transmisso com leo novo at completar o nvel, utilizando o leo recomendado pelo fabricante.

Em tratores que possuem o controle remoto independente, a troca de leo da transmisso feita a cada 1000 horas de funcionamento. Alm disso, a cada 500 horas, faa a limpeza do filtro metlico do controle. Para tratores sem controle remoto, a troca obedece ao perodo normal de 750 horas de servio.

Troca de rotina do leo (a cada 750 horas de trabalho) das rodas traseiras (troca de leo dos redutores epicclicos das rodas traseiras):

Inicialmente, remova o bujo de abastecimento, removendo em seguida, o bujo de drenagem na parte inferior da carcaa do eixo traseiro. Deixe escorrer todo o leo. Complete com o leo especfico recomendado pelo fabricante.

importante lembrar que a substituio do leo da transmisso, assim como toda troca de leo, deve ser feita aps um certo perodo de trabalho, com o leo ainda quente, a fim de facilitar o escoamento do leo.

Verificao do nvel

Remova o bujo de abastecimento e nvel na parte traseira.

O leo deve estar na mesma altura do bujo. Caso esteja mais baixo, complete o nvel com o leo adequado.

A correta manuteno do trator e a sua maior, ou menor depreciao depende, portanto, de que se faa toda a manuteno no tempo certo.

Os lubrificantes mais adequados

Os lubrificantes mais adequados no so aqueles recomendados por um amigo, vizinho ou curioso por mecnica, baseados na tentativa ou no ouvi dizer que esse leo bom... mas sim aqueles recomendados pelo fabricante. Esse nosso pensamento partilhado por BRMIO (2004):

... reafirmamos tambm que os melhores lubrificantes, leo ou graxa, para serem utilizados no motor, no cmbio, no diferencial, no hidrulico e nos rolamentos e articulaes de seu trator, so aqueles recomendados pelo fabricante do trator.

Pontos de lubrificao a graxa:

Um trator agrcola possu vrios pontos de lubrificao a graxa. A cada 10 horas de trabalho recomendvel que se devam lubrificar os pinos graxeiros (indicados no esquema das figuras a seguir:).

Figura 12. Extrado e adaptado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXION

Figura 13 . Extrado e adaptado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXION

2. 3. O Sistema de arrefecimentoOs motores de combusto interna sejam de ciclo Diesel ou OTTO, trabalham em condies elevadas de temperatura interna. O superaquecimento provoca a dilatao das peas e a ruptura do filme de leo lubrificante. O contato entre as peas de metal do motor finda por ocasionar escoriaes ou fissuras, causando o chamado engripamento ou escoriao do motor.

O sistema de arrefecimento tem, portanto, como finalidade a eliminao do excesso de calor produzido pelo motor. O RADIADOR, A BOMBA DGUA e o VENTILADOR so os principais componentes do sistema de arrefecimento.

Figura 5. Extrado de: A Bblia do trator IOCHPE-MAXION

O radiador, alm de servir como reservatrio do lquido de arrefecimento (a gua) que atua na troca de calor entre o interior dos cilindros e a camisa do motor liga-se colmia, por onde a gua passa, sendo resfriada pelo fluxo de ar produzido pela ventolina. A ventolina alm de gerar o fluxo de ar externamente, para arrefecimento do sistema, ainda divide o mesmo eixo com a bomba dgua. Essa ltima gera o fluxo da gua no interior do sistema.

Um item pequeno, porm tambm importante no sistema de arrefecimento a tampa do radiador. Essa pea projetada e dimensionada para o sistema de forma que, alm de fechar o radiador, ela sirva como controladora da presso do sistema. Assim, uma tampa folgada, desgastada ou com defeito compromete o perfeito arrefecimento do motor, bem como se a tampa original for substituda inadequadamente por uma no compatvel com o radiador, poder haver danos (maior facilidade de vazamentos, se a presso for excessiva) no sistema ou um mal arrefecimento (pela presso menor que a ideal para o sistema). Geralmente a presso da tampa est impressa na sua parte superior, variando de 0,3 a 1,1 kgf/cm2 (4 a 15 lbs/pol2).

Cuidados com o sistema de arrefecimento:

Diariamente antes de dar a partida no motor, verifique o nvel da gua do radiador e complete-o com gua potvel, se necessrio.

A cada 500 horas, substitua a gua do radiador procedendo da seguinte forma:

1- Remova o bujo de drenagem situado na base do radiador.

2- Remova tambm o bujo de drenagem situado no bloco do motor e deixe escoar toda a gua.

3- Lave todo o sistema, at que s saia gua limpa do bloco do motor.

4- Recoloque os bujes e abastea o radiador at completar.

Figura 6. Parafuso na base do radiador, para escoamento da gua. Extr