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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sandra de Souza Figueiredo Oliveira Orientador: Prof. Ilso Fernandes Do Carmo ALTA FLORESTA/2013 AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Sandra de Souza Figueiredo Oliveira

Orientador: Prof. Ilso Fernandes Do Carmo

ALTA FLORESTA/2013

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Sandra de Souza Figueiredo Oliveira

Orientador: Prof. Ilso Fernandes Do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação Infantil e Alfabetização.”

ALTA FLORESTA/2013

RESUMO

Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada com o

objetivo, de mostrar a importância da literatura na educação infantil, e conscientizar

os educadores do enorme compromisso que tem ao iniciar seus alunos na literatura.

Quando as crianças chegam à escola passam a conviver com outras que tem

diversas formas de ver o mundo, fruto de sua vivência anterior e sua compreensão

do mundo que a cerca que precisa ser desenvolvida, é quando a literatura infantil se

torna instrumento indispensável à práxis do professor.

Conclui-se que a literatura infantil nas práticas pedagógicas é um importante

instrumento para se obtiver uma boa aprendizagem. O professor precisa sensibilizar

o aluno para a literatura. Ler é conhecer, mas também se conhecer, é inteirar e

integrar-se em novos universos de sentidos, é abrir e ampliar as perspectivas

pessoais, é descobrir e utilizar potencialidades.

Palavras-chave: Literatura Infantil; Aprendizagem; Potencialidades;

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................04

1 HISTÓRIAS DA LITERATURA INFANTIL.............................................................07

2 LITERATURAS INFANTIS NO BRASIL.................................................................09

3 A LITERATURA INFANTIL CLÁSSICA: OS CONTOS DE FADAS......................11

4. A LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO.........................................12

5 FOLCLORE: PRIMEIROS PASSOS LITERÁRIOS................................................14

6. O HUMOR NA LITERATURA INFANTIL...............................................................18

7 LITERATURA INFANTIL E IDEOLOGIA................................................................19

8 O SER INFANTIL DA LITERATURA......................................................................21

9. TRABALHANDO COM A APRECIAÇÃO CRÍTICA..............................................23

10. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DO SUJEITO...............24

11 A IMPORTÂNCIA DE OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS.......................................27

12 A NATUREZA DO TEXTO LITERARIO...............................................................29

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................31

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................32

INTRODUÇÃO

No decorrer deste trabalho será realizada uma pesquisa bibliográfica da

trajetória da Literatura infantil utilizado o método indutivo de abordagem, nas

mesmas que regem a profissão do educador com dedicação maior para a literatura

nas séries iniciais.

A educação infantil no Brasil tem ocorrido de forma crescente nas últimas

décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a participação da mulher

no mercado de trabalho e as mudanças na organização e estrutura das famílias. Por

outro lado, a sociedade está mais consciente da importância das experiências na

primeira infância, o que motiva demandas por uma educação institucional para

crianças de zero a 06 anos.

Houve um movimento da sociedade civil e de órgãos governamentais para

que o atendimento às crianças de zero a seis anos fosse reconhecido na

Constituição Federal de 1988: A partir de então, a educação infantil em creches e

pré-escolas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do Estado e

um direito da criança.

Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei n° 9.934, promulgada em dezembro de 1996, estabelece de forma

incisiva o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a educação.

Esse período havia organização de creches, jardins de infância e pré-escola de

maneira desordenada sempre com caráter emergencial com combate à mortalidade

infantil e assistencialista.

Nesse contexto a Educação Infantil surgiu com caráter de “Cuidar e Educar”

com a preocupação do ensinar. Lembrando que na Educação Infantil as áreas não

devem ser compartimentadas, mas integralizada. Sabendo da integralização quando

atuando com a criança, se faz necessário à separação das áreas, aprofundando

assim a área de Literatura.

Com issso apresentar o conceito de literatura e sua importância no

desenvolvimento da criança, abordando sugestões para despertar o interesse da

mesma pelos livros literários, enfocando a tipologia textual na literatura.

A literatura infantil contribui para o desenvolvimento cognitivo dando solução

a problemas pessoais, pois utiliza fatos do cotidiano, de uma forma significativa,

onde se pode trabalhar a literatura infantil no currículo escolar.

A principal função da escola hoje é formar leitores. Todas as suas propostas

pedagógicas são unânimes em afirmar que querem uma educação transformadora,

criativa e libertadora.

Em uma sociedade letrada como esta em que vivemos, a leitura é as

condições primeiras, indispensáveis para o exercício da cidadania, e a literatura

infantil é a chave mágica que abre a porta que dão acesso ao mundo da literatura e

tudo que ela pode proporcionar. Portanto, a melhoria na qualidade de ensino só vai

ser alcançada quando a escola formar leitores.

Para a criança, a literatura torna-se uma fonte rica de leitura, pois ela é uma

forma bastante especial de brincar. Desde os primeiros meses, é importante colocar

livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se

familiarizar com estes. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma

capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, os livros têm a

função de formar o imaginário da criança.

O objetivo deste trabalho é mostrar a importância da literatura na educação

infantil e da leitura na vida do ser humano, buscando abordar de que maneiras essa

relação da leitura com o indivíduo acontece, o quanto é importante para uma

vivência deste na sociedade, a análise e discussão serão pausadas nas teorias

estudadas.

Entre os capítulos estudados, conceituam-se a leitura sobre duas

abordagens, o processo de alfabetização e o processo de letramento. Concluindo

que ler é atribuir sentido, a leitura do mundo que se faz com a vivência no dia a dia.

A partir da literatura pode-se ampliar e aprofundar os conhecimentos.

Este trabalho tem doze capitulos que abordam a temática da literatura

infantil começando com a história da literatura infantil, literaturas infantis no Brasil, a

literatura infantil clássica: os contos de fadas, em seguida, a literatura infantil de

monteiro lobato, o folclore: primeiros passos literários e o humor na literatura infantil,

finalizando com literatura infantil e ideologia, trabalhando com a apreciação crítica e

05

a importância da literatura na formação do sujeito, importância de ouvir e contar

histórias.

06

1. HISTÓRIAS DA LITERATURA INFANTIL

Ao iniciar o estudo da literatura infantil e sua prática na escola precisamos

buscar no passado subsídios que nos dão o entendimento do presente para

projetarmos o futuro. O que é ser criança hoje é diferente do passado. Tal

compreensão possibilita-nos ver como e por onde podem ocorrer mudanças

necessárias para o presente. O conceito de infância começa a surgir, na Europa,

segundo SAMUEL (1985), entre os séculos XVII e XVIII, com ascensão da burguesia

quando passa a ver a criança como o futuro da nação.

Antes, a criança era ignorada pela sociedade dos adultos, não havendo

nenhuma atenção ou cuidados específicos para com ela, era visto como um adulto

em miniatura, podendo desta maneira participar das atividades apropriadas aos

adultos; eram elas: esportivas ou intelectuais não existia leitura destinada somente a

criança, já que, esta perante a sociedade não tinha características próprias da

infância, a educação atribuída a criança era a mesma oferecida ao adulto.

A única educação diferenciada, segundo SAMUEL (1985), era a educação

dos filhos da nobreza e os filhos da classe desprivilegiada, os pequenos nobres

deliciavam-se na leitura em grande clássicos; já os filhos dos pobres, a esses lhe

restavam ouvir histórias de cavalaria, heróis desconhecidos, lendas ou contos, que

eram contadas e recontadas oralmente pelo povo, essas histórias tinham como

características uma linguagem simples formando assim as primeiras literaturas de

Cordel.

Surge então uma nova noção de família, centrada não na relação de

parentesco, mas no núcleo familiar preocupado em manter uma privacidade

impedindo a intervenção de parentes em seu negócio interno e estimula o afeto

entre os seus membros. (ZILBERMAN, 1981).

Feudalismo surgem, na Europa, grandes transformações sociais e

econômicas em que a classe burguesa buscava espaço social e estabilidade por

meio da intelectualizarão. A educação é reorganizada, surge a concepção de

infância baseado na ideia cristã de inocência e a literatura infantil floresce,

igualmente com a dominação do jovem e o controle do que aprender para formar o

adulto que a sociedade almejava, assim a literatura infantil assume um caratê

pedagógico, para transmitir normas que influenciam na formação moral dos futuros

adultos.

Com isso a pedagogia assume a criação da literatura infantil, e o

desenvolvimento intelectual da criança e alimenta a ideologia da classe dominante.

“O livro passa a ser o elo da criança com o mundo, um espelho da realidade que não

a reflete direito; antes disso, retrata a realidade de forma obtusa, superficial e

maniqueísta.” (ABRAMOVICH, 1989, p 14).

08

2 LITERATURAS INFANTIS NO BRASIL

Somente no início do Século XX, segundo AGUIAR e SILVA (1986), que

começa a reação brasileira frente à dominação da educação por educadores

europeus. E cada vez mais autores passaram a se dedicar-se a literatura infantil,

dentre esses, autores consagrados na literatura adulta, como José de Alencar e

Olavo Bilac.

Onde Olavo Bilac enfoca principalmente as virtudes cívicas em seu papel de

educador. Suas obras “visavam em primeiro lugar informar, transmitir conhecimentos

e comportamentos exemplares segundo os valores da ideologia dominante.”

(PROENÇA, 1986, p. 23).

A primeira manifestação literária infantil no Brasil, segundo Aguiar e Silva

(1986), surgiu com o educador europeu, Carl Jansen, que atuando como mestre no

colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, traduziu e adaptou clássicos para a

juventude como: As mil e uma noites, Dom Quixote, Robson Crusoé, entre outros.

O fato de a educação ser dominada por estrangeiros contribuiu bastante

para o atraso na produção de livros infantis brasileiros: a principal fonte de demanda,

a educação via-se suprida por livros originários dos países dos mestres.

O maior escritor de Literatura Infantil no Brasil, segundo AGUIAR e SILVA

(1986), foi Monteiro Lobato despertando o imaginário infantil com a criação de um

mundo de fantasia que agradava até os adultos. Revoluciona a literatura infantil

brasileira, introduzindo uma série de novos elementos, tanto formal quanto em

conteúdo, é o precursor de uma literatura infantil crítica. Seu melhor trabalho foi no

sítio do Pica-pau Amarelo. O diferencial de Monteiro Lobato foi à forma sutil de

trabalhar o certo e o errado, por exemplo, a figura da “Emília” em Sítio do Pica-pau

Amarelo, que desmistifica uma série de pseudoverdades, se procurando em debater

temas públicos, normalmente circunscritos ao mundo adulto, de forma a serem

facilmente apreendidos pelas crianças, ajudando na formação do caráter, sem deixar

de incitar o imaginário, a curiosidade infantil e a delicadeza do sonho que toda

criança adora.

Monteiro Lobato utiliza o humor e também o folclore brasileiro com um

trabalho em cima da relação fantasia e realidade utilizando uma linguagem coloquial

bem característica da infância

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3 A LITERATURA INFANTIL CLÁSSICA: OS CONTOS DE FADAS

Os contos, segundo PROENÇA (1986), não perdem a sua atualidade porque

tratam da essência humana, que é a mesma desde que o homem existe. Falam de

coisas profundas, essenciais, que habitam dentro de cada um de nós, falam de

medos, sonhos, desejos, esperanças, os mesmos sentimentos que inquietam as

crianças e os jovens de hoje. É importante que o professor, ao selecionar esses

contos, dê preferência ao texto integral, traduzido do original, sem adaptações.

Quando as crianças já tiverem ouvido e lido vários desses contos

tradicionais, o professor selecionará outros contos contemporâneos baseados

naqueles antigos. Como exemplo podemos citar A Verdadeira História de

Chapeuzinho Vermelho, de Patrícia Gwinner; Chapeuzinho Amarelo. De Chico

Buarque. Depois de ler essas histórias o professor chamará a atenção das crianças

para as semelhanças e diferenças desses em relação às tradicionais, de maneira a

fazê-las perceber que o autor serviu-se de texto antigo, porém introduzindo

elementos novos característicos de nossa época e que atualizam o significado

daqueles contos ou simplesmente mudam a proposta de leitura original. (FRANTZ,

2001).

Ele deve estimular as crianças para que busquem e leiam também outros

contos. A literatura infantil de hoje, segundo FRANTZ (2001), é muito rica, muito

variada. A maior preocupação é no auxílio dos educadores para que saibam se

orientar em meio a tantos livros. È preciso saber avaliar esse material para saber

escolher uma boa literatura para oferecer aos alunos, esse passo é de grande

importância para o sucesso do trabalho com a leitura.

4. A LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO

Monteiro Lobato, segundo AGUIAR e SILVA (1986), foi o pioneiro, o primeiro

que escreveu para as crianças brasileiras histórias com qualidades literárias. Os

seus personagens são curiosos, inquietos, leitores sempre bem informados e cultos.

È umas literaturas novas, que propõe ao seu leitor uma reflexão sobre a realidade

que a cerca, a fim de capacitá-lo a uma ação mais eficaz. Há sempre uma

preocupação dos professores em relação ao que fazer depois de lido o livro. Em

primeiro lugar é sempre bom lembra que uma literatura tem valor em si mesmo.

Monteiro Lobato (1882-1948), segundo AGUIAR e SILVA (1986), começa

escrevendo para adultos. Com Urpês (livros de contos) é apontado como um dos

maiores escritores brasileiros. Em 1921 publica A Menina do Narizinho Arrebitado,

obra que inaugura a literatura infantil brasileira.

Homem inteligente, dinâmico, batalhador, atua em diversas áreas, tendo

sido inclusive adido comercial nos Estados Unidos (1927). Regressa daquele país

cheio de entusiasmo pelo progresso e pelo desenvolvimento americano, mas sente-

se incompreendido pela sociedade (foi preso durante o governo de Vargas) e

desilude-se amargamente com o mundo adulto. Dá-se conta, então, que para

transformar a sociedade era preciso investir na formação da criança e se atira de

corpo e alma a essa tarefa. Começa, “assim, a escrever para as crianças e imprime

novos rumos à literatura que era dirigida a elas.” (FRANTZ, 2001, pag 53).

Mais perigoso do que não propor nada, segundo SAMUEL (1985), é propor

atividades maçantes e repetitivas depois de cada leitura. Mas também é válido

ampliarmos o prazer que uma leitura nos dá e aprofundar a sua compreensão

desenvolvendo atividades que explorem aqueles aspectos mais marcantes do texto.

Antigamente, segundo AGUIAR e SILVA (1986), a poesia que se dava às

crianças na escola não fugia à regra que dominava a literatura feita para elas, era

uma visão utilitária da literatura e da poesia. Assim, toda aquela ludicidade,

sonoridade, beleza que caracterizava a primeira experiência poética trazida de casa

era esquecida. O poema se tornava assunto sem graça e sem poesia.

Hoje esse conceito de poesia está superado para a alegria e felicidade de

todos. A poesia, segundo SAMUEL (1985), fala de coisas do mundo infantil sem

preconceitos, sem querer nenhuma outra intenção que não seja brincar com as

palavras e mostrar o mundo por meio de uma linguagem lúcida e poética. Acredita-

se que a criança deva começar lendo, vivenciando em grande número de poemas

de diferentes formas e de diferentes autores.

A iniciação poética infantil começa em casa a mãe cantando cantigas de

ninar para o bebê dormir. Depois vêm as parlendas, as quadrilhas, as cantigas de

roda, as adivinhas, os trava-línguas que são passados oralmente de geração a

geração. È por isso que se diz que ‘a poesia é a linguagem materna da humanidade.

(SAMUEL, 1985).

Muitos são autores que se destacam na poesia infantil e cujo trabalho é

muito reconhecido. A professora poderá escolher poemas e ter a criatividade para

trabalhar com as crianças explorando seus conhecimentos.

Seu melhor trabalho foi no sítio do Pica-pau Amarelo. O diferencial de

Monteiro Lobato, segundo AGUIAR E SILVA (1986), foi à forma sutil de trabalhar o

certo e o errado, por exemplo, a figura da “Emília” em Sítio do Pica-pau Amarelo,

que desmistifica uma série de pseudoverdades, se procurando em debater temas

públicos, normalmente circunscritos ao mundo adulto, de forma a serem facilmente

apreendidos pelas crianças, ajudando na formação do caráter, sem deixar de incitar

o imaginário, a curiosidade infantil e a delicadeza do sonho que toda criança adora.

Monteiro Lobato, segundo SAMUEL (1985), utiliza o humor e também o

folclore brasileiro com um trabalho em cima da relação fantasia e realidade

utilizando uma linguagem coloquial bem característica da infância.

13

5 FOLCLORE: PRIMEIROS PASSOS LITERÁRIOS

Nosso primeiro contato com a linguagem poética, segundo CUNHA (1986),

se dá muito cedo, já nos nossos primeiros dias de vida. Ele acontece suavemente,

numa voz afinada ou não, mas carregada de emoção e carinho: Boi, boi, boi, boi da

cara preta E a cantiga de ninar embalam, acalma e em contato com a mãe o bebê

adormece tranqüilo.

O tempo vai passando e então, segundo CUNHA (1986), surge o Dedo

minguinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo, mata piolho. E o piolhinho vai por

aqui, por aqui,... e enquanto se brinca com a linguagem as mãos da mãe vão

fazendo coceguinha e provocando o riso gostoso. "Cadê o toucinho daqui? O gato

comeu..." E assim, as parlendas, as mnemônicas passam também a integrar o

nosso cotidiano.

Logo depois vamos conhecer, segundo CUNHA (1986), as primeiras

quadrinhas...

Laranjerinha pequeninha

Carregadinha de flor

Eu também sou pequeninha

Carregadinha de amor.

E como é gostoso perceber o ritmo, a melodia, a rima, as imagens singelas

do pequeno poema. E que vitória, que emoção quando se consegue memorizar o

"versinho", como se diz popularmente, e arrancar os aplausos orgulhosos dos

familiares.

E num certo dia, assim de repente, segundo PALO (1992), descobrimos com

o maior entusiasmo as primeiras adivinhas: "O que é, o que é que tem bico e não

bica, tem asas e não voa?" São pequenas charadas ou grandes enigmas que nos

desafiam e nos deliciam. Jogam com a ambiguidade da linguagem, exigem atenção,

raciocínio e divertem. É um jogo de esconder/camuflar os sentidos para depois

descobri-los. E aí vem a surpresa e com ela a alegria, a beleza, a magia da

linguagem.

Depois, segundo PALO (1992), é a vez da linguagem se tornar movimento,

melodia e mão na mão girar e cantar: "Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar..."

Música e movimento nos dão asas, nos soltam no espaço, no tempo... E no mundo

da imaginação: "Se essa rua, se essa rua fosse minha..."

Aos poucos, segundo CUNHA (1986), essas brincadeiras com a linguagem

ficam mais complicadas e, exigindo um esforço maior, nos desafiam a falar sem

enrolar a língua: "Num ninho de mafagafos há sete mafagafinhos..." A cada desafio

vencido, uma nova alegria, maior confiança e maior intimidade com os sons da

nossa língua.

Com o passar do tempo, segundo CUNHA (1986), um conto vai tomando o

lugar da cantiga de ninar para encantar e relaxar a criança na espera do sono. São

contos de fadas, contos maravilhosos, lendas, fábulas, mitos... E, assim, através da

voz materna (maioria das vezes) essa herança cultural vai sendo transmitida de

geração a geração. O contato físico, o carinho, o texto folclórico criam um elo afetivo

muito forte entre a criança e o adulto e isso estará sempre associado a momentos

de ludismo, prazer, emoção e carinho que essas vivências proporcionaram. Esses

textos irão se alternando com outros textos que continuarão alimentando nossa

fantasia, mexendo com nossas emoções e nos mostrando o mundo, a vida de uma

forma lúdica, mágica e emocionada.

Finalmente, tente procurar na sua memória qual foi o primeiro provérbio que

você ouviu. Quando? Quem o proferiu? Impossível dizer. Com certeza, entre uma

brincadeira e outra, na convivência com os adultos os provérbios também se fizeram

presentes. E assim seguimos pela vida afora, segundo CUNHA (1986), carregando

sábios ensinamentos que ouvimos desde o berço: "Antes tarde do que nunca." "A

união faz a força," "Errar é humano. Permanecer no erro é ignorância," "Quem com

ferro fere, com ferro será ferido." (p. 125).

Essa vivência do folclore, como dissemos, segundo PALO (1992), tem na

família, na comunidade, um espaço privilegiado. É um conhecimento que a criança

traz na sua bagagem cultural quando chega à escola. É a cultura viva do seu grupo

social. Cabe à escola dar continuidade e ampliar essas vivências.

Sabemos que a palavra folclore possui uma ampla abrangência e que,

segundo CUNHA (1986), envolve:

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- literatura oral

- brinquedos infantis (sapata, pandorga, ioiô, 5 Marias, bodoque, ...)

- brincadeiras infantis, (passa-anel, esconder, ovo choco, rodas cantadas,...).

- trabalhos artísticos (trabalhos com argila, sementes, sucata, ...)

- festas infantis (São João com suas comidas e trajes, etc.)

A literatura oral, que é a que mais de perto nos interessa aqui, pode ser

assim dividida, de acordo com Paulo Inocente em seu livro Folclore Infantil:

- Adágios (provérbios)

- Adivinhas

- Fórmulas de escolha (ou parlendas de escolha)

- Estórias e contos infantis (contos de fadas, fábulas)

- Mitos e Lendas

- Menemônias

- Parlendas

- Trovas (quadrinhas)

- Trava-línguas

Este riquíssimo material está ao alcance de todos nós e acreditamos que

eles têm uma importante contribuição a dar no processo ensino aprendizagem na

educação infantil e nas séries iniciais, principalmente. Professores e alunos,

segundo CUNHA (1986), encontrarão no material folclórico uma fonte riquíssima de

conhecimento, de ludismo, fantasiam, emoção e poesia que oportunizarão uma

maior aproximação com nossas raízes culturais.

Consideremos também que, nas famílias, os pais dispõem cada vez de

menos tempo para transmitirem esta herança cultural aos seus filhos. O novo ritmo

de vida imposta aos pais trabalhadores deixa muito pouco tempo para dedicar a esta

experiência. Os brinquedos eletrônicos prontos nada mais reservam à criança do

que observá-los em funcionamento. As brincadeiras de roda são substituídas por

danças de grupos da moda. À noite; ao invés da história lida na cama, a criança

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adormece no sofá em frente à televisão, assistindo à novela. Os próprios pais da

geração mais jovem já pouco sabem do nosso folclore.

Em função disso, este espaço cada vez mais reduzido na família, segundo

PALO (1992), precisa ser compensado com um espaço cada vez maior na escola,

para assegurar a continuidade junto às futuras gerações de toda essa riqueza que

herdamos de nossos antepassados. Isso, com certeza, ainda é muito válido nos dias

de hoje. Especialmente no que se refere à literatura esse primeiro contato lúdico,

prazeroso, gratuito com a linguagem é fundamental para iniciar a criança na

linguagem lúdica, mágica, poética da Literatura.

Podemos observar ainda como um grande número de autores está

buscando inspiração no texto folclórico e estabelecendo com ele um diálogo muito

interessante e muito criativo. E como é bom, como é divertido ver aquele velho

conhecido se apresentar de cara nova, inserindo-se no contexto atual e nos

surpreender de uma maneira muito gostosa.

É o que faz, por exemplo, José Paulo Paes com o poema Paraíso do seu

belíssimo livro Poemas para Brincar; Patrícia Gwinner com Nessa rua... mora um

anjo e Eduardo Amos em seu Se essa rua fosse minha. Os três, segundo CUNHA

(1986), retomam a cantiga de roda folclórica Se essa rua fosse minha e brincam

com ela livremente propondo uma nova leitura. Assim, descobrimos que tudo que aí

está pode ser repensado, recriado e manipulado poeticamente.

Outro exemplo é o poema Cadê? de Maria Dinorah do seu livro Cantiga de

Estrela e o Cadê? de Guto Lins. Ambos, segundo PALO (1992), também se

inspiraram na parlenda Cadê o toucinho daqui? e o resultado é, com certeza, no

mínimo muito interessante. O poema de Maria Dinorah, a seguir, termina onde

começa a parlenda folclórica.

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6. O HUMOR NA LITERATURA INFANTIL

Há livros, segundo SAMUEL (1985), onde o autor parte para uma idéia

engraçada, divertida. Exemplo é o “O homem que soltava pum”, que conta a história

de como um cidadão salva a cidade de um incêndio através de um pum. Há livros

que contam histórias alegres que fazem as crianças sorrirem e gostarem das

leituras.

Alguns autores, segundo CUNHA (1986), mostram o modo irônico, gozado,

quem disse que bruxa não tem rotina doméstica, que não se cansa ou não se

aborrece com os tumultos de um dia nada favorável. Também mostra a irritação, o

mau humor a raiva. Tarus, no livro Nonsense, (história sem compromisso com o real,

com o lógico e, por isso mesmo, inesperada), que escreveu e ilustrou.

“A criação das criaturas, inventar bichos novos”,

Ao descrever o Borororo, por exemplo, segundo AGUIAR e SILVA (1986),

vai falando dos "ímpetos assassinos que alguns seres provocam, pelo tanto que

irritam os que com eles tem que conviver, mesmo que por pouco tempo.” (p. 47)

O Borororo, segundo AGUIAR (1988), é uma espécie muito mixa, não tem

nada, é apenas uma coisinha redonda e pelada, com dois olhos saltados da testa.

Ele é um tipo de desenho horroroso, o que também faz parte dos livros, mostrar o

que é bom, ruim, bonito, feio, o que é assustador e o que é alegre.

Existem autores, segundo CUNHA (1986), com humor na nossa literatura

infantil e juvenil, outros demonstram capacidade de fazer rir, se divertir perante um

acontecimento; outros tem idéias melhores, com mais divertimentos e com coisas

mais engraçadas. O humor não é contar piada, fazer graça ou um comentário

boboca, é muito mais que completa é apaixonante. A expressão mais completa do

prazer de viver e a compreensão mais inteligente do saber viver, para valer

realmente a pena.

7 LITERATURA INFANTIL E IDEOLOGIA

Antes de a criança entrar para a escola, segundo ATAIDE (1995), ela

desenvolve uma linguagem de palavras através das cantigas de rodas que são

brinquedos. A criança não se importa com o sentido, mas desperta o interesse pelo

som. A atividade de linguagem permite ao individuo descobrir a importância do meio,

do instrumento da comunicação. A transformação da linguagem é a transformação

da realidade. A construção de um discurso mágico faz o conhecimento do real.

O sucesso entre os pequenos decorreu sem dúvida de um primeiro e decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança em seu cotidiano, è subitamente penetrada pelo maravilhoso ou pelo mágico, com a mais absoluta verossimilhança ou naturalidade. (ATAIDE, 1995, p. 33).

A crítica tem razão, segundo ATAIDE (1995), quando denuncia o fato de

Monteiro Lobato ter ido às últimas consequências na criação de suas histórias, e que

é preciso começar tudo novamente. O que a história infantil deve fazer é libertar as

personagens, para trazê-las ao convívio mais natural das crianças.

Monteiro Lobato, segundo PROENÇA (1986), conseguiu estruturar a criança

sobre dois aspectos principais, coloca-a em um universo apavorado por ela, e o

outro é fazê-la reagir conforme suas naturais aptidões psicológicas. No primeiro, o

processo que foi empregado pelo escritor consiste nas travessias entre o real e o

sonho, o imaginário e o concreto, sem que haja barreiras entre um e outro.

Com isso, segundo PROENÇA (1986), o autor faz com que o leitor sinta o

mundo da narrativa como seu próprio mundo, as crianças criam situações mágicas.

Surpreendentemente, no momento em que o adulto interfere, procura enganar a

criança, ela logo diferencia o real, pois o real da criança não é o real do adulto.

O leitor infantil aborrece-se com livros que buscam mentir, dizendo que é

tudo maravilhoso, cor-de-rosa, ou que tudo é feio. A criança não é imbecil, por

exemplo: as tensões domésticas são logo captadas, fazendo com que as crianças

se posicionem pelos pais. Com o tempo, ela vai se afastando da fantasia e

deixando-se dominar pela percepção lógica e consciente do real e a fantasia. Assim,

quando se fala que o seu real é a fantasia, não se esta baralhando, assim num

determinado momento, um cabo de vassoura é um cavalo, as patas do corcel são as

pernas da criança, um sabugo de milho é um revolver. (ATAIDE, 1995).

Sua fantasia é o real. As crianças inventam suas próprias brincadeiras com

os objetos que lhe são disponíveis. A literatura infantil, segundo ATAIDE (1995),

desempenha um importante papel no sentido da criança. Aparentemente, as

pessoas assistem ao programa de TV que elas bem querem, ou compram o livro de

sua escolha, é o objeto do processo e não seu sujeito que leva a tomar essas

atitudes.

Louis Altlrusser imaginou dois sistemas a partir dos quais o estado manipula a ideologia (não esquecer que a burguesia detém o poder e, o estado é o veículo burguês de dominação e sustentação social e política)... (ATAIDE, 1995, p. 128).

20

8 O SER INFANTIL DA LITERATURA

Os temas literatura infantis nos levam a refletir sobre o que seja esse

“infantil”, como especificador de determinada espécie dentro de uma ampla e geral

categoria de fenômenos literários. A arte literária, segundo PALO (1992), implica no

contexto de uma atividade complexa e não-natural ao universo da infância. Para

este nível significa facilitar estratégias criadas para concretizar ao nível da

compreensão infantil.

A pedagogia entra como meio de adequação do literário às fases do

raciocínio infantil, e o livro, segundo PALO (1992), como mais um produto através do

quais os valores sociais possam a ser veiculados, de modo a criar para a mente da

criança hábitos que aproximam as situações imaginárias vividas na ficção, os

conceitos comportamentos e crenças desejados na vida prática, com base na

semelhança que o vincula.

A função utilitário-pedagógica, segundo PALO (1992), é o grande dominante

da produção literária destinada à infância, e isso desde as primeiras obras surgidas

entre nós. Atender a uma exigência da própria estrutura da cultura ocidental em

relação a seu tradicional conceito do ser infantil. O pensamento infantil é apto a

responder a motivação do signo artístico, é uma literatura que se estuda sobre esse

modo de ver a criança, torna-a indivíduo com desejos e pensamentos próprios,

agente do seu próprio aprendizado.

O signo é a coisa de que fala, não há mais vínculo indireto entre eles (tal qual na construção simbólica), de maneira que, ao invés de representar ele, agora apresenta diretamente o próprio objeto de representação. Aqui e agora concretamente à nossa frente. (PALO, 1992, p.13).

A criança não é um ser dependente, nem um ‘adulto em miniatura”, mas é o

que é, na especificidade de sua linguagem que privilegia o lado espontâneo,

indutivo, analógico e concreto da natureza humana.

A literatura infantil, segundo PALO (1992), surge como uma forma literária

menor, com a função utilitário-pedagógica que faz mais pedagogia do que literatura.

Contar histórias para crianças sempre foi um ato de representar a linguagem de

representação simbólica do que é real. “... Este, tratado fisionomicamente sob o

modo de ser do adulto, reflete-se para a produção infantil como um receptor

engajado nas propostas da escola e da sociedade de consumo. Deverá, sobretudo,

aprender via texto literário infantil, a verdade social.”

O pensamento infantil é aquele que está sintonizado com o pulsar pelas vias

imaginárias. Os maiores projetos de literatura infantil, segundo PALO (1992),

investem, fazendo com que enfrentem sua qualidade artística e oferecendo os

melhores produtos possíveis em direção a área infantil.

É preciso investir na inteligência e na sensibilidade da criança, que se torna

sujeito e sua própria aprendizagem e capaz de aprender com o texto. A função

pedagógica, segundo PALO (1992), implica a ação educativa do livro sobre a

criança. Ela cria uma interferência sobre o universo do usuário através do livro

infantil, da ação de sua linguagem, servindo-se da força material que palavras e

imagens possuem como signos que são, de atuar sobre a mente daquele que as

usa, como as crianças.

22

9. TRABALHANDO COM A APRECIAÇÃO CRÍTICA

A literatura infanto-juvenil, segundo CUNHA (1986), foi incorporada à escola

e, assim, todas as crianças passaram a ler; até poderia ser verdade, se essa leitura

não viesse acompanhada da noção de dever, de tarefa a ser cumprida, não de

descoberta de encantamento.

Nas escolas, onde se dá o direito de escolher entre dois ou três títulos,

existem referências que são exigidas pelo professor, bibliotecas deixa cada aluno

manusear, folhear, buscar, até se decidir qual volume irá escolher. O livro não é

escolhido pelo aluno, segundo BORDINI (1985), é determinado o prazo para que

todos os alunos entreguem os resumos dos livros escolhidos. Ao ler uma história, a

criança desenvolve todo o potencial crítico.

A partir daí ela pode pensar, duvidar, se perguntar, e isto não tem sido feito

uma vez ao ano, mas fazendo parte da rotina escolar, sendo sempre presente, o que

não significa trabalhar em cima de um esquema rígido e apenas repetitivo.

Conversar com as crianças sobre o que foi lido, segundo AGUIAR (1988), é

fundamental, é preciso saber se gostou ou não do que foi contado, se concordou ou

não com o que foi lido.

A preocupação básica, segundo FRANTZ (2001), é formar leitores críticos,

capazes de perceber tudo o que uma boa história traz, ou que saibam por que não

usufruíram aquele conto. Literatura é arte, é prazer. Se ler for mais ao que é lição de

casa, cobrança nunca foi passaporte ou aval para a vontade, descoberta ou para o

crescimento de ninguém. Cada aluno poderá escrever sobre tudo que leu ou ouviu.

Se cada livro chamar a atenção opor algo de especial, por que não deixar a criança

descobrir sozinha o que sentiu, o que percebeu?

10. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DO SUJEITO

Acredita-se que uma educação transformadora e humanizante passam

necessariamente pela prática da leitura e tem nela seu objetivo maior. Acreditamos

ainda que, por sua natureza, é a literatura que tem a mais rica, eficaz e gratificante

contribuição a dar na busca desse objetivo. Os textos literários, conforme explica

Maria da Glória Bordini

adquirem no cenário educacional, uma função única, singular: aliam à informação o prazer do jogo, envolvem razão e emoções numa atividade integrativa, conquistando o leitor por inteiro e não apenas na sua esfera cognitiva. (1985, p. 27).

O campo da literatura é o mais amplo possível, pois, conforme palavras do

mestre Antônio Cândido (1985, p. 32), ela está voltada para "o conhecimento do

mundo e do ser." Por meio da sua capacidade de sintetizar e condensar a realidade

por meio dos recursos da ficção, a leitura faz com que o leitor se reconheça e se

descubra na observação de outras vidas, de outras realidades, que possuem muitos

pontos que se aproximam e ao mesmo tempo se diferenciam da sua própria vida, de

suas experiências cotidianas.

A literatura mostra o mundo por dentro, pois a ela o que interessa "não é

apenas o fato sobre o qual se escreve, mas as formas de o homem pensar e sentir

esse fato que o identifica com outros homens de tempos e lugares diversos."

(AGUIAR, 1988, p. 14). Em virtude disso podemos afirmar que a literatura como

leitura é a mais rica, a mais completa e a mais gratificante para o seu leitor.

Se considerarmos o leitor infantil, principal objeto de nossa preocupação

neste estudo, segundo AGUIAR (1988), veremos então que aqui a literatura

desempenha um papel fundamental, decisivo e intransferível. Considerando que é

por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e do ludismo que a criança

apreende a sua realidade, atribuindo-lhe um significado, veremos que o mundo da

arte é o que mais se aproxima do universo infantil, à medida que ambos falam a

mesma linguagem simbólica e criativa. O mundo para ambos é do tamanho da

fantasia e alcança até onde vai a imaginação criadora da criança e do artista.

A pergunta “O que é literatura?”, segundo SAMUEL (1985), tem suscitado

desde a antiguidade as mais variadas tentativas de respostas. Essas vão desde uma

concepção de literatura como simples forma de deleite sem maiores consequências,

até uma concepção de literatura como documento fiel da realidade. Quando se trata

então de respondermos à mesma pergunta, acrescentando-lhe o adjetivo "infantil",

as respostas podem ser ainda mais controvertidas. Existe uma literatura estritamente

infantil? Acreditam alguns até mesmo que haja uma oposição quase que natural e

inconciliável no binômio literário infantil. Na verdade o que se observa é que quanto

maior for o valor literário de um texto, menores serão as delimitações de faixa etária.

Um bom livro dito para crianças pode ser lido com o mesmo gosto e proveito

também por adultos. Veja-se como exemplo, segundo ZILBERMANN (1981), as

obras de Lygia Bojunga Nunes (A Bolsa Amarela), Bartolomeu Campos Queirós

(Onde Tem Bruxa uma Fada), Ziraldo (A Bela Borboleta) e Ruth Rocha (O Que os

Olhos Não Veem), dentre muitos outros. O que há, portanto, é apenas literatura, isto

é, arte literária. Isso nos leva a concluir com Maria Antonieta Antunes Cunha (1986),

que literatura infantil é toda a literatura que pode ser lida também pela criança:

Na realidade, toda obra literária para crianças pode ser lida (e reconhecida como obra de arte, embora eventualmente não agrade, como ocorre com qualquer obra) pelo adulto: ela é também para crianças. A literatura para adultos, ao contrário, só serve a eles. É, portanto, menos abrangente do que a infantil. (CUNHA, 1986, p. 24)

Acontece, todavia, que com a autodenominação de literatura para crianças,

muitos livros sem nenhum valor literário têm sido publicados. Estes, no entanto, não

passam de simples "livrinhos de histórias" na maioria das vezes infantilóides, sendo

que o único aspecto que possuem em comum com a literatura é o uso do código

lingüístico. (STEFANI, 1997).

Podemos verificar que sempre, quando o substantivo "literatura" é

subordinado pelo adjetivo "infantil", tem-se cometido, ao longo dos tempos, sérios

equívocos. O maior deles, segundo SAMUEL (1985), é a sua preocupação

pedagógica, que acaba por reduzi-lo à condição de mero subsidiário da educação

formal, relegando-o à simples condição de livro paradidático. Espera-se, nesse caso,

que a criança lendo aprenda a escrever corretamente, a partir da internalização das

estruturas da língua, ao mesmo tempo em que se aproveita para lhe passar

ensinamentos morais de toda ordem.

Outros textos menos pretensiosos pecam pelo lugar comum, pelo linguajar

infantilóide, pelo simplismo, numa total demonstração de descrédito na capacidade

23

da criança. Na maioria das vezes esses textos, convencidos de que a criança é um

ser deficiente e que precisa ser introduzido nos valores do mundo adulto, segundo

AGUIAR (1988), carregam suas páginas de moralismo, pretendendo indicar à

criança a maneira mais correta de ser. Nesse caso, o que se mostra à criança é um

universo fechado, de valores absolutos e inquestionáveis, em que a submissão, a

obediência é a única forma possível de relacionamento dela com o mundo.

26

11 A IMPORTÂNCIA DE OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS

As histórias contadas ou ouvidas é uma terapia tanto para quem conta como

para quem ouve. Dizem que contar histórias é um ato de amor... Alimento puro para

nossas almas. Inspiração para nossa criação. (STEFANI, 1997, pg. 22).

Às vezes se tem resultado rápido após contar um conto, através de

comentários. Mas normalmente não se sabe o que acontece com ela depois de

contada, porque cada um fará dela o que quiser ás vezes as crianças se recordam

de histórias contadas uma só vez.

A arte de contar história depende de cada contador. Mas algumas técnica,

segundo BUSATTO(2003), podem melhorar:

- Usar as ilustrações do próprio livro;

- Alterar o som da voz ao contar;

-Contar histórias que você tenha gostado;

- Histórias diferentes, engraçadas, de aventuras, de fadas.

Através da história estamos desenvolvendo o gosto pela leitura. Quando se

dá continuidade ao trabalho do conto através de dramatizações, desenhos,

construções, escritas a se produzir.

Além de a criança viajar no mundo oferecido pela história, segundo

BUSATTO (2003), ela poderá elaborar e expressar sentimentos e pensamentos a

partir desse momento. Pode-se enriquecer muito esse trabalho através da

contextualização do conto, mas isso depende da idade e do interesse despertado na

criança através do mesmo.

Contam-se histórias para os menores para distraí-los, muitas vezes sem

importância. Na verdade essa é uma atividade para a alma, comparável ao oxigênio

para o corpo.

O gosto pela poesia, segundo BENJAMIN (1994), é despertado na criança

quando nasce através da cantiga de ninar que ouve num ato de amor e aconchego.

È importante que a escola dê continuidade a essas descobertas lúdicas com

palavras, sons, e ritmos. Um adulto que lê poemas para criança esta estimulando a

gostar de poesias. Os próprios pais se acreditassem, o quanto é importante contar

histórias, dedicaria mais tempo para isso.

Às vezes um momento desses teria mais valor para as crianças do que

certos tipos de brinquedos.

De início devemos nos lembrar de que o aluno tem todo o direito de escolher

as leituras que quer fazer. Ninguém melhor do que ele sabe o que o agrada e o que

mais o interessa. É desnecessário, portanto dizer que o professor é, antes de tudo,

um orientador, aquele que sugere que apresenta alternativas de leitura, e não

aquele que as impõe. Há, evidentemente, momentos, segundo BENJAMIN (1994),

em que o professor também faz a seleção de uma obra para ler, sugerir, discutir e

curtir com os seus alunos, ou mesmo para fazer a encomenda de livros para a

biblioteca. Quais são então os critérios que deverão orientá-lo?

Comecemos destacando alguns pontos que precisam ser evitados a fim de

que a leitura não seja uma experiência desagradável ou até mesmo negativa para o

leitor.

28

12 A NATUREZA DO TEXTO LITERARIO

A obra literária, segundo AGUIAR e SILVA (1986), é um objeto social, o que

equivale dizer que sua existência supõe no mínimo um autor e um leitor, onde o

processo de inteiração se constitui o sentido do texto, onde é de fundamental

importância a participação do leitor.

Por sua natureza, segundo SAMUEL (1985), é a literatura que tem a mais

rica, eficaz e gratificante contribuição a dar na busca do objetivo da formação do

sujeito. Os textos adquirem uma função única, aliando-se à informação e ao prazer

do jogo, envolvem a razão e emoções numa atividade integrativa, conquistando o

leitor. O campo da literatura é o mais amplo possível, pois esta voltada para o

conhecimento do mundo e do ser, por meio da ficção e da realidade.

O que pode ser observado é que quanto maior for o valor literário de um

texto, menores serão as delimitações de faixa etária. A literatura infantil, segundo

CUNHA (1986), é toda a literatura que pode ser lida também pelo adulto. Não se

pode esquecer que, assim como a criança, a literatura é também um jogo, fantasia,

beleza e emoção.

Os interesses de leitura das crianças e dos jovens variam de acordo com a

idade, sexo, escolaridade, elas se encontram em algumas fases: as idades dos

livros de gravuras dos contos de fadas, histórias ambientais, histórias de aventura. O

interesse se modifica. O que se deve exigir na literatura infantil, segundo AGUIAR e

SILVA (1986), é que ela seja de fato literatura. Por ser infantil, não significa que deva

ser uma produção menor, de qualidade inferior.

... os critérios que permitem o discernimento entre o bom e o mau texto para crianças não destoam daqueles que distinguem a qualidade de qualquer outra modalidade de criação literária. Seu aspecto inovador merece destaque, na medida em que é o ponto de partida para a revelação de uma visão original da realidade, atraindo seu beneficiário para o mundo com o qual convivia diariamente, mas que desconhecia. Neste sentido, o índice de renovação de uma obra ficcional esta na ração direta de sua oferta de conhecimento de uma circunstância da qual de algum modo o leitor faz parte. (FRANTZ, 2001, p. 123)

A função do educador, segundo ZILBERMANN (1981), não é apenas a de

ensinar a ler, mas a de dar condições para o aluno realizar a sua própria

aprendizagem, conforme seus interesses, fantasias e dúvidas. O professor estimula

seu aluno através de diversos recursos ou técnicas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura infantil é muito importante nas práticas pedagógicas e um

instrumento valioso para se obter uma boa aprendizagem. O que se propõe é um

trabalho que proporcione aos alunos um momento lúdico, exercitando a imaginação,

a fantasia, a criatividade, e ao mesmo tempo, que se mostre ao aluno a vida de

forma mais poética, com maior liberdade para construir seu conhecimento, pois ela

vem de encontro às novas perspectivas de educação.

O papel do professor é assumir o compromisso com o livro, tendo o hábito

de contar histórias, despertando e desafiando os alunos, abrindo as pastas para o

universo da leitura.

Cabe ao professor a tarefa de utilizar a literatura infantil no seu dia-a-dia,

fazendo com que os alunos possam ter maior interesse e acesso aos livros e

também fazendo com que as crianças venham a ter, futuramente, uma visão mais

crítica.

Atualmente, ser alfabetizado, isto é, a simples aquisição do código escrito,

tem se revelado insuficiente para responder adequadamente às necessidades do

mundo moderno.

Para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa aprimorar-se da função

social da leitura e da escrita, deve ser capaz de fazer uso dessas duas práticas no

dia a dia. É o que chamam de formação de leitores, a convivência das pessoas com

narrativas orais e escritas, com o contato com os livros, com a beleza, com a magia,

o prazer, a satisfação que uma boa leitura pode proporcionar ao seu leitor.

O estudo e a discussão em torno da adequação e da validade da narrativa

de contos de fadas para educação infantil vem sendo discutido por gerações de

professores, psicólogos, orientadores educacionais e pedagogos. E ainda há uma

diversidade de opiniões e divergências.

Por fim, conclui-se que para exercer da cidadania plena, além de aprender a

ler e a escrever, o aluno precisa aprimorar-se da função social da leitura e da

escrita, isto é, deve ser capaz de fazer uso dessas duas práticas no dia a dia,

usando como meio a literatura infantil.

BIBLIOGRAFIA

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