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  • 8/17/2019 Literatura e História da Literatura.doc

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     DLX – Literatura Portuguesa e Brasileira

    Literatura

    Muitos teóricos e estudiosos já refletiram paratentar definir Literatura e a sua função nestemundo, ou mesmo, qual seria a necessidade humanaem produzir Literatura.

    Podemos levar em consideração que a Literatura,ou melhor, o produzir Literatura, é uma forma de  Arteonde a matéria prima para tal é a linguagem.

    e o pintor tra!alha com tintas, pincéis, telas ou painéis, o autor tra!alhará com a lin"ua"em # que nemsempre precisa ser a lin"ua"em escrita$ os "re"os, oshe!reus, os ára!es, os vários povos africanos eind%"enas produziam muitas narrativas e poemas queeram apenas oralizados. &utros, quando se viu anecessidade em al"umas culturas, foram re"istrados por meio da escrita.

    & que parece, é que narrar, fabular, ficcionalizar,imaginar   são condiç'es próprias do ser humanoracional # homo sapiens  # que sente necessidade dee(travasar por meio da )rte, a fim de tornar ae(ist*ncia humana passa"eira um pouco maisa"radável.

    + o papel da Literatura, em!ora não seja de cunhoutilitarista como, muitas vezes, desejamos as coisas, pode ser de nos fazer refletir, en(er"ar além do que se prop'e e repensar nossa e(ist*ncia por meio dasmltiplas e(ist*ncias ficcionais.

    Literatura e História

    Poder%amos começar questionando$ o que diferea Literatura da História -aquela disciplina que temosdesde o +nsino undamental até o +nsino Médio/?

    ) forma de discurso, talvez. Mas, por qu*0

    )l"uém poderia dizer que a temática da qual setrata cada uma, pois a 1istória possui necessariamenteum lastro # ou uma "arantia, podemos dizer # com oreal , com aquilo que realmente ocorreu. 2á a Literaturatrata de temas ficcionais # recriação ou total invençãode al"o poss%vel dentro daquele universo criadoartisticamente.

    3e fato, a distinção entre 1istória e Literaturafeita acima é correta, afinal os discursos diferem, mastam!ém so!re o que se discursa pode ser diferente,

    afinal a Literatura não tem uma o!ri"ação de se fazer  Documentoque resguarda uma interpretaço ouinformaç!es sobre um fato ocorrido"  +nquanto a1istória, em s%ntese, se de!ruçará e(atamente so!reacontecimentos, !uscando diferentes e(plicaç'es einterpretaç'es so!re ele e isso pode depender daintenção de quem a escreve.

    Por e(emplo0

    ) 4uerra do Para"uai -5678956:;/ é certamentecontada -e, porque não dizer, entendida/ de maneiramuito diferente entre os !rasileiros e os para"uaios,como tam!ém o desco!rimento e a colonização do??9?;5;/, escritor portu"u*s, por e(emplo, escreveu mltiplas narrativas tendo a1istória como pano de fundo, utilizando tam!ém seus persona"ens factuais e acontecimentos reais. )1istória não dei(a de tam!ém ser uma "randenarrativa, afinal traz persona"ens # @ero -A:976/,Bsa!el de =astela -58C595C;8/, Maria )ntonieta -5:CC95:>A/, @apoleão 956?5/, rei =aneca-5::>956?C/, )dolf 1itler -566>95>8C/, 4etlio Dar"as

    -566?95>C8/, +vita Perón -5>5>95>C?/, idel =astro-5>?7/ # e é descrita em um tempo determinado e numespaço delimitado. + isso é al"umas das coisascomuns entre a Literatura e a 1istória. &!servemos,contudo, um trecho de Memorial do =onvento,romance de arama"o$

     D" #oo, quinto do nome na tabela real, ir$ estanoite ao quarto de sua mulher, D" %aria Ana

     #osefa, que chegou h$ mais de dois anos da

     &ustria para dar infantes ' coroa portuguesa eaté ho(e ainda no emprenhou" -)E)M)4&,?;;8, p.55

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    e fizermos uma pesquisa histórica so!re o trechoacima, encontraremos o nome de 3om 2oão D -576>95:C;/ como rei de Portu"al entre 5:;7 e 5:C;, !emcomo o de sua esposa, a rainha. Fodavia, vejamos queo trecho traz al"umas informaç'es mais detalhadasso!re a visita do rei ao quarto da rainha, a fim desuscitar herdeiros. Perce!amos que a Literatura de 2oséarama"o nos faz penetrar nos palácios portu"ueses,entre suas "rossas paredes e seus véus e portas paranos dar a not%cia do encontro se(ual do rei com arainha. Bsso nem sempre interessa ao discurso da1istória.

    Dom João V, rei de Portugal

    +m outro momento da mesma narrativa de 2oséarama"o que versa so!re a construção do =onventode Mafra em Portu"al, ainda, poderemos ler$

     )nfim, chegou o dia da inauguraço *"""+" oi a pedra principal benzida, a seguir a pedra segunda e a urna de (aspe, que todas tr-s iriam ser enterradas nos alicerces, e depois foi tudole.ado em procisso, de andor *"""+" Podemosassentar a pedra, porém, se(am as mos de .ossama(estade as /ltimas a tocar0lhe, *"""+ que o restodo con.ento n1s o construiremos, e agora podem

     ser postas as outras pedras, cada uma em suacabeceira desta -)E)M)4&, ?;;8, p.5?6G p.5A595AA/

    &!servemos o que o narrador questiona$ odiscurso da 1istória trará 3om 2oão D como o que

    construiu o =onvento de Mafra. @o discurso daLiteratura, em!ora o rei seja tam!ém uma persona"emliterária neste caso, o foco se dá nos operários

    anHnimos # que não tiveram os seus nomes inscritos na1istória oficial # mas que são os verdadeirosresponsáveis pelas o!ras que levantaram oesplendoroso =onvento.

    Convento de Mafra – Lisboa

    )inda na mesma narrativa de arama"o, pararefletirmos so!re as peculiaridades que distin"uem aLiteratura e a 1istória, podemos verificar como acriação literária é !astante livre em atuar nas lacunas-naquilo que não temos !em certezaG nos espaçosva"osG nas passa"ens mais o!scuras/ da 1istória. &autor de  %emorial do 2on.ento  aproveita9se desuposiç'es para criar cenas prováveis, mas, possivelmente, não ver%dicas, como a que se"ue$

     Perguntou el0rei, 3 .erdade o que acaba de dizer0me sua emin-ncia, que se eu prometer le.antar um con.ento em %afra terei filhos, e o fraderesponde, 4erdade é, senhor, porém s1 se ocon.ento for franciscano -)E)M)4&, ?;;8, p.58/

    )té mesmo a lin"ua"em literária é !em maislivre. Perce!amos que arama"o cria um estilo deescrita # o que é poss%vel na Literatura # onde não usaoutros sinais de pontuação que não a v%r"ula e o ponto. @o diálo"o entre o rei e frei )ntónio não há uso detravess'es e dois pontos, !em como em todo o restantede %emorial do 2on.ento.

    Pensava em coisas semelhantes outro autor  portu"u*s, este do século IBI, chamado )le(andre1erculano -565;956::/. @a introdução de 5 bispo

    negro, conto presente em suas  Lendas e 6arrati.as,so! a pena de 1erculano, o narrador faz uma opção$

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     Apro7ima.a0se o meado do duodécimo século" 5 pr8ncipe de Portugal Afonso 9enriques, depois deuma re.oluço feliz, tinha arrancado o poder dasmos de sua me" :e a hist1ria se contenta com otriste espet$culo de um filho condenado ao e78lioaquela que o gerou, a tradiço carrega as tintasdo quadro, pintando0nos a desditosa .i/.a do2onde 9enrique a arrastar grilh!es no fundo deum calabouço" A hist1ria conta0nos o facto; atradiço, os costumes" A hist1ria é .erdadeira, atradiço .eross8mil; e o .eross8mil é o queimporta ao que busca as lendas da p$tria"-1+E=JL)@&, 5>8>, p.?CA9?C8/

    st!tua de "fonso Henriques em Portugal,

    #onsiderado o fundador da na$ão lusitana

    a!emos que a maioria dos autores queteorizaram so!re a 1istória afirmam, atualmente, que a.erdade  é muito relativa no que se refere aos fatoshistóricos, já que há maneiras distintas de contar a1istória, pontos de vista muito diferentes einterpretaç'es diver"entes frente a um mesmo fato # nunca feitas com neutralidade. ) 1istória é, portanto,

    tam!ém um construto que depende que quem a conta ede suas intenç'es. =ontudo, pode9se entender a opçãoque o narrador dK5 bispo negro faz$ sua narrativa tem !ase na 1istória, mas dá vazão a poss%veis realidadesque nem sempre interessam 1istória documental,como, por e(emplo, de que maneira se sentiu 3onaFeresa, esposa do =onde 1enrique, ao ser encarcerada pelo próprio filho$ a infeliz viva arrastando "rilh'es etrancafiada em uma masmorra. Mais do que isso, onarrador utiliza uma e(pressão que compara a tradição # ou seja, o que seria o poss%vel e o veross%mil, masnão necessariamente o real # com a pintura em suas

    mltiplas matizes, que podem impressionar muito maisdo que um relato documental9histórico e sistemático.Por fim, o narrador, que !usca as lendas da pátria,

    afirma que a tradição # o .eross8mil , isto é, o que maisse apro(ima do poss%vel e o que poderia ser fact8.el , éo que de fato lhe interessa em 5 bispo negro.

     @a introdução de 5 monge de 2istér ou a épocade D" #oo

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    ou  )scolas Liter$rias. Mas, nunca devemos nosesquecer de que estamos diante de um todo realmentemuito comple(o e que não podemos entender a1istória da Literatura simplesmente separando tudo emnichos,  pastas  e  ga.etinhascompartimentadas, poissempre haverá uma o!ra, um autor ou autora que não

    se enquadrará em todas as caracter%sticas ditas seutempo.

    Portanto, toda vez que falamos de Literatura, de)rte ou mesmo de 1istória, estamos falando de

     predomin=ncias  e não de e7clusi.idades  e tais predominOncias viram uma espécie de estere1tipo  oumodelo daquele momento histórico.

    ()neros Liter!rios

    e pensarmos em Literatura como uma e(pressãoart%stica por meio da lin"ua"em, seja ela oral ou"rafada, tam!ém podemos pensar nas formas comoaparecem em composição.

    )  3pica  ou  )popeia, por e(emplo, que, muito provavelmente, tiveram sua ori"em na 4récia )nti"a, éum "*nero em versos que conta as façanhas passadasde um herói # dois "randes poemas do "*nero, a  ?6 a.=96>6 a.=./, são de ori"em "re"a. +ram, na )nti"uidade,cantados e acompanhados de instrumentos musicais. N poss%vel que os poema re"istrados por 1omero tenhamcerca de duzentos anos de tradição oral. Mas tam!ém, posteriormente, na Eoma se utilizou o "*nero, como na )neida de Dir"%lio -:; a.=.95> a.=./ e, ainda maistarde, outros poetas, como o italiano 3ante )li"hieri-5?7C95A?5/ e o portu"u*s Lu%s Daz de =am'es -5C?895C6;/ retomaram o "*nero épico em suas produç'es,o!viamente com as particularidades do mundo pósBdade Média e já cristianizado.

    2anta0me, 1 deusa, do Peleio Aquiles A ira tenaz, que, lutuosa aos >regos,4erdes no 5rco lançou mil fortes almas,2orpos de her1is e ces e abutres pasto-1&M+E&, 5>78, p.A/

    Femos acima o princ%pio da  78, p.:5/

    Fendo visto isso, podemos retomar o filósofo"re"o )ristóteles -A7:77 a.= # A?? a.=./ em seuestudo so!re os diferente "*neros de sua época # 

     Poética # discorria que Q) epopeia, o poema trá"ico, !em como a comédia, o ditiram!o e, em sua maior  parte, a arte do flauteiro e a do citaredo, todas v*m aser, de modo "eral, imitaç'es. 3iferem entre si em tr*s pontos$ imitam ou por meios diferentes, ou o!jetosdiferentes, ou de maneira diferente e não a mesma.R-)EBFSF+L+, 5>6:, p.?;5/. )ristóteles aindadistin"uiu os que imitam homens de ele.ada 8ndoledosque imitam homens de bai7a 8ndole, classificando, por e(emplo, a imitação praticada pela épica # que trata deheróis # como imitação de homens elevados, enquantoque a comédia -su!"*nero dentro do dramático/retratava seres cheios de v%cios e ris%veis naqueleconte(to social.

    &s meios diferentes a que )ristóteles se refere sãoas maneiras de composição estruturais # metrificaçãode versos e ritmos, por e(emplo, já que a poesia nasce junto com a msica # e a maneira são os "*nerosliterários.

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    e tomarmos, por e(emplo, o poema  %eus oitoanos de =asimiro de )!reu -56A:9567;/, poeta !rasileiro do século IBI, verificaremos al"o !astantediferente do que hav%amos visto no estilo de 1omero$

    Meus oito anos

    5hC :ou.enirsC PrintempsC AuroresC4ictor 9ugo5hC que saudades que tenho

     Da aurora da minha .ida, Da minha inf=ncia querida?ue os anos no trazem maisC?ue amor, que sonhos, que flores,

     6aquelas tardes fagueiras  sombra das bananeiras, Debai7o dos laran(aisC

    2omo so belos os dias Do despontar da e7ist-nciaC0 Eespira a alma inoc-ncia2omo perfumes a flor;5 mar 0 é lago sereno,5 céu 0 um manto azulado,5 mundo 0 um sonho dourado,

     A .ida 0 um hino dFamorC

    ?ue aurora, que sol, que .ida,?ue noites de melodia

     6aquela doce alegria, 6aquele ing-nuo folgarC5 céu bordado dFestrelas,

     A terra de aromas cheia As ondas bei(ando a areia ) a lua bei(ando o marC

    5hC dias da minha inf=nciaC5hC meu céu de prima.eraC?ue doce a .ida no era

     6essa risonha manhC

     )m .ez das m$goas de agora, )u tinha nessas del8cias De minha me as car8cias ) bei(os de minha irmC

     Li.re filho das montanhas, )u ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito,0 Pés descalços, braços nus 02orrendo pelas campinas

     A roda das cachoeiras,

     Atr$s das asas ligeiras Das borboletas azuisC

     6aqueles tempos ditosos 8895>6>/, poeta curiti!ano no poema que se"ue$

    quando eu ti.er setenta anosento .ai acabar esta adolesc-ncia

    .ou largar da .ida loucae terminar minha li.re doc-ncia

    .ou fazer o que meu pai quercomeçar a .ida com passo perfeito

    .ou fazer o que minha me dese(aapro.eitar as oportunidadesde .irar um pilar da sociedadee terminar meu curso de direito

    ento .er tudo em s consci-nciaquando acabar esta adolesc-ncia

    -L+MB@UB, ?;5A, p.CC/

    LeminsTi, !em como =asimiro de )!reu, fala deuma indi.idualidade, ou seja, de um sentimentoentranhado, interno e sub(eti.o, ao contrário do poemaépico que valoriza muito mais um coletivo. 3o quevem das entranhas # isto é, de dentro # nósdenominamos como g-nero L8rico"

    ) palavra l%rica tem ori"em com o instrumentolira, onde suas cordas eram feitas com tripas

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    dissecadas de animais$ por isso si"nifica al"o que vemde dentro.

    ) terceira divisão de "*neros está !astante li"adas apresentaç'es teatrais$ é o g-nero Dram$tico, queleva esse nome devido dramatização de um te(to.

    )liás, a palavra teatro  vem do "re"o e pode ser traduzida como lugar de onde se .-.

    Dejamos que em sua ori"em os "*neros não eram para serem lidos silenciosamente, mas sim para seremcantados -épica e l%rica/ ou então encenados-dramático/. Mas o interessante tam!ém é que oste(tos dramáticos continham ritmos, al"uns possu%amrimas e metrificaç'es, assim como os poemas. &satores vestiam tnicas lon"as que co!riam seus corpos,calçavam espécies de coturnos com saltos altos paraque pudessem ser visualizados e usavam máscaras que

    distin"uiam uma persona"em de outra, já que ummesmo ator representava muitos papéis. )s peças eramapresentaç'es festivas e p!licas nos anfiteatros"re"os.

    *em+lo de anfiteatro grego

     @a 4récia e depois na Eoma )nti"a, conheceu9sea tra"édia e a comédia dentro da dramatur"ia. )m!as possu%am um papel que ia para além doentretenimento$ a comédia # que, de acordo com)ristóteles, imitava os defeitos das pessoas # tinha umcunho de fazer pensar nos próprios defeitos ecorrupç'es. 2á a tra"édia deveria "erar no seue(pectador a piedade # fazendo o que a assistia secolocar no lu"ar da persona"em em suas des"raças # eo medo, porque poderia ser tam!ém com o e(pectador.

     Prometeu Acorrentado, dramatur"ia em tra"édiaatri!u%da a Nsquilo -C?C a.=98CC a.=./, traz no in%cio onome de suas persona"ens e o lu"ar onde se passa$

     P)E:56A>)6: 

    2EA@5:, a orça B6;, p.55/

    ) primeira informação da cena é descritiva e nosrevela o que se passa, porém ela não será ver!alizada,mas sim e(ecutada, a isso, no te(to dramático, damos onome de rubrica, que é como que o esqueleto doste(tos de tal "*nero$ está ali, não é e(posta, mas dátoda sustentação para as aç!es e falas que são, de fato,e(ternadas ao p!lico. Perce!amos que após a ru!ricase"ue então a fala das persona"ens em discurso direto.

    M!s#ara +ara tragdia

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    M!s#ara +ara #omdia

    3entro ainda do "*nero dramático outros

    su!"*neros ainda sur"iram # para além da tra"édia e dacomédia. & auto e a farsa, por e(emplo, são maneirasde representação teatral com o!jetivos moralizantes eque se acentuaram após a cristianização da +uropa. +mPortu"al, por e(emplo, nota!ilizou9se na criação deautos e farsas a fi"ura de 4il Dicente -587C95CA:/ queviveu entre o final da Bdade Média e o in%cio doEenascimento. )ntes de 4il Dicente não se tem not%ciade teatro em Portu"al.

    ) farsa é muito semelhante comédia e e(plorasituaç'es en"raçadas e "rotescas do quotidiano. 2á oauto era "eralmente apresentado em festas reli"iosas # após as missas e em praças p!licas # trazendo sempreum contedo recheado de sim!olo"ias e com um tommoralizante. &s autos de 4il Dicente tam!ém trazem ohumor como uma maneira de fazer pensar, masse"undo e"ismundo pina -5>?59?;5?/, Qnuncaatacava instituiç'es$ atacava, sim, os homens que nela prevaricavam.R -PB@), 5>6>, p.55/.

    -a ilustra$ão o frade tra. a mo$a +ela mão e asarmas

    +ntão como isso pode se confi"urar$

    4em um EAD) com uma %oça pela mo, e umbroquel e uma espada na outra, e um casco debai7odo capelo; e ele mesmo fazendo bai7a começou adançar *"""+

     DIABO?ue é isso, padreI ?ue .ai l$IFRADE 

     DeograciasC :ou corteso"*"""+

     DIABO*"""+ )ntrai, padre re.erendoCFRADE 

     Para onde le.ais genteI DIABO Para aquele fogo ardente?ue no temestes .i.endo"

    FRADE  #uro a Deus que no te entendoC ) este h$bito no me .alI DIABO2entil padre mundanal,

     A Belzebu .os encomendo"*"""+

     De.oto padre e marido, 9a.eis de ser c$ pingado"""-DB=+@F+, 5>6>, p.7C977/

    Mas os autos foram tam!ém utilizados no ?:9?;58/, dramatur"o e autor de nossosdias escreveu o famos%ssimo Auto da 2ompadecida, jásem rimas e métricas, mas com a tradição dos autos de4il Dicente mesclados com a reli"iosidade popular e acultura do @ordeste !rasileiro. Mais tarde, o Auto da2ompadecida  se tornaria uma minissérie da Eede4lo!o.

    "riano /uassuna, autor de "uto da Com+ade#ida

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     JOÃO GRILO )sse era um cachorro inteligente" Antes de morrer,olha.a para a torre da igre(a toda .ez que o sinobatia" 6esses /ltimos tempos, ($ doente para morrer,bota.a uns olhos bem compridos para o lado daqui,latindo na maior tristeza" Até que meu patro

    entendeu, com a minha patroas, é claro, que ele queria ser abençoado pelo padre e morrer como cristo" %asnem assim ele sossegou" oi preciso que o patro

     prometesse que .inha encomendar a b-nço e que, nocaso de ele morrer, teria um enterro em latim" ?ue emtroca do enterroacrescentaria no testamento dele dezcontos de réis para o padre e tr-s para o sacristo"

     SACRISTÃO,en7ugando uma l$grima?ue animal inteligenteC ?ue sentimento nobreCJ2alculistaK ) o testamentoI 5nde est$I

     JOÃO GRILO oi passado em cart1rio, é coisa garantida" *"""+

    -J)J@), 5>6C, p.7A978/

    &!viamente o teatro atual, !em como a própria poesia, passam para além destas convenç'es e, muitasvezes se cruzam os "*neros, mas conforme jáafirmamos, essas são as tend*ncias predominantes emrelação aos "*neros. Femos ainda o su!"*nero dramadentro da dramatur"ia, que se caracteriza por apresentar a seriedade de um conflitohumano ousocial.

    " liberdade na linguagem liter!ria

    Por se tratar de uma criação art%stica, a lin"ua"emliterária "oza de maior li!erdade, diferentemente deoutros te(tos formalizados que escrevemos ou lemos.Mas e os "*neros que aca!amos de estudar0 +les sãoas convenç'es # os estereótipos # mas nada impedeque um autor crie coisas e(tremamente diferentes doque vimos até a"ora.

    +(istem, por e(emplo, poemas e(tremamentevisuais, como é o caso das produç'es chamadas

    concretistas. 1á ainda a questão da Literatura fora doslivros, como, por e(emplo, nos muros das "randesmetrópoles.

    Poema de Paulo Lemins0i num estilo #on#retista

    Poesia +ara alm dos +adr1es #ristali.ados

    2á vimos trechos, por e(emplo, do autor portu"u*s2osé arama"o que não utiliza as pontuaç'esconvencionais para delimitar os discursos diretos emdiálo"os$ isso é poss%vel porque o autor estátra!alhando a L%n"ua como meio estético.

    &u ainda, como o autor mineiro 2oão 4uimarãesEosa -5>;695>7:/ que reproduz em suas o!ras muitodo voca!ulário mineiro ou fazendo junç'es de palavrascom prefi(os e sufi(os e criando neolo"ismos$ Q)rre, e !ufava, um poucadinho. ó rosneava curto, !ai(o, asmeias9palavras encrespadas. Dinha reolhando,

    historiando a papeladaR -E&), ?;5C, p.?:/. Fam!émessa li!erdade de criação é poss%vel na produçãoliterária.

    " narrativa e seus elementos

    )credita9se que os te(tos épicos # antes em.ersos  # foram tam!ém se transformando, com o passar do tempo, em  prosa. +les não dei(avam denarrar, mas adquiriam uma nova forma. )s novelas decavaria na Bdade Média, por e(emplo, são "eralmente

    te(tos épicos em prosa. Mas já na anti"uidade e(istiamte(tos literários em prosa, como é o caso das á!ulasatri!u%das a +sopo -7?; a.=.9C78 a.=./ e de :atiriconde PetrHnio -?:977/.

    e há uma narrativa, ela precisa de um narrador.Mas a .oz que narra um te7to ficcional no pode ser confundida com a do autor do te7to. & autor, por e(emplo, pode ser um homem que vive ainda hojeentre nós, mas a narradora pode ser uma mulher daépoca da Eevolução rancesa, afinal a criação art%stica,como vimos, possui as suas li!erdades.

    Jm narrador pode ser em terceira pessoa # aquiloque costumamos chamar de narrador obser.ador   # 

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     porque não é uma persona"em da narrativa. Dejamos oe(emplo em  Bocatorta, conto de Monteiro Lo!ato-566?95>86/$

     A quarto de légua do arraial do Atoleiro começam asterras da fazenda de igual nome, pertencente ao ma(or 

     Hé Lucas" A meio entre o po.oado e o estiro dasmatas .irgens dormia de papo acima um famoso p=ntano" *"""+m bre(o, enfim, como cem outros"

     6otabiliza0o, porém, a profundidade" 6inguém ao .-0lo to calmo sonha o abismo traidor oculto sob a.erdura"Dois, tr-s bambus emendados que lhe tentemalcançar o fundo sub.ertem0se na lama sem alçar pé"

     Além de .$rios animais sumidos nele, conta0se o casodo :imas, portugu-s teimoso que, na birra de sal.ar um burro ($ atolado a meio, se .iu engolidolentamente pelo barro maldito" DesdFa8 ficou o

    atoleiro gra.ado na imaginati.a popular como umadas bocas do pr1prio inferno"*""" + 6a manh daquele dia passara por ali o trole do

     fazendeiro, de .olta da cidade" Além do .elho, de suamulher DonFAna e de 2ristina a filha /nica, .inha a

     passeio o bacharel )duardo, primo longe e noi.o damoça" 2hegaram e agora ou.iam na .aranda, da bocado 4argas, fiscal, a not8cia do sucedido durante aaus-ncia" #$ contara 4argas do café, da pu7ada dosmilhos e esta.a na criaço"-L&95?;/

    +m  Bocatorta, o narrador é quase com umaentidade que nos conta os fatos narrados # o enredo # sem participar deles como uma persona"em.Lem!ramos que o enredo nem sempre precisa ser contado linearmente ou o!edecendo a uma linhacronoló"ica dos fatos.

    &utro e(emplo de narrador em AW pessoa é 5homem trocado de Luis ernando Der%ssimo -5>A7/$

    5 homem acorda da anestesia e olha em .olta" Ainda

    est$ na sala de recuperaço" 9$ uma enfermeira do seu lado" )le pergunta se foi tudo bem" – @udo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo" -D+EXBM&, ?;;5, p.?:/

    2á em  Pessach a tra.essia, de =arlos 1eitor =onY -5>?7/, quem nos dá not%cias do que se passa etraz as próprias impress'es ao lon"o da narrativa é a persona"em Paulo im'es. N um narrador2+ersonagem ou em 34 +essoa$

     9o(e, M de março de NOO, faço quarenta anos" A

    data no me irrita, nem me surpreende" randes lampad$rios ardiam ($ na sala dQarmas doalc$cer de 2oimbra, pendurados de cadeias de ferrochumbadas nos fechos dos arcos de .olta de ferraduraque sustenta.am os tectos de grossa cantaria" Pelos

     fei7es de colunas delgadas, entre si separadas, masligadas sob os fustes por base comum, pendiam corpos

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    de armas, que re.erbera.am a luz das l=mpadas e pareciam ca.aleiros armados, que em sil-ncio guarda.am aquele amplo aposento" -1+E=JL)@&,5>8>, p.?C8/

    &u ainda como o narrador de Machado de )ssis

    em A cartomante descreve o lu"ar onde vive a senhoraque atende a =amilo num jo"o de cartas com intençãode adivinhação$

    4eio uma mulher; era a cartomante" 2amilo disse queia consult$0la, ela f-0lo entrar" Dali subiram ao s1to,

     por uma escada ainda pior que a primeira e maisescura" )m cima, ha.ia uma salinha, mal alumiada

     por uma (anela, que da.a para os telhados do fundo"4elhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza,que antes aumenta.a do que destru8a o prest8gio"

     A cartomante f-0lo sentar diante da mesa, e sentou0sedo lado oposto, com as costas para a (anela, demaneira que a pouca luz de fora batia em cheio norosto de 2amilo" Abriu uma ga.eta e tirou um baralhode cartas compridas e en7o.alhadas" -)B,te(to!v;;;?C:.pdf /

    e pensarmos como se conclui o conto  Acartomante de Machado de )ssis, podemos refletir quetalvez não foi por acaso que o autor tra!alhou em talam!ientação da casa da cartomante na narrativa.

    5efer)n#ias

    )>>.

    )EBFSF+L+, Poética. Fradução$ +udoro de ouza. @ova =ultural, ão Paulo, 5>6:.

    )B, Machado de.  A cartomante.]http$[[[.dominiopu!lico."ov.!rdo[nloadte(to!v

    ;;;?C:.pdf^ )cesso em ;? de fevereiro de ?;57.)B, Machado de.  %issa do galo.]http$[[[.projetodemaoemmao.com.!rdo[nloadslivros9machado9assis.pdf ̂ )cesso em ;? de fevereirode ?;57.

    =&@Z, =arlos 1eitor. Pessach$ a travessia. )lfa"uara,Eio de 2aneiro, ?;;:.

    NVJBL&.  Prometeu Acorrentado" @eatro >rego os grandes cl$ssicos. &tto Pierre +ditores, Eio de 2aneiro,5>6;.

    1+E=JL)@&, )le(andre. Lendas e 6arrati.as. _.M.2acTson, ão Paulo, 5>8>.

    1+E=JL)@&, )le(andre. 5 %onge de 2istér ou aépoca de D" #oo il 4icente introduço eestabelecimento do te7to. 6>.

    J)J@), )riano. Auto da 2ompadecida. )"ir, Eiode 2aneiro, 5>6C.

    D+EXBM&, Luis ernando. 2omédias para se ler naescola. &!jetiva, Eio de 2aneiro, ?;;5.

    DB=+@F+, 4il. Auto da barca do inferno. 6>.

    *er#6#ios

    73' -JE/ & "*nero dramático, entre outros aspectos,apresenta como caracter%stica essencial$

    a/ a presença de um narrador.

     !/ a estrutura dialó"ica.

    c/ o e(travasamento l%rico.

    d/ a musicalidade.

    e/ o descritivismo.

    78' +@+M9?;58

    )

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     -P+@), Martins. 9uem #asa quer #asa.[[[.dominiopu!lico."ov.!r. )cesso em : dez ?;5?/

    )s ru!ricas em itálico, como as trazidas no trechode Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem$

    a/ necessidades, porque as encenaç'es precisam serfiéis s diretrizes do autor.

     !/ possi!ilidade, porque o te(to pode ser mudado,assim como outros elementos.

    c/ preciosismo, porque são irrelevantes para o te(toou a encenação.

    d/ e(i"*ncia, porque elas determinam ascaracter%sticas do te(to teatral.

    e/ imposição, porque elas anulam a autonomia dodiretor.

    7:'  -J@B=9;8/ 3as afirmaç'es a se"uir, qual éinadequada para definir ou compreender literatura0

    a/ ) primeira estrofe do poema Q)utopsico"rafiaR,de ernando Pessoa, diz$ Q& poeta é um fin"idor.in"e tão completamente Vue che"a a fin"ir queé dor) dor que deveras senteR. 3a% dá para

    deduzir que o escritor é um criador demundos, deemoç'es, de ilus'es, de verdades.

     !/ )o definir o escritor como criador demundos,isso não si"nifica que o te(to literário não possaestar !aseado nas realidades e(istentes.

    c/ ) literatura não lida apenas com emoç'es va"ase distantesG ela tam!ém se de!ruça so!rerealidades sociais, denunciando desajustes einjustiças. N o que fez, por e(emplo, =astro )lves,

    com seus vi"orosos poemas contra a escravidão.

    d/ N evidente que a poesia sempre se constituiráte(to mais literário do que a prosa -contos,romances, etc./, porque a primeira e(i"eha!ilidades, técnicas, conhecimentos teóricos, quea se"unda dispensa sem nenhum pro!lema.

    e/ @em sempre a literatura necessita de al"um

    o!jetivo que se localize fora delaG a o!ra de arteliterária pode voltar9se so!re si mesma, "erar  prazer estético, tanto para o autor como para o

    leitor. N uma finalidade perfeitamente adequada literatura.

    7;'  %usa, reconta0me os feitos do her1i astucioso

    que muito peregrinou, d-s que esfez as muralhas

     sagradas de @roia; muitas cidades dos homens .ia(ou,

    conheceu seus costumes, como no mar padeceu

     sofrimento in/meros na alma, para que a .ida

     sal.asse e de seus companheiros a .olta"

    1&M+E&. 5disseia. Fradução$ =arlos )l!erto @unes.C. ed. Eio de 2aneiro$ +diouro, 5>>:. =oleçãoJniversidade. -ra"mento/.

    & te(to acima é parte da cena de a!ertura do poemaépico "re"o &disseia. ) partir da leitura atenta dofra"mento e dos conhecimentos acumulados so!re o"*nero épico, podemos afirmar que este$

    a/ Fem como caracter%stica principal a e(ist*ncia decinco fatores$ tempo, espaço, narrador, persona"em eenredo.

     !/ Eesponde necessidade humana de e(pressão daindividualidade e da su!jetividade, a partir da presençamarcante de um eu l%rico.

    c/ 4ira em torno, principalmente, do cuidado com alin"ua"em, concentrando9se mais na forma do que nocontedo.

    d/ =ele!ra, em estilo solene e "randioso, umacontecimento histórico prota"onizado por um herói.

    e/ =oncentra9se no diálo"o como principal fiocondutor da história.

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     3 a realeza dos bambas

    ?ue quer se mostrar

    :oberba, garbosa

     %inha escola é um cata.ento a girar

     3 .erde, é rosa

    &h, a!re alas pra Man"ueira passar

    -=A

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    3' b8' a:' d;' d