literacia e capacitaÇÃo

10
10 A Literacia: uma acessibilidade a priori no verdadeiro caminho para a capacitação Cristina Vaz de Almeida Pós graduada em Marketing Mestre em Novas Tecnologias em Educação em e.learning Docente ISPA em «Literacia em Saúde» O que torna umas pessoas saudáveis e outras não? Como podemos criar uma sociedade onde todas as pessoas têm a oportunidade de viver mais tempo de forma saudável? Como conseguir pessoas com maior capacidade de entender a sociedade que as rodeiam? O primeiro passo passa certamente por conhecer esse público-alvo a quem as politicas se dirigem. Saber ainda em que contexto essa pessoa se move, a família que tem, a comunidade onde está inserta, os seus hábitos e preferências, a razão das suas decisões. Capacitar significa ter também uma enorme capacidade de empatia: compreender o outro para o ajudar a superar os obstáculos que são barreiras à verdadeira capacitação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem reforçar o conceito e definir a literacia em saúde como o conjunto de “competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para acederem, compreenderem e usarem informação de forma a que promovam e mantenham boa saúde». Compreender adequadamente o ambiente envolvente para se viver melhor em sociedade parece ser outro dos passos imprescindíveis para conhecer os caminhos para a capacitação, conduzindo a uma reflexão em que as variáveis Pobreza, Baixa Literacia e Desemprego poderão ter uma interligação numa relação de causa-efeito. Um documento redigido pelo Parlamento Europeu (PE 305.708 A5-0009/2002) sob a orientação da Eurodeputada Marie-Thérèse Hermange, sobre a iliteracia na Europa e a exclusão social relata que «A iliteracia provoca uma clivagem crescente entre os privilegiados e em relativa segurança e os desfavorecidos e marginalizados, que não têm acesso ao emprego e são afetados por uma insegurança financeira, um isolamento e uma não participação na vida social».

Upload: miguel-domingues

Post on 19-Jul-2015

126 views

Category:

Education


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

A Literacia: uma acessibilidade a priori no verdadeiro

caminho para a capacitação

Cristina Vaz de Almeida

Pós graduada em Marketing

Mestre em Novas Tecnologias em Educação em e.learning

Docente ISPA em «Literacia em Saúde»

O que torna umas pessoas saudáveis e outras não?

Como podemos criar uma sociedade onde todas as pessoas têm a oportunidade de viver

mais tempo de forma saudável? Como conseguir pessoas com maior capacidade de

entender a sociedade que as rodeiam?

O primeiro passo passa certamente por conhecer esse público-alvo a quem as politicas

se dirigem. Saber ainda em que contexto essa pessoa se move, a família que tem, a

comunidade onde está inserta, os seus hábitos e preferências, a razão das suas decisões.

Capacitar significa ter também uma enorme capacidade de empatia: compreender o

outro para o ajudar a superar os obstáculos que são barreiras à verdadeira capacitação.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem reforçar o conceito e definir a literacia

em saúde como o conjunto de “competências cognitivas e sociais e a capacidade dos

indivíduos para acederem, compreenderem e usarem informação de forma a que

promovam e mantenham boa saúde».

Compreender adequadamente o ambiente envolvente para se viver melhor em

sociedade parece ser outro dos passos imprescindíveis para conhecer os caminhos para a

capacitação, conduzindo a uma reflexão em que as variáveis Pobreza, Baixa Literacia e

Desemprego poderão ter uma interligação numa relação de causa-efeito.

Um documento redigido pelo Parlamento Europeu (PE 305.708 A5-0009/2002) sob a

orientação da Eurodeputada Marie-Thérèse Hermange, sobre a iliteracia na Europa e a

exclusão social relata que «A iliteracia provoca uma clivagem crescente entre os

privilegiados e em relativa segurança e os desfavorecidos e marginalizados, que não têm

acesso ao emprego e são afetados por uma insegurança financeira, um isolamento e uma

não participação na vida social».

Page 2: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

Ainda de acordo com este documento, «de um ponto de vista económico, a iliteracia

traduz-se em custos para as empresas e para a sua modernização: sobrecargas ligadas às

taxas de acidentes graves, sobrecarga horária devido à necessidade de um

enquadramento pessoal suplementar, com os efeitos da não produção de riqueza, ligada

à ausência de um nível de qualificação adequado.

Os adultos com literacia limitada gerem pior as suas doenças crónicas e são mais

hospitalizados do que as pessoas com competências fortes de literacia em saúde. São

algumas das conclusões do Institute of Medicine (IOM), Comité para a Literacia em

Saúde EUA, em 2006.

Os benefícios da melhoria da literacia em saúde da população conduzem a uma maior

capacitação do indivíduo, promovendo uma melhor vivência, qualidade de vida e uma

maior cidadania participativa, onde o destinatário final atua de forma vívida no seu

processo de saúde. Neste processo de aprendizagem e evolução progressiva de

compreensão do mundo que o rodeia, o indivíduo melhora a sua relação com o mundo e

consegue para si e para os que o rodeiam um efeito positivo abrangente.

Pelas várias observações realizadas junto de populações com baixa literacia (associadas

também aos determinantes da saúde), se conseguirmos que uma pessoa progrida no seu

nível de literacia, obtém-se um efeito exponencial, pois esta, no meio onde está inserta,

no seu campo de influência, na sua comunidade, acaba por influenciar de forma

intencional ou não, um conjunto de pessoas, que desta forma assimilam, muitas vezes

espontaneamente uma «causa-efeito», onde se projeta uma maior capacidade de

desenvolver o autocuidado e dos que o rodeiam, assim como uma maior eficiência e,

não menos importante, uma redução de custos nos sistemas de saúde.

O caminho da literacia para uma maior cidadania realça a necessária existência de um

compromisso, que deve ser refletido em toda a cadeia de interações onde existe um

envolvimento do cidadão em todo o processo, mesmo que muitas vezes não tenha

essa plena consciência de ser interventor e de estar a ter um contributo decisivo

para a mudança.

Segundo Santos, Dias, Gonçalves, e Sakellarides, dois dos principais pilares da Carta de

Ottawa, referem-se exatamente à necessidade de "reforçar as ações na comunidade" e

de "capacitar as pessoas" para poderem tomar decisões inteligentes sobre a sua saúde».

Ora, reforçar as ações e capacitar, pressupõe que as iniciativas e o desenvolvimento de

ações e projetos sejam assimilados adequadamente por estes públicos e os levem a

mudar atitudes ou comportamentos.

Page 3: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

Os especialistas concordam que não se pode saturar as pessoas com excesso de

informação. É necessário oferecer-lhes caminhos e etapas práticas para saberem o que

fazer quando precisam de modificar os seus comportamentos.

As pessoas também não mudam por si só. De fato também é opinião já muito

generalizada entre os peritos, que a mudança tem de ser realizada no contexto em

que a pessoa se encontra, procurando-se uma visão holística do meio onde interage.

Talvez fosse útil que as questões de «implementação e desenvolvimento de uma melhor

literacia nas áreas da saúde» passassem claramente por uma melhoria dos processos da

Comunicação, através de uma melhor avaliação, criação e adaptação dos processos e

dos suportes de comunicação para melhorar a compreensão das pessoas sobre a sua

envolvente.

Um estudo muito completo realizado em 2009 sobre A Dimensão Económica da

Literacia em Portugal: Uma Análise, refere que o défice de literacia gera níveis

indesejáveis de desigualdade com consequências importantes, nomeadamente, na

educação e na saúde.

Um estudo, publicado em Março 2012, no British Medical Journal, descreve e evidencia

que as pessoas que têm dificuldades em ler e compreender informação básica em saúde

estão em grande risco de morrer prematuramente.

A pesquisa incidiu nos comportamentos de 7.857 adultos mais velhos (mais de 52 anos)

num estudo entre 2004 e 2005. As mortes foram registadas até 2009.

Clareza e simplicidade na informação e assertividade

Como gerar um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo numa Europa de

crescente problemática do envelhecimento, da pobreza e do desemprego?

Estarão os cidadãos conscientes do seu papel em termos de responsabilidade social e

individual?

Estarão os organismos e as instituições da saúde conscientes dos efeitos da problemática

de uma baixa literacia?

A mudança deve passar pelo esforço conjunto das instituições da sociedade para

criarem, desenvolverem e implementarem sistemas e estruturas de incremento da

literacia como forma de aumentarem não apenas a maior compreensão do indivíduo

sobre a sociedade onde se enquadra, mas também o seu papel como Cidadão

responsável. Não podemos deixar o cidadão que tem baixa literacia mudar o

Page 4: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

comportamento por ele próprio. As organizações de saúde, os especialistas e peritos, os

profissionais de saúde têm de fato uma enorme responsabilidade nesta mudança,

apoiados por meios que lhes permitam fazer esta obra, que acabará também por se

refletir em efeitos positivos neles próprios num circulo mais gracioso.

A clareza na informação veiculada, a simplicidade na linguagem escrita e oral, a

linguagem assertiva, a melhoria dos níveis de comunicação entre profissionais e

entre estes e os seus públicos-alvo são alguns dos caminhos que têm demonstrado

ter algum sucesso na melhoria dos níveis de literacia da população.

Está provado que mesmo as pessoas com elevada literacia preferem textos mais simples

(Doak).

Legibilidade e Lecturabilidade para uma maior acessibilidade

Quando por exemplo as pessoas não compreendem um texto tendem a saltar as

palavras, colocando em risco a compreensão do texto ou do suporte a que acedem.

Assim imagine-se que uma pessoa está a ler um rótulo sobre determinado produto

tóxico e que não compreende nem o texto nem o seu risco.

Está provado que a capacidade que um individuo tem para ler ou analisar qualquer tipo

de rótulo nutricional requer as mesmas competências analíticas e conceptuais que são

necessárias para compreender e cumprir instruções médicas. Estas competências

constituem a literacia em saúde e incluem a compreensão e aplicação de palavras

(prosa), números (numeracia) e formulários (documentação), revela o Newest Vital

Sign, um teste que usa um rótulo de gelado para medir a literacia.

Apesar de conseguirem descodificar palavras, frases e até textos, muitas pessoas

não conseguem compreender a informação escrita contida em livros, jornais,

folhetos, etc. Além disto, apesar de conhecerem os números, grande parte das pessoas

não consegue fazer cálculos simples.

Dois aspectos centrais em literacia são os conceitos de: legibilidade (ou legibility) e de

lecturabilidade (readability).

A Legibilidade relaciona-se com a percepção visual e a Lecturabilidade com a

compreensão intelectual do texto. Autores como Gerrit Ovink definiram a legibilidade

como "a facilidade e precisão com a qual o leitor percebe os textos impressos". A leitura

Page 5: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

eficiente de uma página impressa requer que o leitor converta, o mais rápido possível,

símbolos tipográficos ou caracteres, em palavras.

A legibilidade corresponde à facilidade em realizar esta descodificação e a capacidade

de distinção das letras, distinguindo umas das outras. É uma propriedade intrínseca da

letra, que lhe permite ser percebida como a letra que é. No entanto não basta somente

descodificar, sendo necessário que o leitor a contextualize na sua leitura.

Quando se fala de 'lecturabilidade' (ou 'apreensibilidade') esta muitas vezes é definida

como a capacidade que um texto tem de suscitar apetência para ser lido, de atrair o

leitor, mas acima de tudo de facilitar a compreensão do seu conteúdo.

Os números têm crescido e em 2006 o Institute of Medicine (IOM) e o Comité para a

Literacia em Saúde referiram que mais de 90 milhões de adultos não tinham

competências em literacia para aceder aos sistemas de saúde.

Destacavam ainda que apenas 12% de adultos tinham proficiência em literacia em

saúde, e, de acordo com o National Assessment of Adult Literacy (NALS), «9 em 10

adultos poderão ter falta de competências para gerir a sua saúde e prevenir a doença».

O relatório destacou ainda o fato de haver um desnível entre o nível de informação em

saúde e os níveis de competência de leitura do público, assim como um desnível entre as

competências comunicação deste público com o dos profissionais de saúde.

O Questionário Europeu de Literacia em Saúde publicado em 2014 vem confirmar

estes dados. Os resultados são muito interessantes e expectáveis relativamente ao nível

de literacia da população portuguesa. Isto é, um nível de literacia baixo, mesmo

«problemático». Num trabalho muito bem desenvolvido, a Drª Ana Rita Pedro com a

coordenação da Professora Doutora Ana Escoval recolheu e analisou os resultados de

uma população portuguesa distribuída de forma equitativa por todo o País.

O questionário é composto por 47 questões numa escala de 1 a 4 valores, do muito

difícil ao muito fácil com3 domínios abrangidos: Cuidados de saúde, Promoção de

saúde e Prevenção da doença. Foi realizada com o apoio do consórcio europeu a

adaptação cultural e validação para se obter um instrumento equivalente ao original.

As entrevistas foram presenciais e alguns dos resultados foram os seguintes:

Um total de 61% da população tem um nível inadequado ou problemático de literacia

(abaixo dos restantes parceiros europeus);

A Holanda é o país com % menor de pessoas com literacia baixa, tendo 71,4% da

população literacia suficiente e excelente;

Nos Cuidados de saúde 56% apresenta um nível inadequado ou problemático;

Page 6: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

Na prevenção da doença, 55% tem um nível inadequado ou problemático;

Na promoção da saúde a percentagem sobe para 60% de inadequado ou problemático;

Em Portugal, à medida que a idade aumenta, a baixa literacia aumenta;

Um nível de escolaridade baixo corresponde a literacia baixa e nível de escolaridade

superior corresponde a uma maior literacia;

Os desempregados têm mais baixa literacia do que os empregados em full time;

Os profissionais de saúde também têm níveis baixos de literacia, sendo apenas 37,6%

suficiente.

Este Estudo Europeu de Literacia – Portugal foi de fato um passo importante para todos

nós que consideramos o desafio de aumentar a literacia em Portugal de uma forma

consciente e séria.

Capacitar as pessoas

A capacitação torna o indivíduo mais autónomo, mais zeloso e capaz de autocuidado,

assim como a prestação dos profissionais ganha credibilidade e eficiência e o próprio

sistema de saúde diminui os seus custos.

Capacitar significa empoderar, atribuir também a responsabilidade de decisão ao

cidadão, depois de o dotar de competências que lhe permitirão, mediante o livre arbítrio

e uma racionalidade coerente, decidir qual é o melhor passo a seguir, qual o caminho a

percorrer.

Neste processo, a literacia e o aumento da capacidade do indivíduo para integrar melhor

na sociedade, e especialmente, compreende-la, é de fato uma consistente acessibilidade

para uma vida mais saudável e segura.

Ter uma maior literacia permite uma melhor compreensão das questões de saúde e

segurança na vida em sociedade, onde é possível, pela compreensão do enquadramento,

aumentar essa capacitação tão desejada pelas atuais sociedades.

As questões de Literacia também se colocam ao nível dos profissionais de saúde.

Não apenas para se seguirem mais adequadamente as regras de segurança na gestão da

saúde dos doentes, mas para eles próprios compreenderem essas regras de forma clara e

inequívoca e contribuírem também para a educação da população que tantas vezes

confia sem hesitação nas suas recomendações e orientações em saúde.

Page 7: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

Verificamos que, muitas vezes, os documentos técnicos que têm de passar pela leitura

de vários profissionais, não está adaptado em termos de linguagem a estes mesmos

destinatários. Neste caso, está provado que quem não compreende, tende a saltar as

palavras, acabando por não entender de forma global o significado e a importância do

conteúdo de documentos, em particular os que estão associados à segurança do doente.

(DoaK).

O Plano Nacional de Saúde de Portugal de 2011-2016 vem realçar que (…) «não basta

haver políticas articuladas para promoção dos cuidados de saúde. É, igualmente,

necessário promover a literacia em Saúde, ou seja, criar as condições para que os

cidadãos percebam integralmente as indicações que lhes são dadas pelos

profissionais e que, por esse meio, se tornem cada vez mais conscientes das suas

obrigações e dos seus deveres e dando assim, consistência a uma cidadania em Saúde.

Nesta referência, talvez tivesse valido a pena introduzir que também existe

responsabilidade por parte dos próprios profissionais que «dão as indicações», pois

aqui, também a forma como estes comunicam e tornam mais ou menos acessível os

conteúdos da informação, podem contribuir para uma grande parte do sucesso da

diminuição dos riscos em saúde, da melhor saúde da população. Veja-se por exemplo a

incompreensão sobre a toma de medicamentos, ou os erros que acontecem nas

mudanças de turno nos hospitais. Este último problema foi abordado no documento

«Nine life-saving patient safety solutions» da Organização Mundial da Saúde (OMS)

em 2005, pela Joint Commission International Center for Patient Safety onde um destes

nove desafios e soluções diz respeito à comunicação, no caso particular de transferência

de turno.

A importância da comunicação é realçada nas dez áreas de intervenção identificadas

pelo «Desafio global para a segurança do paciente» (The Global Patient Safety

Challenge) pela OMS.

As questões de literacia colocam-se também ao nível dos determinantes da saúde.

Sabemos que existem comportamentos e estilos de vida que aumentam a probabilidade

do aparecimento de determinadas doenças ou acidentes. É o conjunto de factores

pessoais, sociais, económicos e ambientais que influenciam o estado de saúde do

indivíduo. Para o desenvolvimento da saúde da população é importante trabalhar os

determinantes no cuidado em saúde mais tradicional, mas também em outras áreas

associadas às vivências diárias do individuo, quando ele vai para escola, quando vai

trabalhar, ou passa pelo Centro de Saúde, ou quando apanha os transportes, quando

Page 8: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

passeia por determinados bairros, quando defende causas ambientais, quando

economicamente regista deficiências no seu nível alimentar, na sua saúde, na sua

economia familiar, etc.

Algumas políticas que implicam a população na sua globalidade durante um grande

período ajudam a mudar comportamentos. As questões que se levantam é que se para a

mudança de alguns comportamentos não terá de haver legislação, regulamentação e

mecanismos de controle.

É importante compreender para agir preventivamente. E quanto mais cedo, melhor,

onde o papel da educação para a saúde onde a literacia tem um destaque importante.

Além destas, outras características mais pessoais e relacionadas com a personalidade do

indivíduo são importantes, como ser proativo, tomar a iniciativa, ter pensamento

positivo, valorizar-se e apostar na formação, havendo também, e naturalmente, a

influência do ambiente e do contexto onde ele se integra. Parece-nos que para além das

características pessoais, o ambiente externo tem de ser minimamente propício, assim

como as estruturas políticas, económicas, culturais e sociais.

Mas a capacidade de compreender e viver em sociedade é uma ferramenta importante

nessa superação, e aí o trabalho e empenho para a melhoria dos modelos

comunicacionais têm de se tornar uma preocupação das entidades decisoras, pois

este processo poderá melhorar o nível de compreensão da população no seu geral e

aumentar o nível de literacia.

A literacia é uma verdadeira acessibilidade a priori.

Associado a este investimento, a preparação dos profissionais, em particular os das

áreas da saúde, para a utilização de linguagem mais acessível e das técnicas da

assertividade e de outras que fazem parte do incremento da literacia da população,

conduz a uma significativa melhoria no entendimento das questões relacionadas com a

saúde das comunidades.

Com a promoção da literacia em

saúde pretende-se que a informação

e educação em saúde possam

conduzir a uma maior capacitação

(empoderamento) dos cidadãos para

Page 9: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

a gestão e promoção da sua própria saúde, refere Anders Olauson, Presidente do Fórum

Europeu dos Doentes.

Anders Olauson reflete ainda que «Através da melhor compreensão e assimilação da

informação em saúde, obtem-se resultados: no plano social (mais equidade no acesso à

informação e maior qualidade de vida); na saúde (redução das causas evitáveis de

morbilidade) e em estilos de vida saudáveis quanto a determinantes da saúde.

Uma maior literacia assumida como uma acessibilidade à priori, promotora de

uma melhor qualidade de vida do indivíduo e da maior compreensão e intervenção

na sociedade em que vive, potenciada pelo estímulo ao desenvolvimento do

conhecimento, é certamente uma ferramenta importante para a capacitação.

Há um longo caminho a percorrer.

Bibliografia

1. Agora Mais Que Nunca, Cuidados de Saúde Primários 2008, Organização Mundial

da Saúde, 2008 (The World Health Report 2008 : Primary Health Care Now More

Than Ever © Organização Mundial da Saúde 2008)

2. Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC)

http://www.unric.org/pt/actualidade/5456

3. Cidadania e Saúde. Um caminho a percorrer… Escola Nacional de Saúde Pública/

UNL, Célia Gonçalves, Célia. Ramos, Vitor. Cerqueira, Marta. Out. 2010

4. Comunicação em saúde e a segurança do doente:problemas e desafios Margarida

Custódio dos Santos*, Ana Grilo, GraçaAndrade, Teresa Guimarães, Ana Gomes,

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Lisboa, Portugal

5. Determinants of patient choice of healthcare providers: a scoping review

6. Estratégias Locais de Saúde, Santos, Ana Isabel. Dias, Casimiro. Gonçalves,

Celeste. Sakellarides, Constantino. Escola Nacional de Saúde Pública/ UNL, 2010

7. Federal Plain Language Guidelines, March 2011 Revision 1, May 2011

8. Harvard School of Public Health, Department of Society, Human Development, &

Health Rima E. Rudd, Sc.D. Health Literacy Studies

9. Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), Seminar

Series, “Moving Toward Widespread Electronic Exchange of Health Information:

Update and Status of Meaningful Use and Related Efforts.” Nov. 28, 2012

Page 10: LITERACIA E CAPACITAÇÃO

10

http://www.instituteofhealthequity.org/Content/FileManager/pdf/key-

messages-fshl.pdf

10. Improving Patient Safety Through Informed Consent for Patients With Limited Health

Literacy - http://www.qualityforum.org/pdf/reports/informed_consent.pdf

11. Institute of Medicine. 2004. Health Literacy: A Prescription to End Confusion.

National Academies Press: Washington, DC.

12. Plain Language Action and Information Network. What Is Plain Language?

Available at www.plainlanguage.gov

13. Public Law 102-73. The National Literacy Act of 1991

14. Reducing health inequalities - Fair Society

15. Teaching patients with low literacy skills. DOAK, Cecilia. DOAK, Leonard, 1996,

16. The Global Patient Safety Challenge

17. U.S. Department of Health and Human Services. 2000. Healthy People 2010.

Washington, DC: U.S. Government Printing Office.

18. Youtube - http://www.youtube.com/watch?v=b8rdofYXHQo