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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E BIOFÍSICA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA ANA PAULA CORRÊA OLIVEIRA BAHIA LIPOSSOMAS PARA ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS HIDROFÍLICOS POR VIAS NÃO-INVASIVAS: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E FARMACOCINÉTICA USANDO CALCEÍNA COMO MARCADOR FLUORESCENTE Belo Horizonte 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E BIOFÍSICA

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: FISIOLOGIA E

FARMACOLOGIA

ANA PAULA CORRÊA OLIVEIRA BAHIA

LIPOSSOMAS PARA ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS

HIDROFÍLICOS POR VIAS NÃO-INVASIVAS:

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E

FARMACOCINÉTICA USANDO CALCEÍNA COMO

MARCADOR FLUORESCENTE

Belo Horizonte

2009

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ANA PAULA CORRÊA OLIVEIRA BAHIA

LIPOSSOMAS PARA ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS

HIDROFÍLICOS POR VIAS NÃO-INVASIVAS:

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E

FARMACOCINÉTICA USANDO CALCEÍNA COMO

MARCADOR FLUORESCENTE

Tese apresentada ao programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas: Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas, área de concentração: Fisiologia e Farmacologia.

Orientador: Prof. Dr. Frederic Frezard

Belo Horizonte

2009

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À minha mãe, Leila, meu exemplo de vida, por toda a sua dedicação, garra,

amizade, carinho e amor;

ao meu irmão, Márcio Antônio, por toda a sua paciência e amizade, sempre me

ensinando a dar prioridades;

ao meu marido Enderson, por tudo o que ele é para mim: amor, confiança,

amizade e companheirismo;

à Sara, por todos os sorrisos, alegrias e beijos;

a vocês, que sempre estiveram do meu lado com muito amor, me apoiando,

incentivando, ajudando, perdoando e principalmente, acreditando na minha capacidade,

eu dedico todo este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Frezard, pela excelência na orientação do trabalho, pelos ensinamentos,

paciência, respeito, confiança, amizade e por toda a sua ajuda nos momentos mais

difíceis.

Aos colegas de laboratório: Fernanda, Millen, Bruna, Rubens, Cláudio, Flaviana,

Kelly, Vicente, Weverson e Raul pela convivência, amizade, carinho e ajuda nos

experimentos.

Aos alunos de iniciação científica Larissa e Warley, que muito me ensinaram e me

ajudaram com os experimentos.

Aos colegas Erly Azevedo e Fernanda Lemos, pela imensa ajuda com os ensaios

de Células de Difusão de Franz.

Ao Prof. Lucas Ferreira, da Escola de Farmácia, pela grande colaboração neste

trabalho, principalmente com os ensaios de Células de Difusão de Franz, assim como os

colegas do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica.

À Profa. Sílvia Andrade e suas alunas Juliana, Paula, Fernanda e Monalisa, pela

ajuda nos ensaios in vivo, pelo empréstimo do biotério e laboratório e pela amizade.

À Profa. Miriam Lopez, do Departamento de Farmacologia, por ter cedido os

camundongos sem pêlos.

Ao Prof. Valbert, da Escola de Farmácia, pela ajuda nas tentativas de marcar um

peptídeo radioativamente.

Ao Prof. Robson dos Santos, pelas discussões e ensinamentos durante o trabalho.

À Ilma, por ter acolhido e cuidado dos camundongos no biotério.

Aos colegas do laboratório de Hipertensão pela convivência e amizade.

Ao Prof. Ruben Sinisterra, do Departamento de Química, pelo empréstimo do

equipamento para as medidas de tamanho.

À Celinha, por ter auxiliado na parte burocrática do doutorado.

A todos os colegas da pós-graduação que conviveram comigo.

Ao CNPq pelo auxílio financeiro.

À Vovó Vera, pelo enorme apoio e incentivo, que apesar dos poucos anos de

estudo, sempre soube da importância deste trabalho.

A toda minha família: ao Gil, tios e tias, primos e primas, em especial a Bia, Fava,

Carol e Nanda, pelo apoio, incentivo e amizade.

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RESUMO

A principal vantagem da administração de medicamentos por vias não invasivas,

como oral, nasal, pulmonar e tópica, é a facilidade de aplicação, o que contribui para

aumentar a adesão do paciente ao tratamento. Fármacos hidrofílicos de massa molar

intermediária (>300-500 Da) geralmente são pouco permeáveis através das membranas

biológicas, e, por isto, apresentam baixa biodisponibilidade por essas vias. Estratégias

estão sendo procuradas para superar esta limitação, e, entre as mais promissoras,

destacam-se o uso de sistemas transportadores de fármacos, como os lipossomas.

Os lipossomas ultradeformáveis, preparados com combinações específicas de

fosfolipídios e tensoativos, permitindo a formação de vesículas altamente deformáveis ou

elásticas, foram apresentados na literatura como um sistema carreador capaz de

promover a absorção transdérmica de fármacos. Porém, o modo de atuação destas

vesículas, quanto ao mecanismo de carreamento de fármacos e os fatores que

determinam o nível de profundidade que os fármacos atingem após aplicação tópica,

ainda não foi elucidado.

Os lipossomas mucoadesivos, preparados com lipídios carregados negativamente

e revestidos com polímeros catiônicos, mostraram-se capazes de aderirem na mucosa do

trato gastrointestinal, resultando no aumento da biodisponibilidade dos fármacos

encapsulados. Entretanto, há controvérsias se estes lipossomas permanecem estáveis no

suco gástrico e na presença dos sais biliares, e, portanto, são capazes de controlar a

liberação do fármaco encapsulado.

Diante deste contexto, o objetivo dessa tese foi estudar aspectos físico-químicos e

farmacocinéticos de lipossomas ultradeformáveis e mucoadesivos, visando esclarecer o

modo de atuação e avaliar o verdadeiro potencial de utilização destas vesículas,

principalmente para administração de fármacos hidrofílicos de massa molar intermediária.

Neste trabalho, a calceína foi utilizada como marcador fluorescente e modelo de fármaco

hidrofílico e de baixa permeabilidade através das membranas.

Lipossomas ultradeformáveis, com diâmetro hidrodinâmico médio de 100 nm,

foram preparados a partir de fosfatidilcolina de soja e colato de sódio, contendo calceína.

A habilidade do íon Co2+ de apagar a fluorescência da calceína permitiu a determinação

da taxa de encapsulação e da permeabilidade da membrana dessas vesículas à calceína.

Relatamos pela primeira vez que os lipossomas ultradeformáveis apresentam elevada

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permeabilidade à calceína, que foi explicada pelo efeito combinado do colato de sódio e

do etanol na membrana dessas vesículas. Observamos ainda que a evaporação da água

na formulação resulta no aumento da taxa de encapsulação da calceína, sugerindo que

este fenômeno pode estar ocorrendo após aplicação tópica da formulação em condição

não oclusiva. Tanto no estudo de absorção transdérmica da calceína para a circulação

sanguínea, realizado em camundongos sem pêlo, quanto nos ensaios de permeação

cutânea in vitro, utilizando Células de Difusão de Franz, as vesículas ultradeformáveis

reduziram a taxa de calceína permeada. Leituras de fluorescência do fluido receptor, no

ensaio de Células de Franz, na presença e ausência de Co2+, mostraram que a calceína

permeada pela pele encontra-se essencialmente na forma não encapsulada. Os

resultados sustentam o modelo de que as vesículas ultradeformáveis não penetrariam nas

camadas mais profundas da pele de forma intacta promovendo absorção transdérmica de

calceína, mas atuariam como sistema de liberação sustentada, limitando tanto a

permeação cutânea quanto a absorção transdérmica de calceína para a circulação.

Lipossomas mucoadesivos, com diâmetro hidrodinâmico médio de 200 nm,

contendo calceína, foram preparados a partir de diestearoilfosfatidilcolina, dicetilfosfato e

colesterol, na razão molar de 8:2:1 e recobertos com o polímero catiônico, quitosana. O

estudo de estabilidade mostrou que os lipossomas, tanto na presença ou ausência da

quitosana, retiveram mais que 90% da calceína encapsulada, quando armazenados a 4ºC

por até 14 dias. O estudo absorção por via oral, realizado em camundongos Swiss, indica

que a calceína encapsulada em lipossomas sem e com quitosana mostrou a mesma

farmacocinética plasmática que a calceína administrada na forma livre, sugerindo uma

instabilidade dos lipossomas. Esta interpretação foi confirmada pelos ensaios de liberação

da calceína in vitro, que mostraram que o pH ácido e a adição do tensoativo deoxicolato

de sódio, como modelo de sal biliar, aumentaram a liberação de calceína dos lipossomas.

Estes resultados deixam dúvidas em relação ao potencial destes lipossomas como

sistema de liberação controlada de fármaco hidrofílico e de massa molar intermediária por

via oral.

Palavras-chave: lipossomas ultradeformáveis, absorção transdérmica, permeação

cutânea, lipossomas mucoadesivos, absorção oral, calceína, farmacocinética,

permeabilidade, quitosana.

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ABSTRACT

The main advantage of the administration of drugs by non-invasive routes such as

oral, nasal, pulmonary and topical, is the ease of application, which helps to increase

adherence to the treatment. Hydrophilic drugs with intermediate molecular weight (> 300-

500 Da) generally are poorly permeable across biological membranes and show a low

bioavailability by these routes. Strategies are being developped to overcome these

limitations, and, among the most promising, is the use of drug carriers, such as liposomes.

Ultradeformable liposomes, made from a specific combination of phospholipids and

surfactants, allowing the formation of highly deformable and elastic vesicles were were

presented in the literature as a unique carrier system capable of promoting transdermal

drug absorption. The mode of action of these vesicles with respect to their mechanism of

carrying and the factors that determine the depth of drug penetration after topical

application, have not been elucidated so far.

Mucoadhesives liposomes, prepared from negatively charged lipids and coated

with cationic polymers, were found to adhere to the gastrointestinal mucosa, resulting in

increased drug bioavailability. However, there is a controversy on whether or not these

liposomes remain stable in the gastric fluid and in the presence of bile salts, being able to

control the release of encapsulated drug.

In this context, the goal of this thesis was to investigate the physico-chemical and

pharmacokinetic characteristics of the ultradeformable and mucoadhesive liposomes, in

order to clarify the mode of action and the therapeutic potential of these vesicles, mainly

for the administration of hydrophilic drugs of intermediate molecular weight. In this work,

calcein was used as fluorescent marker and a model of hydrophilic and low membrane

permeability drug.

Ultradeformable liposomes, with average hydrodynamic diameter of 100 nm, were

prepared from soya phosphatidylcholine and sodium cholate in the presence of calcein.

The ability of Co2+ ion to quench the fluorescence of calcein allowed determining the drug

encapsulation efficiency and the membrane permeability to calcein of ultradeformable

vesicles. For the first time, we report that ultradeformable liposomes exhibited high

membrane permeability to calcein, which was explained by the combined effect of sodium

colate and ethanol on the liposome membrane. We observed that the evaporation of water

in the formulation resulted in increasing the calcein encapsulation efficiency, suggesting

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that this phenomenon may occur after topical application of the formulation under non-

occlusive condition. In both the in vivo transdermal (percutaneous) absorption of calcein to

the blood circulation, carried out in mice Hair Less, and the in vitro percutaneous skin

permeation, using Franz Diffusion Cells, the ultradeformable vesicles reduced the rate of

calcein permeated. The fluorescence measurements of the receptor fluid of the Franz

diffusion cell in the absence and presence of Co2+ revealed that the permeated calcein

existed essentially under the non-encapsulated form. Our results supports the model that

ultradeformable vesicles do not penetrate intact into the deeper layers of the skin, but act

as sustained release system, limiting both the cutaneous permeation and the transdermal

absorption of calcein to the blood circulation.

Mucoadhesives liposomes, with average hydrodynamic diameter of 200 nm,

containing calcein were prepared from distearoylphosphatidylcholine, dicetylphosphate

and cholesterol, at molar ratio of 8:2:1, and coated with the chitosan cationic polymer. The

stability study showed that the liposomes, both in the presence and absence of chitosan,

were able to retain more than 90% of calcein encapsulated when stored at 4° C for 14

days. The oral absorption study, performed in Swiss mice, evidenced that liposome

encapsulated calcein, with and without chitosan, showed plasma pharmacokinetics similar

to the free calcein, suggesting instability of these liposomes. This interpretation was

supported by in vitro release study of calcein from the liposome suspension, which showed

that the acidic pH or the addition of sodium deoxycholate, used as a model of bile salt,

increased the release of calcein from liposomes. Our results support the model that these

liposomes, given orally, are not stable enough to act as a sustained release of hydrophilic

drug of intermediate molecular weight.

Keywords: ultradeformable liposomes, transdermal absorption, cutaneous permeation,

mucoadhesive liposomes, oral absorption, pharmacokinetics, calcein, permeability,

chitosan.

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Lista de Figuras

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática da estrutura da pele ................................. 16

Figura 2: Representação esquemática do estrato córneo e de duas vias para a

absorção de substâncias pela pele . ..................................................................... 18

Figura 3: Representação esquemática das camadas do trato gastrointestinal ..... 22

Figura 4: Características estruturais dos lipossomas. ........................................... 30

Figura 5: Transição de fases das membranas lipídicas e o efeito do colesterol. .. 32

Figura 6: Lipossomas incorporando diferentes substâncias funcionalizantes. ...... 34

Figura 7: Representação esquemática de uma vesícula ultradeformável ............. 36

Figura 8: Estrutura química da quitosana.............................................................. 41

Figura 9: Estrutura da calceína no pH 7. ............................................................... 44

Figura 10: Representação esquemática do modo de preparo dos lipossomas

ultradeformáveis.................................................................................................... 50

Figura 11: Representação esquemática do método utilizado para determinação da

permeabilidade da membrana dos lipossomas à calceína. ................................... 55

Figura 12: Representação esquemática do procedimento para avaliação in vivo da

absorção transdérmica da calceína....................................................................... 62

Figura 13: Representação esquemática de uma Célula de Difusão de Franz....... 64

Figura 14: Cinética de incorporação de calceína em lipossomas ultradeformáveis

de diferentes composições.................................................................................... 69

Figura 15: Deformabilidade de lipossomas de diferentes composições lipídicas. . 73

Figura 16: Relação entre a intensidade de fluorescência e a concentração de

calceína em plasma de animais.. .......................................................................... 74

Figura 17: Absorção transdérmica de calceína para a circulação sistêmica quando

aplicada topicamente em camundongos sem pêlo em diferentes formas.. ........... 77

Figura 18: Absorção transdérmica de calceína para a circulação sistêmica quando

aplicada topicamente em camundongos sem pêlo a partir de lipossomas

ultradeformáveis constituídos de SPC ou EPC.. ................................................... 78

Figura 19: Farmacocinéticas plasmáticas de calceína quando aplicada

topicamente em camundongos sem pêlo a partir de diferentes formulações. ...... 80

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Lista de Figuras

Figura 20: Quantidades de calceína incorporada na derme e depositada na

superfície do estrato córneo em camundongos sem pêlo ..................................... 83

Figura 21: Porcentagens acumuladas de calceína permeada através da pele do

dorso de camundongos sem pêlo nos experimentos de Células de Franz.. ......... 85

Figura 22: Curvas de regressão linear para as relações de % de calceína

permeada em função de t ou em função de √(t) em experimentos de Células de

Franz. .................................................................................................................... 88

Figura 23: Sinais de fluorescência dos líquidos receptores antes e após a adição

de CoCl2 e Triton X-100......................................................................................... 91

Figura 24: Representação esquemática do modo de preparo dos lipossomas

aniônicos e mucoadesivos. ................................................................................... 97

Figura 25: Representação esquemática do ensaio de estabilidade dos lipossomas

mucoadesivos ....................................................................................................... 99

Figura 26: Representação esquemática do procedimento utilizado para o estudo

da absorção da calceína por via oral................................................................... 100

Figura 27: Cinéticas de liberação de calceína a partir de lipossomas armazenados

a 4ºC com e sem quitosana. ............................................................................... 103

Figura 28: Farmacocinéticas plasmáticas da calceína, em camundongos Swiss,

após administração oral de diferentes formulações.. .......................................... 105

Figura 29: Efeito do deoxicolato na taxa (%) de calceína liberada de lipossomas

aniônicos (sem quitosana) ou de lipossomas mucoadesivos (com quitosana), em

meios de diferentes pHs...................................................................................... 108

Figura 30: Influência do pH do meio na taxa (%) de calceína liberada de

lipossomas mucoadesivos ou de lipossoma sem quitosana ............................... 110

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Lista de Tabelas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Fosfatidilcolina utilizadas no preparo de lipossomas: temperatura de

transição de fase e estado físico da membrana formada a 37ºC. ......................... 31

Tabela 2: Composição química das vesículas ultradeformáveis utilizadas para a

administração transdérmica de diferentes fármacos. ............................................ 37

Tabela 3: Meios utilizados para avaliação da interferência dos componentes das

vesículas ultradeformáveis em ensaios in vitro e in vivo. ...................................... 52

Tabela 4: Eficiência de encapsulação da calceína em suspensões de lipossomas

ultradeformáveis preparados em diferentes concentrações. ................................. 68

Tabela 5: Permeabilidade à calceina, a 25°C, de dif erentes membranas: influência

da razão fosfolipídio/colato, da concentração total da suspensão e do tipo de

fosfolipídio. ............................................................................................................ 70

Tabela 6: Dados relativos à precisão do método de dosagem da calceína no

plasma de animais ................................................................................................ 75

Tabela 7: Valores médios ± DP dos coeficientes de regressão linear para as

relações de % de calceína permeada in vitro em função de t (modelo 1) ou em

função de √(t) (modelo 2). ..................................................................................... 87

Tabela 8: Frações de calceína encapsulada (não acessível ao íon cobalto)

determinadas no fluído receptor da Célula de Franz 2 e 8 horas após aplicação

tópica de calceína encapsulada em lipossomas ultradeformáveis ou livre em colato

e etanol, em pele de camundongos sem pêlo. ...................................................... 90

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Lista de Abreviaturas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ce: concentração molar do fármaco no fluido doador

Ci : concentração molar do fármaco no fluido receptor

CHOL: colesterol

COL: colato de sódio

CV: coeficiente de variação

DMPC: dimiristoilfosfatidilcolina

DP: desvio padrão

DPPC: dipalmitoilfosfatidilcolina

DSPC: distearoilfosfatidilcolina

EPC: fosfatidilcolina natural de ovo

J: fluxo do fármaco através da pele

LD: limite de detecção

LQ: limite de quantificação

M: concentração média

P: coeficiente de permeabilidade

SPC: fosfatidilcolina natural de soja

Tf: temperatura de transição de fase

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Sumário

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... 1

LISTA DE TABELAS ............................................................................................. 11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................ 12

SUMÁRIO.............................................................................................................. 13

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15

1. VIAS NÃO INVASIVAS PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS..... 15

1.1. Via tópica ................................................................................................. 15

1.2. Via oral..................................................................................................... 21

2. Lipossomas como carreadores de fármacos ................................................. 28

2.1. Lipossomas: estrutura, composição e propriedades básicas................... 29

2.2. Lipossomas ultradeformáveis .................................................................. 36

2.3. Lipossomas mucoadesivos...................................................................... 41

3. Calceína como marcador de lipossomas ....................................................... 44

OBJETIVOS .......................................................................................................... 47

CAPÍTULO 1: LIPOSSOMAS ULTRADEFORMÁVEIS PARA ADMINISTRAÇÃO

TRANSDÉRMICA DE FÁRMACOS HIDROFÍLICOS ............................................ 48

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 48

2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 49

2.1. Preparação das formulações de calceína................................................ 49

2.2. Caracterização físico-química dos lipossomas ultradeformáveis............. 51

2.3. Validação do método fluorimétrico de dosagem da calceina presente em

plasma de animais.......................................................................................... 58

2.4. Avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis .......................................................................... 61

2.5. Avaliação da permeação cutânea in vitro da calceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis .......................................................................... 63

2.6. Aspectos éticos no manuseio dos animais .............................................. 66

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 66

3.1. Caracterização físico-química dos lipossomas ultradeformáveis............. 66

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Sumário

3.2. Validação do método de dosagem por fluorimetria da calceína em plasma

de animais ...................................................................................................... 74

3.3. Avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis .......................................................................... 76

3.4. Avaliação da permeação cutânea da calceína in vitro a partir dos

lipossomas ultradeformáveis .......................................................................... 85

3.5. Avaliação da porcentagem de encapsulação da calceína após permeação

pela pele ......................................................................................................... 89

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 91

CAPÍTULO 2: LIPOSSOMAS MUCOADESIVOS PARA ADMINISTRAÇÃO ORAL

DE FÁRMACOS HIDROFÍLICOS.......................................................................... 94

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 94

2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 95

2.1. Preparação da solução de quitosana....................................................... 95

2.2. Preparação da formulação de lipossomas mucoadesivos ....................... 96

2.3. Caracterização físico-química dos lipossomas mucoadesivos ................ 98

2.4. Avaliação da absorção de calceína por via oral a partir de lipossomas

mucoadesivos................................................................................................. 99

2.5. Liberação da calceína a partir das formulações de lipossomas em

diferentes meios simulando os fluídos biológicos ......................................... 101

2.6. Aspectos éticos no manuseio dos animais ............................................ 101

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 102

3.1. Caracterização físico-química dos lipossomas mucoadesivos .............. 102

3.2. Avaliação da absorção de calceína por via oral em camundongos a partir

de lipossomas mucoadesivos ....................................................................... 104

3.3. Liberação da calceína a partir de formulações de lipossomas em

diferentes meios simulando os fluídos biológicos ......................................... 106

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 111

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 113

ANEXOS ............................................................................................................. 122

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Introdução 15

INTRODUÇÃO

1. VIAS NÃO INVASIVAS PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAM ENTOS

A principal vantagem da administração de medicamentos por vias não

invasivas, como oral, tópica, nasal, e pulmonar, é a facilidade de aplicação,

contribuindo para aumentar a adesão do paciente ao tratamento. Além do mais, as

vias oral e tópica oferecem uma grande área superficial, aumentando o fluxo e a

extensão da absorção dos fármacos administrados.

1.1. Via tópica

A administração de fármacos por via tópica apresenta a vantagem da grande

área superficial da pele, já que este é o maior órgão do corpo humano. Os

fármacos presentes nas formulações podem acumular-se na epiderme,

promovendo um efeito local, ou sofrerem absorção transdérmica, promovendo

ações farmacológicas sistêmicas. A maior limitação desta via de administração é a

baixa permeabilidade de substâncias através da pele, já que esta tem a função de

atuar como uma barreira entre o corpo e o ambiente exterior.

1.1.1. Estrutura e funções da pele

A função da pele é proteger o organismo das agressões do meio externo,

como poluição, variações de temperatura, umidade e radiação. Devido à sua

estrutura, a pele limita a entrada de substâncias no corpo, atuando como uma

barreira à entrada de microorganismos e substâncias químicas, preservando os

órgãos internos. Promove regulação da temperatura corporal, mantendo o corpo a

37ºC, protege o organismo de radiações e choques elétricos e media as

sensações de calor, frio, toque e dor (Barry, 2007).

Como ilustrado na Figura 1, a estrutura da pele é complexa, composta de 3

camadas: epiderme, derme e camada subcutânea. A epiderme é uma camada

estratificada e avascular, e pode ser dividida em várias sub-camadas, onde

encontra-se células em diferentes estágios de diferenciação celular. Na camada

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Introdução 16

basal as células proliferam e migram em direção à superfície da pele, alcançando

a camada espinhosa, onde inicia o processo de diferenciação celular. Acima desta

região, encontra-se a camada granulosa, e, na interface com o estrato córneo,

ocorre o final da diferenciação, no qual as células viáveis se transformam em

células mortas queratinizadas. A camada externa da epiderme é chamada de

estrato córneo, sendo considerada a principal barreira à passagem de substâncias

pela pele (Bowstra e col., 2002; Barry 2007; Guzzo e col., 1996).

Figura 1: Representação esquemática da estrutura da pele compreendo as 3 camadas:

epiderme, derme e camada subcutânea. (Adaptado de B ouwstra e col., 2002)

O estrato córneo é composto por camadas densas de células mortas,

chamadas de corneócitos, contendo proteínas fibrosas e queratina. Estas células,

produzidas pela epiderme, estão constantemente se soltando em finas escamas e

sendo substituídas por novas. Os corneócitos são constituídos por queratina e seu

espaço intercelular é composto por múltiplas camadas de lipídios, ceramidas,

ácidos graxos, colesterol e ésteres de colesterol, formando regiões de diferentes

tipos de domínios (semicristalino, gel ou cristal líquido). A presença do estrato

córneo limita as absorções cutânea e percutânea de substâncias, impede a

evaporação de água dos tecidos mais profundos e atua como uma barreira para

grandes quantidades de água e substâncias que estão em contato com a pele; a

ausência desta camada, devido a alguma doença, cortes ou danos, favorece o

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Introdução 17

aumento da absorção de fármacos através da pele (Verma e col., 2003; Bouwstra

e col., 2002; Barry, 2001; Cevc e col., 1996, 2004).

A derme é constituída por tecido conjuntivo contendo proteínas fibrosas

como colágeno, elastina e reticulina. Esta camada é altamente vascularizada com

presença de nervos, vasos sanguíneos e linfáticos. Nesta camada encontram-se

os apêndices, constituídos pelas glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas,

folículos pilosos e as unhas. Por ser uma camada constituída de células viáveis, a

derme pode metabolizar e inativar fármacos, além de converter nutrientes,

remover substâncias e regular pressão e temperatura.

A camada subcutânea ou hipoderme é constituída basicamente por

gordura, sendo responsável por formar uma barreira térmica e mecânica (Barry,

2007; Bouwstra e col., 2002; Cevc e col., 1996).

1.1.2. Vias de penetração de substâncias na pele

Como mostrado na Figura 2, existem três vias potenciais para a passagem

das substâncias pela pele: através dos apêndices como os folículos pilosos,

glândulas sebáceas e ductos de secreção de suor; a via transcelular, isto é,

passando pelas células do estrato córneo; ou a via intercelular, compreendendo a

passagem de substâncias entre os corneócitos.

Os pêlos e os apêndices estão distribuídos na pele de maneira não uniforme,

correspondendo a apenas 0,1 a 0,5% da sua superfície total. Devido à sua

pequena área disponível, pode-se considerar que esta rota contribui muito pouco

para o transporte de substâncias pela pele.

Como o estrato córneo é uma camada de células mortas, pode-se considerar

que não existe transporte ativo de substâncias, desta forma, a via transcelular

contribui pouco para a passagem de substâncias pela pele.

A maioria das moléculas penetra na pele através da via intercelular e a

principal limitação à permeação de substâncias é a presença do estrato córneo

(Barry, 2001; Cevc e col., 1996).

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Introdução 18

Figura 2: Representação esquemática do estrato córn eo e de duas vias (intercelular e

transcelular) para a absorção de substâncias pela p ele (Adaptado de Barry, 2001).

1.1.3. Fatores que afetam a passagem de substâncias pela pele

Vários fatores governam a permeação de substâncias pela pele quando

aplicadas topicamente: as características físico-químicas da substância como

tamanho, solubilidade, coeficiente de partição; o local de aplicação e as condições

da pele; o tipo de formulação; e os componentes presentes no veículo.

Em relação às condições da pele, a hidratação do estrato córneo é o fator

considerado mais importante. Quando a pele está hidratada ocorre um aumento

da permeação de substâncias através da pele. Geralmente, o estrato córneo é

resistente a variações de temperatura e pH, suportando alterações sem alterar sua

permeabilidade (Barry, 2007).

Em relação às características físico-químicas do fármaco, a taxa de absorção

está inversamente relacionada ao tamanho da molécula, isto é, moléculas

menores penetram mais facilmente que moléculas maiores (Barry, 2001, 2007;

Verma e col., 2003, Cevc e col., 1996, 2004). Outra característica físico-química

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Introdução 19

importante do fármaco é o coeficiente de partição óleo/água, que determina o seu

fluxo através do estrato córneo. Este deve ter um valor balanceado, pois um valor

muito alto significa que o fármaco é lipossolúvel e não passa facilmente pelo

estrato córneo devido a presença de água nos tecidos mais profundos e um valor

muito baixo indica que a molécula é muito hidrossolúvel para se difundir através

do componente lipídico do estrato córneo (Barry, 2007).

Geralmente, moléculas com massa molar intermediária (>300-500 Da),

coeficiente partição óleo/água muito baixo, ou moléculas iônicas, não penetram

facilmente pela pele (Barry, 2001, 2007; Cevc e col., 1996, 2004).

1.1.4. Estratégias para aumentar a penetração de fármacos na pele

A maioria dos fármacos não é absorvida pela pele, porém vários métodos

têm sido empregados para aumentar o transporte destas substâncias através da

pele.

O grau de hidratação do estrato córneo é um fator importante que influencia

a penetração de substâncias na pele. Assim, agentes emulsificantes, filmes

oclusivos (filmes plásticos), materiais lipofílicos (parafinas, óleos, ácidos graxos,

silicones) e patches transdérmicos, que aumentam o grau de hidratação do estrato

córneo, permitem aumentar a biodisponibilidade de alguns fármacos na pele

(Barry, 2001, 2007).

Métodos elétricos, como eletroporação (aplicação de vários pulsos elétricos

curtos), iontoforese (aplicação de um pulso elétrico curto e contínuo) e ultrasom,

promovem a formação de poros aquosos entre as bicamadas lipídicas ou

favorecem a ruptura da camada lipídica presente nos espaços intercelulares do

estrato córneo, contribuindo para aumentar o transporte de substâncias através da

pele. Uma das limitações dessas técnicas é a necessidade de validar a segurança

e a eficácia nos pacientes. Outro problema é que estes equipamentos não estão

disponíveis para uso doméstico (Prausnitz, 1999; Guy, 1998; Mitragotri e col.,

1995; Barry, 2001).

Algumas substâncias químicas, quando aplicadas topicamente, podem atuar

como promotores de absorção. Estas substâncias devem ser inertes, atóxicas,

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Introdução 20

não irritantes, não alergênicas e compatíveis com a formulação. Devem também

ter ação imediata e, quando retiradas da pele, esta deve retornar às suas

condições normais. Alguns exemplos de promotores de absorção: água, sulfóxidos

como o dimetilsulfóxido; pirrolidonas; lipídios como os ácidos oléico e graxos;

alcoóis e glicóis; tensoativos aniônicos, catiônicos e não iônicos; e amidas como

uréia e seus derivados. Entre as substâncias a serem utilizadas no presente

trabalho de tese e que já foram descritas como promotores de absorção, podemos

citar o colato de sódio (Borg, 2000) e o etanol (Berner e col., 1995).

Estes promotores de absorção podem interagir com os lipídios do estrato

córneo desorganizando sua estrutura, formando, por exemplo, poros, tornando o

estrato córneo mais permeável a algumas substâncias. Podem também mudar as

propriedades físico-químicas do fármaco, aumentando seu coeficiente de partição

no estrato córneo ou interagir com a queratina presente nos corneócitos, abrindo a

estrutura densa de camada de células (Barry, 2001, 2007).

Outra estratégia utilizada para aumentar a absorção cutânea ou transdérmica

de fármacos é a utilização de sistemas carreadores de fármacos. Entre os

sistemas carreadores existentes, destacam-se: as vesículas ultradeformáveis, que

são obtidas pela mistura de fosfolipídios e tensoativos, formando os

Transfersomes® (Cevc e col., 1998, 2001); os etossomas, obtidos pela inclusão

de etanol em suspensão de vesículas lipídicas (Touitou e col., 2000, 2001); ou os

niossomas, formados por tensoativos não iônicos, (Schreier e col., 1994; Fang e

col., 2001). Essas vesículas apresentam a característica única de promover a

absorção dérmica ou transdérmica de fármacos, facilitando sua passagem pela

pele.

1.1.5. Modelos para a permeação de fármacos pela pele a partir de uma

formulação

Na absorção percutânea de um fármaco a partir de uma formulação tópica,

essencialmente duas situações distintas podem ser encontradas. Na primeira

situação, a etapa limitante para a permeação do fármaco pela pele é a sua

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Introdução 21

passagem através da pele, e mais especificamente, pelo estrato córneo. Nessa

condição, a lei geral de difusão prevalece: eCPJ *= , onde J representa o fluxo

do fármaco através da pele, Ce representa a concentração molar do fármaco no

veículo em contato com a pele, e P representa o coeficiente de permeabilidade do

fármaco através do estrato córneo. Podemos prever que o fluxo do fármaco

manter-se-á constante enquanto Ce não variará significativamente. Neste

contexto, esperamos uma relação linear entre a percentagem do fármaco

permeado e o tempo.

Na segunda situação, a etapa limitante para a permeação do fármaco pela

pele é a difusão do fármaco no próprio veículo e não sua passagem através do

estrato córneo. Nessa condição, a relação entre a percentagem de fármaco

permeada e o tempo não é linear, mas espera-se que exista uma relação linear

entre a percentagem de calceína permeada e a raiz quadrada do tempo (Barry

2007).

Quando a formulação atua alterando a permeabilidade da pele ao fármaco,

não se espera que haja concordância com os dois modelos apresentados acima.

1.2. Via oral

A via oral é a forma de administração mais comum, sendo considerada a

mais segura e econômica, além das formulações orais serem de fácil produção

industrial. A absorção de medicamentos ocorre no trato gastrointestinal e depende

de vários fatores como o estado físico do medicamento (solução, suspensão,

comprimidos, cápsulas), o fluxo sanguíneo, o tempo de esvaziamento gástrico, a

concentração do fármaco no local da absorção e as características físico-químicas

do fármaco. De maneira geral, fármacos não ionizados ou lipofílicos são bem

absorvidos (Benet e col., 1996).

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Introdução 22

1.2.1. Estrutura do trato gastrointestinal

O trato gastrointestinal é um tubo muscular dividido em 4 partes: esôfago,

estômago, intestino delgado e intestino grosso (cólon).

Como ilustrado na Figura 3, a parede de todas as partes do trato

gastrointestinal é constituída de 4 camadas: a serosa, a musculatura externa, a

submucosa e a mucosa. A serosa é a camada mais externa, constituída por

tecido conjuntivo. Sob esta camada encontra-se a musculatura externa constituída

por tecido muscular liso. A submucosa é constituída por tecido conjuntivo

contendo tecido secretório, vasos sanguíneos e linfáticos e células nervosas. Após

esta camada, encontra-se a mucosa. Toda a superfície do trato gastrointestinal é

revestida pela mucosa, que é composta por 3 camadas: uma camada de tecido

muscular, uma camada de tecido conjuntivo e uma camada epitelial, cuja

superfície é caracterizada pela presença de muco (Smart, 2005; Ashford, 2007a).

Figura 3: Representação esquemática das camadas do trato gastrointestinal (Adaptado de

Ashford, 2007a).

O muco está presente na forma de um gel aquoso translúcido aderido na

superfície da camada epitelial ou pode encontrar-se no lúmen do trato

gastrointestinal. É composto de 95% de água com presença de glicoproteínas,

sais inorgânicos e lipídios. As mucinas são as glicoproteínas mais importantes

presentes no muco, sendo responsáveis por suas propriedades de formação do

gel e adesão; possuem carga negativa, podendo interagir com moléculas com

carga positiva. A espessura do muco pode variar de 50 a 500 µm no estômago e

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Introdução 23

de 15 a 150 µm no cólon, e suas principais funções são proteção, lubrificação e

adesão de substâncias (Smart, 2005; Woodley, 2001; Ponchel e col., 1998).

1.2.2. Trânsito de fármacos no trato gastrointestinal

Os medicamentos administrados por via oral passam rapidamente pelo

esôfago, sendo a velocidade dependente do tipo de formulação farmacêutica.

Formulações líquidas passam mais rapidamente que formulações sólidas, como

comprimidos e cápsulas.

Ao chegar no estômago, o tempo de permanência do fármaco pode variar de

5 minutos a 2 horas, dependo da dosagem, da forma farmacêutica e da presença

de alimentos. Os movimentos peristálticos, isto é, as contrações do estômago, são

responsáveis por misturar e quebrar os alimentos e os medicamentos, liberando

os fármacos e por mover estas substâncias para o intestino delgado. Em geral,

alimentos contendo gorduras diminuem o esvaziamento gástrico, reduzindo a

absorção dos fármacos. Estes, quando administrados na presença de água,

alcançam o intestino mais rapidamente quando o estômago está sem alimentos

(Ashford, 2007a).

O intestino delgado é o principal local de absorção da maioria dos fármacos

e nutrientes. O trânsito das substâncias nesta região leva cerca de 3 horas. O

tempo de permanência das substâncias no intestino é importante para a

biodisponibilidade dos fármacos.

O trânsito de fármacos no intestino grosso é longo e variável, podendo durar

de 2 a 48 horas, dependendo do tipo de forma farmacêutica, dos alimentos

presentes e do tipo de doença associada (Ashford, 2007a).

1.2.3. Mecanismos de absorção de fármacos pelo trato gastrointestinal

A principal barreira à absorção de fármacos é a membrana celular do trato

gastrointestinal. Esta membrana comporta-se como uma barreira lipídica, cujo

meio externo é aquoso, sendo permeável a aminoácidos, açúcares, ácidos graxos,

e outros nutrientes, porem é impermeável às proteínas plasmáticas. Ela permite a

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Introdução 24

passagem de moléculas lipofílicas, água e moléculas hidrofílicas de baixa massa

molar, tipicamente inferior a 500 Da (Ashford, 2007a).

Existem duas vias de passagem diferentes das moléculas através do epitélio

do trato gastrointestinal: a via transcelular (através das células) e a via paracelular

(entre as células). A maioria dos fármacos é absorvida pela rota transcelular de

forma passiva.

A via transcelular é a via mais utilizada, e pode ser realizada por 2

mecanismos: difusão passiva ou transporte mediado por carreadores. A difusão

passiva é a via preferencial para moléculas lipofílicas pequenas, na qual as

moléculas passam através da membrana celular de uma região de alta

concentração (lúmen) para uma região de baixa concentração (circulação

sanguínea). A taxa de transporte é determinada pelas características físico-

químicas do fármaco, pela natureza da membrana e pela concentração do

fármaco no local de absorção, que está relacionado à sua dissolução. Algumas

substâncias, como açúcares, eletrólitos, vitaminas, sais biliares, fármacos, são

absorvidas pela via transcelular através do mecanismo de transporte mediado por

carreadores. Neste caso, a molécula forma um complexo com o transportador na

superfície da membrana celular, este complexo se move através da membrana, e

libera a substância do outro lado da membrana. Neste tipo de transporte, as

substâncias podem ser transportadas contra o gradiente de potencial

eletroquímico da substância.

A via paracelular é importante para o transporte de íons como cálcio,

açúcares, aminoácidos e peptídeos. Moléculas hidrofílicas pequenas (até 200 Da)

e ionicamente carregadas, que não se distribuem muito bem na membrana celular,

são absorvidas pela via paracelular. O transporte de fármacos nesta via ocorre

pelos poros aquosos existentes entre as células, ocupando apenas 0,01% da área

superficial do epitélio (Ashford, 2007a).

Existem também, no epitélio do trato gastrointestinal, sistemas de transporte

ativo capazes de expelirem fármacos de volta para o lúmen do trato

gastrointestinal após terem sido absorvidos. O responsável por esta atividade de

transporte são proteínas transmembranas pertencentes à família ABC (ATP

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Introdução 25

binding cassette), que são expressas em altos níveis nas células da região do

jejuno. Estas proteínas estão presentes em outros órgãos do organismo e está

associada à resistência de vários fármacos quimioterápicos por inibir o acúmulo

intracelular do fármaco nos tumores (Ashford, 2007a; Loftson e col., 2004).

Os fármacos, do tipo ácido ou base fracos, encontram-se na forma não

ionizada ou ionizada. Quando estão na forma não ionizada, os fármacos são

lipossolúveis e podem se difundir pela membrana celular, porém na forma ionizada

não conseguem penetrar na membrana lipídica. Um fator importante para a

absorção desses fármacos é o gradiente de pH transmembrana. O pH do plasma

é 7,4 e do suco gástrico é 1,4, isto cria um gradiente de pH transmembrana, que

influencia a distribuição do fármaco, que dependerá do seu pKa (Benet e col.,

1996).

1.2.4. Barreiras à absorção de fármacos

Existem algumas barreiras que dificultam a absorção de fármacos pelo trato

gastrointestinal que pode estar relacionadas ao trato gastrointestinal ou às

características físico-químicas dos fármacos.

Em relação ao trato gastrointestinal, o pH e a presença de várias enzimas

como lípases, amilases, pepsina e proteases podem influenciar a absorção dos

fármacos por alterar a estabilidade química de algumas substâncias, podendo

levar à sua degradação no meio gastrointestinal antes de serem absorvidos. Os

valores de pH variam ao longo do trato gastrointestinal. O fluido gástrico é

extremamente ácido, com valores de pH entre 1 (na presença de alimento) a 3,5

(na ausência de alimento). No intestino, os valores de pH são maiores que no

estômago por serem neutralizados por bicarbonatos secretados nesta região.

Estes valores vão aumentando ao longo do trato gastrointestinal, variando de 4,9,

6,5 e 7,4 no duodeno, jejuno e íleo, respectivamente, na ausência de alimentos. O

fluido intestinal é composto por secreções pancreáticas que contém bicarbonato

de sódio, enzimas como proteases, amilases e lípases e por bile secretada pelos

hepatócitos. A bile é uma mistura complexa que contém ácidos biliares (derivados

do ácido cólico), fosfolipídios, colesterol, bilirrubina, sódio e potássio, cuja principal

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Introdução 26

função é emulsificar e solubilizar os ácidos graxos provenientes da dieta, para

serem absorvidos. Estes valores de pH e a presença dos constituintes do fluido

intestinal são importantes pois podem alterar a estabilidade química dos fármacos

e influenciar na taxa e extensão da absorção.

A presença de alimento pode influenciar a absorção de fármacos, pois pode

ocorrer complexação com os alimentos, formando complexos insolúveis, que não

serão absorvidos. Os alimentos podem alterar o pH do estômago e do intestino,

alterando as características físico-químicas do fármaco ou podem alterar os

movimentos peristálticos, diminuindo o tempo de permanência dos fármacos no

intestino (Ashord, 2007 b; Ponchel et al, 1998).

As propriedades físico-químicas dos fármacos podem também limitar sua

absorção. Para ser bem absorvido através da mucosa, o fármaco deve possuir

boa solubilidade em água, para estar dissolvido na superfície da mucosa, mas ao

mesmo tempo deve ter certa lipofilicidade, isto é, ter partição do meio externo

aquoso para a membrana da mucosa lipofílica. Desta forma, a baixa solubilidade

de alguns compostos nos fluidos do trato gastrointestinal pode resultar na

eliminação do fármaco antes de sua absorção. Além do mais, moléculas

hidrofílicas com massa molar maior que 500 Da não são bem absorvidas pela

mucosa gastrointestinal. Algumas substâncias apresentam baixa permeabilidade

através da mucosa intestinal ou uma permeabilidade restrita a somente algumas

regiões do trato gastrointestinal (Ashord, 2007 b; Ponchel e col., 1998; Loftsson e

col., 2004).

Todos estes fatores podem comprometer a disponibilidade do fármaco,

tornando até mesmo inviável a utilização desta via de administração para certos

bioativos.

1.2.5. Estratégias para aumentar a absorção de fármacos no trato

gastrointestinal

Para que um fármaco seja absorvido, é necessário que, após sua

administração, ele passe pelo esôfago e chegue ao estômago. Ele deve passar

pelo estômago sem sofrer degradação pelas enzimas ou pelo pH ácido, sem

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Introdução 27

perder sua estabilidade química. O fármaco deve chegar ao intestino, dissolvido

em solução, e deve permanecer ali por tempo suficiente para que seja absorvido.

Qualquer modificação neste processo pode alterar a biodisponibilidade do

fármaco.

Diversas estratégias podem ser usadas para aumentar a absorção e a

biodisponibilidade dos fármacos quando administrados por via oral, seja

protegendo os fármacos da degradação causada pelo pH ácido e pela ação das

enzimas presentes no trato gastrointestinal ou promovendo o aumento da

absorção através da mucosa gastrointestinal (Silva e col., 2002; Arhewoh e col.,

2005; Sarmento, 2008).

Uma estratégia baseia-se na administração de inibidores das enzimas

proteolíticas, juntamente com o fármaco. A maioria dos inibidores disponíveis

apresenta a desvantagem de ser tóxico a nível sistêmico e irritante da mucosa

intestinal, ocasionando efeitos colaterais importantes, o que limita o seu uso.

Alguns exemplos de inibidores enzimáticos são: aprotinina, mesilato de camostato,

inibidores flavonóides, quimostatina, elastatina, EDTA, derivados do poliacrilato,

conjugados quitosana-EDTA, bestatina, amastatina, puromicina, glicolato de sódio,

derivados do ácido α-animoborônico (Langguth e col., 1997).

Modificações químicas podem ser feitas no fármaco com objetivo de obter

compostos mais lipofílicos, evitando assim degradação proteolítica ou aumentar a

absorção (Bungaard, 1992).

A utilização de promotores de absorção como agentes quelantes (EDTA,

salicilatos, ácido cítrico), tensoativos aniônicos (dodecilsulfato de sódio, lauril

sulfato de sódio), tensoativos catiônicos, tensoativos não iônicos (Tween 80),

ácidos graxos (ácido oléico, caprílico, palmitoilcarnitina), uréias cíclicas e sais

biliares (deoxicolato de sódio, glicolato sódico, taurocolato de sódio) pode alterar a

permeabilidade da membrana do trato gastrointestinal, aumentando a absorção

dos fármacos (Zhou, 1994; Aungst, 2000).

A utilização de sistemas carreadores de fármacos como emulsões, partículas

poliméricas ou lipídicas, lipossomas ou ciclodextrinas pode ser utilizada para

proteger os fármacos da degradação enzimática e para aumentar a absorção dos

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Introdução 28

fármacos através da mucosa gastrointestinal. O problema da utilização de

lipossomas é sua baixa estabilidade no meio ácido e na presença de sais biliares

(Allemann e col., 1998; Chen e col., 1998; Shao e col., 1994; Trenktrog e col.,

1995).

Outra estratégia para aumentar a absorção de fármacos baseia-se na

utilização de polímeros bioadesivos, de origem natural ou sintética, que atuam

como promotores de adesão por possuirem a capacidade de aderir na mucosa

intestinal. Alguns exemplos de polímeros mucoadesivos são os carbômeros

(carbopol), a quitosana, o alginato de sódio e os derivados de celulose

(carboximetilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose), que podem ser usados no

preparo de diferentes tipos de formulações como comprimidos, patches,

micro/nanopartículas, pomadas, pastas e lipossomas (Woodley, 2001; Ponchel et

al, 1998; Smart, 2005; Fogueri e col.,2009).

Essas duas últimas estratégias podem ser combinadas objetivando uma

maior biodisponibilidade do fármaco. Lipossomas podem ser preparados e serem

revestidos com polímeros mucoadesivos como a quitosana, promovendo ação

mais efetiva e prolongada, após administração oral de peptídeos (Takeuchi, 2005,

2001). O desenvolvimento de formulações baseadas em polímeros mucoadesivos

torna-se uma estratégia interessante para aumentar a biodisponibilidade de

determinadas substâncias pela via oral, incluído fármacos hidrofílicos.

2. LIPOSSOMAS COMO CARREADORES DE FÁRMACOS

As vias não invasivas são geralmente procuradas, para administração de

fármacos, por permitirem uma maior facilidade de aplicação. Entretanto, como

mostramos previamente para as vias tópica e oral, certos fármacos, dependendo

das suas características físico-químicas, podem apresentar biodisponibilidade

insuficiente. Isto é o caso dos fármacos hidrofílicos de massa molar maior que 500

Da, principalmente aqueles ionizados. Fazem também parte desta categoria os

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Introdução 29

biofármacos, incluindo os peptídeos, as proteínas e os ácidos nucléicos, que

representam a nova geração de fármacos emergindo no mercado farmacêutico.

Nesse contexto, estratégias estão sendo procuradas para superar estas

limitações. Entre as estratégias mais promissoras, destaca-se o uso de sistemas

transportadores de fármacos. Estes sistemas incluem os lipossomas, as

ciclodextrinas, as micro e nano-emulsões, as micro e nano-esferas e as micro e

nano-cápsulas. Estes sistemas transportadores podem ser usados para liberação

controlada de fármacos, permitindo manter seus níveis terapêuticos por tempo

prolongado. Podem também aumentar a absorção do fármaco, resultando em

maior biodisponibilidade e efeitos biológicos de maior intensidade (Kaparissides e

col., 2006; Jiang e col., 2007; Langer, 1990; Marcato e col., 2008).

Os lipossomas foram descritos pela primeira vez por Bangham e col. (1965)

na década de 60 e utilizados inicialmente como modelo lipídico de membranas

biológicas. A partir da década de 70, os lipossomas começaram a ser estudados

como sistemas carreadores de fármacos. Desde então, importantes aplicações

biomédicas deste sistema foram desenvolvidas baseadas na alteração da

farmacocinética do fármaco, resultando na melhora de suas ações farmacológicas

e na redução de seus efeitos colaterais (Samad e col.,2007; Frézard, 1999;

Nounou e col., 2008; El Maghraby e col., 2008; Torchilin, 2005; Sharma e col.,

1997).

Descreveremos a seguir as características básicas dos lipossomas, dando

ênfase ao seu uso como carreadores de fármacos para administração por vias não

invasivas, principalmente as vias tópica e oral.

2.1. Lipossomas: estrutura, composição e propriedad es básicas

2.1.1. Características físico-químicas e estruturais dos lipossomas

Os lipossomas são vesículas esféricas artificiais compostas de bicamadas

concêntricas de lipídios que separam um ou vários compartimentos aquosos

interno do meio externo. A principal característica destes lipídios é sua natureza

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Introdução 30

anfifílica: uma cabeça polar está covalentemente ligada a uma ou duas cadeias de

hidrocarboneto hidrofóbicas (Figura 4).

Os lipossomas são formados espontaneamente quando lipídeos são

dispersos em solução aquosa. As moléculas lipídicas se organizam expondo a sua

cabeça polar em direção a fase aquosa enquanto que as porções hidrofóbicas

dispõem-se juntas na bicamada, formando uma película lipídica concêntrica,

separada pelos compartimentos aquosos. Desta forma, substâncias de caráter

polar podem ser encapsuladas nos compartimentos aquosos e substâncias

anfifílicas ou lipofílicas podem ser incorporadas na bicamada lipídica. Uma grande

vantagem dos lipossomas, com relação a outros sistemas transportadores de

fármaco, é a sua elevada biocompatibilidade, especialmente quando estes são

formados de lipídeos naturais ou derivados deles (Frézard, 1999; Frezard e col.,

2005).

Figura 4: Características estruturais dos lipossoma s (Frézard e col., 2005).

Além disso, os lipossomas são sistemas altamente versáteis, cujo tamanho,

lamelaridade, superfície, composição lipídica, volume e composição do meio

aquoso interno podem ser manipulados em função dos requisitos farmacêuticos e

farmacológicos.

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Introdução 31

2.1.2. Composição das membranas dos lipossomas e propriedades físico-

químicas das membranas

Classicamente, a composição básica dos lipossomas é bastante parecida

com a bicamada lipídica das membranas das células vivas, que são constituídas

em sua maior parte por fosfolipídeos.

Os lipídeos utilizados no preparo dos lipossomas para a veiculação de

fármacos devem apresentar duas características básicas: se organizarem em

fases lamelares e serem biocompatíveis. O fosfolipídeo mais utilizado para formar

lipossomas é a fosfatidilcolina (lipídeo de base), porém outros lipídeos e

substâncias podem ser incluídos na sua composição, produzindo assim

lipossomas com diferentes características funcionais. A fosfatidilcolina utilizada na

formação dos lipossomas pode ser de origem natural, sendo obtida de soja ou de

ovo, ou de origem sintética. A Tabela 1 mostra os principais tipos de

fosfatidilcolina utilizadas no preparo de lipossomas, sua temperatura de transição

de fase e o estado físico da membrana formada a 37ºC.

Tabela 1: Fosfatidilcolina utilizadas no preparo de lipossomas: temperatura de transição de

fase e estado físico da membrana formada a 37ºC.

Nome

(número de carbono por cadeia) Abreviação

Temperatura de

transição de fase (Tf)

Estado físico da

membrana a 37ºC

Fosfatidilcolina natural de soja SPC <0ºC cristal liquido

Fosfatidilcolina natural de ovo EPC <0ºC cristal liquido

Dimiristoilfosfatidilcolina (14) DMPC 23ºC cristal liquido

Dipalmitoilfosfatidilcolina (16) DPPC 42ºC gel

Distearoilfosfatidilcolina (18) DSPC 55ºC gel

A bicamada lipídica dos lipossomas pode se encontrar em dois estados

físicos diferentes, na fase “gel” ou na fase “cristal-líquido”, dependendo da

temperatura de transição de fases dos lipídeos. Os fosfolipídeos possuem uma

temperatura de transição de fase (Tf) característica, a qual depende da natureza

do grupo polar, além do comprimento e grau de insaturação da cadeia carbonada

dos ácidos graxos que compõem a sua estrutura. Abaixo da Tf, os lipídeos têm

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Introdução 32

mobilidade reduzida e se apresentam de maneira mais ordenada, com ligações

carbono-carbono na conformação todo “trans”. Neste estado físico, dito “gel”, a

bicamada se encontra mais rígida e apresenta baixa permeabilidade. Acima da Tf,

os fosfolipídeos apresentam elevadas difusões rotacional e lateral e suas cadeias

encontram-se em estado desordenado, com ligações carbono-carbono na

conformação “trans” ou “gauche”. Neste estado, chamado de fase “cristal-líquida”,

a membrana é considerada fluida e apresenta elevada permeabilidade (Frezard e

col., 2005). A Figura 5 ilustra a transição de fase das membranas lipídicas (fase

“gel” à fase “cristal-líquido”) e o efeito do colesterol quando adicionado na

formação das membranas.

Figura 5: Transição de fases das membranas lipídica s (fase gel à fase cristal-líquido) e o

efeito do colesterol. (Adaptado de Frezard e col., 2005).

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Introdução 33

O colesterol pode ser incluído na composição lipídica da membrana dos

lipossomas, influenciando a fluidez das membranas, alterando a permeabilidade e

a interação dos lipossomas com os fluidos biológicos. Atua como estabilizador da

membrana, sendo responsável pelo aumento da rigidez das membranas no estado

“cristal-líquido”, diminuindo a sua fluidez e permeabilidade, ou pela diminuição da

rigidez das membranas no estado “gel”, aumentando sua fluidez e permeabilidade.

Outros lipídeos podem entrar na composição dos lipossomas, como lipídios

de carga positiva ou negativa, que contribuem para diminuir a agregação e a fusão

das vesículas, melhorando a estabilidade das formulações, servindo também para

favorecer a interação das vesículas com moléculas de carga oposta e para

modular o destino dos lipossomas no organismo (Frezard e col, 2005).

2.1.3. Classificação dos lipossomas

Os lipossomas podem ser classificados quanto à sua morfologia, em

relação ao seu tamanho e ao número de bicamadas (lamelaridade), que depende

principalmente do seu procedimento de preparo. Podem ser classificados como

MLVs, SUVs, ou LUVs (Frezard, 1999; Torchilin, 2005).

MLVs (Multilamellar Vesicles) são lipossomas grandes com diâmetro

variando entre 400 a 5000 nm, possuem várias bicamadas fosfolipídicas

concêntricas, intercaladas por vários compartimentos aquosos.

SUVs (Small Unilamellar Vesicles) são lipossomas cujo diâmetro varia de

20 a 100 nm, possuem apenas uma bicamada e tem uma baixa taxa de

encapsulação.

LUVs (Large Unilamellar Vesicles) são lipossomas constituídos por apenas

uma bicamada, porém com alta capacidade de encapsulação, pois possuem

diâmetro maior que 100 nm.

Os lipossomas podem ser classificados também em função de suas

propriedades de interação, que dependem de sua constituição química,

responsável pela sua funcionalidade e especificidade (Figura 6). Os lipossomas

convencionais, formados tipicamente por fosfatidilcolina e colesterol, são

caracterizados por apresentarem reatividade não específica com o meio externo.

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Introdução 34

Os lipossomas furtivos (Stealth Liposomes), que têm a sua superfície recoberta

com polímero de etilenoglicol (PEG) tornando-os estabilizados estericamente,

possuem uma baixa reatividade com o meio. Os lipossomas direcionados

(Targeted Liposomes) apresentam reatividade específica devido à ligação de

moléculas em sua estrutura que vão direcionar os lipossomas para um sítio

específico (anticorpos, por exemplo). Lipossomas de fusão possuem agentes

específicos que, sob estímulo externo, mudam a permeabilidade, fase ou

integridade da membrana. Um exemplo são os lipossomas sensíveis ao pH, que

se agregam, desestabilizam e/ou fundem com a membrana celular, após o

abaixamento do pH do meio (Frezard, 1999; Frezard e col., 2005; Sharma e col.,

1997).

Figura 6: Lipossomas incorporando diferentes substâ ncias funcionalizantes (Frézard e col.,

2005).

2.1.4. Encapsulação de substâncias nos lipossomas

Substâncias farmacologicamente ativas podem ser encapsuladas no

compartimento aquoso interno (substâncias hidrossolúveis, peptídeos, proteínas)

ou serem incorporadas nas membranas dos lipossomas (substâncias lipossolúveis

ou anfifílicas, proteínas de membrana).

Outros modos de associação contemplam a interação eletrostática de

ácidos nucléicos com a superfície de lipossomas catiônicos e a conjugação de

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Introdução 35

ligantes ou toxinas na cabeça polar de certos lipídios ou polímeros (Frezard e col.,

2005; Sharma e col., 1997).

2.1.5. Principais aplicações dos lipossomas

Os lipossomas podem ser utilizados como modelo lipídico de membrana

com objetivo de elucidar a estrutura e a dinâmica das membranas lipídicas, bem

como estrutura e função de proteínas de membrana reconstituídas. Estes

permitem ainda investigar os mecanismos de interação de fármacos com

membranas biológicas e de transporte através delas (Verly e col., 2008).

Podem ser utilizados para proteger peptídeos endógenos encapsulados de

uma degradação rápida, aumentando a meia vida destes peptídeos em fluídos

biológicos, prolongando suas ações biológicas, permitindo assim que o efeito

destas substâncias possa ser estudado em tecidos específicos (Frezard e col.,

2006; Silva-Barcellos e col., 2004).

Atualmente, os lipossomas vêm sendo empregados na terapia do câncer

(doxorubicina e daunorubicina), no tratamento de infecções fúngicas sistêmicas e

da leishmaniose visceral (Anfotericina B) e como sistema imunoadjuvante no

desenvolvimento de vacinas (Sharma e col., 1997; Torchilin, 2005; Frezard, 1999).

Os lipossomas apresentam-se também como sistema carreador promissor

para os medicamentos antimoniais no tratamento das leishmanioses e da

esquistossomose. No caso dos antimoniais pentavalentes, níveis de atividade

espetaculares foram alcançados em modelo experimental de leishmaniose

visceral, após sua administração na forma encapsulada em lipossomas. A

encapsulação de antimonial trivalente em lipossomas promoveu redução de sua

toxicidade aguda (Frezard e col., 2000; de Melo e col., 2003; Ribeiro e col., 2008;

Schettini e col., 2006).

Desenvolvimentos futuros quanto à aplicação dos lipossomas são esperados

para diversas áreas na medicina tais como agentes de contraste para diagnóstico,

terapia gênica, imunomodulação, tratamento de alergias e terapia pulmonar.

Muitos estudos também têm sido realizados com objetivo de desenvolver

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Introdução 36

lipossomas para administração de fármacos por vias não invasivas como tópica,

oral, nasal e pulmonar (Torchilin, 2005; Sharma e col., 1997).

2.2. Lipossomas ultradeformáveis

Os lipossomas ultradeformáveis foram apresentados na literatura como um

sistema vesicular único capaz de promover a absorção transdérmica de fármacos,

independente de suas características físico-químicas (Cevc, 2004).

2.2.1. Composição lipídica e propriedades dos lipossomas ultradeformáveis

Lipossomas podem ser preparados com combinações específicas de

fosfolipídios e tensoativos, permitindo a formação de vesículas altamente

deformáveis ou elásticas.

Estas combinações de fosfolipídios e tensoativos dão origem a vesículas

suficientemente deformáveis que tem a capacidade de atravessarem poros

consideravelmente menores que seu próprio tamanho (Figura 7). Foi proposto que

estas vesículas, quando aplicadas topicamente sob condição não oclusiva,

penetrariam e atravessariam a pele espontaneamente, promovendo absorção

transdérmica de fármacos encapsulados (Cevc et al, 1998, 1995; Gupta et al,

2005a, b).

Figura 7: Representação esquemática de uma vesícula ultradeformável passando através de

um poro menor que seu próprio tamanho (Adaptado de Cevc e col., 1995).

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Introdução 37

Na maioria dos trabalhos realizados com vesículas ultradeformáveis, os

fosfolipídeos utilizados na preparação destas vesículas eram a fosfatidilcolina de

soja ou a fosfatidilcolina de ovo. Por outro, diferentes tensoativos foram utilizados

na obtenção dessas vesículas, incluindo o colato de sódio, deoxicolato de sódio,

Span 80 e Tween 80. A utilização do colato de sódio torna-se interessante por ser

um tensoativo biocompatível; além do mais, em estudos comparativos com outros

tensoativos, o colato de sódio apresentou resultados satisfatórios em relação à

absorção transdérmica de fármacos (Lee e col., 2005; Jain e col., 2003). A Tabela

2 mostra a composição química das vesículas ultradeformáveis e os fármacos

encapsulados de alguns trabalhos de referência encontrados na literatura.

Tabela 2: Composição química das vesículas ultradef ormáveis utilizadas para a

administração transdérmica de diferentes fármacos.

Composição química Razão molar Fármaco encapsulado Referência

SPC/colato 87:13 insulina Cevc e col., 1998

SPC/colato 87:13 diclofenaco Cevc e col., 2001

SPC/colato 84:16 5-fluorouracil El Maghraby e col., 2001

SPC/deoxicolato 85:15 dexametasona Jain e col., 2003

SPC/Tween 80 85:15 dexametasona Jain e col., 2003

SPC/Span 80 85:15 dexametasona Jain e col., 2003

SPC/glicirrizanato de

potássio 4:1 glicirrizanato de potássio Trotta e col., 2002

SPC/colato 84:16 oestradiol El Magharaby e col., 2000a,b

SPC/Span 80 84:16 oestradiol El Magharaby e col., 2000a,b

SPC/Tween 80 84:16 oestradiol El Magharaby e col., 2000a,b

SPC/ácido oleico 84:16 oestradiol El Magharaby e col., 2000a,b

2.2.2. Modo de atuação dos lipossomas ultradeformáveis

A pele é o maior órgão do nosso corpo, atuando como uma barreira entre o

corpo e o ambiente exterior. O estrato córneo é a camada mais externa da pele e

sua presença limita a absorção percutânea de bioativos. Dois mecanismos

distintos foram propostos para explicar a capacidade dos lipossomas

ultradeformáveis promoverem a absorção transdérmica de fármacos.

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Introdução 38

De acordo com o primeiro mecanismo, as vesículas atuariam como

sistemas carreadores de fármacos, atravessando o estrato córneo de forma

intacta e carregando o fármaco para os tecidos mais profundos e para a circulação

sanguínea. As vesículas penetrariam na pele sob efeito do gradiente de hidratação

(as camadas mais profundas sendo mais hidratadas) e, por terem a capacidade de

se deformarem, passariam por interstícios entre as células do estrato córneo sem

se desintegrarem (Cevc e col., 1992). Um estudo da localização de lipossomas

ultradeformáveis marcados com sonda fluorescente lipofílica usando a técnica de

microscopia laser confocal sugeriu que o estrato córneo apresenta dois caminhos

diferentes de penetração dos lipossomas, o caminho “intercluster” e o

intercorneócito; e que estas regiões contêm irregularidades na organização

estrutural dos lipídios que poderiam funcionar como canais virtuais pelos quais os

lipossomas contendo fármacos passariam para em seguida atingirem a circulação

sanguínea (Schätzlein e col., 1998).

De acordo com o segundo mecanismo, as vesículas atuariam como

promotores de absorção dos fármacos associados, em que as bicamadas das

vesículas modificariam os lipídios intercelulares do estrato córneo, facilitando a

passagem do fármaco livre através da pele (Elsayed e col., 2007). O surfactante

presente na formulação poderia se fundir na interface do estrato córneo,

aumentando a concentração local do fármaco e a sua permeação pela pele (Fang

e col., 2001). Já o etanol, muitas vezes presente nas formulações, provocaria

desorganização das bicamadas lipídicas da pele aumentando a fluidez do estrato

córneo, permitindo que o fármaco penetre nas camadas profundas da pele

(Touitou e col., 2000).

Ainda há controvérsias sobre qual desses dois mecanismos predomina na

passagem de fármacos pela pele quando estes são aplicados em suspensão de

lipossomas ultradeformáveis. Acredita-se que o modo de atuação dessas

vesículas depende tanto das características das vesículas (tamanho, composição

lipídica) quanto das propriedades físico-químicas do fármaco (Elsayed e col.,

2007). Entretanto, até hoje, não foi realizado nenhum estudo sistemático visando

elucidar a influência desses diferentes fatores.

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Introdução 39

2.2.3. Nível de penetração do fármaco na pele após aplicação em

lipossomas ultradeformáveis

Outra questão também controversa diz respeito ao nível de penetração dos

fármacos quando aplicados topicamente na forma encapsulada em lipossomas

ultradeformáveis. A penetração do fármaco pode ser restrita ao tecido cutâneo,

pode ser um pouco mais profunda, envolvendo seu acúmulo no tecido próximo ao

local da aplicação (Cevc e col., 2001), ou pode alcançar a circulação sistêmica

(Cevc e col., 1998).

A literatura mostra trabalhos em que os lipossomas ultradeformáveis

favorecem a absorção transdérmica de moléculas ou de macromoléculas,

permitindo ações farmacológicas sistêmicas. Insulina aplicada topicamente em

lipossomas deformáveis mostrou ação hipoglicemiante sistêmica, em ensaios com

ratos e humanos, com eficácia comparada à administração subcutânea, porém

com retardo no início do efeito (Cevc e col., 1998, Cevc e col., 1995). Uma mistura

de lipossomas deformáveis vazios e toxina tetânica foi testada para imunização

tópica, em ensaios in vivo. A resposta imune, medida pelos níveis séricos de IgG,

foi comparável àquela alcançada com a mesma dose de toxina administrada por

via intramuscular, mostrando o grande potencial dos lipossomas ultradeformáveis

para imunização percutânea (Gupta e col., 2005b).

Estudos farmacocinéticos do diclofenaco, em ratos, camundongos e porcos,

mostraram que os lipossomas deformáveis promoveram concentração de fármaco

10 vezes maior nos tecidos subcutâneos e uma penetração mais profunda nos

tecidos próximos ao local de aplicação, quando comparados à formulação

comercial baseada em gel (Cevc e col., 2001; 2008).

Por outro lado, alguns trabalhos mostram que os lipossomas

ultradeformáveis podem aumentar a deposição de fármacos na pele, sugerindo

que estes sejam úteis na liberação dérmica destas moléculas. Os níveis de

permeação do glicirhizanato de potássio através da pele ficaram abaixo do limite

detectável, quando este fármaco foi aplicado na forma encapsulada em

lipossomas deformáveis, porém houve um aumento dos valores de deposição do

fármaco na pele em relação ao controle aquoso (Trotta e col., 2002). Lipossomas

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Introdução 40

ultradeformáveis contendo 5-fluorouracil, em ensaios de permeação percutânea in

vitro, promoveram um aumento de deposição do fármaco na pele, mas tiveram um

pequeno efeito na velocidade de permeação através da pele (El Maghraby e col.,

2001). Essa tendência foi também observada com lipossomas deformáveis

contendo cetotifeno, em que houve um aumento na deposição na pele, mas não

na permeação transdérmica, sugerindo serem mais úteis para liberação dérmica

que transdérmica desse fármaco (Elsayed e col., 1997).

Os estudos realizados até hoje sugerem que o nível de penetração do

fármaco, quando administrado na forma encapsulada em lipossomas

ultradeformáveis, depende das características físico-químicas do fármaco,

principalmente de sua lipofilicidade e sua massa molar. Entretanto, deve ser

considerada também a possível influência das características dessas vesículas

(tamanho, composição lipídica, deformabilidade, fluidez da membrana,

permeabilidade), já que lipossomas de características diferentes foram utilizados

nos estudos citados acima.

2.2.4. Pontos críticos relacionados aos lipossomas ultradeformáveis

Apesar do grande interesse nas vesículas ultradeformáveis e do grande

número de trabalhos publicados sobre este tema, dois pontos precisam ainda ser

elucidados: o modo de atuação destas vesículas e os fatores que determinam o

nível de profundidade que os fármacos atingem após aplicação tópica.

Vale ressaltar também que a permeabilidade da membrana destas

vesículas não foi ainda caracterizada e que muito poucos estudos

farmacocinéticos foram realizados para os fármacos administrados a partir destas

vesículas.

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Introdução 41

2.3. Lipossomas mucoadesivos

2.3.1. Composição lipídica e papel do polímero catiônico

Os lipossomas podem também ser preparados com lipídios carregados

negativamente e, após seu preparo, serem revestidos com polímeros catiônicos,

modificando assim suas propriedades de superfície e sua interação com as

mucosas.

Estes polímeros, de origem natural ou sintética, revestem a superfície dos

lipossomas formando sistemas particulados, contribuindo para aumentar a adesão

destes na mucosa do trato gastrointestinal. Este fenômeno de mucoadesão pode

aumentar o tempo de permanência dos lipossomas nos locais de absorção dos

bioativos, contribuindo para melhorar a absorção de fármacos encapsulados

(Takeuchi e col., 2001, 2005; Jain e col., 2007).

Entre os vários polímeros que possuem a capacidade de promover

mucoadesão, a quitosana merece destaque (Figura 8).

É um polímero de origem natural, biodegradável, biocompatível, não tóxico e

mucoadesivo, obtido a partir da desacetilação da quitina presente no exoesqueleto

de crustáceos.

A quitosana, por apresentar vários grupos amina (Figura 8), é catiônica em

soluções ácidas (pH<6,5) e torna-se capaz de estabelecer interações

eletrostáticas com superfícies e polímeros que possuem carga negativa. Em

soluções alcalinas ou na presença de poliânions, pode precipitar ou formar géis

(Illum e col., 2001; Sinha e col., 2004).

Figura 8: Estrutura química da quitosana.

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Introdução 42

As propriedades mucoadesivas da quitosana foram atribuídas das

seguintes características deste biopolímero: 1) o seu caráter policatiônico que

favorece sua interação eletrostática com os grupos carregados negativamente

presentes nas superfícies das mucosas do trato gastrointestinal e nasal; 2) sua

capacidade de formar gel em solução de pH > 6,5; 3) sua elevada massa molar,

sua alta flexibilidade e sua elevada capacidade de formar pontes de hidrogênio

devido aos seus grupos hidroxila (Sinha e col., 2004).

2.3.2. Aumento de absorção dos fármacos pelo trato gastrointestinal

Alguns trabalhos relatam o uso de nanopartículas aniônicas recobertas com

quitosana para promoverem a absorção de proteínas bioativas por via oral.

Entretanto não há consenso sobre a real contribuição dos lipossomas (Smart,

2005; Takeuchi e col., 2001, 2005; Prego e col, 2006).

Estudos mostraram uma redução acentuada e prolongada (até 12 horas)

nos níveis plasmáticos de glicose de ratos Wistar, após administração oral de

insulina encapsulada em lipossomas aniônicos associados à quitosana, o que não

foi observado após a administração oral dos mesmos lipossomas sem a quitosana

(Takeuchi et al, 2001). Um estudo por microscopia confocal das vesículas

marcadas com a sonda fluorescente lipofílica DiI permitiu estabelecer as

propriedades mucoadesivas dos lipossomas associados à quitosana, em todas as

porções do intestino, quando comparados aos lipossomas sem o polímero. Nestes

experimentos, a mucoadesividade foi relacionada não somente com a presença da

quitosana, mas também com o tamanho dos lipossomas, sendo que lipossomas

considerados pequenos (diâmetro médio de 182nm) tiveram mucoadesividade

maior quando comparados aos lipossomas de tamanho maior (diâmetro médio de

4,1µm). Neste mesmo trabalho, a administração por via oral de lipossomas

pequenos contendo calcitonina e incorporados em solução de quitosana

promoveram uma redução mais acentuada na concentração plasmática de cálcio

quando comparada à administração de calcitonina nas formas livre ou

encapsulada em lipossomas sem quitosana (Takeuchi et al, 2005).

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Introdução 43

Por outro lado, Prego e col, 2006, sugeriram que o aumento da absorção

pelo intestino deve-se essencialmente à presença da quitosana, pois uma

importante redução nos níveis de cálcio sérico foi encontrado, após administração

oral de calcitonina, tanto na forma encapsulada em nanocápsulas recobertas com

quitosana quanto na forma livre em solução de quitosana.

As propriedades mucoadesivas podem ser exploradas também para

melhorar a administração nasal de fármacos (Mainardes et al, 2006). Alguns

trabalhos mostram a viabilidade da utilização de quitosana como sistema de

liberação controlada de vacinas por via nasal. Ensaios in vivo mostraram que a

administração nasal de antígenos, incorporados em uma solução de quitosana,

promoveu uma resposta imune similar àquela induzida pela administração

parenteral. Esse efeito foi demonstrado no caso de vacinas para influenza e

difteria (Illum et al, 2001). Vale mencionar ainda que a administração por via nasal

de insulina, encapsulada em lipossomas aniônicos e recobertos com quitosana, foi

capaz de reduzir os níveis plasmáticos de glicose por um longo período de tempo

(até 48 horas), mostrando a eficácia dessa forma e via de administração para a

entrega de proteínas na circulação sistêmica (Jain et al, 2007).

2.3.3. Pontos críticos relacionados aos lipossomas mucoadesivos

A literatura mostra vários trabalhos em que os lipossomas mucoadesivos

encapsulando proteínas tiveram uma excelente eficácia quando administrados por

vias oral ou nasal, entretanto, o modo de atuação destas vesículas precisa ainda

ser esclarecido.

Há controversa se os lipossomas são capazes de reter o fármaco

encapsulado no trato gastrointestinal, principalmente por causa do efeito

desestabilizante dos sais biliares.

Foi mostrado que a presença de sais biliares, na concentração de 10mM,

pode levar a formação de poros nas membranas, favorecendo a ruptura dos

lipossomas e liberação do material encapsulado (Ariën e col., 1993; Kokkona e

col., 2000; Freund e col., 2000). Lipossomas com a membrana na fase “gel” são

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Introdução 44

mais resistentes à ação dos sais biliares e podemos sugerir que este tipo de

lipossomas seja capaz de reter moléculas na presença da bile.

Neste contexto, o potencial de aplicação dos lipossomas mucoadesivos

precisa ser esclarecido, principalmente no que diz respeito a substâncias

hidrofílicas de massa molar intermediária.

3. CALCEÍNA COMO MARCADOR DE LIPOSSOMAS

Como ilustrado na Figura 9, a calceína é uma molécula altamente solúvel

em solução aquosas de pH > 6, que apresenta múltiplas cargas e uma massa

molar intermediária (623 Da). Esta pode ser considerada como um modelo de

fármaco hidrofílico.

Por ser impermeável através de membranas lipídicas, a calceína já foi

utilizada previamente como marcador fluorescente em estudos físico-químicos e

farmacocinéticos de lipossomas (Allen, 1993; Kendall e col., 1983; Touitou e col.,

2001; Simões e col, 2004; Li e col, 1996), apresentando como vantagens uma

elevada estabilidade nos sistemas biológicos e um elevado rendimento quântico

de fluorescência independente de pH na faixa de 6-8,5. Na faixa de pH nos locais

de absorção (entre 5,4 a 9), a calceína possui uma carga efetiva negativa.

Figura 9: Estrutura da calceína no pH 7.

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Introdução 45

Na faixa de pH fisiológico (entre 6 a 9), alguns íons metálicos como cobre,

cobalto, paládio, bismuto, ferro, tálio e níquel interagem com a calceína apagando

sua fluorescência. A propriedade do íon cobalto de se ligar à calceína em pH

neutro, formando um complexo não fluorescente foi explorada no estudo das

propriedades de fusão dos lipossomas (Kendall e col., 1983).

Os íons cálcio e magnésio, presentes no fluídos biológicos, não afetam a

fluorescência da calceína na faixa do pH fisiológico, não interferindo com o uso da

calceína em experimentos contendo estes íons. Porém no pH 12, a calceína

interage fortemente com o íon cálcio, tornando-se altamente fluorescente,

permitindo o seu uso em método fluorimétrico para a dosagem do íon cálcio.

A calceína foi encapsulada em etossomas e lipossomas convencionais com

o objetivo de avaliar a capacidade dessas vesículas de promoverem a passagem

transdérmica de fármaco hidrofílico através da pele (Touitou e col., 2001; Li e col.,

1996).

No estudo dos etossomas, foram utilizados Células de Difusão de Franz e

pele do dorso de camundongos sem pêlo; o compartimento receptor foi composto

por solução alcoólica 30%. O nível de profundidade alcançado pela calceína na

pele foi avaliado por microscopia confocal e os resultados mostraram que os

etossomas foram capazes de liberar a calceína para as camadas mais profundas

da pele quando comparada à forma livre (Touitou e col., 2001).

No estudo dos lipossomas convencionais (Li e col., 1996), a calceína foi

aplicada no dorso de camundongos pré-barbeados, seja em solução ou na forma

encapsulada, e foram determinadas as concentrações de calceína na pele e no

plasma dos animais. Os resultados mostram que a maior parte de calceína

liberada dos lipossomas acumulou-se na pele, sem atingir a circulação sanguínea

sistêmica.

A calceína foi utilizada também como marcador fluorescente visando

investigar o efeito permeabilizante do colato de sódio quando adicionado em

concentrações crescentes a uma suspensão de lipossomas formados de

fosfatidilcolina contendo calceína encapsulada. Os resultados deste estudo

mostram que o efeito permeabilizante do colato ocorre em relações

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Introdução 46

colato/fosfolipídio bem superior aquele encontrado nas vesículas ultradeformáveis

(Simões e col., 2004).

Devido às características físico-químicas e espectroscópicas da calceína,

torna-se interessante a sua utilização como modelo de fármaco hidrofílico de

massa molar intermediária, que são pouco absorvidos na forma livre, tanto na

aplicação tópica quanto por via oral. Vale ressaltar que a calceína ainda não foi

usada na caracterização físico-química e farmacocinética tanto dos lipossomas

ultradeformáveis quanto dos lipossomas mucoadesivos, o que é proposto na

presente tese.

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Objetivos 47

OBJETIVOS

Diante do contexto exposto, o objetivo dessa tese foi estudar aspectos

físico-químicos e farmacocinéticos dos lipossomas ultradeformáveis e

mucoadesivos, visando esclarecer o modo de atuação e as potencialidades de

aplicação destes sistemas para administração de fármacos hidrofílicos de massa

molar intermediária (500 a 1000 Da) por vias não invasivas.

Os objetivos específicos do estudo abordam os seguintes aspectos:

1. Preparação e caracterização físico-química de formulações de lipossomas

ultradeformáveis contendo calceína, com relação à distribuição de tamanho,

eficiência de encapsulação e permeabilidade e deformabilidade das

membranas.

2. Avaliação da permeação cutânea in vitro da calceína usando pele do dorso

de camundongos sem pêlo a partir de lipossomas ultradeformáveis de

fosfatidilcolina de soja.

3. Estudo in vivo da absorção transdérmica da calceína após aplicação tópica

nas formas livre e encapsulada em lipossomas ultradeformáveis em

camundongos sem pêlo.

4. Preparação e caracterização físico-química de formulações de lipossomas

mucoadesivos contendo calceína, com relação à distribuição de tamanho,

eficiência de encapsulação e estabilidade em condições fisiológicas

modelo.

5. Estudo in vivo da absorção da calceína, em camundongos Swiss, após

administração por via oral na forma encapsulada em lipossomas

mucoadesivos.

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Lipossomas Ultradeformáveis 48

CAPÍTULO 1: LIPOSSOMAS ULTRADEFORMÁVEIS PARA

ADMINISTRAÇÃO TRANSDÉRMICA DE FÁRMACOS HIDROFÍLICOS

1. INTRODUÇÃO

A pele é o maior órgão do nosso corpo, atuando como uma barreira seletiva

entre o corpo e o ambiente exterior. A camada externa da pele é o estrato córneo,

considerada a principal barreira à passagem de substâncias exógenas (Verma e

col., 2003).

Os lipossomas ultradeformáveis são vesículas que têm capacidade de se

deformarem e passarem por poros de diâmetros menores que seu diâmetro

original. Esses lipossomas apresentam essa propriedade devido à sua

composição lipídica específica, isto é, uma combinação de fosfolipídeos com

tensoativos, tipicamente fosfatidilcolina de soja e colato de sódio. Essas vesículas

foram apresentadas inicialmente como um sistema vesicular capaz de promover a

absorção transdérmica de fármacos encapsulados (Cevc et al, 1992, Gupta et al,

2005a).

Entretanto, os resultados obtidos com diferentes fármacos e lipossomas

ultradeformáveis de diferentes composições mostram que, após aplicação tópica,

o fármaco pode atingir níveis de profundidade diferentes na pele: fica retido nas

camadas mais superficiais (tecido cutâneo); penetra mais profundamente e atinge

tecidos próximos ao local da aplicação; ou alcança a circulação sistêmica (Cevc et

al, 1998; Cevc et al, 2001; El Maghraby et al, 2001).

Vale ressaltar que ainda não está claro se os lipossomas ultradeformáveis

atravessam o estrato córneo de forma intacta, atuando como sistemas

carreadores de fármacos ou promovem a permeação dos fármacos, modificando

os lipídios intercelulares do estrato córneo, facilitando a passagem do fármaco

livre através da pele (Cevc et al, 1992; Elsayed et al, 2007).

Apesar dos resultados extremamente promissores obtidos com certas

formulações de vesículas ultradeformáveis para a administração transdérmica de

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Lipossomas Ultradeformáveis 49

fármacos, duas questões precisam ainda ser esclarecidas: o mecanismo de

atuação destas vesículas quanto ao carreamento do fármaco e os fatores que

determinam o nível de profundidade que os fármacos atingem após aplicação

tópica. A resposta a essas questões é importante para se conhecer a verdadeira

potencialidade de uso destas vesículas para liberação transdérmica de fármacos.

Nesta parte do trabalho, os lipossomas ultradeformáveis foram preparados

e caracterizados do ponto de vista da distribuição de tamanho, da eficiência de

encapsulação da calceína e da deformabilidade das membranas. Foi avaliada

ainda, pela primeira vez, a permeabilidade dessas membranas, o que permite

inferir sobre a capacidade de carreamento das vesículas ultradeformáveis. O

modo de atuação destas vesículas foi investigado através do estudo in vitro da

permeação cutânea da calceína utilizando células de Franz e do estudo in vivo da

absorção transdérmica da calceína em camundongos sem pêlo. Como ferramenta

de trabalho, foi realizada a validação do método fluorimétrico para dosagem de

calceína em plasma de animais.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Preparação das formulações de calceína

2.1.1. Lipossomas ultradeformáveis contendo calceína

As vesículas ultradeformáveis foram preparadas pela injeção de uma

solução etanólica do fosfolipídeo em uma solução aquosa de tampão HEPES 20

mM / NaCl 150 mM pH7,4 contendo o colato de sódio e a calceína, sob agitação

magnética em temperatura ambiente, conforme método descrito por Cevc e col.,

1998. A Figura 10 representa o modo de preparo dos lipossomas

ultradeformáveis.

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Lipossomas Ultradeformáveis 50

Figura 10: Representação esquemática do modo de pre paro dos lipossomas

ultradeformáveis.

Os fosfolipídios utilizados foram fosfatidilcolina de soja (SPC, Avanti Polar,

95% grau de pureza) ou fosfatidilcolina de ovo (EPC, Sigma Aldrich, 100% grau de

pureza) na concentração final de 8,8% p/v. A concentração final de etanol (Merck)

foi de 9% v/v. A concentração de colato de sódio (Sigma) foi de 1,2% p/v e a de

calceína (Sigma) foi 0,1 mM nos estudos físico-químicos e 10 ou 30 mM, nos

estudos de absorção percutânea in vitro e in vivo, respectivamente.

O tamanho das vesículas foi calibrado por filtrações repetidas (7 vezes) da

suspensão de lipossomas em membrana de policarbonato com poro de 0,1 µm, na

temperatura ambiente, com pressão de 200 psi, usando um extrusor (Lipex

Biomembranes, Canadá), conforme proposto por Mayer et al, 1986.

Foram preparadas também vesículas ultradeformáveis sem etanol. Nesta

preparação, o fosfolipídeo foi dissolvido em clorofórmio e, após evaporação no

rotaevaporador, foi obtido um filme lipídico. Este foi hidratado com uma solução

aquosa de tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM pH7,4 contendo o colato de

sódio e a calceína. A suspensão de vesículas multilamelares resultante foi então

submetida a 8 ciclos de congelamento-descongelamento (Mayer e col., 1985). Em

seguida, o tamanho foi calibrado por filtrações repetidas (7 vezes) da suspensão

de lipossomas em membrana de policarbonato com poro de 0,1 µm, na

temperatura ambiente, com pressão de 200 psi, usando um extrusor (Lipex

Biomembranes, Canadá).

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Lipossomas Ultradeformáveis 51

Vale ressaltar que os lipossomas contendo a calceína não foram separados

da calceína não encapsulada.

2.1.2. Solução de calceína livre

A solução estoque de calceína foi preparada de acordo com Kendall e col.,

1983. A solução foi preparada pela adição de NaOH 1 M ao pó de calceína, em

temperatura ambiente, até o pH final da solução atingir um valor na faixa de 7 a

7,5. Esta solução foi armazenada a 4ºC protegida da luz.

A partir da solução estoque, foi preparada uma solução de calceína livre em

tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM pH7,4.

Uma formulação de calceína livre na presença de colato e etanol foi

também preparada pela adição de etanol (na ausência de lipídeos) a uma solução

aquosa de calceína, contendo colato de sódio, ambas nas mesmas concentrações

finais que na suspensão de vesículas ultradeformáveis (item 2.1.1.).

2.1.3. Lipossomas convencionais contendo calceína

Lipossomas convencionais foram preparados seguindo o mesmo processo

e com a mesma concentração de fosfolipídio que as vesículas ultradeformáveis,

como descrito no item 2.1.1., porém sem a adição do surfactante colato de sódio.

2.2. Caracterização físico-química dos lipossomas u ltradeformáveis

2.2.1. Determinação da distribuição de tamanho das partículas

A distribuição de tamanho das partículas foi avaliada através de

espalhamento dinâmico de luz, utilizando equipamento Zetasizer 3000HS marca

Malvern, UK. Esta técnica permite a determinação do diâmetro hidrodinâmico

médio das vesículas e do índice de polidispersidade. A suspensão das vesículas

foi diluída 75 vezes em tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM pH7,4.

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Lipossomas Ultradeformáveis 52

2.2.2. Avaliação da interferência dos componentes dos lipossomas na

fluorescência da calceína

Este experimento teve como objetivo avaliar a interferência dos

componentes das vesículas ultradeformáveis na intensidade de fluorescência da

calceína nas condições dos ensaios físico-químicos e dos ensaios de absorção

percutânea. Neste estudo foram preparados 4 meios diferentes: tampão HEPES

20 mM / NaCl 150 mM pH7,4; tampão HEPES contendo colato e etanol; vesículas

ultradeformáveis vazias e lipossomas convencionais, conforme descrito na Tabela

3. Os lipossomas foram preparados conforme descrito no item 2.1.1.

Tabela 3: Meios utilizados para avaliação da interf erência dos componentes das vesículas

ultradeformáveis em ensaios in vitro e in vivo.

Meios SPC Etanol Tampão Colato

Tampão HEPES 20 mM/NaCl 0,15 M pH7,4 1mL

Tampão HEPES + colato e etanol 0,1mL 1mL 12mg

Tampão HEPES + Vesículas ultradeformáveis 88mg 0,1mL 1mL 12mg

Tampão HEPES + Lipossomas convencionais 88mg 0,1mL 1mL

Para avaliar a possível interferência dos componentes das vesículas

ultradeformáveis na intensidade de fluorescência da calceína, simulando as

condições dos ensaios físico-químicos, adicionou-se a calceína na concentração

de 0,1 mM aos diferentes meios. No tempo zero (após adição da calceína) e após

incubação a 25ºC por 1 hora, 20 µL de meio foi acrescentado em cubeta de

quartzo (1 x 1 cm) contendo 2 mL do tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM

pH7,4 e a leitura da fluorescência foi realizada no espectrofluorímetro (marca

Varian, modelo Cary Eclipse) usando os seguintes parâmetros: λexcitação = 490

nm; λemissão = 515 nm; fendas de excitação e emissão de 2,5 nm.

Na avaliação da possível interferência dos componentes das vesículas

ultradeformáveis na intensidade de fluorescência da calceína nos ensaios de

absorção percutânea, adicionou-se a calceína na concentração de 10 mM aos

diferentes meios. No tempo zero (após adição da calceína) e após incubação a

37ºC por 1 hora, as amostras foram diluídas (3 µL de meio em 5 mL do tampão

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Lipossomas Ultradeformáveis 53

HEPES) e 5 µL da amostra diluída foi acrescentada na cubeta contendo 2 mL do

tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM pH7,4. A leitura da fluorescência foi

realizada no espectrofluorímetro usando os seguintes parâmetros: λexcitação =

490 nm; λemissão = 515 nm; fendas de excitação e emissão de 2,5 nm.

2.2.3. Determinação da eficiência de encapsulação da calceína

Duas metodologias distintas foram empregadas para determinar a eficiência

de encapsulação da calceína nas vesículas elásticas, ambas através de leitura no

espectrofluorímetro (marca Varian, modelo Cary Eclipse) das intensidades de

fluorescência correspondente à calceína encapsulada e total (λexc = 490 nm, λem

= 515 nm, fendas = 5 nm).

A primeira metodologia consiste na separação da calceína não encapsulada

dos lipossomas ultradeformáveis por cromatografia de filtração em gel Sephadex

G-50 usando mini colunas submetidas a centrifugação (Jain et al, 2003). Colunas

de gel Sephadex G-50, previamente equilibradas com tampão HEPES 20 mM /

NaCl 150 mM pH7,4, foram preparadas em seringas de 1 mL e o excesso de

tampão foi eliminado por centrifugação (800 rpm, 3 minutos, temperatura = 20ºC).

Em seguida, foram aplicadas 200 µL de suspensão de lipossomas no topo da

coluna. Nessa separação, a calceína não encapsulada fica retida na coluna

enquanto os lipossomas são eluídos no volume de exclusão da coluna. A

vantagem desta técnica é que permite a purificação dos lipossomas com diluição

mínima da suspensão. A partir das leituras da intensidade de fluorescência da

amostra antes da separação (calceína total) e da amostra eluída (calceína

encapsulada) pôde-se determinar a eficiência de encapsulação da calceína em

lipossomas.

A segunda metodologia baseia-se na propriedade do íon cobalto de apagar

a fluorescência da calceína. O íon cobalto (Co2+) forma um complexo de

coordenação com a calceína, apagando sua fluorescência, e é impermeável

através das bicamadas lipídicas convencionais (Kendall e col, 1983). A suspensão

de lipossomas foi diluída 100 vezes em tampão HEPES 20 mM / NaCl 150 mM

pH7,4 e a intensidade de fluorescência foi registrada em cubeta de quartzo (1 x 1

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Lipossomas Ultradeformáveis 54

cm), correspondendo à fluorescência da calceína total (Ftotal). Em seguida foi

adicionado 10 µL de solução de cloreto de cobalto 40 mM, e a fluorescência foi

medida, correspondendo desta vez à calceína encapsulada (Fencapsulada) nas

vesículas, ou seja, à calceína que está inacessível ao íon Co2+. Após adição de 10

µL de Triton X-100 (20% p/v), ocorre lise dos lipossomas, a calceína liberada das

vesículas é quelada pelo cobalto presente no meio e a fluorescência fica apagada.

A fluorescência que permanece é uma fluorescência remanescente

(Fremanescente), que não se apaga e representa 1,5% da fluorescência da

calceína total. A equação 1 é utilizada para cálculo da eficiência de encapsulação

de calceína nos lipossomas.

100*%nteFremanesceFtotal

nteFremanescedoFencapsulaãoencapsulaç

−−= Equação 1

Esta metodologia permitiu avaliar também, nos experimentos de absorção

percutânea in vitro (Células de Franz), se a calceína estava na forma livre ou

encapsulada após permeação pela pele.

A suspensão de vesículas deformáveis, quando aplicada topicamente de

forma não oclusiva, sofre evaporação e torna-se mais concentrada em relação aos

seus componentes. Portanto, para avaliar a influência deste aumento da

concentração dos componentes lipossomais na eficiência de encapsulação, foi

determinada também a eficiência de encapsulação da calceína em vesículas

deformáveis quando preparadas em concentração mais elevada.

Duas formulações foram preparadas com concentração maior de seus

componentes: a primeira foi preparada com concentração 2 vezes maior de

fosfolipídio (SPC) e colato, quando comparada à formulação original; a outra foi

preparada da maneira clássica porém foi submetida a evaporação no

rotaevaporador, a 50ºC, até redução do volume em 3 vezes, resultando desta

forma, em uma preparação com componentes 3 vezes mais concentrados. A

eficiência de encapsulação foi determinada pelo método de adição do íon cobalto,

como descrito acima.

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Lipossomas Ultradeformáveis 55

2.2.4. Avaliação da permeabilidade à calceína das membranas dos

lipossomas ultradeformáveis

A permeabilidade das membranas dos lipossomas ultradeformáveis foi

avaliada pela determinação da eficiência de incorporação da calceína em

diferentes intervalos de tempo após a adição de calceína a uma suspensão de

lipossomas vazios.

Os lipossomas vazios foram preparados conforme item 2.1.1. A calceína foi

adicionada à suspensão de vesículas na concentração de 0,1 mM. Em intervalos

de tempo pré determinados (tempo zero, 10, 20, 30, 45, 60 e 90 minutos), 20 µL

da suspensão foi retirado e acrescentado em 2 mL de tampão HEPES 20 mM /

NaCl 0,15 M pH7,4. Esta etapa de diluição tem o papel de promover a

transferência do colato de sódio da membrana para a fase aquosa, resultando na

impermeabilização da membrana à calceína. A eficiência de encapsulação da

calceína foi determinada pela leitura das fluorescências antes e após a adição do

íon cobalto (Co2+), como descrito no item 2.2.3. . A Figura 11 ilustra o método

utilizado no estudo de permeabilidade das membranas à calceína.

Figura 11: Representação esquemática do método util izado para determinação da

permeabilidade da membrana dos lipossomas à calceín a.

Após determinação da cinética de incorporação da calceína nas vesículas

ultradeformáveis, foi calculado o coeficiente de permeabilidade da calceína,

segundo a Lei Geral de Difusão (Equação 2), onde J é o fluxo da substância

através da membrana, P é o coeficiente de permeabilidade da substância, Ce e Ci

são as concentrações molares nos meios extra e intra vesicular respectivamente.

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Lipossomas Ultradeformáveis 56

)( ie CCPJ −= Equação 2

Considerando que o fluxo representa o número de moles de substância que

atravessa a membrana por unidade de tempo e unidade de área da membrana,

temos a Equação 3, onde Ni é o nº de moles de substância no meio intravesicular

e S é a área superficial total das vesículas:

)( iei CCP

Sdt

dN −= Equação 3

Considerando a relação entre o número de moles, a concentração e o

volume, isto é ViCiNi *= , onde Vi é o volume intravesicular total, e que este

volume é constante, isto é, não altera com a incorporação da calceína, temos que:

)( ieii CCP

Sdt

dCV −= Equação 4

Reescrevendo a Equação 4, temos que:

dtPV

S

CC

dC

iie

i **)(

=− Equação 5

Como S é a área superficial total das vesículas, temos que 24 rS πη= e Vi

é o volume intravesicular total, temos que 3

3

4rVi πη= (desprezando a espessura

da membrana), onde η é o número de vesículas e r é o raio médio de uma

vesícula. Reescrevendo a Equação 5, temos que:

dtr

P

CC

dC

ie

i *3

)(=

− Equação 6

Integrando a Equação 6 no intervalo de tempo de 0 a t e na faixa de

concentração intravesicular de 0 a Ci, e assumindo que Ce não varia

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Lipossomas Ultradeformáveis 57

significativamente nos intervalos de tempo e/ou nas condições do estudo,

podemos deduzir:

tr

P

C

CC

e

ie 3ln −=

− Equação 7

Definindo a fração encapsulada (Fenc) como e

ienc N

NF = , podemos escrever

que i

eenci V

NFC

*= , temos que i

eeenci V

VCFC **= (Equação 8).

A partir das Equações 7 e 8, temos a Equação 9, que permite a

determinação do coeficiente de permeabilidade da calceina através da membrana

das vesículas ultradeformáveis.

tr

P

V

VF

i

eenc

31ln −=

− Equação 9

2.2.5. Determinação do grau de deformabilidade dos lipossomas

ultradeformáveis

A capacidade de deformação dos lipossomas ultradeformáveis foi

determinada baseada no fluxo de uma suspensão de vesículas permeada através

de um sanduíche de membranas de policarbonato de poros de diâmetro calibrado,

com aplicação de uma pressão constante, conforme metodologia descrita por Jain

et al, 2003. O grau de deformabilidade pode ser calculado de acordo com a

seguinte equação:

2

=

p

vv r

rJD Equação 10

Sendo que Jv é o fluxo de suspensão permeada, isto é, o volume de

suspensão de lipossomas permeada por uma unidade de tempo; rv é o raio médio

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Lipossomas Ultradeformáveis 58

das vesículas após passagem pela membrana e rp é o raio médio dos poros da

membrana.

Formulações de lipossomas ultradeformáveis preparadas com SPC ou

EPC, conforme descrito no item 2.1.1., foram colocadas no Extrusor (unidade de

filtração sob pressão e temperatura controladas, Lipex Biomembranes, Canadá).

As membranas de filtração consistiram em um sanduíche de 3 membranas de

policarbonato, de diâmetro de 13 mm, com poros de diâmetro de 200 nm, 100 nm

e 30 nm. Foi aplicada uma pressão constante de 400 psi e, após 10 minutos, o

volume da suspensão de lipossomas permeado foi medido. Durante todo o

experimento a temperatura foi mantida controlada em 37ºC. O diâmetro

hidrodinâmico médio das vesículas após a passagem pelos poros da membrana

foi determinado de acordo com o item 2.2.1. e o grau de deformabilidade

calculado.

2.3. Validação do método fluorimétrico de dosagem d a calceina

presente em plasma de animais

A validação de um método tem por objetivo demonstrar que este é

apropriado para determinar qualitativamente e/ou quantitativamente determinada

substância em um meio específico, garantindo que este é capaz de detectar e

dosar substâncias com confiabilidade dos resultados.

Desta forma, foi realizada a validação do método de dosagem da calceína

presente no plasma de animais. Foram avaliados os parâmetros de linearidade,

precisão e os limites de detecção e de quantificação, e, como se trata de matriz

biológica, os parâmetros de referência utilizados foram os que se aplicam a

métodos bioanalíticos (ANVISA, 2003).

Foi utilizado plasma de camundongos SWISS, machos, com peso entre 28

a 32 g. O sangue destes animais foi coletado pela artéria aorta abdominal e

colocado em frascos contendo o anticoagulante heparina, e, após centrifugação, o

plasma foi obtido. 30 µL de plasma foram incubadas com diferentes concentrações

de calceína (0,000 µM, 0,022 µM, 0,044 µM, 0,065 µM, 0,087 µM, 0,131 µM e

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0,182 µM) a 37°C por 1 hora. Após este período, as amostras foram diluídas em

solução de NaCl 0,15 M (11,5 µL das amostras em 2,2 mL de salina) e foi feito

leitura da fluorescência (λexcitação:490 nm, λemissão:515 nm, fendas:5 nm) em

cubetas de quartzo (1x1 cm) no compartimento de amostras do

espectrofluorímetro. Foi feito um grupo controle, utilizando o mesmo procedimento

descrito acima, porém a calceína foi incubada com solução de NaCl 0,15 M.

2.3.1. Linearidade

Linearidade é a capacidade de uma metodologia demonstrar que as leituras

obtidas são diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra,

dentro de um intervalo especificado.

Para determinação da linearidade, quantidades crescentes de calceína

foram adicionadas no plasma de animais (n=7, para cada concentração), o gráfico

de regressão linear foi construído com a média dos resultados para cada ponto e o

coeficiente de regressão linear foi determinado.

2.3.2. Precisão

A precisão é um parâmetro que se refere à avaliação da proximidade dos

resultados obtidos em várias medidas de uma mesma amostra. Pode ser

expressa como o coeficiente de variação (CV%) de uma série de medidas,

levando em consideração o desvio padrão (DP) e a concentração média (M),

segundo a fórmula:

( ) 100∗= MDPCV

O valor aceitável para o coeficiente de variação é de, no máximo, 15%, para

que o método seja considerado preciso (ANVISA, 2003).

Para determinação da precisão do método foram realizados cálculos das

médias (M) e desvios padrões (DP) das leituras de fluorescência (n=7) nas

diferentes concentrações de calceína presente no plasma de animais.

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Lipossomas Ultradeformáveis 60

2.3.3. Limites de Detecção e Quantificação

Limite de detecção (LD) é a menor quantidade do analito presente em uma

amostra que pode ser detectado, não sendo necessariamente quantificado, nas

condições experimentais pré-estabelecidas. Pode ser determinado através da

média (M) e do desvio padrão (DP) das leituras de fluorescência do branco

(amostra contendo a matriz sem o analito), utilizando a equação (INMETRO,

2003):

DPMLD fluo *3+=

Para obter-se o LDconcentração, o LDfluo foi dividido pela inclinação da reta,

relacionando a fluorescência à concentração de calceína e foi feita a correção pelo

fator de diluição do plasma.

Limite de quantificação (LQ) é a menor quantidade de analito que pode ser

determinada com precisão e exatidão nas matrizes biológicas nas condições

experimentais estabelecidas. Pode ser determinado, também pela média e desvio

padrão das leituras de fluorescência do branco, através da seguinte equação

(INMETRO, 2003):

DPMLQ fluo *10+=

Para obter-se o LQconcentração, o LQfluo foi dividido pela inclinação da reta,

relacionando a fluorescência à concentração de calceína e foi feita a correção pelo

fator de diluição do plasma.

Em ambos os casos, amostras do plasma de animais (n=10) foram

incubadas sem calceína, a média e o desvio padrão foram determinados, e os

limites de detecção e de quantificação foram calculados.

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2.4. Avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis

A avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína foi realizada

utilizando camundongos sem pêlo (Hairless, linhagem HRS/J, obtidos

originalmente de Jackson Laboratories, Ben Harbor, ME, USA) machos de 8

semanas, pesando de 25 a 30 g, gentilmente cedidos pela Profa. Miriam Tereza

Paz Lopes (Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas,

UFMG). Durante os experimentos, os animais foram mantidos em caixas

individuais e tiveram livre acesso a água e ração.

Os animais (n=6) foram anestesiados com uma mistura de quetamina (57

mg/Kg) e xilazina (8,6 mg/Kg) administrada por via intraperitonial. O dorso dos

animais foi limpo com água destilada e foi aplicado 100 µL de formulação

lipossomal (lipossomas ultradeformáveis ou convencionais) contendo calceína ou

de solução de calceína livre (na presença ou na ausência de colato e etanol),

sendo a concentração de calceína de 10 ou 30 mM, em área delimitada de 2,25

cm2, garantindo desta forma, homogeneidade na aplicação. A Figura 12 ilustra o

procedimento para avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína.

Após intervalos de tempo pré-determinados, 15 µL de sangue foram

retirados da cauda dos animais com ponteira heparinizada e adicionados a 3 mL

de solução de NaCl 150 mM. Após homogeneização, a solução era centrifugada

por 5 minutos a 975 xg (3000 rpm) a 4ºC para sedimentação das hemácias. O

sobrenadante era separado e a medida de sua fluorescência foi realizada pela

leitura direta (λexcitação = 490 nm, λemissão = 515 nm, fendas de 5 nm). Em

cada ensaio foi feita uma curva de calibração relacionando a intensidade de

fluorescência com a concentração de calceína no plasma dos animais.

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Figura 12: Representação esquemática do procediment o para avaliação in vivo da absorção

transdérmica da calceína.

Para determinar a fluorescência residual proveniente da matriz e verificar a

ausência da interferência do procedimento de coleta de sangue na fluorescência

das amostras, foi feito um grupo controle no qual foi aplicada lipossomas vazios,

ou seja, formulação lipossomal preparada sem calceína.

Após a última coleta de sangue (48 horas), os animais foram sacrificados

por deslocamento cervical. O dorso destes animais, no local da aplicação das

formulações, foi limpo usando 4 cotonetes molhados com Tampão HEPES 20

mM/NaCl 0,15 M pH7,4 que foram colocados em 2 mL de Tampão HEPES 20

mM/NaCl 0,15 M pH7,4. As amostras foram diluídas 1000 vezes em tampão e foi

feita leitura da fluorescência (λexcitação=490 nm, λemissão=515 nm, fendas=5

nm). Em cada ensaio foi feita uma curva de calibração, relacionando a intensidade

de fluorescência com a concentração de calceína, que foi usada para quantificar a

calceína que ficou aderida na superfície da pele. Pela relação entre o número de

moles total de calceína aplicados e o número de moles presentes nos cotonetes,

pôde-se calcular a porcentagem de calceína que ficou aderida na superfície da

pele.

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Após a limpeza da superfície, a pele destes animais foi retirada e, através

de um punch de 3 mm, foi feita uma punção de um fragmento de pele no local de

aplicação das formulações, conforme descrito por Li e col, 1996. Cada fragmento

foi colocado em 2,5mL de tampão HEPES 20 mM / NaCl 0,15 M pH7,4, e a

suspensão foi sonicada por 3 minutos e, em seguida, centrifugada por 14000 xg /

30 minutos. Após este procedimento, foi feita leitura de fluorescência do

sobrenadante (λexcitação=490 nm, λemissão=515 nm, fendas=5 nm) e através da

curva de calibração, foi calculada a quantidade de calceína que ficou retida no

fragmento de derme dos animais. Esta quantidade refere-se à calceína presente

na área retirada pelo punch, equivalente a 0,071 cm2 , e, por uma relação direta,

pôde-se então calcular a quantidade de calceína retida na derme no local de

aplicação, cuja área equivale a 2,25 cm2 . Pela relação entre o número de moles

total de calceína aplicados e o número de moles encontrados na derme, pôde-se

calcular a porcentagem de calceína que ficou retida na derme dos animais. Neste

experimento, foi retirado um fragmento de pele de cada animal, em um local onde

não foi aplicada formulação, para verificar a ausência de interferência dos

possíveis componentes da pele na intensidade de fluorescência da calceína,

servindo como controle do experimento.

2.5. Avaliação da permeação cutânea in vitro da cal ceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis

Os estudos in vitro para avaliação da permeação cutânea da calceína foram

realizados em colaboração com o Prof. Lucas Antônio Miranda Ferreira

(Departamento Produtos Farmacêuticos, Faculdade de Farmácia, UFMG).

Foram utilizadas células de difusão de Franz, que são constituídas por um

compartimento superior e um inferior com volume aproximado de 6 mL. A área de

superfície da membrana foi 1,76 cm2 (Figura 13). A membrana utilizada foi pele do

dorso de camundongos sem pêlo (Hair Less, linhagem HSR/J), sendo os

experimentos realizados na presença do estrato córneo, representando uma pele

intacta.

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Para obtenção das peles, os camundongos sem pêlo (machos de 8

semanas, pesando de 25 a 30 g), foram sacrificados por deslocamento cervical,

seu dorso foi limpo com água destilada e a pele foi retirada. Após remoção do

tecido adiposo subcutâneo com o auxílio de bisturi e inspeção visual, a pele foi

colocada nas células de Franz.

Figura 13: Representação esquemática de uma Célula de Difusão de Franz.

O compartimento receptor foi preenchido com o tampão HEPES 5 mM /

NaCl 0,15 M pH 7,4, ficando em contato com a pele pelo período de 1 hora para

promover equilíbrio do sistema. Após este período, o tampão foi retirado e o

compartimento receptor foi novamente preenchido com tampão. Foram aplicados

100 µL de formulação de calceína (suspensão de lipossomas ultradeformáveis

contendo calceína, suspensão de lipossomas convencionais contendo calceína ou

solução de calceína livre preparada na presença e na ausência de colato e etanol)

sob a superfície da pele de camundongo sem pêlo. A concentração de calceína

presente nas formulações foi 10 mM. As formulações foram espalhadas com

bastão de vidro até secagem, garantindo desta forma homogeneidade da

distribuição das formulações sobre a pele.

Durante o procedimento, o fluido receptor foi mantido a 37,0 ± 0,5oC e

agitado continuamente com uma barra magnética. O compartimento doador foi

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mantido aberto, permitindo a evaporação da fase aquosa volátil das formulações

(condição não oclusiva). Em diferentes intervalos de tempo (2, 4, 6 e 8 horas)

após a aplicação da formulação, o fluido receptor foi coletado, o compartimento

receptor foi preenchido com tampão novo e a concentração de calceína permeada

pela pele foi determinada através da leitura direta da intensidade de fluorescência

do fluido receptor coletado, em comprimentos de onda de excitação e de emissão

de 490 nm e 515 nm, respectivamente, com fendas de 5 nm.

Em todos os experimentos, uma alíquota das formulações aplicadas na pele

de camundongos, foi diluída na concentração final de 0,01 µM e a intensidade de

fluorescência foi registrada. Esta medida serviu como padrão nos experimentos

realizados, relacionando a intensidade de fluorescência com esta concentração de

calceína. Foi verificada a linearidade da relação entre a fluorescência e a

concentração de calceína na faixa de trabalho.

Foram utilizados ainda os fluídos receptores obtidos de uma célula de

difusão que não recebeu formulação para verificar a ausência de interferência dos

possíveis componentes da pele na intensidade de fluorescência da calceína e na

eficiência de apagamento dessa fluorescência pelo íon cobalto.

A determinação da taxa de calceína permeada pela pele foi feita em duas

etapas. Inicialmente, foi dosada a quantidade de calceína efetivamente aplicada

nas peles de camundongos, isto é, a calceína presente na epiderme após

aplicação das formulações e homogeneização com os cotonetes de vidro. Estes,

após espalhamento das formulações, foram colocados em 5 mL de tampão

HEPES 20 mM / NaCl 150 mM pH7,4, e após leitura de sua fluorescência,

utilizando a leitura da fluorescência da amostra padrão de calceína, pôde-se

determinar as concentrações e os números de moles de calceína retidos nos

cotonetes de vidro. Pela diferença entre o número de moles total de calceína

aplicados e o número de moles retidos nos cotonetes, pôde-se calcular o número

de moles de calceína aplicadas efetivamente na pele.

Depois, pela medida de fluorescência do fluído receptor, foi determinada a

concentração de calceína a partir da relação da leitura da fluorescência da

amostra padrão de calceína correspondente a 0,01 µM de calceína. Pelo

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conhecimento do volume do líquido presente no compartimento receptor e da

concentração de calceína, o número de moles permeados na pele pôde ser

calculado. Através da relação entre o número de moles de calceína efetivamente

aplicados na pele e presentes no fluido receptor, a taxa de calceína permeada

pela pele, nos diferentes intervalos de tempo, pôde ser determinada.

2.6. Aspectos éticos no manuseio dos animais

Os procedimentos envolvendo uso e manuseio dos animais foram

aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal-CETEA da

Universidade Federal de Minas Gerais, protocolo número 044/07.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização físico-química dos lipossomas u ltradeformáveis

3.1.1. Determinação da distribuição de tamanho das vesículas

O diâmetro hidrodinâmico médio das vesículas ultradeformáveis compostas

de fosfatidilcolina de soja e de colato de sódio, na relação molar 1:0,25, foi 90,1 ±

2,8 nm (n=11), com índice de polidispersidade de 0,073 ± 0,009 (n=11), indicando

homogeneidade do tamanho da população de vesículas. Índices de

polidispersidade menores que 0,2 indicam distribuição monodispersa de

partículas, isto é, a amostra é constituída por uma única população de vesículas.

O diâmetro hidrodinâmico médio das vesículas compostas de fosfatidilcolina

de ovo e de colato de sódio, na relação molar 1:0,25, foi 99,9 ± 2,7 nm, com índice

de polidispersidade de 0,064 ± 0,008 (n=7), mostrando também a homogeneidade

da distribuição de tamanho das vesículas.

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3.1.2. Avaliação da interferência dos componentes dos lipossomas na

fluorescência da calceína

A avaliação da interferência dos componentes das vesículas

ultradeformáveis na intensidade de fluorescência da calceína para os ensaios

físico-químicos e de absorção percutânea foi realizada através de leituras na

ausência (tampão HEPES 20 mM / NaCl 0,15 M pH7,4) e na presença dos

componentes (colato e etanol, lipossomas ultradeformáveis e lipossomas

convencionais). As concentrações de calceína adicionadas nestes meios foram

0,1 mM ou 10 mM, simulando os ensaios físico-químicos e de absorção

percutânea, respectivamente.

Os valores de fluorescência foram semelhantes em todos os meios

estudados, mostrando não haver interferência de nenhum componente da

formulação das vesículas ultradeformáveis na leitura de fluorescência, nas

condições usadas nos experimentos.

3.1.3. Eficiência de encapsulação (%) da calceína nos lipossomas

A porcentagem de encapsulação de calceína nas vesículas

ultradeformáveis determinada pelo método da adição de Co2+ foi 18,0 ± 2,4%

(n=5) e a determinada pelo método de filtração em gel Sephadex G-50 foi cerca

de 14,4 ± 3,1% (n=4). Portanto, os valores encontrados pelos dois métodos foram

parecidos, mostrando que ambos podem ser usados para determinação da

eficiência de encapsulação da calceína em lipossomas. Porém, o método de

adição de Co2+ apresenta as vantagens de ser mais simples e de não sofrer

influência de uma possível diluição da amostra.

A Tabela 4 mostra os valores da eficiência de encapsulação da calceína em

suspensões de vesículas, determinados pelo método de adição do Co2+, quando

preparadas em diferentes concentrações.

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Tabela 4: Eficiência de encapsulação da calceína em suspensões de lipossomas

ultradeformáveis preparados em diferentes concentra ções.

Formulação Concentração de

Fosfolipídio (p/v)

% de calceína encapsulada

± EP (n=3-5)

EPC ultradeformáveis (original) 8,8% 17,2 ± 1,5

SPC ultradeformáveis (original) 8,8% 18,0 ± 2,4

SPC ultradeformáveis concentrado 2 vezes 17,6% 31,0 ± 9,9

SPC ultradeformáveis concentrado 3 vezes* 26,4% 38,4 ± 7,3

SPC convencional (sem colato) 8,8% 7,1 ± 1,5

*Obtida por evaporação da formulação original sob vácuo em rotaevaporador.

Os resultados mostram que não houve diferença entre os valores da

eficiência de encapsulação da calceína nos lipossomas ultradeformáveis

preparados com SPC e EPC. Por outro lado, os lipossomas convencionais,

preparados na ausência de colato de sódio, tiveram valores menores da eficiência

de encapsulação de calceína, quando comparados aos lipossomas

ultradeformáveis.

Os valores encontrados mostram ainda que a eficiência de encapsulação

da calceína em lipossomas ultradeformáveis depende da concentração da

suspensão e que ocorre um aumento dessa taxa com o aumento da concentração

dos componentes da formulação.

Nossos resultados indicam também que ocorre um aumento da eficiência

de encapsulação da calceína durante o processo de evaporação da formulação

original. Isto sugere que a permeabilidade da membrana dos lipossomas

ultradeformáveis à calceína é alta, o que permitiria o re-equilíbrio da calceína entre

os meios extra e intra-vesiculares durante o processo de evaporação da

formulação. Esta situação simula o fenômeno de evaporação da formulação que

ocorre quando esta é aplicada topicamente em condição não oclusiva e sugere,

portanto, que a secagem da formulação na superfície da pele é acompanhada de

um aumento da encapsulação da calceína.

Esta observação está de acordo com um estudo de Cevc e col., 2008, que

relatam que ocorre um aumento da taxa de associação do cetoprofeno nas

vesículas ultradeformáveis com o aumento da concentração da suspensão. Como

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o cetoprofeno é um fármaco lipossolúvel que interage com a membrana dos

lipossomas, nosso estudo estende essa propriedade das formulações de vesículas

ultradeformáveis aos fármacos hidrofílicos de massa molar intermediária.

3.1.4. Avaliação da permeabilidade à calceína das membranas dos

lipossomas ultradeformáveis

A permeabilidade das membranas ultradeformáveis à calceína foi avaliada

pela determinação da cinética de incorporação da calceína quando adicionada na

concentração de 0,1 mM a uma suspensão de lipossomas vazios, conforme

descrito em Materiais e Métodos 2.2.4.

0 20 40 60 80 1000

5

10

15

20

Colato/SPC 0,25 com etanol

Colato/SPC 0,125 com etanol

Colato/EPC 0,25 sem etanol

Colato/EPC 0,25 com etanol

Tempo (min)

% d

e in

corp

oraç

ão d

e ca

lceí

na

Figura 14: Cinética de incorporação de calceína (0, 1mM), a 25ºC, em lipossomas

ultradeformáveis de diferentes composições: colato de sódio/SPC 0,25 mol/mol, colato de

sódio/SPC 0,125 mol/mol, colato de sódio/EPC 0,25 m ol/mol e colato de sódio/EPC 0,25

mol/mol na ausência de etanol. A concentração final de fosfolipídio foi 8,8% (p/v).

Como ilustrado na Figura 14, no caso das vesículas ultradeformáveis

compostas de SPC ou de EPC contendo etanol, a incorporação da calceína foi tão

rápida que não foi possível acompanhar a cinética. Por outro lado, no caso dos

lipossomas ultradeformáveis preparados com metade da quantidade de colato em

relação à formulação original (razão colato de sódio/SPC igual a 0,125 mol/mol) a

incorporação foi tão lenta que não foi possível observar um aumento significativo

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de incorporação no intervalo de tempo estudado (0-90 minutos). No primeiro caso,

o coeficiente de permeabilidade foi considerado como ‘alto’ e no segundo caso,

este foi considerado como ‘baixo’.

Quando os lipossomas ultradeformáveis foram compostos de EPC

preparados na ausência de etanol, foi possível observar uma cinética de

incorporação de calceína no intervalo de tempo estudado. A partir destes dados e

usando a Equação 9 (item 2.2.4.), foi possível determinar um valor de coeficiente

de permeabilidade da calceína.

A Tabela 5 resume os resultados de avaliação da permeabilidade à

calceína de membranas preparadas com diferentes proporções fosfolipídio/colato,

diferentes concentrações de lipídios e diferentes fosfolipídios.

Tabela 5: Permeabilidade à calceina, a 25°C, de di ferentes membranas: influência da razão

fosfolipídio/colato, da concentração total da suspe nsão e do tipo de fosfolipídio.

Tipo de

Fosfolipídio

Concentração de

Fosfolipídio (p/v)

Colato de sódio

(p/v)

Colato/fosfolipídio

(mol/mol)

Coeficiente de

permeabilidade*

(cm/s)

8,8% (com etanol) 1,2% 0,25 Alto

8,8% (com etanol) 0,9% 0,19 Alto

8,8% (com etanol) 0,6% 0,125 Baixo

8,8% (com etanol) 0,3% 0,0625 Baixo

4,4% (com etanol) 0,6% 0,25 Baixo

17,6% (com etanol) 2,4% 0,25 Alto

SPC

17,6% (com etanol) 1,2% 0,125 Baixo

8,8% (com etanol) 1,2% 0,25 Alto

8,8% (sem etanol) 1,2% 0,25 2,2 X 10-10 EPC

17,6% (com etanol) 2,4% 0,25 Alto

*’Alto’ significa que o equilíbrio de incorporação da calceína nas vesículas foi atingido

rapidamente (entre 0 e 1 minuto após adição de calc eína); ‘Baixa’ significa que não houve

incorporação significativa de calceína nas vesícula s deformáveis no intervalo de tempo

estudado (0 a 90 minutos). O coeficiente de permeab ilidade (P) foi determinado pela

equação: ln[1-F*(V e/Vi)]=-(3P/r)t, onde F é a fração de calceína encapsul ada no tempo t, V e é

o volume aquoso externo da suspensão de vesículas, Vi é o volume total interno da

suspensão de vesículas e r é o raio médio das vesíc ulas.

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Os resultados mostram que a diminuição da concentração do colato na

formulação das vesículas, isto é, a redução da relação colato/fosfolipídio,

promoveu uma redução na permeabilidade destas vesículas, mostrando o papel

deste surfactante na elevada permeabilidade dessas vesículas.

Quando foi preparada uma suspensão de vesículas com concentrações de

SPC e colato 2 vezes menor, isto é, com concentração total reduzida, mantendo-

se a relação de colato/fosfolipídio, ocorreu uma diminuição da permeabilidade à

calceína. A explicação mais provável para este dado é que, quanto maior a

diluição da suspensão, menor a taxa de colato associado à membrana das

vesículas e menor o efeito desse tensoativo na permeabilidade da membrana.

Quando foi preparada uma suspensão de vesículas com concentrações de

fosfolipídios e colato 2 vezes maior, isto é, com concentração total aumentada,

mantendo-se a relação de colato/fosfolipídio, a permeabilidade à calceína

manteve-se alto.

As vesículas preparadas com EPC na ausência do etanol mostraram uma

permeabilidade menor que as vesículas preparadas com etanol (formulação

original), sendo possível determinar um coeficiente de permeabilidade da calceína

(2,2 X 10-10 cm/s). Este resultado indica que o etanol, mesmo em pequena

proporção (9% p/v), contribui para a elevada permeabilidade das vesículas

ultradeformáveis.

O conjunto desses dados indica que a elevada permeabilidade à calceína

das membranas ultradeformáveis é o resultado do efeito do etanol presente na

formulação e da quantidade de colato associado à membrana das vesículas, que

depende da diluição e da razão entre colato e fosfolipídio.

A importância deste estudo reside no fato que relata-se, pela primeira vez, a

elevada permeabilidade da membrana das vesículas ultradeformáveis, assim

como o papel de ambos componentes: colato de sódio e etanol. Esta alta

permeabilidade da membrana levanta dúvidas sobre a capacidade das vesículas

ultradeformáveis atuarem como carreador de fármacos de massa molar

intermediária, como proposto por Cevc e col. (1998, 2001).

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Lipossomas Ultradeformáveis 72

Vale ressaltar que esses resultados não estão de acordo com aqueles

obtidos por Simões e col. 2004, que sugerem que as membranas das vesículas

ultradeformáveis formadas de SPC e colato seriam impermeáveis à calceína. Para

chegar a esta conclusão, os autores deste trabalho estudaram a taxa de retenção

da calceína em lipossomas de SPC, após a adição de colato de sódio em

diferentes quantidades. Neste estudo, a liberação da calceína foi observada a

partir de uma relação molar colato/SPC igual a 7 (com concentração de SPC igual

a 138mM), que é bem maior que a relação colato/SPC de 0,25 na suspensão de

vesículas ultradeformáveis.

A diferença entre nossos resultados e aqueles encontrados por Simões e

col. 2004, pode ser explicado pelo fato desses autores não terem usado etanol no

ensaio de permeação e da metodologia utilizada ser diferente. O sistema utilizado

por esses autores, diferentemente daquele usado em nosso estudo, não consiste

de membrana com os componentes em equilíbrio.

3.1.5. Determinação do grau de deformabilidade dos lipossomas

ultradeformáveis

O grau de deformabilidade das vesículas ultradeformáveis foi determinado

baseado no fluxo da suspensão de lipossomas permeada através de um

sanduíche de membranas de policarbonato de poros de diâmetro de 200 nm, 100

nm e 30 nm, sob pressão constante (400 psi) e temperatura controlada (37ºC). A

Figura 15, Gráfico A, compara os valores do grau de deformabilidade dos

lipossomas preparados com SPC e àqueles dos lipossomas preparados com EPC.

Os resultados indicam que estes dois lipídios associados ao surfactante colato de

sódio produzem membranas com a mesma capacidade de deformação (P>0,05,

Teste t Student). O Gráfico B mostra os valores médios de grau de

deformabilidade dos lipossomas contendo fosfatidilcolina e colato de sódio e dos

lipossomas contendo apenas fosfatidilcolina (sem colato de sódio). Os dados

confirmam a importância da presença do surfactante para conferir deformabilidade

às vesículas (P<0,001, Teste t Student).

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Lipossomas Ultradeformáveis 73

LU-SPC com colato LU-EPC com colato0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

grau

de

defo

rmab

ilida

de

(A)

LU-SPC com colato LU-SPC sem colato0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

***

grau

de

defo

rmab

ilida

de

(B)

Figura 15: Deformabilidade de lipossomas de diferen tes composições lipídicas. Gráfico A:

lipossomas ultradeformáveis contendo colato de sódi o com fosfatidilcolina de soja (LU-

SPC, n=12) ou de ovo (LU-EPC, n=18). Gráfico B: lip ossomas de fosfatidilcolina de soja com

(n=3) e sem colato (n=3). A deformabilidade foi det erminada a partir do fluxo de permeação

de suspensão de vesículas através de um sanduíche d e membranas de poros de diâmetro

de 200 nm, 100 nm e 30 nm, a 37°C. Os dados são mos trados como as médias ± erro padrão.

***p<0,001 para comparação do grau de deformabilida de médio com e sem colato (Teste t de

Student).

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Lipossomas Ultradeformáveis 74

3.2. Validação do método de dosagem por fluorimetri a da calceína em

plasma de animais

Os resultados abaixo referem-se aos parâmetros avaliados para validar o

método de dosagem da calceína no plasma de animais.

3.2.1. Linearidade

A Figura 16 mostra a relação entre a intensidade de fluorescência e a

concentração de calceína no plasma de animais.

0.00 0.05 0.10 0.15 0.200

1

2

3

4

5

concentração de calceina ( µµµµM)

Fluo

resc

ênci

a (u

.a.)

Figura 16: Relação entre a intensidade de fluorescê ncia e a concentração de calceína (µM)

em plasma de animais. Calceína foi acrescentada no plasma de animais em diferentes

concentrações. Após 1 hora de incubação a 37ºC, as amostras foram diluídas em solução de

NaCl 150mM e a fluorescência foi medida no espectro fluorímetro ( λλλλexc=490nm, λλλλem-515nm,

fendas de 5nm). Os pontos representam a média de 7 medidas independentes.

O coeficiente de regressão linear calculado foi de 0,998, e o critério mínimo

aceitável, segundo a ANVISA, é de 0,98. Como o valor obtido foi maior que o valor

aceitável, os resultados mostram que o método é linear para as concentrações de

calceína variando entre 0,022 µM e 0,182 µM, sendo esta considerada o intervalo

de trabalho nas dosagens de calceína no plasma de animais.

A equação da reta encontrada para determinar as concentrações de

calceína na faixa estudada é:

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Lipossomas Ultradeformáveis 75

1937,20

1289,0)(.

−= ciaFluorescênMcalceínaConc µ

3.2.2. Precisão

Os valores das médias, dos desvios padrões e dos coeficientes de variação

(CV) para as leituras de fluorescência nas diferentes concentrações de calceína

em plasma de animais são mostradas na Tabela 6.

Tabela 6: Dados relativos à precisão do método de d osagem da calceína no plasma de

animais

Concentração de

calceína no plasma

Média da intensidade

de Fluorescência Desvio padrão CV (%)

0,022 µM 0,608 0,174 28,6

0,044 µM 1,022 0,144 14,1

0,065 µM 1,386 0,138 9,9

0,087 µM 1,887 0,205 10,9

0,131 µM 2,642 0,248 9,4

0,182 µM 3,912 0,226 5,8

Analisando os resultados podemos considerar que o método é preciso para

determinação da calceína no plasma de animais, nas concentrações de 0,044 a

0,182 µM, pois os valores do CV, nesta faixa de concentração, foram menores que

15%, critério mínimo de aceitação pela ANVISA.

3.2.3. Limites de Detecção e Quantificação

A média das leituras de fluorescência das amostras diluídas de plasma sem

calceína foi 0,1660 e o desvio padrão foi 0,0959 para 10 amostras independentes.

Desta forma, utilizando as equações descritas no item 2.3.3., o limite de detecção

foi 0,4535, que corresponde a uma concentração de 0,0161 µM de calceína no

plasma de animais. O limite de quantificação foi de 1,1245, correspondendo à

concentração de calceína de 0,0493 µM.

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Lipossomas Ultradeformáveis 76

Os resultados mostraram que o método é linear e preciso para a dosagem

de calceína no plasma de camundongos na faixa de concentração de 0,044 µM a

0,182 µM, de acordo com as normas estabelecidas pela ANVISA e pelo

INMETRO.

3.3. Avaliação in vivo da absorção transdérmica da calceína a partir de

lipossomas ultradeformáveis

Visando avaliar a capacidade dos lipossomas ultradeformáveis promoverem

a absorção transdérmica de calceína para a circulação sanguínea, estudos in vivo

foram realizados usando camundongos sem pêlo. Após aplicação tópica de

formulação, a farmacocinética plasmática de calceína foi determinada pela medida

de fluorescência do plasma de acordo com o método validado.

Em um primeiro ensaio, comparamos os valores de fluorescência dos

plasmas diluídos em diferentes tempos (1, 2, 4, 7 e 24 horas) após aplicação

tópica de 100 µL de suspensão de lipossomas ultradeformáveis contendo calceína

10 mM, de 100 µL de solução de calceína 10 mM na presença de colato e etanol

(nas mesmas concentrações que nos lipossomas ultradeformáveis) ou de 100 µL

de suspensão de lipossomas ultradeformáveis vazios (sem calceína), usada como

controle deste experimento. A Figura 17 mostra os valores de fluorescência

(gráfico A) e a concentração de calceína plasmática (gráfico B) em função do

tempo.

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Lipossomas Ultradeformáveis 77

0 2 4 60

1

2

3

4

5

6

8 16 24

Lipossomas vazios

Calceína livre com colato e etanol

Calecína em Lipossomas Ultradeformáveis

*** ***

##

Tempo (horas)

Fluo

resc

ênci

a (u

.a.)

(A)

0 2 4 60.0

0.1

0.2

0.3

8 16 24

Lipossomas vazios

Calceína livre com colato e etanol

Calceína em Lipossomas Ultradeformáveis*** ***

# #

Tempo (horas)

Con

cent

raçã

o de

cal

ceín

a (

µµ µµ M)

(B)

Figura 17: Absorção transdérmica de calceína para a circulação sistêmica quando aplicada

topicamente em camundongos sem pêlo em diferentes f ormas: 100 µL de solução de

calceína 10 mM, seja com colato e etanol ou na pres ença de vesículas ultradeformáveis

constituídas de SPC. Um grupo recebeu lipossomas ul tradeformáveis sem calceína

(Lipossomas vazios) como controle do experimento. O gráfico A mostra a fluorescência da

calceína no plasma de animais ( λλλλexc=490 nm, λλλλem=515 nm, fendas=5 nm) e o gráfico B

mostra a concentração plasmática de calceína permea da (µM) em função do tempo.

***P<0,001 para comparação nos tempos de 1 e 2 hs entre o grup o calceína livre com

colato/etanol e os outros grupos (TWO WAY ANOVA seg uido de Bonferroni, n=6). # P<0,05

para comparação dos tempos 1 e 2 hs com o tempo zer o para o grupo calceína livre com

colato/etanol (ONE WAY ANOVA seguido de Dunnet, n=6 ). Os dados são mostrados como

as médias ± erro padrão.

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Lipossomas Ultradeformáveis 78

Os resultados mostram um aumento significativo da fluorescência da

calceína no plasma dos animais nos tempos 1 e 2 horas, em relação ao tempo

zero, no caso do grupo em que foi aplicado calceína livre com colato e etanol. Por

outro lado, não foi encontrada variação significativa das fluorescências no grupo

que recebeu a formulação de lipossomas ultradeformáveis. Os resultados

mostram também que as concentrações plasmáticas de calceína nos tempos de 1

e 2 horas foram significativamente mais elevadas no grupo que recebeu a calceína

livre com colato e etanol do que no grupo que recebeu a formulação de calceína

com lipossomas ultradeformáveis. Podemos concluir que os lipossomas

ultradeformáveis reduziram a absorção transdérmica da calceína para a circulação

em comparação com o sistema colato/etanol.

Em um segundo experimento, comparamos as taxas de absorção

transdérmica da calceína a partir de lipossomas ultradeformáveis, constituídos de

SPC e EPC, quando a calceína foi aplicada na concentração inicial de 10 mM. A

Figura 18 mostra que os valores de fluorescência, em ambos os grupos, ficaram

abaixo do limite de detecção do método. Além disso, não foram observadas

diferenças significativas entre os valores obtidos com as duas formulações

(P>0,05, Two Way ANOVA).

0 2 4 60.0

0.1

0.2

0.3

0.4

8 16 24

Calceína em lipossomas ultradeformáveis preparados com SPC

Calceína em lipossomas ultradeformáveispreparados com EPC

Tempo (horas)

Flu

ores

cênc

ia (

u.a.

)

Figura 18: Absorção transdérmica de calceína para a circulação sistêmica quando aplicada

topicamente em camundongos sem pêlo a partir de lip ossomas ultradeformáveis

constituídos de SPC ou EPC. A concentração inicial de calceína nas formulações foi de 10

mM. Os dados são mostrados como as médias ± erro pa drão (n=3).

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Lipossomas Ultradeformáveis 79

Como alguns estudos na literatura relatam que o colato de sódio e o etanol

podem atuar como promotores de absorção de fármacos através da pele (Borg,

2000; Berner e Liu, 1995), procuramos verificar o efeito “promotor de absorção” do

sistema colato/etanol e avaliar se a adição de fosfolipídios a este sistema, levando

à formação de vesículas ultradeformáveis, inibia apenas a ação promotora deste

sistema ou era capaz de reduzir efetivamente a absorção de calceína para a

circulação.

Portanto, em um terceiro estudo, comparamos os níveis de absorção

transdérmica de calceína a partir de uma solução aquosa com aqueles obtidos a

partir do sistema micelar colato/etanol e dos sistemas vesiculares lipossomas

ultradeformáveis e lipossomas convencionais constituídos de SPC. Nesses

experimentos, a concentração inicial de calceína aplicada foi de 30 mM. A Figura

19 mostra os valores de concentração plasmática de calceína, em diferentes

intervalos de tempo, após aplicação tópica dessas formulações.

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Lipossomas Ultradeformáveis 80

0 2 4 6 80.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Calceína livre com colato e etanol

Calceína livre em tampão

Tempo (horas)

Con

cent

raçã

o de

cal

ceín

a (

µµ µµ M)

(A)

0 2 4 6 80.00

0.05

0.10

0.15Calceína livre em tampão

Calceína em lipossomas ultradeformáveis

Calceína em lipossomas convencionais

*

*

Tempo (horas)

Con

cent

raçã

o de

cal

ceín

a (

µµ µµ M)

(B)

Figura 19: Farmacocinéticas plasmáticas de calceína quando aplicada topicamente em

camundongos sem pêlo a partir de diferentes formula ções: calceína livre em tampão HEPES

20 mM/NaCl 0,15 M pH7,4; calceína livre em tampão H EPES na presença de colato e etanol;

calceína com lipossomas ultradeformáveis (SPC); cal ceína com lipossomas convencionais

(EPC). A concentração inicial de calceína nas formu lações foi de 30 mM. * P<0,05 para

comparação nos tempos de 2 e 4 horas entre o grupo Calceína livre em tampão e os outros

grupos (TWO WAY ANOVA seguido de Bonferroni). Os da dos são mostrados como as

médias ± erro padrão (n=4 a 7).

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Lipossomas Ultradeformáveis 81

Todas as formulações promoveram um pico plasmático de calceína no

tempo de 2 horas. Como mostrado no gráfico A (Figura 19), as concentrações

plasmáticas foram mais elevadas para a calceína aplicada na presença do colato

e etanol do que para a calceína aplicada na sua ausência. Entretanto, a análise

estatística desses dados mostra não haver diferença significativa entre os dois

grupos (P>0,05, Two Way ANOVA).

Como mostrado no gráfico B (Figura 19), a calceína aplicada na forma livre

promoveu concentrações plasmáticas de calceína significativamente mais

elevadas nos tempos de 2 e 4 horas, quando comparada à calceína aplicada com

os lipossomas ultradeformáveis e os lipossomas convencionais. Os resultados

mostram também que não houve diferença significativa entre os grupos que

receberam lipossomas ultradeformáveis e lipossomas convencionais.

Portanto, o presente estudo demonstra que tanto os lipossomas

convencionais quanto os lipossomas ultradeformáveis reduzem a taxa de

absorção transdérmica de calceína para a circulação sanguínea.

O resultado obtido com os lipossomas convencionais está de acordo com o

relato prévio da redução da taxa de absorção transdérmica de calceína a partir

deste tipo de lipossomas (Li e col, 1996). Entretanto, no caso dos lipossomas

ultradeformáveis, o resultado obtido pode ser considerado como surpreendente,

especialmente se considerarmos os trabalhos de Cevc e col. (1995, 1998) com a

insulina.

No entanto, vale mencionar os estudos prévios com formulações de

cetoprofeno e diclofenaco em lipossomas ultradeformáveis, que mostram um

acúmulo preferencial do fármaco nos tecidos subcutâneo e muscular próximos ao

local de aplicação (Cevc e col., 2001, 2008). Foi proposto por esses autores que a

absorção transdérmica desses fármacos para a circulação, a partir das vesículas

ultradeformáveis, seria limitada, não pela passagem pela pele, mas sim pela

penetração reduzida dessas vesículas nos vasos sanguíneos, por sua capacidade

de atravessarem intactas na pele e de atuarem como sistemas de liberação

sustentada de fármaco. Para verificar se o modelo proposto por esses autores

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Lipossomas Ultradeformáveis 82

aplica-se ao caso da calceína, torna-se necessário estudar o efeito das vesículas

ultradeformáveis na penetração e permeação cutânea de calceína.

No experimento cujos resultados estão apresentados na Figura 19, os

animais foram sacrificados 48 horas após a aplicação e as formulações

depositadas, mas não absorvidas na pele, foram retiradas com cotonetes

impregnados com solução salina para quantificação da calceína por fluorimetria.

Após lavagem da pele no local de aplicação das formulações, foi também

realizada uma punção de 3 mm neste local para quantificar a calceína retida na

derme.

A Figura 20 mostra as porcentagens que ficaram retidas na derme (gráfico

A) e as porcentagens da calceína que permaneceu aderida, sem ser absorvida, na

superfície do estrato córneo (gráfico B) dos camundongos.

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Lipossomas Ultradeformáveis 83

calce

ína e

m ta

mpão

calce

ína co

m colato

e e

tano

l

lipos

som

as ul

tr adef

ormáv

e is

lipos

s omas

conve

ncion

ais

0.00

0.05

0.10

0.15

% d

e m

oles

de

calc

eína

inco

rpor

ada

na d

erm

e no

loca

l de

aplic

ação

(A)

calc

eína

em ta

mpão

calceín

a co

m co

lato

e et

anol

liposs

omas

ultr

adef

ormáv

eis

lipos

som

as co

nven

cionais

0

5

10

15

20

25

*

% d

e m

oles

de

calc

eína

depo

sita

da n

a su

perf

ície

da

pele

(B)

Figura 20: Quantidades de calceína (% em relação à quantidade aplicada) incorporada na derme

(gráfico A) e depositada na superfície do estrato c órneo (gráfico B) em camundongos sem pêlo, 48

horas após a aplicação tópica de diferentes formula ções de calceína na concentração de 30 mM:

soluções de calceína em tampão na presença ou ausên cia de colato e etanol; e suspensões de

lipossomas ultradeformáveis ou convencionais conten do calceína. Os dados referem-se à média ±

erro padrão das porcentagens de calceína. ( λλλλexc=490 nm, λλλλem=515 nm, fendas=5 nm). * P<0,05 para

comparação entre os lipossomas ultradeformáveis e a calceína livre em tampão com ou sem colato e

etanol (ONE WAY ANOVA, seguido de Bonferroni, n=4-8 ).

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Lipossomas Ultradeformáveis 84

Os resultados mostram que ocorreu uma maior deposição de calceína na

superfície da pele quando foi aplicada na forma encapsulada em lipossomas,

quando comparada à forma livre em tampão na ausência ou presença de colato e

etanol (P<0,05, ONE WAY ANOVA, seguido de Bonferroni), sendo que o nível de

calceína depositado foi aproximadamente 8 vezes menor.

Por outro lado, em relação à penetração de calceína nas camadas mais

profundas da pele, isto é, a quantidade que fica retida na derme dos

camundongos, não foi possível evidenciar diferenças significativas entre as

diferentes formulações.

Duas interpretações distintas podem ser propostas para explicar este

resultado. As maiores quantidades de calceína aderida na pele com as

formulações de lipossomas pode ser atribuída seja a uma menor absorção

cutânea de calceína ou a uma maior adesão da formulação na pele.

As baixas taxas de calceína permeada através da pele, tipicamente

inferiores a 3% após 8 horas, como mostraremos em seguida no estudo de

permeação cutânea in vitro a partir dessas formulações, sugerem que a absorção

cutânea de calceína altera de forma mínima a quantidade total de calceína

superficial. Portanto, acreditamos que a diferença na adesão das formulações seja

a explicação mais provável.

Esses dados sugerem também que os lipossomas ultradeformáveis e os

lipossomas convencionais reduzem a partição de calceína na pele quando

comparados à soluções com e sem colato/etanol, pois, apesar de que quantidades

equivalentes de calceína foram encontradas na derme, a quantidade de calceína

depositada na superfície da pele foi 8 vezes maior quando foi aplicada com os

lipossomas.

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Lipossomas Ultradeformáveis 85

3.4. Avaliação da permeação cutânea da calceína in vitro a partir dos

lipossomas ultradeformáveis

Visando avaliar se a redução da absorção transdérmica de calceína pelos

lipossomas ultradeformáveis se deve à redução da taxa de permeação pela pele

ou à retenção das vesículas em tecidos mais profundos, como sugerido por Cevc

e col. (2001), estudos de permeação cutânea in vitro foram realizados utilizando

Células de Difusão de Franz e pele de dorso de camundongos sem pêlo.

A Figura 21 mostra as quantidades de calceína permeada pela pele, em

porcentagens acumulada, com relação à calceína aplicada, nos tempos de 2, 4, 6

e 8 horas após a aplicação das seguintes formulações de calceína na

concentração inicial de 10 mM: soluções de calceína livre em tampão (com ou

sem colato/etanol) ou suspensões de lipossomas ultradeformáveis ou

convencionais contendo calceína.

0 2 4 6 80.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Calceína com colato e etanol

Calceína livre em tampão

Lipossomas ultradeformáveis

Lipossomas convencionais

*

#

Tempo (horas)

% a

cum

ulad

a de

cal

ceín

ape

rme

ada

pe

la p

ele

/ c

m2

Figura 21: Porcentagens acumuladas de calceína perm eada através da pele do dorso de

camundongos sem pêlo, no período de 2, 4, 6 e 8 hor as, em relação à calceína aplicada

inicialmente a partir de diferentes formulações: ca lceína em tampão com colato e etanol, calceína

livre em tampão, calceína na presença de lipossomas convencionais e calceína na presença de

lipossomas ultradeformáveis nos experimentos de Cél ulas de Franz. A concentração inicial de

calceína nas formulações foi 10 mM. Os dados são mo strados como as médias ± erro padrão.

*P<0,05 para comparação entre o grupo calceína em tam pão com colato/etanol com o grupo

calceína livre em tampão nos tempos de 4, 6 e 8 hor as. #P<0,05 para comparação do grupo

calceína livre em tampão com o grupo lipossomas ult radeformáveis nos tempos de 6 e 8 horas.

(TWO WAY ANOVA seguido de Bonferroni, n=4-7).

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Lipossomas Ultradeformáveis 86

No caso de todas as formulações, cinéticas bifásicas foram obtidas,

mostrando um fluxo elevado no período de 0 a 4 horas seguido de um fluxo

reduzido no período de 4 a 8 horas.

Os resultados indicam que a quantidade de calceína permeada foi maior

para a calceína livre aplicada na presença de colato e etanol, quando comparada

à calceína livre em tampão (P<0,05, Two way ANOVA seguido de Bonferroni) e à

calceína apresentada com lipossomas convencionais e ultradeformáveis (P<0,001

Two way ANOVA seguido de Bonferroni), nos tempos de 4, 6 e 8 horas.

Portanto, o presente estudo demonstra a ação da mistura colato/etanol

como promotor de absorção percutânea da calceína. Estes resultados estão de

acordo com os trabalhos de Borg, 2000 e Berner e Liu, 1995, que mostraram que

o colato e o etanol podem aumentar a permeação de fármacos através da pele. A

observação do aumento da permeação cutânea da calceína na presença de colato

e etanol é também consistente com o aumento da permeabilidade das membranas

de fosfatidilcolina na presença dos mesmos compostos. Os resultados indicam

ainda que o efeito da mistura como promotor colato/etanol de absorção foi inibido

pela presença de fosfolipídio.

Vale ressaltar que a permeação cutânea da calceína foi menor nos tempos

de 6 e 8 horas quando aplicada encapsulada em lipossomas ultradeformáveis do

que quando aplicada na forma livre em tampão (P<0,05, Two way ANOVA seguido

de Bonferroni). Por outro lado, não houve diferença entre as quantidades de

calceína permeada a partir dos lipossomas, ultradeformáveis e convencionais.

Portanto, de acordo com os nossos resultados, os lipossomas

ultradeformáveis reduzem a quantidade de calceína permeada pela pele,

sugerindo que a passagem desta molécula através da pele é controlada e limitada

pela formulação. Em outras palavras, a etapa limitante para a passagem pela pele

não seria a difusão através do estrato córneo.

Nesse contexto, podemos propor que os lipossomas ultradeformáveis

reduzem a absorção transdérmica de calceína para a circulação sanguínea

através da redução da taxa de permeação da calceína pela pele, sem que seja

necessário propor a retenção da calceína em tecidos mais profundos. A nossa

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Lipossomas Ultradeformáveis 87

interpretação é reforçada ainda pela observação de que o período de maior

intensidade do fluxo de permeação percutânea no estudo in vitro (0 a 4 horas)

corresponde ao período de maior concentração plasmática de calceína no estudo

in vivo.

Para confirmar que a permeação cutânea da calceína a partir dos sistemas

vesiculares é limitada pela difusão da calceína no veículo e não pela difusão

através do estrato córneo, determinamos os coeficientes de regressão linear

médios para as relações de % de calceína permeada em função de t ou de √(t).

Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 7 e as curvas de regressão

linear estão mostradas na Figura 22 para as diferentes formulações, como

ilustração. Lembramos que uma relação linear entre a % de calceína permeada e

o tempo suporta a hipótese de que a etapa limitante é a passagem da calceína

pela pele (modelo 1), enquanto que uma relação linear entre a % de calceína

permeada e a raiz quadrada do tempo sugere que a formulação limita o fluxo de

passagem da calceína pela pele (modelo 2).

Tabela 7: Valores médios ± DP dos coeficientes de r egressão linear para as relações de %

de calceína permeada in vitro em função de t (model o 1) ou em função de √(t) (modelo 2).

Calceína livre com

colato e etanol

Calceína livre

em tampão

Calceína em

vesículas

ultradeformáveis

Calceína em

lipossomas

convencionais

Modelo 1* 0,7719 ± 0,0967 0,7917 ± 0,0456 0,8997 ± 0,0745 0,9210 ± 0,0354

Modelo 2* 0,8440 ± 0,0766 0,8646 ± 0,0391 0,9457 ± 0,0538 0,9639 ± 0,0231

*P<0,01 para comparação entre o modelo 1 e o modelo 2 para todas as formulações (Teste t

pareado)

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Lipossomas Ultradeformáveis 88

0 2 4 6 8 100

1

2

3

4Calceína com colato e etanol

Calceína livre em tampão

t (h)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

0 1 2 30

1

2

3

4

√√√√ (t)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

0 2 4 6 8 100.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05Lipossomas ultradeformáveis

t (h)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

0 1 2 30.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

√√√√ (t)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

0 2 4 6 8 100.0

0.1

0.2

0.3Lipossomas convencionais

t (h)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

0 1 2 30.0

0.1

0.2

0.3

√√√√ (t)

% c

alce

ina

perm

eada

(acu

mul

ada)

(A) (B)

Figura 22: Curvas de regressão linear para as relaç ões de % de calceína permeada em

função de t (modelo 1, gráficos A) ou em função de √(t) (modelo 2, gráficos B) para os

grupos de calceína livre em tampão (na presença e a usência de colato e etanol) e calceína

encapsulada em lipossomas (deformáveis ou convencio nais) em experimentos de Células

de Franz.

Os dados de regressão linear indicam uma baixa concordância dos dados

experimentais com os dois modelos no caso das formulações de calceína livre na

ausência e presença de colato e etanol. Isto pode ser explicado pelo fato de

ocorrer uma precipitação do fármaco durante a secagem da formulação na

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Lipossomas Ultradeformáveis 89

superfície da pele, que foi observada tanto nos ensaios in vitro de Células de

Franz quanto nos ensaios in vivo com camundongos sem pêlo. No caso específico

da mistura colato/etanol, que atua como promotora de permeação cutânea, o

caráter transitório dessa ação poderia contribuir também para o desvio dos dados

experimentais com relação a esses modelos teóricos.

No caso das formulações de lipossomas ultradeformáveis e convencionais,

os valores de coeficiente de regressão linear indicam que há uma melhor

concordância dos dados com o modelo 2 de que com o modelo 1, reforçando a

nossa interpretação de que a permeação cutânea da calceína a partir dessas

formulações seria controlada pelo veículo e não pelo estrato córneo.

Vale ressaltar que nenhum dos dois modelos de permeação prevê a

possibilidade de interação do veículo com a pele. Nesse contexto, não podemos

descartar a possibilidade de que a redução do fluxo de difusão da calceína seja

decorrente da interação das vesículas com o estrato córneo, resultando na

redução da sua permeabilidade à calceína.

No caso dos lipossomas convencionais, espera-se que a secagem da

formulação na pele leve à agregação, coalescência e desestabilização das

vesículas (Schubert e col., 1993). O componente lipídico liberado poderia então

reduzir a permeabilidade do estrato córneo, como relatado em estudos prévios

(Dayana e col., 2000; El Maghraby e col., 2001).

3.5. Avaliação da porcentagem de encapsulação da ca lceína após

permeação pela pele

Para avaliar se a calceína permeada através da pele a partir da formulação

de lipossomas ultradeformáveis encontrava-se na forma livre ou encapsulada, foi

determinada a fração de calceína encapsulada no fluído receptor usando o

método de adição do íon cobalto, conforme descrito no item 2.2.3.. Estes ensaios

foram realizados para as formulações de calceína em lipossomas ultradeformáveis

e de calceína livre em colato e etanol (controle), com os líquidos receptores

colhidos nos tempos de 2 e 8 horas. A Tabela 8 mostra os resultados de

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Lipossomas Ultradeformáveis 90

porcentagem de calceína encapsulada. A Figura 23 mostra o resultado de um

ensaio típico com os valores de fluorescência dos líquidos receptores antes e após

a adição de CoCl2 e Triton X-100 nos tempos de 2 e 8 horas, após aplicação da

formulação de calceína em lipossomas ultradeformáveis.

Os valores médios da eficiência de encapsulação da calceína foram muito

baixos para a calceína em lipossomas ultradeformáveis e equivalentes àqueles

encontrados com a calceína livre, indicando que o marcador fluorescente se

encontra no fluido receptor na forma não encapsulada. Desta forma, os resultados

sugerem que a calceína é permeada na forma livre ou é liberada durante ou após

sua passagem pela pele.

Vale ressaltar que o conjunto destes resultados contradiz o modelo

proposto por Cevc e col (1998, 1995, 2001), segundo o qual as vesículas

ultradeformáveis atravessariam o estrato córneo de forma intacta carreando os

fármacos através da pele e controlando sua liberação para a circulação.

Tabela 8: Frações de calceína encapsulada (não aces sível ao íon cobalto) determinadas no

fluído receptor da Célula de Franz 2 e 8 horas após aplicação tópica de calceína

encapsulada em lipossomas ultradeformáveis ou livre em colato e etanol, em pele de

camundongos sem pêlo.

Formulação % Encapsulação (média ± erro padrão)

2 horas 8 horas

Calceína livre com colato e etanol 1,77 ± 0,47 1,70 ± 0,41

Calceína em lipossomas ultradeformáveis 1,40 ±1,01 3,90 ± 0,38

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Lipossomas Ultradeformáveis 91

2 horas

0 2 4 6 8

0

30

60

90

120

150

adição de CoCl2

adição de Triton X100

tempo (minutos)

Fluo

resc

ênci

a (u

.a.)

8 horas

0 2 4 6 8

0

30

60

90

120

adição de Triton X100

adição de CoCl2

tempo (minutos)

Fluo

resc

ênci

a (u

.a.)

(A) (B)

Figura 23: Sinais de fluorescência dos líquidos rec eptores antes e após a adição de CoCl 2 e

Triton X-100 referentes a formulação de calceína em lipossomas ultradeformáveis, nos

tempos de 2 horas (gráfico A) e de 8 horas (gráfico B) após aplicação na pele de

camundongos sem pêlo, no experimento de Células de Franz ( λλλλexc=490 nm, λλλλem=515 nm,

fendas de excitação e emissão=5 nm).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um primeiro objetivo deste trabalho foi caracterizar do ponto de vista físico-

químico as vesículas ultradeformáveis utilizando a calceína como modelo de

fármaco hidrofílico de massa molar intermediária. Outro objetivo era investigar o

mecanismo de absorção percutânea deste marcador a partir das vesículas

ultradeformáveis, através do estudo in vivo da absorção transdérmica em

camundongos sem pêlo e do estudo in vitro da permeação cutânea (Células de

Difusão de Franz).

Em relação à caracterização físico-química, a eficiência de encapsulação

de calceína na suspensão original de lipossomas ultradeformáveis foi cerca de

18%, mas aumentou com o aumento da concentração da suspensão de vesículas.

Demonstrou-se pela primeira vez que a membrana destas vesículas

apresenta uma elevada permeabilidade à calceína, indicando uma baixa

capacidade de retenção. A redução da quantidade de colato de sódio e etanol

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Lipossomas Ultradeformáveis 92

levou a uma redução da permeabilidade da calceína, mostrando o papel

importante destes componentes na elevada permeabilidade destas vesículas.

Considerando que, após a aplicação tópica das formulações em condição

não oclusiva a concentração dos componentes da formulação aumenta, os nossos

resultados sugerem que ocorre um aumento da eficiência de encapsulação da

calceína nas vesículas ultradeformáveis após administração tópica deste tipo de

formulação.

O estudo de absorção transdérmica da calceína para a circulação

sanguínea, realizado em camundongos sem pêlo mostra que os lipossomas

reduziram a absorção transdérmica da calceína, quando comparados às soluções

aquosas, com ou sem colato e etanol. Ocorreu também uma maior retenção de

calceína na superfície da pele quando foi aplicada em lipossomas

ultradeformáveis, quando comparada às formas livres, mas que não resultou em

maior quantidade de calceína incorporada na pele.

Os ensaios de permeação cutânea in vitro, utilizando Células de Difusão de

Franz e pele de camundongos sem pêlo, mostraram que a quantidade de calceína

permeada a partir dos lipossomas ultradeformáveis e convencionais foi menor do

que a partir das soluções contendo ou não colato e etanol. Neste estudo foi

claramente demonstrado o efeito promotor de permeação cutânea da mistura

colato/etanol.

Os dados obtidos sugerem ainda que a absorção percutânea da calceína é

controlada pela liberação da calceína do veículo e não por sua difusão através do

estrato córneo. Outra observação importante foi que a calceína permeada pela

pele, a partir dos lipossomas ultradeformáveis, encontrou-se essencialmente na

forma não encapsulada.

Em conclusão, podemos destacar as seguintes contribuições do nosso

estudo para o melhor entendimento do modo de atuação das vesículas

ultradeformáveis:

- a demonstração de que as vesículas ultradeformáveis reduzem a

absorção transdérmica de calceína para a circulação

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Lipossomas Ultradeformáveis 93

- a apresentação de evidências experimentais de que a redução da

absorção transdérmica da calceína seria resultado do controle da liberação do

fármaco pela formulação e não da atuação dessas vesículas como carreador,

atravessando a pele e controlando a liberação do marcador no tecido subcutâneo.

- a demonstração da elevada permeabilidade à calceína das vesículas

ultradeformáveis que implica que essas vesículas provavelmente sofram uma

maturação após a aplicação tópica, transferindo o colato e o etanol para a pele,

tornando-se menos permeáveis e menos flexíveis.

Vale ressaltar que os resultados do presente estudo contradizem o modelo

clássico de atuação das vesículas ultradeformáveis proposto por Cevc e col.

(1992, 1998, 2001, 2004), segundo o qual essas vesículas atuariam como

carreador, transportando o fármaco através da pele e controlando sua passagem

para a circulação ao nível subcutâneo.

Vale mencionar ainda que não foi possível evidenciar diferença entre as

vesículas ultradeformáveis e as vesículas convencionais fluidas em relação às

características farmacocinéticas. Isto sugere que esses dois tipos de sistemas

vesiculares apresentam um campo de atuação semelhante, pelo menos no caso

de fármacos hidrofílicos de massa molar intermediária. Nesse contexto, uma

aplicação preferencial desse sistema, no caso de fármacos hidrofílicos de massa

molar intermediária, seria para promover níveis prolongados na derme e níveis

reduzidos nos tecidos mais profundos e na circulação sistêmica.

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Lipossomas Mucoadesivos 94

CAPÍTULO 2: LIPOSSOMAS MUCOADESIVOS PARA ADMINISTRAÇÃO

ORAL DE FÁRMACOS HIDROFÍLICOS

1. INTRODUÇÃO

A via oral é a forma mais utilizada para a administração de fármacos devido

à sua praticidade e à elevada adesão dos pacientes. Para que um fármaco seja

absorvido e atinja a circulação sanguínea, várias etapas devem ser vencidas:

primeiro a formulação deve liberar o fármaco no fluido aquoso gastrointestinal;

depois as moléculas do fármaco devem se difundir no fluido gastrointestinal até

alcançarem a superfície da mucosa intestinal; em seguida devem migrar do meio

aquoso externo para dentro da mucosa; para finalmente permearem através da

membrana celular e atingirem a circulação sanguínea (Loftsson e col., 2004).

Existem várias barreiras que dificultam a absorção de fármacos pelo trato

gastrointestinal, contribuindo para uma baixa disponibilidade do fármaco. Isto torna

inviável a utilização desta via para a administração de determinados tipos de

bioativos.

Em relação às características físico-químicas dos fármacos, a literatura

relata que moléculas hidrofílicas com massa molar maior que 500 Da não são bem

absorvidas pela mucosa gastrointestinal (Ashord, 2007 b; Ponchel et al, 1998;

Loftsson e col., 2004; Benet e col., 1996).

Estratégias têm sido procuradas com objetivo de contornar os problemas da

administração oral e aumentar a biodisponibilidade de fármacos. Uma estratégia

interessante explora a presença da mucosa que reveste todo o trato

gastrointestinal. Esta mucosa, devido as suas características físico-químicas,

promove a adesão de macromoléculas, através de interações específicas ou não

específicas. Este processo de adesão de substâncias na mucosa do trato

gastrointestinal chama-se mucoadesão ou bioadesão (Woodley, 2001; Ponchel et

al, 1998).

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Lipossomas Mucoadesivos 95

Vários trabalhos na literatura apontam para o potencial dos lipossomas

mucoadesivos para administração oral e nasal de fármacos (Ponche e col., 1998

Takeuchi e col., 2001, 2005; Takeuchi e col., 2005; Jain e col., 2007).

Estes lipossomas são preparados com lipídios carregados negativamente e

revestidos com polímeros catiônicos. Estes polímeros que revestem a superfície

dos lipossomas permitem aumentar a adesão destes na mucosa do trato

gastrointestinal, resultando no aumento da biodisponibilidade dos fármacos

encapsulados. Entre os polímeros utilizados, a quitosana merece destaque por ser

de origem natural, biodegradável, biocompatível e mucoadesiva.

Os lipossomas mucoadesivos mostraram-se capazes de potencializarem as

ações biológicas da insulina e da calcitonina (Takeuchi e col., 2001, 2005; Prego e

col, 2006), porém o modo de atuação deste sistema não está totalmente

elucidado.

Mais especificamente, há controvérsias se os lipossomas são estáveis

quando administrados por via oral e são capazes de reter o fármaco encapsulado.

Há a possibilidade ainda da quitosana proteger os lipossomas de um efeito

desestabilizante do suco gástrico e dos sais biliares. Desta forma, torna-se

importante estudar estas vesículas para avaliar seu verdadeiro potencial de

utilização, principalmente para encapsular e reter substâncias hidrofílicas nesses

fluidos biológicos, bem como aumentar sua absorção por via oral.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Preparação da solução de quitosana

A solução de quitosana, grau de desacetilação de 98%, (Polymar, Ceará,

Brasil) foi preparada na concentração de 0,6% (p/v), em ácido acético 4% (p/v),

com agitação magnética por 3 horas, em temperatura ambiente. Após o preparo,

a solução apresentava um valor de pH de 4,4.

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Lipossomas Mucoadesivos 96

2.2. Preparação da formulação de lipossomas mucoade sivos

Os lipossomas mucoadesivos foram preparados com a mesma composição

lipídica que os lipossomas preparados por Takeuchi e col., 2005, com algumas

modificações no modo de preparo, ilustrado na Figura 24.

Inicialmente, lipossomas aniônicos foram preparados a partir da mistura de

lipídios contendo L-α-diestearoilfosfatidilcolina (DSPC, Avanti Polar Lipids),

dicetilfosfato (DCP, Sigma) e colesterol (COL, Sigma) na razão molar de 8:2:1. Os

lipídeos foram dissolvidos em clorofórmio (Merck) e um filme lipídico foi obtido na

parede de um balão após evaporação do solvente em rotaevaporador (Labconco,

UK). Em seguida, o filme lipídico foi hidratado com solução de calceína 30 mM e a

concentração final de lipídios de 80 g/L.

A suspensão de lipossomas resultante foi submetida a congelamento em N2

líquido e descongelamento em temperatura de 60ºC permitindo a obtenção de

lipossomas do tipo FATMLVs (Frozen and Thawed MLVs). O processo de

congelamento e descongelamento foi repetido 8 vezes, de acordo com Mayer e

col., 1985.

A suspensão de FATMLVs foi filtrada repetidamente (7 vezes) em

membranas de policarbonato de poro de 200 nm, na temperatura de 65ºC usando

extrusor (Lipex Biomembranes, Canadá), para a calibração do tamanho das

vesículas (Mayer e col., 1986).

Após esta etapa, os lipossomas foram diluídos, na razão 1:1 (v/v), com

solução de NaCl 0,075M e foram submetidos a diálise, usando membrana de

celulose regenerada (Spectra/Por MWCO=15000 Da), contra solução de NaCl 75

mM, por 36 horas, e depois contra tampão Acetato 100 mM pH4,4, por mais 24

horas, para eliminar a calceína não encapsulada.

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Lipossomas Mucoadesivos 97

Figura 24: Representação esquemática do modo de pre paro dos lipossomas aniônicos e

mucoadesivos.

Os lipossomas mucoadesivos contendo calceína foram obtidos a partir da

mistura de uma suspensão de lipossomas aniônicos de tamanho calibrado e

contendo calceína encapsulada com a solução de quitosana 0,6% (p/v), na razão

1:1 (v/v), com incubação por 30 minutos a 25ºC.

Os lipossomas sem quitosana foram preparados diluindo a suspensão de

lipossomas aniônicos de tamanho calibrado contendo calceína com a solução de

ácido acético 100 mM pH4,4, na razão 1:1 (v/v).

A concentração final de lipídios nas formulações a serem aplicadas era de

20 g/L.

Foi também preparada uma solução de calceína livre em tampão acetato

100 mM pH 4,4 para ser utilizada como controle nos experimentos.

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Lipossomas Mucoadesivos 98

2.3. Caracterização físico-química dos lipossomas m ucoadesivos

2.3.1. Determinação da distribuição de tamanho das partículas

A distribuição de tamanho das partículas foi avaliada através de

espalhamento dinâmico de luz no equipamento Zetasizer 3000HS (Malvern, UK).

A suspensão de lipossomas, com ou sem quitosana, foi diluída 75 vezes em

tampão acetato 100 mM pH 4,4. Os resultados fornecidos pelo equipamento foram

o diâmetro hidrodinâmico médio e o índice de polidispersidade da população de

lipossomas.

2.3.2. Determinação da eficiência de encapsulação da calceína

A porcentagem de encapsulação da calceína nos lipossomas foi

determinada após quantificação da calceína encapsulada e total por fluorimetria. A

separação dos lipossomas da calceína não encapsulada foi realizada por diálise

da suspensão de lipossomas (item 2.2).

10 µL das amostras (antes e após a diálise) foram misturadas com 20µL de

detergente Triton X-100 20% (p/v) e 70µL de água deionizada. A mistura foi

incubada por 30 minutos a 60ºC para garantir o rompimento dos lipossomas e a

liberação da calceína presente em seu interior. Em seguida, as amostras

resultantes foram diluídas 10 vezes com tampão HEPES 20 mM/NaCl 100 mM

pH7,4. Para as leituras de fluorescência, 100 µL das amostras diluídas foram

adicionadas em cubeta de quartzo (1 x 1 cm) contendo 2,1 mL de tampão HEPES

20 mM/NaCl 100 mM pH7,4 (λexcitação=490 nm; λemissão=515 nm; fendas de

excitação e emissão=5 nm).

A leitura da fluorescência da suspensão de lipossomas antes da diálise

(Fcalceína total) é diretamente proporcional à quantidade total de calceína,

enquanto a leitura após a diálise (Fcalceína encapsulada) é diretamente

proporcional à quantidade de calceína presente no interior dos lipossomas. A

eficiência de encapsulação pode ser então calculada pela seguinte equação:

100*totalFcalceína

aencapsuladFcalceínaãoencapsulaçdemPorcentage =

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Lipossomas Mucoadesivos 99

2.3.3. Estabilidade dos lipossomas mucoadesivos em condições de

armazenamento

Para avaliar se a presença da quitosana alterava a estabilidade das

vesículas em condições de armazenamento, foram comparadas as taxas de

calceína liberada na presença e na ausência de quitosana. Amostras de

lipossomas contendo calceína encapsulada foram mantidas a 4ºC, na presença ou

ausência de quitosana e, em determinados intervalos de tempo (tempo zero, 1, 2,

7 e 14 dias), uma alíquota foi retirada e diluída 10 vezes em tampão HEPES 20

mM/NaCl 100 mM pH7,4. Após nova diluição da amostra (0,5 mL da amostra

diluída + 1,7mL de tampão HEPES 20 mM/NaCl 100 mM pH7,4), foram feitas

medidas de fluorescência antes e depois da adição de CoCl2, permitindo a

determinação da concentração de calceína no meio externo (como no Capítulo 1,

ítem 2.2.3).

Desta forma, foram determinados os porcentuais de calceína liberada dos

lipossomas na presença e ausência de quitosana, nos diversos intervalos de

tempo. A Figura 25 ilustra o ensaio de estabilidade dos lipossomas mucoadesivos.

Figura 25: Representação esquemática do ensaio de e stabilidade dos lipossomas

mucoadesivos

2.4. Avaliação da absorção de calceína por via oral a partir de

lipossomas mucoadesivos

A absorção de calceína por via oral a partir das formulações de lipossomas

foi avaliada utilizando camundongos Swiss machos de 8 semanas, pesando de 28

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Lipossomas Mucoadesivos 100

a 32 g, adquiridos no Centro de Bioterismo da UFMG . Os animais ficaram em

jejum por 3 horas antes da administração e permaneceram em jejum durante todo

o experimento. A administração foi realizada por gavagem com 200 µL das

formulações. Em intervalos de tempo pré-determinados, foram feitas coletas de

sangue pela cauda dos animais e as concentrações plasmáticas da calceína foram

determinadas a partir das leituras da fluorescência das amostras, conforme

método descrito e validado no Capítulo 1, item 2.4. Em cada experimento foi

realizada uma curva de calibração, relacionando a intensidade de fluorescência

com a concentração de calceína no plasma dos animais. A Figura 26 ilustra o

procedimento utilizado para avaliação da absorção da calceína por via oral.

Neste estudo, foram usados 4 grupos experimentais (n=6) que receberam

as seguintes formulações: tampão acetato 100 mM pH4,4; calceína livre

preparada em tampão acetato 100 mM pH4,4; lipossomas contendo calceína sem

quitosana; e lipossomas contendo calceína e com quitosana. A concentração de

calceína nas formulações administradas foi a mesma em todos os grupos

experimentais (3 mM) e estabelecida em função da eficiência de encapsulação da

calceína nos lipossomas.

Figura 26: Representação esquemática do procediment o utilizado para o estudo da

absorção da calceína por via oral.

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Lipossomas Mucoadesivos 101

2.5. Liberação da calceína a partir das formulações de lipossomas em

diferentes meios simulando os fluídos biológicos

Foi avaliada a taxa de liberação de calceína dos lipossomas na presença e

na ausência de quitosana em diferentes meios simulando condições os fluidos

biológicos presentes no trato gastrointestinal: o suco gástrico, caracterizado por

seu pH ácido e a bile, caracterizada pela presença de sais biliares. Os meios

avaliados foram: tampão acetato 100 mM pH4,4; tampão acetato 100 mM pH4,4

contendo deoxicolato de sódio 0,01% (tensoativo utilizado como modelo de sal

biliar); tampão HEPES 50 mM/NaCl 100 mM pH 7,4; tampão HEPES 50 mM/NaCl

100 mM pH 7,4 contendo deoxicolato de sódio 0,01%; e solução de HCl 0,1M.

Alíquotas de 10 µL das amostras de lipossomas contendo calceína

encapsulada, com ou sem quitosana, foram acrescentadas a 1mL desses

diferentes meios e a mistura foi incubada a 37ºC. Em intervalos de tempo

determinados (tempo zero, 15 minutos, 30 minutos, 1 hora e 3 horas), alíquotas

foram retiradas e diluídas 21 vezes em tampão HEPES 20 mM/NaCl 100 mM pH

7,4. Foram realizadas medidas de fluorescência das amostras diluídas antes e

após a adição de CoCl2, permitindo a determinação da quantidade de calceína

presente no meio externo (conforme descrito no Capítulo 1, item 2.2.3).

O porcentual de calceína liberada dos lipossomas nos diferentes meios

modelos foi determinado a partir do conhecimento da quantidade de calceína no

meio externo (Qe) e da quantidade total de calceína (QT), usando a seguinte

equação:

100*%T

e

Q

Qliberadacalceína =

2.6. Aspectos éticos no manuseio dos animais

Os procedimentos envolvendo o uso e o manuseio dos animais foram

aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal-CETEA da

Universidade Federal de Minas Gerais, protocolo número 044/07.

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Lipossomas Mucoadesivos 102

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização físico-química dos lipossomas m ucoadesivos

Lipossomas aniônicos com membrana na fase gel, de tamanho calibrado e

contendo calceína encapsulada, foram preparados a partir de DSPC, DCP e

CHOL na relação molar 8:2:1, em tampão acetato 100 mM pH 4,4, na

concentração lipídica inicial de 80 g/L. Solução de quitosana foi acrescentada na

concentração final de 0,3% (p/v).

Os lipossomas mucoadesivos foram obtidos a partir da mistura de um

volume da suspensão de lipossomas aniônicos com o mesmo volume de solução

de quitosana 0,6% (p/v).

3.1.1. Determinação da distribuição de tamanho das partículas

O diâmetro hidrodinâmico médio dos lipossomas antes da adição de

quitosana foi de 173,2 ± 5,9 nm (n=6), com índice de polidispersidade de 0,158 ±

0,031, indicando homogeneidade da população de vesículas. Após a adição de

quitosana, a suspensão de lipossomas mostrou um diâmetro hidrodinâmico de

251,3 ± 2,3 nm (n=3), com índice de polidispersidade de 0,201 ± 0,006. Já que

índices de polidispersidade inferiores ou iguais a 0,2 indicam uma população de

lipossomas monodispersa, podemos considerar que as suspensões de lipossomas

obtidas são de tamanho homogêneo e constituídas por uma única população.

O aumento do diâmetro médio das vesículas após a adição de quitosana é

indicativo do recobrimento da superfície aniônica das vesículas pelo polímero

quitosana em decorrência da força de atração eletrostárica.

3.1.2. Eficiência de encapsulação da calceína nos lipossomas

A porcentagem de encapsulação da calceína nos lipossomas foi

determinada antes da adição da solução de quitosana, correspondendo a 18,6 ±

4,1% (n=3).

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Lipossomas Mucoadesivos 103

3.1.3. Estabilidade dos lipossomas mucoadesivos em condição de

armazenamento

Foi avaliada neste estudo a influência da quitosana na capacidade dos

lipossomas aniônicos de reter a calceína encapsulada em condições de

armazenamento, isto é, solução de ácido acético 100 mM pH4,4, na temperatura

de 4ºC.

A Figura 27 mostra as taxas de calceína liberada dos lipossomas na

presença e ausência de quitosana em função do tempo.

0 2 4 6 8 10 12 140

20

40

60

80

100Lipossomas sem quitosana

Lipossomas com quitosana

Tempo (dias)

% d

e ca

lceí

na li

bera

da

Figura 27: Cinéticas de liberação de calceína a par tir de lipossomas armazenados a 4ºC com

e sem quitosana. Os dados referem-se às médias ± er ro padrão (n=3).

A análise estatística dos dados pelo teste Two-way ANOVA mostra não

haver diferença significativa entre os grupos avaliados, isto é, a presença da

quitosana não altera a estabilidade dos lipossomas contendo calceína. Desta

forma podemos concluir que os lipossomas podem ser armazenados a 4ºC na

presença de quitosana por até 14 dias, mostrando estabilidade satisfatória nestas

condições.

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Lipossomas Mucoadesivos 104

3.2. Avaliação da absorção de calceína por via oral em camundongos a

partir de lipossomas mucoadesivos

A avaliação da absorção da calceína por via oral foi realizada pela leitura da

fluorescência do plasma de camundongos Swiss após administração oral

(gavagem) de diferentes formulações: lipossomas aniônicos contendo calceína

(sem quitosana); lipossomas mucoadesivos contendo calceína (recobertos com

quitosana); tampão acetato 100 mM pH 4,4 (controle); e calceína livre preparada

em tampão acetato 100 mM pH 4,4. A concentração inicial de calceína em todas

as formulações foi igual a 3 mM.

A Figura 28 mostra as farmacocinéticas plasmáticas da calceína,

representadas seja através das intensidades de fluorescência dos plasmas

diluídos (gráfico A) ou dos valores calculados da concentração plasmática de

calceína (gráfico B).

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Lipossomas Mucoadesivos 105

0 1 2 30.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

Tampão acetato 100mM pH4,4

Calceína livre

Calceína em lipossomas sem quitosana

Calceína em lipossomas mucoadesivos

** *

Tempo (horas)

Fluo

resc

ênci

a (u

.a.)

(A)

0 1 2 30.00

0.05

0.10

0.15

Tampão acetato 100mM pH4,4

Calceína livre

Calceína em lipossomas sem quitosana

Calceína em lipossomas mucoadesivos

* * *

Tempo (horas)

Con

cent

raçã

o de

cal

ceín

a (

µµ µµ M)

(B)

Figura 28: Farmacocinéticas plasmáticas da calceína , em camundongos Swiss, após

administração oral de diferentes formulações: lipos somas mucoadesivos contendo

calceína; lipossomas sem quitosana contendo calceín a; calceína livre; e tampão acetato 100

mM pH 4,4 (controle). O gráfico A mostra os valores de fluorescências dos plasmas dos

animais ( λλλλexc=490nm, λλλλem=515nm, fendas=5nm) e o gráfico B mostra as conce ntrações

plasmáticas de calceína. * P<0,05 para as comparações entre os grupos que receb eram as

formulações de calceína com o grupo controle (tampã o acetato) (Two-way ANOVA seguido

de pós teste de Bonferroni). Os dados são mostrados como as médias ± erro padrão (n=6).

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Lipossomas Mucoadesivos 106

A comparação dos valores de fluorescência do plasma dos animais do

grupo controle (animais que receberam tampão acetato 100 mM pH 4,4) com

aqueles dos outros grupos que receberam calceína nas diferentes formulações

(calceína livre ou calceína nos lipossomas com ou sem quitosana), mostra

diferenças significativas, indicando que ocorreu uma absorção de calceína pelo

trato gastrointestinal dos animais com todas as formulações de calceína

administradas.

Entretanto, a comparação entre os grupos que receberam as diferentes

formulações de calceína usando o teste Two-way ANOVA não mostrou diferenças

significativas entre eles. Portanto, os níveis de absorção da calceína por via oral

foram semelhantes em todos os grupos, independentemente dela estar na forma

livre ou encapsulada em lipossomas.

Esses resultados sugerem que o pH ácido do suco gástrico e/ou os sais

biliares promoveram uma desestabilização das formulações de lipossomas,

levando à liberação precoce da calceína, que passou a ter o comportamento da

calceína na forma livre.

Para confirmar essa interpretação, procuramos avaliar a cinética de

liberação da calceína a partir das formulações de lipossomas após a adição em

diferentes meios simulando os fluidos biológicos do trato gastrointestinal.

3.3. Liberação da calceína a partir de formulações de lipossomas em

diferentes meios simulando os fluídos biológicos

Foi avaliada a influência de dois fatores sobre a estabilidade dos

lipossomas: a acidificação do meio externo, que ocorre quando os lipossomas

entram em contato com o suco gástrico; e a presença do tensoativo deoxicolato de

sódio como modelo dos sais biliares que são bem conhecidos pelo seu efeito

desestabilizante sob os lipossomas (Arien e col., 1993; Kokkona e col., 2000;

Freund e col., 2000).

Os seguintes meios foram avaliados: tampão acetato 100 mM pH 4,4;

tampão acetato 100 mM pH 4,4 contendo deoxicolato de sódio 0,01% (p/v);

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Lipossomas Mucoadesivos 107

tampão HEPES 50 mM/NaCl 100 mM pH 7,4; tampão HEPES 50 mM/NaCl 100

mM pH 7,4 contendo deoxicolato de sódio 0,01%; e solução de HCl 0,1M.

Neste estudo, avaliamos também se a presença de quitosana nos

lipossomas promovia maior ou menor estabilidade, reduzindo ou aumentando a

taxa de calceína liberada, nos diferentes meios estudados.

A Figura 29 mostra a influência da adição de deoxicolato de sódio na

cinética de liberação de calceína dos lipossomas com e sem quitosana, quando

incubados a 37ºC.

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Lipossomas Mucoadesivos 108

Tampão acetato 100 mM pH 4,4

Lipossomas sem quitosana

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60

Tempo (horas)

% d

e c

alce

ína

libe

rada

Lipossomas mucoadesivos

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60 * * *

Tempo (horas)

% d

e c

alc

eín

a li

bera

da

A

Tampão HEPES 20 mM/NaCl 100 mM pH 7,4

Lipossomas sem quitosana

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60

Tempo (horas)

% d

e c

alc

eín

a li

bera

da

Lipossomas mucoadesivos

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60

Tempo (horas)

% d

e c

alc

eín

a li

bera

da

B

Figura 29: Efeito do deoxicolato na taxa (%) de cal ceína liberada de lipossomas aniônicos

(sem quitosana) ou de lipossomas mucoadesivos (com quitosana), quando incubados a

37ºC, em meios de diferentes pHs. Os gráficos A e B referem-se às cinéticas de liberação da

calceína no tampão acetato 100 mM pH 4,4 e no tampã o HEPES 20 mM/NaCl 100 mM pH 7,4,

respectivamente. Legenda: (meio sem deoxicolato 0, 01%); (meio contendo deoxicolato

0,01%). A quantidade de calceína liberada foi deter minada por fluorimetria ( λλλλexc=490 nm;

λλλλem=515 nm; fendas=5 nm) após diluição de uma alíquo ta do meio em tampão HEPES 20

mM/NaCl 100 mM pH 7,4. Os dados mostram as médias ± erro padrão (n=3). *P<0,05 para

comparação entre o meio contendo deoxicolato e o me io sem deoxicolato (Two-way ANOVA

seguido de pós teste de Bonferroni).

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Lipossomas Mucoadesivos 109

Os resultados mostram que o deoxicolato aumentou a taxa de calceína

liberada, sendo que o efeito desestabilizante foi mais acentuado em pH 4,4 que

em pH 7,4 e na presença de quitosana do que na sua ausência. Um aumento

significativo da taxa de calceína liberada foi observado apenas no meio pH 4,4 na

presença de quitosana.

O fato dos lipossomas com quitosana terem liberação mais acentuada de

calceína em pH ácido poderia ser explicado pelo caráter catiônico da quitosana,

podendo favorecer a interação do deoxicolato com a bicamada lipídica dos

lipossomas, aumentando assim a liberação de calceína para o meio.

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Lipossomas Mucoadesivos 110

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60

HCl 0,1M

Tampão Hepes 20mM/NaCl 100mM pH 7,4

Tampão acetato 100mM pH4,4

**

Tempo (horas)

% d

e c

alc

eín

a li

bera

da

A

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.50

20

40

60

HCl 0,1M

Tampão Hepes 20mM/NaCl 100mM pH 7,4

Tampão acetato 100mM pH4,4***

*

Tempo (horas)

% d

e c

alc

eín

a li

bera

da

B

Figura 30: Influência do pH do meio na taxa (%) de calceína liberada de lipossomas

mucoadesivos (gráfico B) ou de lipossoma sem quitos ana (gráfico A), incubados a 37ºC. A

quantidade de calceína liberada foi determinada por fluorimetria ( λλλλexc=490 nm; λλλλem=515

nm; fendas=5 nm), após diluição de uma aliquota do meio em solução de tampão HEPES 20

mM/NaCl 100 mM pH 7,4. ***P<0,001 e * P<0,05 para c omparação do meio contendo HCl com

os outros meios nos tempos de 3 horas e 15 minutos, respectivamente (Two-way ANOVA

seguido de pós teste de Bonferroni). Os dados mostr am as médias ± erro padrão (n=3).

A Figura 30 mostra a influência do pH do meio na cinética de liberação de

calceína dos lipossomas com e sem quitosana, quando incubados a 37ºC (na

ausência do deoxicolato de sódio). Quando se compara as taxas de calceína

liberada entre os meios de pH 7,4 e de pH 4,4, não observa-se diferença

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Lipossomas Mucoadesivos 111

significativa, tanto na presença quanto na ausência de quitosana. Por outro lado, a

solução de HCl 0,1 M induziu um aumento significativo da taxa de calceína

liberada. As taxas de calceína liberada foram também significativamente maiores

no meio de HCl 0,1 M, comparado aos outros meios de pH 4,4 e 7,4.

Na solução de HCl 0,1 M, provavelmente ocorreu um choque osmótico

juntamente com acidificação do meio, contribuindo para desestabilização dos

lipossomas e maior velocidade de liberação da calceína. A presença da quitosana

não promoveu proteção aos lipossomas, sendo que ambos os lipossomas, com ou

sem quitosana, foram desestabilizados e tiveram elevada liberação de calceína.

Em resumo, este estudo mostra que tanto o meio ácido quanto a presença

de tensoativo da família dos sais biliares provocam a desestabilização de

lipossomas com e sem quitosana. O efeito desestabilizante do deoxicolato de

sódio é aumentado na presença de quitosana e em pH ácido, contribuindo para

maior desestabilização dos lipossomas mucoadesivos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram preparados e caracterizados lipossomas aniônicos, de membrana na

fase gel, contendo calceína, recobertos ou não por quitosana. Estes foram obtidos

com distribuição de tamanho homogênea, com diâmetro hidrodinâmico médio na

faixa de 200nm e eficiência de encapsulação satisfatória de aproximadamente

18%.

O estudo de estabilidade desses lipossomas mostrou que a presença da

quitosana não altera a estabilidade dos lipossomas contendo calceína, quando

armazenados a 4ºC por até 14 dias. Os lipossomas sem quitosana e os

lipossomas com quitosana apresentaram estabilidade satisfatória nas condições

experimentais utilizadas.

A avaliação in vivo da absorção oral, realizada em camundongos Swiss,

mostrou que ocorreu absorção de calceína pelo trato gastrointestinal de todas as

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Lipossomas Mucoadesivos 112

formulações administradas, mas que não houve diferença significativa entre elas.

A calceína encapsulada em lipossomas sem e com quitosana mostrou a mesma

farmacocinética plasmática que a calceína administrada na forma livre, sugerindo

uma instabilidade dos lipossomas no suco gástrico ou nos sais biliares, tanto na

presença quanto na ausência de quitosana.

Esta interpretação foi suportada por ensaios de liberação da calceína in

vitro, a partir desses lipossomas, realizados em diferentes meios, mimetizando o

pH do suco gástrico e a presença dos sais biliares. Os resultados mostraram que

o pH ácido e a adição do tensoativo deoxicolato, como modelo de sal biliar,

aumentam a liberação de calceína dos lipossomas. O efeito do deoxicolato de

sódio foi aumentado na presença de quitosana e em pH ácido, contribuindo para

maior desestabilização dos lipossomas.

Podemos concluir que os lipossomas aniônicos de membrana na fase gel,

recobertos ou não com quitosana, quando administrados por via oral, não

permitem alterar a farmacocinética plasmática de um fármaco hidrofílico de massa

molar intermediária, provavelmente por causa da ação permeabilizante dos meios

ácidos e/ou dos sais biliares. Os nossos resultados contradizem o modelo

proposto por Takeuchi e col., 2005, segundo o qual esses lipossomas poderiam

atuar como carreador mucoadesivo para qualquer tipo de fármaco hidrofílico.

De acordo com os nossos resultados, a eficiência dos lipossomas

mucoadesivos para aumentar a biodisponibilidade da insulina por via oral, como

relatado por Takeuchi e col. (2005), poderia ser explicada pela maior eficiência de

retenção de substância de elevada massa molar (como a insulina) ou pela

formação de um complexo insulina-lipídio-quitosana, após desestabilização dos

lipossomas, que poderia atuar como sistema mucoadesivo de liberação

sustentada de insulina.

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Anexos 122

ANEXOS

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