linha ensino e aprendizagem -...

25

Upload: vocong

Post on 03-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Linha Ensino e Aprendizagem

A Viagem das SementesA Aventura de PlantarA História do Seu João das AlfacesBiotecnologia para PedestresAssembléia dos Bichosentre outros ...

Revista PABCadernos de Ciência & Tecnologia

PESQUISAAGROPECUÁIUA

BRASILEIRA

y~JJJJ~j0

Fone: (61) 448-4236 1'--------Fax: (61) 340-2753Nossa livraria virtualwww.sct.embrapa.br

Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

(;30,5A:t/SED.!. A-clS>l

PREZADO LEITOR, - ~8l--

A Amazônia continua sendo um dos maiores desafios da pesquisa brasileira.Conhecer a biodiversidade presente nos cinco milhões de quilômetros quadra-dos da floresta, a maior parte dela ainda intacta, não é tarefa para poucos e

muito menos trabalho fácil. Como bem aponta o Diretor-Executivo da Embrapa, JoséRoberto Rodrigues Peres, em artigo no final da nossa edição, até agora conseguimosidentificar 11 mil espécies vegetais da Amazônia e, destas, somente 80 se tornaramrecursos genéticos sem i-domesticados, sendo que apenas cinco estão sendo usadascomo produtos de exploração econômica e social. A matéria de capa desta ediçãoaborda como os órgãos de pesquisa agropecuária nacionais estão enfrentando essadificuldade e encontrando tecnologias que podem contribuir para o desenvolvimentosustentável da Amazônia.

Em entrevista exclusiva para a AgroC&T, o Ministro da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, aponta quais foram as maioresconquistas da pesquisa agropecuária nacional nos últimos anos, defende a importân-cia da pesquisa com transgênicos e mostra como estamos nos preparando paraenfrentar as barreiras comerciais internacionais.

Você encontrará também nas páginas a seguir algumas novidades produzidas recen-temente pelos pesquisadores brasileiros, como os grãos exóticos que foram adaptados aoBrasil e começam a invadir o Cerrado; as experiências científicas inovadoras para uti-lização do lixo, do dejeto suíno e do lodo do esgoto na agricultura; as novas flores queprometem mexer com o mercado, como o girassol colorido; as cultivares nacionais dearroz aromatizado, que vão competir brevemente com as importadas; e como genes dearanhas e escorpiões estão sendo transferidos para baculovírus, possibilitando a criaçãode um bioinseticida que vai combater a principal praga do milho brasileiro.

São pequenas conquistas diárias que mostram a capacidade da pesquisa brasileirade gerar resultados cada vez mais estratégicos para o desenvolvimento da agropecuárianacional.

CURAUÁBiofábrica vai produzir em escala industrialmudas clonadas de curauá, planta Quepossuiuma das maiores fibras naturais do planeta.Página 10.

ENTREVISTAO ministro da Agricultura,Pecuária e Abastecimento,Marcus Vinicius Pratini de Moraes,fala sobre as principais conquis-tas da pesquisa agropecuária noBrasil e como o país podeenfrentar barreiras comerciais.Páginas 4 e 5.

QUINOA E AMARANTOGrãos exóticos começam a invadiros Cerrados brasileiros.Página 14.

AMAZÔNIAComoa pesquisa pode promovero desenvolvimento sustentáveldo maior ecossistema daAmérica Latina.Páginas 6, 7, 8 e 9.

GIRASSOL COLORIDOAs duas primeiras cultivares de girassol co-lorido chegam ao mercado como nova opçãopara pequenos produtores.Página 17.

AgroC&.T é uma publicação trimestral daEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Ernbrapa), vinculada ao Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento

Edição 002 - Agosto de 2002

Tiragem: 10 mil exemplares (edição emportuguês) e 3 mil (edição em inglês)

Conselho de Administração: Márcia Fortes deAlmeida (Presidente), Alberto Duque Portugal(Vice-Presidente), Dietrich Gerhard Quast,José Honório Accarini, Sérgio Fausto, UrbanoCampos Ribeiral

Diretor-Presidente: Alberto Duque Portugal

Diretores-Executivos: Bonifácio HideyukiNakasu, Dante Daniel Giacomelli Scolari,José Roberto Rod rigues Peres

Editor Geral: Heloiza Dias da Silva (Reg. Prof.1143/14-DF)

Editores: Robinson Cipriano da Silva,Jorge Duarte

Redação: Ana Laura Lima, Ana Siqueira,Antonio Carlos Simóes, Carla Gomes, ClenioAraujo, Cristiane Betemps, Cristina Tiemi,Deva Rodrigues, Franzé Ribeiro, Flávia Bessa,Graça França, Ivanilde Dispato, Jean CarlosPorto Vilas Boas, José Manuel Cabral, LéaCunha, Lebna Landgraf, Marita Cardillo,Rodrigo Peixoto, Rase Azevedo, Rubens Neiva,Ruth Rendeiro, Soraya Pereira, Thea Tavares,Vânia Lacerda, Wilson Fabbri Tomanik

Revisão: Ludimila V. Barbosa

Produção Gráfica: Duo 3 PublicidadePropaganda e Marketing

Diagramação: Jefferson Cardoso

Produção: Assessoria de Comunicação Socialda Embrapa

Sede: Edifício Sede da Embrapa, 2' Andar,Sala 213 - SAIN, Parque Estação Biológica,W3 Norte (final) - 70770-901 - Brasília/DF

Telefones: (61) 448-4113 / 448-4012

Fax: (61) 347-4860

E-mail: [email protected]

Site: www.embrapa.br

As matérias que compõem esta edição podemser reproduzidas desde que mencionada a fonte.

Marcus Vinicius Pratini de Moraes

"Ou se negocia a agricultura,ou não se negocia nada"

AgroC&T - Na sua visão, quais foramas maiores conquistas da pesquisaagropecuária para o desenvolvimento doBrasil nos últimos anos?

Pratini - A transformação dos Cer-rados em nova fronteira agrícola sejatalvez o exemplo mais clássico. As tecno-logias desenvolvidas pela Embrapa, uni-versidades, órgãos de pesquisa estadu-ais, públicos e privados, tornaram aregião responsável por 40% da produçãobrasileira de grãos, dobraram a produçãode hortaliças e de leite, triplicaram a ofer-ta de carnes bovina e suína e rnultipli-caram por 10 a produção de frango. Asoja foi adaptada às condições brasileirase com isso hoje somos o segundo maiorprodutor mundial. As pesquisas tambémestão fazendo que fiquemos cada vezmais produtivos. Para se ter uma idéia, aárea plantada no Brasil está estáveldesde 1989, mas a produção cresceu44% de lá para cá. Você sabe o que issosignifica? Que temos um excelenteaumento de produção sem ocupar novasáreas, preservando melhor as florestas,os cerrados e outros ecossistemas.

AgroC&T - Como a pesquisa podecontinuar ajudando a tornar a nossaagropecuária mais competitiva?

Pratini - Em primeiro lugar, buscan-do tecnologias para reduzir cada vez maisos custos de produção, criando práticasque demandam menos recursos do pro-dutor. Depois, desenvolvendo produtosde melhor qualidade. Um exemplo recen-te é a cenoura Alvorada, que possui maiorgrau de caroteno que outras cultivaresdisponíveis no mercado. E, por fim, crian-do tecnologias que garantam sustentabi-lidade ambiental do negócio. Hoje, aquestão ambiental está ligada à competi-

tividade, principalmente se visarmos omercado externo.

AgroC& T - Onde a pesq uisa agrope-cuária está mais avançada?

Pratini - O Brasil hoje é reconhecidono mundo todo como líder na área de ge-nética para a agricultura tropical e sub-tropical. Foi a área de genética vegetalque levou, por exemplo, a soja do RioGrande do Sul ao Piauí e o algodão doNordeste para os Cerrados. Creio que aspesquisas voltadas para o aproveitamen-to dos nossos recursos naturais tambémsão outra grande conquista.

AgroC& T - E em que área o Brasilprecisaria investir mais?

Pratini - Sem dúvida, no conhecimen-to da nossa biodiversidade. Sabemos apro-veitar bem os nossos recursos naturais, masainda não conhecemos a fundo a biodiver-sidade existente nos nossos ecossistemas,principalmente da Amazônia, do Semi-Áridoe do Cerrado. Outro campo ainda poucoexplorado pela pesquisa brasileira é a pros-pecção gênica. Estamos começando a daros primeiros passos, mas já conseguimosobter excelentes resultados, como o se-qüenciamento da bactéria causadora doamarelinho, desenvolvido pela Fapesp.Precisamos também patentear mais nossasconquistas. O Brasil é o 352 no ranking decompetitividade de propriedade intelectual.Estamos atrás de países como Malásia,Tailândia, Chile e Luxemburgo.

AgroC& T - A questão da liberaçãodos transgênicos no Brasil hoje passa pe-la decisão de diversos órgãos de diferen-tes ministérios. Na sua opinião, o exces-so de discussão vem trazendo prejuízospara a pesquisa e a agropecuária nacionais?

IlSabemos aproveitar bem osnossos recursos naturais,

mas ainda não conhecemos afundo a biodiversidadeexistente nos nossos

ist 11ecossl emas .. ,

Pratini - o meu temor é de que o Brasilnão acompanhe os avanços tecnológicosque podem beneficiar a agricultura. Vários

países agrícolas estão usando transgêni-cos há muito tempo, barateando os seuscustos de produção e tornando sua agri-cultura mais competitiva. Mas o Minis-tério da Agricultura seguirá o que fordeterminado pela CTNbio (Comissão Téc-nica Nacional de Biossegurança), que é oórgão responsável pela coordenação des-se assunto. Nossa preocupação é produ-zir de acordo com as demandas do mer-cado. Se houver comprador para transgê-nicos e as pesquisas que estão sendo rea-lizadas indicarem que não há riscos parao meio ambiente e para a saúde do con-sumidor, por que dizer não? E se, ao con-trário, encontrarmos mercados querecusam os transgênicos, venderemosprodutos não-transgênicos. a Brasil, pelasua diversidade e pelas suas dimensões,tem condições de optar.

AgroC&T - A longo prazo, qual alter-nativa teremos para enfrentar as barreirascomerciais impostas pelos países doPrimeiro Mundo? .

Pratini - A nossa estratégia é partici-par de todas as negociações relevantessobre o comércio internacional. A minhabandeira é a seguinte: ou se negocia agri-cultura ou não se negocia nada. Uma dasprincipais barreiras que temos enfrentadoé o protecionismo. Como hoje temos umaagricultura cada vez mais ousada e mo-derna, estamos incomodando os concor-rentes. a Brasil tem de estar preparadopara uma nova forma de protecionismointernacional, que é o protecionismo sa-nitário. Somos uma das principais víti-mas dos regimes de proteção adotados pe-los países desenvolvidos. Para diminuiressas restrições, o governo vem manten-do negociações nos fóruns internacionais.Já conseguimos alguns avanços, como ainclusão da agricultura nas discussões daaMC. Queremos a revisão das barreirasimpostas à soja e ao algodão brasileirospelos Estados Unidos e ao açúcar pelaUnião Européia. Além disso, o Brasil deveadotar uma posição mais agressiva nasnegociações comerciais com outros paí-ses. Precisamos fazer acordos para itensque o Brasil produz que gerem empregoe renda e condicionar qualquer aberturaao produto agrícola.

AgroC&T - Até que ponto a rastreabi-lidade do nosso rebanho ou das nossasfrutas pode ajudar o Brasil a conquistarum maior espaço no mercado mundial?

Pratini - A implementação da rastrea-bilidade é fundamental não só para me-lhorar a competitividade da nossa agri-cultura perante o mercado externo,como, principalmente, para assegurar aoferta de produtos de melhor qualidade ecom garantia de sanidade ao consumidorbrasileiro. Mas, aliado à criação de uma

liA nossa produtividadecresceu mais de 70% nos

últimos dez anos, enquanto aárea plantada manteve-se

praticamente estável,passando de 37,8 para

39,7 milhões de hectares.Nenhum país teve tamanho

desempenho agrícolall•

infra-estrutura que permitirá melhor ge-renciamento das propriedades rurais emelhor controle da produção, é precisoinvestir em marketing. a Brasil ainda pre-cisa ser mais eficiente na propaganda dasua marca. E essa necessidade já foi de-tectada por vários segmentos do agro-negócio. Temos programas de marketinginternacional para carnes bovinas, fran-go, frutas, café e cachaça. Ou seja, esta-mos criando uma cultura exportadora.

AgroC& T - Em qual produto brasileiroo senhor coloca mais esperança paraconquistar o mercado internacional nospróximos anos?

Pratini - a agronegócio brasileiro éaltamente competitivo. Entretanto, al-guns setores têm-se destacado mais doque outros, principalmente nas expor-tações. A cadeia produtiva de carnes éum exemplo. No ano passado, as ven-das externas do setor aumentaram em

US$ 1 bilhão em relação a 2000. Asexportações de carne bovina somaramUS$ 1 bilhão, as de frango, US$ 1,2 bi-lhão e as de suíno, US$ 350 milhões.Neste ano, as estimativas indicam queas exportações de carne bovinaalcancem US$ 1,2 bilhão, as de frango,US$ 1,45 bilhão e as de suíno, cercade US$ 500 milhões. Temos registradoainda excelente desempenho nas expor-tações de soja e açúcar, além de umbom desempenho da fruticultura, docafé, das cachaças e do setor de pesca-dos. Em 2001, as exportações doagronegócio brasileiro totalizaram cercade US$ 24 bilhões, com superávit deUS$ 19 bilhões.

AgroC& T - Quais as principais con-tribuições do atual Governo para aagropecuá ria brasi lei ra?

Pratini - São várias e todas igual-mente importantes. A maior preocu-pação do governo tem sido garantiremprego e renda no campo. Por isso,destaco a consolidação e a renegociaçãodas dívidas agrícolas e a reintrodução delinhas de financiamento plurianual, comtaxas fixas de juros. Esse cenário trouxemaior confiança para o produtor, e nasúltimas quatro safras de grãos regis-tramos recordes. Na safra passada,ultrapassamos a marca de 100 milhõesde to-neladas. A nossa produtividadecresceu cerca de 70% de 1990/1991 a2001/2002, enquanto a área plantadamanteve-se praticamente estável, pas-sando de 37,8 milhões de hectares para39,7 milhões de hectares. Nenhum paísdo mundo teve tamanho desempenhoagrícola. Também posso ressaltar o tra-balho realizado na área de sanidade ani-mal e vegetal, fundamental para garan-tir segurança e qualidade alimentar.Com o objetivo de renovar a tecnologiano campo, criamos o programa de mo-dernização da frota, das colheitadeiras,dos tratores e de implementos agrícolas.São ações que contribuíram para tor-nar a agricultura brasileira mais fortenos últimos anos, capaz de competir,caso haja igualdade de condições decomércio, com qualquer grande potên-cia agrícola do mundo. _

CAPA

As pesquisas já dispõem de ferramentas e técnicas capazesde listar informações socioeconômicas e identificar opotencial de fauna e flora das principais micro-regiões da

Amazônia" Esses dados formam um processo de conhecimentodinâmico importante para a negociação do planejamento e dagestão das políticas públicas. É o primeiro passo para consolidaruma cultura de preservação e desenvolvimento.

Apenas a Embrapa mantém na região cerca de 300pesquisadores, envolvidos em liderar mais de 50 grandes proje-tos, dos quais também participam cientistas de outras regiões einstituições. O resultado desse esforço se traduz na acumulaçãode conhecimentos sobre solos, vegetação, clima e recursos hidri-cos, o que contribuiu para o desenvolvimento baseado na utiliza-ção segura dos recursos naturais.

O zoneamento agroecológico é um desses processos. Pormeio dele, antes de qualquer investimento, é possível determinaro tipo de solo e suas deficiências, potencialidades de flora, faunae hidrografia e prever impactos em zonas de entorno próximas aparques nacionais e reservas indígenas. O custo dessa tecnologiaé bastante reduzido em relação aos benefícios alcançados: esti-ma-se que cada quilômetro estudado custe dois reais. A Embrapajá realizou 21 zoneamentos agroecológicos no Pará, cinco noAmazonas e cinco no Acre.

O esforço de pesquisa deu origem, por exemplo, à reuniãoda maior coleção de espécies vegetais tropicais úmidas domundo. A pesquisa da Embrapa melhorou geneticamente etornou viável a produção comercial de plantas nativas.Cientistas estudaram a cadeia produtiva das principais essên-cias florestais e colocaram à disposição dos moradores daregião orientações sobre manejo sustentado. Desenvolveramtécnicas de manejo de áreas degradadas, preparo e clonagemde mudas, controle de pragas, processamento industrial e com-

ercialização, beneficiando principalmente os produtores quetrabalham sob o regime de agricultura familiar. A pesquisa con-tribuiu também para o crescimento do setor agroindustrial,disponibilizando sistemas de produção específicos para as ca-racterísticas de cada região.

Usar racionalmente os recursos naturais existentes, emespecial a biodiversidade, e recuperar as áreas já alteradas,incorporando-as ao processo de desenvolvimento, evitando as-sim a pressão para o uso da floresta nativa, é o muito-poucoque se almeja para a região.

Mas ainda assim a pesquisa na Amazônia está no estágio dodescobrimento, de geração do conhecimento básico. Pelo menosé o que pensam vários dos especialistas que dirigem ou fazemciência na região. E a diversidade é tão grande que, para efeitosde pesquisa e planejamento, a Amazônia está sendo dividida em"23 amazônias", facilitando a sistematização das informaçõessobre clima, vegetação, botânica, aves, peixes, solos, fungos,bactérias, vírus (de espécies vegetais e animais), povos indíge-nas, meio ambiente e biodiversidade de modo geral.

Trata-se de um acervo que, na opinião do pesquisadorAdilson Serrão, da Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), embreve será multiplicado. "Nas duas últimas décadas e na pró-xima será produzida mais informação sobre a Amazônia do queem toda a sua história", assegura. Peter Toledo, diretor doMuseu Paraense Emílio Goedi, embora também acredite emavanços significativos na geração de conhecimento, enfatizaque há ainda grande necessidade de pesquisadores na regiãopara desvendar o seu funcionamento. Mas o trabalho realizadoaté hoje permite tornar mais fácil a tarefa. Mapas, por exem-plo, já definem os regimes climáticos e as tendências de modi-ficação no ambiente, dando confiabilidade às políticas depreservação e desenvolvimento.

AgroC&T - ABRIL DE 2002

?

71

CAPA

Manejo Florestal é realidadeNa Amazônia, a pesquisa busca mudar o cenário atual conser-

vando os recursos naturais e aumentando a rentabilidade dosempreendimentos florestais. Um dos desafios é permitir a pas-sagem do sistema extrativista de exploração para um regime demanejo sustentável, com a conservação da floresta. Tecnologiasdemonstraram que o manejo e a conservação ambiental são com-patíveis e grande parte desse mérito é atribuído à pesquisa que, hácerca de 25 anos, é desenvolvida pela Embrapa e seus parceiros.

O manejo florestal de baixo impacto, por exemplo, é voltadotanto para madeireiros de grande porte quanto para comunidadesde agricultores familiares inseridas na floresta. A tecnologia saiudos experimentos científicos e vem, em escala crescente, sendoutilizada pelos madeireiros, que mudaram técnicas de exploraçãoda floresta. Há algumas décadas essa forma de explorar os recur-sos florestais não passava de utopia, mas hoje é realidade e pré-requisito para competir no mercado internacional. O Brasil jápossui a maior área de floresta amazônica certificada.

Esse sistema de manejo voltado para o pequeno agricultor édesenvolvido em uma área com quatro hectares de reserva legal,resultando em um aumento de 50% na sua renda anual. A flo-resta passa a ser uma poupança que o agricultor pode recorrertodo ano, sem o risco de esgotá-Ia.

18

A base de todo o trabalho está na integração entre floresta eindústria, treinamento em serviços e avaliação dos impactos soci-ais, econômicos e ambientais, o alicerce para que as empresaspossam ostentar o cobiçado "selo verde" com a logomarca do FSC- sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal. Outras tec-nologias de manejo sustentável da floresta de sucesso são omanejo de produtos não madeireiros, o manejo de uso múltiplo eo modelo de assentamento rural, dentre outros.

Reca: cooperar para produzir e preservar

Nos anos 1990, um grupo de migrantes assentados em Rondôniaviu-se diante de prejuízos acumulados nas lavouras de arroz e milhoem plena floresta. A baixa produtividade e a impossibilidade deregressar para o Sul e o Sudeste do país criaram um clima de frus-tração e angústia. Foi quando nasceu o Projeto de ReflorestamentoEcológico, Consorciado e Adensado (Reca), que hoje congregaquase 400 famílias. Com o apoio de organizações não governa-mentais nacionais e internacionais, técnicos, pesquisadores e Igreja,o Reca investiu no consórcio de plantas nativas, como cupuaçu,pupunha, castanha-do-brasil, essências florestais, gramíneas e for-rageiras. O resultado é uma espécie de bosque que imita a própriafloresta, protegendo o solo das intempéries e da erosão.

A agroindustrialização foi o passo seguinte, que trouxe opor-tunidades de negócio com outras regiões. Hoje, os produtoresexportam polpa de cupuaçu e palmito de pupunha para váriosestados, garantindo renda e planos para novos investimentos. Odesafio da pesquisa prossegue quando se revê a história daAmazônia, marcada pela exportação de matéria-prima. Hoje, aciência busca alternativas para agregar valor aos produtos regio-nais, permitindo que a população deixe o estágio de extrativistae passe a participar amplamente das diversas faces da cadeiaprodutiva do agronegócio.

AgroC&T - ABRIL DE 2002

Na agricultura, o uso do fogo, mesmopraticado há séculos pelos agricultoresamazônicos, é condenado em virtude deaspectos que variam dos prejuízos causa-dos ao meio ambiente à própria produçãoagrícola, que tende a decrescer. Quei-madas indiscriminadas prejudicam o solo,destroem a biodiversidade, agravam oefeito estufa e geram prejuízos econômi-cos e sociais irreversíveis.

Por meio de imagens de satélites, es-pecialistas concluíram que, apenas no perío-do entre 1999 e 2000, a floresta amazôni-ca perdeu uma área de 20 mil quilômetrosquadrados. Boa parte das queimadas foramproduzidas por pequenos produtores, que sevalem do fogo por causa do desconheci-mento de outras técnicas para trabalhar apropriedade e da dificuldade de acesso acrédito para adoção de tecnologias.

Foi pensando neste problema que umgrupo de entidades resolveu ampliar adifusão de tecnologias alternativas ao usodo fogo. Há dois anos, instituições comoAmigos da Terra, Embrapa, Senar, Secre-taria Estadual de Produção, Capeb, Caex,

CAPA

Colonos têm alternativas às queimadas

AgroC&T - ABRIL DE 2002 91

Universidade Federal do Acre,Amorex, prefeituras do Estadodo Acre, Ibama, Imac, Progra-ma Alternativas à Agriculturade Derruba e Queima (ASB/lcraf)e o Programa Proteger pro-movem treinamentos com pe-quenos produtores, extensio-nistas e multiplicadores parareduzir o volume anual dequeimadas. Os participantesaprendem a lidar com cercaelétrica, manejo de pastagens,sanidade animal, uso de es-terco e urina para adubação einseminação artificial.

Os grupos de produtoresselaram um acordo: em troca de apoiotécnico e insumos, comprometeram-se aadotar tecnologias e abolir a prática dasqueimadas. O objetivo é ter áreas de refe-rência que demonstrem que é possívelaumentar a produtividade e a renda nocampo sem novos desmatamentos equeimadas. As comunidades recebemassistência técnica, sementes e mudas

adaptadas a cada região, equipamentopara instalação da cerca elétrica e sêmen.O pacto é rompido e a comunidade perdeos benefícios se algum membro do grupofizer uso do fogo - mas isso não tem ocor-rido. Até o momento, mais de 800 pes-soas tiveram acesso aos treinamentos, atémesmo um grupo de produtores rurais eestudantes da Bolívia.

Manejo adequado evita fogoOutro projeto de sucesso para evitar a utilização do fogo na floresta é o Tipitamba,

uma parceria da Embrapa com o Governo alemão. A idéia principal é estimular o mane-jo da capoeira (vegetação secundária em pousio), substituindo o preparo de área via der-ruba-e-queima (a prática mais usual na agricultura familiar amazônica) pelo o de cortee trituração da capoeira. Esse sistema propicia maior flexibilidade ao período de plan-tio, além de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo.

A trituração da capoeira é feita por meio da Tritucap, um protótipo de trituradeiraacoplado a um trator 100 CV, desenvolvida e patenteada pela Embrapa e pelo Institutode Engenharia Agrícola da Universidade de Góttingen - Alemanha.

Além do preparo da área sem queima, o projeto busca a melhoria da capoeira pormeio do plantio de árvores leguminosas de rápido crescimento ao final do ciclo da últi-ma cultura para acelerar o acúmulo de carbono e nutrientes, por meio do acesso à águae aos nutrientes de camadas mais profundas do solo.

A associação dessas duas tecnologias traz vantagens econômicas e reduz os impactossobre a floresta. É possível, por exemplo, realizar dois períodos de plantio subseqüentes, inten-sificando o uso da terra de modo sustentável, com menor tempo gasto no preparo do solo.Sem a queima, não há perda de nutrientes por causa do fogo, há retenção de matéria orgâni-ca, melhora da estrutura física do solo e ausência de emissão de gases nocivos à atmosfera. _

CAPA

Colonos têm alternativas às queimadasNa agricultura, o uso do fogo, mesmo

praticado há séculos pelos agricultoresamazônicos, é condenado em virtude deaspectos que variam dos prejuízos causa-dos ao meio ambiente à própria produçãoagrícola, que tende a decrescer. Quei-madas indiscriminadas prejudicam o solo,destroem a biodiversidade, agravam oefeito estufa e geram prejuízos econômi-cos e sociais irreversíveis.

Por meio de imagens de satélites, es-pecialistas concluíram que, apenas no perío-do entre 1999 e 2000, a floresta amazôni-ca perdeu uma área de 20 mil quilômetrosquadrados. Boa parte das queimadas foramproduzidas por pequenos produtores, que sevalem do fogo por causa do desconheci-mento de outras técnicas para trabalhar apropriedade e da dificuldade de acesso acrédito para adoção de tecnologias.

Foi pensando neste problema que umgrupo de entidades resolveu ampliar adifusão de tecnologias alternativas ao usodo fogo. Há dois anos, instituições comoAmigos da Terra, Embrapa, Senar, Secre-taria Estadual de Produção, Capeb, Caex,

I

AgroC& T - ABRIL DE 2002

Universidade Federal do Acre,Amorex, prefeituras do Estadodo Acre, Ibama, Imac, Progra-ma Alternativas à Agriculturade Derruba e Queima (ASB/lcraf)e o Programa Proteger pro-movem treinamentos com pe-quenos produtores, extensio-nistas e multiplicadores parareduzir o volume anual dequeimadas. Os participantesaprendem a lidar com cercaelétrica, manejo de pastagens,sanidade animal, uso de es-terco e urina para adubação einseminação artificial.

Os grupos de produtoresselaram um acordo: em troca de apoiotécnico e insumos, comprometeram-se aadotar tecnologias e abolir a prática dasqueimadas. O objetivo é ter áreas de refe-rência que demonstrem que é possívelaumentar a produtividade e a renda nocampo sem novos desmatamentos equeimadas. As comunidades recebemassistência técnica, sementes e mudas

adaptadas a cada região, equipamentopara instalação da cerca elétrica e sêmen.O pacto é rompido e a comunidade perdeos benefícios se algum membro do grupofizer uso do fogo - mas isso não tem ocor-rido. Até o momento, mais de 800 pes-soas tiveram acesso aos treinamentos, atémesmo um grupo de produtores rurais eestudantes da Bolívia.

Manejo adequado evita fogoOutro projeto de sucesso para evitar a utilização do fogo na floresta é o Tipitamba,

uma parceria da Embrapa com o Governo alemão. A idéia principal é estimular o mane-jo da capoeira (vegetação secundária em pousio), substituindo o preparo de área via der-ruba-e-queima (a prática mais usual na agricultura familiar amazônica) pelo o de cortee trituração da capoeira. Esse sistema propicia maior flexibilidade ao período de plan-tio, além de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo.

A trituração da capoeira é feita por meio da Tritucap, um protótipo de trituradeiraacoplado a um trator 100 CV, desenvolvida e patenteada pela Embrapa e pelo Institutode Engenharia Agrícola da Universidade de Gbttingen - Alemanha.

Além do preparo da área sem queima, o projeto busca a melhoria da capoeira pormeio do plantio de árvores leguminosas de rápido crescimento ao final do ciclo da últi-ma cultura para acelerar o acúmulo de carbono e nutrientes, por meio do acesso à águae aos nutrientes de camadas mais profundas do solo.

A associação dessas duas tecnologias traz vantagens econômicas e reduz os impactossobre a floresta. É possível, por exemplo, realizar dois períodos de plantio subseqüentes, inten-sificando o uso da terra de modo sustentável, com menor tempo gasto no preparo do solo.Sem a queima, não há perda de nutrientes por causa do fogo, há retenção de matéria orgâni-ca, melhora da estrutura física do solo e ausência de emissão de gases nocivos à atmosfera. _

91

RECURSOS FLORESTAIS

Biofábrica vai produzir clones de curauáEm setembro será inaugurada em Belém (PA) a primeira biofábrica para

produção de mudas clonadas de curauá (Ananas erectofolius), planta dafamília das bromélias que tem uma fibra natural de grande resistência e hoje éutilizada em veículos automotores e produtos das indústrias têxtil, calçadista ede celulose. O projeto custará cerca de R$ 500 mil, com recursos da Financia-dora de Estudos e Projetos (Flnep), e com parceiras da Universidade Federaldo Pará e o Programa Pobreza e Meio Ambiente (Poema).

"A Embrapa vem realizando pesquisas de micropropagação do curauádesde a década passada e foi a grande responsável pelo avanço das pesquisascom clonagem de mudas na região", explica o pesquisador Osmar Lameira, daEmbrapa Amazônia Oriental (Belérn-Pà). A partir da tecnologia é possível pro-duzir mudas clonadas sadias, livres de pragas e doenças, a custos reduzidos,com maior produtividade de fibra, em grande quantidade e em curto espaço detempo. As plantas não têm espinhos (o que reduz acidentes na colheita e trazbeneficiamento) e podem ser cultivadas com menor espaçamento, possibili-tando aumento de produtividade.

A biofábrica receberá da Embrapa o primeiro material genético para a elo-nagem da planta em escala industrial e terá capacidade inicial de gerar 3 mi-lhões de mudas por ano, em uma área de 450 hectares. A produção já temdestino garantido: cerca de 250 pequenos produtores do nordeste paraense,área prioritária pela carência de alternativas econômicas. O resultado esperadoé de uma produção de aproximadamente 100 toneladas por mês da fibra.

Sinval Paíva, técnico da Emater-PA e do Poema, diz que há uma demandade compra garantida de 370 toneladas por mês de fibra de curauá pelas indús-trias têxtil, automotiva e calçadista. "O problema atual do setor é a falta de

mudas de qualidade para os produtores", explica. Comoestímulo para os agricultores, serão instaladas unidades dedemonstração de plantio de mudas clonadas de curauá emtrês municípios do Estado. A Embrapa já enviou 40 milmudas da planta para os municípios de Tomé-Açu,Castanhal e Ponta de Pedras (na Ilha de Mara]ó). _

~.

mesmo em áreas relativamente pequenas. O agricultor que sededicar à produção de manjericão e tiver sua própria destila-ria poderá obter cerca de dois mil dólares por hectare. Outravantagem é que, da produção da muda à colheita, a plantarequer quatro meses, enquanto o cultivo do pau-rosa demoraaproximadamente três décadas.

Novos investimentos permitirão que a pesquisa obtenhaaumento da qualidade e da quantidade de óleo produzido pelomanjericão. O aprimoramento do óleo deverá ser obtido pormeio da melhoria na nutrição da planta, do melhoramentogenético e também do avanço nos métodos de extração. _

Manjericão pode salvar pau-rosaPesquisa realizada pelo agrônomo Nilson Maia, do Instituto

Agronômico (lAC), comprovou que o manjericão, planta muitousada na culinária em todo o mundo, também produz o linalol,óleo usado na composição de perfumes, cosméticos, remédiose lubrificantes finos. A descoberta traz novas perspectivas paraa preservação ambiental, já que o linalol até então vinha sendoextraído do pau-rosa, árvore nativa da Amazônia e que seencontra em extinção por causa da exploração predatória eclandestina que começou já no século XVII.

O trabalho cria uma nova alternativa de renda para o pro-dutor brasileiro, pois permite alcançar um rendimento alto

I 10 AgroC&T - ABRIL DE 2002

Nova cebola pode ser armazenada por seis mesesOs produtores de cebola agora têm uma cultivar que pode ser armazenada durante

seis meses sem perda da qualidade. Desenvolvida pela Embrapa, a BRS Cascata temcor marrom-escura e elevada retenção de escamas (casca).

Segundo a pesquisadora Daniela Leite, da Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS), com a possibilidade de armazenagem maior, o agricultor pode obter melhor preçona entressafra, que começa em julho, época da entrada da cebola argentina. A culti-var é adequada às regiões produtoras do Rio Grande do Sul, mas os pesquisadoresbrevemente vão começar a testá-Ia em outros estados. _

Preocupado em abrir novas fronteiras de comercialização para o melão,um fruto de grande potencial mercadológico internacional, o Brasil estáinvestindo na expansão da Área Livre de Mosca-das-Cucurbitáceas(Anastrepha grandis), Apesar de pequeno, Ó inseto está impedindo o aumen-to das exportações. O pólo de fruticultura Assu/Mossoró, no Rio Grande doNorte, está livre da mosca, e o Ceará está próximo de conquistar a condiçãode área livre. Dois anos de estudos de monitoramento, coordenado pelaEmbrapa, demonstraram que uma área de 4.063 Km2, abrangendo seismunicípios do Estado, é uma zona livre da praga.

O resultado da pesquisa, que envolveu mais de 20 parceiros, públicos eprivados, permite que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentodê continuidade ao processo de adequação dos produtores cearenses àsdemais exigências internacion-ais. Uma das condições já está sendo atendida:a partir de agora os produtores de melão do Ceará, por meio da União dosAgronegócios do Vale do Jaguaribe (Univale), assumem a responsabilidadepelo monitoramento permanente da área. Será feito também o controle oficial,por meio de instruções normativas, decreto do governador e instalação de bar-reiras fitossanitárias. Tudo isso será auditado, sistematicamente, pelo Depar-tamento de Defesa e Inspeção Vegetal do Ministério.

Em 2001 o Brasil exportou 99,3 mil toneladas de melão, sendo 28,6 miltoneladas cultivadas no Ceará. A comercialização dos melões cearensesocorre, principalmente, para países da Europa e do Mercosul.

AgroC&T - ABRIL DE 2002

PRODUTOS

Variedade forrageirade cana mais eficiente

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desen-volveu uma variedade forrageira de cana com alto teor deaçúcar e menor teor de fibra. Ela proporciona maior ganhode peso para o gado, criando condições mais favoráveispara a alimentação animal. A IAC86-2480 é mais efici-ente do que a variedade padrão RB72454, atualmentea mais cultivada no Brasil e no mundo.

Além de o animal ter um ganho em peso de 18%,o uso da nova variedade possibilita melhor opera-cionalização da alimentação animal, diminuindo ocusto com mão-de-obra. O aumento da eficiência nacolheita chega a 30%, com a redução de parte do tra-balho manual. A colheita mecanizada também temganhos, já que a uniformidade da planta possibilitamaior rendimento com a máquina.

O trabalho foi desenvolvido pelo pesquisador MarcosGuimarães Landell em parceria com a Embrapa. Apesarde o Brasil ter a canavicultura mais eficiente do mundo,as lavouras de cana destinadas ao uso forrageiro não têma produtividade ideal. Segundo o IAC, mais de um mi-lhão de pecuaristas empregam a cana como forma alter-nativa de alimentação para animais.

Abacaxi sem fusarioseA Embrapa lançará até 2003 duas variedades de

abacaxi resistentes à fusariose, doença causada pelofungo Fusarium subglutinans e que se tornou a maisimportante no Brasil, ao causar altas perdas de frutos.Resultantes do programa de melhoramento genético,em condução na Embrapa Mandioca e Fruticultura(Cruz das Almas-BA), os dois híbridos já estão em fasede teste de campo nos estados de Tocantins, Paraíba,Minas Gerais e Bahia. Mais quatro híbridos, tambémresistentes à fusariose, têm perspectiva de lançamen-to em 2004/2005.

111

GESTÃO DE C&T

Embrapa inova nagestão de C&TQuando foi fundada, em 1973, a Embrapa tinha como objetivo a

modernização da agricultura brasileira. Tratava-se de elevar aprodução vegetal, animal e florestal. A atenção maior estava

voltada para o aumento da produtividade. O tempo e os vários exercíciosde planejamento estratégico fizeram que a Empresa ampliasse sua mis-são. Hoje, suas pesquisas ultrapassam as porteiras das propriedadesrurais, dirigem-se a toda cadeia do agronegócio e espelham, mais do quenunca, a preocupação com o meio ambiente, com a qualidade dos ali-mentos e com o bem-estar da sociedade.

Na mesma medida em que mudavam a missão e o foco do negó-cio, a Embrapa procurava amadurecer seu modelo de gestão paratorná-Io mais ágil, evoluindo para o atual, que permite à Empresa,de acordo com seu Diretor-Presidente, Alberto Portugal, o plenoatendimento às expectativas da sociedade e a princípios fundamen-tais como satisfação do cliente, estrutura- eficiente e avaliação deresultados, e a administração segundo um novo enfoque, no qual oplanejamento e a negociação de metas são valorizados.

O planejamento estratégico foi eleito, desde o início da 'décadade 1990, o instrumento de apoio para organização das transfor-mações internas, necessárias para ajustar a Empresa aos desafiosimpostos pela escassez de recursos e pelas novas demandas dasociedade brasileira. Mas, a partir da segunda metade dos anos1990, novo impulso destinado a modificar as rotinas operacionaisfoi dado e mais de 30 projetos gerenciais estratégicos implementa-dos, entre eles os sistemas de avaliação dos empregados e de todasas Unidades da Empresa e o processo de seleção pública para chefesdas Unidades Descentralizadas (ver matéria ao lado).

Os princípios desses projetos pautaram a estratégia gerencial pro-posta pela Diretoria Executiva para a gestão 1995-1998. Nessaestratégia, apresentava-se, com destaque, a Política Global de

Administração, embasada em trêspolíticas operacionais: Política dePesquisa e Desenvolvimento, des-tinada a garantir a qualidade dastecnologias Embrapa; Política deNegócios para Transferência deTecnologia, que visa garantir à so-ciedade, e em especial aos cli-entes e usuários, o acesso adequa-do a essas tecnologias e Políticade Comunicação Empresarial, voltada para garantir a todos os seg-mentos da sociedade informações sobre as atividades da Empresa e insti-tuir mecanismos de monitoramento da imagem da organização. A filosofiadas políticas operacionais integra também os conceitos expressos no IIIPlano Diretor da Embrapa, para o período de 1999 a 2003.

Como instrumento que permite ao Conselho de Administração, àDiretoria Executiva e ao corpo gerencial, monitorar os passos daEmpresa rumo ao cumprimento da missão, dos valores e dos objetivose das diretrizes preconizados no seu Plano Diretor, a Embrapa adotou,no fim da década passada, o Balanced Scorecard, método criadopelos americanos Robert Kaplan, professor da Harvard BusinessSchool, e David Norton, consultor em Gestão Estratégica, em que aestratégia da instituição, traduzida em processos, é estendida a todosos níveis organizacionais e envolve todos os empregados na sua exe-cução. A Embrapa foi uma das empresas pioneiras, no Brasil, naadoção do método, base do seu Modelo de Gestão Estratégica (MGE).

Agora, como aperfeiçoamento do modo de gerir a Empresa, estásendo implantado o Sistema Embrapa de Gestão (SEG). Nele, os dife-rentes níveis de gestão - estratégico, tático e operacional - estão inte-grados, os vários instrumentos e colegiados, agregados, e o MGE e aprogramação de Pesquisa e Desenvolvimento, antes representada pelochamado Sistema Embrapa de Planejamento, mais alinhados.

Agenda - No Sistema Embrapa de Gestão, no nível estratégico,o Plano Diretor é interpretado na forma da Agenda Institucional,que, ao lado do MGE, detalha as estratégias previstas no docu-mento maior da Empresa, traça diretrizes e instruções e apontacaminhos para o seu alcance.

No nível tático, organiza-se a programação - o portra/io da Em-presa -, concebida em cinco macroprogramas: três para projetos dePesquisa e Desenvolvimento (P&D), um para projetos deTansferência de Tecnologia e Comunicação Empresarial e outro quecontempla iniciativas traduzidas em projetos de melhoria gerencial eprocessos de alto impacto institucional. Tais projetos e processos,organizados nos macroprogramas e voltados ao desenvolvimento tec-

AgroC&T - ABRIL DE 2002

nológico do agronegócio, à competitividade e sustentabilidade dosetor e aos grandes desafios nacionais, são concretizados, no níveloperacional, nas Unidades de Pesquisa.

O SEG fortalece os colegiados nos diversos níveis de decisão eestimula a parceria, a multidisciplinaridade e a formação de redes depesquisa. "0 Sistema integra competências dentro e fora da Em-presa, ao garantir a participação dos atores internos e dos parceiros,e viabiliza o comparti1hamento de recursos, de capacidade intelec-tual e de infra-estrutura no trato de temas estratégicos para a so-ciedade", completa Alberto Portugal. Além do mérito técnico, antesjá objeto de avaliação rigorosa, o projeto, para integrar um macro-programa, deve ter mérito estratégico.

liA Embrapa propõe-se a um contínuo aperfeiçoamento do modelode gestão porque tem metas claras. O1Jerser sinônimo de qualidade empesquisa e desenvolvimento, estar cada vez mais orientada para o mer-cado e administrar o negócio com padrões de excelência. E por isso serreconhecida", finaliza Alberto Portugal.

~GESTAO DE C&T

Iniciativas são premiadasA preocupação da Embrapa com a excelência na gestão

resultou em propostas inovadoras na administração pública. Doisexemplos são o Sistema de Avaliação e Premiação porResultados e o processo de seleção pública para chefes dasUnidades Descentralizadas da Empresa, vencedores do "PConcurso Nacional de Experiências Inovadoras de Gestão naAdministração Pública Federal", promovido, em 1996, pelaEscola Nacional de Administração Pública (Enap), do entãoMinistério -da Administração e da Reforma do Estado.

O Sistema de Avaliação e Premiação reúne os resultados obti-dos pelas Unidades e empregados e reconhece o seu desem-penho. Distingue a premiação por resultados obtidos a partir documprimento de metas previamente negociadas, metas essasorganizadas em um Plano Anual de Trabalho (PAT) e no Sistemade Planejamento, Acompanhamento e Avaliação de Desempenho(SAAD). O objetivo é desenvolver e implantar sistemas integradosde avaliação e premiação, para subsidiar a alta administração nogerenciamento e valorização das Unidades que contribuem maispara que a Empresa cumpra seus objetivos e missão e para oprocesso de estímulo dos empregados.

A escolha de chefes por seleção pública obedece a critériosobjetivos previamente definidos. Os candidatos apresentam edefendem um plano de trabalho para a Unidade em conformidadecom as diretrizes da Empresa para P&D, Comunicação Empresariale Transferência de Tecnologia e Desenvolvimento Institucional, esão submetidos a uma avaliação oral diante de banca formada, atémesmo, por profissionais de fora da Empresa.

Pode concorrer qualquer pessoa que preencha os requisitosmínimos quanto à educação formal e à experiência profissional. ODiretor-Presidente, Alberto Portugal, explica que, além da ênfasena competência técnica e administrativa, é incentivado, por meiodesse processo, o envolvimento da sociedade na proposta de tra-balho das Unidades da Empresa.

Projetos de pesquisa foram reavaliadosJá no documento que apresentava a estratégia da Diretoria para o

período 1995-1998, ficava explícito o propósito de a qualidade dastecnologias estar adequada às demandas dos consumidores inter-mediários e finais. Iniciava-se o processo de reavaliação dos projetosde pesquisa. Aqueles que atendiam em sua totalidade a demandas dosetor produtivo tiveram continuidade, os que não, foram reformuladosou cancelados. O foco era concentrar esforços nas áreas estratégicaspróximas às de ponta do avanço científico, cristalizando tecnologiasem produtos e processos que pudessem chegar a todos. A preocu-pação com a agricultura familiar e com o meio ambiente, emborasempre presente nos projetos da Empresa, ganhou maior atenção.

AgroC&T - ABRIL DE 2002

Mercado, desenvolvimento do agronegócio, excelência no aten-dimento ao cliente e bem-estar de toda a sociedade também fazemparte desse novo enfoque. As Unidades da Empresa, quando doplanejamento de suas atividades, tiveram que se valer de métodosconfiáveis de identificação de demandas. Para a maior eficiênciadesse processo de identificação, a Empresa mais uma vez inovou einstituiu os Conselhos Assessores, formados por representantes doagronegócio e da sociedade em geral. Além dos ConselhosAssessores, a Embrapa reformulou, em 1997, seu estatuto e criou oConselho de Administração com a função de também apoiar a inte-ração com a sociedade quanto ao seu papel institucional.

13 I

~GRAOS

Até pouco tempo a soja e o algodão reinaram sozinhos nos campos do Cerrado, segui-dos de perto pelo arroz e pelo milho. Nos últimos anos, a região passou a produzir ou-tros tipos de grãos, como girassol, cevada e trigo. Hoje, por exemplo, quase 80% do

girassol plantado no Brasil está no Centro-Oeste.Uma nova geração de grãos, no entanto, está prestes a invadir o Cerrado brasileiro. A Embrapa

conseguiu adaptar dois produtos na região: o amaranto e a quinoa, cujascultivares estão sendo distribuídas aos pr~dutores para multiplicaçãodas sementes. Em breve eles poderão ocupar um nicho de mercado atéentão pouco explorado no país.

Ouinoa: dos Andes parao Planalto Central

A Embrapa lançou a primeira cultivar de quinoarecomendada para o cultivo no Brasil - a BRSPiabiru. Originária dos Andes, ela pertence à famíliado espinafre, podendo ser definida como "um espi-nafre que produz grãos".

A cultivar é tolerante à seca, tem elevada qualidade de proteína (quepode substituir a caseína do leite ou a proteína da carne bovina), ausên-cia de glúten e não apresenta saponina, substância amarga que limita autilização direta. Os grãos podem ser consumidos como cereal matinal,salada, transformados em farinha e usados pelas indústrias de alimen-tos para fabricação de pães, biscoitos e macarrão. Para alimentação ani-mal, podem ser utilizados pela indústria de ração ou com a planta inteirano sistema integrado lavoura-pecuária. A quinoa também tem utilidadepara a produção de palhada no sistema de plantio direto.

Por todas essas qualidades, a quinoa apresenta demanda crescenteno mundo, tanto por naturalistas quanto pelas pessoas alérgicas aoglúten. A pesquisa para obter a cultivar BRS Piabiru foi desenvolvidacom a participação da Universidade de Brasília, Universidade Federal deGoiás, Escola Superior de Ciências Agrárias de Rio Verde e daAssociação de Plantio Direto nos Cerrados. _

I 14 AgroC&T - ABRIL DE 2002

Brasil ganha primeiravariedade de amaranto

Os portadores de doença celíaca (alérgicos aoglúten) vão poder enriquecer sua dieta com a nova va-riedade de grão lançada pela Embrapa. Existem hojeno Brasil cerca de 300 mil pacientes celíacos. A dietade quem é alérgico ao glúten é restrita, pois não podeconsumir trigo, aveia, cevada, malte, centeio nem seusderivados. De acordo com Maria Elisete de FreitasQuero, da Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra),a oferta de produtos alternativos sem glúten é peque-na, e o preço, muito alto.

O BRS Alegria é a primeira variedade de amarantocom recomendação para o cultivo granífero no Brasil.Com alta qualidade protéica, livre do glúten, pode serconsumido como cereal matinal ou usado na fabri-cação de massas, pães, biscoitos e bolos.

O pesquisador Carlos Spehar, da EmbrapaCerrados, explica que o amaranto apresenta baixocusto para a implantação da lavoura, sendo necessáriousar apenas de 6 a 10 kg de sementes por hectare emplantio direto. O período entre a emergência e a matu-ração do amaranto é de 90 dias, ideal para culturaeconômica de safrinha. Pode ser utilizado também nanutrição animal - na alimentação de aves e suínos émais vantajoso que o milho ou a soja em razão do maiorbalanceamento natural em aminoácidos essenciais.

I' Novos milhos chegam ao mercadoA Embrapa está lançando cinco novas cultivares que prometem

mexer com o mercado de sementes - três de milho e duas de sorgo.A principal novidade é a BRS 1010, um híbrido simples de milho comgrãos laranja-avermelhados, alta produtividade e sanidade e recor-dista de produção nos ensaios nacionais nos últimos três anos. Osoutros lançamentos são o milho BRS 3003 e o BRS 1001, que aliamduas características importantes para o sucesso da plantação: altaprodutividade e estabilidade de produção (capacidade de se adaptaràs mudanças que ocorrem no ambiente). Os grãos são do tipo semiduroalaranjados (os preferidos pelo mercado). As três cultivares poderão serplantadas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, no norte do Paraná,sudoeste baiano e sul dos estados do Maranhão e do Piauí.

A Embrapa está lançando, também para a próxima safra, doishíbridos de sorgo, um granífero e outro forrageiro. O BRS 307 émais resistente às doenças foliares comuns do sorgo do que os prin-cipais concorrentes. Já o BRS 610 é um híbrido simples de sorgoforrageiro, de porte alto para silagem e alta produtividade dematéria seca. _

Satélites mapearão áreas de caféO Brasil está recadastrando

todo o seu parque cafeeiro com ba-se no sensoriamento remoto orbi-tal, usando imagens de satélite demédia e alta resolução. O trabalhofoi iniciado em maio pela Com-panhia Nacional de Abastecimento(Conab), em parceria com a Em-brapa e consultores do ConsórcioBrasileiro de Pesquisa e Desen-volvimento do Café (CBP&D/ Café).A coordenação é do Comitê Diretorde Pesquisa do Conselho Delibe-rativo da Política do Café (CDPC).

O trabalho proporcionará uma

Ag roC& T - ABRIL DE 2002

visão completa da superfície cul-tivada com café, análise e rnape-amento da distribuição espacial.O objetivo é obter dados atualiza-dos sobre tamanho, característicassociais, econômicas e agrícolas doparque cafeeiro nacional para sub-sidiar a adoção de políticas para osetor, estimativas e previsão de sa-fra. O banco de dados poderá serutilizado na transferência de tec-nologia de manejo da cultura, nolevantamento e monitoramento doparque cafeeiro e no planejamen-to e gerenciamento do setor. _

--------------- - ---=~.

GRÃOS

Embrapa e IAC desenvolvem cultivarescom cheiro de pipoca

Encontrado nas prateleiras de alguns supermercados dopaís, o arroz aromatizado ainda é um produto importa-do e caro - chega a custar cinco vezes mais que o tradi-

cional. Com o objetivo de atender a esse nicho de mercado,formado muitas vezes por restaurantes especializados, aEmbrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) come-çaram a desenvolver variedades brasileiras com as mesmascaracterísticas e menor preço.

O IAC iniciou o trabalho em 1992. Os pesquisadores acre-ditam que dentro de três anos as novas variedades estarãosendo comercializadas, com aromas de jasmim e pipoca. A cul-tivar com estágio mais avançado é IAC 500, que possui comoprincipal característica o sabor amanteigado, comparadomuitas vezes ao de uma pipoca de microondas. O Instituto estádesenvolvendo ainda cultivares de arroz adaptadas àscondições brasileiras, como o black rice e o selvagem.

A Embrapa prevê também que dentro de três anos os agri-cultores brasileiros poderão contar com outra cultivar com aromade pipoca. Designada por enquanto como CNA 8934, encontra-se em fase final de avaliação nas Regiões Norte e Centro-Oestedo país. A Empresa iniciará o processo de multiplicação desementes básicas a partir da próxima safra.

A CNA 8934 não requer cuidados especiais na conduçãoda lavoura: podem ser aplicadas as mesmas técnicas recomen-dadas para o arroz produzido no sistema de terras altas. A pro-dutividade é similar a outras cultivares de arroz e possui a van-tagem de ser mais resistente à brusone, doença fúngica quepode ocasionar perdas de até 100% da produção. Ela possuiatributos apreciados pelos consumidores brasileiros: proces-sados e embalados, os grãos são traslúcidos, com formatolongo-fino (agulhinha) e após o cozimento ficam macios e soltos.

A expectativa dos pesquisadores das duas instituições é deque as cultivares ocupem rapidamente nichos de mercado emtodo o país. "O agricultor terá uma alternativa para agregar valorao arroz com um diferencial de qualidade e, com isso, obter me-lhor preço", explica o pesquisador Emílio da Maia de Castro, daEmbrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goias-GO).

MEIO AMBIENTE

Pesquisa orienta uso delixo urbano na agriculturaUtilizar matéria orgânica proveniente do lixo urbano na agri-

cultura pode ser uma excelente alternativa para diminuir apoluição do meio ambiente. Mas uma questão impede o plenouso dessa prática noBrasil: a falta de estudos a respeito da quali-dade do composto de lixo urbano (CLU) para fins de comerciali-zação e normas que orientem o seu uso agrícola.

Foi pensando em resolver essa questão que a Embrapa, oInstituto Agrônomico de Campinas (IAC), a Escola Superior deAgricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), a Escola de Engenhariade Piracicaba (EEP) e a Universidade de Taubaté (Unitau) desen-volveram uma pesquisa para formalizar uma sistemática que tor-nasse viável o uso do CLU em solos agrícolas. O trabalho tomoucomo base 32 ensaios, conduzidos por pesquisadores nas culturasde hortaliças (alface, cenoura, chicória, beterraba e rabanete), arroz,feijão, cana-de-açúcar, triticale, milho, mandioca e aveia branca.

O uso agrícola de CLU produz melhores resultados quandoassociado aos adubos minerais, atuando como fonte primordialde nitrogênio, fósforo e potássio e trazendo reflexos na produtivi-dade agrícola das culturas mais exigentes em nutrientes.

A Embrapa já está disponibilizando publicações com tabelas parao cálculo da dosagem do composto de lixo e com a necessidade desua complementação com fertilizantes químicos para diferentes cul-turas, com base na análise de fertilidade do solo e nos teores totaisde nitrogênio, fósforo e potássio presentes no composto.

Os pesquisadores alertam, no entanto, que o uso deve ser disci-plinado e algumas restrições devem ser observadas pelo agricultor,como a quantidade de material inerte presente no composto (pontasde agulhas, lâminas de barbear, pregos, vidros etc) , os teores demetais pesados (que devem estar abaixo dos valores limites esta-belecidos) e a presença de patógenos, organismos que podem causardoenças aos seres humanos. A iniciativa está sendo financiada pelaFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (fapesp),Ministério de Ciência e Tecnologia e iniciativa privada.

lodo de esgoto tambémé excelente adubo

A pesquisa brasileira está avaliando a utilização debiossólido (produto derivado do tratamento dos esgotos)na agricultura. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente(Jaguariúna-SP) estão estudando principalmente o im-pacto ambiental deste produto. Apesar do valor agronômi-co do lodo ser inquestionável, sua utilização agrícola deveser cuidadosa, para não provocar danos ao meio ambi-ente, à cultura ou a quem o aplica.

Os experimentos estão sendo feitos com lodo deorigem doméstica e outro de composição urbano-industri-al, ambos usados na cultura do milho. Os resultadosmostram que o biossólido tem todos os nutrientes exigidospelas plantas e possui alto teor de matéria orgânica, me-lhorando a estrutura do solo. Assim, sua utilização agríco-la só dependente da eliminação efetiva de patógenos, queé a etapa que está sendo estudada atualmente. Com os resul-tados obtidos, o projeto dará subsídios para a elaboração denorma especificamente adaptada às condições brasileiras. _

Dejetos suínos viramfonte de renda em se

A Embrapa está liderando o maior esforço já feito pelo go-verno federal para transformar os dejetos suínos de ameaça aomeio ambiente em renda para o produtor. O Programa Nacionalde Meio Ambiente II (PNMA-II) investirá nos próximos três anoscerca de R$ 10 milhões em duas bacias hidrográficas loca-lizadas em Concórdia e Braço do Norte, municípios de SantaCatarina que concentram a produção de suínos.

A intenção é criar um modelo de intervenção de sucesso,que depois será levado para outras regiões com problemasambientais causados pelo manejo inadequado dos dejetossuínos. Boa parte dos recursos será gasta nas propriedadesrurais e não precisará ser devolvida pelos agricultores benefici-ados. Toda intervenção tecnológica será discutida com associ-ações de produtores.

Os resultados esperados do PNMA-II são a redução do vo-lume de dejetos líquidos nas bacias hidrográficas sele-cionadas, o aumento da capacidade de eliminação de polu-entes dos tratamentos, a agregação de valor aos dejetos e aimplantação de sistemas de tratamento nas propriedades.Para viabilizar esses objetivos, duas pequenas fábricas deadubo orgânico serão montadas. _

AgroC& T - ABRIL DE 2002

uas cultivares de girassol coloridodesenvolvidas pela Embrapa vão che-gar ao mercado no início de setembro.

Estarão sendo disponibilizados, por meio deoferta pública, 70 kg de sementes da BRSSaudade (amarelo de centro escuro) e .daBRS Oásis (mesclado) aos profissionais licen-ciados para cultivo das flores, o que corres-ponde a 1,5 milhão de girassóis.

O melhoramento genético tradicionalpossibilitou o desenvolvimento de flores comnove tonalidades diferentes para o girassol.Depois de lançar as duas primeiras cultiva-res, a Embrapa pretende colocar no mercadoas sementes para produção de outras sete to-nalidades de girassol: vinho; rosa claro, rosaescuro, amarelo limão de centro claro, ama-

relo limão de centro escuro, ferrugem claro eferrugem escuro.

As flores podem ser produzidas em pe-quenas áreas para atender mercados regio-nalizados. Em um hectare, é possível pro-duzir até 100 mil plantas de girassol. "Tra-balha-se com uma estimativa de produçãode 40 mil plantas por hectare", calcula a pes-quisadora Vânia Beatriz Castiglioni, daEmbrapa Soja (Londrina-PR). "O agricultorque vender cada flor a R$ 0,45 e tiver umcusto de produção de 50% terá um rendimen-to líquido estimado de R$ 8 mil por hectare",explica o pesquisador Marcelo Oliveira.Atualmente os preços praticados no mercadode flores do girassol comum (amarelo de centroescuro) variam de R$0,70 a R$ 1,00 a flor.

AgroC&T - ABRIL DE 2002• 17 I

AGROINDÚSTRIA

Novilho precoce do Pantanalchega às churrascarias

O consumidor brasileiro ganhou umanova opção de carnes finas nas

prateleiras dos supermercados e nas me-sas de churrascarias. É uma carne deorigem nova, muito macia e saborosa,mais barata e produzida a partir do no-vilho precoce (animal novo) criado de for-ma sustentável no Pantanal brasileiro.

O produto está disponível ao consu-midor por meio da linha Montana Pre-mium Beef, com selo de certificação dequalidade e custando apenas 10% a maisque os cortes comuns vendidos no super-mercado. Participam do projete o grupoMontana Grill (que reúne churrascariasem Campinas, Goiânia, São Paulo e Riode Janeiro) e a Associação das Churras-carias do Estado de São Paulo (Achuesp),que possui cerca de 100 associados.Juntos, consomem cerca de 1,2 miltoneladas de carne por mês - um abateaproximado de 12 mil cabeças mensais.

"A Embrapa teve um papel impor-tante no processo, articulando a aliançaentre pecuaristas do Mato Grosso do Sule empresários paulistas", explica o pes-quisador Ezequiel Valle, da Embrapa Ga-do de Corte (Campo Grande/MS). A Em-presa oferec.e suporte técnico ao projeto,orientando a seleção dos melhores gru-pos raciais e as verificações das especifi-cidades do novilho precoce. Ele salientaque é fundamental que os animais sejamprecoces, bem acabados, criados em am-biente confortável e sem estresse, sempreobservando o manejo pré-abate.

A aliança é a primeira que se temconhecimento no Brasil, envolvendoprodutor, frigorífico e consumidor. Ne-gociações estão sendo feitas para olançamento do projeto em Minas Ge-rais, por meio de uma parceria com oNúcleo de Produtores de Novilho Pre-coce de Uberlândia. _

Paraíba investe no"ouro vermelho"

O urucum está voltando a atrair a atenção deprodutores nacionais. Com a crise do mercado decorantes sintéticos (quase todos apontados comocancerlgenos), a produção de corantes naturais(principalmente os originados do urucum, rico embixina) passou a ser estimulada em vários pontosdo mundo. E a Paraíba, que na década de 1980chegou a responder por quase metade da produ-ção nacional, saiu na frente, investindo na revita-lização da cultura do "ouro vermelho", como foiapelidado na região.

Por meio da Empresa Estadual de PesquisaAgropecuária da Paraíba (Ernepa), já foram pro-duzidas e distribuídas mais de 400 mil mudas em2002, aumentando a área plantada em 98% eatingindo 800 hectares em 32 municípios. A pro-dução final passou para 1,2 mil toneladas ao ano.As mudas pertencem às cultivares Embrapa-2,Bico de Pato e Peruana Paulista, adaptadas pelapesquisa às condições daregião. Elas estão sendousadas principalmente nasubstituição dos urucuzaisantigos e improdutivos. _

Consumidor a rova resunto e salsicha ovinosO brasileiro vai descobrir outra novidade nas prateleiras dos

supermercados até o fim do ano: presunto e salsicha ovinos. Osprodutos, em fase final de acabamento, foram bem avaliados empesquisa sensorial realizada no primeiro semestre deste ano emBrasília-DF. A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria comdiversas instituições, como a Indústria e Comércio de Aditivos Ltda.de São Paulo (Adicon) e universidades federais de Santa Maria, RioGrande e Rio Grande do Sul.

Segundo a pesquisadora Eliane Monteiro, da Embrapa PecuáriaSul (Bagé-Rs), o presunto e a salsicha ovina buscam melhorar aformulação de embutidos, agregando valor à carne de ovinos jovense criando produtos adequados aos equipamentos industriaisnacionais, com preços mais acessíveis ao consumidor. Depois dosajustes de procedimentos tecnológicos, a pesquisa terá como focoa estabilidade do produto (física, química, organoléptica e microbi-ológica) e o custo para oferta ao mercado consumidor.

I 18 AgroC&T - ABRIL DE 2002

PECUÁRIA

I1,

~

Frango Colonialmuda mercado

O Frango Colonial Embrapa 041, desenvolvido pela Embrapa,está mudando o mercado de aves no Oeste de Santa Catarina.

Produzido por pequenos agricultores e vendido com a marca "FrangoVerde", o 041 tornou-se uma nova alternativa de renda no interior eum hábito de consumo na região. No início de 200 I, a prefeitura dePeritiba, município de cinco mil habitantes, que tem a agriculturacomo base econômica, resolveu criar um programa para dar oportu-nidade aos produtores que estavam fora das integrações das grandesagroindústrias. A saída foi apostar no Frango Colonial.

"Hoje temos 32 famílias criando de 550 a 1100 frangos. Nossa meta é envolvermos 80 famílias até o fim do ano", afirma OlmirRemussi, técnico da Prefeitura, responsável pelo projeto. Cada produtor está conseguindo lucrar R$ 1,25 por frango comercializado e arenda chega a um salário mínimo por mês. "É um dinheiro que ajuda muito os produtores, já que a criação do frango demanda pouca mão-de-obra e não interfere nas outras atividades que o agricultor desenvolve dentro da propriedade", explica Remussi.

O frango verde está tendo uma aceitação tão grande que até o fim do ano deve estar pronto um abatedouro exclusivo para o projeto -e então o abate semanal passará de 900 para 5 mil aves. A novidade está ajudando pequenos produtores de outros oito estados brasileiros.O investimento da Embrapa no desenvolvimento da proposta de criação agroecológica de aves foi de R$ 3,2 milhões. Com a venda, em2002, de matrizes do frango 041, a Embrapa Suínos e Aves (Concórdia-SC) espera arrecadar R$ 470 mil. _

Epamig propõe integraçãopecuária leiteira e de corte

Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais(Eparnig) estão desenvolvendo programa para ajudar os pecuaristas mineiros,particularmente aqueles com menor capacidade de investimento, a aumentara renda com uma alternativa econômica de exploração sustentável. ChamadoOrganização e Gestão da Pecuária Bovina, o trabalho defende o uso de ani-mais meio sangue (Fl), que produzem leite mais barato.

A pesquisa desenvolvida por Alberto Marcatti Neto, José Reinaldo MendesRuas e José Joaquim Ferreira prevê ainda a produção de bezerros de corte, pormeio do cruzamento de FI com touro Zebu. A integração entre pecuária lei-teira e de corte permitirá o incremento da produção de leite e da oferta de ani-mais de alta qualidade para o abate. Os primeiros resultados foram obtidos emfazendas experimentais da Epamig em várias regiões do Estado, mas a inicia-tiva privada já está adotando o modelo. Um exemplo é a Fazenda Calciolândia,do grupo Andrade Gutierrez. _

AgroC&T - ABRIL DE 2002

,Agua da chuva para.uso em granjasA Secretaria Estadual da Agricultura do

Estado de Santa Catarina e a Embrapa Suínos eAves (Concórdia-SC) firmaram parceria paraaproveitar a água da chuva e evitar que estiagensfuturas afetem a produção agrícola na região. Aidéia é implantar um sistema de cisternas debaixo custo que possa ser acoplado aos aviáriosou chiqueirões já existentes na região.

Os pesquisadores garantem que a água dachuva é a grande solução para a demanda cres-cente de água no interior do Estado. De acordocom uma simulação, caso fosse coletada a chuvade maio de 1995, mês em que menos choveunos últimos 10 anos (somente 23 milímetros) nooeste de Santa Catarina, seria possível recolherde um aviário de frango de corte 31 metros cúbi-cos de água, volume suficiente para fornecer olíquido durante oito dias para frangos com trêssemanas de idade. O sistema terá condições defornecer água para a limpeza das instalações epara os animais, desde que seguidas todas as ori-entações necessárias. _

19 I

BIOTECNOLOGIA

Rede-TB começa ,a testar vacinacontra tuberculose bovina

Um dos grandes problemas dos pecuaristas estáprestes a ganhar uma solução definitiva: o Brasil co-meçará a testar nos próximos meses uma vacinagênica preventiva para a tuberculose bovina. Hoje osanimais doentes precisam ser abatidos, por recomen-dação do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento.

As pesquisas estão sendo coordenadas pelaRede-TB, do Ministério da Ciência e Tecnologia, for-mada por 47 instituições nacionais e 170 cientistas.O objetivo é o desenvolvimento de uma vacina paracontrolar a tuberculose em seres humanos, mas ostestes clínicos serão feitos primeiro com bovinos. Ostestes com os animais serão realizados até setembro,por uma equipe formada por pesquisadores daUniversidade de São Paulo (USP), UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG) e da empresaRDBiotec. A expectativa é de que a vacina seja co-mercializada no final de 2003. _

I 20

mbate à praga do milhoUm inseticida eficaz, seguro para o meio ambiente e para o homem. Essas

são apenas algumas das vantagens do bioinseticida que está sendo desenvolvi-do pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG), em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas - MG), paracombater a lagarta Spodoptera frugiperda, que ataca as lavouras de milho. Res-ponsável pela perda de cerca de 30% da produção, a praga hoje é combatidacom inseticidas químicos, que, apesar de eficientes e apresentarem custosbaixos, provocam graves danos ambientais, atacando indiscriminadamente ou-tros animais, até mesmo os predadores naturais da praga, os baculovírus.

O bioinseticida baseia-se no controle da lagarta, por meio do próprio bacu-lovírus. Como eles agem lentamente, os pesquisadores buscaram formas depotencializar sua atuação. "Optamos, então, por uma estratégia mais rápida eeficaz: a modificação genética dos baculovírus, por meio da introdução de genesrelacionados à produção de toxinas em seu genorna", conta o professorEvanguedes Kalapothakis, que coordena a pesquisa juntamente com o professorMarcus Vinícius Gomez e o pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa.

Os genes são originários de aranhas e escorpiões e foram selecionados a par-tir do isolamento e da caracterização de toxinas produzidas por esses animais."Escolhemos genes de toxinas que atacam o sistema nervoso da lagarta e nãoatuam em mamíferos ou aves", explica Kalapothakis. As modificações genéticastestadas nos baculovírus aumentaram sua capacidade letal, reduzindo o tempode vida da lagarta em até 20%. "Os resultados são significativos, mas nossameta é chegar aos 50%", revela o professor.

A pesquisa é financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A Embrapa,além de realizar pesquisa em seus próprios laboratórios, fornece lagartas paraexperimentos e disponibiliza baculovírus por ela patenteados, específicos para ocombate da praga do milho. Os pesquisadores estão buscando parceiros na ini-ciativa privada, já que o bioinseticida possui um grande potencial de mercado. _

Vacina contra o carrapatochega à fase final

As pesquisas da Embrapa para a produção da vaci-na contra o carrapato bovino (Boophilus microplus)começam a entrar na fase final. As análises de eficiência feitas pelo pesquisadorRenato Andreotti, da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande - MS), dão contade que a proteção atingida pela vacina situa-se em 72,8%. As vacinas contra ocarrapato existentes até então apontam uma margem de proteção em torno de51 % no gado brasileiro e necessitam de, no mínimo, três doses de aplicação.Há no mercado internacional vacinas baseadas no gene da proteína Bm86, queatua no tubo digestivo do carrapato, mas que causam lesões que prejudicam odesenvolvimento do ácaro em sua fase de vida parasitária.

A vacina brasileira atua nas larvas do carrapato no momento em que sefixam nos bovinos, antes de iniciar sua vida parasitária, não causando dano aogado. O carrapato possui mecanismos de ataque que facilitam sua permanên-cia no corpo do bovino, evitando a resposta inflamatória no local da picada einibindo a sensação de dor no animal. A vacina atua justamente sobre uma pro-teína responsável por esse processo, fazendo que o boi se defenda mais rapi-damente contra o carrapato na sua fase de larva (quando ainda está frágil). Aresposta inflamatória no local da picada impede o carrapato de se alimentar, ea larva morre entre 24 e 48 horas. _

AgroC&T - ABRIL DE 2002

BUHECNOlOGIA

Genomas do frango e do boicomeçam a ser seqüenciadosA Embrapa está participando de duas

pesquisas estratégicas para o futu roda pecuária nacional: os seqüenciamentosdo genoma do frango e do genoma bovino.Em parceria com a Escola Superior deAgricultura Luiz de Queirós (Esalq/USP), dePiracicaba-SP, a pesquisadora Mônica Ledurtrabalha para mapear segmentos do geno-ma do frango que contenham genes quepossam estar influenciando certas caracte-rísticas de interesse econômico, como maiorquantidade de peito, redução de gordura nacarcaça e resistência a certos tipos de doen-ça, e para diminuir custos de produção.

Os primeiros resultados poderão sersentidos dentro de aproximadamente doisanos, mas a incorporação pela avicultura

brasileira levará mais tempo, pois dependeda validação dos resultados obtidos empopulações comerciais. "Não há dúvida deque a posse dessa informação será decisivadentro do mercado internacional do frango",prevê a pesquisadora. Experimentos simi-lares estão acontecendo apenas em paísesdo Hemisfério Norte, que possuem condi-ções ambientais diferentes do Brasil.

Bovinos - Já o genótipo dos bovinosestá sendo estudado por meio de mar-cadores genéticos, tornando possívelidentifica r as ca racterísticas de resistên-cia a parasitas que infestam o gado eprovocam doenças, a capacidade de pro-duzir mais leite e carne, a maior adap-tabilidade dos animais às condições

Nova técnica evitadisseminação do mal

da vaca louca,

A Embrapa desenvolveu um novo método para iden-tificar, de forma sistemática, proteínas e peptídeos deorigem animal presentes nas rações. A grande vantagemdessa técnica está no fato de que ela permite investigardiretamente a presença de proteínas animais com altasensibilidade, evitando com mais precisão a dissemi-nação de doenças como a da "vaca louca" (encefalopa-tia espongiforme bovina).

A Embrapa já está prestando serviços com o novométodo, realizando análises isoladas ou firmando con-tratos para análises periódicas para acompanhamentoda produção ou da fiscalização. Os principais usuáriosdo serviço são indústrias produtoras de rações, empre-sas de importação e exportação, ministérios e secre-tarias estaduais de Agricultura. O pedido de patente dametodologia foi depositado junto ao Instituto Nacionalde Propriedade Intelectual (INPI). _

AgroC& T - ABRIL DE 2002

tropicais e a resistência à mastite, queafeta o úbere da vaca.

"Queremos definir quais os genesresponsáveis por essas e outras caracterís-ticas de interesse econômico para apecuária", diz o pesquisador Mário LuizMartinez, da Embrapa Gado de Leite (Juizde Fora-MG). Para levar adiante os traba-lhos, a Empresa inaugurou um laboratóriode genética molecular e lançou a RedeNacional de Genoma Bovino, reunindoesforços de diversas instituições de todo opaís que realizam pesquisas na área. _

Pesquisa pode levar à criaçãode anti-hipertensivo feito comproteína de leite de cabra

Uma pesquisa da EmbrapaCaprinos (Sobral-CE) poderá levarà criação do primeiro medica-mento para combater a hiperten-são feito a partir de proteínas en-contradas no leite de cabra. Re-sultados preliminares de um estu-do do pesquisador Antônio Sílviodo Egito revelaram grande pos-sibilidade de obtenção de peptí-deos a partir da quebra de proteí-nas do leite por enzimas que apre-sentam ações anti-hipertensivas.

A trilha para a possibilidade defabricação desse medicamentocomeçou há dez anos com os tra-balhos de purificação da proteínaas1, encontrada no leite de vaca,que apresenta efeito tranqüilizantee já está sendo comercializada na

Europa com o nome de Positéa. Naépoca, Antônio Egito fazia parte daequipe do professor Jean-LucGaillard, da Universidade HenriPoincaré, em Nancy, na França.

Utilizando o modelo de que-bra de proteínas do leite de égua,que mostrou a presença de açãoanti-hipertensiva em testes reali-zados in vitro, e comparando esseresultado com a mesma proteínado leite de cabra, o pesquisadoracredita ser possível obter frag-mentos com a mesma atividade.A novidade vai permitir o surgi-mento de novas linhas de pes-quisas não só na universidade fran-cesa, onde Antônio Sílvio do Egitodesenvolveu sua tese de doutora-do, como na Embrapa Caprinos. _

21 I

OPINIAOJosé Roberto Rodrigues Peres

Agronegóci·o como fator dedesenvolvimento sustentável da AmazôniaA política brasileira para o desenvolvimen-

to sustentável da Amazônia está deline-ada para solucionar questões de integraçãonacional, de promoção do crescimento eco-nômico e social, associadas inteiramente àutilização racional dos recursos naturais, semperder de vista a preservação do meio ambi-ente. Essa política, às vezes, causa controvér-sia junto à sociedade civil organizada (ONGs),identificada com a preservação e a conser-vação do meio ambiente e que luta para res-tringir o uso das florestas e outras formas devegetação nativa. Ao mesmo tempo, os seg-mentos produtivos do agronegócio brasileiroentendem que o controle e a gestão públicados ecossistemas naturais devem ser flexibi-lizados, por meio da caracterização ambien-tal, buscando assegurar o desenvolvimentoeconômico, o bem-estar social e a competi- .tividade do setor agrícola brasileiro.

Nesse contexto, nos últimos 29 anos, oSistema Nacional de Pesquisa Agropecuáriavem gerando e disponibilizando tecnologias,de forma a proporcionar grandes transforma-ções nos processos de produção agropecuáriae florestal, bem como no planejamento, no usoe na gestão dos recursos naturais da região.

Apesar desses avanços signiticativos doconhecimento do ecossistema amazônico, naprática, ainda estamos longe de atingir o quese conceitua desenvolvimento sustentável. Osdesafios são muitos e só serão vencidos de-pois que, a partir desses conhecimentos, fo-rem definidos modelos de desenvolvimentodo Agronegócio que proporcionem uma per-feita integração homem-meio ambiente-tec-nologia. Como são incalculáveis esses de-safios, elencamos aqui três temas ligados àprodução primária, que merecem uma re-flexão maior: biodiversidade, desmatamento /queimadas e produção agropecuária.

Chamamos a atenção para o potencial eo uso da biodiversidade na Amazônia. Ape-sar do esforço das pesquisa pública e privadaem caracterizá-Ia, das 11 mil espécies devegetais identificadas, apenas 1,2 mil estãosendo utilizadas como recursos biológicos,isto é, só têm uso reportado na forma extra-tivista pelas comunidades locais e indígenas.

I 22

Destas, somente 80 espécies se tornaramrecursos genéticos sem i-domesticados, e nãochega a dez o número das espécies que têmbanco de germoplasma - das quais apenascinco estão sendo usadas como produtos deexploração econômica e social.

Quando se trata da caracterização dosmicroorganismos amazônicos pode-se dizerque este é ainda um mundo desconhecido.Por isso estamos deixando de utilizar estariqueza natural nas nossas indústrias de fár-macos, biorremediação, bioinsumos, agroa-limentícias etc. É necessário que urgente-mente sejam disponibilizadas mais verbaspara ciência e tecnologia para que essesrecursos genéticos sejam transformados emrecursos econômicos.

Desmatamento e queimadas - Hoje aárea desmatada na Amazônia, que bem oumal foi incorporada ao processo produtivo,ultrapassa 55 milhões de hectares. O quepreocupa é que, apesar de todo esforço go-vernamental, ainda se desmata e queima,desde vegetação secundária à floresta densa,ao redor de l.500.000 hectares por ano.Calcula-se que existem cerca de 600 milfamílias de pequenos produtores na região,que, de acordo com o pesquisador AlfredoHomma, da Embrapa Amazônia Oriental(Belérn-Pà), derrubam e queimam cerca dedois hectares por ano para sua atividade deroça e que os cultivam por apenas dois anos.Isso significa um desmatamento inercial de1.200.000 ha/ano.

Considerando estimativas já realizadas deque o desmatamento de um hectare de flo-resta produz 100 toneladas de CO2, e que ocusto de eliminação de 1 tonelada de CO2 daatmosfera está ao redor de US$ 12, podemosafirmar que cada hectare queimado na Ama-zônia custa US$ 1,3 mil, gasto que pode serevitado com a utilização, em áreas já des-matadas, de tecnologias simples que per-mitem ao pequeno produtor permanecer namesma área por muito mais tempo.

A meta do protocolo de Kyoto é reduzircerca de 6 bilhões de toneladas de carbonopor ano. Os países desenvolvidos signatáriosdo protocolo poderiam ajudar o Brasil a preser-

var e recuperar nos-sa floresta compran- LL "'--_

do cotas de retenção de CO2, o que seriadesejável por toda a comunidade mundial.

Produção - A agropecuária naAmazônia é uma realidade. Hoje existe naregião um rebanho com mais de 35 mi-lhões de bovinos, e uma produção signi-ficativa de dendê, pimenta-do-reino, cupua-çu, açaí, guaraná, castanha-do-pará, ma-deiras nativas, frutas exóticas, grãos etc. Sepor um lado essa agricultura obteve váriosavanços, por outro ainda é significativo obaixo uso de tecnologia e a agricultura desubsistência de derruba e de queima.

Nos anos recentes uma série de fatoresdespertou interesse do setor privado emexpandir a produção de grãos na região.Essas facilidades aumentam a oferta de opor-tunidades para a materialização do agronegó-cio, com amplas possibilidades de criar em-prego e renda, mas algumas vêm cercadas depreocupações ecológicas.

Nesse contexto, uma posição deve serdeixada clara: a Embrapa não fomentará, nemestimulará o plantio de grãos na Amazônia,mas estará presente nos avanços das culturas,atendendo às demandas de pesquisa e desen-volvimento dos setores público e privado.Existem mais de 55 milhões de hectares deáreas antropizadas na Amazônia e, se fosseintensificada a agricultura em 40% destaárea, poderíamos produzir mais de 60 mi-lhões de toneladas de grãos por ano, sem anecessidade de novos desmatamentos.

Por fim, para que de fato o agronegócioamazônico cumpra o seu papel na melho-ria das condições de vida da populaçãorural e urbana com preservação ambiental,será necessário um aumento substancialnos investimentos em C&T, bem como acriação de políticas públicas que viabilizemo uso das alternativas tecnológicas já exis-tentes, e promovam medidas acautelado-ras, dirigidas à proteção e à conservaçãoambiental.

José Roberto Rodrigues Peres é pesquisadorediretor-executivoda Embrapa

AgroC&T - ABRIL DE 2002

BEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EmbrapaAssessoria de Comunicação SocialParque Estação Biológica - PqEB S/n'Edifício Sede - Plano Piloto70770-901 - Brasília, DFFone (61) 448-4207 - Fax (61) 347-4860Email: [email protected]

Embrapa AcreRodovia BR-364, km 14 - Cx. Postal 321CEP 69908-970 - Rio Branco, ACFone (68) 212-3200

Embrapa AgrobiologiaRodovia BR 465, km 47 - Cx. Postal 74.505CEP 23851-970 - Seropédica, RJFone (21) 2682-1500

Embrapa Agroindústria de AlimentosAv. das Américas n' 29.501 - GuaratibaCEP 23020-470 - Rio de Janeiro, RJFone (21) 2410-7400

Embrapa Agroindústria TropicalRua Ora. Sara Mesquita, 2.270 - Bairro PiciCEP 60511-110 - Fortaleza, CEFone (85) 299-1800

Embrapa Agropecuária OesteRodovia BR 163, km 253,6 - Cx. Postal 661CEP 79804-970 - Dourados, MSFone (67) 425-5122

Embrapa AlgodãoRua Oswaldo Cruz,l.143 - CentenárioCEP 58107-720 - Campina Grande, PBFone (83) 341-3608

Embrapa AmapáRod. Juscelino Kubitschek, km 5 - Cx. Postal 10CEP 68903-000 - Macapá, APFone (96) 241-1551

Embrapa Amazônia OcidentalRodovia AM-01O, km 29, Esl. Manaus/ltacoatiaraCx. Postal 319 - CEP 69011-970 - Manaus, AMFone (92) 621-0300

Embrapa Amazônia OrientalTrav. Or. Enéas Pinheiro sIn' Bairro do MarcoCEP 66095-100 - Belém, PAFone (91) 276-6333

Embrapa Arroz e FeijãoRod. Goiânia a Nova Veneza - km 12 - Cx. Postal 179CEP 75375-000 - Santo Antônio de Goiás, GOFone (62) 533-2110

Embrapa CaféParque Estação Biológica - PqEB S/N, Edifício SedeFone (61) 448-4378

Embrapa CaprinosEstrada Sobral - Groaíras, km 4 (Fazenda Três Lagoas)Cx. Postal - 0-10 - CEP 62011-970 - Sobral, CEFone (88) 677-7000

Embrapa CerradosBR 020, km 18, (Brasília/Fortaleza)CEP 73301-970 - Planaltina, DFFone (61) 388-9898

ENDEREÇOSEmbrapa Clima TemperadoRodovia BR 392, km 78 - Cx. PostaCEP 96001-970 - Pelotas, RSFone (53) 275 8100

Embrapa FlorestasEstrada da Ribeira, km 111 - Cx. PcCEP 83411- 000 - Colombo, PRFone (41) 666-1313

Embrapa Gado de CorteRodovia BR 262, km 4 - Cx. PostalCEP 79002-970 - Campo Grande,Fone (67) 368-2000

Embrapa Gado de LeiteRua Eugênio do Nascimento, 610 -CEP 36038-330 - Juiz de Fora, MIFone (32) 3249-4700

Embrapa HortaliçasRodovia BR 060 km 09 (Brasília-CCx. Postal 218 - Fazenda TamandiCEP 70359-970 - Brasília, DFFone (61) 385-9000

Embrapa Informação TecnológicaParque Estação Biológica - sIn' - ICEP 70770-901 - Brasília, DFFone (61) 448-4162

Embrapa Informática AgropecuárisCidade Universitária Zeferino VazCampus da Universidade EstaduaUnicamp - Bairro de Barão GeralcCEP 13083-970 - Campinas, SPFone (19) 3789-5700

Embrapa Instnumentação Agrore<--.~-Rua XV de Novembro, 1452 - CentroCEP 13561-160 - São Carlos, SPFone (16) 274-2477

Embrapa Mandioca e FruticulturaRua Embrapa, sIn' - CEP 44380-000Cruz das Almas, BAFone (75) 621-8000

Embrapa Meio AmbienteRodovia SP 340, km 127,5 - Cx. Postal 69Bairro Tanquinho Velho - CEP 13820-000Jaguariúna, SPFone (19) 3867 -8700

DATA DE DEVOLUÇÃO

teF

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISAAGROPECUÁRIA - EMBRAPA

é, RS

Embrapa Meio-NorteAv. Duque de Caxias, 5.650, Bairro Buenos AiresCx. Postal 001 - CEP 64006-220 - Teresina, PIFone (86) 225-1141

Embrapa Milho e SorgoRodovia MG 424, km 65 - Cx. Postal 151CEP 35701-970 - Sete Lagoas, MGFone (31) 3779-1000

Embrapa Monitoramento por SatéliteAv. Or. Júlio Soares de Arruda, 803 - Parque São QuirinoCEP13088-300-Campinas, SPFone (19) 3256-6030

I de

Fone (43) 371-6000

Embrapa SolosRua Jardim Botânico, 1024 - CEP 22460-000Rio de Janeiro, RJFone (21) 2274-4999

Embrapa Suínos e AvesRod. BR 153, km 110, Vila TamanduáCx. Postal 21 - CEP 89700-000 - Concórdia, SCFone (49) 442-8555

Embrapa Tabuleiros CosteirosAv. Beira Mar, 3.250 - Cx. Postal 44CEP 49025-040 - Aracaju, SEFone (79) 226-1300

Embrapa Transferência de TecnologiaParque Estação Biológica - PqEB S/NEdifício Sede - Térreo - Plano PilotoCEP 70770-901 - Brasília, DFFone (61) 448-4522

Embrapa TrigoRodovia BR-285, km 174 - Cx. Postal 451CEP 99001-970 - Passo Fundo, RSFone (54) 311-3444

Embrapa Uva e VinhoRua Livramento, 515 - CEP 95700-000Bento Gonçalves, RSFone (54) 451-2144

www.embrapa.br • [email protected]

Novas tecnologias,novos produtos.A matéria-primaque faltava nasua produção.

PublicaçõesEmbrapa

Fone: (61) 448-4236Fax: (61) 340-2753

~"....'0,São mais de 400livros, 108 vídeos e31 CD-ROMs editadospara sua horta, suafazenda, sua pesquisa.

Enfim, parasua vida.

Vendas

Nossa livraria virtualWWw.sct.embrapa.br Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento