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LINGUAGEM ACADÊMICA Dossiê: Terapia Ocupacional ISSN 2237-2318 v. 7, n. 7, jul./dez. 2017

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LINGUAGEM ACADÊMICADossiê: Terapia Ocupacional

ISSN 2237-2318

v. 7, n. 7, jul./dez. 2017

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Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário

LINGUAGEM ACADÊMICADossiê: Terapia Ocupacional

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Reitoria / RectorateReitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor PivaPró-reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir BotteonPró-reitor Acadêmico: Prof. Me. Luís Cláudio de AlmeidaPró-reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Me. Pe. José Paulo Gatti

Conselho editorial / Publish CommitteProf. Dr. Alexandre Bonafim Felizardo (UEG)Prof.ª Dra. Alexsandra Loiola Sarmento (UNIMONTES)Prof.ª Dra. Aline Sommerhalder (UFSCar-SP)Prof. Dr. Antônio Donizetti Gonçalves de Souza (UNIFAL-MG)Prof.ª Dra. Camila de Araújo Beraldo Ludovice (UNIFRAN)Prof. Me. Carlos Alberto Marinheiro (CLARETIANO)Prof.ª Ma. Carmen Aparecida Malagutti de Barros (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Carolina Kesser Barcellos Dias (UNIPel)Prof. Dr. Christian José Quintana Pinedo (UFT)Prof. Me. Dirceu Fernando Ferreira (IFTM)Prof. Dr. Elvisney Aparecido Alves (CLARETIANO-SP e UNI-FACEF)Prof. Dr. Everton Luis Sanches (CLARETIANO-SP)Prof.ª Dra. Fatima Chechetto (UNESP)Prof. Dr. Fernando Donizete Alves (UFSCar-SP)Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Balieiro (UNISEB)Prof. Dr. Francisco de Assis Breda (CLARETIANO-SP)Prof. Dr. Glauco Nunes Souto Ramos (UFSCar)Prof. Me. Gustavo Henrique Cepolini Ferreira (UNIMONTES)Prof.ª Dra. Hilda Maria Gonçalves da Silva (UNESP)Prof. Dr. José Augusto de Oliveira (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Jussara Bittencourt de Sá (UNISUL)Prof. Dr. Juscelino Pernambuco (UNIFRAN)Prof.ª Dra. Maria Cecília de Oliveira Adão (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago (UFG)Prof. Dr. Pedro Guilherme Fernandes da Silva (IFAL)Prof. Dr. Renato Luis Tâme Parreira (UNIFRAN)Prof. Me. Ricardo Boone Wotckoski (CLARETIANO)Prof. Me. Rodrigo Ferreira Daverni (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Silvia Beatriz Adoue (UNESP)Prof.ª Dra. Semíramis Corsi Silva (UFSM)Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov (UFMS)Prof.ª Dra. Zenith Nara Costa Delabrida (UFS)

Informações Gerais / General InformationPeriodicidade: semestralNúmero de páginas: 151 páginasNúmero de artigos: 9 artigos neste volumeMancha/Formato: 11,3 x 18 cm / 15 x 21 cm

Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores

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Ling. Acadêmica Batatais v. 7 n. 7 p. 1-151 jul./dez. 2017

ISSN 2237-2318

Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário

LINGUAGEM ACADÊMICADossiê: Terapia Ocupacional

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© 2017 Ação Educacional Claretiana

Equipe editorial / Editorial teamEditor responsável: Prof. Me. Rafael Menari Archanjo

Organização / OrganizationProf.ª Dra. Camila Maria Severi Martins-Monteverde

Equipe técnica / Technical staff Normatização: Dandara Louise Vieira MatavelliRevisão: Cecília Zurawski e Filipi Andrade de Deus Silveira Capa e Projeto gráfico: Bruno do Carmo Bulgarelli

Direitos autorais / CopyrightTodos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Permuta / ExchangeOs pedidos de permuta devem ser encaminhados à Biblioteca da instituição:[email protected] Bibliotecária / LibrarianAna Carolina Guimarães – CRB-8/9344

Os trabalhos publicados nesta Revista são de inteira responsabilidade dos seus autores, não refletindo necessariamente a opinião do Claretiano – Centro Universitário, do Conselho Editorial ou da Coordenadoria Geral de Pesquisa e Iniciação Científica.

615.8515 L727

Linguagem acadêmica: dossiê terapia ocupacional: revista científica do Claretiano - Centro Universitário – v. 7, N.7 (jul./dez. 2017) -. – Batatais, SP: Claretiano, 2017.

151 p.

Semestral. ISSN: 2237-2318

1. Terapia ocupacional - Periódicos. I. Linguagem acadêmica: revista científica do Claretiano – Centro Universitário.

CDD 615.8515

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Sumário / Contents

Editorial / Editor’s note

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL PAPER

Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com paralisia cerebralOccupational Therapy in the children’s treatment with cerebral paralysis

A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: uma revisão da literaturaThe work of the occupational therapist with children and adolescents in situations of social vulnerability: a review of the literature

A importância da Terapia Ocupacional no brincar da criança com autismoThe importance of Occupational Therapy in child’s play with autism

Prevenção primária ao uso abusivo de drogas no campo da Terapia Ocupacional: uma revisão bibliográfica sistemáticaPrimary prevention of abusive drug use in the field of Occupational Therapy: a bibliogr revision

Alterações nos papéis ocupacionais de mulheres após diagnóstico de câncer: uma perspectiva da Terapia OcupacionalChanges in the occupational roles of women after cancer diagnosis: a perspective of Occupational Therapy

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A atuação da Terapia Ocupacional na prevenção de quedas de idosos em seus domicílios: revisão da literaturaRole of occupational therapy in the prevention of falls in the elderly in yours domicilies: literature review

A importância da Terapia Ocupacional na promoção da saúde de idosos para a manutenção da qualidade de vida: uma revisão da literaturaThe importance of Occupational Therapy in the promotion of elderly health for the maintenance of quality of life: a review of the literature

A Terapia Ocupacional e as possibilidades de intervenção na Síndrome de RettOccupational Therapy and the possibilities of intervention in Rett Syndrome

Terapia Ocupacional na inclusão escolar da criança com deficiência mental: uma revisão da literaturaOccupational Therapy in school inclusion of children with mental disability: a review of literature

Política Editorial / Editorial Policy

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Editorial / Editor’s note

Prezado(a) leitor(a),

É com muita satisfação que apresentamos o primeiro Dossiê: Terapia Ocupacional, publicação veiculada na Revista Lingua-gem Acadêmica do Claretiano – Centro Universitário.

No presente volume, apresentamos 9 artigos, sendo compos-tos por 1 centrado numa pesquisa de campo na área da Oncolo-gia e 8 estudos de revisão da literatura nas diversas especialidades de atuação da Terapia Ocupacional: Campo Social, Saúde Mental, Neurologia Infantil, Gerontologia, Educação Inclusiva.

O objetivo da publicação deste dossiê é contribuir com a lite-ratura científica da Terapia Ocupacional, evidenciando lacunas ain-da existentes, e também compartilhando conhecimentos cultivados no Claretiano – Centro Universitário.

Desejamos que os conhecimentos produzidos nesta edição sejam propulsores da ampliação da cientificidade da Terapia Ocu-pacional.

Desejo uma excelente leitura!

Prof.ª Dra. Camila Maria Severi Martins-MonteverdeCoordenadora dos Cursos de Graduação e Pós-graduação de Terapia

Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário

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Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com paralisia cerebral

Fernanda Camila Alves MUSCARIONE1

Karina Cristiane PIMENTA2

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE3

Aline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO4

Resumo: O presente estudo tem como objetivo verificar na literatura quais os tratamentos realizados pelo terapeuta ocupacional em crianças com paralisia cerebral. O método utilizado neste estudo foi uma revisão bibliográfica realizada na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar e na base de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil). Os critérios de inclusão estabelecidos foram publicações em português dos últimos 14 anos. Foi possível observar a necessidade de artigos na intervenção terapêutica ocupacional em adolescentes e adultos com paralisia cerebral. O estudo possibilitou uma identificação de um grande campo de trabalho com a população infantil, proporcionando um desenvolvimento saudável e uma melhor qualidade de vida, por meio dos recursos terapêuticos.

Palavras-chave: Criança. Paralisia Cerebral. Terapia Ocupacional.

1 Fernanda Camila Alves Muscarione. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Karina Cristiane Pimenta. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 4 Aline Cirelli Coppede-Ribeiro. Doutora em Educação Especial, Mestra em Terapia Ocupacional e Especialista em Neuropediatria pela Universidade de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Occupational Therapy in the children’s treatment with cerebral paralysis

Fernanda Camila Alves MUSCARIONEKarina Cristiane PIMENTA

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDEAline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO

Abstract: The present search has the goal to check in the literature, which treatments should be performed for the Occupational Therapist in children with cerebral palsy. The method used in this search was a literature review in the followings databases: Sao Paulo University magazine of Occupational Therapy, and Sao Carlos University occupational therapy and some nacional data base like Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil). The roles of the inclusion method were defined in the Portuguese language and literature of the last 14 years. It was observed the need for articles in occupational therapy intervention in adolescents and adults with cerebral palsy. The study enabled identification of a large field of work with the child population, providing a healthy development and a better quality of life, through the therapeutic resources.

Keywords: Child. Cerebral Palsy. Occupational Therapy.

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1. INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral (PC) pode ser denominada como ence-falopatia crônica da infância, que ocorre no período pré, peri ou pós-natal, afetando o sistema nervoso central. A PC clinicamente apresenta alterações do movimento, da postura, do equilíbrio e da coordenação, com presença variável de movimentos involuntários. Essas alterações podem comprometer as funções do desempenho da criança (LEITE; PRADO, 2004).

No Brasil, o número da incidência depende do critério de diagnóstico de cada estudo, mas conclui-se que há uma alta inci-dência devido aos cuidados com as gestantes e das gestantes. Há várias causas da PC e, entre elas, as mais comuns são: desenvolvi-mento congênito anormal do cérebro, particularmente do cerebe-lo; anóxia cerebral perinatal, especialmente quando associada com prematuridade; lesão traumática do cérebro, no nascimento, geral-mente decorrente de trabalho de parto prolongado, ou uso de fór-ceps; eritroblastose por incompatibilidade Rh; e infecções cerebrais (encefalite) na fase inicial do período pós-natal (LEITE; PRADO, 2004).

De acordo com Schwartzman (1993) e Souza e Ferraretto (1998 apud LEITE; PRADO, 2004, p. 42):

[...] a PC pode ser classificada por dois critérios: pelo tipo de disfunção motora presente, ou seja, o quadro clínico re-sultante, que inclui os tipos extrapiramidal ou discinético (atetoide, coreico e distônico), atáxico, misto e espástico; e pela topografia dos prejuízos, ou seja, localização do cor-po afetado, que inclui tetraplegia ou quadriplegia, mono-plegia, paraplegia ou diplegia e hemiplegia.

O melhor tratamento está na prevenção, no diagnóstico pre-coce e na intervenção na criança por uma equipe multidisciplinar e pela família, não deixando faltar tratamento medicamentoso e, se for o caso, cirurgia. É necessário ter sempre um olhar que abrange não só pai, mãe e filho, mas familiares e comunidade (ROTTA, 2002).

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O profissional de Terapia Ocupacional tem como objetivo contribuir para a realização das atividades de vida diária no cotidia-no e facilitar a interação social, independentemente das característi-cas do indivíduo (sejam elas de ordem física, cognitiva ou psicoló-gica). O terapeuta ocupacional avalia e busca tratar os componentes de desempenho, de forma a interferir nas habilidades funcionais, proporcionado melhor qualidade de vida em relação aos deficit apresentados. Assim sendo, é necessário que o profissional de Te-rapia Ocupacional esteja sempre atento às tarefas ou atividades que o paciente venha a desempenhar, uma vez que, sendo ativo, o de-sempenho de tarefas e atividades proporciona qualidade de vida e bem-estar, contribuindo para inserção no contexto da ação humana e nas atividades cotidianas (CAVALCANTI; GALVÃO, 2007 apud MONTEIRO et al., 2012).

A avaliação feita pelo terapeuta ocupacional em crianças com paralisia cerebral é realizada de forma específica e individual, aten-dendo as demandas específicas e respeitando as características do ambiente onde vivem. Mesmo que a condição da PC possa muitas vezes ter alterações previsíveis, cada indivíduo terá suas alterações e dificuldades em diferentes contextos (MANCINI, 2004 apud MONTEIRO et al., 2012).

As limitações que a criança com paralisia cerebral encontra em seu desempenho ocupacional devem ser compreendidas pelo profissional de Terapia Ocupacional, uma vez que essas limitações influenciam o desenvolvimento da criança. Além disso, por meio da avaliação, o terapeuta ocupacional pode instituir um tratamento adequado ao paciente (CHAGAS et al., 2008; MONTEIRO et al., 2012).

Assim sendo, a avaliação torna-se essencial, podendo obter os resultados de análise de desempenho dessa criança, além de possibilitar a descrição e a mensuração de habilidades e limitações apresentadas para a realização de atividades de vida diária (AVD). Na aplicação da avaliação e na reaplicação, é possível avaliar a eficácia positiva ou negativa do plano de intervenções realizado (FONSECA; CORDANI; OLIVEIRA, 2005; MONTEIRO et al., 2012).

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Segundo Fonseca, Cordani e Oliveira (2004), quando se pre-tende avaliar a efetividade das intervenções terapêuticas ocupacio-nais junto à criança com PC, é fundamental a utilização de avalia-ções padronizadas e validadas que permitam traçar um diagnóstico funcional e mensurar a efetividade das intervenções adotadas.

O objetivo desse estudo é verificar na literatura quais os trata-mentos e recursos terapêuticos utilizados por profissionais da Tera-pia Ocupacional em crianças com paralisia cerebral, e a contribui-ção da TO na qualidade de vida, na autonomia e na inserção social dessas crianças.

2. MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com o intuito de buscar na literatura a intervenção da Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Foram utilizados os descritores “terapia ocupacional” e “paralisia cerebral”. Para dar início à pesquisa, foi feita uma busca científica em periódicos específicos da área de Terapia Ocupacional: Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo e Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Recorreu-se também à base de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil). Foram selecionados 14 artigos, dos quais nove foram incluídos na pesquisa. A tabela a seguir representa a realização das buscas.

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Tabela 1. Artigos encontrados, excluídos e incluídos, segundo a base de dados.

BASES DE DADOS ARTIGOS ENCONTRADOS

ARTIGOS EXCLUÍDOS

ARTIGOS INCLUÍDOS

SciELO 3 0 3

Revista do NUFEN 1 1 0

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

2 0 2

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFS-Car

4 0 4

Google 3 3 0Revista Brasileira de Fisioterapia 1 1 0

Total 14 5 9

Fonte: elaborado pelas autoras.

3. RESULTADOS

Dos nove artigos, três são da SciELO Brasil, dois da Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, quatro dos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar.

Com relação ao delineamento dos estudos, foram encontra-dos 14 artigos: oito (57%) de pesquisa de campo; dois (14%) de reflexão ou ensaio; três (22%) de revisão bibliográfica e um (7%) de revisão sistemática.

Nota-se que foram utilizados três instrumentos de avaliação na pesquisa, sendo eles: Classificação Internacional de Funciona-lidade (CIF); Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI); Physical Characteristics Assessment – Computer Access for Individuals with Cerebral Palsy (PCA). Há também uma entre-

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vista semiestruturada, um questionário filmagem e sete revisões em artigos em periódicos.

Tabela 2. Critérios utilizados no artigo.

MÉTODO UTILIZADO QUANTIDADE INSTRUMENTOS

Instrumento de avaliação 3

Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF);

Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI);

Physical Characteristics Asses-sment – Computer Access for Individuals with Cerebral Palsy (PCA)

Entrevista semiestruturada 1 Perguntas objetivasQuestionário e filmagem 1 Perguntas e filmagensArtigos 7 Artigos em periódicos

Fonte: elaborado pelas autoras.

Foram encontrados 14 artigos tendo como abordagem a inter-venção da Terapia Ocupacional e a criança com paralisia cerebral. Entre eles, três têm como foco principal a patologia (PC). Nota-se que 2002 foi o ano com o maior número de publicações – 3 artigos publicados. Observamos ainda que houve dois artigos publicados em 2002 e dois em 2008. Em 2005, 2006, 2009, 2013, 2014 e 2015, houve um artigo publicado por ano. O gráfico a seguir demonstra a distribuição de artigos publicados de acordo com o ano.

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Gráfico 1. Distribuição artigos por ano.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Foi observado ainda que, dos 29 autores dos artigos encontra-dos, apenas três – Thelma Simões Matsukura, Ana Cristina de Jesus Alvesa e Marisa Cotta Mancini – tiveram seus nomes apresentados em dois artigos diferentes cada. Os outros 26 publicaram apenas uma vez até o momento da pesquisa.

4. DISCUSSÃO

Tendo analisado todos os artigos referentes ao tema aborda-do neste estudo, foi possível observar a necessidade de avaliar a criança com paralisia cerebral (PC) por meio de instrumentos de avaliação válidos, a partir dos quais seja possível categorizar as demandas ocupacionais do indivíduo e acompanhar sua evolução durante todo o tratamento.

Dessa forma, por meio dos artigos, verificou-se a utilização de dois instrumentos de avaliação padronizados e validados. Um deles é a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), que tem como função avaliar o desempenho e a capacidade em uma situação de vida diária, em seu contexto real, e seu nível de funcio-

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nalidade e envolvimento de um domínio em determinado momento (FARIAS; BUCHALLA, 2002; LEITE; PRADO, 2004; ALVES; SPALVIERI, 2007, p. 580). O outro instrumento é a Avaliação Pe-diátrica de Incapacidade (PEDI), que utiliza entrevista estruturada com pais e responsáveis para que seja possível avaliar três áreas do desempenho: autocuidado, mobilidade e função social (ALLE-GRETTI; MANCINI; SCHWARTZMAN, 2004, p. 133).

A partir das leituras, notam-se as dificuldades do profissional de Terapia Ocupacional, uma vez que não encontram uma gama de instrumentos de avaliação brasileiros validados que possam contri-buir na qualidade do tratamento de PC.

Entretanto, são necessárias a escolha e a busca corretas de instrumentos que sejam referenciados, pois cada um possui uma finalidade específica que deve estar de acordo com os objetivos e a intervenção que se pretendem alcançar. A criança com paralisia cerebral deve ser avaliada com instrumentos capazes de mensurar o desenvolvimento, as funções e as evoluções durante o tratamento, proporcionando uma linguagem única entre profissionais e a equi-pe multidisciplinar (PINTO; VILANOVA; VIERA, 1997).

É importante ressaltar que a paralisia cerebral acarreta graves consequências cognitivas, físicas, emocionais e psicológicas, o que contribui para que o sujeito seja excluído dos ambientes social, escolar e familiar. Para que o indivíduo seja reinserido, a Terapia Ocupacional utiliza a tecnologia assistiva, que busca melhorar a qualidade de vida do paciente que está no processo de inserção.

Segundo a definição proposta pelo CAT, Comitê de Ajudas Técnicas (BRASIL, 2009), a tecnologia assistiva é uma área do co-nhecimento com característica interdisciplinar que inclui produtos, recursos, métodos, estratégias, práticas e serviços que têm como objetivo promover a funcionalidade voltada à atividade, buscando autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão do indi-víduo com deficiência (BRASIL, 2009; ROCHA; DELIBERATO, 2012, p. 264).

É importante destacar que a Terapia Ocupacional juntamente com a tecnologia assistiva contribui para a educação especial utili-

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zando recursos e estratégias que permitem favorecer o processo de aprendizagem diante das dificuldades.

Tem sido muito discutida no contexto de tecnologia assistiva a inserção do aluno com deficiência nas atividades pedagógicas. A participação do aluno com deficiência física pode favorecer o desenvolvimento dessa criança no contexto escolar, facilitando, por meio de recursos e aquisição de habilidades, pré-requisitos que são próprios da aquisição da leitura e da escrita (SAMESHIMA, 2011; ROCHA; DELIBERATO, 2012).

Para uma melhor qualidade de vida e autonomia de crianças com paralisia cerebral, aponta-se a importância da Terapia Ocupa-cional, que assume um papel importante mantendo sua intervenção baseada nas avaliações padronizadas e atendendo a demanda de cada indivíduo. Deve sempre se levar em conta que a população de crianças com paralisia cerebral é bastante vasta e que é exigindo um olhar voltado para o campo da reabilitação, física, social e mental do paciente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada sobre a atuação da Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com paralisia cerebral possibilitou iden-tificar a importância da T.O. nesse contexto de reabilitação, visando proporcionar funcionalidade e para que o sujeito desempenhe seus papeis ocupacionais. Para isso, utiliza-se como método avaliações padronizadas, além de adaptações para a inclusão do indivíduo, sendo possível, dessa forma, que ele tenha uma melhor qualidade de vida e autonomia. Por meio das buscas de artigos, nota-se que houve necessidade de os terapeutas ocupacionais fundamentarem suas práticas e produzirem artigos científicos, divulgando seus tra-balhos para o crescimento e reconhecimento da profissão.

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REFERÊNCIAS

ALLEGRETTI, A. L. C.; MANCINI, M. C.; SCHWARTZMAN, J. S. Estudo do desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral diparética espática utilizando o Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI). Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral, v. 1, n. 1, p. 35-40, 2004.

ALVES, F. D.; SPALVIERI, D. F. Fisioterapia aquática aplicada à pediatria. In: SACCHELLE, T.; ACCACIO, L. M. P.; RADL, A. L. M. Fisioterapia aquática. São Paulo: Manole, 2007. p. 588-598.

BRASIL. Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Comitê de Ajudas Técnicas. Tecnologia Assistiva. Brasília: CORDE, 2009. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/livro-tecnologia-assistiva.pdf>. Acesso em: 18 de ago. 2017.

CHAGAS, P. S. C. et al. Classificação da função motora e do desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 12, n. 5, p. 409-416, 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/ S1413-35552008000500011>. Acesso em: 18 de ago. 2017.

DORNELAS, L. F. et al. Aplicabilidade da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) para a avaliação de crianças com paralisia cerebral: uma revisão sistemática. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 3, p. 579-590, 2014. Disponível em: <http://doi.editoracubo.com.br/10.4322/cto.2014.080>. Acesso em: 18 ago. 2017.

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A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: uma revisão da literatura

Jean Euripedes da Silva FERREIRA1

Lais de Carvalho SOUZA2

Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES3

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE4

Resumo: A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência se dá por meio de atividades lú-dicas, expressivas e artísticas, possibilitando a exteriorização de sentimentos. O presente estudo tem como objetivo verificar na literatura quais são as abordagens realizadas pelos terapeutas ocupacionais. O método utilizado neste estudo foi uma revisão bibliográfica nas bases de dados: SciELO e LILACS. Além disso, fez-se busca manual em revistas de terapia ocupacional. Os critérios de inclusão estabelecidos foram de publicações no idioma português dos últimos 10 anos. Foram identificados 12 estudos sobre o tema. Foi possível observar a necessida-de de estratégias terapêuticas eficazes, objetivando a diminuição dos prejuízos e a prevenção da vulnerabilidade social e violência com crianças e adolescentes. O estudo possibilitou identificação de um grande campo de trabalho com essa população, exposta a desigualdade social e confrontos culturais, proporcionando um desenvolvimento saudável por meio de recursos terapêuticos.

Palavras-chave: Criança. Adolescente. Violência. Vulnerabilidade Social. Tera-pia Ocupacional.

1 Jean Euripedes da Silva Ferreira. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.0 Lais de Carvalho Souza. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Roselilian da Cunha Pereira Alves Rodrigues. Mestra em Ciências Médicas pelo Programa de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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The work of the occupational therapist with children and adolescents in situations of social vulnerability: a review of the literature

Jean Euripedes da Silva FERREIRALais de Carvalho SOUZA

Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUESCamila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: The work of the occupational therapist with children and adolescents in situations of social vulnerability and violence occurs through playful, expressive and artistic activities, allowing the externalization of feelings. The present study aims to verify in the literature which are the approaches performed by occupational therapists. The method used in this study was a bibliographical review, in the databases: Scielo and Lilacs. In addition, manual search was conducted in occupational therapy journals. The inclusion criteria established were in the Portuguese language and publications of the last 10 years. Twelve studies on this topic were identified. It was possible to observe the need for effective therapeutic strategies, with a view to reducing harm and preventing social vulnerability and violence with children and adolescents. The study allowed the identification of a large field of work with this population, exposed to social inequality and cultural confrontations, providing a healthy development through the therapeutic resources.

Keywords: Child. Teenager. Violence. Social Vulnerability. Occupational Therapy.

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1. INTRODUÇÃO

Vulnerabilidade social

A vulnerabilidade social é marcada pela fragilidade de víncu-los sociais e pela inserção precária no mundo do trabalho. A desi-gualdade social marca o cotidiano de várias famílias brasileiras que vivenciam situações de violência, desemprego, uso de drogas, entre outras, e, junto à condição de pobreza extrema, limita a garantia de sobrevivência e proteção de crianças e adolescentes dando origem à vulnerabilidade social (LOPES, 2006).

Embora a condição de crianças e adolescentes seja produto-ra de vulnerabilidades, de maior ou menor intensidade, a situação social dos grupos de crianças e adolescentes pobres se destaca pela precariedade das ações a eles destinadas, pela defasagem de acesso a seus direitos civis e sociais e de exercício desses direitos, assim como pelas construções sociais negativas que lhes são impostas. Isso os coloca em desvantagem social em relação aos grupos de crianças e adolescentes que detêm poder aquisitivo mais elevado, tornando-os alvos prioritários de situações de vulnerabilidade so-cial (PEREIRA; BARDI; MALFITANO, 2014).

Violência na infância e adolescência

As violências vivenciadas por crianças e adolescentes são um fenômeno global que atinge diversas classes sociais e culturais, cau-sando impacto sobre a qualidade de vida do indivíduo e se configu-rando como um grande problema de saúde (CÔRTES; CONTIJO; ALVES, 2011). Ao longo do processo de desenvolvimento vital, podem ser identificados fatores traumáticos intensos, associados a condições socioeconômicas adversas, como o trabalho infantil, a baixa renda, a desnutrição, a limitação dos recursos relacionados à escolaridade (muitas vezes, de má qualidade), a violência intra e extrafamiliar, o alcoolismo, entre outras adversidades que fazem

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com que o indivíduo geneticamente saudável possa apresentar al-terações no desenvolvimento biopsicossocial (ZAVASCHI, 2009).

Os fatores de violência mais comuns vivenciados por crian-ças e adolescentes são violência física, emocional ou psicológica, abuso sexual e negligência (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Violência física corresponde ao ato de aplicar força física contra a criança ou adolescente no processo disciplinador. A ação física pode ser um eventual tapa e até mesmo um espancamento que pode ser fatal (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Violência emocional ou psicológica é toda interferência negativa do adulto sobre a criança ou adolescente que a exponha a humilhações, chantagem, queixas, palavrões, por meio de gritos e comparações. Essas ações podem prejudicar a autoconfiança e autoestima (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Abuso sexual é todo jogo ou ato sexual entre uma pessoa adulta e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimulá-la sexualmente, ou utilizá-la para obter prazer ou satisfação sexual (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Negligência emocional caracteriza-se pela falha do cuida-dor ao fornecer as necessidades básicas emocionais e psi-cológicas, como amor, motivação e suporte (BERNSTEIN et al., 2003).

• Negligência física é quando os pais ou responsáveis fa-lham em termos de fornecer alimentação, vestuário ade-quado, entre outras necessidades básicas, como moradia, segurança, supervisão e saúde (BERNSTEIN et al., 2003).

Além de todos os fatores citados anteriormente, estudos in-dicam que outros tipos de violência são vivenciados na infância e adolescência, atingindo não somente as classes menos favorecidas, mas outros níveis sociais e culturais, que podem afetar o desen-volvimento saudável da criança ou adolescente. Essas situações po-dem, por exemplo, ser a separação ou divórcio dos pais e(ou) lares monoparentais, que ocorrem quando apenas um dos pais arca com

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as responsabilidades de criar ou educar o(s) filho(s). Tal fenômeno ocorre, por exemplo, quando o pai não reconhece a paternidade do filho e abandona a mãe, ou quando há perdas precoces de pais ou familiares, gravidez ou uso de drogas na adolescência, ou pela rotina agitada dos pais e carga horária de trabalho excessiva. Neste último caso, o(s) filho(s) pode(m) ficar em creches ou aos cuida-dos de terceiros, o que pode não possibilitar a formação de vínculo estável com o cuidador, que pode estar ligado à alta rotatividade dos profissionais que oferecem e trabalham nesse tipo de serviço. Outra adversidade infantil à qual crianças e adolescentes podem es-tar expostos é a ocorrência de transtornos psiquiátricos nos pais ou familiares, já que essa situação pode gerar carência afetiva, falta de cuidados e suporte, entre outros, colocando-os em vulnerabilidade social (ZAVASCHI, 2009).

2. TERAPIA OCUPACIONAL

A Terapia Ocupacional é uma profissão que aplica valores essenciais, conhecimentos e habilidades para auxiliar pessoas, or-ganizações e populações a se envolverem em atividades cotidianas ou ocupações que queiram e necessitem fazer de maneira a apoiar a saúde e a participação (CARLETO et al., 2010 apud AOTA, 2008).

A Terapia Ocupacional possui denominações diversas, e o espaço de intervenção pode ser na saúde, na educação, em progra-mas sociais, hospitais, escolas, centros comunitários, no ambiente de trabalho e doméstico. O público-alvo varia de bebês a idosos. A intervenção terapêutica ocupacional inicia-se a partir da avaliação de demandas ocupacionais, a fim de estabelecer metas e resultados que desejam ser alcançados pelo paciente, os quais podem ser: me-lhorar o desempenho ocupacional, ampliar a autonomia, garantir a inserção na comunidade, ou superar traumas e deficit sensoriais, cognitivos e funcionais (SOARES, 2007).

A Terapia Ocupacional na área social surge no Brasil no final da década de 70 e ganha força a partir da década de 80. Durante o regime militar, os terapeutas ocupacionais foram inseridos nas instituições totais, como os presídios, a antiga FEBEM (Fundação

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Estadual do Bem-Estar do Menor) – atualmente chamada de Fun-dação Casa –, e programas comunitários com perspectivas e deba-tes sobre a responsabilidade dos técnicos na formação de valores sociais, e para realizar questionamentos acerca do saber médico--psicólogico sobre as formas reducionistas e a compreensão do pro-cesso de saúde e doença. A Terapia Ocupacional no campo social vem contribuir para superar a questão contraditória das sociedades, marcada pela desigualdade, dissolução de vínculos, precarização do trabalho e vulnerabilização das redes sociais (BARROS; LO-PES; GALHEIGO, 2007).

A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adoles-centes que vivem em situação de vulnerabilidade social e violên-cia, principalmente as que sofrem violência ou abuso sexual, está levando a uma ótica nova por parte dos profissionais não só de Te-rapia Ocupacional, mas também de outros que trabalham com essa população. A Terapia Ocupacional na prática com crianças e ado-lescentes muitas vezes foca e objetiva os aspectos motores e cogni-tivos, o neurodensenvolvimento, entre outros. Assim, o profissional não se dá conta de que muitas vezes vários desses aspectos fazem parte, direta ou indiretamente, de sinais clínicos exteriorizados por crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social ou violência, seja esta física, emocional, sexual ou por negli-gência (ARAUJO, 2005).

Entretanto, sabe-se da falta de publicações e as dificulda-des em manter um acervo bibliográfico específico sobre a Terapia Ocupacional no campo social, tornando assim difícil a precisão das ideias, termos ou conceitos nesse campo de atuação. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar na literatura quais são as abordagens realizadas pelos terapeutas ocupacionais com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência.

3. MÉTODO

O método utilizado para realização deste estudo foi a revi-são da literatura no que diz respeito a artigos científicos na área da Terapia Ocupacional social. Os critérios de inclusão estabelecidos

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para este trabalho foram de publicações em língua portuguesa dos últimos 10 anos, nas bases de dados SciELO e LILACS. A Tabela 1 representa o percurso metodológico realizado pelos autores.Tabela 1. Artigos encontrados segundo base de dados e palavras-chave.

Base de dados Palavras-chave Artigos

encontrados

Artigos excluídos (motivo)

Artigos incluídos

SciELO

“terapia ocupacional” AND “vulnerabilidade social” AND “violência” AND “criança” OR “adolescente”

N= 0 N= 0 N= 0

SciELO

“terapia ocupacional” AND “violência” AND “criança” OR “adolescente”

N= 3N=1

(por não ser em português)

N=2

LILACS

“terapia ocupacional” AND “vulnerabilidade social” AND “violência” AND “criança” OR “adolescente”

N=2 N=0 N=2

TOTAL N=5 N=1 N=4

Fonte: elaborado pelos autores.

Devido à escassez de artigos nas bases de dados SciELO e LILACS, procedeu-se a busca manual de artigos científicos na Re-vista de Terapia Ocupacional da USP e nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Foram encontrados oito artigos condi-zentes com o tema investigado.

4. RESULTADOS/DISCUSSÃO

Após a revisão sistemática da literatura sobre o tema, foram encontrados 12 artigos de quatro tipos diferentes: (N=3) artigo de reflexão, (N=3) artigo original, (N=3) estudo de caso e (N=3) re-lato de experiência. A tabela a seguir mostra a distribuição sobre a caracterização dos artigos.

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Tabela 2. Distribuição sobre a caracterização dos artigos.

Caracterização dos artigos Número de artigos Frequência (%)Artigo de reflexão 3 25Artigo original 3 25Estudo de caso 3 25Relato de experiência 3 25

Fonte: elaborado pelos autores.

Foram encontrados 12 estudos sobre as abordagens reali-zadas pelos terapeutas ocupacionais com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência. Nota-se que os anos de maior publicação foram 2006, 2009, 2011 e 2014, com dois artigos em cada ano. Os anos de 2005, 2007, 2010 e 2013 têm um artigo cada. Observamos ainda que, nos anos de 2008, 2012 e 2015 (até o presente momento), não foram encontradas publicações sobre a intervenção da terapia ocupacional com crianças e adoles-centes em situação de vulnerabilidade social e violência. O gráfico a seguir demonstra a distribuição de artigos publicados de acordo com o ano.

Gráfico 1. Distribuição artigos por ano.

Fonte: elaborado pelos autores.

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A metade dos artigos selecionados para a presente revisão fo-ram publicados no periódico Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Há dois artigos que foram publicados na Revista de Tera-pia Ocupacional da USP. Os demais (N=3) artigos) foram publica-dos em periódicos diversos. A tabela a seguir mostra a distribuição de artigos de acordo com os periódicos.

Tabela 3. Distribuição de artigos de acordo com os periódicos.

Periódico Número de artigos Frequência (%)Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar 6 50

Revista de Terapia Ocupacional da USP 3 25O Mundo da Saúde 1 8,33Psicologia: Ciência e Profissão 1 8,33Psicologia em Estudo 1 8,33

Fonte: elaborado pelos autores.

Foi observado ainda que, dos (N=20) autores dos artigos en-contrados nesta revisão sistemática da literatura sobre o tema, ape-nas (N=5) – Ana Paula Serrata Malfitano, Daniela Tavares Gontijo, Heliana Castro Alves, Lucivaldo da Silva Araújo e Roseli Esquerdo Lopes – tiveram seus nomes apresentados em três (N=3) artigos diferentes. Adelma do Socorro Gonçalves Pimentel e Patrícia Leme de Oliveira Borba tiveram seus nomes apresentados em dois (N=2) artigos diferentes. Os demais (N=13) autores publicaram apenas uma vez (até o presente momento) artigos relacionados sobre o tema. A tabela a seguir mostra a distribuição de autores e números de publicações.

Tabela 4. Distribuição de autores e números de publicações.

Autor Número de artigos Frequência (%)Ana Paula Serrata Malfitano 3 9,37Daniela Tavares Gontijo 3 9,37Heliana Castro Alves 3 9,37Lucivaldo da Silva Araújo 3 9,37Roseli Esquerdo Lopes 3 9,37Adelma do Socorro Gonçalves Pimentel 2 6,25

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Patrícia Leme de Oliveira Borba 2 6,25Carla Regina Silva 1 3,12Carolina Cortes 1 3,12Daniel Gustavo de Sousa Carleto 1 3,12Elizabeth M. f. Araújo Lima 1 3,12Erika Alves Inforsato 1 3,12Giovanna Bardi 1 3,12Iara Faleiros Braga 1 3,12Izabela Alves 1 3,12Karina Gonçalves da Silva 1 3,12Mayra Cappellaro 1 3,12Natalia Guimarães Mota 1 3,12Paulo Estevão Pereira 1 3,12Renata Monteiro Buelau 1 3,12

Fonte: elaborado pelos autores.

A partir dos periódicos encontrados, é possível observar que o assunto tem sido abordado por autores como um problema de saúde mental. Observa-se também a necessidade de estratégias te-rapêuticas eficazes, objetivando a prevenção do fenômeno da vul-nerabilidade social e da violência contra crianças e adolescentes em situação de risco, bem como a diminuição dos prejuízos no desen-volvimento da criança e do adolescente que vivenciaram diversos tipos de violências.

A violência, em suas múltiplas formas, se apresenta de for-ma cada vez mais preocupante. Devido à grande exposição desse assunto na mídia, ele tem se banalizado e tornado corriqueiro em rodas de conversas, de crianças até idosos. Isso, por sua vez, nos traz duas perspectivas sobre o assunto. A primeira corresponde ao fato de a sociedade encarar cada caso novo como “só mais um caso de violência”. A segunda diz respeito à perda da empatia e da per-plexidade da sociedade diante do assunto violência, de qualquer gênero. As notícias estão espalhadas pelas redes sociais, jornais im-pressos e eletrônicos e são entregues aos leitores com uma veloci-

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dade estrondosa, por conta da evolução da informática e da internet (PIMENTEL; ARAUJO, 2009).

A violência contra crianças e adolescentes pode gerar trans-tornos no desenvolvimento e desencadear graves patologias de-correntes de diversos tipos de traumas negativos, que podem ser constatados precocemente. A maioria das consequências, porém, não deixa marcas físicas aparentes, como o transtorno emocional e o estresse pós-traumático. Às vezes, as consequências aparecem ao longo dos anos, como surgimento de doenças físicas, baixo rendi-mento escolar, aumento da criminalidade, uso de drogas, gravidez precoce, dificuldade de relacionamentos, queixas somáticas, entre tantas outras (ZAVASCHI, 2009). Devido aos traumas vivenciados, tais como trabalho infantil, negligência, exposição a território hos-til, abuso sexual, entre outros, essas crianças e adolescentes acabam por perder a oportunidade única de ser criança, não somente pelo sentido biológico, mas principalmente por não poderem experi-mentar o aprender, intervir, evoluir, concluir, agir, além do brincar, que faz parte da aprendizagem como um todo quando se trata, prin-cipalmente, de uma criança (PIMENTEL; ARAUJO, 2007).

É importante ressaltar que as consequências imediatas do trauma vivido na infância e adolescência são os riscos de proble-mas comportamentais, incluindo comportamentos internos, que se refletem por meio de sintomas de ansiedade, depressão, queixas somáticas e inibição, e comportamentos externos, que se referem a alterações comportamentais, tais como aumento da agressividade e delinquência. Problemas relacionados a comportamentos sexuais se incluem também neste domínio (BAES; MARTINS; JURUE-NA, 2014).

O Terapeuta Ocupacional cria espaço de aprendizagem e ex-perimentação para que crianças e adolescentes em situação de vul-nerabilidade social e violência desenvolvam ativamente o processo de construção da subjetividade. As oficinas oferecidas por terapeu-tas ocupacionais podem ser compreendidas de diversas formas e aplicadas com distintos propósitos, tais como focando recursos, o uso e a produção de materiais, o trânsito pelos setores da cultura, arte, esporte e lazer, trabalho e outros, conforme temáticas e objeti-

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vos preestabelecidos. Assim, pode-se implementar debates sobre o cotidiano, trocas de informações a respeito do mundo de trabalho, perspectivas de vida, processos educativos sobre os deveres e di-reitos e a proteção da infância e adolescência em sua cidade entre outros temas (LOPES et al., 2014).

As oficinas de atividades nos apresentam diversas situações nas quais a criação do vínculo se torna fundamental para que se proponha uma reflexão das possibilidades de construção de novas formas de relacionamento. A estratégia pode ser elaborada em for-ma de contrato e realização de trocas para acordos estabelecidos no grupo, escutando-se as demandas e as possibilidades de participa-ção nas atividades propostas (MALFITANO et al., 2006).

A violência sofrida na infância e adolescência tem se tornado banalizada, principalmente nas classes sociais desfavorecidas. Esse público vivencia em seu cotidiano práticas de violências, o que gera estigma relacionando essa população à periculosidade. Por meio de jogos teatrais e dramatizações de cenas vividas são expressos os contextos de vida dos jovens e suas condições sociais, podendo abordar aspectos relacionados com a facilidade ao acesso a drogas e vivências cotidianas como os diversos tipos de violência, devido à vulnerabilidade social (ALVES; CONTIJO; ALVES, 2013).

A situação de vulnerabilidade social e violência contra crian-ças e adolescentes pode ser um impulso inicial para uma inter-venção da Terapia Ocupacional. O profissional, entretanto, deve também considerar como foco de intervenção as preocupações dos pais, familiares e órgãos de saúde (CARLETO; ALVES; CONTI-JO, 2010).

Dessa forma, a Terapia Ocupacional tem muito a oferecer a essa população, tendo em vista que, dentro da prática da Terapia Ocupacional, cria-se o campo de experimentação e escolha ao indi-víduo, um espaço para ele exercer a sua autonomia e independên-cia, e onde pode ter um enfrentamento de determinada situação. Esse espaço oferecido pela Terapia Ocupacional se torna funda-mental para a criação de novos territórios existenciais e, conse-quentemente, para produção de vida dessas crianças e adolescentes (BUELAU; INFORSATO; LIMA, 2009).

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Além disso, o trabalho da Terapia Ocupacional na comunida-de escolar com crianças e adolescentes pode proporcionar a cons-trução de estratégias e programas com objetivo de possibilitar a realização de ações focadas na reflexão da personalidade. Entende--se, assim, esses sujeitos como cidadãos inseridos no contexto so-cial e permeáveis, portanto, aos conflitos e valores evidenciados na sociedade por fenômenos como a violência, que interfere na forma de desempenhar seus papéis sociais no futuro (CÔRTES; CONTI-JO; ALVES, 2011). Para o fortalecimento das redes sociais, aponta--se a necessidade de ações da Terapia Ocupacional junto às famílias de origem ou substitutas, à escola e a instituições de acolhimento. Oferecem-se, dessa forma, oportunidades e condições necessárias de saúde e bem-estar, considerando que um único ambiente pode apresentar fatores que ampliam ou limitam o desempenho ocupa-cional (CARLETO; ALVES; CONTIJO, 2010).

Após todas essas reflexões realizadas sobre a Terapia Ocupa-cional com essa população em situação de vulnerabilidade social e violência, nota-se o quanto é importante a questão do vínculo terapêutico, do paciente com toda a equipe, mas principalmente com os profissionais da Terapia Ocupacional. Isso porque cria-se um espaço para a revisão de suas posturas, para o enfrentamento e para estratégias que visem acabar com as situações vivenciadas rotineiramente por essas crianças e adolescentes ou ao menos ame-nizá-las, sem tanto medo e sem tantos preconceitos. Deve-se men-cionar também as orientações realizadas junto ao núcleo familiar. Esse processo conta com a colaboração fundamental da família, que deve estar presente no período de vinculação e proporcionar possibilidades de uma melhor apreensão e de esclarecimentos em torno das questões vividas pelas crianças e adolescentes e todas as decorrências desse aspecto em sua vida (LOPES; BORBA; CA-PELLARO, 2011).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada sobre a atuação da Terapia Ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e vio-lência possibilitou a identificação de um grande campo de trabalho

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com essa população, imposta a desigualdades, contradições sociais e confrontos culturais. Através dos recursos terapêuticos utilizados de acordo com a necessidade do contexto, pretende-se proporcionar um desenvolvimento saudável a esses indivíduos. Portanto, é funda-mental que o profissional conheça as diferentes formas de violência para que se possibilite diminuir as consequências no desenvolvi-mento da criança ou adolescente, considerando que a problemática pode ter origem em contextos sociais, ambientais, culturais e po-líticos, exigindo uma abordagem multissetorial do profissional. O terapeuta ocupacional pode contribuir para o desenvolvimento de propostas de promoção e manutenção da saúde.

Por fim, é fundamental para o crescimento e fortalecimento da profissão que os terapeutas ocupacionais produzam e divulguem trabalhos científicos.

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A importância da Terapia Ocupacional no brincar da criança com autismo

Priscilla Metidieri CORRÊA1 Aline Cristina PALMEIRAS2

Ana Carolina da Silva PEREIRA3

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE4

Camila de ALMEIDA5

Resumo: O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se caracteriza por deficit nas áreas de comunicação e de interação social e por comportamentos repetitivos e estereotipados. Nesse contexto, o terapeuta ocupacional tem por objetivo intervir em crianças, por meio do brincar, melhorando o desempenho em suas áreas de ocupação. O presente estudo tem como objetivo revisar a lite-ratura sobre os deficits decorrentes do Transtorno Autista em crianças e o papel da Terapia Ocupacional quanto à intervenção por meio do brincar. Os critérios de inclusão foram artigos em português do período entre 2000 e 2016 que abor-davam o brincar, o autismo infantil e a Terapia Ocupacional. Assim, foram sele-cionados nove estudos que mostraram que a Terapia Ocupacional, atuando em crianças autistas por meio do brincar e da integração sensorial, contribui para um melhor desenvolvimento nas áreas físicas, sociais e cognitivas, sendo o terapeuta ocupacional um profissional capacitado para intervir nas ocupações deficitárias de crianças autistas.

Palavras-chave: Autismo. Brincar. Terapia Ocupacional. Desenvolvimento.

1Pricilla Metidieri Corrêa. Bacharelanda em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2Aline Cristina Palmeiras. Bacharelanda em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3Ana Carolina da Silva Pereira. Bacharelanda em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 5 Camila Almeida. Mestra em Ciências de Saúde Aplicada ao Aparelho Locomotor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Especialista em Fisioterapia Aquática pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Barão de Mauá. E-mail: <[email protected]>.

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The importance of Occupational Therapy in child’s play with autism

Priscilla Metidieri CORRÊA Aline Cristina PALMEIRAS

Ana Carolina da Silva PEREIRACamila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Camila de ALMEIDA

Abstract: Autism is a developmental disorder characterized by deficits in the areas of communication, social interaction, and repetitive and stereotyped behaviors. The occupational therapist aims, in this context, to intervene with children through play, to improve performance in their occupational areas. The present study aims to review in the literature the deficits Autistic Disorder in children and the role of occupational therapy intervening through play. The inclusion criteria are Research in Portuguese from 2000 to 2016, including those that dealt with play, child autism and occupational therapy. 9 studies were selected that show that occupational therapy with autistic children through play and Integration Sensorial contributions for a better development in the physical, social and cognitive areas, being able to intervene in the deficient occupations of kids autistic.

Keywords: Autism. Play. Occupational Therapy. Development.

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1. INTRODUÇÃO

O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento (CAMARGO; RISPOLI, 2013) cuja manifestação ocorre até o ter-ceiro ano de vida. Deficit na comunicação e na interação social, bem como comportamentos repetitivos e estereotipados são seus principais sinais (SÁ; SIQUARA; CHICON, 2013).

O primeiro a descrever o autismo, no ano de 1943, foi Leo Kanner (BAGAROLLO; RIBEIRO; PANHOCA, 2013). Segundo esse autor:

Os sujeitos autistas apresentam movimentos automáticos e repetitivos, repertório de interesses restrito, problemas de coordenação motora e de equilíbrio, dificuldade para ini-ciar movimentos, alterações sensoriais (auditivas, visuais, olfativas, táteis e gustativas), percepção a dor diminuída, alteração de linguagem, diminuição de jogo imaginário, distúrbios de alimentação, podendo estar associado a con-vulsões e a outras deficiências (KANNER, 1997 apud BA-GAROLLO; RIBEIRO; PANHOCA, 2013, p. 108).

Os critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista, segundo o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos men-tais – DSM 5 (APA, 2014), incluem também dificuldades para demonstrar emoções, se relacionar com o outro, se comunicar de forma verbal e/ou não verbal, entender gestos e utilizar expressões faciais. Os sujeitos autistas gostam sempre das mesmas coisas, são resistentes e sofrem com mudanças de rotinas. Além disso, interes-sam-se por objetos que não são comuns, possuem fala repetitiva e, quando fazem uso de um brinquedo, é de forma estereotipada, sem brincarem adequadamente com ele. A criança autista pode ser hiper ou hiporresponsiva a estímulos sensoriais.

A causa do autismo é desconhecida, podendo estar associada a fatores ambientais ou genéticos (CAMARGOS, 2005). O diag-nóstico médico é feito por meio de observação, avaliação clínica e exames para descartar outras doenças. Não existem exames espe-cíficos, e sim escalas, critérios e questionários sobre autismo para ajudar com o diagnóstico (MELLO, 2016).

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As crianças autistas possuem dificuldade para imaginar e não sabem se comportar adequadamente frente a adversas situações, parecendo muitas vezes agressivas. Quando brincam, seguem re-gras fixas e preferem realizar atividades individuais; quando inte-ragem, é com indivíduos mais jovens ou mais velhos e não com os pares (APA, 2014).

A criança autista pode apresentar intelecto e linguagem pre-judicados e alguns prejuízos motores, como marcha atípica, deficit em praxia e autolesão (APA, 2014).

O autismo afeta quatro vezes mais o sexo masculino (TAMA-NAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008).

Sobre as alterações presentes em crianças autistas, Bagarollo, Ribeiro e Panhoca (2013) complementam:

[...] incapacidade ou dificuldade de constituição das brin-cadeiras, a dificuldade de interação social com outras crianças durante a brincadeira, o desinteresse pelos brin-quedos, bem como uma disparidade com o nível de desen-volvimento adequado para a faixa etária (KANNER, 1997; GÓES, 2000b; WILLIAMS, 2003; JONES; CARR, 2004; MIILHER; FERNANDES, 2006; WATT et al., 2008 apud BAGAROLLO; RIBEIRO; PANHOCA, 2013, p. 109).

A criança é um ser em constante desenvolvimento e transfor-mação. Quando um processo de adoecimento se inicia, ele causa rupturas e diversas alterações, prejudicando rendimento e compor-tamento na escola e relações interpessoais tanto em casa quanto na comunidade, no lazer e principalmente no brincar. O brincar é a possibilidade de o sujeito estabelecer contato com as realidades interna e externa, sempre de forma criativa. A brincadeira é a forma que a criança tem de se expressar, de estar no mundo, de falar de si e principalmente de se desenvolver (PADOVAN, 2014).

O estudo de Zen e Omairi (2009) trouxe a definição do brin-car segundo Ferland: “Brincar: atitude em que o prazer, o interesse e a espontaneidade se encontram. É uma conduta escolhida livre-mente sem um resultado esperado” (FERLAND, 2006 apud ZEN; OMAIRI, 2009, p. 45).

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A brincadeira é vista como um fenômeno universal na infân-cia, mas não tem o mesmo sentido para crianças com desenvolvi-mento atípico. Para a criança autista, o brincar é um tanto quanto distorcido, pois a interação social e a expressão das brincadeiras não seguem um padrão típico, o que acaba prejudicando o desen-volvimento do mesmo (FIAES; BICHARA, 2009).

Para crianças típicas, o ato de brincar se dá de modo natu-ral, em que a criança interage com outras e também com adultos, dando sempre um sentido à brincadeira. Já para as crianças autis-tas, o brincar não acontece de forma simples, pois não há interação com outras crianças nem com adultos e muito menos com o meio (MARTINS; GÓES, 2013).

A criança autista tem um desconhecimento da prática do brin-car, do imaginário e de práticas lúdicas, o que acaba deixando ainda mais comprometido seu desenvolvimento. Mesmo participando de brincadeiras, ela ainda tem um pouco de receio dessa interação, não porque quer, mas porque ainda não consegue amadurecer ideias de socialização (BAGAROLLO; RIBEIRO; PANHOCA, 2013).

Para a criança autista, o brincar possibilita o aprendizado em experiências corporais diferenciadas, nas quais a criança pode des-cobrir suas limitações e potencialidades, e ainda outras possibilida-des para o brinquedo (SÁ; SIQUARA; CHICON, 2013).

Essas crianças não brincam por falta de experiência com brin-quedos e brincadeiras, e não somente por fatores orgânicos. Elas podem desenvolver o lúdico desde que tenham contato com o meio cultural, a vida social, brinquedos e brincadeiras e principalmente com interação e experiências adquiridas pelo contato com outras crianças (BAGAROLLO; RIBEIRO; PANHOCA, 2013).

O brincar é uma das áreas que mais influenciam o desen-volvimento das crianças, é um importante fator de proteção para a infância e favorece positivamente o desenvolvimento e aprimora-mento de diversos aspectos, como esquema corporal, lateralidade, coordenação motora global e fina, orientação espacial e temporal e ritmo (FONSÊCA; SILVA, 2015). Essa é a principal atividade de qualquer criança e contribui de forma significativa para os relacio-namentos que ela estabelece na sociedade, possibilitando variadas

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formas de interações livres e independentes. Essas importantes in-terações a tornam apta a aprender valores para a sua vida, como re-gras, responsabilidades, resoluções de conflitos e negociações, que serão também essenciais para sua vida adulta (BICALHO, 2013). Além disso, o brincar é uma atividade fundamental para o desen-volvimento em várias áreas e permite o envolvimento da criança em um mundo ilusório e a transição entre o pensamento e o que é real, auxiliando um maior autocontrole da criança (KLINGER; SOUZA, 2015).

Não existe tratamento para cura do autismo. Dependendo da idade, da cognição, da linguagem e de outros diversos sintomas, diferentes tratamentos podem trazer respostas diferentes para cada indivíduo (TÁPARO; GIARDINETTO, 2011). O tratamento é mul-tidisciplinar, sendo o terapeuta ocupacional um dos profissionais aptos a intervir nessas crianças, por meio do brincar e de outras abordagens, a fim de possibilitar a elas uma melhor interação e de-senvolvimento.

A Terapia Ocupacional é uma profissão da área da saúde, da área social e da educação e, de acordo com Cavalcanti, Dutra e Meirelles (2015), o terapeuta ocupacional tem um olhar holístico para cada ser humano, levando em consideração suas necessidades, habilidades e tarefas e enxergando o indivíduo como um todo.

Tendo como domínio da profissão as ocupações humanas, o terapeuta ocupacional pode intervir em todas as áreas de ocupação do seu paciente que necessitem de assistência, como é o caso do brincar para a criança autista.

Contando com uma bagagem de vários e diversos modelos teóricos e abordagens para intervenções na área infantil, a Terapia Ocupacional pode intervir na criança autista trabalhando para a di-minuição dos deficit sensoriais, ofertando atividades que podem ser realizadas em casa ou na escola (onde a criança tem maior interação com outras crianças, o que favorece o brincar), como a estimulação sensorial por meio de diferentes texturas, e orientando as pessoas que a cercam a não tocá-la nem por trás nem de forma inesperada, evitando assim a desorganização diante de situações de difícil en-frentamento para a criança. Também é de competência do terapeuta

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ocupacional intervir na estruturação da rotina diária da criança para que se evitem mudanças repentinas e se preserve o comportamen-to esperado, comunicando-a antecipadamente da mudança que está por vir (CAMARGOS, 2005).

A flexibilidade que o terapeuta ocupacional tem para ofer-tar novas brincadeiras em diferentes settings é muito ampla, o que oferece ao paciente, de forma implícita e não menos importante, o seu desenvolvimento em diferentes esferas, incitando sua melhor qualidade de vida. O fato de a criança estar realizando atividades a favorece em diversos aspectos, como os relacionados a pensamen-tos e sentimentos e a um melhor entendimento de espaço-tempo, amparando seu equilíbrio emocional, além de estar intimamente ligado à instigação da percepção, dos sentimentos e da intuição (ZANNI, 2005).

É necessário que os profissionais estejam preparados para atuar com essa população, que está em crescimento, como podemos observar na colocação trazida por Ribeiro e Cardoso (2013):

Pesquisas recentes demonstram o aumento significativo de diagnósticos de autismo em todo o mundo (um indivíduo a cada mil nascidos é autista e cerca de quatro indivídu-os a cada mil nascidos apresentam espectro autista) e com isso a crescente necessidade de programas e serviços que atendam essa população, objetivando diminuir suas di-ficuldades e potencializar suas capacidades para, assim, promover o desempenho funcional dos autistas em seus papéis ocupacionais (CASE-SMITH; ABERSMAN, 2008 apud RIBEIRO; CARDOSO, 2013, p. 400).

2. OBJETIVO

O presente estudo tem como objetivo revisar a literatura sobre os deficit decorrentes do Transtorno Autista em crianças e o papel da Terapia Ocupacional quanto à intervenção por meio do brincar.

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3. MÉTODOS

O estudo é uma revisão bibliográfica nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os artigos foram pesquisados com os seguintes descritores: “Brincar and Terapia Ocupacional”, “Brincar and Au-tismo”, “Autismo and Brincar and Terapia Ocupacional”. Para complementar os estudos, foi realizada busca manual nos periódi-cos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, Revista de Te-rapia Ocupacional da USP e no site: www.autismo.org.br Devido ao pouco material encontrado, foi feita, posteriormente, uma busca no Google Acadêmico e em livros que descrevem o autismo. Foram incluídos artigos, teses e livros escritos em língua portuguesa no período de 2000 a 2016. Foram escolhidos os que abordavam o brincar, o autismo infantil e Terapia Ocupacional.

4. RESULTADOS

Durante a busca nas bases de dados, foram encontrados 47 artigos e escolhido um, conforme mostra o Quadro 1; o restante foi excluído pelo título e resumo. Na busca feita nos periódicos, foram encontrados sete artigos, que foram excluídos por estarem inseridos no resultado da primeira busca. A busca manual no Google Acadê-mico e em sites de organizações sobre autismo resultou em dois artigos, três dissertações e três livros. No total, foram seleciona-dos nove estudos, conforme pode ser visto no Quadro 2. Conforme mostra o Gráfico 1, foram encontrados dois estudos de cada um dos seguintes anos: 2005, 2013 e 2015, e apenas um estudo de cada um dos seguintes anos: 2011, 2012 e 2016. Conforme pode ser visto no Gráfico 2, os tipos de estudo encontrados foram: relato de caso (N=1), descritivo (N=4), qualitativo (N=3) e reflexivo (N=1).

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Quadro 1. Primeira busca de artigos.

BASE DE DADOS

PALAVRAS CHAVE

ARTIGOS ENCONTRADOS

ARTIGOS INCLUÍDOS

ARTIGOS EXCLUÍDOS

BVS

“brincar and terapia ocupacional”“autismo and brincar”“autismo and brincar and terapia ocupacional”

N=40 N=1 N=39

SciELO

“brincar and terapia ocupacional”“autismo and brincar”“autismo and brincar and terapia ocupacional”

N=7 N=0 N=7

TOTAL N=47 N=1 N=46

Fonte: elaborado pelas autoras.

Quadro 2. Artigos selecionados e resultados (busca nos periódicos e manuais).

AUTORES TIPO DE TRABALHO

RESULTADOS RELEVANTES PARA O TRABALHO

RIBEIRO; CARDOSO,2013.

Artigo

O artigo traz vertentes antes não abordadas, como a socialização da criança autista e sua dificuldade em apresentar o brincar de forma simbólica.

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TÁPARO; GIARDINETTO, 2011 Artigo

O artigo diz em quais esferas o terapeuta ocupacional consegue intervir na criança por meio de três bases: o vínculo, o ambiente e a afinidade entre terapeuta e paciente.

ZANNI, 2005. Artigo

O artigo mostra a utilização do meio aquático como intervenção e a melhora na interação social de pacientes que fazem uso dessa abordagem.

AZEVEDO, 2015. DissertaçãoA dissertação mostra como o brincar e o lúdico são importantes para o desenvolvimento de crianças autista.

BATAGLION, 2016. DissertaçãoO estudo mostra como a atividade lúdica é essencial para o desenvolvimento ativo da criança autista.

MAGALHÃES, 2012. DissertaçãoA importância da terapia de integração sensorial por terapeutas ocupacionais atuando com crianças autistas.

BRASIL, 2015. Livro

O livro apresenta diferentes abordagens utilizadas com crianças autistas e a importância da Terapia Ocupacional utilizando a terapia de integração sensorial com essas crianças.

CAMARGOS JR. et al. 2005. Livro

O livro informa que, entre várias abordagens para intervir em crianças autistas, a integração sensorial é a mais utilizada.

MELLO, 2016. Livro

O livro explica como é definido o autismo e quais são as diversas formas de abordagem, sendo a integração sensorial mais relevante para o nosso estudo.

Fonte: elaborado pelas autoras.

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Gráfico 1. Todos os trabalhos por ano.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Gráfico 2. Todos os tipos de estudo.

Fonte: elaborado pelas autoras.

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5. DISCUSSÃO

Segundo Bataglion (2016), nota-se que, independentemente do paciente, o objetivo principal da Terapia Ocupacional é pro-porcionar a crianças autistas independência nas atividades da vida diária de forma geral, intervindo também no desenvolvimento da percepção visual e da imagem e esquema corporal.

Táparo e Giardinetto (2011) dizem que a Terapia Ocupacio-nal, profissão intimamente ligada à funcionalidade e à individu-alidade do ser humano, é recomendada para intervir em crianças autistas por poder oferecer um tratamento holístico. Atuando com o público infantil, ela tem como recurso principal o brincar, que favorece o desenvolvimento da criança em todas as suas esferas: fí-sica, emocional, social, relacional e cognitiva. Ainda nesse mesmo estudo, os autores colocam a intervenção como uma proposta para crianças com autismo por meio de três bases: a primeira é a criação do vínculo terapêutico; a segunda é o estabelecimento dos limites e settings que serão utilizados pela criança e pelo terapeuta; e a terceira é a busca pela afinidade na relação terapeuta-paciente, para que se criem e fortaleçam as possibilidades do brincar.

Azevedo (2015) nos diz que o brincar para a criança autista é essencial para o seu desenvolvimento. É uma forma de elas se conhecerem e conhecerem o próximo, realizando troca de afetivi-dade e desenvolvimento de papéis e regras, o que em crianças com autismo é bastante prejudicado. O autor complementa ainda que, no ato da brincadeira, tudo dever ser bem feito e cauteloso. A criança autista deve receber estímulos corretos e simples e as brincadeiras não devem ser livres, para que a criança sempre consiga manter o foco no objetivo, buscando estimular a independência e a integra-ção da criança.

De acordo com Bataglion (2016), cada atividade possui um objetivo, sendo que todas visam ao aprendizado e à melhora no de-senvolvimento das atividades de vida diária: comer sozinho, esco-var os dentes, vestir roupas e calçados e tomar banho, por exemplo. O faz de conta é pouco utilizado, e, por isso, as crianças se mostram mais motivadas durante os atendimentos, pois o brincar passa a ser

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“livre” e espontâneo, porém guiado para alcançar os objetivos. As-sim, os jogos e brinquedos oferecidos para a criança escolher vão ao encontro do objetivo a ser trabalhado pelo terapeuta ocupacional.

O estudo de Ribeiro e Cardoso (2013) nos diz que o terapeuta ocupacional deverá também intervir com o objetivo de desenvol-ver a habilidade de socialização da criança autista para que ela se socialize de forma típica. Ainda nesse mesmo estudo, os autores destacam que, ao comparar o desenvolvimento da criança autista ao de uma criança típica, é revelada a dificuldade frente à regulação da atividade, quase não apresentando o brincar simbólico.

O terapeuta ocupacional trabalha com a criança autista com o objetivo de melhorar as motricidades fina e grossa que estão pre-sentes em todas as atividades da vida diária, promovendo funciona-lidade e desenvolvimento global e buscando sempre tornar a crian-ça autista o mais independente e autônoma possível. O terapeuta trabalha também com a família, mostrando o quanto é importante sua participação na reabilitação e no desenvolvimento da criança (AZEVEDO, 2015).

O brincar é o que orienta a identificação do desenvolvimento e em que fase dele a criança está, pois inabilidades aparecem diante das atividades propostas conforme seu processo e podem indicar comprometimentos ou atrasos do indivíduo (RIBEIRO; CARDO-SO, 2013).

Segundo o estudo de Bataglion (2016), as atividades lúdicas com crianças autistas favorecem as interações por meio do desen-volvimento de habilidades sociais, favorecem também os aspectos emocionais e melhoram a disposição para atividades diárias. Como consequência disso, ocorre uma melhor compreensão de si, colabo-rando para um melhor estilo de vida. Quando as crianças autistas passam a interagir com seus pares ou com adultos, buscam um sen-tido no mundo em que vivem, reinventando-se e apropriando-se do mundo que as cerca, além de reproduzi-lo. Porém, para a atividade ser lúdica e para a criança se engajar, esta precisa sentir prazer. Só assim o profissional conseguirá atingir seu objetivo.

Algumas atividades e instrumentos são comumente utiliza-dos durante os atendimentos com crianças autistas, entre eles: dese-

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nhos e pinturas; recortes; jogos de memória, de tabuleiro, de cartas; Lego®; brinquedos de encaixe bilateral; brinquedos para costurar usando agulhas de plástico; instrumentos musicais, como piano e gaita; cones de montar; apertar botões de brinquedos que mostram e escondem bichinhos a cada comando; explorar o tanque de areia utilizando brinquedos ou pescando (BATAGLION, 2016).

Azevedo (2015) nos mostra que existe um conjunto de ativi-dades e abordagens que são importantes para desenvolver as com-petências específicas de cada criança. Algumas delas são:

Nível básico – emparelhamento simples de materiais; emparelhar pares completos e emparelhar/encaixar peças (Lego®) de acordo com a sequência dada.

• Tarefas viso-motoras, emparelhamento de acordo com cores, emparelhamento de acordo com formas e separação peças de acordo com o tamanho.

• Tarefas de aprendizagem de conceitos numéricos – em-parelhamento de números com as figuras correspondentes, emparelhamento de objetos com os números correspon-dentes e contagem de objetos.

• Treino da linguagem – emparelhar palavras com figu-ras, separar imagens de acordo com a letra inicial que as compõe, emparelhar a cor escrita e a mola colorida corres-pondente.

• Tarefas para praticar a concentração – fazer encaixes de Lego®, fazer enfiamentos num cordel e colocar clipes em volta de um cartão.

• Trabalhar a motricidade fina – fixar molas a uma caixa de acordo com a cor correspondente, separar objetos e re-tirar objetos de uma taça e colocá-los sobre o Velcro® de uma caixa (AZEVEDO, 2015, p. 33-34).

As informações trazidas por Brasil (2015) conciliam-se com as trazidas por Magalhães (2012) quando mostram que as crian-ças autistas possuem deficit em relação à resposta sensorial. Como podem ser hipo ou hiperresponsivas a estímulos recebidos e po-dem também apresentar dificuldades para discriminar ou perceber estímulos, não conseguem, consequentemente, emitir respostas adequadas a diversas situações. Esses deficit geram desconforto,

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choro, irritabilidade, comportamento de recusa, dificuldades na ali-mentação devido à textura dos alimentos e fuga e choros na hora da execução de atividades de autocuidado (tomar banho, fazer higiene bucal, cortar unhas e cabelos e vestir-se, entre outras). Além disso, as crianças podem ficar irritadas, agressivas e impulsivas, prejudi-cando a interação e a realização das atividades de autocuidado e do cotidiano.

Os estudos supracitados abordam a Terapia da Integração Sensorial, que foi fundada pela terapeuta ocupacional norte-ameri-cana Jean Ayres como uma possibilidade de minimizar esses deficit sensoriais por meio de estímulos oferecidos a todos os sentidos, melhorando resposta adaptativa, atenção e equilíbrio e diminuindo os comportamentos autoagressivos.

É importante lembrar que, para aplicar a técnica da Terapia de Integração Sensorial, o terapeuta ocupacional precisa realizar um curso de formação específica.

Segundo Camargo (2005), informam que o terapeuta ocupa-cional conta com vários modelos teóricos de intervenção e o mais utilizado com a criança autista é a Terapia de Integração Sensorial. De acordo com Mello (2016), a Terapia Ocupacional trabalha com a integração sensorial com o objetivo de que a criança integre as informações recebidas e aprenda, por meio das brincadeiras, a com-preender e a organizar as sensações. Não nos aprofundaremos nessa questão, pois o objetivo não é mostrar a intervenção pela integração sensorial, e sim a contribuição por meio do brincar.

Tendo em vista outra forma de abordagem por meio de brin-cadeiras, Zanni (2005) indica que o espaço aquático pode ser uti-lizado com a finalidade de proporcionar para a criança uma forma fácil de se integrar e de brincar com outras crianças, promovendo assim mudanças nas atitudes comportamentais e na organização dos pensamentos e sentimentos. De maneira mais sutil, restabelece o equilíbrio emocional e estruturação tempo-espaço.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como domínio de sua profissão as ocupações huma-nas, o terapeuta ocupacional tem a possibilidade de proporcionar a intervenção direcionada à criança autista por meio da ocupação do brincar que está prejudicada, trabalhando, a partir desse, vários outros aspectos, como atividades básicas e instrumentais da vida diária, lazer, participação social, educação, descanso e sono, contri-buindo para que o desenvolvimento da criança seja o melhor pos-sível.

Durante as pesquisas realizadas para desenvolvimento deste estudo, constatamos a escassez de estudos publicados por terapeu-tas ocupacionais em língua portuguesa, o que limitou a pesquisa e resultou em uma pequena quantidade de artigos que abordavam apenas a Terapia Ocupacional.

Por outro lado, os estudos nos mostraram que a Terapia Ocu-pacional é uma profissão apta a trabalhar com crianças autistas, contribuindo para facilitar sua interação social e comunicação, de forma que se desenvolvam e vivam bem em sociedade. Como inter-venção, o brincar e a Integração Sensorial são os mais utilizados. A Terapia da Integração Sensorial é a mais citada pelos autores, talvez pelos deficit sensoriais que estão presentes na criança autista e que prejudicam sua interação com os outros por diversos motivos.

O autismo não tem cura, apenas tratamento, e, de forma geral, o trabalho feito pelo terapeuta ocupacional, seja usando somente o brincar ou a Integração Sensorial, contribui para a criança autista interagir com seus pares para ganhar novas experiências, desenvol-ver aspectos psicomotores, físicos, sociais, emocionais, cognitivos e afetivos, minimizando seus comportamentos repetitivos.

REFERÊNCIAS

APA – ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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AZEVEDO, M. F. N. A importância de brincar para o desenvolvimento de crianças com perturbação do Espectro do Autismo. Lisboa: Escola Superior de Educação João de Deus, 2015.

BAGAROLLO, M. F.; RIBEIRO, V. V.; PANHOCA, I. O brincar de uma criança autista sob a ótica da perspectiva histórico-cultural. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 19, n. 1, p. 107-120, 2013. Disponível em: <https://doaj.org/article/fffe0e588c8e474cad194ef5fc7ab412>. Acesso em: 18 ago. 2017.

BATAGLION, G. A. O lúdico na reabilitação de crianças com deficiência. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.

BICALHO, C. W. C. Brincadeiras infantis e suas implicações na construção de identidades de gênero. Revista Médica de Minas Gerais, v. 23, n, 2, p. 41-49, 2013. Disponível em: <http://rmmg.org/artigo/detalhes/117>. Acesso em: 18 ago. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. In: Integração Sensorial. Brasil, 2015. p. 84-85. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_atencao_pessoas_transtorno.pdf>. Acesso em: 25 out. 2016.

CAMARGOS JR., W. et al. Transtornos invasivos do desenvolvimento: 3º Milênio. Brasília: CORDE, 2005.

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CAVALCANTI, A.; DUTRA, F. C. M. S.; MEIRELLES, V. Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo. 3. ed. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade São Paulo, São Paulo, v. 26, p. 1-49, 2015. Edição especial. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rto/article/view/97496/96423>. Acesso em: 18 ago. 2017.

FIAES, C. S.; BICHARA I. D. Brincadeiras de faz de conta em crianças autistas: limites e possibilidades numa perspectiva evolucionista. Estudos de Psicologia, Natal, v. 14, n. 3, p. 231-238, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.

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TÁPARO, F. A. GIARDINETTO, A. R. S. B. Avaliação das atividades realizadas em uma instituição de atendimento de crianças e jovens com autismo: contribuições com a implantação de um serviço de terapia ocupacional. Marília: Unesp, 2011.

ZANNI, K. P. A intervenção da terapia ocupacional com paciente autista no setting aquático. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 13, n. 2, p. 123-127, 2005. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/173>. Acesso em: 18 ago. 2017.

ZEN, C. C.; OMAIRI, C. O modelo lúdico: uma nova visão do brincar para a Terapia Ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 17, n. 1, p. 43-51, 2009. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/117/75>. Acesso em: 18 ago. 2017.

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Prevenção primária ao uso abusivo de drogas no campo da Terapia Ocupacional: uma revisão bibliográfica sistemática

Kettyucie Cristina Soares SANTANA1

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE2

Resumo: O estudo teve como objetivo investigar na literatura científica estra-tégias de prevenção primária ao uso abusivo de drogas no campo da Terapia Ocupacional. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, com busca de artigos na Biblioteca Virtual em Saúde, na base de dados eletrônicos LILACS, na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar e no material impresso do Curso de Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A busca resultou no total de 1.452 artigos, 22 foram pré-sele-cionados pela leitura dos títulos e resumos. Ao final, 17 artigos foram incluídos no estudo. Ficou evidente que a prevenção se torna mais eficaz com a população mais jovem. Além disso, o estudo ressaltou a escassez de artigos de Terapia Ocu-pacional relacionados à prevenção primária ao uso abusivo de drogas.

Palavras-chave: Drogas Ilícitas. Prevenção Primária. Saúde Mental. Terapia Ocupacional.

1 Kettyucie Cristina Soares Santana. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. Terapeuta Ocupacional do Programa de Residência Inclusiva da Cidade de Franca/SP. E-mail: <[email protected]>.2 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Primary prevention of abusive drug use in the field of Occupational Therapy: a bibliogr revision

Kettyucie Cristina Soares SANTANACamila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: The objective of this study was to investigate in the scientific literature primary prevention strategies for drug abuse in the field of occupational therapy. A systematic review of the literature was carried out, with a search for articles in the Virtual Health Library, in the Lilacs electronic database, in the scientific journals: Occupational Therapy Journal of the University of São Paulo and the UFSCAR Occupational Therapy Notebooks and printed material Of the Course on Prevention of Problems Related to Drug Use of the Federal University of Santa Catarina (UFSC). The search resulted in 1,452 articles, 22 of which were pre-selected by reading the titles and abstracts. At the end, 17 articles were included in the studies. It has been shown that prevention as an early form becomes more effective with the younger population. In addition, the shortage of Occupational Therapy articles related to primary prevention in drug abuse was highlighted.

Keywords: Illicit Drugs. Primary Prevention. Mental Health. Occupational Therapy.

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1. INTRODUÇÃO

O uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas não pode ser con-siderado um fenômeno da modernidade. Estudos arqueológicos apontam que o consumo de álcool, por exemplo, data de 6.000 a.C. (OBID, 2011).

O consumo de drogas é uma prática histórica e cultural en-contrada em todas as civilizações da existência humana. Os antigos gregos faziam uso do ópio e os egípcios usavam o álcool como pro-duto de fermentação. O homem faz uso de substâncias psicoativas há milhares de anos por várias razões: motivos religiosos ou cultu-rais, facilitação da socialização ou até mesmo para se isolar. Além disso, a satisfação da curiosidade ingênua e a busca intensa por prazer podem justificar o uso. As formas mais comuns de uso ocor-rem em reuniões, rituais, cultos religiosos, bem como para o alívio da dor (BRUSAMARELLO 2008, apud SPRECIGO; ALENCAS-TRE, 2004).

Nesse sentido, estudos apontam que houve um período em que a droga era considerada um remédio que tinha a capacidade de eliminar a dor e afastar os problemas. Com a Revolução Industrial, houve um crescente processo de urbanização e surgiram múltiplas tecnologias, entre elas o aprimoramento do processo de destilação do álcool e, como consequência, o problema do uso e do abuso de drogas. Sendo assim, as drogas passaram da esfera religiosa à esfe-ra biomédica e judiciária (OBID, 2011).

O abuso das drogas vem aumentando desde a década de 1990, sendo considerado um problema complexo e que desafia os governantes de vários países desenvolvidos ou em desenvolvimen-to. Suas consequências são consideradas um problema de saúde pública e social, com impactos diretos na saúde do sujeito, de seus familiares e das comunidades (ABREU, 2007; OLIVEIRA, 2010).

As substâncias psicoativas (SPA), ou drogas, são aquelas que modificam o estado de consciência do indivíduo. Elas atuam no cérebro de várias maneiras. As estimulantes fazem com que o cé-rebro atue mais rapidamente, deixando-o em um estado de alerta exagerado, além de provocarem euforia e bem-estar e aumentarem

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a capacidade de trabalho. Os principais representantes desse grupo são a cocaína e as anfetaminas. Já as drogas depressoras agem fa-zendo com que o sistema nervoso central (SNC) funcione de ma-neira mais lenta, causando a sensação de desligamento da realidade e tranquilidade. Como exemplos desse tipo, há o álcool, os opioides e os benzodiazepínicos. As drogas perturbadoras atuam, como o nome já diz, perturbando o funcionamento do cérebro. Elas não aceleram nem diminuem o ritmo do SNC, mas são capazes de gerar ilusões, alucinações e delírios, acompanhados por relaxamento e euforia. A dietilamida do ácido lisérgico (LSD), o ecstasy, a maco-nha e o chá de cogumelo são alguns dos principais representantes desse grupo (CEBRID, 2010).

Os efeitos negativos que as drogas causam atingem homens e mulheres de todos os grupos raciais e étnicos, pobres e ricos, jo-vens, adultos e idosos. Há, porém, alguns fatores de risco, que são socioeconômicos e associados à violência, como condições inade-quadas de moradia, menor escolaridade, desemprego e outras con-dições ligadas à pobreza (MONTEIRO 2012, apud GALDUROZ, 2004). Dessa forma, pode-se afirmar que o uso abusivo de drogas é uma questão multifatorial e que alguns indivíduos são mais suscetí-veis que outros. Alguns fatores podem influenciar a forma de o in-divíduo se relacionar com as drogas, como herança familiar, pouco envolvimento com práticas esportivas, questões psicoeconômicas, ambiente familiar, amigos usuários de drogas, facilidade de acesso, desconhecimento dos prejuízos do abuso (OLIVEIRA 2008, apud SCHENKER; MINAYO, 2004).

O termo “risco” é usado como uma condição de ordem física, social ou comportamental que submete o indivíduo a um resultado negativo ou indesejado (JUSTA; HOLANDA, 2012 apud ANTO-NI; KOLLER, 2000; SAITO, 2001).

Segundo Sanchez (2014), “risco” significa maior chance ou maior probabilidade de um fato ocorrer. O conceito de risco é usado como sinônimo de perigo, no entanto risco sugere mais uma vulne-rabilidade do que a certeza de que um prejuízo ou dano irá ocorrer. Existem alguns fatores chamados de “determinantes” – também co-nhecidos como fatores de risco – que vão sugerir o nível de risco

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que o sujeito tem para iniciar o uso de drogas A vulnerabilidade compreende um conjunto de fatores que podem aumentar o risco aos quais as pessoas estão expostas nas várias situações de vida.

As drogas estão cada vez mais presentes na vida de crianças e adolescentes. Os adolescentes são mais vulneráveis ao experimen-tar drogas, e isso ocorre pelas características próprias da fase, que envolvem a necessidade da busca por novas experiências e sensa-ções (BRUSAMARELLO et al., 2008).

Os programas de prevenção e de assistência são importantes, pois o uso de drogas pode se iniciar em idades cada vez mais preco-ces, sendo as crianças e adolescentes os principais alvos das drogas (OLIVEIRA et al., 2008).

Nesse sentido, sabe-se que, durante muito tempo, os progra-mas de prevenção ao uso abusivo de drogas eram baseados em in-formações sobre os males do consumo dessas substâncias. Com o passar do tempo, a abordagem de promoção de saúde foi sendo considerada a mais próxima do ideal.

De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), a de-finição de saúde é “[...] o completo bem-estar físico, social e men-tal”. Se seguirmos esse conceito de saúde, é possível afirmar que a maioria da população não teria saúde. O conceito de saúde reflete uma estrutura política, cultural, econômica e social de um grupo em determinada época e a saúde não representa o mesmo significado para todas as pessoas. A doença também possui diferentes sentidos; por exemplo, no Afeganistão a dependência de ópio é considerada uma prática cultural, portanto não patológica, já em quase todos os outros países do mundo o uso de ópio é interpretado como uma doença que deve ser tratada (SANCHEZ, 2014).

A promoção da saúde é compreendida como um dos eixos da atenção primária, visando promover qualidade de vida, equidade, redução de riscos, autonomia e corresponsabilidade dos sujeitos no cuidado com a saúde (JUSTA; HOLANDA, 2012 apud BRASIL, 2007).

Existem duas classificações sobre os níveis de prevenção. A primeira foi proposta na década de 1970 e definiu três níveis de

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prevenção, primária, secundária e terciária. A prevenção primária tem como objetivo evitar a experimentação inicial de drogas e é di-recionada a sujeitos que ainda não as experimentaram. A prevenção secundária, voltada a sujeitos que já experimentaram drogas e que fazem uso ocasional, é feita para evitar que esse uso de torne abu-sivo e problemático, diminuindo as chances de que o abuso se con-verta em dependência. A prevenção terciária destina-se a usuários que já apresentam uso problemático e é uma intervenção indicada para redução dos danos associados ao abuso.

A segunda classificação dos níveis de prevenção complemen-ta a anterior e se baseia na diferenciação de grupos por níveis de risco de exposição às drogas. A prevenção universal é dirigida à população geral, sem qualquer estratificação de grupos de fatores de risco. A prevenção seletiva é voltada para população com al-guns fatores de risco para o uso de drogas, isto é, para sujeitos que apresentam maior risco ao consumo. Por fim, a prevenção indicada é destinada a sujeitos identificados como usuários de substâncias como álcool e outras drogas (SANCHEZ, 2014).

No Brasil, um dos marcos relevante sobre a discussão da as-sistência em saúde mental foi o movimento de Reforma Sanitária, realizado por profissionais e movimentos sociais em meados da dé-cada de 80. Os questionamentos influenciaram o atual movimento de desconstrução de o modelo asilar manicomial e uma rede de cui-dados descentralizada, com o foco na abordagem interdisciplinar e humanizada de prevenção e de promoção da saúde dos usuários e seus familiares (CASTRO; MAXTA, 2010).

Uma grande evolução nesse processo foi à aprovação da Lei Paulo Delgado em 2001, que estabelece a construção de uma rede de serviços substitutivos ao modelo manicomial. Essa rede deve respeitar o direito social e aumentar o poder contratual dos usuários (ALMEIDA; TREVISAN, 2011).

Uma equipe multidisciplinar na área da saúde pode realizar ações preventivas. Entre esses profissionais se destaca o da Tera-pia Ocupacional, que, atuando junto ao dependente químico, irá auxiliar a descoberta de novas possibilidades e potencialidades do indivíduo.

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Essa profissão teve início no século XX, nos Estados Unidos no contexto da reabilitação física e mental pela necessidade de rein-serir os traumatizados da guerra na sociedade. No Brasil, a profis-são surgiu em 1959. Na área da psiquiatria, sua tarefa era ocupar os pacientes, num método de manutenção e organização dos hospitais e de reabilitação. No final na década de 1970, os terapeutas ocu-pacionais incorporaram conceitos psicodinâmicos fundamentados na psicanálise e na psicologia e elabora um método de tratamento, uma trilha associativa num campo transferencial entre terapeuta--paciente-atividade (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2005 apud BENET-TON, 1991).

Este estudo teve como objetivo investigar na literatura cientí-fica estratégias de prevenção primária ao uso abusivo de drogas no campo da Terapia Ocupacional.

2. METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre pre-venção ao uso de drogas. A busca dos artigos foi feita na Biblioteca Virtual em Saúde e na base de dados eletrônica LILACS. Também foi feita busca manual na Revista de Terapia Ocupacional da Uni-versidade de São Paulo e nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. A pesquisa foi feita também no material impresso do Curso de Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Dro-gas: Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os descritores utilizados foram “drogas ilícitas”, “prevenção primária”, “saúde mental” e “terapia ocupacional”, de forma combinada.

Os estudos foram pré-selecionados pelos títulos e pela leitura dos resumos com base nos seguintes critérios de inclusão: artigos publicados no período de 2004 a 2015, apenas em língua portugue-sa e que possuíssem em seu resumo abordagens importantes sobre o assunto. Estabeleceram-se os seguintes critérios de exclusão: mo-nografias e teses, além de artigos fora do período delimitado.

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3. RESULTADOS

A busca na literatura resultou no total de 1.452 artigos. Des-ses, 22 foram pré-selecionados pela leitura dos títulos e resumos, considerando os critérios de inclusão estabelecidos. Os demais fo-ram descartados por estarem fora do período estipulado ou por não conterem fatos relevantes sobre o tema. Durante a leitura na íntegra dos 22 artigos pré-selecionados, seis artigos foram excluídos por não terem como foco a prevenção. Ao final, somente 17 artigos foram incluídos no estudo.

As informações dos estudos selecionados foram resumidas de forma estruturada na tabela a seguir.

Tabela 1. Autor (es), ano de publicação, revista e tipo de estudo.

AUTOR(ES) ANO DE PUBLICAÇÃO REVISTA TIPO DE

ESTUDO

Daniela T. Almeida; Érika R. Trevisan 2011

Interface – Comunicação, Saúde, Educação

Qualitativo

Richard Bucher 2007Psicologia: Teoria e Pesquisa

Reflexivo

Tatiana Brusamarello et al. 2008

Revista Eletrônica Saúde Mental e Álcool e Drogas

Qualitativo

Leonardo M. Castro; Bruno S. B. Maxta 2010

Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas

Qualitativo

Maria Beatriz P. T. Cavalcante; Maria Dalva S. Alves; Maria Grasiela T. Barroso

2008Escola Anna Nery Revista de Enfermagem

Reflexivo

Pedro Henrique Costa et al. 2013Revista Panamericana de Salud Pública

Qualitativo

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Angélica G. Juns; Selma Lancman 2011

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Qualitativo

Francisca M. C. Justa; Isabel C. L. Holanda 2012

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Qualitativo

Ana Lucia Marques; Elisabete F. Mângia 2009

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Qualitativo

Ana Lucia Marques; Elisabete F. Mângia 2011

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Qualitativo

Claudete F. S. Monteiro et al. 2012

Escola Anna Nery Revista de Enfermagem

Transversal

Elias B. Oliveira et al. 2008

Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas

Qualitativo

Elda Oliveira et al. 2010

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Qualitativo

Paulo E. Pereira; Ana Paula S. Malfitano 2012

Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano

Qualitativo

Zila Sanchez et al. 2011 Ciência & Saúde Coletiva Qualitativo

Larissa Soares et al. 2013

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo

Quantitativo

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Marília R. Zalaf; Rosa Maria Fonseca 2007

Escola Anna Nery Revista de Enfermagem

Qualitativo

Fonte: elaborado pelas autoras.

Para melhor compreensão dos resultados da pesquisa, fez-se necessária a caracterização dos tipos de estudos, que estão descritos no Gráfico 1 juntamente com a porcentagem referente a cada um.

Gráfico 1. Caracterização dos tipos de estudos.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Dos 17 artigos utilizados, 13 (76%) são estudos qualitativos, 2 (12%) estudos reflexivos, 1 (6%) estudo transversal e 1 (6%) es-tudo quantitativo. De acordo com esses dados, nota-se que os auto-res estão preocupados em ter uma visão mais ampla sobre as ques-tões relacionadas ao uso abusivo de drogas. Para isso, utilizam-se de dados colhidos a partir do contato direto com o sujeito em seu ambiente natural, consequentemente abrindo o assunto para novas discussões.

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Tabela 2. Distribuição dos artigos de acordo com os periódicos.

NOME DO PERIÓDICO QUANTIDADE DE ARTIGOS ENCONTRADOS

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo 6

Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas 3Escola Anna Nery Revista de Enfermagem 3Psicologia: Teoria e Pesquisa 1Interface – Comunicação, Saúde, Educação 1Revista Panamericana de Salud Pública 1Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano 1

Ciência & Saúde Coletiva 1

Fonte: elaborado pelas autoras.

De acordo com os resultados, foi possível notar que, ao fi-nal da busca dos artigos selecionados, seis dos 17 utilizados foram encontrados na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, três foram encontrados na Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas e três na Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. As demais revistas apresentaram um artigo: Psicolo-gia: Teoria e Pesquisa, Interface – Comunicação, Saúde, Educa-ção, Revista Panamericana de Salud Pública, Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano e Ciência & Saúde Coletiva.

4. DISCUSSÃO

De acordo com Bucher (2007) e Costa (2013), o objetivo de uma abordagem preventiva ampla e educativa deverá levar em con-ta o contexto histórico do homem, da sociedade e das suas drogas. Para alcançar êxito nos programas preventivos, é fundamental con-seguir efeitos amplos e duradouros, visando os objetivos de médio e longo prazo, tanto pelas transmissões de informações, quanto pe-las formações de profissionais.

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As drogas, sejam lícitas ou ilícitas, são frequentemente ex-perimentadas na adolescência, o que se relaciona com vários ele-mentos, como situação econômica e cultural. Essas substâncias provocam grande prejuízo para o crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, e também para a sua vida adulta (MONTEIRO et al., 2012; PEREIRA; MALFITANO, 2012).

A prevenção mostra-se como uma das formas mais eficientes de lidar com o uso abusivo de drogas, principalmente entre adoles-centes. A medida não deve se limitar a ações isoladas. Deve enfa-tizar a orientação e mobilização desses adolescentes, destacando ações de redução de danos, reabilitação e socialização. Os fatores que determinam o uso de droga são muitos e as estratégias de cui-dados devem ser pautadas na lógica da redução de danos, sendo que os serviços devem admitir a coexistência de tratamento e uso (CAVALCANTE; ALVES; BARROSO, 2008; OLIVEIRA et al., 2010).

Para os autores Oliveira (2008), Brusamarello (2008) e San-chez (2011), o papel da família e da escola na prevenção das dro-gas junto aos adolescentes é importante, por serem responsáveis pela transmissão de valores e pelo monitoramento de limites, além de constituírem os pilares do crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Segundo Zalaf e Fonseca (2007), em seu estudo sobre o pro-grama “Na boca do CRUSP – Prevenção e Acolhimento” – na mo-radia estudantil do campus Butantã da Universidade de São Paulo –, é difícil o trabalho de prevenção de drogas no meio universitário. Deve-se estar aberto a várias estratégias de aproximação com os usuários, voltadas às especificidades e características próprias de cada grupo social.

Já para Justa e Holanda (2012), o teatro é um recurso terapêu-tico ocupacional com o adolescente em risco social.

O debate sobre a atenção à saúde dos indivíduos com proble-máticas relacionadas ao uso de álcool e outras substâncias psico-ativas tem obtido destaque por parte dos gestores, profissionais e pesquisadores, que têm constatado a importância da formulação de políticas e do crescente investimento na construção de tecnologias

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de cuidado nesse campo. O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad) devem funcionar como um serviço acessível, gerando oportunidades de troca de recursos materiais e afetivos, e construir, junto com os sujeitos, uma linha de criação de cuidado, efetivando o desafio da integralidade em suas ações (MARQUES; MÂNGIA, 2009).

Soares (2013), Juns e Lancman (2011) acreditam ser impor-tante introduzir o terapeuta ocupacional nas equipes que integram os serviços que atendem dependentes químicos. O terapeuta ocupa-cional atuando junto a essa população irá buscar meios de auxiliar o indivíduo a ressignificar sua vida por meio da descoberta de novas possibilidades de obter prazer que não o uso de drogas. A prática da Terapia Ocupacional nos CAPS pode trazer muitos ganhos, na medida em que a especificidade da profissão caminha junto às ne-cessidades dos objetivos de sua intervenção.

A Terapia Ocupacional no âmbito da saúde mental obteve mudanças em seu paradigma, ressignificando as atividades, am-pliando seu setting terapêutico e desenvolvendo ações no próprio território do sujeito (CASTRO; MAXTA, 2010; ALMEIDA; TRE-VISAN, 2011).

Segundo Sanchez (2014), modelos de prevenção que abran-gem mais de um domínio de prevenção são mais eficazes, sendo que o trabalho em torno das habilidades de vida é, hoje, considera-do o que melhor se adequa à lógica da promoção de saúde e empo-deramento dos jovens.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados permitem concluir que as drogas lícitas ou ilíci-tas começam a ser usadas por indivíduos na adolescência. Assim, os jovens constituem um grupo vulnerável, já que estão passando por transformações e descobertas próprias da fase do desenvolvimento. Ficou evidenciado que para a população mais jovem, a prevenção se torna eficaz com ações mais dinâmicas, por meio de programas que incluem o jovem, a família, a escola e, por último, a sociedade.

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O estudo aponta que é necessário o desenvolvimento de programas de prevenção primária ao uso de drogas, bem como a introdução dos profissionais de Terapia Ocupacional junto a essa população. Por fim, evidenciou-se a escassez de artigos de Terapia Ocupacional relacionados à prevenção primária ao uso abusivo de drogas, mostrando que há necessidade de investimentos da acade-mia nessa área a fim de trazer contribuições com novos estudos.

REFERÊNCIAS

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Alterações nos papéis ocupacionais de mulheres após diagnóstico de câncer: uma perspectiva da Terapia Ocupacional

Gabriela Roncari do NASCIMENTO1

(in memoriam)

Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES2 Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE3

Resumo: É fato que o câncer mata muitas mulheres. Por esse motivo, devemos ter uma preocupação maior com a saúde feminina. O presente estudo teve como objetivo identificar as alterações nos papéis ocupacionais de mulheres após rece-berem o diagnóstico de câncer. O método utilizado neste estudo foi uma pesquisa exploratória realizada com 24 mulheres, com idades entre 24 e 65 anos, que estivessem em tratamento de câncer, independentemente da tipologia deste, ou já tivessem sido diagnosticadas, e residissem na cidade de São Joaquim da Barra. Cada uma delas respondeu a Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais. O estudo possibilitou identificar a perda dos papéis ocupacionais dessas mulheres e o valor significativo dessa situação para elas.

Palavras-chave: Papéis Ocupacionais. Terapia Ocupacional. Câncer.

1 Gabriela Roncari do Nascimento. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário.2 Roselilian da Cunha Pereira Alves Rodrigues. Mestra em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Changes in the occupational roles of women after cancer diagnosis: a perspective of Occupational Therapy

Gabriela Roncari do NASCIMENTO(in memoriam)

Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: It is a fact that cancer kills many women, so we should have a greater concern for women’s health. The present study aimed to identify the changes in the occupational roles of women after receiving the diagnosis of cancer independent of its typology. The method used in this study was an exploratory study, carried out with 24 women aged 24 to 65 years who are being treated or have already been diagnosed with cancer independent of the typology, and resided in the city of São Joaquim da Barra, where each one Responded to the List of Occupational Roles. The study made it possible to identify the perch in the occupational roles of these women, and what a significant value for them.

Keywords: Occupational Roles. Occupational Therapy. Cancer.

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1. INTRODUÇÃO

Os indivíduos desempenham suas atividades conforme os pa-péis ocupacionais que assumem durante o decorrer de suas vidas. Esses papéis contribuem para a identidade pessoal e norteiam as expectativas sociais, organizando o uso do tempo e envolvendo os indivíduos na estrutura social. Ainda incluem obrigações e posições que as pessoas ocupam em grupos sociais e o modo como neles interagem (BRANHOLM; FUGL-MEYER, 1994 apud DAHDAH; CARVALHO, 2014).

A American Occupational Therapy Association (AOTA) (2008) define papéis como conjuntos de comportamentos espera-dos pela sociedade, modelados pela cultura e conceituados e defi-nidos pelas próprias pessoas que os desempenham. São os papéis que orientam a seleção de ocupações.

Os comportamentos se organizam de acordo com os papéis internalizados e estes, por sua vez, servem como esquema de refe-rência para organizar os comportamentos. Satisfazem-se assim as demandas do ambiente social, impulsionando a busca por conquis-tas e a aquisição de novos papéis (KIELHOFNER; BURKE, 1990).

Com sua inserção no mercado de trabalho, a mulher conquis-ta, também, novos espaços na sociedade, sendo levada a assumir múltiplos papéis. Hoje a mulher possui ideais ampliados, e novos interesses e necessidades. Além de seu compromisso profissional, ela ocupa ainda um espaço amplo no âmbito doméstico, não poden-do se desvincular dele tão facilmente, por se tratar de uma questão cultural (REZENDE; PEREIRA, 2013).

A Terapia Ocupacional é uma profissão que aplica valores essenciais, conhecimentos e habilidades para auxiliar pessoas, or-ganizações e populações a se envolverem em atividades cotidianas ou ocupações que queiram e necessitem fazer de maneira a apoiar a saúde e a participação. Enquanto profissão e ciência, desenvol-veu estudos sobre papéis definindo-os como “[...] o conjunto de comportamentos esperados pela sociedade, moldados pela cultura, podendo ser moldada e conceituada pelo indivíduo” (AOTA, 2008, p. 6).

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Um dos grandes referenciais teóricos dentro dessa profissão é o Modelo da Ocupação Humana (MOH), que explora fortemente os conceitos de papel e de papel ocupacional. Esse modelo pro-cura resgatar a perspectiva humanista em Terapia Ocupacional, associada à Teoria Geral dos Sistemas, segundo a qual o homem é visto como um sistema aberto, cíclico, capaz de sofrer mudan-ças e desenvolver-se pelas experiências vividas no meio ambiente. Compreende-se que esses sistemas não podem trabalhar como par-tes isoladas, mas, sim, que o meio ambiente e os sistemas resultam numa rede dinâmica de relações (KIELHOFNER; BURKE, 1990).

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1980 o câncer foi responsável por 10,1% de todas as mortes registradas no país por causa conhecida. Em 1986, esse percentual foi de 11,2, levando em consideração ambos os sexos, e o do feminino foi de 12,6. Entre as mulheres, 15,6% dos óbitos tiveram como causa básica alguma neoplasia maligna. O câncer representou, portanto, a segunda cau-sa de morte no país entre o sexo feminino, superado apenas pelas doenças cardiovasculares. Considerando que o câncer de mama e útero são responsáveis por quase um terço dessas mortes em todo o país, os programas de prevenção e diagnóstico precoce podem ter grande impacto nesse quadro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1991). O objetivo deste estudo foi identificar as alterações nos papéis ocu-pacionais de mulheres após receberem o diagnóstico de câncer, in-dependentemente da tipologia deste.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido como uma pesquisa explora-tória realizada com 24 mulheres, com idades entre 24 e 65 anos, que estivessem em tratamento ou tenham passado por tratamento, e residissem na cidade de São Joaquim da Barra, diagnosticadas com câncer, qualquer que fosse a tipologia. As participantes responde-ram uma entrevista semiestruturada e a Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais (CORDEIRO, 2005).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Claretiano – Centro Universitário, polo de Batatais (número do

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CAAE: 60255516.2.0000.5381). As participantes foram informa-das de que o principal objetivo do estudo era avaliar as alterações nos papéis ocupacionais de mulheres após o diagnóstico de câncer, independentemente da tipologia. Elas também foram informadas de que sua participação não traria complicações legais, porém poderia causar algum constrangimento e/ou timidez no momento da respos-ta, ficando assim livres para aceitar participar ou não da pesquisa.

O projeto foi, então, apresentado às participantes e foram es-clarecidas as dúvidas antes de elas assinarem o Termo de Consenti-mento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida, foram aplicados o instrumento inseridos no estudo. Para a aplicação dos instrumentos de avaliação, o pesquisador foi à casa de cada uma das participantes e aplicou os seguintes instrumentos:

• Entrevista semiestruturada para coleta de dados sociode-mográficos, tais como nome, estado civil, escolaridade, onde foi diagnosticado o câncer, tempo de tratamento etc.

• Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais, um ins-trumento que leva aproximadamente 15 minutos para ser aplicado e pode ser utilizado com adolescentes, adultos e idosos.

Essa lista se divide em duas partes: a primeira avalia, por meio de um tempo contínuo, os principais papéis ocupacionais que constituem o cotidiano do indivíduo; a segunda parte identifica a medida de valor que o indivíduo confere a cada papel. A Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais considera a percepção de cada indivíduo sobre seus próprios papéis, sendo válidos, portanto, apenas os papéis autoatribuídos. Para coleta dos dados para a pes-quisa, foram agendadas visitas domiciliares à casa de cada partici-pante.

3. RESULTADOS

De acordo com os dados coletados por meio de entrevista semiestruturada, todas feitas em São Joaquim da Barra: apenas uma participante teve alta do seu tratamento; uma das 24 entrevistadas

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é aposentada; e a tipologia mais identificada foi o câncer de mama, sendo diagnosticado em 17 das entrevistadas. A faixa etária que sobressaiu foi a dos 41 aos 59 anos.

Muitas desejam voltar a estudar, sendo que sete estudaram só até o 4° ano do ensino básico, três terminaram o Ensino Superior, cinco concluíram o Ensino Fundamental e nove concluíram o En-sino Médio. Quanto à religião, sete são evangélicas, três espíritas e 14 católicas.

No Gráfico 1, encontra-se a informação de que 50% das en-trevistadas estão casadas. Muitas relataram que, depois da desco-berta da doença, não tiveram apoio do esposo, levando assim à se-paração e até mesmo ao divórcio.

Gráfico 1. Distribuição por estado cívil.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Após a entrevista semiestruturada, iniciou-se a aplicação da Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais. Todas as participan-tes foram bem colaborativas e demonstraram estar gostando de par-ticipar da pesquisa.

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O Gráfico 2 demonstra os padrões de desempenho de papéis ocupacionais. Dos papéis ocupacionais avaliados, oito haviam sido perdidos no momento. Entre eles, destacam-se, num grau impor-tante, os papéis de trabalhador, voluntário e cuidador. Para leitura do gráfico, vale ressaltar que o tempo presente foi considerado por elas como sendo do dia do diagnóstico até o dia da entrevista. Pas-sado foi um mês antes do diagnóstico e futuro foi a partir do dia seguinte à entrevista. O papel ocupacional membro de família foi um dos que tiveram continuidade em seu desempenho. Constatou--se que havia interesse de se desempenhar no futuro somente seis dos papéis que não eram desempenhados nem no passado nem no presente. Houve muitas alterações nos papéis, ficando claras as per-das do passado em relação ao presente e do presente em relação ao futuro.

Gráfico 2. Padrões de desempenho de papéis ocupacionais.

Fonte: elaborado pelas autoras.

O Gráfico 3 se refere ao grau de importância atribuído aos papéis ocupacionais nos tempos passado, presente e futuro. “Muita importância” se destacou, enquanto o grau de importância “Algu-

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ma importância” teve destaque não tão significativo entre algumas das participantes.

Gráfico 3. Distribuição do grau de importância dos papéis ocupacionais.

Fonte: elaborada pelas autoras.

4. DISCUSSÃO

As informações obtidas com a aplicação da Lista de Identifi-cação de Papéis Ocupacionais foram de grande contribuição para o conhecimento de cada participante quanto aos seus papéis e sobre o quanto a doença impactou em sua qualidade de vida. Pode-se notar a perda de muitos ou de todos os papéis ocupacionais, o compro-metimento ou a dificuldade em relação à discriminação da impor-tância de cada papel, e o desejo de se envolver com futuros papéis, como o de voluntário e o de participação em organizações. Cabe lembrar que nenhuma das participantes indicou desempenhar outro papel ocupacional além dos listados no instrumento de avaliação, deixando claro para a pesquisadora que só houve perda de papéis

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por causa da doença e que só há o interesse de desempenhar alguns papéis depois do tratamento.

Algumas restrições causadas pelo tratamento as levaram a privações ocupacionais no presente, fazendo com que o desejo de resgate no futuro seja de grande interesse. Considerando que o papel ocupacional se realiza no contexto social, utilizando-se de diversas formas de interação e mobilidade, é provável que a impos-sibilidade de integrar o paciente nesse contexto de forma dinâmica tenha interferido na aquisição e no resgate de papéis ocupacionais. Pode-se também atribuir as poucas alterações nos papéis ocupacio-nais ao tempo curto designado à intervenção, pois existe a compre-ensão de que o envolvimento com o papel ocupacional é amplo e requer tempo para sua interiorização e posterior desenvolvimento (SANTI; MARIOTTI; CORDEIRO, 2013).

Existem autores que afirmam que o tratamento oncológico pode causar perda de autonomia nas atividades de vida diária, perda da imagem corporal, alterações em contextos sociais, psicológicos e fisiológicos, bem como a ruptura de rotina e a necessidade de lidar com o enfrentamento da doença (OLIVEIRA; COSTA; NO-BREGA, 2003), confirmando a hipótese da pesquisa de que o trata-mento oncológico causa mudanças no cotidiano e no desempenho das atividades de vida diária das mulheres participantes.

É difícil encontrar na literatura relatos sobre as dificulda-des e as mudanças no cotidiano e sobre o impacto no desempenho ocupacional de mulheres. No Brasil, existem poucos estudos sobre alguns tipos de câncer, sendo muito tratados na literatura aqueles com maiores índices de ocorrência, que são o de mama e o de colón de útero. Isso dificultou que, nesta pesquisa, houvesse comparação e dados específicos. Sabe-se que essa é uma fase delicada da vida e, como mostrado no estudo, o tratamento pode causar perdas de pa-péis próprios. Apesar dos fatos, muitas das participantes passaram a adaptar seu cotidiano para manter seus papéis, principalmente os de amigo, membro de família e religioso.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais mostrou-se um instrumento viável para auxiliar na organização de estratégias de intervenção terapêutica ocupacional com as participantes do estudo, indicando a possibilidade do desenvolvimento de futuros estudos.

O tratamento oncológico pode gerar o impacto de modificar os papéis ocupacionais ao longo do tempo, bem como causar mu-danças na forma em que são desempenhados, dando oportunidade de resgatar os papéis ocupacionais perdidos durante o tratamento.

Ao receber o diagnóstico de câncer, essas mulheres têm a sen-sação de ansiedade, e medo do desconhecido e de todos os procedi-mentos por que terão que passar. O tratamento exige uma adaptação em todas as áreas desempenhadas por elas, bem como altera todo o contexto dos ambientes com que estavam acostumadas a lidar. Ao relatar dificuldades com relação ao desempenho ocupacional, este estudo pode ter condições de indicar a Terapia Ocupacional como possibilidade de assistência para um planejamento de estratégias terapêuticas adequadas à fase, buscando auxiliar no desempenho ocupacional dessas mulheres, tanto no planejamento de novos de-sempenhos quanto nas atividades que já eram realizadas.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Estatísticas de mortalidade – Brasil: 1986. Brasília, 1991.

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CORDEIRO, J. R. Validação da lista de identificação de papéis ocupacionais em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) no Brasil. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2005.

DAHDAH, D. F.; CARVALHO, A. M. P. Papéis ocupacionais, benefícios, ônus e modos de enfrentamento de problemas: um estudo descritivo sobre cuidadoras de idosos dependentes no contexto da família. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 3, p. 463-472, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.067>. Acesso em: 21 ago. 2017.

OLIVEIRA, N. F. S.; COSTA, S. F. G.; NÓBREGA, M. M. L. Diálogo vivido entre enfermeira e mães de crianças com câncer. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 01, p. 99 – 107, 2006. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen>. Acesso em: 21 ago. 2017.

KIELHOFNER, G.; BURKE, J. P. Modelo de Ocupação Humana. Revista de Terapia Ocupacional de Universidade de São Paulo, v. 1, n. 1, p. 216-219, 1990.

REZENDE, E. F.; PEREIRA, E. S. Os múltiplos papéis da mulher trabalhadora: um olhar do Serviço Social. 2013. 19f. Trabalho de Conclusão de Curso (Serviço Social) – Faculdade Católica de Uberlândia, Uberlândia, 2013. Disponível em: <http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv3n5/artigo17.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017.

SANTI, A.; MARIOTTI, M. C.; CORDEIRO, J. Lista de identificação de papéis ocupacionais em um centro de tratamento de hemodiálise: contribuições para a intervenção de terapia ocupacional – estudo piloto. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 23, n. 3, p. 289-96, 2013. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rto/article/viewFile/55645/59105>. Acesso em: 21 ago. 2017.

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A atuação da Terapia Ocupacional na prevenção de quedas de idosos em seus domicílios: revisão da literatura

Heloisa de Lima ARAÚJO1

Lenita Aparecida Rodrigues PAULINO2

Maria Eugenia Soares TERAN3

Camila de ALMEIDA4

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE5

Rosângela de Abreu Venancio TAMANINI6

Resumo: O processo de envelhecimento acarreta diversas modificações biopsicossociais na vida do indivíduo e pode vir acompanhado de doenças crônico-degenerativas e de eventos incapacitantes, entre os quais, as quedas. A queda pode ocasionar fraturas, luxa-ções, perda de confiança em si mesmo, entre outras problemáticas que interferem dire-tamente na independência, autonomia e qualidade de vida do indivíduo. Dessa forma, a prevenção desses eventos faz-se necessária e o terapeuta ocupacional é um dos agentes atuantes na prevenção, melhorando a mobilidade e com intervenções no ambiente domi-ciliar. Assim, o presente trabalho busca, por meio de uma revisão da literatura, descrever a atuação da Terapia Ocupacional na prevenção de quedas de idosos em seus domicílios, e. com isso, elencar a importância da atuação desse profissional nas avaliações e inter-venções voltadas para o ambiente domiciliar e para prescrição e uso de dispositivos de tecnologia assistiva para a mobilidade.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Queda. Prevenção. Idoso. Domicílio.

1 Heloisa de Lima Araújo. Bacharelanda em Terapeuta Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Lenita Aparecida Rodrigues Paulino. Bacharelanda em Terapeuta Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Maria Eugenia Soares Teran. Bacharelanda em Terapeuta Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Camila de Almeida. Mestra em Ciências Aplicadas ao Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Especialista em Fisioterapia Aquática pela Universidade Cidade de São Paulo (USP). Bacharel em Fisioterapia pelo Centro Universitário Barão de Mauá (CBM). Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Lucy Montoro do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (USP). E-mail: <[email protected]>.5 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 6 Rosângela de Abreu Venancio Tamanini. Mestra em Saúde na Comunidade pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Especialista em Saúde Mental e em Terapia Ocupacional Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Role of occupational therapy in the prevention of falls in the elderly in yours domicilies: literature review

Heloisa de Lima ARAÚJOLenita Aparecida Rodrigues PAULINO

Maria Eugenia Soares TERANCamila de ALMEIDA

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDERosângela de Abreu Venancio TAMANINI

Abstract: The aging process leads to the life of the individual several biopsychosocial modifications and may be accompanied by chronic-degenerative diseases and disabling events, including falls. The fall can cause fractures, luxations, loss of confidence, among other problems that directly interfere the independence, autonomy and quality of life of the individual. In this way, the prevention of these events is necessary and the occupational therapist is one of the agents acting in the prevention, through the mobility and interventions in home environment. Thus, the present work searches through a literature review to describe the performance of Occupational Therapy in the prevention of fall among elderly people at home and with that, to list the importance of this professional in evaluations and interventions in home environment and for prescription and use of assistive technology devices for mobility.

Keywords: Occupational Therapy. Fall. Prevention. Elderly. Domicile.

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1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem acontecendo com a crescente expectativa de vida. No Brasil, o Es-tatuto do Idoso considera idosa toda pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Em 2008, o percentual de idosos era de 9,7%, passando a 12,1% em 2011 e chegando a 13% em 2013. Estima-se que, no ano de 2050, a população brasileira de idosos chegará a 30% na faixa etária de 60 anos (IBGE, 2008).

O aumento acentuado no número de idosos ocorre em um contexto de transformações estruturais nas famílias, decorrentes de mudanças na nupcialidade, da queda da fecundidade (devido à dis-ponibilidade de métodos contraceptivos) e do ingresso maciço das mulheres no mercado de trabalho (CAMARANO, 2013).

A queda é definida como uma mudança de posição inespe-rada, não intencional, que faz com que o indivíduo permaneça em um nível inferior, por exemplo, sobre o mobiliário ou no chão. As quedas são causadas por fatores intrínsecos – como sexo, idade, sedentarismo, polimedicação, alteração na visão, alterações orto-pédicas, déficit cognitivo, histórico prévio de quedas e de acidente vascular encefálico (AVE) –, e por fatores extrínsecos, como ilu-minação deficiente, piso irregular ou escorregadio, degraus altos e estreitos, tapetes soltos, barreiras arquitetônicas, roupas e sapatos inadequados (PERRACINI, 2005).

As quedas são uma das principais fontes de disfunções físi-cas e de mortalidade entre as populações com idade avançada e as fisicamente deficientes. O Sistema Único de Saúde (SUS) investe, a cada ano, mais de R$ 51 milhões no tratamento de fraturas de-correntes de queda e R$ 24,77 milhões em medicamentos para tra-tamento da osteoporose, doença caracterizada pela fragilidade dos ossos, que atinge principalmente mulheres na menopausa e que, em casos mais graves de fratura, como a do fêmur, pode levar à morte (DATASUS, 2009). Um número considerável de pesquisas com implicações para a prática da Terapia Ocupacional vem sendo realizado nessa área. Um estudo indicou que as quedas diminuíram 60% após ser implantado um programa para reduzir os perigos nos

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ambientes domésticos de cidadãos idosos, e as intervenções utiliza-das nesse programa eram semelhantes àquelas tipicamente usadas por terapeutas ocupacionais. As quedas acontecem frequentemente durante o desempenho das ocupações. Com isso esses profissionais podem oferecer uma ampla variedade de serviços de prevenções primária, secundária e terciária de quedas, em diversos ambientes (PEDRETTI; EARLY, 2005).

A maior suscetibilidade dos idosos a sofrerem lesões decor-rentes de uma queda se deve à alta prevalência de comorbidades presentes nessa população, associada ao declínio funcional resul-tante do processo de envelhecimento, como o aumento do tempo de reação e a diminuição da eficácia das estratégias motoras do equilíbrio corporal, fazendo de uma queda leve um evento poten-cialmente perigoso. Dos idosos que caem a cada ano, entre 5 a 10% têm como consequência lesões severas como fratura, traumatismo craniano e lacerações sérias, que reduzem sua mobilidade e inde-pendência, aumentando as chances de morte prematura (PEDRET-TI; EARLY, 2005).

Não se pode levar em consideração apenas fatores físicos, visto que na literatura é muito citado o medo de cair, que é associa-do com a perda de confiança em manter o equilíbrio, podendo levar à perda de independência, interferir nas atividades de vida diária (AVDs) e restringir as atividades físicas. Vale lembra que uma vida sedentária eleva a redução de mobilidade e equilíbrio, podendo as-sim, aumentar o risco de queda.

Nesse sentido, a Terapia Ocupacional visa à promoção da qualidade de vida, especialmente por meio da promoção da inde-pendência em atividades cotidianas e da satisfação por parte do idoso. Uma parte da intervenção do terapeuta ocupacional, dentro do contexto de trabalho com a população idosa, pode estar voltada para orientações de comportamentos individuais, bem como para adaptações de ambientes para a prevenção de riscos de quedas. A importância da adaptação do ambiente para a prevenção de quedas de idosos tem sido apontada não só no que diz respeito à remoção dos riscos como também ao uso de técnicas que mudem as atitudes dos idosos diante dos comportamentos arriscados (MELLO, 2007).

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A intervenção do terapeuta ocupacional no cuidado com o idoso pode contribuir para a promoção da saúde, ao favorecer a estru-turação de um cotidiano saudável, melhorando ou possibilitando a participação nos diferentes papéis, trabalho, moradia, educação, atividades culturais e de lazer (CAVALCANTI, 2015).

A população idosa vem crescendo gradativamente ao longo dos anos e até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos (PAPALEO NETTO, 2007). Essa é uma revolução da longevidade que tende a se perpetuar por várias déca-das. Com isso, faz-se necessário pensar em maneiras de proporcio-nar uma qualidade de vida para esses indivíduos idosos, visto que o envelhecimento traz consigo uma carga de perdas físicas, cogniti-vas e sociais, e uma das problemáticas que abrange todas essas per-das é a queda. No Brasil, cerca de 29% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma recorrente. Os acidentes são a quinta maior causa de morte, sendo a queda responsável por dois terços dessas mortes acidentais (PERRACINI, 2009).

Além da alta mortalidade, destaca-se também como conse-quência relevante o fato de a queda causar restrição de mobilida-de, incapacidade funcional, isolamento social, insegurança e medo, prejudicando a saúde e a qualidade de vida dos idosos (PEREIRA, 2004). Isso provoca prejuízo nas atividades de vida diária (AVDs) e nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD), áreas que são objeto de estudo da Terapia Ocupacional (PEDRETTI; EARLY, 2005).

O medo de cair se torna um agravante, pois causa uma gran-de inquietação diante uma situação em que o idoso considera que haja risco de cair, seja esse risco real ou imaginário. Tal medo se relaciona com a baixa confiança em evitar uma queda, visto que, quando tem autoconfiança, a pessoa consegue superar uma situação que considera desafiadora, já que seu foco fica mais voltado para a tarefa a ser realizada do que para o medo ou a limitação.

A Terapia Ocupacional é uma das profissões que compõem os programas de reabilitação do idoso. Esses programas comportam ações integradas e executadas por equipe multiprofissional, tendo como objetivo principal evitar o escalonamento de incapacidades

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funcionais, que, certamente, vai gerar perda de independência e au-tonomia e, consequentemente, afetar a qualidade de vida desse ido-so. O terapeuta ocupacional pode contribuir de forma a identificar as habilidades que possam ser restauradas ou adaptadas e promover intervenções, maximizando a independência e autonomia dos ido-sos pelo maior tempo possível, visando a melhorar sua qualidade de vida.

Diante de todos os impactos que a queda acarreta para a saú-de funcional dos idosos, percebe-se a importância de o terapeuta ocupacional assimilar esse fenômeno e estudar mais sobre ele, o que justifica a importância deste trabalho.

2. OBJETIVO

Realizar uma revisão bibliográfica sobre a atuação da Terapia Ocupacional na prevenção de quedas de idosos em seus domicílios.

3. MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório nas bases de dados SciELO, LILACS e Google Acadêmico, utilizando como descritores os termos “terapia ocupacional”, “queda”, “prevenção”, “idoso” e “domicílio”, cruzados entre si.

A busca bibliográfica também foi delimitada por critérios de seleção: publicações entre os anos de 2005 e 2016, no idioma por-tuguês e que atendessem ao objetivo do trabalho.

4. RESULTADOS

Após a leitura minuciosa dos materiais encontrados, foi se-lecionado um total de dez artigos, os quais foram publicados nos anos de 2010, 2013, 2014 e 2015 e são decorrentes de pesquisas científicas para formação profissional (dissertações de mestrado, N = 03), conforme apresentado no quadro a seguir.

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Quadro 1. Relação de artigos por nome, autor(es), ano de publicação, tipo de material e local de publicação.

NOME DO ARTIGO AUTOR(ES) ANO DE

PUBLICAÇÃOTIPO DE

MATERIALLOCAL DE

PUBLICAÇÃO

Vigilância e prevenção de quedas em pessoas idosas

LOUVISON; ROSA 2010 Cartilha de

orientações

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Elaboração de um roteiro para avaliação do ambiente e do mobiliário no domicílio de idosos

MARTINEZ; EMMEL 2013 Artigo

Original

Revista de Terapia Ocupacional, Universidade de São Paulo (USP)

Riscos de queda no ambiente doméstico: a segurança do idoso sob o olhar do terapeuta ocupacional

TIEPPO; ABADE 2010 Revisão de

literatura

Revista Prata da Casa: escritas do cotidiano de uma equipe que cuida.

Cartilha para acessibilidade ambiental: orientações ilustradas para domicílios de pessoas idosas

EMMEL; PAGANELL 2013 Cartilha de

orientações

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Contribuição da Terapia Ocupacional para a prevenção de quedas em idosos: uma revisão de literatura

BELARMINO 2015 Revisão de literatura

Instituto Federal De Educação Ciência E Tecnologia Do Rio De Janeiro (IFRJ)

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Fatores associados às alterações do equilíbrio no idoso e a intervenção da Terapia Ocupacional

PAULA 2014 Levantamento bibliográfico

Revista Científica da Escola da saúde – Universidade Potiguar (UnP)

Fatores intrínsecos relacionados à queda de idosos do município de São Paulo segundo o Estudo SABE

DUARTE 2010 Dissertação de Mestrado

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP)

Intervenções de Terapia Ocupacional em uma Unidade Básica de Saúde: relato de experiência de atendimento domiciliar ao idoso

SOUZA; ARAUJO 2016 Relato de

experiência

Simpósio de Terapia Ocupacional da Faculdade de Filosofia e Ciência (UNESP), Marília

Prevenção de quedas na população geriátrica

SOUSA 2015 Dissertação de Mestrado

Faculdade de Medicina de Coimbra, Portugal

Intervenção domiciliar com ênfase no autocuidado para idosos usuários de um centro de saúde Escola do Município de São Paulo

ALMEIDA; BATISTA 2016 Artigo

original

Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo (USP)

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5. DISCUSSÃO

Observa-se que todos os estudos selecionados para a pesquisa foram sobre a promoção de melhorias na realização das interven-ções no ambiente, as quais foram planejadas e iniciadas após co-nhecimento das demandas de cada indivíduo por meio de processos avaliativos. Porém, nos trabalhos selecionados, não houve a aplica-ção isolada de instrumentos com objetivo de identificar o risco de quedas.

Segundo Ramos e Toniolo Neto (2005), e Papaléo Netto (2007), uma combinação de instrumentos deve ser utilizada para identificar todos os riscos de quedas em idosos, sendo a avaliação do idoso multidimensional, devido aos múltiplos problemas inter--relacionados que afetam a esfera física, psicoafetiva, cognitiva e social.

Também foi possível observar que os episódios de queda são mais frequentes na população feminina, porém os eventos que cul-minam em morte têm maior incidência no sexo masculino, 56% dos casos. O risco de o idoso vir a sofrer uma queda é proporcional-mente dependente da presença de fatores de risco associados, por exemplo, comorbidades e ambientes inseguros.

De acordo com Perracini (2005), alguns fatores que contri-buem com os episódios de quedas estão associados à presença de distúrbios de marcha, à saúde física e mental ruins e a condições econômicas desfavoráveis.

Outro aspecto importante, observado a partir da revisão de li-teratura, está relacionado ao aumento da insegurança e dependência do idoso. O medo de cair, adquirido já na primeira queda, contribui com a restrição do desempenho funcional e, por conseguinte, com o aparecimento de síndromes de fragilidade e diminuição dos papéis ocupacionais.

De acordo com Perracini (2005), estão relacionados com a ocorrência de quedas alguns fatores como a ausência do cônjuge, não ter o hábito de ler, histórico de fratura, dificuldades em realizar AVDs e comprometimento da visão.

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Em relação à prevenção e à reabilitação, deve ser feito um trabalho multidisciplinar que possibilite troca de conhecimento e agilidade no atendimento às demandas dos idosos.

A atuação dos terapeutas ocupacionais deve levar em conta não somente o ambiente físico, mas também os fatores de risco, com intuito de proporcionar ao idoso melhora dos padrões de for-ça muscular, amplitude de movimento, equilíbrio e coordenação motora, favorecendo a capacidade funcional para a realização do desempenho ocupacional.

Os programas de exercício que contêm mais de um compo-nente levam a uma redução mais significativa nas taxas de queda, quer sejam realizados em grupo ou individualmente, no domicílio. O treino do equilíbrio é um dos componentes mais importantes e que leva a maior redução na taxa de quedas.

Embora a fraqueza da musculatura esteja associada a um maior risco de queda, não há evidências de que intervenções base-adas no treino isolado, com exercícios para melhora da força mus-cular, conduzam à redução da taxa de queda ou do risco de cair. No entanto, uma associação desses exercícios com treino de equilíbrio contribui para a redução dos episódios de queda, e pode, assim, ser utilizada como medida de reabilitação e prevenção. O mesmo acon-tece com o treino da marcha, o qual deve ser associado ao treino de equilíbrio.

Também foi possível verificar que a integração do exercício físico nas AVDs pode levar a uma redução da taxa de quedas. As-sim, ele deve ser realizado no domicílio e adaptado à vida do parti-cipante, à sua flexibilidade e à opção de escolha.

O terapeuta ocupacional também visa promover recomenda-ções relacionadas à segurança na residência do idoso, como remo-ção ou substituição de tapetes soltos no piso, colocação de faixas antiderrapantes nas bordas dos degraus da escada, colocação de tapetes antiderrapantes no banheiro, instalação de barras de apoio em escada e melhora da iluminação; além disso, não se deve deixar objetos no alto, de forma que se necessite de escadas ou outros dispositivos para alcançá-los. Entretanto, essas intervenções devem

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ser realizadas de forma individual e com base nas demandas e ne-cessidades apresentadas pelo idoso.

Dessa forma, os terapeutas ocupacionais devem visar à auto-nomia e à independência funcional, bem como identificar formas de intervenção dos fatores de risco do ambiente a que as pessoas idosas estão expostas no domicílio e fora dele, a fim de garantir a prevenção contra quedas e, consequentemente, melhorar a funcio-nalidade e a qualidade de vida.

No que diz respeito ao exercício físico como método de pre-venção de quedas, pode-se encontrar na literatura dados relativos à redução na taxa de quedas, podendo ser considerada a interven-ção com melhor relação entre custo e benefício. O exercício terá também benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais. Além da redução de quedas, essas intervenções diminuem também o núme-ro de fraturas a elas associadas. O exercício físico impede ainda o declínio funcional precoce. Assim, ele deve ser estimulado desde a adolescência e início da vida adulta.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevalência de quedas entre os idosos poderia ser diminuí-da com o planejamento de ações voltadas às suas necessidades nas unidades de saúde, especialmente em relação aos fatores associa-dos passíveis de prevenção.

Assim, identificar como o idoso descreve e desempenha suas AVDs é relevante para o planejamento e para a implementação de políticas de cuidados, visando a permanência desse indivíduo na comunidade com a máxima autonomia e independência pelo maior tempo possível.

O estudo mostrou que as alterações do envelhecimento ne-cessitam de estratégias preventivas por parte do idoso, dos familia-res e da equipe de atenção à pessoa idosa. Além disso, ressaltou a importância do terapeuta ocupacional na intervenção não somente na mudança do ambiente domiciliar, mas também no uso de equi-pamentos para mobilidade, bengalas e andadores, a fim proporcio-

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nar maior segurança e qualidade de vida aos idosos que necessitam dessa intervenção.

As demandas do idoso apresentam-se de forma diferente em relação às outras fases da vida, sendo necessário ampliar os estudos e as estratégias da Terapia Ocupacional, bem como as formas de avaliação e os instrumentos de coleta de informações em relação a essa população.

Sendo assim, conclui-se a importância de novos estudos voltados a essa temática, principalmente para a atuação interdisci-plinar, que não só proporcionaria maior conhecimento dos idosos brasileiros, mas também aumenta as estratégias de intervenção vol-tadas ao idoso.

REFERÊNCIAS

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A importância da Terapia Ocupacional na promoção da saúde de idosos para a manutenção da qualidade de vida: uma revisão da literatura

Ana Lara Cristina de CASTRO1

Rosângela de Abreu Venancio TAMANINI2

Resumo: Este estudo trata do trabalho desenvolvido em Terapia Ocupacional junto a idosos na atenção primária de saúde. Foi realizado um levantamento bi-bliográfico de artigos publicados entre 2010 e 2015 nas bases de dados SciELO e LILACS. O material foi organizado e analisado de acordo com o instrumento de coleta desenvolvido por URSI (2005). Foi possível observar que a forma princi-pal de intervenção nas Unidades Básicas de Saúde se refere a grupos educativos, que realizam orientações sobre bons hábitos, interferindo positivamente para melhor qualidade de vida dos usuários. No entanto, os profissionais de Terapia Ocupacional encontram dificuldades no convívio interprofissional devido à am-pla visão de saúde e doença, e aos materiais e recursos oferecidos. O terapeuta ocupacional é um profissional fundamental para aumentar a independência e a funcionalidade dos idosos, promovendo ações que possibilitem maior autonomia dentro da comunidade.

Palavras-chaves: Terapia Ocupacional. Promoção de Saúde. Envelhecimento. Idosos. Atenção Primária de Saúde.

1 Ana Laura Cristina de Castro. Pós-graduanda em Terapia Ocupacional Hospitalar pelo Claretiano – Centro Universitário. Bacharel em Terapia Ocupacional pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.2 Rosângela de Abreu Venancio Tamanini. Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Especialista em Saúde Mental e em Terapia Ocupacional Hospitalar pela Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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The importance of Occupational Therapy in the promotion of elderly health for the maintenance of quality of life: a review of the literature

Ana Lara Cristina de CASTRORosângela de Abreu Venancio TAMANINI

Abstract: This is a study about the work developed in occupational therapy with the elderly in primary health care. A bibliographic survey of articles published between 2010 and 2015 was carried out in the databases SciELO and Lilacs. The material was organized and analyzed according to the instrument developed by URSI (2005). It was possible to observe that the main form of intervention in the regional health unit refers to educational groups, in which are orientations about good habits, interfering positively in the better quality of life of the users. However, occupational therapy professionals find difficulties in interprofessional living due to the broad vision of health and illness, as well as in relation to the materials and resources offered. In conclusion, the occupational therapist is a fundamental professional to increase the independence and functionality of the elderly, promoting actions that allow greater autonomy within the community.

Keywords: Occupational Therapy. Health Promotions. Ageing. Elderly. Primary Health Care.

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Conselho Nacional do Idoso, criado em 1994, é considerada idosa a pessoa com mais de sessenta anos. Segundo Teixeira (2002), as pessoas estão vivendo cada vez mais tempo, provocando um aumento da população idosa. Isso acontece devido à melhor qualidade de vida e maior acesso ao sistema de saúde. Os idosos brasileiros envelhecem em condições de heteroge-neidade quanto à capacidade funcional, controle de doenças e agra-vos, acessibilidade aos serviços de saúde, características da rede de apoio social, estilo de vida e condições do contexto psicossocial (DIAS; DUARTE; LEBRÃO, 2010). Para suprir as necessidades de saúde dos idosos, a atenção básica oferece serviços a toda po-pulação de forma integral, contínua e resolutiva, sendo o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde.

A Política Nacional de Atenção Básica (2006, p. 10) esclare-ce que a Atenção Básica se caracteriza por um “conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a pro-moção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnós-tico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde”. Essas ações são desenvolvidas por meio do trabalho de uma equipe que é definida por Ximenes, Francisco e Sampaio (2008) como equipe mínima, sendo composta por um enfermeiro, médico, auxiliar de enfermagem, agentes comunitários de saúde (ACS), contando com a coordenação da Secretaria Municipal da Saúde.

A Terapia Ocupacional se insere nesse contexto, pois, segun-do Jardim, Afonso e Pires (2008, p. 169-170):

[...] sua formação interdisciplinar poderá estimular o de-senvolvimento de ações que estejam focadas na esfera in-dividual e na coletiva, contribuindo para o reconhecimento das necessidades da comunidade e dos indivíduos que nela residem.

Além disso, fornece respaldo também às famílias e à comu-nidade. Para Almeida, Spínola e Lancman (2009), as mudanças, sejam de ordem física, emocional ou social, são inerentes ao pro-cesso de envelhecimento e afetam habitualmente o equilíbrio das

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atividades cotidianas. Elas requerem que o terapeuta ocupacional atue em antecipação ou na vigência dessas mudanças, de forma a auxiliar a pessoa idosa a manter ou a recobrar o equilíbrio de ativi-dades significativas em seu cotidiano. Dessa forma, esse trabalho objetivou reunir algumas estratégias utilizadas pelos profissionais de saúde na atenção primária ao idoso, bem como mostrar a impor-tância da Terapia Ocupacional na promoção da saúde e os fatores que influenciam na qualidade de vida dessa população.

2. METODOLOGIA

Para elaboração desta pesquisa, foi realizado levantamento bibliográfico nas bases de dados Scientific Eletronic Library Onli-ne (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe de Ciên-cias da Saúde (LILACS). Essa busca levou em consideração estu-dos disponíveis na plataforma até o dia 09 de maio 2016. Os artigos pesquisados deveriam: abordar a atenção primária aos idosos; se-rem no idioma português; terem sido produzidos no Brasil – devido ao aumento considerável da expectativa de vida e à necessidade de se conhecer o trabalho da Terapia Ocupacional brasileira; terem sido publicados entre os anos de 2010 a 2015; possuírem os descri-tores “terapia ocupacional”, “promoção de saúde”, “envelhecimen-to”, “qualidade de vida”, “idosos” e “atenção primária de saúde”.

A busca se iniciou pelo cruzamento dos descritores seguindo ajustes conforme as bases de dados, a fim de aumentar sua sensibi-lidade e precisão. A seleção foi realizada por meio da leitura prévia dos títulos e resumos. Posteriormente, foi feita uma leitura aprofun-dada dos textos na íntegra para decidir se seriam inclusos.

Assim, foram selecionados nove artigos que foram avaliados com base no instrumento de coleta desenvolvido e avaliado por URSI (2005), com objetivo de facilitar o agrupamento dos dados semelhantes e a estruturação dos resultados encontrados.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para elaboração deste artigo, foram selecionados nove arti-gos, apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Descrição dos artigos selecionados.

AUTOR ANO TÍTULO LOCAL DE PUBLICAÇÃO

Artigo 1 Paiva, L. F. A. et al. 2013

A Terapia Ocupacional na residência multiprofissional em saúde da família e comu-nidade

Cadernos de Tera-pia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos

Artigo 2

Silva, R. A. S.; Menta, S. A.

2014Abordagem de terapeutas ocupacionais em Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no estado de Alagoas

Cadernos de Tera-pia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos

Artigo 3 Pilger, C. et al. 2015 Atividades de promoção à

saúde para um grupo de idososRevista de Enfer-magem Atenção à saúde

Artigo 4Reis, F. dos.; Vieira, A. C. V. C.

2012Demandas, construções e desafios vivenciados por tera-peutas ocupacionais na aten-ção primária à saúde

Revista Brasileira de Promoção à Saúde

Artigo 5G u e d e s , H. M. et al.

2012O olhar do idoso sobre o aten-dimento em Unidades Básicas de Saúde de Coronel Fabricia-no – MG

Revista Mineira de Enfermagem

Artigo 6 Toldrá, R. C. et al. 2014

Promoção da saúde e da qua-lidade de vida com idosos por meio de práticas corporais

O mundo da saúde

Artigo 7

Tahan, J.; Carvalho, A. C. D. de.

2010Reflexões de idosos partici-pantes de grupos de promoção de saúde acerca do envelheci-mento e da qualidade de vida

Saúde e Sociedade – São Paulo

Artigo 8

Reis, F.; G o m e s , M. L.; Aoki, M.

2012Terapia Ocupacional na Atenção Primária à Saúde: reflexões sobre as populações atendidas

Cadernos de Tera-pia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos

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Artigo 9 Victor, J. F. et al. 2007

Grupo Feliz Idade: cuidado de enfermagem para a promoção da saúde na terceira idade

Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

Após a exploração do material coletado, verificou-se que os 9 artigos enfatizam a importância dos grupos de idosos na atenção primária, sendo essa uma estratégia para a criação de vínculos e formação de uma rede social de apoio ao idoso. Esse tipo de inter-venção é apresentado pela literatura como uma forma de facilitar o vínculo entre profissionais de saúde e usuários e, assim, aumentar a adesão aos tratamentos e, por conseguinte, a prevenção de co-morbidades e complicações (GARCIA et al., 2005; ESPERIDIÃO, 2005).

Além disso, a criação de vínculos não está apenas relacionada à equipe de saúde, mas também a outros participantes dos grupos, o que favorece a troca de experiências e se torna um fator importante para a participação dos idosos, para a construção de conhecimen-tos, mudanças de hábitos e aceitação do processo de envelhecimen-to. Essa questão pode ser observada em cinco artigos dos artigos selecionados (1, 3, 6, 7 e 9). Dessa forma, verifica-se que a prática grupal favorece a abertura de novos canais de comunicação verbal ou não verbal, aumento da rede de relacionamentos e da confiança dos idosos – que se encontram diminuídas devido ao abandono das atividades e à aposentadoria (GARCIA et al., 2005; MASUCHI et al., 2010; TOLDRÁ et al., 2014; PILGER et al., 2015).

Quatro artigos (1, 2, 3 e 5) enfatizam a melhoria dos aspectos físicos e biológicos realizada por meio das estratégias de práticas de caminhada, alongamentos, relaxamento, exercícios para melho-ra da coordenação motora, práticas recreativas, oficinas de educa-ção em saúde e bons hábitos ensinados nos grupos. Isso sustenta a afirmação de Albuquerque e Stotz (2004) que aponta as ações de promoção de saúde como estimulantes para a prática de atividades físicas, alimentação e hábitos saudáveis, interferindo positivamente nas condições de saúde do sujeito.

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O artigo 6 relata o método self-healing (movimento, respira-ção, automassagem) como técnica utilizada para alívio dos sinto-mas de dor, melhora da movimentação e das atividades de autocui-dado. Para Toldrá (2005), tal método auxilia o idoso a desenvolver consciência e reorganização corporal, modificando como ele sente e como vive seu próprio corpo.

De acordo com o artigo 9, os grupos também servem como facilitadores para promoção de melhoras e como suporte aos pro-blemas psicológicos e sociais apresentados pelos idosos, visto que utilizam estratégias que permitem a verbalização de sentimentos e de dificuldades encontradas. Segundo Andrade et al. (2012), as atividades realizadas em grupo elevam a autoestima do idoso e con-tribuem para a implementação das relações psicossociais e para o reequilíbrio emocional.

Outro ponto importante abordado pela estratégia dos grupos diz respeito à percepção dos idosos sobre sua qualidade de vida. Segundo o artigo 7, essa percepção é influenciada diretamente pe-las situações relacionadas aos cuidados pessoais, bem-estar, hábitos saudáveis, lazer, amizades e boas condições financeiras, bem como ao desrespeito pelos jovens e família, que pode se dar por abusos financeiros, manutenção da dependência e da dominação, o que im-pede o seu empoderamento. Dessa forma, constata-se a alegação de Joia, Ruiz e Donalisio (2007) de que a satisfação com a vida está relacionada com alguns domínios estabelecidos pelo próprio sujei-to, como saúde, trabalho, condições de moradia, relações sociais e autonomia.

Foram encontrados quatro artigos (1, 2, 4 e 8) que abordam especificamente a temática do trabalho do terapeuta ocupacional na atenção primária de saúde.

Três artigos (2, 4 e 8) apontam que o terapeuta ocupacional atua na prevenção da saúde, por meio de palestras educativas vin-culadas aos grupos de diabetes e hipertensão – patologias apresen-tadas pela maioria –, bem como por visitas domiciliares e promoção da qualidade de vida para os familiares e cuidadores dos pacientes.

Esses artigos também afirmam que a atuação do terapeuta ocupacional pode ser realizada por meio de atendimentos, grupais

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ou individuais, que visam aos cuidados ocupacionais, treinos de atividades de vida diária (AVDs) e/ou atividades instrumentais de vida diária (AIVDs), prevenção de quedas, confecção de adapta-ções, detecção de alterações neuropsicomotoras, aumento da inde-pendência e funcionalidade, empoderamento, autoconhecimento e autocuidado, promoção do envelhecimento saudável e de ações que combatam a violência contra o idoso.

O atendimento oferecido pelo terapeuta ocupacional de for-ma individual é alvo, contudo, de discussão, visto que algumas das diretrizes reguladoras dos programas de atenção básica são inter-pretadas de forma reducionista e, assim, impõem a prática grupal como forma exclusiva de atendimento, o que pode dificultar a cria-ção de vínculo, a elaboração e a efetivação do plano terapêutico e a melhora das demandas apresentadas pelo idoso (MARTINIANO et al., 2010; BRASIL, 2011).

O artigo 4 cita que o terapeuta ocupacional também pode atuar dentro do programa de Avaliação por Melhoria de Qualidade (AMQ), desenvolvido pelo Ministério da Saúde para avaliação das equipes da Estratégia de Saúde da Família, além de realizar aten-dimentos às pessoas com problemas motores, sequelas de aciden-te vascular encefálico (AVE), demência e depressão. Tais estudos corroboram o trabalho implantado pelo Caderno de Diretrizes do NASF (BRASIL, 2010), o qual aponta que a prática dos profissio-nais do NASF, incluindo o terapeuta ocupacional, visa promover saúde e prevenir agravos, favorecendo inclusão social e autonomia dos sujeitos, ampliando o acesso aos sistemas de saúde.

Em um dos artigos (7), foi possível notar que os grupos rea-lizados por terapeutas ocupacionais na atenção primária de saúde trazem muitos benefícios para os idosos. Entre eles, destacam-se: satisfação com a vida, que é obtida devido aos vínculos afetivos criados com outros usuários e com os profissionais da saúde; trocas de experiências; diminuição do isolamento social; e mudanças de rotina, auxiliando na melhoria da qualidade de vida. Além disso, os autores ressaltam que os grupos possibilitam espaços de acolhi-mento, escuta e atenção.

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Um fato interessante apontado pelo levantamento bibliográ-fico é a dificuldade no relacionamento interprofissional existente entre o terapeuta ocupacional e os outros profissionais da equipe de atenção básica. Essa dificuldade é justificada, nos artigos 4 e 8, pela presença de conflitos e sentimentos de ameaça que os profis-sionais sentem pela visão ampliada do terapeuta ocupacional, que correlaciona saúde a elementos históricos, ocupacionais, sociais e culturais do cotidiano vivenciados pelo sujeito, e também pela falta de conhecimento do papel do terapeuta dentro da atenção primá-ria. Tal comportamento influencia negativamente a comunicação, a identificação de problemas e a construção de projetos comuns.

Os artigos também relatam a dificuldade no acesso de mate-riais de consumo utilizados pelos grupos de terapia e no estabeleci-mento do setting terapêutico adequado para atendimentos específi-cos. Isso está de acordo com o que afirmam Jardim, Afonso e Pires (2008), que, em um estudo, identificaram que a falta de reposição de material e a escassez de profissionais dificultam o cotidiano de trabalho, já que impedem que se atenda toda a comunidade, geran-do sensação de desconforto na equipe.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento bibliográfico permitiu demonstrar que o tra-balho dos profissionais da saúde na atenção primária junto à popu-lação idosa está focado na prática de grupos de intervenção. Estes buscam realizar atividades voltadas aos benefícios para a saúde fí-sica, social e mental dos usuários e, de forma mais ampliada, para a melhora da qualidade de vida.

Porém, ao considerar o aumento da população idosa no país, verifica-se a necessidade de novos estudos, principalmente com foco na atuação do terapeuta ocupacional, profissional que pode auxiliar na conquista do princípio de integralidade defendido pela proposta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que a produção de conhecimento e publicação nessa área de atu-ação é pequena, como constatado pelo encontro de apenas quatro trabalhos relacionados à temática em questão.

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Portanto, é possível notar que os profissionais de Terapia Ocupacional não escrevem sobre suas ações no contexto de atenção básica de saúde, e isso seria de extrema importância para o esclare-cimento sobre a profissão e para o reconhecimento dela.

Por fim, foi possível verificar a importância da atuação do terapeuta ocupacional nas ações de promoção da saúde e preven-ção de agravos, de melhora da independência e funcionalidade dos idosos, e de retorno aos papéis ocupacionais abandonados com o passar dos anos. Esse profissional também atua como interlocutor no campo social ao buscar promover condições que favoreçam a moradia, o relacionamento social e a autonomia do idoso dentro de sua comunidade.

REFERÊNCIAS

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A Terapia Ocupacional e as possibilidades de intervenção na Síndrome de Rett

Amanda Maria dos Reis PONCE1

Jessica Silva SANTOS2

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE3

Aline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO4

Resumo: A Síndrome de Rett é caracterizada por deficit na comunicação e in-teração social e por comportamentos estereotipados e desordens sensoriais. Pretende-se com esta revisão rastrear os estudos dessa síndrome, buscando res-postas para a situação das pesquisas dos terapeutas ocupacionais. Elaborou-se um protocolo, visando registrar as características das obras encontradas. A busca na literatura nacional ocorreu nas bases de dados SciELO e LILACS bem como nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar.Os resultados encontrados de-monstram a escassez de publicações. Considera-se que o estudo contribua para a Terapia Ocupacional e áreas afins de modo a incentivar o aprofundamento desse tema e a fornecer subsídios para estudos futuros.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Rett. Síndrome de Rett.

1 Amanda Maria dos Reis Ponce. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Jessica Silva Santos. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail:<[email protected]>.3 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 4 Aline Cirelli Coppede-Ribeiro. Doutora em Educação Especial, Mestra em Terapia Ocupacional e Especialista em Neuropediatria pela Universidade de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário de Batatais. E-mail: <[email protected]>.

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Occupational Therapy and the possibilities of intervention in Rett Syndrome

Amanda Maria dos Reis PONCEJessica Silva SANTOS

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDEAline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO

Abstract: Rett syndrome is characterized by deficits in communication, social interaction and stereotyped behaviors and sensory disorders. The aim of this review track syndrome studies, seeking answers to the situation of the research of occupational therapists. was elaborated a protocol aiming to record the characteristics of the works found. The search in the national literature occurred through Scielo databases Lilacs, Occupational Therapy Notebooks of UFSCar.Os results demonstrate the scarcity of publications. It is considered that the study will contribute to occupational therapy and related areas in order to encourage the further development of this issue and can provide insights for future studies.

Keywords: Occupational Therapy. Rett. Rett Syndrome.

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1. INTRODUÇÃO

A Síndrome de Rett é um distúrbio neurológico genético do cromossomo X, em que se identifica mutações no gene MECP2, que tem o significante papel de “silenciar” seletivamente a ex-pressão de outros genes que aguardam identificação. Descoberta pelo Dr. Andreas Rett, que a identificou em 1966, essa síndrome é caracterizada pela regressão do desenvolvimento, afetando pre-dominantemente meninas, geralmente antes de se completar o pri-meiro ano de vida. No Brasil, a Síndrome de Rett foi inicialmente identificada por Rosemberg em 1986. Desde então alguns trabalhos foram publicados divulgando o quadro clínico e tornando possível a identificação das meninas com a Síndrome de Rett (POZZI; RO-SEMBERG, 2003).

As crianças acometidas por essa síndrome nascem aparen-temente saudáveis e passam a se desenvolver de modo normal; contudo, entre os 6 e os 18 meses de vida, acontece uma parada no desenvolvimento. São perdidas todas as habilidades motoras e de linguagem, o que se caracteriza tipicamente pelos incessan-tes e involuntários movimentos das mãos. Acriança também pode apresentar crises incontroláveis de irritabilidade, epilepsia, anor-malidades de marcha e desordens respiratórias, gastrintestinais e nutricionais importantes. Além disso, ela passa a apresentar retardo mental em vários graus. Segundo Rosemberg (1987), a Síndrome de Rett tem quatro estágios. O estágio I (estágio de estagnação pre-coce), que ocorre dos 6 aos 18 meses, é caracterizado por parada do desenvolvimento, mudanças da comunicação e do contato visual, diminuição do interesse pelo meio, movimentos manuais “ondula-tórios”, episódicos e inespecíficos, e desaceleração do crescimento do crânio. O estágio II (estágio rapidamente destrutivo), que dura de semanas a meses, ocorre do primeiro ao quarto ano de vida, sendo caracterizado por deterioração do desenvolvimento, este-reotipias “tipo Rett”, manifestações autísticas, severa demência, perda da capacidade manipulatória, inabilidade/apraxia/ataxia da mobilidade, respiração irregular e crises convulsivas. O estágio III (estágio pseudo-estacionário), que dura anos a fio, caracteriza-se por apraxia do andar e ataxia do tronco proeminente, sintomatolo-

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gia epiléptica comum, disfunção variável da motricidade grosseira, retardo mental e início de contato emocional. Finalmente, há o es-tágio IV (estágio da deterioração motora tardia), que dura décadas e se caracteriza pela diminuição da mobilidade (cadeira de rodas), sinais de para ou tetraparesia, escoliose, distúrbios tróficos dos pés, caquexia.

Admite-se, na atualidade, uma prevalência da doença estimada entre 1:10.000 e 1:15.000 meninas, sendo uma das causas mais frequentes de deficiência mental severa que afeta o sexo feminino. Essa síndrome não tem cura, mas alguns sintomas podem ser tratados com o auxílio de uma equipe multidisciplinar (SCHWARTZMAN,2003).

O terapeuta ocupacional terá o papel de proporcionar a essa criança a melhora da movimentação funcional e da mobilidade por meio de atividades que evitem deformidades e de adaptações para o cotidiano, inclusive no ambiente domiciliar. A Terapia Ocupacional terá papéis importantes: tentar manter ou desenvolver novamente as atividades práticas das mãos; desenvolver atividades de vida di-ária (AVD), promovendo o máximo de independência possível; e orientar os familiares quanto à melhor forma de lidar com a criança.

O objetivo deste estudo é revisar a literatura científica sobre a Terapia Ocupacional e as possibilidades de intervenção na Sín-drome de Rett.

2. METODOLOGIA

Essa pesquisa, realizada por meio de revisão bibliográfica, tem natureza exploratória e descritiva.

A busca na literatura nacional ocorreu nas bases de dados SciELO e LILACS e nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar.As buscas foram feitas em cada base separadamente, utili-zando os descritores: “Terapia Ocupacional”, “Síndrome de Rett”e “RettSyndrome”.

Como critério de inclusão adotou-se considerar os estudos que se relacionavam com intervenções que envolvessem conceitos

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que abrangessem a Síndrome de Rett. Foram excluídos resumos de livros, teses, dissertações e artigos de assuntos não coerentes com o tema. Elaborou-se um protocolo, visando registrar as principais características das obras encontradas–como título, autor, ano e me-todologia de pesquisa adotada. Foram lidos todos os resumos dos textos selecionados e, posteriormente, após os critérios de inclusão e exclusão, os artigos pertinentes aos objetivos desta pesquisa fo-ram lidos na íntegra.

3. RESULTADOS

Na busca realizada nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, não foi encontrado nenhum artigo. A busca na base SciELO localizou 13 artigos; após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, identificou-se que sete artigos não se referiam ao tema, totalizando, assim, seis artigos selecionados. A busca na base LILACS localizou 70 artigos, oito deles se repetiam em relação aos encontrados na SciELO. Devido os artigos se repetirem nas bases de dados e não fazerem parte do critério de inclusão, foram selecionados, então, apenas quatro artigos que se adequavam ao assunto. Dessa forma, 10 artigos compuseram o estudo de revisão bibliográfica.

Na Tabela 1, está descrita a coleta em cada base de dados.

Tabela 1. Coleta em cada base de dados.

BASE/PERIÓDICO TERMOS RESULTADOS REPETIDOS SELECIONADOS

SciELO Síndrome de Rett 13 – 6

LILACS Síndrome de Rett 70 8 4

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar

Síndrome de RettTerapia Ocupacional

– – –

TOTAL 83 8 10 Fonte: elaborado pelas autoras.

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No Gráfico 1, apresenta-se a distribuição dos artigos por ano de publicação.

Gráfico 1. Distribuição de artigos por ano de publicação (de 1987 a 2009).

Fonte: elaborado pelas autoras.

Quanto ao idioma, foram encontradas oito publicações (80%)em português, uma (10%) em inglês e uma (10%) em espanhol.

A Tabela 2 apresenta a distribuição dos artigos por periódicos.

Tabela 2. Distribuição de artigos científicos por periódicos (de 1987 a 2009).

PERIÓDICO Nº %Arquivos de Neuropsiquiatria 3 30Arquivos de Neuropediatria 2 20Fisioterapia e Pesquisa 1 10Jornal de Pediatria 1 10Revista Brasileira de Psiquiatria 2 20Revista Cubana de Pediatría 1 10

Fonte: elaborado pelas autoras.

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Entre as revistas que publicaram textos sobre o assunto, des-tacam-se as da área de Medicina, com 50% dos artigos, e a Revis-ta Brasileira de Psiquiatria, com 20%. Em seguida, aparecemos periódicos Fisioterapia e Pesquisa, Jornal de Pediatria e Revista Cubana de Pediatría, com 10% cada, conforme apresentado na Ta-bela 2.

Com relação à produtividade dos autores, a Tabela 3 mostra a distribuição dos artigos conforme sua autoria.

Tabela 3. Produtividade dos autores.

AUTOR ARTIGOS PUBLICADOS

FREQUÊNCIA RELATIVAS

José Salomão Schwartzman 4 13,3%Sergio Rosemberg 2 6,6%Adriane Spessatto 1 3,3%Angela Maria Costa de Souza 1 3,3%Camila Torriani 1 3,3%Carlos Bandeira de Mello Monteiro 1 3,3%Ceres Alves de Araujo 1 3,3%C. Campos 1 3,3%Daniela Facchim 1 3,3%F. Arita 1 3,3%Fernando Kok 1 3,3%Guido Faiwishow 1 3,3%IsacBruck 1 3,3%Júlio Koneski 1 3.3%Lais R. Bruyn 1 3,3%Luiz Henrique Hercowitz 1 3,3%Marcelo Rodrigues 1 3,3%Marcos T. Mercadante 1 3,3%Maria Betânia Pereira 1 3,3%Marielza Fernandez Veiga Toralles 1 3,3%Renata de Lima Velloso 1 3,3%R. Coimbra 1 3,3%Rutger J. Van Der Gaag 1 3,3%

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R. Posadas 1 3,3%S. Ellovitch 1 3,3%Sergio A. Antoniuk 1 3,3%Silvia M. S. Halick 1 3,3%ZodjaGraciane 1 3,3%

Fonte: elaborado pelas autoras.

Destacam-se os autores José Salomão Schwartzman, com quatro publicações, e Sergio Rosemberg, com duas publicações. Cada um dos demais autores possui somente uma publicação.

A Tabela 4 mostra a formação profissional dos autores.

Tabela 4. Descrição da formação dos autores.

FORMAÇÃO NÚMERO DE ARTIGOS

FREQUÊNCIA RELATIVA

Fisioterapia 1 10%Medicina 8 80%Psicologia 1 10%

Fonte: elaborado pelas autoras.

Sobre a autoria dos artigos selecionados, observou-se que oito deles (80%) foram publicados por profissionais da área de Medici-na. Há também um estudo (10%) de um profissional de Fisioterapia e um (10%) de um profissional de Psicologia. Quatro artigos (40%) encontrados são estudos de revisão. Os outros trabalhos (60%) são estudos de caso, com técnicas de observação, de coleta e/ou avalia-ção de intervenção.

Com relação aos estudos de caso, os participantes foram crianças com Síndrome de Rett, sendo que a maioria tinha entre 4 e12 anos, porém, em um artigo, tinham de 2 a 26 anos e, em outro ainda, havia criança de 11 meses.

Com relação às técnicas de intervenção, somente um artigo utiliza o Inventário de avaliação pediátrica de incapacidade (PEDI) (MANCINI, 2005). Na pesquisa, 50% dos artigos tiveram como

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objetivo avaliar/analisar os casos de Síndrome de Rett; 20%, relatar sobre um caso de Síndrome de Rett em uma menina; 10% sobre um caso em um menino; e 20% sobre o histórico da síndrome, infor-mações recentes e a importância de alertar a existência da doença.

4. DISCUSSÃO

Dos estudos selecionados para esta pesquisa, o mais antigo é de 1987, publicado por Rosemberg. Em seguida, nota-se um perío-do de onze anos sem pesquisas na área da Síndrome de Rett no que diz respeito à Terapia Ocupacional. Observou-se uma instabilidade no número de publicações da última década. Dessa maneira, 80% dos artigos são datados deste século, destacando-se uma ausência de publicação em um período de sete anos. É possível verificar que, na literatura internacional, há um aumento nas produções da atuali-dade tratando dessa temática (BARNEY, et al., 2017) Já no Brasil, verifica-se uma inconstância ao longo do tempo.

Com relação à autoria dos artigos, observa-se que Schwartzman (1998; 2003; 2006; 2009) possui 13,3% do total de publicações; já Rosemberg (1987; 2003), 6,6%; e os demais autores, como apresentam somente um artigo, possuem um total de 3,3% cada um. Constata-se que Schwartzman mantém números consideráveis de publicações, o que demonstra ser esse autor um referencial teórico no campo de conhecimento em questão.

Observou-se, em apenas uma das publicações, a utilização de um instrumento, o Inventário de avaliação pediátrica de incapa-cidade (PEDI) (MANCINI, 2005). Este avalia os padrões de auto-cuidado, mobilidade e função social em crianças e adultos em geral por meio de 197 itens.

Nota-se que a metade dos profissionais que possuem interesse em pesquisas na área são médicos, correspondendo a 80% do total de autores. Há escassez de publicações por profissionais de outras áreas relacionadas ao tratamento e à reabilitação da síndrome. Isso faz com que não haja contribuição para a formação da identidade e prática da profissão de Terapia Ocupacional, entre outras, impe-dindo a busca mais aprofundada sobre Síndrome de Rett. Assim, é

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necessário que haja mais sistematização e investigação nas ações, para efetivar a Terapia Ocupacional enquanto área de conhecimen-to que se coloca e pretende expandir, e que possivelmente poderá trazer avanços importantes em nível mundial.

Metade dos artigos teve seus estudos realizados em crianças e 10% em adultos. Houve maior investigação em crianças porque a infância é a fase em que são mais evidentes as características da síndrome, tais como: estagnação precoce, que se inicia entre os 6e os18 meses, caracterizada por uma parada no desenvolvimento; presença de choro imotivado; perda da fala; e aparecimento de mo-vimentos estereotipados das mãos. Por esse motivo, as pesquisas são voltadas para crianças, já que o intuito é alertar sobre o caso e retardar ou manter o quadro, quando o diagnóstico for precoce.

Para os pesquisadores Schwartzman (1998) e Pozzi e Ro-semberg (2003), é de grande importância investigar a síndrome e aprofundar os conhecimentos sobre ela. Os casos estudados sus-citam interesse por diversas razões; entre elas, por apresentarem vários dos sinais e sintomas considerados relevantes para o diag-nóstico da Síndrome de Rett, e pelas investigações realizadas serem concretas e objetivas para as pesquisas.

Para Rosemberg (1987), a ocorrência dessa síndrome no Bra-sil e o fato de se terem reunido, em poucos meses de intervalo, cin-co observações reforçam a impressão de que essa doença é muito frequente e apresenta distribuição universal.

Segundo Schwartzman (2003), a Síndrome de Rett é uma das causas mais frequentes de deficiência múltipla severa no sexo fe-minino. Pelo conjunto de suas características, trata-se de um qua-dro que deve interessar todos os profissionais da área da saúde, especialmente pediatras, para que haja o encaminhamento e o diag-nóstico precoce, além de especialistas que atendam pessoas com distúrbios neuropsiquiátricos severos.

Crianças com sinais de Síndrome de Rett podem apresentar dificuldades com a comunicação e com a interação social, compor-tamentos estereotipados e sinais de desordens sensoriais. Uma vez identificado que a criança apresenta disfunções sensoriais que pre-judicam o brincar, o terapeuta ocupacional pode intervir, e a criança

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pode ser estimulada com uso da terapia de integração sensorial, abordagem que procura organizar as sensações do próprio corpo em relação aos estímulos do ambiente.

Para Lewis e Wilson (1999), o terapeuta ocupacional ajuda no treino de independência, nas atividades de vida diária e nas ati-vidades recreacionais. Os terapeutas trabalham mais especifica-mente no desenvolvimento da função manual, e podem orientar e fornecer materiais de apoio que ajudem a criança a minimizar suas deficiências.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o aumento da sobrevida da população em ques-tão, é importante que os profissionais envolvidos com esse grupo aprimorem medidas de intervenção adequadas para os diferentes períodos da doença, incluindo a fase adulta e a velhice. Além disso, é também importante o apoio às famílias, auxiliando-as de manei-ra adequada a realizar um correto planejamento de suas ações, o que pode favorecer um suporte mais adequado para a pessoa com Síndrome de Rett.

Não há evidências na literatura que relatam a intervenção da Terapia Ocupacional em pacientes com Síndrome de Rett, no en-tanto a contribuição do profissional dessa área é indiscutível. As-sim, faz-se necessária a otimização de publicações para aumentar o conhecimento dessas intervenções e auxiliar pacientes a se torna-rem independentes.

REFERÊNCIAS

BARNEY, C. C. et al. A case-controlled comparison of postoperative analgesic dosing between girls with Rett syndrome and girls with and without developmental disability undergoing spinal fusion surgery. Paediatric Anaesthesia, v. 27, n. 3, p. 290-299, 2017.

BRUCK, I. et al. Síndrome de Rett: estudo retrospectivo e prospectivo de 28 pacientes. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 59, n. 2, p. 407-

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410, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2001000300018&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 17 ago. 2017.

CARVAJAL, C. C. Síndrome de Rett: un nuevo reto para los pediatras. Revisión bibliográfica. Revista Cubana de Pediatría, Ciudad de la Habana, v. 74, n. 2, p. 162-167, 2002.Disponível em: <http://scielo.sld.cu/pdf/ped/v74n2/ped10202.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.

LEWIS, J.; WILSON, D. Caminhos para a aprendizagem na Síndrome de Rett. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 1999.

MANCINI, M. C. Inventário de avaliação pediátrica de incapacidade (PEDI). Belo Horizonte: UFMG; 2005.

MONTEIRO, C. et al. Caracterização das habilidades funcionais na síndrome de Rett. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 16, n. 4, p. 341-345, 2009. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/fpusp/article/view/12157>. Acesso em: 17 ago. 2017.

POZZI, C. M.; ROSEMBERG, S. Rett Syndrome: clinical and epidemiological aspectsin a Brazilian institution. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 61, n. 4, p. 909-915, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0004-282X2003000600004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 ago. 2017.

ROSEMBERG, S. et al. Síndrome de Rett: análise dos primeiros cinco casos diagnosticados no Brasil. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 143-152, 1987. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X1987000200007&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 17 ago. 2017.

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SCHWARTZMAN, J. S.; GAAG, R. J.; MERCADANTE, M. T. Transtornos invasivos do desenvolvimento não autísticos: síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 12-20, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462006000500003&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 17 ago. 2017.

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Terapia Ocupacional na inclusão escolar da criança com deficiência mental: uma revisão da literatura

Tainá Soriano SOUSA1

Aline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO2

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE3

Resumo: A Educação Inclusiva nasce para se repensar a escola, de forma que esta garanta a educação a todos, respeite a diversidade, as diferenças e as indi-vidualidades de cada um e se adapte para receber os indivíduos portadores de deficiência. Ficou claro na pesquisa que é necessária a mudança no ambiente escolar, que deve estar adaptado para receber o aluno com deficiência, e não o contrário. Este estudo teve como objetivo revisar a literatura científica sobre a Terapia Ocupacional na inclusão escolar da criança com deficiência mental. O método utilizado para este estudo foi uma revisão da literatura sem limitação de tempo. Foram selecionados 11 estudos em português. A pesquisa nos mostra a importância da Terapia Ocupacional no processo da inclusão, fortalecendo e resgatando o respeito e a confiança na relação entre professor e aluno, entre o aluno com deficiência e os outros alunos, entre o aluno e os demais membros da escola, entre outras.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Inclusão Escolar. Deficiência Mental.

1 Tainá Soriano Sousa. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Aline Cirelli Coppede-Ribeiro. Terapeuta Ocupacional. Doutora em Educação Especial e Mestre em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário de Batatais. E-mail: <[email protected]>.3 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Ling. Acadêmica, Batatais, v. 7, n. 7, p. 127-143, jul./dez. 2017

Occupational Therapy in school inclusion of children with mental disability: a review of literature

Tainá Soriano SOUSAAline Cirelli COPPEDE-RIBEIRO

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: Inclusive Education is born to rethink the school, guaranteeing education to all, respecting the diversity, differences and individualities of each one, adapting to receive these individuals. It is clear in the research that it is necessary to change the school environment, in which it must be adapted to receive the student with a disability, not the other way around. This study aimed to review the scientific literature on occupational therapy in the school inclusion of children with mental disabilities. The method used in this study was a review of the literature without time limitation. Eleven studies were selected in Portuguese. The research shows us the importance of Occupational Therapy in the inclusion process, strengthening and rescuing the respect and trust in the relationship between teacher-student, between the disabled student and the other students, between the student and the other members of the school, among others.

Keywords: Occupational Therapy. School Inclusion. Mental Disability.

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1. INTRODUÇÃO

O acesso à escola traz muitos ganhos para as crianças com deficiência, mas até pouco tempo poucas delas possuíam acesso às escolas. A Educação Inclusiva nasce para se repensar a escola, de forma que esta garanta a educação a todos, respeite a diversidade, as diferenças e as individualidades de cada um e se adapte para receber os indivíduos portadores de deficiência. Para que haja uma inclusão escolar plena, infelizmente ainda existem muitas dificul-dades, tais como barreiras visuais, sonoras e arquitetônicas, falta de capacitação dos professores, falta de materiais adaptados para os alunos com deficiência, entre outras. A Terapia Ocupacional surge para auxiliar a escola, buscando com o professor a melhor forma de adaptar tanto os materiais didáticos quanto o currículo, a fim de atender a todas as necessidades do aluno com deficiência. Além disso, trabalha como apoio aos outros profissionais e alunos da escola para que haja uma aceitação e valorização da deficiência (MATOSO, 2003).

Deficiência mental é um termo geral utilizado para se referir à deficiência de desenvolvimento que irá permanecer por toda a vida, tendo como marca os deficit tanto no que diz respeito a habili-dades intelectuais quanto às funcionais (BALOUEFF, 2002).

De uma forma geral, a pessoa com deficiência mental possui algumas alterações, sendo elas, por exemplo, na área da comuni-cação, principalmente no que diz respeito à cognição, e nas áreas socioeducacionais e motoras. As alterações da área cognitiva geram problemas de memória e atenção, que, nesses casos, tendem a ser reduzidas, além de dificuldades na resolução de problemas (CAR-VALHO, 2006).

Crianças com deficiência mental possuem um desempenho ocupacional mais lento no que diz respeito à aprendizagem, além de possuir comprometimento nas habilidades funcionais e também atrasos no desenvolvimento. Esse nível de comprometimento, po-rém, não é aplicado a todas as crianças com deficiência; ele vai variar de acordo com a gravidade do retardo mental e também está

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relacionado, por exemplo, com fatores ambientais (BALOUEFF, 2002).

Ao final do século XIX, foi desenvolvido um teste para se aferir o nível de inteligência do indivíduo. Esse teste foi denomina-do Quociente Intelectual (QI). Com questões relativas ao conheci-mento matemático e linguístico, o resultado seria dado em termos de idade mental. Com isso, resultados de QI entre 70 e 120 seriam considerados normais; resultados abaixo de 70 seriam considerados indicadores de deficiência mental; os acima de 120 indicariam ca-sos de superdotação. Nessa época, pessoas com deficiência mental eram vistas como extremamente comprometidas e sem chances de interação, aprendizagem e desenvolvimento (CARVALHO, 2006).

Como dito anteriormente, até pouco tempo somente uma pe-quena porção das crianças com deficiência tinha acesso às escolas. E esse acesso se dava sempre em instituições de ensino especializa-do ou em classes especiais, mostrando que a relação existente entre deficiência e ensino especial era a de que a condição de deficiente por si só definiria a necessidade de um atendimento especializado (JURDI; AMIRALIAN, 2006).

Propôs-se então retirar os alunos com deficiência do ensino especial e inseri-los na escola regular, proporcionando-lhes assim um novo espaço, novos parceiros, além de uma maior socialização e convívio com os demais alunos. Também foram inseridas na es-cola regular as práticas pedagógicas utilizadas no ensino especial, agora com uma vertente mais educativa e individual, levando em conta as características do aluno (SANCHES; TEODORO, 2006).

A integração escolar veio para retirar as crianças e os jovens com deficiência das instituições de ensino especial, buscando a sua normatização. Com isso, permite-se que o indivíduo com deficiên-cia usufrua de um novo espaço, além de novos convívios de sociali-zação e de aprendizagem, que se dão na escola regular (SANCHES; TEODORO, 2006).

O conceito de integração nos remete a uma compreensão da inserção social da pessoa com deficiência a partir do seu esforço pessoal e individual. Nesse sentido, o foco de ação ocorre sobre a pessoa com deficiência, visando ao desenvolvimento de suas habi-

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lidades e competências para a sua adaptação ao meio social. Essa ação focada no indivíduo objetiva minimizar as consequências de suas incapacidades a partir de serviços especializados, para que, as-sim, ocorra sua inserção no meio social (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003).

Para Sanches e Teodoro (2006), a integração pode ser consi-derada como o oposto da segregação, tendo no seu processo práti-cas e medidas que venham a potencializar e maximizar a participa-ção do deficiente nas atividades comuns a todos.

Jurdi, Brunello e Honda (2004) acreditam que a educação se dá por meio de encontros que vão possibilitar o acesso do indivíduo ao conhecimento, fazendo com que ele se aproprie do mundo huma-no, e que as experiências que irão ocorrer na escola vão depender da relação que irá acontecer entre aluno e professor. Um ambiente de confiança fará com que o ensinar e o aprender aconteçam de um modo significativo. Isso se apoia na ideia de que, quando o indiví-duo se apropria do saber, ele cria possibilidades de agir, intervir e transformar o ambiente.

Ao final dos anos 1980, o termo integração começa a perder força, sendo substituído então pela ideia de inclusão, uma vez que o objetivo da escola é incluir, sem distinção, todas as crianças, in-dependentemente de suas habilidades. Integração passa a ideia de inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa, já a palavra inclusão remete a uma definição mais ampla, indicando uma inserção total e incondicional (BATISTA; ENUMO, 2004).

Percebe-se assim que, quando usamos o termo integração, fa-lamos da inserção do indivíduo, sob um olhar individualista e uma ideia mais restrita; já quando usamos o termo inclusão, pensamos em uma inserção total e ampla, abrangendo não só o indivíduo, mas a escola e a sociedade. Assim, dá-se a oportunidade de esse indivíduo se inserir em uma escola regular, respeitando-se as ca-racterísticas únicas dele e modificando o ambiente escolar a fim de atendê-lo – isso ocorre a partir da adaptação da escola às suas necessidades (MATOSO, 2003).

A palavra inclusão possui vários significados e interpretações. Indica, por exemplo, que toda criança, independentemente do grau

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de comprometimento deve frequentar a escola. Aponta, também, que essas crianças devem ser inseridas em classes comuns, contan-do com o apoio de professores e profissionais especializados, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos etc., havendo sucesso quando há a participação e empenho de todos os envolvi-dos (TOYODA et al., 2007).

A Educação Inclusiva segundo Marins e Palhares (2007), aborda a necessidade de se repensar a escola e adequá-la para assim poder cumprir o seu papel que é a garantia de educação para todos. Trata-se do ajuste necessário para a inclusão plena, do apoio aos cidadãos na escola, no lazer ou no trabalho, e do direito de ir e vir do indivíduo com necessidades especiais (TOYODA et al., 2007).

Essa inclusão surge na metade dos anos 90 para acabar com a exclusão social das pessoas com deficiência e com a exclusão de alunos que acabava acontecendo nas escolas. Segundo Sanches e Teodoro (2006), muitos acreditavam que a inclusão era aplicada apenas aos alunos com deficiência. Mas, ao contrário do que se pensava, a inclusão escolar deve abranger todas as crianças e jo-vens com necessidades educativas especiais.

O sistema de ensino é classificatório e tem sido responsável por promover a exclusão e não a inclusão. As pessoas com deficiên-cia mental são colocadas em um ensino especial, que está à margem do ensino regular. Além de possuírem um comprometimento inte-lectual, são tidas como sujeitos que possuem comprometimento no comportamento adaptativo (GHIARDI, 2000), ocasionando assim não somente a exclusão escolar, como também social, visto que a maioria das pessoas não conhece e não compreende as limitações e as capacidades dos indivíduos com deficiência mental.

A criança com deficiência está incluída, na grande maioria das vezes, em uma lógica de segregação familiar, internada em sua própria casa, ou então pode até estar inserida na rede regular de en-sino, mas como objeto de dó e/ou piedade, e não como sujeito parti-cipante dos processos educacionais. Não é suficiente para a criança estar matriculada e frequentando a escola. Sem o apoio necessário, ela não vai ter garantido o seu processo de socialização e aprendi-zado (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003). Algumas instituições de

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ensino abrem as portas de entrada para pessoas com deficiência, mas não estruturam as suas portas de saída. Isso significa que há se-gregação e exclusão dessa clientela, visto que essas instituições não apoiam a inserção desses indivíduos na comunidade, e também não abrem suas portas para que haja a participação da comunidade do processo de inclusão. Além disso, tira-se da criança o direito a sua autonomia e desejo, acreditando que ela não possa tê-los (JURDI; BRUNELLO; HONDA, 2004).

O maior desafio educacional para Alves e Tebet (2009) é jus-tamente trabalhar com a diversidade. A escola deve ser repensada, as diferenças de cada indivíduo devem ser valorizadas e não sim-plesmente aceitas, o que gera um grande desafio para o sistema educacional. Imaginar o número de obstáculos que os indivíduos com incapacidades motoras encontram nos edifícios, que são em geral concebidos para as pessoas que andam, é uma maneira de perceber a extensão dos problemas de uma pessoa com deficiência mental no meio escolar tradicional (MANTOAN, 1998). Maciel (2000) afirma que é necessário analisar se o ambiente escolar está favorável para receber a pessoa com deficiência: analisar se exis-tem salas de apoio pedagógico, se foram eliminadas as barreiras sonoras, visuais e arquitetônicas de toda a escola, se a comunidade escolar está preparada para atender e compreender as demandas do aluno com deficiência, e se o currículo escolar está adequado para tal realidade.

A adaptação dos objetos de aprendizagem para os alunos com deficiência não é comum nas escolas. Pelo contrário, esses indi-víduos é que têm de se adaptar e corresponder aos objetivos das escolas, aos quais algumas vezes nem os demais alunos, sem defi-ciência, conseguem corresponder, levando então a uma situação de fracasso escolar, com consequências na autoestima dos educadores e principalmente dos alunos que apresentam deficiência. A área pe-dagógica deve ter como objetivo a promoção da autonomia desses indivíduos, supondo o uso de habilidades intelectuais pessoais, que devem ser compatíveis com a capacidade intelectual de cada um (MANTOAN, 1998). O professor precisa conhecer a deficiência com que está lidando em sala de aula, os seus tipos e causas, além das necessidades educativas que ela irá demandar. Antes de tudo,

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ele precisa ter uma visão ampla da área, que deveria ser provenien-te da sua formação, mas infelizmente são poucas as universidades que adotam essa questão na formação dos educadores, sendo ne-cessária a mudança dessa realidade, por meio de cursos, formação especializada, seminários etc. que tratem da questão da inclusão de deficientes nas escolas regulares (MACIEL, 2000).

A interação professor-aluno só ocorre quando há uma visão despida de preconceito, cabendo ao professor favorecer o contí-nuo desenvolvimento dos alunos com necessidades educativas es-peciais. “Não é tarefa fácil, mas é possível” (MACIEL, 2000, p. 55). A falta de capacitação, conhecimento e preparo do educador acerca da deficiência e da possibilidade de cada criança acaba ge-rando situações de medo, preconceito e, muitas vezes, de recusa, além de sensação de impotência diante das limitações, o que reflete diretamente no processo de ensino. O resultado disso são alunos desmotivados e professores assustados com o desconhecido, que acreditam que aquele aluno com deficiência é um problema ou um desafio que ele não consegue vencer (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003; TOYODA et al., 2007). A superação da deficiência e do dife-rente e a desconstrução desse imaginário fantasioso da deficiência podem ser a chave para vencer o processo de exclusão escolar e social (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003).

Não podemos dizer, no entanto, que o empecilho para a in-clusão escolar seja somente a falta de capacitação de alguns educa-dores. Há também questões relativas às barreiras arquitetônicas que os espaços escolares possuem, como a falta de móveis adaptados, equipamentos e materiais pedagógicos adequados para cada defi-ciência.

Os professores ou profissionais da saúde que atuam na escola são muitas vezes responsabilizados pelo fracasso da inclusão esco-lar, quando na verdade a culpa é de um conjunto de fatores que en-globam as relações sociais entre indivíduos, profissionais e alunos da instituição, familiares e também comunidade.

Parte dessa responsabilidade também é atribuída aos serviços de saúde, que não dão o suporte necessário ao indivíduo com defi-ciência, às suas famílias e também aos educadores. E quando o fa-

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zem, é sob uma perspectiva organicista, centrada nos aspectos indi-viduais e referentes à patologia (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003).

Para que haja a inserção da pessoa com deficiência segundo Rocha, Luiz e Zulizn (2003), faz-se necessária a mudança de espa-ços e de leis, além de ajustes na comunidade. O foco não é mais o indivíduo e sim o coletivo, vislumbrando uma organização em que todos são responsáveis por todos e em que haja adaptação, preparo e aceitação da pessoa com deficiência e de suas diferenças.

A Terapia Ocupacional no espaço escolar tem como meta for-talecer a ação dos educadores e também dos educandos, buscando facilitar e solucionar os impasses do grupo. Para isso, utiliza de diferentes atividades, que se adequam à necessidade de cada reali-dade (ROCHA, 2007).

Ainda segundo Rocha (2007), a partir da década de 1980, a Terapia Ocupacional, que até então era restrita aos espaços institu-cionais da Educação Especial, é desafiada a reinventar sua inter-venção. Grupos de terapeutas ocupacionais propõem a intervenção no campo do ensino regular tomando como objeto de estudo as metodologias empregadas nos processos de ensino e de aprendi-zagem, ocorrendo um primeiro deslocamento em que o objeto de intervenção deixa de focar nas deficiências e incapacidades do in-divíduo e passa agora a analisar as dificuldades e limites das dife-rentes abordagens de ensino e de aprendizagem. Temos que pensar no trabalho da Terapia Ocupacional de forma universal, criando soluções ao mesmo tempo individuais e coletivas, e atendendo a todas as diferenças e deficiências. Na escola, deve-se criar um es-paço acessível, confortável, sem barreiras arquitetônicas, a fim de facilitar a participação de todos, além de trabalhar a autonomia e respeito do professor, auxiliando a elencar as necessidades de cada aluno, e assim buscar e encontrar as melhores soluções para cada dificuldade surgida (ROCHA, 2003). Por esse motivo, a interven-ção do terapeuta ocupacional vem sendo utilizada além dos espaços terapêuticos tradicionais, buscando melhorar a qualidade de vida e a autonomia dos indivíduos que, por algum motivo, encontram dificuldades de participação e/ou inserção sociais (JURDI; BRU-NELLO; HONDA, 2004).

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Na inclusão escolar, a Terapia Ocupacional tem por objeto o coletivo, sendo um trabalho em conjunto com os educadores, os alunos, com deficiência ou não, a comunidade, os pais, a família, para que haja o aparecimento dos sentimentos e das emoções, faci-litando assim a intervenção no âmbito individual. Isso pode se dar por meio da análise da atividade, do uso de tecnologia assistiva, da facilitação das atividades de vida diária e prática, entre outros (RO-CHA et al. 2003; ROCHA, 2007). Com os educadores, o trabalho da Terapia Ocupacional diz respeito às dificuldades e necessidades levantadas a partir da presença do aluno com deficiência em sala de aula. Consiste também em diálogos, oficinas, palestras etc. O objetivo é promover atividades coletivas que envolvam todos os alunos, sendo eles com deficiência ou não. Também é papel do tera-peuta ocupacional elaborar materiais que auxiliem os educadores, dando oportunidade para uma maior socialização entre professor e aluno, além de permitir que haja o reconhecimento do indivíduo com deficiência, para que se conheçam assim as suas necessidades e potencialidades (ROCHA, 2007).

A busca pela interação entre professor e aluno passa a ser condição fundamental para um atendimento saudável e eficaz, tan-to do ponto de vista cognitivo, como do emocional. Para tanto, essa parceria deve ser um momento de prazer e troca, e requer a busca do desejo e da motivação entre ambos. A prática da Terapia Ocu-pacional vem mostrar que, mesmo havendo o prejuízo intelectual, há a construção de um cotidiano estabelecido por desejos e signi-ficados. As habilidades que surgem desses desejos da pessoa com deficiência a obrigam a ocupar um papel diferente na sociedade (JURDI; AMIRALIAN, 2006). Papel esse que é de um indivíduo que consegue, supera e é capaz. Nesse sentido, o objetivo deste es-tudo foi revisar a literatura científica sobre a Terapia Ocupacional na inclusão escolar da criança com deficiência mental.

2. MÉTODO

O presente estudo caracteriza-se em exploratório e descritivo do tipo revisão bibliográfica. Para o alcance dos objetivos deste trabalho, foi realizada pesquisa bibliográfica na base de dados

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SciELO e nos seguintes periódicos: Estudos de Psicologia Campinas, Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar e Revista de Terapia Ocupacional da USP.

Os critérios de inclusão foram publicações sobre o tema sem limite de tempo, com os termos de buscas: “Terapia Ocupacional”, “inclusão escolar” e “deficiência mental”. Os critérios de exclusão do estudo foram artigos que não relatavam o trabalho da terapia ocupacional na inclusão escolar e ainda publicações que tratavam apenas de uma das palavras-chave pesquisadas.

3. RESULTADOS

Foram incluídos neste estudo 11 artigos, sendo que foram en-contrados quatro tipos de pesquisa: (N = 1) análise documental; (N = 3) relato de experiência; (N = 5) pesquisa de campo; e (N = 2) reflexão.A tabela a seguir mostra a classificação dos tipos de pesquisa que foram encon-trados.

Tabela 1. Caracterização dos tipos de pesquisa encontrados nos artigos.

TIPO DE PESQUISA QUANTIDADE DE ARTIGOS FREQUÊNCIA

Análise documental N = 1 9,2%Relato de experiência N = 3 27,2%Pesquisa de campo N = 5 45,5%Reflexão N = 2 18,1%

Fonte: elaborado pelas autoras.

O gráfico a seguir mostra a classificação dos artigos distribu-ídos conforme os anos de publicação.

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Gráfico 1. Classificação dos artigos conforme o ano de publicação.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Em 2003, houve duas publicações. Os demais artigos foram publicados em anos diversos.

Os artigos foram publicados nas seguintes revistas e perió-dicos: (N = 7) Revista de Terapia Ocupacional da USP, (N = 3) Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, (N = 1) Estudos de Psicologia Campinas. A tabela abaixo mostra a distribuição dos artigos conforme os periódicos.

Tabela 2. Classificação dos artigos conforme periódicos, quantidade e frequência.

NOME PERIÓDICO QUANTIDADE DE ARTIGOS FREQUÊNCIA

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar N = 3 27,2%

Revista de Terapia Ocupacional da USP N = 7 63,6%

Estudos de Psicologia Campinas N = 1 9,2%

Fonte: elaborado pelas autoras.

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Após a análise dos artigos, foi feita a classificação da forma-ção dos primeiros autores, sendo possível observar que 100% dos autores dos artigos encontrados eram Terapeutas Ocupacionais.

4. DISCUSSÃO

Para Maciel (2000), a escola deve ser um ambiente que fa-voreça a qualidade de vida do aluno com deficiência. Sendo assim, devem-se eliminar as barreiras existentes nesse ambiente, sejam elas sonoras, visuais, arquitetônicas etc., e também analisar se a escola como ambiente físico está preparada para lidar com o aluno com deficiência, bem como se a comunidade, os pais, funcionários da escola, entre outros, também estão. Ficou claro na pesquisa que é necessária a mudança do ambiente escolar. Ele deve estar adap-tado para receber o aluno com deficiência, e não o contrário. Deve ser um ambiente que favoreça a aprendizagem, com recursos e ma-teriais disponíveis, a fim de proporcionar segurança e confiança aos alunos, pais e professores.

O trabalho da Terapia Ocupacional é modificar esse espaço, tanto no que diz respeito ao ambiente físico, quanto aos materiais utilizados em sala de aula, levando-se em conta as necessidades de cada aluno (ROCHA, 2007).

É necessário que o professor conheça e domine cada defici-ência com que está lidando em sala de aula, suas causas, seus tipos, e também as necessidades educativas de cada aluno com deficiên-cia (MACIEL, 2000), levando em conta não apenas as suas limi-tações e dificuldades, mas buscando potencializar e maximizar as suas capacidades e conquistas, impedindo assim que haja estereóti-pos relacionados às deficiências. Para Rocha, Luiz e Zulizn (2003), a superação da deficiência é a chave para conseguirmos acabar com o processo de exclusão escolar e social.

A Terapia Ocupacional vem atuar junto ao professor como um auxílio a ele, sempre trabalhando a sua autonomia e respeito. É um trabalho em conjunto, buscando elencar as necessidades de cada aluno e assim encontrar soluções para tais necessidades (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003). Para tanto, utiliza-se de oficinas, conversas

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e palestras, sempre deixando um espaço aberto para que o professor possa trazer as suas dúvidas e angústias, afinal, ele é responsável não somente pelo aluno com deficiência mental, mas sim pela tur-ma toda, então não é garantido que ele conseguirá trabalhar com aquele aluno tudo que lhe foi proposto, gerando assim situações de frustração, angústia, sentimento de derrota, etc. O trabalho da Terapia Ocupacional não se dá apenas junto ao professor, ele visa o coletivo atuando junto aos outros alunos, aos pais, à comunidade, aos funcionários da escola etc. (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003; ROCHA, 2007). Todos devem estar preparados para receber o alu-no com deficiência. As palestras, oficinas, e conversas oferecidas também possuem como público-alvo esses outros indivíduos que fazem parte do ambiente escolar, atuando principalmente junto aos outros alunos que se encontram em sala de aula para mostrar que eles devem compreender, aceitar, respeitar e valorizar a deficiência, bem como saber conviver com ela. Alves e Tebet (2009) afirmam que as diferenças de cada indivíduo não devem ser simplesmente aceitas, e sim valorizadas.

A Terapia Ocupacional vem para trabalhar dentro do ambien-te escolar, ampliando o foco de ação, que não é mais o indivíduo, passando a ser agora o coletivo, vislumbrando uma organização em que todos são responsáveis por todos (ROCHA; LUIZ; ZULIZN, 2003). São muitas as surpresas com relação à diferença; uma delas é percebermos que somos frágeis, que todo ser humano está sujeito a passar por momentos de limitação, seja ela mais nítida como uma disfunção, ou mais discreta, como uma depressão. Assim, tornar a convivência um exercício de tolerância e aprendizado desencade-ará um processo de evolução social e de desenvolvimento pessoal que só acontecerá se for uma via de mão dupla (MARINS; PA-LHARES, 2007).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que uma das principais funções da escola é forne-cer ao indivíduo, além do conteúdo curricular, a possibilidade de formação da cidadania independentemente de credo, raça, cor, ou necessidades educativas especiais, possibilitando a inserção de to-

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dos os alunos. A escola deve ser vista como mediadora de conheci-mento, onde todos tenham a possibilidade de crescer e se tornarem cidadãos, sendo necessário, para isso, romper com as barreiras da segregação. Torna-se urgente uma ação que contribua para que o processo educacional seja bem-sucedido, elevando a autoestima, a autoimagem e o autoconceito dos alunos, proporcionando um novo saber, estar, ser e fazer. Mas, para isso, é necessário resgatar a rela-ção de respeito mútuo e confiança entre eles e a escola. A pesquisa nos mostra a importância da Terapia Ocupacional no processo da inclusão, fortalecendo e resgatando o respeito e a confiança na re-lação entre professor e aluno, entre o aluno com deficiência e os outros alunos, entre o aluno e os demais membros da escola, entre outras. A inclusão escolar não propõe apenas o acesso à escola re-gular, mas a quebra de paradigmas, uma nova forma de ressignifi-car a educação, não apenas no sentido curricular, mas também no das relações. No processo de inclusão, todos os indivíduos devem receber as mesmas condições de ingresso, enfocando-se as poten-cialidades e não as diferenças, valorizando a diversidade, neces-sitando ainda de mudanças externas, como no ambiente escolar, mas também e principalmente de mudanças internas, como valores, tolerância, paciência, humanidade e, por último, mas não menos importante, amor.

REFERÊNCIAS

ALVES, H. C.; TEBET, G. C. A formação de professores no paradigma da inclusão: a educação infantil e a educação especial em pauta. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 17, n. 1, p. 7-23, 2009. Disponível em:<http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/114>. Acesso em: 2 nov. 2017.

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Política Editorial / Editorial Policy

A Revista Linguagem Acadêmica é uma publicação digital semestral do Claretiano – Centro Universitário, destinada à divul-gação científica de trabalhos de escopo específico, interdisciplinar, e multidisciplinar, das mais diversas Áreas do Conhecimento, e a Dossiês Temáticos específicos de Curso ou Áreas, oriundos de par-cerias interinstitucionais e internacionais, tendo como objetivo de contribuir para o debate científico e cultural e social.

O periódico propõe-se à publicação de trabalhos inéditos que apresentem resultados de pesquisa histórica ou de investigação bi-bliográfica originais, visando agregar e associar à produção escri-ta a produção fotográfica, vídeo ou áudio, sendo submetidos no formato de: artigos, ensaios, relatos de caso, resumos estendidos, traduções ou resenhas.

Serão considerados apenas os textos que não estejam sendo submetidos a outra publicação.

As línguas aceitas para publicação são o português, o inglês e o espanhol.

Análise dos trabalhos

A análise dos trabalhos é realizada da seguinte forma: a) Inicialmente, os editores avaliam o texto, que pode ser

desqualificado se não estiver de acordo com as normas da ABNT, apresentar problemas na formatação ou tiver reda-ção inadequada (problemas de coesão e coerência).

b) Em uma segunda etapa, os textos selecionados serão en-viados a dois membros do conselho editorial, que avaliarão as suas qualidades de escrita e conteúdo. Dois pareceres negativos desqualificam o trabalho e, havendo discordân-cia, o parecer de um terceiro membro é solicitado.

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c) Conflito de interesse: no caso da identificação de conflito de interesse da parte dos revisores, o editor encaminhará o manuscrito a outro revisor ad hoc.

d) O autor será comunicado do recebimento do seu trabalho no prazo de até 8 dias; e da avaliação do seu trabalho em até 90 dias.

e) O ato de envio de um original para a Revista Linguagem Acadêmica implica, auto maticamente, a cessão dos direi-tos autorais a ele referentes, devendo esta ser consultada em caso de republicação. A responsabilidade pelo con-teúdo veiculado pelos textos é inteiramente dos autores, isentando-se a Instituição de responder legalmente por qualquer problema a eles vinculado. Ademais, a Revista não se responsabilizará por textos já publicados em ou tros periódicos. A publicação de artigos não é remunerada.

f) Cabe ao autor conseguir as devidas autorizações de uso de imagens/fotogra fias com direito autoral protegido, de modo que estas sejam encaminhadas, quando necessário, juntamente com o trabalho para a avaliação. Também é do autor a responsabi lidade jurídica sobre uso indevido de imagens/fotografias.

Publicação

A Revista Linguagem Acadêmica aceitará trabalhos para publicação nas seguintes categorias:

1) Artigo científico de professores, pesquisadores ou estu-dantes: mínimo de 8 e máximo de 15 páginas.

2) Relatos de caso ou experiência: devem conter uma abor-dagem crítica do even to relatado; mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.

3) Traduções de artigos e trabalhos em outro idioma, desde que devidamente au torizadas pelo autor original e com-provadas por meio de documento oficial im presso; míni-mo de 8 e máximo de 15 páginas.

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4) Resumos estendidos de trabalhos apresentados em even-tos científicos ou de te ses e dissertações; mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.

5) Ensaios: mínimo de 5 e máximo de 8 páginas. 6) Resenhas: devem conter todos os dados da obra (edito-

ra, ano de publicação, cidade etc.) e estar acompanhadas de imagem da capa da obra; mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.

Submissão de trabalhos

1) Os trabalhos deverão ser enviados: a) Em dois arquivos, via e-mail (attachment), em formato

“.doc” (Word for Windows). Em um dos arquivos, na primeira página do trabalho, deverá constar apenas o título, sem os nomes dos autores. O segundo arquivo deverá seguir o padrão descrito no item 2, incluindo os nomes dos autores.

b) Em caráter de revisão profissional. c) No máximo com 5 autores. d) Com Termo de Responsabilidade devidamente assinado,

escaneado de forma legível e enviado para o e-mail [email protected].

2) O trabalho deve incluir: a) A expressão “TÍTULO” seguida do título em língua

portuguesa, em Times New Roman, corpo 12, negrito.b) A expressão “TITLE” seguida do título em língua inglesa,

em Times New Roman, corpo 12, normal. c) A expressão “AUTORIA” seguida do(s) nome(s) do(s)

autor(es) e dos dados de sua(s) procedência(s) – filiação

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institucional, última titulação, e-mail, telefones para contato. Obs.: os telefones não serão disponibilizados ao público.

d) A expressão “RESUMO” seguida do respectivo resumo em língua portugue sa (entre 100 e 150 palavras). Sugere-se que, no resumo de artigos de pesquisa, seja especificada a orientação metodológica.

e) A expressão “ABSTRACT” seguida do respectivo resumo em língua inglesa (entre 100 e 150 palavras).

f) A expressão “PALAVRAS-CHAVE” seguida de 3 até 5 palavras-chave em língua portuguesa, no singular.

g) A expressão “KEYWORDS” seguida de 3 até 5 palavras-chave em língua inglesa, no singular.

h) O conteúdo textual do trabalho. i) Os vídeos, as fotos ou áudios são opcionais. Todo o

material de mídia digital deve ser testado antes do envio e não ultrapassar 5 minutos de exibição.

Formatação do trabalho 1) Em Times New Roman, corpo 12, entre linhas 1,5 e sem

sinalização de início de parágrafo. 2) Para citações longas, usar corpo 10, entre linhas simples,

recuo duplo, espaço antes e depois do texto. Citações curtas, até 3 linhas, devem ser colocadas no interior do texto e entre aspas, no mesmo tamanho de fonte do texto (12).

3) Tabelas, quadros, gráficos, ilustrações, fotos e anexos devem vir no interior do texto com respectivas legendas.

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Para anexos com textos já publicados, deve-se incluir referência bibliográfica.

4) As referências no corpo do texto devem ser apresentadas entre parênteses, com nome do autor em letra maiúscula, seguida de vírgula, seguida de espaço, da expressão “p.”, espaço e o respectivo número da(s) página(s), quando for o caso. Ex.: (FERNANDES, 1994, p. 74). A norma utilizada para a padronização das referências é a da ABNT em vigência.

5) As seções do texto devem ser numeradas, a começar de 1 (na introdução) e ser digitadas em letra maiúscula; subtítulos devem ser numerados e digitados com inicial maiúscula.

6) As notas de rodapé devem estar numeradas e destinam-se a explicações com plementares, não devendo ser utilizadas para referências bibliográficas.

7) As referências bibliográficas devem vir em ordem alfabética no final do artigo, conforme a ABNT.

8) As expressões estrangeiras devem vir em itálico.

Modelos de Referências Bibliográficas – Padrão ABNT

Livro no todo PONTES, Benedito Rodrigues. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005.

Capítulos de Livros BUCII, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Videologias: ensaios sobre televisão. In: KEHL, Maria Rita. O espetáculo como meio de subjetivação. São Paulo: Boitempo, 2004. cap. 1, p. 42-62.

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Livro em meio eletrônico ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A mão e a luva. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Dis ponível em: <http://machado.mec.gov.br/imagens/stories/pdf/romance/ marm02.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2011.

Periódico no todo GESTÃO EMPRESARIAL: Revista Científica do Curso de Administração da Unisul. Tubarão: Unisul, 2002.

Artigos em periódicos SCHUELTER, Cibele Cristiane. Trabalho voluntário e extensão universitária. Episteme, Tubarão, v. 9, n. 26/27, p. 217-236, mar./out. 2002.

Artigos de periódico em meio eletrônico PIZZORNO, Ana Cláudia Philippi et al. Metodologia utilizada pela bibliote-ca universitária da UNISUL para registro de dados bibliográficos, utilizando o formato MARC 21. Revista ACB, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 143-158, jan./ jun. 2007. Disponível em: <http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewarticle. php?id=209&layout=abstract>. Acesso em: 14 dez. 2007.

Artigos de publicação relativos a eventos PASCHOALE, C. Alice no país da geologia e o que ela encontrou lá. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 33. 1984. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, SBG, 1984. v. 11, p. 5242-5249.

Jornal ALVES, Márcio Miranda. Venda da indústria cai pelo quarto mês. Diário Cata-rinense, Florianópolis, 7 dez. 2005. Economia, p. 13-14.

Site XAVIER, Anderson. Depressão: será que eu tenho? Disponível em: <http:// www.psicologiaaplicada.com.br/depressao-tristeza-desanimo.htm>. Acesso em: 25 nov. 2007.

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Verbete TURQUESA. In: GRANDE enciclopédia barsa. São Paulo: Barsa Planeta Internacional, 2005. p. 215.

Evento CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA MECÂNICA, 14, 1997, Bauru. Anais... Bauru: UNESP, 1997.