língua portuguesa_artigo 5_os porques

4
www.sejogagalera.blogspot.com.br 1 Língua Portuguesa – Prof.ª Luciane Sartori FCC/ Parte III - Emprego dos porquês. Por quê? Por que...? Porque... É o porquê. É muito interessante como as estruturas linguísticas sempre trazem surpresas para as pessoas. Quando falo que o relativo "que" é o sujeito da oração (assunto de que vamos tratar no próximo artigo), por exemplo, sempre vejo muitos rostos espantados, parece até uma ofensa, chega a ser engraçado! Isso pode realmente parecer complexo, mas o que realmente faz com que todos fiquem acabrunhados são as questões mais simples que, apesar de muito mencionadas e estudadas, sempre trazem uma certa dificuldade, como é o caso do emprego dos "porquês". Por isso, decidi fazer aos caros leitores um roteiro de raciocínio que facilite esse estudo. De fato, seu emprego não é tão complicado, mas como o problema está no som, que é o mesmo para todos eles, ainda que as funções sejam completamente diferentes, é melhor percebermos a diferença que a grafia assumirá, analisando o contexto, a partir de raciocínios simplificados. Já estou fazendo um alerta ao raciocínio simplificado, pois o roteiro de aplicação que darei será nesse nível, justamente porque o ponto aqui é a simplicidade da aplicação. Assimilado esse roteiro, aprofundar-se no assunto será uma consequência natural. Então, vamos ao que interessa. O roteiro que ora apresento deve ser seguido nesta ordem para análise do emprego das quatro formas: porquê, por quê, porque e por que. 1º passo) porquê - inicialmente, atente à palavra que foi empregada antes do "porquê". Se for um artigo, ou um pronome, ou um numeral, então sua grafia será "porquê", independentemente de sua posição na frase (começo, meio ou fim): De sua amargura, eu não sei o porquê. Dê-me dois porquês para não comparecer à reunião. Este porquê é que me preocupa. 2º passo) por quê - agora, não está precedido de palavra determinante, está seguido de sinal de pontuação, no final da frase; então, pessoal, é caso de separação, e sua forma será "por quê": Ele não veio, por quê? O administrador da empresa não veio e eu não sei por quê.

Upload: isabelly-sarmento

Post on 01-Jul-2015

3.253 views

Category:

Education


15 download

TRANSCRIPT

Page 1: Língua Portuguesa_Artigo 5_Os porques

www.sejogagalera.blogspot.com.br

1 Língua Portuguesa – Prof.ª Luciane Sartori

FCC/ Parte III - Emprego dos porquês.

Por quê? Por que...? Porque... É o porquê.

É muito interessante como as estruturas linguísticas sempre trazem surpresas

para as pessoas. Quando falo que o relativo "que" é o sujeito da oração (assunto de

que vamos tratar no próximo artigo), por exemplo, sempre vejo muitos rostos

espantados, parece até uma ofensa, chega a ser engraçado!

Isso pode realmente parecer complexo, mas o que realmente faz com que

todos fiquem acabrunhados são as questões mais simples que, apesar de muito

mencionadas e estudadas, sempre trazem uma certa dificuldade, como é o caso do

emprego dos "porquês". Por isso, decidi fazer aos caros leitores um roteiro de

raciocínio que facilite esse estudo.

De fato, seu emprego não é tão complicado, mas como o problema está no

som, que é o mesmo para todos eles, ainda que as funções sejam completamente

diferentes, é melhor percebermos a diferença que a grafia assumirá, analisando o

contexto, a partir de raciocínios simplificados.

Já estou fazendo um alerta ao raciocínio simplificado, pois o roteiro de

aplicação que darei será nesse nível, justamente porque o ponto aqui é a

simplicidade da aplicação. Assimilado esse roteiro, aprofundar-se no assunto será

uma consequência natural. Então, vamos ao que interessa.

O roteiro que ora apresento deve ser seguido nesta ordem para análise do

emprego das quatro formas: porquê, por quê, porque e por que.

1º passo) porquê - inicialmente, atente à palavra que foi empregada antes do

"porquê". Se for um artigo, ou um pronome, ou um numeral, então sua grafia será

"porquê", independentemente de sua posição na frase (começo, meio ou fim):

De sua amargura, eu não sei o porquê.

Dê-me dois porquês para não comparecer à reunião.

Este porquê é que me preocupa.

2º passo) por quê - agora, não está precedido de palavra determinante, está

seguido de sinal de pontuação, no final da frase; então, pessoal, é caso de

separação, e sua forma será "por quê":

Ele não veio, por quê?

O administrador da empresa não veio e eu não sei por quê.

Page 2: Língua Portuguesa_Artigo 5_Os porques

www.sejogagalera.blogspot.com.br

2 Língua Portuguesa – Prof.ª Luciane Sartori

Ela disse não ao noivo no altar, ninguém sabe por quê; por isso ficamos

todos estupefatos.

Também não sei; não sei por quê... talvez tenha sido por falta de amor...

3º passo) porque - se não estiver no final da frase nem precedido de palavra

determinante, ele perde o acento, fica "porque", e passa a ser sinônimo de "pois",

dando justificativas ou respostas:

Ela foi ao médico, porque (=pois) eu vi uma receita médica com o nome

dela.

Por que você faltou? Porque (=pois) estava cansado.

4º passo) por que - não está no final da frase nem precedido de palavra

determinante, mas não é sinônimo de "pois", então é caso de separação outra vez,

mas agora sem acento:

Este é a causa por que (≠ pois) lutamos.

Não entendemos por que (≠ pois) não ganhamos a causa.

Por que (≠ pois) não ganhamos a causa? Nós não entendemos!

Agora, para quem quer aprofundar um pouco o assunto que acabamos de

ver, apresento as informações necessárias para isso:

1º passo) O "porquê" é um substantivo sempre acompanhado de palavra

determinante, cujo sentido é "motivo", "razão".

2º passo) O "quê" é um pronome substantivado, que por coincidência

aparece preposicionado por "por", como poderia ser também preposicionado por

"para" e outras preposições: Ele veio aqui e eu não sei para quê.

3º passo) "Porque" é uma conjunção explicativa ou causal, nos exemplos

acima: estar cansado é motivo (causa) para faltar, e ter visto a receita médica com

o nome da pessoa justifica a afirmativa anterior de que ela havia ido ao médico.

4º passo) Os três exemplos dados revelam duas funções diferentes da

expressão "por que":

a) No primeiro, há a preposição "por" (exigida pela regência do verbo lutar) e

o pronome relativo "que"; a expressão equivale à "pela qual", pois refere-se à

causa:

Este é a causa pela qual lutamos.

Page 3: Língua Portuguesa_Artigo 5_Os porques

www.sejogagalera.blogspot.com.br

3 Língua Portuguesa – Prof.ª Luciane Sartori

b) No segundo e no terceiro, sua função é advérbio interrogativo de causa,

formado pela preposição "por" e pelo pronome interrogativo "que", por isso ele será

empregado nas perguntas indiretas ou diretas. Para certificar-se desse advérbio

interrogativo, pode-se imaginar a palavra "motivo" subentendida à sua frente:

Não entendemos por que não ganhamos a causa.

Por que não ganhamos a causa? Nós não entendemos!

Resumindo:

Vamos resolver esta questão, seguindo tudo o que foi falado, mas sigam os

passos que passei na ordem de raciocínio que apresentei:

(TRE/RS – julho/2010 – FCC) A lacuna que deve ser preenchida pela forma

grafada como na piada - Por quê -, ou pela forma por quê, para que esteja em conformidade com o padrão culto escrito, é a da frase:

(A) Eu não sei o ......de sua indecisão. (o porquê)

(B) ......foi tão inábil na condução do problema? (Por que )

(C) Ele está tão apreensivo ......? (por quê - final de frase sem determinante antes)

(D) Decidiu somente ontem ......dependia do consulta à família. (porque = pois)

(E) A razão ......partiu sem avisar ainda é desconhecida. (por que = pela qual)

Sendo assim, pessoal, a resposta só pode ser a c, não é mesmo?

Eu realmente espero que este breve roteiro os auxilie a ter um bom

desempenho com o emprego dos porquês daqui para frente.

Um forte abraço e até a próxima!

motivo

motivo

motivo

Page 4: Língua Portuguesa_Artigo 5_Os porques

www.sejogagalera.blogspot.com.br

4 Língua Portuguesa – Prof.ª Luciane Sartori

Luciane Sartori Contatos: www.sartoriprofessores.com.br

www.sartorivirtual.com.br Luciane Sartori II - facebook

[email protected]