língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 51 – O ensino da Língua Portuguesa no Mundo: bases epistemológicas, objectivos e conteúdos 45 GRAMATICALIZAÇÃO E LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO DE CASO Cristina Lopomo DEFENDI 1 Maria Célia LIMA-HERNANDES 2 RESUMO: Com as novas orientações dos PCNs e exigências de adequação ao PNLEM, muitas mudanças esperam-se dos livros didáticos distribuídos ao ensino público. Sabemos, no entanto, que uma adaptação às novas exigências leva tempo e, mais do que isso, a cooperação entre ciência e didática deverão se estabelecer. É nessa direção que caminha este trabalho, que prioriza a análise de um livro didático de grande circulação, com vistas a identificar sua adequação e vinculação teórica, bem como mudança de sua metodologia para favorecer o trabalho do professor de língua portuguesa em sala de aula. Confrontamos, portanto, discurso assumido pelos autores e abordagem gramatical explicitada no capítulo sobre classe de palavras. PALAVRAS-CHAVE: livro didático; gramática da língua portuguesa; classe de palavras. 1. Introdução A escola, personificada na figura do professor, de maneira geral tem assumido dois posicionamentos antagônicos perante o ensino da gramática da língua portuguesa: ou repercute as regras da gramática tradicional, sem as questionar, ou abole o ensino gramatical, restringindo-se à leitura e à produção de textos sem vínculo com as 1 Doutoranda da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa. Professora do Instituto Federal de São Paulo (IF-SP), Coordenadoria de Códigos e Linguagens, Rua Pedro Vicente nº 625 - CEP: 01109-010 - São Paulo - SP – Brasil. Email: [email protected] 2 Pesquisadora da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Av. Professor Luciano Gualberto, 403, 2º andar, sala 4 - Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP: 05508- 000 Email: [email protected]

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SLG 51 – O ensino da Língua Portuguesa no Mundo: bases epistemológicas, objectivos e conteúdos

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GRAMATICALIZAÇÃO E LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO DE CASO

Cristina Lopomo DEFENDI1

Maria Célia LIMA-HERNANDES2

RESUMO: Com as novas orientações dos PCNs e exigências de adequação ao PNLEM, muitas mudanças esperam-se dos livros didáticos distribuídos ao ensino público. Sabemos, no entanto, que uma adaptação às novas exigências leva tempo e, mais do que isso, a cooperação entre ciência e didática deverão se estabelecer. É nessa direção que caminha este trabalho, que prioriza a análise de um livro didático de grande circulação, com vistas a identificar sua adequação e vinculação teórica, bem como mudança de sua metodologia para favorecer o trabalho do professor de língua portuguesa em sala de aula. Confrontamos, portanto, discurso assumido pelos autores e abordagem gramatical explicitada no capítulo sobre classe de palavras.

PALAVRAS-CHAVE: livro didático; gramática da língua portuguesa; classe de palavras.

1. Introdução

A escola, personificada na figura do professor, de maneira geral tem

assumido dois posicionamentos antagônicos perante o ensino da gramática da língua

portuguesa: ou repercute as regras da gramática tradicional, sem as questionar, ou abole

o ensino gramatical, restringindo-se à leitura e à produção de textos sem vínculo com as

1 Doutoranda da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa. Professora do Instituto Federal de São Paulo (IF-SP), Coordenadoria de Códigos e Linguagens, Rua Pedro Vicente nº 625 - CEP: 01109-010 - São Paulo - SP – Brasil. Email: [email protected] 2 Pesquisadora da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Av. Professor Luciano Gualberto, 403, 2º andar, sala 4 - Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP: 05508-000 Email: [email protected]

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questões de língua. É evidente que esse tipo de postura revela uma formação teórica e

uma concepção de ensino de Língua Portuguesa.

Contrapondo-se a isso, há investigadores filiados às teorias funcionalistas

envolvidos em estudos sobre as motivações dos processos de variação e mudança

linguísticas, justamente preocupados com a língua em uso, viva e dinâmica. Mais

especificamente, preocupados com os aspectos que denotam que alguns elementos da

língua percorrem um continuum de mudança, gradual e ininterrupto, que compreende a

passagem de um item lexical a gramatical ou de gramatical a mais gramatical ainda, ou

seja, que demonstram a passagem por um processo de gramaticalização.

Se existem estudos que avançam nas descobertas linguísticas, em que

medida isso se reflete no ensino da língua portuguesa? No Brasil, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, LDB 9394/96, e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

estabelecem os objetivos do ensino da língua portuguesa nos ensinos fundamental e

médio, primando por novas concepções de transdisciplinaridade e do caráter social do

uso linguístico. Como observam Oliveira e Coelho (2003), a proposta governamental

pode ser interpretada como uma proposta funcionalista de ensino da língua.

Neste estudo de caso3, apresenta-se a investigação sobre a abordagem do

ensino gramatical nas escolas brasileiras no que tange às mudanças gramaticais,

restringindo a análise ao tópico “classes de palavras” e ao livro didático Português - de

olho no mundo do trabalho, de Ernani Terra e José de Nicola, volume único, distribuído

3 Este trabalho é parcialmente fruto de reflexões que Defendi (2009) vem desenvolvendo em seu projeto de doutoramento, que tem como um dos objetivos investigar a abordagem do ensino gramatical em livros didáticos brasileiros no que tange às mudanças gramaticais.

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pelo PNLEM-MEC (Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio – Ministério da

Educação, Brasil) a escolas públicas.

É objetivo deste trabalho responder às seguintes questões: (i) Como se dá o

diálogo entre avanços nas ciências linguísticas e a sala de aula no material sob análise?

(ii) As mudanças linguísticas identificadas pelos pesquisadores vinculados à teoria

funcionalista que lidam com pressupostos da Gramaticalização afetam a categorização

das classes de palavras no livro didático analisado? (iii) É possível identificar, no

material, a incorporação das noções funcionalistas de prototipicidade e escalaridade

para a abordagem das classes de palavras?

Este estudo associa-se, em uma pesquisa mais ampla, ao Projeto “A língua

portuguesa no mundo”, mais especificamente ao subprojeto sobre livro didático de

língua portuguesa e abordagem gramatical.

2. Estudo de Caso: o livro didático Português - de olho no mundo do trabalho

O livro didático Português - de olho no mundo do trabalho4 foi distribuído à

rede pública de ensino pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio

(PNLEM)5 vinculado ao Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de

4 de Ernani Terra e José de Nicola, volume único, Editora Scipione. 5 Esse programa tem como objetivo prover as escolas das redes federal e estadual com obras didáticas, sendo que cada estudante recebe um exemplar das disciplinas de português, matemática, história, geografia, física, biologia e química: “ Implantado em 2004, pela Resolução nº 38 do FNDE, o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) prevê a universalização de livros didáticos para os alunos do ensino médio público de todo o país. Inicialmente, atendeu 1,3 milhão de alunos da primeira série do ensino médio de 5.392 escolas das regiões Norte e Nordeste, que receberam, até o início de 2005, 2,7 milhões de livros das disciplinas de português e de matemática. Em 2005, as demais séries e regiões brasileiras também foram atendidas com livros de português e matemática.”

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Educação Básica (SEB) e em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE).

Escolhemos esse livro didático para iniciar o trabalho de análise por ser o

material enviado pelo PNLEM ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia,

campus São Paulo (IF-SP), no qual uma das pesquisadoras envolvidas neste estudo é

professora efetiva há 11 anos6.

Na obra de Terra e Nicola, consta como epígrafe da parte de apresentação da

obra aos estudantes o seguinte trecho de Neves (2002, apud TERRA e NICOLA,

2009:3):

(...) saber expressar-se numa língua não é simplesmente dominar o modo de estruturação de suas frases, mas é saber combinar essas unidades sintáticas em peças comunicativas eficientes, o que envolve a capacidade de adequar os enunciados às situações, aos objetivos da comunicação e às condições de interlocução. E tudo isso se integra na gramática.

Os autores apresentam, dessa forma, a linha teórica que procuram seguir

nessa obra, explicitando aos estudantes a importância de, em um ato comunicativo,

“saber claramente com quem estamos falando, por que estamos falando, o que queremos

com nossa fala; ao mesmo tempo, precisamos ter o domínio das estruturas que a língua

nos oferece, para que possamos construir de modo eficiente as nossas falas.” (TERRA e

NICOLA, 2009:3)

O manual dedicado ao professor encontra-se no final da obra, intitulado

“Assessoria pedagógica”. Na apresentação, rememora-se que a obra foi lançada em

1995 e que, para atender à reformulação do ensino, marcada, entre outras coisas, pela

6 A escola não recebeu exemplares do “livro do professor”. Por isso, neste trabalho, fazemos menção a edições diferentes do mesmo livro (livro do aluno - 1ª edição de 2009- e o livro do professor -1ª edição de 2008).

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publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a obra foi reeditada, constando de

“sensíveis mudanças de abordagem e de reestruturação de conteúdos no livro-texto”

(p.3)

O manual organiza-se como um livreto anexado ao final do livro didático e

estrutura-se em quatro capítulos: 1. Gramática, Leitura e produção de textos, que

compreende considerações sobre “Um novo enfoque para o ensino de gramática e

produção de textos”, “Os textos e o nosso cotidiano”, “Contexto e níveis de linguagem”,

“A avaliação dos textos produzidos” e “Sugestões de trabalho com o texto”; 2.

Literatura brasileira e portuguesa, abordando “O texto, elemento irradiador das

aulas”, “A função poética da linguagem e “Por que estudar história da literatura”; 3.

Respostas aos exercícios propostos; e 4. Sugestões de endereços eletrônicos.

O encarte final, intitulado “Assessoria pedagógica”, mostra-se compatível

com o que é recomendado com o PNLEM, a saber: apresenta a estrutura geral da obra e

sua articulação; orienta o professor no manejo do material em sala de aula; sugere

atividades complementares; fornece respostas aos exercícios propostos, entre outras

recomendações.

Ainda na apresentação da obra para o aluno, há, também, uma observação

final sobre como a obra primará pelo “rigor da informação correta e de um conteúdo

abrangente”, bem como por reunir “todos os itens tradicionalmente estudados em aulas

de Português” (grifos nossos) e justificam:

A Gramática é apresentada sempre com base em textos dos mais variados gêneros e tipos, com questões que procuram levar vocês a refletirem sobre o conteúdo que será trabalhado, valorizando a análise e a interpretação de textos e criando condições para a formação de leitores atentos e competentes produtores de texto. (id. ib.)

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Com essa orientação, os autores incluem três unidades e um apêndice na

parte dedicada à Gramática, assim distribuídos: Unidade 1, Fonologia, abrigando

Fonologia, Ortografia e Acentuação gráfica; Unidade 2, Morfologia, com 6 capítulos, a

saber: Estrutura e formação de palavras, O substantivo e o artigo; O adjetivo e o

numeral; O pronome; O verbo; e As categorias gramaticais invariáveis; Unidade 3,

Sintaxe, incluindo capítulos dedicados a: Termos essenciais da oração, Termos

integrantes da oração, Termos acessórios da oração – Vocativo7, Período composto e as

orações coordenadas, Orações subordinadas, Sintaxe de concordância, Sintaxe de

regência. No Apêndice, são apresentados capítulos dedicados à Crase e à Gramática nos

exames (vestibulares e Enem)8.

3. Classe de Palavras: sua abordagem teórica e sua aplicação

O objeto desta investigação encontra-se integrado à Unidade 2 –

Morfologia. Alguns aspectos serão levados em consideração para a análise que

pretendemos desenvolver e eles decorrem de alguns dos critérios utilizados para a

avaliação de um livro didático pelo PNLEM, tais como (i) correção e adequação

conceituais e correção das informações básicas; e (ii) coerência e pertinência

metodológicas. Além disso, tem-se em conta a noção de gênero e sua implicação com a

gramática, como fica explicitado nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio:

uma análise discursiva integradora das diferentes dimensões envolvidas na produção de sentidos pode permitir que os alunos construam uma consciência lingüística e metalingüística essencial para sua formação. Vale ressaltar que essa consciência só se alcança em razão de o aluno ser

7 Convém investigar, em momento oportuno, por que o vocativo aparece destacado no sumário. 8 Como apêndice deste artigo, encontra-se a descrição detalhada dos capítulos 5 a 9 dessa parte gramatical.

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orientado, nas práticas de ensino e de aprendizagem, para uma atuação ativa no trabalho com o texto, a qual requer a contínua transformação de saberes (textuais, pragmáticos e conceituais, além dos especificamente lingüísticos) relativos às diferentes dimensões envolvidas em um texto ao atualizar determinado gênero. (p.31)

Considerando essa orientação, depreendemos os seguintes aspectos que

devem ser tomados como critérios de análise das obras didáticas:

i) os textos e/ou gêneros textuais usados para motivação do estudo gramatical, bem

como as questões propostas para reflexão; ii) a correção e a adequação das definições

apresentadas; iii) o aplicação efetiva que se faz do pressuposto, apresentado no início da

unidade, sobre a necessidade da junção de critérios (semântico, sintático e morfológico)

para a adequada classificação da palavra; e iv) a aplicação/incorporação dos

pressupostos teóricos assumidos durante a abordagem expositiva e durante a proposição

de exercícios na seção “Teoria na prática”.

Na seção seguinte, procedemos à análise do material levando em conta,

portanto, cinco critérios (dois depreendidos dos critérios de avaliação de livros

didáticos; três derivados da leitura das Orientações Curriculares; e dois produzidos

pelos próprios autores como norte da obra):

(i) correção e adequação de conceitos/definições e de informações básicas;

(ii) coerência e pertinência metodológicas.

(iii) adequação entre os textos e/ou gêneros textuais e as questões propostas

para reflexão;

(iv) junção de critérios (semântico, sintático e morfológico) para a

classificação da palavra;

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(v) aplicação/incorporação dos pressupostos teóricos durante a abordagem

expositiva e a proposição de exercícios.

3.1 Considerações sobre os capítulos dedicados às classes de palavras

a) Das definições

Considerando o primeiro capítulo, dedicado à Morfologia, a seguinte informação

sobre categorização é explicitada:

Para compreendermos o papel que as palavras desempenham no processo da comunicação, costumamos separá-las em classes, denominadas classes de palavras ou classes gramaticais. Existem, na língua portuguesa, dez classes gramaticais: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição. (p.219)

Por essa informação, notamos que a categorização assumida pelos autores

corrobora a organização apresentada na gramática tradicional, que distribui as palavras

em dez classes. A própria escolha do verbo “existir”, para referir-se a essa organização,

contribui para a construção dessa verdade absoluta. Em nenhum momento da unidade

dedicada à Morfologia é questionada essa divisão em dez classes gramaticais, nem se

menciona ou deixa-se inferir a questão da prototipia.

Todos os capítulos são iniciados com a apresentação de um texto (de gênero

e tipo variados) e com questões envolvendo conhecimentos linguísticos. Mesmo assim,

é comum, na maioria das seções, encontrar uma estruturação dedutiva, o que nos

permite afirmar que esse seja o método de ensino adotado pelos autores como ideal para

a exposição da categorização. As definições são apresentadas envolvendo, total ou

parcialmente, os critérios semântico, sintático e morfológico e, a partir daí, elencam-se

exemplos que ratificam a definição dada. Em relação aos critérios, embora no capítulo

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inicial o “adjetivo” seja explicado à luz das características semânticas, sintáticas e

morfológicas, nem todas as classes são assim apresentadas.

É uma estratégia comum9 na obra, também, a comparação entre classes de

palavras, mesmo que uma delas não tenha sido apresentada anteriormente. É o caso, por

exemplo, da apresentação da morfossintaxe da preposição e da comparação feita com a

conjunção, classe até aquele momento não discutida. Uma forma de entender essa

estratégia é pensar que a obra destina-se a alunos do ensino médio, ou seja, o conteúdo

gramatical não constitui necessariamente uma novidade.

b) Das questões

São basicamente três os tipos de questões elaboradas no decorrer da

unidade: (i) as que dizem respeito ao texto escolhido para a apresentação do conteúdo

gramatical; (ii) as que são apresentadas em forma de exercícios de verificação e de

fixação; (iii) as que focalizam a discussão da gramática visando a uma atitude mais

reflexiva por parte do aluno10.

Quanto às questões do primeiro tipo, as elaboradas para tratar de

conceitos gramaticais a partir de um texto, notamos que o texto realmente não passa de

“pretexto”, já que serve unicamente aos propósitos da unidade. Muito se fala da

necessidade de uma gramática a partir de textos, do trabalho com a gramática textual, e

a resposta que a obra dá a essa exigência é contemplar com um texto inicial, literário ou

9 Como se pode comprovar no apêndice com a descrição dos capítulos dedicados às classes de palavras. 10 Aparecem em apenas dois capítulos: “Substantivo” e “Pronome”.

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não, de gêneros textuais diversos, o início de uma apresentação que não foge do que

tradicionalmente encontramos em gramáticas normativas: definição, exemplo e

aplicação. Essa tentativa de se atender às novas exigências, contudo, já representa um

avanço que certamente poderá ser expandido em futuras edições, quando os autores

terão amadurecido a idéia do que seja ‘lidar com a gramática a partir de textos’.

Os exercícios de verificação e de fixação são invariavelmente

tradicionais, com predominância de exercícios que visam à clássica identificação da

classe gramatical trabalhada em determinado texto (literário ou não, de uso corrente ou

elaborado com o fim específico de servir de exercício didático). Em seguida, estão os

exercícios que pedem ao aluno a reescrita, quer seja com incorporação de palavras, quer

seja com correção. Em menor número, estão as questões que apresentam um modelo a

ser seguido e, em número mais reduzido ainda, as questões de preenchimento de

lacunas, substituição de termos e justificativa de emprego de um item.

As questões que propõem uma discussão gramatical são apresentadas em

menor número e apareceram destacadas em seções próprias, “Discutindo a gramática”,

em somente dois capítulos. Nesse momento, sempre é solicitada a interação dos alunos

em duplas ou em grupos para que resolvam a proposta. São questões que visam à

reflexão sobre o conteúdo gramatical apresentado, problematizando o tópico abordado.

Identificamos alguns ‘pontos altos’, no que se refere à forma de convite à

reflexão sobre gramática e categorização:

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1) No capítulo sobre “Pronomes”, há três questões interessantes que exigem do

aluno um olhar atento à gramática. São elas: (i) a discussão de determinado

emprego pronominal pela norma formal-culta (a partir da letra de música “Beija

eu”); (ii) a discussão do emprego do pronome relativo em notícia do jornal

Folha de São Paulo (“...foi morto com dois tiros nas costas anteontem por ter

posto a mão em um doce em uma lanchonete que não ia comprar”). Quanto a

essa questão, os autores restringem o tratamento a duas ações solicitadas:

identificação do ‘erro’ e correção11; e (iii) a discussão sobre referenciação por

meio da identificação dos referentes dos pronomes esta e aquele em trecho de

texto literário.

2) No capítulo sobre “Conjunções”, aparece uma questão contextualizada que faz

refletir sobre a importância do conectivo para o entendimento do texto. A partir

de um fragmento de notícia do jornal O Estado de São Paulo, ao leitor é

solicitado que identifique a conjunção que está em contradição com outras

informações do texto e quais são essas informações12. O aluno teria de perceber

as relações estabelecidas pelas conjunções e verificar de que modo essas

relações seriam coerentes ou não com as informações apresentadas.

11 Caberia ao professor dar fundo à questão aproveitando a circunstância favorável de se ter um dado de produção real com alta circulação pela sociedade: explorar as possibilidades de interpretação a partir do texto escrito oferecido, depreender os efeitos que essa notícia traria para o leitor, em sua potencial diversidade sociolinguística e exercitar as várias ferramentas oferecidas pela gramática para que a situação comunicativa fosse eficiente. No livro do professor, aparece somente a resposta esperada à questão: “o pronome relativo está distante de seu antecedente, induzindo o leitor a erro de interpretação”; “foi morto com dois tiros nas costas anteontem, em uma lanchonete, por ter posto a mão em um doce que não ia comprar” (p.57) 12 Trata-se do seguinte texto: “A vítima assim se viu constrangida numa situação muito comum nesta urbe, desassistida na noite, em região embora de pouco movimento, porém, sem qualquer fiscalização”, escreveu o juiz.

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A seguir, tecemos algumas observações a respeito de questões

específicas:

1) Em uma das questões de “Gramática no texto”, no capítulo sobre “Adjetivo”, foi

solicitada a definição de adjetivo a partir de considerações sobre substantivo,

adjetivo e alterações propostas. Deve-se atentar, contudo, para o fato de que a

definição é apresentada em destaque na página ao lado, o que certamente

compromete o processo de reflexão que o aluno deveria vivenciar. Seria

proposital essa configuração emparelhada de solicitação-explicitação da

resposta? Seria um equívoco decorrente da visão mais tradicional de aluno ideal

(com atenção linear e visão fragmentada)?

2) No capítulo “Numeral”, uma das questões elaboradas solicita que o aluno

reescreva as frases, corrigindo a grafia do numeral. Porém, o primeiro número a

ser corrigido é o catorze, dicionarizado em Houaiss & Villar (2001). Na

sequência do exercício, é apresentado o numeral cincoenta e hum. Seria

conveniente contextualizar, por exemplo, que hum é empregado em contexto

específico: no preenchimento de cheques como estratégia para evitar adulteração

de valores. Há, em ambos os numerais, implicadas questões que não podem ser

tratadas com exclusividade no âmbito ortográfico, posto que elementos de um

contexto social ou sociolinguístico (estratificação diacrônica, por exemplo)

deveriam ser mobilizados nessa explicação.

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3) No capítulo sobre “Verbos”, é pedido ao aluno que: (i) identifique o erro e

efetue a correção da forma verbal empregada em jornal de grande circulação13.

porém o máximo apresentado na parte teórica foi a existência de verbos

defectivos, ou seja, aos alunos não foi dada base para que respondam à questão

pedida, nem pistas para poderem pesquisar a resposta; (ii) preencha lacunas de

textos de prosa literária com determinados verbos em tempo e modo pedidos.

Aqui, os autores lidam com a informação pressuposta, pois, apesar de não

discutirem conjugação verbal, constroem o exercício sobre o tema. Haveria aqui

algum problema em termos da pedagogia do livro didático? Supõe-se que o

conhecimento prévio deva também ser trabalhado pela escola, mas a coesão

entre o pressuposto e o que se considera ‘matéria nova’ não deveria ser

explicitada no material? O objetivo pedagógico da retomada também deveria ser

explicitado ou aludido?14 (iii) promova a transformação do imperativo negativo

em imperativo afirmativo. Também esse assunto não foi alvo de discussão neste

material didático15.

4) No capítulo sobre “Conjunções”, há um exercício que lida com a identificação e

diferenciação de conjunção subordinativa e pronome relativo. Essa é uma forma

de tratamento e um raciocínio exigidos tipicamente pelo modelo tradicional de

ensino: pede-se ao aluno que aprenda mais exceções que regras, focalize mais a

forma do que a função, analise mais o item em si do que o contexto de emprego,

13 Trata-se da seguinte notícia da Folha de São Paulo: “Líderes asseguram a vaga, e Corinthians reavê 2º lugar” (p.251). 14 Em consulta ao Livro do Professor, isso não fica explicitado. 15 Além de não se ter uma discussão de fundo sobre o tema, não se explora (nem se abre possibilidade de reflexão) nesse exercício outras formas imperativas, tanto em termos de graus quanto em termos de estratificação social.

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

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introjete mais a escrita do que a fala e que perceba mais o padrão do que as

variantes sociais.

Tendo em vista o número de exercícios propostos no livro sob análise,

evidente se torna que poucas foram as questões que desafiaram o aluno para uma

postura mais reflexiva e atenta à gramática em uso. Mesmo as questões elaboradas com

esse mote acabaram se perdendo na bipartição clássica de “certo e errado” e não se

ativeram às múltiplas possibilidades de leitura, intencionalidade, situação de uso e

efeitos discursivos.

c) Das regras

Cada capítulo prevê uma seção sobre o “emprego” do termo. Nessa parte,

são apresentadas regras de uso e outras dicas de adequação à norma culta, assumindo

um caráter prescritivista. De modo geral, essa seção atém-se ao formato regras-

exemplos.

No capítulo sobre “Verbos”, suscita-se a questão dos critérios adotados

pelos autores para essas prescrições. Sobre o emprego do infinitivo, aparece a seguinte

nota: “Não há propriamente regras que determinem o emprego do infinitivo; o que se

observam são tendências e usos consagrados por competentes usuários do português.”

Em nenhum momento, porém, respondem-se: quem seriam os usuários considerados

competentes? quem teria o poder de “fazer as regras”? quem consagra o uso? Por outro

lado, se não há propriamente regras, o que está sendo prescrito? A despeito disso, na

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sequência do livro, inopinadamente, são apresentadas as “regras” para o uso do

infinitivo impessoal e pessoal.

d) Da gramática funcional

Convém não se perder de vista que o livro sob análise é iniciado com

intenções de vinculação funcionalista. Isso é evidenciado logo no início do livro com a

citação de Neves (2002), de onde se destacam ideias, como: (i) a língua é expressa em

uma situação real de uso; (ii) a língua visa à comunicação; (iii) língua e comunicação

atrelam-se à gramática.

Esses pressupostos funcionalistas são observados na construção do livro em

itens, como: (i) “A gramática no texto”, em cada seção temática do livro; (ii) utilização

da língua em uso (trechos de jornais, revistas, letras de música, poemas e outros textos

literários); (iii) seleção de classes gramaticais para estudo. É a tentativa de demonstrar

que a gramática só existe atrelada a um texto, em determinada situação de uso, com uma

intencionalidade bem definida, por meio de estratégias discursivas e gramaticais. Ainda

assim, é possível identificar um número excessivo de frases descontextualizadas,

elaboradas com o intuito único de servirem de material didático de verificação e fixação

da aprendizagem. Dessa forma, ainda que a estrutura do livro já demonstre uma

preocupação com as inovações no campo da linguística, ainda se revela bastante

amarrada à gramática prescritiva tradicional.

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Outro campo em que os autores demonstram estar atentos às propostas das

Orientações Curriculares Nacionais é o dos gêneros textuais/discursivos. Não somente

na parte de Produção de Textos (não abordada neste trabalho), mas também na parte

gramatical fica evidente a preocupação na escolha dos textos, variando estilos,

discursos, tipos e usos textuais.

São feitos alguns contrapontos no decorrer da unidade entre o que é

prescrito pela norma culta e o uso efetivo na linguagem popular, porém, no estágio de

evolução da obra, ainda não são problematizadas as diferenças de uso.

4. Algumas considerações sobre a apresentação da obra

4.1 A apresentação da obra para os estudantes

Como destacado anteriormente, um trecho dos pressupostos funcionalistas,

encontrados em Neves, serve de epígrafe e de mote para os autores explicitarem o

objetivo que têm com a obra, pondo em destaque o ato comunicativo, a intencionalidade

e as estratégias usadas nesse contexto. Justifica a seleção de Neves como referência,

segundo os autores, o fato de dividirem a obra em seções de uma forma peculiar que

leva em conta a proporção equilibrada da discussão em cada seção e a ordem de

apresentação do conteúdo: “O que vai dito acima explica e justifica a divisão de

conteúdos de nosso livro, com suas três partes bem proporcionais e na seguinte ordem:

Produção de textos, Gramática e Literatura.”

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Perguntamo-nos então: seriam os quesitos apresentados pelos autores

suficientes para o enquadramento funcionalista da obra? O fato de priorizar uma ordem

discursiva ou outra (na organização de matérias) seria índice suficiente de vinculação

teórica? Não haveria a necessidade de mudar mais do que o foco temático a orientação

metodológica para se partir do dado e de sua análise, exercitando a reflexão sobre a

fluidez das categorias (prototipia e padrões funcionais)? Ainda que esse exercício fosse

por demais complexo para a primeira mudança nos livros didáticos, não seria o mínimo

exigido para a mudança o rompimento com o par bipolar certo-errado?

É inegável a dificuldade de se desvencilhar da organização curricular

imposta, da necessidade de se adequar ao esperado pela editora (garantia de venda) e,

agora também, atender aos índices de avaliadores do livro didático, os quais

recomendam ou desclassificam os livros para o PNLEM. No entanto, como os autores

apresentam como referencial teórico a fala e seu caráter social, não é possível romper

com o próprio discurso: é necessário buscar outras formas de reflexão sobre a língua

portuguesa.

Outro ponto importante, dada a natureza deste trabalho, é a forma como a

Gramática é apresentada: “com base em textos dos mais variados gêneros e tipos”,

“valorizando a análise e interpretação”, “criando condições para a formação de leitores

atentos e competentes produtores de texto”. Na parte gramatical em que são trabalhadas

as classes de palavras, diversos tipos de textos são utilizados, porém a análise e

interpretação restringem-se a questões gramaticais e raros são os exercícios que

serviriam ao propósito de criar condições para que o aluno se tornasse competente

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produtor textual. Esse objetivo parece só ser perseguido na parte explicitamente voltada

à produção de textos, como se instrumento e uso pudessem ser dissociados da

competência linguística.

Ainda na apresentação da obra para os alunos, fica clara a preocupação dos

autores com a adequação da obra a alunos e professores e para que não restem dúvidas a

esse respeito, aliam-se ao que já é consagrado e já conhecido (portanto, aceito): o livro

trabalha “todos os itens tradicionalmente estudados em aulas de Português” (grifo

nosso). E com essa afirmação, os autores negam uma nova postura didática (que na

verdade é, contraditoriamente, objetivo da reformulação da obra) exigida, via

orientações dos PCNs e PNLEM.

A título de curiosidade, o subtítulo do livro preconiza uma vinculação

também social (De olho no mercado de trabalho), um ponto positivo da obra, já que é

uma fase de profissionalização para muitos estudantes.

Ao longo dos capítulos, é possível encontrar essa preocupação em forma de

notas em caixas de textos destacadas. Nelas, são apresentadas relações entre o que está

sendo estudado e o que é praticado em alguma profissão. Por exemplo, no capítulo 5 da

Unidade 2, o conteúdo de flexão de gênero e de número dos substantivos serve como

pretexto para falar da profissão de “Secretária executiva” e a necessidade de se falar e

escrever bem nessa profissão. Não nos deteremos nessa questão que apresentamos

apenas a título de ilustração.

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4.2 A apresentação da obra para os professores

No capítulo dedicado à gramática do manual do professor, encontra-se o

seguinte trecho:

Todos nós temos, como objetivo principal, que nossos alunos sejam, ao final do Ensino Médio, competentes leitores e produtores de textos e não meros conhecedores de uma nomenclatura gramatical específica, com suas regras e exceções. De que adianta o aluno dominar toda a nomenclatura gramatical, se é incapaz de produzir um texto com clareza, coerência e coesão? (p.6)

(...) entendemos que o ensino de gramática não pode ser abandonado e, mais, que deve ser visto como um suporte da comunicação escrita. Sugerimos que o(a) professor(a) enfatize aspectos gramaticais fundamentais para a produção de texto – acentuação gráfica, concordância, regência, coordenação e subordinação, elementos coesivos - , mostrando como podem ser importantes para a eficácia da comunicação. O tratamento dado ao estudo gramatical, portanto, deve ser essencialmente funcional.” (grifo nosso) (p.6)

Essas afirmações coadunam com o conteúdo das Orientações curriculares para

o Ensino Médio, já que demonstra que o aprendizado da língua pressupõe apreender as

práticas de linguagem e utilizá-las efetivamente em interações sociais.

Fica explícita a preocupação que se deve ter com a concepção de língua rejeitada

(estática e exterior ao sujeito) e com a concepção que se deve privilegiar na escola atual

(a língua como prática social, inserida em um contexto sócio-histórico). Infelizmente,

nem sempre se tem a real dimensão do que é lidar com uma língua em sua

dinamicidade, focalizada em suas práticas sociais orais ou escritas que foram geradas,

convencionalizadas e ritualizadas em contextos sócio-históricos típicos e passíveis de

reflexão e análise, mesmo pelos alunos de ensino médio.

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5 Considerações finais

Com este trabalho de reflexão sobre material didático, tecemos algumas

considerações sobre a vinculação teórica em contraponto com o discurso assumido por

meio de afirmações, explicações, exercícios e reflexões presentes em um livro didático

destinado ao ensino médio no Brasil.

Estabelecemos inicialmente um recorte temático nas classes de palavras

para uma breve análise da forma e do conteúdo veiculado nessas seções. Nossa intenção

mais clara era perceber se haveria mudanças no tratamento e na abordagem gramatical,

já que tanto PCN quanto PNLEM demonstram orientações e exigências na direção das

práticas sociais em interação com uma gramática dinâmica, que, no caso das classes de

palavras, exige uma releitura em termos de prototipia e fluidez. Também a nova

orientação exige que, na base das reflexões, estejam práticas sociais de variados tipos e

gêneros.

Para que essas orientações sejam realidade, os livros deveriam compor uma

amostra de língua portuguesa nos eixos sincrônico e diacrônico, pautados pela

estratificação social e gêneros típicos de situações comunicativas.

Selecionamos um livro de grande circulação e indicado como adequado ao

ensino médio, dele recolhendo indicativos e evidências de que o processo de adaptação

às novas exigências ainda não está completo. Por exemplo, notamos que a língua

popular e falada ainda aparece de maneira tímida na obra, que a categorização ainda

segue o modelo tradicional e que alguns exemplos ainda são descontextualizados e

outros, sem a motivação pedagógica necessária.

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Um subsídio interessante às novas etapas de reformulação de livros didáticos

passa, necessariamente, pelo trabalho funcionalista sobre Gramaticalização e

Lexicalização. Noções como prototipicidade e escalaridade são inevitáveis para a

abordagem das classes de palavras. Por meio dessa visão mais fluida de gramática e de

classes permite-se apreender a língua em sua dinamicidade, como processo

comunicativo real. No livro analisado, a língua em uso ficou restrita a poucos

exercícios propostos, como demonstramos anteriormente, e à parte de produção textual,

fora do escopo deste trabalho.

Para uma adequação maior desse livro didático às orientações oficiais (com

as quais compartilhamos a visão de língua e de ensino) e também aos avanços

científicos da área linguística, é necessário repensar a abordagem. Lidar de forma mais

sistemática com as potencialidades da língua, dos recursos disponíveis para interação

social e dos efeitos comunicativos decorrentes da seleção de cada um desses recursos é

o caminho. Esse caminho, naturalmente, passa pelas noções de contexto e de práticas

sociais. Colocar lado a lado termos como leitura, gramática e produção de texto não

equivale, portanto, a fazer, de fato, um trabalho funcionalista. É preciso dar um passo a

mais.

6 Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio volume 1- Linguagens, códigos e suas tecnologias . Brasília: MEC/SEMTEC, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Língua Portuguesa : catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio: PNLEM/2009. Brasília: MEC/SEMTEC, 2008.

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DEFENDI, Cristina Lopomo. Mudança gramatical: repercussão nos livros didáticos de Língua Portuguesa. Projeto de Pesquisa de Doutoramento. São Paulo: FFLCH-USP, 2009. OLIVEIRA, Mariângela Rios de e COELHO, Victoria Wilson. Linguística Funcional aplicada ao ensino de português. In: CUNHA, OLIVEIRA E MARTELOTTA (orgs). Linguística Funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, pp.89-122.

TEIXEIRA, Madalena. A língua portuguesa e o PNEP. Videoconferência do Projeto “A língua portuguesa no mundo”. São Paulo: USP, 2008.

TERRA, Ernani e NICOLA, José de. Português – de olho no mundo do trabalho. Volume único. São Paulo: Scipione, 2009.

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Apêndice:

Descrição da Unidade 2 – Morfologia – Classes de Palavras

Unidade 2 – Morfologia

Capítulo 5 – O substantivo e o artigo

A gramática no texto: poema “Família” de Carlos Drummond de Andrade

6 perguntas de conteúdo mais gramatical: 1. Justificar o emprego de tantos substantivos no texto; 2. Definir artigo a partir da análise do uso; 3. Aplicar no texto analisado as definições dadas para artigo definido e indefinido; 4. Perceber as categorias que acompanham o substantivo; 5. Definir conjunção e aplicar às ocorrências no texto; 6. Classificar duas palavras aparentemente iguais (trabalho-substantivo e verbo, dependendo do contexto).

As classes de palavras: apresentação das dez classes gramaticais e afirmação que a classificação depende de uma junção de critérios (semântico, sintático e morfológico).

O SUBSTANTIVO

A partir de uma lista de substantivos retirados do poema anteriormente trabalhado, a afirmação de que as palavras “admitem flexão e dão nome aos seres em geral (coisas, pessoas, animais, ações, estados e qualidades). São, portanto, substantivos.” (p.219)

Em destaque, a definição: “Substantivo é a palavra variável em gênero, número e grau que dá nome aos seres em geral” (p.219)

Formação dos substantivos: classificação, definição e exemplos para primitivo, derivado, simples e composto.

Classificação dos substantivos: classificação, definição e exemplos para comum, próprio, concreto e abstrato.

Em destaque, a definição e exemplos para substantivo coletivo.

Flexões do substantivo:

Flexão de gênero: classificação e exemplos (masculino e feminino)

Definição e exemplos para substantivos biformes e uniformes. Para estes, subclassificação: epicenos, comum de dois gêneros, sobrecomuns

Comentário sobre mudança de sentido com mudança de gênero – exemplos

Flexão de número: classificação (singular e plural) e exemplos. Exceção dos substantivos que só aparecem no plural.

BOX: De olho no mercado de trabalho com considerações sobre a profissão de Secretária Executiva – ponte para dica apresentada: “uma coisa não mudou no cotidiano da secretária: a necessidade de falar e escrever bem. É inaceitável que uma profissional erre o plural ou empregue mal as preposições numa apresentação para clientes.” (p.221)

Plural dos substantivos compostos: apresentação de seis regras (acompanhadas de exemplos) depois de um comentário sobre a dificuldade de sistematizar o assunto.

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Flexão de grau: apresentação dos graus (normal, aumentativo e diminutivo) e explicação das formas de mudança seguidas de exemplos: analiticamente e sinteticamente. Comentário sobre o aumentativo e diminutivo formal (sem ideia de aumento ou de diminuição).

BOX - Morfossintaxe do substantivo – Lista com as funções sintáticas desempenhadas pelo substantivo (sujeito, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva, aposto, adjunto adverbial, vocativo, adjunto adnominal).

A teoria na prática: quatro exercícios: 1. Identificação dos substantivos em textos literários; 2. Formação de substantivos abstratos a partir de um modelo; 3. Formação de substantivos derivados; 4. Reescrita de frases, com a utilização de substantivo coletivo.

O ARTIGO

Definição de artigo – critério de colocação e de função.

Classificação dos artigos: definição e exemplos para artigo definido e indefinido.

Propriedades dos artigos – demonstração e exemplos da capacidade do artigo substantivar qualquer palavra e de se contrair a uma preposição.

Emprego dos artigos: 10 regras para o uso de artigo (para as seguintes situações: ambos; cujo; casa e terra sem especificação; nome de lugar qualificado; pronomes de tratamento e exceção com senhor(a), senhorita e dona; grau superlativo e superlativo absoluto sintético; nome de revistas, jornais e obras literárias iniciados com artigo; pronome todo)

BOX - Morfossintaxe do artigo: apresentação com exemplos da função de adjunto adnominal desempenhada pelo artigo.

A teoria na prática: cinco exercícios: 1. Justificar emprego do artigo indefinido e definido em fragmento de texto narrativo; 2. Destacar artigo em fragmentos de textos jornalísticos; 3. Diferenciar o sentido de “dona da casa” e “dona-de-casa”; 4. Completar frases com artigo definido ou indefinido; 5. Reescrever frases, corrigindo-as se necessários (emprego das regras apresentadas anteriormente).

Discutindo a gramática: apresentação de situações em que palavras passam a ser substantivos dependendo do contexto. Pedido para que em grupos e duplas os alunos discutam por que as palavras funcionam como substantivo, quais as características que o definem e se qualquer palavra pode funcionar como substantivo.

Capítulo 6 – O adjetivo e o numeral

A gramática no texto: poema “Endecha das três irmãs” de Adélia Prado

6 questões propostas a partir do texto: 1. Dado o verbete “endecha”, escolher a acepção adequada ao título do poema; 2. Destacar expressão que indique o ritmo da conversa presente no poema; 3. Definir adjetivo a partir de considerações sobre substantivo, adjetivo e alterações propostas; 4. Perceber sentido e acréscimo de palavras para alterar ou manter o sentido do adjetivo em grau diferente; 5 .Analisar a mesma palavra usada em classe gramatical diferente; 6. Definir numeral e comentar a relação que o numeral estabelece com o substantivo.

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.

Discutindo a gramática

A partir do uso de palavras como “cantar, nacional, talvez e ufa” como substantivos, discutir (com um colega) o que faz as palavras funcionarem como substantivos e se qualquer palavra pode funcionar como substantivo.

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“Troquem ideias com as demais duplas, apresentem suas conclusões para a sala e tentem chegar a um consenso.”

O ADJETIVO

Parte de exemplos e apresenta a função dos adjetivos de atribuir características ao substantivo. Em seguida, destaca a definição quanto à flexão e ao valor semântico.

Classificação dos adjetivos - Classificação e exemplos: simples, compostos, primitivos, derivados.

Locução adjetiva: apresenta a formação e fornece exemplos.

Adjetivos pátrios: define e exemplifica.

Flexão do adjetivo:

Flexão de gênero – compara ao substantivo e exemplifica.

Flexão de número – compara ao substantivo simples e exemplifica.

Adjetivos compostos – apresenta a regra geral e outras três regras específicas (segundo elemento substantivo, o caso do “azul-marinho” e “azul-celeste” e o caso de “surdo-mudo”)

Flexão de grau – apresentação dos graus (comparativo e superlativo) e a implicação semântica. Apresentação dos dois processos, seguidos de exemplos: sintético e analítico.

Grau comparativo – apresenta os três tipos possíveis e fornece exemplos.

Comparativos sintéticos – como exceção, apresenta os casos dos adjetivos “bom”, “mau”, “grande” e “pequeno”, com exemplos.

Grau superlativo – apresenta os dois casos, com exemplos. Também fornece exemplos de adjetivos que fazer o superlativo absoluto sintético com a forma erudita e com a popular.

Superlativos irregulares – apresenta a forma regular e a irregular dos seguintes adjetivos: bom, mau, grande e pequeno.

Por fim, apresenta um quadro esquemático com os graus do adjetivo.

BOX – Morfossintaxe do adjetivo: apresentação, com exemplos, das funções de adjunto adnominal, predicativo do sujeito e predicativo do objeto desempenhadas pelo adjetivo.

A teoria na prática: sete exercícios – 1. Dado um trecho, retirar os substantivos e caracterizá-los com três adjetivos “bem originais”; 2. Destacar os adjetivos presentes em textos (um jornalístico, os demais poéticos); 3. Substituir as expressões destacadas por adjetivos; 4. Substituir as expressões por adjetivos no grau superlativo; 5. Substituir a expressão em destaque por um adjetivo (locução adjetiva para adjetivo); 6. Substituir orações por adjetivos. Lembrete presente no enunciado: atenção à acentuação dos paroxítonos, já que as respostas seriam ilegível, inesquecível e imperdível; 7. A partir de um texto jornalístico, identificar a classe gramatical e o significado de uma palavra em cada uma das ocorrências.

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.

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O NUMERAL

Definição baseada em critérios semânticos de quantidade e posição. A seguir, exemplifica as quatro classes de numerais.

Classificação dos numerais: classes, definições e exemplos.

Emprego e flexão dos numerais: regras seguindo a gramática normativa – 1. emprego de ordinais e cardinais segundo a anteposição ou a posposição com o substantivo; 2. Exceção na indicação de reis, papas, séculos e partes de obras; 3.4.e5. Flexão de “ambos”, “duplo” e “meio”. Em destaque, a regra de concordância no caso de meio dia e meia; 6. Flexão dos fracionários; 7. Flexão de grau – apresentação da visão da gramática normativa e o uso na linguagem coloquial, exemplificado por “cinquinho” e “milão”.

BOX – Morfossintaxe do numeral: apresentação das funções possíveis tendo em vista o numeral substantivo (substitui um substantivo) e o numeral adjetivo (acompanha o substantivo). Retomada das funções desempenhadas pelo substantivo e pelo adjetivo.

A teoria na prática: cinco exercícios – 1. Reescrever as frases, corrigindo a grafia do numeral. 2. Escrever os numerais por extenso (mistura de todos os tipos de numerais) a partir de frases; 3. De acordo com o contexto, indicar se um/uma é artigo indefinido ou numeral; 4. Escrever por extenso – número descontextualizado; 5. Destacar e classificar os numerais presentes em 5 frases.

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.

Capítulo 7 – O pronome

A gramática no texto: Trecho de entrevista jornalística com o autor Sílvio de Abreu.

4 questões propostas: 1. Analisar a palavra “ninguém” presente no texto (referente, modo, relação entre a palavra e a forma verbal, classificação); 2. Substituir a expressão “a gente” por uma única palavra e dar o referente da palavra “aquele”, seu valor semântico e sua classificação; 3. Dada uma definição linguística (“elemento linguístico cuja referência não é independente, mas ligada à de um termo antecedente”), explicar a afirmação relacionando com um exemplo retirado do texto; 4. Dada a explicação do que é coesão textual, indicar quais palavras do trecho final do texto estabelecem a conexão com o que foi dito antes.

O pronome

A partir de exemplos, apresentação das funções estabelecidas pelo pronome. A seguir, em box destacado, a definição a partir de critérios de flexão em gênero, número e pessoa, do referente e do valor semântico.

Classificação em pronome substantivo e pronome adjetivo, seguido de exemplos. Comentário da necessidade de contexto para o pronome ter um referente. Apresentação das seis espécies de pronomes.

As pessoas do discurso

Apresentação das pessoas que participam de uma fala (1ª, 2ª e 3ª), seguida de exemplos

Pronomes pessoais

Definição e apresentação do pronome pessoal reto e do oblíquo. Quadro com os pronomes pessoais. Informação solta de que as formas sintéticas comigo, contigo, conosco, convosco e consigo resultam da combinação da preposição com mais pronomes oblíquos correspondentes.

Pronomes de tratamento

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Comentário sobre os pronomes de tratamento e as regras de concordância e também o contexto cerimonioso de uso (excetuando o você) . Quadro com os pronomes, abreviaturas e referência.

Emprego dos pronomes pessoais

Regras de uso: 1. Uso do conosco e convosco sintético e analítico; 2. 3. e 4.Variação dos pronomes oblíquos dependendo da terminação verbal; 5. Plural de modéstia e plural majestático; 6. Uso de “Vossa” e “Sua” no caso do pronome de tratamento; 7. Comentário do “você” como pronome pessoal com características e funções de pronome de segunda pessoa.

Pronomes possessivos

Definição semântica e com base na referência. Exemplos e quadro.

Concordância dos pronomes possessivos – regra e exemplos

Emprego dos pronomes possessivos – 1. A questão da ambiguidade do pronome “seu” (e exemplos); 2. Relativização da definição: nem sempre o pronome possessivo indica posse (e exemplos); 3. O caso de “seu”, corruptela de “Senhor”.

Pronomes demonstrativos

Definição com base na posição (do ser em relação às pessoas do discurso) e na questão semântica. Quadro e distinção de pronome adjetivo e substantivo.

Outros pronomes demonstrativos dependendo do contexto: o, a, os, as, mesmo, próprio, semelhante, tal,

Emprego dos pronomes demonstrativos

1. Posição espacial de um ser em relação às pessoas do discurso (e exemplos); 2. Posição temporal (e exemplos); 3. O que vai ser dito e o que já foi dito (e exemplos).

Pronomes relativos

Definição (com base no caráter catafórico do pronome) e exemplos. Quadro.

Emprego dos pronomes relativos

1. Regência; 2. Quem e a preposição. 3. Quem como relativo indefinido; 4.que e referentes; 5. Regra de uso de que ou quem dependendo da quantidade de sílabas na preposição; 6. Que com antecedente “o”; 7. Cujo como relativo possessivo; 8. Quanto antecedido por pronome indefinido; 9. Onde

Pronomes indefinidos

Definição (são aqueles que se referem a terceira pessoa do discurso de modo vago e impreciso). Exemplos e quadro com os principais pronomes indefinidos, subdivididos em variáveis e invariáveis. Observação quanto à possibilidade de ocorrer pronome indefinido sob forma de locução pronominal (cada qual, quem quer que, qualquer um).

Emprego dos pronomes indefinidos – 1. Valor negativo de “algum” quando posposto ao nome; 2. Necessidade de determinante com “cada”; 3. A diferença entre certo (pron indefinido) e certo (adjetivo); 4. Significados de “todo e toda”; 5. Plural de “qualquer”.

Em box, destacado, a palavra “um” (artigo, numeral ou pronome indefinido). Para classificação, questão semântica e sintática.

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Pronomes interrogativos

Definição, exemplos e quadro.

Colocação pronominal – somente as posições possíveis que os pronomes oblíquos átonos ocupam na oração, sem detalhar as regras.

BOX – Morfossintaxe dos pronomes

Pronomes pessoais

1. Pronomes pessoais retos e as funções sintáticas de sujeito, predicativo e vocativo. 2. Pronomes pessoais oblíquos e a função de complemento verbal. (com exemplos de “construções

não aceitas pela norma culta e construções aceitas”) 3. Caso dos pronomes retos (exceto eu e tu) funcionarem como complemento verbal quando

precedidos de preposição. 4. Eu e tu (sujeito e predicativo) – regra prática (“quando precedidas de preposição, não se usam as

formas retas eu e tu” e a exceção “quando essas formas funcionam como sujeito de um verbo no infinitivo”. (com exemplos de “aceito” e “não aceito”)

5. O, a, os , as como complemento de verbos transitivos diretos e lhe, lhes como complemento de verbos transitivos indiretos. (com exemplos de “aceito” e “não aceito”)

6. Pronome oblíquo funcionando como sujeito com os verbos deixar, fazer, ouvir, mandar, sentir, ver e a dica para desenvolver as orações reduzidas de infinitivo.

7. Emprego do se, si, consigo como reflexivo (exemplo do certo e “e não” para o errado) 8. Pronomes oblíquos com equivalência a pronomes possessivos – adjuntos adnominal (e exemplos

com a equivalência).

Pronomes possessivos – adjunto adnominal quando pronome adjetivo (exemplo) e quando pronome substantivo, as possibilidades de função sintática, com exemplo de estrutura paralelística. Pronomes demonstrativos – variáveis (funções do substantivo e do adjetivo) e invariáveis (funções do substantivo), com exemplos. Pronomes relativos – alerta de que as funções sintáticas do pronome relativo serão retomadas (na verdade, apresentadas) no capítulo sobre orações subordinadas adjetivas. Pronomes indefinidos – acompanha ou substitui um substantivo. Só reforça que desempenharão as funções sintáticas típicas do substantivo ou do adjetivo. Destaque para o valor (sempre) substantivo de “alguém, ninguém, outrem, algo e nada”. Pronomes interrogativos16 – quem substantivo, portanto funções do substantivo; qual, em geral, adjetivo, portanto função de adjunto adnominal.

A teoria na prática 6 questões: 1. Destacar os pronomes em trechos de textos jornalísticos e literários (prosa e letra de música); 2. A partir de trecho da letra de música “Beija eu”, discutir a aceitação desse emprego pela norma formal-culta.; 3. A partir de um trecho de notícia da Folha de São Paulo, demonstrar a adequação do uso do pronome relativo e reescrever o texto; 4.A partir de trecho de texto de Allan Poe, demonstrar a que pronomes esta e aquele fazem referência; 5. Reescrever frases, corrigindo-as segundo as regras da norma culta (de a a q); 6. Classificar os usos da palavra “um”. Discutindo a gramática A partir de exemplos de uso do dia a dia (vi ela na festa, convenceram eles), discussão em grupos “lembrando da teoria vista no capítulo e resgatando seus conhecimentos como falantes nativos da língua”: a correspondência do uso com a gramática normativa; retomada de conceitos trabalhados à p.21 sobre padrão coloquial e padrão culto e discussão; situações de uso; situações para as frases serem adaptadas às regras da gramática normativa.

16 Por erro de concordância, no próprio livro, aparece “pronomes interrogativo”

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“Apresentem suas conclusões para a sala na voz de um representante do grupo”

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.

Capítulo 8 – O VERBO

A gramática no texto: “Janela sobre as paredes” de Eduardo Galeano (texto que enumera frases escritas em muros de Montevidéu, Buenos Aires, Quito, México, Lima, Havana e Rio de Janeiro). 4 questões: 1. Classificar os verbos do texto levando em conta critérios semânticos, morfológicos e sintáticos explicitados anteriormente; 2. A partir da exposição do que é zeugma, pede-se que apresente palavra subtendida (um verbo) em uma das frases; 3. A partir da exposição do que é sufixo nominal, pede-se para apresentar a palavra que o contém e de que verbo se originou; 4. A partir da apresentação da noção de verbos com sentido completo e de outros que exigem complemento, pede-se que destaque esses tipos de verbos em uma dada frase.

O VERBO

Definição: critérios morfológicos e semânticos, com exemplos que demonstram verbos de ação, estado, mudança de estado, fenômeno da natureza, existência, desejo e conveniência.

Locução verbal – definição e exemplos

Estrutura do verbo – apresentação dos elementos estruturais: radical, vogal temática e desinências. Definição de cada elemento e exemplos. Box destacado para informações do verbo pôr e seus derivados como verbo de 2ª conjugação. Quadro de representação dos elementos: radical, vogal temática, desinência modo-temporal, desinência número-pessoal.

Flexões do verbo

Flexão de pessoa - apresentação das três pessoas do verbo e exemplos.

Flexão de número – apresentação das noções de singular e plural e exemplos de concordância com o sujeito explícito ou implícito.

Flexão de tempo – recupera informação presente na definição de verbo (“indica um processo localizado no tempo”) e apresenta as noções de presente, pretérito e futuro com exemplos.

Flexão de modo – definição do que é modo, apresenta os 3 modos verbais, define cada um e dá exemplos.

Flexão de voz – define flexão de voz, apresenta as 3 vozes verbais (ativa, passiva e reflexiva), define cada uma e dá exemplos. Para a voz ativa, está em destaque a seguinte informação: “O conceito de voz ativa é um conceito gramatical. Na oração “O menino levou uma surra”, gramaticalmente temos o verbo na voz ativa, embora o sujeito (o menino) tenha sofrido a ação”. Para voz ativa, faz a distinção entre passiva sintética e passiva analítica.

Formas nominais – justificativa da nomenclatura “formas nominais” pelas funções desempenhadas e apresentação das 3 formas. Definição de cada uma delas segundo critérios semânticos, morfológicos e sintáticos. Exemplos.

Classificação dos verbos: 4 classificações, definição de cada uma e exemplos. Para os verbos regulares, destaque para a informação que algumas alterações ocorrem para manter a identidade fonética. Para os defectivos, informação do que são verbos unipessoais. Ao final da seção, comentário sobre o uso de somente o particípio irregular, na linguagem atual, dos verbos pagar, gastar e ganhar.

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Emprego dos modos e tempos verbais:

Modo indicativo: Não há explicação para a noção de “indicativo”. Apresentação de cada um dos tempos, o aspecto semântico envolvido e exemplos. No pretérito mais-que-perfeito, o comentário sobre o uso do tempo composto na linguagem atual.

Modo subjuntivo: Explicação de “subjuntivo” à luz de critérios semânticos e sintáticos. Apresentação de cada tempo, o aspecto semântico envolvido e exemplos.

Modo imperativo: Explicação do modo com critérios semânticos e sintáticos. Exemplos.

Emprego do infinitivo: Apresentação do infinitivo impessoal e dopessoal e na nota: “Não há propriamente regras que determinem o emprego do infinitivo; o que se observam são tendências e usos consagrados por competentes usuários do português.”

Infinitivo impessoal: regras: 1. Referente não-sujeito; 2. Função de complemento nominal; 3. Locução verbal; 4. Dependente dos verbos deixar, fazer, ouvir, sentir, mandar, ver, tiver por sujeito um pronome oblíquo; 5. Valor de imperativo. Sempre com exemplos.

Imperativo pessoal: regra: existência de sujeito próprio, expresso ou implícito, diferente da oração principal. Exemplos.

BOX – Morfossintaxe do verbo

Considerações iniciais sobre verbo: estrutura a oração, determina o nº de orações em um período e integra o predicado. Ou seja, informações são sintáticas.

Informações semânticas: diferenciação entre verbos significativos e verbos com função de “elo entre sujeito e um atributo dele”. A partir daí, introdução da noção de predicado verbal e predicado verbo-nominal (o núcleo é um verbo significativo) e predicado nominal (verbo de ligação não é núcleo do predicado).

A teoria na prática: 13 questões – 1. Identificação de erro no emprego de forma verbal em jornal de grande circulação (caso do “reavê”) e correção; 2. Preenchimento de lacunas com de particípio dos verbos entre parênteses (abundantes) de acordo com o auxiliar usado na frase; 3. Preenchimento de lacunas com os verbos em tempo e modo pedidos / trechos de textos em prosa literária; 4. Transformação do imperativo negativo em imperativo afirmativo; 5. Transformação do imperativo afirmativo em imperativo negativo; 6. Apresentação de modelo de correlação verbal a ser seguida (Se eu for demitido, voltarei para os EUA. Se eu fosse demitido, voltaria para os EUA.); 7. Transformação de frases de acordo com o modelo (transformação do sujeito em vocativo = Joana canta. Joana, cante!); 8. Destaque do verbo, classificação semântica (ação, existência, estado ou fenômeno da natureza) e classificação da conjugação; 9. Identificação de verbos e locuções verbais, bem como identificação de verbo auxiliar e verbo principal; 10. Passagem para a voz passiva; 11. Passagem para a voz ativa; 12. Passagem para a voz passiva analítica (frases originalmente na passiva sintética). 13. Passagem para a voz passiva sintética (frases originalmente na passiva analítica).

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.

CAPÍTULO 9 – AS CATEGORIAS GRAMATICAIS INVARIÁVEIS

A gramática do texto: tirinha do “Recruta Zero”, Mort Walker

7 questões: 1. Partindo da definição parcial de advérbio (modifica o verbo),localização de palavras que se encaixem nessa definição na primeira fala do primeiro quadrinho; 2. Partindo da definição parcial de advérbio (semântica – noção de circunstância), classificação das palavras apontadas no exercício anterior;

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3. Trabalho com a ideia de contextualização e referencialidade (apontar o referente da palavra não presente na 2ª fala do 1º quadrinho); 4. Seleção da palavra “numa” e pedido para que, a partir do contexto, sejam apresentadas as duas palavras que foram contraídas; 5. Partindo da definição morfológica, sintática e semântica de preposição, pede-se que seja dado o tipo de relação em quatro frases a seguir (a primeira retirada da tira, as demais variações do mesmo tema); 6. Partindo da definição semântica de interjeição, pede-se que aponte uma interjeição presente na tira e o estado emocional que ela estabelece; 7. Duas ocorrências de “que” são destacadas e é apresentada a definição de conjunção (sob o critério sintático = ligar orações sem desempenhar função sintática). Pede-se que seja transcrita a frase com o “que” conjunção e que se classifique a outra ocorrência (no caso, pronome relativo).

As categorias gramaticais invariáveis

Apresentação da visão da gramática normativa sobre palavra invariável (sem flexão, ou seja, acréscimo de afixos e desinências). Apresentação das categorias gramaticais consideradas invariáveis (advérbio, preposição, conjunção e interjeição) por não apresentarem flexão de gênero, número e pessoa. Alerta ao fato de alguns advérbios apresentarem flexão de grau.

O ADVÉRBIO

Definição semântica e exemplos.

Locução adverbial – definição e exemplos.

Classificação dos advérbios – critério semântico e exemplos de listas de advérbio e locuções adverbiais para cada uma das classificações (afirmação, dúvida, intensidade, lugar, tempo, modo, negação).

Comentário sobre as palavras onde, como e quando e sua classificação como advérbio interrogativo seguido de exemplos.

Flexão de grau – comparação com os graus do adjetivo. Para cada um dos graus, explicação de como são formados e exemplos.

Emprego dos advérbios – 4 regras: 1. Coordenação de sequência de advérbios terminados em mente; 2. Uso do mais bem e mais mal antes de particípio; 3. O uso de sufixo diminutivo no advérbio denota grau superlativo (na linguagem popular); 4. Intensificação do advérbio pela repetição (na linguagem popular).

Palavras denotativas – Segundo a NGB, indicação das palavras denotativas e suas classificações: inclusão, exclusão, explicação, retificação, realce, situação, designação.

BOX- Morfossintaxe do advérbio

Apresentação da função de adjunto adverbial e sua classificação semântica. Exemplos.

A teoria na prática – 4 questões: 1. Identificação dos advérbios em excertos de textos jornalísticos e literários; 2. Acréscimo de advérbios à frase dada, de acordo com as circunstâncias solicitadas; 3. Indicação das circunstâncias expressas pelo advérbio destacado; 4. Substituição de locuções adverbiais por advérbios.

A PREPOSIÇÃO

Definição morfológica e sintática. Classificação dos termos subordinados (regente e regido). Exemplos. Apresentação do que é regência verbal e nominal e comentário que é assunto a ser tratado em outro capítulo (dentro da unidade Sintaxe, seção Sintaxe de regência). Exemplos de preposição ligando orações.

Locução prepositiva – definição, lista de exemplos e exemplos em frases.

Classificação das preposições – divisão e exemplos (com lista de preposições): essenciais e acidentais.

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Emprego das preposições – 1. Valores semânticos assumidos pelas preposições; 2. Explicação do que é combinação e do que é contração e exemplos; 3. Explicação do que é crase e comentário que o assunto será estudado posteriormente (dentro da unidade denominada “Apêndice”); 4. Regra: não fazer a contração da preposição de com artigo que encabeça o sujeito de um verbo. Todos os comentários seguidos de exemplos (frases soltas, descontextualizadas).

BOX – Morfossintaxe da preposição

Comentário, comparando com pronomes relativos e conjunções, que preposição não exerce função sintática.

A teoria na prática – 4 questões: 1. Identificação das preposições em excertos de textos jornalísticos e literários; 2. Identificação das locuções prepositivas em frases (somente a primeira um excerto de revista); 3. Reescrita de frases, com correção (regra 4 explorada anteriormente); 4. Identificação do valor semântico da preposição de em frases diversas.

A CONJUNÇÃO

Definição morfológica e sintática. Exemplos.

Locução conjuntiva – definição e lista de exemplos.

Classificação das conjunções – divisão das classificações: coordenativas e subordinativas.

Conjunções coordenativas – definição sintática e classificação (aditiva, adversativa, alternativa, conclusiva e explicativa). A cada classificação, são apresentados valor semântico e lista de exemplos.

Conjunções subordinativas - definição sintática e classificação (causal, condicional, consecutiva, comparativa, conformativa, concessiva, temporal, final, proporcional e integrante). A cada classificação, são apresentados valor semântico e lista de exemplos.

Comentário sobre a importância do contexto para a determinação da relação estabelecida pela conjunção e exemplos de uma mesma conjunção estabelecendo relações diferentes.

BOX – Morfossintaxe das conjunções

Retomada da informação anteriormente apresentada: tanto preposição quanto conjunção não exercem função sintática. Comentário que o estudo das conjunções será retomado ao ser analisado o período composto.

A teoria na prática – 6 questões: 1. A partir de um fragmento de notícia do jornal O Estado de São Paulo, pede-se para identificar a conjunção que está em contradição com outras informações do texto e quais são essas informações; 2. Identificar a relação estabelecida pelas conjunções destacadas (dos cinco trechos, três foram elaborados exclusivamente para esse fim didático e os outros dois são trechos de revistas); 3. Classificar as conjunções (não há destaque e só uma frase, das onze apresentadas, é um fragmento de texto literário. As demais foram elaboradas para servir de exercício); 4. Localizar, em trechos literários, as preposições e as conjunções; 5. Ligar duas frases isoladas por meio de conjunção com a relação indicada entre parênteses; 6. Identificar e diferenciar conjunção subordinativa e pronome relativo (de oito frases, três são literárias).

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A INTERJEIÇÃO

Definição morfológica e semântica. Lista de sentimentos e emoções e as interjeições correspondentes. Advertência: “A lista acima deve ser encarada apenas como referência, uma vez que a expressividade da linguagem coloquial é fértil na criação de interjeições e locuções interjetivas”. Apresentação da definição de locução interjetiva e exemplos.

BOX – Morfossintaxe da interjeição

Interjeição apresentada como “palavra-frase”, não pertencente nem ao sujeito nem ao predicado, portanto sem função sintática. “Em razão disso, alguns gramáticos excluem a interjeição de qualquer classificação”.

A teoria na prática – 3 questões: 1. Identificar as interjeições em textos literários e musicais; 2. Identificar o sentimento ou a emoção expressa pela interjeição destacada; 3. Classificar as palavras em destaque em advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Porém, não há nenhuma interjeição nos trechos apresentados (literários e letras de música), sendo três advérbios, duas preposições e duas conjunções.

Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.