lÍngua portuguesa questões de 01 a 20 · apresentou-se à mesa cercado de cenouras e foi comido...

24
2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 1 LÍNGUA PORTUGUESA Questões de 01 a 20 Leia o texto e responda às questões 1 a 4. COMER, COMER, COMER; NÃO COMER, NÃO COMER, NÃO COMER § 1 Entre todos os alimentos ao nosso alcance, nenhum é motivo de maior controvérsia do que a carne. A atração por ela vem desde o início dos tempos, com o ser humano afiando lanças para alcançar o que insistia em fugir. Até hoje a carne é o alimento mais valorizado pela maioria das culturas, tanto no interior da África ou da Austrália quanto nas grandes cidades da Europa e das Américas. Tanto assim que a indústria da carne foi a primeira da história, e nenhuma outra ocupa tanto espaço na superfície da Terra. Em compensação, nenhum outro alimento foi tão restringido e proibido quanto a carne. Principalmente pela religião, mas também pela medicina. Você come como eu como? § 2 O universo da carne é vasto, e mesmo quem come carne não come qualquer carne. Por exemplo: na Ásia comem cachorro, na França comem cavalo, nós comemos coelho, os ingleses e norte-americanos não comem nenhum dos três mas comem porco, que judeus e muçulmanos não comem. Na Ásia, na África e em muitos lugares da América Latina inseto é comida; enquanto na França e na Itália caramujo é comida; nós comemos ostras, rãs e tartarugas mas não comemos insetos nem ratos, muito menos caramujos. Frangos são quase unanimidade, comidos por 363 culturas mundo afora, contra 196 que usam a carne dos bois, 180 que comem porco, 159 que comem peixe, 108 que comem carneiro e mais ou menos 40 que gostam, será?, de cachorro e rato. § 3 Cachorros e cavalos estão cada vez mais longe do abatedouro porque são amigos do homem, bichos de estimação. Ganhou nome, está salvo: não se come um amigo. Tem gente que nunca mais comeu frango porque um dia o ex-pintinho e quase galo Frederico foi para a panela, feito o coelho Artur, da feira de filhotes, que apresentou-se à mesa cercado de cenouras e foi comido como se fosse galinha, depois não havia como descomê-lo. Ontem & hoje § 4 No mundo antigo só existiam dois tipos de carnívoros, os que comiam carne humana e os que não comiam. [...] § 5 No mundo moderno também só existem dois tipos de carnívoros: os que sabem perfeitamente o animal que estão comendo, sempre visualizam o leitãozinho com a maçã na boca enquanto lhe devoram a costeleta, e os que preferem se manter a uma distância segura, se possível à distância de um abismo, daquilo que põem para dentro comem a carne anônima, coisificada, em formato pré-fabricado de filé, hambúrguer, salsicha, presunto. [...]

Upload: vandieu

Post on 09-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 1

LÍNGUA PORTUGUESA – Questões de 01 a 20 Leia o texto e responda às questões 1 a 4.

COMER, COMER, COMER; NÃO COMER, NÃO COMER, NÃO COMER

§ 1 Entre todos os alimentos ao nosso alcance, nenhum é motivo de maior controvérsia do que a carne. A atração por ela vem desde o início dos tempos, com o ser humano afiando lanças para alcançar o que insistia em fugir. Até hoje a carne é o alimento mais valorizado pela maioria das culturas, tanto no interior da África ou da Austrália quanto nas grandes cidades da Europa e das Américas. Tanto assim que a indústria da carne foi a primeira da história, e nenhuma outra ocupa tanto espaço na superfície da Terra. Em compensação, nenhum outro alimento foi tão restringido e proibido quanto a carne. Principalmente pela religião, mas também pela medicina. Você come como eu como?

§ 2 O universo da carne é vasto, e mesmo quem come carne não come qualquer carne. Por exemplo: na Ásia comem cachorro, na França comem cavalo, nós comemos coelho, os ingleses e norte-americanos não comem nenhum dos três mas comem porco, que judeus e muçulmanos não comem. Na Ásia, na África e em muitos lugares da América Latina inseto é comida; enquanto na França e na Itália caramujo é comida; nós comemos ostras, rãs e tartarugas mas não comemos insetos nem ratos, muito menos caramujos. Frangos são quase unanimidade, comidos por 363 culturas mundo afora, contra 196 que usam a carne dos bois, 180 que comem porco, 159 que comem peixe, 108 que comem carneiro e mais ou menos 40 que gostam, será?, de cachorro e rato.

§ 3 Cachorros e cavalos estão cada vez mais longe do abatedouro porque são amigos do homem, bichos de estimação. Ganhou nome, está salvo: não se come um amigo. Tem gente que nunca mais comeu frango porque um dia o ex-pintinho e quase galo Frederico foi para a panela, feito o coelho Artur, da feira de filhotes, que apresentou-se à mesa cercado de cenouras e foi comido como se fosse galinha, depois não havia como descomê-lo. Ontem & hoje

§ 4 No mundo antigo só existiam dois tipos de carnívoros, os que comiam carne humana e os que não comiam. [...]

§ 5 No mundo moderno também só existem dois tipos de carnívoros: os que sabem perfeitamente o animal que estão comendo, sempre visualizam o leitãozinho com a maçã na boca enquanto lhe devoram a costeleta, e os que preferem se manter a uma distância segura, se possível à distância de um abismo, daquilo que põem para dentro – comem a carne anônima, coisificada, em formato pré-fabricado de filé, hambúrguer, salsicha, presunto. [...]

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

2 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

Comer carne dá status...

§ 6 De todo modo, a prosperidade de uma época ou de uma categoria social sempre se mediu pelo aumento do consumo per capita de carne, que costuma dar aos carnívoros a sensação de estarem bem alimentados. O que não deixa de ser verdade, já que a carne é rica em proteína, vitaminas B, ferro, fósforo, outros minerais importantes – e gordura, que demora a sair do estômago. [...] Outro fator de contentamento é que a carne produz neurotransmissores como dopamina e adrenalina, que aumentam a atividade cerebral, e obriga o fígado e os rins a trabalharem mais, fazendo com que o ritmo interior do carnívoro convicto seja cheio de altos e baixos, enquanto quem come mais vegetais tende a um ritmo mais calmo. Mas há também o fator psicológico. Como historicamente a carne era cara e rara, afinal vivia fugindo, virou objeto do desejo.

...e o proibido é mais gostoso

§ 7 Além disso foi proibida em muitas circunstâncias. A noção de que se é o que se come sempre esteve presente na cultura humana. Tribos primitivas acreditavam (e ainda acreditam) descender de algum animal que se tornava seu protetor, e caçá-lo era tabu; mas em ocasiões especiais todos eram obrigados a participar da caça ao totem, e também a comer um pedaço dele para reforçar os laços de parentesco. Na Índia, os brâmanes não comem carne nem peixe e são imitados por milhões de pessoas. [...] Para os católicos, na Idade Média, existiam em torno de cento e vinte dias "magros" por ano, magro significando sem carne ou produto animal de espécie alguma. Essa restrição foi se suavizando com o tempo até resumir-se aos quarenta dias da Quaresma, entre o carnaval e a páscoa, e assim mesmo acabou sendo interpretada como "sexta-feira é dia de comer peixe porque não se come carne".

O que é a natureza!

§ 8 Mas, ao longo da história, comer ou não comer carne nunca chegou a ser um problema. Ou tinha, ou não tinha; se estivesse entre as carnes culturalmente comestíveis, ou seja, não fosse tabu nem provocasse nojo, não havia por que não comer; se prevalecesse a fome, por exemplo numa seca terrível, as carnes culturalmente não comestíveis também serviam; o problema só se colocou a partir da abundância que substituiu a escassez. Ela subverteu a tradição e botou as pessoas comendo carne todo dia. [...]. Hoje o consumo generalizado de carne é tão grande que enfrentamos um tipo completamente diferente de proibição: as ordens médicas.

Estragando prazeres

§ 9 Estatisticamente, é entre comedores de carne que há mais doenças coronarianas e câncer. Isso porque ela está sendo produzida de modo tão pouco natural que vai entrar no organismo junto com muita gordura saturada, colesterol, hormônios, antibióticos, pesticidas. No caso das carnes conservadas, salgadas e defumadas, vem com aditivos químicos pesados, comprovadamente cancerígenos, como nitratos e nitritos. [...] § 10 Carne crua ou mal passada tem um risco adicional – carrega ovos ou larvas de parasitas como solitária, toxoplasma, triquina, bactérias como salmonella e muitos mais, todos com resultados variando de intoxicação alimentar e perturbações crônicas a danos neurológicos e morte.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 3

Mas e a proteína?

§ 11 Está certo que na carne e nos ovos a proteína é completa, isto é, tem todos os aminoácidos essenciais à elaboração dos tecidos, por isso goza da preferência de quem quer uma garantia de assimilação abundante; uma criança subnutrida, por exemplo, pode se fortalecer mais rapidamente com carne do que sem ela, se sua capacidade hepática e renal estiver boa. § 12 Acontece que da combinação de qualquer cereal, como arroz, com qualquer leguminosa, como feijão, também se faz uma proteína completa, a um custo muito menor para o organismo e para a sociedade. A produção da proteína animal é caríssima.[...] Mais da metade da produção mundial de grãos é destinada a alimentar o gado, ...você sabia? Talvez seja mesmo fraca

§ 13 A dedicação humana a produzir carne comestível é tão grande que já está gerando paradoxos. Um deles: as creches orientadas pela Pastoral da Criança recuperam criancinhas desnutridas acrescentando à mamadeira o farelo de arroz e de trigo vendido em casas de ração para gado.

§ 14 Uma coisa curiosa é que a pessoa que come carne todo dia acha que não pode viver sem ela. Quando ouve falar que a prevenção do câncer e de uma série de doenças inclui reduzir a carne e aumentar o consumo de vegetais, acha impossível. Sente-se fraca e sem energia quando não come carne, fica com fome assim que acabou de comer. [...]

(HIRSCH, Sonia. Comer, comer, comer; não comer, não comer, não comer. Disponível em: http://www.sejavegetariano.cjb.net/. Acesso em: 06 ago. 2010.)

1) O principal objetivo comunicativo do texto é:

a) refletir sobre o papel da carne como alimento na sociedade ao longo do tempo.

b) descrever os hábitos alimentares contemporâneos em relação ao consumo de carne.

c) apresentar a evolução do hábito de comer carne na sociedade brasileira. d) analisar o papel do consumo de carne na história das religiões do mundo.

2) “[...] foi comido como se fosse galinha, depois não havia como descomê-lo.” (§ 3)

Sobre o uso do verbo “descomer” no texto, é CORRETO afirmar que:

a) é um verbo regular utilizado com o significado de vomitar ou defecar. b) é um vocábulo que possivelmente será dicionarizado em breve. c) tem o prefixo des- com o mesmo valor semântico que em “desfazer”. d) é uma palavra formada por processo de derivação sufixal.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

4 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

3) “[...] mais ou menos 40 [culturas] que gostam, será?, de cachorro e rato.” (§ 2)

A inserção da expressão sublinhada pressupõe, por parte da autora, um sentimento de:

a) revolta. b) dúvida. c) escárnio. d) indiferença.

4) Em relação a diferenças culturais no consumo de carne, é CORRETO afirmar:

a) As religiões influenciam o modo pelo qual as carnes são consumidas. b) Em tempos remotos, consumia-se mais a carne humana do que a de

animais. c) Sociedades complexas só utilizam na sua alimentação as carnes já

processadas. d) O consumo de carne de cachorro é um tabu em todas as sociedades.

Leia o texto e responda às questões 5 e 6.

MORFOLOGIA: FORMAÇÃO DE PALAVRAS

O estudo sobre a construção dos vocábulos pode privilegiar a estruturação de sentidos, indo além da mera descrição da norma

A língua é viva e inconstante. A todo momento, palavras novas são criadas, rejeitadas e resgatadas. É por meio das palavras que expressamos nossas ideias e valores e constituímos nossa relação com o outro.

Em sociedade, somos expostos a múltiplas atividades e situações comunicativas. A cada instante, um novo produto é lançado, uma nova descoberta nos é apresentada, e os falantes criam e recriam linguagens e palavras que atendam suas necessidades de comunicação.

Para atender essas transformações, recorremos às estruturas da língua e, mais precisamente, aos processos de formação de palavras. Tudo o que significa algo no mundo é feito pela intermediação da linguagem e da língua. A relação entre o locutor e o interlocutor depende desses fatores.

Quando desejamos criar um simples nome para uma loja, buscamos nos morfemas os recursos disponíveis. “Bem loucão” é expressão divertida e criativa para nomear uma loja especializada em produtos para cães ou uma clínica veterinária.

A publicidade, por sua vez, explora os morfemas para produzir efeitos persuasivos interessantes: “Vai levar a garantidona, a garantidaça ou a garantidésima? Linha de TVs Lumina. O máximo em tecnologia, o mínimo em consumo de energia.”

A partir da derivação sufixal e da gradação, o texto leva o cliente-leitor a perceber as vantagens do produto anunciado, explorando um mesmo radical “garant” e os sufixos aumentativos populares e eruditos, atingindo, assim, o maior número de clientes possível.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 5

Quando um aluno, ao ser chamado para responder a uma pergunta, responde “Rapidão”, normalmente ele não está dizendo que será muito rápido. Está pedindo um pouco de paciência para que ele se organize para a questão. Nesse instante, não seria interessante explicar a ele apenas que essa flexão não é abonada pela norma culta, mas explicar os processos e recursos linguísticos utilizados por ele nesse enunciado.

A intensificação do adjetivo por meio de um sufixo aumentativo é um mecanismo bastante inventivo. É um bom momento para trabalhar a derivação e o processo de flexão nominal.

O estudo da formação de palavras deve ir além da norma culta e da identificação dos processos de construção de palavras; deve privilegiar principalmente a construção de sentido e os efeitos provocados, como podemos ver em “político”, “politiqueiro” e “politicalha”. Além da gradação, há nesse processo de sufixação a degradação do termo.

(SOBRAL, J.J.V. Língua Portuguesa, São Paulo, p. 20-21, 2010. Número Especial Sala de Aula.)

5) O principal objetivo comunicativo do texto é:

a) argumentar sobre a importância do interlocutor no processo de formação de palavras.

b) conscientizar o leitor sobre a importância do desenvolvimento histórico da formação de palavras.

c) mostrar ao leitor o caráter dinâmico da formação de palavras, nas situações comunicativas.

d) instruir as pessoas a fazer bom uso da morfologia de acordo com a norma culta da língua.

6) Em “politiqueiro” (último parágrafo), o sufixo -eiro dá à palavra um sentido

pejorativo, o que não ocorre em “brasileiro”, por exemplo. Assinale a alternativa em que o sufixo aparece empregado com e sem valor pejorativo, respectivamente:

a) debiloide / androide. b) camarote / fracote. c) camisola / beiçola. d) ativismo / achismo.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

6 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

7) Leia: CÂNCER 21/06 A 21/07

O eclipse em seu signo vai desencadear mudanças na sua autoestima e no seu modo de agir. O corpo indicará onde você falha – se anda engolindo sapos, a área gástrica se ressentirá. O que ficou guardado virá a tona para ser transformado, pois este novo ciclo exige uma “desintoxicação”. Seja comedida em suas ações, já que precisará de energia para se recompor. Há preocupação com a família, e a comunicação entre os irmãos trava. Lembre-se: palavra preciosa e palavra dita na hora certa. Isso ajuda também na vida amorosa, que será testada. Melhor conter as expectativas e ter calma, avaliando as próprias carências de modo maduro. Sentirá vontade de olhar além das questões materiais – sua confiança virá da intimidade com os assuntos da alma.

Revista Cláudia. N.° 7, ano 48, jul. 2009.

O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu contexto de uso, sua função social específica, seu objetivo comunicativo e seu formato mais comum relacionam-se aos conhecimentos construídos socioculturalmente. A análise dos elementos constitutivos desse texto demonstra que sua função é

a) vender um produto anunciado. b) expor a opinião de leitores em um jornal. c) aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho. d) informar sobre astronomia.

8) Leia a tirinha e responda:

Considerando as atitudes e as falas dos personagens, é correto concluir que:

a) a mãe de Calvin, indecisa sobre o que fazer com o filho, viu-se obrigada a consultar o pai;

b) Haroldo, o tigre presente no último quadrinho, demonstra apoio incondicional à atitude do menino, pelo fato de estar disposto a acompanhá-lo à escola;

c) não havendo outra saída, foi necessário usar a força física para mandar Calvin à escola, como se depreende da expressão “esmagar”, do último quadrinho;

d) as expressões “os pais” e “uma criança”, no último quadrinho, indicam que Calvin generalizou a conclusão a que chegou.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 7

9) Leia: TESTES

Dia desses resolvi fazer um teste proposto por um site da internet. O nome do teste era tentador: “O que Freud diria de você”. Uau. Respondi a todas as perguntas e o resultado foi o seguinte: “Os acontecimentos da sua infância a marcaram até os doze anos, depois disso você buscou conhecimento intelectual para seu amadurecimento”. Perfeito! Foi exatamente o que aconteceu comigo. Fiquei radiante: eu havia realizado uma consulta paranormal com o pai da psicanálise, e ele acertou na mosca. Estava com tempo sobrando, e curiosidade e algo que não me falta, então resolvi voltar ao teste e responder tudo diferente do que havia respondido antes. Marquei umas alternativas esdrúxulas, que nada tinham a ver com minha personalidade. E fui conferir o resultado, que dizia o seguinte: “Os acontecimentos da sua infância a marcaram até os 12 anos, depois disso você buscou conhecimento intelectual para seu amadurecimento”.

MEDEIROS, M. Doidas e santas. Porto Alegre, 2008 (adaptado).

Quanto as influências que a internet pode exercer sobre os usuários, a autora expressa uma reação irônica no trecho:

a) “Os acontecimentos da sua infância a marcaram até os doze anos”. b) “Dia desses resolvi fazer um teste proposto por um site da internet”. c) “Respondi a todas as perguntas e o resultado foi o seguinte”. d) “Fiquei radiante: eu havia realizado uma consulta paranormal com o pai da

psicanálise”. 10) Leia:

ENTREVISTA

O ensaísta canadense Alberto Manguei, autor de Uma História da Leitura,

explica por que a palavra escrita é a grande ferramenta para entender o mundo. Veja - Numa época em que predominam as imagens, por que a leitura ainda é importante?

Manguei - A atual cultura de imagens é superficialíssima, ao contrário do que acontecia na Idade Média e na Renascença, épocas que também eram marcadas por uma forte imagética. Pense, por exemplo, nas imagens veiculadas pela publicidade. Elas captam a nossa atenção por apenas poucos segundos, sem nos dar chance para pensar. Essa é a tendência geral em todos os meios visivos. Assim, a palavra escrita é, mais do que nunca, a nossa principal ferramenta para compreender o mundo. A grandeza do texto consiste em nos dar a possibilidade de refletir e interpretar. Prova disso é que as pessoas estão lendo cada vez mais, assim como mais livros estão sendo publicados a cada ano. Bill Gates, presidente da Microsoft, propõe uma sociedade sem papel. Mas, para desenvolver essa idéia, ele publicou um livro. Isso diz alguma coisa.

(Veja, 7 de julho de 1999)

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

8 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

...a palavra escrita é a grande ferramenta para entender o mundo; o item abaixo em que o vocábulo grande apresenta o mesmo valor semântico que possui

nesse segmento do texto é:

a) Por um grande tempo pensou-se que o livro iria ser substituído pelo computador.

b) Bill Gates tem grande interesse em mostrar a inutilidade da palavra escrita no mundo moderno.

c) O entrevistado Alberto Manguei é um dos grandes conhecedores do valor da língua escrita.

d) Os computadores mais modernos atingem grandes preços no mercado. Leia o texto e responda às questões 11 a 15.

Um Reino Cheio de Mistério

No dia 21 de setembro comemorou-se o Dia da Árvore, o que deve ter dado trabalho a muito menino do primário, do qual certamente exigiram uma redação sobre o tema: com a alma bocejando, os meninos devem ter dito que a árvore dá sombra, frutos etc. Mas, ao que eu saiba, não se comemora o dia da planta, ou melhor, da plantação. E esse dia é importante para a experiência humana das crianças e dos adultos. Plantar é criar na Natureza. Criação insubstituível por outro tipo qualquer de criação. Lembro-me de quando eu era menina e fui passar o dia numa granja. Foi um dia glorioso: lá plantei um pé de milho com muito amor e excitação. Depois, de quando em quando, eu pedia notícias do que havia criado. Mais tarde, na Suíça, plantei um pé de tomates numa lata grande, bonita. Quando começaram a aparecer os ainda pequenos tomates verdes e duros achei inacreditável que eu mesma lhes tivesse provocado o nascimento: eu entrara no mistério da Natureza. Cada manhã, ao acordar, a primeira coisa que fazia era ir examinar minuciosamente a planta: é como se a planta usasse a escuridão da noite para crescer. Esperar que algo amadureça é uma experiência sem-par: como na criação artística em que se conta com o vagaroso trabalho do inconsciente. Só que as plantas são a própria inconsciência. Nesse reino, que não é nosso, a planta nasce, cresce, amadurece e morre. Sem nenhum objetivo de satisfazer algum instinto. Ou estarei enganada, e há instintos os mais primários no reino vegetal? Meu tomateiro parecia ter tomates vermelhos porque assim queria, sem nenhuma outra finalidade que não a de ser vermelho, sem a menor intenção de ser útil. A utilização do tomate para se comer é problema dos humanos. Um dos gestos mais belos e largos e generosos do homem, andando vagarosamente pelo campo lavrado, é o de lançar na terra as sementes. E quando os tomates ficaram redondos, grandes e vermelhos? Chegara a hora da colheita. Não foi sem alguma emoção que vi num prato da mesa os tomates que eram mais meus que um livro meu. Só que não tive coragem de comê-los. Como se comê-los fosse um sacrilégio, uma desobediência à lei natural. Pois um tomateiro é arte pela arte. Sem nenhum proveito senão o de dar tomate. O ritmo das plantas é vagaroso: é com paciência e amor que elas crescem.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 9

Entrar no Jardim Botânico é como se fôssemos trasladados para um novo reino. Aquele amontoado de seres livres. O ar que se respira é verde. E úmido. É a seiva que nos embriaga de leve: milhares de plantas cheias da vital seiva. Ao vento as vozes translúcidas das folhas de plantas nos envolvem num suavíssimo emaranhado de sons irreconhecíveis. Sentada ali num banco, a gente não faz nada: fica apenas sentada deixando o mundo ser. O reino vegetal não tem inteligência e só tem um instinto, o de viver. Talvez essa falta de inteligência e de instintos seja o que nos deixa ficar tanto tempo sentada dentro do reino vegetal. Lembro-me de que no curso primário a professora mandava cada aluno fazer uma redação sobre um naufrágio, um incêndio, o Dia da Árvore. Eu escrevia com a maior má vontade e com dificuldade: já então não sabia seguir senão a inspiração. Mas que seja esta a redação que em pequena me obrigavam a fazer.

(Clarice Lispector. A Descoberta do Mundo)

11) A leitura do texto permite concluir que nele,

a) além de uma opinião negativa sobre o Dia da Árvore, existe o estímulo para se observar a sensibilidade das plantas.

b) além da lembrança da época de escola, há uma mensagem, para se curtir o reino vegetal.

c) além de uma opinião negativa sobre o Dia da Árvore, existe a intenção de trocá-lo oficialmente para o Dia da Plantação.

d) além da lembrança da época de escola, existe a intenção, com o apoio dos órgãos oficiais, de trocar o Dia da Árvore pelo Dia da Plantação

12) A passagem “comemorou-se o Dia da Árvore”, está reescrita com o mesmo

sentido em

a) a Árvore comemorou o seu Dia. b) o Dia da Árvore foi comemorado. c) precisa-se da comemoração da Árvore. d) a comemoração do Dia da Árvore é necessária.

13) A expressão “do qual”, linhas 02, se refere ao termo:

a) dia 21 de setembro. b) o Dia da Árvore. c) muito menino do primário. d) o tema.

14) A oração iniciada pela conjunção “Quando”, estabelece uma relação de

a) condição. b) conseqüência. c) tempo. d) causa

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

10 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

15) A passagem “eu mesma lhes tivesse provocado o nascimento”, significa

a) eu, de fato, plantei um pé de tomates numa bonita lata. b) eu mesma tivesse provocado o nascimento dos tomates. c) eu própria tivesse provocado o nascimento para os suíços. d) eu própria tivesse provocado o nascimento dos suíços.

16) Leia o texto para responder à questão.

O mundo é grande O mundo é grande e cabe Nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe Na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe No breve espaço de beijar.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983

Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e expressões linguísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjução estabelece, entre as idéias relacionadas, um sentido de: a) Oposição. b) Comparação. c) Alterância. d) Finalidade.

17) Leia:

Palavras que ferem, palavras que salvam

“Posso ajudar”? Eis duas palavrinhas que nos soam mais que familiares. Entra-se numa loja e lá vem: “Posso ajudar”?Está desencadeado um processo durante o qual não mais conseguiremos nos livrar da prestimosa oferta. Ao entrar numa loja, o ser humano necessita de um tempo de contemplação. Precisa se acostumar ao novo ambiente, testar a nova luminosidade, respirar com calma o novo ar. Sobretudo, necessita de solidão para, por meio de um diálogo consigo mesmo, distinguir entre os objetos expostos aquele que mais de perto fala à sua necessidade, ao seu gosto ou ao seu desejo. A turma do “posso ajudar” não deixa. Mesmo que se diga “Não obrigado, primeiro quero examinar o que há na loja”, ela só aparentemente entregará os pontos. Ficará por perto, olhando de esguelha, como policial desconfiado. [...]

Adaptado de TOLEDO, Roberto de Pompeu de. Veja, 25 mar. 2009.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 11

A expressão “mesmo que”, sublinhada no trecho, pode ser substituida, sem prejuízo semântico ou sintático, por: a) Se bem que. b) Contanto que. c) Ainda que. d) Uma vez que.

18) “A continuar esse calor, ficaremos torrados em pouco tempo.” Se começarmos

o período com: “Ficaremos torrados em pouco tempo...”, a conjunção que poderia ser usada para a continuação da frase seria:

a) porque b) enquanto c) caso d) ainda que

19) Leia:

Pais e adultos em geral são incompetentes para entender o que vai pela cabeça das crianças; estas, por sua vez, são incapazes de detectar o que se esconde sob os gestos e as frases dos mais velhos. Na zona cinzenta que reúne essas duas conhecidas limitações, reside o objeto de “Quarto de Menina”, estréia literária da psicanalista carioca Lívia Garcia Roza. Luciana, oito anos, filha única de pais separados, é inteligente, sapeca, sem papas na língua e mora com o pai, intelectual, pacato, caladão, professor de filosofia. É ela a narradora do livro. Ao longo de 180 páginas, relata o seu cotidiano, que se limita, aqui, ao próprio quarto, à biblioteca do pai, à sala e à casa da mãe. [...] Apesar disso, não se trata de uma obra para crianças. A construção híbrida

da narrativa descarta episódios mais banais ou preocupações que seriam em tese mais comuns às crianças, dando destaque para os diálogos, seja entre Luciana e os pais, seja entre a garota e suas bonecas. (...)

(Normalidade do cotidiano, Folha de S.Paulo,15.10.95, p. 5-11)

As expressões a seguir poderiam substituir a expressão “Apesar disso” (no início do terceiro parágrafo) sem causar alteração essencial no significado da frase, à exceção de:

a) No entanto b) Todavia c) Portanto d) Entretanto

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

12 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

20) Assinale a alternativa que não apresenta desvios relativos à variante culta da língua.

a) Você quer que te digamos toda a verdade? b) Vossa Excelência conseguiu realizar todos os vossos ententos? c) Uma discusão aconteceu entre eu e tu. d) Pretendo falar com Vossa Senhoria para saber informações sobre o seu

próximo livro.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 13

LITERATURA – Questões de 21 a 40

21) (UFSCAR)

Reinvenção

A vida só é possível reinventada.

Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas ... Ah! tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo ... - mais nada.

Mas a vida, a vida , a vida a vida só é possível reinventada. […]

(Cecília Meireles)

Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo:

a) ligado ao vanguardismo da geração de 22. b) inspirado em temas genuinamente brasileiros. c) vinculado à estética simbolista. d) de caráter épico, com inspiração camoniana.

22) Leia o texto.

É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades, é preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana. É preciso estudar volupaque, é preciso estar sempre bêbedo, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores. É preciso viver com os homens, é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar O FIM DO MUNDO.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

14 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

No texto acima, “Poema da necessidade”, a figura de linguagem usada de forma intensa no poema é a:

a) hipérbole: expressão exagerada de uma ideia. b) prosopopeia: atribuição de qualidades humanas a seres inanimados. c) anáfora: repetição enfática de um termo ou expressão no início de frases. d) sínquese: inversão brusca dos termos da oração capaz de dificultar sua

compreensão. 23) Na poesia de Carlos Drummond de Andrade, na fase a que pertence

“Sentimento do mundo”, a percepção da “insuficiência do eu” leva o poeta a querer aproximar-se dos outros e participar dos problemas humanos em geral. Assinale a alternativa em que os versos, transcritos dessa obra, explicitam tal desejo de participação. a) Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que,

dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

(“Elegia 1938”)

b) Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.

(“Mundo grande”)

c) Os inocentes do Leblon

não viram o navio entrar. Trouxe bailarinas? trouxe imigrantes? trouxe um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem.

(“Inocentes do Leblon”)

d) Silencioso cubo de treva:

um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite.

(“Noturno à janela do apartamento”)

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 15

24) (MACKENZIE)

Você, que só faz usufruir e tem mulher para usar ou para exibir, você vai ver um dia em que toca você foi bulir. A mulher foi feita pro amor e pro perdão. Cai nessa, não. Cai nessa, não.

(Vinícius de Moraes e Toquinho)

De acordo com o trecho acima pode –se afirmar que :

a) Não se deve crer que a mulher sabe apenas amar e perdoar. b) O homem não se deve iludir, porque a mulher é traiçoeira. c) O importante, na relação amorosa, são as aparências. d) Usufruir, no texto, significa esbanjar dinheiro.

25) Leia:

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

No contexto da obra Sentimento do mundo, o poema “Mãos dadas” representa:

a) uma reação do poeta à ideia de um mundo “caduco” e o desejo de sair do

seu universo interior para se completar com o próximo. b) a impossibilidade de contato do poeta com os seus semelhantes. c) a normalidade do mundo e a solidariedade entre os homens. d) a ausência de consciência do poeta dos problemas sociais, uma vez que

ele deseja apenas falar sobre a sua solidão.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

16 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

26) A fase moderna de Vinícius de Moraes é marcada por:

a) forte pessimismo. b) culto à figura do índio. c) uma visão científica do homem e da realidade. d) valorização da mulher e de sua beleza.

27) (UFSCar)

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinicius de Moraes)

Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta:

a) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é possível apaixonar-se

por outra e trocar de amor. b) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor de duas

pessoas. c) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento para as

pessoas se entregarem ao amor. d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser compartilhado, tanto na

alegria quanto na tristeza.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 17

Leia, agora, com atenção, o Texto, para responder às questões 28 e 29.

Texto

Mundo grande – fragmentos (Carlos Drummond de Andrade)

Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:

preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. Mas também a rua não cabe todos os homens. A rua é menor que o mundo. O mundo é grande. (...) Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre.

Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo está crescendo todos os dias,

entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. - Ó vida futura! Nós te criaremos.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 137-8)

28) No poema de Drummond, há uma metáfora que faz referência ao tipo de

postura do sujeito romântico, rejeitada pelo poeta. O termo que indica esta

METÁFORA é:

a) coração. b) mundo. c) fogo.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

18 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

d) amor. 29) Drummond refere-se a desajustes diante do mundo, que podem ser

relacionados com o contexto histórico em que produziu o livro Sentimento do Mundo, do qual o poema “Mundo Grande” foi retirado. A opção que melhor caracteriza o contexto e a referência da época, que justificam a postura crítica do poeta no livro Sentimento do Mundo é:

a) a implantação do Estado Novo. b) a Semana de Arte Moderna. c) o golpe militar de 1964. d) a primeira Guerra Mundial.

30) Leia e responda:

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca!

Oh! Como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia.

Teus pêlos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas Que vens e passas, que me sacias Dentro das noites, dentro dos dias! Por que me faltas, se te procuro?

Por que me odeias quando te juro Que te perdia se me encontravas E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas? Por que não enches a minha vida? Por que não voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que não voltas à minha vida Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Eu quero-a agora, sem mais demora A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio Do teu martírio que nunca cessa Meu Deus, eu quero, quero depressa A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica Que é tanto pura como devassa Que boia leve como a cortiça E tem raízes como a fumaça.

Vinicius de Moraes. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp.88-89.

Com relação ao poema de Vinicius de Moraes, podemos afirmar que:

a) a referência a uma natureza bucólica acentua a valorização do pastoralismo

neoclássico. b) o uso da antítese, presente no poema, constitui uma marca da tradição do

barroco. c) a utilização da rima e da métrica regular aproxima o poema da preocupação

formal do parnasianismo. d) o eu lírico busca uma visão mística e objetiva do sentimento amoroso, típica

da estética simbolista.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 19

31) Leia e responda:

O Sinhô foi açoitar Sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dele pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!

Os versos acima exemplificam produção modernista caracterizada por

a) temática idílica, experiência formal, hermetismo. b) temática social, humor, irreverência. c) temática nativista, preciosismo lexical, reflexão crítica. d) temática saudosista, culto da eloquência, traços de catolicismo.

Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade, abaixo, para responder às questões 32 e 33.

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas! E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes... E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!

ANDRADE, Carlos Drummond. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2002

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

20 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

32) Ao reelaborar, poeticamente, sua cidade de origem em “Confidência do Itabirano”, Carlos Drummond de Andrade expressa sua identidade com Itabira. Em qual palavra pode-se melhor visualizar essa identificação?

a) porosidade b) trabalho c) fotografia d) ferro

33) No verso “Itabira é apenas uma fotografia na parede”, o termo APENAS permite:

a) ressaltar o quanto o poeta está fisicamente distante de Itabira, uma vez que

ele saiu de lá há muito tempo, sem nunca mais voltar. b) enfatizar o fato de Itabira ser uma cidade pequena, de interior, portanto, não

merecedora de maior destaque em sua vida atual. c) destacar o não desejo do poeta de retornar a Itabira, mantendo-a, por isso,

somente como registro fotográfico em sua parede. d) acentuar que, como o poeta viveu muitos anos em Itabira, os valores ali

adquiridos permanecem com ele. 34) Na poesia de Drummond, é comum observar a emergência de um sentimento

que pode expressar uma tentativa de ruptura com suas origens, mas sempre marcado pela não realização total desse movimento. Em linguagem poética, isso se revela quase sempre pelo uso de antíteses ou paradoxos. Essa afirmativa pode ser constatada em qual das opções abaixo?

a) “A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,” b) “Este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;” c) “Oitenta por cento de ferro nas almas.” d) “E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,”

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 21

35) Leia e responda:

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...)

Carlos Drummond de Andrade, “A rosa do povo”.

“No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de ‘A rosa do povo”,

a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo

capitalista. b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade

padrão da linguagem. c) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é

próprio da linguagem. d) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma,

são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.

36) Leia e responda:

SENTIMENTAL

Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão. No prato, a sopa esfria, cheia de escamas E debruçados na mesa todos contemplam esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra, uma letra somente para acabar teu nome!

-Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando... E há em todas as consciências um cartaz amarelo: Neste país é proibido sonhar.

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

22 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

Este poema é caracteristicamente modernista, porque nele:

a) A uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos

experimentados pelo poeta. b) A linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo

encarnado na cena cotidiana. c) Tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da

linguagem surrealista. d) Satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia

clássica. 37) Leia o poema a seguir, de Vinicius de Moraes, para responder a questão:

A VOLTA DA MULHER MORENA

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo E estão me despertando de noite. Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena Eles são maduros e úmidos e inquietos E sabem tirar a volúpia de todos os frios. Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma Cortai os peitos da mulher morena Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono E trazem cores tristes para os meus olhos. Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes Traze-me para o contato casto de tuas vestes Salva-me dos braços da mulher morena Eles são laços, ficam estendidos imóveis ao longo de mim São como raízes recendendo resina fresca São como dois silêncios que me paralisam. Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena Livra-me do seu ventre como a campina matinal Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria. Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena Reza para murcharem as pernas da mulher morena Reza para a velhice roer dentro da mulher morena Que a mulher morena está encurvando os meus ombros E está trazendo tosse má para o meu peito. Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos Dai morte cruel à mulher morena!

Em relação à mulher, nesse poema, pode-se afirmar que:

a) ela representa o pecado e precisa ser eliminada para que o eu lírico

encontre a paz. b) ela é vista de maneira espiritualizada e idealizada. c) ela é descrita como motivação do pecado, mas, apesar disso, o eu lírico

mantém-se alheio a seus encantos.

2ª Série – 2015 LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA

SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 23

d) ela é vista com naturalidade, e o desejo sexual não apresenta problema para o eu lírico.

38) Leia, agora, com atenção, o poema “O operário no mar” do poeta Carlos Drummond de Andrade.

O OPERÁRIO NO MAR

Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhes obra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas que se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. (...)

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1992, p. 61.

No poema, “Operário no Mar”, podemos perceber:

a) a desvalorização dos valores da vida do operário. b) a visão do operário, pelo poeta, como um ser leal. c) o desejo do poeta de compreender o operário. d) o sonho do operário de tornar-se um proprietário.

39) Leia com atenção o seguinte fragmento do “Poema Dialético”, de Murilo

Mendes, para responder a esta questão:

MENINOS

Sentado à soleira da porta Menino triste Que nunca leu Júlio Verne* Menino que não joga bilboquê* Menino das brotoejas e da tosse eterna Contempla o menino rico na varanda Rodando na bicicleta O mar autônono sem fim

LÍNGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2015

24 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO

É triste a luta das classes. MENDES, Murilo. In: Poesia Completa e Prosa. Editora Nova Aguilar, p. 174

*Júlio Verne- escritor francês que produziu obras de aventura e ficção científica, como “Viagem ao centro da terra” (1864) e “Vinte mil légua submarinas (1869)”. * Bilboquê- brinquedo: bola de madeira com furo onde deve entrar um bastonete pontudo.

De acordo com o poema “Meninos”, de Murilo Mendes, é certo dizer que: a) o menino está triste, porque nunca leu Júlio Verne. b) o menino é triste, pois está na luta das classes. c) o menino triste é pobre e adoentado. d) o menino não brinca de bilboquê, devido à tosse eterna.

40) Leia, agora, o poema “Lembrança do mundo antigo” de Carlos Drummond de

Andrade.

LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO

Clara passeava no jardim com as crianças. O céu era verde sobre o gramado, a água era dourada sob as pontes,

outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados, o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,

a menina pisou a relva para pegar um pássaro, o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo ao redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido. A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo. Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.

Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas, esperava cartas que custavam a chegar,

nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!! Havia jardim, havia manhãs naquele tempo!!!

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 61.

A leitura do poema permite afirmar que o mundo de Clara é: a) uma distorção da realidade. b) uma sátira à inocência. c) uma idealização da realidade. d) um rompimento com a simplicidade.