lÍngua portuguesa 2-resumo

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LNGUA PORTUGUESA 2 Resumo Aula 1 - Retomando a formao do aluno leitor Cludia Capello / Maristela Botelho Frana O PISA( Sistema de testes e rendimento escolar) mostra que os alunos brasileiros conseguem decifrar o texto e ter uma idia geral sobre o que ele est dizendo. Da para frente, empacam. Para Castro, nossa incapacidade (...) no se deve pobreza, mas a um erro sistmico. Estamos ensinando sistematicamente errado. Esse fator responde a pergunta por que o nvel de leitura de nossas elites ao mesmo tempo o resultado mais trgico e o que mais traz esperanas. Para Pivovar, isso acontece porque A tendncia da escola (...) estruturar a atividade de lngua a partir de um texto, no de uma situao mais abrangente (um acontecimento) da qual esse texto viria a fazer parte. Para Freire, a leitura de mundo precede a leitura da palavra. ...buscando a compreenso do meu ato de ler o mundo particular em que me movia, permitam-me repetir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experincia vivida no momento em que ainda no lia a palavra. Compreender ou interpretar um texto sinnimo de repetir o que foi lido? Para as autoras , o ato de compreender um ato de insero, isto , de incluso de um sujeito em uma cadeia dialgica mais ampla. Para Bakhtin, praticar o ato de compreender tornar-se parte integrante do enunciado, do texto mais precisamente, dos enunciados, da dialogicidade entre eles na qual participa um novo parceiro. A leitura, significando Compreenso Responsiva (Bakhtin), vista, segundo o autor, como uma atitude dialgica diante de todo e qualquer fato ou texto. Ento, relembra-nos as autoras que a lingua um forte elemento da cidadania, afinal pelo poder da palavra possvel gerar sentidos com uma fora imensa, capaz mesmo de transformar... Portanto, nesse sentido, estabelecido a relao entre a idia de compreenso responsiva e a construo de cidadania. Bakhtin nos mostra que compreender textos um processo em que esto presentes, tanto as palavras desse texto, quanto o nvel de entendimento sobre elas, articuladas naquele contexto (significando ali, naquela produo textual) e levando em considerao, ainda, a viso social de mundo (valores, representaes, costumes) e a viso que o outro (o autor do texto ou o seu enunciador) constri sobre o modo de compreender e ver as coisas. Nesse sentido, no caso do processo de leitura, o leitor no um mero decodificador dos signos (palavras, imagens etc.) que se apresentam, como seria o receptor/ouvinte na cadeia de comunicao, conforme entendem alguns tericos. Pelo contrrio, o leitor toma atitudes diante do que l, no sentido de explorar a complexidade de seu contedo (no plano do dito e do no-dito) e de responder s questes que da surgem. Portanto, segundo as autoras, importante o professor estabelecer conexes entre o texto e os leitores. Ensinar a seus alunos que um texto est sempre espera de uma contrapalavra (mesmo aqueles cujo tom autoritrio), isto , de uma atitude responsiva. A meta dos trabalhos de leitura, de acordo com as autoras, deve atingir a compreenso dialgica ativa (concordncia-discordncia etc); a insero no mundo; compreendendo os juzos de valor neles implicados, seu grau de profundidade e de universalidade. Para as autoras, em nossa viso ampliada de leitura, o sentido de texto tambm se amplia para o

campo de outras linguagens que, por sua vez, podem ser decodificadas e interpretadas por meio da palavra. As prticas de leitura que se baseiam na diversidade de linguagens, de autores e de suportes so aquelas que mais contribuem para a autonomia do leitor ... Concluindo, Freire escreveu:... A decifrao da palavra flua naturalmente da leitura do mundo particular. No era algo que se estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no cho do quintal de minha casa, sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e no do mundo maior de meus pais. O cho foi meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.

Aula 2 - Linguagem e lngua: cada coisa no seu lugar Para as autoras, a linguagem uma faculdade mental, ou seja, uma habilidade que se desenvolve no ser humano. Ao pensarmos em linguagem como faculdade mental, estabelecemos a existncia de uma linguagem, no singular. Isto significa que aquilo que, em geral, consideramos linguagens diferentes so, na verdade, diferentes manifestaes da faculdade da linguagem... antes de aprendermos a usar as palavras, nos expressamos a partir de outros cdigos, que nos permitem estabelecer uma comunicao com o mundo. Mais tarde, aprendemos a utilizar a linguagem verbal, chamada por Ferdinand de Saussure de linguagem articulada. Concluso: o desenvolvimento da linguagem est estreitamente ligado ao desenvolvimento intelectual e estruturao do prprio pensamento. Para Vigotsky, As estruturas da fala dominadas pela criana tornam-se estruturas bsicas de pensamento... o desenvolvimento do pensamento determinado pela linguagem, isto , pelos instrumentos lingsticos do pensamento e pela experincia sociocultural da criana... O crescimento intelectual da criana depende de seu domnio dos meios sociais do pensamento, isto , da linguagem Vigotsky nos mostra que o ser humano, nos primeiros anos de vida, utiliza a fala para se relacionar com o mundo que o cerca. Com o passar do tempo, vai ampliando as estruturas lingsticas, tanto na fala quanto no pensamento, mas a funo social da fala j existe naquele primeiro momento, que podemos considerar como sendo a base pr-intelectual do seu desenvolvimento. Num momento posterior, a fala e o pensamento passam a se complementar, e a faculdade mental da linguagem se desenvolve, ao mesmo tempo em que a funo simblica das palavras descoberta. o estgio em que se observa a interiorizao do pensamento. A esse processo Vigotsky denomina fala interior, cuja funo a de estruturar e organizar o pensamento. LINGUAGEM E LNGUA Para as autoras, nos processos de comunicao, utiliza-se um veculo comum para estabelecer, de fato, a comunicao. Esse veculo comum o que estamos chamando de cdigo. O cdigo verbal o conjunto de regras e estruturas de uma lngua, ou seja, so normas que permitem a comunicao entre os usurios dessa lngua. Os cdigos no verbais, por sua vez, so aqueles que no esto associados a signos lingsticos. Eles podem ser imagens, desenhos, fotos, smbolos, gestos, enfim, tudo quanto possibilite uma leitura de mundo. Assim, podemos dizer que linguagem uma manifestao que se desenvolve no sentido de estabelecer a comunicao, enquanto a lngua uma forma de linguagem.

Essas noes so elaboradas por Ferdinand de Saussure, que quem nos mostra que linguagem e lngua so duas manifestaes distintas. Segundo o lingista, a lngua a principal manifestao da faculdade da linguagem: somente uma parte determinada, essencial dela; indubitavelmente ao mesmo tempo um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenes necessrias, adotadas pelo corpo social para permitir o exerccio dessa faculdade nos indivduos. Desse modo, podemos dizer que a lngua constitui-se de um sistema de signos, comum a um determinado grupo social, que pela prtica da fala e da escrita passa a existir. Assim, a lngua , ao mesmo tempo, um fato social e um ato individual. LNGUA ORAL E LNGUA ESCRITA Para Vigotsky, a fala uma parte da lngua que se externaliza, algo que se revela aps a elaborao de um pensamento. Na viso de Saussure, a fala s existe porque os indivduos de um determinado grupo social possuem marcas comuns, que permitem identifi car as imagens verbais que representam esse sistema organizado, possibilitando que a comunicao se efetive... no ato da fala, h a presena do interlocutor, que faz com que outros recursos concorram para a compreenso da mensagem. Os gestos, a expresso facial, a entonao formam um conjunto de apoio para a efetivao da compreenso, que vai desaparecer no uso da escrita. A lngua escrita no uma mera transcrio do que se fala. Podemos mesmo considerar a lngua escrita como um instrumento fundamental na estruturao do pensamento reflexivo, em funo do nvel de organizao e elaborao intelectual que exige, j que uma manifestao somente pensada da linguagem e que trabalha no nvel das representaes mentais. Assim, temos na lngua uma importante manifestao do desenvolvimento da faculdade mental que a linguagem. Se a lngua oral possibilita um contato imediato, a lngua escrita concorre de forma determinante para a manuteno de uma forma de manifestao da identidade cultural de um povo. Por isso, para as autoras, to importante para ns, professores, lidarmos com o ensino da lngua de forma inclusiva. Concluindo, segundo estudos de Saussure sobre linguagem e lngua permitem as autoras reestabelecerem o conceito de leitor, que passa a ser considerado aquele que capaz de ler para alm da decodif cao do padro culto da lngua, ler diferentes tipos de texto, em diferentes cdigos, ler na perspectiva de gerao de sentido e da efetiva compreenso. O domnio da mecnica da lngua parte do processo, no o processo em si.

Resumo Aula 8 Uso da lngua 3 a oralidade e o texto: vcios de linguagem? Barbarismo o nome que a gramtica d a um determinado vcio de linguagem. Barbarismo todo desvio da norma que ocorre em alguns nveis do uso da lngua: o da grafia, o da pronncia, o da morfologia e o da semntica. Nveis do desvio exemplos Grafia opio em vez de opo Pronncia rbrica em vez de rubrica

Morfologia reaveu em vez de reouve Semntica retificar usado como ratificar e vice-versa Repare que, dependendo do nvel em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou no fi car prejudicada. Vamos por partes. Se voc escrever opio no lugar de opo, o destinatrio de seu texto entender a mensagem? Provavelmente, sim. A conseqncia desse desvio a sua desqualificao como usurio da lngua, mas a comunicao no deixar de se efetivar por causa disso. O mesmo pode ser dito em relao pronncia da palavra rubrica. Como j dissemos h pouco, o interlocutor do emissor da mensagem compreender o que ele quis dizer, ainda que fi que, como na fi gura, de olhos arregalados... Com relao ao desvio morfolgico, pode acontecer de o destinatrio no identificar com clareza sua inteno comunicante ou porque voc utilizou uma forma absolutamente incompreensvel, ou porque, ainda que compreensvel, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicao. Esse comprometimento fi ca ainda mais srio quando o desvio ocorre no nvel semntico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de paronmia, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente. No exemplo dado no quadrinho, vimos as palavras retificar e ratificar. A primeira significa consertar, ajeitar, enquanto a segunda significa confirmar. Assim, podemos consider-las antnimos.

Nesse caso, incorrer no chamado vcio de linguagem aqui, um barbarismo no nvel da semntica

Diga a sua progenitora que os revezes de hoje no so os de antanho. O uso desnecessrio e cansativo, diga-se de passagem de expresses antigas, chamamos arcasmo. O arcasmo outro vcio de linguagem identificado pela gramtica, e podemos consider-lo um dos candidatos ao prejuzo do processo comunicativo. Num texto formal, ou mesmo numa situao de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depe contra o emissor... E como a gramtica denomina esse vcio de linguagem? Prepare-se: solecismo. Ele inclui desvios na sintaxe, como concordncia, regncia e colocao de pronomes.

Trouxe o guardanapo para limpar a boca dela. Vcio j nosso velho conhecido: o famoso cacfato. Ele ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som desagradvel. E que efeito esse vcio de linguagem tem sobre o processo de comunicao? Alm de um desconforto por parte de quem escuta, nenhum... Deve-se evitar o cacfato,

A presena do declarante ante a assemblia torna-o constante participante do grupo integrante

do conselho.

o caso, tambm, do eco, um vcio de linguagem resultante da dissonncia que o uso de terminaes iguais ou semelhantes pode causar.

Larga essa bola, menino, e entra pra dentro de casa agora. o famoso entrar pra dentro, descer pra baixo, no mnimo. H utilizaes mais complexas, em que a redundncia fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impresso de que o emissor est querendo enrolar... Contudo, no h prejuzo para a mensagem.

Governador, o senhor j conversou com o prefeito a respeito de sua m administrao?

Quando o que se diz gera confuso e admite mais de uma interpretao, dizemos que temos um enunciado com ambigidade.

Nossa experincia com cobaias que antes no tinham sido satisfatria foi realizada com outra cobaia que demonstrou o que j era previsto.

A obscuridade acontece quando a mensagem fica difcil de ser entendida por problemas em sua construo.

Compromete ou no a comunicao - Barbarismo Compromete a comunicao - Arcaismo, Ambiguidae e Obscuridade No compromete a comunicao - Solecismo, Cacfato, Eco, Redundncia.

Resumo Aulas 9 e10 Uso da lngua 4 Quando o estilo entra no discurso algumas estratgias Cludia Capello Algumas situaes discursivas determinados usos da lngua podem causar algum tipo de

dificuldade na comunicao. Esses usos que so chamados de vcios de linguagem so associados a uma forma de utilizao que pressupe: a) Desconhecimento de estruturas da lngua quando o usurio lana mo de um determinado recurso por no dominar certas estruturas, sejam elas sintticas, semnticas ou morfolgicas. b) Influncia externa o falante convive com vrias formas de utilizao que do margem a rudo na comunicao, e acaba por reproduzi-las, uma vez que no tem instrumental para discernir o formal do informal. H um sem-nmero de estratgias estilsticas, ligadas, sobretudo, aos textos literrios. Todas nos interessam, mas um destaque especial ser dado quelas que podemos utilizar em qualquer discurso at numa conversa. So procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, de dar mais ou menos relevo a determinadas informaes, o que faz com que seus enunciados obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos. S que, agora, esses desvios so provocados pelo usurio, ou seja, ele at conhece a norma padro, mas quer criar um discurso mais expressivo, diferente, novo, e o faz atravs desses desvios, que se convencionou chamar figuras de linguagem. Tua pele a mais pura seda, teus lbios so puro mel, teus olhos so estrelas cintilantes... No contedo da fala, de fato, parece no haver grandes novidades, verdade. Mas repare na maneira que ele escolheu para dizer todas essas j conhecidas delicadezas sua amada. Ele quis dizer ao identificar pele com seda, lbios com mel e olhos com estrelas, no ? Ele faz uma comparao, mas sem utilizar os elementos que explicitam essa comparao. Em lugar de dizer: tua pele macia como seda, ele diz: tua pele a mais fi na seda; em vez de: teus lbios so doces como mel, diz: teus lbios so puro mel; a dizer: teus olhos so brilhantes como as estrelas, prefere: teus olhos so estrelas cintilantes O procedimento utilizado no exemplo tem o nome de metfora. uma forma de criar uma identificao entre dois elementos, partindo do significado de um deles para emprest-lo ao outro. A metfora, muito presente em textos literrios, faz parte, tambm, de nosso cotidiano. Podemos usar metforas tanto em textos formais como em situaes informais. uma estratgia estilstica que se estende fala, no estando restrita escrita.

A filha da Dirce l Machado de Assis desde os doze anos. Quem j no passou por esse tipo de situao, principalmente quando criana? Ouvimos algumas afirmaes que nos causam espanto, e imaginamos uma explicao absolutamente incompatvel com nosso senso do razovel. O que est retratado na situao acima a j conhecida metonmia. Repare que, na fala da senhora mais velha, existe uma relao de causa e efeito entre o nome Machado de Assis e o que esse nome representa. Fica claro para ns, adultos, pelo menos que ela est falando da obra de Machado de Assis. Ao suprimir a palavra obra, ela est se valendo da relao de causalidade que existe entre o autor e sua obra. Assim, usa-se o nome do primeiro para designar o produto de seu trabalho. Nesta estratgia, usamos uma palavra para designar outra, que tem com ela uma relao de causa e efeito. Uma outra forma muito conhecida de metonmia transformar a marca de um produto em seu nome, fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse momento, um

substantivo comum. Exemplo? Muito fcil: quem no diz que vai usar uma gilete para fazer a barba, em vez de dizer que vai usar uma lmina de barbear? A mo que balana o bero. A palavra mo usada no lugar da pessoa que executa a ao, mas ela designa essa mesma pessoa. a famosa definio de uso da parte pelo todo. Como voc v, metforas e metonmias fazem parte de seu exerccio de falante, ainda que voc nem se d conta disso...

Seu irmo, no o vejo h tempos! Onde est a repetio? A mesmo, no o. Afinal, j havia, no incio da orao, a expresso seu irmo. Por que no dizer: No vejo seu irmo h tempos! Simples: o falante quer destacar o termo seu irmo, e volta a fazer referncia a ele com a utilizao do pronome o. Esse tipo de construo tambm um exemplo de pleonasmo. O eufemismo, que tem como objetivo atenuar, suavizar uma informao ou uma expresso chocante, desagradvel, impactante. Quem de ns j no disse que algum descansou, para no dizer que morreu? Hiprbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada idia. Na situao retratada acima, trata-se de uma pessoa que est sentindo muito calor, mas, em vez de dizer isso, diz que est morta de calor. A tua partida a minha tristeza e a tua felicidade. h duas idias opostas colocadas em confronto: tristeza e felicidade. importante deixar claro que ocorre uma oposio franca dessas idias, que aparecem como opostos, antnimos. Sempre que confrontamos idias opostas entre si, mantendo o sentido de oposio que elas carregam, estamos utilizando uma anttese. A tua partida a minha triste felicidade. A anttese, contudo, muito confundida com uma outra figura de linguagem o paradoxo. Anttese o confronto de idias opostas. Paradoxo a utilizao de idias opostas como se fossem equivalentes.

queridinha, s se eu for cega. Isso aconteceu porque a situao mostra animosidade entre elas, e no carinho ou amizade. Fica claro, portanto, que a personagem que utilizou o vocativo queridinha o fez para debochar de sua interlocutora. Esse tipo de procedimento acontece de vrias formas diferentes, na fala e na escrita. Trata-se da ironia. A ironia uma figura de linguagem em que uma palavra ou expresso ganha significado oposto ao que normalmente se atribui a ela.

A pessoa nos trancou no banheiro. Quando fazemos essas concordncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idias pressupostas, mas no explcitas, no enunciado, estamos lanando mo da silepse. A silepse,

portanto, consiste em concordncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de lado os que de fato esto ali.

Resumo Aula 11 Quando a leitura faz o discurso o texto publicitrio Estamos buscando uma renovao do olhar do professor acerca do ensino da lngua materna, e no podemos abrir mo de discutir, sempre que possvel, os caminhos para que o conhecimento da lngua deixe de ser uma marca de excluso ou desqualificao para se tornar um aliado na conquista da cidadania. Nosso primeiro exerccio ser feito em relao a uma campanha publicitria criada pela agncia Arquivo da Propaganda, veiculada em revistas. O texto publicitrio , na verdade, a conjugao de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa congeminao textual que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, ser o construtor daquilo que estar sendo dito. Isso permite dizer que h vrios nveis de entendimento num texto publicitrio como, alis, acontece com os textos, de um modo geral.

Um casamento entre texto e imagem. Na imagem, observamos um copo sendo cheio com cordes de ouro. No texto, l-se: Nem todo ouro est no fundo do mar. s vezes, est num navio vindo da Alemanha. Vamos acompanhar, passo a passo, o processo de construo dessa mensagem. Num primeiro momento, a imagem sugere a imediata identificao entre a cor dourada e a cerveja, que da mesma cor. Com isso, opera-se uma comparao entre ouro e cerveja. Essa comparao atravessa vrios nveis: a cor, o valor, a raridade. Nesse sentido, entende-se, pela imagem, que a cerveja, dourada como o ouro, valiosa, e seu sabor raro. Essas atribuies valorativas so imediatamente transferidas para a marca da cerveja, inscrita no copo que recebe os cordes. A seguir, o texto verbal se encarrega de reiterar essas comparaes. Ele explicita a palavra ouro, confirmando a identificao feita inicialmente pelo leitor, e remete origem da bebida a Alemanha de onde vem, tambm, a marca anunciada. Repare que, para obter o efeito descrito, foi necessrio que se lanasse mo de um dos recursos que voc viu nas Aulas 9 e 10: a metfora. Sim, porque, ao comparar a cerveja com o ouro, sem utilizar explicitamente os elementos da comparao, o anncio diz, em seu discurso latente, que essa cerveja puro ouro seja por seu valor de pureza, seja por seu sabor mpar.

Agora, vamos passar a um outro anncio da mdia impressa, tambm da agncia W/Brasil, para a Mercedes Benz. Neste anncio, v-se a frente do carro, com a marca conhecidssima da Mercedes Benz, e o ttulo obtido pela montadora como vencedora da categoria automvel, em 2001. Note que no possvel identificar qual o modelo do carro, mas apenas a marca. Esse recorte da imagem, privilegiando a marca e abrindo mo do automvel retratado, traz um discurso implcito: basta saber que Mercedes. Aliado a este discurso, temos ainda um outro recurso bastante utilizado na linguagem da propaganda, que a utilizao da funo conativa da linguagem. S para lembrar, a funo conativa aquela que centra-se no destinatrio, e o objetivo disso mobiliz-lo, convenc-lo, persuadi-lo, sensibiliz-lo, enfim, criar um contato com ele. Esse procedimento fica claro a partir da utilizao do pronome voc, que estabelece um contato direto do emissor com o destinatrio.

Com isso, podemos concluir que, em muitos casos, a leitura faz o discurso. O texto publicitrio um exemplo que ilustra essa concluso, uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convenc-lo da qualidade e da veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lana mo de diversos recursos. Esses recursos criam nveis possveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por isso dizemos que o discurso ser construdo pela gerao de sentidos que a leitura empreender. A variao dos nveis de leitura refora a questo do poder da lngua.

Resumo Aula 12 Quando a leitura canta e encanta o texto de letras de msica Veremos de que maneira a msica considerada tambm uma manifestao da linguagem pode servir a determinados objetivos da comunicao e est estreitamente ligada ao processo de aquisio da cidadania e da construo de uma identidade cultural. Quando falarmos de msica, estaremos nos referindo ao ritmo; por letra entenderemos o poema que est associado ao ritmo; por fim, cano ser o termo utilizado para designar o casamento de letra e msica.

Voc j deve ter notado que, ao escutar uma cano em outra lngua que no seja a nossa, e que voc no compreenda, a msica passa a determinar, de certa forma, o significado intudo do que voc est ouvindo. Desse modo, se o ritmo de rock and roll no estilo heavy metal, a tendncia imaginar que a letra no tem relao com uma cano romntica, por exemplo. Do mesmo modo, se a msica lenta, com um instrumental clssico, imediatamente associa-se a cano com uma histria de amor. Isso ocorre porque relacionamos a manifestao representada pela msica com uma forma de expresso de sentimentos, o que, de fato, verdade. Por essa razo, a fuso de letra e msica pressupe uma harmonia entre a manifestao lingstica representada pela letra e a manifestao musical. A letra de uma cano uma mensagem e faz parte de um processo de comunicao, com objetivos que podem estar claros ou no. Tudo vai depender da inteno que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve.

Vamos analisar uma cano, tambm voltada para a crtica social, mas de um outro compositor. Trata-se de Admirvel gado novo, de Z Ramalho, retirada do CD Msica Popular Brasileira, gravado pela Sony Music para a Petrobras:

Admirvel gado novo Vocs que fazem parte dessa massa Que passa nos projetos do futuro

duro tanto ter que caminhar E dar muito mais que receber E ter que demonstrar sua coragem margem do que possa parecer E ver que toda essa engrenagem J sente a ferrugem lhe comer vida de gado Povo marcado. povo feliz L fora faz um tempo confortvel A vigilncia cuida do normal Os automveis ouvem a notcia Os homens a publicam no jornal E correm atravs da madrugada nica velhice que chegou Demoram-se na beira da estrada E passam a contar o que sobrou vida de gado Povo marcado. povo feliz O povo foge da ignorncia Apesar de viver to perto dela E sonham com melhores tempos idos Contemplam essa vida numa cela Esperam nova possibilidade De verem esse mundo se acabar A Arca-de-No, o dirigvel No voam nem se pode flutuar.

Se voc j escutou a de Z Ramalho, vai imediatamente notar que a msica desta cano foi composta num tom que se aproxima do protesto, apesar de protestar, atravs da letra, minimiza essa inteno ao adotar um ritmo mais leve. A cano de Z Ramalho e a interpretao do cantor obtm como resultado uma composio mais imperativa, grave, cujo ritmo toca o ouvinte de modo a inseri-lo no contexto retratado pela letra. A crtica social construda por metforas, e o refro de uma ironia quase cruel. A utilizao desses recursos estilsticos pode ter como efeito a dificultao do entendimento da mensagem, que, na verdade, no pretende, em momento algum, ser direta. Isso significa que o ouvinte no pode com facilidade compreender a msica de Z Ramalho. O processo de comunicao, no caso das letras de msica, est tambm associado ao ritmo, e os recursos lingsticos de que dispomos podem fazer uma grande diferena na transmisso da mensagem.

Resumo Aula 13 A leitura para alm dos bancos escolares Sabendo que letramento a capacidade de estabelecer a comunicao a partir do domnio de diferentes cdigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidado no letrado corre o risco de fi car margem do processo sociocultural. Assim, a aquisio das estruturas lingsticas, que uma das manifestaes da linguagem, passa a ser uma questo com implicaes para alm dos bancos escolares. Que tal vermos uma receita culinria? Nhoque de mandioca Ingredientes: Massa 1 kg de mandioca 1 xcara (ch) de leite 1 ovo 2 xcaras (ch) de farinha de trigo 1/2 xcara (ch) de queijo meia cura ralado 1 colher (sopa) de leo sal a gosto Molho 6 tomates mdios sem pele e sem sementes 1/2 mao de manjerico 2 colheres (sopa) de leo 1 cebola mdia picada sal a gosto Modo de Preparo: Massa: descasque a mandioca, lave-a, pique e coloque numa panela com 1,5 litro de gua. Leve ao fogo e cozinhe por 50 minutos, ou at a mandioca ficar macia. Retire do fogo, escorra a gua, retire o filamento central e passe a polpa por um espremedor de batata, aparando numa tigela. Junte o leite, o ovo, a farinha de trigo, o queijo e o sal. Misture at obter uma massa homognea e um pouco mole. Transfira a massa para um saco de confeiteiro com bico pitanga grande de 1cm de dimetro e molde nhoques de cerca de 3cm sobre uma panela com gua fervente e leo. Cozinhe, pouco a pouco, retirando os nhoques medida que subirem superfcie. Disponha os nhoques numa assadeira refratria e reserve. Molho: pique os tomates em cubos mdios e reserve. Lave o manjerico, seque-o, separe somente as folhas e rasgue-as com as mos. Reserve. Leve ao fogo uma panela grande com o leo e a cebola. Refogue, mexendo de vez em quando, at a cebola murchar. Junte o tomate, o manjerico, o sal e 1/2 xcara (ch) de gua. Cozinhe, mexendo de vez em quando, por 10 minutos, ou at obter um molho encorpado. Acerte o sal e retire do fogo. Despeje o molho sobre os nhoques e sirva em seguida. Se preferir, leve ao forno para aquecer antes de servir. (Retirado do canal Culinria, do Terra) Nessa receita, pode-se considerar que o aspirante a chef pode embatucar logo nos ingredientes, quando se pede xcara de queijo-meia- cura ralado. Queijo-meia-cura? Ser que todos conhecem? E voc? Ser que pode usar outro? E manjerico? Pedindo ajuda ao feirante, pode-se resolver o problema, caso a verdura nunca tenha feito parte do seu cardpio e isso absolutamente natural! J no momento do preparo, imprescindvel que se saiba o que o fi lamento central da mandioca, e tambm o que polpa, para que se passe o aipim no espremedor sem aquele cabelinho que tem no meio ou seja, o filamento central. Quanto a obter uma massa homognea... Bem, no razovel imaginar que algum se disponha a cozinhar

com um dicionrio ao lado do fogo. Ser que essas dificuldades inviabilizam a preparao da receita? Depende em que nvel elas se colocam para cada usurio. importante deixar claro que no se trata, aqui, de estabelecer uma crtica em relao redao da receita, mas de mostrar em que medida as vrias modulaes de domnio lingstico podem se tornar um empecilho no processo da comunicao e na nossa vivncia diria. Da mesma forma que uma receita culinria pode no ser compreendida por quem se proponha a prepar-la, uma receita mdica pode criar dificuldade semelhante, mais especificamente, no que diz respeito s bulas que acompanham os medicamentos. E agora? preciso que ela se d conta de que a maneira de usar o remdio est no item POSOLOGIA, que uma palavra que no faz parte do nosso vocabulrio cotidiano. Da mesma forma, para entender o que ela pode sentir ao ingerir a medicao, necessrio que ela identifique no item reaes adversas o rol desses possveis sintomas. E aquela dvida que surge quando a pessoa j toma outros remdios e no sabe se pode acumular mais um? Est tudo l, no item interaes medicamentosas. Mas as dificuldades no ficam s na questo vocabular. importante notar que as bulas trabalham com uma terminologia especfica da rea mdica e que, por isso mesmo, ningum obrigado a conhecer. Assim, a leitura de uma bula pode ser obstaculizada por desconhecimento de vocabulrio, mas j oferece uma dificuldade natural, que a presena de termos tcnicos de conhecimento restrito. Os exemplos que demos nos remetem a uma discusso que j travamos com voc na disciplina Lngua Portuguesa na Educao 1. Trata-se da questo de a lngua do povo no ser a lngua do poder ou vice-versa. Mais uma vez, constatamos que a falta de um domnio proficiente das estruturas lingsticas coloca o usurio da lngua merc de verdades das quais ele nem sempre est apto a discordar. Ao percebermos que uma receita culinria ou uma bula de remdio, por exemplo, podem se tornar um desafio para algum, estamos reiterando a idia de que a leitura de mundo no pode ser confundida com o simples juntar letras. Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino descritivo da lngua portuguesa como informao suficiente para o domnio dessa mesma lngua, estaremos insistindo num equvoco quando no num engodo que s entrava a conquista da plena cidadania.

RESUMO AULA 16 O CONHECIMENTO PRVIO E OS GNEROS DO DISCURSO Quando lemos um texto, resgatamos os conhecimentos que adquirimos em outras leituras/vivncias para contextualiz-lo e interpret-lo adequadamente. isso que chamamos de CONHECIMENTO PRVIO, que divide-se em conhecimento de mundo, conhecimento enciclopdico, textual e conhecimento lingstico Aqui entre ns O vero uma coisa mgica, como se o sol tivesse o poder de renovar no s a nossa pele, deixando-a maravilhosamente dourada, como tambm renova a nossa prpria alma. Ficamos banhados de mais alegria, mais disposio, agora que o ano realmente comea, amiga! E, aproveitando esta mar de renovao, preparamos um nmero cheio de inspirao e idias para voc dar um arranjo novo em tudo: desde o seu guarda-roupa, passando por cuidados completos com o corpo, chegando at o interior de sua casa. Para prolongar a magia do vero no vamos deixar que voc perca nenhuma hora de sol , nossa seo de culinria est cheia de truques deliciosos, receitas rpidas, refrescantes, lindas. Resolvidos os problemas dirios, preparamos

tambm um banho de energia para a sua alma, portanto no deixe de ler o artigo Aprenda a ter confiana em si mesma, que vai liquidar com todas as suas inseguranas. E mais: se voc est vivendo perodos de angstia porque vai colocar o seu fi hinho no maternal, ns nos preocupamos com este assunto e tentamos ajud-la com o artigo Ajude seu filho no primeiro dia de aula. Enfim, chegou a hora de refrescar a cabea e mergulhar no sonho: divirta-se e emocione-se com o romance condensado O pecado de Cynara. Agora s nos resta desejar um bom fi m de frias, pois no prximo nmero ns a ajudaremos a viver melhor na cidade. Maria Cristina Duarte Ao ler o texto acima, voc provavelmente resgatou seu conhecimento prvio relativo a: elementos textuais (o ttulo da seo, Aqui entre ns, que traz uma declarao de efeito iniciando o texto, visando a construir um contrato de intimidade com o leitor como em agora que o ano realmente comea, amiga!); elementos visuais (desenho de referncia ao tema tratado no texto; diferenciao de tamanhos e tipos de letra etc.); elementos discursivos (o enunciador constri para si a imagem de aliado, de algum que pensa e cuida dessa mulher leitora da revista: no vamos deixar que voc perca nenhuma hora de sol , nossa seo de culinria est cheia de truques deliciosos, receitas rpidas, refrescantes, lindas; se voc est vivendo perodos de angstia porque vai colocar o seu filhinho no maternal, ns nos preocupamos com este assunto e tentamos ajud-la com o artigo Ajude seu fi lho no primeiro dia de aula); elementos temticos (contedo sobre as matrias e os assuntos tratados no interior do exemplar de peridico que apresenta preparamos um nmero cheio de inspirao e idias para voc dar um arranjo novo em tudo: desde o seu guarda-roupa, passando por cuidados completos com o corpo, chegando at o interior de sua casa. No deixe de ler o artigo Aprenda a ter confiana em si mesma, que vai liquidar com todas as suas inseguranas); elementos contextuais (tipo de revista em que esse texto foi publicado, por exemplo; pblico a que se dirige, lugar da revista onde publicado etc.). Todos esses elementos nos permitem reconhecer o texto analisado como editorial de uma revista feminina semanal. Em vista da natureza variada de elementos que nos permitem fazer a leitura dos textos, voc pode perceber que possvel dividir o conhecimento prvio em grandes nveis. H o que chamamos de conhecimento de mundo; h o que chamamos conhecimento enciclopdico; h um nvel de conhecimento lingstico do qual fazemos uso diariamente; e, por fim, h aquele nvel de conhecimento que engloba tudo que sabemos sobre gneros do discurso. Obviamente, esses nveis se articulam, no so isolados. Essa diviso se justifica, entretanto, pelo objetivo didtico dos cursos de lngua em geral. O CONHECIMENTO DE MUNDO O conhecimento de mundo pode ser definido como o conjunto de conhecimentos que os indivduos de uma mesma cultura compartilham e que adquirido informalmente, a partir de experincias pessoais. Do ponto de vista do autor de um texto, ou de modo mais amplo, do enunciador de um enunciado (oral ou escrito) nos ensina Lombardi (2001/2004), esse

conhecimento que permite que se possa inferir, com segurana, que tipos de lacunas em seus textos sero preenchidas com facilidade pelo interlocutor. Se algum enuncia algo como Sa ontem do trabalho debaixo de chuva, ningum vai imaginar que tenha sado nu ou gritando. O enunciador no precisa explicitar detalhes, pois eles so facilmente inferidos pelos interlocutores, sobretudo se so membros de mesma cultura. Por outro lado, se o tema tratado diz respeito a uma situao nunca vivenciada pelo interlocutor, ter de ser mais detalhado e explicado. Se contamos uma histria sobre algo vivido dentro de um metr a alunos que nunca ouviram falar ou nunca viram tal meio de transporte, haver necessidade de se acrescentar informaes detalhadas sobre como ele funciona e as situaes que nele podem ser vivenciadas (Lombardi, 2001/2004). Para melhor organizar o estudo de seus alunos em funo do nvel de conhecimento de mundo, voc, professor, precisa conhec-los: saber onde moram, com quem moram, em que trabalham, que atividades desempenham como lazer etc. Diante de um universo possvel, voc poder fazer escolhas mais precisas sobre os textos e as tarefas a eles relacionados. O CONHECIMENTO ENCICLOPDICO O saber enciclopdico diz respeito ao conjunto de conhecimentos que os indivduos vo adquirindo por meio de aprendizado formal. Isso no significa que tais conhecimentos se restrinjam queles que a escola proporciona. So tambm os que a curiosidade e o interesse nos levam a adquirir por meio da leitura de diferentes textos (de livros, revistas; texto cinematogrfico; texto teatral; texto museal, ou seja, dos museus, exposies etc). Esse nvel de conhecimento o que permite ao leitor fazer relaes entre o que dito ou mostrado em diferentes linguagens aqui e agora e outras imagens e outros ditos compartilhados em outros lugares e em outras situaes. A qualidade e a extenso do saber enciclopdico permitem ao aluno sustentar sua atitude responsiva por meio de relaes estabelecidas em um campo infinito de possibilidades intertextuais de compreenso dialgica. O CONHECIMENTO LINGSTICO O conhecimento lingstico refere-se competncia do enunciador em relao sua gramtica interna; ou seja, diz respeito quelas regras de linguagem que lhe permitem concretamente tecer textos, bem como perceber a maneira pela qual um texto foi tecido. Nesse aspecto, o enunciado verbal se distingue de outros, cujas matrias-primas provm de outras linguagens (a linguagem da pintura, do cinema, do teatro etc). Todos esses enunciados so passveis de serem lidos, mas necessrio desenvolver competncia especfica em cada uma dessas linguagens a fim de explorar os elementos constitutivos que ajudam a construir sentido. A propsito do enunciado verbal, pois, neste momento, dele que estamos tratando aqui, observase que o conhecimento lingstico diz respeito ao conhecimento do significado das palavras, maneira de organiz-las em seqncia, ou seja, a sua ligao interna; ao modo de lidar com o discurso relatado (discurso direto, indireto, indireto livre); maneira de garantir a coeso textual etc. No processo de leitura, por exemplo, o conhecimento lingstico permite ao leitor perceber as palavras, os grupos de palavras, as seqncias maiores, de modo a reconstruir os elos de coeso entre esses elementos, atravs das instrues lingsticas fornecidas pelo autor do texto. Julgamos importante ressaltar que a gramtica interna a que nos referimos para explicar o conhecimento lingstico no est necessariamente relacionada aos contedos prescritos por um compndio de Gramtica da Norma Culta de uma lngua. Estamos nos referindo gramtica apreendida por meio do convvio social, da escuta de enunciados concretos que comeam a ser captados nos primeiros meses de vida de um indivduo humano. Trata-se da gramtica de que cada um dispe para organizar seus enunciados, sejam eles escritos ou orais. A gramtica que

permite a uma criana ou a um adulto, mesmo analfabeto, produzir um enunciado como Tudo bem com voc? no lugar de algo como Bem voc tudo? O CONHECIMENTO TEXTUAL O conhecimento textual engloba tudo que sabemos sobre diferentes gneros discursivos, pelo fato de fazermos uso da lngua para nos comunicarmos em diferentes situaes e contextos. Desde os gneros mais primrios, como a conversa cotidiana, at os gneros mais complexos, que exigem aprendizagem formal por exemplo, gneros escritos como a resenha cientfi ca ou o artigo jornalstico , existe um repertrio de enunciados de que nos apropriamos (retocando-lhes, naturalmente, com nosso estilo prprio), segundo seja nossa inteno e nosso interlocutor. Em vista da natureza variada de elementos que nos permitem fazer a leitura de textos, possvel dividir o conhecimento prvio em quatro nveis: o conhecimento de mundo; o conhecimento enciclopdico; o conhecimento lingstico e o conhecimento textual (de gneros). O trabalho sobre tais nveis pode constituir-se em importante ferramenta tanto para anlise quanto para produo textual.

RESUMO AULA 17 OS GNEROS DO DISCURSO: AS TEORIAS A palavra gnero est associada a muitas idias que variam de acordo com a rea do conhecimento e com o contexto em que empregada. No que se refere linguagem, gnero uma palavra que circulou por muito tempo circunscrita ao campo da Literatura. Apenas no sculo XX, tornou-se um conceito terico importante no campo da Lingstica Textual, que faz referncias a gneros textuais, e, no campo que mais recentemente se conhece como de Anlise Dialgica do Discurso, a partir dos estudos de Bakhtin, faz-se referncia a gneros do discurso. Em nosso curso, de certa forma, estamos realizando algumas anlises de textos de acordo com os principais conceitos dessa corrente dos estudos da linguagem. Nessa abordagem, so centrais: a concepo dialgico-ideolgica de linguagem; os conceitos de texto, enunciado, interao verbal e dialogismo; as noes de gnero do discurso e estilo. Na Grcia Antiga, no campo da Literatura, o termo gnero literrio foi usado para distinguir inicialmente trs categorias de enunciado: o lrico, o dramtico e o pico. Para essa categorizao genrica, os gregos se basearam nas trs faculdades da alma humana consideradas essenciais: sensibilidade, vontade e inteligncia. Essas faculdades manifestas em obras literrias foram observadas nos trs gneros: 1. No gnero lrico, a sensibilidade se manifesta pela expressividade; 2. No gnero dramtico, a vontade se manifesta pela apelao; 3. E, por fi m, no pico, a manifestao da inteligncia observada na coeso e na coerncia exigidas nos processos lingstico-discursivos de se fazer referncia. interessante verificar que a partir dessa categorizao genrica do enunciado, ainda na Grcia, foram estabelecidas trs funes da linguagem: a funo emotiva ou expressiva; a funo

apelativa ou conativa e a funo informativa ou referencial. Aristteles (384 322 a.C.), conhecido filsofo grego, foi um dos autores que analisaram o contedo e a estrutura das obras literrias, observando que cada tipo apresentava predominantemente caractersticas de um desses trs gneros considerados fundamentais. 1. O gnero pico, grosso modo, caracteriza-se pela narrativa em verso ou prosa que expressa o modo temporal ou sucessivo dos acontecimentos. Assim, o tempo o fator estrutural mais importante do gnero pico, do qual fazem parte a epopia, o mito, a lenda, a saga, a legenda, o romance, a novela, o conto, a parbola etc. 2. O gnero dramtico, grosso modo, caracteriza-se pelos dilogos. planejado para ser encenado em um palco por meio de gestos e .discursos dos atores. Embora apresente uma ao situada no passado, ela reproduzida no presente pelo desempenho dos atores no palco, sob forma de tragdia, comdia, farsa, tragicomdia etc. 3. O gnero lrico caracteriza-se pela predominncia de uma voz central, um eu lrico (que no um eu individual) que se funde com o mundo e exprime seus prprios estados de alma, emoes, disposies psquicas, concepes, reflexes, vises, sentimentos; tais estados so intensamente vividos e experimentados atravs de um discurso breve, conciso , denso e extremamente expressivo, construdo com ritmo, musicalidade e imagens como o canto, a ode e a elegia. GNEROS TEXTUAIS A Lingstica textual surge justamente de um movimento de lingistas; eles comearam a estudar fenmenos que pareciam ultrapassar os limites da frase. Seu objetivo, porm, voltou-se para construir um mecanismo apto a engendrar textos, uma gramtica de texto que deveria representar um modelo da competncia do falante. Assim, apesar das intenes iniciais, o objeto de estudo na Lingstica Textual continuou a ser o componente lingstico em si, sendo os dados contextuais e situacionais tratados como dados adicionais. No causa surpresa constatar que gnero seja, no contexto da Lingstica textual, portanto, um termo que expressa uma categoria classificatria. Usando a mesma formalizao lgica, tanto para a representao da estrutura profunda dos enunciados quanto para a representao formal da macroestrutura dos textos, os autores que atuam nessa rea propem um modelo de gramtica textual em que gneros textuais so esquemas de possibilidades de organizao dos textos que existem antes e independentemente dos enunciados em si. GNEROS DO DISCURSO A TEORIA DOS ENUNCIADOS HUMANOS Mikhail Bakhtin, em seu artigo Gneros do discurso, observa que os gneros, tanto na Antigidade quanto na Ps-Modernidade, sempre foram estudados pelo ngulo artstico-literrio de sua especificidade. Segundo ele, essa constatao abriu espao para que se percebesse uma falta relativa a uma teoria geral do enunciado como ato de produo humana. Assim, sob uma perspectiva antropolgica, tomando o enunciado como unidade concreta da comunicao verbal, Bakhtin prope, ento, uma teoria geral do enunciado. Nela, a riqueza e a variedade dos enunciados humanos deixam de ser abordadas sob a tica de modelos ideais de textos, para serem abordadas em sua natureza de atividade. Bakhtin prope uma teoria em que os gneros literrios so vistos como tipos particulares de enunciados que existem ao lado de outros no literrios.

De acordo com essa concepo, todo enunciado tem em comum o fato de que remete a um sujeito, a uma fonte enunciativa; provm de um querer dizer orientado ao seu interlocutor; regido por normas, considerando que cada ato de enunciao se submete a normas especficas ao gnero de discurso implicado no processo (Bakhtin, 1979/1997). Segundo o autor, cada domnio ou esfera de utilizao da lngua elabora tipos relativamente estveis de enunciados orais e escritos. Os enunciados so marcados por uma especificidade do domnio de atividades de que fazem parte. O PLURILINGISMO Dessa caracterstica heterognea do sujeito decorre ser o plurilingismo uma caracterstica fundamental do enunciado. Conforme observa Di Fanti (2002), alm do plurilingismo no se restringir diversidade de lnguas nacionais, preserva a diversidade de vozes discursivas. Tais vozes sociais trazem discursos que circulam so pontos de vista sobre o mundo, perspectivas axiolgicas e estabelecem relaes entre linguagens diversas de profisses, de geraes, de grupos etc. Na Grcia Antiga, no campo da Literatura, o termo gnero literrio foi usado para distinguir inicialmente trs categorias de enunciado: o lrico, o dramtico e o pico. No contexto da Lingstica textual, gnero um termo que expressa uma categoria classificatria. J segundo a concepo dialgica da linguagem, todo enunciado tem em comum o fato de que remete a um sujeito, a uma fonte enunciativa; provm de um querer dizer orientado ao seu interlocutor; regido por normas. Segundo Bakhtin (1979/1997), cada domnio ou esfera de utilizao da lngua elabora seus gneros, isto , tipos relativamente estveis de enunciados orais e escritos. Os enunciados so marcados por uma especificidade do domnio de atividades de que fazem parte, alm de que podem ser atravessados pelo plurilingismo constitutivo das comunidades de fala.

RESUMO AULA 18 OS GNEROS DO DISCURSO: A PRTICA GNEROS DO DISCURSO Tomemos, por exemplo, o texto que voc ir encontrar no site http://revista criativa,globo.com criativa/o,19125,ETT72X2742255,00 Em primeiro lugar, imaginamos que um texto intitulado "Para Todos", com esse tipo de composio destacado, essa diagramao enxuta e acompanhado de uma capa da Revista Criativa s pode constituir o Editorial dessa mesma revista, no ? E isso mesmo: trata-se do editorial publicado na edio 18, de 04 de maio de 2002. Ele foi escrito por Cecliz que era a diretora de redao desse peridico. Nessa seo, ela apresentou seu ponto de vista sobre, o racismo, ao mesmo tempo que anunciou as outras matrias publicadas no exemplar em questo. Sabemos tambm que essa revista uma publicao da Editora Globo S.A., cuja sede administrativa fica em So Paulo. Trata-se de uma revista de circulao mensal, dirigida ao pblico feminino, tambm de acordo com o que j temos de conhecimento prvio sobre isso. O conjunto de informaes que certamente voc reuniu ou ainda vai reunir, acerca de todos os exemplares de texto como este que acabamos de ver, amostra de que cada domnio ou esfera de utilizao da lngua elabora tipos relativamente estveis de enunciados orais e escritos que chamamos gneros do discurso. Assim, os enunciados so marcados por uma especificidade do domnio de atividades de que fazem parte. A eles, podemos dizer, esto indissoluvelmente associadas trs caractersticas:

1) o tema; 2) a forma composicional; 3) o estilo. Nos gneros, os TEMAS podem instaurar um campo de estabilidades, mas vivem eles mesmos no ponto de tenso entre o que esperado e o efeito que o autor deseja produzir. Em editoriais de revistas, por exemplo, vimos que o tema tratado, em geral, uma informao prvia sobre os principais contedos abordados na revista. A FORMA COMPOSICIONAL o que se pode ver na composio dos enunciados no que diz respeito s especificidades de sua organizao, como diviso em sees, introduo, desenvolvimento, concluso. Assim, observamos a seguinte configurao recorrente na maior parte dos editoriais de revista: est localizada na parte inicial da revista, em seo geralmente intitulada Carta do editor, Carta ao leitor, Editorial, Entre ns, Dirio etc; ou diretamente introduzida por um vocativo, como Querida leitora, caro professor etc; segundo quem seja o pblico-alvo da publicao. possui um ttulo que visa a chamar o leitor para o assunto principal; contm assinatura ou endereo eletrnico do editor; Tem alguma forma de ilustrao (fotos, desenhos etc). Quanto ao ESTILO, observamos a predominncia do estilo dialgico. Lanando perguntas diretamente ao leitor, usando forma direta de tratamento (voc, ns...), escolhendo um registro de linguagem que o deixe mais prximo ao leitor (no caso, informal), o editorial um gnero de discurso que instaura um dilogo com o leitor, visando a torn-lo ntimo e parceiro da publicao. Veja quantas coisas foram levantadas para caracterizar esse texto: dados de sua esfera de circulao (quem publicou, para quem dirigido, quando foi para as ruas, qual sua periodicidade etc.); dados tipogrficos e iconogrficos (tipologias das letras, foto etc.); dados contextuais (a mudana efetivamente ocorrida na linha da revista, quem escreveu, por que o fez etc); dados textuais (expresses mais voltadas para a exacerbao de sentimentos, frases de efeito, uso de muitos adjetivos, a prpria manchete do ttulo etc.). Assim, nos ensina Lombardi (2004) que quando escrevemos um texto, precisamos saber em que gnero ele ir se constituir, partindo da preocupao com cada um dos aspectos levantados acima. Para quem escrevo?; Com que objetivo?; Que papel assumo quando escrevo?; Como isso tudo dever refletir no texto?... A noo de gnero do discurso est associada idia de um sistema de normas a que os sujeitos precisam se submeter para se inscreverem na comunicao humana. importante observar que esse sistema de normas se funda nas relaes sociais, diferenciando-se, portanto, da idia de sistema restrita a uma coerncia interna de normas lingsticas. Em Gneros do discurso, Bakhtin afirma que os gneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que organizam as formas gramaticais (sintticas). Aprendemos a moldar nossa fala s formas do gnero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gnero, adivinharlhe o volume (a extenso aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-lhe o fim, ou seja, desde o incio, somos sensveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciar suas diferenciaes (BAKHTIN, 1979/1997:302).

O conjunto de informaes acerca de exemplares de enunciados humanos amostra de que cada domnio ou esfera de utilizao da lngua elabora tipos relativamente estveis de enunciados orais e escritos que chamamos gneros do discurso. Assim, os enunciados so marcados por uma especificidade do domnio de atividades de que fazem parte. A eles, podemos dizer, esto indissoluvelmente associadas trs caractersticas: o tema, a forma ou estrutura composicional e o estilo. Recomenda-se a noo de gnero do discurso como ferramenta de trabalho no ensino de lngua, associada idia de um sistema de normas a que os sujeitos precisam se submeter para se inscreverem na comunicao humana. importante observar que esse sistema de normas se funda nas relaes sociais, diferenciando-se, portanto, da idia de sistema restrita a uma coerncia interna de normas lingsticas. RESUMO AULA 19 USO DA LNGUA 8 QUANDO A DISTNCIA DIMINUI NO TEMPO OS TEXTOS DE CORRESPONDNCIA Na histria do Brasil, temos na carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro contato entre a colnia e a metrpole. Lembremos que Caminha estava na comitiva de Cabral especialmente para isso. Afinal, havia que se garantir um relato confivel para o Rei, e esse relato quase ningum estava apto a redigir. Hoje, a leitura da carta de Caminha deveria estar ao alcance da esmagadora maioria de nossa populao, mas nem todos conseguem compreender o que est registrado ali. Por que ser? Para responder a esta pergunta, vamos dar uma lida no trecho inicial desse clebre texto: Senhor, posto que o Capito-mor desta Vossa frota, e assim os outros capites escrevam a Vossa Alteza a notcia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegao achou, no deixarei de tambm dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorncia por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui no h de pr mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem e das singraduras do caminho no darei aqui conta a Vossa Alteza porque o no saberei fazer e os pilotos devem ter este cuidado. E portanto, Senhor, do que hei de falar comeo: E digo qu: A partida de Belm foi como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de maro. E sbado, 14 do dito ms, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canrias, mais perto da Grande Canria. E ali andamos todo aquele dia em calma, vista delas, obra de trs a quatro lguas. E domingo, 22 do dito ms, s dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de So Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. Na noite seguinte segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Atade com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrrio para poder ser! Fez o capito suas diligncias para o achar, em umas e outras partes. Mas... no apareceu mais! E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, at que tera-feira das Oitavas de Pscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 lguas os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que do o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manh, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas de vspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra ch, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capito ps o nome de O Monte Pascoal e terra A Terra de Vera Cruz! (Carta a El Rei D. Manuel, Dominus, So Paulo, 1963)

Sabemos o contedo da carta, at porque, na escola, no nos pouparam essa informao. Mas, se no soubssemos, voc acredita que seria possvel, com uma nica leitura, resumir o que o escrivo da frota de Cabral estava relatando ao Rei? Dificilmente, e isso acontece porque a distncia temporal entre a escritura da carta e a nossa leitura traz consigo uma srie de obstculos, como o vocabulrio, a diferena sinttica e at mesmo o contexto. Ento, ainda que letrados, nem todos somos capazes de decifrar o que Caminha est dizendo a D. Manuel. No caso da carta que usamos como exemplo, a dificuldade se justifica pela distncia temporal. Mas no podemos fingir que o mesmo no acontece com pessoas que vivem na mesma poca e que, ainda assim, no so capazes de estabelecer uma comunicao plena por meio de uma carta. Novamente, estamos pisando no terreno do poder da lngua, em que quanto mais qualificado um falante se torna tanto maior o domnio que ele tem da lngua materna. Pela rede, possvel se comunicar por e-mail, pelos chats, pelos fruns de discusso, e pelo famoso ICQ. Tais veculos vm gerando uma srie de discusses a respeito do uso da lngua portuguesa, uma vez que muitos pais e educadores temem que o vernculo perca espao para o que seria um novo cdigo, prprio da era digital. (...)no trabalho com a lngua portuguesa, to importante quanto lidar com as estruturas lingsticas ter noo de adequao no momento de seu uso. Esse tipo de percepo tem relao estreita com a conquista de espaos sociais distintos, na medida em que tem o poder de inserir um indivduo em contextos diversos, de acordo com sua habilidade de usar adequadamente as formas de expresso que a lngua oferece. Assim, podemos concluir que a comunicao escrita, entre dois usurios da lngua, no apenas uma estratgia de diminuir as distncias mas tambm uma forma de expresso que ganha contornos pessoais, independentemente do veculo eleito para estabelecer essa comunicao. RESUMO AULA 20 - USO DA LNGUA 9 - QUANDO O OBJETIVO INFORMAR E OPINAR Maristela Botelho Frana ...o que informar? Que conceitos h sobre o que venha a ser informao? O que socializar informaes? Ser possvel informar objetivamente fatos/temas de nosso cotidiano? Ser vivel contar algo sem se posicionar a partir de um determinado ponto de vista? (In: SANTANNA, 2004, p. 9 grifo nosso Podemos classificar os textos, para fins didticos, em duas categorias: texto de opinio e texto de informao. Vimos que o texto de informao pode transmitir tambm uma posio do autor, mas essa posio no central. Em contrapartida, vimos tambm que o texto de opinio transmite uma informao, mas esto a servio da opinio.

RESUMO AULA 21- USO DA LNGUA 10 - CONSTRUINDO A OPINIO: COMO O AUTOR APARECE NOS TEXTOS -MARISTELA BOTELHO FRANA / CLUDIA CAPELLO H situaes em que o autor visa a focalizar o objeto de discurso como se este pudesse falar por si s, sem deixar nenhum rastro de um possvel enunciador/autor. Tais procedimentos so constitutivos dos textos que tm a pretenso de ser, ao mximo possvel, genunos exemplares de textos informativos. Nosso foco so os elementos indicadores de atitude ou estado psicolgico com que, no texto de opinio, o autor se apresenta construindo sua posio sobre o objeto de discurso em questo.

Eles expressam julgamentos, opinies, apreciaes. Veja os exemplos a seguir: 1. O Corinthians, derrotado antes do incio da peleja, enfrentando um adversrio temvel, obteve a mais notvel vitria dos clubes nacionais fora de nossas fronteiras... 2. O conjunto corinthiano teve uma atuao brilhante, e a goleada poderia ter atingido a casa dos seis, oito, que no seria injustia ao melhor futebol do mundo. 3. Brilhantemente, o trabalho do time confirmou a criatividade e a fora do futebol brasileiro. As aspas que recaem sobre, no caso, o adjetivo derrotado so um recurso usado pelo enunciador para indicar que suas palavras no correspondem bem realidade. Nesse tipo de uso especfico das aspas, o enunciador delega ao leitor a tarefa de compreender o motivo pelo qual ele est assim chamando sua ateno. No exemplo 1, o leitor ir pressupor que derrotado vem entre aspas porque o enunciador est transferindo a responsabilidade de seu emprego a outra pessoa. No texto em questo, eram os outros ou a conjuntura que antecipavam a derrota do Corinthians, no necessariamente o autor. Nesse sentido, as aspas representam uma atitude explcita do autor, dirigindo a leitura do leitor. Bem, depois dessa reflexo sobre as aspas como sendo um sinal a ser interpretado que demonstra uma atitude do autor, analisemos o plano das palavras que expressam julgamento. Mais do que atribuir uma qualidade atuao, ao adversrio ou vitria, esses adjetivos expressam o julgamento do autor diante das coisas que v. E isso feito de modo subjetivo. As atitudes apreciativas se concretizam no discurso por meio de diferentes tipos de: Verbos A equipe surpreende pela qualidade tcnica. O time abrilhanta o futebol brasileiro com mais esta atuao. Esse desempenho supera o anterior, que decepcionou os fs do time. Adjetivos e Substantivos A prpria crtica foi unnime em afirmar: vitria espetacular. Afirmar que este surpreendente jogo foi um marco na histria do futebol sul-americano pouco, em vista da qualidade tcnica mostrada pelos jogadores. No demais destacar a valorosa contribuio do preparador fsico, que constitui o ponto de partida para essa excelente vitria. Advrbios Infelizmente, o time uruguaio no confirmou seu talento nesta partida. O seu ltimo gol, surpreendentemente, seduziu a torcida de maneira arrebatadora. Estranhamente, no foi citada a excelente atuao do juiz. DISSERTAR E ARGUMENTAR No possvel discutir a construo textual da opinio sem fazer referncia a duas aes que a esse processo se ligam: dissertar e argumentar. Observe que, segundo a orientao dialgica assumida em nosso curso, dissertar e argumentar so atividades de linguagem constitutivas de gneros discursivos de orientao opinativa. A dissertao, entendida como exemplar de gnero, o texto produzido por candidatos a mestre

nos cursos de ps-graduao. Fora desse campo de atividade acadmica de nvel superior, a dissertao vista como um gnero escolar cuja realizao se justifica no em termos de finalidade comunicacional propriamente, mas, sobretudo, em termos de finalidade didtica. Esses significados possveis para o termo dissertao ou como gnero acadmico em nvel de ps-graduao ou como gnero com finalidade estritamente didtica so importantes de ser observados. A atividade de DISSERTAR tem como propsito principal expor e explanar , explicar ou interpretar idias, Na atividade de ARGUMENTAR, visa-se, sobretudo, a convencer, persuadir ou infl uenciar o leitor ou ouvinte. Assim, por meio desse procedimento, procuramos principalmente formar a opinio do leitor ou ouvinte, tentando convenc-lo de que a razo est conosco, de que ns que estamos de posse da verdade. Podemos, ento, afirmar que argumentar , em ltima anlise, convencer ou tentar convencer mediante apresentao de razes, em face da evidncia das provas e luz de um raciocnio coerente e consistente. H vrios recursos lingsticos de que se pode lanar mo para a construo da opinio. So recursos que, por sua natureza explicitamente avaliativa, so reveladores de modos possveis de um autor aparecer em seu texto em gneros opinativos. Exemplos desses gneros so a dissertao acadmica e escolar, bem como aqueles que so construdos por meio da argumentao. Enquanto, nos gneros do primeiro tipo, tem-se como objetivo principal expor e explanar, explicar ou interpretar idias, nos do segundo, visa-se sobretudo a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte, em face da evidncia das provas e luz de um raciocnio coerente e consistente. RESUMO AULA 22 USO DA LNGUA 11 - QUANDO A PALAVRA NOTCIA: O JORNALISMO INFORMATIVO -MARISTELA BOTELHO FRANA O jornal e suas metamorfoses Um senhor pega um bonde depois de comprar o jornal e p-lo debaixo do brao. Meia hora depois, desce com o mesmo jornal debaixo do mesmo brao. Mas j no o mesmo jornal; agora, um monte de folhas impressas que o senhor abandona num banco da praa. Mal fica sozinho na praa, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, at que um rapaz o descobre, o l, e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Mal fica sozinho na praa, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, at que uma velha o encontra, o l e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Depois, leva-o para casa e no caminho aproveita-o para embrulhar acelga, que para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses. (Jlio Cortzar, em Histrias de Cronpios e de Famas) Ao ler um jornal com a mesma finalidade, isto , de saber sobre os ltimos acontecimentos, qual, dentre os gneros do discurso jornalstico apresentados a seguir, na sua opinio, o mais indicado para se ler? Editorial, chamada, notcia ou comentrio? No jornalismo impresso circulam inmeros gneros de discurso. Cada um deles publicado em um espao especfico do jornal ou da revista e tem objetivos definidos. Podem ou no possuir uma autoria identificada, mas, em geral, essa autoria a empresa jornalstica, o jornalista, o colaborador ou at mesmo o leitor. Certos gneros identificam um autor (ou mais) que assume um papel de responsabilidade no texto de acordo com a sua posio de origem ao escrev-lo. Em cada um desses gneros, predomina a inteno de informar ou de opinar.

Do jornalismo fazem parte duas categorias jornalsticas historicamente localizadas: 1) o jornalismo informativo; 2) o jornalismo opinativo. Admitir essa convivncia no significa desconhecer que o jornalismo continua a ser um processo social dotado de profundas implicaes polticas em que a expresso ideolgica assume carter determinante. Nesse sentido, pertinente perguntar at que ponto o jornalismo informativo efetivamente limita-se a informar? RESUMO AULA 23 - USO DA LNGUA 12 - QUANDO A PALAVRA COMENTA O JORNALISMO DE OPINIO MARISTELA BOTELHO FRANA visando atrair a ateno do leitor, as chamadas com a indicao das editorias em que a notcia continua A seguir, apresentamos um trecho muito interessante de depoimento sobre o processo de trabalho na redao feito pesquisadora Renata Bondim (2001) pelo editor de um jornal do Rio de Janeiro : Aqui o trabalho em grupo, em conjunto. Tem vrios mecanismos para a gente chegar l. De manh, a gente tem uma secretria de redao que abre o jornal. Ela se rene com o chefe de reportagem, nas diversas editorias cidade, polcia, sade, mundo, esporte e v o que se est produzindo para aquele dia. A j vai fazendo a primeira seleo do material que vai chegar edio do jornal no final do dia. No meio do dia, tem uma outra reunio, j comigo e com alguns editores executivos do jornal, e j comea a definir em cima da rede que o pessoal lanou para colher informaes, onde a gente vai apontar para a primeira pgina, que consolidada por volta das 6 horas da tarde. Umas 18 horas, a gente comea uma ltima reunio aqui, a, eu vou para uma reunio mais privada com o diretor da redao. Ou ele aprova, ou ele muda. Mas, geralmente, o entendimento j passa pelo material previamente definido (p. 22). De acordo com os dados apresentados por Bondim (2001), o JB, por exemplo, apresenta as seguintes editorias, diariamente: Pas, Internacional, Cidade, Esporte, Economia e Caderno B; uma vez por semana, cada uma em um dia da semana: Internet, Revista Programa, Idias, Vida, Carro e Moto, Viagem e Revista de Domingo. Em contrapartida, um jornal popular, como O Povo, apresenta as seguintes editorias sem periodicidade regular: Cidade, Pas, Polcia, Esporte, Internacional, Rio Alegre, Sade, Educao, Emprego, Obiturio, Publicidade e Promoo. O JORNALISMO OPINATIVO Estudamos na Aula 22 que a notcia, gnero do discurso jornalstico que se pretende essencialmente informativo, vive na tenso entre opinar e informar. Vimos tambm que tal tenso se deve prpria histria do jornalismo, mas se deve principalmente prpria natureza constitutivamente ideolgica da linguagem verbal. As palavras na lngua so prenhes de significados que assumem diferentes nuances no curso dialgico das trocas verbais. Elas so o exemplo mais genuno de signos ideolgicos, como vimos na Aula 4 do Volume 1 de nosso curso. Wikipdia, a enciclopdia livre. A resenha um gnero textual em que se prope a construo de relaes entre as propriedades de um objeto analisado, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes sobre ele. No jornalismo, utilizado como forma de prestao de servio. texto de origem opinativa e, portanto, rene comentrios de origem pessoal e julgamentos do resenhador sobre o valor do que analisado.O objeto resenhado pode ser de qualquer natureza: um romance, um filme, um lbum, uma pea de teatro ou mesmo um jogo de futebol. Uma resenha pode ser "descritiva" e/ou "crtica". A notcia um formato de divulgao de um acontecimento por meios, jornalsticos. a matriaprima do Jornalismo, normalmente reconhecida como algum dado ou evento socialmente relevante que merece publicao numa mdia. Fatos polticos, sociais, econmicos, culturais, naturais e outros podem ser notcia se afectarem indivduos ou grupos significativos para um

determinado veculo de imprensa. Geralmente, a notcia tem conotao negativa, justamente por ser excepcional, anormal ou de grande impacto social, como acidentes, tragdias, guerras e golpes de estado. Notcias tm valor jornalstico apenas quando acabaram de acontecer, ou quando no foram noticiadas previamente por nenhum veculo. A "arte" do Jornalismo escolher os assuntos que mais interessam ao pblico e apresent-los de modo atraente. Nem todo texto jornalstico noticioso, mas toda notcia potencialmente objeto de apurao jornalstica Em Jornalismo, um artigo um texto eminentemente opinativo mais que informativo publicado (ou veiculado) em seo destacada do contedo noticioso, para enfatizar que se trata de material no-jornalstico. Os autores recorrentes de artigos so chamados de articulistas. Em jornais impressos, normal que os editores convidem personalidades da sociedade (especialistas, intelectuais, autoridades) para escrever artigos sobre temas especficos do noticirio, sem remunerao. Entre leigos, comum confundir artigo com matria e tratar ambos os termos como sinnimos, o que um erro. Tampouco sinnimo de coluna, que se caracteriza por ser um espao permanente reservado para textos do mesmo autor. Articulistas, em geral, no so jornalistas.Os artigos contm comentrios, anlises, crticas, contrapontos, e s vezes ironia e humor. H artigos tanto na mdia impressa (jornais, revistas) quanto em rdio e televiso (nesse caso, so lidos no ar pelo articulista).Muitas vezes, os artigos no refletem necessariamente a opinio do jornal (contrariamente aos editoriais, que so a posio oficial do veculo), e as empresas costumam no assumir responsabilidade por eles.No Brasil, no mais obrigatrio possuir diploma de Jornalismo para o exerccio da profisso, mas qualquer pessoa pode ser articulista, independentemente da formao profissional. O colunista um profissional do jornalismo que trabalha escrevendo regularmente para veculos de comunicao (jornais, revistas, rdio, TV, websites), produzindo textos no necessariamente noticiosos denominados colunas. Um tipo muito comum de colunismo a Coluna Social, que consiste em reunir informaes (nem sempre notcias) sobre personalidades famosas na sociedade de uma cidade, regio ou pas. Colunistas sociais trabalham "caando" notas sobre artistas, celebridades, milionrios, figuras excntricas, autoridades e outras pessoas. Este tipo de trabalho muitas vezes criticado por borrar o limite entre o jornalismo e a boataria. Uma crnica (portugus europeu) ou crnica (portugus brasileiro) uma narrao, segundo a ordem temporal. O termo atribudo, por exemplo, aos noticirios dos jornais, comentrios literrios ou cientficos, que preenchem periodicamente as pginas de um jornal. Crnica um gnero literrio produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas pginas de uma revista, seja nas pginas de um jornal. Quer dizer, ela feita com uma finalidade utilitria e pr-determinada: agradar aos leitores dentro de um espao sempre igual e com a mesma localizao, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lem. Caricatura um desenho de um personagem da vida real, tal como polticos e artistas. Porm, a caricatura enfatiza e exagera as caractersticas da pessoa de uma forma humorstica, assim como em algumas circunstncias acentua gestos, vcios e hbitos particulares em cada indivduo. Historicamente a palavra caricatura vem do italiano caricare (carregar, no sentido de exagerar, aumentar algo em proporo). A caricatura a me do expressionismo, onde o artista desvenda as impresses que a ndole e a alma deixaram na face da pessoa. A distoro e o uso de poucos traos so comuns na caricatura. Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa atravs do jogo com as formas. comum sua utilizao nas stiras polticas; s vezes, esse termo pode ainda ser usado como sinnimo de grotesco (a imaginao do artista priorizada em relao aos aspectos naturais) ou burlesco.

Charge um estilo de ilustrao que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traos do carter de algum ou de algo para torn-lo burlesco. Muito utilizadas em crticas polticas no Brasil. Apesar de ser confundido com cartoon (ou cartum), que uma palavra de origem inglesa, considerado como algo totalmente diferente, pois ao contrrio da charge, que sempre uma crtica contundente, o cartoon retrata situaes mais corriqueiras do dia-a-dia da sociedade. Mais do que um simples desenho, a charge uma crtica poltico-social onde o artista expressa graficamente sua viso sobre determinadas situaes cotidianas atravs do humor e da stira. Para entender uma charge, no preciso ser necessariamente uma pessoa culta, basta estar por dentro do que acontece ao seu redor. A charge tem um alcance maior do que um editorial, por exemplo, por isso a charge, como desenho crtico, temida pelos poderosos. No toa que quando se estabelece censura em algum pas, a charge o primeiro alvo dos censores. Em jornalismo, chama-se chamada a um texto curto da primeira pgina que resume as informaes publicadas pelo jornal no que considera a principal notcia do dia. A reportagem um contedo jornalstico, escrito ou falado, baseado no testemunho direto dos fatos e situaes explicadas em palavras e, numa perspectiva atual, em histrias vividas por pessoas, relacionadas com o seu contexto. A reportagem televisiva, testemunho de aes espontneas, relata histrias em palavras, imagens e sons. Os editoriais so textos de um jornal em que o contedo expressa a opinio da empresa, da direo ou da equipe de redao, sem a obrigao de ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espao predeterminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras pginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais so normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente para marcar claramente que aquele texto opinativo, e no informativo. Editoriais maiores e mais analticos so chamados de artigos de fundo.O profissional da redaao encarregado de redigir os editoriais chamado de editorialista.Na chamada "grande imprensa", os editoriais so apcrifos isto , nunca so assinados por ningum em particular. Entrevista uma conversao entre duas ou mais pessoas (o entrevistador e o entrevistado) em que perguntas so feitas pelo entrevistador para obter informao do entrevistado. Os reprteres entrevistam as suas fontes para obter destas declaraes que validem as informaes apuradas ou que relatem situaes vividas por personagens. Antes de ir para a rua, o reprter recebe uma pauta que contm informaes que o ajudaro a construir a matria. Alm das informaes, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o reprter costuma reunir o mximo de informaes disponveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que ser entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevistado a fornecer informaes novas e relevantes. O reprter tambm deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas, facto que costuma acontecer principalmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando o reprter vai entrevistar o presidente de uma instituio pblica sobre um problema que est a afectar o fornecimento de servios populao, ele tende a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que considera positivo na instituio. importante que o reprter seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiana do entrevistado, mas no tentar dominlo, nem ser por ele dominado. Caso contrrio, acabar induzindo as respostas ou perdendo a objetividade Em jornalismo, crtica uma funo de comentrio sobre determinado tema, geralmente da

esfera artstica ou cultural, com o propsito de informar o leitor sob uma perspectiva no s descritiva, mas tambm de avaliao. A crtica feita pelo crtico, jornalista ou profissional especializado da rea, que entra em contato com o produto a ser criticado e redige matrias ou artigos apresentando uma valorao do objeto analisado. Em geral, o crtico no pode apresentar uma avaliao puramente subjetiva, mas tambm deve apresentar descrio de aspectos objetivos que dem sustentao a seus argumentos.

RESUMO AULA 24- USO DA LNGUA 13 - QUANDO O CONHECIMENTO DIRIGIDO A ESPECIALISTAS: O TEXTO CIENTFICO MARISTELA BOTELHO FRANA Vamos ler os textos 1 e 2, visando distinguir entre eles qual dirigido a um pblico geral e qual dirigido a um pblico em particular: TEXTO 1 Pouco maior do que um par de ameixas secas, com formato semelhante ao de uma gravata borboleta e pesando entre 15-25 gramas, ela comanda algumas das mais importantes funes do nosso corpo. Exemplos? A capacidade de respirar, mover as pernas, regular a temperatura corporal, manter o corao batendo no ritmo certo, o raciocnio pronto para qualquer desafio... preciso mais? Claro que no. Est comprovadssima a nobreza da pecinha de que estamos falando. E para no espichar o assunto, vamos logo ficha da moa. Trata-se da glndula tiride (ou tireide), domiciliada frente da traquia, bem abaixo do pomo-de-ado, ou gog, para os ntimos. (...) (Armando Luiz Antenore, Sade! 12/1990, p. 71) TEXTO 2 Tireide: a maior das cartilagens larngeas, mediana e nica. Apresenta duas lminas com fuso incompleta na linha mdia. O ngulo entre as lminas apresenta um dimorfismo sexual, sendo de 90o no homem e de 120o, na mulher, em mdia, o que torna a proeminncia larngea (pomo-deado) mais evidente no sexo masculino. As pores laterais e superiores das lminas tm prolongamentos, formando os cornos superiores e inferiores. Os cornos inferiores articulam-se com facetas no arco posterior da cartilagem cricide, formando uma articulao sinovial (e, portanto, sujeita artrite, resultando em odinofonia). As lminas da cartilagem tireide possuem um reparo anatmico superficial nos seus 34 posteriores, a linha oblqua, que corresponde ao ponto de insero de vrios msculos extrnsecos da laringe omo-hiideo, esternotireideo e constritor inferior. Internamente, as lminas so revestidas por mucopericndrio, exceto na comissura anterior (poro interna do ngulo). Neste local, temos a insero de 5 pregas larngeas (em direo caudal): ligamento tireoepigltico mediano, pregas vestibulares (2) e pregas vocais (2). Esses ligamentos penetram no pericndrio, formando uma estrutura denominada ligamento de Broyle, que contm vasos sanguneos e linfticos, consistindo em um local de disseminao de tumores larngeos. (...) (http://www.imagemdavoz.hpg.ig.com.br/Anatomia.ht) Por essas e outras razes, voc j deve ter ouvido algum comentar que o discurso dos cientistas o discurso de doutores, estudiosos ou seres iluminados, no acessvel a pessoas comuns. No entanto, com base na teoria dos gneros do discurso, voc j pode entender que no se trata disso. Trata-se de um discurso proveniente de aprendizado especfico, relativo a uma linguagem tambm especfica, utilizada com propsitos especficos, que identifica um determinado domnio de atividade humana.O texto cientfico se difere do texto jornalstico de divulgao de Cincia. Enquanto o primeiro dirigido a um pblico em particular, isto , a membros de uma determinada comunidade acadmica e cientfica, o segundo se dirige a pblico, em geral, leigo no

assunto. O fazer cientfico pressupe alguns procedimentos especficos e a produo de conhecimento, mesmo adotando esses procedimentos, segundo a corrente cientfica adotada, pode no ser vlida. RESUMO AULA 25- USO DA LNGUA 14 QUANDO O CONHECIMENTO EXPRESSO DE DIFERENTES FORMAS: OS GNEROS DO DISCURSO ACADMICO E CIENTFICO - MARISTELA BOTELHO FRANA OS GNEROS DO DISCURSO ACADMICO E CIENTFICO Nas universidades, nos centros de pesquisa e nos ambientes a eles relacionados circulam inmeros gneros do discurso. Cada um deles transita em um contexto especfico, tem objetivos definidos, um autor (ou mais) que assume um papel de responsabilidade no texto de acordo com a sua posio de origem ao escrev-lo. Alguns desses gneros podem ter como pblico o prprio autor, como o caso de resumos e fichamentos, quando so realizados com a finalidade de facilitar a recuperao posterior de contedos como enredos, teses, dados, idias e argumentos dos mais variados tipos de texto. Textos dessa natureza, ou seja, com finalidade didtica, so textos exclusivamente acadmicos. Alm de resumos e fichamentos, h textos genericamente denominados trabalhos acadmicos, que so apresentados por alunos de graduao com o intuito de serem avaliados por seus professores. Os demais gneros so dirigidos a interlocutores especficos, com objetivos tambm muito especficos. So esses gneros: PROJETO DE PESQUISA, RELATRIO DE PESQUISA, MONOGRAFIA, DISSERTAO, TESE, ARTIGO, ENSAIO, RESENHA E RESUMO. Ter domnio sobre a expresso acadmica e cientfica, seja ela oral ou escrita, nos permite expor nosso ponto de vista sobre teses, teorias, mtodos, resultados e, principalmente, sobre a importncia ou no do que est sendo produzido em termos de conhecimento e de tecnologia, numa linguagem aceita pela comunidade acadmica e cientfica. Fazer parte dessa comunidade, ou de qualquer outra, alis, implica dominar os gneros do discurso por meio dos quais as pessoas nela se comunicam. Esse domnio se verifica na adequao dos gneros ao plano dos conceitos e contedos apresentados, ordem em que eles so apresentados, ao modo como o autor se apresenta no texto, como apresenta os outros, ao emprego da norma culta padro (os gneros acadmico e cientfico devem necessariamente ser expressos respeitando-se a norma culta da lngua), ao vocabulrio utilizado, s normas tcnicas. Alm dessas caractersticas, independentemente da rea de conhecimento, no texto cientfico, em geral, preciso: 1. justificar a pesquisa, definindo e delimitando de forma clara e objetiva o problema a ser abordado ou que j foi; 2. explicitar os objetivos que se tem ou se teve, bem como os resultados obtidos ou esperados com a pesquisa; 3. permitir que o leitor compreenda o referencial terico que o ajudou ou ajudar a conduzir a investigao, definindo precisamente os conceitos adotados; 4. especificar a metodologia que foi ou a que ser empregada, caracterizando o universo considerado para o estudo, as estratgias, os instrumentos necessrios ou empregados para a realizao da pesquisa questionrios, entrevistas, medies e outros , os procedimentos de apurao, de coleta e anlise de dados. No caso de projetos de pesquisa, preciso ainda apresentar o cronograma de atividades, bem como os recursos humanos e financeiros necessrios para o desenvolvimento do estudo. Hoje em dia, a tendncia nas Cincias Humanas de assumir a subjetividade constitutiva do discurso cientfico. Afinal, a cincia no a expresso de uma verdade inabalvel que fala por si

s. Ela fruto do trabalho de pessoas que interagem e sofrem influncia de seu meio poltico, social e cultural. Na universidade e nos centros de pesquisa circulam uma variedade de gneros do discurso acadmico e cientfico. So eles: monografia, dissertao, tese, artigo, ensaio, projeto de pesquisa, relatrio de pesquisa, resenha, resumo e fichamento. Esses gneros tm em comum o fato de se pretenderem textos imparciais, nos quais se tenta apagar as instncias enunciativas reveladoras de subjetividade. RESUMO AULA 26- USO DA LNGUA 15 - QUANDO O TEXTO ARTE - O TEXTO LITERRIO CLUDIA CAPELLO Para iniciarmos nossa conversa, importante deixar claro que a questo que tem ocupado os especialistas, nos ltimos tempos, a determinao de elementos que possam caracterizar um texto como literrio. Nesse sentido, vrios estudiosos procuraram elaborar critrios para aferir o carter literrio das produes textuais. Alguns desses trabalhos disseminaram conceitos cuja aplicabilidade, ainda que no se mostre de todo suficiente para reconhecer um texto literrio, no mnimo aponta para algumas especificidades discursivas. O texto literrio criado, segundo esse ponto de vista, a partir de uma multiplicidade de cdigos ideologia, retrica que vo lev-lo a redefinir informaes absorvidas de outros textos. , dessa forma, um texto heterogneo, conotativo, semanticamente autnomo, com uma verdade prpria. Investido de uma carga conotativa, que consiste em atribuir valores significativos que circundam e penetram o ncleo intelectual de significados de uma palavra o ncleo denotativo , o texto literrio plurissignificativo, j que como portador de mltiplas dimenses semnticas, distanciase do grau zero da linguagem. Assim, ao descobrir as possibilidades latentes que o esperam, esse tipo de texto tem no leitor um agente que descobre, em conseqncia, a pluralidade do texto, pois ,que, ao admitir a multiplicidade de leitura, ele admite tambm os vrios significados que sua estrutura latente guarda. Essa estrutura latente constitui aquele nvel de leitura que nos leva a ler nas entrelinhas, atingindo vrios patamares de compreenso. A capacidade de ler, inclusive o no dito, caracteriza o que chamamos de proficincia do uso da lngua, e esse uso se mostra plenamente atingido justamente a partir do desenvolvimento das habilidades de leitura. Nesse sentido, o texto literrio mostra-se especialmente frtil para esse desenvolvimento, na medida em que traz possibilidades vrias. O HOMEM DIANTE DE TANQUES Tem 19 anos. E vai morrer. Vai morrer porque ousou parar com seu corpo uma fileira de tanques que avanava na praa da Paz Celestial, em Pequim. Da janela de nossas televises o vimos. Os tanques vinham com suas lagartas de ao para massacrar a borboleante multido e, sbito, um homem se destacou da massa e se postou diante do tanque da frente. Ele ali, firme. O carro de combate diminuiu a marcha, parou. Parou e tentou se desviar do homem. O homem se moveu para a esquerda e, de novo, ficou parado diante da mquina. De novo a mquina se movimentou, de novo o homem com seu corpo a faz parar. E ousou mais o homem. Subiu ao tanque e foi falar ao soldado oculto na carapaa de metal. De nossas poltronas, em todo o mundo, assistimos cena e nos comovemos. Pois agora anuncia-se que o homem que parou os tanques vai ser morto (ou j foi?). Ele tem nome Wang Weilin e morrer com seus 19 anos de ousadia. Certamente o mataro como

esto matando os outros lderes da manifestao pr-democracia: com um tiro na nuca. E mandaro a conta da bala para sua famlia, como se faz na China desde h muito. Esta conta no est sendo mandada apenas para sua famlia, seno para uma famlia maior a dos que lutam pela liberdade e democracia. A conta dessa e de outras balas deve ser paga por todos ns. Por que as entidades que lutam pelos direitos humanos ainda no organizaram um dia mundial de protesto para dar um basta barbrie institucionalizada na China? Por que as praas de outros pases no se enchem de gritos e faixas em defesa desses jovens estudantes que tombam como moscas na China? Um pouco mais adiante, ali em Paris, e com reprodues em muitas capitais do mundo, estamos celebrando a liberdade e a democracia trazidas pela Revoluo Francesa. Fogos de artifcio, bailes, discursos e muito marketing para se festejar o passado. Contudo, ali na China, a antihistria, a contra-histria, destri o presente e o futuro de milhes. Penso nesse jovem de 19 anos que vai morrer com uma bala na nuca. Ter feito um gesto, de repente, deu sentido sua vida, ainda que to curta. Se tivesse vivido 80 anos colhendo arroz numa provncia qualquer teria apenas dado um exemplo da intil pacificidade. Uma coisa, por isso, me inquieta. Como, por que e quando um homem se destaca na multido? Como, por que e quando um corpo se destaca do anonimato e faz histria? Tivesse se atrasado 15 minutos, tivesse tomado uma outra rua naquele dia, talvez no tivesse, com seu frgil corpo, desafiado o maior exrcito da Terra. Mas quando decidiu com seu desprovido e poderoso corpo pr-se frente dos tanques, estava pronto para morrer. Como, alis, aqueles seis que se deitaram nos trilhos em Xangai e foram destroados pelo trem da contra-histria. Certos gestos o homem faz sem saber que os gestos que o faro. Os carrascos no sabem. Todos os carrascos se iludem. Uns se dizem: estou apenas cumprindo minha funo. Outros afirmam: sou o zelador da histria. Como se houvesse uma s histria, a deles. Os carrascos no sabem histria. Disparando um tiro na nuca, dependurando na forca um corpo ou decepando na guilhotina uma cabea, outra vez e sempre estaro fazendo o contragesto que sublimar o gesto alheio. Malditos carrascos. Benditos carrascos. Eles pensam que esto abatendo um corpo inimigo. Esto construindo a aura de um heri. Eles pensam que esto apagando uma vida indigna. Esto criando um mito. Ento, repito. Tem 19 anos. Chama-se Wang Weilin e vai morrer o jovem que com seu corpo desarmado paralisou uma fileira de tanques e deixou o mundo perplexo com sua coragem. Amanh seu nome ser praa, avenida ou monumento. Por ora apenas uma poa de sangue e esperana em nossas conscincias. (Fonte: Fizemos bem em resistir. Editora Rocco, 1997) A crnica de Affonso Romano de SantAnna , tambm, fonte de informao de um acontecimento que mobilizou o mundo todo. O autor fez da literatura um veculo de protesto, remetendo-se de forma clara a um fato. Em comparao com a cano de Vandr, podemos dizer que o texto de Affonso apresenta tudo mais s claras, sem pres