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LIÇÕES DE AVALIAÇÃO
TEMA
AS AVALIAÇÕES EXTERNAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA ARTICULAÇÃO COM A AVALIAÇÃO PRATICADA NA ESCOLA
Universidade de Brasília – Faculdade de Educação Número 1, junho de 2007
Universidade de Brasa –
Organização
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM
AVALIAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO - GEPA
Universidade de Brasília - Número 3 – maio de 2009
Renata – 11 anos, 6º ano da educação fundamental
1
Benigna Maria de Freitas Villas Boas Doutora e pós-doutora em Educação. Professora Associada da UnB
Carmyra Oliveira Batista Doutora em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Cláudia Queiroz Miranda Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Eliene Cleuse Sousa de Oliveira Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Enílvia Rocha Morato Soares Mestranda em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Erisevelton Silva Lima Mestre em Educação e doutorando em Educação. Professor da Secretaria de Estado de Educação do DF
Flávia Regina Vieira dos Santos Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Joseval dos Reis Miranda Mestre em Educação e doutorando em Educação. Professor da Universidade do Estado da Bahia
Letícia de Almeida Araújo Mestre em Educação. Diretora pedagógica do Módulo de Educação e Cultura do SESC – Taguatinga Norte
Lílian A. Maciel Cardoso
Mestre em Educação. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso
Maria Antônia Honório Tolentino Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Maria Theresa de O. Corrêa Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Marilene Pinheiro Marinho Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Patrícia Helena Carvalho Holanda Doutora em Educação e pós-doutoranda em Educação. Professora da Universidade Federal do Ceará
Rose Meire da Silva e Oliveira Mestranda em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Sandra Zita Silva Tiné Mestre em Educação e doutoranda em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Vânia Leila de Castro Nogueira Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Verinez Carlota Ferreira Mestre em Educação. Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF
Contatos com o grupo podem ser feitos pelo endereço [email protected]. O grupo de pesquisa pode ser encontrado no site do CNPq,em Diretório dos Grupos de Pesquisa.
GEPA
I n t e g r a n t e s
2
SUMÁRIO
INTEGRANTES DO GEPA 01
POR QUE “LIÇÕES” DE AVALIAÇÃO? 03
CONHECENDO O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA –
SAEB
Eliene Cleuse Sousa de Oliveira e Erisevelton Silva Lima
04
CONHECENDO O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO - ENEM
Verinez Carlota Ferreira
07
CONHECENDO A PROVA BRASIL
Marilene Pinheiro Marinho
10
CONHECENDO A PROVINHA BRASIL
Enilvia Rocha Morato Soares, Lílian A. Maciel Cardoso, Maria Theresa de O.Corrêa e
Vânia Leila de Castro Nogueira
14
CONHECENDO O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DAS INSTITUIÇÕES
EDUCACIONAIS DO SISTEMA DE ENSINO DO DISTRITO FEDERAL – SIADE
Carmyra Oliveira Batista, Cláudia Queiroz Miranda, Flávia Regina V. dos Santos e Rose
Meire da Silva e Oliveira
21
CONHECENDO O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – IDEB
Carmyra Oliveira Batista
23
AVALIAÇÕES EXTERNAS E AVALIAÇÃO FORMATIVA: UMA ARTICULAÇÃO
POSSÍVEL?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
26
3
POR QUE “LIÇÕES” DE AVALIAÇÃO?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas Coordenadora do GEPA - Maio de 2009
A iniciativa de publicação de um caderno
sobre avaliação surgiu como resultado de
minhas experiências com a disciplina Avaliação
Escolar, no Curso de Pedagogia da
Universidade de Brasília – UnB – e de minha
interação com professores da educação básica e
superior de algumas cidades brasileiras,
principalmente, do Distrito Federal. Como
professora dessa disciplina, tenho encontrado
reflexões e produções de textos bastante
significativas, mas que são conhecidas apenas
por mim e pelos alunos da turma. Em minhas
andanças pelas escolas e nos encontros com
professores me têm sido relatadas experiências
desenvolvidas com êxito, nem sempre
difundidas. Como os professores, de modo
geral, expressam suas dificuldades em romper
com a avaliação centrada em notas, aprovação
e reprovação, uma das maneiras de auxiliá-los a
encontrar práticas avaliativas que atendam suas
necessidades consiste em divulgar as que vêm
dando bons resultados. Ao mesmo tempo,
valoriza-se o trabalho dos que vêm pensando
sobre a avaliação.
A escolha da palavra “lições” se justifica
pelo fato de ela ser usada em situações
escolares há muito tempo. Trata-se de um
resgate carinhoso do significado dessa palavra
como experiência que serve de inspiração à
criação de práticas avaliativas aliadas dos
alunos e professores. Fala-se em “lição de
casa”, como sinônimo de dever ou tarefa de
casa. Fala-se, também, em lição como sinônimo
de tema ou assunto da aula. As lições que serão
aqui apresentadas não terão caráter prescritivo.
Consistirão em práticas, reflexões, informações,
depoimentos, resultados de pesquisas e
produções de alunos e professores.
Nesse primeiro momento, não se
pretende ter uma publicação previamente
formatada e com periodicidade estabelecida.
Cada caderno será organizado conforme o
material disponível. Será lançado quando houver
uma quantidade significativa de contribuições.
O Lições de Avaliação 3 tem uma
característica diferente: é composto por textos
construídos pelos professores pesquisadores do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação e
Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA –
certificado pela UnB e cadastrado no CNPq. O
seu tema é As avaliações externas na
Educação Básica e sua articulação com a
avaliação praticada na escola. Apresentam-se
informações básicas sobre o SAEB, o ENEM, a
Prova Brasil, a Provinha Brasil, o IDEB e o
SIADE, este último implantado no DF em 2008.
O que motivou a organização deste número do
Lições de Avaliação com esse título foi a
inexistência dessas informações em um único
documento. Tem sido observado que
professores da educação básica e estudantes de
cursos de licenciatura não têm conhecimento
dos objetivos, das características e da
operacionalização dessas avaliações e,
consequentemente, das suas repercussões no
trabalho escolar.
Enquanto o GEPA não dispõe de
recursos financeiros, a publicação dos cadernos
está sendo feita artesanalmente, pelos seus
membros. Os interessados poderão solicitar seu
envio pelo e.mail: [email protected].
4
CONHECENDO O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – SAEB
Eliene Cleuse Sousa de Oliveira
Erisevelton Silva Lima
O Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica – SAEB1 – foi criado em 1990
e, desde então, é coordenado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira – INEP – do Ministério da
Educação. É um dos mais amplos esforços
empreendidos no Brasil de coleta, sistematização
e análise de dados sobre o ensino fundamental e
médio. Trata-se de uma avaliação em larga
escala que objetiva conhecer a fundo os
problemas e necessidades do sistema
educacional brasileiro e fornecer subsídios para
formulação, reformulação e monitoramento de
políticas públicas, contribuindo para a ampliação
da qualidade do ensino.
Em 2005, o SAEB foi reformulado,
passando a ser organizado em dois processos: a
Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB)
e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(ANRESC).
• A ANEB é realizada por amostragem das
Redes de Ensino, em cada unidade da
Federação e tem foco nas gestões dos
sistemas educacionais. Por manter as
mesmas características, a ANEB recebe
o nome do SAEB em suas divulgações.
• A ANRESC é mais extensa e detalhada
que a ANEB e tem foco em cada unidade
1 O presente texto foi elaborado a partir dos seguintes documentos: BRASIL. MEC/INEP, Matrizes Curriculares de Referência para o SAEB. Brasília, 1997. BRASIL. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB. Disponível em: http://www.inep.gov.br/saeb. Acesso em 02 abr. 2009.
escolar. Avalia as escolas públicas
urbanas com mais de 30 alunos. Por seu
caráter universal, recebe o nome de
Prova Brasil em suas divulgações.
Os principais objetivos do SAEB são:
identificar os problemas e as diferenças regionais
do ensino; oferecer subsídios à formulação,
reformulação e monitoramento de políticas
públicas e programas de intervenção ajustados às
necessidades diagnosticadas nas áreas e etapas
de ensino avaliadas; proporcionar aos agentes
educacionais e à sociedade uma visão clara e
concreta dos resultados dos processos de ensino
e aprendizagem e das condições em que são
desenvolvidos; produzir informações sobre os
fatores do contexto socioeconômico, cultural e
escolar que influenciam o desempenho dos
alunos; desenvolver competência técnica e
científica na área de avaliação educacional,
ativando o intercâmbio entre instituições
educacionais de ensino e pesquisa; consolidar
uma cultura de avaliação nas redes e instituições
de ensino e comparar o desempenho dos alunos
e do sistema educacional brasileiro com o de
outros países.
As informações obtidas também permitem
acompanhar a evolução da qualidade da
educação ao longo dos anos. Essas informações
são utilizadas principalmente pelo Ministério da
Educação e secretarias estaduais e municipais,
para que possam direcionar seus recursos
técnicos e financeiros para áreas prioritárias,
visando ao desenvolvimento do Sistema
5
Educacional Brasileiro e à redução de suas
desigualdades. Assim, por meio do SAEB, é
possível conhecer a realidade educacional
brasileira e, especificamente, a de cada região, a
de redes de ensino pública e privada nos estados
e no Distrito Federal.
O SAEB é aplicado a cada dois anos.
Avalia o desempenho dos estudantes brasileiros
da 4ª e da 8ª séries do ensino fundamental (5º e
9º ano do ensino fundamental de 9 anos) e da 3ª
série do ensino médio, nas disciplinas de Língua
Portuguesa (Leitura) e Matemática.
O SAEB avalia alunos da rede pública e
da rede privada, de escolas localizadas nas áreas
urbana e rural, porém, a participação é voluntária.
São utilizados dois instrumentos:
• testes, pelos quais são medidos os
desempenhos dos alunos nas disciplinas
de Língua Portuguesa (Foco: Leitura) e
Matemática (Foco: Resolução de
problemas);
• questionários, pelos quais são coletadas
informações sobre o contexto social,
econômico e cultural dos alunos e ainda
sobre a trajetória de sua escolarização.
Professores e diretores também são
convidados a responder questionários que
possibilitam conhecer a formação profissional, as
práticas pedagógicas, o nível socioeconômico e
cultural, os estilos de liderança e as formas de
gestão. São coletadas, ainda, informações sobre
o clima acadêmico da escola, o clima disciplinar,
os recursos pedagógicos disponíveis, a infra-
estrutura e os recursos humanos. Na mesma
ocasião, é preenchido, pelo aplicador dos testes,
um formulário sobre as condições de infra-
estrutura das escolas que participam da
avaliação.
A elaboração dos itens dos testes é feita
com base nas Matrizes de Referência do
SAEB/Prova Brasil, que constituem um
documento orientador desse processo. A
justificativa para isso é que “a realização de uma
avaliação de sistema com amplitude nacional,
para ser efetiva, exige a construção de uma
matriz de referência que dê transparência e
legitimidade ao processo de avaliação,
informando aos interessados o que será avaliado”
(http://www.inep.gov.br/saeb). Essas matrizes
descrevem o objeto da avaliação e constituem um
referencial curricular mínimo a ser avaliado em
cada disciplina e série, informando as
competências e habilidades esperadas dos
alunos.
Torna-se necessário ressaltar que as
matrizes não englobam todo o currículo escolar. É
feito um recorte com base no que possa ser
aferido por meio do tipo de instrumento de
medida utilizado no SAEB e na Prova Brasil e
que, ao mesmo tempo, seja representativo do que
está contemplado nos currículos vigentes no
Brasil.
As matrizes não podem ser confundidas
com procedimentos, estratégias de ensino ou
orientações metodológicas, nem com conteúdo
para o desenvolvimento do trabalho do professor
em sala de aula.
As matrizes têm por referência os
Parâmetros Curriculares Nacionais, mas foram
construídas a partir de uma consulta nacional aos
currículos propostos pelas Secretarias Estaduais
de Educação e por algumas redes municipais,
obtendo-se uma síntese do que havia de comum
entre elas. No entanto, considerando que há uma
grande distância entre o currículo proposto e o
ensinado de fato, o INEP consultou professores
das capitais brasileiras (regentes das redes
6
pública e privada que atuam na 4ª e 8ª série do
Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino
Médio), das disciplinas de Língua Portuguesa e
Matemática e examinou os livros didáticos mais
utilizados nessas séries para validar a listagem
inicial.
Em seguida, foram incorporadas análises
de professores e especialistas nas áreas do
conhecimento avaliadas pelo SAEB. A partir
dessas análises, optou-se pelo aporte teórico que
considera a existência de competências
cognitivas e habilidades a serem desenvolvidas
pelo estudante no processo de ensino-
aprendizagem. Os conteúdos associados às
competências e habilidades desejáveis para cada
série e para cada disciplina foram subdivididos
em partes menores, cada uma especificando o
que os itens das provas do SAEB devem medir –
essas unidades são denominadas “descritores”.
Cada descritor dá origem a diferentes itens e a
partir das respostas dos estudantes, verifica-se o
que sabem e conseguem fazer com os
conhecimentos adquiridos.
A seleção das escolas para realizar a
prova é efetuada de forma aleatória, a partir do
cadastro do Censo Educacional do MEC. A
avaliação é amostral, ou seja, apenas parte dos
estudantes brasileiros das séries avaliadas
participa da prova. Por ser amostral, oferece
resultados de desempenho apenas para o Brasil,
regiões e unidades da Federação.
O SAEB não tem como objetivo avaliar
escolas, mas o sistema educacional como um
todo. Os resultados obtidos são encaminhados
para os gestores do sistema (Ministério da
Educação, Secretarias Estaduais e Municipais de
Educação), para que as informações possam ser
utilizadas no processo de planejamento e de
elaboração de políticas públicas na área
educacional. Ao MEC cabe apontar problemas e
sugerir linhas de ação às Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação.
Apresentadas as informações sobre o
que é o SAEB, seus objetivos, suas
características e sua operacionalização, é
importante que se reflita: se os resultados obtidos
são encaminhados aos gestores do MEC e das
secretarias de educação, não seria o caso de eles
elaborarem uma síntese dos que se relacionam
diretamente ao seu contexto e discuti-los com os
educadores que atuam nas escolas? Não seria o
caso de se criarem ações, juntamente com as
equipes escolares, voltadas para a melhoria do
seu trabalho pedagógico? O que se propõe é que
cada escola tenha conhecimento dos resultados
do sistema de ensino ao qual pertence e participe
da construção de estratégias para o seu
desenvolvimento. Não estará o SAEB muito
distante das escolas?
7
CONHECENDO O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO - ENEM
Verinez Carlota Ferreira
O Exame Nacional do Ensino Médio –
ENEM1 faz parte de um amplo sistema de
avaliação e informação da educação criado nos
anos 1990. Foi instituído pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, em
1998, para ser aplicado aos estudantes
concluintes do ensino médio e aos egressos
deste nível de ensino. O ENEM é realizado
anualmente, com o objetivo fundamental de
avaliar o desempenho do aluno ao término da
escolaridade básica, para aferir o
desenvolvimento de competências fundamentais
ao exercício pleno da cidadania, conferir ao
indivíduo parâmetros para autoavaliação, criar
referência nacional para os egressos desta
modalidade, bem como servir de modalidade
alternativa ou complementar aos processos de
seleção nos diferentes setores do mundo do
trabalho e alternativa de teste para o acesso à
educação superior.
Nesse sentido, o ENEM substitui o
vestibular apenas nas Universidades ou
Instituições de Educação Superior que assim o
desejarem, pois essas instituições são autônomas
e cabe a elas decidir se utilizarão os resultados
do Exame e de que forma isso será feito.
Atualmente já são cerca de 550 instituições de
Educação Superior, entre públicas e privadas,
que utilizam de alguma forma a nota do ENEM
em seu processo seletivo. Algumas até estudam
substituir o vestibular pelo ENEM como processo
1 O presente texto foi elaborado a partir do seguinte documento: BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixiera -INEP. O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. Disponível em http://www.inep.gov.br/enem - Acesso em 13 abr 2009.
seletivo, o que acaba sendo um atrativo a mais
para os estudantes participarem.
Qualquer pessoa pode fazer o Exame
quantas vezes quiser, e o Ministério da Educação
mantém, por 5 anos, um banco de dados sigiloso
com todos os resultados, entretanto, para o
processo seletivo do ProUni, só são consideradas
as médias da última edição do Exame.
Esse exame difere de outras avaliações
já propostas pelo Ministério da Educação. Centra-
se na avaliação de desempenho por
competências e vincula-se a um conceito mais
abrangente e estrutural da inteligência humana. O
exame tem caráter voluntário e é constituído por
uma prova única, interdisciplinar e
contextualizada com questões objetivas de
múltipla escolha e uma proposta para redação,
que abrange as várias áreas de conhecimento em
que se organizam as atividades pedagógicas da
escolaridade básica no Brasil.
Para estruturar o exame, concebeu-se
uma matriz com a indicação de competências e
habilidades associadas aos conteúdos do ensino
fundamental e médio que são próprias ao sujeito
na fase de desenvolvimento cognitivo,
correspondente ao término da escolaridade
básica. Tem como referência a LDB, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a
Reforma do Ensino Médio, bem como os textos
que sustentam sua organização curricular em
Áreas de Conhecimento, e, ainda, as Matrizes
Curriculares de Referência para o SAEB. As cinco
competências avaliadas no ENEM incluem:
§ domínio da língua portuguesa, domínio
das linguagens específicas das áreas
matemática, artística e científica;
8
§ aplicação de conceitos para a
compreensão de fenômenos naturais,
processos histórico-geográficos,
produção tecnológica e manifestações
artísticas;
§ utilização de dados e informações para
tomada de decisões diante de situações-
problema;
§ construção de argumentação consistente;
§ capacidade de elaboração de propostas
de intervenção na realidade, respeitando
valores humanos e considerando a
diversidade sócio-cultural do país.
A nota da prova é calculada da seguinte
forma: a parte objetiva é constituída por 63
questões de igual valor, avaliada numa escala de
0 a 100 pontos, gerando uma nota global que
corresponde à porcentagem de acertos em
relação às 63 questões propostas. Na redação,
também há uma nota global de 0 a 100. O
participante do ENEM recebe, no endereço que
indicou na ficha de inscrição, o Boletim Individual
de Resultados, e tem acesso ao seu Boletim
Individual de Resultado também pela internet.
Somente o participante poderá autorizar a
utilização dos resultados que obteve no Exame.
O desenvolvimento do ENEM, nos últimos
dez anos, acompanhou as profundas mudanças
legais, organizacionais e curriculares que
atingiram todas as etapas e modalidades de
educação, da pré-escola à educação superior. A
popularização alcançada na trajetória de uma
década do Exame foi marcada, sobretudo,
quando em 2004, o Ministério da Educação
instituiu o Programa Universidade para Todos
(ProUni) e vinculou a concessão de bolsas em
IES privadas à nota obtida no Exame. A sua
visibilidade pública aumentou consideravelmente
nos últimos três anos, quando o INEP passou a
divulgar as médias dos alunos por escola, por
município e por unidade da Federação. Outra
medida importante para democratizar o ENEM foi
a isenção do pagamento da taxa de inscrição
para os alunos da escola pública.
O Ministério da Educação (MEC) estuda
mudanças para o ENEM. O objetivo, segundo
informou Reynaldo Fernandes, presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio
Teixeira (INEP), é permitir a comparação entre as
notas de diferentes edições da prova. A nova
proposta prevê a substituição do vestibular das 55
universidades federais e de instituições estaduais
que adotarem a medida pelo Exame. Segundo o
ministro Fernando Haddad, o exame teria 200
questões de múltipla escolha e uma redação e
seria aplicado em dois dias. Atualmente, o ENEM
tem 63 questões e uma redação.
No novo formato, as questões seriam
divididas em quatro grupos: linguagens (incluindo
português, inglês e a redação), matemática,
ciências humanas e ciências da natureza. No
entanto, como a maior parte das universidades
aplica vestibular duas vezes por ano, não se
descarta a possibilidade de o ENEM ser aplicado
mais de uma vez no ano.
Reynaldo Fernandes afirmou que os
critérios do exame ainda serão discutidos; no
entanto, adiantou que o resultado obtido pelo
estudante em um exame continuará válido
mesmo após a aplicação de outro ENEM. “Ele só
vai refazer [o ENEM] para aumentar a
pontuação”, explica. Um exemplo disso é que,
atualmente, quem fez ENEM em um ano e quer
prestar vestibular em outro ano, não pode usar a
pontuação antiga. A mesma restrição existe para
quem busca uma bolsa de estudos pelo
Programa Universidade para Todos (ProUni), do
governo federal. De acordo com as regras atuais
do programa, como já foi citado anteriormente, só
quem fez a última edição do ENEM pode disputar.
9
Fernandes acrescentou que o modelo
será usado como uma espécie de “pesca” por
parte do estudante, que poderá escolher a
universidade onde deseja estudar, de acordo com
a nota que obtiver na prova. Para o ministro
Haddad, o novo formato do ENEM permitirá maior
mobilidade dos alunos entre as unidades da
Federação. Segundo ele, apenas 0,04% dos
estudantes matriculados no primeiro ano do
ensino superior têm origem em estado diferente
da unidade da federação onde estudam. “Nos
Estados Unidos, 20% dos alunos são oriundos de
estados diferentes de onde cursam a
universidade”, comparou.
Uma nota técnica com a proposta foi
enviada para análise da Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes) e precisa da aprovação dos
reitores das universidades para entrar em vigor. A
ideia é unificar o acesso às vagas em
universidades federais e estaduais, mas, como
têm autonomia, as instituições podem aderir ou
não ao novo ENEM.
Segundo Andreas Schleicher,
responsável pelo Pisa, elaborado pela
Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), a mudança
no ENEM é um desafio. “A avaliação tem de ser
relevante para o momento em que é aplicada.
Não se deve congelar um exame só para que se
possa fazer as comparações. Mas o ENEM é uma
prova nova e sempre tem de passar por
melhoras” (www.excelenciaglobal.com.br/noticias.
Acesso em 16 abr 2009) , afirmou. Contudo, torna-
se necessário compreender quais estudantes
serão beneficiados pelas mudanças que poderão
ocorrer.
.
10
CONHECENDO A PROVA BRASIL
Marilene Pinheiro Marinho
Os estudantes de 4ª. série / 5º ano e 8ª série /
9ºano do Ensino Fundamental das escolas
públicas brasileiras, em novembro de 2009,
realizarão pela 3ª vez a Prova Brasil1 – Exame
Nacional do Rendimento Escolar - que avalia as
habilidades em Língua Portuguesa (foco em
leitura) e Matemática (foco na resolução de
problemas).
O exame foi criado em 2005 e ocorre a
cada dois anos nas referidas séries/anos em
escolas urbanas. A partir de 2009, as instituições
de ensino localizadas na zona rural com mais de
vinte alunos também aplicarão a prova.
A Prova Brasil é um instrumento de
avaliação do sistema educacional brasileiro criado
para auxiliar o desenvolvimento e implementação
de políticas públicas educacionais. Avalia o que
os alunos sabem em termos de habilidades e
competências.
De acordo com o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP –
autarquia do Ministério da Educação (MEC) e
responsável pelo exame, a Prova Brasil serve
para “produzir informações sobre o ensino
oferecido por município e escola, individualmente,
com o objetivo de auxiliar os governantes nas
decisões e no direcionamento de recursos
técnicos e financeiros, assim como a comunidade
escolar no estabelecimento de metas e
implantação de ações pedagógicas e
administrativas, visando melhorar a qualidade do
ensino”. A partir dos dados coletados, o MEC e as 1 As informações aqui apresentadas foram retiradas do site http://inep.gov.br e de documentos do MEC sobre o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação – e sobre a Prova Brasil.
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação
podem definir ações voltadas à correção de
distorções e debilidades identificadas. Além disso,
podem direcionar recursos técnicos e financeiros
para medidas prioritárias, visando ao
desenvolvimento do sistema educacional
brasileiro e à redução das desigualdades
existentes.
O exame é elaborado a partir de Matrizes
de Referência, um documento em que estão
descritas as habilidades a serem avaliadas e as
orientações para a elaboração das questões.
Essas matrizes reúnem o conteúdo a ser avaliado
em cada disciplina e série. A construção das
Matrizes de Referência tem como base a consulta
aos Parâmetros Curriculares Nacionais e às
propostas curriculares dos estados brasileiros e
de alguns municípios, alcançando-se uma síntese
do que há de comum entre elas.
As provas são aplicadas na própria
escola por profissionais de uma empresa
contratada exclusivamente para esse fim. Esses
aplicadores são treinados e capacitados para
manterem os critérios e a padronização dos
testes em âmbito nacional. Crianças portadoras
de necessidades especiais também podem
participar das avaliações. Logo após a realização
dos testes, os estudantes respondem a um
questionário socioeconômico e cultural, com 44
questões, que serve para a sua caracterização.
Professores de Língua Portuguesa e Matemática
das séries avaliadas, além dos diretores das
escolas, também são convidados a responder
questionários que possibilitam conhecer a
formação profissional, práticas pedagógicas, nível
11
socioeconômico e cultural, estilos de liderança e
formas de gestão. Os questionários destinados
aos professores e diretores são entregues pelos
aplicadores antes da realização dos testes por
parte dos alunos e devem ser recolhidos ao final
da prova. São coletadas, ainda, informações
sobre o clima acadêmico da escola, clima
disciplinar, recursos pedagógicos disponíveis,
infraestrutura e recursos humanos. Na mesma
ocasião, é preenchido pelos aplicadores dos
testes um formulário sobre as condições de
infraestrutura das escolas que participam da
avaliação. De posse desses dados, é possível o
estudo de fatores associados ao desempenho
dos alunos.
As médias são apresentadas em uma
escala de desempenho capaz de descrever, em
cada nível, as competências e as habilidades que
os estudantes desses sistemas demonstram ter
desenvolvido. Há uma escala descrita para as
habilidades em língua portuguesa e outra para
Matemática. A escala descreve as competências
e as habilidades que os estudantes são capazes
de demonstrar; é numérica e varia de 0 a 500.
Como os números indicam apenas uma posição,
é feita uma interpretação pedagógica dos
resultados por meio da descrição, em cada nível,
do grupo de habilidades que os estudantes
demonstraram ter desenvolvido ao responderem
às provas.
A avaliação é quase universal, pois se
destina a todos os estudantes das séries
avaliadas de todas as escolas públicas
brasileiras. A participação das escolas se dá por
meio de adesão das redes municipal ou estadual.
As escolas em que a participação dos alunos no
dia da aplicação for muito pequena com relação
ao número de alunos matriculados na série, não
terão seu desempenho divulgado.
Os resultados fornecem a média de
desempenho para o Brasil, regiões e unidades da
Federação, para cada um dos municípios e
escolas participantes. Parte das escolas que
participam da Prova Brasil ajuda a construir
também os resultados do SAEB, por meio de
recorte amostral.
O nível de rendimento escolar avaliado
pelo desempenho dos estudantes na Prova
Brasil, relacionado com a velocidade de seu
avanço dentro da escola, fornece o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
daquela escola. Isto quer dizer que, quanto mais
altos os escores na Prova Brasil e quanto menos
repetências, maior o índice no IDEB. Esse índice
pretende identificar as instituições de ensino que
apresentam maiores fragilidades no desempenho
escolar e propiciar uma orientação nas
implementações de políticas públicas
educacionais para a melhoria da Educação
Básica brasileira.
Os resultados são apresentados em
sistema de consulta pela Internet e enviados às
redes e escolas participantes, com material
explicativo que auxilia a compreensão e análise
dos resultados pela comunidade escolar. Não há
nota individual por aluno.
Com os resultados, é possível fazer um
diagnóstico da situação nacional e regional da
educação no país. Os dados serão utilizados para
calcular o IDEB e melhorar a qualidade do ensino
básico, uma das metas do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE). A partir
das informações do SAEB e da Prova Brasil, o
MEC e as secretarias estaduais e municipais de
Educação podem definir ações voltadas ao
aprimoramento da qualidade da educação no país
e a redução das desigualdades existentes,
promovendo, por exemplo, a correção de
12
distorções e debilidades identificadas e
direcionando seus recursos técnicos e financeiros
para áreas identificadas como prioritárias.
Os resultados da Prova Brasil podem ser
usados de forma inadequada quando servem
para comparar escolas. O objetivo é que os
resultados apresentados sejam incorporados
pelos professores, equipes pedagógicas, gestores
e pela própria sociedade e que fomentem o
debate e um trabalho pedagógico que subsidiem
a melhoria da qualidade educacional dos
sistemas. A rede ou a escola pode comparar seus
resultados com seus próprios objetivos,
observando, por exemplo, até que ponto as
habilidades que foram planejadas para serem
trabalhadas com seus alunos foram alcançadas.
Como se percebe, não há a intenção
aparente de se estabelecerem comparações
entre escolas. Quem faz os ranqueamentos? Por
que são feitos? Por que não são combatidos?
A seguir apresenta-se um quadro
comparativo entre a Prova Brasil e o SAEB.
13
Quadro comparativo entre a Prova Brasil e o SAEB
A Prova Brasil e o SAEB são dois exames complementares que compõem o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica. O quadro comparativo abaixo possibilita conhecer os pontos em comum e as diferenças entre as duas avaliações. Fonte: http://www.inep.gov.br
Prova Brasil SAEB
A prova foi criada em 2005. A primeira aplicação ocorreu em 1990.
Sua primeira edição foi em 2005; em 2007 houve nova aplicação. Ocorre a cada dois anos.
É aplicado de dois em dois anos. A última edição foi em 2005. Em 2007 houve nova prova
A Prova Brasil avalia as habilidades em Língua Portuguesa (foco em leitura) e Matemática (foco na resolução de problemas)
Alunos fazem prova de Língua Portuguesa (foco em leitura) e Matemática (foco na resolução de problemas)
Avalia apenas estudantes de ensino fundamental, de 4ª série/ 5º ano e 8ª série/ 9º ano de escolas públicas.
Avalia estudantes de 4ª série/ 5º ano e 8ª série/ 9º ano do ensino fundamental e estudantes do 3º ano do ensino médio da rede pública e privada.
A Prova Brasil avalia as escolas públicas localizadas em área urbana
Avalia alunos da rede pública e da rede privada, de escolas localizadas nas áreas urbana e rural.
A avaliação é quase universal: todos os estudantes das séries avaliadas, de todas as escolas públicas urbanas do Brasil com mais de 20 alunos na série, devem fazer a prova
A avaliação é amostral, ou seja, apenas parte dos estudantes brasileiros das séries avaliadas participam da prova
Por ser universal, expande o alcance dos resultados oferecidos pelo SAEB. Como resultado, fornece as médias de desempenho para o Brasil, regiões e unidades da Federação, para cada um dos municípios e escolas participantes.
Por ser amostral, oferece resultados de desempenho apenas para o Brasil, regiões e unidades da Federação.
Parte das escolas que participarem da Prova Brasil ajuda a construir também os resultados do Saeb, por meio de recorte amostral.
Todos os alunos do SAEB e da Prova Brasil farão uma única avaliação.
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CONHECENDO A PROVINHA BRASIL
Enilvia Rocha Morato Soares Lílian A. Maciel Cardoso
Maria Theresa de O.Corrêa Vânia Leila de Castro Nogueira
A avaliação da aprendizagem escolar tem
sido alvo de intensas pesquisas e debates
realizados por diversos estudiosos que, se
divergentes em alguns aspectos, convergem suas
opiniões para um fato: a avaliação é um processo
político-pedagógico, com profundas implicações
sociais.
Assim sendo, as instâncias
governamentais, situadas no âmbito educacional,
vêm desenvolvendo as avaliações em larga
escala para identificar as potencialidades e
fragilidades de suas Redes de Ensino, de
maneira a orientar políticas educacionais que
viabilizem a promoção de uma educação de
qualidade.4
Essa iniciativa tem alcançado destaque
no cenário educativo nacional, dividindo opiniões
a respeito da sua aplicabilidade e criando
impactos nas salas de aula.
Embora essas avaliações tenham seus
resultados amplamente divulgados por meio da
mídia, de um modo geral, os seus contextos de
criação, públicos-alvo, objetivos, pressupostos
teóricos e metodologias, parecem, ainda, não
serem do total conhecimento de parte da
sociedade.
Assim sendo, no sentido de contribuir
para a socialização de informações acerca da
Avaliação da Educação Básica no Brasil, o Grupo
4 Não é intenção desse trabalho o aprofundamento nas questões que subjazem aos conceitos de qualidade presentes nos diversos discursos. Para efeitos desse trabalho, entende-se por uma educação de qualidade aquela que favorece as condições necessárias para que todos os alunos aprendam e se desenvolvam.
de Estudos e Pesquisas em Avaliação e
Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA -
destina esse espaço à apresentação e
considerações sobre a Provinha Brasil.
Essa avaliação foi idealizada e
desenvolvida em função do baixo desempenho no
processo de aquisição da leitura apresentado
pelos alunos das instituições educativas
brasileiras concluintes da 4ª e 8ª séries (5° e 9°
anos) do Ensino Fundamental e 3ª série do
Ensino Médio, identificado, desde 1990, pelo
Sistema de Avaliação da Educação Básica –
SAEB.
Com o propósito de reverter esse quadro,
o governo federal e demais esferas
administrativas implementaram algumas ações.
Dentre elas, a ampliação do Ensino Fundamental
de oito para nove anos5, com a inserção
obrigatória das crianças de seis anos, em
cumprimento à LDB 9394/96.
Essa iniciativa possibilita um tempo maior
de escolarização dedicado ao processo de
alfabetização. Alguns resultados de estudos
demonstraram que crianças que tiveram a
oportunidade de frequentar a pré-escola, antes
dos sete anos de idade, apresentaram melhores
médias de proficiência em leitura que aquelas que
não tiveram essa experiência (MEC, 2007).
Outra iniciativa adotada pelo MEC foi o
lançamento do Plano de Desenvolvimento da
Educação – PDE. Este documento objetiva a
sistematização de ações que favoreçam uma
5 Por meio da Lei 11.274/06
15
educação de qualidade e destaca a importância
da avaliação sistemática, em âmbito nacional, das
habilidades relacionadas ao processo de
alfabetização.
Assim sendo, na perspectiva de melhorar
os níveis de alfabetização e letramento, foi
instituída a Provinha Brasil.
O que é a Provinha Brasil
A Provinha Brasil é um instrumento de
avaliação diagnóstica, instituída pelo MEC em
abril de 2007, por meio da Portaria Ministerial nº
10, destinada a avaliar o nível de alfabetização
dos alunos no segundo ano de escolarização.
Segundo as concepções apresentadas
nos documentos orientadores desse instrumento
de avaliação, “o processo de alfabetização é
entendido como a apropriação do sistema de
escrita que supõe a compreensão do princípio
alfabético, indispensável ao domínio da leitura e
da escrita. O letramento refere-se às práticas e
usos sociais da leitura e da escrita em diferentes
contextos (...) a alfabetização e o letramento são
processos complementares e inseparáveis”.
(MEC, 2009-a, p.7).
Sendo uma de suas finalidades “construir
um instrumento pedagógico sem fins
classificatórios” (MEC, 2009-b, p.7), a Provinha
Brasil tem por objetivos:
• avaliar o nível de alfabetização dos
alunos nos anos iniciais do ensino
fundamental;
• oferecer às redes de ensino um
diagnóstico das dificuldades de
aprendizagem da leitura e escrita no
período inicial da escolarização;
• contribuir para a melhoria da qualidade de
ensino e redução das desigualdades, de
modo que as crianças sejam
alfabetizadas até, no máximo, os oito
anos de idade, conforme a meta
explicitada no Plano de Metas –
Compromisso de Todos Pela Educação.
Embora a Provinha Brasil
componha o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica, proposto pelo MEC, ela se
diferencia das demais avaliações padronizadas
em alguns aspectos:
Ø seus resultados não são utilizados na
composição do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica –
IDEB;
Ø tem como finalidade principal apoiar o
trabalho do professor;
Ø a adesão é voluntária, por rede de
ensino, com base em critérios para
participação definidos pelo INEP/MEC;
Ø a aplicação é descentralizada, são os
próprios professores das redes avaliadas
que aplicam a “provinha”, no início e final
de cada ano, em período definido pelo
MEC e dia escolhido pela própria rede
de ensino.
Para a sua realização, o MEC
disponibiliza às Redes de Ensino que
manifestarem interesse em participar dessa
avaliação, já que a adesão é voluntária e por
rede, o “Kit da provinha Brasil”, contendo
instruções para a aplicação, correção e
interpretação dos resultados das provas. O
material é composto dos seguintes cadernos:
Orientações para as Secretarias de Educação;
Passo a Passo; Caderno de teste do aluno;
Caderno do professor/aplicador I - Orientações
Gerais; Caderno do Professor/Aplicador II - Guia
de Aplicação; Guia de correção e interpretação
dos resultados e Reflexões sobre a prática.
Metodologia utilizada
16
Para a elaboração dessa avaliação,
destaca-se que, em função das características do
instrumento e da metodologia utilizados, “nem
todas as habilidades a serem desenvolvidas
durante o processo de alfabetização são
passíveis de verificação por meio da Provinha
Brasil” (MEC, 2009-c, p.10).
Assim sendo, a equipe de especialistas
responsável pela sua elaboração selecionou
algumas habilidades, considerando a matriz de
referência construída a partir do que há de
comum no currículo do ciclo de alfabetização no
país, portanto, ela não equivale à matriz curricular
uma vez que não engloba todo o currículo
escolar.
No teste, as habilidades definidas para
avaliar a leitura e a escrita “são aquelas que
podem dar informações relevantes em função dos
objetivos propostos e das condições impostas no
âmbito dessa avaliação” (MEC, 2009-c, p.11.).
Essas habilidades são agrupadas em 4 (quatro
eixos): domínio do sistema de escrita, domínio da
Leitura, domínio da escrita e compreensão e
valorização da cultura escrita. O último eixo não
é tratado separadamente na Matriz de Referência
da Provinha Brasil, mas as habilidades que o
compõem permeiam a concepção do teste, na
medida em que subjazem à elaboração das
questões de leitura. Em cada eixo são descritas
as habilidades selecionadas para avaliá-lo,
denominadas de descritores.
O primeiro ciclo de aplicação do teste
foi executado no ano de 2008 e composto por 24
questões de múltipla escolha e 3 de escrita. No
segundo ciclo, em desenvolvimento neste ano
(2009), não haverá questões escritas, de modo
que só será avaliada a leitura, fato que restringiu
a matriz a três eixos.
Em cada eixo são descritas as
habilidades selecionadas para avaliá-lo,
denominadas de descritores.
O teste é aplicado na sala e horário de
aula, pelo professor da turma ou outro, a critério
da secretaria de educação. Os resultados são
processados com base no “Guia de correção e
interpretação dos resultados”, de modo que o
professor possa comparar seus registros
avaliativos com os resultados das crianças nos
exames para, de imediato, constatar o
desempenho de sua turma. Os resultados podem
ser utilizados para traçar o panorama do trabalho
pedagógico da escola, da regional de ensino ou
de toda a rede.
As respostas dos alunos ao teste podem
ser interpretadas estabelecendo-se uma relação
entre o número ou a média de acertos de um ou
mais alunos e sua correspondência com níveis de
desempenhos descritos para a Provinha Brasil.
Para constituir os níveis de desempenho
foi realizada uma análise da dificuldade das
habilidades medidas no teste. A partir dessa
análise, foram identificados e descritos cinco
níveis de alfabetização em que os alunos podem
estar, em função do número de questões de
múltipla escolha respondidas corretamente. Eles
são assim denominados: Nível 1 – até 13 acertos,
Nível 2 – de 14 a 17 acertos, Nível 3 – de 18 a 20
acertos, Nível 4 – de 21 a 22 acertos, Nível 5 – de
23 a 24 acertos. Cada nível apresenta novas
habilidades e engloba as anteriores.
Consideram-se as habilidades descritas
no nível 4 como as que caracterizam a
consolidação do processo de alfabetização,
observando o termo consolidação como a
expressão de uma etapa de culminância do
processo de alfabetização e não como
“conclusão”.
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Provinha Brasil: experiências e considerações
Refletindo sobre a Provinha Brasil na
edição especial do Jornal letra A (2008), Miguel
Arroyo ressalta que os efeitos das provinhas
estão na dependência dos usos que forem feitos
dos seus resultados. E mais, que há uma
intenção política de confrontar coletivos, portanto,
do seu ponto de vista, seria ingênuo pensar que
os resultados das provinhas servem apenas para
melhor diagnosticar e intervir. Elas servem
também para classificar e segregar coletivos a
partir dos índices alcançados.
Considerando a relação entre os usos e
os efeitos da avaliação, o relato da experiência de
uma assessora pedagógica de uma Secretaria
Municipal de Educação – SME - destaca alguns
aspectos relativos à aplicação e usos da provinha
Brasil.
Nessa secretaria municipal de Educação,
o acompanhamento, pela secretaria, tem ocorrido
de forma indireta. Ela recebe e repassa o material
com as orientações para as unidades escolares,
orienta no sentido de que se faça o estudo do
material. Nas escolas os professores têm feito
reuniões para leitura e estudo, mas, na visão da
assessora,
“falta maior fundamentação sobre como trabalhar e avaliar capacidades de leitura e nem todos da equipe da SME compreendem como as habilidades da matriz de referência se expressam no instrumento avaliativo. Isso representa um entrave para que os resultados, de fato, sejam utilizados em prol da superação das dificuldades apontadas na provinha”.
Em 2008, após a aplicação e correção da
provinha, essa assessora realizou uma análise
com coordenadores da rede municipal de ensino
e com professores de uma escola (cujos
trabalhos estavam sob sua responsabilidade),
separadamente. Com os coordenadores o
trabalho foi realizado como parte de uma reunião
da SME para tratar dos resultados da provinha no
município em que ela atua. Na oportunidade,
foram apresentados alguns mapas de
produtividade e destacados alguns problemas
relacionados à aplicação da provinha. Vale situar
que naquele ano as provas foram corrigidas pela
equipe da SME, o que possibilitou à assessora
identificar, por meio da análise das provas, alguns
problemas.
A discussão e análise da provinha com os
professores deveriam ser realizadas nas escolas
pelas suas respectivas equipes, contudo, a
pedido da coordenação pedagógica de uma
escola, esse trabalho foi realizado pela
assessora, uma vez que é papel da assessoria
apoiar as coordenações pedagógicas em suas
ações. Vale registrar que essa escola alcançou,
na provinha Brasil de 2008, pontuação
correspondente ao nível que demonstra domínio
do sistema de escrita e compreensão de textos
simples. Mesmo assim foi solicitado o apoio da
assessora, fato que ratifica a necessidade de um
trabalho constante das secretarias de educação
junto a todas as escolas, apoiando-as, induzindo-
as a práticas que promovam melhorias no ensino
e na aprendizagem.
Nesse trabalho foram identificados alguns
problemas na análise da provinha, dentre os
quais:
• indícios de que algumas crianças não
fizeram o ditado no momento da prova,
uma vez que a palavra ditada foi
tartaruga e o aluno escreveu jaboti; a
frase ditada foi “a garota perdeu o seu
gato” e várias crianças escreveram “a
menina perdeu o seu gato”, e uma ainda
completou a frase com “e outro achou”;
• alunos que repetiram a mesma frase até
completar o espaço disponível para o
ditado;
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• ou, ainda, que os professores aplicadores
auxiliaram os alunos durante a prova,
uma vez que alguns alunos responderam
questões que exigem leitura autônoma e
não conseguiram escrever nenhuma
palavra do ditado, nem mesmo aquelas
formadas com sílabas canônicas
(consoante + vogal), por exemplo,
banana.
Se o professor interfere nas respostas
das crianças, as informações obtidas não
traduzem a realidade. Esse fato compromete a
visibilidade das necessidades da turma no
processo de alfabetização e, consequentemente,
a proposta de intervenção ficará prejudicada.
Além dos exemplos já citados, a assessora
observou que
“um aluno que acertou todas as questões, inclusive as que requeriam leitura autônoma, escreveu corretamente as palavras ditadas e no ditado de frases o mesmo aluno escreveu “silabicamente” – a ga ro ta per deu o se u ga to – o que parece decorrer do fato de a professora ter ditado a frase fazendo pausa entre as sílabas, evidenciando, por exemplo, o “u” da palavra “seu”. Uma criança pode escrever dessa forma, mas nesse caso estaria no nível silábico, e, nesse nível do processo de alfabetização, não teria o desempenho que ela demonstrou nas outras questões da prova.”
Esse fato pode sinalizar um equívoco na
compreensão acerca do que o instrumento
propõe como descrição das habilidades de
linguagem. Essa possibilidade é percebida em
outro contexto de avaliação das capacidades de
leitura, em que a necessidade de maior
fundamentação sobre como avaliar aquelas
habilidades também foi evidenciada. Segundo
destacou a assessora entrevistada, algumas falas
de professores no decorrer do estudo sobre a
Provinha Brasil remetem à elaboração do dossiê6
6 Ficha de acompanhamento de desenvolvimento do aluno, adotada pela Secretaria Municipal de Educação em que atua
e evidenciam que nas discussões e estudos
sobre a provinha alguns professores apontaram
indiretamente dificuldades sentidas (identificar e
descrever as habilidades de linguagem dos seus
alunos) e algumas vezes conseguiram minimizá-
las. Um exemplo citado pela assessora foi a
descoberta de uma professora: “agora que eu
consegui entender como deve ser feito o relatório
do aluno, como trabalhar com o dossiê”.
Segundo destacaram Souza e Cardoso
Junior (2008), para alguns colaboradores na
elaboração da provinha e pesquisadores no
campo da avaliação, como Cláudio Albuquerque,
será necessário um grande esforço das redes
para transformar a Provinha Brasil em
instrumento de formação. Conforme relato da
assessora, muito ainda precisa ser feito nesse
sentido pois,
“Eles [ equipe da SME] orientam a equipe da escola a fazer a leitura - os professores leem o material, mas falta maior fundamentação para entender como isso funciona, percebi isso claramente quando fiz o trabalho em uma escola. (...) Vi a preocupação dos coordenadores pedagógicos e a vontade de fazer, mas eles apenas fazem a leitura do material do CEALE7, analisando o resultado obtido de acordo com os níveis”.
A matriz geral de referência com as
habilidades requeridas na prova, a descrição de
cada nível e o quadro relacionando quantidades
de acertos e níveis constam no caderno Passo a
passo, que compõe o “Kit da Provinha Brasil”.
Entretanto, o material não especifica qual
habilidade está sendo avaliada em cada questão,
de modo que os professores corrigem e
classificam o aluno por nível com base na
quantidade de acertos. A possibilidade de
identificar quais são as habilidades que cada
a assessora que faz o relato, na qual os professores registram bimestralmente, ao longo de cada ciclo, as aprendizagens dos alunos. 7 Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita, da Faculdade de Educação da UFMG, que participa da elaboração do kit da Provinha Brasil.
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aluno demonstrou em cada questão dependerá
dos conhecimentos e experiências de cada
professor.
Conforme a assessora entrevistada,
“apenas aqueles [profissionais] que estão
acostumados com esse tipo de análise, coisa que
não acontece com grande parte dos professores”,
consegue analisar o resultado da provinha assim.
Essa afirmação sugere que, se os professores
não tiverem uma boa compreensão de quais
habilidades cada questão requer, não terão
condições de fazer uma análise mais
aprofundada do desempenho dos alunos e
podem apresentar grandes dificuldades para
adequar as intervenções às reais necessidades
dos alunos.
O material disponibilizado pelo MEC
utiliza uma linguagem própria, que os avaliadores
precisam dominar (ex: sílabas canônicas e não
canônicas) para compreender as habilidades
descritas – ex: Identificar em uma questão,
quando a criança precisa estabelecer relação
entre letras (grafemas) e sons (fonemas) e
quando pode usar uma outra habilidade - ler
palavras com sílabas canônicas.
Para o estudo realizado com professores,
a assessora produziu uma matriz de análise das
capacidades de leitura avaliadas, em cada
questão da provinha analisada. Essa experiência,
apesar de incomum, dá pistas para inversão do
que tem ocorrido com certa frequência, ou seja, a
“refeitura” das questões da provinha em sala de
aula com o objetivo de treinar os alunos para
essa avaliação, ao invés de incluir na prática em
sala de aula atividades diversas que possibilitem
o desenvolvimento das capacidades de leitura.
O fato de algumas questões (com
adaptações das figuras) se repetirem em mais de
uma versão do teste contribui para reforçar o
empenho dos professores no treino dos alunos
para a “provinha”. Outros fatores, como
premiações oferecidas às escolas e professores,
induzem a essa prática. É preocupante, ainda, o
fato de o segundo ciclo da prova testar apenas a
leitura, uma vez que, sem as questões escritas,
algumas das análises realizadas acerca da
aplicação do teste serão inviáveis. Diante disso,
indaga-se: até que ponto tal mudança no teste
reforçará a prática do treino?
Uma professora da rede pública do
Distrito Federal fez o seguinte relato sobre a sua
experiência ao aplicar a Provinha Brasil: “Neste
ano de 2009, pela primeira vez, participei do
processo de aplicação da Provinha Brasil. Fui
avisada de sua aplicação na turma na minha
turma durante a coordenação pedagógica do dia
anterior. Não houve tempo para uma discussão
na escola sobre como se daria esse processo. No
dia seguinte, pela manhã, troquei de turma para
que outra professora pudesse aplicar a prova em
minha sala de aula e eu, em outra.
A mesma professora que aplicou a prova
também a corrigiu. Tendo em mãos as provas
corrigidas da minha turma, pude repensar a
relevância dos dados que elas apresentavam
para o trabalho pedagógico que desenvolvo com
as crianças, bem como para a escola como um
todo.
Os dados obtidos por meio da Provinha
Brasil revelaram os que eu já havia encontrado
em minha turma, porém pude trocar idéias com
minha colega de trabalho sobre as hipóteses de
escrita das crianças e os modos diferenciados
com os quais elas responderam às questões. Há
no material orientador de aplicação da provinha
textos reflexivos sobre os níveis de escrita das
crianças e sugestões de intervenções a serem
realizadas. Ler este material enriqueceu minhas
análises sobre como proceder para alcançar a
20
aprendizagem de todas as crianças sem com isso
criar uma representação de que eu não sabia o
que fazer.
Eu tenho na minha organização
pedagógica materiais de registro que revelam as
aprendizagens e necessidades das crianças em
torno da construção dos números e da escrita,
mas eles se diferenciam dos de meus colegas de
trabalho. Com o material da Provinha Brasil
percebo que minha escola tem objeto de estudo,
reflexão e encaminhamento de intervenções não
apenas para estudantes de um professor em
particular, mas de todas as turmas do 2º ano do
Bloco Inicial de Alfabetização – BIA - daquela
instituição de ensino.
É interessante relatar que durante o
processo de aplicação e correção criou-se um
clima de segredo sobre os dados que estavam
sendo encontrados por nós ao analisarmos as
provas. Quebrar esse clima foi no mínimo
interessante e importante para a escola, pois
começou a esboçar a possibilidade de reflexão
sobre o processo de aprendizagem do próprio
professor que busca compreender o trabalho
pedagógico que realiza.
Infelizmente não pudemos conversar
mais a fundo, dando espaço para interpretações
sobre os dados, nem ao menos refletir sobre a
influência de todo este movimento em nosso
trabalho pedagógico, bem como as impressões
que ficaram entre os professores, o coordenador
pedagógico e os gestores sobre os resultados
obtidos, porque, em seguida os professores da
rede pública do DF entraram em greve”. Esse
relato foi feito no mês de abril, quando os
professores da rede pública do Distrito Federal
estavam em greve.
Vale a pena refletir sobre esse “clima de
segredo” ao qual a professora se refere. Essa
percepção das professoras pode indicar a
representação social de exames que o
professorado tem, construído durante seu
percurso escolar como estudantes e docentes.
Ele pode revelar a distância que se cria entre os
exames externos e a escola. Nessa escola foi
possível “quebrar esse clima”, como relata a
professora, e criar a possibilidade de reflexão
sobre o trabalho pedagógico desenvolvido por ela
e suas colegas. Será que isso tem acontecido em
outras escolas? Ou a aplicação da Provinha
Brasil constitui um ato isolado, sem
consequências e sem articulação com a avaliação
praticada na instituição? Essa seria uma
investigação de cunho qualitativo importante a ser
conduzida.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel González. Reflexões sobre a Provinha Brasil. Letra A: o jornal do alfabetizador. Belo Horizonte: UFMG, Edição Especial, ano 4, junho/julho de 2008. Disponível em: <http://www.ceale.fae.ufmg.br/nomade/midia/docs/163/phpMJpK4L.pdf>
BRASIL, Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. MEC/SEB/SEI, 2007.
______. Ministério da Educação. Provinha Brasil: Guia de Correção e Interpretação de Resultados. SEB/MEC, 2009a. ______. Ministério da Educação. Provinha Brasil: reflexões sobre a prática. SEB/MEC, 2009b. ______. Ministério da Educação. Provinha Brasil: passo a passo. SEB/MEC, 2009c. _______. Portaria n.10 de 24 de abril de 2007. Institui a Provinha Brasil. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/provinha.pdf> SOUZA, Andreia e CARDOSO JUNIOR, Vicente. Novo olhar sobre a alfabetização. Letra A: o jornal do alfabetizador. Belo Horizonte: UFMG, Edição Especial, ano 4, junho/julho de 2008. Disponível em: <http://www.ceale.fae.ufmg.br/nomade/midia/docs/163/phpMJpK4L.pdf>
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CONHECENDO O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DAS INSTITUIÇÕES
EDUCACIONAIS DO SISTEMA DE ENSINO DO DISTRITO FEDERAL – SIADE
Carmyra Oliveira Batista
Cláudia Queiroz Miranda
Flávia Regina V. dos Santos
Rose Meire da Silva e Oliveira
Além de aderir aos exames externos
criados pelo MEC nos últimos anos, a Secretaria
de Estado de Educação do DF – SEEDF - criou,
por meio do Decreto nº 29.244, de 2 de julho de
2008, o Sistema de Avaliação do Desempenho
das Instituições Educacionais do Sistema de
Ensino - SIADE 1. Trata-se de
um instrumento permanente de planejamento, destinado a aferir as condições da oferta do ensino nas escolas públicas e privadas do DF, de forma a garantir o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Disponível em http://www.se.df.gov.br/300/30001007.asp?ttCD_CHAVE=13438. Acesso em 19 mar 2009).
Segundo informações contidas no site da
SEEDF, participam do SIADE “as instituições
urbanas e rurais de todas as etapas e
modalidades de ensino da educação básica da
rede pública de ensino e as instituições
educacionais credenciadas pela rede pública e
mantidas pela iniciativa privada”.
O SIADE é composto de três processos
de avaliação distintos:
I -Avaliação de Políticas Educacionais. II–Avaliação da Gestão Compartilhada, nos termos da Lei nº 4.036, de 2007, e da Gestão Escolar Regimental da Instituição Educacional, entendida esta como a verificação do ensino, nos termos da legislação vigente e da normatização aplicável. III– Avaliação do Rendimento Escolar.
De acordo com o artigo 2º do mencionado
decreto, os objetivos do SIADE são os seguintes:
1 As informações aqui apresentadas foram retiradas do texto SIADE – Sistema de Avaliação do Desempenho das Instituições Educacionais do Sistema de Ensino do Distrito Federal, disponível em www.se.df.gov.br. Acesso em 19/03/09.
I - Implementar um processo de avaliação da Educação Básica no Sistema de Ensino do Distrito Federal, para subsidiar a SEDF - Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal no exercício do processo decisório sobre as políticas educacionais adotadas, visando a assegurar o cumprimento do dever do Estado e o exercício do direito à Educação. II - Avaliar a oferta da Educação Infantil, da Educação Especial e o desempenho dos alunos do Ensino Fundamental e Médio, visando a fornecer informações ao órgão de planejamento educacional, às equipes da Subsecretaria de Educação Básica, às equipes técnico-pedagógicas das Diretorias Regionais de Ensino e às próprias instituições educacionais, que subsidiem: a) a política de formação continuada dos profissionais da educação; b) a reorientação da proposta pedagógica para a Educação Básica, de modo a aprimorá-la; c) a articulação dos resultados da avaliação com o planejamento escolar, a formação dos professores e o estabelecimento de metas para o projeto pedagógico de cada instituição educacional.
A avaliação do rendimento escolar se dá
da seguinte forma:
Etapa/modalidade Séries/anos avaliados
Educação infantil Avaliação da oferta
Ensino Fundamental 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries (duração de 8 anos)
3º, 5º, 7º e 9º ano (duração de 9 anos)
Ensino médio 3ª série
Educação de jovens e adultos
Final do 1º, 2ºe 3º segmentos
Educação especial Avaliação da oferta
Em novembro de 2008 foram aplicadas
provas de Língua Portuguesa com redação,
Matemática, Ciências, Física, Química e Biologia.
22
Em 2009 e 2010 também serão avaliados
componentes curriculares de História, Geografia,
Filosofia e Sociologia.
As provas serão aplicadas anualmente na
rede pública. Na rede privada, a sua aplicação é
obrigatória no ano anterior ao recredenciamento.
Contudo, as escolas poderão aderir à avaliação
quando desejarem.
A avaliação do rendimento dos
estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio será feita de forma censitária, isto é, todos
eles farão as provas. Nas demais etapas e
modalidades ela será feita com uma amostra de
alunos.
Em 2008, 2009 e 2010 o SIADE será
realizado pela Fundação CESGRANRIO,
entidade de direito privado sem fins lucrativos.
O SIADE possui uma particularidade que
necessita ser objeto de reflexão pelos professores
de toda a rede pública porque, por meio dele,
serão avaliadas a Gestão Compartilhada e a
Gestão Regimental da Instituição Educacional.
Além disso, ele serve de parâmetro à política de
incentivos da SEEDF, o Pró-Mérito, em forma de
14º salário, que virá em forma de bônus de até
R$ 4 mil reais para os professores que
melhorarem o desempenho da turma sob sua
responsabilidade.
A Gestão Compartilhada das escolas
públicas foi adotada pelo GDF a partir de 2007.
Nesse tipo de gestão, o grupo gestor é
selecionado via exame e critérios técnicos
associados à sua eleição pela comunidade
escolar.
Como o SIADE foi implantado
recentemente, ainda não se sabe como as
escolas recebem os seus resultados e como os
estão utilizando. Como eles estão se articulando
à avaliação formativa praticada pela escola?
Considerando-se que cabe à avaliação formativa
promover reflexão permanente na escola em
relação às aprendizagens de estudantes e
professores, os dados fornecidos pelo SIADE,
juntamente com os de outros exames externos,
oferecem contribuição para a organização do
trabalho pedagógico da escola e da sala de aula.
O que se espera é a abolição de práticas
avaliativas excludentes e classificatórias e a
criação de cultura avaliativa voltada para as
aprendizagens e o desenvolvimento da escola.
A implantação do SIADE nas escolas do
DF impõe as seguintes reflexões:
- Em que medida as políticas públicas
realmente expressam preocupação com as
análises e reflexões realizadas na/pela escola?
Que suporte elas oferecem para o avanço
pedagógico de cada instituição?
- O que motivou a implantação do SIADE
se já existem outros exames externos que
fornecem dados para as instituições
educacionais? Há a intenção, aqui no Distrito
Federal, de consolidar o ranqueamento entre as
escolas?
- Pretende-se, aqui no Distrito Federal,
adotar como referência para a aprendizagem os
conteúdos desses exames? Será que não há um
excesso de avaliações externas comprometendo
e/ou reduzindo o currículo da SEEDF? Esse
excesso não afeta a organização do trabalho
pedagógico da escola?
São perguntas que precisam passar pela
reflexão da equipe gestora e pedagógica de cada
escola, dos pais e/ou responsáveis, dos
Conselhos Escolares e outros educadores, de
forma que ela construa uma identidade
pedagógica que não se curve aos critérios
avaliativos classificatórios, aos sistemas
estruturados e aos resultados ranqueadores das
avaliações externas, que tanto agradam a mídia.
23
CONHECENDO O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – IDEB
Carmyra Oliveira Batista
São vários os caminhos que percorre um
professor em sua trajetória profissional. Estuda,
filia-se a uma instituição educacional para
trabalhar e assim começa a constituir com os
estudantes, com os colegas professores e demais
membros da comunidade escolar um diálogo para
validar suas concepções de formação e de algo
muito importante que ele implementa na escola: a
avaliação.
Mas o que significa avaliar na instituição
escolar? Para mim, avaliar significa um ato de
comunicação que envolve o diálogo colaborativo
e a capacidade de negociação entre professores,
estudantes, conhecimentos construídos e
objetivos a serem alcançados. Assim, a avaliação
tem por objetivo a aprendizagem, daquele que
estuda e daquele que organiza e coordena as
atividades de aprendizagem-ensino. Sabemos
que há quem considere avaliar como: medir,
selecionar. Outros consideram que avaliar é uma
forma de manter a “disciplina”, de menosprezar
as aprendizagens, motivo de medo, de
armadilhas ou de exercício indevido de poder, de
coação. Tudo isso pode acontecer, mas para nós
isso não é avaliação. Avaliação compreendida
como medida ou seleção é exame, e avaliação
“disciplinadora” é prática indevida do ser
professor.
Dito isto, passemos, então, a conversar
sobre alguns tipos de avaliação que fazem parte
do sistema educativo de nosso país. Esse
primeiro modelo de avaliação que tratamos é a
avaliação que acontece na sala de aula e que é
organizada pelo professor/ estudantes e que tem
por objetivo a melhoria das aprendizagens. Quem
define esse tipo de avaliação é a interação que
acontece no espaço social e de construção de
conhecimento, que é a sala de aula.
Mas há também no Brasil, a partir do
decênio de 1990, as chamadas avaliações em
larga escala, na verdade, exames em larga
escala. Você já ouviu falar? ENEM, SAEB, Prova
Brasil. Na verdade, elas são provas com questões
de múltipla escolha. O ENEM é oferecido
anualmente aos estudantes que estão concluindo
ou que já concluíram o ensino médio. É um
exame individual, de caráter voluntário, que tem
por objetivo possibilitar uma contribuição para a
autoavaliação do desempenho do estudante que
se propõe a respondê-lo, a partir das
competências e habilidades que estruturam esse
exame.
Já o SAEB e a Prova Brasil têm o objetivo
de avaliar o desempenho dos estudantes
brasileiros da 4ª e da 8ª séries do ensino
fundamental e da 3ª série do ensino médio, em
Língua Portuguesa (Foco: Leitura) e em
Matemática (Foco: resolução de problemas).
Esses exames existem para subsidiar as
políticas públicas, ou seja, auxiliar os governantes
no direcionamento de recursos visando à
melhoria da qualidade do ensino. Em 2007 surgiu
o IDEB – Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica, que tem por objetivo melhorar
a qualidade da educação brasileira, que significa
garantir: o acesso universal à escola; a igualdade
de oportunidades; a permanência e o sucesso
escolar. Mas como funciona o IDEB e em que
medida esse indicador poderá melhorar a
24
qualidade da educação brasileira? Essa é uma
boa questão. Então, vamos por partes:
Simplificando a compreensão do IDEB,
pode-se dizer que ele: combina informações
sobre o fluxo (aprovação) e o desempenho
escolar dos estudantes brasileiros, apontados
pelo SAEB e pela Prova Brasil; relaciona o tempo
gasto para a conclusão de cada etapa ou nível;
permite comparações entre as unidades da
Federação, redes estaduais e escolas; permite
monitorar a qualidade da educação básica.
Mas qual é mesmo a finalidade do IDEB?
Acompanhar e avaliar o desempenho dos
estudantes brasileiros para a implementação de
políticas públicas que ajudem o sistema escolar a
melhorar a educação brasileira porque quanto
mais o estudante demorar para concluir as etapas
de sua escolarização, menor será o índice do
IDEB. Pensando assim, podemos saudar o
surgimento desse indicador. Porém, pela
realidade que vivenciamos, a coisa não é bem
assim. Vejamos: o governo e a mídia têm
utilizado os resultados do SAEB, do ENEM para
comparar escolas dizendo que uma é melhor do
que a outra. Em que sentido e com qual objetivo
isso acontece? A comparabilidade é um mito
porque a subjetividade social de cada
comunidade escolar não pode ser transferida
para a outra como uma receita de bolo, como um
“faça assim”.
Por isso, quando os resultados dos
exames em larga escala são utilizados
indevidamente, deforma-se o sentido da
avaliação e do currículo que acontecem dentro
das escolas. Turva-se a visão da sociedade em
relação à escola. A culpabilidade das mazelas da
educação fica reduzida a uma, ou no máximo,
duas variáveis. Hoje, já vemos as redes de
ensino, estadual, municipal ou do DF e mesmo
colegas professores em todos os níveis da
educação básica pensando em treinar os
estudantes para responderem esses exames.
Adestrar estudantes para o exame, a meu ver, é
um reducionismo do papel social da escola, é
uma espécie de barbárie educacional. É
necessário sim que o projeto político pedagógico
da escola seja construído de maneira séria para
envolver a formulação dos indicadores de
melhoria da educação proposta em cada escola.
Coisa simples, mas produtora de efetividade: em
que os estudantes de nossa escola precisam
melhorar? O que a equipe da escola pode fazer
para promover essas melhorias? Como?
Quando? Com quais recursos? Em que tempo?
Quem se envolverá? Esse é o nosso
compromisso como educadores-transformadores.
Se nos preocuparmos em treinar os
estudantes para responderem apenas as
questões desses exames, estaremos, mais uma
vez, prestando um desserviço ao nosso povo e
mascarando o que deveria ser realmente a
melhoria da qualidade de ensino. Até quando
utilizaremos o exame como medida, como
exclusão e não a avaliação formativa que tem por
objetivo a promoção das aprendizagens nas
escolas? Precisamos sair do senso comum que a
avaliação formativa se refere apenas a
comportamento. Precisamos fazer dos conselhos
de classe um espaço de reflexão sobre as
aprendizagens que estamos promovendo e as
que ainda precisamos promover para sairmos da
mera recitação de notas. Considero fundamental
que discutamos a validade da prova, mas não
como o único, suficiente e necessário instrumento
de avaliação. A prova é um instrumento válido,
mas limitado para se afirmar alguma coisa sobre
25
a aprendizagem de alguém. Por ela, captamos o
desempenho do estudante que é influenciado por
sua aprendizagem- compreensão, mas também
pelas circunstâncias como: a relação
professor/aluno, funcionalidade do conteúdo
exposto no instrumento, a qualidade das
questões e o momento da aplicação. Aos
técnicos, fiquem as técnicas necessárias para a
construção de exames! Precisamos aprender com
eles como se formulam boas questões. Porém,
precisamos construir a verdadeira transformação.
Esta nasce em cada escola ao criar quais são os
indicadores de aprendizagem que precisa
perseguir com toda a comunidade escolar. Temos
boas experiências isoladas no DF. Falta-nos
espaço de discussão.
Referência [BRASIL] FERNANDES, Reynaldo. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica- IDEB. Série Documental. Textos para discussão, nº 26. Ministério da Educação, INEP, 2007.
26
AVALIAÇÕES EXTERNAS E AVALIAÇÃO FORMATIVA: UMA ARTICULAÇÃO POSSÍVEL?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
A avaliação é necessária, tanto a que é
realizada na/pela escola quanto a que é feita por
equipes externas. Na escola todos avaliam e são
avaliados, assim como são avaliadas todas as
atividades desenvolvidas. Essa é a avaliação
comprometida com as necessidades de cada
estudante e com o seu desempenho, com vistas à
continuidade das suas aprendizagens.
Como se percebeu nos textos anteriores,
a partir de 1990 as avaliações externas passaram
a ganhar importante espaço em nosso país.
Primeiramente se implantou o SAEB, em seguida
veio o ENEM, surgiram a Prova Brasil e a
Provinha Brasil e, inspirando-se nas iniciativas de
nível nacional, os estados também criaram suas
próprias avaliações externas. No Distrito Federal,
em 2008 teve início o SIADE.
A partir da criação do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB –
em 2007, instalou-se a competição entre estados,
sistemas de ensino e escolas. A avaliação
externa, que teria o grande objetivo de oferecer
informações para a formulação e reformulação de
políticas educacionais, passou a mudar de rumo.
Criaram-se os indesejados ranqueamentos.
Em artigo publicado na Folha de São
Paulo do dia 23/04/09, no Caderno Equilíbrio,
Rosely Sayão narra a correspondência recebida
de uma leitora, cuja filha cursa a sexta série do
ensino fundamental. Ela está em dúvida quanto à
permanência da filha na escola.
Conta que escolheu a instituição há cinco anos
pela localização e pela qualidade do ensino.
Nesse período, a escola alcançou destaque na
mídia pelos resultados alcançados no ENEM e, a
partir disso, mudou sua forma de trabalhar. O
número de alunos matriculados subiu muito e os
professores passaram a fazer cobranças
excessivas aos alunos em relação aos conteúdos
curriculares e a colocá-los sob pressão constante.
A mãe da menina acredita que essa mudança é
decorrente da colocação no ranking de escolas, e
não da melhoria do ensino. Rosely Sayão relata
que ela construiu uma comparação muito bem-
humorada: “o que aconteceu com a escola foi o
mesmo que dar um sapato de salto alto a uma
adolescente ainda sem total equilíbrio do corpo, o
que faz com que ande com muito medo de cair”.
Como consequência, a menina passou a se
mostrar ansiosa com a vida escolar e tem pedido
para trocar de escola. É essa a dúvida de sua
mãe. Se ela aceitar o pedido, se sentirá culpada
por não oferecer à sua filha um bom estudo -
afinal, a escola está nos primeiros lugares no tal
ranking! Caso insista para que a garota fique na
escola, receia que sua relação com os estudos
fique prejudicada por tanta tensão. Sayão ressalta
que nenhuma das duas decisões trará
tranquilidade e satisfação à família toda.
A autora pergunta: “que benefícios trazem
aos pais esses rankings de escolas, baseados em
avaliações de alunos e em índice de aprovação
em certos vestibulares? Rigorosamente, nenhum.
Parece que as únicas a lucrar são as escolas,
pois acabam por ganhar publicidade e espaço na
mídia sem nenhum ônus. Fica a impressão de
que acaba mesmo é nas mãos dos pais a
responsabilidade de oferecer um bom estudo
para os filhos: depende da escolha que fizerem”.
A autora propõe as seguintes reflexões: será que
se pode considerar uma boa escola aquela que
27
cobra em demasia dos alunos, que acabam tendo
de recorrer a aulas particulares para acompanhar
o exigido? É boa a escola que seleciona os
alunos com quem vai trabalhar, levando em conta
suas possibilidades de êxito, e exclui os que
considera "problemáticos" ou com “dificuldades
de aprendizagem”? Segundo ela, há várias
escolas nos primeiros lugares nas classificações
que estão organizando seu trabalho dessa
maneira. A autora aponta as características do
que ela denomina de uma boa escola: ensina
com rigor e exige o máximo de seus alunos;
ensina a construção da disciplina necessária para
estudar; trabalha com qualquer aluno e convoca
todos eles a terem compromisso com o ato de
aprender; ensina a conviver com coleguismo;
respeita diferenças de ritmo e de aprendizagem
de seus alunos, entre outras coisas. E tudo isso,
acrescenta, no horário das aulas, sem repassar
tais responsabilidades aos pais.
Freitas et al (2009, p. 70)9 nos fazem a
seguinte provocação: “Não podemos mudar o
rumo da avaliação se este estiver na contramão
dos direitos das crianças?” Nessa obra os autores
afirmam que a avaliação da aprendizagem em
sala de aula é o lado mais conhecido da
avaliação. Contudo, não é o único. Os seus
resultados precisam ser articulados aos dos
outros níveis que compõem a avaliação, “sob
pena de não darmos conta da complexidade que
envolve a questão e reduzirmos a possibilidade
de construção de processos decisórios mais
circunstanciados e menos ingênuos” (op. cit., p
9). Os autores postulam a existência de três
níveis integrados de avaliação da qualidade de
ensino: avaliação em larga escala de redes de
ensino (realizada no país, estado ou município);
avaliação institucional da escola (feita em cada
9 FREITAS et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
escola pelo seu coletivo); e a avaliação da
aprendizagem em sala de aula, sob a
responsabilidade do professor (op. cit., p 10).
O SAEB, o ENEM, a Prova Brasil, a
Provinha Brasil e o SIADE constituem
instrumentos de avaliação em larga escala, tendo
como objetivo geral acompanhar redes de ensino
para traçar séries históricas do desempenho dos
sistemas e reorientar políticas públicas. Quando
aplicados com metodologia adequada, podem
trazer importantes informações sobre o
desempenho dos estudantes, dados sobre os
professores, condições de trabalho e
funcionamento das escolas da rede etc. (op. cit.,
47). No Brasil a avaliação em larga escala tem
sido conduzida pelos níveis federal e pelos
estados. Os autores citados comentam que se
criou a ilusão de que essas avaliações de larga
escala podem avaliar também a escola e os
professores. Eles propõem que as avaliações de
redes sejam realizadas pelos municípios. Assim,
a unidade seria o município e não a federação ou
o estado. E explicam: isso não impede que estes
últimos realizem suas avaliações de larga escala,
mas não com o propósito de avaliar uma escola
ou suas salas de aula. Faz sentido essa proposta:
os municípios estão mais próximos das escolas e
precisam assumir compromisso com o seu
desenvolvimento. Os autores esclarecem:
As políticas de avaliação centralizadas se esquecem que não basta o dado do desempenho do aluno ou do professor coletado em um teste ou questionário e seus fatores associados. É preciso que o dado seja “reconhecido” como “pertencendo” à escola. Medir propicia um dado, mas medir não é avaliar. Avaliar é pensar sobre o dado com vistas ao futuro. Isso implica a existência de um processo interno de reflexão nas escolas – que chamamos de avaliação institucional em capítulo anterior (op. cit., 48).
Observe o leitor que um dos processos
de avaliação do SIADE é a Avaliação da Gestão
Compartilhada e da Gestão Escolar Regimental
28
da Instituição Educacional. Contudo, como o
SIADE ainda é um sistema em implantação, não
se sabe se o processo acima mencionado
propiciará reflexão nas escolas acerca dos dados
obtidos por meio da avaliação.
Os autores apontam uma justificativa para
o fato de o município ser a unidade das
avaliações de rede: além da dimensão técnica,
largamente conhecida, a avaliação tem a
dimensão política, sem a qual terá dificuldade de
ser aceita, o que comprometerá o uso dos seus
resultados. Reafirmam: o nível municipal é o local
onde melhor se pode combinar a legitimidade
técnica com a política. A dimensão política é a
que assegura o uso devido dos resultados por
todos os que fazem parte do processo. Ela cria as
condições de transparência do desenvolvimento
do processo avaliativo e do uso que se fará dos
resultados.
Freitas et al (2009, p. 65) questionam o
envio às escolas dos resultados das avaliações
em larga escala para que sejam examinados
pelos educadores que nelas atuam, de modo que
possam elaborar alternativas de melhoria do seu
trabalho. Citam o caso da Prova Brasil: um site
disponibiliza os resultados de cada escola no
país. A partir de uma medida pontual, dizem eles,
passa-se a avaliar a escola toda. Os dados não
são “reconhecidos” pela escola, isto é, ela não se
vê neles e o seu uso fica comprometido. Sua
proposta: enviar os resultados à escola para que,
“dentro de um processo de avaliação institucional,
ela possa consumir estes dados, validá-los e
encontrar formas de melhoria” (op. cit., p. 65).
Neste ponto os autores entram no ponto central
da sua proposta: a avaliação institucional fará a
mediação e dará, então, subsídios para a
avaliação em sala de aula, conduzida pelo
professor. Por meio desse procedimento pode-se
iniciar a criação da cultura avaliativa
comprometida com as aprendizagens de todos e
o desenvolvimento da escola. Contudo, torna-se
necessário que a equipe gestora e todos os
educadores da escola, estudantes e pais se
envolvam no processo. Mas é importante lembrar:
nesses momentos será feito o entrelaçamento da
avaliação em larga escala, da institucional e a do
desempenho dos estudantes. É ainda muito
comum o entendimento de que só se avalia o
desempenho dos estudantes. Por isso, as escolas
costumam se ocupar apenas desse nível de
avaliação. A articulação dos três níveis, tendo a
avaliação institucional como mediadora, requer a
reformulação do entendimento de avaliação, que
passará a ser compreendida como de
responsabilidade de todos os que atuam na
escola.
Retomando o início deste texto, em que
foram apresentadas as contribuições de Rosely
Sayão no sentido de que não se faça ranking de
escolas, salienta-se a necessidade de a escola
refletir sobre as informações fornecidas pelas
avaliações externas para incorporá-las às suas
práticas de avaliação formativa, sempre a serviço
das aprendizagens. Portanto, nosso
posicionamento é de rejeição aos mecanismos de
comparação e de ranqueamento. Estes só
servem para tornar o trabalho escolar cada vez
mais seletivo e excludente: os estudantes
economicamente favorecidos continuam sendo
os beneficiados.
Este Lições de avaliação 3 tem o
propósito de apresentar os principais mecanismos
de avaliação externa na educação básica,
articulando-os à avaliação formativa praticada na
escola. A proposta de Freitas et al (2009), por
basear-se na concepção de educação
emancipatória e no entendimento de que todos
fazem a escola é a própria conclusão da nossa
argumentação. Avaliações externas, sim, desde