lidar com a zanga - espaço vida · troca como um mecanismo de ... as emoções difíceis. a zanga...

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54 ZEN ENERGY Fevereiro 2010 Raiva Lidar com a ZANGA felicidade t e Laura Sanches * Geralmente ficamos zangados quando nos sentimos ameaçados ou nos parece que determinados limites (impostos por nós) estão a ser ultrapassados. 5. CHAKRA LARíNGEO AZUL CLARO GARGANTA ÉTER COMUNICAçãO ÁGUA MARINHA HAM EUCALIPTO equilíbrio star zangado pode ser uma emoção natural e até saudável. A zanga pode trazer mais energia, motivação e uma sensação de poder, ajudando- -nos a resolver algumas situa- ções. Quando nos zangamos estamos a trocar emoções que nos fazem sentir tristes e vul- neráveis por uma sensação de poder e de força e isto pode ser útil temporariamente, mas torna-se um problema se o fazemos com demasiada fre- quência, ou se usamos esta troca como um mecanismo de 54-57 Equilibrio - Raiva.indd 54 15-01-2010 17:02:09

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54 ZEN ENERGY Fevereiro 2010

RaivaLidar com a zanga

felicidadet

eLaura Sanches *

Geralmente ficamos zangados quando nos sentimos ameaçados ou nos parece que determinados limites (impostos por nós) estão a ser ultrapassados.

5. CHakra LaríngeoAzuL CLAro GArGAntA Éter ComuniCAção ÁGuA mArinhA hAm euCALiptoequilíbrio

star zangado pode ser uma emoção natural e até saudável. A zanga pode trazer mais energia, motivação e uma sensação de poder, ajudando--nos a resolver algumas situa-ções. Quando nos zangamos estamos a trocar emoções que

nos fazem sentir tristes e vul-neráveis por uma sensação de poder e de força e isto pode ser útil temporariamente, mas torna-se um problema se o fazemos com demasiada fre-quência, ou se usamos esta troca como um mecanismo de

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fúria

Ligação entre arteriosclerose e episódios frequentes de zangaAlguns estudos mostram que há uma ligação entre a arteriosclerose e os episódios frequentes de zanga, já que as pessoas estudadas que sofriam desta condição descreviam também um grande número destes episódios no seu passado. Segundo um estudo, feito com um grupo de pessoas acompanhado durante 25 anos, aqueles que eram mais dados a episódios de zanga e fúria eram também os que tinham mais probabilidades de desenvolver problemas cardiovasculares. Quando nos zangamos, o aumento súbito da pressão arterial leva a que o sangue seja bombeado com maior intensidade ficando as veias e artérias sujeitas a uma maior pressão; esta pode, com o tempo, vir a provocar danos nas paredes das artérias, onde passam a acumular-se ácidos gordos. isto dificulta a circulação, fazendo com que certas zonas do corpo passem a receber menos sangue. A isto chama- -se arteriosclerose, uma condição bastante prejudicial.

defesa para não lidarmos com as emoções difíceis.

A zanga pode ser prejudicial?

Há quatro factores impor-tantes para percebermos se a zanga se tornou problemática para nós: Intensidade: Uma zanga

muito intensa, em que ficamos cheios de raiva não é uma re-acção saudável. Duração: Se ficamos de-

masiado tempo zangados e não conseguimos deixar esse sentimento pode ser uma in-dicação de que não estaremos a lidar com a zanga da melhor forma. Frequência: Estarmos

frequentemente zangados não é positivo. Comportamento: Se nos

zangamos de forma explosiva, perdendo facilmente o contro-lo, estamos a lidar com a zanga de forma prejudicial.

A zanga pode criar dificulda-des em vários níveis da nossa vida. Se nos zangamos cons-tantemente ou se temos alguns episódios de fúria explosiva, as pessoas acabarão por passar a lidar connosco de outra forma, guardando ressentimentos e,

quase sempre, são os relacio-namentos mais próximos os que mais acabam por sofrer. Do ponto de vista profissional, estar zangado com frequência pode impedir-nos de ter a energia e concentração necessárias para desempenhar as nossas tarefas e prejudica o relacionamento com as pessoas que trabalham

connosco. A zanga pode tam-bém ser prejudicial para a nossa saúde, uma vez que é uma das emoções que mais respostas fisiológicas despoleta. Quando estamos zangados desencadeia--se a chamada Resposta de Luta ou Fuga que, neste caso, serve para preparar o organismo para lutar, enfrentando uma potencial

A zanga pode criar dificuldades em vários níveis da nossa vida

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Quando acumulamos tensão os nossos níveis de tolerância baixam e torna-se mais fácil ficarmos zangados

fúriat

Como lidar com a zanga?

Em primeiro lugar é impor-tante aprendermos a conhecer os nossos sinais de zanga para podermos tomar algumas me-didas assim que esta começa a surgir. Uma ferramenta im-portante para combater a zanga são as técnicas de relaxamento.

Quando acumulamos tensão os nossos níveis de tolerância baixam e torna-se mais fácil ficarmos zangados. Além disso, o relaxamento também nos permite combater e eliminar os primeiros sinais de zan-ga. Este deve começar por ser usado preventivamente, praticado diariamente, mas

ameaça. Essas alterações fisio-lógicas provocam: Pulsação mais rápida e

forte: O coração precisa de bombear mais sangue para o fazer chegar aos músculos necessários para lutar. A respiração torna-se mais

rápida: É necessária uma maior quantidade de oxigénio. O sangue é desviado do

aparelho digestivo: A digestão é dificultada. Pode surgir uma sensação de nó no estômago, vómi-tos, ou alterações intestinais. Os músculos ficam mais

tensos: Principalmente nos braços e pernas. Podem surgir dores musculares.

Mudanças na circulação: Podem provocar mudanças na temperatura corporal. O rosto pode ficar quente de raiva ou gelado de medo. Os sentidos ficam mais

apurados: As pupilas dilatam-se, o que pode alterar a percep-ção dos movimentos, fazendo com que pareçam mais ame-açadores. A audição fica mais apurada o que pode fazer com os sons pareçam mais altos. A química sanguínea

altera-se: O sangue coagula mais facilmente e são libertados açúcares e gorduras na corrente sanguínea para que haja mais energia disponível.

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porta e falamos durante uns minutos com esta outra pessoa que nos procurou. Este tempo de conversa é o suficiente para diminuir os nossos estados de activação e fazer desaparecer a zanga e, quando voltamos à discussão anterior, faze-mos um esforço para voltar a senti-la. Isto acontece porque acreditamos que nos devemos zangar com quem faz algo que consideramos errado.

A zanga prejudica--nos mais a nós do que aos outros

Pensamos que a raiva é uma forma de castigar a pessoa com quem estamos zangados e que, se não o fizermos, estaremos a perdoar com demasiada facili-dade. Mas, estarmos zangados prejudica-nos mais a nós do que à pessoa com quem nos zangamos. Deixarmos de estar zangados ou perdoar a pessoa não significa que tenhamos

pode também ser usado para evitar um episódio de zanga se o identificarmos no pri-meiro instante. Por vezes, crê-se que quando estamos zangados o melhor é expressar-mos as nossas emoções. Mas, o que mostram os estudos é que as pessoas ficam ainda mais zangadas depois de uma respos-ta explosiva, porque expressar a fúria e a raiva faz com que estas emoções se tornem ainda mais intensas. Para podermos lidar de forma saudável com a zanga, em primeiro lugar, é fundamental reconhecermos que são os nossos pensamen-tos e não as situações que a causam.

Muitas vezes, somos nós que queremos manter a zan-ga. Podemos lembrar-nos de situações em que estamos no meio de uma discussão acesa com alguém e, de repente, toca o telefone ou a campainha da

(…) expressar a fúria e a raiva faz com que estas emoções se tornem ainda mais intensas

Estratégias para lidar com a zanga1. Manter um diário dos nossos episódios de zanga: É importante percebermos aquilo que nos faz zangar e o diário pode ser uma boa forma de o fazer. 2. Identificar as crenças que levam à zanga: Há crenças rígidas e irracionais que são, muitas vezes, inconscientes e podem estar por detrás da nossa zanga. por exemplo, «tenho que ser bom e competente em tudo o que faço; o mundo devia ser um lugar justo e eu devia ser sempre tratado com justiça». 3. Desafiar essas crenças: o que torna uma crença problemática é o facto de ser rígida. não faz mal termos preferências, mas estas tornam-se um problema se não permitem um pensamento flexível. por exemplo, é natural pensar que seria mais agradável se não acontecessem injustiças e é natural ficar-se triste ou frustrado quando estas acontecem. mas, deixa de ser saudável se se acredita que estas nunca podem acontecer e se, cada vez que acontecem, se tem uma reacção explosiva ou se fica zangado com o mundo durante os dias que se seguem. 4. encontrar afirmações alternativas: por exemplo, seria bem mais agradável que o mundo fosse sempre justo, mas a verdade é que não é e eu posso lidar com isso. 5. estar atento aos primeiros sinais de raiva e usar técnicas de relaxamento para os anular: Assim que os primeiros sinais surgem podemos, por exemplo, usar a respiração para reequilibrar o corpo e a mente. para isso, a respiração abdominal é a mais adequada: sente-se confortavelmente e coloque as mãos na barriga. inspire pelo nariz e sinta a barriga aumentar de volume. expire também pelo nariz lentamente e sinta que a barriga volta a diminuir. prolongue a expiração pelo máximo de tempo possível e faça uma pausa curta, mas bem presente no fim de cada expiração. Sinta que ao deixar sair o ar está também a deitar fora todos os pensamentos e sentimentos negativos. Faça este exercício pelo menos durante 3 minutos. 6. Para episódios explosivos o melhor será mesmo sair da situação temporariamente, assim que começam a fazer-se sentir os primeiros sinais: nestes casos pode fazer--se algum exercício para gastar a energia extra que se estava a acumular, por exemplo, subir e descer escadas ou planear alguma actividade agradável que nos distraia e que exija algum grau de concentração. Convém que a mente também esteja ocupada para se distrair dos pensamentos de zanga. 7. aprender formas de comunicação assertiva que nos permitem expressar as nossas necessidades sem agredir o outro.

que nos esquecer da ofensa que foi cometida. Assim, po-demos proteger-nos, sabendo que não queremos deixar que determinado acontecimento se volte a passar, mas não precisamos de ficar presos à

zanga que, na verdade, não ajuda em nada.

(*) Psicóloga responsável pelo espaço Vida [email protected] www.espaco-vida.com

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