leyes de amnistía: comisión y corte interamericanas de … · 2012-04-23 · a reparação foi...

22
129 A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO BRASILEIRO POR VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS: O PAGAMENTO DE REPARAÇÕES 1 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x PA PA PA PA PATRIC TRIC TRIC TRIC TRICK PETIO K PETIO K PETIO K PETIO K PETIOT Diplomata; Coordenador de Direito Internacional da Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores; Professor de Direito Internacional e Direito Constitucional da Universidade Católica de Brasília; Especialista em Direito Privado pela Universidade Federal Fluminense; Mestre em Direito pela Universidade de Brasília. INTR INTR INTR INTR INTRODUÇÃ ODUÇÃ ODUÇÃ ODUÇÃ ODUÇÃO Os Estados são obrigados pelo Direito Internacional a reparar os danos que causem a outros Estados. A posição secundária ocupada pelo indivíduo na teoria da responsabilidade internacional do Estado suscita interessantes questões a respeito de suas relações com o Direito Internacional dos Direitos Humanos. A filosofia centrada no indivíduo que caracteriza os instrumentos internacionais de direitos humanos enseja a afirmação de que a teoria da responsabilidade internacional do Estado não atende aos ditames do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Em conseqüência, a defesa dos direitos humanos deve inscrever-se numa teoria da responsabilidade internacional do Estado voltada especificamente para as violações de direitos humanos. A redemocratização do Brasil em 1985 permitiu o ingresso do país em diversos instrumentos internacionais de defesa dos direitos humanos. 2 A Constituição Federal proclama a dignidade da pessoa humana no art. 1º, III, e submete as relações internacionais da República no art. 4º, II, ao princípio da prevalência dos direitos humanos. O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determina no art. 7º que o Brasil propugne pela formação de um tribunal internacional de direitos humanos. A adesão em 1992 à Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o reconhecimento em 1998 da jurisdição compulsória da Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja criação havia sido originalmente proposta pelo Brasil, 3 inseriram o país no sistema interamericano de direitos humanos. O cumprimento das decisões do sistema interamericano depende no Brasil da aprovação de novos dispositivos legais. A necessidade de legislação foi unanimemente reconhecida no seminário que o Superior Tribunal de Justiça promoveu nos dias 16 e 17 de maio de 2005 sobre o sistema interamericano. Exemplo dessa necessidade ilustra o cumprimento da decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos no caso José Pereira, o primeiro a receber solução definitiva com desembolso de reparação material e moral em decorrência de violação de direitos humanos praticada pelo Brasil. A reparação foi liquidada e paga após a aprovação de lei específica em regime de urgência constitucional. Entretanto, a literatura nacional silencia sobre os motivos que ditariam a imperatividade de ação legislativa para o cumprimento das decisões do sistema interamericano. A adesão do Brasil à Convenção Americana e o posterior reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana não tornam as decisões do sistema interamericano obrigatórias e passíveis de pronta execução? É lícito defender no limite que nenhum dispositivo legal novo seria necessário se o governo brasileiro entender de enviar todas as decisões da Comissão Interamericana à aprovação do Congresso Nacional e de exigir para todas as sentenças da Corte Interamericana o processo regular de execução previsto no ordenamento jurídico. O argumento seria provavelmente válido, mas sua aceitação equivaleria a lançar a vítima na angústia de aguardar o fim do périplo da burocracia executiva, legislativa e judiciária para receber o montante de sua reparação. Os 120 casos que tramitam contra o Brasil na Comissão Interamericana e a primeira denúncia feita contra o país à Corte Interamericana no caso Ximenes Lopes prenunciam a importância que assume o tema do pagamento de reparações por violações de direitos humanos. Neste artigo analisam-se as possibilidades de cumprimento rápido e eficaz das decisões do

Upload: phamdat

Post on 10-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Leyes de Amnistía: Comisión y Corte Interamericanas de Derechos Humanos

129○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADOBRASILEIRO POR VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS:

O PAGAMENTO DE REPARAÇÕES1

PAPAPAPAPATRICTRICTRICTRICTRICK PETIOK PETIOK PETIOK PETIOK PETIOTTTTT

Diplomata; Coordenador de Direito Internacional da Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores;Professor de Direito Internacional e Direito Constitucional da Universidade Católica de Brasília; Especialistaem Direito Privado pela Universidade Federal Fluminense; Mestre em Direito pela Universidade de Brasília.

INTRINTRINTRINTRINTRODUÇÃODUÇÃODUÇÃODUÇÃODUÇÃOOOOO

Os Estados são obrigados pelo DireitoInternacional a reparar os danos que causem a outrosEstados. A posição secundária ocupada peloindivíduo na teoria da responsabilidade internacionaldo Estado suscita interessantes questões a respeitode suas relações com o Direito Internacional dosDireitos Humanos. A filosofia centrada no indivíduoque caracteriza os instrumentos internacionais dedireitos humanos enseja a afirmação de que a teoriada responsabilidade internacional do Estado nãoatende aos ditames do Direito Internacional dosDireitos Humanos. Em conseqüência, a defesa dosdireitos humanos deve inscrever-se numa teoria daresponsabilidade internacional do Estado voltadaespecificamente para as violações de direitoshumanos.

A redemocratização do Brasil em 1985 permitiuo ingresso do país em diversos instrumentosinternacionais de defesa dos direitos humanos.2 AConstituição Federal proclama a dignidade da pessoahumana no art. 1º, III, e submete as relaçõesinternacionais da República no art. 4º, II, aoprincípio da prevalência dos direitos humanos. OAto das Disposições Constitucionais Transitóriasdetermina no art. 7º que o Brasil propugne pelaformação de um tribunal internacional de direitoshumanos. A adesão em 1992 à ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos e oreconhecimento em 1998 da jurisdição compulsóriada Corte Interamericana de Direitos Humanos, cujacriação havia sido originalmente proposta peloBrasil,3 inseriram o país no sistema interamericanode direitos humanos.

O cumprimento das decisões do sistemainteramericano depende no Brasil da aprovação denovos dispositivos legais. A necessidade de legislação

foi unanimemente reconhecida no seminário que oSuperior Tribunal de Justiça promoveu nos dias 16e 17 de maio de 2005 sobre o sistemainteramericano. Exemplo dessa necessidade ilustrao cumprimento da decisão da ComissãoInteramericana de Direitos Humanos no caso JoséPereira, o primeiro a receber solução definitiva comdesembolso de reparação material e moral emdecorrência de violação de direitos humanospraticada pelo Brasil. A reparação foi liquidada e pagaapós a aprovação de lei específica em regime deurgência constitucional.

Entretanto, a literatura nacional silencia sobreos motivos que ditariam a imperatividade de açãolegislativa para o cumprimento das decisões dosistema interamericano. A adesão do Brasil àConvenção Americana e o posterior reconhecimentoda jurisdição da Corte Interamericana não tornamas decisões do sistema interamericano obrigatóriase passíveis de pronta execução? É lícito defender nolimite que nenhum dispositivo legal novo serianecessário se o governo brasileiro entender de enviartodas as decisões da Comissão Interamericana àaprovação do Congresso Nacional e de exigir paratodas as sentenças da Corte Interamericana oprocesso regular de execução previsto noordenamento jurídico. O argumento seriaprovavelmente válido, mas sua aceitação equivaleriaa lançar a vítima na angústia de aguardar o fim dopériplo da burocracia executiva, legislativa ejudiciária para receber o montante de sua reparação.

Os 120 casos que tramitam contra o Brasil naComissão Interamericana e a primeira denúncia feitacontra o país à Corte Interamericana no caso XimenesLopes prenunciam a importância que assume o temado pagamento de reparações por violações de direitoshumanos. Neste artigo analisam-se as possibilidadesde cumprimento rápido e eficaz das decisões do

Patrick Petiot

130 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

sistema interamericano, em atenção ao direitofundamental inscrito agora no art. 5º, LXXVIII, daConstituição Federal, segundo o qual a todos, noâmbito judicial e administrativo, são assegurados arazoável duração do processo e os meios que garantama celeridade de sua tramitação. A primeira partedestina-se à apresentação do regime jurídico daresponsabilidade internacional do Estado; a segundavisa à reparabilidade das violações de direitoshumanos; a terceira aborda a execução da FazendaPública Federal por quantia certa; e a quarta enfoca ocumprimento das decisões do sistema interamericanoquanto ao pagamento de reparações pecuniárias.

A obra do Professor Antônio Augusto CançadoTrindade subjaz às presentes reflexões sobre o DireitoInternacional dos Direitos Humanos. Seus escritossobre o direito de petição individual são essenciaisà compreensão do papel do particular na defesa dosdireitos humanos e iluminam o funcionamento dosórgãos internacionais de supervisão; suas análisessobre o atual estágio de evolução do DireitoInternacional dos Direitos Humanos permitemcompreender na teoria e na prática as obrigaçõesque incumbem aos Estados na proteção dos direitoshumanos e os problemas que se encontram na suaconcretização. Ao defender a superação dopositivismo jurídico em favor do ser humano,sublinha os valores superiores comuns que dãocaráter especial às convenções internacionais sobredireitos humanos. Transcendendo a reciprocidadedos compromissos convencionais tradicionais,4 ostratados de direitos humanos geram obrigações quesão implementadas por meio de um sistema degarantia coletiva que torna os países responsáveispela observância dos direitos humanos perante acomunidade internacional.5

11111..... O REGIME JURÍDICO REGIME JURÍDICO REGIME JURÍDICO REGIME JURÍDICO REGIME JURÍDICO DO DO DO DO DAAAAARESPONSRESPONSRESPONSRESPONSRESPONSABILIDABILIDABILIDABILIDABILIDADEADEADEADEADEINTERNINTERNINTERNINTERNINTERNAAAAACIONCIONCIONCIONCIONAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESTTTTTADOADOADOADOADO

11111.....11111 A RESPONSA RESPONSA RESPONSA RESPONSA RESPONSABILIDABILIDABILIDABILIDABILIDADEADEADEADEADEINTERNINTERNINTERNINTERNINTERNAAAAACIONCIONCIONCIONCIONAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESTTTTTADOADOADOADOADO

A Comissão de Direito Internacional dasNações Unidas concluiu em 2001 o projeto relativoà responsabilidade internacional do Estado.6 O meioséculo que transcorreu entre a decisão tomada em1949 de se incluir o tema na agenda para codificaçãoe a aprovação do projeto na 53ª sessão demonstra acomplexidade do assunto e sua sensibilidade paraos países. A idéia central do estudo repousa no fatode que a personalidade jurídica do Estado acarreta odever de reparar os prejuízos causados por seusórgãos7 aos entes da comunidade internacional,

segundo o preceito clássico alterum non laedere.A imputação do Estado deriva do exercício dasfunções legislativa, executiva ou judiciária porqualquer órgão estatal responsável por um ato ilícitointernacional.8 Pessoas e entidades que tenham anatureza de órgão ou que exerçam atividadesdelegadas também podem gerar a imputação doEstado.9 Independente do ordenamento interno, aresponsabilidade internacional do Estado édisciplinada e sancionada pelo Direito Internacionalcomo decorrência da igualdade soberana dos países.

Os princípios adotados pela Comissão diferempouco dos que vigem nos sistemas jurídicosocidentais em matéria de responsabilidade civil.Essencialmente, decorrem da regra de que todaquebra de compromisso internacional constitui atoilícito apto a engendrar a responsabilidade estatal.A origem ou natureza do ato ilícito é irrelevantepara determinar o dever de reparar, que surge tantodo inadimplemento de um tratado como da práticade um ato ilícito de tipo extracontratual.10 Aobrigação de reparar complementa-se com o deverde fazer cessar os atos lesivos contínuos (cessation)e de oferecer garantias de não-reincidência (non-repetition). As causas de exoneração daresponsabilidade incluem o consentimento doEstado lesado (consent), a autodefesa exercida deacordo com a Carta das Nações Unidas (self-defence), as contramedidas (countermeasures), aforça maior (force majeure), o estado de perigo(distress) e a necessidade (necessity).

A Comissão consolidou o entendimentoconsagrado na jurisprudência internacional de queo Estado causador do dano tem o dever deproporcionar ao Estado lesado uma reparação plena(full reparation), sob a forma de restituição(restitution), indenização (compensation) ousatisfação (satisfaction), separadas ou combinadas.A restituição integral (restitutio in integrum) é amodalidade ideal de reparação porque consiste norestabelecimento das coisas ao status quo ante(Corte Permanente de Justiça Internacional: Usinede Chorzów, acórdão de 13/9/28 sobre o mérito, p.47), desde que seja materialmente possível e nãoacarrete ao Estado responsável ônus desproporcionalao dano causado. A indenização é a reparaçãoaplicável quando a restituição é impossível ouinadequada. O Direito Internacional garante aindenização de um Estado pelos danos causados poroutro Estado (Corte Internacional de Justiça:Gabèíkovo-Nagymaros project, acórdão de 25/9/97,§ 152). Ao indicar que a indenização compreendetodo prejuízo economicamente avaliável, a Comissãosufragou a total ressarcibilidade dos danos materiaiscausados ao Estado, bem como dos danos materiais

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

131○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

e morais causados aos seus agentes, incluídos osdanos emergentes e os lucros cessantes. A satisfaçãoé a alternativa à restituição e à indenização que sepode dar mediante reconhecimento do ato ilícito,expressão de pesar, pedido de desculpas ou outramanifestação apropriada que não sejadesproporcional ao dano nem represente humilhaçãopara o Estado responsável. Em geral, a satisfação éo remédio adequado para os danos que não sejameconomicamente mensuráveis e que sejamconsiderados uma afronta ao Estado lesado.

11111.2.2.2.2.2 A PROTEÇÃO DO INDIVÍDUOA PROTEÇÃO DO INDIVÍDUOA PROTEÇÃO DO INDIVÍDUOA PROTEÇÃO DO INDIVÍDUOA PROTEÇÃO DO INDIVÍDUONNNNNO CO CO CO CO CONTEXTONTEXTONTEXTONTEXTONTEXTO DO DO DO DO DA TEORIA DA TEORIA DA TEORIA DA TEORIA DA TEORIA DAAAAARESPONSRESPONSRESPONSRESPONSRESPONSABILIDABILIDABILIDABILIDABILIDADEADEADEADEADEINTERNINTERNINTERNINTERNINTERNAAAAACIONCIONCIONCIONCIONAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESTTTTTADOADOADOADOADO

Concebida para resguardar os países segundoo modelo vestfaliano de comunidade internacional,a teoria da responsabilidade internacional do Estadocontempla apenas indiretamente os interesses dosindivíduos. Graças à proteção diplomática, o Estadotem a prerrogativa de exigir reparação de prejuízospessoais e materiais causados por outro Estado aseus nacionais, independentemente dos danos queele mesmo possa ter sofrido. No entanto, o recursoà proteção diplomática depende da iniciativa estatale não constitui direito do indivíduo: o costumeinternacional atesta que o Estado é soberano na suadecisão de interceder por seu cidadão. Ao assumir acausa de seu nacional pelos canais diplomáticos oupor meio da ação judicial internacional, o Estadofaz valer direito próprio de garantir o respeito aoDireito Internacional (Corte Permanente de JustiçaInternacional: affaire des concessionsMavrommatis en Palestine, acórdão de 30/8/24, p.12). Exercida no âmbito do relacionamentointerestatal, a proteção diplomática requer do Estadoprotetor a comprovação do vínculo nacional11 a fimde qualificar sua legitimidade na demanda, pois,salvo em situações excepcionais, que interessepoderia ter em proteger estrangeiro que tenha sofridoprejuízos no território de outro Estado? A exigênciaadicional de que a vítima busque reparação pelasvias internas administrativas e judiciais antes queo Estado da nacionalidade possa recorrer à proteçãodiplomática dificulta em grande medida a defesa doindivíduo, embora o costume internacional (CorteInternacional de Justiça: Elettronica Sicula, acórdãode 20/7/89, § 50) tenha desenvolvido a regra doesgotamento dos recursos internos para permitirao Estado responsável sanar o prejuízo causado aoestrangeiro sem o incidente diplomático.12 Assimlimitada ao nacional residente no exterior, a proteçãodiplomática é mecanismo precário de defesa do

indivíduo porque não alcança o estrangeiro em outroEstado nem o nacional em seu próprio Estado.

11111.3.3.3.3.3 A RESPONSA RESPONSA RESPONSA RESPONSA RESPONSABILIDABILIDABILIDABILIDABILIDADEADEADEADEADEINTERNINTERNINTERNINTERNINTERNAAAAACIONCIONCIONCIONCIONAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESAL DO ESTTTTTADOADOADOADOADOPOR VIOLPOR VIOLPOR VIOLPOR VIOLPOR VIOLAAAAAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO DE DIREITO DE DIREITO DE DIREITO DE DIREITO DE DIREITOSOSOSOSOSHUMANOSHUMANOSHUMANOSHUMANOSHUMANOS

A proteção dos direitos humanos difere emessência da proteção diplomática. O regime deproteção objetiva13 que deriva dos tratadosinternacionais de direitos humanos obriga o Estadoa respeitar os direitos fundamentais de todos osindivíduos que se encontrem sob sua jurisdição. Aobrigação de defender os direitos humanos nãoconstitui faculdade que os Estados contratamsegundo o tradicional princípio de reciprocidadeinerente aos tratados internacionais.14 Ao superaro paradigma da não-interferência nos assuntosdomésticos, o Direito Internacional dos DireitosHumanos ultrapassou o voluntarismo estatal ecolocou o ser humano no centro da proteçãojurídica, dotando-o de capacidade processual paradefender-se diretamente perante órgãosinternacionais. Embora a Comissão de DireitoInternacional sustente a complementaridade entrea proteção diplomática e a proteção dos direitoshumanos,15 parte da doutrina considera os doisinstitutos incompatíveis.16 A decisão no recentecaso LaGrand, em que a falta de comunicação pelosEstados Unidos à Alemanha da prisão de nacionaisalemães e de sua condenação à morte implicou paraa Corte Internacional de Justiça uma violação dodireito dos condenados a um processo justo combase na Convenção de Viena sobre RelaçõesConsulares, sem dúvida confirma que a proteçãodiplomática pode incorporar elementos de defesados direitos humanos.17 Ainda assim, os esforçosde aproximação não podem obscurecer a maiorabrangência que a proteção dos direitos humanosadquire em virtude do acesso dos indivíduos ainstâncias internacionais para a defesa, em nomepróprio, de direitos contra seus Estados.

O regime instaurado pelo Direito Internacionaldos Direitos Humanos inovou na teoria daresponsabilidade internacional do Estado porconferir ao indivíduo o direito de buscar reparaçãopor violações de direitos fundamentais cometidaspor seu próprio Estado.18 O Professor AntônioAugusto Cançado Trindade19 ressalta que, sendoparte irreversível do processo histórico de afirmaçãodos direitos humanos, o acesso direto dosparticulares à justiça internacional constituicláusula pétrea da proteção internacional dos direitosda pessoa humana, derivada de verdadeira revolução

Patrick Petiot

132 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

jurídica produzida pelo Direito Internacional dosDireitos Humanos. O substrato individualista queacompanhou a evolução dos direitos humanos desdeo início da Modernidade atingiu assim o auge coma concessão ao indivíduo do direito de queixa peranteórgãos internacionais e regionais de monitoramentodos direitos humanos. O direito de petiçãoindividual representa como que o epílogo de umafase de quinhentos anos de história dos direitoshumanos: superando a onipotência do Estadomoderno, o indivíduo conquistou instrumentosjurídicos para defender-se em instânciasinternacionais contra as arbitrariedades praticadaspor seu próprio Estado.

Parece neste contexto atualmente secundárioo debate de escola que consiste em determinar se oindivíduo é ou não é sujeito de Direito Internacional.Não pode haver dúvida de que o indivíduo é sujeitode direitos e obrigações no plano internacional. Oargumento segundo o qual o indivíduo não pode serconsiderado sujeito de Direito Internacional por lhefaltar capacidade para celebrar tratados e portantopara participar da produção do acervo normativointernacional20 é incompreensível na medida em queos sujeitos de Direito Internacional não sãonecessariamente idênticos nem quanto à suanatureza nem quanto à extensão de seus direitos(Corte Internacional de Justiça: reparation forinjuries suffered in the service of the United Nations,opinião consultiva de 11/4/49). Os sujeitos de Direitointerno que não participam do processo legislativotambém são titulares de direitos e obrigações.

2 .2 .2 .2 .2 . A REPA REPA REPA REPA REPARABILIDARABILIDARABILIDARABILIDARABILIDADE DADE DADE DADE DADE DASASASASASVIOLVIOLVIOLVIOLVIOLAAAAAÇÕES DE DIREITÇÕES DE DIREITÇÕES DE DIREITÇÕES DE DIREITÇÕES DE DIREITOSOSOSOSOSHUMANOSHUMANOSHUMANOSHUMANOSHUMANOS

A Corte Interamericana subscreve ao princípiode Direito Internacional de que toda quebra deobrigação que tenha produzido um dano comporta odever de repará-lo adequadamente (CorteInteramericana de Direitos Humanos: VelásquezRodríguez versus Honduras, acórdão de 21/7/89, §25; Godínez Cruz versus Honduras, acórdão de 21/7/89, § 23; “Cinco Pensionistas” versus Peru, acórdãode 28/2/03, § 173). A reparação é o termo genérico deresponsabilização do Estado que compreende arestituição integral, a indenização, a satisfação eoutras espécies possíveis de ressarcimento (CorteInteramericana de Direitos Humanos: LoayzaTamayo versus Peru, acórdão de 27/11/98, § 85).Embora a restituição integral seja a forma ideal dereparação, porque devolve as coisas ao estado anteriorao cometimento do ato ilícito,21 a indenizaçãoconstitui a modalidade usual de reparação de danos

causados a particulares (Corte Permanente de JustiçaInternacional: Usine de Chorzów, acórdão de13/9/28 sobre o mérito, pp. 27-28).

A reparabilidade dos prejuízos decorrentes daviolação de direitos humanos encontra amparo nosinstrumentos internacionais e regionais de proteçãodos direitos humanos. O Comitê de DireitosHumanos recomenda o cumprimento de reparaçõesque incluem o pagamento de compensações ditadaspelo art. 9°.5 do Pacto Internacional sobre DireitosCivis e Políticos, que garante a reparação a qualquerpessoa vítima de prisão ilegal (Comitê de DireitosHumanos: comunicado n. 971/2001 de 13/4/05sobre o Uzbequistão; comunicado n. 973/2001 de13/4/05 sobre o Tadjiquistão). Os tratados regionaispossuem dispositivos de alcance amplo quefuncionam como cláusulas gerais de reparação. Oart. 63.1 da Convenção Americana dispõe: “Quandodecidir que houve violação de um direito ouliberdade protegido nesta Convenção, a Cortedeterminará que se assegure ao prejudicado o gozodo seu direito ou liberdade violados. Determinarátambém, se isso for procedente, que sejam reparadasas conseqüências da medida ou situação que hajaconfigurado a violação desses direitos, bem como opagamento de indenização justa à parte lesada”. Oart. 41 da Convenção Européia de Direitos Humanosestabelece: “Se o Tribunal declarar que houve violaçãoda Convenção ou dos seus protocolos e se o direitointerno da Alta Parte Contratante não permitir senãoimperfeitamente obviar às conseqüências de talviolação, o Tribunal atribuirá à parte lesada umareparação razoável, se necessário”. O art. 27.1 doProtocolo à Carta Africana de Direitos Humanos edos Povos determina: “Quando estimar que houveuma violação de um direito humano ou dos povos, aCorte ordenará todas as medidas apropriadas a fimde remediar a situação, inclusive o pagamento deuma compensação justa ou a outorga de umareparação”.

A Convenção Americana não condiciona suasdecisões à eficácia nem à eficiência dos mecanismosde reparação existentes no Estado responsável. Acondenação ao cumprimento de reparações e aopagamento de indenizações pecuniárias é feita nosistema interamericano com base nos princípios deDireito Internacional aplicáveis e nos termos daConvenção, independentemente das insuficiênciasdo Direito interno dos Estados. Como a obrigaçãode reparar se rege em todos os aspectos pelo DireitoInternacional, o Estado responsável não pode invocarseu ordenamento para se eximir de cumpri-la (CorteInteramericana de Direitos Humanos: Aloeboetoee outros versus Suriname, acórdão de 10/9/93, §44; El Amparo versus Venezuela, acórdão de

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

133○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

14/9/96, § 15; Neira Alegría e outros versus Peru,acórdão de 19/9/96, § 37; Caballero Delgado ySantana versus Colômbia, acórdão de 29/1/97, §16; Garrido y Baigorria versus Argentina, acórdãode 27/8/98, § 42).

2.2.2.2.2.11111 O CO CO CO CO CONTEÚDO DONTEÚDO DONTEÚDO DONTEÚDO DONTEÚDO DAS REPAS REPAS REPAS REPAS REPARAARAARAARAARAÇÕESÇÕESÇÕESÇÕESÇÕESPECUNIÁRIAS NO SISTEMAPECUNIÁRIAS NO SISTEMAPECUNIÁRIAS NO SISTEMAPECUNIÁRIAS NO SISTEMAPECUNIÁRIAS NO SISTEMAINTERAMERICANO DE DIREITOSINTERAMERICANO DE DIREITOSINTERAMERICANO DE DIREITOSINTERAMERICANO DE DIREITOSINTERAMERICANO DE DIREITOSHUMANHUMANHUMANHUMANHUMANOS E SUOS E SUOS E SUOS E SUOS E SUAAAAACCCCCOMPOMPOMPOMPOMPAAAAATIBILIDTIBILIDTIBILIDTIBILIDTIBILIDADE CADE CADE CADE CADE COM OOM OOM OOM OOM OORDENAMENTO JURÍDICOORDENAMENTO JURÍDICOORDENAMENTO JURÍDICOORDENAMENTO JURÍDICOORDENAMENTO JURÍDICOBRASILEIROBRASILEIROBRASILEIROBRASILEIROBRASILEIRO

O sistema interamericano desenvolveu umconjunto mais extenso do que o sistema europeude fórmulas e fundamentos para a concessão dereparações pecuniárias vinculadas a violações dedireitos humanos.22 A previsão da ConvençãoEuropéia de que reparações devem ser outorgadas“se necessário” parece justificar reparações menosamplas do que a “justa reparação” mencionada naConvenção Americana. O princípio segundo o qualas reparações seguem o Direito Internacional e adisciplina da Convenção Americana faz com queindependam das especificidades das legislaçõesinternas em matéria de pagamento de reparações.O Estado brasileiro tem a obrigação de garantir oeficaz cumprimento das decisões do sistemainteramericano: a existência de rubricas reparatóriasno sistema interamericano que sejam desconhecidasno ordenamento brasileiro exigiria a tomada urgentedas medidas administrativas e legislativascorrespondentes de implementação.

2.2.2.2.2.11111.....11111 A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO MAO MAO MAO MAO MATERIALTERIALTERIALTERIALTERIAL

O sistema interamericano consagra a plenareparabilidade dos danos materiais associados aviolações estatais de direitos humanos (ComissãoInteramericana de Direitos Humanos: Jorge AlbertoRosal Paz e Guatemala, caso n. 9.168, soluçãoamistosa de 11/3/04, § 19; Jailton Néri da Fonsecae Brasil, caso n. 11.634, relatório de mérito n. 33/04, de 11/3/04, § 136). A indenização é passível decálculo exato, na medida em que reflete os danosconcretos causados ao patrimônio da vítima,incluídos o dano emergente e o lucro cessante. Noscasos em que o dano não possa ser precisamentequantificado, a determinação da indenização materialbaseia-se no dano presumido (CorteInteramericana de Direitos Humanos: “Instituto deReeducación del Menor” versus Paraguai, acórdãode 2/9/04, § 293-294; Masacre Plan de Sánchezversus Guatemala, acórdão de 19/11/04, § 74-76).

O dano emergente constitui a totalidade do prejuízocausado à vítima em decorrência do ato ilícito. Olucro cessante resume-se à perda dos saláriosprospectivos (pérdida de ingresos) e calcula-se combase em fórmulas que levam em conta a médiasalarial da vítima no momento do crime, a médiasalarial de um contratado nas mesmas condiçõesao tempo da decisão, a média salarial de pessoascom credenciais acadêmicas similares às da vítima,o aumento potencial do salário da vítima no decorrerdo tempo, o aumento do custo de vida, a taxa deinflação e a expectativa de vida da vítima.

Os arts. 186 c/c 927 do Código Civil obrigamo causador de danos a terceiros a reparar os efeitosdos atos ilícitos cometidos por ação ou omissãovoluntária, negligência ou imprudência. Aindenização mede-se pela extensão do dano e deveincluir o que efetivamente se perdeu (damnumemergens) e o que razoavelmente se deixou de ganhar(lucrum cessans). O dano indenizável inclui past,present and prospective harm. Embora não se exijana ação indenizatória a comprovação imediata doquantum, que é matéria de liquidação, é necessárioque o autor demonstre o prejuízo, sob pena de sequalificar o dano como hipotético. O SuperiorTribunal de Justiça vem mitigando o rigor do ônusprobatório relativo à quantificação dos lucroscessantes e vem concedendo indenizações conformea presunção de que os fatos se desenrolariam noseu curso normal.23 A ordem brasileira prevêportanto a plena indenizabilidade do dano material.

Ao determinar no art. 37, § 6º, que as pessoasjurídicas de Direito público e as de Direito privadoprestadoras de serviços públicos respondem pelosdanos que seus agentes, nessa qualidade, causem aterceiros, a Constituição Federal consagra igualmentea ampla reparabilidade do dano material causado peloEstado ao particular. Neste contexto, as decisõestomadas no sistema interamericano no sentido dacondenação do Brasil ao pagamento de indenizaçõespor danos materiais decorrentes de violações dedireitos humanos são compatíveis com oordenamento jurídico brasileiro.

2.2.2.2.2.11111.2.2.2.2.2 A COMPENSAÇÃO MORALA COMPENSAÇÃO MORALA COMPENSAÇÃO MORALA COMPENSAÇÃO MORALA COMPENSAÇÃO MORAL

A Corte Interamericana entende que o DireitoInternacional assegura a reparabilidade do dano moraladvindo de violações de direitos humanos (CorteInteramericana de Direitos Humanos: VelásquezRodríguez versus Honduras, acórdão de 21/7/89, §27; Godínez Cruz versus Honduras, acórdão de 21/7/89, § 25). À semelhança do que ocorre najurisprudência européia de direitos humanos, asentença condenatória constitui início decompensação moral em favor da vítima (Corte

Patrick Petiot

134 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Interamericana de Direitos Humanos: Castillo Páezversus Peru, acórdão de 27/11/98, § 84; Tibi versusEquador, acórdão de 7/9/04, § 243; “Instituto deReeducación del Menor” versus Paraguai, acórdãode 2/9/04, § 299; Ricardo Canese versus Paraguai,acórdão de 31/8/04, § 205). A compensação pecuniáriaé devida nos casos mais graves que justificam a outorgade montante monetário como pretium doloris. Sendoimpossível aferir o dano moral objetivamente, suacompensação é fixada com base na eqüidade (CorteInteramericana de Direitos Humanos: Godínez Cruzversus Honduras, acórdão de 21/7/89, § 25), segundoapreciação prudente da Corte (Corte Interamericanade Direitos Humanos: Castillo Páez versus Peru,acórdão de 27/11/98, § 84).

A compensação moral foi por longo temporejeitada no Brasil. Qualificado como “extravagânciado espírito humano”,24 o dano moral foi outroraconfundido com o prejuízo material e visto comoinsuscetível de reparação. A falta de efeito penosodurável, a incerteza do direito violado, a dificuldadede descobrir sua existência, a indeterminação donúmero de pessoas lesadas, a impossibilidade derigorosa avaliação monetária, a extensão do arbítrioconcedido ao juiz na sua avaliação e a imoralidadeda compensação monetária do sofrimento foramargumentos com que se criticou no passado orecebimento de valores pecuniários por danoscausados a lesões extrapatrimoniais.25 A doutrinadefendeu a inexistência no Código Civil de 1916 deregra genérica de compensação moral, que seriapossível apenas em casos específicos.26 ClóvisBevilaqua,27 contudo, sustentou a reparabilidade dodano moral como regra geral no sistema civil,admitindo algumas poucas exceções ditadas porconsiderações de ordem “ética e mental”. Invocouos arts. 76, sobre o interesse moral para propor oucontestar ação, e 1.553, sobre o arbitramento do juiznos casos imprevistos, ambos do antigo Código Civil.Semelhantemente ao que se fizera no Direito francêscom a inclusão do dano moral sob a égide do art.1.382 do Código napoleônico,28 sublinhou a regraampla do art. 159, que estabelecia o dever de reparaçãode todos os danos. Pontes de Miranda tambémdefendeu a reparabilidade do dano moral,argumentando que “não é justo que nada se dê,somente por não se poder dar o exato”.29

A Constituição Federal prevê no art. 5º, V e X,o direito de resposta, proporcional ao agravo, alémda indenização por dano moral, e garante ainviolabilidade da intimidade, da vida privada, dahonra e da imagem das pessoas, assegurado o direitoa indenização pelo dano moral decorrente de suaviolação. Embora não estejam redigidos na forma decláusula geral, os dispositivos constitucionais têm

sido interpretados como enumerativos e têm dadoensejo à plena reparabilidade do dano moral no Brasil.Diversas normas infraconstitucionais consagramigualmente a compensação moral. Nos termos doart. 186 do Código Civil, aquele que, por ação ouomissão voluntária, negligência ou imprudência,violar direito e causar dano a outrem, ainda queexclusivamente moral, comete ato ilícito e se obrigaa reparar os danos. De acordo com o art. 6º, VI eVII, da Lei n. 8.078/90, que dispõe sobre a proteçãodo consumidor, é direito básico do consumidor oacesso aos órgãos judiciários e administrativos comvistas à efetiva reparação de danos morais. Segundoo art. 17 da Lei n. 8.069/90, que dispõe sobre oEstatuto da Criança e do Adolescente, o respeito àinviolabilidade da integridade física, psíquica e moralda criança e do adolescente abrange a preservação daimagem, da identidade, da autonomia, dos valores,idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Oprincípio da reparabilidade do dano moral, quealguns autores reputavam existente antes mesmodo advento da atual Constituição,30 está hojeinequivocadamente assentado no país. O SuperiorTribunal de Justiça estabeleceu na Súmula n. 37/92que “são cumuláveis as indenizações por danomaterial e dano moral oriundos do mesmo fato”; naSúmula n. 227/99, que “a pessoa jurídica pode sofrerdano moral”; e na Súmula n. 281/04, que “aindenização por dano moral não está sujeita àtarifação prevista na Lei de Imprensa”.

Ao determinar o pagamento de compensaçõesmorais por pessoas de Direito público e pessoas deDireito privado indistintamente, o art. 5º, V e X, daConstituição Federal ampara a condenação do Estadoao pagamento de reparações por danos morais. Aoprescrever ainda no art. 37, § 6º, que as pessoasjurídicas de Direito público e as de Direito privadoprestadoras de serviços públicos responderão pelosdanos que seus agentes, nessa qualidade, causarema terceiros, a Constituição Federal refere-se aoconceito amplo de dano. A ordem interna admiteportanto a condenação do Estado ao pagamento decompensações por danos morais.31 Os tribunais têmefetivamente condenado a Administração aopagamento de compensações por danos moraiscausados a particulares (Supremo Tribunal Federal:RE n. 330.834, acórdão de 3/9/02; Superior Tribunalde Justiça: REsp n. 315.983, acórdão de 21/10/04),fixando-os por arbitramento. Neste contexto, asdecisões tomadas no sistema interamericano decondenação do Brasil ao pagamento de compensaçõespor danos morais causados a particulares em virtudede violações de direitos humanos são compatíveiscom o ordenamento jurídico brasileiro.

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

135○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

2.2.2.2.2.11111.3.3.3.3.3 A CA CA CA CA COMPENSOMPENSOMPENSOMPENSOMPENSAAAAAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO POR DO POR DO POR DO POR DO POR DANANANANANOOOOOAAAAAO PRO PRO PRO PRO PROJETOJETOJETOJETOJETO DE VIDO DE VIDO DE VIDO DE VIDO DE VIDAAAAA

A decisão que a Corte Interamericana tomouem 1998 no caso Loayza Tamayo versus Peru nosentido de reconhecer o dano decorrente dainterrupção do projeto de vida da vítima demonstraa tendência de reparar amplamente as conseqüênciasdas violações de direitos humanos. A noção deprojeto de vida remete às probabilidades de realizaçãoque a pessoa apresenta por vocação, talento,potencialidades, aspirações e circunstâncias. O danoao projeto de vida aproxima-se do que ajurisprudência francesa denomina de perda de umachance (perte d’une chance).32 A redução objetivaque o Estado violador causa à liberdade da vítimaao afetar seu projeto de vida justifica uma reparaçãoque não se confunde com a indenização materialnem com a compensação moral. A alteração do cursonatural e previsível da vida da vítima no caso LoayzaTamayo versus Peru representou grave dano ao seuprojeto de vida. A reparação foi vista como forma deaproximação da restituição integral.

Embora tenha constatado a ocorrência de danoao projeto de vida da vítima no caso Loayza Tamayoversus Peru, a Corte entendeu que o DireitoInternacional não permite no atual estágio traduziro prejuízo numa cifra indenizatória. O acesso àjurisdição da Corte e a emissão da sentença favorávelimplicam em si um princípio de satisfação,complementado pela reparação material e moral que“em certa medida” corresponde à perda das opçõesde realização pessoal de que a vítima se viuinjustamente privada. Exaltando o reconhecimentodo dano ao projeto de vida como importante avançoem direção a um maior desenvolvimentojurisprudencial das reparações por violações dedireitos humanos, os Juízes Antônio AugustoCançado Trindade e Alirio Abreu Burelliconfirmaram em voto concorrente que os critérioseminentemente patrimoniais oriundos do DireitoCivil são inadequados para a outorga de reparaçõesno contexto do Direito Internacional dos DireitosHumanos. Em virtude da necessidade de se enfatizara condição espiritual do ser humano (su condiciónde ser espiritual), a concessão de reparações porviolações de direitos humanos deve basear-se menosem critérios patrimoniais do que na integralidadeda personalidade da vítima e na verificação doimpacto que a infração a seus direitos humanosexerce sobre ela. O reconhecimento do dano aoprojeto de vida sem conotação pecuniária permitereorientar e enriquecer a jurisprudência em matériade reparações com o enfoque dos direitos humanos.

A posição de vanguarda que a Corte assumiuao decidir pela reparabilidade do dano ao projeto devida relativizou-se com a conclusão sobre aimpossibilidade de determinar o montante dacompensação. É possível que a posição final da Corteno caso Loayza Tamayo versus Peru tenharepresentado solução de compromisso entre asopiniões antagônicas de seus integrantes: se osJuízes Antônio Augusto Cançado Trindade e AlirioAbreu Burelli reconheceram o direito de todoindivíduo de ver seu projeto de vida respeitado, oJuiz Oliver Jackman considerou a noção obscura ecarente de fundamento jurídico. Entender que oacesso à jurisdição da Corte e a obtenção da sentençareconhecendo a quebra do projeto de vidacorrespondem a uma forma de reparação equivale aconfundir o direito de ação com o direito à justacompensação previsto na Convenção Americana. Atransformação do direito de ação em modalidade dereparação conduz à ineludível conclusão de quequalquer dano estaria adequadamente reparado comseu mero reconhecimento em sentença judicial. Aafirmação de que as indenizações materiais e ascompensações morais reparam “em certa medida”o dano ao projeto de vida da vítima deixa em abertoprecisamente a medida da reparação e impede oreconhecimento do dano ao projeto de vida comorubrica distinta dos danos materiais e dos danosmorais. O Juiz Carlos Vicente de Roux Rengifomanifestou em voto parcialmente dissidente aopinião segundo a qual a Corte deveria ter outorgadoà vítima um montante – que estimou por eqüidadeem US$ 25.000,00 – a título de compensação pordano ao seu projeto de vida.

A subjetividade inerente à apreciação do projetode vida arruinado não deveria inibir a Corte de fixaruma reparação. Na impossibilidade de cálculo preciso,a indenização poderia ser aferida com base naeqüidade, à semelhança do que ocorre nadeterminação do dano moral. Em coerência com suaposição de reconhecer o dano ao projeto de vida comodano autônomo e distinto dos danos material e moral,a Corte poderia talvez estabelecer uma reparaçãosimbólica a título de nominal damages ou francsymbolique para distinguir essa rubrica das demaise evitar a confusão entre conceitos diferentes. Emboranão haja precedentes judiciais no Brasil relativos àconcessão de reparações por danos ao projeto de vida,a ordem brasileira não repele sua outorga, com basena cláusula geral contida no art. 927 do Código Civil,segundo o qual aquele que, por ato ilícito, causardano a outrem, fica obrigado a repará-lo. As decisõesdo sistema interamericano que condenem o Brasil areparar danos a projetos de vida seriam portantocompatíveis com o ordenamento jurídico brasileiro.

Patrick Petiot

136 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

2.2.2.2.2.11111.4.4.4.4.4 A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZA A INDENIZAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVAAAAA

2.2.2.2.2.11111.4..4..4..4..4.11111 A CARACTERIZAÇÃO NAA CARACTERIZAÇÃO NAA CARACTERIZAÇÃO NAA CARACTERIZAÇÃO NAA CARACTERIZAÇÃO NACCCCCOMMON LOMMON LOMMON LOMMON LOMMON LAAAAAWWWWW

A outorga de indenizações pecuniárias com oduplo objetivo de reparar a vítima e punir o ofensoré característica da common law. Na Inglaterra, LordCamden empregou a expressão exemplary damagespela primeira vez em 1763 no caso Huckle versusMoney para designar o montante pago pelo réu comoexemplo à comunidade. Nos Estados Unidos, aprimeira decisão envolvendo punitive damages datade 1784 no caso Genay versus Norris. Atualmente,exemplary damages, punitive damages e vindictivedamages são termos quase equivalentes que setraduzem aqui por indenização punitiva.

Se, restritas às poucas hipóteses fixadas em1964 por Lord Devlin em Rookes versus Barnard,as indenizações punitivas hoje raramenteultrapassam o valor de mil libras esterlinas naInglaterra,33 sua concessão alcançou o ápice nosEstados Unidos. As indenizações são concedidasquando o júri constata que a perversidade de umato lesivo deriva de uma conduta agravante do agente(aggravation). Fala-se então em spite, malice oufraudulent or evil motive34 ou ainda nadesconsideração pelos interesses alheios (disregardof the interests of others), caracterizando wilful orwanton conduct. Parte da doutrina norte-americanaqualifica as indenizações punitivas como medidasde ordem pública e não como formas deindenização,35 em decorrência de sua função de penaou punição (punishment) orientada a desestimulara reincidência (deterrence). Há jurisdições que, aocontrário, conferem natureza meramente reparatóriaàs indenizações punitivas e afastam sua funçãopública penal. A reparação é nestes casos idênticaaos compensatory damages e se justifica quando,pela gravidade de sua conduta, o agente causaofensas aos sentimentos da vítima (offenses to thefeelings).36 No Restatement,37 são definidas comoindenizações, distintas dos compensatory damagese dos nominal damages, a que se condena umapessoa para puni-la por sua conduta ultrajante(outrageous conduct). A Law Commission forEngland and Wales atribui a elas funçãosimultaneamente penal e indenizatória,38 afirmandoque se destinam a um tempo a punir o réu edissuadi-lo de reincidir na conduta absurdamentedolosa (outrageously wrongful conduct), a servir deexemplo para a coletividade e a reduzir o desejo devingança da vítima. Punição ou mera compensação,os punitive damages têm sido concedidos comoacréscimos às indenizações regulares, constituindo

a marca dos Estados Unidos em matéria deresponsabilidade civil.

Há defensores e detratores do sistema depunitive damages. Abstração feita dos partidáriosda sua total abolição, a opinião que parece prevalecerna common law é a de que devem ser preservadosem homenagem à função pública corretiva epreventiva que exercem, circunscritos idealmentea parâmetros de cálculo mais previsíveis e confiáveis.Contrapondo os argumentos favoráveis e contrários,a Law Commission concluiu pela necessidade dasua preservação.39 Alguns autores os vêem comoparte estabelecida do sistema legal norte-americanoe não vislumbram qualquer tendência ao seuabandono.40 A prática tem sido semelhante nosdemais países do Commonwealth. A LawCommission observou que Canadá, Austrália e NovaZelândia declinaram da aplicação de Rookes versusBarnard e, não dispondo de normas específicas arespeito, tendem a aprovar indenizações punitivasem todos os casos de atos ilícitos civis consideradosaltamente repreensíveis.41 A American Tort ReformAssociation dedica-se desde 1986 à implementaçãode uma reforma do sistema norte-americano deconcessão de indenizações que reduza o quedenomina de loteria da litigância. Criticando aoutorga de indenizações excessivas em muitasjurisdições dos Estados Unidos, a Associaçãodefende a limitação legal dos montantes pagos esua submissão a um mecanismo transparente dedefinição dos valores das indenizações. A simplesperspectiva da condenação aumenta o montante dosacordos pré-judiciais (in terrorem effect).42

2.2.2.2.2.11111.4.2.4.2.4.2.4.2.4.2 A INDENIZAA INDENIZAA INDENIZAA INDENIZAA INDENIZAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVO PUNITIVAAAAACOMO FORMA DECOMO FORMA DECOMO FORMA DECOMO FORMA DECOMO FORMA DEREPREPREPREPREPARAARAARAARAARAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO DE VIOLO DE VIOLO DE VIOLO DE VIOLO DE VIOLAAAAAÇÕESÇÕESÇÕESÇÕESÇÕESDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOS

A Corte Interamericana enfrentou pedido deindenização punitiva pela primeira vez em 1988 nocaso Velásquez Rodríguez versus Honduras. Osfamiliares da vítima pediram a condenação do Estadohondurenho ao pagamento de 2.422.000,00 lempirasa título de indenização punitiva (daños punitivos)pela violação de direitos humanos que qualificaramde extremamente grave. A Corte indeferiu o pedidoem sentença de 1989 com o argumento de que oart. 63.1 da Convenção Americana limita a justaindenização à reparação compensatória pelo atoilícito sofrido pela parte lesada. Reconhecendoembora que tribunais anglo-americanos concedemindenizações com o propósito de servirem deexemplo ou favorecerem a dissuasão (propósitosejemplarizantes o disuasivos), a Corte sublinhou

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

137○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

que a outorga de indenizações punitivas não é possívelno atual estágio do Direito Internacional. A reparaçãoaos familiares da vítima compreendeu assim apenasa indenização material e a compensação moraladvindas de seu desaparecimento. A Corte reproduziuo entendimento na sentença de 1989 sobreindenização compensatória exarada no caso GodínezCruz versus Honduras, em que 2.283.000,00 lempirasforam solicitadas a título de indenização punitiva.

Entretanto, violações graves de direitoshumanos reiteradamente verificadas no continenteamericano levaram a Corte a modificar sua posiçãocom respeito ao deferimento de indenizaçõespunitivas. O caso Myrna Mack Chang versusGuatemala é neste sentido paradigmático daimputação de responsabilidade internacionalagravada ao Estado. As violações de direitoshumanos que contenham uma agravante justificama condenação do Estado infrator a uma reparaçãodiferenciada. O Juiz Antônio Augusto CançadoTrindade sustentou em voto concorrente de 2003 asuperação da idéia defendida em Velásquez Rodríguezversus Honduras e Godínez Cruz versus Hondurasde que as indenizações punitivas não têm lugar noDireito Internacional. Observou que oentendimento original da Corte correspondia a umavisão reacionária conformada aos cânones dopositivismo jurídico. O caráter sancionatório ourepressivo da reparação assegura a realização dajustiça porque permite evitar a impunidade. A merareparação das violações graves de direitos humanosem favor da vítima e seus familiares é insuficientepara dissuadir o Estado de reincidir. Aresponsabilidade da Guatemala foi consideradaagravada porque a execução da vítima se derasegundo um padrão de execuções extrajudiciaisseletivas cometidas em cumprimento a ordens doEstado-Maior contra indivíduos classificados comoinimigos internos do regime. Violações graves esistemáticas dos direitos humanos requerem umafirme reprovação da conduta ilícita do Estado.Indenizações punitivas de cunho dissuasivo podemgarantir a não-repetição dos fatos lesivos, tendo-sepresentes tanto as expectativas da vítima e seusfamiliares como o interesse social. Assim,distintamente do que sustentara a Corte no passado,o magistrado considerou que a reparação se poderevestir de caráter tanto ressarcitório comosancionatório, com o propósito de pôr fim àimpunidade e assegurar a realização da justiça,estando perfeitamente conforme à atual etapa deevolução do Direito Internacional e ao art. 63.1 daConvenção Americana. Reparações punitivasequivalem simultaneamente a uma reparação dedanos e a uma sanção do Estado violador e, outorgadas

sem efeitos pecuniários, encontram longa aplicaçãono domínio da proteção dos direitos humanos compropósitos ejemplarizantes o disuasivos.

A aceitação da possibilidade da condenação doEstado à execução de reparações punitivas é umavanço no domínio da proteção dos direitoshumanos. O crime de Estado ocorre quando secomprova tolerância, aquiescência, negligência ouomissão por parte do Estado com relação a violaçõesgraves de direitos humanos cometidas por seusagentes, não raro em nome de uma política pública.A violação dos direitos humanos não pode,sobretudo quando se constata a responsabilidadeagravada do Estado, resumir-se ao ressarcimento davítima, porquanto a ação do Estado deve sercondenada e a reincidência, inibida. Outra não é afilosofia dos punitive damages na common law, emque se admitem para reparar a vítima e dissuadir oofensor de reincidir na conduta.

A condenação do Estado ao pagamento deindenizações punitivas esbarraria no Brasil navedação do enriquecimento ilícito da vítima. Noentanto, a execução de indenizações punitivas seriapossível se o montante fosse depositado em fundoespecialmente constituído para esse fim que sirvapara a promoção de interesses sociais. A Cortepoderia neste caso controlar a alocação dos recursosdo fundo. O Fundo de Defesa de Direitos Difusos,previsto no art. 13 da Lei n. 7.347/85, que disciplinaa ação civil pública de responsabilidade por danoscausados ao meio ambiente, ao consumidor, a bense direitos de valor artístico, estético, histórico eturístico, poderia ser inicialmente utilizado comessa finalidade.43

3 .3 .3 .3 .3 . A EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃO POR QUO POR QUO POR QUO POR QUO POR QUANTIAANTIAANTIAANTIAANTIACERCERCERCERCERTTTTTA CA CA CA CA CONTRA A FAZENDONTRA A FAZENDONTRA A FAZENDONTRA A FAZENDONTRA A FAZENDAAAAAPÚBLICA FEDERALPÚBLICA FEDERALPÚBLICA FEDERALPÚBLICA FEDERALPÚBLICA FEDERAL

A União denomina-se Fazenda Pública Federalquando defende seus interesses patrimoniais emjuízo.44 Os óbices da inalienabilidade e daimpenhorabilidade dos bens públicos45 determinama necessidade de regime especial que discipline aexecução contra a Fazenda Pública. Ao passo quena execução por quantia certa contra devedorsolvente do art. 652 do Código de Processo Civil ojuiz manda citar o executado para pagar ou nomearbens à penhora no prazo de 24 horas, na execuçãocontra o erário o juiz não tem poderes para exercera constrição forçada de bens públicos. A regra doart. 591 do Código, segundo a qual o devedorresponde, para o cumprimento de suas obrigações,com todos os seus bens presentes e futuros, éineficaz em face da Administração. A citação apenas

Patrick Petiot

138 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

dá ciência ao Estado da propositura da ação executóriae abre prazo para a oposição de embargos. Nãohavendo embargos ou rejeitados que sejam, o PoderJudiciário solicita à pessoa jurídica de Direito públicocondenada que providencie a dotação orçamentáriapara honrar o crédito no exercício financeiro seguinte.A ação de execução contra a Fazenda Pública consisteassim em pedir à União que pague voluntariamentesuas dívidas. O elemento de discricionariedadepresente na execução contra o Estado levou a doutrinaa descaracterizar o procedimento executório, que nãose destina, nos moldes da teoria clássica,46 a invadiro patrimônio do devedor independentemente de seuconsentimento com vistas à completa satisfação docredor. A execução do erário revela-se uma execuçãoimprópria,47 ou uma execução indireta,48 em que ojuiz busca o cumprimento de uma condenaçãoaparente,49 cuja eficácia “vai pouco além da meradeclaração”.50 O rito da execução contra a FazendaPública está disciplinado no art. 100 da ConstituiçãoFederal e nos arts. 730 e 731 do Código de ProcessoCivil.

3.3.3.3.3.11111 A EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃO FUNDO FUNDO FUNDO FUNDO FUNDADADADADADA EMA EMA EMA EMA EMTÍTULO EXTRAJUDICIALTÍTULO EXTRAJUDICIALTÍTULO EXTRAJUDICIALTÍTULO EXTRAJUDICIALTÍTULO EXTRAJUDICIAL

O art. 100, caput, da Constituição Federalrefere-se aos pagamentos devidos pela FazendaPública em virtude de sentença judiciária. O art.100, § 1º, obrigava originalmente a inclusão noorçamento das entidades de Direito público da verbanecessária ao pagamento dos débitos constantes deprecatórios judiciários até o final do exercícioseguinte. Os dispositivos combinados conduziamà interpretação de que a Fazenda Pública podia serexecutada com títulos extrajudiciais. A expressãosentença judiciária era lida como decisão em sentidoamplo para abarcar os acórdãos prolatados pelasinstâncias colegiadas e os títulos extrajudiciais, quese equiparam a decisões judiciais para efeitos deexecução. A expressão precatório judiciário reforçavaessa interpretação porque tanto a execução fundadaem título judicial como a execução fundada emtítulo extrajudicial redundam na emissão deprecatório judicial. Os tribunais adotavam esseentendimento e aceitavam pedidos de execução doerário com esteio em título extrajudicial (SuperiorTribunal de Justiça: REsp n. 42.774, acórdão de 9/8/94 da Terceira Turma; REsp n. 79.222, acórdãode 25/11/96 da Terceira Turma). A execução contraa Fazenda Pública independia portanto da naturezado título executivo.

A revisão do art. 100, § 1º, da ConstituiçãoFederal para obrigar a inclusão no orçamento dasentidades de Direito público da verba necessária aopagamento dos débitos oriundos de sentenças

transitadas em julgado e constantes de precatóriosjudiciários gerou a opinião inversa de que oconstituinte havia eliminado a possibilidade deexecução contra a Fazenda Pública com títuloextrajudicial. A referência às sentenças transitadasem julgado induziu a conclusão de que somente otítulo judicial, apto a transitar em julgado, podefundar ação de execução contra o erário. Segundoeste entendimento, o credor que detivesse títuloextrajudicial teria de ingressar com ação deconhecimento para suscitar o julgamento de suarelação com a Fazenda Pública e, obtendo sentençacondenatória, proceder à ação de execução após otrânsito em julgado da decisão.51

Entretanto, a Segunda Turma do SupremoTribunal Federal entendeu no AgRE n. 421.233,acórdão de 15/6/04, que a Fazenda Pública aindapode ser executada com título extrajudicial. ATurma rejeitou a interpretação segundo a qual oconstituinte derivado havia suprimido apossibilidade de execução judicial de títuloextrajudicial. Ao recordar que a Constituiçãoanterior também exigia sentença transitada emjulgado na execução de título extrajudicial, observouque a propositura de ação de execução com fulcroem título extrajudicial acarreta prolação de sentença,que, transitada em julgado, permite a continuaçãodo processo executivo mesmo na ausência deembargos do devedor. A Constituição Federal dáefetivamente margem a essa interpretação aomencionar o pagamento dos débitos oriundos desentenças transitadas em julgado sem qualificá-lascomo decisões que põem fim ao processo deconhecimento. O Superior Tribunal de Justiçapacificou posição a respeito do tema ao dispor naSúmula n. 279/03 que “é cabível execução por títuloextrajudicial contra a Fazenda Pública”.

3.23.23.23.23.2 O PRECO PRECO PRECO PRECO PRECAAAAATTTTTÓRIOÓRIOÓRIOÓRIOÓRIO

O precatório requisitório dirigido à entidadede Direito público condenada para que efetue opagamento de quantia certa em virtude de decisãojudicial tem longínqua origem lusitana.52

Diferentemente da opinião corrente, porém, asOrdenações do Reino não definiam o precatóriocomo instrumento específico de execução contra aFazenda Pública, mas como instrumento amplo derequisição.53

O precatório passou para o Império. Como alegislação imperial consignou o princípio dainalienabilidade e impenhorabilidade dos benspúblicos, o precatório foi instituído como meio deexecução da Fazenda Pública em moldessemelhantes aos atuais. A Constituição de 1824silenciou a respeito, mas o Manual do Procurador

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

139○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

dos Feitos da Fazenda Nacional registrou no § 282:“Para a execução, deve o Procurador dos Feitos serrequerido; e, não tendo duvida, expede-se Precatoriodirigido à Repartição competente para opagamento”.54 A Constituição republicana de 1891tampouco abordou o tema, mas o precatório foiadotado no Decreto n. 3.084/1898,55 que, assinadopelo Presidente Prudente de Moraes, aprovou aconsolidação das leis referentes à Justiça Federal.O art. 41 do Decreto rezava: “Sendo a Fazendacondemnada por sentença a algum pagamento, estãolivres de penhora os bens nacionaes, os quaes nãopodem ser alienados sinão por acto legislativo. Asentença será executada, depois de haver passadoem julgado e de ter sido intimado o procurador daFazenda, si este não lhe offerecer embargos,expedindo o juiz precatorio ao Thesouro paraeffectuar-se o pagamento”.

A instituição do sistema do precatório em nívelconstitucional derivou de proposta queThemistocles Brandão Cavalcanti havia apresentadoem 1932 no contexto dos trabalhos realizados pelogrupo de juristas encarregado pelo PresidenteGetúlio Vargas, então chefe do governo provisório,de elaborar anteprojeto de Constituição. A propostarecebeu a seguinte redação: “As dívidas provenientesde sentença judiciária serão pagas na ordem rigorosada antigüidade, pela expedição do precatório, dentrodo crédito orçamentário aberto para esse fim”.56 Aproposta foi adotada com acréscimos no art. 182 daConstituição de 1934 e mantida com alterações noart. 95 da Constituição de 1937, no art. 204 daConstituição de 1946, no art. 112 da Constituiçãode 1967, transposto literalmente para o art. 117 apósa Emenda à Constituição n. 1/69, e no atual art.100 da Constituição Federal.

A inclusão do precatório na Constituição de1934 visava à moralização57 dos pagamentos feitossem critério pela Fazenda Pública. O sistema adotadoaté então de submissão aleatória ao CongressoNacional das sentenças judiciais condenatórias doerário estimulava uma advocacia administrativa quefavorecia o pagamento de certos créditos emdetrimento de outros. A análise parlamentar do méritodas condenações contribuía para desmoralizar asdecisões judiciais. A idéia de moralidade associadaao precatório perpetua-se até hoje.58

O precatório é o ofício que o juiz da execuçãoencaminha ao presidente do tribunal competentecom pedido de requisição do pagamento à pessoajurídica de Direito público condenada. O presidentenão tem competência para decidir qualquerincidente sobre o precatório. O Supremo TribunalFederal entendeu na ADI n. 1.098, acórdão de 11/9/96, que a atividade desenvolvida pelo presidente

no processamento do precatório tem naturezaadministrativa e não jurisdicional. O ente públicoé instado a providenciar a inclusão dos valoresapresentados até 1º de julho no orçamento doexercício financeiro seguinte. As quantiasrequisitadas após essa data podem ser pagas noexercício subseqüente. As dotações orçamentáriasficam consignadas ao Poder Judiciário e opagamento é feito na ordem de apresentação dosprecatórios e à conta dos respectivos créditos.

3.33.33.33.33.3 A EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃA EXECUÇÃO SEM PRECO SEM PRECO SEM PRECO SEM PRECO SEM PRECAAAAATTTTTÓRIOÓRIOÓRIOÓRIOÓRIO

O uso do precatório na execução da FazendaPública por quantia certa é anacrônico.59 Já em seusprimórdios constitucionais, Pontes de Mirandaobservou: “Não digamos que seja perfeito.Reconheçamos-lhe a juridicidade e a eticidade dosseus propósitos”.60 Originalmente elevado àdignidade magna para moralizar os pagamentos feitospelo Estado, o precatório tornou-se um pesadelo paraquem tem créditos a receber do erário. Aoinadimplemento se soma a morosidade dopagamento. Embora persista na fórmula do precatóriopara a execução da Fazenda Pública, o constituintetem buscado alternativas que atenuem as dificuldadesde pagamento nos casos prementes. As hipóteses dedispensa de precatório para o pagamento de quantiacerta reduzem os privilégios que a Administraçãodetém em razão de seu regime especial de execução eatende não apenas ao moderno princípio da igualdadedas partes, mas também ao direito fundamentalinscrito no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal,segundo o qual se asseguram a todos, no âmbitojudicial e administrativo, a razoável duração doprocesso e os meios que garantam a celeridade desua tramitação.

3.3.3.3.3.3.3.3.3.3.11111 AS DÍVIDAS DÍVIDAS DÍVIDAS DÍVIDAS DÍVIDAS DE NAS DE NAS DE NAS DE NAS DE NAAAAATUREZATUREZATUREZATUREZATUREZAALIMENTALIMENTALIMENTALIMENTALIMENTARARARARAR

O constituinte inovou ao incluir referênciaexpressa aos créditos de natureza alimentícia nocaput do art. 100 da Constituição Federal.61 Arelevância atribuída aos alimentos no dispositivoconstitucional relativo à execução da FazendaPública alinha-se à da prisão autorizada pelo art.5º, LXVII, da Constituição Federal do responsávelpelo inadimplemento voluntário e inescusável deobrigação alimentícia. O estabelecimento dehipótese constitucional quase única de prisão civilpor dívida alimentar denota a importância que oordenamento brasileiro consagra à prestação dasparcelas monetárias consideradas imprescindíveisà manutenção e à sobrevivência do ser humano. AFazenda Pública não podia ter o privilégio de

Patrick Petiot

140 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

confundir os pagamentos devidos a título dealimentos com as demais obrigações. O contornodos débitos de natureza alimentícia foi introduzidono § 1º-A do art. 100 da Constituição Federal paraindicar que compreendem aqueles decorrentes desalários, vencimentos, proventos, pensões e suascomplementações, benefícios previdenciários eindenizações por morte ou invalidez, fundadas naresponsabilidade civil, em virtude de sentençatransitada em julgado.

Interpretações divergentes surgiram a respeitoda inovação que consistiu em conferir especialidadeàs dívidas alimentares devidas pela Fazenda Pública.O sintagma inserido no início do art. 100 daConstituição Federal excepciona os créditosalimentícios da disciplina do restante do dispositivo.O entendimento de parte da doutrina62 de que asdívidas alimentícias da Fazenda Pública não seguema ordem cronológica de apresentação nem sesubmetem ao rito dos precatórios homenageia adicção constitucional ao reconhecer a possibilidadedo pagamento imediato dos créditos de naturezaalimentar. A jurisprudência sufragava esteentendimento (Superior Tribunal de Justiça: AgRgna PET n. 388, acórdão de 15/3/93 da Sexta Turma).

O Supremo Tribunal Federal firmou a posiçãocontrária de que o pagamento das dívidas de naturezaalimentar pela Fazenda Pública deve seguir o rito dosprecatórios (Supremo Tribunal Federal: ADI n. 571,acórdão de 28/11/91; ADI n. 47, acórdão de 22/10/92; RE n. 181.599, acórdão de 25/4/95 da PrimeiraTurma; RE n. 188.156, acórdão de 23/3/99 daPrimeira Turma; RE n. 201.843, acórdão de 10/4/01da Primeira Turma). O debate constante dos autosda ADI n. 47/92 permite destacar as duas posiçõesque geraram a controvérsia no Tribunal. De um lado,o Ministro Octávio Gallotti, relator, defendeu aexegese segundo a qual a Fazenda Pública deve pagaros créditos de natureza alimentar na ordem deapresentação dos precatórios. O magistrado entendeuque os pagamentos ordenados independentementede dotação orçamentária infringiriam os princípiosda unidade e da universalidade do orçamento eesbarrariam no limite dos recursos públicosarrecadados pela receita e disponibilizados noorçamento. O precatório funcionaria assim comogarantia simultânea do Estado, que preveria odesembolso em seu orçamento regular, e doparticular, que teria certeza de receber o valor devido.Os Ministros Paulo Brossard, Néri da Silveira, SydneySanches e Moreira Alves acompanharam o relator.O Ministro Paulo Brossard concordou que a exceçãorelativa aos créditos de natureza alimentar não poderiaafastar os princípios orçamentários inerentes àdespesa pública e invocou igualmente o teto das

verbas orçamentárias e o volume dos recursospúblicos. De outro lado, o Ministro Carlos Vellosoentendeu que o constituinte havia excluído oscréditos de natureza alimentícia dos precatórios afim de que fossem pagos imediatamente. A inovaçãona Constituição Federal teria sido motivada pela“difícil e tormentosa” execução contra a FazendaPública. O Ministro Sepúlveda Pertence tambémconsiderou que a exceção posta no início do art. 100da Constituição Federal seria incompatível com oregime dos precatórios. O Ministro Marco Auréliocorroborou o imediato pagamento dos créditosalimentares pela Fazenda Pública e recordou o teordo art. 33 do Ato das Disposições ConstitucionaisTransitórias, que ressalva os créditos de naturezaalimentar. Sublinhou ainda a conveniência da criaçãoantecipada de rubrica orçamentária para a satisfaçãodesses créditos e a possibilidade do pedido de aberturade crédito suplementar na forma do art. 165, § 8º, daConstituição Federal.

Em decorrência da leitura feita pelo SupremoTribunal Federal da exceção que abre o art. 100 daConstituição Federal, os créditos de naturezaalimentícia devidos pela Fazenda Pública não podemser honrados na boca do cofre. Os benefíciosalimentares devem ser pagos segundo ordemcronológica distinta dos demais valores conforme aapresentação dos precatórios e à conta dosrespectivos créditos. A Súmula n. 655/03 estabeleceque “a exceção prevista no art. 100, caput, daConstituição, em favor dos créditos de naturezaalimentícia, não dispensa a expedição de precatório,limitando-se a isentá-los da observância da ordemcronológica dos precatórios decorrentes decondenações de outra natureza”. O SuperiorTribunal de Justiça, que já decidia nesse sentido(Superior Tribunal de Justiça: REsp n. 71.364,acórdão de 30/8/95 da Quinta Turma; EDcl no RMSn. 1.392, acórdão de 18/9/95 da Segunda Turma),havia editado a Súmula n. 144/95 para dizer que “oscréditos de natureza alimentícia gozam depreferência, desvinculados os precatórios da ordemcronológica dos créditos de natureza diversa”.

3.3.23.3.23.3.23.3.23.3.2 O PO PO PO PO PAAAAAGGGGGAMENTAMENTAMENTAMENTAMENTO DE DÍVIDO DE DÍVIDO DE DÍVIDO DE DÍVIDO DE DÍVIDASASASASASDE NDE NDE NDE NDE NAAAAATUREZA ALIMENTTUREZA ALIMENTTUREZA ALIMENTTUREZA ALIMENTTUREZA ALIMENTARARARARARSEM PRECSEM PRECSEM PRECSEM PRECSEM PRECAAAAATTTTTÓRIOÓRIOÓRIOÓRIOÓRIO

A posição do Supremo Tribunal Federal sobre avinculação dos créditos de natureza alimentícia aosistema do precatório representa um retrocesso comrelação à Constituição Federal. Definidos pela ordemjurídica como necessários à sobrevivência do credor,os alimentos deveriam ser pagos independentementeda apresentação de precatório.63 A Constituição de

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

141○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1934, a primeira a prever mecanismo de execuçãocontra a Fazenda Pública em nível constitucional,determinava no art. 121, § 8º, que as indenizaçõespor acidente de trabalho em obras públicas fossempagas em quinze dias após a sentença judicial.64 Oconstituinte, que havia adotado o precatório comomeio de moralizar os pagamentos da Fazenda Pública,autorizou no mesmo diploma que as reparaçõesacidentárias dele prescindissem. A posição doTribunal é tanto mais contraditória que ajurisprudência aceita a prisão civil do alimentanterelapso somente no caso de recusa ou atraso dopagamento das últimas três parcelas, o que apontapara a urgência das prestações alimentares (SupremoTribunal Federal: HC n. 74.663, acórdão de 8/4/97da Segunda Turma). A intenção do constituinte deretificar uma situação equivocada para dar o benefíciodo pronto recebimento de dívidas de naturezaalimentícia foi desconsiderada pelo Tribunal graçasà interpretação de que os precatórios alimentarespreferem aos outros apenas com relação à ordemcronológica de sua apresentação. O efeito moralizadorque se vislumbra ainda hoje no precatório anula-sepela infração reflexa aos princípios constitucionaisda dignidade da pessoa humana e da razoabilidade dotempo do processo.

É verdade que o sistema do precatório atuaem favor do princípio da legalidade da despesapública. Os arts. 165, § 8º, e 167, I, II, V, VI e VII,da Constituição Federal circunscrevem todo gastopúblico à prévia autorização legal.65 No entanto, ainclusão no orçamento do exercício seguinte dadotação necessária ao pagamento dos precatóriospassados não é o único meio de que dispõe a FazendaPública para honrar seus compromissosfinanceiros. Antecipando-se às condenações, aAdministração poderia incluir na lei orçamentáriaanual rubrica destinada ao pagamento de dívidasfuturas que, uma vez definitivamente julgadas peloPoder Judiciário, seriam logo liquidadas. Aimpossibilidade de previsão da dotação exata poderiaser remediada com a abertura de crédito adicionalsuplementar, que, embora constitua exceção aoprincípio da unidade do orçamento,66 tem previsãoexpressa no art. 167, V, § 2º e 3º, da ConstituiçãoFederal e está regulamentado nos arts. 40 a 46 daLei n. 4.320/64, que estatui normas gerais de DireitoFinanceiro para elaboração e controle dosorçamentos e balanços da União, dos Estados, dosMunicípios e do Distrito Federal. Os créditosadicionais suplementares, definidos no art. 41, I,da Lei como aqueles destinados a reforço de dotaçãoorçamentária, podem ser abertos por decretopresidencial, nos termos da lei, e podem serutilizados pela Fazenda Pública para o pagamento

de dívidas para as quais não haja previsãoorçamentária suficiente. A Lei n. 11.306/06, queestima a receita e fixa a despesa da União para oexercício financeiro de 2006, autoriza no art. 4º,III, a abertura de créditos adicionais parasuplementação de dotações consignadas aoatendimento de despesas decorrentes de sentençasjudiciais transitadas em julgado.

Os problemas associados ao cumprimento dosprecatórios pela Fazenda Pública explicam aapresentação de 275 propostas de emenda aos arts.100 da Constituição Federal e 33 do Ato dasDisposições Constitucionais Transitórias duranteos trabalhos de revisão constitucional. Ainterpretação do Supremo Tribunal Federal de queas dívidas de natureza alimentar obedecem aosistema do precatório faz com que o assuntopermaneça em pauta. A proposta de emenda àConstituição n. 529/97 dispensa o pagamento doscréditos alimentares da ordem de apresentação deprecatório. O pagamento seria feito até sessenta diasapós a requisição do juízo da execução ao presidentedo tribunal competente.

4 .4 .4 .4 .4 . O PO PO PO PO PAAAAAGGGGGAMENTAMENTAMENTAMENTAMENTO DEO DEO DEO DEO DEREPREPREPREPREPARAARAARAARAARAÇÕES PELÇÕES PELÇÕES PELÇÕES PELÇÕES PELO ESO ESO ESO ESO ESTTTTTADOADOADOADOADOBRASILEIRO EMBRASILEIRO EMBRASILEIRO EMBRASILEIRO EMBRASILEIRO EMCUMPRIMENTO ÀS DECISÕESCUMPRIMENTO ÀS DECISÕESCUMPRIMENTO ÀS DECISÕESCUMPRIMENTO ÀS DECISÕESCUMPRIMENTO ÀS DECISÕESEMANEMANEMANEMANEMANADADADADADAS DO SISAS DO SISAS DO SISAS DO SISAS DO SISTEMATEMATEMATEMATEMAINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOS

4.4.4.4.4.11111 A OBRIGA OBRIGA OBRIGA OBRIGA OBRIGAAAAAÇÃÇÃÇÃÇÃÇÃO DE ADOO DE ADOO DE ADOO DE ADOO DE ADOTTTTTAR ASAR ASAR ASAR ASAR ASMEDIDMEDIDMEDIDMEDIDMEDIDAS NECESSAS NECESSAS NECESSAS NECESSAS NECESSÁRIAS AÁRIAS AÁRIAS AÁRIAS AÁRIAS AOOOOOCUMPRIMENTCUMPRIMENTCUMPRIMENTCUMPRIMENTCUMPRIMENTO DO DO DO DO DAS DECISÕESAS DECISÕESAS DECISÕESAS DECISÕESAS DECISÕES

Os Estados-Partes da Convenção Americanaassumiram a obrigação primária constante do art.1º de respeitar os direitos e liberdades reconhecidosno instrumento e de garantir seu livre e plenoexercício a toda pessoa sujeita à sua jurisdição.Assumiram igualmente a obrigação secundáriacontida no art. 2º de adotar as medidas legislativasou de outra natureza necessárias para tornar efetivosos direitos e liberdades convencionais. Oestabelecimento da Comissão e da CorteInteramericanas como órgãos competentes paraconhecer dos assuntos relacionados aocumprimento dos compromissos dos Estados tornaas decisões do sistema interamericano obrigatóriaspara os Estados que ratificaram a Convenção.67 OsEstados têm assim o dever de adequar seuordenamento jurídico à normativa internacional por

Patrick Petiot

142 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

meio de legislação que regulamente os tratados egaranta sua eficácia ou que altere a lei vigente a fimde harmonizá-la com os dispositivosconvencionais.68 Os arts. 1º e 2º da Convenção estãoportanto intimamente relacionados.69

Ao dever de adotar as medidas necessáriascorresponde a vedação que o Direito Internacionaltradicionalmente impõe aos Estados de invocarquestões de ordem interna para descumprir oucumprir imperfeitamente decisões internacionais(Corte Permanente de Justiça Internacional:communautés gréco-bulgares, opinião consultivade 31/7/30, p. 32). A proibição é tanto maiscompreensível que os Estados ingressam nostratados por sua livre vontade. A Convenção de Vienasobre o Direito dos Tratados consolida no art. 27 aregra consuetudinária segundo a qual uma parte nãopode invocar as disposições de seu Direito parajustificar o inadimplemento de um tratado.

4.24.24.24.24.2 OS RELOS RELOS RELOS RELOS RELAAAAATTTTTÓRIOS DÓRIOS DÓRIOS DÓRIOS DÓRIOS DAAAAACOMISSÃO INTERAMERICANACOMISSÃO INTERAMERICANACOMISSÃO INTERAMERICANACOMISSÃO INTERAMERICANACOMISSÃO INTERAMERICANADE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOSDE DIREITOS HUMANOS

A Corte Interamericana registrou em 1994 nasexceções preliminares relativas ao caso CaballeroDelgado y Santana versus Colômbia que estavaconforme ao objeto e ao fim da ConvençãoAmericana a interpretação segundo a qual um Estadosó pode ser obrigado a pagar reparações por meio deuma sentença. A Corte entendeu na ocasião que asrecomendações não têm força vinculante. Emboraa Comissão Interamericana derivasse aobrigatoriedade de suas deliberações do deverassumido pelos Estados-Partes da Convenção derespeitar os direitos humanos, a Corte consideravaque, nos moldes da Convenção de Viena sobre oDireito dos Tratados, o uso do termo recomendaçãoretira sua força cogente.70 Defender a naturezarecomendatória das deliberações da Comissãoequivalia a subtrair sua força e impedirdefinitivamente sua equiparação a títulos executivos.

A Corte desenvolveu posição diversa emLoayza Tamayo versus Peru ao reconhecer em 1996o caráter obrigatório das recomendações contidasnos relatórios que não são submetidos a ela; osrelatórios que seguem para a Corte não poderiamser obrigatórios porque são passíveis de modificação.A Corte decidiu então que o princípio da boa-fé,consagrado no art. 31.1 da Convenção de Viena sobreo Direito dos Tratados, aliado à assinatura e àratificação da Convenção Americana geram para oEstado a obrigação de realizar os melhores esforçospara aplicar as recomendações. A Corte aindaconsiderou que, por força do art. 33 da Convenção

Americana, a Comissão tem a competência paraconhecer dos assuntos relacionados aocumprimento dos compromissos contraídos pelosEstados-Partes e que, ao ratificá-la, os Estados-Partesse comprometem a atender às recomendaçõescontidas nos relatórios. Em conseqüência, asrecomendações feitas nos relatórios da Comissãotêm força obrigatória para o Brasil, quando nãoencaminhadas à Corte.

O procedimento inicia-se perante a Comissãopor petição escrita com a narração dos fatos efundamentos ligados à violação de direitoshumanos, atendidos os requisitos do esgotamentodos recursos internos e da ausência do decurso doprazo de seis meses para a representação, delitispendência internacional e de coisa julgadainternacional. O procedimento orientado à vítima(victim oriented) justifica a flexibilidade com que aComissão julga a admissibilidade das petições querecebe.71 A Comissão solicita informações doEstado demandado e fixa prazo razoável para aresposta. Subsistindo os motivos que fundam areclamação, a Comissão examina o assunto e realizaas investigações necessárias. Analisado o litígio, aComissão põe-se à disposição das partes para quealcancem solução amistosa baseada no respeito aosdireitos humanos reconhecidos na ConvençãoAmericana. Quando as partes alcançam soluçãoamigável, a Comissão redige relatório com os fatose a solução obtida. O relatório é transmitidoinicialmente ao peticionário e aos Estados-Partesda Convenção e depois ao Secretário-Geral daOrganização dos Estados Americanos para fins depublicação.72 A solução amigável pode contermedidas de reparação pecuniárias.

Na falta de solução amigável, a Comissão geraum primeiro relatório confidencial em que podeconcluir pela inexistência de infração ou confirmara ocorrência de violação a direitos humanos. Aqualidade da Comissão de dominus litis absolutoda ação de responsabilidade internacional do Estadoimpede qualquer recurso pelo requerente73 caso oórgão delibere pela inexistência de violação. OEstado infrator tem três meses para cumprir asrecomendações constantes do primeiro relatório emque a Comissão confirma a ocorrência de violação adireitos humanos.

O não-cumprimento das medidasrecomendadas no prazo fixado leva a Comissão adeliberar sobre a possibilidade e a conveniência desubmeter o caso à Corte. A Comissão podeinicialmente verificar ser impossível seguir para aCorte quando o Estado acusado não é parte daConvenção Americana ou não reconhece acompetência obrigatória da Corte. A Comissão pode

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

143○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

adicionalmente preferir não acionar a Corte se julgarprovável o cumprimento espontâneo darecomendação pelo Estado. Ocorrendo odescumprimento do primeiro relatório e não sendoo caso de remeter o litígio à Corte, a Comissãoprepara um segundo relatório, agora público, comrecomendações a serem cumpridas pelo Estadodentro do prazo concedido. Decorrido o prazo, aComissão decide se o Estado cumpriu ou não asrecomendações. No sistema da ConvençãoAmericana, o não-cumprimento do segundo informesó deixa à Comissão a alternativa de apelarpoliticamente à Assembléia-Geral da Organizaçãodos Estados Americanos.

O pagamento de reparações pelo Brasil combase em soluções amigáveis concluídas no âmbitoda Comissão pressupõe que o país opte pelacomposição antes da transformação da queixa emlitígio judicial perante a Corte. O governo brasileirotem procurado negociar soluções amistosas emparâmetros razoáveis para os casos em que asconsidere cabíveis. A qualidade quase-judicial daComissão permite considerar a solução amistosacomo transação extrajudicial, definida como atojurídico bilateral não homologado por órgãojudiciário em que as partes fazem concessõesrecíprocas para encerrar ou evitar controvérsia. Aparte requerente, normalmente intermediada pororganização não-governamental especializada nadefesa dos direitos humanos, propõe as medidasnecessárias que em seu entender o Estado deveadotar a fim de reverter a violação de que é acusadoe indica o quantum que a Administração devedesembolsar a título de reparação.

A questão do pagamento efetivo das reparaçõesacordadas em soluções amistosas vem precedida doproblema, até o momento pendente de solução,relativo à autoridade competente para transigir forado processo. A Lei n. 9.469/97, que dispõe sobre aintervenção da União nas causas em que figurarem,como autores ou réus, entes da Administraçãoindireta, estabelece no art. 1º que o Advogado-Geralda União e os dirigentes máximos das autarquias,fundações e empresas públicas federais podemautorizar a realização de acordos ou transações, emjuízo, para terminar o litígio, nas causas de valoraté R$ 50.000,00, a não-propositura de ações e anão-interposição de recursos, assim como orequerimento de extinção das ações em curso oude desistência dos respectivos recursos judiciais,para cobrança de créditos, atualizados, de valor igualou inferior a R$ 1.000,00. Como a lei se refereapenas a transações feitas em juízo, o Advogado-Geral da União não tem competência para autorizartransações extrajudiciais, conforme se depreende do

parecer normativo n. GQ-03/9374 da Advocacia-Geral da União, segundo o qual “da leitura dalegislação transcrita, conclui-se que os atos descritoscomo atribuições do Advogado-Geral da União sópodem ser praticados em juízo, ou seja, “nas açõesde interesse da União”. A ele só é permitido transigirno processo. (...) No caso concreto, trata-se detransação extrajudicial, não havendo razão para nelefigurar o Advogado-Geral da União (...)”. Não existenorma legal que faculte à autoridade pública transigirfora do processo.

O governo brasileiro até hoje só efetuoupagamento de reparação em virtude da soluçãoamigável concluída na esfera da Comissão no casoJosé Pereira. A inércia do governo brasileiro narepressão ao trabalho escravo e na incriminação dosculpados originou em 1994 denúncia contra o Brasilfeita à Comissão pelas organizações não-governamentais America’s Watch e Centro pelaJustiça e o Direito Internacional. A Comissãoemitiu relatório de admissibilidade em 1999 e asolução amistosa foi alcançada em 2003.75

4.2.4.2.4.2.4.2.4.2.1 O PRIN1 O PRIN1 O PRIN1 O PRIN1 O PRINCÍPIO DCÍPIO DCÍPIO DCÍPIO DCÍPIO DAAAAALEGLEGLEGLEGLEGALIDALIDALIDALIDALIDADE DADE DADE DADE DADE DA DESPESA DESPESA DESPESA DESPESA DESPESAAAAAPÚBLICAPÚBLICAPÚBLICAPÚBLICAPÚBLICA

O desembolso de verba da União para honraruma solução amistosa deve atender ao princípio dalegalidade da despesa pública. O Presidente daRepública sujeita-se a responder pelo crime deresponsabilidade previsto no art. 85, VI, daConstituição Federal na hipótese de desrespeito àlei orçamentária. A adesão do Brasil à ConvençãoAmericana não dispensa a autoridade pública deseguir as disposições financeiras postas noordenamento jurídico interno, sob pena deresponsabilização pessoal.

A inexistência de norma por meio da qual aautoridade pública possa efetuar pagamento combase em transação extrajudicial obrigou a União asubmeter o acordo de solução amistosa no caso JoséPereira à aprovação do Congresso Nacional. Oprimeiro caso a encontrar solução definitiva comdesembolso efetivo de reparação por danos materiaise morais foi assim objeto da Lei n. 10.706/03, queautorizou a União a pagar a quantia de R$ 52.000,00à vítima. A Lei indicou expressamente que opagamento exime a União de efetuar qualquer outroressarcimento ao beneficiário. Observou ainda quea despesa correria à conta de recursos alocados aprograma de trabalho da Secretaria Especial dosDireitos Humanos da Presidência da República.Finalizou determinando que a União fosse ressarcidados gastos resultantes da reparação, utilizando-se,

Patrick Petiot

144 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

se necessário, das ações ou procedimentosadministrativos ou judiciais cabíveis, asseguradaampla defesa.

4.2.24.2.24.2.24.2.24.2.2 AS POSSIBILIDAS POSSIBILIDAS POSSIBILIDAS POSSIBILIDAS POSSIBILIDADES DEADES DEADES DEADES DEADES DEPPPPPAAAAAGGGGGAMENTAMENTAMENTAMENTAMENTOOOOO

As reparações pecuniárias ditadas pelaComissão Interamericana poderiam ser semprepagas mediante aprovação de lei pelo CongressoNacional. A vítima no caso José Pereira recebeu omontante determinado na solução amistosa e deupor encerrada a obrigação pecuniária assumida peloBrasil. À semelhança do que ocorreu neste caso, osprojetos de lei teriam de ser submetidos aoParlamento em regime de urgência constitucional,que, previsto no art. 64, § 1º, da ConstituiçãoFederal, autoriza o Presidente da República a solicitarurgência para a apreciação de projetos de suainiciativa. O recurso sistemático à aprovação de leiem regime de urgência constitucional para ocumprimento das decisões da Comissão eliminariaa necessidade de adoção de qualquer ato normativonovo para disciplinar a matéria.

Diante da Súmula n. 655/03 do SupremoTribunal Federal, a aprovação de lei em regime deurgência constitucional é ainda preferível à inscriçãoda dívida em precatório. A lei tramitada em regimede urgência constitucional é aprovada maisrapidamente do que o precatório pode ser cumprido.A desvantagem da proposta de lei é deixar opagamento da reparação exclusivamente a cargo dosórgãos estatais. As organizações não-governamentaisde defesa dos direitos humanos que dão suporte àsvítimas ou seus representantes podem interferirmuito pouco na iniciativa presidencial de submetero projeto ao Congresso Nacional e na sua tramitaçãolegislativa. A eventual submissão do projeto forado regime de urgência constitucional acarretariaademais uma demora interminável para orecebimento da reparação devida.

O pagamento das reparações pecuniárias combase em decisões da Comissão poderia ser feitoalternativamente por meio de ação de execução daFazenda Pública por quantia certa. A Súmula n. 279/03 do Superior Tribunal de Justiça autoriza a vítimaa propor ação de execução contra o erário comfundamento em decisão da Comissão. A parteendereçaria petição escrita ao juiz federal que tenhacompetência para julgar a causa. O juiz citaria aFazenda Pública para opor embargos. Não havendoembargos ou sendo estes rejeitados, o juiz prolatariasentença e oficiaria a Fazenda Pública para pagar noprazo determinado. O beneficiado receberia o valordevido na boca do caixa.

O cumprimento das decisões segundo o ritoproposto dependeria ao menos de duas modificaçõeslegislativas. Em primeiro lugar, as decisões oriundasda Comissão teriam de ser incluídas no rol de títulosexecutivos extrajudiciais do art. 585 do Código deProcesso Civil. A ausência de previsão legal nessesentido poderia legitimar a Fazenda Pública a alegara inexigibilidade do título em sede de embargos. Emsegundo lugar, a posição do Supremo Tribunal Federalcontida na Súmula n. 655/03 precisaria ser revistapara se dar plena aplicabilidade à exceção contida noart. 100, caput, da Constituição Federal quanto aopagamento de dívidas de natureza alimentar semprecatório. Nos termos do art. 100, § 1º-A, daConstituição Federal, as reparações pecuniáriasderivadas da responsabilidade internacional do Estadopor violação de direitos humanos devem serconsideradas como de natureza alimentícia porquefundadas na responsabilidade civil do Estado.

O pagamento poderia ainda ser efetuadodiretamente pelo Poder Executivo com o auxílio delei que discipline a matéria. A previsão legal depagamento de reparações específicas não é estranhano Brasil. A Lei n. 9.140/95, que reconhece comomortas pessoas desaparecidas em razão departicipação, ou acusação de participação, ematividades políticas, no período de 2 de setembro de1961 a 15 de agosto de 1979, estabelece regime própriode reparação dos familiares dos mortos. As despesascorrem à conta de dotações consignadas no orçamentoda União pela lei orçamentária. A reparação éconcedida mediante decreto do Presidente daRepública, após parecer favorável da ComissãoEspecial criada para julgar os pedidos. As quantiassão embolsadas sem precatório. A Lei n. 10.559/02,que regulamenta o art. 8º do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias, garante no art. 1º, II,reparação econômica de caráter indenizatório aoanistiado político. A reparação corre à conta doTesouro Nacional e é concedida mediante portariado Ministro de Estado da Justiça, após parecerfavorável da Comissão de Anistia. As reparaçõesoutorgadas não dependem de precatório e são pagasna boca do caixa no prazo de sessenta dias a contarda notificação do Ministério da Justiça.

A criação de rubrica orçamentária específicapara o pagamento das reparações decorrentes dedecisões da Comissão Interamericana permitiria opagamento imediato pela Fazenda Pública semdesorganizar as finanças da União. A necessidadede caixa suplementar poderia ser suprida por meiode crédito adicional, que, previsto na leiorçamentária, seria aprovado por decretopresidencial, a teor da Lei n. 4.320/64.

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

145○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

4.34.34.34.34.3 AS SENTENAS SENTENAS SENTENAS SENTENAS SENTENÇÇÇÇÇAS DAS DAS DAS DAS DA CORA CORA CORA CORA CORTETETETETEINTERAMERICANA DEINTERAMERICANA DEINTERAMERICANA DEINTERAMERICANA DEINTERAMERICANA DEDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOS

A Corte Interamericana é provocada pelaComissão Interamericana quando um Estadoreconhecedor de sua jurisdição não dá cumprimentoao primeiro relatório contendo recomendaçõesrelativas à violação de direitos humanos. Oprocedimento perante a Corte é de natureza judiciale se conclui por sentença definitiva e inapelável. Assentenças podem conter medidas de reparaçãopecuniárias.

De diferentes maneiras refere-se a Corte aodever de reparar. No caso Godínez Cruz versusHonduras, a Corte condenou Honduras a pagar justareparação aos familiares da vítima segundo valor queseria fixado em sede de execução. Apreciando naliquidação a possibilidade de concessão deressarcimento por prejuízos materiais e morais epor lucros cessantes e danos emergentes, a Cortearbitrou o montante de 750.000,00 lempiras aosfamiliares da vítima, sendo 162.500,00 destinadas àcônjuge supérstite e 487.500,00 à filha, sob a formade fideicomisso constituído no Banco Central deHonduras do qual receberia mensalmente osbenefícios e, aos 25 anos de idade, o capital. No casoEl Amparo versus Venezuela, a Corte condenou aVenezuela a pagar justa reparação às vítimassobreviventes e aos familiares dos falecidos em valorque seria acordado entre o Estado e a Comissão noprazo de seis meses a contar da intimação da sentença.A reparação foi afinal acordada em 722.332,20 dólaresnorte-americanos. No caso Gangaram Panday versusSuriname, a Corte fixou em 10.000,00 dólares norte-americanos ou o equivalente em florins holandesesa reparação que o Suriname devia pagar às vítimasno prazo de seis meses.

Apesar da posição do governo brasileiro debuscar soluções amistosas intermediadas pelaComissão a fim de evitar o litígio judicial, os casosde composição impossível serão provavelmentesubmetidos à Corte. Assim como nas decisões daComissão, o pagamento de reparações determinadasem sentenças da Corte coloca para a Administraçãoo problema de seu cumprimento de acordo com asnormas do ordenamento jurídico brasileiro. AConvenção Americana estabelece no art. 68.2 que aparte da sentença que determinar o pagamento dereparação pode ser executada no país segundo oprocesso interno vigente para a execução desentenças contra o Estado.

O cumprimento de sentenças da Corte comvistas ao pagamento de reparações poderia seguir orito da execução da Fazenda Pública por quantia

certa, nos termos do art. 100 da ConstituiçãoFederal e dos arts. 730 e 731 do Código de ProcessoCivil. A parte apresentaria petição escrita ao juizfederal que fosse competente para a causa. O juizcitaria a Fazenda Pública para opor embargos. Nãoopostos os embargos ou sendo estes rejeitados, ojuiz notificaria a Fazenda Pública para pagar no prazodeterminado.

O procedimento proposto dependeria dasmesmas modificações legislativas sugeridas para ocumprimento das decisões da ComissãoInteramericana. Em primeiro lugar, as sentençasda Corte deveriam ser incluídas no rol de títulosexecutivos judiciais do art. 475-N do Código deProcesso Civil como forma de afastar os embargosque a Fazenda Pública poderia opor. A aceitação dajurisdição da Corte pelo Brasil tem comoconseqüência a possibilidade de enquadramento desuas sentenças no elenco de títulos executivosjudiciais. Em segundo lugar, a posição do SupremoTribunal Federal contida na Súmula n. 655/03precisaria ser revista a fim de se dar plenaaplicabilidade à exceção contida no art. 100, caput,da Constituição Federal quanto ao pagamento dedívidas de natureza alimentar sem precatório.

4.44.44.44.44.4 A PRA PRA PRA PRA PROPOSOPOSOPOSOPOSOPOSTTTTTA LEGISLA LEGISLA LEGISLA LEGISLA LEGISLAAAAATIVTIVTIVTIVTIVAAAAAPPPPPARA O CUMPRIMENTARA O CUMPRIMENTARA O CUMPRIMENTARA O CUMPRIMENTARA O CUMPRIMENTO DO DO DO DO DASASASASASDECISÕES DO SISTEMADECISÕES DO SISTEMADECISÕES DO SISTEMADECISÕES DO SISTEMADECISÕES DO SISTEMAINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEINTERAMERICANO DEDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOS

Com o objetivo de disciplinar o cumprimentodas decisões do sistema interamericano na ordeminterna, o projeto de lei n. 3.214/00 da Câmara dosDeputados dispunha sobre os efeitos jurídicos dasdecisões da Comissão e da Corte Interamericanas.As decisões de ambos os órgãos produziriam efeitosjurídicos imediatos no âmbito do ordenamentobrasileiro e as decisões de caráter indenizatórioconstituiriam títulos executivos judiciais sujeitosà execução direta contra a Fazenda Pública. Asreparações deveriam respeitar os parâmetros fixadospelos organismos internacionais e teriam naturezaalimentícia. A União teria ação regressiva contra aspessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas,responsáveis direta ou indiretamente pelos atosilícitos que ensejassem a responsabilização do Estadobrasileiro.

Arquivado em 2003 sem que fosse incluídoem pauta para votação, o projeto de lei foireapresentado em 2004 com alterações sob o n.4.667. O novo projeto tem o mérito de fazer alusãoaos organismos internacionais de proteção dosdireitos humanos cuja competência o Brasil tenha

Patrick Petiot

146 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

reconhecido. Nos termos do substitutivo, asdecisões desses órgãos produziriam efeitos jurídicosimediatos no país e teriam força jurídica obrigatóriae vinculante. A União ficaria obrigada a pagar asreparações ditadas pelos órgãos no prazo de sessentadias a contar da notificação da decisão. Os recursosnecessários ao pagamento das reparações teriamrubrica orçamentária própria. O projeto encontra-se presentemente na Comissão de DireitosHumanos e Minorias da Câmara dos Deputados,onde foi aprovado na forma do substitutivo.

5 .5 .5 .5 .5 . CONCONCONCONCONCLCLCLCLCLUSÃUSÃUSÃUSÃUSÃOOOOO

Embora reconheça a boa-fé e a lealdadeprocessual dos Estados da região no cumprimentodas decisões da Corte Interamericana, o Professor

Antônio Augusto Cançado Trindade76 sublinha queas vítimas de violações de direitos humanos nãotêm ainda assegurada a execução das sentenças noplano interno. O Brasil poderia contar com alegislação necessária ao fiel cumprimento dasdecisões do sistema interamericano se aprovaremenda constitucional que exclua as dívidas denatureza alimentícia do regime do precatório e leique disponha sobre o cumprimento das decisõesdos órgãos internacionais e regionais de direitoshumanos. A aprovação dessas normas é tanto maispremente que o princípio da duração razoável doprocesso, agora com foro de direito individual, obrigao Estado a instituir regras processuais que resolvamrapidamente as questões fundamentais.77

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

147○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1. Este artigo contém partes revistas e atualizadasda dissertação de mestrado de mesmo títulodefendida em 2005 na Faculdade de Direito daUniversidade de Brasília sob a orientação daProfessora Renata Rocha de Mello Martins.Agradeço o apoio constante recebido do ProfessorAntônio Augusto Cançado Trindade. O conteúdodo texto é de responsabilidade exclusiva do autore não reflete necessariamente posições dogoverno brasileiro.

2. LOUREIRO, Sílvia Maria da Silveira. Tratadosinternacionais sobre direitos humanos naConstituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.pp. 64-86; TRINDADE, Antônio AugustoCançado. A proteção internacional dos direitoshumanos e o Brasil (1948-1997): as primeirascinco décadas. 2ª ed. Brasília: Universidade deBrasília, 2000, pp. 138-143.

3. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Aproteção internacional dos direitos humanos eo Brasil (1948-1997): as primeiras cinco décadas.Op. cit., p. 39.

4. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Memorial em prol de uma nova mentalidadequanto à proteção dos direitos humanos.Boletim da Sociedade Brasileira de DireitoInternacional, Brasília, n. 113/118, 1998, p. 58.

5. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Tratado de Direito Internacional dos DireitosHumanos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,1999, v. 2, pp. 47-53.

6. O relatório com o projeto comentado sobre aresponsabilidade internacional do Estado estádisponível na página da Comissão de DireitoInternacional em: <http://untreaty.un.org/ilc/texts/instruments/english/draft%20articles/9_6_2001.pdf>. Acesso em: 7/8/06.

7. DIPLA, Haritini. La responsabilité de l’Etat pourviolation des droits de l’homme: problèmesd’imputation. Paris: A. Pedone, 1994, pp. 17-19.

8. DIPLA, Haritini. Op. cit., pp. 20-32.

9. DIPLA, Haritini. Op. cit., pp. 32-36.

10. BROWNLIE, Ian. Principles of PublicInternational Law. 4ª ed. Oxford: OxfordUniversity, 1990. p. 434.

11. BROWNLIE, Ian. Op. cit., p. 402; ZEMANEK,Karl; SALMON, Jean. Responsabilitéinternationale. Paris: A. Pedone, 1987-1988, p. 76.

12. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Oesgotamento de recursos internos no Direito

Internacional. 2ª ed. Brasília: Universidade deBrasília, 1997, p. 23.

13. ASCENSIO, Hervé. Les obligationsinternationales des États en matière de protectiondes droits de l’homme. In COMITÉ JURÍDICOINTERAMERICANO. XXVIII Curso de DerechoInternacional. Washington: Organización de losEstados Americanos, 2002, p. 8.

14. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Theconsolidation of the procedural capacity ofindividuals in the evolution of the internationalprotection of human beings: present state andperspectives at the turn of the century,Columbia Human Rights Law Review, NovaYork, v. 30, n. 1, 1998, p. 4.

15. O relatório de 2005, que inclui o debate sobre aproteção diplomática, está disponível na páginada Comissão de Direito Internacional em:<http://untreaty.un.org/ilc/reports/2005/2005report.htm>. Acesso em: 7/8/06.

16. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Oesgotamento de recursos internos no DireitoInternacional. Op. cit., pp. 148-165.

17. PINTO, Mónica. De la protection diplomatiqueà la protection des droits de l’homme. Revuegénérale de droit international public, Paris, t.106, n. 3, 2002, íntegra.

18. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Theconsolidation of the procedural capacity ofindividuals in the evolution of the internationalprotection of human beings: present state andperspectives at the turn of the century. Op. cit.,pp. 7 e 16.

19. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Lascláusulas pétreas de la protección internacionaldel ser humano: el acceso directo de losindividuos a la justicia a nivel internacional y laintangibilidad de la jurisdicción obligatoria delos tribunales internacionales de derechoshumanos. In CORTE INTERAMERICANA DEDERECHOS HUMANOS. El sistemainteramericano de protección de los derechoshumanos en el umbral del siglo XXI. São José:Corte Interamericana de Derechos Humanos,2001, pp. 5-6.

20. REZEK, José Francisco. Direito InternacionalPúblico: curso elementar. 9ª ed. São Paulo:Saraiva, 2002, pp. 146-147.

21. RAMOS, André de Carvalho. Responsabilidadeinternacional por violação de direitos humanos:

NNNNNOOOOOTTTTTASASASASAS

Patrick Petiot

148 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

seus elementos, a reparação devida e sançõespossíveis. Teoria e prática do DireitoInternacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pp.252-254.

22. FONTANA, Barbra. Damage awards for humanrights violations in the European and Inter-American Courts of Human Rights. Santa ClaraLaw Review, Santa Clara, v. 31, n. 4, 1991, pp.1.135 e 1.168.

23. NALIN, Paulo Ribeiro. Presunção de lucroscessantes: reflexões em torno de uma tendênciajurisprudencial. Revista Trimestral de DireitoCivil, Rio de Janeiro, v. 3, 2000, pp. 3-14.

24. CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2ª ed. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 43.

25. DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil.10ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, v. 2, p. 737.

26. CAHALI, Yussef Said. Op. cit., pp. 43-46.

27. BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos EstadosUnidos do Brasil comentado. 10ª ed. Rio deJaneiro: Francisco Alves/Paulo de Azevedo, 1957,v. 5, p. 247.

28. ARMINJON, Pierre; NOLDE, Boris; WOLFF,Martin. Traité de droit comparé. Paris: LibrairieGénérale de Droit et de Jurisprudence, 1950. p.53; MAZEAUD, Henri; MAZEAUD, Léon;TUNC, André. Traité théorique et pratique dela responsabilité civile délictuelle etcontractuelle. 6ª ed. Paris: Montchrestien, 1965.p. 400; GOUBEAUX, Gilles; BIHR, Philippe;HENRY, Xavier. Code civil, 97ª ed., Paris: Dalloz,1997-1998. p. 1.029.

29. MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de.Tratado de Direito privado. Rio de Janeiro:Borsoi, 1966, t. 53, p. 229.

30. CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 53.

31. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso deDireito Administrativo. 17ª ed. São Paulo:Malheiros, 2004, pp. 904-905.

32. VINEY, Geneviève; JOURDAIN, Patrice. Traitéde droit civil: les conditions de la responsabilité.2ª ed. Paris: Librairie Générale de Droit et deJurisprudence, 1998, pp. 71-85.

33. MARKESINIS, Basil S.; DEAKIN, Simon F. Tortlaw. 4ª ed. Oxford: Oxford University, 1999, p.730.

34. PROSSER, William L. The law of torts. 5ª ed.St. Paul: West Publishing, 1984, pp. 9-10.

35. GULICK, George S.; KIMBROUGH, Robert T.(Coords.). American jurisprudence. 2ª ed. SãoFrancisco: Bancroft-Whitney, 1962, v. 22, pp.786-787.

36. GULICK, George S.; KIMBROUGH, Robert T.(Coords.). Op. cit., p. 788.

37. AMERICAN LAW INSTITUTE. Restatementof the law of torts. Washington: American LawInstitute, 1939, v. 4, p. 554.

38. LAW COMMISSION FOR ENGLAND ANDWALES. Aggravated, exemplary andrestitutionary damages, p. 53. Relatório n. 247,publicado em 16/12/97. Disponível em: <http://www.lawcom.gov.uk/docs/lc247.pdf>. Acessoem: 7/8/06.

39. LAW COMMISSION FOR ENGLAND ANDWALES. Op. cit., p. 100.

40. PROSSER, William L. The law of torts. 5ª ed.St. Paul, Minn.: West Publishing, 1984. p. 12.

41. LAW COMMISSION FOR ENGLAND ANDWALES. Op. cit., p. 54.

42. AMERICAN TORT REFORM ASSOCIATION.Punitive damage reform. Disponível em: <http://www.atra.org/show/7343>. Acesso em: 7/8/06.

43. RAMOS, André de Carvalho. Responsabilidadeinternacional por violação de direitos humanos:seus elementos, a reparação devida e sançõespossíveis. Teoria e prática do DireitoInternacional. Op. cit., p. 279.

44. DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentosdo processo civil moderno. 5ª ed. São Paulo:Malheiros, 2002, pp. 179-184.

45. GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo.9. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 719;MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativobrasileiro. 28ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.pp. 505-506 e 513; MELLO, Celso AntônioBandeira de. Op. cit., pp. 805-807.

46. VLIEBMAN, Enrico Tullio. Processo deexecução. Araras: Bestbook, 2001, p. 18.

47. THEODORO JÚNIOR, Humberto. A FazendaPública e alguns aspectos da execução forçada.Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 281, 1983, p.71; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Cursode Direito Processual Civil. 37ª ed. Rio deJaneiro: Forense, 2005, v. 2, p. 255.

48. ASSIS, Araken de. Comentários ao Código deProcesso Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,2000, v. 9, p. 410. Coordenação de Ovídio A.Baptista da Silva.

49. DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil.8ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 523.

50. DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil.Op. cit., p. 523.

A Responsabilidade Internacional do Estado Brasileiro por Violação de Direitos Humanos: O Pagamento de Reparações

149○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

51. GRECO FILHO, Vicente. Direito ProcessualCivil brasileiro. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.p. 95.

52. CUNHA, Lásaro Cândido da. Precatório:execução contra a Fazenda Pública. BeloHorizonte: Del Rey, 1999. pp. 117-118;DANTAS, Francisco Wildo Lacerda. Execuçõescontra a Fazenda Pública: regime de precatório.Brasília: Brasília Jurídica, 1999. p. 93; FLAKS,Milton. Precatório judiciário na Constituiçãode 1988. Revista de Processo, São Paulo, n. 58,1990, p. 87.

53. Ordenações, e leys do Reyno de Portugal,confirmadas, e estabelecidas pelo Senhor ReyD. João IV. Lisboa: Mosteiro de S. Vicente deFóra, Câmara Real de Sua Majestade, 1747. livro1º, título 10, § 3º, p. 34.

54. MALHEIROS, Agostinho Marques Perdigão.Manual do Procurador dos Feitos da FazendaNacional nos Juizos de Primeira Instancia. Riode Janeiro: Typographia Nacional, 1859, p. 117.

55. Collecção das Leis da Republica dos EstadosUnidos do Brazil de 1898. Rio de Janeiro:Imprensa Nacional, 1900, v. 2, p. 1.171.

56. AZEVEDO, José Affonso Mendonça de.Elaborando a Constituição Nacional: Atas daSubcomissão elaboradora do anteprojeto 1932/1933. Brasília: Senado Federal, 1993. p. 681.Edição fac-similar.

57. MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de.Comentários à Constituïção da República dosE. U. do Brasil. Rio de Janeiro: Guanabara, 1937,t. 2, pp. 556-557.

58. BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, IvesGandra. Comentários à Constituição do Brasil:promulgada em 5 de outubro de 1988. 2ª ed.São Paulo: Saraiva, 2000. t. 3, p. 114;CAVALCANTI, Themístocles Brandão. AConstituição Federal comentada. 3ª ed. Rio deJaneiro: José Konfino, 1959, v. 4, pp. 223-224;MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de.Comentários à Constituïção Federal de 10 denovembro de 1937. Rio de Janeiro: IrmãosPongetti, 1938. t. 3, p. 45; MIRANDA, FranciscoCavalcanti Pontes de. Comentários àConstituïção de 1946. 2ª ed. São Paulo: MaxLimonad, 1953, v. 5, p. 305; MIRANDA,Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários àConstituïção de 1967. São Paulo: Revista dosTribunais, 1967, t. 3, pp. 619-622; MIRANDA,Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários àConstituïção de 1967, com a Emenda n. 1, de1969. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1970, t. 3, pp. 646-648.

59. DELGADO, José Augusto. Execução contra aFazenda Pública – revisão dos dispositivosconstitucionais – algumas controvérsias. RevistaJurídica, Porto Alegre, n. 197, 1994, p. 5.

60. MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de.Comentários à Constituïção da República dosE. U. do Brasil. Op. cit., p. 556.

61. SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Op. cit.,p. 127 (Sic).

62. BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, IvesGandra. Comentários à Constituição do Brasil:promulgada em 5 de outubro de 1988. São Paulo:Saraiva, 1997, v. 4, t. 3, p. 113; DEGRAZIA,Osvaldo Flávio. O pagamento do créditoalimentar judicial pela Fazenda Pública na atualConstituição Federal. Revista dos Tribunais, SãoPaulo, v. 666, 1991, pp. 243-244; DELGADO,José Augusto. Op. cit., p. 16; SILVA, RicardoPerlingeiro Mendes da. Op. cit., pp. 131-132.

63. DELGADO, José Augusto. Op. cit., p. 16.

64. CUNHA, Lásaro Cândido da. Precatório:execução contra a Fazenda Pública. BeloHorizonte: Del Rey, 1999, pp. 136-137.

65. ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manualde Direito Financeiro e Direito Tributário. 18ªed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 37.

66. ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio F. da. Op. cit.,p. 86.

67. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Tratado de Direito Internacional dos DireitosHumanos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,1999, v. 2, p. 182.

68. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Tratado de Direito Internacional dos DireitosHumanos. Op. cit., v. 2, p. 136.

69. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Thoughts on recent developments in the case-law of the Inter-American Court of HumanRights: selected aspects. American Society ofInternational Law Proceedings, Washington, v.92, 1998, p. 200.

70. RAMOS, André de Carvalho. Processointernacional de direitos humanos: análise dossistemas de apuração de violações dos direitoshumanos e a implementação das decisões noBrasil. Op. cit., p. 307.

71. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratadode Direito Internacional dos Direitos Humanos.Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2003, v. 3,p. 39.

72. RAMOS, André de Carvalho. Direitos humanosem juízo: comentários aos casos contenciosos

Patrick Petiot

150 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

e consultivos da Corte Interamericana deDireitos Humanos. Op. cit., p. 78.

73. RAMOS, André de Carvalho. Processointernacional de direitos humanos: análise dossistemas de apuração de violações dos direitoshumanos e a implementação das decisões noBrasil. Op. cit., p. 230.

74. O parecer normativo n. GQ-03/93 estádisponível na página da Advocacia-Geral da Uniãoem: <http://200.181.70.163/pareceres/index_default.htm>. Acesso em: 7/8/06. O parecerrefere-se à Lei n. 8.197/91, predecessora da Lein. 9.469/97.

75. A solução amistosa no caso José Pereira, queconsta do relatório n. 95/03, está disponível napágina da Comissão Interamericana de DireitosHumanos em: <http://www.cidh.oas.org/annualrep/2003sp/Brasil.12289.htm>. Acessoem: 7/8/06.

76. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.Tratado de Direito Internacional dos DireitosHumanos. Op. cit., v. 2, p. 184.

77. WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, TeresaArruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia.Breves comentários à nova sistemáticaprocessual civil. 3ª ed. São Paulo: Revista dosTribunais, 2005. pp. 29-30.