levantamento espeleolÓgico na regiÃo da serra do iuiÚ, ba: uma visÃo preliminar

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Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Espeleologia Campinas SP, 07 a 10 de julho de 2005 - Sociedade Brasileira de Espeleologia LEVANTAMENTO ESPELEOLÓGICO NA REGIÃO DA SERRA DO IUIÚ, BA: UMA VISÃO PRELIMINAR [SPELEOLOGICAL SURVEY OF THE AREA OF THE MOUNTAIN RANGE OF IUIÚ IN BAHIA: PRELIMINARY VIEW] Thiago FALEIROS-SANTOS; Cláudio Maurício TEXEIRA-SILVA; Paulo Rodrigo SIMÕES; Mariana Barbosa TIMO; Fabrício Fernandes VIEIRA; Fernando MORAIS; Gustavo Grossi ROBERTO; Gilcimar Pires Cabral OLIVEIRA; Silmar ONOFRE-OLIVEIRA; Adélcio Silva FERREIRA; Heric Costa PAULA; Rodrigo Ponciano GOMES Sociedade Excursionista e Espeleológica - SEE - [email protected] Cx. Postal: 68 - CEP: 35400-000 - Ouro Preto, MG RESUMO A SEE realizou uma expedição à região cárstica da Serra do Iuiú, BA em janeiro de 2005. Foram feitos trabalhos de prospecção, exploração e caracterização da área, visando um levantamento espeleológico deste carste, até então desconhecido. As rochas carbonáticas aflorantes, grupo Bambuí, constituem um relevo cárstico típico causado pela dissolução nas fraturas da rocha, carste em mesa (Lladó, 1970). Lapiás, dolinas, sumidouros e ressurgências são bastante freqüentes. Nesta primeira campanha foram identificados 05 abrigos e 18 cavernas. Nestes, têm-se 04 sítios arqueológicos e 02 paleontológicos. Foram mapeadas (BCRA 4D) 04 cavidades, ‘Toca Fria’ (DH = 2.037m), ‘Lapa do Honorato’ (320m), ‘Toca Valada’ (700m) e ‘Gruta Lajedo das Veredinhas’ (70m), sendo que as duas primeiras não foram totalmente exploradas. Este trabalho relata uma visão preliminar do enorme potencial espeleológico da serra do Iuiú. Muito ainda será descoberto na região, acredita-se que em alguns anos ter-se-á uma das mais importantes e ricas áreas cársticas brasileiras. Palavras-Chave: Serra do Iuiú, BA; abrigos e cavernas; sítios arqueológicos e paleontológicos. [ABSTRACT] The SEE organized an expedition to the mountain range of Iuiú (BA) in January of 2005. Activities of prospection and exploration, as well as a survey of the characteristics of the area were undertaken as part of a speleological survey of this previously-unexplored karst area. The limestone outcroppings of the Bambui Group create a typical mesa karst relief due to dissolution in the fractures of the rock and the formation of mesa karst (Lladó, 1970). Karrens, dolines, sinks and resurgences are prevalent. In this first visit to the area, the group identified 5 rock shelters and 18 caves. Among these are 4 archaeological sites and 2 paleontological sites. Four of the caves were mapped (BCRA 4D): Toca Fria (DH=2.037m), Lapa do Honorato (DH=320 m), Toca Valada (DH = 700 m), and Gruta Lajedo das Veredinhas (70 m), although the first two were not completely explored. This paper provides a preliminary view of the enormous speleological potential of the Iuiú mountain range. Much is yet to be investigated, but it is believed that in a few years this will be one of the most important and richest of the Brazilian karst areas. Key words: Serra do Iuiú (BA); rock shelters and caves; archaeological and paleontological sites. INTRODUÇÃO A Sociedade Excursionista e Espeleológica - SEE/EM, grupo de espeleologia mais antigo das Américas, desde 1937 vem desenvolvendo trabalhos de prospecção, exploração, e caracterização nas diferentes regiões cársticas brasileiras. Seguindo esses ideais, e de certa forma MANTENDO A CHAMA ACESA, foi realizada uma expedição entre os dias 20 e 30/01/2005 à Serra do Iuiú, divisa dos municípios de Iuiú e Malhada, BA. Os resultados obtidos são apresentados neste trabalho que, de forma preliminar, apontam o surgimento de um novo Distrito Espeleológico da Província Espeleológica Bambuí (Karman e Sanchez, 1979). Acredita-se que em alguns anos ter-se-á uma das mais importantes e ricas áreas cársticas do Brasil. OBJETIVOS Estudos geomorfológicos, espeleológicos e levantamentos arqueológicos na área da serra do Iuiú. Esses estudos envolveram as caracterizações do exo e endocarste da região bem como a prospecção, exploração, mapeamento, geoespeleologia e caracterização de cavidades subterrâneas e descrição de sítios arqueológicos. www.sbe.com.br [email protected] páginas 31-39

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    LEVANTAMENTO ESPELEOLGICO NA REGIO DA

    SERRA DO IUI, BA: UMA VISO PRELIMINAR [SPELEOLOGICAL SURVEY OF THE AREA OF THE MOUNTAIN RANGE OF IUI IN BAHIA:

    PRELIMINARY VIEW]

    Thiago FALEIROS-SANTOS; Cludio Maurcio TEXEIRA-SILVA; Paulo Rodrigo SIMES; Mariana Barbosa TIMO; Fabrcio Fernandes VIEIRA; Fernando MORAIS; Gustavo Grossi ROBERTO;

    Gilcimar Pires Cabral OLIVEIRA; Silmar ONOFRE-OLIVEIRA; Adlcio Silva FERREIRA; Heric Costa PAULA; Rodrigo Ponciano GOMES

    Sociedade Excursionista e Espeleolgica - SEE - [email protected] Cx. Postal: 68 - CEP: 35400-000 - Ouro Preto, MG

    RESUMO A SEE realizou uma expedio regio crstica da Serra do Iui, BA em janeiro de 2005. Foram feitos trabalhos de prospeco, explorao e caracterizao da rea, visando um levantamento espeleolgico deste carste, at ento desconhecido. As rochas carbonticas aflorantes, grupo Bambu, constituem um relevo crstico tpico causado pela dissoluo nas fraturas da rocha, carste em mesa (Llad, 1970). Lapis, dolinas, sumidouros e ressurgncias so bastante freqentes. Nesta primeira campanha foram identificados 05 abrigos e 18 cavernas. Nestes, tm-se 04 stios arqueolgicos e 02 paleontolgicos. Foram mapeadas (BCRA 4D) 04 cavidades, Toca Fria (DH = 2.037m), Lapa do Honorato (320m), Toca Valada (700m) e Gruta Lajedo das Veredinhas (70m), sendo que as duas primeiras no foram totalmente exploradas. Este trabalho relata uma viso preliminar do enorme potencial espeleolgico da serra do Iui. Muito ainda ser descoberto na regio, acredita-se que em alguns anos ter-se- uma das mais importantes e ricas reas crsticas brasileiras. Palavras-Chave: Serra do Iui, BA; abrigos e cavernas; stios arqueolgicos e paleontolgicos.

    [ABSTRACT] The SEE organized an expedition to the mountain range of Iui (BA) in January of 2005. Activities of prospection and exploration, as well as a survey of the characteristics of the area were undertaken as part of a speleological survey of this previously-unexplored karst area. The limestone outcroppings of the Bambui Group create a typical mesa karst relief due to dissolution in the fractures of the rock and the formation of mesa karst (Llad, 1970). Karrens, dolines, sinks and resurgences are prevalent. In this first visit to the area, the group identified 5 rock shelters and 18 caves. Among these are 4 archaeological sites and 2 paleontological sites. Four of the caves were mapped (BCRA 4D): Toca Fria (DH=2.037m), Lapa do Honorato (DH=320 m), Toca Valada (DH = 700 m), and Gruta Lajedo das Veredinhas (70 m), although the first two were not completely explored. This paper provides a preliminary view of the enormous speleological potential of the Iui mountain range. Much is yet to be investigated, but it is believed that in a few years this will be one of the most important and richest of the Brazilian karst areas. Key words: Serra do Iui (BA); rock shelters and caves; archaeological and paleontological sites. INTRODUO A Sociedade Excursionista e Espeleolgica - SEE/EM, grupo de espeleologia mais antigo das Amricas, desde 1937 vem desenvolvendo trabalhos de prospeco, explorao, e caracterizao nas diferentes regies crsticas brasileiras. Seguindo esses ideais, e de certa forma MANTENDO A CHAMA ACESA, foi realizada uma expedio entre os dias 20 e 30/01/2005 Serra do Iui, divisa dos municpios de Iui e Malhada, BA. Os resultados obtidos so apresentados neste trabalho que, de forma preliminar, apontam o surgimento de um novo Distrito Espeleolgico da Provncia Espeleolgica Bambu (Karman e Sanchez, 1979). Acredita-se que em

    alguns anos ter-se- uma das mais importantes e ricas reas crsticas do Brasil. OBJETIVOS Estudos geomorfolgicos, espeleolgicos e levantamentos arqueolgicos na rea da serra do Iui. Esses estudos envolveram as caracterizaes do exo e endocarste da regio bem como a prospeco, explorao, mapeamento, geoespeleologia e caracterizao de cavidades subterrneas e descrio de stios arqueolgicos.

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    LOCALIZAO E VIAS DE ACESSO A rea de interesse possui cerca de 180km2 e est contida no retngulo cujos vrtices opostos tem as seguintes coordenadas geogrficas: 142230, 434500 e 143730, 423000. O acesso ao local se faz a partir de Belo Horizonte, pela BR 040 at o trevo (Trevo) de acesso a Curvelo, em seguida toma-se a BR 135 at Montes Claros. Ento dirige-se Janaba, MG pela BR 122, nesta anda-se at Guanambi, BA. Neste ponto, toma-se rumo ao oeste at Iui,BA (Figura 01). METODOLOGIA Os trabalhos foram realizados em 03 etapas: 1) estudos preliminares com levantamento bibliogrfico e confeco de mapas base com utilizao de fotos areas, imagens de satlites LandSat TM5, dados SRTM e cartas topogrficas disponibilizadas pelo IBGE. Estes estudos tm como objetivo a definio de reas-alvo; 2) prospeco e explorao das reas-alvo envolvendo descries espeleolgicas e geolgicas. Percorreram-se os macios calcrios e foram penetradas todas as cavidades encontradas (abismos, abrigos e grutas); 3) tratamento e discusso dos dados obtidos no campo, confeco dos mapas espeleomtricos, segundo Cavalcanti (1996), das cavernas topografadas e elaborao deste trabalho. No decorrer das 03 etapas foram utilizados os seguintes equipamentos: martelos e bssolas de gelogo, aparelhos GPS Garmin, mquinas fotogrficas, equipamento de iluminao, equipamentos bsicos de espeleometria, alm de equipamentos de segurana e tcnicas verticais (rapel). Na etapa de escritrio foram utilizados softwares Auto Cad 2004, Corel Draw 12.0, SIG, Word, Excel, Directivo HP scanjet 3700 series e Adobe PhotShop.

    Figura 01 -Mapa de Localizao do municpio de Iuiu, BA

    GEOLOGIA REGIONAL A rea situa-se sobre as rochas sedimentares da Bacia do So Francisco, constituindo o supergrupo So Francisco (Neoproterozico). So representadas pelo grupo Bambu que constitudo pela Formao Jequita (Conceio Filho et al 2003), de origem litornea e glaciognica e por formaes pelticas e carbonticas

    que se alternam como unidades marinhas transgressivas e regressivas. As rochas carbonticas constituem um relevo crstico tpico causado pela dissoluo nas fraturas da rocha. O relevo ruiniforme e os lapis so comuns na regio. Estruturalmente, essas seqncias parecem estar pouco deformadas ou praticamente indeformadas. No entanto as sees geolgicas e o mapa geolgico da CBPM parecem indicar dobramentos amplos e abertos (Conceio Filho et al 2003). Aparecem, tambm, neste mapa, zonas de falhamentos, de fraturamentos (NNE-SSW e NW-SE) e de lineamentos estruturais (N-S e NE-SW). GEOLOGIA LOCAL As rochas aflorantes so pelitos e carbonatos intercalados indicando pulsos transgressivos e regressivos marinhos sindeposicionais. Tal caracterstica observada nas rochas componentes do Grupo Bambu. As rochas carbonticas so calcrios calcticos cristalinos, cinzas mdio a escuro, oolticos, apresentando estratificaes onduladas, horizontais e cruzadas acanaladas. Observaram-se pacotes (>10m) de conglomerados carbonticos, desorganizados com clastos bem arredondados a angulosos. Tais caractersticas observadas em campo so interpretadas como rochas correlacionveis s da Formao Lagoa do Jacar, Grupo Bambu. Essas rochas apresentam pouca deformao ou nenhuma, representadas por dobramentos suaves decimtricos a decamtricos, sub-horizontais. Estruturas rpteis, pares conjugados de fraturas de direes preferenciais NNE-SSW e NW-SE, cortam toda a regio. Contudo, o pacote rochoso tipicamente sedimentar visto a predominncia de estruturas primrias e o grau de preservao em que estas se encontram. O metamorfismo na regio ausente ou incipiente, podendo aparecer venulaes de calcita paralelas ao acamamento. As rochas carbonticas constituem um relevo crstico tpico causado pela dissoluo nas fraturas da rocha. As cristas da serra apresentam-se em plats paralelos ao acamamento rochoso, carste em mesa (Llad, 1970), freqentemente cortadas por fendas profundas e formando extensos campos de lapis. Outras feies exocrsticas como paredes abruptos, cannyons, sumidouros, surgncias, vales cegos, dolinas, uvalas e torres tambm compem o cenrio crstico da regio. O endocarste representado por cavernamentos diversos e, ainda, pouco explorados, fluxos dgua subterrneos, espeleotemas variados, etc. ACERVO ESPELEOLGICO Seguem abaixo as descries de 05 abrigos e 18 cavernas realizadas durante as exploraes feitas no municpio de Iui-BA no perodo de janeiro de 2004. Dentre eles 02 abrigos (Do Honorato e Toca do ndio) e 02 grutas (Toca Fria e Anexo Honorato) foram classificados como stios arqueolgicos e 01 caverna (Toca Fria) e 01 abrigo (Toca do ndio) foram

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    classificados como stios paleontolgicos. Nas grutas Toca Fria, Honorato, Toca Valada e Lajedo das Veredinhas foram realizados trabalhos de espeleometria, sendo que os mapas das duas primeiras so apresentados a seguir. ABRIGOS 01) Abrigo do Nondinha: Brejo do Bezerra - coordenadas UTM 646.174E / 8.398.026N. Situado na base do macio de calcrio calctico cristalino cinza mdio, este abrigo apresenta desenvolvimento horizontal (DH) de 18m, boca com 8m de altura por 4m de largura, formato retangular, planta baixa linear, perfil inclinado e cortes retangulares. O sedimento deste abrigo caracteriza-se por ser argiloso e arenoso. Em seu interior, que se encontra em mdio estado de conservao, so observados estalactites, coralides e colunas (cm a m). A vegetao no entorno do abrigo arbrea-arbustiva e no foram encontrados animais, apenas fezes de roedores. 02) Abrigo do Honorato: Faz. do Sr. Honorato - 1,8m de altura x 05m de profundidade x 100m de largura, coordenadas UTM 652.031E / 8.400.651N. A cavidade formou-se em calcrio calctico cristalino ondulado, cinza escuro, apresentando vnulos de calcita paralelos ao acamamento. Possui perfil horizontal, cortes retangulares e sedimento argiloso. H presena de gua no abrigo oriunda de ressurgncias perenes e intermitentes. No interior do abrigo, que se encontra em bom estado de conservao, os espeleotemas encontrados so estalactites e coralides, alm de pinturas rupestres. Vrios espeleotemas encontram-se cobertos por fungos. A vegetao no entorno do tipo arbrea arbustiva e pouco densa. Foram observados sapos, mosquitos e borboletas nas proximidades e no interior do abrigo. 03) TOCA DO NDIO: Localidade do Jacolhi - coordenadas UTM 652.998E / 8.397.220N. Hospeda-se no topo do macio da rocha calcria. O conduto principal do abrigo desenvolve-se na direo 0150 por cerca de 15m. Desenvolve-se em calcrio calctico cristalino cinza escuro, ooltico, com estratificaes cruzadas acanaladas de mdio porte (espessura dos sets = 0,60m; paleocorrente na direo 25). Presena de blocos abatidos (m) no piso, alm de sedimentos argilosos. Foram observados pendentes mtricos no teto do abrigo. Presena de estalactites, coralides, cortinas e escorrimentos. Foi encontrada uma enorme quantidade de cermicas e material osteolgico, alm de um conjunto expressivo de pinturas rupestres, caracterizadas como da Tradio So Francisco nas cores vermelha, amarela, branca e preta, ocorrendo quase que na totalidade do paredo do macio, sendo assim, trata-se de um importante stio paleontolgico e arqueolgico. A grande quantidade de pichaes e restos de fogueiras recentes impem gruta um pssimo estado de conservao. A vegetao no entorno arbrea sendo encontrados animais como diplpodes, lesmas, marimbondos e abelhas 04) Abrigo das Veredinhas: Localidade Veredinhas -

    coordenadas UTM 649.314E / 8.402.714N, a 828m de altitude e hospedado em rocha calcria no fundo da dolina. Apresenta cortes fungiformes e sedimento argiloso. Foram observados a presena de gua com sumidouro intermitente. Os espeleotemas mais comuns dessa cavidade so estalagmites, estalactites, travertinos, coralides, cortinas, escorrimento e cascas finas. Nesse abrigo h pinturas rupestres em boa conservao. A vegetao de entorno arbrea arbustiva encobrindo o mesmo. Foi observada a presena de flebtomos na boca. 05) Abrigo das Veredinhas II: Localiza-se sob as coordenadas UTM 648.166E / 8.403.485N, na base do macio rochoso. Possui cortes lenticulares e perfil horizontal com 05m de largura x 04m de profundidade x 02m de altura. ornamentada por coralides, escorrimentos, colunas, estalactites (cm) e cortinas. Foram observados escorrimentos interrompendo o desenvolvimento do abrigo. O piso recoberto por sedimentos argilosos e blocos centimtricos a decimtricos. CAVERNAS 01) TOCA FRIA: Povoado de Varginha - as coordenadas UTM 657.750E / 8391.158. uma caverna de fcil acesso, em meio a pastagens. Localiza-se na base do macio e corresponde a mais expressiva cavidade descrita neste trabalho. A topografia da cavidade est em andamento, sendo que at ento tm-se 2037m de DH, BCRA 4D, distribudos em planta baixa anastomosada, cortes irregulares e perfil horizontal (Mapa 01 - Anexo). Est hospedada em calcrio calctico laminado, foi observado um pacote (>10m) de conglomerado carbontico desorganizado com clastos bem arredondados a angulosos compondo os maiores volumes da caverna. bastante ornamentada possuindo coralides, escorrimentos, estalactites, estalagmites, cortinas, micro-travertinos, travertinos e cascas finas, este, em toda cavidade. Tm-se ainda cristais dente-de-co, blisters, clavas e agulhas de gipsita em pontos isolados. Diversos so os representantes da fauna caverncola, principalmente nas proximidades das bocas e clarabias, destacando-se opilies, aracndeos, insetos e morcegos hematfagos. Foram identificados dois stios, um arqueolgico e outro paleontolgico. O primeiro possui pinturas rupestres e o segundo, importante acervo de fsseis da megafauna pleistocnica (?) (Conduto dos Ossos - Mapa 01 - Anexo). Visto isto, certifica-se a necessidade de cuidado e preservao deste riqussimo patrimnio espeleolgico com unhas e dentes. 02) LAPA DO HONORATO: Faz. Homnima - Coordenadas UTM 651.726E / 8.400.447N. de fcil acesso passando por mata fechada. Foi parcialmente topografada atingindo 320m de DH, BCRA 4D, distribudos em planta baixa meandrante, cortes irregulares e perfil horizontal (Mapa 02 Anexo). Hospeda-se em calcrio apresentando dobramentos suaves e fraturas. O macio lapiesado e fendilhado, apresentando blocos abatidos adjacentes ao paredo.

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    Cavidade com presena de rio subterrneo, perene, com fluxo pequeno e com destino a um sumidouro. ornamentada por coralides, estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, micro-travertinos, escorrimentos que esto distribudos em pontos isolados da cavidade. Insetos, aracndeos, amblipgeos, moluscos, anfbios e morcegos foram avistados em toda a extenso da gruta. Foram encontrados cacos de cermica, sob abrigo adjacente entrada principal, sendo necessrio estudos arqueolgicos detalhados para melhor caracterizao deste stio. No foram identificados vestgios paleontolgicos. A gruta encontra-se bem preservada. 03) Toca Valada: Os Belos, Brejo do Bezerra - UTM 645.391E / 8.397.588N. A entrada principal elipsoidal e com perfil horizontal, possui dimenses de 0,60m de altura x 8m de largura. Est hospedada em um calcrio calctico cristalino, cinza mdio, apresentando lapis verticais. Os condutos so em sua maioria do tipo forado. Presena de coralides, escorrimentos, lustres e estalactites em seu interior, alm de um volumoso mar de prolas complementando sua ornamentao. Essa gruta foi mapeada durante essa expedio, possui desenvolvimento horizontal (DH) de 700m (BCRA 4C). Contudo os dados espeleomtricos encontram-se em processamento e sero divulgados em breve. 04) Gruta Sumidouro das Vacas: Brejo do Bezerra - est a uma altitude de 808m nas coordenadas UTM 643.391 E / 8.396.582N, no fundo da dolina e em meio a vegetao arbrea rala que encobre parcialmente a boca. A gruta est hospedada no macio calcrio calctico possuindo DH em torno de 100m, planta baixa linear, perfil horizontal, cortes irregulares e sedimentos argilosos cobrindo o piso, estando em bom estado de conservao. Observaram-se as presenas de gua e de sumidouro intermitente. Os espeleotemas comumente encontrados foram estalactites, coralides e cascas finas (cm), em pouca quantidade, porm distribudos por toda a cavidade. 05) Lapa Anexo do Honorato: Coordenadas UTM 651.726E / 8.400.447N encontrando-se hospedada no macio calcrio, no meio da encosta. Possui DH de 30m. Essa gruta possui planta baixa linear, cortes retangulares e perfil horizontal, ornamentada com coralides, estalactites, cascas finas, microtravertinos e escorrimentos sujos de sedimentos. Alguns esto abatidos ou quebrados. Foram encontrados cacos de cermica em seu interior, o que a classifica como sitio arqueolgico. Durante as exploraes encontrou-se a juno desta com a Lapa do Honorato. 06) Lapa do Honorato II: Est a uma altitude de 863m (topo do macio), nas coordenadas 651.707E / 8.400.625N. de difcil acesso necessitando de escalada para chegar a boca. Possui DH ~ 50m, planta baixa linear, perfil horizontal, cortes retangulares e lenticulares e sedimentos argilosos recobrindo o piso. Espeleotemas tais como estalagmite, estalactite, coralides e casca fina (coberta por argila) podem ser observados no seu interior. Outra caracterstica desta cavidade so os pilares residuais, frutos de eroso diferencial (Lino 1989) no salo de entrada (30m x

    08m). A vegetao do exocarste arbrea arbustiva, tm-se mocs, amblipgios, morcegos, aranhas, moluscos, anfbios e insetos. 07) Toca do Jatob: Comunidade Vaginha - UTM 657209E / 8391424N; est a uma altitude de 505m, na base do macio calcrio. Apresenta perfil longitudinal horizontal, cortes transversais circulares, elipsoidais, triangulares e gticos, DH ~ 500m e sedimento argiloso. Observam-se estalactites e cascas finas, em pouca quantidade normalmente acompanhando fraturas. A cavidade apresenta um sumidouro intermitente, estando em bom estado de conservao. Os animais encontrados foram amblipgios, anfbios, grilos, morcegos (insetvoros), e aranhas nas proximidades das clarabias e entradas. Durante as exploraes foram encontrados vestgios paleontolgicos e a conexo desta com a Toca dos Macacos (Urubus), a qual tambm no foi topografada, evidenciando o potencial espeleolgico da regio e a necessidade de novas exploraes. 08) Gruta do Moc: Comunidade da Vaginha - UTM 657513E / 8391622N; est a uma altitude de 505m tendo DH ~ 400m, em cima do afloramento rochoso. Sua litologia caracteriza-se como calcrio cristalino calctico com veios milimtricos. Apresenta provvel gnese fretica, planta baixa em rede, perfil horizontal e cortes elpticos circulares, com abatimentos em suas vrias entradas e dolinas, alm de sedimentos argilosos e arenosos. Foram observados gotejamento e um pequeno fluxo de gua com destino indeterminado. A caverna ornamentada com coralides, estalactites e escorrimentos em pontos isolados e em pequena quantidade. Animais como insetos, aranhas, diplpodes, amblipgios e moluscos (conchas) puderam ser observados. Prximo a caverna existem casas, culturas de subsistncia, currais, coxos, pastagens e estradas o que justifica ter-se encontrado lixo e um grande aporte de matria orgnica em seu interior. 09) Toca de Pedra: Adjacente Gruta do Moc - encontra-se hospedada na base do macio calcrio, apresentando perfil horizontal, cortes elipsoidais, retangulares e irregulares, alm de sedimentos argilosos, estando a mesma em bom estado de conservao. A paisagem caracteriza-se por pastagens avanando at quase o macio, o qual se separa do pasto por uma faixa de vegetao arbustiva. 10) Gruta Olho Dgua do Jacolhi: Jacolhi - hospeda-se no calcrio laminado, a uma altitude de 689m nas coordenadas UTM 653.055E / 8.397.485N. Sua boca tem 1,5m de altura e 0,6m de largura. Est localizada na Fazenda Belm, no topo do macio com uma trilha bem marcada at ela. A gruta possui planta baixa linear, perfil horizontal, cortes triangulares, retangulares e ogivais, alm de DH ~ 170m, em bom estado de conservao. Existe fluxo de gua alimentado por uma surgncia perene de 0,6m de profundidade. H presena de barragem antrpica para captao de gua. Foram observados espeleotemas como estalactites e coralides em pequenas quantidades e em pontos isolados da gruta, espeleogens em forma de clava e patas de elefante e clarabias em seu interior. O desenvolvimento na

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    direo 0150 com posterior virada para o rumo 2950. A vegetao no entorno arbrea, nativa rala, com rvores de mdio a grande porte. Os animais encontrados foram peixes e amblipgeos. 11) Gruta do Neco: Localidade Brejinho; O acesso at a gruta de mdia dificuldade, sem trilha e sobre blocos abatidos. Suas coordenadas UTM so 650.693E / 8.403.486N. A gruta hospeda-se no topo do macio de rocha calcria, apresenta planta baixa ramificada, perfil horizontal e inclinado, cortes lenticulares, DH ~ 60m, desnvel de 5m, presena de gua e sedimento argiloso, estando em bom estado de conservao. Os espeleotemas mais comuns so estalagmites, estalactites, travertinos, coralides, cortinas, escorrimentos e cascas finas os quais encontram-se encobertos por sedimentos argilosos e entopem a caverna. A vegetao do entorno arbrea sendo observadas razes no interior da cavidade. Foram vistos morcegos e amblipgios no interior da cavidade. 12) Dolina do Alonso: Fazenda do Alonso - Brejinho: forma oval cujo eixo maior igual a 60m; Presena de 03 surgncias perenes e um sumidouro; abrigo com vestgeos antrpicos (fuligens, fogo, fogueiras) e uma pequena gruta. Essa cavidade desenvolve-se em fenda horizontal na direo 120, situada a meia altura do paredo calcrio. Possui cerca de 40m de DH. O conduto triangular com presena de coralides, escorrimentos e estalactites. 13) Sistema de Cavidades Alonso: Fazenda do Alonso - Brejinho: Cavidade 01) entrada sobre escorrimento que dificulta o acesso provvel continuao da caverna. necessrio explorao vertical. Ornamentada por estalactites, estalagmites, coralides, escorrimentos, cascas finas, micro-travertinos, prolas e cortinas. Desenvolve-se segundo fraturamento que capta o curso dgua presente, constatado pelo som gerado com sua movimentao. O mesmo sentido de fluxo e volume aparente do curso dgua so observados nas Grutas 02 e 03, localizadas nas adjacncias da gruta 01. Vencido o macio, tem-se uma uvala (campo de dolinas interligadas) oval de centenas de metros. Presena de caverna com gua subterrnea movimentando-se no rumo 115, sugerindo uma possvel conexo com as demais cavidades deste sistema. Assim, acredita-se na conexo entre a uvala e a Dolina do Alonso atravs de cursos dgua subterrneos que cortam o macio divisor. Deste modo, em algum momento do futuro geolgico, ter-se-a a completa dissoluo e/ou eroso do macio divisor, culminando na formao de um grande polj. 14) Gruta da Dona Zelita: coordenadas UTM 650.151E / 8.400.734N, hospedada na base do macio de rocha calcria, a 834m de altitude. A gruta apresenta planta baixa dentrtica, perfil horizontal, cortes circulares e elipsoidais, sedimento fino e arenoso e sumidouro intermitente em bom estado de conservao. Seu DH 100m, com desnvel de 4m. A gruta ornamentada com espeleotemas tais como estalagmites, estalactites, coralides, cortinas, escorrimentos, pelo menos seis nveis de casca fina e espeleotemas raros como prolas (mm), apresentando tambm potencial

    arqueolgico. A vegetao de entorno arbrea. Foram vistos morcegos no interior da mesma. 15) Gruta Veredinha I: Coordenadas UTM 649.287E / 8.402.858N, hospedada no topo do macio calcrio e apresenta sedimento argiloso, estando em bom estado de conservao. Os espelotemas observados foram estalactites, coralides e escorrimentos. Foi constatada a presena de gua. A vegetao do entorno arbrea, sendo percebida a presena de flebtomos na entrada da cavidade. 16) Gruta Veredinha II: Localiza-se nas coordenadas UTM 649.328E / 8.402.720N, na meia encosta do macio calcrio a uma latitude de 805m. Apresenta DH ~ 100m, planta baixa horizontal, cortes elipsoidais, circulares e triangulares, alm de sedimento argiloso. Os espeleotemas de maior ocorrncia so coralides, estalactites (acompanhando fraturas) e colunas. Foi constatada a presena de sumidouro intermitente, na ocasio sem a presena de gua. A vegetao arbrea arbustiva acompanhando a boca. Puderam ser observados animais tais como diplpodes (gongo), aranhas e flebtomos. 17) Gruta Lajedo das Veredinhas: Est sob as coordenadas UTM 649.597E / 8.405.204N, altitude 618m. Situa-se no topo do macio em um calcrio laminado apresentando lapis. Possui entrada em abismo, planta baixa ramificada, cortes lenticulares e irregulares e perfis horizontal e inclinado. Os sedimentos presentes so argilosos e as ornamentaes feitas por estalagmites, estalactites, travertinos, coralides, cortinas, escorrimentos, prolas e microtravertinos. Os espeleotemas so frgeis, cm a dm, e a gruta encontra-se em bom estado de conservao. Nesta campanha realizou-se a topografia da cavidade que atingiu 70m de DH, desnvel 04m, BCRA 4C, os dados espeleomtricos encontram-se em processamento. A presena de gua se restringe a gotejamentos isolados. Bromlias, cactus e barrigudas representam a flora exocrstica e, os morcegos a vida endocrstica. 18) Surgncia das Veredinhas: Ponte Veredinhas-Baixo; surgncia ao exocarste com formao de pequeno poo adjacente ao macio. Segundo relatos da populao local trata-se de uma surgncia intermitente e, nos tempos de seca, acessa-se grande cavidade. Esse fato no pode ser comprovado. CONSIDERAES FINAIS As rochas carbonticas hospedeiras das cavidades so caractersticas da formao Lagoa do Jacar, grupo Bambu (supergrupo So Francisco) com fraturas segundo as direes preferenciais NNE-SSW e NW-SE. O carste estudado caracterstico de carste em mesa, cujos cavernamentos se do preferencialmente ao longo de diclases. O mesmo possui como feies tpicas: lapis, paredes abruptos, cannyons, sumidouros, surgncias, vales cegos, dolinas, uvalas e torres. Foram descritos 05 abrigos e 18 cavernas. Dentre eles, 02 abrigos (Do Honorato e Toca do ndio) e 02 grutas (Toca Fria e Anexo Honorato) foram classificados como stios arqueolgicos e 01 caverna (Toca Fria) e 01

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    abrigo (Toca do ndio) foram classificados como stios paleontolgicos. As cavidades encontradas apresentam dimenses de poucos metros a alguns milhares de metros e padres morfolgicos variados. As grutas Toca Fria, Honorato Toca Valada e Lajedo das Veredinhas foram topografadas. As duas primeiras, parcialmente, atingiram 2037m e 320m de desenvolvimento horizontal respectivamente, e as outras, em sua totalidade, com 700m e 70m de DH. Esta uma viso preliminar da serra do Iui, BA. So necessrias outras expedies para se conhecer melhor o carste em questo. AGRADECIMENTOS UFOP, Escola de Minas, ao DEGEO, s Fundaes Gorceix e Victor Dequech, Prefeitura Municipal de Iui, BA e ao povo iuiuense pelo carinho e hospitalidade. BIBLIOGRAFIA CAVALCANTI, J.A.D. 1996. Mapeamento Espeleolgico. Sociedade Excursionista e Espeleolgica. 28p. CONCEIO FILHO V.M., MONTEIRO M.D., RANGEL P.A., GARRIDO I.A.A. 2003. Bacia do So Francisco entre Santa Maria da Vitria e Iui, Bahia: geologia e potencialidade econmica. CBPM, srie Arquivos Abertos n. 18, Salvador, 65p. KARMAN, I. & SNCHEZ, L.E. 1979. Distribuio das rochas carbonticas e provncias espeleolgicas do Brasil. Espeleo-Tema n. 13. Sociedade Brasileira de Espeleologia, 105 - 167p. LINO C.F. 1989. Cavernas, o fascinante Brasil subterrneo. So Paulo. Editora Rios, 279p. LLAD, N. L. 1970. Fundamentos de hidrogeologia crstica Introducin a la epeleologa. Editora Blume, Madrid.

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    ANEXOSMapa 01-A: Planta baixa, cortes transversais (escala grfica) da Toca Fria, Iui BA

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    Mapa 01-B: Perfis longitudinais, (escala grfica) da Toca Fria, Iui BA

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    Mapa 02: Planta baixa, cortes transversais, perfis longitudianais (escala grfica) da Lapa do Honorato, Iui BA

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