levantamento das formas de abastecimento energético e proposta

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Artes, Ciências e Humanidades Levantamento das formas de abastecimento energético e proposta de eletrificação fotovoltaica para a comunidade Itinguçu / Cachoeira Paraíso na Estação Ecológica Juréia-Itatins Rafael Wingert Janeiro de 2013

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Page 1: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Levantamento das formas de abastecimento energético e proposta de

eletrificação fotovoltaica para a comunidade Itinguçu / Cachoeira

Paraíso na Estação Ecológica Juréia-Itatins

Rafael Wingert

Janeiro de 2013

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Levantamento das formas de abastecimento energético e proposta de

eletrificação fotovoltaica para a comunidade Itinguçu / Cachoeira Paraíso

na Estação Ecológica Juréia-Itatins

Por

Rafael Wingert

Bacharelando em Gestão Ambiental

Monografia submetida ao Corpo Docente Parecerista do curso Bacharelado em Gestão Ambiental,

pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de:

Bacharel em Gestão Ambiental

Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Sustentável e Fontes Renováveis de Energia

Orientadora: Dra Maria Cristina Fedrizzi

Pareceristas acadêmicos:

Prof. Dr. Sergio Almeida Pacca

Prof. Dr. André Felipe Simões

São Paulo, Janeiro de 2013

Page 3: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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Agradecimentos

“Eu agradeço ao povo brasileiro, norte, centro, sul inteiro e onde reinou o baião.” (Caetano Veloso)

Agradeço a minha orientadora, Maria Cristina Fedrizzi, pela disponibilidade e interesse em dar o

devido suporte à realização deste projeto de pesquisa e por ter permitido que este aluno de gestão

ambiental pudesse desenvolver a habilidade em pesquisas de campo energéticas na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no lindo e envolvente estado do Amazonas. Sem a

orientação de uma pessoa com a experiência de autoridade no tema, este projeto não seria possível.

Agradeço ao apoio acadêmico dos amigos e pesquisadores Luis Roberto Valer (IEE/USP), Géssica

Miranda (UFPA/IDSM) Danna Rissia (UFPA/IDSM) e Bruno Mouzinho (UFPA/IDSM), pessoas

com quem tive o privilégio de conviver e navegar entre rios durante as visitas técnicas às

comunidades Punã e São Francisco do Aiucá no Amazonas, além de todas pessoas que se

envolveram com o trabalho, desde membros do Instituto Mamirauá, companheiros de bordo nas

travessias dos rios e terras secas até os comunitários que nos receberam cordialmente em suas casas.

Agradeço aos moradores da comunidade Itinguçu / Cachoeira Paraíso que me receberam de modo

fantástico, tornando a aplicação de questionários numa oportunidade de escutar histórias incríveis e

boas risadas em um dia nublado muito agradável. Um agradecimento em especial ao senhor Geraldo,

que cordialmente me presenteou com a melhor jaca que tinha em sua barraca e ao Carlos que guiou a

mim e meu irmão, companheiro fotógrafo voluntário, pela comunidade.

Agradeço aos amigos e colegas do curso de Gestão Ambiental, tornando os momentos de graduação

mais ricos, agradáveis e marcantes. Aos professores que trouxeram conhecimentos que superavam as

expectativas e despertaram ainda mais o meu interesse pela temática ambiental. E a todos os

funcionários da EACH/USP que trabalham arduamente para garantir as melhores condições para o

desenvolvimento da produção acadêmica, desde os profissionais administrativos aos profissionais de

limpeza.

Finalmente, meu reconhecimento e eterno agradecimento à minha mãe, meu pai e meu irmão,

pessoas que me apoiaram na medida do possível e do impossível ao longo desta jornada acadêmica

que culminou com a produção deste projeto de pesquisa. Este projeto não seria possível sem a

presença deles em todos os dias vividos até aqui por este aluno.

Page 4: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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“Acaba por esparramar-se, falando afinal a língua

portuguesa, por toda a área florestal, e campos naturais do

centro-sul do país, desde São Paulo, Espírito Santo, e Rio de

Janeiro, na costa, até Minas Gerais e Mato Grosso,

estendendo-se ainda sobre áreas vizinhas do Paraná. Desse

modo, a antiga área de correrias dos paulistas velhos na

preia de índios e na busca de ouro se transforma numa vasta

região de cultura caipira, ocupada por uma população

extremamente dispersa e desarticulada” (Ribeiro, 1998:383).

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Sumário

1. Introdução.................................................................................................................................7

2. Objetivo.....................................................................................................................................9

2.1 Objetivos secundários........................................................................................................9

3. Justificativa...............................................................................................................................9

4. Metodologia.............................................................................................................................11

4.1 Material e método utilizados para a visita em campo...................................................13

4.2 Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares (SFDs).............................14

4.2.1 Classificação do SFD...............................................................................................15

4.2.2 Dimensionamento para a comunidade Itinguçu / Cachoeira Paraíso................15

5. Revisão da bibliografia...........................................................................................................18

5.1 O ideário das áreas protegidas........................................................................................18

5.1.1 Preservação x Conservação.................................................................................18

5.2 Estação Ecológica Jureia – Itatins..................................................................................19

5.3 Conceito de Estação Ecológica........................................................................................20

5.4 Estação Ecológica Jureia – Itatins: a criação................................................................21

5.5 Histórico de ocupação humana na região da EEJI.......................................................23

5.6 Caracterização do núcleo Itinguçu.................................................................................25

5.6.1 Itinguçu.................................................................................................................25

5.6.1.1 Dados populacionais de Itinguçu...................................................................25

5.6.1.2 Infraestrutura e aspectos ambientais de Itinguçu........................................27

5.6.1.3 Atividades econômicas....................................................................................28

5.6.1.4 Acessibilidade à energia elétrica em Itinguçu..............................................28

5.7 Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares (SFD)....................................................................30

5.7.1 Limitações associadas à tecnologia fotovoltaica................................................31

5.8 Aplicação da eletrificação fotovoltaica em comunidades rurais dispersas.................32

5.8.1 Aplicação de Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares na EEJI.............................32

6. Trajetória e resultados...........................................................................................................33

6.1 Trajetória..........................................................................................................................33

6.2 Resultados.........................................................................................................................35

6.2.1 Itinguçu.................................................................................................................35

6.2.1.1 Itinguçu / Cachoeira Paraíso..........................................................................35

6.2.1.2 Residências de Itinguçu / Cachoeira Paraíso................................................37

Page 6: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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6.3 Impactos oriundos do consumo de pilhas......................................................................40

6.4 Impacto do uso de velas...................................................................................................40

6.5 Impacto do uso de querosene combustível para lamparinas........................................41

6.6 Impacto do uso de lenha e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP).....................................41

6.7 Estimativa de consumo da comunidade integrada ao SIGFI30...................................42

7. Discussão e conclusão.............................................................................................................44

7.1 Discussão...........................................................................................................................44

7.2 Conclusão..........................................................................................................................47

8. Direções futuras......................................................................................................................49

9. Referências bibliográficas......................................................................................................51

10. Anexo I.....................................................................................................................................53

11. Anexo II...................................................................................................................................54

Page 7: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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1. Introdução

Atualmente cerca de 1,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo não possuem acesso à energia

elétrica, sendo que, deste número, 99,8% habitam países em desenvolvimento e que, sobretudo,

localizam-se em zonas rurais (IEA, 2009). O fornecimento de energia para populações residentes em

áreas remotas representa, portanto, um desafio para as obrigações governamentais em prover a

melhoria da qualidade de vida por intermédio da universalização dos serviços de energia elétrica

(FERREIRA, 2002; MARINI & ROSSI, 2005).

A expansão do fornecimento de energia elétrica neste contexto implica em investimentos de

infra-estrutura, cujo custo se faz relativamente alto ao se considerar as principais fontes tradicionais

(hidrelétrica e termelétrica) como alternativas prioritárias, sob a perspectiva das agendas políticas,

para o atendimento da demanda energética. Ao requerer a construção de usinas, subestações, linhas

de transmissão, etc., além de acarretar no aumento da emissão de gases do efeito estufa (GEEs), no

caso das termoelétricas a combustíveis fósseis, entre outras problemáticas de ordem ambiental, estas

alternativas se mostram política e economicamente inviáveis para levar infra-estrutura energética às

localidades remotas, induzindo, portanto, que se adotem outras tecnologias de geração de energia

para atender a demanda das populações em questão (KOMATSU; KANEKO; GHOSH, 2010).

Na esteira dos sistemas de suprimento de energia elétrica descentralizada, e que fazem o uso

de recursos renováveis para a obtenção de energia, destacam-se as tecnologias eólica e fotovoltaica.

Estas são utilizadas como opções econômica e ambientalmente viáveis para o atendimento das

demandas energéticas de populações dispersas (MARINI; ROSSI, 2005). A opção baseada na

geração fotovoltaica, cujo fornecimento energético se dá em sistemas individuais ou em mini-redes,

tem se popularizado e ganho mais destaque nas áreas sem acesso à energia elétrica, apresentando-se

como uma alternativa viável a fim de suprir as demandas energéticas (KOMATSU; KANEKO;

GHOSH, 2010).

No Brasil, a criação da Resolução Normativa nº 83 de 2004, aponta de maneira favorável à

proposta de universalização de energia da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), com o

objetivo de estabelecer os procedimentos e condições de fornecimento de energia elétrica por meio

de Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes (SIGFIs) dos quais

os Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares (SFDs) são partes integrantes (MOCELIN, 2007).

Page 8: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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De modo a promover uma ação que garanta aos habitantes destas comunidades a infra-

estrutura que melhor se adeque tanto às demandas energéticas locais como também à opção

escolhida para a oferta de energia, a intervenção estratégica por meio da realização de um

planejamento energético integrado emerge como ponto chave no sucesso não apenas da resolução de

conflitos envolvendo oferta e demanda de energia, como também na permanência sustentada de

projetos (BERMANN; SILVA, 2005; FERREIRA, 2002).

Dentro deste contexto, criada pelo Decreto n.º 24.646 de 20 de janeiro de 1.986 e a Lei n.º

5.649, de 28 de abril de 19/87, a Estação Ecológica Juréia-Itatins (EEJI) – com cerca de 79.270

hectares – por apresentar em seu interior populações definidas amplamente pela literatura como

tradicionais (SANCHEZ, 2004) distribuídas em vinte e duas comunidades, perfaz um cenário no

qual a escassez de ações públicas, com o objetivo de promover o fornecimento de energia nestas

regiões, tem se estendido ao longo dos anos. A carência de subsídios que orientem um planejamento

efetivo, o qual contemple as demandas energéticas destas populações isoladas, aliado ao olhar

estratégico que selecione a fonte de energia que melhor se adeque à realidade social, econômica e

ambiental da EEJI, são fissuras que este estudo busca tratar como objeto de pesquisa.

A contextualização acerca da dinâmica social local (que envolve populações tradicionais,

adventícias e não-adventícias à EEJI), do viés econômico (considerando as oportunidades e ameaças

que podem decorrer a partir da eletrificação fotovoltaica) e da questão ambiental (contemplada

positivamente pelas fontes de energia renovável uma vez que estas previnem ou mitigam aspectos

decorrentes da função de produção energética – como supressão da vegetação ou emissões de gases

de efeito estufa) serão pontos tratados de modo a corroborar o valor residente nos preceitos do

desenvolvimento sustentável e da justiça social, compatibilizando a expansão da liberdade dos

indivíduos com a conservação dos ecossistemas que constituem sua base material (VEIGA, 2010).

Com isso, este trabalho busca realizar o levantamento de informações sobre quais são as

formas adotadas de abastecimento energético pelos moradores da comunidade de Itinguçu/Cachoeira

Paraíso no núcleo Itinguçu e, a partir desse diagnóstico, propor em que moldes a alternativa de

eletrificação fotovoltaica poderia ser uma opção viável social, econômica e ambientalmente

aceitáveis.

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2. Objetivo

Realizar o levantamento das formas de abastecimento energético das populações dispersas

residentes no núcleo Itinguçu/Cachoeira Paraíso com vistas a propor um planejamento energético

fotovoltaico compatível com as condições de preservação da EEJI.

2.1 Objetivos secundários

Determinar os gastos da comunidade com as formas atuais de abastecimento energético

(baterias, pilhas, velas, querosene) e os possíveis impactos ambientais e na saúde de seus

usuários;

Estimar a demanda energética local a partir do levantamento de informações sobre as

comunidades selecionadas, a fim de subsidiar uma proposta de eletrificação fotovoltaica;

Assinalar as principais razões pelas quais há defasagem quanto ao atendimento energético

para as comunidades tradicionais da EEJI;

3. Justificativa

A motivação socioeconômica para este estudo reside no fato de que o uso da eletrificação

fotovoltaica, voltada para comunidades residentes em locais sem infraestrutura energética, conforme

Serpa (2001) apresenta vantagens tanto para a democratização energética, como também para a

economia de recursos financeiros despendidos na compra de materiais usados no sistema atual de

energização – iluminação a querosene, velas, pilhas, baterias etc. (TRIGOSO, 2000). Esta opção de

geração renovável, conforme expõe a literatura especializada, possibilita populações o acesso a um

serviço de eletrificação possível, contrapondo o modelo convencional, o qual se mostra pouco

suscetível para oferecer a infraestrutura energética neste contexto.

A alternativa fotovoltaica também se insere na dimensão ambiental, cuja importância se dá de

maneira indissociável das questões socioeconômicas, uma vez que ao ser uma fonte renovável

dependente da incidência de radiação solar sobre sua superfície para a produção de energia, mostra-

se livre da emissão direta de gases de efeito estufa para a atmosfera. Ao se considerar o uso desta

alternativa energética, pressupõe-se a redução no consumo dos materiais utilizados no sistema atual

de energização. Dessa forma, gera-se menor volume de resíduos sólidos, já que as baterias retornam

ao ciclo de uso e os outros resíduos que apresentam potencial poluente e de risco à saúde humana

(como pilhas, baterias e óleo diesel para geradores), são consumidos em menor escala. Com isso, o

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impacto negativo sobre os recursos hídricos locais, o solo, a atmosfera e à saúde humana pode ser

mitigado ou evitado.

Sob o guarda chuva das opções de energia renovável que podem concorrer com a proposta

fotovoltaica neste estudo, existe uma variedade de opções tecnológicas, como geradores eólicos,

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), biodigestores, gaseificadores de biomassa, etc., que

apresentam sua importância para a diversificação da matriz energética presente no país.

A eletrificação fotovoltaica no contexto mundial, entretanto, tem sido a opção que oferece

resultados mais expressivos para as comunidades ruralizadas dispersas, não apenas com relação ao

custo/benefício socioeconômico e ambiental associado ao processo, mas também quanto à satisfação

do usuário acerca do funcionamento dos sistemas de eletrificação domiciliar (SERPA, 2001;

KOMATSU; KANEKO; GHOSH, 2010).

No Brasil, em 2002, foi promulgada a Lei 10.438, conhecida como Lei da Universalização do

Atendimento de Energia Elétrica, obrigando as distribuidoras a atender gratuitamente toda

solicitação de ligação de energia elétrica, em prazos estipulados, chamados de metas de

universalização. As metas dependem das situações peculiares de cada região, sendo que a mais

demorada foi estabelecida para o ano de 2015. Em 2003 foi lançado o Programa Luz para Todos1

(PLpT), proporcionando financiamento às distribuidoras para que antecipassem as metas de

universalização.

É previsto que ao término do Programa ainda haja no Brasil uma grande quantidade de

comunidades rurais sem luz elétrica, principalmente comunidades remotas, pobres e isoladas em

regiões cobertas de florestas, áreas de preservação ambiental, locais que dependem de licenciamento

ambiental, lugares de acesso difícil, regiões de conflito fundiário, ilhas oceânicas, fluviais e em

reservatórios. Além de dificuldades físicas para o atendimento, ocorre que a Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL) prevê diferimento das metas de universalização nas localidades onde a

construção da rede possa resultar em custos muito altos, maiores que três vezes o custo médio dos

projetos rurais da empresa.

Por outro lado, a ANEEL regulamenta o uso de sistemas de geração local, como o solar

fotovoltaico (os chamados Projetos Especiais) e deixa a critério da concessionária valer-se ou não do

emprego dessa alternativa para o cumprimento das metas de universalização, sendo de

responsabilidade da distribuidora a decisão sobre que sistema empregar para o fornecimento de

1 De acordo com o Decreto nº. 4.873, de 11 de novembro de 2003, titulado de “Luz para Todos”, um sistema individual

deve estar apto a fornecer energia para: domicílios (um ponto de luz por cômodo até o limite de três pontos de luz e duas

tomadas) e estabelecimentos coletivos: escolas e postos de saúde (o atendimento deve ser completo).

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energia. (FEDRIZZI; RIBEIRO, 2010).

Ponderando acerca da discussão posta e contextualizando-a para a EEJI, ao se considerar o

caráter preservacionista associado à localização, assegurado pela Lei n.º 5.649, de 28 de abril de

1987, a qual prevê a proibição ou interferência humana mínima sobre as propriedades físicas e

biológicas da reserva, dentre as fontes renováveis de energia disponíveis atualmente, a opção

fotovoltaica se apresenta como uma alternativa possível e viável, a qual apresenta um conjunto de

vantagens que podem ser observadas na tabela 1.

Tabela 1. Vantagens da tecnologia fotovoltaica e sua descrição.

Vantagens Descrição

Modularidade O uso de módulos possibilita que os projetos sejam desenvolvidos por

etapas e que possam acompanhar o ritmo da demanda energética

Flexibilidade A diversidade de arranjos possíveis admite a otimização dos desenhos

dos projetos propostos

Segurança energética A utilização do recurso solar na localidade possibilita que as próprias

comunidades planejem seus projetos, de modo que não sofram

interferências do mercado externo de eletricidade

Não contaminantes Na contrapartida de outras fontes de energia, os módulos fotovoltaicos

não poluem o meio ambiente, durante o processo de geração de

energia; contudo a disposição inadequada de alguns elementos

contidos na tecnologia, como as baterias, pode interferir

qualitativamente no meio ambiente

Controle local O uso da tecnologia fotovoltaica permite que os sistemas sejam

controlados no próprio local, de modo a aumentar a capacidade de se

gerir o sistema e, com isso, propiciando um sentimento de auto-estima

e o sentido de ganho das comunidades envolvidas Fonte: modificado de Serpa (2001).

4. Metodologia

Ao se analisar a literatura disponível sobre a EEJI, foi possível identificar deficiências sobre

como as comunidades satisfazem suas demandas energéticas de maneira mais detalhada, embora seja

conhecida a ausência quase total de infraestrutura energética aos moradores locais.

Como a realização de um planejamento energético pautado numa proposta fotovoltaica

necessita de informações sobre a dinâmica populacional local, buscaram-se nas fontes bibliográficas

(DIEGUES apud OLIVEIRA, 1991; SANCHEZ, 2004; INSTITUTO FLORESTAL, 2009) a

evolução temporal do número de habitantes da reserva, bem como informações pertinentes quanto às

formas de como os moradores obtém energia para suprir suas necessidades cotidianas.

Considerando o cenário posto, este estudo reuniu informações dos moradores dispersos na

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comunidade Itinguçu/Cachoeira Paraíso, o qual se encontra no núcleo Itinguçu a fim de atingir os

objetivos propostos. Para isso, inicialmente procurou obter informações primárias em campo com a

finalidade de quantificar e atualizar o número de residentes nas comunidades.

A seleção da localidade em Itinguçu (anexo 2) foi definida e nomeada segundo o Estudo

Técnico para Recategorização de Unidades de Conservação e Criação do Mosaico de UCs Juréia-

Itatins (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009), seguiu a lógica da dispersão geográfica e defasagem de

informações, dada a complexidade local aliada aos fatores históricos, sociais e econômicos que

dinamizam os movimentos populacionais. Com isso, a partir dos seguintes critérios foi definida a

área objeto de análise:

Ausência de infraestrutura energética existente na área da EEJI, tornando-a, portanto,

áreas de interesse para este estudo;

Busca em documentos oficiais e em campo pelo número de habitantes, tipos de

atividades domésticas, econômicas e culturais das comunidades residentes nas áreas selecionadas, de

modo a auxiliar no planejamento energético baseado na eletrificação fotovoltaica;

O método utilizado para a reunião das informações e dados propostos foi definido de duas

formas:

Reunião de informações através de fontes oficiais de informações pertinentes ao escopo de

trabalho desta pesquisa; e

Visita em campo programada para refinar as informações obtidas no núcleo Itinguçu através

da aplicação de questionários junto aos moradores.

De maneira a auxiliar não apenas na consolidação da metodologia proposta, como também na

formação em termos de pesquisa extensionista, complementando a formação acadêmica, foi aceito o

convite para uma viagem de campo realizada pelos pesquisadores Maria Cristina Fedrizzi e Roberto

Zilles, do Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos (LSF), do Instituto de Eletrotécnica e Energia

(IEE), da Universidade de São Paulo. O convite permitiu acompanhar e auxiliar no trabalho de

avaliação de projetos de eletrificação fotovoltaica, implantados em 2007, em São Francisco do

Aiucá, comunidade ribeirinha da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), no

Médio Solimões, Amazonas (MOCELIN, 2007). Dada a contribuição para a realização deste estudo,

visto a relevância e compatibilidade de temas envolvidos, este convite foi incluído como método

para obter experiência com pesquisadores atuantes na área, bem como trazer uma bagagem cultural e

social no convívio com comunidades que se relacionam com a tecnologia fotovoltaica e como esta se

insere no cotidiano dos contemplados pela tecnologia.

Page 13: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

13

4.1 Material e método utilizados para a visita em campo

A obtenção de informações junto aos moradores de Itinguçu/Cachoeira Paraíso foi

guiada através da aplicação de questionários de caráter quantitativo e qualitativo:

- Quantitativo: visa quantificar o número de residentes fixos nas comunidades, número de

residências por comunidade identificada, estimar a quantidade de materiais usados no sistema

tradicional de energização (volume de querosene e gás para a iluminação, número de velas, pilhas e

baterias, etc.) e, a partir desta estimativa, aproximar o dispêndio financeiro que as famílias têm para

prover suas necessidades energéticas a partir destes objetos;

- Qualitativo: procura qualificar as atividades realizadas nas comunidades, de modo que

possa subsidiar informações que contribuam para o planejamento energético, por exemplo: horário

em que as atividades domésticas, econômicas e culturais ocorrem; valoração atribuída pela

comunidade quanto à conservação ambiental e sua importância para as atividades socioeconômicas,

anseios quanto ao uso de aparelhos eletrodomésticos (geladeiras, aparelhos de televisão,

ventiladores, etc.), entre outras questões que surgiram ocasionalmente durante a entrevista. Além

disso, relatar possíveis impactos do uso das alternativas energéticas na saúde dos usuários

(problemas oftalmológicos, respiratórios e queimaduras provocadas pelo uso de velas e lamparinas a

querosene, por exemplo).

Os dados obtidos foram agrupados e analisados de forma a auxiliar na proposta de

planejamento energético baseado na tecnologia solar fotovoltaica.

Dessa forma, os questionários norteadores da pesquisa foram baseados a partir dos seguintes

itens:

Dados de identificação da residência:

Número de moradores: identificar quantos indivíduos se estabelecem fixa e/ou eventualmente

por residência;

Nomes

Sexo

Idades: identificar as idades de modo a orientar os níveis de demanda energética dados pela

faixa etária;

Escolaridade

Renda

Eletrodomésticos

Page 14: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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Consumo de energia

Custo associado ao consumo de energia

Hábitos familiares associados ao uso de energia

Anseios sobre o uso de energia elétrica

Dados de identificação da comunidade:

Número de residências

Número de habitantes

Grau de dispersão das residências: de modo a auxiliar em projeções que buscarão estimar a

eletrificação fotovoltaica em sistemas individualizados por residência e/ou em mini-redes

para atender um conjunto de residências;

Principais atividades econômicas: atividades agrícolas, comércio, criação de rebanhos etc.

Hábitos econômicos associados ao uso de energia: identificar quais atividades econômicas

efetivamente demandam o uso de energia;

Hábitos sociais e culturais associados ao uso de energia: hábitos noturnos como festas,

eventos religiosos etc.

Acesso a serviços educacionais e de saúde: se há escolas ou postos de saúde na comunidade,

se estes recebem alguma forma de eletrificação, se não houver na comunidade o acesso a

estes serviços, como se dá o deslocamento até os mais próximos.

4.2 Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares (SFDs)

O dimensionamento de SFDs de modo a garantir a satisfação do usuário diante da

oportunidade de obter energia elétrica para suprir suas necessidades, está diretamente associado na

determinação adequada de energia gerada. De acordo com Reis & Silveira (2000), há dois fatores

preponderantes a serem considerados para garantir o melhor uso da tecnologia: considerar a

irradiação2 solar que incide no plano do módulo onde há as células fotovoltaicas, e a potência

instalada, ligada à área do módulo, às características do mesmo e dos componentes adicionais que

perfazem o sistema regulador de potência: controlador de carga, baterias e inversor

Ao se considerar a hipótese de instalação de SFDs, Serpa (2001) sugere que o órgão

planejador deva prever na etapa do dimensionamento não apenas o padrão médio de consumo

energético necessário, mas também considerar a possibilidade de ampliação das horas de iluminação

nas residências a serem contempladas pela tecnologia, garantindo, com isso, maior conforto para o

2 Irradiação: diz-se da grandeza física, a quantidade de energia radiante que atravessa uma determinada superfície. É

numericamente igual à integração da irradiância no intervalo de tempo em questão. É medida em Wh/m² (ROSA, 2003).

Page 15: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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usuário. Além disso, visa também permitir que haja condições para que outras atividades desejadas

possam ser desenvolvidas mais seguramente se for da necessidade local.

As vantagens de uso dos sistemas fotovoltaicos, conforme Mocelin (2007), está associada a

disponibilidade do uso nas 24 horas do dia, possibilitada pelo acúmulo de energia no banco de

baterias que dão suporte ao sistema.

4.2.1 Classificação dos SFD

De modo a realizar um projeto de planejamento energético fotovoltaico, a etapa do

dimensionamento deve selecionar o SFD que seja mais adequado não apenas quanto à taxa de HSP,

mas também com a dinâmica sociocultural que exija maior ou menor potencial energético. A tabela 3

indica os parâmetros propostos pela Resolução da ANEEL nº 83 de 2004 para os Sistemas

Fotovoltaicos Domiciliares..

Tabela 3. Classificação dos SFD segundo Resolução da ANEEL de 2004.

Fonte: BRASIL (2004).

A escolha do SIGFI30 é a proposta de eletrificação fotovoltaica que melhor se ajusta à

demanda energética da comunidade Itinguçu/Cachoeira Paraíso, o que será mostrado mais adiante no

decorrer deste estudo a partir da determinação média das cargas estipuladas nas residências, como

lâmpadas, televisões e rádios.

4.2.2 Dimensionamento para a comunidade Itatins / Cachoeira Paraíso

Conforme Mocelin (2007), quando o consumo diário de referência se torna conhecido,

posteriormente este valor de energia deve ser corrigido, considerando a eficiência da bateria, do

inversor e do controlador. A eficiência da bateria consiste em 0,85 como valor considerado de

referência e 0,80 para o inversor. O controlador, por sua vez, tem seu valor desprezado na base de

cálculo a ser utilizada. O valor corrigido, portanto, corresponderá à energia que o sistema de

Page 16: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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acumulação proverá diariamente ao SFD, de maneira que os 1000Wh/dia sejam garantidos na saída

do sistema, conforme equação 1:

L= 435 / Nbat . Ninv . Nctrl (1)

Em que: L representa a energia diária em Wh corrigida; Nbat representa a eficiência da

bateria; Ninv a eficiência do inversor; E Nctrl a eficiência do controlador.

Com o valor da energia diária em Wh corrigido, pode-se dimensionar a capacidade do

sistema de acumulação, a partir da informação de que sua autonomia deve ser de dois dias e a

máxima profundidade de descarga admitida de 50%. A equação 2 demonstra:

CB(Wh) = L.2 / Pdmax (2)

Em que: CB(Wh) representa a capacidade do sistema de acumulação em Wh; L representa a

energia diária em Wh corrigida; e Pdmax a profundidade máxima de descarga admitida para o

sistema de acumulação. A partir deste valor encontrado, tem-se que calcular o valor da capacidade

em Ah por meio da divisão pelo valor da tensão de trabalho do sistema de acumulação, de acordo

com a equação 3:

CB(Ah) = CB(Wh) / V (3)

Onde: CB(Ah) indica a capacidade do sistema de acumulação em Ah; CB(Wh) representa a

capacidade do sistema de acumulação em Wh; e V representa a tensão de trabalho do sistema de

acumulação.

A fim de calcular o valor da potência do gerador fotovoltaico, inicialmente considera-se a

disponibilidade do recurso solar na região. Para tanto, o método de dimensionamento utiliza o

conceito de Horas de Sol Pleno (HSP), o qual corresponde ao número de horas de sol em média

diária a uma intensidade de 1000 W/m² e é equivalente à energia total diária incidente sobre a

superfície do gerador em kWh/m².

A potência do gerador fotovoltaico será calculada com base na disponibilidade da incidência

de radiação solar na região que envolve a EEJI. Com isso, este método de dimensionamento utiliza-

se do conceito Horas de Sol Pleno (HSP), o qual corresponde ao número de horas de sol em média

diária a uma intensidade de 1000W/m², correspondendo a uma energia total incidente por dia sobre a

superfície dos módulos geradores em kWh/m².

Page 17: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

17

Ao se encontrar o valor da energia diária em Wh corrigido, calculado anteriormente, deve

ser dividido pelo número de HSP da região e, ainda, multiplicado por um fator de segurança

escolhido pelo projetista. O resultado da equação 4 demonstra a potência do SFD em Wp:

Pot(Wp) = 1,25.L / HSP (4)

Em que: Pot(Wp) representa a potência do sistema de geração em Wp; L representa a

energia diária em Wh corrigida; e HSP representa o número de horas de sol pleno.

Posteriormente aos cálculos realizados, o SFD está dimensionado pelo critério do pior mês

de disponibilidade de radiação solar no local, considerando uma disponibilidade diária de energia na

ordem de 3kWh/m² sobre a superfície do gerador, com um fator de segurança de 25%. Com isso,

estão assegurados os 30kWh/mês em corrente alternada na saída do SFD e os dois dias de autonomia

do banco de baterias, cuja profundidade máxima é de 50%.

A seleção da alternativa de SIGFI30 como proposta para a eletrificação fotovoltaica, após o

dimensionamento realizado, possui os seguintes equipamentos:

Gerador fotovoltaico de 600 Wp

Sistema de acumulação de 250 Ah em 24 Vcc

Um inversor de 500 W

A partir desse método de dimensionamento, a proposta de eletrificação fotovoltaica para a

comunidade analisada por este estudo será do SIGFI30. A seleção do sistema considerou a

expectativa dos moradores por equipamentos que garantam a eles suprirem suas demandas

energéticas, o que será demonstrado a partir do tópico 6.2.1.1. Estas expectativas e avaliações sobre a

quantidade de lâmpadas que possam suportar a disponibilidade do SIGFI30 foi realizada a partir da

aplicação do questionário aos moradores.

A região em que os habitantes da comunidade selecionada vivem representa um hotspot de

biodiversidade onde há a presença humana há alguns séculos. Dessa forma, criou-se a EEJI a fim de

garantir a preservação integral da área, gerando conflitos socioambientais que necessitam ser

avaliados pela contextualização histórica e presente da área.

Page 18: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

18

5. Revisão da bibliografia

5.1 O ideário de áreas protegidas

O termo áreas protegidas induz à ideia de que uma área se encontra reservada, separada ou

segregada, usualmente constituídas através de mecanismos legislativos de maneira que obedecem a

critérios instituídos. O estabelecimento legal destas áreas parte do princípio de que haja aspectos

naturais importantes a serem protegidos da utilização econômica intensiva (que degrada o capital

natural de maneira efetiva e significativa), ou dependendo da categoria a ser definida pelo Sistema

Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), possa haver um manejo sustentável dos recursos de

maneira a manter os estoques ambientais dentro da capacidade de suporte dos ecossistemas.

O histórico de áreas protegidas no Brasil sob o prisma legislativo, remonta ao Decreto 23.793

de 23 de Janeiro de 1934 o qual estabelece e regulamenta o Código Florestal como o marco legal

dos parques nacionais. Desta forma, como aponta Camara (2009), formou-se em 1937 o Parque de

Itatiaia, localizado no Rio de Janeiro e que tinha como objetivo preservar uma extensa área de Mata

Atlântica. Este olhar preservacionista pautado numa ética ambiental, advém, no entanto, de uma

iniciativa adotada nos Estados Unidos da América onde foi estabelecido em 1872 o Parque Nacional

de Yellowstone. A criação desta reserva acabou por introduzir legalmente o conceito de áreas

protegidas cujo objetivo consistisse em proteger os recursos naturais, garantir a manutenção e

preservação dos valores estéticos e paisagísticos, além de permitir que estas áreas pudessem garantir

atividades de lazer às populações (CAMARA, 2009).

5.1.1 Preservação x Conservação

Embora o ideário e o estabelecimento legal de áreas naturais protegidas tenham se tornado

imprescindíveis para a manutenção da qualidade do capital natural, dentro desta dimensão existe um

embate metodológico quanto à forma legal com a qual será estabelecida uma reserva natural: se esta

atenderá a princípios preservacionistas ou a princípios conservacionistas.

O ideário preservacionista defende a manutenção de áreas intocadas, isto é, locais em que o

homem não apresentaria importância em manter-se e, portanto, ausentar-se da área a fim de não

ocasionar danos ao meio ambiente; em contrapartida, o ideário conservacionista está ligado à ideia

de que a conservação da natureza é um fenômeno inerentemente atrelado à sobrevivência e ao bem

estar do ser humano (CAMARA, 2009).

Esta dualidade metodológica está presente nos pressupostos utilizados pelo SNUC para

definir critérios que, segundo Rylands (2005) determinam-se em função da grande diversidade de

Page 19: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

19

situações presentes na realidade brasileira. De acordo com as definições do SNUC, tem-se portanto:

Unidades de Conservação de Proteção Integral - visam preservar a natureza em

áreas com pouca ou nenhuma ação humana, onde não se permite a utilização direta de

recursos naturais. São subdivididas em cinco categorias: Estação Ecológica, Reserva

Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre.

Unidades de Conservação de Uso Sustentável – associam a conservação da natureza

à utilização controlada dos recursos naturais. São subdivididas em sete categorias:

Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta

Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento

Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Na medida em que se enquadra como uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, a

Estação Ecológica Jureia-Itatins exclui, dessa forma, a possibilidade da presença humana em seus

domínios, muito embora no momento anterior à criação já existisse uma presença humana marcante

em seu interior.

5.2 Estação Ecológica Juréia-Itatins

Localizada na porção sudoeste do estado de São Paulo, a Estação Ecológica Juréia-Itatins se

encontra na região do Vale do Ribeira (figura 1), o qual pode ser categorizado em duas sub-regiões

cujas características se distinguem: a sub-região que compreende o complexo estuarino-lagunar,

integrado por Iguape, Cananéia e Paranaguá, onde há uma extensa diversidade de flora e fauna, e

também a presença de núcleos humanos que habitam esta região; e a sub-região que abrange uma

área serrana composta por colinas, distribuída por todo o vale à montante do rio Ribeira a partir da

barra do Jacupiranga e do Carapiranga. (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2011; TRIGOSO, 2000).

O clima predominante na região consiste no tropical úmido, com ausência de estações secas e

cuja temperatura mínima do mês (sujeita a pequenas flutuações para valores mais baixos)

corresponde a 22ºC e também cujos níveis pluviométricos, medidos nos meses mais secos,

encontram-se na ordem de 30 mm. A estrutura geomorfológica encontrada na região se caracteriza

pelas Unidades Morfoestruturais do Planalto Atlântica, sendo esculpidas pelas Escarpas, Serra do

Mar, Morros Litorâneos e Planície Litorânea. Os rios que apresentam maior importância na região

circundante são os rios Una (50 km de extensão), Verde (3 km), Grajaúna, Branco, Aguapeú e

Cabuçu (NUNES, 2002).

Page 20: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

20

Figura 1. Municípios de influência direta sobre a Estação Ecológica Jureia-Itatins

Fonte: (Fundação Florestal, 2009)

5.3 Conceito de Estação Ecológica

Conforme estabelece o SNUC, disposto segundo a Lei 9.985 de 18 de julho de 2000, as

Estações Ecológicas (EE) tem por objetivo a preservação da natureza, contudo permite, de maneira

controlada, o acesso para a realização de pesquisas científicas na área. A legislação prevê que a área

de abrangência apresente no mínimo 90% da reserva designada à preservação integral da biota,

considerando que a mesma seja de posse e domínio público.

As áreas particulares que são incluídas dentro dos limites da EE, por sua vez, deverão ser

expropriadas, fazendo cumprir a legislação em questão. As visitações públicas às EE, por fim,

restringem-se ao cumprimento de objetivos educacionais pré-estabelecidos pelos órgãos competentes

que administram a área, de modo a manter o caráter preservacionista da reserva com mínima ou

ausência da interferência humana sobre a paisagem (BRASIL, 2000).

Muito embora o estabelecimento de uma EE pressuponha a existência de um caráter

preservacionista da área selecionada, de acordo com o SNUC existem critérios determinados que

permitam alterações dos ecossistemas a partir dos seguintes casos:

Page 21: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

21

Medidas que busquem a restauração de ecossistemas alterados;

Realização de manejo de espécies cuja finalidade consista na preservação da

diversidade biológica;

Coleta de elementos que compõem os ecossistemas com fins de pesquisa científica;

Pesquisas científicas as quais o impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele

causado pela simples observação ou pela coleta controlada de elementos que compõem os

ecossistemas em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e

até o limite de mil e quinhentos hectares (BRASIL, 2000).

5.4 Estação Ecológica Juréia-Itatins: a criação

Ao se desenhar o histórico da EEJI, o primeiro momento em que houve a preocupação do

Estado em conservar a Mata Atlântica da área onde hoje ela se encontra, remonta ao ano de 1958,

quando foi cunhada a Reserva Estadual de Itatins, por meio do Decreto Estadual 31.650 de 08 de

abril, abrangendo uma área de 12.058 hectares de terras declaradas devolutas na vertente atlântica da

área montanhosa da Serra do Itatins (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009).

Conforme relata Nunes (2002) o fenômeno da criação da EEJI como se conhece atualmente

se deu basicamente por três eventos principais: criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente do

governo federal (SEMA); expansão dos empreendimentos imobiliários, impulsionados pelo modelo

de crescimento econômico adotado pelo país no período do “milagre econômico”, os quais

ameaçavam a integridade da costa; e o estabelecimento do acordo nuclear Brasil-Alemanha, o qual

previa a instalação de usinas nucleares na região. Num

primeiro momento, a SEMA, diante dos vetores de pressão ocasionados pelo interesse de vários

setores da economia, principalmente do ramo imobiliário e de turismo, pela ocupação da área,

conforme Nunes (2002) decretou em 1979 a formação de uma Estação Ecológica no Maciço da

Juréia, abrangendo uma área correspondente a 1.100 hectares.

Tão logo houve este decreto com um viés preservacionista para a área, o Decreto Federal de

1980 declara toda a dimensão do maciço da Juréia e Parnapuã como propriedade beneficiária da

Empresa Nuclear Brasileira S/A (NUCLEBRÁS). Dessa forma, definiu as terras como passíveis de

uso público, desapropriando os residentes locais a fim de implantar as usinas nucleares 04 e 05 do

Programa Brasileiro de Centrais Nucleares (NUNES, 2002).

Todavia, em função da não-efetividade da NUCLEBRÁS quanto ao processo de

desapropriação da área, ao ano de 1985 a empresa perdeu o direito de permanecer com a detenção da

Page 22: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

22

terra e, portanto, os proprietários antigos voltaram a ter legitimidade sobre a posse da terra

(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009).

Dessa forma, no ano de 1986, a partir do Decreto Estadual 24.646/86 esta área deixou de ser

de domínio federal, passando, para a competência estadual sob administração da então Secretaria de

Meio Ambiente (SMA). A área, antes compreendida como Estação Ecológica Federal sob regência

da NUCLEBRAS, passou a ser Estação Ecológica Estadual, englobando também a reserva Estadual

de Itatins. Ficou, assim, configurada a Estação Ecológica Juréia-Itatins (EEJI). No sentido de

consolidar o Decreto Estadual de criação da área natural protegida, foi sancionada a Lei Estadual n°

5.649, de 28 de abril de 1987, criando a EEJI, com o objetivo básico de assegurar a integridade dos

ecossistemas, bem como proporcionar sua utilização para fins educacionais e científicos

(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009).

Mesmo após a criação da EEJI, outras medidas legais foram tomadas no sentido de reafirmar

a conservação da área, podendo-se citar a Emenda Constitucional 56/86, a qual preconiza que deve

permanecer sob a proteção especial do Estado toda a biota da vertente atlântica da Serra do Mar.

Registros fotográficos no trabalho de campo – dezembro de 2012

Page 23: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

23

5.5 Histórico de ocupação humana na região da EEJI

A ocupação humana na região onde hoje está estabelecida a EEJI remonta, de acordo com

Nunes (2002), de um período considerado pré-histórico; a identificação de sambaquis3 encontrados

em sítios arqueológicos na região data de cerca de oito mil anos. A composição etnográfica atual das

populações residentes na reserva (ADAMS, 1996; DIEGUES, 1998) consiste fundamentalmente na

miscigenação entre povos indígenas pré-existentes à época da colonização, povos brancos advindos

da Europa (sobretudo de origem portuguesa) e povos negros africanos devido ao período do tráfico e

comércio de escravos.

Nesse bojo, Adams (2000) busca categorizar os ocupantes a partir da terminologia

amplamente utilizada pela literatura especializada, empregando o conceito caiçara a fim de

identificar os habitantes mais antigos da região, classificação etnográfica esta conferida por Cândido

(1964), a fim de identificar as populações etnograficamente, como caipira paulista.

Oriundo do vocábulo caá-içara encontrado na língua Tupi-Guarani, o termo caiçara

costumava ser adotado para denominar as estacas colocadas em torno das tabas, aldeias e currais,

todos feitos de galhos de árvores fincados na água a fim de cercar o peixe. Posteriormente, o termo

passou a ser atribuído às palhoças construídas nas zonas costeiras que abrigavam canoas e

instrumentos utilizados para a pesca. Mais tarde, os moradores de Cananéia passaram a receber tal

denominação como povos caiçaras e, em seguida, todos os indivíduos pertencentes às comunidades

residentes no litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, passaram a ser chamados de

caiçaras (SAMPAIO apud ADAMS, 2000).

Dada a diversidade etnocultural das populações consideradas tradicionais, a chegada de

núcleos populacionais (não-tradicionais) oriundos de outras partes do Brasil – sobretudo Nordeste e

Minas Gerais – aliada à proposta preservacionista instituída na região após a criação efetiva da EEJI,

em outubro de 1991 ficou disposto no Decreto Estadual n° 32.412 que, através de um cadastro de

identificação dos moradores integrantes das comunidades tradicionais situadas na EEJI, seria

estabelecido quais daqueles teriam o direito de desenvolver as atividades agrícolas e/ou pesqueiras

na área (OLIVEIRA, 2004).

A realização do cadastro tomou com objetivo identificar as comunidades residentes na EEJI

e, com isso, classificar as populações consideradas como tradicionais locais. Conforme expõe

Sanches (1997), tradicionais foram consideradas as populações cuja presença é antiga na área,

3 Depósitos empilhados, deixados pelo homem predominantemente em regiões costeiras, de materiais orgânicos e

calcários os quais, ao longo do tempo, sofrem a ação de intempérie passando, com isso, ao processo de fossilização

química. O termo advém do tupi tamba’kï que significa “monte de conchas”.

Page 24: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

24

dedicadas a economia de subsistência, apresentando marcantes vínculos de parentesco entre si e

demonstrando conhecimento específico do meio em que vivem; nesta categoria, encontram-se os

caiçaras e uma pequena parcela de indígenas, os quais, por sua vez, habitam a região próxima a

Itinguçu em aldeias; Estes núcleos populacionais, portanto, são classificados como não-adventícios

na região (OLIVEIRA, 2004).

Os habitantes considerados adventícios, isto é, que migraram de outras regiões para a EEJI,

chegaram a partir de meados dos anos 80 motivados pela política de desenvolvimento agrário vigente

à época. Considerados, portanto, não-tradicionais, estes núcleos se caracterizam por apresentarem

uma produção de bens primários, visando à comercialização, com a predominância de cultura

agrícola, por haver uma evidente heterogeneidade cultural maior, por denotar poucos ou nenhum

laços de parentesco e escassos ou ausentes conhecimentos específicos do meio (FUNDAÇÃO

FLORESTAL, 2009; DIEGUES apud OLIVEIRA, 1991).

Atualmente, através do levantamento realizado pelo Estudo Técnico Mosaico Juréia, por

intermédio da Fundação Florestal, estabeleceram-se critérios a fim de se classificarem as condições

de ocupação que os moradores se inserem (posseiros, caseiros, veranistas), o tipo de uso das terras

(comércio, misto: comércio e residência, uso exclusivo das terras, uso exclusivo para comércio), e a

indicação se o ocupante (proprietário, posseiro, caseiro ou veranista) consta no Cadastro de

Ocupantes da EEJI4 nos anos de 1990 e 2005. Este levantamento realizado entre 2008 e 2009

(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009), apontou o número total de famílias presentes nos núcleos da

EEJI, bem como o número absoluto de indivíduos, conforme pode ser observado na tabela abaixo:

Tabela 1. Síntese do levantamento de 2008 para os núcleos da EEJI

Total de núcleos levantados 11

Total de famílias 221

Total de indivíduos 431

Total de famílias coincidentes com CGO 1990 22

Total de famílias coincidentes com CGO 2005 50

Fonte: Fundação Florestal (2009)

4 Cadastro de Ocupantes da EEJI (batizado de CGO/1990)

Page 25: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

25

5.6 Caracterização da área Itinguçu

5.6.1 Itinguçu

A região de Itinguçu abrange 08 núcleos populacionais definidos conforme a tabela abaixo:

Tabela 2. Núcleos populacionais de Itinguçu

Guarauzinho

Arpoador

Praia Brava/Juquiazinho

Itinguçu/barracas da Cachoeira Paraíso

Caramborê/Tocaia

Itinguinha

Tetequera

Barro Branco

Cada núcleo populacional dispõe de uma organização espacial própria, sendo que,

particularmente, os núcleos de Guarauzinho, Arpoador, Praia Brava e Juquiazinho são

predominantemente compostos por moradores considerados tradicionais que vivem ou viviam

essencialmente da pesca. De acordo com o Estudo Técnico Mosaico Jureia (FUNDAÇÃO

FLORESTAL, 2009), a maior parte das ocupações se encontra sem seus moradores, mas não

abandonadas, de modo que estas residências ainda são mantidas por seus antigos moradores, os quais

passaram a viver nas cidades de Peruíbe e Iguape, frequentando-as eventualmente. O núcleo Itinguçu

(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009; CAMARA, 2009) destaca-se pelo fato de que a maioria de seus

habitantes é constituída por migrantes nordestinos que se estabeleceram na área a partir dos anos 60,

quando vieram do meio rural, motivados pela busca da autonomia camponesa apregoada pela política

de incentivo ao desenvolvimento agrário vigente à época. Já os núcleos de Tetequera, Barro Branco e

Caramborê se distinguem por uma ocupação mais recente a qual a maioria também está atrelada ao

movimento migratório de nordestinos à região. Todavia, majoritariamente, não apresentam a mesma

relação direta com os recursos naturais quando se compara aos moradores de Itinguçu. Nesses

núcleos, portanto, a dinâmica ocupacional se encontra acentuadamente intensificada, de maneira que

comumente é possível encontrar moradores que se mudaram para o local recentemente.

5.6.1.1 Dados populacionais de Itinguçu

No ano de 2009, através do Estudo Técnico Mosaico Jureia (FUNDAÇÃO FLORESTAL,

2009), foram divulgados os dados censitários de toda a dimensão que abrange a EEJI. No que

Page 26: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

26

concerne à região do Itinguçu, o levantamento destes dados se deu entre os meses de julho e

setembro de 2008, indicando a existência de 123 famílias na área em questão. Estes valores

demonstram um número maior que o registrado em 1990 (+15,44%), mas menor do que o registrado

para 2005 (-7,31%), isto é, houve um relativo crescimento populacional desde 1990 até o ano o

período em que se realizou o censo de 2005, entretanto uma leve queda neste número absoluto nos

dados mais recentes disponíveis5. No entanto, o número de indivíduos por família reduziu

significativamente, se comparado a 1990, na medida em que nesse período existiam 449 indivíduos e

hoje constam apenas 278 indivíduos, uma redução aproximada de 37% da população absoluta

residente em 1990.

Figura 2. Mapa de ocupação humana da EEJI (1990)

Fonte – Fundação Florestal (Otto Hatung)

De acordo com as ocupações econômicas observadas no Itinguçu e obtidas através de uma

entrevista realizada com Roberto Nicaccio, responsável pelo setor de conservação biológica da EEJI,

os moradores podem ser classificados como caseiros, posseiros agricultores, diaristas, aposentados,

barraqueiros e habitantes que trabalham em Peruíbe.

5 Essa situação pode ser justificada por 03 razões aparentes: (i) evasão dos integrantes mais jovens (filhos) a procura de

oportunidades de trabalho mais bem remuneradas; (ii) diminuição do tamanho das famílias mais jovens; (iii) na condição

de ausentes registrou-se a ocupação e a família, mas o número total de ocupantes foi fornecido por um terceiro, portanto

esse valor pode variar.

Page 27: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

27

5.6.1.2 Infraestrutura e aspectos ambientais de Itinguçu

A ausência de instalações básicas de infraestrutura nos núcleos de Itinguçu se denota ao não

atendimento de abastecimento de água por meio da rede municipal, como também o sistema de

coleta de efluentes líquidos emitidos na região.

Conforme um levantamento realizado pelo Estudo Técnico Mosaico Jureia Itatins, por meio

de entrevistas realizadas com moradores locais, revelou-se que 55% das comunidades são atendidas

pelo sistema simplificado coletor municipal de resíduos sólidos, com a ressalva que mesmo assim

alguns entrevistados declararam não utilizar esse serviço. Todavia, a tabela 02 abaixo indica a

presença deste sistema simplificado de coleta municipal de resíduos sólidos em alguns núcleos

comunitários de Itinguçu, enfatizando a presença deste sistema permeando a área onde está

localizado o Centro de Visitantes do Núcleo Itinguçu e o entorno da área de ocupações próximas à

Cachoeira Paraíso6.

Tabela 3. Coleta municipal de resíduos sólidos

Atendidos pela coleta de Resíduos Sólidos Não tendidos pela coleta de Resíduos Sólidos

Itinguinha Itinguçu

Tetequera Paranapuã

Barro Branco Praia Brava

Tocaia Juquiázinho

Caramborê Guaraúzinho

Os próprios ocupantes atendidos por esse serviço, no entanto, têm o costume de queimar o

lixo, prática corriqueira em todos os núcleos. Contudo, o Estudo Técnico Mosaico Jureia Itatins

revelou que 22% utilizam os resíduos orgânicos para compostagem e 14% dos comunitários

declararam separar os resíduos, mas observa-se que raramente os resíduos são reciclados ou

reaproveitados.

Em casos que se enquadram nesta dimensão, a separação dos resíduos tem o objetivo de

otimizar a combustão e a eficiência da queima, o restante ou é utilizada para alimentar os animais

(orgânico) ou para enterrar (DEAN, 1997).

6 Durante períodos de alta temporada, a Cachoeira Paraíso recebe em média 1000 pessoas por dia, de modo que esta

presença humana acarreta em impactos ambientais dos quais ainda não há estudos a respeito disponíveis na literatura. Há

a presença de quatro quiosques desprovidos de infraestrutura adequada, posicionados ao lado da cachoeira, onde bebidas

e alimentos são servidos, não oferecendo estrutura sanitária para a disposição adequada dos resíduos (CAMARA, 2009).

Page 28: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

28

A água usada para consumo doméstico em 56% dos casos é proveniente de nascentes, todavia

nos núcleos com maior adensamento populacional como Tetequera, Barro Branco, Tocaia e

Caramborê as distâncias entre a residência e a fonte hídrica se mostra mais dificultosa, ultrapassando

2 mil metros. O único núcleo que declarou possuir problemas com disponibilidade hídrica para

consumo foi Paranapuã e Brava. Esses núcleos são drenados por bacias hidrográficas com baixa

densidade de drenagem, não ultrapassando canais de segunda ordem.

A região do Itinguçu apresenta um conjunto de trilhas e caminhos de acesso em seus núcleos,

de modo que são usadas para diversos fins: circulação interna, fiscalização, visitação,

monitoramento, serviços entre outros. Essa rede de trilhas tem sido, no entanto, intensamente usada

devido à pressão de ocupação e de visitação pública constante. A utilização não planejada, com

ausência de sistemas de controle e sem monitoramento beneficia a existência de ações indutoras a

impactos ambientais no local, formando-se assim, um vetor significativo de pressão para a região.

Dentre o leque de impactos decorrentes dessas ações, aqueles considerados mais importantes são: a

fragmentação de habitat, ausência de dossel contínuo, a perda da biodiversidade, erosão e

assoreamentos, compactação do solo, contaminação de águas e solos (FUNDAÇÃO FLORESTAL,

2009).

5.6.1.3 Atividades econômicas

As atividades econômicas desenvolvidas pelos moradores do núcleo de Itinguçu consistem

basicamente como caseiros, agricultores, diaristas, aposentados, artesanatos, realização de trabalhos

temporários (bicos), vendedores de produtos nas beiras de estradas (barraqueiros) e aqueles que

exercem atividades profissionais em Peruíbe (ganhos se concentram nas épocas de alta temporada ou

feriado prolongado). Os

principais plantios de roça identificados foram de banana, mandioca (usada, principalmente para a

produção da farinha), a cana-de-açúcar, frutíferas, hortaliças e feijão. O milho e frutas cítricas

também se destacam entre as mais cultivadas. Quanto à criação de animais domésticos, é raro

encontrar residências que não tenham um cachorro já que, via de regra, quase todas tem pelo menos

um. Em segundo lugar seguem as galinhas e depois os gatos (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2009).

5.6.1.4 Acessibilidade à energia elétrica em Itinguçu

Os núcleos que compõem o grande núcleo de Itinguçu, de acordo com dados apresentados

pela Fundação Florestal (2009), apresentam um número de 52% de sua totalidade que recebem o

sistema convencional de distribuição de energia elétrica, especificamente os núcleos posicionados na

porção leste (Itinguçu, Barro Branco entre outras) em decorrência da proximidade limítrofe com a

infraestrutura elétrica disponível no domínio periurbano de Peruíbe. Alguns terrenos encontrados no

Page 29: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

29

núcleo de Itinguçu/Cachoeira Paraíso, a terra é usada pelo posseiro, que optou por residir em uma

das barracas da cachoeira do Itinguçu, por motivos de maior proximidade e conforto proporcionado

pela energia elétrica.

Em muitos casos, porém, mesmo com a proximidade com a rede elétrica, algumas barracas e

núcleos não possuem efetivamente o acesso legal à energia elétrica, o que acaba por fomentar

ligações irregulares (“gatos”) algumas residências, aumentando riscos de curtos circuitos e

consequentes incêndios não apenas às próprias casas, mas também à vegetação do entorno. Os

ocupantes que não possuem acesso ou proximidade com a rede elétrica convencional, por sua vez,

declaram utilizar outras formas para suprir suas demandas energéticas: lampião a gás, gerador a

diesel, vela e lanterna, cuja finalidade essencial corresponde à necessidade de iluminação noturna

para cozinhar e jantar.

Em vista da defasagem de acesso efetivo à energia elétrica em 48% das comunidades que

compõem a região de Itinguçu, e partindo do marco regulatório vigente preconizado na Lei nº 10.438

de 20027, este estudo realizará uma proposta de planejamento fotovoltaico para este número que

considera a total ausência de suprimento energético.

Para um grande número de comunidades rurais remotas, conforme expõe Mocelin (2007), e

sem acesso à energia, a opção fotovoltaica surge como uma alternativa possível de ser implementada.

Esta proposta permite o atendimento individual de residências as quais não se encontram nas

prioridades do Plano de Extensão da Rede Elétrica Convencional, em virtude das características

geográficas que se apresentam como barreiras territoriais e ambientais.

Neste contexto, ainda citando Mocelin (2007), a maior parte das populações com restrições

ao acesso de energia apresenta baixa renda, devendo, portanto, pagar uma tarifa mínima estipulada

por legislação, fato este que pode ocasionar no repasse dos custos das concessionárias aos demais

consumidores.

Esta razão, aliada a baixa demanda de eletricidade devido à baixa densidade demográfica

nestas localidades, faz com que seja pouco atrativo o investimento do setor elétrico na construção e

operação de centrais geradoras ou, ainda, nos custos associados à extensão da rede convencional para

estes locais isolados com baixa densidade populacional, em especial na comunidade

7 No Brasil, em 2002, foi promulgada a Lei 10.438, conhecida como Lei da Universalização do Atendimento de

Energia Elétrica, obrigando as distribuidoras a atender gratuitamente toda solicitação de ligação de energia elétrica, em

prazos estipulados, chamados de metas de universalização. As metas dependem das situações peculiares de cada região,

sendo que a mais demorada foi estabelecida para o ano de 2015. Em 2003 foi lançado o Programa Luz para Todos

(PLpT), proporcionando financiamento às distribuidoras para que antecipassem as metas de universalização.

Page 30: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

30

Itinguçu/Cachoeira Paraíso, onde existe proximidade com a rede elétrica e, no entanto, a comunidade

não possui acesso.

5.7 Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares (SFDs)

A tecnologia dos sistemas fotovoltaicos tem como objetivo efetuar de maneira direta a

transformação da radiação solar incidente sobre a superfície terrestre em energia elétrica. Tais

sistemas de produção de energia elétrica são formados por um único módulo, ou um acoplamento de

módulos, no qual o painel fotovoltaico é responsável pela transformação da energia disponível pela

radiação solar em energia elétrica.

Sendo assim, os componentes principais, de acordo com Serpa (2001), são descritos abaixo e

logo mais expostos conforme a figura 2 indica:

Módulo fotovoltaico, gerador de energia composto por um conjunto de células

fotovoltaicas, interligadas e conectadas, sendo o silício o material mais utilizado para produzi-las

atualmente;

Controlador de carga, a fim de evitar sobrecargas ou descargas excessivas da bateria,

o que poderia implicar na redução da vida útil da bateria;

Sistema de armazenamento de energia (ou sistema de acumulação), constituído de

baterias eletroquímicas, podendo ser a automotivas, ou estacionárias;

Unidade de acondicionamento de potência (inversor de corrente), quando

necessário para realizar o acondicionamento de potência na transformação de corrente contínua em

corrente alternada.

Figura 2. Exemplo de Sistema Fotovoltaico Domiciliar

Fonte: BORGES at al. (2004)

Page 31: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

31

A conversão energética realizada pelos sistemas fotovoltaicos, por ser livre da emissão de

gases de efeito estufa para a atmosfera, faz com que a tecnologia apresente um beneficio ambiental

importante, além do fato de se utilizar de um recurso renovável amplamente disponível.

Ademais, devido às suas características modulares que facilitam o processo de instalação e

manutenção, os sistemas fotovoltaicos se apresentam como uma opção viável para a instalação de

sistemas de eletrificação descentralizada (PACCA; SIVARAMAN; KEOLEIAN, 2007).

5.7.1 Limitações associadas à tecnologia fotovoltaica

As vantagens apresentadas pela proposta fotovoltaica como uma opção energética já estão

descritas na tabela 1 apresentada anteriormente neste trabalho. Sendo assim, faz-se importante

apresentar também as limitações que a tecnologia fotovoltaica impõe para o órgão que pretender

realizar um planejamento energético fotovoltaico, de forma a permitir a avaliação da real adequação

da proposta fotovoltaica diante da realidade local de onde se pretende realizar o planejamento

energético.

Para Serpa (2001), a implementação de um conjunto de SFDs apresenta limitações de

diversas naturezas:

Econômica: frente ao elevado custo inicial da instalação dos SFDs, muito embora a

implementação, de acordo com Marini & Rossi (2005), é pautada por uma análise de

viabilidade econômica e, quando necessário, o cálculo do tempo de retorno do capital

investido, usualmente baseado nas economias com o uso da rede elétrica;

Cultural: levando em consideração a subjetividade do conceito de certo ou errado,

valores básicos de grupos podem receber negativamente a inserção de um mecanismo

que representará algum potencial de mudança nas relações sociais e políticas dentro

do grupo; e

Técnica: Embora ofereça um serviço eficiente e com menor potencial poluidor, os

SFDs apresentam limitações no que concerne ao tempo de uso dos equipamentos que

compõem o sistema. A preocupação em controlar o tempo de uso se dá com o objetivo

de garantir maior vida útil para o conjunto de baterias, já que na ausência de controle

o consumo constante redundaria num grande dispêndio das economias dos

comunitários.

Todavia, apesar das limitações postas, este estudo simula uma situação factível na EEJI, na

medida em que a receptividade diante da tecnologia fotovoltaica nas comunidades é positiva

Page 32: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

32

conforme a demanda é apresentada pelo Estudo Técnico Mosaico Jureia Itatins (2009); o aspecto

técnico é uma função da capacitação e treinamento oferecido aos comunitários que se

comprometerem através de um contrato registrado em cartório (MOCELIN, 2007) a garantir a

manutenção regular e a criação de um fundo financeiro, alimentado pelo pagamento mensal de cada

residência da comunidade, para comprar equipamentos e baterias a fim de manter os SFDs em

condições plenas de funcionamento.

5.8 Aplicação da eletrificação fotovoltaica em comunidades rurais dispersas

A exemplo de ações no âmbito internacional, no Brasil a disseminação primordial da

tecnologia solar fotovoltaica, para a eletrificação de populações rurais dispersas, deu-se

principalmente por meio de sistemas independentes ou em pequenas redes integradas com a

finalidade de abastecer cargas distantes das redes de distribuição elétrica fornecida pelo sistema

convencional (RIBEIRO, 2010).

A eletrificação baseada na utilização de sistemas fotovoltaicos em domicílios sem acesso à

rede convencional de energia representa aos beneficiários a oportunidade do desenvolvimento

enquanto propulsor da ampliação das liberdades sociais e, com isso, possibilitar um salto qualitativo

para suas atividades cotidianas, no âmbito da educação, do lazer e da produção econômica (SEN,

2000; RIBEIRO, 2010).

5.8.1 Aplicação de Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares na EEJI

Na EEJI existem dois núcleos de moradores tradicionais, para os quais a implantação dos

sistemas fotovoltaicos redundou numa significativa mudança no curso da vida destes indivíduos. A

implantação das escolas da Cachoeira do Guilherme e de Paranapuã possibilitou a inclusão de aulas

noturnas, para crianças e adultos, de maneira que as atividades rurais diurnas praticadas não

sofressem interferência em razão das aulas para adultos, anteriormente, serem oferecidas somente

nos períodos diurnos (FERREIRA, 2002).

O centro comunitário da Cachoeira do Guilherme, após a chegada da energia fotovoltaica,

tornou-se um local de produção de conservas e doces, atividades estas desenvolvidas pelas mulheres

da própria comunidade. Ademais, a segurança dos guarda-parques foi robustecida a partir da inclusão

de um sistema de comunicação através de rádios VHF alimentados, por sua vez, pelo sistema

fotovoltaico. As atividades de pesquisa realizadas nas imediações da reserva puderam ser

intensificadas no Laboratório do Rio Verde, contando com geladeiras de 140 litros as quais

permitiram que houvesse a possibilidade de realizar a coleta e o armazenamento de espécies e de

amostras de água para fins científicos. Diversos grupos de pesquisa utilizaram as instalações da

Page 33: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

33

Jureia para o desenvolvimento de seus trabalhos (FERREIRA, 2002).

Para a Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, o projeto demonstrou finalmente que o uso da

energia fotovoltaica se mostra uma alternativa viável e adaptável às necessidades energéticas dos

parques, e consequentemente aos moradores locais, e também se apresenta ajustado com os

princípios prescritos pela conservação ambiental. Em sua tese para a obtenção do título de doutorado,

Ferreira (2002), entrevistou o administrador da EEJI à época, o qual deu seu parecer acerca da

chegada da opção energética fotovoltaica ao local:

“Os módulos de energia solar implantados na EEJI atendem perfeitamente as necessidades

atuais da Unidade de Conservação e requerem simples manutenção, realizada pelos próprios guarda

parques de cada setor. Os benefícios dos sistemas de energia solar para os trabalhos na EEJI são de

difícil mensuração: aumentaram a integração entre os núcleos e a segurança dos pesquisadores e

guarda-parques, agilizaram o sistema de fiscalização, facilitaram os atendimentos de urgência e da

defesa civil, minimizaram os custos de transportes, combustíveis e equipamentos, além de propiciar

aos usuários dos Núcleos maior comodidade e possibilidade e aumentar o tempo de trabalho

durante as noites”.

A instalação dos Sistemas Fotovoltaicos no exemplo citado acima reforça a importância

social, econômica e ambiental desta alternativa energética de baixo impacto ambiental, considerada

compatível com os pressupostos do desenvolvimento sustentável, embora a proposta fotovoltaica

também apresente limitações conforme citado anteriormente.

6. Trajetória e resultados

6.1 Trajetória

O presente estudo foi elaborado com o objetivo de alcançar informações e dados suficientes

de forma que atendam aos requisitos do Projeto de Formatura do curso Bacharelado em Gestão

Ambiental, pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Este

projeto teve como objetivo inicial realizar o levantamento das formas de abastecimento energético

das populações residentes na região de Itinguçu e Despraiado, para que posteriormente pudesse

realizar um planejamento energético fotovoltaico compatível com as condições locais presentes.

Entretanto, reduziu-se o campo de análise para a comunidade Itinguçu/Barracas Cachoeira Paraíso,

em razão de entraves financeiros e temporais.

Page 34: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

34

Inicialmente, a fim de obter informações sobre como se dão as formas com as quais as

populações locais suprem suas demandas energéticas, partiu-se da ideia de aplicação de questionários

aos residentes locais a partir de uma visita local com a autorização registrada da Fundação Florestal

junto a Comissão Técnica e Científica da Fundação Florestal (COTEC). Entretanto, de acordo com o

setor técnico responsável pelo recebimento de trabalhos e liberações para realizá-los no interior da

EEJI, em razão do volume de trabalhos os quais estavam ainda em processo de análise fez com que

não houvesse tempo hábil para realizar a visita nas comunidades incialmente pretendidas. Este

contratempo gerou um atraso para a visita em campo das comunidades inicialmente pretendidas e

acabou aumentando o custo associado a diversas viagens, já que este trabalho não teve apoio

financeiro institucional.

Não obstante, o levantamento da literatura disponível sobre o tema trouxe informações

relevantes e bastante recentes sobre a dinâmica social das regiões (no que tange aos hábitos sociais,

econômicos e a relação com o meio ambiente local) e sobre a situação atual da infraestrutura

disponível aos moradores. Dessa forma, realizou-se a compilação destes dados, amparados pelas

informações obtidas sobre a condução de tratamento dos mesmos em razão da experiência presencial

junto à equipe de pesquisa em São Francisco do Aiucá.

Assim, a comunidade Itinguçu/Barracas Cachoeira Paraíso foi selecionada por ter sido

permitida a visita pelo gestor responsável pela EEJI, de modo que a aplicação dos questionários

pudesse ser realizada.

Através do intermédio da orientadora deste estudo, Dra Maria Cristina Fedrizzi, pesquisadora

vinculada ao Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos do Instituto de Eletrotécnica e Energia da

Universidade de São Paulo (IEE/USP), houve a possibilidade de incorporar a este estudo a

experiência de auxiliar um grupo de pesquisa, coordenado pelo Prof. Dr. Roberto Zilles, com o

objetivo de avaliar os impactos sociais, econômicos e ambientais da transferência de Sistemas

Fotovoltaicos na Comunidade de São Francisco do Aiucá, localizada na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) no Estado do Amazonas, Brasil. Nesta visita à

comunidade ribeirinha, realizou-se a aplicação de questionários aos habitantes a fim de identificar se

a tecnologia fotovoltaica trouxe benefícios à qualidade de vida, se houve redução ou eliminação

quanto ao uso de outras fontes energéticas (como lamparinas, lampiões, lanternas etc.) e se o

acondicionamento dos equipamentos dos SFDs estava adequado de acordo com as recomendações

estabelecidas no momento em que houve a transferência da tecnologia para a comunidade.

Page 35: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

35

Dentro deste contexto, foi possível também observar uma redução no descarte de resíduos

eletroeletrônicos (especificamente pilhas e baterias para lanternas) dentro da própria comunidade,

uma vez que estes eram ou enterrados ou queimados junto com outros tipos de resíduos produzidos

na comunidade.

De acordo com Mocelin (2007) a análise da transferência da tecnologia fotovoltaica tem

como objetivo contribuir para os estudos sobre a utilização dessa tecnologia para prover um salto

qualitativo nas condições de vida de comunidades consideradas tradicionais. Dessa forma, cria-se

uma atmosfera na qual surgem uma série de lições aprendidas no processo de implementação e

gestão dos sistemas instalados e os resultados obtidos, de forma que possam servir como

realimentação da iniciativa de eletrificação, aumentando, com isso, as possibilidades de sucesso em

projetos de natureza semelhante. Todavia, este projeto de formatura visa a simular um planejamento

energético apoiando-se nas informações encontradas na literatura especializada disponível e sobre o

objeto de estudo (Itinguçu e Despraiado).

6.2 Resultados

6.2.1 Itinguçu

Este projeto de pesquisa utilizou como universo de análise para Itinguçu a comunidade

Itinguçu / Barracas da Cachoeira Paraíso. Apesar da proposta inicial deste estudo previsse

analisar uma amostragem maior, entraves financeiros e temporais fizeram com que a análise

fosse realizada somente nesta comunidade, muito embora os resultados apresentados neste

estudo objetivem demonstrar a oportunidade de ampliação do acesso à energia para todos os

moradores da EEJI.

6.2.1.1 Itinguçu / Barracas Cachoeira Paraíso

A localização onde se deu a aplicação dos questionários aos moradores é acessível através da

estrada Guaraú/barra do Una, cujo início se dá no município de Peruíbe; o núcleo comunitário, por

sua vez, pertence aos domínios territoriais do município de Iguape.

Apesar da ausência de energia elétrica na totalidade de residências que perfazem a

comunidade, a rede elétrica convencional acompanha o percurso da estrada até os arredores da

Cachoeira Paraíso, onde foram construídas duas edificações para atender a comunidade local: uma

escola e um posto de saúde.

Page 36: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

36

A chegada da eletricidade no local remonta ao ano de 1979, quando o governo do estado de

São Paulo decidiu levar à comunidade a escola e o posto de saúde; por conseguinte, realizou-se a

instalação da rede elétrica até o local, sem que, no entanto, fosse estendida aos moradores locais na

ocasião. Com o advento legal da criação da EEJI, proibiu-se a extensão da rede elétrica com o

argumento de que haveria degradação ambiental na localidade devido à supressão de vegetação, além

do desinteresse da esfera pública em atender aos moradores devido ao alto investimento financeiro e

pouco retorno econômico.

Embora a instalação elétrica ainda funcione no entorno das barracas da Cachoeira Paraíso, de

acordo com o morador local Ilmar Barbosa da Rocha houve “o fechamento da escola e do posto há

uns seis anos mais ou menos, e então todas as crianças precisam ir até Peruíbe para frequentar a

escola; do mesmo jeito o posto de saúde, o que faz as pessoas com problemas terem que encarar um

pouco mais de uma hora dentro de um ônibus para se tratarem. Hoje a escola é usada para fazer

cultos evangélicos a cada 15 dias”.

Outro apontamento sobre a infraestrutura local a ser considerada, devido à sua significativa

importância e impacto no cotidiano dos moradores, abrange a ausência de uma ponte que os permita

atravessar para chegar às barracas da cachoeira e, consequentemente, ao ponto final do ônibus cujo

itinerário inicia na região central de Peruíbe. Todas as residências da comunidade estão edificadas do

lado oposto da margem do rio Paraíso, que por sua vez em períodos de chuvas apresenta um aumento

significativo em sua vazão, de modo que representa riscos à integridade física dos moradores e,

muitas vezes, impossibilita-os de realizar a travessia.

A fonte de renda de pouco mais que 50% moradores é baseada no comércio realizado nas

barracas que ficam nas proximidades da Cachoeira Paraíso, onde comercializam alimentos e bebidas.

O dinheiro obtido, de acordo com as entrevistas realizadas no local, é utilizado para a compra de

produtos a serem vendidos nas barracas, botijões de gás para as barracas e residências que utilizam

gás para cozinhar, pilhas para lanternas e rádios, pacotes de velas, querosene para lamparinas e

complementar a alimentação, já que verduras, legumes e frutos são cultivados em pequenas hortas ou

coletados na mata. A obtenção de proteína animal é feita pela criação de galinhas ou através da caça

de pacas, caprinos silvestres, raposas entre outros, muito embora os comunitários sejam proibidos

pelo decreto da EEJI de caçarem para subsistência, fazendo com que tenham que comprar em

Peruíbe para consumo.

O abastecimento de água das residências, bem como das barracas de atividade comercial, é

obtido direto de nascentes a montante dos cursos d’água que percorrem a região. De acordo com o

Page 37: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

37

relato do morador Geraldo “a gente foi lá em cima do morro na nascente, mais ou menos uns 3 ou 4

km de caminhada, e instalou uns tubos bem resistentes que traz a água fresquinha aqui para a minha

barraca e também tem um cano que leva lá para o meu sítio. A gente instalou e distribui aqui para

as casas; aquela água é limpa porque não tem sujeira que nem os turistas deixam aqui perto da

cachoeira, mas mesmo assim a gente sempre tenta manter conservado aqui mesmo antes da lei da

reserva”.

6.2.1.2 Residências de Itinguçu / Barracas Cachoeira Paraíso

Após uma abordagem geral da situação local, foram feitas as entrevistas com os moradores

locais a fim de aplicar o questionário de pesquisa (anexo x).

Existem 08 residências na comunidade e, embora constitua uma comunidade que apresenta

fortes laços de cooperação coletiva (conforme foi possível observar em campo), as residências ficam

distantes umas das outras, o que sugere a proposta de SIGFs, em vez de mini-redes geradoras

fotovoltaicas.

Registros fotográficos – residências comunidade Itinguçu / Cachoeira Paraíso

Do total de residências, uma possui um gerador fotovoltaico para eletrificação (SIGF13)

obtido, constituído de um par de módulos geradores de 100Wp cada, um par de baterias, um

controlador e um inversor. Entretanto o sistema encontra-se desativado em função do custo associado

à troca de baterias e pelo fato do inversor apresentar problemas de funcionamento. Eventualmente o

proprietário faz uso de um gerador combustível comprado pela família, porém o custo associado ao

Page 38: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

38

uso representa um entrave para o funcionamento contínuo do gerador, de modo que apesar da

possibilidade de eletrificação da residência, esta também se utiliza de fontes alternativas de energia

para iluminação.

Conforme observado através das entrevistas realizadas, todas as residências da comunidade

fazem uso de fontes alternativas de energia para suprir suas necessidades de iluminação,

entretenimento, alimentação etc. A tabela 4 apresenta as residências enumeradas pela disposição que

se encontram no sentido Norte-Sul da comunidade, os tipos de fontes alternativas que se pressupunha

que fossem utilizadas (com base na pesquisa de campo realizada na RDS Mamirauá) e a quantidade

utilizada mensalmente, relatada pelos moradores ao responderem o questionário deste estudo.

Tabela 4. Uso de fontes alternativas de energia pela comunidade Itinguçu/Cachoeira Paraiso

Número da

residência Velas/mês Pilhas/mês Querosene/mês Lenha/mês GLP/mês

Outros

(especificar

fonte)

Gasto em

R$ / mês

01

30

unidades

50

unidades 300ml _ 13kg _

130,30

028

06

unidades

08

unidades _ _ 6,5 kg

Gasolina

(45L/mês)

42,50

03

08

unidades _ _ 01 feixe _ _

5,00

04

40

unidades

16

unidades 200ml 02 feixes _ _

51,30

05

20

unidades

25

unidades 500ml 02 feixes _ _

48,90

06

16

unidades

6

unidades _ 01 feixe 13kg _

85,00

07

30

unidades

25

unidades 200ml 02 feixes 6,5kg _

82,8

Com base nas informações relatadas pelos moradores, foi possível estimar o custo associado

ao consumo das fontes alternativas de energia de que fazem uso. Aliado ao custo per si das fontes de

energia, somou-se também o custo do transporte até Peruíbe à despesa geral dos moradores,

considerando a frequência com que eles vão até o perímetro urbano se utilizando do ônibus que faz o

percurso através da estrada Guaraú/Barra do Una. A partir dos relatos obtidos, cabe salientar também

o longo tempo transcorrido durante a viagem, o tempo ausente junto aos filhos com pouca idade e

que exigem maiores cuidados e o desconforto gerado em dias chuvosos pela impossibilidade de

8 Residência de Ilmar Barbosa da Rocha: possui SIGF13 em não-funcionamento e gerador combustível a gasolina cujo

uso é esporádico.

Page 39: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

39

chegarem ao ponto de ônibus quando há o aumento da vazão do rio Paraíso.

A tabela 5 exibe as fontes de energia9, o custo associado já incluindo a tarifa de R$ 5,00 do

transporte de ônibus até os pontos de venda (ida e volta) e a quantidade estimada de energia gerada

por unidade de cada fonte de energia relatada.

Tabela 5. Custo associado às fontes de energia usadas pelos moradores

Fonte de energia Quantidade Custo

Velas Pacote com 06 unidades R$ 8,50

Pilhas Pacote com 06 unidades R$ 14,00

Querosene 01 litro R$ 7,80

Lenha _ _

GLP 13 kg R$ 58,00

TOTAL R$ 88,20

Sob o aspecto econômico, a soma total dos gastos para a obtenção das fontes de energia

demonstradas na tabela acima ultrapassa em 28,4% o valor mensal que seria necessário para manter

um fundo comunitário subsidiário (estimado em R$ 25,00) ao funcionamento dos sistemas

fotovoltaicos de todas as residências contempladas. Com base na tabela 4 apenas a residência 03

apresenta um gasto bastante reduzido pelo fato do morador residir sozinho e não ver necessidade de

comprar outras formas que não sejam velas para a iluminação. Todavia, o morador, senhor Adão,

mostrou-se interessado pela eventual chegada do SFD, o que permitiria que “pudesse assistir

televisão, ou escutar um rádio quando eu chego da roça”.

A experiência efetuada na comunidade São Francisco do Aiucá, situada na RDS Mamirauá,

mostra uma redução significativa do consumo de pilhas para alimentar lanternas e rádios, querosene

e óleos combustíveis semelhantes para lamparinas e velas. O benefício da experiência fotovoltaica se

deu não apenas sob a perspectiva econômica, mas também ambiental e social, na medida em que

houve uma importante redução de pilhas descartadas irregularmente ao longo da comunidade

(reduzindo a contaminação das águas, do solo e o potencial de problemas de saúde associados à este

tipo de exposição) e uma queda acentuada no uso de lamparinas, tornando o ambiente da residência

mais agradável pela ausência do odor da queima do querosene e mais saudável.

9 O combustível gasolina utilizado eventualmente na residência 02 não foi incluído na tabela 05 de modo a garantir maior

concretude dos dados locais; a inclusão deste dado geraria discrepâncias que afetariam a análise do estudo.

Page 40: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

40

6.3 Impactos oriundos do consumo de pilhas

O consumo de pilhas por parte dos moradores se mostra bastante importante para uso em

lanternas para a circulação noturna pela comunidade e, principalmente, para possibilitar o

funcionamento de rádios à pilha.

A obtenção contínua de pilhas pelos moradores, necessariamente, aumenta a geração de

resíduos perigosos não apenas para a qualidade ambiental como também para as condições de saúde

dos comunitários, uma vez que representam alto potencial de contaminação, devido à presença de

metais pesados nas pilhas10

, em fatores bióticos e abióticos do ambiente.

Como não há um programa por parte das prefeituras e órgãos públicos responsáveis pela EEJI

que possibilitem o descarte e coleta adequados destes resíduos e também de outras naturezas, duas

residências declararam que armazenam as pilhas usadas numa caixa em casa para depois levá-las até

Peruíbe (onde existem pontos de coleta de resíduos eletroeletrônicos). Descartam no próprio entorno

da comunidade quatro residências, de maneira que todas afirmaram realizar o descarte enterrando-as

ou, ainda (especificamente na residência 01 e 07), disponibilizam pilhas usadas como brinquedos

para seus filhos menores. Por fim, a residência restante (03), conforme aponta a tabela 5, é a única

habitação que declarou não utilizar pilhas para iluminação ou entretenimento.

Uma prática relatada com naturalidade pelos moradores – reproduzindo os mesmos hábitos

observados em São Francisco do Aiucá – consiste em ferver as pilhas quando estão “fracas” em

panelas utilizadas para cozinhar alimentos.

É importante salientar neste estudo que após o portal, o qual permite a entrada na EEJI,

próximo às barracas, antiga escola e posto de saúde desativado existe um núcleo de educação

ambiental e conscientização ecológica para os turistas visitantes da Cachoeira Paraíso. O núcleo é

constituído por monitores e educadores ambientais e, paradoxalmente, a partir dos relatos dos

moradores locais, não existe uma relação educacional de mão dupla, muito embora mesmo com a

problemática do descarte os moradores conservem de maneira hereditária e intuitiva os recursos

naturais.

6.4 Impacto do uso de velas

O consumo de velas, embora não cause qualquer impacto ambiental direto que pudesse ser

identificado na literatura especializada, pode representar um risco de impacto indireto tanto para a

fauna e flora, como à integridade física dos moradores, na medida em que existe a probabilidade de

incêndio em função de alguma eventual imprudência ou imperícia, podendo culminar em incêndios

10

Mercúrio, Cádmio, Chumbo, Lítio, Níquel, Zinco, Cobalto e compostos, Bióxido de Manganês.

Page 41: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

41

florestais.

Sob a ótica econômica, o consumo de velas representa um dispêndio importante para as

famílias da comunidade. As entrevistas realizadas apontaram que as velas são utilizadas

exclusivamente para a iluminação interna da casa, e acaba sendo a fonte energética mais utilizada

quando a família pode pagar pela quantidade de velas usadas ao longo do mês.

A iluminação precária das velas, conforme 80% dos entrevistados relataram, dificulta

atividades que poderiam ser exercidas no período noturno, como a realização de tarefas escolares ou

a confecção de artesanato (realizada especificamente nas residências 02 e 06).

6.5 Impacto do uso de querosene combustível em lamparinas

O uso de querosene como combustível, assim como foi possível verificar em algumas

residências de São Francisco do Aiucá e também (pela literatura disponível) em outras localidades

desprovidas de infraestrutura energética, alimenta lamparinas rudimentares improvisadas pelos

próprios moradores diante da necessidade em iluminar suas residências. Assim como as velas, o

querosene também apresenta riscos potenciais de incêndio, todavia a queima desse combustível no

interior da residência provoca a liberação de gases tóxicos que, quando inalados, afeta o sistema

respiratório dos indivíduos, levando a problemas de saúde agudos ou crônicos conforme o grau de

exposição. A moradora da residência 01, Eduarda, tem evitado o uso do querosene, conforme

relatado e gravado em entrevista: “o meu filho tem bronquite, e sempre que a gente usa a lamparina

ele acaba passando mal. Então a gente tem que levar ele até o posto de saúde de Peruíbe para ele

fazer inalação e melhorar”.

Do ponto de vista econômico, o uso de querosene é menos dispendioso para famílias de baixa

renda11

, tornando-o mais atrativo apesar dos problemas atrelados a queima deste combustível.

6.6 Impacto do uso de lenha e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP)

O uso de GLP em 06 residências da comunidade indica que se tornou um hábito de consumo

para que os moradores possam preparar seus alimentos, embora ainda utilizem fogão a lenha na

ausência do botijão de gás. Nas ocasiões em que cozinham no período noturno, necessariamente

demandam do uso de velas para a iluminação da cozinha, o que representa um risco de explosividade

na hipótese de um eventual vazamento de gás.

A lenha, por sua vez, não apresenta o mesmo grau de risco de incêndio, já que as câmaras de

combustão dos fogões a lenha das residências na comunidade são relativamente seguras. Entretanto,

11

Em São Francisco do Aiucá as famílias mais humildes e que não possuíam o SFD preferiam o uso de lamparina em vez

de velas, em razão do baixo custo associado ao aprovisionamento da fonte energética.

Page 42: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

42

pelo fato da comunidade estar inserida numa estação ecológica, a supressão da vegetação para a

obtenção de lenha é proibida sem autorização prévia da Fundação Florestal. Os moradores ficam à

mercê de autorizações demoradas sem a garantia de que as obterão, propulsionando alguns

indivíduos a arriscarem-se no corte ilegal em áreas mais distantes do entorno da comunidade.

O uso de lenha em localidades onde a experiência fotovoltaica foi adotada também gera

problemas, uma vez que a combustão da lenha na cozinha produz partículas suspensas residuais que

se aderem ao corpo das lâmpadas da residência, diminuindo a visibilidade e obrigando alguns

moradores a comprar lâmpadas novas em função deste problema.

6.7 Estimativa de consumo da comunidade integrada ao SIGFI30

A fim de propor a substituição das atuais fontes de energia pelo sistema fotovoltaico, a

estimativa de consumo da comunidade, baseando-se nas informações obtidas com moradores

representantes das 07 residências locais, deve ser demonstrada com o objetivo de parear as

informações à seleção do SIGFI30 como proposta de eletrificação fotovoltaica para a comunidade.

Conforme se observou no tópico 4.2 sobre o dimensionamento do SFD, a escolha do SIGFI30

corresponde às expectativas sociais e econômicas dos habitantes, no que concerne à compra e uso de

lâmpadas, televisores, aparelhos de rádio etc.

Com o objetivo de se estimar a quantidade de lâmpadas necessárias para atender à demanda,

os dados quantitativos de cômodos por residência (conforme expõe a tabela 06) servem como base

para garantir a eletrificação de maneira igualitária a todos.

Tabela 6. Número de cômodos por residência

Casa 01 Casa 02 Casa 03 Casa 04 Casa 05 Casa 06 Casa 07 Média

nº cômodos 3 5 3 4 3 3 4 3,5

No que diz respeito à quantidade de pontos de luz por residência, este estudo considera que

deva haver um ponto por cômodo. Embora o número que mais se repete seja 03 cômodos, a

comunidade apresenta três residências com 04 cômodos e uma com 05. Dessa forma, trabalharemos

com a disponibilidade de 04 pontos de luz para cada casa, a fim de não acarretar perda da qualidade

de acesso à eletrificação para as casas com mais de 03 cômodos.

A partir das informações obtidas pelas entrevistas, o desejo por acesso a aparelhos que

promovam entretenimento foi unânime, sendo que televisores foram a primeira demonstração de

Page 43: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

43

interesse quando perguntados abertamente, seguido de rádio e DVD. Por conseguinte, a localidade

exige antena parabólica para o funcionamento de televisores. A residência 02 inclusive já possui uma

antena parabólica, uma vez que esta residência possui o sistema fotovoltaico em desuso por

apresentar-se quebrado.

A tabela 07 mostra o consumo energético (Wh/dia) dos equipamentos:

Tabela 7. Estimativa de consumo de energia para a comunidade

Quantidade Descrição Potência (W) Demanda (h/dia) Total (Wh/dia)

04 Lâmpada fluorescente compacta (4x23) 92

04 368

01 Televisor 80 04 320

01 Rádio 10 06 60

01 DVD 20 02 40

01 Antena parabólica 10 04 40

TOTAL 828

O consumo médio diário do local dimensionado corresponde a 828 Wh/dia, enquadrando-se

com folga na opção do SIGFI30. Dessa maneira, o dimensionamento apresentado anteriormente

corrobora com as expetativas por serviços energéticos da comunidade, representando um ganho

econômico e social, além de permitir a manutenção da cobertura vegetal protegida por lei sem

significativas alterações (duas casas da comunidade necessitariam suprimir uma árvore cada para

garantir que não haja sombreamento sobre os módulos fotovoltaicos em qualquer horário de

atividade solar).

Embora o dimensionamento realizado tenha contemplado a necessidade por serviços de

energia da comunidade, o valor excedente de 172Wh/dia possibilitará aos moradores realizarem mais

algumas instalações elétricas. Quatro residências têm suas cozinhas na área externada residência, de

modo que a instalação de um ponto de luz móvel, conduzido por cabos conectados na parte interna

da casa, facilitaria o trajeto noturno para esta e outras eventuais atividades. Ventiladores,

liquidificadores e outros pequenos aparelhos domésticos poderiam ser utilizados para alcançar esse

valor excedente de energia, porém verificando se o sistema comportará novas cargas somadas às já

fixas na casa.

Page 44: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

44

7. Discussão e conclusão

7.1 Discussão

Problemas associados à exclusão energética tem impulsionado nos últimos anos o avanço

tecnológico e regulatório na busca por alternativas que atendam a demanda energética no Brasil,

sobretudo em áreas onde a chegada da rede convencional de energia elétrica encontra barreiras,

econômicas, geográficas e ambientais.

A proposta de eletrificação fotovoltaica apoia-se na necessidade que pessoas residentes em

áreas sem acesso a serviços de energia elétrica em melhorar suas condições de vida e saúde. A

tecnologia de geração fotovoltaica para este estudo se apresenta a mais adequada em função das

barreiras políticas, econômicas e geográficas presentes no contexto atual da EEJI como foi possível

observar no levantamento histórico da área. A proposta realizada para a comunidade Itinguçu /

Cachoeira Paraíso pretende servir como um exemplo possível de expansão da tecnologia para outras

comunidades da EEJI que necessitem de infraestrutura de energia. A proposta inicial deste estudo

pretendia abranger um número maior de comunidades dispersas na EEJI, todavia entraves

financeiros e temporais impossibilitaram este desejo do proponente e orientadora deste projeto.

A proposta fotovoltaica, bem como todos os processos que envolveram esta proposição,

buscou possibilitar o uso eficiente e eficaz da tecnologia fotovoltaica, sob a perspectiva econômica,

ambiental e social, além de apresentar vantagens e desvantagens para os comunitários, conforme a

tabela 7 aponta.

Page 45: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

45

Tabela 7. Vantagens e desvantagens da utilização de SFD na comunidade

Vantagens Desvantagens

Econômica Redução/eliminação de gastos com pilhas, velas e

querosene.

Alto custo de instalação dos SFD.

Longa vida útil do gerador fotovoltaico (cerca de

25 anos)

Compra de baterias e outros equipamentos quando

necessário.

Possibilidade de realizar atividades que gerem

renda aos moradores

________________

Ambiental A tecnologia fotovoltaica não é poluente na geração

de energia.

Descarte incorreto das baterias pode ocasionar

contaminação de solo e água.

Não exigem grandes áreas para acondicionamento,

evitando supressão de vegetação em grandes áreas.

Dependendo da área, exigirá supressão de vegetação

para a incidência solar sobre os módulos.

Reduz/elimina descarte inadequado de resíduos de

objetos antes usados como fonte de energia

alternativa.

Utilização inadequada pode provocar explosão ou

incêndio que podem se alastrar e causar queimadas

na vegetação do entorno.

Social Melhoria da qualidade de vida (entretenimento,

leitura noturna etc.).

Ociosidade durante o período diurno.

Possibilidade de expansão da cultura local, com

aumento da produção de artesanatos locais,

podendo ser realizados a noite.

Atração de novas famílias externas à EEJI devido à

infraestrutura fotovoltaica.

Melhoria das condições de saúde pública. Geração de conflitos com comunidades vizinhas que

não foram contempladas com a tecnologia12

.

Os SFD foram dimensionados com base no SIGFI30, que apresenta uma segurança energética

mais apropriada para a realidade social da comunidade Itinguçu / Barracas Cachoeira Paraíso em

comparação ao SIGFI13, instalado e cuja observação de sua evolução no contexto social foi feita na

comunidade São Francisco do Aiucá - AM.

O número de horas de consumo energético por residência em Itinguçu / Barracas Cachoeira

Paraíso foi estimado mediante a intenção que os moradores apresentaram no momento das

entrevistas presenciais. Quando perguntados sobre quais aparelhos eletrodomésticos gostariam de ter,

demonstram interesse primordial pela iluminação através de lâmpadas elétricas, seguido pelo acesso

ao entretenimento (televisão e rádio, nesta ordem de importância) e se, houvesse possibilidade,

possuírem uma geladeira.

Se utilizado de maneira a seguir recomendações básicas de uso dos SFD: manter os módulos

sempre livres de sujeira, local limpo, seco e arejado para armazenagem do banco de baterias, limpeza

e conservação do controlador e inversor, não-sobrecarga do sistema com instalações que superem a

12

Evidenciou-se na RDS Mamirauá que comunidades vizinhas à São Francisco de Aiucá fragmentaram e/ou extinguiram

relações sociais e econômicas com a comunidade contemplada com energia elétrica, usando-se da justificativa de que

“eles são os queridos da RDSM, então não temos o porquê ajudar eles se o instituto Mamirauá já dá tudo que eles

querem” (Anotações da viagem de pesquisa promovida pelo IEE/USP e UFPA realizada entre fevereiro e março de

2012).

Page 46: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

46

capacidade de suporte e desligar o equipamento quando a carga das baterias apontar defasagem, a

durabilidade do gerador fotovoltaico apresenta vida útil em pleno funcionamento de pelo menos

vinte anos (TRIGOSO, 2000), baterias, controladores e inversores devem ser substituídos com maior

frequência neste período.

Sugere-se que os eletrodomésticos eventualmente instalados nas residências contempladas

com os SFD funcionem em Corrente Alternada (o que simula a mesma forma de distribuição da rede

convencional, evitando as altas tensões nas tomadas e pontos de luz que possam danificar os

aparelhos conectados), os quais apresentam maior vantagem econômica, sobretudo eletrodomésticos

certificados pelo selo PROCEL de qualidade e eficiência energética.

Além de evitar potenciais impactos ambientais negativos advindos de outras formas de

produzir energia elétrica (como a perda da qualidade do ar através da liberação de gases de efeito

estufa ou perda da biodiversidade em razão da supressão de vegetação de grandes áreas), a

tecnologia fotovoltaica representará a mitigação de impacto ambiental negativo efetivo na localidade,

já que a redução do uso de pilhas acarretará diminuição da geração destes resíduos causadores de

contaminação do solo, corpos hídricos e também sobre a saúde dos habitantes devido à exposição

direta (pilhas fervidas em panelas – que também são usadas para cozinhar – a fim de aumentar o

tempo de vida das pilhas) como também indireta – consumo contaminado de alimentos cultivados

em solos contaminados. A redução do consumo de lamparinas e velas também diminuirá a

probabilidade de riscos de incêndio nas casas e vegetação local, pelo fato do SFD não necessitar do

uso de chamas para qualquer fim.

Os custos associados à manutenção e compra de novos equipamentos após a instalação dos

SFD podem ser divididos entre os moradores. Há diversos mecanismos políticos que possam ser

definidos pelos próprios moradores de modo que permita a administração dos sistemas. O exemplo

de São Francisco do Aiucá mostrou a opção pela distribuição igualitária de responsabilidades para

com o uso comunitário da tecnologia: “A comunidade conquistou a tecnologia, e não as pessoas que

moram aqui. Então se um morador sai e vai morar em Uarini ou em Tefé13

a gente reúne todos da

comunidade e decide em grupo para qual morador o sistema solar vai ser dado. Todos pagam o

fundo para manutenção; não tem que ter diferença” – Fabiano, líder comunitário da comunidade

ribeirinha amazonense.

Embora possamos sugerir alguma forma de gestão política sobre regras de uso e manutenção

dos SFD, fica a critério dos comunitários decidirem a forma que seja mais confortável para o

13

Cidades localizadas no médio Solimões, utilizadas como referências urbanas para grande parte dos habitantes da RDS

Mamirauá.

Page 47: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

47

coletivo.

7.2 Conclusão

Embora no contexto brasileiro haja um marco regulatório vigente que sinaliza em favor da

instalação de Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares através da Resolução Normativa nº 83 de 2004,

em consonância com a proposta de universalização de energia da ANEEL, o apoio institucional

federal para atender à grande demanda energética ainda se mostra deficiente politica e

economicamente.

Os princípios básicos que compõem o ideário da sustentabilidade – principio este que induz

ações planejadas para a manutenção da resiliência ambiental, social e econômica – norteou este

trabalho em todo momento, desde a busca por bibliografias que trouxessem esta discussão ao tema

para o qual este trabalho aponta, até a observação em campo da realidade ambiental, social e

econômica numa comunidade desprovida de acesso à energia elétrica no contexto de uma Estação

Ecológica.

A distribuição de igualdades a todos os indivíduos, os quais se constituem como cidadãos

participantes de uma nação democrática, é um direito assegurado pela Constituição Brasileira: acesso

de qualidade a serviços de educação, saúde, energia, lazer entre outros. O pressuposto do

desenvolvimento de uma nação implica na busca por mecanismos que possibilite à distribuição da

qualidade de vida a todos.

Dentro da realidade das áreas protegidas, Ferreira (2004) aponta que políticas de conservação

devem orientar-se com o objetivo de fortalecer o conhecimento local na elaboração de planos de

manejo, possibilitando condições sociais e econômicas para a reprodução desses grupos através de

investimentos importantes. Do ponto de vista prático, os projetos de pesquisa realizados neste

contexto procuram demonstrar que a melhor estratégia para a conservação da biodiversidade consiste

no investimento sobre os indivíduos locais, na medida em que a manutenção da diversidade

biológica é responsabilidade das culturas tradicionais (FERREIRA, 2004).

O escopo da proposta de eletrificação fotovoltaica traz consigo as questões que envolvem a

relação homem-natureza, tornando o projeto uma análise social que se relaciona constantemente com

o meio ambiente natural e modificado por intervenções humanas. Estas intervenções, por sua vez,

podem representar benefícios sociais sem interferir significativamente o ambiente natural de modo

negativo. A tecnologia fotovoltaica propõe a democratização ao acesso de energia e melhoria da

qualidade de vida dos cidadãos sem que, no entanto, traga consigo passivos ambientais dentro da

realidade onde se alocará.

Page 48: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

48

A escolha da comunidade Itinguçu / Barracas Cachoeira Paraíso como objeto de análise visa a

fomentar a discussão cada vez mais presente no cotidiano global sobre fontes alternativas de energia

possíveis de serem implementadas em locais impossibilitados de receber a rede elétrica

convencional. A realidade da EEJI, conforme este estudo procurou apontar, se assemelha com o

contexto encontrado na comunidade observada por este estudo, uma vez que os moradores

tradicionais e adventícios antigos (os quais tiveram grande influência comportamental pelos

tradicionais) possuem uma relação afetiva e de respeito com a terra onde seus antepassados viveram

e que legaram o conhecimento empírico tradicional de como manter conservado o ambiente em que

vivem.

O acesso à eletrificação a partir da proposta fotovoltaica busca atender anseios destas

populações, e não modificar seu contexto social e cultural, mas sim melhorar as condições de saúde

(ao deixarem de usar lamparinas e pilhas para lanternas), de lazer (permitindo que possam acessar

televisores, rádios etc.), cultural (sendo possível realizarem eventos religiosos sem terem que

percorrer cerca de 4km até à escola desativada para se reunirem) e ambiental (reduzindo o potencial

de contaminação por parte das pilhas descartadas no ambiente e riscos de queimadas por eventuais

incêndios em função do uso de velas e lamparinas).

A capacidade de geração elétrica do SIGFI30, selecionado após o dimensionamento realizado

com os dados obtidos através da aplicação de um questionário e em conversas informais com os

moradores (quando realmente se sentiam mais a vontade para falar do que durante a formalidade de

responderem perguntas pré-formuladas), apresenta capacidade de suprir a necessidade por serviços

energéticos da comunidade, além de permitir a inserção de outros eletrodomésticos de interesse local,

como liquidificadores e ventiladores, pelo fato da capacidade do sistema trabalhar com um

armazenamento residual que permita estes usos, todavia de forma que não comprometa a capacidade

de suporte do SFD. A eventual instalação dos SFD implica em dar as condições técnicas e de

manipulação dos sistemas a serem realizadas pelos próprios moradores, aproximando-os da

tecnologia, fazendo com que haja uma integração social e cultural na comunidade sem que, no

entanto, haja a perda das características locais com a chegada da alternativa energética. A capacitação

técnica e de manutenção, conforme o estudo de Mocelin (2007) aplicado em São Francisco do Aiucá,

ocorre na medida em que um treinamento efetivo a moradorescom mais facilidade é apresentado e

também na medida em que visitas periódicas do pesquisador ao local são realizadas com o objetivo

de oferecer cursos de reciclagem e acompanhar a evolução da tecnologia dentro do contexto social,

econômico e ambiental da comunidade.

Page 49: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

49

Os fundamentos da ciência ambiental devem servir como um apoio sólido para que

intervenções na dimensão socioambiental não onerem a capacidade de suporte dos sistemas,

influindo negativamente na biodiversidade o que, por conseguinte, representaria menor

disponibilidade de recursos naturais para uso do ser humano, prejudicando sua qualidade de vida. O

acesso à energia elétrica é possível quando balizado pela ótica da sustentabilidade, em especial a

tecnologia fotovoltaica, a qual melhor se apresenta no tripé social, econômico e ambiental para levar

a distribuição de igualdades às populações que vivem à margem do acesso a energia elétrica, agindo

como auxiliar na promoção do desenvolvimento sustentável.

8. Direções Futuras

Embora este projeto tenha atingido os objetivos para os quais se propôs, houve a identificação

de oportunidades para que projetos futuros possam se guiar com a finalidade de expandir

informações sobre o tema.

Área de estudo: a realização de estudo comparativo entre duas comunidades

localizadas em núcleos diferentes da EEJI, a fim de encontrar similaridades e,

sobretudo, diferenças de como se dá a relação do homem com suas demandas

energéticas, como é a forma com que descartam seus resíduos perigosos, como a

eletrificação fotovoltaica alteraria algum traço cultural etc.

A abrangência da área de estudo para projetos que eventualmente ampliarem o campo

de análise na região é determinada a partir da aprovação do projeto e da(s) visita(s)

pela Fundação Florestal. Devido ao volume de projetos que se encontravam

aguardando análise, frente à pouca quantidade de pessoas da FF para conceder a

liberação de visita aos núcleos, em paridade com a ausência de financiamento deste

projeto, a proposta de visitar dois núcleos fica como sugestão para outros projetos.

A fim de garantir um maior conhecimento sobre o comportamento social e cultural nas

comunidades a serem visitadas, fica a sugestão que, se possível, em projetos futuros o

pesquisador consiga a oportunidade de passar mais de um dia completo em cada

comunidade. Com isso, poderá observar com maior grau de precisão a realidade do

uso de velas, lanternas e lamparinas como fonte de iluminação e como isso afeta

qualitativamente o cotidiano destas pessoas.

Os impactos ambientais ainda que em pequena escala, podem ser estudados de forma

mais direcionada, verificando se de fato há contaminação do solo frente ao descarte de

Page 50: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

50

pequenas quantidades de pilha; as condições de qualidade do transporte da água

realizada desde as fontes à montante do Rio Paraíso e realizar uma avaliação da flora

local, a fim de apontar se a presença humana na reserva representa a perda da

qualidade ambiental, exaustão dos recursos naturais e redução da biodiversidade.

Page 51: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

51

9. Referências bibliográficas

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Page 52: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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VEIGA, J. E. Sustentabilidade: A legitimação de um novo valor. São Paulo: Editora Senac, 2010.

Page 53: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

53

Anexo 1

Parque Ecológico Itinguçu

Page 54: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

54

Anexo 2 – Questionários de pesquisa energética

Entrevistador

Data da visita

1. Dados Gerais

Usuário

Comunidade

Município

Nº de habitantes Nº de cômodos Nº crianças em idade escolar

A casa tem espaço para desenvolver alguma atividade produtiva? Qual atividade?

2. Energia

201 A residência está eletrificada?

Sim Ir a 203 Não Ir a 202 A

202A Se não está eletrificada, indicar o principal motivo:

1 Não foi possível eletrificar a residência. Motivo:____________________

2 Não posso pagar o custo de ligação

3 Não posso pagar a mensalidade

4 Não posso comprar aparelhos elétricos

5 A energia elétrica não é necessária

6 Outro: _________________________________________

202B Gostaria de ter eletricidade na residência?

Sim Não

Por quê?

203A

Quando falta energia, você faz

uso de que fontes,

principalmente?

S/N Utilidade: (Iluminação, entretenimento,

refrigeração, etc)

01 Combustível (gasolina, diesel, etc)

02 Vela

03 Pilhas

04 Gás de botijão

05 Bateria

06 Lenha

07 Outro: _______________________

203B

Além do uso da energia elétrica,

faz uso de que outras fontes de

energia?

S/N Utilidade: (Iluminação, entretenimento,

refrigeração, etc)

01 Combustível (gasolina, diesel, etc)

02 Vela

03 Pilhas

04 Gás de botijão

05 Bateria

06 Lenha

07 Outro: _______________________

Page 55: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

55

2.1. Rede elétrica

204 A residência está conectada a rede elétrica?

Sim Ir a 205 Não Ir a 211

205A Tem medidor de consumo de energia?

Sim Ir a 205 B Não Ir a 206

205B Quantas residências estão conectadas no mesmo medidor?

(Colocar 1 se só tiver uma casa conectada)

206A Há pagamento pela energia elétrica?

Sim Ir a 206B Não Ir a 207

206B Para quem é feito o pagamento?

1 Diretamente à companhia de energia elétrica

2 Para meu vizinho ou parente

3 A eletricidade está incluída no aluguel

4 Outro: _____________________________________________________

207ª Quantas horas por dia tem acesso à energia elétrica? (Colocar N se não souber responder)

h/dia

207B Quantos dias por semana tem acesso à energia elétrica? (Colocar N se não souber responder)

dia/sem.

207C Nos últimos 12 meses, quantas vezes faltou energia

elétrica? (Colocar N se a pessoa não sabe responder)

207D Seu sistema é utilizado para? Sim/Não Quanto? (%)

01 Iluminação

02 Refrigeração de alimentos

03 Entretenimento

04 Bombeamento de água

05 Atividades produtivas

06 Outro: _________________________________

208ª Em caso de falha, quanto tempo leva para voltar o

serviço?

208B A qualidade da energia é:

Muito boa Boa. Aceitável

Ruim Muito ruim Não sabe

209 Qual é o consumo de energia elétrica dos últimos três meses? (Pedir a conta)

(kWh/mês) (R$)

Conta 1

Conta 2

Conta 3

210A Você acha que o preço pago pela energia é:

Baixo Aceitável Alto Não pode pagar

2.2. Sistema Fotovoltaico

211A Tem sistema fotovoltaico?

Sim Ir a 211 Não Ir a 217

Page 56: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

56

211B Você sabe operar o sistema?

Sim Não

212A Quantas horas por dia tem acesso à energia elétrica (Colocar N se não souber responder)

212B Quantos dias por semana tem acesso à energia elétrica (Colocar N se não souber responder)

212C Nos últimos 12 meses, quantas vezes faltou energia

elétrica? (Colocar N se não souber responder)

212D O sistema é utilizado para: S/N Quanto?

01 Iluminação

02 Refrigeração de alimentos

03 Entretenimento

04 Bombeamento de água

05 Atividades produtivas

06 Outro: _________________________________

213A Quanto paga mensalmente para o fundo de

reposição?

R$

213B Quanto gastou em reparação nos últimos 12 meses? R$

213C Que equipamentos falharam nos 12 últimos meses? S/N Quantas vezes?

01 Módulo Fotovoltaico

02 Bateria

03 Controlador

04 Inversor

05 Lâmpada

06 Outro: _________________________________

214A Você faz a manutenção desses equipamentos? S/N Frequência

01 Módulo Fotovoltaico

02 Bateria

03 Controlador

04 Inversor

05 Lâmpada

06 Outro: _________________________________

214B A manutenção do sistema fotovoltaico tem sido?

Difícil Normal Fácil

215A Para satisfazer as necessidades da família, o suprimento energético foi:

Insuficiente Suficiente. Mais que suficiente

215B Que outros equipamentos você gostaria de usar, mas não pode usar com o sistema?

215C A qualidade da energia é:

Muito boa Boa. Aceitável

Ruim Muito ruim Não sabe

216A Você acha que o preço pago pelo serviço é:

Baixo Aceitável Alto Não pode pagar

Page 57: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

57

216B Você está disposto a comprar um novo sistema ou aumentar o que você já tem?

Sim Não

Por quê?

216C Como pagaria o novo sistema?

À vista Em parcelas Outro: ________________________________

2.3. Gerador elétrico

217A Nos últimos 6 meses você usou um gerador elétrico?

Sim Ir a 217B Não Ir a 225

217B Qual foi o motivo?

1 Não tinha eletricidade

2 A eletricidade do meu sistema não era suficiente

3 Produzir com gerador é mais barato

4 Outro: __________________________________________________________

218 O gerador usado é:

1 Próprio Quanto custou? R$

Tem desde quando?

Comprou onde?

2 Emprestado De quem?

3 Alugado Quanto paga por mês? R$

4 Outro: ____________________________________________________________

219A Que combustível utiliza?

Diesel Gasolina Outro: ___________________________________

219B Qual o consumo de combustível? (Colocar N se não souber e

especificar unidades: galões, litros - por dia, semana, mês)

219C Qual é o preço do combustível? (Colocar N se não souber e

especificar a unidade: galões, litros)

220A Quantas horas por dia utiliza o gerador? (Colocar N se

não souber responder) h/dia

220B Quantos dias por semana utiliza o gerador? (Colocar N se

não souber responder) dia/sem.

220C Durante os últimos 12 meses, quantos meses você usou o

gerador? (Colocar N se não souber responder)

220D Seu sistema é utilizado para: S/N Quanto?

01 Iluminação

02 Refrigeração de alimentos

03 Entretenimento

04 Bombeamento de água

05 Atividades produtivas

06 Outro: _________________________________

221 Em média, quanto gastou em reparação e

manutenção do gerador nos últimos 12 meses?

R$

222ª O aprovisionamento de combustível é:

Muito complicado Complicado. Simples

222B Em média, quanto tempo você tarda em conseguir

Page 58: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

58

combustível?

223 O gasto em combustível é igual ao que tinha antes de ter a energia elétrica?

Sim Não, é maior. Não, é menor

224A Onde e como armazena o combustível?

224B Conhece algum risco associado ao uso de combustível? Já aconteceu algum acidente?

2.4. Querosene

225 Usa querosene para iluminação?

Sim Ir a 226 Não Ir a 230

226A Qual é o consumo de querosene? (Colocar N se não souber

responder e especificar unidades: galões ou litros)

226B Qual é o preço do querosene? (Colocar N se não souber

responder e especificar a unidade: galões ou litros)

227 Seu gasto em querosene é igual ao que você tinha antes de ter a energia elétrica?

Sim Não, é maior. Não, é menor

228A O aprovisionamento de querosene é:

Muito complicado Complicado. Simples

228B Em média, quanto tempo você tarda em conseguir

querosene?

229A Onde e como armazena o querosene?

229B Conhece algum risco associado ao uso de querosene? Já aconteceu algum acidente?

2.5 Velas

230 Utiliza velas?

Sim Ir a 231 Não Ir a 235

231A Qual é o consumo de velas? (Colocar N se não souber

responder)

231B Qual é o preço das velas? (Colocar N se não souber

responder)

232 O gasto em velas é igual ao que tinha antes de ter a energia elétrica?

Sim Não, é maior. Não, é menor

233A O aprovisionamento de velas é:

Muito complicado Complicado. Simples

233B Em média, quanto tempo você tarda em conseguir

velas?

Page 59: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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234 Conhece algum risco associado ao uso de velas? Já aconteceu algum acidente?

2.6. Pilhas

235 Utiliza pilhas?

Sim Ir a 236 Não Ir a 240

236A Qual é o consumo de pilhas? (Colocar N se não souber

responder)

236B Qual é o preço das pilhas? (Colocar N se não souber

responder)

237 O gasto com pilhas é igual ao que tinha antes de ter a energia elétrica?

Sim Não, é maior. Não, é menor

238A O aprovisionamento de pilhas é:

Muito complicado Complicado. Simples

238B Em média, quanto tempo você tarda em conseguir

pilhas?

239A Usa carregador de pilhas?

Sim Não

239B Que faz com as pilhas já descarregadas?

2.8. Usos Finais

244 Quais aparelhos são ou seriam usados

em casa ? S/N Qtd h/d

Diurno (D) ou

Noturno (N)

01 TV

02 DVD

03 Radio

04 Aparelho de som

05 Ventilador

06 Geladeira

07 Celular

08 Outro 1: _________________________

09 Outro 2: _________________________

10 Outro 3: _________________________

245 Que lâmpadas usaria em casa ? S/N Qtd h/d Diurno (D) ou

Noturno (N)

01 Incandescente ( ) W

02 Incandescente ( ) W

03 Halógena ( )

04 Fluorescente tubular ( ) W

05 Fluorescente compacta ( ) W

06 Fluorescente compacta ( ) W

07 LED

08 Outro: ___________________________

Page 60: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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246 Que novos equipamentos você vai comprar nos próximos 12 meses?

3. Impactos sociais do acesso à eletricidade

301 Considera que o acesso a eletricidade trouxe benefícios?

Sim Ir a 302 Não Ir a 305

302 Considera que a energia elétrica será benéfica para você? Quais são esses benefícios?

1.

2.

3.

303 Os benefícios gerados serão importantes para sua família? Quais são esses benefícios?

1.

2.

3.

304 Os benefícios trazidos serão importantes para sua comunidade? Quais são esses

benefícios?

1.

2.

3.

305 Como consegue a água para consumo (poço, rede de encanamento, lago etc.)?

1.

2.

3.

Page 61: Levantamento das Formas de Abastecimento Energético e Proposta

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