léon denis - o além e a sobrevivência do ser

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www.autoresespiritasclassicos.com Léon Denis O Além e a Sobrevivência do Ser Traduzido do Francês Léon Denis - L'Au-delà et la Survivance de l'Être (1901) Pierre Auguste Renoir - O Pescador Conteúdo resumido

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Lon Denis - O Alm e a Sobrevivncia do Ser

www.autoresespiritasclassicos.comLon DenisO Alm e a Sobrevivncia do SerTraduzido do Francs

Lon Denis - L'Au-del et la Survivance de l'tre

(1901)

Pierre Auguste Renoir - O Pescador

Contedo resumido

Este um clssico do Espiritismo que nenhum estudioso deve ignorar. A obra comprova a sobrevivncia aps a morte. Lastreado em famosos cientistas, como Crookes, Lodge, Lombroso e outros, Lon Denis relata casos comprovados de comunicao dos Espritos, obedecendo aos cnones cientficos do mtodo experimental. leitura apaixonante que demonstra a atualidade da Doutrina Esprita e a segurana da Codificao, apesar do tempo decorrido.Sumrio3O Alm e a Sobrevivncia do Ser

33Estudo sobre a Reencarnao ou as Vidas Sucessivas

O Alm e a Sobrevivncia do Ser

Proponho-me, nestas pginas, abordar uma das mais altas e mais graves questes com que defronta o pensamento humano.

Haver em ns um elemento, um princpio que persista, depois da morte do corpo? Haver qualquer coisa da nossa conscincia, da nossa personalidade moral, da nossa inteligncia, do nosso eu, que subsista decomposio do invlucro material?

Neste breve estudo, deixaremos de lado o domnio das esperanas religiosas, por muito respeitvel que seja, assim como o das teorias filosficas, para exclusivamente buscarmos as provas experimentais capazes de nos fixarem a opinio. Atualmente, as afirmaes dogmticas e as teorias especulativas j no bastam. O esprito humano, que se tornou difcil de contentar-se, por efeito dos mtodos cientficos e de crtica hoje em uso, exige para toda crena uma base positiva, um criterium de certeza.

Antes de tudo, no exame que vamos fazer, uma coisa nos impressiona. Na poca atual, em que tantas convices se enfraquecem e extinguem, em que tantas iluses se esfrangalham, o respeito, o culto da morte, continua sendo uma das raras tradies vivas. A lembrana dos seres queridos se conserva, intensa e profunda, no corao do homem. Foi em Paris, no o esqueamos, que se estabeleceu o costume de saudar os fretros ao passarem.

No um espetculo tocante ver, nos dias 1 e 2 de novembro, por sob um cu geralmente acaapado e sombrio, s vezes at fustigadas por uma chuva insistente, aborrecida e gelada, numerosas multides se encaminharem para os cemitrios, a fim de cobrirem de crisntemos os tmulos daqueles a quem amaram?!

Aos que voltam dessa piedosa peregrinao e mesmo aos que, em todas as pocas do ano, acompanham um enterro, no se apresentar esta interrogao: Que feito de todos esses viajantes que transpuseram os umbrais do mundo invisvel? E o pensamento de cada um interroga o oceano silencioso dos mortos!

Sim, no obstante o desenfreado amor matria, caracterstico dos tempos atuais, no obstante a luta ardorosa pela vida, luta que nos arrebata em sua engrenagem e nos absorve inteiramente, a idia do Alm se ergue a todo instante em nosso ntimo. Suscitam-na o espetculo quotidiano das tristezas da Humanidade, a sucesso das geraes que surgem e passam, as chegadas e partidas que se verificam em torno de ns, as constantes migraes, de um mundo para outro, daqueles que partilharam dos nossos trabalhos, das nossas alegrias, das nossas dores, dos que teceram a nosso lado a teia no raro to dolorosa da existncia.

A todos quantos essa questo se tenha apresentado, direi: Nunca percebestes, no silncio profundo das horas noturnas, das horas de insnia, quando tudo repousa em derredor, algum rudo misterioso, que se assemelhasse a uma advertncia de amigos ou, melhor ainda, o murmrio de um ente caro tentando fazer-se ouvir? No haveis sentido passar-vos por sobre a fronte como que um sopro ligeiro, brando qual carcia, ou o roar de uma asa? Freqentemente hei tido essa sensao.

Mas, dir-me-eis, isto por demais vago e pouco concludente. nossa poca de cepticismo so necessrias manifestaes de outra preciso, fenmenos mais tangveis, mais probantes.

Ora, tais manifestaes existem e delas que vamos tratar, penetrando assim o domnio do espiritualismo experimental, o domnio das novas cincias psquicas que projetam luz intensa sobre o problema do Alm.

Desde alguns anos estas cincias tm tornado uma extenso considervel e no mais possvel ao homem inteligente desconhec-las ou desprez-las. A despeito das fraudes e dos embustes, os fenmenos psquicos reais, de todas as ordens, se multiplicaram de tal maneira que a possibilidade de se produzirem no mais d lugar dvida. Se alguns sbios ainda os discutem, antes do ponto de vista das causas atuantes do que da realidade dos fatos considerados em si mesmos.

H vinte ou trinta anos se verificou o nascimento de uma nova cincia. Rompendo o crculo apertado em que a cincia de ontem, a cincia materialista se confinara, ela rasgou ao esprito humano imensas aberturas sobre a vida invisvel.

O descobrimento da matria radiante, isto , de um estado sutil da matria, at ento fora, completamente, do alcance das nossas percepes, o descobrimento dos raios X, das ondas hertzianas e da radioatividade dos corpos demonstraram a existncia de foras, de potncias incalculveis e a possibilidade de formas de existncia que os nossos fracos e limitados sentidos, por inaptos, no percebem.

Assim como o mundo dos infinitamente pequenos se nos conservava desconhecido antes da inveno do microscpio, assim tambm, sem as descobertas de W. Crookes, Roentgen, Berthelot e Curle, ignoraramos ainda que um infinito de foras, de radiaes, de potncias nos cerca, envolve e banha nas suas profundezas.

Porm, depois daquelas demonstraes, que homem ousaria, doravante, fixar limites ao imprio da vida? A prpria morte parece no ser mais do que uma porta aberta para formas impalpveis, imponderveis da existncia; as ondas da vida invisvel marulham sem cessar em torno de ns.

Muitos h que freqentemente inquirem de si mesmos onde est o Alm; mas o Alm e o Aqum se penetram, se confundem: esto um no outro.

O Alm simplesmente o que no alcanam os nossos sentidos, que, como se sabe, so muito pobres, no nos permitindo, por isso, perceber seno as formas mais grosseiras da vida universal.

As formas sutis lhes escapam absolutamente. Que que a Humanidade, durante longo tempo, soube do Universo? Quase nada! O telescpio e o microscpio alargaram em sentidos opostos o campo de suas percepes. quele que, antes de inventado o microscpio, falasse dos infusrios, dessa vida exuberante que desabrocha em mirades de seres nos ares e nas guas, houveram certamente respondido com um encolher de ombros.

Eis que, porm, novas perspectivas se descerram e ignorados domnios da Natureza se revelam. Pode-se dizer que a infncia do sculo XX assinala uma nova fase do pensamento e da cincia. Esta se afasta cada vez mais das linhas acanhadas em que esteve encerrada por to largo tempo, a fim de levantar o vo, de desenvolver seus meios de investigao e de apreciao e explorar os vastos horizontes do desconhecido. A psicologia, notadamente, enveredou por outros caminhos. O estudo do eu, da personalidade humana, passou do terreno da metafsica para o da observao e da experincia. Entre as cincias nascidas deste movimento figura o espiritualismo experimental.

Sob esta denominao, o velho Espiritismo, to escarnecido e achincalhado, tantas vezes enterrado, reapareceu mais vivo e v aumentar dia a dia o nmero de seus adeptos.

No isto bastante singular? Nunca talvez se vira um conjunto de fatos, considerados a princpio como impossveis, que no despertavam, no pensamento da maioria dos homens, seno antipatia, desconfiana, desdm; que eram alvo da hostilidade de muitas instituies seculares, acabar por se impor ateno e mesmo convico de eminentes cientistas, de sbios competentes, cheios de autoridade por suas funes e seus caracteres! Esses homens, anteriormente cpticos, chegaram, por via de estudos, de pesquisas, de experincias, a reconhecer e a afirmar a realidade da maior parte dos fenmenos espritas.

Sir William Crookes, o mais notvel fsico dos tempos modernos, depois de ter observado, durante trs anos, as materializaes do Esprito de Katie King e de as haver fotografado, declarou:

No digo: isto possvel; digo: isto real.

Pretendeu-se que W. Crookes se retratara. Ora, semelhante insinuao ele prprio respondeu no discurso que proferiu por ocasio da abertura do Congresso de Bristol, como presidente da Associao Britnica para o Adiantamento das Cincias. Falando dos fenmenos que descrevera, acrescentou:

Nada vejo de que me deva retratar; mantenho minhas declaraes j publicadas. Poderia mesmo aditar-lhes muita coisa.

Russel Wallace, da Academia Real de Londres, na obra intitulada: O Milagre e o Moderno Espiritualismo, descreve:

Eu era um materialista to completo e experimentado que no podia, nesse tempo, achar lugar no meu pensamento para a concepo de uma existncia espiritual... Os fatos, entretanto, so obstinados: os fatos me convenceram."

O professor Hyslop, da Universidade de Colmbia, Nova Iorque, em seu relatrio sobre a mediunidade de Mrs. Piper, mdium de transe, disse:

A julgar pelo que eu prprio vi, no sei como poderia furtar-me concluso de que a existncia de uma vida futura est absolutamente demonstrada.

F. Myers, professor em Cambridge, na bela obra: A Personalidade Humana, chega concluso de que vozes e mensagens nos vm de alm-tmulo.

Falando de Mrs. Thompson, acrescenta:

Creio que a maioria dessas mensagens parte de Espritos que se servem temporariamente do organismo dos mdiuns, para no-las transmitir.

Richard Hodgson, presidente da Sociedade Americana de Pesquisas Psquicas, escrevia nos Proceedings of Society Psychical Research:

Acredito, sem a menor sombra de dvida, que os Espritos que se comunicam so de fato as personalidades que dizem ser; que sobreviveram mutao conhecida pelo nome de morte e que se comunicaram diretamente conosco, pretensos vivas, por intermdio do organismo de Mrs. Piper adormecida.

O mesmo Richard Hodgson, falecido em dezembro de 1906, se comunicou depois com seu amigo James Hyslop, entrando em mincias acerca das experincias e dos trabalhos da Sociedade de Pesquisas Psquicas. Explica como, para ficar absolutamente provada a sua identidade, deviam as experincias ser conduzidas.

Essas comunicaes so feitas por diferentes mdiuns que no se conhecem reciprocamente e umas confirmam as outras. Notam-se as palavras e as frases familiares, em vida, aos que se comunicam depois de mortos.

Sir Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham e membro da Academia Real, escreveu em The Hilbert Journal o seguinte, que o Light de 8 de julho de 1911 reproduziu:

Falando por conta prpria e com pleno sentimento de minha responsabilidade, dou testemunho de que, como resultado das investigaes que fiz no terreno do psiquismo, adquiri por fim, mas de modo inteiramente gradual, a convico em que me mantenho aps vinte anos de estudo, no s de que a continuao da existncia pessoal um fato, como tambm de que uma comunicao pode ocasionalmente, embora com dificuldade e em condies especiais, chegar-nos atravs do espao.

E na concluso do seu recente livro A Sobrevivncia Humana, acrescentou:

No vimos anunciar uma verdade extraordinria; nenhum novo meio de comunicao trazemos, mas apenas uma coleo de provas de identidade cuidadosamente colhidas, por mtodos desenvolvidos, ainda que antigos, mais exatos e mais vizinhos da perfeio talvez do que os empregados at hoje. Digo provas cuidadosamente colhidas, pois que os estratagemas empregados para a sua obteno foram postos em prtica de um e de outro lado da barreira que separa o mundo visvel do invisvel; houve distintamente cooperao dos que vivem na matria e dos que j se libertaram dela.

O professor W. Barrett, da Universidade de Dublin, declara (Anais das Cincias Psquicas, novembro e dezembro de 1911):

Sem dvida, por nossa parte acreditamos haver alguma inteligncia ativa operando por detrs do automatismo (escrita mecnica, transe e incorporao) e fora deste, uma inteligncia que mais provavelmente a pessoa morta que a mesma inteligncia afirma ser do que qualquer outra coisa que possamos imaginar... Dificilmente se encontrar soluo para o problema dessas mensagens e das correspondncias de cooperao inteligente entre certos Espritos desencarnados e os nossos.

O clebre Lombroso, professor da Universidade de Turim, escrevia na Lettura:

Sinto-me forado a externar a convico de que os fenmenos espritas so de uma importncia enorme e que dever da Cincia dirigir sem mais demora sua ateno para essas manifestaes.

Mr. Boutroux, membro do Instituto e professor da Faculdade de Letras de Paris, se exprime assim no Matin de 14 de maro de 1908:

Um estudo amplo, completo do psiquismo no comporta unicamente um interesse de curiosidade, mesmo cientfica; interessa tambm muito diretamente vida e ao destino do indivduo e da Humanidade.

O sbio Duclaux, diretor do Instituto Pasteur, em uma conferncia que fez no Instituto Geral Psicolgico, h alguns anos, dizia:

No sei se sois como eu, mas esse mundo povoado de influncias que experimentamos sem as conhecermos, penetrado desse quid divinum que adivinhamos sem lhe apreendermos as mincias, ah! esse mundo do psiquismo mais interessante do que este outro em que at agora se encarcerou o nosso pensamento. Tratemos de abri-lo s nossas pesquisas. H nele, por se fazerem, imensas descobertas que aproveitaro Humanidade.

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O observador, o pesquisador imparcial que deseja formar juzo seguro, muitas vezes se acha em presena de duas opinies igualmente falaciosas. De um lado, a condenao em bloco. Dir-lhe-o: no psiquismo tudo fraude e embuste; ou ento: tudo iluso e quimera. De outro lado, a credulidade excessiva. Encontrar pessoas que admitem os fatos mais inverossmeis, mais fantsticos; outras que se entregam s prticas espritas sem estudos prvios, baldas de mtodo, de discernimento, de esprito de crtica, ignorantes das causas vrias a que se podem atribuir os fenmenos psquicos.

Esses talvez sejam indivduos de boa-f. Mas h tambm os embusteiros e os charlates. O charlatanismo se tem freqentemente apropriado dos fatos psquicos para os imitar e explorar. Cumpre estar sempre em guarda contra o cortejo dos falsos mgicos, dos falsos mdiuns ou dos que, possuindo faculdades reais, no hesitam contudo em trapacear, havendo oportunidade. Ao observador importa precaver-se dos mseros industriais que no trepidam em mercadejar com as coisas mais respeitveis. Entretanto, os casos fraudulentos em nada podem alterar a realidade dos fatos autnticos.

No h dvida de que as trapaas, as falsas materializaes, as fotografias arranjadas desacreditam o psiquismo e entravam a marcha desta cincia nova, que lhe retardam o vo e o desenvolvimento normal. Mas no sucede sempre assim com todas as coisas humanas? As mais sagradas nunca estiveram ao abrigo das falcatruas dos intrujes e dos impostores.

Indubitavelmente, diante da incerteza, da confuso que resulta de tantas opinies contraditrias, muitos homens hesitaro em palmilhar esse terreno, em se entregar a um estudo atento da questo. O que o primeiro exame, superficial, neles produz a desconfiana, a hostilidade. Quase nunca vem da cincia psquica seno os lados vulgares, as mesas girantes e outros fenmenos da mesma natureza, conservando-se-lhes desconhecidas ou ignoradas as manifestaes de carter elevado, os fatos de real valor. que neste mundo o que belo e grande se dissimula; s pode ser descoberto por esforos perseverantes, enquanto que as coisas banais e ruins disputam a evidncia em torno de ns. Ou ento os fenmenos citados parecero maravilhosos, incrveis aos que jamais experimentaram e muitos, em presena das narraes que se lhes fazem, poro os espritas no rol dos alienados.

Tal a primeira impresso, que, cumpre reconheamos, no favorvel. Entretanto, quem estudar seriamente a questo ser impressionado por um fato: que, ao cabo de meio sculo de crticas amargas, de ataques violentos e at de perseguies, o Espiritismo se mostra mais vivaz do que nunca. Pode-se dizer que ele se h consideravelmente desenvolvido, pois que j no se contam as revistas, os jornais, os grupos de experimentao que se prendem a esta ordem de idias, em todos os pontos do globo. Tudo quanto ho querido tentar contra ele tem falhado. As pesquisas cientficas e os processos tendenciosos lhe resultaram at aqui favorveis.

Importa ainda que se reconhea uma coisa: se o Espiritismo encontrou tanta dificuldade para vencer as oposies conjuradas que a experimentao neste campo se apresenta prenhe de embaraos. Exige qualidades de observao e de mtodo, pacincia, perseverana, que esto longe de ser predicados de todos os homens. As manifestaes espritas obedecem a regras mais sutis, a condies mais delicadas e mais complexas que as de qualquer outra cincia. Aos experimentadores foram precisos longos anos de estudo e de observao para chegarem a determinar as leis que regem o fenmeno esprita.

Como a pouco vimos, o Espiritismo j agora se apia em testemunhos cientficos de alto valor, em experincias e afirmaes de homens que ocupam elevada posio na Cincia e cujas obras fortes, cujas vidas ntegras e fecundas merecem o respeito universal. E o nmero desses testemunhos cresce dia a dia. Da o podermos dizer: se os fenmenos espirticos no passassem de iluso e quimera, como teriam conseguido prender, durante anos, a ateno de sbios ilustres, de homens frios e positivos, quais W. Crookes, Lodge, Zllner, Lombroso? E, em grau menos alto, porm no de somenos importncia, homens como Myers, Aksakof, Maxwell, Stead, Dariex e outros?

Pouco a pouco, graas s investigaes e s experincias desses cientistas, a explanao prossegue e as afirmaes em favor do Espiritismo se renovam e multiplicam.

Eis por que consideramos um dever espalhar por toda parte o conhecimento dos fatos, por isso que projetam luz nova, luz poderosa sobre a nossa natureza real e sobre o nosso futuro. preciso, afinal, que o homem aprenda a se conhecer melhor, a ter conscincia das energias que possui em estado latente. Conformando-se lei suprema, ele deve trabalhar com coragem e pertincia para se engrandecer, para crescer em dignidade, em saber, em critrio, em moralidade, porquanto nisso est todo o seu destino!

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Aditemos uma nota sobre as experincias dos sbios que acima citamos: elas tm tido um alcance considervel e dado lugar a comprovaes cientficas da mais alta importncia. Por exemplo, observando as materializaes do Esprito Katie King que Sir W. Crookes descobriu a matria radiante. Nestes fenmenos estranhos ele observava a ao da substncia em trabalho no ponto de sua transformao em fora, em energia.

Foi, pois, de um fato esprita que se originou uma srie completa de descobertas, uma revoluo no domnio da fsica e da qumica.

O grande fsico ingls achou meio de tornar visvel, no aparelho que veio a chamar-se ampola de Crookes, essa matria radiante, difusa, impondervel, que enche o espao e nos escapa aos sentidos. Tudo quanto se h desde ento verificado nesse terreno no passa de aplicaes da descoberta do ilustre sbio: os raios X e a radioatividade dos corpos, por exemplo.

O prprio rdio no mais do que uma dessas manifestaes. Todos os corpos vibram, todos se mantm num perptuo estado de radiao; apenas a do rdio mais forte do que as outras.

Podemos hoje observar a matria em seus diferentes estados, desde o estado slido, o mais condensado sob o qual habitualmente a vemos, at ao de completa dissociao em que se torna fora e luz.

O ser humano irradia igualmente. Existe nele um foco de energia, donde constantemente emana eflvios magnticos e foras que se ativam, que se estendem sob a influncia da vontade, chegando a poderem impressionar placas fotogrficas. Por semelhante irradiao j o nosso ser penetra no mundo invisvel.

Todas essas noes as experincias cientficas confirmam. A verificao destes modos de energia, a existncia destas formas sutis da matria fornecem ao mesmo tempo a explicao dos fenmenos espritas. a que os Espritos haurem as foras de que se servem nas suas manifestaes fsicas; desses elementos imponderveis que se constituem seus envoltrios, seus organismos. Ns mesmos, os humanos, possumos j nesta vida um corpo sutil, invisvel veculo da alma, do qual o corpo fsico a imagem, e que em certos casos se pode concretizar e cair sob a ao dos sentidos.

J tem sido possvel reproduzir-se em chapas fotogrficas esse duplo fludico do homem, centro de foras e de radiaes. O coronel de Rochas e o Dr. Barlemont obtiveram, no atelier de Nadar, a fotografia simultnea do corpo de um mdium e do seu duplo, momentaneamente separados.

Pela existncia do corpo fludico, pelo seu desprendimento durante o sono natural ou provocado que se explicam as aparies de fantasmas dos vivos e, por extenso, as dos Espritos dos mortos.

Em muitos casos j se pudera observar que o duplo fludico de pessoas vivas se destacava, em certas condies, do corpo material, para se mostrar e manifestar a distncia. Tais fenmenos so conhecidos pela designao de fatos telepticos.

Desde ento, ficou evidente que, se durante a vida, a forma fludica tem a possibilidade de agir fora e sem o concurso do corpo, a morte no pode ser o termo de sua atividade.

Eis um caso notvel de apario de um vivo desprendido de sua forma material:

Os grandes jornais de Londres, o Daily News de 17 de maio de 1905, o Evening News, o Daily Express, o Umpire de 14 de maio, referiram-se apario, em plena sesso do parlamento, na Cmara dos Comuns, do fantasma de um deputado, o major Sir Carne Rachse, que se achava preso em casa por uma indisposio. Trs outros deputados atestam a realidade desta manifestao.

Assim se exprime a respeito Sir Gilbert Parker, membro daquela Cmara, no jornal Umpire de 14 de maio de 1905, do qual os Anais das Cincias Psquicas de junho do mesmo ano reproduziram a narrao:

Era meu desejo tomar parte no debate, mas esqueceram-se de chamar-me. Dirigindo-me para a minha cadeira, meus olhos deram com Sir Carne Rachse, sentado perto do lugar que habitualmente ocupava. Sabendo eu que ele estivera doente, fiz-lhe um gesto amistoso, dizendo-lhe: Desejo que esteja melhor.; mas no obtive nenhum sinal de resposta, o que me espantou. Achei-o muito plido. Estava assentado, tranqilo, apoiado em uma das mos; a expresso da fisionomia era impassvel e dura. Detive-me um instante refletindo sobre o que convinha fazer; quando me voltei de novo para Sir Carne, ele desaparecera. Pus-me in continenti sua procura, contando encontr-lo no vestbulo. L no se achava; ningum o vira.

E o jornal acrescenta:

O prprio Sir Carne no duvida de que tenha realmente aparecido na Cmara, sob a forma do duplo, preocupado como estava com a idia de comparecer sesso para dar o seu voto ao governo.

Temos ainda o testemunho de dois outros deputados ingleses.

No Daily News de 17 de maio de 1905, Sir Arthur Hayter refora com o seu depoimento o de Sir Gilbert Parker. Diz Sir Hayter que no s viu Sir Carne Rachse como tambm chamou a ateno de Sir Campbell Bannerman para a presena daquele deputado.

Pelo que toca s aparies de defuntos, j relatamos em outras obras as experincias de Sir William Crookes com o Esprito Katie King, as de Aksakof com o de Abdullah e outros.

Relatemos aqui um caso mais recente, que o professor Lombroso, de Turim, conhecido do mundo inteiro pelos seus trabalhos de fisiologia criminalista, refere em seu livro pstumo: Riccerche sui Fenomeni Ipnotici e Spiritici:

Foi em Gnova, no ano de 1902. A mdium Euspia se achava em estado de semi-inconscincia e eu no esperava obter fenmeno srio. Antes da sesso pedira-lhe que deslocasse, em plena luz, um pesado tinteiro de vidro. Ela me respondeu na sua maneira vulgar: Por que te ocupas com estas ninharias? Sou capaz de fazer muito mais, de dar-te a ver tua me. A est no que devias pensar! Impressionado com esta promessa, depois de uma hora de sesso, apoderou-se de mim o mais intenso desejo de a ver executada e a mesa respondeu por trs pancadas ao meu pensamento. Vi de repente (estvamos na meia obscuridade de uma luz vermelha) sair do gabinete uma forma de talhe muito pequeno, exatamente como o de minha me. (Cumpre se note que a estatura de Euspia pelo menos dez centmetros mais alta que a de minha me.) O fantasma trazia um vu; deu volta completa mesa at chegar a mim, murmurando palavras que muitos ouviram, mas que a minha meia surdez no me permitiu escutar. Enquanto, fora de mim, tal a emoo em que me achava, eu lhe suplicava que mas repetisse, ela me disse: Cesare, fio mio! Reconheo que isso no era de seus hbitos. Efetivamente, nascida em Veneza, tinha ela o costume veneziano de me tratar assim: mio fiol! Pouco depois, a pedido meu, afastou por instantes o vu e me deu um beijo.

Na pgina 93 da obra citada acima se pode ler que a me do autor lhe reapareceu ainda umas vinte vezes no correr das sesses de Euspia.

A objeo favorita dos incrdulos, no tocante a este gnero de fenmenos, que eles se produzem na obscuridade, to favorvel aos embustes. H um tanto de verdade nessa objeo e ns mesmos no temos hesitado em assinalar fraudes escandalosas; mas importa se note que a obscuridade indispensvel s aparies luminosas, as mais freqentes de todas. A luz exerce uma ao dissolvente sobre os fluidos e grande nmero de manifestaes s na sua ausncia se podem dar. Casos, entretanto, h em que certos Espritos puderam aparecer sob os reflexos da luz fosforada. Outros se desmaterializam em plena luz. Sob os raios de trs bicos de gs. viu-se Katie King fundir-se pouco a pouco, dissolver-se e desaparecer.

A esses testemunhos corre-nos o dever de juntar o nosso, relatando um fato que nos toca pessoalmente.

Durante dez anos nos consagramos a esta ordem de estudos com o auxlio de um mdico de Tours, o Dr. Aguzoli, e de um capito arquivista do 9 Corpo. Por intermdio de um deles, mergulhado em sono magntico, os Invisveis nos prometiam, havia muito, um caso de materializao. Uma noite, reunidos no gabinete de consulta do nosso amigo, fechadas cuidadosamente as portas, e a luz do dia penetrando ainda bastante pela bandeira da janela para nos ser possvel distinguir perfeitamente os menores objetos, ouvimos trs pancadas ressoarem em certo ponto da parede. Era o sinal convencionado.

Dirigimos os olhares para aquele lado e vimos surgir da dita parede, onde nenhuma soluo de continuidade havia, uma forma humana de talhe mediano. Aparecia de perfil: a espdua e a cabea se mostraram primeiro, depois, gradualmente, todo o corpo se mostrou. A parte superior se desenhava bem, apresentando ntidos e precisos os contornos. A parte inferior, mais vaporosa, tinha o aspecto de uma massa confusa. A apario no caminhava, deslizava. Tendo atravessado lentamente a sala, a dois passos de ns, foi enterrar-se e desaparecer na parede oposta, num ponto em que no havia sada alguma. Pudemos contempl-la durante cerca de trs minutos e nossas impresses, confrontadas logo aps, se revelaram idnticas.

O coronel francs L. G., hoje general, perdera a filha mais velha, de vinte anos de idade, a quem consagrava terna afeio, por isso que a mocinha, muito sria, renunciava de boa-vontade s diverses em companhia de suas amigas para compartilhar dos trabalhos de seu pai, escritor distinto. Sua morte sbita, fulminante, mergulhou em sombrio desespero o coronel, que me procurou para saber por que meios se poderia comunicar com a morta querida. Mas todas as suas tentativas por intermdio da mesa e da escrita s deram resultados menos que satisfatrios. Pouco a pouco, entretanto, fenmenos de viso se produziram e, a 25 de janeiro de 1904, ele me escrevia:

Como complemento de minhas cartas anteriores, quero, antes de tudo, consignar aqui, por escrito, o que lhe referi no hotel Ngre-Coste.

Na mesma noite da sua conferncia, achando-me deitado e em completa escurido, vi primeiramente com a maior nitidez a figura de minha filha querida, como a vejo habitualmente (e acrescento como continuo a v-la de modo cada vez mais preciso), isto , uma figura confusa, de brilhante contorno, com o penteado que lhe era peculiar destacando-se maravilhosamente no alto da cabea.

Ora, como essa forma bem-amada estivesse diante de mim, sentindo-me eu perfeitamente acordado e observando-a com a maior ateno de que sou capaz, a apario se transfigurou e tive ento, junto de meu leito, minha filha adorada, tal como nunca a vira melhor enquanto viva: semblante risonho, alegre, tez brilhante de frescura; era de impressionar; dela emanava uma espcie de luminosidade; seu rosto fulgurava, resplandecia.

Desgraadamente, isto no durou mais do que cinco a seis segundos, passados os quais divisei novamente a forma confusa, azulada. S a fisionomia tinha aparncia de vida.

Acrescento que antes observara, perto de meu leito, magnfica estrela azul, de uma luz inimitvel, projetando sobre mim um raio luminoso que me enchia literalmente de claridade. Aps o nosso regresso para aqui, as manifestaes continuaram nestas condies. Todavia, julgo oportuno destacar duas particularidades:

H alguns dias, meu sobrinho Roberto estava de guarda. meia-noite deixou o corpo da guarda para ir buscar alguma coisa no seu aposento. L chegando, ouviu uma voz bem conhecida que o chamava distintamente: Roberto! Roberto! Ele se encontrava absolutamente s, a porta estava fechada e quela hora todos no quartel dormiam.

Acresce que seus camaradas o tratam pelo apelido de famlia: C..., e nunca pelo primeiro nome. O nico que o trata pelo prenome Amauri, o noivo de minha filha, e esse, no momento, estava deitado no aposento que ocupa em minha casa.

Voltando ao corpo da guarda, meu sobrinho teve a surpresa de ver um co, que os soldados recolheram e que se chama Batalho, levantar-se sobre as patas traseiras, apoiar as dianteiras contra a borda de uma cama de campanha e ladrar, com o plo eriado, durante uns dez minutos, fixo o olhar em um s ponto da parede, onde ningum via coisa alguma.

No houve meio de faz-lo calar-se. Finalmente, ontem noite, em minha casa, Amauri estava deitado e tinha consigo na cama uma gata, outrora favorita da minha cara Ivone. De repente a mesa de cabeceira recebeu uma pancada to violenta que a gata saltou da cama. Amauri, que apenas dormitava, abriu os olhos e viu o quarto cheio de luminosidades, de pontos brilhantes, etc.

Eis a situao em que nos achamos. Tudo isto no deixa lugar a dvida alguma, a qualquer suspeita. Tudo se passa em nossa casa, sem mdium estranho, em famlia. A maior parte das vezes os fenmenos se produzem espontaneamente.

Chegar-se- forosamente crena na realidade das manifestaes do Alm e todo o mundo se admirar um dia de que elas fossem por to longo tempo desprezadas e at negadas.

O general L. G. me assinala ainda o seguinte fenmeno:

O Sr. Contaut, velho amigo de meu pai, nascido como ele no pinal, donde veio para Prigneux, lugar em que se aposentou no cargo de diretor do registro, me referiu o seguinte fato:

Um dia, em pinal, acabava de me deitar, quando de sbito vi aos ps de minha cama o meu amigo Goenry, comandante de engenharia, ento muito distante dos Vosges. Estava uniformizado e me olhava tristemente. Tal foi a minha surpresa que exclamei: Como, Goenry, tu aqui! Nesse momento ele desapareceu. Fiquei impressionadssimo. Fui ter com minha mulher e lhe narrei o que acabava de passar-se, acrescentando: Aposto que Goenry morreu. No dia seguinte recebi um telegrama comunicando-me a sua morte, que ocorrera exatamente mesma hora da apario.

Ora, o Sr. Contaut um esprito muito positivo; ignorava toda esta espcie de fenmenos e s me confiou o fato porque eu lhe estivera relatando outros da mesma natureza, passados comigo. Ele me declarou: Jamais me fora possvel compreender esse incidente. Que de vezes pensei nele sem conseguir achar-lhe explicao!

Citemos ainda um caso mais antigo, porm dos mais sugestivos tambm, em razo dos testemunhos oficiais que o comprovam:

A 17 de maro de 1863, em Paris, no primeiro andar da casa n 26, rua Pasquier, por detrs da Madalena, a Sra. baronesa de Boilve oferecia um jantar a muitas pessoas, entre as quais se contavam o general Fleury, escudeiro-mor do imperador Napoleo II, o Sr. Devienne, primeiro presidente da Corte de Cassao, o Sr. Delescaux, presidente da Cmara no Tribunal Civil do Sena. Durante o jantar tratou-se sobretudo da expedio ao Mxico, comeada havia j um ano. O filho da baronesa, tenente de caadores a cavalo, Honor de Boilve, fazia parte da expedio e sua me no deixara de perguntar ao general Fleury se o governo tinha notcias dela. No as tinha. Falta de notcias, boas notcias. O banquete terminou alegremente, conservando-se os convivas mesa at s 9 horas da noite. A essa hora, Mme. de Boilve se levantou e foi sozinha ao salo para mandar servir o caf. Mal entrara, um grito terrvel alarmou os convidados. Todos se precipitaram para o salo e encontraram a baronesa desmaiada, estendida no tapete.

Voltando a si, contou-lhes ela uma histria extraordinria. Ao transpor a porta do salo, dera com seu filho Honor em p na outra extremidade do aposento, uniformizado, mas sem armas e sem quepe. Tinha o rosto plido e ensangentado. Fora tal o espanto da pobre senhora, que pensara morrer. Todos se apressaram em tranqiliz-la, fazendo-lhe ver que tinha sido joguete de uma alucinao, que sonhara acordada. Sentindo-se ela, porm, inexplicavelmente fraca, chamaram com urgncia o mdico da famlia, que era o ilustre Nlaton. Posto ao corrente da estranha aventura, o facultativo prescreveu calmantes e retirou-se. No dia seguinte a baronesa estava fisicamente restabelecida, mas o moral ficara abalado. Da por diante mandava duas vezes ao dia um portador ao ministrio da guerra pedir notcias do tenente.

Ao cabo de uma semana recebeu a notcia oficial de que a 17 de maro de 1863, s 2 horas e 50 minutos da tarde, no assalto de Puebla, Honor de Boilve cara morto por uma bala mexicana, que o atingira no olho esquerdo e lhe atravessara a cabea.

Trs meses mais tarde o Dr. Nlaton transmitiu a seus colegas da Academia uma comunicao do sucedido, escrita pelo punho do primeiro presidente Devienne e assinada por todos os convivas do famoso jantar.

Em seu nmero de 24 de dezembro de 1905, Lclair publicou uma importante declarao do Senhor Montorgueil, redator desse jornal, que ento se decidira a falar das experincias de que participara em 1896 ou 1897, em casa do engenheiro Mac-Nob, rua Lepic. Foi necessria a afirmao corajosa do professor Charles Richet sobre a realidade do fantasma da vivenda Crmen para que ele sasse do silncio em que se mantivera durante dezoito anos.

Muitos cpticos, pouco ao par dessas investigaes, ingenuamente supem que, se se atirassem ao fantasma e o impedissem de mover-se, encontrariam o mdium disfarado.

A seguinte experincia do Sr. Montorgueil responde peremptoriamente a esta hiptese, patenteando-lhe a parvoce. Vamos sem delongas ao ponto interessante da narrativa.

Uma noite recebi uma pancada no ombro, uma pancada algum tanto brusca. Passado um instante, notei que me roava os joelhos uma saia. Segurei-a, mas escapou-me dos dedos.

O fantasma atirou-se de novo a mim. Senti de repente que me esfregava o rosto com um pano. Acreditei ser um gracejo: agarrei, furioso, a mo que me correra pela face. A clera, junto a um certo medo, me decuplicava as foras. Pedi em gritos que acendessem as luzes, o que logo foi feito pelo engenheiro.

Achava-me ento de p e com um dos braos apertava de encontro ao corpo um outro brao, cujo pulso segurava com a mo, que a raiva havia transformado em tenaz. Reinava absoluto silncio; meus ouvidos no percebiam nenhum rudo de respirao; nem minhas faces lhe sentiam o calor caracterstico. Somente meus ps sapateavam.

A mo do fantasma tentava, no entanto, fugir da minha. Dava-me a sensao de se estar fundindo entre os meus dedos.

A luz brilhara de novo: a luta no durara mais de dez segundos.

Contra mim ningum; todos estavam nos seus lugares e denotavam mais curiosidade do que ansiedade. fora de dvida que se tivesse agarrado por aquela maneira uma pessoa, eu a houvera derrubado, ou, numa luta corpo a corpo, como a em que me vira empenhado, ela s conseguiria atirar-me ao cho, depois que nossas mos se houvessem separado. Tal pessoa no lograria libertar-se de mim sem um empurro.

Meu adversrio desaparecera.

Teria eu sido o joguete de uma alucinao? Existia prova do contrrio: ficara-me na mo, arrancado da do fantasma, o pano com que me esfregara o rosto. Era o fichu de uma moa que o escultor trouxera em sua companhia.

Devo salientar que no momento em que a luz se acendeu de novo e que a mo se desvaneceu, o msico (o mdium) caiu de costas sobre o sof, soltando um grito, e ficou prostrado, como que aniquilado por muitos minutos.

Posteriormente refleti muitas vezes sobre esse fato. Procurei verificar se no framos todos, eu e meus companheiros, mistificados. Nada apurei que confirmasse esta suposio. Um argumento aos meus olhos sobreleva a todos os outros: um ser a quem eu tivesse preso pelo pulso e subjugado com o brao teria podido escapar-se sem barulho, sem queda, sem coliso? Desafio a quem quer que seja que o consiga...

de notar-se o contrachoque experimentado pelo mdium. Em outras circunstncias o fato poderia ser-lhe de terrveis conseqncias. Mme. dEsprance, por efeito de uma aventura da mesma natureza, ficou gravemente enferma durante muitos anos, Da toda a convenincia em no trabalhar seno com pessoas cuja lealdade se conhea, incapazes de, por estpidas e inteis agresses, ferir os mdiuns.

As materializaes e aparies de Espritos, j o vimos, se opem dificuldades que, forosamente, lhes limitam o nmero. O mesmo no se d com certos fenmenos de ordem fsica e de natureza muito variada, os quais se propagam e se multiplicam cada vez mais em torno de ns.

Vamos examinar sucintamente esses fatos na sua ordem progressiva, do ponto de vista do interesse que apresentam e da certeza que deles resulta no tocante vida livre do Esprito.

Em primeira linha vem o fenmeno, to vulgarizado hoje, das casas assombradas. So habitaes freqentadas por Espritos de ordem inferior, que se entregam a manifestaes ruidosas. Pancadas, sons de toda espcie, desde os mais fracos at os mais fortes, abalam os assoalhos, os mveis, as paredes, at mesmo o ar. A loua tirada do lugar e quebrada; pedras so jogadas de fora para dentro de aposentos.

Os jornais freqentemente trazem a descrio de fenmenos deste gnero. Mal cessam em um ponto se reproduzem noutros, quer na Frana, quer no estrangeiro, despertando a ateno pblica. Em alguns lugares ho durado meses inteiros, sem que os mais hbeis policiais tenham logrado descobrir uma causa humana para as manifestaes. Damos aqui o testemunho de Lombroso a esse respeito. Escreveu ele na Lettura:

Os casos de habitaes mal-assombradas observados na ausncia de mdiuns, habitaes em que, durante anos, se produzem aparies ou rudos, que coincidem com a narrao de mortes trgicas, militam em favor da ao dos mortos. Trata-se muitas vezes de casas desabitadas onde tais fenmenos se do no raro no curso de muitas geraes e at por sculos.

O Dr. Maxwell, advogado geral na Corte de Apelao de Bordus, descobriu sentenas de diversos parlamentos, no sculo XVIII, rescindindo contratos de aluguel por causa de assombramentos.

O Journal des Dbats, em seu nmero de agosto de 1912, relata o seguinte:

O Sr. J. Deuterlander possui em Chicago, 3.375, South Dakley Avenue, uma casa de aluguel. A comisso encarregada de lanar o imposto predial entendeu dever taxar esse importante imvel tomando por base um aluguel de 12 mil dlares. O Senhor Deuterlander protestou. Longe de lhe dar lucros, a casa s lhe dava aborrecimentos. Encontrava as maiores dificuldades para alug-la em conseqncia de ser visitada por almas do outro mundo. Uma senhora ainda jovem l morrera em condies misteriosas, provavelmente assassinada, e desde ento os outros locatrios so constantemente despertados por gemidos e gritos. Cansados de suportar esse incmodo, entraram a abandonar o prdio uns aps outros. Tal a razo por que o Sr. Deuterlander pedia uma diminuio da taxa. A comisso, depois de examinar o caso, deferiu-lhe o pedido, decidindo reduzir de 12 mil para 8 mil dlares a base para a taxao do imvel. E assim ficou tambm oficialmente reconhecida a existncia dos fantasmas.

Lembremos ainda os dois casos de assombramento verificados em Florena e em Npoles e que inseri na minha obra No Invisvel (captulo XVI). Os tribunais, depois de ouvirem numerosas testemunhas, proferiram sentenas nas quais reconhecem a realidade dos fatos e concluem pela resciso de contratos de arrendamento.

Todos esses fenmenos devemo-los a entidades de nfima ordem, pois os Espritos elevados no so os nicos que se manifestam.

Aos Espritos, de qualquer ordem que sejam, agrada entrar em relao com os homens, desde que encontrem meios. Da a necessidade de distinguir-se nas manifestaes do Alm o que vem do alto do que vem de baixo, o que emana dos Espritos de luz do que produzido por Espritos atrasados. H almas de todos os caracteres e de todos os graus de elevao. Em derredor de ns h mesmo nmero muito maior das de condio inferior do que das de condio elevada. Aquelas so as produtoras dos fenmenos fsicos, das manifestaes bulhentas, de tudo quanto vulgar, manifestaes teis, entretanto, pois que nos trazem o conhecimento de todo um mundo esquecido.

Em minhas obras j citadas, trato longamente dos casos de escrita medinica e de escrita direta.

As mensagens obtidas por esses processos denotam grande variedade de estilo e so de valor sensivelmente desigual. Muitas s encerram banalidades; outras, porm, so notveis pela beleza da forma e elevao do pensamento.

Inseriremos aqui, como exemplo, algumas recentes e inditas.

O publicista ingls W. H. Stead, morto na catstrofe do Titanic, deu a comunicao seguinte, em 21 de maio de 1912, a Mme. Hervy, num grupo parisiense:

Caros amigos, uma sombra feliz vem at vs. Desconhecendo-lhe a pessoa, no lhe ignorais, entretanto, o nome, nem a morte trgica no naufrgio do Titanic. Sou Stead. Amigos comuns, entre os quais a duquesa de P..., me trouxeram aqui para que me manifestasse por intermdio de Mme. Hervy, sua amiga. Talvez vos cause admirao que meus Espritos familiares no me tenham avisado da fatalidade que pesava sobre o Titanic. que nada pode prevalecer contra o destino, quando irremedivel, e eu devia morrer sem que a nenhuma potncia humana ou espiritual fosse possvel retardar a minha derradeira hora. A agonia do Titanic teve alguma coisa de horrvel, mas tambm de sublime. Houve desesperos loucos e manifestaes covardes e brutais do egosmo humano. Mas, quantos, por outro lado, medindo toda a extenso da coragem, se sentiram maiores diante da morte, mais nobres e mais santos, mais perto de Deus! Saber que se vai morrer na plenitude da vida, na exuberncia da fora, pela ao dessas potncias da Natureza, indomadas sob a aparncia da submisso; morrer ao cintilar das estrelas impassveis; morrer na calma fnebre do mar gelado, em meio de uma solido infinita, que angstia para a pobre criatura humana! E que apelo desvairado ela dirige a esse Deus, cujo poder repentinamente descobre!... Oh! as preces daquela noite, as preces, os desprendimentos, as conscincias a se iluminarem por sbitos relmpagos e a f a se elevar nos coraes por entre as harmonias do belo cntico: Mais perto de ti, meu Deus!

Agonia de centenas de seres, sim, mas agonia que para muitos era a aurora de um novo dia. H, para os que viveram, pensaram, sofreram, como tambm para os que muito gozaram das falazes alegrias que a fortuna dispensa s suas vtimas, um alvio interior e como que um arroubo de esperana, ao reconhecerem que dentro de alguns instantes tudo estar acabado. A alma freme na carne e a subjuga, malgrado os sobressaltos inconscientes da animalidade.

E quantos dentre ns, proferindo as palavras do cntico: Mais perto de ti, meu Deus! se sentiram bem perto do Ser inefvel que nos envolve com a sua onipotente serenidade!

Pelo que me toca, vi, cheio de estranha doura, aproximar-se a morte, sentindo-me amparado pelos meus amigos invisveis, penetrado de um misterioso magnetismo que galvanizava os que iam morrer e que tirava morte todo o horror. Os que morreram sofreram pouco, menos do que os que sobreviveram. Os escolhidos j estavam a meio no mundo espiritual, onde em tudo rebrilha uma vida etrea. A maior amargura no era a deles, mas a dos que, presos matria, enchiam os barcos de socorro, que os levavam para continuarem nesse mundo a peregrinao da dor, de que ainda se no haviam libertado.

W. Stead.

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Mais duas mensagens obtidas por meio da escrita medinica, em maro e abril de 1912:

Prezada Senhora, obrigado pelo servio que me prestastes, obrigado por me terdes ajudado a sair da perturbao que se segue morte, obrigado por me haverdes posto em contacto com almas to nobres, to puras, que sonham com o triunfo do verdadeiro Cristo e com o da prtica da sua doutrina no seio de uma Humanidade corroda pela febre mals do materialismo e pelo surto dessas doutrinas de uma filosofia nebulosa, que, pretendendo criar super-homens, desconhecem o homem.

O materialismo de um lado e, de outro, as nefastas doutrinas que ho exaltado o eu em detrimento do ns e o indivduo custa da coletividade humana, da qual no o podem separar, criaram uma amoralidade geral, uma degenerao da conscincia, que as velhas frmulas religiosas so incapazes de deter.

Oh! muito teremos que fazer, ns os missionrios do Cristo novo, e no nos faltar trabalho na vinha do Senhor; mas, que alegria para o apstolo sentir que sua misso se precisa e se dilata, ver que a morte, longe de imobilizar o homem sob a lpide do sepulcro, lhe aumenta, estende, amplifica as faculdades, que a liberta das dvidas, das hesitaes, dos falsos escrpulos que lhe turbavam a conscincia! Minha vida passada no foi mais do que a baa crislida em que minha alma se transformou, pelas provaes e dores, em maravilhosa borboleta.

Oh! alegria imensa que faz regurgitar o corao!, alegria que arrebata a alma como que num arranco desordenado, para arroj-la, palpitante de reconhecimento, aos ps do Criador Celeste, que to generosamente paga o resgate do pecador!

No, meus irmos, imersos nas trevas da priso terrestre, no podeis conceber a felicidade da libertao terrena. Sentir o engrandecimento da capacidade de conhecer e aprender, que j fez do homem o senhor do universo material; sentir que, com a inteligncia e a compreenso, crescem todas as possibilidades de ao; sentir que o corao se depura e conhecer, enfim, a verdadeira amizade e o verdadeiro amor na comunho ntima dos seres, que, por intransponveis barreiras, os pesados invlucros materiais separam, so coisas que se no podem exprimir por palavras e impossvel me fazer-vos experimentar a plenitude de vida que sucede ao sono terrestre; pois que, na Terra, o homem se assemelha semente enterrada no solo, grmen obscuro, noo que prepara o desabrochar futuro, mas que no est, por isso, menos enredado nos liames da matria.

Obrigado, ainda uma vez, Senhora, por terdes apressado o meu despertar, por me terdes granjeado tantos e to elevados amigos, to dignos e to compenetrados da palavra do Cristo; obrigado por me terdes feito entrar nesta falange que conta os Lacordaire, os Didon, os Bersier, falange que desempenha a misso divina da renovao do ideal do Cristo.

Aqui est, pois, de novo o ardente, o fervoroso apstolo que conhecestes, minha querida e fiel irm (o Esprito se dirige neste ponto a uma das pessoas presentes), dispondo de maior clarividncia e de mais inteligncia das coisas, com a esperana viva de poder mais tarde e mais perfeitamente retomar a tarefa que tentou levar a cabo nesse mundo e que deixou, ah!, to imperfeita. Foi o vosso pensamento que me atraiu para junto da vossa mdium. Obrigado, portanto, a vs tambm.

Deixo-vos, meus amigos, possudo de uma alegria pura e santa, alegria que ultrapassa todas as alegrias da Terra, todas as harmonias terrestres, como o canto do rouxinol sobreleva e abafa o chilrear da toutinegra.

Obrigado ainda; o apstolo ganhou novamente confiana na sua misso divina e ei-lo de novo pronto a combater pelo triunfo do Esprito do Cristo.

Loyson.

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A vida espiritual, de maravilhosa beleza, no faz esquecer os nossos amigos terrenos. Por felizes que sejamos, por indizveis que sejam os gozos que nos embriagam, sempre e sem cessar somos atrados para o lugar onde transcorreu a nossa ltima existncia, para todos aqueles a quem nos unem os laos de uma afeio fraterna, para junto de vs, enfim, bem-amados.

Sim, pensamos em vs, mesmo das alturas mais inacessveis a que se possa elevar o pensamento! Vimos at onde estais para vos repetir, num eco distante, que deveis esperar e amar acima de tudo, por muito rude, por muito rida que seja a vida. A esperana e o amor vertem, na existncia, a linfa do esquecimento. Do a coragem, a vontade forte que nos permitem arrostar de nimo sereno a tempestade. Mas, venha a calma aps a borrasca, venha a hora do repouso benfico e sentireis que nas vossas veias circula a eterna felicidade celeste, que Deus espalha sem medida pelos pobres humanos.

O tempo, s vezes, vos parece bem longo. De ns esperais as menores comunicaes com impacincia e tambm com uma espcie de curiosidade, e cheios de vaga esperana de que elas vos venham revelar alguma coisa do mistrio dos mundos.

A Providncia, porm, sabe que as revelaes no seriam compreendidas. No! A hora ainda no soou! As frases que vos possamos transmitir ficaro sendo, por enquanto, meras frases; exortaes prtica do bem, certamente! Cumpre orientar para o melhor as pobres almas sofredoras. Pela doura, pela bondade, deveis chamar ao vosso seio os irmos incrdulos. E podeis tambm, pela caridade, fazer-lhes entrever a meta sublime para a qual deve tender a vida.

A vida continua, bem o sabeis. S muda a forma. Todavia, no muda demasiado rpido, porquanto, durante largo tempo, nos conservamos terrestres.

Quisramos poder exprimir-vos tudo o que o infinito nos d a contemplar. Mas, ah!, a linguagem humana pobre, suas palavras so duras, agudas, pesadas como a matria, ao passo que seriam precisas palavras leves e suaves, de uma suavidade toda especial, capazes de exprimirem os sons e as cores. A atmosfera que vos envolve por demais espessa para permitir que percebais, ainda que pouco, toda a harmonia que reina nos planos superiores do Universo. Ah!, que esplendores a se desdobram! E que consolao, que grande recompensa aos nossos males esta vida, esta embriaguez de todos os instantes!

Continuamos a ocupar-nos das almas errantes, mas a fonte de amor em que nos dessedentamos to viva e to abundante, que basta para nos deixar entrever destinos inda mais gloriosos. A ascenso prossegue, sem nunca parar. Subir ainda, subir sempre, sem jamais atingi-lo, para o foco da perfeio, para a Causa suprema que nos deve absorver, conservando-nos a personalidade prpria.

O amor, qualquer que seja o mundo em que se esteja, a fora, o eixo das esferas que gravitam em suas rbitas. Na natureza, nos infinitamente pequenos, o amor, antes de tudo, que guia o instinto. No homem, na sociedade inteira, o amor que forma as simpatias, que torna possveis as relaes dos humanos entre si. Seja qual for a expresso sob a qual o queiram deformar, seja qual for o nome com que o ridiculizem, se analisardes um pouco, encontrareis sempre o amor, o amor mais ou menos purificado, que existe em todo ser. Ele o centro, a causa. Reina no lar. sobre suas fiadas que se constri a famlia, a famlia que perpetua, no tempo e no espao, a longa srie dos sculos, marcando o progresso das humanidades. E tambm o amor que rege as amizades slidas.

Constitus uma fora poderosa, quando as mesmas idias, o mesmo ardente desejo do bem vos animam. A fora fludica que vos cerca considervel, e se, de sua resistncia, o granito vos pode dar idias, o cristal, em cujas facetas se vem irisar a luz, poder fazer-vos perceber-lhe a incomparvel pureza.

Desde o menor at o maior, amai; e, em vossos coraes, em vossas almas, correr a fonte de vida. Sim, necessrio amar ainda, amar sempre, ensinando, continuando a propagar, em toda a sua grandeza, a filosofia que encerra o porqu dos destinos humanos. Trabalhai a terra; deixai que nela entre a relha do poderoso arado do amor e, um dia, as messes louras germinaro ao sol radiante do futuro. Propagai sem descanso. Propagai amando.

Eduardo Petit.(Morto a 15 de setembro de 1910,Praa de Vaugirard, 2 - Paris.)

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Ainda recentemente os experimentadores ingleses imaginaram, sob o nome de cross-correspondence, um novo processo de comunicao com o invisvel, bem de molde a provar a identidade dos Espritos que se manifestam por meio da escrita medinica. O Sr. Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham, o descreveu a 30 de janeiro de 1908, numa reunio da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres:

A cross-correspondence, diz ele, isto , o recebimento de parte da comunicao por um mdium e parte por um segundo mdium, no podendo qualquer das partes ser compreendida sem o concurso da outra, constitui boa prova de que uma mesma inteligncia atua sobre os dois automatistas. Se, alm disso, a mensagem traz a caracterstica de um defunto e recebida como tal por pessoas que no o conheceram intimamente, isso prova a persistncia da atividade intelectual do desaparecido. E se se obtm dessa maneira um trecho de crtica literria, inteiramente conforme o seu modo de pensar e impossvel de ser imaginado por terceira pessoa, digo que a prova convincente. Tais so as espcies de provas que a Sociedade pode comunicar sobre esse ponto.

Depois de tratar dos esforos empregados nesse sentido pelos Espritos de Gurney, Hodgson e Myers, em particular, o orador acrescenta:

Achamos que suas respostas a questes especiais so dadas por forma que lhes caracteriza as personalidades e revelam conhecimentos altura da competncia de cada um deles.

A muralha que separa os encarnados dos desencarnados conclui Lodge ainda se mantm firme, mas j se mostra adelgaada em muitos lugares. Como os trabalhadores de um tnel, ouvimos, por entre o rumor das guas e diversos outros rudos, os golpes das picaretas dos camaradas que trabalham do lado oposto.

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No julgamos demasiado insistir numa questo capital: a da identidade dos Espritos que se comunicam, no curso das experincias. Essa identidade, estabelecida do modo mais preciso, ser a melhor resposta aos detratores do Espiritismo e a todos os que pretendem explicar os fenmenos por outras causas que no a interveno dos defuntos.

Passamos a enumerar diversos fatos que nos parecem caractersticos e apoiados em testemunhos importantes.

O primeiro, referido por Myers em sua obra sobre a conscincia subliminal, diz respeito a uma pessoa bem conhecida do autor, o Sr. Brown, cuja perfeita sinceridade ele garante.

Um negro cafre foi visitar o Sr. Brown num dia em que se entregava a experincias espritas com sua famlia.

Introduzido o visitante, perguntaram-lhe se sabia de mortos seus compatriotas que desejassem comunicar-se com ele.

Imediatamente, uma mocinha da famlia, que no conhecia coisa alguma do cafre, escreveu muitas palavras nesta lngua. Lidas estas ao negro, causaram-lhe viva estupefao. Veio depois uma mensagem em idioma cafre, que foi por ele inteiramente compreendida, exceto uma palavra desconhecida do Sr. Brown. Em vo este a pronunciava de diversas maneiras; o negro no lhe apanhava o sentido. Inesperadamente a mdium escreveu? Estale a lngua. O Sr. Brown lembrou-se ento do estalido particular da lngua que acompanha a articulao da letra t entre os cafres e foi imediatamente compreendido.

Ignorando os cafres e a arte de escrever, o Sr. Brown ficou surpreendido de receber de um cafre uma mensagem escrita. Explicaram-lhe que a mensagem fora ditada, a pedido dos amigos do negro, por um de seus amigos europeus que, quando vivo, falava correntemente a lngua dos cafres.

O africano parecia aterrado com a idia de que os mortos ali estivessem invisveis.

O segundo caso o da apario de um Esprito que se chamara Nefents, numa sesso realizada em Cristinia, na casa do professor E..., sendo mdium Mme. dEsprance. O Esprito deu o molde de sua mo em parafina. Levado o modelo oco a um profissional para que executasse a obra em relevo, ele e seus operrios se encheram de espanto, por lhes estar patente que mo humana no poderia t-lo feito, porque o teria quebrado quando fosse retirada, e declararam que aquilo era obra de feitiaria.

Doutra vez, Nefents escreveu alguns caracteres gregos no livrinho de notas do professor E... Traduzidos, no dia seguinte, do grego antigo para linguagem moderna, aqueles caracteres, verificou-se que significavam o seguinte: Sou Nefents, tua amiga. Quando tua alma se sentir oprimida por excessivas dores, invoca-me e eu acudirei prontamente para mitigar tuas aflies.

Finalmente, o terceiro caso autenticado pelo Sr. Chedo Mijatovich, ministro plenipotencirio da Srvia, em Londres, que o comunicou em 1908 no Light: Instado por espritas hngaros para se pr em relao com um mdium, a fim de elucidar um ponto de Histria referente a certo soberano srvio morto em 1350, o Sr. Chedo foi ter com o Sr. Vango, de quem muito se falava na ocasio e que lhe era, mesmo de vista, inteiramente desconhecido. Adormecido, anunciou-lhe o mdium a presena do Esprito de um mancebo, que desejava muito ser atendido, mas cuja linguagem no lhe era possvel compreender. Acabou, todavia, por escrever algumas palavras do que dizia o Esprito.

Este se exprimira em srvio e a traduo do que o mdium conseguira grafar a seguinte:

Peo-te o favor de escrever minha me Natlia, dizendo-lhe que imploro o seu perdo.

O Esprito era o do rei Alexandre. O Senhor Mijatovich nenhuma dvida pde ter disso, tanto mais que outras novas provas de identidade vieram juntar-se primeira: o mdium descreveu o defunto, que lhe manifestou o pesar que sentia de no ter seguido um conselho que confidencialmente lhe dera, dois anos antes de seu assassnio, o diplomata consultante.

Os fatos que se seguem, na sua maioria inditos, constituem outras provas da sobrevivncia:

No curso das sesses que realizamos em Tours, 1893 a 1901, e das quais j falei em minha obra No Invisvel (Espiritismo e Mediunidade), a propsito dos fenmenos do transe, o Sr. Prinne, presidente da Corte de Apelao da Arglia, que, aposentado, viera residir naquela cidade, conversava livremente com o Esprito de seu filho, Eduardo Prinne, que morrera aos 26 anos como juiz de paz em Cherchell, a 1 de novembro de 1874. Uma noite, chegou-nos ele carregando um mao de folhas de papel cobertas de esboos feitos a pena, representando cenas humorsticas desenhadas pelo defunto e que eram conservadas como relquias. Perguntou ele ao Esprito, assim que este se incorporou em Mme. F..., nosso principal mdium, que no conhecera o morto, nem jamais pusera os ps na Arglia: Eduardo, quem era este homem gordo cuja caricatura traaste nesta pgina? Nem eu nem tua me pudemos atinar com o sentido deste esboo. O desenho representava um homem obeso, tentando subir num poste telegrfico. Respondeu o Esprito: Pois que, pai, no te lembras do Sr. X..., to ridculo que, na Arglia, nos aborrecia com as suas conversaes fteis e um interminvel palavrrio sobre a sua agilidade? E entrou em mincias to precisas sobre a identidade dessa personagem que o Sr. e a Sra. Prinne se lembraram logo da que inspirara aqueles desenhos burlescos.

Um dia, no vero, Mme. F..., ocupada, juntamente com o marido, em pequenos arranjos no seu jardim, sentiu-se impelida por uma fora irresistvel a colher uma soberba rosa, nico ornamento de uma roseira, da qual muito se orgulhava o Sr. F... Em vo tentou o marido dissuadi-la do seu propsito. Sob a influncia oculta, ela cortou a flor e correu a oferec-la Sra. Prinne, que residia na vizinhana. Encantada, a Sra. Prinne exclamou ao v-la: O! que prazer me dais neste dia, que o do meu aniversrio! A Sra. F... ignorava essa circunstncia.

Na sesso seguinte, o Esprito de Eduardo, dirigindo-se me, disse: No compreendeste que fui eu quem impeliu a mdium a colher aquela flor e a oferec-la a ti, em minha lembrana?

Durante as sesses efetuadas em Paris, no ms de dezembro de 1911, em casa do capito P..., oficial do estado-maior, na presena de alguns amigos, entre os quais se achavam o Dr. G... e o Sr. Robert Pelletier, secretrio da Revue, um Esprito se manifestou como sendo Geber, sbio rabe que viveu na Prsia de 760 a 820. Por prova de sua identidade indicou que a traduo de suas obras estava na Biblioteca nacional e lhes mencionou os ttulos: Summa Collectionis, Compendium, Testamentum, etc.

O Sr. Pelletier, indo verificar estas afirmaes, reconheceu-as absolutamente verdicas; nenhum dos assistentes jamais ouvira falar dessa personagem. No mesmo grupo, o compositor Francis Thom se fez reconhecer por seus primos, lembrando-lhes fatos que as demais pessoas ignoravam e de alguns dos quais nem mesmo seus parentes se recordavam.

O general L. G., em 1904, me escrevia:

No posso resistir ao desejo de lhe comunicar o seguinte: No ms de julho ltimo, estava minha mulher em B., na casa de um irmo, e a se entretinha fazendo experincias de tiptologia. Aps diversas comunicaes por intermdio da mesa, surgiu o Esprito do almirante Lacombe, tio dela, morto em janeiro de 1903. Meu cunhado, capito do ... de linha, muito cptico, interrogou:

Pois que ests aqui, talvez nos pudesses dizer onde se acha o bilhete da loteria turca que se encontrava entre os papis do papai. No consegui descobri-lo. Tu, que trataste desta sucesso, como tutor de Maria, deves sab-lo.

A mesa respondeu:

Est com o Sr. L..., notrio...

No, pois que j lho pedi e ele no o tem.

Sim, est num pacote com o nome do Sr. V..., (banqueiro de meu sogro), de mistura com alguns papis velhos, dentro da secretria do primeiro escrevente.

Meu cunhado no insistiu... Hoje recebi dele uma carta em que me comunica que o bilhete da loteria turca foi encontrado no lugar que a mesa indicara. simplesmente espantoso, eis tudo!

O caso seguinte, publicado pelo Sr. Aksakof, mostra at que ponto os mortos podem continuar ao corrente das coisas terrestres:

Uma mooila russa, Schura (diminutivo de Alexandrina), se envenenou aos 17 anos, depois de haver perdido o noivo, de nome Miguel. Na ocasio em que esse fato se deu, ele era estudante no Instituto Tecnolgico. Certo dia, uma senhora Wiessler e sua filha (a primeira das quais se ocupava muito com o Espiritismo), que mal conhecia a famlia de Miguel e de Nicolau e cujas relaes com Schura e sua famlia j remontavam a poca bem distante, sem jamais terem sido muito contnuas, recebem, por intermdio da mesa com que trabalhavam, uma mensagem de Schura ordenando-lhes que sem demora prevenissem a famlia de Nicolau de que este corria perigo idntico ao que determinara a morte de seu irmo Miguel. Ante as hesitaes manifestadas pelas duas senhoras, Schura se torna cada vez mais insistente, pronuncia palavras de que costumava usar quando viva e, para lhes dar uma prova da sua identidade, vai at ao ponto de mostrar-se a Sofia uma tarde, com a cabea e os ombros emoldurados por um crculo luminoso. Isso, contudo, ainda no bastou para decidir a Senhora von Wiessler e sua filha a fazerem o que lhes era indicado. Finalmente, um dia, Schura lhes declara que tudo est acabado, que Nicolau vai ser preso e que elas se ho de arrepender de no a terem obedecido. As duas senhoras ento se resolvem a levar todos estes fatos ao conhecimento da famlia de Nicolau, a qual, muito satisfeita com o procedimento deste, nenhuma ateno prestou ao que lhe acabava de ser referido. Passados dois anos sem incidente algum, veio-se a saber que Nicolau fora preso por haver tomado parte em reunies revolucionrias que se efetuaram exatamente na poca das aparies e das mensagens de Schura. (Proceedings of Society Psychical Research, VI, pginas 349-359)

O vice-almirante ingls Usborne Moore era amigo de William Stead. Aps a catstrofe do Titanic, o almirante entrou em comunicao com o amigo morto, auxiliado pela Sra. Wriedt, mdium. dele prprio a seguinte narrativa:

W. Stead deu trs admirveis provas de identidade duas senhorita Harper e uma a mim mesmo. Aludiu ao ltimo encontro que tivemos em Bank Building. Nessa ocasio conversamos durante uma meia hora sobre diferentes assuntos: desde a guerra entre a Itlia e a Turquia at a visita prxima, com que ele contava, da sua excelente amiga, a Sra. Wriedt. Esta visita foi o de que mais falamos, sobretudo por causa de certas condies que desejava fossem observadas. A uma dessas condies especialmente aludiu ele na sesso de domingo tarde.

Na segunda-feira de manh, o nosso amigo me apareceu sob uma forma etrea, achando-me eu a ss com o mdium. Era um bom espectro, muito brilhante at meio-corpo, mas dessa vez no me falou. Na mesma tarde mostrou-se de maneira idntica a diversos ntimos e discorreu durante alguns minutos sobre assuntos que, sabia-se, lhe preocupavam o esprito, quando deixara a Inglaterra.

Um outro amigo de Stead, o Sr. Chedo Mijatovich, ministro plenipotencirio da Srvia em Londres, viu o Esprito de Stead e lhe falou por alguns instantes. Ainda a o Esprito deu provas formais de sua identidade, lembrando coisas totalmente desconhecidas do mdium.

O Sr. Chedo Mijatovich deu disso testemunho formal em uma carta publicada a 8 de junho no Light.

O professor Hyslop tambm referiu como, em uma sesso, sendo a mdium Mme. Chenoweth, W. James, o clebre filsofo americano, morto alguns meses antes, comparecera e dera numerosas provas de identidade, especialmente lembrando fatos que s o Sr. Hyslop podia conhecer.

O Light de Londres relata um caso notvel de identidade por meio da escrita medinica. Ei-lo:

O Sr. Shepard tinha como principal empregado um certo Sr. Purday, em quem depositava inteira confiana. Tendo Purday adoecido, o Sr. Shepard foi visit-lo. Recebeu-o Mme. Purday, que s a muito custo lhe permitiu entrar no quarto do marido, onde o no deixou nunca a ss com o doente, quer durante a primeira visita, quer por ocasio das que se lhe seguiram. Esta circunstncia se tornou tanto mais notada pelo Sr. Shepard, quanto com ela concorria a da maneira toda especial por que o doente o olhava, dando a perceber que tinha qualquer coisa de importante a comunicar ao patro e que somente a presena da mulher o impedia de faz-lo.

Purday morreu sem testamento; a esposa herdou-lhe a fortuna, que, no dizer dos vizinhos, era considervel, o que muito surpreendeu o Senhor Shepard.

Algumas semanas depois, recebeu ele a visita de um Sr. Stafford, mdium psicgrafo, que lhe entregou uma pgina de escrita medinica, assinada com o nome de Purday. Confessava-lhe este que, por espao de longos anos, abusara da confiana de que era objeto, praticando diariamente desvios de dinheiro, desvios cuja soma total montava a importante quantia. Acrescentava que, sentindo-se profundamente desgraado, se resignara quela confisso, que a mulher o impedira de fazer em vida.

As mincias com que o fato era exposto permitiram ao Sr. Shepard verificar o delito. Alm disso, tendo submetido a comunicao e um espcimen de caligrafia de Purday vivo a um perito; este reconheceu a identidade dos dois escritos.

A 3 de abril de 1890, pelas dez horas da manh, achava-se a Sra. dEsprance no seu escritrio de Gotemburgo (Sucia), ocupada em escrever muitas cartas sobre negcios. Datou uma folha de papel, traou o cabealho e ficou algum tempo a pensar na ortografia de um nome.

Quando ps de novo os olhos na folha de papel notou que sua pena ou sua mo escrevera espontaneamente e em grandes caracteres as palavras Svens Strombert.

Dois meses depois, o Sr. Alexandre Aksakof, o professor Boutlerof, com outros amigos e o Sr. Fidler foram ter com a Sra. dEsprance para estudarem os melhores meios de se fotografarem fantasmas materializados.

Em uma sesso, o Esprito-guia, Walter, escreveu: Est aqui um Esprito que diz chamar-se Stromberg. Deseja que seus parentes sejam informados de sua morte. Parece-me haver dito que morreu no Wisconsin a 13 de maro e ter nascido em Jemtland. Tinha mulher e seis filhos.

Se ele morreu em Jemtland, diz o Sr. Fidler, que nos d o endereo da mulher.

Foi-lhe respondido: No, ele morreu na Amrica, seus pais que vivem em Jemtland.

No dia seguinte, no correr de uma sesso de fotografia, revelada uma chapa, viu-se, por detrs da Sra. dEsprance, uma cabea de homem com um semblante plcido.

O Sr. Fidler perguntou a Walter quem era aquela entidade fotografada. esse Stromberg de quem te falei, respondeu Walter. Devo mesmo dizer que ele no morreu no Wisconsin, mas em New Stockholm, e que sua morte ocorreu a 31 de maro e no a 13. Seus pais residiam em Strom Stocking, ou outro nome deste gnero, na provncia de Jemtland. Disse-me ele, creio, que emigrou em 1886, que se casou e teve trs filhos e no seis. Morreu estimado e chorado por todos.

Est bem, replicou o Sr. Fidler. Devo remeter a fotografia dele mulher?

Ainda no compreendeste bem, retrucou Walter. Seus pais, residentes em Jemtland, que lhe ignoram a morte e no a esposa. Disse-me ele que toda a gente o conhece no pas; penso que se enviares a fotografia para Jemtland conseguirs o que desejas.

Durante um ano o Sr. Fidler cuidou de verificar esses dados. Chegou ao seguinte resultado: Svens Ersson, natural de Strom Stocken (parquia de Strom), na provncia de Jemtland, na Sucia, se casara com Sarah Kaiser, emigrara para o Canad e, uma vez estabelecido, tomara o nome de Stromberg. Essa circunstncia muito comum entre os camponeses da Sucia, cujas famlias no usam de apelidos que lhes pertenam.

Consultaram a mulher do falecido, o mdico que o tratara e o pastor.

Todos foram acordes em declarar que a 31 de maro de 1890, dia da sua morte, Stromberg, ditando suas ltimas determinaes, exprimira o desejo formal de que seus pais e amigos da Sucia fossem informados do seu falecimento.

Por motivos que seria ocioso enumerar, suas ltimas vontades no tiveram execuo.

A fotografia de Svens Stromberg tambm foi identificada. Enviada a Strom, a a pregaram na parede da sacristia da igreja, com um convite s pessoas que a reconhecessem para que pusessem seus nomes por baixo. Voltou trazendo numerosas assinaturas e muitos comentrios.

Ficou assim demonstrado que, sessenta horas depois de morrer no Norte do Canad, Svens Stromberg escreveu seu nome numa folha de papel, na cidade sueca de Gotemburgo, e que todas as indicaes que deu por intermdio de Walter eram da mais perfeita exatido.

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Tendo passado em revista os principais fenmenos que servem de base ao moderno espiritualismo, deixaramos incompleto o nosso resumo se no dissssemos alguma coisa acerca das objees apresentadas e das teorias contrrias, com o auxlio das quais se h tentado explicar os mesmos fenmenos.

O Espiritismo, dizem, no mais do que um conjunto de fraudes e de embustes. Todos os fatos extraordinrios que lhe servem de apoio so simulados.

exato que alguns impostores tm procurado imitar os fenmenos; porm, suas artimanhas ho sido facilmente descobertas e os espritas os primeiros a assinal-las. Em quase todos os casos citados acima aparies, materializaes de Espritos os mdiuns trabalharam atados, amarrados s cadeiras em que se sentavam; muitas vezes os experimentadores foram at ao extremo de lhes segurarem os ps e as mos. De algumas feitas chegaram mesmo a ser encerrados em gaiolas, especialmente preparadas para esse fim, fechadas a chave, ficando esta em poder dos operadores, que por seu turno cercavam o mdium. em tais condies que numerosas materializaes de fantasmas se produziram.

Em suma, as imposturas quase nunca deixaram de ser desmascaradas e muitos dos fenmenos jamais foram imitados pela razo de que escapam a toda e qualquer possibilidade de imitao.

Os fenmenos espritas tm sido observados, verificados, fiscalizados por sbios cpticos, que ho percorrido todos os graus da incredulidade e cujo convencimento s pouco a pouco se operou, sob a presso contnua dos fatos.

Esses sbios eram homens de gabinete, fsicos e qumicos experimentados, mdicos e magistrados. Tinham todos os requisitos, toda a competncia necessria para desmascarar as mais hbeis fraudes e desfazer as tramas mais bem urdidas. Seus nomes figuram entre os que a Humanidade inteira respeita e venera. Ao lado de tantos homens ilustres, todos os que se tm dado a um estudo paciente, consciencioso e perseverante dos fenmenos espritas lhes afirmam a realidade, enquanto que a crtica e a negao vm de pessoas cuja opinio, baseada em noes insuficientes, no pode deixar de ser superficial.

A algumas delas sucedeu j o que costuma suceder aos observadores inconstantes. No obtiveram mais do que resultados insignificantes, no raro at negativos e, em conseqncia, se tornaram ainda mais cpticos. No quiseram levar em conta uma clusula essencial: que o fenmeno esprita est sujeito a condies que cumpre sejam conhecidas e observadas. Muito depressa se lhes cansou a pacincia. As provas que exigem no podem ser obtidas em poucos dias. Os sbios que formularam concluses afirmativas e cujos nomes j muitas vezes declinamos, estudaram a questo durante anos e anos. No se contentaram com o assistir a algumas sesses mais ou menos bem dirigidas e com o auxlio de bons mdiuns. Deram-se ao trabalho de pesquisar os fatos, de os classificar e analisar; desceram ao fundo das coisas. O bom xito, por isso, lhes coroou a perseverana e o mtodo de investigao que puseram em prtica se pode apontar como exemplo a todos os investigadores srios.

Entre as teorias engendradas para explicar os fenmenos espritas, a da alucinao ocupa sempre lugar saliente. Perdem, porm, toda a sua razo de ser diante das fotografias de Espritos obtidas por Aksakof, Crookes, Volpi, Ochorowicz, W. Stead e tantos outros. No se fotografam alucinaes!

Os Invisveis impressionam no s as chapas fotogrficas, mas tambm instrumentos de preciso, como os registradores Marey; suspendem, decompem e compem objetos materiais; deixam marcas na parafina quente. Tudo isso so outras tantas provas contra a teoria da alucinao, quer individual, quer coletiva.

Alguns crticos vem nos fenmenos espritas vulgaridade, grosseria, trivialidade e os consideram ridculos. Essas apreciaes demonstram a incompetncia de tais crticos. As manifestaes no podem ser diversas do que seriam se fossem produzidas pelo mesmo Esprito, quando em vida na Terra. A morte no nos muda e, no Alm, somos apenas o que nos tornamos neste mundo. Da a inferioridade de tantos seres desencarnados.

Por outro lado, as manifestaes triviais e grosseiras tm sua utilidade: so as que melhor revelam a identidade do Esprito. Graas a elas, grande nmero de experimentadores se convenceram da realidade da sobrevivncia e foram levados a pouco e pouco a observar, a estudar fenmenos de ordem mais elevada, por isso que, como temos visto, os fatos se encadeiam e se ligam numa ordem graduada, em virtude de um plano que parece indicar a ao de uma potncia, de uma vontade superior, que procura arrancar a Humanidade da indiferena e impeli-la indagao e ao estudo de seus destinos. Os fenmenos fsicos mesas falantes, casas assombradas, eram necessrios para atrair a ateno dos homens, mas neles no se deve ver mais do que meios preliminares, um encaminhamento para domnios mais elevados do saber.

Em cada sculo, a Histria retifica seus juzos. O que parecia grande se amesquinha, o que parecia pequeno se engrandece. J hoje se comea a compreender que o Espiritismo um dos mais considerveis acontecimentos dos tempos modernos, uma das mais notveis formas da evoluo do pensamento, o grmen de uma das maiores revolues morais de quantas o mundo haja conhecido.

Pelo que respeita ao estudo das manifestaes psquicas, os espritas sabem que se acham em boa companhia. Os nomes ilustres de Russel Wallace, de Crookes, de Robert Hare, de Wagner, de Flammarion, de Myers, de Lombroso so citados. Vem-se tambm sbios como o professor Barlett, Hyslop, Morselli, Botazzi, William James, Lodge, Richet, o coronel de Rochas e outros, que no consideram esses estudos indignos da sua ateno. Que pensar, depois disso, das pechas de ridculo e de loucura? Que provam elas seno uma coisa contristadora: que o reino da rotina cega persiste em muitos meios?

O homem propende muitas vezes a julgar os fatos segundo o horizonte acanhado de seus preconceitos e conhecimentos. Cumpre-lhe levantar mais, dirigir mais longe o seu olhar e medir a sua fraqueza em face do universo. Desse modo aprender a ser modesto, a nada rejeitar nem condenar sem exame.

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Tem-se procurado explicar todos os fenmenos do Espiritismo pela sugesto e pela dupla personalidade. Nas experincias, dizem, o mdium se sugestiona a si mesmo, ou, melhor, sofre a influncia dos assistentes.

A sugesto mental, que no mais do que a transmisso do pensamento, malgrado as dificuldades que apresenta, se pode compreender e estabelecer entre dois crebros organizados, por exemplo, entre o magnetizador e o magnetizando. Poder-se-, porm, acreditar que a sugesto atue sobre mesas? Pode-se admitir que objetos inanimados se mostrem aptos a receber e reproduzir as impresses dos assistentes?

No haveria meio de explicar-se por essa teoria os casos de identidade, as revelaes de fatos, de datas, ignorados do mdium e dos assistentes, que se produzem freqentemente nas experincias, e menos ainda manifestaes contrrias vontade de todos os espectadores. Muitas vezes, particularidades absolutamente desconhecidas de todo o ser vivo na Terra so reveladas por mdiuns e depois verificadas e reconhecidas verdadeiras. Notveis exemplos se encontram na obra de Aksakof: Animismo e Espiritismo e na de Russel Wallace: Moderno Espiritualismo, assim como casos de mediunidade comprovados em crianas de pouca idade, os quais, tanto quanto os precedentes, no poderiam ser explicados pela sugesto.

Segundo os Srs. Pierre Janet e Ferr e essa uma explicao de que amide se servem os adversrios do Espiritismo , deve-se equiparar um mdium psicgrafo a um hipnotizado, a quem se sugere uma personalidade durante o sono e que, ao despertar, perde a lembrana da sugesto. O sensitivo escreve inconscientemente uma carta, uma narrao relativa personagem imaginria. esta, dizem, a origem de todas as mensagens espritas.

Todos os que possuem alguma experincia do Espiritismo sabem que semelhante explicao inadmissvel. Os mdiuns, escrevendo automaticamente, no so de antemo imersos no sono hipntico. , em geral, despertos, na plenitude de suas faculdades e do seu eu consciente, que eles escrevem sob a impulso dos Espritos. Nas experimentaes do Sr. Janet, h sempre um hipnotizador em ligao magntica com o paciente. No se d o mesmo nas sesses espritas: nem o evocador, nem os assistentes atuam sobre o mdium; este ignora absolutamente o carter do Esprito que se vai manifestar. Muitas vezes at as questes so propostas aos Espritos por incrdulos, mais propensos a combater a manifestao do que a facilit-la.

O fenmeno da comunicao grfica no consiste unicamente no carter automtico da escrita, mas sobretudo nas provas inteligentes, nas identidades que fornece. Ora, as experincias do Sr. Janet nada produzem que com isso se parea. As comunicaes sugeridas aos pacientes hipnotizados so sempre de uma banalidade desesperadora, enquanto que as mensagens dos Espritos nos trazem de contnuo indicaes, revelaes que entendem com as vidas presentes e passadas de seres que conhecemos na Terra, que foram nossos amigos ou parentes, particularidades ignoradas do mdium e cujo carter de certeza as distingue em absoluto dos trabalhos de hipnotismo.

Por meio da sugesto hipntica ningum conseguir que analfabetos escrevam, nem que um mvel dite poesias como as que recebeu o Sr. Jaubert, presidente do Tribunal de Carcassonne, e foram premiadas nos jogos florais de Toulouse. Tampouco, por aquele meio, se conseguir suscitar o aparecimento de mos, de formas humanas, e menos ainda os escritos de que se cobrem as lousas trazidas por observadores, que no as largam um instante.

Convm lembrar que a Doutrina dos Espritos se constituiu com o auxlio de numerosas mensagens obtidas por mdiuns escreventes, dos quais eram totalmente desconhecidos os ensinos transmitidos. Quase todos haviam sido criados desde pequeninos na doutrina da Igreja, na crena de um paraso e de um inferno. Suas convices religiosas, as noes que tinham da vida futura estavam em flagrante oposio com os princpios expostos pelos Espritos. Falecia-lhes qualquer idia da reencarnao, ou das vidas sucessivas da alma, assim como da verdadeira situao do Esprito aps a morte, assuntos todos esses constantes das mensagens recebidas. A temos uma objeo irrefutvel teoria da sugesto.

evidente que, no enorme acervo de fatos espritas atualmente registrados, muitos so fracos, pouco concludentes; outros podem ser explicados pela sugesto ou pela exteriorizao do sensitivo. Em certos grupos espritas h extrema facilidade em aceitar-se tudo como proveniente dos Espritos, sem a cautela de pr de parte fenmenos duvidosos. Mas, por grande que seja o nmero destes, resta sempre um conjunto imponente de manifestaes inexplicveis pela sugesto, pelo inconsciente, pela alucinao, ou por outras teorias anlogas.

Os crticos procedem sempre do mesmo modo com o Espiritismo. Consideram to-somente um gnero especial de fenmenos e, de intento, afastam da discusso tudo que no logram compreender nem refutar. Desde que julgam estar de posse da explicao de alguns fatos isolados, apressam-se em concluir pelo absurdo do conjunto. Ora, quase sempre, as explicaes que do so inexatas e deixam de lado as provas mais frisantes da existncia dos Espritos e da sua interveno nas coisas humanas.

Os professores Taine, Flournoy, os doutores Binet e Grasset e outros aventaram as teorias da dupla conscincia e da alterao da personalidade, para explicarem os fenmenos da escrita e da incorporao; mas os sistemas que preconizam no se conformam com os fatos de escrita em lnguas estrangeiras ignoradas do mdium, tal como sucedeu com a filha do grande juiz Edmonds (ver O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. VII). No se conformam igualmente com os autgrafos obtidos de alguns defuntos, nem ainda com os fenmenos de escrita produzidos por analfabetos.

Nenhuma daquelas hipteses explica os fatos de escrita direta, conseguida pelo Sr. de Guldenstubbe, sem contacto, em folhas de papel no preparadas, como tambm no explica a experincia relatada por Sir W. Crookes, na qual a mo de um Esprito, materializada, desceu do forro, s suas vistas, no seu prprio gabinete de trabalho, enquanto ele mantinha seguras as duas mos da mdium Kate Fox.

Em todas essas teorias quase constantemente se confunde o subconsciente, ou o subliminal, quer com o duplo fludico, que no um ser mas um organismo, quer com o Esprito preposto guarda da alma encarnada neste mundo.

O pastor Benezech, que os fatos converteram ao Espiritismo, demonstrou excelentemente tudo que h de arbitrrio e de inverossmil nessas pretensas explicaes cientficas. Num livro recente escreveu ele a esse respeito:

A mesa revelava uma coisa que material, absoluta e incontestavelmente nos era impossvel saber. Algum a conhecia em nosso lugar, pois que no-la dizia. A memria latente no teve possibilidade de intervir e, se s o subconsciente esteve em ao, que poder no o seu! Ele existe em ns, uma parte de nosso prprio ser, por capricho da Natureza que equivale, quando refletimos nisso, aos mais inverossmeis prodgios: pensa, concebe projetos, executa-os, tudo nossa revelia, e em seguida nos diz o que realizou, no quando nos achamos adormecidos e a sonhar, mas perfeitamente acordados e espera do que se vai dar.

Os amadores do fantstico tm com que se regalar.

No seu ltimo livro, Sir Oliver Lodge refere, nestes termos, um fato que nenhuma das teorias to caras aos adversrios do Espiritismo pode explicar:

O texto seguinte obteve-o o Sr. Stainton Moses, quando, em sesso na biblioteca do Dr. Speer, conversava, por intermdio de sua mo, que escrevia automaticamente, com diversos interlocutores invisveis:

S. M.Podeis ler?

Resp.No, amigo, no posso, mas Zacarias Gray, assim como Rector, podem faz-lo.

S. M.Algum desses Espritos est aqui?

Resp.Vou buscar um imediatamente. Vou mandar... Rector a est.

S. M.Perguntei se podeis ler. verdade? Podeis ler um livro?

Resp.(A caligrafia muda.) Sim, amigo, mas dificilmente.

S. M.Queira ter a bondade de escrever a ltima linha do Primeiro Livro de Eneida.

Resp.Espere... Omnibus errantem terris et fluctibus stas. (Era isso, exatamente.)

S. M.Est bem. Mas possvel que eu o soubesse. Podeis ir biblioteca, tomar o penltimo volume da segunda prateleira e ler-me o ltimo pargrafo da pg. 94? No sei qual o livro e lhe ignoro at o ttulo.

(Depois de pequeno lapso de tempo, obteve-se o seguinte, por meio da escrita automtica):Provarei por uma breve narrativa histrica ser o papado uma novidade que, gradualmente, se formou e cresceu desde os tempos primitivos do Cristianismo puro, no s desde a era apostlica, porm mesmo desde a lamentvel unio da Igreja e do Estado por Constantino.

O volume em questo se verificou ser o de uma obra extravagante que tinha por ttulo: Rodgers Antipopopriestian, an attempt to liberate and purify Christianity from Popery, Politikirkality and Priestrule.

O extrato dado acima estava fiel, com exceo da palavra narrative, que substitura o termo account.

S. M.Como que fui indicar um trecho to a propsito?

Resp.No sei, meu amigo, efeito de coincidncia. A palavra foi trocada por erro. Percebi-o quando j o tinha cometido e no quis corrigi-lo.

S. M.Como ledes? Escreveis mais devagar, por pedaos e aos arrancos.

Resp.Escrevia aquilo de que me lembrava e ia, em seguida, ler para diante. preciso fazer um esforo especial para ler. Isto nenhuma utilidade apresenta seno como prova. Tinha razo o vosso amigo ontem noite; podemos ler, mas s quando so favorveis as condies. Vamos ler mais uma vez, escreveremos e depois vos indicaremos o livro: Pope o ltimo grande escritor dessa escola de poesia, a poesia da inteligncia, ou antes, da inteligncia casada com a imaginao. Esse trecho se acha realmente escrito. Procurai no undcimo volume da mesma prateleira.

(Apanhei um livro intitulado: Poesia, Romance e Retrica.)

Ele vai abrir-se na pgina desejada. Tomai, lede e reconhecei o nosso poder e a permisso que nos concede Deus, grande e bom, de vos mostrarmos a ao que temos sobre a matria. Glria a Ele. Amm.

(O livro, aberto na pg. 145, mostrou que a citao fora absolutamente verdadeira. Eu nunca passara antes os olhos pelo volume; fora de dvida, pois, que nenhuma idia tinha acerca do que nele estava escrito. (S. M.)

Estes volumes pertenciam biblioteca do Dr. Speer. (O. L.)

Nas ltimas pginas do mesmo livro, concluindo, escreveu Oliver Lodge, depois de haver narrado inmeros fatos:

Verificamos que amigos defuntos, alguns dos quais nos eram muito conhecidos e tiveram parte ativa nos trabalhos da Sociedade quando vivos, especialmente Gurney, Myers e Hodgson, constantemente procuram comunicar-se conosco na inteno bem clara de pacientemente provarem suas identidades e de nos darem correspondncias cruzadas por diferentes mdiuns. Verificamos tambm que eles respondem a perguntas especiosas, de um modo que caracterstico de suas conhecidas personalidades, dando testemunho de conhecimentos que lhes eram peculiares.

Os teoristas do subconsciente fazem deste um ser dotado de transcendentes faculdades intelectuais. Que h ento de extraordinrio que certas manifestaes do esprito paream ser assim por eles explicadas? Mas, ao passo que a teoria esprita clara, precisa e se adapta perfeitamente natureza dos fenmenos, a hiptese da subconscincia se mostra vaga e confusa.

Diante dos fatos que acabamos de assinalar, lcito perguntar-se em virtude de que acordo universal os inconscientes sepultados no homem, ignorando-se uns aos outros e ignorando-se a si mesmos, so unnimes, no curso das manifestaes ocultas, em se dizerem Espritos dos mortos? Como poderiam conhecer e comunicar mincias sobre a identidade dos mesmos mortos?

o que temos logrado comprovar nas inmeras experincias em que temos tomado parte, durante mais de trinta anos, em diversos pontos do globo, na Frana e no estrangeiro. Jamais os seres invisveis se nos apresentaram como sendo os inconscientes ou os eu superiores dos mdiuns e das outras pessoas presentes. Sempre se anunciaram como personalidades diferentes, no gozo pleno de suas conscincias, com individualidades livres, que viveram na Terra, conhecidos dos assistentes, na maioria dos casos com todos os caracteres do ser humano, suas qualidades e seus defeitos, e, freqentemente, forneciam provas de sua prpria identidade.

O que h de mais notvel em tudo isto, parece-nos, a engenhosidade, a fecundidade de certos pensadores, a habilidade que denotam em arquitetar teorias fantasistas, com o fim de fugirem a realidades que lhes desagradam e os embaraam.

Sem dvida, no previram todas as conseqncias de seus sistemas, fecharam os olhos aos resultados que deles se pode esperar. Sem a