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Centro Espírita Léon Denis 24 o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos A Reencarnação e o Homem de Bem Patrono: Allan Kardec Rio de Janeiro, 3, 4 e 5 de fevereiro de 2008.

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Centro Espírita Léon Denis

24o Encontro Espíritasobre

O Livro dos EspíritosA Reencarnação e o Homem de Bem

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Rio de Janeiro, 3, 4 e 5 de fevereiro de 2008.

Sumário

Tema 1: A Encarnação do Homem de Bem .................................................................3

Tema 2: Tornar-se Homem de Bem...........................................................................11

Tema 3: Atitudes Que Dificultam Tornar-se Homem de Bem ....................................21

Tema 4: Características do Homem de Bem Durante a Encarnação........................29

Tema 5: A Contribuição da Doutrina Espírita na Constituição do Homem de Bem ...37

Tema 6: O Centro Espírita Forma o Homem de Bem?...............................................43

Referências Bibliográficas..........................................................................................47

Tema 1. a encarnação do Homem de Bem

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Paulo (2 Timóteo, IV:7)

Ao iniciarmos nosso estudo, é preciso que paremos para pensar:

A Terra é um mundo destinado a encarnação de espíritos que possam ser caracterizados como Homens de Bem?

Você poderia citar algum espírito que você conhece ou conheceu que possa ser caracterizado dessa forma?

E no seu cotidiano, você convive com uma ou mais pessoas que possam ser assim identificadas?

Você se considera um Homem de Bem? Que esforços você tem realizado para tornar-se um?

Que características são necessárias para que alguém o seja?Você acredita que possa, ao término desta encarnação, atingir essa qualificação?

Vejamos o que diz a Doutrina Espírita sobre as características do Homem de Bem.

1. caracTerísTicas

Encontramos duas passagens que definem quem é o Homem de Bem. A primeira encontra-se em O Livro dos Espíritos, na nota de Kardec à questão 918 e a segunda em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item �. Nas duas passagens, há uma extensa lista de virtudes, englobando todos os aspectos possíveis da vida moral. Ser um Homem de Bem, por-tanto, significa possuir todas as virtudes possíveis e conhecidas por nós. A definição, assim, nos remete à idéia de perfeição, já que, ao término da passagem contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, é possível afirmar que são virtudes como:

• Cumprir a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza;• Interroga e a consciência sobre seus atos;

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• Depositar fé em Deus;• Ter fé no futuro;• Aceitar, sem murmurar, as provas e expiações;• Fazer o bem pelo bem, sem esperar paga alguma;• Cuidar dos interesses dos outros, antes de pensar no seu próprio;• Não fazer nenhuma distinção entre as pessoas;• Ser indulgente com a fraqueza alheia;• Atenuar, tanto quanto possível, o mal praticado por outras pessoas;• Usar, mas não abusar, dos bens que lhe são concedidos;

Após essas e outras virtudes, ainda encontramos:

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o Homem de Bem. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII: �)

Na questão 918 ainda encontramos:

O espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da Lei de Deus (...)

Com essas passagens, fica implícito que o conjunto de virtudes do Homem de Bem não são possíveis de serem totalmente discriminadas e que estão em um patamar de conquistas, ainda distante de nossas experiências. Essas características se afiguram, para todos nós, como um ideal a ser perseguido, uma meta a ser alcançada no futuro.

Aqueles que já conseguem que todos os atos de suas vidas sejam uma expressão da Lei de Deus, e, portanto, realizam todas as virtudes enumeradas, como características do Homem de Bem, já consolidaram o seu progresso espiritual.

Entretanto, estas conquistas foram o resultado de um processo:

894. Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que tenham que vencer qualquer sentimento contrário; terão tanto mérito quanto aquelas que precisam lutar contra sua pró-pria natureza e a vencem?

“Aqueles que não precisam, absolutamente, lutar, já realizaram em si o progresso: outrora lutaram e triunfaram. É por isso que os bons sentimentos não lhes custam esforço algum e suas ações lhes parecem muito simples: o bem tornou-se para eles um hábito. Deve-se, por-tanto, honrá-los como velhos guerreiros que conquistaram seus postos.

No Homem de Bem, o bem já se tornou um hábito, um automatismo moral, fruto de lutas anteriores vencidas, por isso, conseguem fazê-lo espontaneamente.

Assim, não é de causar surpresa que os espíritos, na Codificação, tenham afirmado que:

Mas, aquele que se esforce por possuir as [virtudes] que acabamos de mencionar, no cami-nho se acha que a todas as demais conduz. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII: �)

O processo de conquistas espirituais é cumulativo, visto que o espírito não pode degenerar (O Livro dos Espíritos. 19�). As qualidades (virtudes e imperfeições) que possuímos são o resultado

2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

de conquistas, sempre progressivas, que os espíritos realizam em suas jornadas evolutivas. O que, para nós é hoje uma dificuldade, amanha será uma conquista, uma realização. Somos hoje o que nos tornarmos, a partir das nossas experiências pregressas e atuais. A forma como lidamos hoje com as situações da vida são o ponto de partida e o fundamento daquilo que seremos amanhã.

Por isso, na medida em que nos colocamos no caminho de alcançar uma virtude, nos torna-mos mais propensos a conseguir uma segunda e assim sucessivamente. O esforço realizado e a vitória obtida são a porta aberta para as demais.

Vale lembrar que há virtude sempre que:

893. (...) há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal pelo bem do seu próximo, sem segunda intenção; a mais meritória é a que está baseada na caridade mais desinteressada.

Quando se estabelece, voluntariamente, resistência a um mau pendor, pode parecer que o in-divíduo está modificando um ponto isolado da sua alma ou do seu caráter. Entretanto, como foi dito, aquela transformação afeta outras áreas do seu ser, habilitando-o para outras realizações. Ele mobiliza sua vontade e o seu desejo de ser melhor. Se já conseguimos sacrificar nosso in-teresse pessoal em uma situação ou circunstância, mais próximos estamos de realizar o mesmo em outras, e assim sucessivamente...

Sabemos que nossa destinação é a perfeição, embora esta finalidade se nos apresente como uma realidade distante, quase utópica. Ser verdadeiramente cristãos é ainda difícil para todos nós, embora tenhamos a Doutrina Espírita como fonte de esclarecimentos e na ajuda espiritual o suporte para nossas dificuldades.

O ponto está nos esforços que devemos fazer para sair de nossa condição de inferioridade, tornando o bem um hábito para nós, sacrificando nosso interesse pessoal e agindo desin-teressadamente.

Assim, nos perguntamos:

Será, realmente, possível sairmos de nossa condição inferior para chegarmos à perfeição?

Se a jornada é evolutiva, ou seja, progressiva e cumulativa, que esforços devemos fazer agora para darmos um passo decisivo, já nesta encarnação?

O que significa deixarmos para trás nossa inferioridade e nos tornarmos um Homem de Bem?

Para responder a estas perguntas, vejamos as questões abaixo:

Int. (VI). Assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.

361a) — Seguir-se-á daí que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem vicioso a de um Espírito mau?

“Sim, mas, dize antes que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito imperfeito, pois, do contrá-rio, poderias fazer crer na existência de Espíritos sempre maus, a que chamais demônios.” (grifo nosso)

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A caracterização do Homem de Bem, como um “bom espírito” abre um outro conjunto de considerações para nossa análise. Diferente de ser caracterizado como um espírito puro ou per-feito. Ele, na Codificação, ganha um estatuto moral mais próximo a nós, pois encontra-se em um patamar superior de elevação, porém sem poder ser considerado como um espírito perfeito.

Se o conjunto de virtudes elencadas para qualificar o Homem de Bem nos remete à idéia de perfeição, porque, na codificação, ele é caracterizado como um Bom Espírito e não como um Espírito Perfeito?

Como a Doutrina Espírita caracteriza os bons espíritos?

2. os Bons espíriTos

Na codificação encontramos a Escala Espírita que distingue os espíritos em três grandes grupos:

1o. Os espíritos imperfeitos: Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são conseqüentes.

Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem. (Q. 101). (grifo nosso)

2o. Os bons espíritos: Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e seu poder para fazer o bem estão na razão do grau que atingiram: uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades mo-rais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, con-forme sua categoria, os traços da existência corporal, quer na forma da linguagem, quer nos seus hábitos onde se encontram até algumas de suas manias; de outro modo, seriam Espíritos perfeitos. (...) todos, porém, têm ainda provas a suportar, até que tenham atingido a perfeição absoluta. (...) A esta ordem pertencem os espíritos designados, nas crenças populares, como bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos tempos de superstição e ignorância, tomaram-nos por divindades benfazejas.

Compreendem Deus e o infinito e já gozam da felicidade dos bons (Q. 107) (grifo nosso)

�o. Espíritos Puros: Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos espíritos das outras ordens. (Q. 112).

Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam, para a manuten-ção da harmonia universal. (Q. 11�). (grifo nosso)

Vemos assim, que a escala espírita obedece ao princípio evolutivo e de progressos cumulati-vos. Assim, a progressão dos espíritos está baseada em três parâmetros:

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Hierarquia dos Espíritos

Influência da Matéria Progresso Moral Entendimento de

Deus

Espírito Imperfeito Predominância da Matéira Propensão ao Mal Tem a intuição de

Deus

Bom Espírito Predominância do Espírito Desejo do Bem Compreendem a

Deus

Puros Nenhuma Influência da Matéria

Superioridade Moral e Intelectual

Absolutas

Mensageiros e Ministros de Deus

A Terra serve de morada para os grupos de espíritos que aqui encarnam como:

Lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e ár-duo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, III: 1�)

Pelas características acima elencadas, pode-se perceber que os espíritos que habitam a Terra não podem ser ainda caracterizados como bons espíritos ou homens de bem.

Deixar de encarnar na Terra é uma libertação do espírito, em relação ao mal que ainda nele habita e às suas paixões e à sua ignorância, à necessidade de expiação e reparação do passado.

175. Haverá uma vantagem em voltar a habitar a Terra?“Nenhuma vantagem particular, a menos que aí se esteja em missão; neste caso, progride-

se, aí, como em qualquer outro lugar.”

É por isso que percebemos um claro contraste entre a condição moral de um espírito que já pode ser caracterizado como homem de bem e a população encarnada na Terra:

894. Como ainda estais distante da perfeição, estes exemplos [dos bons espíritos] vos es-pantam, pelo contraste, e vos admirais tanto mais, quanto mais raros eles são. (grifo nosso)

Como vimos, os bons espíritos ainda têm que passar por provas e necessitam terminar de depurarem-se até atingir a perfeição. Mas a possibilidade de saída do estado de inferioridade é uma recompensa para o espírito.

É-lhes uma recompensa ascenderem a um mundo de ordem mais elevada, como é um cas-tigo o prolongarem a sua permanência em um mundo desgraçado, ou serem relegados para outro ainda mais infeliz do que aquele a que se vêem impedidos de voltar quando se obstina-ram no mal. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, IV; ver Q. 17�)

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Quais as recompensas da ascensão dos espíritos?

as recompensas da ascensão espiriTual

1. Quanto à Influência da Matéria

A alma penitente encontra neles (nos mundos mais adiantados que a Terra) a calma e o repouso e acaba por depurar-se. Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca.

O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungen-tes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o ho-mem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, III: 17; grifo nosso)

2. Quanto ao Progresso Moral

894. Ficai sabendo que, nos mundos mais adiantados que o vosso, o que entre vós é uma exceção, constitui a regra. Neles o sentimento do bem é, por toda a parte, espontâneo, porque são habitados somente por bons Espíritos, e uma única má intenção seria uma exce-ção monstruosa. Eis por que, neles, os homens são felizes; (grifo nosso)

�. Quanto à Compreensão de Deus

Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita eqüidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis. (O Evan-gelho Segundo o Espiritismo, III: 17)

Dess a forma, parece claro, que os bons espíritos, ao encarnarem na Terra, o fazem no cumpri-mento de missões que, ao mesmo tempo em que essas servem de base para o progresso do espíri-to, são também fonte de adiantamento para as coletividades onde eles estarão encarnados.

132. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, me cada mundo, toma o Espírito um ins-trumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir,daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para obra geral, ele próprio se adianta.

Entretanto, ao tornar-se um bom espírito, ele se habilita a habitar em mundos mais adianta-dos, onde poderá, com mais tranqüilidade, dar continuidade ao seu processo evolutivo.

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Mas para alçar a estes mundos, as conquistas espirituais devem ser verdadeiras e não aparentes. Não basta ser considerado, no meio social em que se vive um Homem de Bem. É preciso que o seja ante a Lei de Deus.

895. Um homem pode possuir qualidades reais que fazem dele um homem de bem, segundo o mundo; essas qualidades, porém, embora constituam um progresso, nem sempre suportam certas provas e, algumas vezes, basta que se toque a corda do interesse pessoal para colocar o fundo a des-coberto. O verdadeiro desinteresse é mesmo uma coisa tão rara na Terra que, quando ele se apresenta, admiram-no como se fosse um fenômeno.

“O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo, menos compreende o seu destino; pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado.”

Nesta passagem, a respostas dos espíritos relaciona “interesse” e “apego às coisas materiais”, como se ambos fossem sinônimos. Recordemos que na Q. 89�, uma das características da ação vir-tuosa está no sacrifício do interesse pessoal. Assim, todo interesse que, ao fim e ao cabo, está vincu-lado ao “apego às coisas materiais”, constitui um sinal notório de inferioridade. O que não significa que o interesse, por si só, seja um mal. Quando a atenção está voltada para o bem do próximo, o interesse não pode ser caracterizado como um mal. Como já foi visto é o apego às coisas materiais, ou a predominância da matéria sobre o espírito, que marca de inferioridade do espírito.

Além das três características já assinaladas, duas outras demarcam o progresso dos espíritos:

918. Através de que sinais, pode-se reconhecer, no homem, o progresso real que deve ele-var seu Espírito, na hierarquia espírita?

“O Espírito prova sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando compreende, antecipadamente, a vida espiritual.”

Além de conseguir, mais perfeitamente praticar a Lei de Deus, o bom espírito / Homem de

Bem, quando encarnado, compreende melhor a vida espiritual. Esta característica já havia sido assinalada na questão 895, quando os espíritos afirmam que “pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro”.

Vemos que há uma relação de oposição entre o “apego às coisas materiais” e a “compreensão da vida espiritual”. Então nos perguntamos:

Como a compreensão da vida futura pode nos ajudar a nos transformarmos em Homens de Bem?

Como operar esta transformação em nós mesmos?

O que exatamente tem significado, para cada um de nós, o contato com a matéria?

Porque a influência da matéria é uma prova tão difícil para todos nós?

Que recursos nós temos a nosso dispor para vencer?

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Tema 2. Tornar-se Homem de Bem

“Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Jesus (João, XVI: ��)

Podemos nos tornar Homens de Bem? Vejamos a questão abaixo:

194 a) — A alma de um homem perverso pode se tornar a de um homem de bem? “Sim, se ele se arrependeu e, então, isto é uma recompensa.” (grifo nosso)

Do que é que precisamos nos arrepender para nos tornarmos Homens de Bem? Temos sidos perversos em nossas vidas?

Devemos nos lembrar que os espíritos afirmam:

Esses espíritos [que habitam os mundos expiatórios] têm aí que lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, III: 1�). (grifo nosso)

Assim, temos sido caracterizados por “perversos”. Mas o que significa ser “perverso”?

Perverter: tornar mau; corromper; depravar; alterar; transtornar; desvirtuar; desmoralizar-se (Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa – Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira)

Nossa condição de rebeldia frente à Lei de Deus é que nos faz perverter as coisas, alterando-as, desvirtuando-as, depravando, corrompendo e, enfim, agindo no mal. É por este comporta-mento que encarnamos em um mundo onde somos caracterizados por doentes da alma e onde teremos que viver com outras almas, iguais a nossa (em condição moral) para aprendermos uns com os outros (“com a perversidade dos homens”).

Segundo os espíritos é possível que uma pessoa perversa, ou seja, que tenha escolhido o caminho do mal, que se desmoralizou, ou que se corrompeu, se torne Homem de Bem. Sendo assim,

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Centro Espírita Léon Denis

porque somos ainda caracterizados por este qualificativo?

Será que necessitamos nos arrepender?

Mas arrepender do que?

Muitos de nós têm buscado vivenciar experiências, cumprindo obrigações e fazendo o me-lhor que podem em cada uma delas. Assim, vejamos primeiro o que significa o arrependimento no espiritismo:

1. arrependimenTo

Temos uma visão de uma sucessão de acontecimentos, que comportam:

fALtA / ERRO -> ExPIAçãO / ARREPEnDIMEntO -> REPARAçãO

Nesta perspectiva, para cada falta ou erro por nós cometidos, teríamos um processo necessá-rio de dor e sofrimento (expiação), que nos levaria ao arrependimento, abrindo as portas para a reparação, reabilitando-nos, assim, com a Lei.

Entretanto, a vida (o comportamento humano) não obedece a esta linearidade, visto que, mesmo passando pela dor e pelo arrependimento, voltamos a cometer os mesmos enganos e os mesmos erros do passado.

996. Pode também acontecer que, depois de se haver arrependido, o Espírito se deixe ar-rastar de novo para o caminho do mal, por outros Espíritos ainda mais atrasados.”

Além disso, a vida é constituída de muitos atos pequenos, por uma sucessão de ações, pen-samentos e vontades. Assim, nem sempre nos damos conta do mal que fizemos ou desejamos, ou do erro em que incorremos. Vivenciamos pequenos sofrimentos e contrariedades, sem con-seguirmos identificar, claramente, a origem destes males.

Isto se dá porque nossa encarnação (expiatória) não está ligada a apenas um ato praticado no passado. Nossa perversidade e rebeldia não estão referidas em um ponto específico ou a uma única característica da nossa alma, embora possamos ter situações específicas do passado a serem resolvidas. Ao contrário, nossa reencarnação, como um todo, obedece a um processo expiatório:

167. Qual é o objetivo da reencarnação? “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade; sem isto, onde estaria a justiça?”

(grifo nosso)

171. Em que está fundamentado o dogma da reencarnação? “Na justiça de Deus e na revelação, pois vos repetimos incessantemente: Um bom pai dei-

xa sempre aos seus filhos uma porta aberta para o arrependimento. A razão não te diz que seria injustiça privar, para sempre, da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorar-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os homens egoístas encon-tram-se a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.” (grifo nosso)

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

O reencarne em um mundo de provas e expiações é o resultado do arrependimento (ou na sua possibilidade) do espírito. Assim, ele retorna ao mundo corporal para refazer a sua vida como um todo, reparando o seu passado.

Entretanto, não nos damos conta de que a reparação do passado só será verdadeiramente meritória se atingir o espírito em duas questões:

1000. “O mal só é reparado pelo bem e a reparação não tem mérito algum, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.”

Recordemos que o Homem de Bem (ou o Bom Espírito) é aquele que, em seus atos há a predominância do espírito sobre a matéria e a propensão para o bem.

Ora, se a encarnação nos foi dada como forma de reparamos o nosso passado, abrindo as por-tas do nosso futuro para momentos de mais paz, então, não se trata de apenas fazermos o bem onde fizemos o mal, mas de privilegiarmos o bem e a vida espiritual, em todas as nossas ações (ou na maioria delas). Demanda de nós, tanto o sacrifício da nossa personalidade (ter atingido o orgulho e o nosso egoísmo (Q. 917)), quanto, subordinar a posse e uso dos bens materiais aos valores espirituais. Quando assim procedermos, estaremos nos quitando com a Lei de Deus e, ao mesmo tempo nos tornando bons espíritos.

É por isso que os espíritos afirmam que a lista de virtudes que caracteriza o Homem de Bem é impossível de ser totalmente listada (“não ficam assim listadas todas as qualidades que dis-tinguem o homem de bem” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII: �)), pois ela abrange todos os atos da vida moral. A mensagem dos espíritos aponta-nos, assim, mais do que a neces-sidade de refazer o que foi feito de errado, mas ter, cada vez mais, e crescentemente, um padrão de vida em que sejam privilegiados o bem e a vida espiritual.

Há uma passagem, muito ilustrativa desta necessidade, narrada no Evangelho de Lucas:

“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o seu coração, e de toda a

tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.

E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás” (Lucas, X: 2� a 28).

Na passagem, o Doutor da Lei já sabia o que era para ser feito, entretanto, ainda não possuía a “vida eterna”. Isto era uma decorrência do seu cotidiano, dos seus atos, pensamentos e dese-jos, que não correspondiam ao que ele já sabia sobre a Lei de Deus.

É a posse da “verdadeira vida”, ou seja, a mudança de padrão de conduta que possibilitará que o espírito, encarnado ou desencarnado, passe a viver, sem as pungentes angústias da ex-piação e sem ter a necessidade de voltar a reencarnar em mundos caracterizados por prisões ou hospitais. Aqueles que estão “presos” ou “enfermos” não vivem, de fato, a “verdadeira vida”, pois não estão completamente livres para agir (encontro passado).

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Centro Espírita Léon Denis

Como foi visto, entre as características que distinguem os espíritos imperfeitos está a influ-ência da matéria, vivenciada, no caso desses espíritos, pelo apego às coisas materiais.

895. O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo, menos compreende o seu destino.

Na questão acima, os espíritos nos dão a chave para compreensão do arrependimento: para vivermos a “verdadeira vida”, é necessário que nos desapeguemos das coisas materiais, a partir da compreensão da vida espiritual.

O que significa a influência da matéria em nossas vidas?

2. a influência da maTéria

O primeiro ponto a considerar é que, ao encarnarmos, nosso espírito encontra-se mergulhado em uma forma constituída de matéria densa (corpo). Essa nos aproxima da vida animal, desper-tando em nós, instintos e paixões afinadas com esta condição.

605. Se considerarmos todos os pontos de contato que existem entre o homem e os animais, não se poderia pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espiritual, e que, se não tivesse esta última, ele poderia viver, mas como o animal; ou melhor, que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo a menos a alma espiritual? Daí resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma dessas duas almas?

“Não, o homem não tem duas almas; o corpo, porém, tem seus instintos, que são o resultado da sensação dos órgãos. Há nele apenas uma dupla natureza: a natureza animal e a natureza espiritual; pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e de seus instintos; pela sua alma, ele participa da natureza dos Espíritos.”(grifo nosso)

O corpo é o veículo de expressão dos espíritos quando estes se encontram encarnados. Por-tanto, tomar o corpo, no processo encarnatório é um meio necessário para a espiritualização da alma e não um fim em si mesmo. Desta forma, a alma encarna, vive a vida material, para que essa contribua para a sua jornada redentora. Toda vez que tomamos o meio (vida material) pelo fim (espiritualização da alma), nos aproximamos mais da natureza animal e assim, retardamos nosso processo de espiritualização.

605a) — De modo que, além de suas próprias imperfeições de que cumpre ao Espírito despojar-se, tem ainda o homem que lutar contra a influência da matéria?

“Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. não o vedes?

Encarnando no corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas [animal e espiritual] nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação. (grifo nosso)

1�

2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Por que a libertação da influência da matéria torna-se um imperativo?

1o. Porque quanto maior a nossa ligação com a natureza animal, maior a nossa inferioridade:

605a. “Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. Não o vedes? (...)

As duas naturezas (animal e espiritual) nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a gros-seria dos apetites animais.

2o. Porque ela é o fundamento do egoísmo

917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque

deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organi-zação social, sua educação.

�o. Porque é o fundamento do interesse pessoal

895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. Freqüentemente, as qualidades morais são como, num objeto de co-bre, a douradura que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas, essas qualidades, conquanto assina-lem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fora um fenômeno.

“O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo de-sinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.”

A influência da matéria é, sem que tenhamos perfeita consciência disso, a base da nossa inferiori-dade. Ela nos faz vivenciar a experiência física com um fim em si, e não como um meio de progresso espiritual. Nossas prioridades e valores ficam subordinados aos fins da vida material e o foco de nosso esforço, resume-se aos imperativos postos pelo mundo. Além disso, organizamos a vida social de tal modo que nossas leis, nossa educação, etc., concorrem para manter nosso foco na matéria, e não no espírito. Por isso, muitas pessoas podem ser consideradas, aos olhos do mundo como Homens de Bem, mas não o serem, de fato, aos olhos de Deus.

O vivenciar das paixões grosseiras, o egoísmo e o interesse pessoal são as evidências da nossa inferioridade e da nossa incapacidade de pensar nosso futuro espiritual.

Isto não significa que a vivência dos prazeres materiais seja um mal em si.

Deus, conseguintemente, não condena os gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses em detrimento das coisas da alma. Contra tais abusos é que se premunem os que a si próprios aplicam estas palavras de Jesus: “Meu reino não é deste mundo”.

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Centro Espírita Léon Denis

Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao po-bre que perde tudo o que possui e se desespera. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

Portanto, Deus coloca prazer nas coisas materiais para que possamos cumprir nossa missão na Terra. Uma vez mais, estes prazeres são meios para nossas conquistas espirituais e não fins em si mesmos. Nossa dificuldade está em que privilegiamos os prazeres e as conquistas imedia-tas, em detrimento das recompensas futuras. A certeza do futuro nos faz ver estes três elemen-tos de forma totalmente distinta: como vicissitudes para nosso crescimento espiritual.

A certeza do futuro é, então, ponto decisivo para a libertação da influência da matéria.

Lembremos a questão de O Livro dos Espíritos:

918. Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?

“O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prá-tica da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual.” (grifo nosso)

A compreensão da vida espiritual é a base para que “os atos de sua vida corporal representem a prática da Lei de Deus”.

a compreensão da Vida espiriTual

A compreensão da vida futura (espiritual) é de grande importância para as almas encarnadas. Se-gundo a mensagem dos espíritos contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ela faz com que a vida possa ser vivenciada, tendo como parâmetro a vida espiritual e não a vida material.

O que muda quando compreendemos a vida futura? Vejamos, primeiro, como agimos quan-do nos centramos na vida material:

A falta de compreensão na vida futura acarreta:

1. Uma vivência imediatista das vicissitudes da vida:

Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II:�)

2. Falta de Compreensão sobre nossos Sofrimentos

A perda do menor deles (bens terrenos) lhe ocasiona causticante pesar; um engano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são outros tan-tos tormentos, que lhe transformam a existência numa perene angústia, infligindo-se ele, desse modo, a si próprio, verdadeira tortura de todos os instantes. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II:�)

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

�. Falta de Compreensão sobre quais são nossas verdadeiras Desgraças

(Os homens vêem a desgraça) na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no ber-ço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V: 2�)

�. Um Ponto de Vista Reduzido sobre a Vida

Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Àquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas po-sições, como os monumentos. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

Quando compreendemos a vida espiritual passamos a ter:

1. Fé no Porvir

A idéia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acar-reta enormes conseqüências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

2. Paciência ante as Vicissitudes da Vida

Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpó-rea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. (...)

Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos aten-ção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

(...) aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa impor-tância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

�. Compreensão de quais são nossas verdadeiras desgraças

[Porque] a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio cau-sa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. (...)

Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e en-contra a sua compensação na vida futura (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V: 2�).

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Centro Espírita Léon Denis

�. Entendimento da Morte como Libertação

À morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e tor-na-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

�. Um Ponto de Vista Ampliado sobre a Vida

Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas. É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a Huma-

nidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tan-tas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, II: �)

Quando buscamos no transitório os motivos da nossa felicidade, aí sim criamos motivos de infelicidade, do ponto de vista espiritual.

Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, V: 2�).

É por isso que em O Livro dos Espíritos encontramos que o meio mais eficiente de combater-se o predomínio da natureza corpórea encontra-se na prática da abnegação (Q. 912), ou seja, no desinteresse e no desprendimento.

895. “O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.”

O ponto de vista espiritual faz com que consigamos dar o devido valor às coisas materiais, desprendendo-nos do que é transitório e, possibilitando, que tenhamos ações verdadeiramente desinteressadas.

Isto não significa que aqueles que não compreendem a vida espiritual não possam agir no bem:

Pudera ter dito que a caridade é impossível sem a fé. Na verdade, impulsos generosos se vos de-pararão, mesmo entre os que nenhuma religião têm. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XI: 1�).

Entretanto, a fé no futuro é a base para:

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Essa caridade austera, que só com abnegação se pratica, com um constante sacrifício de todo interesse egoístico, somente a fé pode inspirá-la, porquanto só ela dá se possa carregar com co-ragem e perseverança a cruz da vida terrena. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XI: 1�)

Por isso é que os espíritos afirmam que a fé no futuro é uma das bases para a felicidade do es-pírito (Q. 922). Quando ela está associada à compreensão da vida futura, torna-se possível viver as experiências encarnatórias privilegiando os ganhos futuros aos imediatos, portanto, minimi-zando a influência da matéria. A compreensão da vida espiritual fornecerá o fundamento para que o espírito consiga sacrificar sua personalidade e os interesses materiais aos espirituais.

Devemos nos lembrar que a fé é:

1o. Confiança em si

(...) a confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XIX: 2)

2o. Confiança na realização de algo

(...) a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como noutro caso, pode ela dar lugar a que se executem gran-des coisas.

A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de che-gar ao objetivo visado. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XIX: �)

O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu inter-médio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XIX: �)

Quando a fé está associada à compreensão da vida espiritual, o espírito torna-se capaz de alcançar seus objetivos espirituais, libertando-se da influência da matéria, uma vez que, confia e si e confia que será capaz de vencer às suas dificuldades íntimas e às dificuldades que se apre-sentam durante sua encarnação.

Quando a fé é vacilante...

A fé vacilante sente a sua própria fraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furi-bunda e julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XIX: �)

Assim, a confiança em Deus e na vida futura são características do Homem de Bem:

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

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Centro Espírita Léon Denis

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou

expiações e as aceita sem murmurar. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII:�)

Nos perguntamos, então:

A fé no futuro e na vida espiritual têm sido a base parâmetros para nossas tomadas de decisão?

Acreditamos na Justiça e Bondade de Deus?Temos dimensionado as dificuldades por que passamos, com vistas no porvir ou no

imediatismo das perdas e ganhos que podemos ter? Temos confiança de que somos capazes de mudar nosso destino, construindo um porvir

de mais paz?

Assim, quando pensamos que nossa encarnação tem como finalidade a expiação e reparação do passado, não precisamos abandonar a idéia de que cada reparação está diretamente relacio-nada a um erro ou a um engano cometido em outras vidas.

Acrescentamos, pois, a esta perspectiva, a idéia de que nossas vidas passadas devem ser revistas como um todo. O que precisa de revisão são tanto as situações específicas de erros e enganos por nós vivenciadas, quanto o ponto de vista com que temos enfrentado todas as situa-ções da nossa existência. O erro de foco, privilegiando a matéria sobre o espírito, tem feito com que permaneçamos no círculo de inferioridade que nos caracteriza, ou seja, afeitos às paixões grosseiras, ao interesse pessoal e ao egoísmo. Terminamos tomando decisões erradas pela falta de compreensão da vida espiritual e por dirigirmos nossas vidas por valores ligados, exclusiva-mente, à posse do que é transitório e material.

Assim, permanecemos como o Doutor da Lei que pergunta a Jesus sobre o que é preciso fazer par a ter a vida eterna. Ele sabia o que era necessário. Jesus, então, lhe diz apenas: “Faze isso e viverás”.

Na questão 919 (O Livro dos Espíritos), Santo Agostinho afirma que o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal é o conhecimento de si mesmo. Por isso, iremos, nos próximos estudos, avaliar as nossas encarnações, nossas escolhas e decisões, tendo por parâmetro aqueles que, conscientes de suas tarefas na Terra, conseguiram pri-vilegiar o espírito sobre a matéria e posicionaram-se de forma clara em ações positivas no bem.

Assim como iremos avaliar as conseqüências espirituais de adiarmos ou retardarmos nosso processo de transformação moral, através do relato de espíritos que faliram em suas experiên-cias encarnatórias.

Nos perguntamos ainda:

É realmente possível vencer-se a si mesmo e nos tornarmos um homem de bem?

Como, esta transformação foi possível para outros espíritos que encarnaram na Terra?

Quando eles aqui estiveram, eles já não eram bons espíritos?

O que posso aprender com as suas experiências?

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Tema 3 aTiTudes que dificulTam Tornar-se Homem de Bem

“Que o vosso amor cresça cada vez mais no pleno conhecimento, e no pleno discernimento (...)” Paulo

1o MOMENTO: Resgatando conceitos As principais idéias trabalhadas nos temas anteriores1– sinais noTórios da imperfeição •A influencia da matéria •Orgulho, egoísmo, interesse pessoal2 – o Valor do arrependimenTo

3 – a imporTância da compreensão da Vida espiriTual

Neste tema buscaremos trabalhar estas mesmas idéias através de depoimentos extraídos da literatura espírita, de forma a podermos refletir sobre o modo pelo qual as idéias trabalhadas conceitualmente nos temas anteriores, expressam-se na vida.

Lembramos que os exemplos devem ser estudados levando-se em conta a época das vivên-cias, o contexto social, cultural dos envolvidos, e que os exemplos vividos por outras individu-alidades nos são trazidos para que possamos refletir e elegermos para nós o caminho que nos traga felicidade e consciência tranqüila.

Transcrevemos a seguir trecho do livro Memórias de um Suicidas, psicografia de Yvonne Pereira, em que o instrutor faz referência as nossas atitudes, no desconhecimento de quem so-mos, dos nossos valores reais e potenciais para que possamos realmente caminhar com seguran-ça e determinação na busca da felicidade (progresso , perfeição).

Memórias de um Suicida - “- Nenhuma tentativa para o reerguimento moral será eficiente se continuarmos presos

à ignorância de nós mesmos! Será indispensável, primeiramente, averiguarmos quem somos, donde viemos e para onde iremos, a fim de que nos convençamos do valor da nossa própria per-sonalidade e à sua elevação moral nos dediquemos, devotando a nós próprios toda a consideração

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Centro Espírita Léon Denis

e o máximo apreço. Até aqui, meus caros discípulos (ao contrário de Anibal, que nos mimo-seava com o terno tratamento de irmão, Epaminondas só nos permitia a cerimônia de um trato disciplinar), tendes caminhado cegamente, pelas etapas das migrações na terra e estágios no Astral, movimentando-vos em círculo vicioso, sem conhecimentos nem virtudes que vos induzissem a progresso satisfatório.

(Epaminondas de Vigo)

Caminhamos cegamente pelo desconhecimento de nossos potenciais, metas e objetivos e por estarmos, tanto encarnados como desencarnados repetindo comportamentos e fazendo es-colhas que não mais atendem as nossas necessidades de progresso, determinando que a re-encarnação, que tem por objetivo primeiro o aprendizado que promove o progresso, torne-se penosa(expiatória) por estarmos movimentando-nos em círculo vicioso.

Se perguntarmos a qualquer grupo de estudos quais os sinais mais caracteríscos das imper-feições da alma certamente serão listados orgulho, egoísmo, interesse pessoal sobrepondo o que é justo, predominância da matéria, etc. Os sinais de nossas imperfeições nos são conhecidos por nós em tese, mas nem sempre conseguimos ou nos ocupamos em conhecer como estas imper-feições se expressam em nosso comportamento. Quando nossas escolhas ou ações estão sendo determinadas por estes sentimentos.

As imperfeições, que determinam nosso comportamento, são as responsáveis pelos sofri-mentos que experimentamos sejam eles superlativos ou pequenos desconfortos aos quais não prestamos muita atenção, mas que nos desgostam da vida.

O Céu e o Inferno, cap. VIICódigo penal da vida futura

1o - A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza. < perfeição ou imperfeição>

10o - O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a conseqüência das suas imperfeições (...) (grifo nosso)

Se as imperfeições que ainda nos caracterizam são as responsáveis pelos sofrimentos que experimentamos, justo é que nos ocupemos em estudá-las para melhor compreendermos como se apresentam em nossas escolhas e ações.

Apresentar o depoimento e debater com o grupo as questões que têm a ver com o estudo do tema anterior.

1 – sinais noTórios da imperfeição

O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IVESPÍRITOS SOFREDORESClaire1o - Eis-me aqui, eu, a desgraçada Claire. Que queres tu que te diga? A resignação, a

esperança não passam de palavras, para os que sabem que, inumeráveis como as pedras

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

da saraivada, os sofrimentos lhe perdurarão na sucessão interminável dos séculos. Posso suavizá-los, dizes tu... Que vaga palavra! Onde encontrar coragem e esperança para tanto? Procura, pois, inteligência obtusa, compreender o que seja um dia eterno. Um dia, um ano, um século... que sei eu? se as horas o não dividem, as estações não variam; eterno e len-to como a água que o rochedo roreja, este dia execrando, maldito, pesa sobre mim como avalancha de chumbo... Eu sofro!... Em torno de mim, apenas sombras silenciosas e indife-rentes... Eu sofro! Contudo, sei que acima desta miséria reina o Deus Pai, para o qual tudo se encaminha. Quero pensar n’Ele, quero implorar-lhe misericórdia. Debato-me e vivo de rojo como o estropiado que rasteja ao longo do caminho. Não sei que poder me atrai para ti; talvez sejas a salvação. Eu te deixo mais calma, mais reanimada, qual anciã enregelada que se aquecesse a um raio de sol. Gélida, minha alma se reanima à tua aproximação.

2. - A minha desgraça aumenta dia a dia, proporcionalmente ao conhecimento da eter-nidade. Ó miséria! Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esqueci-da de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido. Que te direi a ti, que me ouves? Olha, vela constantemente, ama os outros mais que a ti mesmo, não retardes a marcha nem engordes o corpo em detrimento da alma. Vela, conforme pregava o Salvador aos seus discípulos. não me agradeças estes conselhos, porque se o meu Espírito os concebe, o coração nunca os ouviu. Qual o cão escorraçado rastejando de medo, assim me humilho eu sem conhecer ainda o voluntário amor. Muito tarda a sua divina aurora a despontar! Ora por minha alma dessecada e tão miserável!

�. - Por que me esqueces, até aqui venho procurar-te. Acreditas que preces isoladas e a simples pronúncia do meu nome bastarão ao apaziguamento das minhas penas? Não, cem vezes não. Eu urro de dor, errante, sem repouso, sem asilo, sem esperança, sentindo o agui-lhão eterno do castigo a enterrar-se-me na alma revoltada.

Quando ouço os vossos lamentos, rio-me, assim como quando vos vejo abatido. As vos-sas efêmeras misérias, as lágrimas, tormentos que o sono susta, que são? Durmo eu aqui? Quero (ouviste?) quero que, deixando as tuas lucubrações filosóficas, te ocupes de mim, além de fazeres com que outros mais também se ocupem. Não tenho expressões para definir esse tempo que se escoa, sem que as horas lhe assinalem períodos. Vejo apenas um tênue raio de esperança, foste tu que ma deste: não me abandones, pois. (grifo nosso)

Roteiro Para Debate do Depoimento.

1 – Quais imperfeições o espírito identifica como causa de seus sofrimentos? 1.1– Que comportamentos estão evidenciados pela predominância da matéria?1.2 – Quais consequências imediatas de nosso comportamento são determinadas pelo

egoísmo?

Obras Póstumas, 1ª parte – O Egoísmo e o Orgulho“O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação de personalidade leva

o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores. (...) A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.”

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Centro Espírita Léon Denis

De onde se originam orgulho e egoísmo?

“O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito de inútil. Ele não criou o mal; o homem é que o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude de seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. ... Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe outorgou para sua conservação.”

1.3 – Em Que Parte do Depoimento Podemos Identificar a Passagem Narrada em Lucas, X: 25 a 28, Intitulada “ O Grande Mandamento”?

“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o seu coração, e de toda a

tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.

E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás” (Lu, X:2� a 28)

Por que é que alguns homens muito inteligentes, o que indica acharem-se encarnados ne-les Espíritos superiores, são ao mesmo tempo profundamente viciosos?

“É que não são ainda bastante puros os Espíritos encarnados nesses homens, que, então, e por isso, cedem à influência de outros Espíritos mais imperfeitos. O Espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Duran-te um período da sua existência, ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade.”

Sabemos que o progresso intelectual precede o moral (discernimento entre o Bem e o Mal). Discernir o bem do mal é progresso intelectual. O sofrimento, o desconforto que mui-tas vezes sentimos decorre de nossa consciência que já aponta o que é justo e optamos pelos interesses imediatos e satisfação de nossos desejos.

Mesmo sofrendo este espírito mantem uma atitude de arrogância, de imposição e exigên-cia característica das almas imperfeitas.

“Por que me esqueces, até aqui venho procurar-te. Acreditas que preces isoladas e a simples pronúncia do meu nome bastarão ao apaziguamento das minhas penas? Não, cem vezes não. Eu urro de dor, errante, sem repouso, sem asilo, sem esperança, sentindo o aguilhão eterno do castigo a enterrar-se-me na alma revoltada. (grifo nosso)

1.� – Quanto a Idéia da Eternidade Das Penas

1009. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?“Aplicai-vos, por todos os meios ao vosso alcance, em combater, em aniquilar a idéia da

eternidade das penas, idéia blasfematória da justiça e da bondade de Deus, gérmen fecundo

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas humanas, desde que as inteligências começaram a desenvolver-se.

Lamennais.

1.� – O Que Entendemos por Castigo?O entedimento de castigo nos é trazida por Paulo. O Apóstolo

O Livro dos Espíritos, q. 1009 “Que é o castigo? A conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilita-ção, a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.

“Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr em paralelo, na sua eternidade, o Bem, es-sência do Criador, com o Mal, essência da criatura. Fora criar uma penalidade injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e das penas pelas transgressões e consagrareis a unidade divina, tendo unidos o sentimento e a razão.”

PAULO, apóstolo.

1.� Quanto a Duração do Castigo (Sofrimentos)

O Céu e o Inferno, cap. VIICódigo penal da vida futura

1�o - A duração do castigo(Sofrimento) depende da melhoria do Espírito culpado. Ne-nhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo de sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. Deste modo o Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem.

2 – o Valor do arrependimenTo

O Céu e o Inferno, cap. VIICódigo penal da vida futura

1�o - O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições neces-sárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

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Centro Espírita Léon Denis

O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IVESPÍRITOS SOFREDORESLisbeth1. - Quereis dar-nos algumas informações a respeito da vossa posição, assim como

da causa dos vossos sofrimentos? - R. Sede humilde de coração, submisso à vontade de Deus, paciente na provação, caridoso para com o pobre, consolador do fraco, sensível a todos os sofrimentos e não sofrereis as torturas que amargo.

2. - Pareceis sentir as falhas decorrentes de contrário procedimento... O arrependimen-to deverá dar-vos alívio? - R. Não: - O arrependimento é inútil quando apenas pro-duzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação. Ainda não posso tanto, infelizmente. Recomendai-me às preces de quantos se interessam pelos sofrimentos alheios, porque delas tenho necessidade.

O arrependimento capaz de aliviar sofrimento, cobranças de consciência, etc. é decorrente da certeza e compreensão de que agimos em desacordo com a lei de Deus e o desejo sincero de reparar as conseqüências de nossas ações. Muitas vezes reconhecemos um comportamento equivocado mas não conseguimos ainda repara as conseqüências por motivos vários, entre eles o orgulho, o medo, insegurança etc, ou seja falta-nos coragem de assumirmos nossos erros.

3 – a imporTância da compreensão da Vida espiriTual

O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IVESPÍRITOS EM CONDIÇÕES MEDIANAS

Sra. Anna BellevilleA Jovem mulher falecida aos trinta e cinco anos de idade, após cruel enfermidade. Vivaz,

espirituosa, dotada de inteligência rara, de meticuloso critério e eminentes qualidades mo-rais; esposa e mãe de família devotada, ela possuía, ao demais, uma integridade de caráter pouco comum e uma fecundidade de recursos que a trazia sempre a coberto das mais crí-ticas eventualidades da existência. ... Intimamente ligados à sua pessoa desde longos anos, pudemos acompanhar todas as fases da sua existência, bem como todas as peripécias do seu fim. Proveio de um acidente a moléstia que havia de levá-la, depois de a reter três anos de cama, presa dos mais cruéis sofrimentos, aliás suportados até ao fim com uma coragem heróica, e a despeito dos quais a graça natural do seu Espírito jamais a abandonou.

Ela acreditava firmemente na existência da alma e na vida futura, mas pouco se pre-ocupava com isso; todos os seus pensamentos se relacionavam com o presente, que muito lhe importava, posto não tivesse medo da morte e fosse indiferente aos gozos materiais. ...

Queria viver menos para si que para os filhos, avaliando a falta que lhes faria, e era isso que a prendia à vida.Conhecia o Espiritismo sem o ter estudado a fundo; inte-ressava-se por ele, mas nunca pôde fixar as idéias sobre o futuro: este era para ela uma realidade, mas não lhe deixava no Espírito uma impressão profunda.

De há muito era desesperador o seu estado e iminente o desenlace. circunstância que ela própria não ignorava. Um dia, achando-se ausente o marido, sentiu-se desfalecer e compre-endeu que a hora era chegada; embaciando-se-lhe a vista, a perturbação a invadia, sentindo todas as angústias da separação. Custava-lhe, contudo, a morte antes da volta do esposo. Fazendo supremo esforço sobre si mesma, murmurou: “Não, não quero morrer!”

Então sentiu renascer-lhe a vida e recobrou o uso pleno das suas faculdades. Quando o marido chegou, disse-lhe: “Eu ia morrer, mas quis aguardar a tua vinda, por isso que tinha

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

algumas recomendações a fazer-te.” Assim se prolongou a luta entre a vida e a morte por três meses ainda, tempo que mais não foi que dolorosa agonia.

Um mês depois da morte: - P. Agora que deveis estar completamente desprendida e que melhor nos reconheceis, muito estimaríamos ter convosco uma palestra mais explícita. Podereis, por exemplo, dizer-nos qual a causa da vossa prolongada agonia? Estivestes durante três meses entre a vida e a morte...

- R. Obrigada, meus amigos, pela vossa lembrança como pelas vossas preces! Quão sa-lutares me foram estas, e como concorreram para a minha libertação! Tenho ainda neces-sidade de ser confortada; continuai a orar por mim. Vós compreendeis o valor da prece. As que dizeis não são de modo algum fórmulas banais, como as murmuradas por tantos outros que lhes não medem o alcance, o fruto de uma boa prece.

“Sofri muito, porém os meus sofrimentos foram largamente compensados, sendo-me permitido estar muitas vezes perto dos queridos filhos, que deixei com tanto pesar!

“Prolonguei por mim mesma esses sofrimentos; o desejo ardente de viver, por amor dos filhos, fazia com que me agarrasse de alguma sorte à matéria, e, ao contrário dos outros, eu não queria abandonar o desgraçado corpo com o qual era forçoso romper, se bem que ele fosse para mim o instrumento de tantas torturas” (grifo nosso)

Anna.

Roteiro para Debate do Depoimento.

A COMPREENSÃO DA VIDA FUTURA A CARRETA:Várias são as conseqüências para o espírito a compreensão da vida futura. No caso

apresentado identificamos com facilidade:

3.1 – paciência anTe as VicissiTudes da Vida.A falta de compreensão da vida futura acarreta:

3.2 – um ponTo de VisTa reduzido soBre a Vida

"Prolonguei por mim mesma esses sofrimentos; o desejo ardente de viver, por amor dos filhos, fazia com que me agarrasse de alguma sorte à matéria, e, ao contrário dos outros, eu não queria abandonar o desgraçado corpo com o qual era forçoso romper, se bem que ele fosse para mim o instrumento de tantas torturas” (grifo nosso)

conclusão

Os exemplos trazidos nos ajudam a perceber o quanto nossas imperfeições nos trazem so-frimentos, levando-nos a desejar conhecer mais a respeito de nós mesmos, com determinação e coragem, aceitando nossas limitações, mas trabalhando para vencê-las.

Somente nós podemos avaliar nossas próprias ações. Toda tentativa de emitir julgamento sobre os outros, suas dificuldades ou suas conquistas são falhas, pois somente podemos avaliar a partir de nós mesmos ou de aparências, visto que, na vida particular, há uma imensidade de atos que pertencem à consciência.

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Em vários depoimentos encontramos a referência do sofrimento ligado ao aproveitamento do tempo enquanto encanados.

O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IVESPÍRITOS EM CONDIÇÕES MEDIANASJoseph Brê

(Falecido em 18�0 e evocado em Bordéus, por sua neta, em 18�2)O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens

1. - Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?

- R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imagi-nar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na terra.

2. - Como? Pois não vivestes sempre honestamente?- R. Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os

homens e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei de-monstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro! Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, ani-mado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo. (grifo nosso)

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Tema 4.caracTerísTicas do Homem de Bem duranTe a encarnação

“Que o vosso amor cresça cada vez mais no pleno conhecimento, e em todo discernimento (...)” Paulo

1o MOMENTO: Iniciaremos este tema com uma conversa informal, propondo aos encontristas que pen-

sem numa ou em mais pessoas a quem admirem, cujas ações e exemplos influenciaram sua vida ou levaram-nos a refletir sobre formas de conduzir acontecimentos, encarnadas ou desencarna-das, personagem histórica, um professor, pai ou mãe, um amigo, etc., e listem as qualidades de caráter que essa pessoa possuía ou possui.

Buscar comparar as qualidades listadas e fazer uma lista das que se assemelhem.

Vimos nos temas anteriores exemplos de como nossas imperfeições ainda nos mantêm iman-tados aos sofrimentos (expiatórios ou não), as principais características da humanidade encar-nada na terra, 1. Sinais notórios da imperfeição2. O valor do arrependimento�. A importância da Compreensão da vida espiritual

E, buscaremos neste momento focar nossa atenção nas características do Homem de Bem, para analisarmos e refletirmos sobre comportamentos que poderemos eleger em nossa vida, desde que queiramos exercitar em nós padrões comportamentais sustentados por nova compre-ensão da vida e seus objetivos.

RESGATANDO CONCEITOS SOBRE O HOMEM DE BEM•CUMPRE A LEI DE JUSTIçA, DE AMOR E DE CARIDADE, NA SUA MAIOR PUREzA;

O conceito de justiçaO que é justiça?Como reconhecer uma ação de justiça?

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Justiça é um sentimento? Ou é um comportamento?Como ser justo?Kardec questionou os Espíritos sobre estas questões,

873. O sentimento da justiça está em a Natureza, ou é resultado de idéias adquiridas?“Está de tal modo em a Natureza, que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. É

fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, freqüentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

874. Sendo a justiça uma lei da Natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justo o que a outros parece injusto?

“É porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.”

875. Como se pode definir a justiça?“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.” (então é um comportamento)

a) - Que é o que determina esses direitos?“Duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens formulado leis apropria-

das a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos mutáveis com o progresso das luzes. Vede se hoje as vossas leis, aliás imperfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto, esses direitos antiquados, que agora se vos afiguram monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o direito que os homens prescrevem. Demais, este direito regula apenas algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma imensidade de atos unica-mente da alçada do tribunal da consciência.”

O critério de justiça segundo a Lei de Deus

876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, se-gundo a lei natural?

“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consci-ência não lhe podia Deus haver dado.”

Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo. (grifo nosso)

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Tomar por modelo o nosso desejo pessoal, não nos garante, ainda, as melhores escolhas, pois nem sempre sabemos ou reconhecemos o melhor para nós dentro das várias opções que se nos são apresentados. Mas certamente nos permite consciência tranqüila de que o que nos moveu a ação foi o desejo do bem.

Desta forma nosso direito pessoal torna-se, quando tomado por base para atender ao próxi-mo, nosso DEVER MORAL.

Desperto para este padrão, o Homem de Bem•Interroga a consciência sobre seus atos;

Interrogar a consciência sobre nossos atos é característica do homem de bem e também o meio mais eficaz para melhorarmos nossas escolhas.

919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

“Um sábio da antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”

a) - Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisa-mente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha cons-ciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.

SANTO AGOSTINHO.

O que é o dever?

O DEVER

7. O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em se-guida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em anta-gonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão.

O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a fe-licidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.

O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as cria-turas mais do que a si mesmo. E a um tempo juiz e escravo em causa própria.

O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a

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Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII:7)

O conceito de CaridadeO que é caridade?Como reconhecer uma ação caridosa?Caridade é um sentimento? Ou um comportamento? Como ser caridoso?Kardec questionou os Espíritos sobre estas questões,

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão

das ofensas.”

O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fa-zer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.

A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque da indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa pre-ocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa. (grifo nosso)

887. Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá de uma falta de simpatia entre os Espíritos?

“Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca, se procura tomar vingança.”

•DEPOSITA FÉ EM DEUS; - TEM FÉ NO FUTURO; Conceito de fé : O que é fé? O que é ter fé no futuro?Como reconhecer uma ação de fé?Fé é um sentimento? Ou um comportamento?Como ser confiante?Kardec ouviu dos Espíritos sobre estas questões,

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX item 3 (...) fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim.....

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O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX item � (...) a verdadeira fé se conjuga com a humildade (não querer parecer nem mais , nem menos do que se é), aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio (...)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX item 11 (...) inspiração divina, a fé des-perta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem, é a base da regeneração (...) Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa (...) (comportamento)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIX item 12 (...) No homem, a fé é o senti-mento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas de-positadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade. (...) Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas.

•ACEITA, SEM MURMURAR, AS PROVAS E EXPIAçÕES; LHE SUBMETE A VON-TADE EM TODAS AS COISAS.

Conceito de abnegação: O que é abnegação?Como reconhecer uma ação abnegada?Abnegação é um sentimento? Ou um comportamento?Como ser abnegado?Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões,

Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhe-ce que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar (...) Dessa maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reve-ses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma

•RETRIBUI O MAL COM O BEM, FAz O BEM PELO BEM, SEM ESPERAR PAGA ALGUMA; E SACRIFICA SEUS INTERESSES À JUSTIçA.

Conceito de benevolência:O que é benevolência?Como reconhecer uma ação benevolente?Benevolência é um sentimento? Ou um comportamento?Como ser benevolente?Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões, granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.

895. (...) Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas, essas qualidades, conquanto assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto.

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897 a) (...) aquele que faz o bem, sem idéia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao seu próximo que sofre, já se acha num certo grau de progresso, que lhe permitirá alcançar a felicidade muito mais depressa do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não impelido pelo ardor natural do seu coração.”

•CUIDA DOS INTERESSES DOS OUTROS, ANTES DE PENSAR NO SEU PRÓPRIO; Conceito de desinteresse: O que é desinteresse?Como reconhecer uma ação desinteressada?É ruim ter interesse?Como ser desinteressado?Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões,

(...) o princípio da caridade e da fraternidade é cada um pensar menos na sua pessoa, (pensar coletivamente) (...)grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, absolutamente lhe não agradecem. Principalmente para os que possuem essa virtude, é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos

•INTERROGA A CONSCIÊNCIA SOBRE SEUS ATOS;Conceito de auto-conhecer-se: O que é auto-conhecimento?Como reconhecer uma ação de auto-conhecimento?Como conhecer-se?Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões,

919 (...) ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e pergun-tava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. (...) Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. (...) Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.

“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual (...) Perscrute, conse-guintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se,(...).

•NÃO FAz NENHUMA DISTINçÃO ENTRE AS PESSOAS;Conceito de direitos e deveres: O que é direito x dever?Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões,

Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição mais hu-milde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o de que

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se serviu para fazer os outros, e todos, aos seus olhos, são iguais. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.”

No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.

•É INDULGENTE COM A FRAQUEzA ALHEIA; ATENUA, TANTO QUANTO POSSÍ-VEL, O MAL PRATICADO POR OUTRAS PESSOAS;

Conceito de indulgência: O que é indulgência?Como reconhecer uma ação indulgente?Indulgência é um sentimento? Ou um comportamento? Como ser indulgente?Kardec questionou os Espíritos sobre estas questões,

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. X item 1� (...) A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão dela unicamente, e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria, não das que, com aparência de atenuar a falta, mais a evidenciam com pérfida intenção. (...) A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.

•USA, MAS NÃO ABUSA DOS BENS QUE LHE SÃO CONCEDIDOS;Conceito de equilibrio e de desprendimentoO que é ter equilíbrio com os bens? O que é ser desprendido? Como reconhecer uma ação equilibrada? Ou uma ação desprendida? Equilibrio é um sentimento? Desprendimento é um sentimento? Ou são comportamentos? Como ser equilibrado? Como ser desprendido? Kardec ouviu os Espíritos sobre estas questões,

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XVI item 1� (...) Sois depositários e não pro-prietários, não vos iludais. Deus vo-los emprestou, tendes de lhos restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba aos que carecem do necessário (...) O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. (...)Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosida-de: é, freqüentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço.

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O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XVI item 1� (...) O mau uso consiste em os aplicar (os bens) exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo. A beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente;

RESGATANDO CONCEITOS SOBRE O HOMEM DE BEM X COMPORTAMENTOS•CUMPRE A LEI DE JUSTIçA, DE AMOR E DE CARIDADE, NA SUA MAIOR PUREzA;(confiabilidade, abnegação, generosidade, desprendimento, justiça, entendimento, solidarie-

dade, paciência, pureza, brandura, etc) •DEPOSITA FÉ EM DEUS; - TEM FÉ NO FUTURO; (fé, serenidade, atitude positiva, entusiasmo, compreensão, confiança, sabedoria, pacifica-

dor, abnegação, tenacidade na luta, entendimento, paciência, brandura, etc..)

•ACEITA, SEM MURMURAR, AS PROVAS E EXPIAçÕES; LHE SUBMETE A VON-TADE EM TODAS AS COISAS.

(abnegação, fé, paciência, Tolerância, serenidade, etc)

•RETRIBUI O MAL COM O BEM, FAz O BEM PELO BEM, SEM ESPERAR PAGA ALGUMA; E SACRIFICA SEUS INTERESSES À JUSTIçA.

(generosidade, desprendimento, tolerância, justiça, entendimento, solidariedade, brandura, alegria, abnegação, sabedoria, compreensão, fé, etc)

•CUIDA DOS INTERESSES DOS OUTROS, ANTES DE PENSAR NO SEU PRÓPRIO; (generosidade, desprendimento, justiça, entendimento, solidariedade, brandura, alegria, ab-

negação, sabedoria, compreensão, fé, etc)

•INTERROGA A CONSCIÊNCIA SOBRE SEUS ATOS;(honestidade, fé, atitude positiva, compreensão, sabedoria, firmeza, determinação, entendi-

mento, pureza, etc)

•NÃO FAz NENHUMA DISTINçÃO ENTRE AS PESSOAS;(atitude positiva, compreensão, sabedoria, entendimento, pureza, respeito, pacificador, sim-

plicidade, generosidade, justiça, entendimento, brandura, etc)

•É INDULGENTE COM A FRAQUEzA ALHEIA; ATENUA, TANTO QUANTO POSSÍ-VEL, O MAL PRATICADO POR OUTRAS PESSOAS;

(compreensão, sabedoria, entendimento, pacificador, simplicidade, generosidade, justiça, entendimento, brandura, etc)

•USA, MAS NÃO ABUSA DOS BENS QUE LHE SÃO CONCEDIDOS;(compreensão, sabedoria, pacificador, desprendimento, simplicidade, generosidade, justiça,

entendimento, brandura, etc)

conclusão- Concluir quanto às recompensas que esta construção propicia (qualidade de vida, alegria,

contribuição para a melhoria das instituições);

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Tema 5. a conTriBuição da douTrina espíriTa

na consTrução do Homem de Bem

Hoje, faremos uma breve reflexão sobre a importância da Doutrina Espírita na concretização do projeto do Homem de Bem.

Não queremos dizer que este seja o ÚNICO caminho. Mas, já que nesta oportunidade reencarnatória escolhemos, fomos conduzidos ao contato com o Espiritismo, haverá uma bela razão útil para nossas vidas. Meditemos, então:

O Livro dos Espíritos, Q. 8�2 – Tendo todas as doutrinas a pretensão de ser a única expressão da verdade, através de que sinais pode-se reconhecer a que tem o direito de se apresentar como tal?

“Será aquela que fizer mais homens de bem e menos hipócritas, isto é, pela prática da lei

de amor e de caridade, na sua maior pureza e na sua mais ampla aplicação. Por este sinal, reconhecereis que a doutrina é boa, pois qualquer doutrina que tenha como conseqüência semear a desunião e estabelecer uma linha divisória, entre os filhos de Deus, só pode ser falsa e perniciosa.”

Iniciaremos nossas reflexões a partir do aproveitamento prático dos conceitos básicos da Doutrina Espírita tão estudados por todos nós.

1 – a idéia de deus

O Livro dos Espíritos, Q. 1 – Que é Deus?

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

O Livro dos Espíritos, Q.� – Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

“Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão vos responderá.”

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Embora não haja uma definição “personalizada” de Deus (falta-nos um sentido – O Livro dos Espíritos, Q. 10 e 11), poderemos trabalhar esta idéia pelos atributos.

O Livro dos Espíritos, Q. 10 – O homem pode entender a natureza íntima de Deus?

“Não; é um sentido que lhe falta.”

O Livro dos Espíritos, Q. 11 – O homem poderá, um dia, compreender o mistério da Divindade?

“Quando seu espírito não for mais obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, tiver se aproximado dele, então, ele o verá e o compreenderá.”

A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima

de Deus. Na infância da Humanidade, o homem, freqüentemente, o confunde com a criatura cujas imperfeições ele lhe atribui; porém, à medida que o senso moral nele se desenvolve, seu pensamento penetra melhor no fundo das coisas e ele faz uma idéia mais justa e mais conforme à sã razão, embora ainda incompleta.

O Livro dos Espíritos, Q. 13 – Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, ima-terial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma idéia completa de seus atributos?

“Do vosso ponto de vista, sim, porque acreditais tudo abarcar, mas sabei bem que há coi-sas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente e para as quais a vossa lingua-gem, limitada às vossas idéias e às vossas sensações, não tem absolutamente como exprimir. A razão vos diz, com efeito, que Deus deve possuir essas perfeições em grau supremo, pois se possuísse uma a menos, ou, então, se ela não estivesse num grau infinito, ele não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não deve sofrer vicissitude alguma, nem possuir nenhuma das imperfeições que a imaginação possa conceber”

Deus é eterno; se tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, ele próprio teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.

Deus é imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabi-lidade teriam.

Deus é imaterial; isto quer dizer que sua natureza difere de tudo que chamamos matéria; de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.

Deus é único; se houvesse vários Deuses, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.

Deus é todo-poderoso; porque é único. Se não possuísse o poder soberano, haveria algo mais poderoso ou tão poderoso quanto ele; não teria feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obra de um outro Deus.

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas, como nas maiores; e essa sabedoria não permite duvidar nem de sua justiça, nem de sua bondade.

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Reflexão I

Em que a idéia de Deus nos ajuda neste projeto do Homem de Bem?

2 – espíriTo

● Existência

O Livro dos Espíritos, Q. 76 – Que definição se pode dar dos Espíritos?

“Pode-se dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo fora do mundo material.”

O Livro dos Espíritos, Q. 11� – Os Espíritos são bons ou maus por sua natureza, ou são os próprios espíritos que se melhoram?

“Os próprios espíritos que se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma ordem superior.”

O Livro dos Espíritos, Q. 1�� – Que é a alma?

“Um Espírito encarnado.”

a) Que era a alma antes de se unir ao corpo?

“Espírito.”

b) As almas e os espíritos são, portanto, identicamente, a mesma coisa?

“Sim, as almas são apenas os espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que revestem, temporariamente, um envoltório carnal, para se purificarem e se esclarecerem.”

● Sobrevivência

O Livro dos Espíritos, Q. 1�9 – O que se torna a alma no instante da morte?

“Volta a ser Espírito, isto é, volta ao mundo dos Espíritos que, momentaneamente, ela havia deixado.”

O Livro dos Espíritos, Q.1�0 – A alma, após a morte, conserva sua individualidade?

“Sim, jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”

O Livro dos Espíritos, Q. 1�2 – Que prova podemos ter da individualidade da alma, após a morte?

“Não tendes esta prova através das comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois, com muita freqüência, uma voz vos fala e vos revela a existência de um ser que está fora de vós.”

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● condiçõeS de Sobrevivência

O Livro dos Espíritos, Q. 224 – O que se torna a alma no intervalo das encarnações?

“Espírito errante, que aspira a seu novo destino; ele aguarda.”

O Livro dos Espíritos, Q. 227 – De que maneira os espíritos errantes se instruem? Eles, certamente, não o fazem da mesma maneira que nós?

“Eles estudam o próprio passado e procuram os meios de se elevar. Vêem, observam o que acontece nos locais que percorrem; escutam as palestras dos homens esclarecidos e as opiniões dos Espíritos mais elevados que eles, e isto lhes traz idéias que não possuíam.”

O Livro dos Espíritos, Q. 2�7 – Uma vez no mundo dos Espíritos, a alma tem ainda as per-cepções que possuía enquanto viva?

“Sim, e ainda outras que não possuía, porque seu corpo era como um véu que as obscure-cia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas ela mais livremente se manifesta, quando não tem entraves.”

Reflexão II

Como a consciência da minha identidade (espírito imortal) influencia na relação comigo mesmo, com meu próximo, com a vida, com Deus?

3 – comunicaBilidade enTre os espíriTos (mediunidade)

a) Qual o objetivo da mediunidade?

O Livro dos Médiuns, Q. 220, ítem 12 – Com que fim a Providência outorgou de ma-neira especial, a certos indivíduos, o dom da mediunidade?

“É uma missão de que se incumbiram e cujo desempenho os faz ditosos. São os intér-pretes dos Espíritos com os homens.” (FEB, ��. ed., 19��)

b) Quem é o médium?

O Livro dos Médiuns, Q. 159 – “Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos des-ta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores;a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos. (FEB, ��. ed., 19��)

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Reflexão III Em que fatores a minha atuação como médium pode auxiliar no meu progresso como

espírito imortal?

E quando eu usufruo da mediunidade, através de passes, leituras, comunicações, qual o aproveitamento ideal em minha vida de espírito imortal?

4 – pluralidade dos mundos HaBiTados

O LivrO dOs EspíritOs, Q. 55 – Todos os globos que giram no Espaço são habitados?

“Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como o supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Há, no entanto, homens que se acreditam muito fortes, que imaginam que este pequeno globo é o único a possuir o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o Universo unicamente para eles.”

O LivrO dOs EspíritOs, Q. �7 – Não sendo a mesma para todos a constituição física dos mundos, segue-se que haja para os seres que os habitam uma organização diferente?

“Sem dúvida, assim como no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo, �:1 – “Que o vosso coração não se perturbe. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, eu já vos teria dito, porquanto eu vou para preparar o lugar para vós; e depois que eu tiver ido, e preparado o lugar, voltarei, e vos retirarei para mim, a fim de que, lá onde estou, vós estejais também.” (João, XIV: 1 a �)

Reflexão IV

Que sentimentos, pensamentos me ocorrem diante desta revelação?

5 – pluralidade das exisTências

O LivrO dOs EspíritOs, Q. 166 – Como a alma, que não atingiu a perfeição durante a vida corporal, pode terminar de depurar-se?

“Experimentando a prova de uma nova existência.”

O LivrO dOs EspíritOs, Q. 1��-b – Então, a alma tem várias existências corporais?

“Sim, todos temos várias existências. Os que dizem o contrário querem vos manter na ignorância em que eles próprios se encontram; este é o desejo deles.”

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O LivrO dOs EspíritOs, Q.1�8 – O número de existências corporais é limitado, ou o Espírito reencarna perpetuamente?

“A cada nova existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se des-poja de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.

O LivrO dOs EspíritOs, Q. 170 – O que se torna o Espírito depois de sua última encarnação?

“Espírito bem-aventurado; ele é Espírito puro.

Reflexão V

Que estímulos a vida reencarnacionista desperta em você?

conclusões:

● Devo criar (ou me apropriar de) um projeto de vida, vendo-me como espírito imortal;

● A tarefa do auto-conhecimento é urgente, para que eu possa entender o meu papel no con-texto (família, setor profissional) em que estou reencarnado;

● A certeza da Bondade Divina é o supremo estímulo para o esforço na superação das provas e investimento nas possibilidades próprias e do meio em que se está reencarnado.

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Tema 6. o cenTro espíriTa forma o Homem de Bem?

Temos consciência do nosso projeto reencarnatório?

Percebemos que fomos acolhidos pelo Centro Espírita e que este fato faz parte da Lei de Progresso?

A partir daí, vamos “passear” um pouco pela Casa Espírita.

1 – alicerces espiriTuais

O Centro Espírita é a materialização de um projeto de Espíritos Benfeitores e trabalha-dores que visam ao bem e a melhoria de um grupo mais ou menos amplo de espíritos em uma comunidade do planeta Terra.

Logo, antes de sua fundação, existem reuniões de planejamento e orientação entre esses

espíritos e alguns dos dirigentes e trabalhadores encarnados ou a reencarnar para os ajustes necessários ao começo.

2 – o conTraTo reencarnaTório e a casa espíriTa

Nem todas as tarefas que realizamos na Casa fazem parte do contrato, mas existe(m) alguma(s) que versam sobre necessidades específicas nossas, constituindo-se assim no núcleo central do nosso envolvimento no trabalho.

Poderemos saber deste tema básico de nossa movimentação na Casa e na Causa de várias maneiras:

● intuição● revelação mediúnica (sonhos, comunicações diversas)● exercício de AUTO-CONHECIMENTO

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3 – exercício espíriTa

vamos listar os setores de trabalho que existem na Casa relacionados aos quatro grandes grupos:

a) Administrativob) Estudo / Divulgaçãoc) Mediúnicod) Social

4 – onde eu esTou nesTe exercício? É isto que eu quero?Executo a tarefa com alegria, bom ânimo ou apenas me desincumbo de um fardo?Que tarefa “pequena” que observo que precisa ser feita na Casa, ninguém faz e eu posso

fazer?

5 – senTimenTo de perTencer à casa espíriTa.

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filHos e serVos

“Ora, o servo não fica para sempre na casa;o filho fica para sempre.” Jesus (João, VIII:35)

Na sua exemplificação, ensinou-nos Jesus como alavancar o título de filiação a Deus. O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do mundo, a

perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços fundamentais de suas lições na Terra.

Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, os sacerdotes dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas, o Cristo induziu-nos a ser mais alguma coisa. Convidou-nos a ser filhos, esclarecendo que esses ficam “para sempre na casa”.

E os servos? Esses, muita vez, experimentam modificações. Nem sempre permanecerão ao lado do Pai.

Mas, não é a Terra igualmente uma dependência, ainda que humilde, da casa de Deus? Aí palpita a essência da lição.

O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários interesses próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros, servindo a Deus e a si mesmos, porque como servidores aguardam remuneração, podem sofrer ansiedade,

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2�o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

aflições, delírios e dores ásperas. Os filhos, porém, estão sempre “na casa”, isto é, perma-necerão em paz, superiores às circunstâncias mais duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus.

(Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, lição 125, 15. ed. Psicografia de Francisco C. Xavier. Rio de Janeiro: FEB)

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6 – algumas conseqüências do aproVeiTamenTo das oporTunidades ofere-cidas pela casa espíriTa

● Conhecimento e vivência do Evangelho e da Doutrina Espírita (mudança do ponto de vista em relação a nós, ao próximo, à vida, a Deus).

● A convivência com muitos “diferentes” ampliando a capacidade de entendimento e serviço sem nos escandalizarmos.

● Estreitamento dos laços com amigos e Benfeitores Espirituais no estímulo ao bem e à per-severança no investimento em nós mesmos.

● Conscientização das Leis de Deus e da parte que nos toca na obra da Criação, tornando-nos verdadeiros espíritas “convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos instantes para avançar na via do progresso esforçando-se por fazer o bem e reprimir suas más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque a convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de conduta.” (O Livro dos Médiuns, Do Método, ítem 28)

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Vídeo:

oração no Templo espíriTa

Senhor!Deixa que eu te agradeça novamenteAs dádivas de amorQue me fazes aqui...

Devo, Senhor, a TiA graça da atençãoE os nobres pensamentosDos amigos queridos que me escutam,

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Ofertando-me o próprio coraçãoNos ouvidos atentos. É por eles, Jesus, na alavanca da estima,Que aspiro a caminhar, montanha acima,Sonhando a evolução,Com que te possa ver, em toda parte,No anseio de encontrar-te!...Agradeço-te, ainda,De espírito contente,Este recinto amigo, doce e claro,Em cujo seio a dor de tanta genteEncontra proteção, alívio, amparo...

Sobretudo, agradeçoToda mão que te serve nesta casa E toda voz que ensinaA celeste grandeza da doutrinaEm que a tua palavra descortina, Ante os filhos da Terra,O reino do Amor Puro.Por meta luminosa do futuro.

Agradeço-te, mais,O teto generoso, A luz que me ilumina,O lápis que me atende,O perfume de amor que se desprendeDa mesa que me acolhe,O exemplo dos que sofremSem qualquer rebeldiaE a fé dos que te buscam, dia a dia,Doando aqui bondade e entendimento,Apagando em teu nomeToda marca de sombra ou sofrimento.

Por todos os tesouros que nos dás,Neste pouso de pazQue fulgura ao clarão da esperança bendita,— Tesouros de alegria, vida e luz, —— Deixa que eu te repita:— Obrigada, Jesus!...

(Maria Dolores, Antologia da Espiritualidade. 1.ed. Psicografia de Francisco C. Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1971.)

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Referências Bibliográficas

Kardec, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1. ed. Rio de Ja-neiro: Léon Denis – Gráfica e Editora, 2007.

Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos. 1. ed. Rio de Janeiro: Léon De-nis – Gráfica e Editora, 2007.

Kardec, Allan – O Céu e o Inferno 1. ed. Rio de Janeiro: Léon Denis – Gráfica e Editora, 2007.

Kardec, Allan – O Livro dos Médiuns. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 198�.

Kardec, Allan – Obras Póstumas. 1. ed. Rio de Janeiro: Léon Denis – Gráfica e Editora, 2002.

Pereira, Yvonne – Memórias de um Suicida. 1�. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.

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