lendas sobre ori

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LENDAS SOBRE ORI LENDAS SOBRE ORI Orí é a denominação dada à cabeça física. Entre os povos bini, da Nigeria, a cabeça é considerada o receptaculo das ideias, opiniões, emoções e sofrimento do individuo, e está ligada ao destino e à sorte. Orí é todo o Asè que uma pessoa tem, e sua sede é na cabeça. É ela que, geralmente, vem primeiro ao mundo e abre o caminho para trazer o resto do corpo. Ela é a sede da consciencia e dos principais sentidos fisicos. ORÍ ÒDE e ORÍ INÚ Orí Òde é a denominação da cabeça fisica e Orí Inú é a cabeça interior. A primeira é confiada a Osanyin e a Ogun, ou seja, ao saber médico. A segunda é ligada a Ifá e aos Orisa, ou seja, ao saber divino. Orí Òde é que se presta para o suporte das obrigações iniciaticas. Orí Inú é a essencia da personalidade, a personalidade da alma do homem e deriva diretamente de Olodumare. É ele quem a coloca no homem, mas que, apos a morte, a ele retorna. Todo Orí possui uma individualidade, está relacionada com a qualidade que possui. Uma pessoa prospera é chamada de Olori Rere '' O que possui cabeça boa '', enquanto aquele que é desafortunado é descrito como Olori Buruku '' O que possui cabeça ruim ''. Isto está relacionado com o destino das pessoas. Nem um Orí é essencialmente mau, mas o destino é o fator que pode afeta-lo. Orí Inú é o ser interior ou ser espiritual do

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Page 1: Lendas Sobre Ori

LENDAS SOBRE ORI

LENDAS SOBRE ORI

Orí é a denominação dada à cabeça física. Entre os povos bini, da Nigeria, a cabeça é considerada o receptaculo das ideias, opiniões, emoções e sofrimento do individuo, e está ligada ao destino e à sorte. Orí é todo o Asè que uma pessoa tem, e sua sede é na cabeça. É ela que, geralmente, vem primeiro ao mundo e abre o caminho para trazer o resto do corpo. Ela é a sede da consciencia e dos principais sentidos fisicos.

ORÍ ÒDE e ORÍ INÚ

Orí Òde é a denominação da cabeça fisica e Orí Inú é a cabeça interior. A primeira é confiada a Osanyin e a Ogun, ou seja, ao saber médico. A segunda é ligada a Ifá e aos Orisa, ou seja, ao saber divino.

Orí Òde é que se presta para o suporte das obrigações iniciaticas. Orí Inú é a essencia da personalidade, a personalidade da alma do homem e deriva diretamente de Olodumare. É ele quem a coloca no homem, mas que, apos a morte, a ele retorna.

Todo Orí possui uma individualidade, está relacionada com a qualidade que possui. Uma pessoa prospera é chamada de Olori Rere '' O que possui cabeça boa '', enquanto aquele que é desafortunado é descrito como Olori Buruku '' O que possui cabeça ruim ''. Isto está relacionado com o destino das pessoas. Nem um Orí é essencialmente mau, mas o destino é o fator que pode afeta-lo. Orí Inú é o ser interior ou ser espiritual do homem e é imortal. Orí Òde é a cabeça fisica propriamente dita ou a materia. Ela é mortal e oposição a Oro Inú, que foi criado por Ajala, um antigo Orisa.

Sendo assim o Orí se torna a parte mais importante do corpo, é concedido à cabeça muito respeito como elemento principal nos atos iniciatorios: Pelo o uso das tinturas de encantamento, efun, osun e waji; a fixação do Ikodide os banhos de infusão de ervas e o Eje.

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No ato de consulta à Ifá é provocada a participação do Orí no jogo, tocando os buzios na testa do consulente. E é o Orí Inú que fala e determina as suas condições, que muitas vezes pode ser contraria às do Orisa da pessoa como rege a frase: Òtò ni orí, òtòni òrìsà. 'Orí é diferente de Orisa'.

Se o ser interior for negativo, o exterior terá como consequencia a perdição e desajustes constantes. Orí Inú e Orí Òde são dois fatores contraditorios em sua natureza e que influenciam o homem. Restaurar esse equilibrio entre as duas partes é o objetivo dos ritos, em especial o Borí.

Para essa sobrevivencia é necessario observar quem irá desempenhar a função de colocar a mão em seu Orí. Pois a pessoa pode ter mão ruim Owo Buruku, mão de feitiço Owo Aje. Saber distinguir quem tem mão de sorte ou mão boa Owo Rere, é tarefa do jogo. Somente uma pessoa deve mexer em nosso Orí, isso depois da propria divindade dizer se aceita, atravez da cabeça ou da pratica divinatoria, ou o propio Orí dizer o mesmo, atravez da pratica divinatoria.

Orí é o mesmo que um Orisa e se comporta como tal, inclusive fala na pratica divinatoria. Em nosso Orí vive nosso Orisa, que é '' Lavado, assentado e feito''.

Só existe um caso em que de forma nem uma que se coloca a mão em um Orí e muito menos Santo em uma pessoa, é quando a pessoa é de Olori Merin, por que esse Orí pertence a quatro donos, em pé de igualdade. Esses quatro Orisa juntos formam um só Orisa, mesmo assim cada um mantem sua individualidade.

Esse é um breve conceito de Orí onde pude ter essa concepção ao ler o livro do Prof. Beniste Orun Aiye que recomendo a todos.

ITAN SOBRE ORI

Afuwape - filho de Ò rúnmìlá, que viviam no Òrun (céu), um dia foram consultar seus adivinhos, pois nada dava certo para eles, a negatividade era muito grande. Como eles queriam ir para o Àiyé (terra, mundo), foram perguntar o que deveriam fazer para escolherem o seu destino na casa de Àjàlà. (moldador de destinos).

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Os adivinhos falaram que quando estivessem ido para casa de Àjàlà, não deveriam parar na casa de seus pais. Quando estavam indo para casa de Àjàlà, encontraram um senhor que socava no pilão Inhame com agulhas, e perguntaram a ele, onde ficava a casa de Àjàlà, mas o senhor disse que não poderia explicar enquanto não terminasse de trabalhar. Orileenere, filho de Ifá disse que iria ajuda-lo, assim teriam que esperar 3 dias. A partir daí, o senhor disse a eles que deveriam encontrar Oníbodé (porteiro) da casa de Àjàlà.

Durante o caminho Oriseku em um determinado momento ouviu o som da forja, e o filho de ògún quis ir visita-lo, no entanto os outros dosi alertaram para que os adivinhos falaram, ou seja não podiam parar. Também Orileenere, ao passar perto da casa de seu pai, ficou com vontade de visita-lo mas não o fez. Quando estavam se aproximando da casa de Ò rúnmìlà seu filho ouviu o sino tocar, não respeitou o que os adivinhos falaram, foi visita-lo enquanto os outros 2 amigos seguiram para a casa de Àjàlà, na esperança de escolherem o melhor Orí, antes do filho de Ò rúnmìlà. Chegando a casa de Àjàlà, não o encontraram, pois o mesmo tinha viajado, as pessoas da casa perguntaram o que eles queriam, eles responderam que vieram escolher o seu Orí para poderem continuar a viagem até o Àiyé.

Os dois escolheream os Orís mais bonitos e maior que encontraram. Ao seguirem viagem entre os dois mundos, houve uma chuva muito forte e os Orís se estragaram, assim ao chegarem na terra tiveram que trabalhar bastante, mas não conseguiram alcançar prosperidade. Enquanto isso na casa de Ò rúnmìlà, o seu filho contou que havia desrespeitado os conselhos de seus adivinhos, pois queria se despedir de seu pai.

Ò rúnmìlà convocou seus adivinhos para fazerem Ebó para seu filho, o que foi feito, recebendo de tais adivinhos um conselho ou seja que deveria levar até a casa de Àjàlá duas coisas muito importantes, sal e búzios, no que foi acatado. Ao sair de casa para seguir viagem Afuwape parou em um lugar onde encontrou um Olobe (fazedor de Obe=faca), e este estava temperando sua comida com cinzas.

Afuwape ficou intrigado com este tempero então, colocou uma pitada de sal, modificando o gosto, no que Olobe ficou muito satisfeito, e como forma de agradecimento explicou como chegar a casa de Onibode, pois era parada obrigatória. Conforme foi instruído, Afuwape cumpriu ao perguntar por Àjàlá a Onibode, este contou que Àjàlá estava escondido no teto pois cobradores estavam em sua casa para receberem um pagamento, mas Àjàlá não tinha como pagá-los. Afuwape entrou na casa e perguntou quanto era a divida de Àjàlá, no que os cobradores responderam que era de 16 Kaurins (Búzios) e assim o filho de Ò rúnmìlà pagou e os cobradores foram embora.

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Quando Àjàlá apareceu, foi comunicado que o pagamento tinha sido feito por ele que tinha ido a sua casa para escolher o seu Orí.

Àjàlá juntamente com sua bengala de ferro, acompanhou o filho de Òrúnmìlà para escolha, com a bengala batia nos Orís, e estes quebravam, em um determinado Orí Àjàlá bateu e o mesmo não quebrou, assim deu a Afuwape, que seguiu para a terra e chegando encontrou seus amigos, que quiseram saber onde ele tinha escolhido seu Orí, o qual explicou que foi no mesmo lugar que eles, contudo o que diferenciava os Orís, era o Kàdárà (destino do homem), cada um tem o seu e são diferentes entre si.

Obs. Esta lenda é para mostrar que não se pode dar a mesma receita de como encontrar (ter) um bom Orí. Para os Orís cada preceito é diferente um do outro. O preceito do Borí (dar comida a cabeça), pode dizer que basicamente são iguais, mas não idêntico a cada Orí (o que é bom para um, pode não ser para o outro). Cada ser humano tem o seu Ayamino (destino fixado ao homem), ele pode ser tratado mas nunca mudado.

INTRODUÇÃO SOBRE ORI

Um dia Òlorun convocou os Irúmonle para transmitir o Àse do destino a cada um deles. Todos os Òrisà queriam o Àse e foram procurar seus adivinhos para saber como fariam para obter esta força. Então foi recomendado que, ao levantar antes do sol nascer, cada um deveria oferecer um Obi e com ele jogar. O únicp que conseguiu acordar antes do sol foi Orí, e fez o que havia sido prescrito. Os outros Òrisà só conseguiram acordar depois que o sol havia nascido, e Orí já se encontrava diante de Òlorun aprendendo a manipular o destino. Os outros Òrisà ficaram inconformados e foram procurar Olodunmare e este concordou em transmitir o mesmo Àse a eles também. Então chamou Orí e juntos transmitiram o Àse aos Òrisà.

A Sàngó ficou o domínio dos Trovões e ventos, a Oya, as tempestades, raios e ventanias, a Osun a fertilidade, as águas, as riquezas, a Ògun o domínio das guerras, dos metais e dos caminhos e assim por diante....

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Ficou assim, Orí, o único detentor de todos os poderes inclusive o de manipular o destino, tornando-se o Òrisà mais importante em relação aos outros Òrisà.

Orí transmitiu seu Asé à cabeça de cada Imonle, que a partir de então passaram a ser cultuados como Òrisà e assim como até hoje.

A partir deste Itan entedemos que cada ser criado por Olodunmare possui o seu Orí, seu destino, algo que é individual, é como a impressão digital de cada ser. É Orí que detém o poder antes do Ser tomar forma, é ele o primeiro a vir ao mundo quando no momento do nascimento e que o acompanha até após a morte.

'' Se meu Orí não permitir que eu seja ajudado(a), eu não serei ''

'' Se meu Orí não permitir que meu Òrisà receba oferenda, ele não receberá ''

'' Se meu Orí não permitir que eu trilhe determinado caminho, eu não o farei ''

Assim sendo, Orí é importantíssimo, o primeiro a ser cultuado. Todos os dias pela manhã devemos segurar nossa cabeça e recomendar a nosso Orí que nos permita realizar nossos intentos.

CRENÇA AFRO-BRASILEIRA SOBRE ORI

Ori é a massa elementar que comanda o ser humano como um todo. Ele é a alma, a personalidade e o destino. Tudo se realiza com sua permissão.Diz o Oriki: Nada se faz se Ori não permitir!

Ori - Alma e Personalidade

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Ori tem a propriedade de ser controlador. Além de guiar a vida, comanda todas as atividades, físicas ou não. Ele armazena em um só local todas as informações necessárias para a existência do homem. Nele encontramos o Asé (força) que forma a personalidade do ser e faz com que cada um pense e haja de forma diferente.

Ori guarda todas a s chaves para o êxito da vida do homem, ou seja, inteligência, bons pensamentos e memória. Estas são qualidades do homem que integram Ori.

Ori tem a função de gestar o Asé do homem, ou seja, ele amadurece todos os Pensamentos, transformando-os ou aprimorando toda e qualquer idéia que passe Por ele.

Ori é independente do ser (corpo físico) e embora esteja ligado a ele, suas funções comandam todas as outras.

Ori recebeu três coisas essenciais para sua existência: A preparação para a vida na Aiye (terra) A preparação para a Iku (morte) e A preparação para a vida no Orum (céu) Isto possibilita que no Aiye exista a união Ori + Ara (corpo + cabeça). Mas atenção: mesmo que haja separação, no caso de morte, Ori nunca morre.

No caso de morte, Ori e Eledá (alma) se juntam e, caso necessário, realizam rituais como: Asese (vigília): para que possa haver a separação; Orisá Olori (senhor da Cabeça) e Ori, para que a alma ou o espírito possa seguir seu caminho no Plano astral.

Por ser uma parte concentradora de energias benéficas e maléficas, deve-se Ter todo cuidado ao deixar o Ori na mão de estranhos, mesmo que seja para Um simples carinho ou ritual. Lembrem-se que o sucesso ou fracasso depende do Ori e suas qualidades.

Algumas saudações: Olorire - pessoa de boa cabeça Olori Buruku - pessoa possuidora de cabeça ruim.

OBS: Uma frase sempre é utilizada por sua verdade. " Se o Ori não quiser, nem o Òrìsà pode."

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Page 7: Lendas Sobre Ori

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Postado por Òríosè SangòT'olá às 19:47

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Òríosè SangòT'olá

Borí - O CULTO À ALMA

O Borí é um dos rituais mais importantes do Awó (Culto Africano), por consequência, também dos Cultos Afro-brasileiros, como o Candomblé. É o único ritual capaz de tratar da Alma e da Cabeça de uma pessoa, além de ser uma das últimas instâncias no que se refere a tratamento de um Destino. Entretanto, muito pouco é conhecido sobre este ritual, e há muita confusão ainda circulando tanto no meio do Culto, como também fora, e principalmente na Internete… é pertinente informar que existem muitos rituais com o nome de “Borí”, que em suma: todos comem, menos o Orí…

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Devido a isto resolvi discorrer sobre este ritual e sua importância, sem ferir o voto de silêncio que o Culto exige, e que somente deve ser passado aos que atingirem a devida graduação no Culto. Acreditem que, apesar de preservar os segredos jurados, ainda se pode discursar muito sobre este assunto, inclusive para os leigos, pois é um ritual não só muito profundo e elaborado, mas também muito bonito! Ouvi de quase todas as pessoas que passaram pelo Borí: “Parecia o meu Aniversário!!” E é algo que eu acredito que todos devam saber, pois é um bem para todos! Afinal, este ritual não se restringe apenas às pessoas do Culto, como alguns devotos desavisados pensam, mas estende à todas as pessoas que necessitarem tratar ou fortalecer Orí – A Alma!

Antes de continuar a dissertar sobre o Borí é necessário conhecer um pouco sobre Orí, que é o objecto de Culto deste ritual. Orí em Iorubá significa cabeça, contudo, no Awó (Culto Africano) Orí possui um conceito muito mais amplo. Pois o conceito de Orí se divide em: Orí Odé e Orí Innú.

Orí Odé, que significa cabeça externa, se refere à cabeça física, o crânio, o cérebro, a face, a nuca, etc… contudo, também inclui a nossa personalidade, aquela que todos conhecem desde o nascimento.

Orí Innú, que significa cabeça interna, se refere à cabeça dentro da cabeça, a cabeça que comanda a cabeça externa, portanto o nosso “eu” que sequer nós mesmos o conhecemos, mas que nos conhece antes mesmo de termos nascido. É o nosso “Eu Superior”, ou nossa Alma. Orí Innú é o Orí a que sempre nos referimos no Awó (Culto), pois Orí Odé é confiado a Osaniyn e Ogun, ou seja, à medicina e à cirurgia, que não são para Orí Innú, que exige apenas um único tratamento, oBorí!

Enquanto Orí Odé é apenas uma casca, um veículo para a Alma cumprir sua missão divina aqui no Aiyé (Plano Material), Orí Innú é o nosso verdadeiro eu que conhece o nosso Destino, e quem conduz Orí Odé a cumpri-lo mesmo sem saber. Em nosso Orí está além de nossa Alma Divina e Eterna, o nosso Odú (Destino), pois nosso Orí Odé, ou seja, nós aqui no Aiyé, somos fruto do desejo de Orí Innú em transcender e aproximar-se mais de Olórum (Deus). Foi Orí quem se ajoelhou diante do Pai Supremo e lhe pediu mais uma existência terrena (Orí Odé), pois a evolução se faz aqui, no plano terreno, por isso a Terra e Sua Personalidade Divina, a Mãe Terra (Onilé para nós do Culto) é sempre tão reverenciada e importante, todos os juramentos são cumpridos nela! Esse pedido de Orí (A Alma) é chamado de Akunleyan (eu ajoelho e peço), então Olórum (Senhor do Plano Espiritual – Deus) lhe cunha o Ayanmó Ipín (Destino que lhe é imposto, segundo os Desígnios de Deus, e também segundo as acções passadas cometidas em outros Orí Odé [existências terrenas], o que seria o conceito de Karma Hindú), então é ajustado o Akunleyan, todos os acertos para que ambas as necessidades sejam atendidas naquela existência. Este contrato entre Orí (A Alma) e Olórum (Deus) definindo o Roteiro de existência de Orí Odé, é fechado também com um Odú (Destino) que deterá este Contrato e o regerá durante a existência de Orí Odé. Isto tudo é realizado diante de Orunmilá, que detém o título de Eleri Ipín (Testemunha do Destino), e é o escrivão de Olórum, e testemunha de tudo o que se passa desde a Criação, por isso é o Senhor do Oráculo, a quem sempre recorremos para saber o que se passará em nosso Destino, e se o estamos cumprindo ou não. Pois Orí Odé, por possuir a Liberdade de Acção, mais conhecido popularmente por

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“Livre-Arbítrio”, concedido por Olórum, pode recusar-se, por capricho ou medo, de cumprir este Destino, trazendo imenso prejuízo à Alma e a todos os compromissos fechados com as outras Almas e com a Criação como um Todo, somando ainda mais angústias e problemas tanto à sua breve existência aqui no Aiyé (Plano Material), como também angústias e problemas para Orí Innú na Eternidade. Desta forma, o Oráculo (Ifá), regência de Orunmilá, seja na forma dos Ikins, ou Opelé ou dos Cauris (Búzios), é o primeiro passo em qualquer circunstancia dentro do Culto: “Tudo começa em uma mesa de Jogo”. Porque ele pode nos revelar todo o acordo que foi feito naquele Dia do Destino, assim como nos revelar qual é o Odú que rege o nosso Destino, e nos informar todos os Caminhos e “DesCaminhos” de nosso Destino, assim como também nos indicar as fórmulas reparadoras!

Como podemos ver, acima de tudo e de todos os Orixás, está Orí, que além de ser um Orixá em si, é o nosso principal, pois sem ele, Orí, nem nosso Orixá poderá nos abençoar ou proteger. Pois como reza o Oriki: “Ko sí Òòsà tí i dá´ni gbè léhìn Orí eni” (“Nenhum Orixá abençoa uma pessoa antes de seu Orí”). Portanto se faz tão fundamental o ritual do Borí. É sem dúvida, o ritual mais importante do Candomblé.

O Culto a Orí é fundamental, pois além de ser a única forma de cultuar, alimentar e tratar a nossa Alma, que é a Causa de toda a nossa existência e Razão, já que é na sua Transcendência que reside o Sentido Último de Tudo, também porque é tratando de Orí que poderemos chegar à saudável Conclusão de Nosso Destino e Missão. E, até mesmo para mudar o nosso Destino, é inevitável tratar de Orí. Pois mesmo com o nosso contrato de Destino já fechado, o Awó (Culto) nos diz que é possível através de Kadarà, oportunidades e propiciação, mudar o nosso Destino, e deixá-lo mais ao nosso gosto, e isso é absolutamente legal no que tange à espiritualidade, pois faz parte das Leis Divinas que regem o Universo e o Destino. As oportunidades podem ser verdadeiramente aproveitadas, somente mediante a Orientação Divina do Oráculo, que nos pode conduzir no aproveitamento de todas as Oportunidades sem que nos traga prejuízo. Pois a nossa Liberdade de Acção, mais conhecida pelo termo criado por Santo Agostinho: Livre-Arbítrio, somente não nos prejudica quando estamos sob orientação divina, caso o contrário, nosso ego nos conduz sempre a DesCaminhos de nosso Destino, e assim ao Prejuízo e ao Sofrimento. Desta forma, é somente com o Oráculo que se pode tomar conhecimento dessas oportunidades que são verdadeiras encruzilhadas em nosso Destino, e, que se bem aproveitadas podem mudá-lo por completo. Quem não se lembra de uma oportunidade dessas em sua Vida? E com certeza, lembra-se com a tristeza de não a ter aproveitado… ou porque não notou, ou porque não soube aproveitá-la. Kadarà é relativa à propiciação, pois podemos, através de Tratamento Espiritual adequado: através de ebós, e sobretudo, do Borí, propiciar um Caminho em nossa Vida. Pode-se nesse caso não somente mudar a Sorte em relação a uma situação emergencial e conseguir o desfecho desejado. Como se pode “semear” para depois “colher” uma determinada situação em nossa Vida. E tudo isso passa, sem dúvida, por Orí!

Existem vários tipos de Borí, e cada um deles para um fim específico. Somente Sacerdotes do Culto bem formados, com o seu ciclo básico de 7 anos, a partir da Iniciação, tendo após a maioridade no Culto, feito as devidas obrigações litúrgicas e o treinamento espiritual e religioso exigido pelo Culto podem efectuar qualquer Borí, mesmo o mais simples. Como viram Orí é coisa muito séria, e quanto menos pessoas colocarem a mão em seu Orí, tanto

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melhor, pois Orí é o bem mais precioso que uma pessoa possui, não deve ser confiado a todos indiscriminadamente. O Borí se divide, a princípio, em dois tipos:

Borí para restauração, ou tratamento de Orí

E este pode ser realizado até para quem não pertence ao Culto, mas é para todos os que necessitarem tratar de seu Orí. Não criando vínculo nenhum com a Religião, pois trata-se tão somente de um Tratamento Espiritual. E se divide ainda em vários tipos, dependendo do tipo de necessidade:

1- Borí Omi Tutú (Borí de Água fresca): é o mais simples, utiliza-se sobretudo de um Obi Batá (obi de 4 gomos) que é o principal alimento de Orí, e simboliza-o. Além do Obi, água fresca, vela e alguns outros pequenos segredos. Este Borí é realizado para as pessoas que estão com a “cabeça-quente”,ou seja, com o Orí alterado, que pode causar: fortes dores de cabeça, ou enxaquecas que não conseguem passar sequer com medicação; irritação e agressividade; descontrole emocional, estresse, ou ainda “cabeça-fraca”: desgaste físico e emocional, falta de memória, falta de concentração, etc. O Orí alterado pode ainda prejudicar os Caminhos: desencontros, falhas, inúmeras adversidades, incapacidade em atingir objectivos, muita perturbação em todas as situações, aliás, geralmente é a própria pessoa que, sem querer, traz toda esta perturbação à tudo, como um Toque de Midas, só que ao contrário… O Borí Omi Tutú refresca o Orí, renovando as forças mentais, físicas e psicológicas, assim como a saúde e vitalidade da pessoa, e pode também refrescar os Caminhos: Normalizar o ritmo, refrescar todas as situações propiciando o sucesso em cada uma delas. Trazer clareza ao Caminho, facilitando qualquer tomada de decisão, assim como facilitando o melhor aproveitamento de tudo ao redor e de cada experiência.

2- BoríEjá (Borí de Peixe): Este é o famoso “Borí de Saúde”, utiliza-se dos mesmos ingredientes e segredos do Borí anterior, mas leva ainda comidas especiais à Orí e, como o próprio nome indica, o Peixe. Este Borí é muito utilizado quando a Saúde da pessoa está muito baixa, e sua vitalidade não pode lhe garantir o restabelecimento. Assim pessoas muito idosas e muito abatidas podem renovar sua Saúde e Vitalidade, ou pessoas que tem doenças muito graves, ou enfermidades que recusam-se a sanar, podem recorrer a mais este instrumento que pode renovar a Força e a Vitalidade de seu Orí, renovando sua Saúde e Vitalidade, tanto física, mental e psicológica. Tive gloriosas experiências com este Borí, e já vi muitos exames mudarem depois das pessoas passarem por este Borí. É realmente algo de milagroso e sinto-me privilegiado por ter tido a oportunidade de presenciar tais experiências. Contudo, o BoríEjá, não é somente para Saúde, mas também é um grande fortalecimento de Orí, podendo ajudar também nos Caminhos: Conquista de um Objectivo (ou profissional ou académico), Renovação ou Optimização do Ritmo da Vida (sobretudo para empresários que necessitavam revitalizar o próprio negócio ou a Carreira), Ou simplesmente Mudar a Vida para obter maior satisfação.

3- O BoríAxé (Borí de Força): este Borí é somente para as pessoas que não se incomodam, e compreendem a necessidade do sacrifício de Animais. E é o mais forte de todos os Borís, pois utiliza-se dos ingredientes e segredos de todos os Boris citados, mais outros segredos e o Axé do Ejé (sangue) dos animais. Este tipo de Borí não pode ser dado para as pessoas enfermas, por isso o BoriEjá (Bori de Peixe) é a sua substituição para estas pessoas, pois a Força de um BoríAxé pode ser até prejudicial a pessoas que já estão muito debilitadas fisicamente, tamanha

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a sua Força. Este Borí é a última instância no que tange à Orí, e o que não puder ser conquistado, ou mudado, através deste ritual, provavelmente não poderá ser conquistado por ritual algum.

Além destes Borís de Tratamento, existe os Borís de iniciação, estes se prestam somente às pessoas que ingressarem no Culto, pois são rituais para assento de Orí, a Alma, para optimizar a sua Transcendência, enfim, para aqueles que desejam transcender, ainda nesta Vida, o ciclo de reencarnações, e residir definitivamente no Orum Rere (Paraíso) junto a Olorum (Deus). Também para fortalecer a acção do Orixá (Anjo-da-Guarda) dessa pessoa, pois a Força do Orixá depende de quanto o Orí daquela pessoa lhe permite actuar, e para as pessoas do Culto, como é importante poder contar com toda a Força, Orientação e Protecção de seu Orixá, deve antes de assentá-lo, propiciar Orí. Até mesmo para gozar de toda a Força para o Assentamento de seu Orixá é necessário que Orí esteja forte para poder receber e suportar toda a Força que o Orixá enviará até o devoto no momento do Oró (Ritual). Estes Rituais de Culto à Orí são mais secretos, e somente serão revelados aos iniciados no devido momento.

Enfim, o Ritual do Borí é a única forma de se Tratar de nosso Orí – Alma, e um eficaz método de conduzir o nosso Destino, com Saúde, Vitalidade, Muita energia e Sucesso! E mais uma ferramenta disponível para o Bem-estar do Homem devoto e ético. E o mais importante Culto do Awó africano, e por consequência do Candomblé Afro-brasileiro. Esta matéria é mais uma forma, ainda que, de “a grosso modo”, de dividir este Conhecimento Sagrado com todos, para dispor a todos, novos, e esplendorosos Caminhos para tornar a nossa Vida mais Vida!

Axé!!

A Tríade Musical de Sàngó

A Tríade Musical de Sàngó

Hoje vou escrever sobre três importantíssimos toques da cultura Kétu-Nàgó, aTríade Musical de Sàngó, que são ritmos de atabaques, consagrados ao Rei deOyo e que, devem ser executados subsequentes um ao outro e sem cânticos. Muito embora seja uma tríade (que alude ao número três), dois desses toques estão sendo esquecidos pela maioria dos Ògáns, Babalòrìsàs e Ìyálòrìsàs.

Primeiramente, quero chamar atenção para um fato. A maioria dos Deuses Africanos, possuí um toque que lhe pertence, sendo esse usado somente para ele e para nenhuma outra

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Divindade é, por exemplo, o caso do Ìgbín de Òsálá. Mas no caso do temido Sàngó, são três os toques que lhe pertencem (na verdade há outros, mas também executados para mais alguma Deidade, à exemplo do Bàtá, razão pela qual vou me ater somente a tríade). Isso mostra-nos a importância que esse Òrìsà confere ao som do tambor e, obviamente ao tambor propriamente dito.

Isso é corroborado ainda, ao pensarmos que, em algumas casas, Sàngó é considerado o Òrìsà dono do som (basta dizer que, o som que brada dos trovões, é uma das principais hierofanias - manifestação do sagrado - de Sàngó). Dos Deuses cultuados no Brasil, muito provavelmente, ele é um dos poucos, senão o único que, em vida no aye, tocou tambor, no caso o Bata (não confundir o tambor Bata, com o ritmo Bata). Há diversos Ìtan Yorùbá (histórias africana), que explicam a ligação de Sàngó, com o Tambor Bata.

Sàngó, sem dúvidas, é um dos Òrìsàs mais representado por meio do som. Além dos toques do atabaque, é invocado pelo som da chuva, emitido pelo Sèré, devidamente preparado pelos seus Sacerdotes. Tudo isso evidencia, quão importantes são os toques de Sàngó e quão importante são os toques paraSàngó. Algumas histórias, narram que antes de partir à guerra, Sàngó, dançava freneticamente ao som dos tambores, potencializando seus poderes, mantendo uma ligação da musica com o universo sacro. Destarte, toca-se muito paraSàngó, correto? Errado! (errado na crença de que isso ocorra e não na constatação de que isso deveria sim ocorrer). Por incrível que possa parecer, muito embora Sàngó goste do som do tambor e, nesse aspecto, refiro-me somente ao som do tambor (solo – sem cânticos), quase não escutamos mais o solo da sua tríade musical.

Em verdade, duas coisas estão ocorrendo de forma muito comum sobre os toques de Sàngó. A primeira é que, quase não se “sola” mais o Alujá. Quando digo “solar”, digo Atabaques (Hun, Hunpi e Hunlé), mais o Agogo (no caso de festas, como as de Sàngó, os atabaques são acompanhados pelo Sèré, por exemplo) – Sem cânticos e, é claro, com as palmas dos devotos que estão presentes para render homenagem ao Rei, proferindo a expressão Kawoo Kabiyesi Le!

A segunda constatação negativa que observamos é que, quando há o solo doAlujá, dificilmente o mesmo é acompanhado pelos seus dois toques contíguos. Nesse aspecto, é salutar destacar que, a Tríade de Toques de Sàngó é solada e, não cantada! Recordam-se do valor que Sàngó confere ao som do tambor? Vale destacar, igualmente que, o Alujá de Sàngó, é essencialmente um toque com poder evocativo (o mesmo ocorre com o Agéré, além, obviamente do Adahun) – outro valor intrínseco deste toque.

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Muitos devem estar se perguntando, mas e as cantigas de Alujá? Sim, são dezenas, todas lindas. Mas nessa postagem, não estou me referindo unicamente ao Alujá e, sim, ao conjunto de toques que está atrelado ao mesmo e, que não são cantados, somente tocados.

Quando tocamos Alujá (solo), estamos evocando os poderes do Deus (lembram-se de que, antes de partir para guerra, Sàngó dançava para potencializar seus poderes?) e, principalmente começando pelo início, pelo início de uma história. Toda cantiga conta uma história, seja boa, seja ruim. No caso do solo de toques da Tríade de Sàngó, à exemplo dos cantos, também estamos contando uma história.

A relação dos três toques, executados um subseqüentemente ao outro não é ao acaso e, sim intencional. Os três toques isoladamente não refletem a importância dos três concomitantes. Afirmo isso, pois somente os três toques executados subsequentemente, conseguem contar uma parte do início da vida real de Sàngóe, se tocados em momentos distintos, não refletem o mesmo. Um Ìtan Yorùbádiscorre que:

“Em um determinado reinado, Sàngó ainda pobre, tocava freneticamente seu tambor, fazendo com que todos da cidade ficassem lhe ouvindo, admirados. No entanto, o então rei da cidade havia proibido tal prática. Ao ser comunicado queSàngó estava tocando tambor em seu reinado, o mesmo foi pessoalmente conferir. Diante do virtuosismo de Sàngó, o Rei começou a dançar, deixando sua coroa cair de sua cabeça, sendo então, imediatamente tomada por Sàngó”.

Assim sendo, quero chegar ao ponto de que a Tríade de Sàngó, faz justamente alusão a essa história. O som frenético do alujá, a coroa caindo e Sàngótomando a mesma para si!

Nada no Candomblé é ao acaso e tudo tem sua fundamentação! Espero, sinceramente, ter contribuído um pouco, para a elucidação dos toques do chamado Candomblé Kétu-Nàgó.

Por fim, objetivando ilustrar esse artigo e disseminar esses três importantes toques, compartilho aqui, essa primorosa tríade musical, executada por quatro dos maiores tocadores da atualidade (Gamo da Paz, Iuri Passos, Yomar Asogba e Robson).

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Lendas de Xangô

Sango

Deus do raio, do trovão, da justiça e do fogo. Sàngó é símbolo do rei Deus em Benin. É o deus do raio e do trovão. Contrariamente a Ògún (Deus dos Ferreiros) que emprega o fogo artificial, Sàngó manipula o fogo em estado selvagem, o fogo que os homens não sabem utilizar. É um orixá temido e respeitado, é viril e violento, porém justiceiro. Costuma se dizer que xangô castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. Seu símbolo principal é o machado de dois gumes e a balança, símbolo da justiça. Deus do fogo, que pune aos que lhe querem mal com febres e ervas que lhe são atribuídas. Joga sobre os inimigos sua bola de fogo através dos raios, chamadas edunara (pedra de raio que representa o corpo de SÀNGÓ, seu símbolo por excelência, pela mitologia do elemento procriado por um lado e que irmana SÀNGÓ a Esú por outro lado). SÀNGÓ é o antisímbolo da morte, ele não fica aonde há mortes. Sua dança preferida é o Alujá, apresentado com toques diferentes, a dança do machado, a dança da guerra. Branda orgulhosamente o seu Oxé (uma de suas armas) e assim, na cadência, faz o gesto de que vai pegar as pedras de raio e lançá-las sobre a terra, demonstrando seu lado atrevido. Em certas festas traz sobre a cabeça uma gamela de madeira, que contém fogo que começa a engolir, revelando a origem de seu fundamento.

Oxé, usado na Dança de Xangô

Tudo que se refere a estudos, a justiça, demandas judiciais, ao direito, contratos, pertencem a xangô. Ambicioso, chega ao poder destronando seu meio irmão ajaka. Passa, então, a reinar com autoritarismo e tirania, não admitindo que sua atitudes fossem contestadas, o que possivelmente levou-o a cometer injustiças em suas decisões. Usa o poder do fogo como seu símbolo de respeito. Galante e sedutor, desperta a paixão da divindade oya(esposa de ógum), uma de suas três esposas - as outras são oxum e obá - .

Circulam a seu respeito, às vezes contradições, mas todos são unânimes em reconhecer seu caráter violento e fogoso. Mesmo se ignoradas em seus detalhes constatamos que sua magia profunda consiste em suprir a tempo os acontecimentos que se superpõem, ao invés de desenrolarem-se ao longo tempo linear e irreversível, ao longo de um tempo mensurável. Seu tempo não tem começo e nem fim, é um tempo reversível que supre sua duração.

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Sàngó pode estar morto no rio e ao mesmo tempo estar vivo diante do rei. Está morto... e morto estar vivo. Nele as oposições existem simultaneamente. Para o ser humano tal situação é ambígua e fora de lógica, dois termos contraditórios excluem um ao outro na sincronia. Na lógica de SÀNGÓ os dois coexistem, pois ela é caracterizada pela sincronia e pela interpolaridade. Mortal em seu corpo, imortal em sua essência, o OBA de BENIN é o único soberano de dupla natureza: humana e divina.

"Xangô, como todos os outros imolè (orixás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino."

Como personagem histórico,

Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, "Rei de Oyó", filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì. Dadá-Ajaká, filho mais velho de Oranian, irmão consanguíneo de Xangô, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos iorubás às crianças cujos cabelos crescem em tufos que se frisam separadamente. "Ele amava as crianças, a beleza, e as artes; de caráter calmo e pacífico... e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época". Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamada adé de baáyàni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se agora valente e guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacando os tapás.

KÁ WÒÓ, KÁ BIYÈ SÍLE : Podemos olhar vossa real majestade.

Xangô, no seu aspecto divino,

Permanece filho de Oranian, divinizado porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oya, Oxum e Obá. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vêm procurar nos escombros os èdùn àrá (pedra de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido. Esses èdùn àrá (na realidade, machado neolíticos) são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó), consagrado a Xangô. Tais pedras são

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consideradas emanações de Xangô e contém o seu àse (axé), o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém.

Fazendo-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição. Na Bahia, diz-se que exitem doze Xangôs: Dadá; Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian; Airá Intilé; Airá Igbonam, e Airá Adjaosi. Reina uma certa confusão nessa lista, pois Dadá é irmão de Xangô; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território Tapá, e que segura dois "oxés" quando dança, sendo o seu èdùn àrá composto de dois gumes. Os Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savê (ver mapa).

Texto de Aulo Barretti Filho

O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.

Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà Yemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, e muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar a acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras distintas.

Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o "ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.

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mulheres de Sango

Osun, Oya e Obá. Mulheres de Sango

Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar. Leia em artigos : O Culto dos Egúngún

Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.

Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.

NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.

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Aulo Barretti Filho

Junho de 1984

BIBLIOGRAFIA

Texto de Aulo Barretti Filho : "IIê-Ifé : o berço religioso dos yorubas , de Odùduwà a Sàngó" In : Revista Ébano, São Paulo ,nº 23 : 33 , Junho de 1984

Qualidades:

- AGONJÚ

Quer dizer terra firme. Tem perna de pau e é casado com YEMONJA. É o filho mais novo de ORANNIAN e o preferido, herdou sua fortuna. É o mais cruel é aquêle que leva o coração do inimigo na lança. É o SÀNGÓ amaldiçoado que matou e comeu a própria mãe.

Na verdade foi o 6º Alafin de Oyo que viveu em 1.240 A.C., aproximadamente. Era sobrinho neto de SHANGO.

- BARU

Pega tempo e come com ÈSÙ. Dependendo da época este Òrìsá ora é BARU ora é ÌRÓKÒ. Tem caminhos com OYA YÀTOPÈ . Não come quiabo nem amalá, come amendoim cozido e padê. Na África êle é chamado de maluco, pois durante seu reinado fez muita besteira, motivo pelo qual os africanos não o raspam nem assentam. Não fazia prisioneiros, matava todos.

Veste-se de marrom e branco e suas contas são iguais a roupa. Toca-se para ÈSÙ e SÀNGÓ.

BARU era muito destemido, mas quando comia quiabo, que êle gostava muito, dormia o tempo todo e por isto perdeu muitas contendas, pois, quando acordava seus adversários já

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tinham voltado da guerra. Êle ficava indignado. Então resolveu consultar um OLUÓ que lhe disse : Se é assim, deixe de comer quiabo - BARU perguntou : me diz o que comerei no lugar do quiabo... Só folhas... Só folhas ? perguntou BARU - Sim, respondeu o OLUÓ, tem duas qualidades , uma se chama oió e a outra xaná, são boas e gostosas como o quiabo. E BARU falou : - A partir de hoje, eu não comerei mais quiabo.

- BADÈ

É o mais jovem VODUM da família do raio ( cujo chefe é KEVIOSSO ), corresponde ao SÀNGÓ jovem dos NAGO. É irmão de LOKO. Usa roupa azul com faixa atada atras. Não fuma, não bebe nem fala. Um de seus animais prediletos é o chicharro.

- OBAKOSSO

Perdeu os poderes mágicos de transportar-se da terra para o céu, enforcando-se num pé de OBI. Tem fundamentos com ÈSÙ, ÉGÚN e OYA, devido a sua morte.

- AGODO

Muito ruim, brutal, inclinado a dar ordens e ser obedecido, foi ele quem raptou OBÁ. Come com YEMONJA

- AFONJÀ

É o dono do talismã mágico dado por OYA a mando de OBÀTÁLÁ. É aquêle que fulmina seus inimigos com o raio. Come com YEMONJA, sua mãe.

- ALAFIN

É o dono do palácio real, o governante de OYO. Vem numa parte de ÒÒSÀÀLÀ e caminha com OSOGUIAN.

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- OBÀ OLUBÈ

É muito orgulhoso, intratável e muito bruto. Come com OYA.

- OLO ROQUE

Seria o pai de ÒSUN OPARÀ. Tem fundamento com ÒSÓÒSÌ. Veste vermelho e branco ou marrom e branco.

- ALUFAN

É idêntico a um AYRÀ. Confundem êle com OSÀLÚFÓN. Veste branco e suas ferramentas são prateadas.

Lendas

... arrependido sango retorna a orun

Xangô era rei de oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de empê, no território de tapa. Por isso, ele não era considerado filho legítimo da cidade. A cada comentário maldoso xangô cuspia fogo e soltava faíscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu oxé, um machado de duas pontas, que o tornava cada vez mais forte e astuto onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse.

Para continuar reinando xangô defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, dadá, de uma cidade vizinha para ampliar seu reino. Com o prestigio conquistado, xangô ergueu um palácio com cem colunas de bronze, no alto da cidade de kossô, para viver com suas três esposas: oyá ( yansã ) amiga e guerreira; oxum, coquete e faceira e obá, amorosa e prestativa.

Para prosseguir com suas conquistas, xangô pediu ao babalaô de oyó uma fórmula para aumentar seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta em caso de extrema necessidade de defesa. Curioso, xangô contou a yansã o ocorrido e ambos, não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou

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a relampejar e trovejar; os raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando tanta tristeza, xangô afundou terra adentro, retornando ao orun.

... contas de Sango

Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: "- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.

... contas de sango, uma outra visão

Sango, filho de Obatalá, era um jovem rebelde e vez por outra saía pelo mundo botando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaça. Seu pai, Obatalá, era informado de seus atos, recebendo queixas de todas as partes da terra. Obatalá alegava que seu filho era como era por não haver sido criado junto dele, mas que, algum dia, conseguiria dominá-lo.

Certo dia, estando Sango na casa de Obá, deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta da casa. Obatalá e Odudua passaram por lá, viram o animal de Sango, e o levaram com eles. Ao sair, Sango percebeu o roubo e enfurecido saiu em busca do animal, perguntando aqui e acolá. Chegando a uma vila próxima dali, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo seu animal, o que deixou Sango ainda mais colérico. Sango alcançou os dois velhos e ao tentar agredi-los percebeu que eram Obatalá e Odudua. Obatalá levantou seu opaxorô (cajado) e ordenou: "Sangò kunlé, foribalé". Sango desarmado atirou-se ao chão em total submissão à Obatalá.

Sango tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou e misturou a elas suas contas brancas dizendo: "Isto é para que toda a terra saiba que você é meu filho".

Daquele dia em diante Sango submeteu-se às ordens do velho rei.

... arrependido e justiceiro

SÀNGÓ recebeu das mãos de OLODUMARÈ, o Deus supremo, um pilão de prata que representa a união da terra, ÀIYÉ, com o céu, ÒRUN, o plano paralelo a terra onde moram os Òrìsás. Nesta ocasião SÀNGÓ foi elevado a categoria de OBÁ OYO, rei de OYO, passando a ser o quarto ALÁÀÁFÍN de OYO, sendo o único ser vivo a ter o privilégio de ir e vir da terra para o

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céu para comunicar-se diretamente com ÒRÚNMÌLÀ, recebendo desse Òrìsá ordens e instruções para este melhor orientar-se em suas decisões na terra. Após contar a ÒRÚNMÌLÀ tudo o que se passava na terra ele retornava feliz , pois sabia que era de plena confiança desse Òrìsá. Como ser carnal ele foi possuído pela ambição, cometendo um pecado imperdoável aos olhos de OLÓÒRUN que, por ser muito justo, jamais aceitou uma traição. SÀNGÓ tentou apossar-se, definitivamente, do governo e dos poderes da terra e de todos os poderes que existiam no espaço. OLODUMARÈ sabendo de tudo que se passava castigou-o, tomando-lhe o pilão que lhe dava o poder de transitar, vivo, para o céu e o poder de governar os homens da terra. SÀNGÓ desgostoso e muito arrempendido dos atos que praticara entrou em completo desespero, de joelhos, rogou perdão a todos os seres maiores, que lhe viraram as costas. Triste e magoado subiu num monte existente em OYO e enforcou-se num pé de OBI , a nóz de cola , o pão de ÒÒSÀÀLÀ .

Porém SÀNGÓ não morreu, desapareceu, ficando o seu espírito entre os dois mundos paralelos a terra. OLÓÒRUN começou a sentir a falta de seu servo, mesmo sabendo de sua traição, pois SÀNGÓ foi apedrejado por todos, pois nessa época era a mais terrível das faltas. OLÓÒRUN pensou, pensou muito e tomou uma decisão, foi até OLODUMARÈ e rogou-lhe perdão em nome de SÀNGÓ, pedindo-lhe trouxesse-lhe seu tão amado servo . OLODUMARÈ então concedeu o perdão a SÀNGÓ, mas com uma condição, que não mais viesse como homem, mas sim como Òrìsá e que todas as pedras que lhe foram atiradas servissem para ele castigar os mentirosoa, os ladrões e que fulminasse os traidores. E assim foi feito. SÀNGÓ retornou a terra como Òrìsà e não mais como ARAYILE ( ser humano ) , representando assim, a ira do próprio OLÓÒRUN contra os homens que se comportam mal na terra, passando a ostentar então um pilão de duas bocas, a parte de baixo representando a terra e a de cima o céu, continuando, assim, a exercer o seu governo em forma de Òrìsá. É proibido o uso de OBI em seus assentamentos, pois lembra a sua passagem de vida e de morte na terra, tornando-se o OBI uma se suas grandes KIZILAS.

... Sango é condenado por Osalá comer como os escravos *

Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziam em sua cidade. Oxalá era velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio. E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela. Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!

Xangô não resistiu à tamanha tentação. Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada. Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando

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Oxalufã em meio às pedras, rolando na poeira, caindo pelas valas. Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o povo de Xangô.

Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos. Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá. Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô. Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.

Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana. Nunca mais pode Xangô comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos.

Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi – 2001

Os Yorubás

Os Yorubás

Idioma

Falado principalmente na Nigéria, o idioma yorubá é complexo e arraigado em tradições. É o segundo maior idioma da Nigéria, é falado em várias seitas difundidas pelo mundo, entre estes estão a República do Benin, Cuba, Brasil, Trinidad, e Estados Unidos.

A origem deste idioma é obscura, e não existe nenhuma evidencia conclusiva provando onde exatamente se originou. A quem diga que o idioma yorubá provém dos Egípcios, a centenas de anos atrás, evidenciados no fato de que um vasto número de palavras yorubás serem bem parecidas com as Egípcias, porém realmente, não existe nenhuma explicação formal de como surgiu o idioma na Nigéria.

Os Yorubás

Os Yorubás são um dos mais importantes grupos étnicos da Nigéria, apreciam uma história e cultura muito rica. Existem várias teorias sobre a origem do povo yorubá, estas informações se agrupam cuidadosamente nas declarações via tradição oral.

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Este povo parece ter se originado de Lamurudu, um dos reis de Mecca (na atual Arábia Saudita). Lamurudu teve um filho chamado Oduduwa, que é amplamente conhecido como o fundador das tribos yorubás. Durante o reinado de seu pai, Oduduwa era muito influente a atraiu vários seguidores, transformou as mesquitas, em templos para a adoração de ídolos, com a ajuda de um sacerdote chamado Asara.

Asara teve um filho, Braima, que foi educado como muçulmano, e se ressentiu da adoração obrigada de ídolos.

Por influência de Oduduwa, todos os homens da cidade, eram ordenados em uma expedição de caça, que durava três dias, em preparação para honra e culto de seus deuses. Braima aproveitou a oportunidade da ausência dos homens e tomou a cidade. Ele destruiu tudo, inclusive os ídolos, deixando um machado no pescoço do ídolo mais importante. Na volta da expedição, se deram com a cidade destruída, e foram atrás de Braima para queimá-lo vivo. Neste momento começou uma revolta que desencadeou uma guerra civil.

Lamurudu foi morto e seus filhos expulsos de Mecca. Oduduwa e seus seguidores conseguiram escapar, com dois ídolos, para ilé-if (ainda ilé-if na Nigéria moderna). Oduduwa e seus filhosẹ̀� ẹ̀� juraram se vingar; mas Oduduwa morreu em ilé-if , antes de ser poderoso suficiente para ẹ̀�lutar contra os muçulmanos de seu país. Seu primogênito Okanbi, comumente chamado de Idekoseroke, também morreu em ilé-if . Oduduwa deixou sete príncipes e princesas. Destes ẹ̀�originaram-se várias tribos yorubás. A primeira era uma princesa que se casou com um sacerdote e se tornou mãe de Olowu, que se tornou rei de Egbá. A segunda princesa se tornou mãe de Alaketu, progenitor do povo de ketu; o terceiro se tornou rei do povo de Benin; o quarto Orangun, se tornou rei de Ila; o quinto Onisabe se tornou rei de Savé, e o sexto se tornou rei dos Popos. O sétimo e último a nascer era Oranyan (Òrànmíyàn) (odede), que se tornou progenitor dos yorubás; ele era o mais jovem, mas eventualmente se tornou o mais rico. Ele construiu a cidade de Ọyọ Ajaka, hoje Ọyọ.

De ilé-if , os descendentes de Oduduwa espalharam-se por outras zonas da região yorubá; ẹ̀�entre os estados que fundaram estão Ijesha (Ijexá), Ekiti e Ondo a leste; ketu, Sabe e Egbado a oeste; Ọyọ a norte, e Ijebu a sul.

Oranyan, fundou a dinastia de Ọyọ, que veio a ser o mais conhecido dos estados yorubás, em virtude de seu domínio político-militar sobre grande parte do sudoeste da Nigéria e da área que é hoje a República de Benin. Estas estruturas políticas e militares tem sido muitas vezes citadas como modelos de organização, onde figurava o Aláàfin ou rei, considerado como um chefe cuja posição na terra era comparável à do ser Supremo no Paraíso. O Aláàfin governava com a ajuda de seus poderosos conselheiros, os Ọyọ Mesi, que eram numericamente sete e que tinham também a seu cargo a escolha do novo Aláàfin, de entre os filhos do rei anterior. O chefe dos Ọyọ Mesi, o Basorun, tinha como funções às de chefe de estado e de conselheiro principal do Aláàfin, enquanto que o exército de Ọyọ era chefiado durante uma guerra por um grupo de nobres conhecidos por Eso, o chefe dos quais era o Are-Onakakanfo ou o generalíssimo do exército.

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Odùdúwà - Fundador da cultura Afro - 2000 a 1800 A.C.

Okanbi - 1º Aláàfin de Ọyọ – 1700 a 1600 A.C.

rànmíyàn 2º Aláàfin de Ọyọ – 1600 a 1500 A.C.Ọ̀�

Ajaká - 3º Aláàfin de Ọyọ – 1500 a 1450 A.C.

Xangô - 4º Aláàfin de Ọyọ - 1450 a 1436 A.C.

Ajaká - 5º Aláàfin de Ọyọ - 1436 a 1370 A.C.

Aganju - 6º Aláàfin de Ọyọ – 1370 a 1290 A.C.

Kori - 7º Construção de ede/Osogbo

Oluaso

Onigboni

Afiran - Construção de Saki

Eguoju - Construção de Igboho

Orompoto

Ajiboyede

Abipa - Reconstrução de Ọyọ

Obalokun

Ajagbo

Odarawu

Kanran

Jayin

Ayibi

Nos dias de hoje, o rei (Ọba ou Oòni) de ilé-if , seria como o Papa negro, é o homem que ẹ̀�representa toda cultura negra iniciada por Oduduwa. É o líder espiritual da cultura yorubana, sua coroa representa a autoridade dos Obás. Todos os demais Obás (reis) dependem e curvam-se a seus conselhos. Em seu palácio em ilé-if estão guardados os oráculos oficiais de ẹ̀�Oduduwa, fundador de ilé-if e bisavô de Xangô. Presume-se que Oduduwa tenha vivido de ẹ̀�2.180 a 1800 A.C.

Mistérios de Odùdúwà

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Ọpa rànyàn Ọ̀�

Ọpa rànyànỌ̀�

A mais conhecida de todas as peças arqueológicas encontradas até hoje, relacionada com a veneranda figura de Odùdúwà, o ancestral da raça negra, é a Ọpa rànyàn (monolito de Ọ̀�

rànmíyàn), que se supõe ser o túmulo do herói. Em forma de obelisco, nitidamente de Ọ̀�inspiração fenícia, o monólito tem uma inscrição formada por palavras da Cabala hebraica, que parecem confirmar todas as lendas e mitos em torno da origem de Odùdúwà e sua ligação com os lemurianos. Estão gravadas na pedra as seguintes palavras: Yod, Resh, Vo, Beth, Aleph, cuja tradução seria: A divindade (Yod) por ordem da Unidade Psíquica do ser (Resh) deu origem (Vo) ao movimento da luz (Beth), objeto central de estabilidade coletiva do Homem (Aleph).

Assim, os símbolos Yod e Resh comporiam as letras YOR; o símbolo VO, a letra U; o símbolo Beth, a letra B; e o símbolo Aleph, a letra A.

Y OR U B A

Yod

Yod

Resh

Resh

Waw

Waw

Beth

Beth

Aleph

Aleph

Ao mesmo tempo em que se chega a uma origem cabalística da palavra Yorubá, a inscrição é uma profecia sobre a implantação do Império Ioruba por Nimrod/Odùdúwà. “ A divindade… (Odùdúwà), por ordem da Unidade Psíquica do Ser… (Deus), deu origem ao movimento da Luz… (o movimento migratório da raça numa missão religiosa), objeto central de estabilidade coletiva do Homem (a fundação da antiga cidade de Ilé – Ifé, berço da cultura Yorubá).

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Esta tese é defendida por teólogos e africanólogos ligados aos estudos básicos da religião africana.

O Aláàfin de Ọyọ, (rei de Ọyọ) é o líder político da cultura yorubana, na realidade é o líder dos yorubás. Senta no mesmo trono que seu ancestral Xangô ocupou. Representa o poder ancestral dos conquistadores desta raça.

A Religião dos Yorubás

A religião tradicional yorubá envolve adoração e respeito a Ọl run ou Olódùmarè, o criador, ọ́�dos Orixás e dos antepassados, e cultuam 401 deidades; a maior parte desses Orixás são figuras antropomorfas, que também são associadas com características naturais. As pessoas rezam e fazem sacrifícios, de acordo com suas necessidades e situação. Cada divindade tem suas regras, ritos e sacrifícios próprios. Os yorubás rezam para os Orixás para intervenção divina em suas vidas.

Ọl run (o dono do céu), ou Olódùmarè é o Deus supremo dos yorubás, ele é o criador, é ọ́�invocado em benções e em certas obrigações, mas nenhum santuário existe para ele, nenhum sacerdócio organizado.

Os yorubás, também, crêem que os antepassados interfiram diariamente nos eventos da terra. Em algumas cidades são feitos, anualmente festivais, onde cada Egungun dança, e é festejado. Como já vimos os yorubás, são um povo com uma cultura muito rica. Eles superaram muitos obstáculos para alcançar o ponto que estão hoje. Sua cultura e história podem ser vista ao longo do mundo, especialmente as convicções religiosas, em outras palavras, os yorubás são dos mais influentes povos do mundo.

Outra explicação que se faz a respeito do aparecimento das divindades seria que Oxalá ou Obatalá, deus da criação instalou seu reino em Ifé, lugar sagrado dos yorubás. Fala-se que Obatalá tinha um irmão mais moço chamado Oduduwa, que ambicionava executar as tarefas que Olódùmarè confiou a Obatalá e, para tanto, fez um ëbö, contando com a colaboração de Exu, que armou uma cilada, provocando muita sede em Obatalá, que se encontrava bastante cansado da viagem. Ao se aproximar de uma palmeira, usando seu cajado, furou a dita palmeira e bebeu o emu ( vinho de palma) que jorrava. Exausto embriagou-se rapidamente e ali mesmo deitou e adormeceu. Oduduwa que vinha de espreita na retaguarda, passou em sua frente, tornou-se fundador dos povos yorubás.

Nascimento dos Yorubás

Outra formalidade importante yorubá é o nascimento de uma pessoa. Dar nome a um filho envolve a comunidade inteira, que participa dando boas vindas ao recém nascido, felicitando os pais e fazendo pedidos em conjunto para que o filho tenha um futuro feliz e afortunado.

A família, primeiramente, escolhe o nome apropriado ao filho; o nome geralmente é escolhido de acordo com as circunstancias do nascimento da criança, observando as tradições de família e até fenômenos naturais que aconteceram em torno da nascimento do bebê. Depois do nome selecionado, o pai ou um parente mais velho anuncia o dia de dar o nome que é chamado Ikomojade. Tradicionalmente, para meninos é um dia após o nascimento, para meninas é no

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sétimo dia e para gêmeos de ambos os sexos, no oitavo dia de nascimento. Hoje em dia a prática é feita no oitavo dia para todos os recém nascidos.

A cerimônia acontece ao ar livre, a criança deve estar com os pés descalços, e á a primeira vez que ela tem contato com os pés na terra, é a primeira vez que o filho sai fora de casa. Todos os parentes e membros da comunidade têm interesse em dar boas vindas ao recém nascido, cada pessoa trará dinheiro, roupas e outros presentes tanto para o filho quanto para aos pais. As mulheres entregam os presentes à mãe e os homens dão os presentes ao pai. Depois de todos os presentes à mãe entrega o filho a um ancião, que exercerá os rituais; é apropriado que um velho ancião seja o primeiro a guiar o filho.

Tudo começa quando um jarro de água é jogado sobre o telhado, de forma que o recém nascido é seguro de baixo e recebe no corpo a água que cairá de volta. Se o filho se manifesta gritando é considerado de bom sinal, isto indica que ele veio para ficar. A água é o primeiro dos muitos itens cerimoniais, seu uso reflete a importância do filho para a família. Após o filho ser borrifado com água o ancião sussurra o nome do recém nascido em seu ouvido; e molha seu dedo na água e toca a fronte do bebê, e anuncia o nome escolhido em voz alta para que todos ouçam. São colocadas as vasilhas contendo os ingredientes necessários para continuação da formalidade; cada ingrediente tendo um significado especial. A primeira vasilha consiste em pimenta vermelha da qual o ancião dá uma prova ao pequeno filho. A pimenta simboliza que o bebê será resoluto e terá comando acima das forças da natureza. A pimenta então é distribuída para o gosto da assembléia inteira; depois da pimenta o recém nascido experimenta água, significando a pureza de corpo e espírito, que o deixará livre das doenças; logo o ancião oferece sal ao bebê, que simboliza a sabedoria, a inteligência; deseja-se que nunca lhe falte o sal, mas que sua vida não seja salgada, que ele tenha felicidade e doçura na vida, que tenha uma vida sem amargura; depois é oferecido óleo de palma (epô) que é tocado com os dedos nos lábios do bebê, num desejo de potência e saúde. O filho então saboreia mel, e o ancião pede que ele seja tão doce quanto mel, para a família e para a comunidade, que tenha felicidade. Depois é oferecido vinho, para que o filho tenha fartura e prosperidade na vida; e finalmente o bebê recebe uma prova de noz de kola, simbolizando o desejo para boa fortuna do filho. O ancião, ou particularmente o pai da criança, pode adicionar mais ingredientes para fazer parte da formalidade, pode ser objetos que representam as divindades que a família cultua, como por exemplo se a deidade da família é Ogum, o pai exige que uma faca ou espada seja usada na formalidade, e assim por diante. O nascimento mais importante é de gêmeos (Ibejis), o nome do primeiro nascido será Táíwo, e o segundo a nascer será chamado de Kéhìndé; e o filho nascido depois de gêmeos será chamado de Idowu, este nascimento é cercado de superstições.

Depois do item final ser distribuído para a comunidade, começam as festividades, e todos comem e dançam numa grande alegria que durará até a madrugada.

Os Yorubás e a morte

Os yorubás e muitos outros grupos africanos acreditam que a vida e a morte alternam-se em ciclos, de tal modo que o morto volta ao mundo dos vivos, reencarnando-se num novo membro da própria família. São muitos os nomes yorubás que exprimem exatamente esse retorno, como Babatundê, que quer dizer "o pai renasceu".

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Para os yorubás, o mundo em que vivem os seres humanos em contato com a natureza, chama-se de aiyê, e um mundo sobrenatural, onde estão os Orixás, outras divindades e espíritos, é chamado de orum. Quando alguém morre, seu espírito ou parte dele vai para o orum, de onde pode retornar ao ayiê nascendo de novo.

Alguns espíritos são cultuados e se manifestam nos festivais de egungun no corpo de sacerdotes que se dedicam a esta parte do ritual africano, comandados pelo sacerdote chefe chamado Babansìkù; nesta ocasião transitam entre os humanos, julgando suas faltas, dando conselhos e resolvendo contendas e pendências de interesse da comunidade. Assim como a sociedade egungun cultua os antepassados masculinos do grupo, outra sociedade de mascarados, a sociedade Gèlédé, se dedica a homenagear as mães ancestrais (as Iya Nla).

Na concepção yorubá, existe a idéia do corpo material, que chamam de ara, o qual se decompõe com a morte e é reintegrado a natureza, por este motivo os sacerdotes antigos não gostavam da idéia de serem enterrados, pós-morte, em outro lugar a não ser direto na terra. A parte espiritual é formada de várias unidades reunidas: 1º emi essência vital de cada pessoa que independe de seu corpo físico e que sobrevive a morte deste, 2º o ori que é a personalidade-destino, espécie de portão espiritual para o culto, é no ori que reside à força principal de captação e re-emissão do axé, é nesta região que se determina qualquer tipo de comportamento, onde se pode reproduzir o conjunto de atitudes que correspondem às características psicológicas de um orixá. É conseqüentemente no ori que se manifesta o dupo que cada pessoa possui na natureza, o seu tipo de comportamental cujas características advêm da humanização de uma energia da natureza. 3º Elemi ou Eledá, a identidade sobrenatural ou identidade de origem que liga a pessoa à natureza, ou seja, o Orixá pessoal e 4º o espírito propriamente dito ou egun. Cada parte destas precisa ser integrada no todo que forma a pessoa durante a vida, tendo cada um destino diferente após a morte. O emi, sopro vital que vem de Ọl run, que está representado pela respiração, abandona o corpo material na hora da ọ́�morte, sendo reincorporado à massa coletiva que contém o principio genérico e inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial Olódùmarè. O emi nunca se perde e é constantemente reutilizado. O ori, que nós chamamos de cabeça e que contém a individualidade e o destino, desaparece com a morte, pois é único e pessoal, de modo que ninguém herda o destino do outro. Cada vida será diferente, mesmo com a reencarnação. O orixá individual, que define a origem mítica de cada pessoa, retorna com a morte ao Orixá geral, do qual faz parte. Finalmente o egun, que é a própria memória do vivo em sua passagem pelo aiyê, vai para o Orun, podendo daí retornar, renascendo no seio da própria família biológica. No caso do egun, os vivos podem cultuar sua memória, que pode ser invocada através de um altar ou assentamento, assim como se faz para os Orixás ou outras entidades espirituais. Sacrifícios votivos são oferecidos ao egun que integra a linhagem dos ancestrais da família ou da comunidade mais ampla. Representam as raízes daquele grupo.

Na religião de origem africana, a morte de um iniciado implica na realização de rituais funerários. O rito fúnebre é denominado èrìsún (erissum) no Batuque do rio Grande do Sul, tendo como principal fim, despachar o egun do morto, para que ele deixe o mundo terreno e vá para o mundo espiritual. Como cada iniciado passa por ritos e etapas iniciativas ao longo de toda a vida, os ritos funerários serão tão mais complexos quanto mais tempo de iniciação o morto tiver. O rito funerário é, pois, o desfazer de laços e compromissos e a liberação das

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partes espirituais que constituem a pessoa, nesta cerimônia. os objetos sagrados do morto são desfeitos, desagregados, quebrados, partidos e despachados, cortando qualquer possibilidade de vínculo do egun com o mundo terreno . Nestas obrigações, há cantos específicos e danças , sacrifícios e oferendas variadas ao egun e os Orixás ligados ritualmente ao morto, várias divindades participam ativamente do rito funerário através de transe. Nos rituais funerários da nação Ijexá, costuma-se velar o corpo em casa, ou seja, no terreiro, onde há toques de tambores, danças e cantigas apropriadas. A primeira providencia a ser tomada pós-morte é despachar os Barás que pertenciam ao irúnmòle do falecido. O ponto culminante do rito, é o èrìssùn, que acontece no sétimo dia. Estes rituais variam de terreiro para terreiro, de nação para nação.

A Cozinha - Os Orixás - Os Truques

A Cozinha - Os Orixás - Os Truques

OS TRUQUES ENTRE A INVENÇÃO E A RECRIAÇÃO ONDE O TEMPO NÃO PÁRA...

A comida e o comer ocupam um lugar fundamental na vida dos terreiros de Candomblé. Isso aparece explicado de várias formas, através de uma visão muito ampla, onde ela é entendida como força vital, energia, princípio criativo e doador de algo. Na comida, encontra-se a energia máxima de uma oferta, mas, acima de tudo, ela é a força que fortifica os ancestrais, então, é um meio, um veículo através do qual, grupos humanos e civilizações, se sustentaram durante milênios fazendo contrato com o Sagrado.

No terreiro, a chamada comida de Orixá obedece a prescrições complexas construídas ao longo do tempo e redefinidas a cada momento, de acordo com a função que deva desempenhar ou à “realidade” que deseje instaurar ou dialogar. Tudo isso é expresso nas múltiplas formas, maneiras e diferentes modos de preparar, fazer ou de “tratar” os ingredientes.

Comida é sacrifício, ebó1 no seu sentido mais amplo, mola propulsora que conduz e leva o Axé2. Daí sua íntima relação com Exu, aquele que come tudo, encarregado de sua distribuição no mundo. O sacrifício é, assim, indispensável para viver, pois nada se sustenta sem esta troca

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de força, de energia, sem essa reposição, num universo onde tudo é dinâmico e nada acontece por acaso. Onde até uma folha que se desprende da árvore tem um por que preciso.

Através da comida oferecida aos Orixás, se estabelecem relações entre o devoto, a comunidade e o Orixá. É sobretudo nas festas que isso mais se expressa. Festas que se desenrolam ocultamente aos olhos dos de fora, que podem levar meses e festas que são feitas para os de fora, realizadas no barracão, tornadas públicas, onde, em algumas delas, são exibidas a maior quantidade possível de comidas servidas aos Orixás da casa, e eles próprios servem a sua comida, distribuindo, assim, aos presentes a sua força máxima.

Por traz de cada prato ofertado há uma visão de mundo, um porque, que faz com que o comer instaure um sistema de prestações e de contraprestações que englobam a totalidade da vida. Comida é sempre um contra presente.

A comida de Orixá difere, assim, das comidas servidas no dia a dia do terreiro, bem como daquelas passadas no corpo das pessoas, usadas para “descarregar”, limpar, livrar de algum contra-axé3.

Em linhas gerais, comida é tudo que se come. Desde à pimenta e o obi4 que se masca para conversar com o Orixá, ao naco de carne oferecido a este mesmo Orixá, partilhado pela pessoas. Nesse processo de diferenciação, em que os ingredientes, na sua grande maioria, são os mesmos, muda-se a forma de ritualizar, a elaboração, o cuidado, “o tratamento”, a maneira de lidar com o mesmo ingrediente, o sentido impresso e invocado através das palavras de encantamento, cantigas e rezas.

Assim, falar sobre esta comida, suas relações, circunscrevê-la dentro de um espaço, momento, consiste num dos nossos principais desafios. Enfrentá-lo, é o que tentamos fazer sob o título: A Cozinha, os Orixás e os truques: entre a invenção e recriação onde o tempo não pára...

“CANDOMBLÉ MESMO É COZINHA...”

Dentro do universo do Candomblé, a cozinha merece uma atenção especial, por ser um dos espaços onde se passa e se constitui o sagrado. Tudo nela remete a esta dimensão. Assim, “A cozinha de santo” aparece sempre como algo distinto, separado da cozinha do dia a dia. Separada na sua grande maioria, não por limites externos, mas internos que são representados por mudanças de atitude, ações, formas de uso, etc.

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Em muitos terreiros de Candomblé, o local onde são preparadas as comidas dos Orixás é o mesmo onde são feitas as comidas do dia a dia. Esta separação, todavia é realizada de forma bastante visível e determinada. Muitas vezes se reserva para as comidas de santo um fogão especial que pode ser de lenha ou industrial, enquanto a outra permanece num fogão menor. Comum é se trocar de horários. É muito difícil se mexer com as panelas dos Orixás ao lado de outras panelas, bem como misturar os utensílios destas duas cozinhas.

“ Cozinha do santo” é, assim, mais que um lugar determinado que, em terreiros de estrutura maior, os mais antigos, se tem para preparar somente os pratos dos Orixás e, sim, um espaço criado e redefinido a cada momento, no terreiro, através da separação dos objetos, utensílios e mudanças de comportamento. Tudo participa do sagrado: o espaço em si, as panelas, travessas, pratos, bacias, cestos, peneiras, colheres de pau, ralos, o pilão, as frigideiras, formas de assar e sobretudo as pessoas que nele transitam.

A cozinha é cheia de interdições como: não conversar mais que o necessário, não falar alto, gritar, cantar ou dançar músicas que não sejam do santo; não entrar pessoas que não sejam iniciadas-dependendo do que se estiver fazendo, somente um número muito restrito-não admitir que mulheres menstruadas permaneçam nela, etc. Neste espaço sacralizado, tudo vai ganhando significado: a bacia que cai, o garfo, a faca, a colher, o óleo que faz fumaçar o fogo, etc.

Na cozinha se aprende além do “ponto” certo de determinado prato, que não se dá as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe comida de Orixá com colher que não seja de pau, que a comida mexida por duas pessoas desanda, que não se joga água no fogo e que muitas pessoas por terem o sangue ruim fazem a comida desandar. Ou que a presença de pessoas de um determinado Orixá faz com que uma certa comida não dê certo, como por exemplo: em cozinha onde se tem gente de Xangô o milho de pipoca queima antes de estourar. Pela cozinha, entram as pessoas de maior prestígio na Religião e é nela própria que, em certas ocasiões, muito antes mesmo de se chegar no peji do Orixá, que este é consultado a fim de se saber se a comida foi bem preparada ou não.

Embora marcada por vários limites, a cozinha é mesmo escola mestra, local onde se aprende as lições mais antigas, através do exercício longo e paciente da observação. Local onde permanecem por maior período de tempo os iniciados, seja varrendo, lavando, limpando, guardando, acendendo ou mantendo o fogo, cozinhando, com olhos e ouvidos atentos a tudo que se passa nela. Daí entende-se o dizer corrente: Candomblé mesmo é cozinha!!!” Talvez por ser ela mais que um local de transformação e sim de passagem e transmissão de conhecimento, por onde transita algo essencial que ultrapassa os limites das oposições por situar-se no mais intimo e profundo ser do homem: o comer.

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JÉ: O VERBO COMER

Muito mais que relacionada a um sistema nutricional, a comida se articula e se compreende a partir de um universo maior onde a oralidade constitui um dos meios mais expressivos de passar seus preceitos, a observação um método indispensável para sua manutenção e o comer um dos verbos, que embora muitos conjuguem, reserva-se a poucos, restringindo-se àqueles que conhecendo o “tratamento” entendem o papel e significado desta comida como Axé, força vital e sacrifício indispensável para a conservação da vida.

A comida de Orixá articula-se num universo que estabelece diferenças e “oposições”. As primeiras dizem respeito ao que se come, ao que não se come e ao não comer; ou ainda, ao como se come e com quem . As oposições são formuladas, quanto à origem, em comidas secas e comidas de ejé. As comidas secas são também chamadas de comidas frias. São todas aquelas não provindas do sacrifício animal, ou as que são à base de grãos, raízes, folhas e frutas. Por sua vez, uma outra oposição relacionada ao quente e ao frio surge tomando como referência o azeite-de-dendê e a pimenta ao lado de outros ingredientes.

Outra maneira de formular as “oposições”, diz respeito à passagem mítica da vida de cada Orixá. Assim, há os que comem com pressa, aos que recebem comidas sem forma, amassadas e aqueles que gostam de comidas mais detalhadas. Isso explica a diversidade de iguarias numa cozinha em que há os que comem cru, mal passado, torrado, frito, cozido e amassado.

Dentro desse universo, o azeite-de-dendê ao lado da folha de banana cumprem uma função fundamental. Dendê é força, origem. Seu óleo está associado ao esplendor de algumas civilizações ou, ainda, à criação. A bananeira, por sua vez, liga-se ao crescimento e à transformação. Ela é a cama, sobre a qual, tudo que repousa, se deita sobre ela . E tudo que se enrola é envolto nas suas folhas verdes ou secas e amarrado com suas própria fibras.

Vale ainda chamarmos a atenção, que, quando se fala da comida de Orixá, associada à uma “cozinha africana”, esta é entendida como um conjunto de técnicas, formas e maneiras de preparar, trazidas pelas diversas etnias africanas, que aqui foram conservadas e reelaboradas, ao lado de outras inventadas. Assim, também, a cozinha dos Orixás. Não se trata de voltar à África, mas fazer com que tal cozinha se torne africana. Africana no sentido de expressar, trazer presente, experiências longínquas de reinos, civilizações, histórias de grupos, somadas a tantas outras. A comida de Orixá é, assim, uma “comida brasileira” em que tantos motivos afros se fazem presentes. Ao mesmo tempo, é uma “comida africana” onde inúmeras experiências do Novo Mundo foram acrescentadas à ela. Na cozinha dos Orixás, ao lado das

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continuações, temos recriações e invenções feitas a todo momento. O que faz a comida de Orixá é um ritual profundamente complexo, elaborado e articulado segundo códigos e princípios, alguns deles de “porque” perdido no tempo. Daí entender-se, mais uma vez, a frase que diz: “ Tem gente que pensa que é só comida.”

A SACERDOTISA DA COMIDA

O segredo desta culinária é comandado pela guardiã da cozinha, a Yabassê. Aquela que “muito faz e pouco fala.” Quando se fala da sacerdotisa da comida, as formas mais antigas de transmissão do conhecimento trazida pelas diversas etnias africanas vão ser evocadas: a observação e a convivência. E o mestre dos mestres será mais uma vez chamado: o tempo. O conhecimento ritual, o respeito, a criatividade e o comando apresentam-se como o perfil da Yabassê e orientam à sua escolha, mesmo que, hoje, nos “novos tempos,” poucas sejam as mulheres que se disponham a tal cargo; não pelo gosto, mas pelas funções assumidas por elas na sociedade.

A imagem da Yabassê apresentada pelos sacerdotes, remonta aos primórdios, quando Olodumaré, Deus, entregou o poder de criar e de tudo transformar às Grandes Mães. A velha que cozinha, divide, assim com o poder ancestral feminino esta força, assim como todas as mulheres. Daí recair sobre ela o tabu da impureza, que reflete as relações de poder, as tensões entre homem e mulher expressas em alguns mitos da sociedade yorubá, num ambiente onde embora sua função seja de procriar, ela goza de plena liberdade e independência dentro do grupo. Permitir que a mulher menstruada manipule a comida é expor toda a comunidade ao poder das Mães Ancestrais, que serve tanto para o bem, quanto para o mal. A Yabassê é, uma das pessoas que no terreiro, mais expressa essa força, pois trabalha com ela dia e noite, ao manipular a colher de pau para transformar grãos e alimentar tudo e todos, conservando, recriando e inventando.

OS ORIXÁS E SUAS COMIDAS

Para o povo de santo, falar sobre as iguarias oferecidas aos seus Orixás não é o mesmo que informar sobre o cardápio de um dia de festa. Dizer as coisas que o santo come é quase como revelar um segredo, um espaço de foro íntimo de cada terreiro. A ausência de muitos pratos, a presença destes sem nomes, silêncios, lapsos de memória, muitas vezes, antes de ilustrarem um desconhecimento, constituem parte de um saber, muito especial, guardado pelos mais antigos na religião, a que só poucos tem acesso. Bastante impressionante o que certa vez ouvi de uma Yalorixá: “ a Yabassê é aquela que muito faz e pouco fala”.

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O não falar insere-se no contexto onde a oralidade constitui um dos veículos mais fortes de transmissão do conhecimento, os chamados segredos, fuxicos de santo, ensinamentos rituais, fundamentais, na sua grande maioria balbuciados no ouvido do iniciado, ou passado em palavras incompreensíveis e fórmulas incompletas.

As comidas oferecidas no terreiro aparecem sempre como algo particular, pertinente àquela casa. Receitas pela metade, pratos sem nomes, queixas e justificativas somam-se, ao lado de recriações, a todo instante, no fogão dominado pela Yabassê.

Da África, os Orixás vieram de diferentes lugares, antigos reinos africanos, muitos deles inimigos. Diferentemente das suas regiões de origem, o culto dos Orixás no Brasil, antes de estar ligado à uma família, uma confraria, foi ampliado e praticado num mesmo espaço. Destruída a família clânica, extensa, sua noção vai ser reconstruída no solo brasileiro como uma grande família teológica, chamada família de santo.

No Brasil, esse universo teológico foi perpetuado mas também reinterpretado. Muitos Orixás não puderam mais ser cultuados, outros transformaram-se na vinda para o Novo Mundo. Assim como outrora na África, muitos deles trocaram de nome, mudaram de região ou até mesmo caíram no esquecimento, por conta de migrações, ou de guerras que obrigavam o grupo a peregrinar de um canto a outro. Não levavam seus rios, mas objetos sagrados em torno dos quais reorganizavam o culto de seu orixá.

Dos diversos Orixás introduzidos no Brasil, dezesseis são os mais conhecidos e cultuados pela maioria dos terreiros, embora se saiba que este número é também simbólico.

A FAROFA DE AZEITE E EXU

Exu é um dos Orixás, sobre o qual, ainda hoje, mais se fala. Ele permanece no dia a dia dos terreiros como aquele mais enigmático sobre o qual, nada traduz seus feitos, artimanhas e armadilhas.Como na África, colocado nas estradas, no mercado, na frente das casas, entradas das cidades, Exu é quem governa a frente da porta de entrada do terreiro. É o grande controlador das entradas e saídas. Daí serem seus domínios, encruzilhadas, esquinas, portas, janelas, ruas, etc.

Dele depende a comunicação, o trânsito, o sucesso nos negócios, nos jogos...

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Se acredita no terreiro, que Exu coma tudo, contando que esteja regado com muito azeite-de-dendê e ataré, pimenta.

Exu recebe ainda, pratos á base de milho vermelho torrado, feijão preto torrado no dendê e farofas de vários tipos: farofa de mel, de água, de cachaça, de vinho, de champanhe, de cerveja, embora se saiba que, como “dono do azeite”, a farofa de azeite é sua iguaria preferida.

OGUN E A COMIDA FEITA ÀS PRESSAS

Ogun é um dos Orixás mais populares no Brasil. Segundo a teologia dos terreiros, ele marcha à frente de todos os cortejos, rememorando a chegada dos novos tempos, sob a marca do ferro. Ogun é o senhor das coisas cortantes. É o patrono dos ferreiros e lembrado como pai da metalurgia. Representa a ousadia do homem em domesticar o fogo, trazendo-o para a casa, inventando a forja e construindo cidades.

No terreiro é sob a forma de desbravador e guerreiro que Ogun vai ser lembrado, empunhando sempre uma espada.

Além da famosa feijoada, Ogun come inhame assado e descascado regado com azeite-de-dendê, ou o inhame assado e espetado com palitos, como também come o inhame simplesmente cortado ao meio, passado mel e dendê . Recebe feijão preto, milho vermelho torrado e enfeitado com coco. Acredita-se que os Orixás guerreiros comem também cru ou torrado pois eles não tem tempo de esperar...

OXOSSI E A FARTURA

Oxossi aparece intimamente ligado à Ogun. No terreiro, diz-se que é seu irmão. Orixá caçador, Oxossi liga-se à terra virgem àquela não pisada, descoberta pelo pioneiro prudente que enfrenta o mistério e o segredo das florestas. Além de Ogun, Oxossi liga-se à Ossain, às folhas, ao segredo das plantas e remédios. De acordo com alguns mitos, Ele teria sido enfeitiçado por este Orixá, se embrenhado no mato de onde nunca mais saiu.

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Oxossi representa o recolher dos grãos, a produtividade, as atividades coletoras e à caça. A ele são oferecidas frutas, além de comidas à base de milho e feijão fradinho torrado.

OSSAIN, O VEGETAL

Ossain participa de toda a vida do terreiro, mantendo relações com todos os Orixás. Ele é a própria folhas ( Ewé), indispensável à medicina.

Ao lado das comidas oferecidas a este Orixá, vão aparecer oferendas obrigatórias como moedas: o pedaço de fumo, o mel e o vinho colocados na sua cabaça. Acredita-se que, sem estas prendas, ninguém ousaria penetrar no seio das matas, no âmago da floresta, domínio de Ossain.

Ossãe vai comer pouco por ser considerado um vegetal. Em algumas casas, recebe um prato de milho branco, temperado com cebola, dendê e camarão e enfeitado com duas maçãs verdes, cortadas em cruz.

Ossain também come, além de frutas, comidas à base de feijão fradinho, torrado ou cozido, milho e batata doce cozida, amassada e refogada com azeite-de-dendê. Come, também, farofa de mel temperada com fumo de rolo desfiado e enfeitado com folhas da costa.

OBALUAIYÊ COME MESMO É DOBURU, PIPOCAS

Obaluaiyê ou Omolu é conhecido por vários nomes: médico dos pobres, meu avô, o velho. Diante dele todos são obrigados a se curvarem. Ele liga-se, diretamente, à terra e com ela aos antepassados, nascidos para uma outra vida.

No Novo Mundo, várias histórias de curas se juntaram aos mitos trazidos pelos africanos e africanas escravizados, sobre suas conquistas e guerras vencidas. No barracão do terreiro, o guerreiro valente vai apresentar-se sob palhas que caem sobre seu corpo, escondendo a varíola e todas as espécies de doenças contagiosas. Só os preparados podem tocar neste Orixá. Dele só se ouve o grito ou o assobio que intercala sua dança principal, o opanijé, quando somente os atabaques tocam. Em Yorubá, tal palavra traduz a marca forte deste Orixá temível e respeitado por todos: “Ele mata qualquer um e come.”

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Obaluaiyê come tudo! A comida dos outros e a dele. Come doburu torrado, isto é, pipopas, coco, feijão preto, milho torrado e o afufurá que é uma farofa de milho, temperada com coco, açúcar, tudo torrado e enrolado tipo cartucho. Ele come o que Ogun come.

DAN, AS COBRAS E A COMIDA

Oxumarê é a cobra e o arco-íris ao mesmo tempo. Dan, na língua fon, ou Oxumarê para os yorubás, que dança fazendo os movimentos de uma cobra, apontando para cima e para baixo, ou arrastando-se no chão, é macho e fêmea. Nesta última posição aparece com o nome de Ewá.

Em algumas estórias, Ewá foi a mulher bonita que teria enganado a morte quando esta procurava Orunmilá , o testemunho do destino . Como Oxumarê, Ewá é considerada um dos Orixás que exigem muito saber e conhecimento para que se realize a sua iniciação. As suas comidas são à base de banana da terra e batata doce. Há casas, todavia, onde ele recebe feijão fradinho torrado ou cozido e folhas de mostarda.

Sobre estas comidas não se comenta muito também. Verdade é que, assim como este Orixá macho e fêmea, de difícil fundamento. Suas comidas são consideradas também escassas.

NANÃ E O RESPEITO ÀS IDADES

Outro Orixá que é cercado de muito mistério, respeito e temor é Nanã. Ela, juntamente com Obaluaiyê, é um Orixá muito antigo.

Diante da Anciã que domina os pântanos e territórios lamacentos, com seu cajado ritual, seus passos lentos, sua sabedoria, as pessoas se curvam como se dobrassem o corpo perante a própria morte.

No terreiro, diz-se que ela é mãe de Omolu e Oxumarê. Tiras longas de búzios caem de seu ombro, assim como em seus filhos. Colocada sempre junto à Oxalá, Nanã guarda nas suas cores escuras, o segredo e o mistério da existência.

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Nanã come dandoró, feijão fradinho descascado um por um, após ter ficado de molho por algum tempo. Depois tempera-se com cebola, camarão e dendê. Ela gosta também de mingaus

Nanã também recebe milho branco temperado com azeite doce e camarão, enfeitado com folhas de mostarda, assim como arroz bem cozido, temperado com mel, ou arroz com casca, “estourado” no fogo como pipoca, além da sobra da pipoca, pilada, feito, pó, refogada no azeite-de-dendê.

Diz-se ainda que a Velha é o celeiro do mundo, todos os grãos lhe pertencem. A ela nosso respeito!

OS TRUQUES, A COZINHA E OXUN

Oxun é conhecida por sua vaidade, riqueza e beleza. Ela é a grande responsável pela vida uterina, daí suas relações com as feiticeiras, mães ancestrais. Cultuada nos rios, nas águas correntes das cachoeiras, Oxun come Omolocum, mas seu prato predileto mesmo é o ypeté, seu segredo feito com camarão ou peixe. Oxun come também ovos, efó e vatapá.

O omolocum é considerada a comida sagrada de Oxun, e possui muito mistério. É feito com feijão fradinho cozido, temperado com azeite-de-dendê, cebola, camarão e um pouco de sal. Depois de pronto, é arrumada numa vasilha e enfeitada com ovos cozidos, símbolo por excelência de Oxun.

O efó é uma comida feita com folhas. Consiste em folhas aferventadas no vapor e refogadas no azeite-de-dendê com um pouco de sal.

O vatapá pode ser feito de farinha de trigo, de mandioca, ou de pão. É uma comida onde se mistura ao leite de coco, a farinha , o azeite-de-dendê, a cebola, o camarão, a castanha, o amendoim, o coentro, o tomate e o pimentão bem triturados.

LOGUN, CAÇADOR E FILHO DE OXUN

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Entre os velhos, guerreiros e grandes mães, Logun Edé é colocado como menino, príncipe. De acordo com algumas estórias, é filho de Oxun com Oxossi. A dona dos rios teria se travestido em samambaia para conquistar o velho caçador que pescava às margens deste. Desse casamento nasceu Logun, um caçador que possui os atributos de seu Pai e de sua Mãe.

Dos Orixás trazidos pelos africanos de Ijexá ao Brasil, só restou Logun Edé, o menino que seis meses vive na terra e caça e seis meses vive debaixo d’água e se alimenta de peixes. A terra que sustenta o leito dos rios, na verdade é a sua representação por excelência.

No terreiro, as oferendas que lhe são servidas, são acompanhadas das comidas de Oxun e de Oxossi misturadas. Logun come o que Oxosse e Oxun comem. Come misturado o axoxô com o omolocum.

OBÁ, O ORIXÁ VENCIDO PELA COMIDA

Obá insere-se na lista daqueles Orixás raros, de culto quase em extinção, que exige muito saber e profundo conhecimento ritual, fundamentos e preceitos para iniciar alguém.

Na memória do povo de santo, guarda-se sua profunda ligação com Xangô, do qual teria sido a terceira esposa. Traída por Oxun, a velha Obá teria sido logo abandonada por seu marido, irritado por ver flutuando na sua sopa um pedaço de sua orelha.

A guerreira que se traja de cores fortes, come abará, mas gosta também, de Omolocum misturado com farinha de milho com uma cebola crua em cima.

O abará é uma comida feita à base de feijão fradinho descascado e passado na máquina com cebola e camarão. Após a massa pronta, acrescenta-se gengibre e azeite-de-dendê. Depois enrola na folha de banana e cozinha-se no vapor.

OYÁ, AKARÁ E O FOGO

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A senhora dos ventos e das tempestades e do rio Níger, que na África chama-se Odò Oyá, esposa preferida de Xangô, o rei dos trovões, popularmente conhecida por um dos seus títulos, Yansã , em terras brasileiras é um dos Orixás mais festejados.

Embora associada às águas, Yansã divide o elemento fogo com o rei. De acordo com um mito, esta teria esta poção mágica, a pedido deste, mas no meio do caminho comeu parte dela, dividindo-a a partir de então, com o senhor que arremessa pedras de raio, tal poder.

A comida preferida de Oyá é o akará, o famoso akarajé. Mas ela come também, caruru em rodelas.

YEMANJÁ E O EBÔ-YÁ

Yemanjá é a mãe de todos os Orixás. Nas estórias, Yemanjá possui vários nomes. Todos querem dizer algo sobre a mulher cujos seios partidos deram origem aos dois maiores oceanos e cujo ventre esfacelado a fez mãe de todos os Orixás.

A paciência é uma de suas características, o rigor sua marca; a beleza e a serenidade lembram a grande mãe que, quando dança nos seus filhos e filhas, balança os braços as mãos como ondas que outrora embalaram o mundo. Yemanjá é a mãe de todos.

Princípio da fertilidade, várias passagens lembram seu trabalho ao lado de Ajalá, o modelador do ori, a cabeça. Yemanjá encontra-se naquele período primordial de cada ser humano, quando seu odu, destino, herança ligada aos seus ancestrais míticos e antepassados é dado, amparando tudo e todos. A ela são consagradas todas as cabeças. A inteligência e o equilíbrio do mundo lhe pertencem.

A principal comida dada a Yemanjá chama-se Ya Ebô, ou seja, milho branco refogada com cebola ralada e camarão moído e um pouco de camarão inteiro. Em determinadas casas, faz-se com azeite de oliva em razão de Yemanjá está muito próximo a Oxalá.Yemanjá recebe também manjar, um prato feito com leite de coco e creme de arroz.

AMALÁ, A COMIDA SECRETA DO REI

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Xangô é rei. Este Orixá é de tanta popularidade que, no Recife, seu nome diz respeito a todos os cultos africanos praticados em Pernambuco.

Conhecido como juiz e princípio da justiça, Xangô, que odeia a mentira, pune com rigor e violência todos os seus inimigos. Na sua dança, relembra sua majestade, mas também sua criatividade diante do fogo. Pai de muitos filhos e homem de muitas mulheres, Xangô é comemorado ao redor de sua comida preferida, o amalá, prato regado com um molho de quiabos. Além disso, Xangô gosta de comer inhame, bola de arroz e akassá .

OXALÁ, AS RAÍZES E OS GRÃOS

Na lista dos Orixás, Oxalá ocupa uma posição incontestável. É o rei do pano branco. Por baixo da alvura de suas vestes vela-se o segredo da existência, da vida e da morte. Ele é as águas imemoriais que enchiam a terra. Quando se fala em Oxalá, pensa-se em Deus, numa coisa universal, no Universo, feminino e masculino, pois, Deus não tem sexo. É um dos Orixás mais antigos.

Apoiado num cajado ritual, o opaxôro, ou árvore da vida, o Ancestral da Criação surge sob duas formas. A primeira, como um ancião que se movimenta apoiado com a ajuda das pessoas e a outra como um guerreiro, amante de inhame pilado que luta armado de escudo, espada e exibe numa de suas mãos, sua insígnia, a mão de pilão.

Uma de suas comidas, o ebô, nomeia também a sua festa. O Ebô é uma comida feita de milho branco simplesmente bem cozido. Oxalá come também inhame cozido amassado, akassá, uma pasta feita de milho, enrolada na folha de banana, e ekuru, iguaria à base de feijão fradinho, cozida no vapor.

GRÃOS, FRUTAS, RAÍZES E FOLHAS

No cardápio à base de folhas, grãos, frutas e raízes, o feijão e o milho aparecem quase como ingredientes obrigatórios. Oxossi e Ossain vão receber todas as frutas.

Em linhas gerais, os Orixás elementares associados à terra e os que se relacionam com estes reclamam comidas menos elaboradas, mais simples: raízes e grãos simplesmente bem cozidos, às vezes amassados. Aqueles que se ligam a momentos de passagens, de rupturas, às migrações, às guerras, como os caçadores, comem muito rápido, na linguagem do povo de

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santo, às presas, refletindo a instabilidade da fixação do grupo no solo, as resistências e dificuldades encontradas, o esforço para expandir as fronteiras de sua civilização: São suas comidas: o milho torrado, o inhame espetado de palitos, ou assado, sapecado no fogo, ou até mesmo cru, cortado e posto simplesmente nos pés do Orixá, ou regado com azeite-de-dendê ou jogado a seus pés, como é o caso de Oxoguiã. Comidas preparadas, diferentemente daquelas feitas à base de farinhas de inhame, de milho, de feijão, quiabo, regadas no azeite-de-dendê, em forma de pastas ou fritas.

O inhame permeia todos os pratos. Com ele se prepara múltiplas iguarias, as mais variadas, servindo desde suporte para se fazer um paliteiro, à ingrediente de papas e massas através de seu cozimento, refletindo, assim, a sua importância social e cultural conhecida por toda a África pré-colonial que ergeu verdadeiras civilizações em torno deste tubérculo. Na linguagem do terreiro, o inhame aparecerá como um instrumento forte e, como tal, algo que entra em toda culinária.

UM BRINDE ÀS COMIDAS

Embora fuja à nossa discussão, as bebidas exercem uma vital importância ao lado das comidas de santo no terreiro. Não há comida sem bebida.

No terreiro, é por todos conhecido, que um dos tabus de Oxalá é a bebida alcoólica, obtida através da fermentação independente do método usado para isso . O Criador teria se embriagado com o vinho de palma, extraído do dendezeiro, após furar o seu tronco, no momento da criação. Mas é também sabida, a grande apreciação de Ossain, pela bebida. Ninguém ousa entrar no mato sem desejar ao lado de sua comida uma garrafa ou cabaça contendo os elementos de sua preferência. Sem falar de Exu, que reclama todas as bebidas. Beber é um ato que acompanha o comer e há momentos onde isso se torna imprescindível.

Água é a bebida básica presente em tudo. Assim, é prestígio para a casa, uma pessoa reconhecida na religião pedir água e tomar. Mesmo porque só se pede e se bebe água quando se tem muita confiança. A água acompanha, obrigatoriamente, todas as comidas oferecidas aos Orixás.

Não pode deixar de ser mencionada a importância do vinho de uva. Talvez rememorando o vinho extraído do dendezeiro, vinho africano, presente somente, hoje, na memória dos terreiros. O mais usado é o vinho branco, licoroso, doce. Há situações, todavia, que pedem o vinho tinto, mas sempre o doce, como é o caso do caruru de Ibeji em alguns terreiros. É

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imprescindível que na mesa dos “meninos”, nas taças em que as crianças brindam neste dia, não falte o vinho. É uma bebida de honra.

Há bebidas consideradas quentes como o aguardente de cana, estas são reservadas à Exu, que algumas vezes recebe também gin ou whisky. Na verdade, Exu toma de tudo, desde o champanhe, bebido em momentos de passagens muito especiais, à cachaça comum.

A cerveja é outra bebida que merece destaque. É comum ser oferecida à beira das estradas para Ogun. Os refrigerantes, por sua vez, são oferecidos à Ibeji, exceto a coca-cola que parece não participar das comidas que acompanham alguns pratos rituais.

Estas bebidas alternam-se nos terreiros, ao lado do tradicional, aluá, ou aruá, bebida africana fermentada, após três a sete dias numa vasilha de barro, feita com gengibre e rapadura. Ou ainda com abacaxi, ou milho. Dentro do ritual o aruá cumpre várias funções. Ao lado da água, é a bebida que não pode faltar.

Há ainda os mingaus, mingau de mungunzá, mingau de carimã, o mingau de tapioca, o arroz doce de beber e até mesmo o dengué.

O mungunzá é uma bebida feita de milho branco cozido, temperado com leite de coco e açúcar e um pouco de sal.

Carimã é a massa obtida da mandioca após deixá-la de molho na água, de três a sete dias a fim desta amolecer.

Para se fazer o arroz doce de beber, cozinha-se o arroz bem cozido depois acrescenta-se leite de cocô e açúcar e um pouco de sal para equilibrar o doce, como se diz.

O dengué surge sempre associado à Oxalá. É uma bebida feita de milho branco cozido, comida preferida deste ancestral, acrescido de água e açúcar.

Há ainda, bebidas sobre as quais não se falam, feitas na hora, como alguns chás e beberagens. Como algumas comidas, certas bebidas inserem-se no mistério do mundo do segredo das folhas, domínio de Ossain que conhece todos os encantamentos.

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UMA COZINHA AFRICANA?

Já no seu tempo, Nina Rodrigues, ao finalizar o capítulo sobre algumas nações africanas no trabalho sobre “Os Africanos no Brasil ” , ao referir-se à arte culinária e à marcante presença de hábitos africanos, sobretudo na Bahia, chama a atenção para o fato de que é difícil precisar, devido ao estado atual dos costumes, a quais grupos pertenceriam determinada comida. Salvo o famoso arroz de haussá que, de acordo com a sua designação, expressaria sua origem, levando-se a crer que , se não toda a culinária, a maioria dos pratos deveria ter provindos dos negros sudaneses.5

Manuel Querino é um dos poucos autores que assinalam a contribuição dos grupos banto ao lado dos minas, à culinária chamada de africana, contrariando a tese daqueles que insistem na predominância eminentemente nagô nesta cozinha. Diz Querino: “ Entre as mais peritas na arte culinária destacavam-se angola, jeje e congo...” 6

Nos terreiros, esta cozinha, marcada por uma série de preceitos e interdições, vai aparecer relacionada diretamente aos Orixás através das chamadas “comidas de santo”. Assim, cada Ancestral recebe em dias especiais pratos de sua preferência. Não se trata porém só de comer: o que se come, o que não se come, quando se come, com quem, participam de um todo integrado que diz respeito à códigos imprescindíveis dentro do “cardápio dos Orixás”. E mais ainda, esta comida dentro da dinâmica do terreiro é um dos veículos de vital importância para a transmissão e distribuição do Axé. Cabe, então, buscar responder a duas questões: a primeira diz respeito ao que faz com que esta cozinha seja “africana” e depois, o que faz com que a comida seja comida de santo.

Seja a “comida de santo” reelaborada a partir de técnicas e maneiras de predominância banto, jeje ou nagô-yorubá, fato é que, desde cedo, alguns africanos e africanas foram aproveitados para o serviço culinário, produzindo, desde então, modificações nas refeições à moda do Reino.7

Outro fator que deve ser considerado é a falta de mantimentos num país, desde os seus começos, assolado pela fome. Da nova terra, o português, ao lado das caças e muitos frutos, só pode aproveitar a mandioca e o milho, mantimentos básicos que sustentavam seus habitantes.

Situações diferentes, viviam os africanos da cidade. Sobre a escravaria urbana, somente nos últimos anos começaram a ser realizados estudos mais elaborados e profundos. Segundo Edison Carneiro, o aparecimento do negro doméstico (negro de aluguel e de ganho) estava eminentemente relacionado com o momento econômico em que os africanos passaram a exercer trabalhos de confiança, em que eram escolhidas as mulheres mais bonitas e os homens mais sociáveis para vender nas ruas.8 Isso teria ocorrido no século XVIII, sobretudo no

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Nordeste. Carneiro, todavia, não desconhece que os africanos, desde cedo, ocuparam as cozinhas, e nelas introduziram, como puderam, seus modos e aos poucos foram modificando o que se comia .

Os ingredientes africanos ou vindos da África como o quiabo, a vinagreira, o inhame, a erva doce, o gengibre, o gergelim, os bredos, o amendoim, as melancias, o azeite-de-dendê e outros, foram entrando aos poucos no Brasil de acordo com as exigências do tráfico ou da população que aqui se estabelecia, como por exemplo, o óleo de palma importado da costa da Mina, trazido através de passaporte, após decretada a ilegalidade do tráfico a partir do século XVIII. Não é possível, no entanto, se pensar nesta cozinha e nem em nenhuma outra somente a partir de tais elementos.

Ela é mais do que um conjunto de materiais naturais que podem ser adaptados ou substituídos. A própria adaptação e substituição obedece a uma certa ordem inscrita nos mais remotos tempos, fazendo com que a comida não perca seu sentido nem se afaste da visão de mundo que ela representa. O que dá identidade a determinada comida não é a origem dos vários ingredientes combinados, mas a maneira como estes elementos são combinados. E estas maneiras obedecem a determinados ritos que lhes dão sentido e, como tais, apresentam-se como algo criativo. Assim, é completamente arbitrário buscar precisar datas para essa culinária, entendendo esta como algo parado, fechado, se o próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la.

Neste trabalho dinamizado pelo tempo, é essencial chamar a atenção para um fato de que poucos se deram conta, além do etnólogo Pierre Verger: a participação do Oceano como um fator de ligação, mais que de separação.9 Não se pode esquecer que por ele, vieram várias permutas alimentares trazidas pelos europeus para o Novo Mundo, entraram muitos elementos africanos que voltaram abrasileirados de uma Nação onde o elemento negro era os pés e as mãos, parafraseando Antonil, e mais ainda, onde era quase que impossível após três séculos de convivência não impregnarem a sociedade com profundas marcas.

Era impossível, diante dos novos quadros sócio- culturais, políticos e econômicos, que estes modos de fazer, técnicas e maneiras das diversas etnias africanas, não fossem visivelmente sentidas, ao lado de tantos outros. Bem como não terem incorporado outros elementos da sociedade que estavam inseridas.

As condições de possibilidade para se pensar uma “cozinha africana” não podem ser pensadas a nível cronológico, assim como não pode prescindir desse tempo. Elas vão acontecendo, se dando, de acordo com o tipo de situação servil ou livre e o lugar em que vivia o africano,

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variando, desde o primeiro momento em que dividiu a cozinha com a cunhã, até quando pode, ante às novas condições suscitadas pelo processo histórico, negociar com um tabuleiro.

Certamente será, sobretudo, na cidade, a partir do século XVIII que estes usos e abusos mais poderão ser sentidos, seja nas mesas ou nas ruas como mercadoria cantada.

“COZINHA É LUGAR DE TRUQUE”

Seja fazendo o uso de ingredientes nacionais ou de outros vindos do além mar, conservando, recriando ou inventando alguns pratos, a “africanidade” sugerida pelos pratos que compõem “a cozinha de santo” não se explicam pelos ingredientes que entram na sua composição, mas pelas técnicas, maneiras, pelo tratamento recebido por eles. A Cozinha é um lugar de ritual. Bastide assinalou muito bem isso:

“A cozinha não é feita unicamente por mãos peritas; a cozinheira nela põe, com suas mãos, também o coração- como o diz- Isto é, seus complexos, traumatismos, recalques e pensamentos secretos. Se ela não permite que estranhos penetrem no local de seu trabalho, não é apenas por ser ele um santuário do qual ela é a sacerdotisa, e a cozinha uma religião da qual ela celebra o ritual. É também porque ela aí está inteiramente nua.” 10

Não se trata de voltar à África, mas fazer com que a comida se faça “africana”, ou seja, remonte a histórias e passagens, visões de mundo associadas aos Ancestrais, princípios universais ou Antepassados, aos primórdios dos tempos quando estes fundaram a humanidade, constituíram as cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de mundo juntadas à inúmeras outras experiências históricas constituídas no Novo Mundo É este fazer, que faz com que tal comida seja comida de santo.

A invenção e a recriação, ao lado das continuações, não são feitas aleatoriamente. Embora se liguem diretamente às circunstâncias múltiplas e variadas de cada terreiro, inserem-se num universo mais amplo, ligado a um passado expresso em determinados preceitos, códigos, explicações e silêncios que regulam os porquês, os modos e as formas de se pôr à mesa.

A comida de santo diferencia-se, assim, daquela, do dia a dia. Uma coisa é cozinhar o inhame, cortá-lo em pedaços para o café. Outra é preparar este mesmo inhame para Oxalá, quando variam desde o tamanho, e a forma das raízes, os procedimentos observados para feitura de tal prato e por fim, as palavras ditas para “encantar” a comida. Fazer um feijão de azeite não é

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o mesmo que preparar um Omolocum. Enquanto, para se fazer o primeiro, somente se separa a sujeira, o segundo exige que se escolha os grãos maiores, perfeitos. Nada pode escapar, afinal, Oxun liga-se à fecundidade. Não é simplesmente fazer um caruru, cortar os quiabos, acrescentar cebola, camarão e azeite de dendê. É cortar de diferentes formas, ou como se diz: “de forma certa”, conversar com o quiabo, assim por diante... Os Orixás comem comidas mais elaboradas.

Embora os ingredientes sejam os mesmos, muda o tratamento que estes recebem. E a forma, como estes são tratados expressa seu sentido através de um ritual onde nada é por acaso. Assim, Exu pode comer de tudo, como outrora fez, segundo um de seus mitos. Ogun pode receber a feijoada, uma vez que as carnes gordas lhe pertencem. Ele também é um tropeiro. Bem como no dia de sua festa distribuir pães de trigo numa sociedade onde este é o pão de cada dia. E Oxossi, por se ligar à terra receber todos os frutos dados pelo Novo Mundo.

A elaboração das comidas oferecidas aos Orixás segue um ritual diferente daquele realizado no dia a dia para a feitura dos “mesmos pratos” que aparecem nos cardápios e self-service. Certo que os Orixás comem, o que os homens comem, porém, recebem à seus pés, nos terreiros, comidas onde os modos de preparar, ao lado dos saberes: palavras de encantamentos ( Ofó), rezas ( Àdúrà), evocações (Oriki) e cantigas (Orin) ligados às estórias sagradas ( itan) são elementos essenciais e vitais para a transmissão do Axé.

No terreiro, este ritual vai apresentar-se como algo criativo. As variações nos modos de preparar determinada comida mostram que há uma constante busca de legitimidade através da qual, as diferenças são constituídas.

As continuações, recriações e invenções na comida de santo, orientam-se por um conjunto de saberes, técnicas e maneiras ligadas a uma matriz cultural revisitada a todo tempo, articulada através de sentimentos e da íntima relação com a Natureza, onde o Sagrado é elemento constitutivo da vida da comunidade e acompanha as pessoas muito antes do seu nascimento e depois de sua morte. Daí o abuso no uso dos mais variados grãos, raízes, certos condimentos como a pimenta e o azeite-de-dendê e da técnica de tudo enrolar na folha de banana mais a observância: de alguns preceitos, da ordem seguida para preparar determinados pratos, de certas horas, de como servir e quando.

Indagando certa vez, sobre a importância da folha de banana dentro da culinária dos Orixás, ouvi a seguinte explicação:

“A bananeira está ligada à Oxumarê, e ele que é macho e fêmea, liga-se ao crescimento e ao desenvolvimento. Talvez seja por isso que a técnica de embrulhar ns folha de banana apareça em muitos pratos. Eu não sei o certo. Por sua vez, ela está associada à morte, ao processo de individualização de cada ser. É isso!... É preciso que ela exista para que haja a vida, o crescimento e a expansão da existência.”

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Explicações semelhantes vão ser dadas para cada prato. Talvez destes, só consigamos visualizar os conteúdos que entram na sua composição, o que já fizeram muitos autores, porém, apreender todo o sentido que estes encerram dentro de si, bem como as visões de mundo que expressem, é tarefa quase que impossível. São elas, todavia, que fundamentam as continuações, recriações e invenções na comida servida pelos devotos aos Orixás, através de truques inseridos no tempo de uma tradição dinâmica onde o não saber, o não ouvir e o não ver, cabem em qualquer lugar.

E O TEMPO NÃO PÁRA

Nos últimos anos, várias linhas de pensamento vem insistindo na mudança e transformação desse patrimônio sócio, cultural, político e religioso face às mudanças da sociedade. Se a suposição de um todo integrado no Candomblé significa a criação de uma nova religião e uma ficção criada pelos cientistas sociais, tão ilusória é, também, a suposição de que este complexo não existe, ou ainda, que se orienta seguindo os rumos do progresso e caminha com os passos da modernidade.

É importante procurar perceber as formas através das quais, as comidas de Orixá dialogam com essa sociedade racionalizada. Ou ainda, buscar descrever e acompanhar a utilização dos eletrodomésticos, para feitura de determinados pratos, perguntando, como a comunidade utiliza isso. Ou seja, como se dá a passagem dos métodos antigos para os novos, como por exemplo, a substituição de todo processo de feitura do akarajé, escolha, lavagem do feijão, etc. para o simples preparo da massa que já vem industrializada.

Certa ocasião, presenciei uma Yalorixá dizer que o Orixá de determinada pessoa deveria se acostumar comer o akassá feito com a farinha de milho branco já pronta, dispensando o método tradicional, mais demorado de preparar.

Certo que na grande Metrópole, governada pelo relógio, pouco tempo se dispõe para cultuar um Sagrado que exige muitas horas de dedicação e na qual, os Orixás comem o que os homens comem. Deve-se perguntar, então, se certas adaptações e substituições regem-se pela necessidade, portanto são um fato, ou se podem, simplesmente, ser tomadas como condições para a sobrevivência desses Orixás na Metrópole.

Participei, certa ocasião, da festa de Nanã. Ao contrário das comidas tradicionais associadas à este Ancestral, havia somente frios, queijos e saladas. E Nanã não deixou de dar a mesma volta ao redor daquelas comidas que daria na mesa de seus mingaus. Parece que o surgimento de

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alguns pratos, ou ainda, de certas concepções, não significa que os fundamentos foram diluídos no contexto da cidade, mas ao contrário, que permanecem apoiados em suportes que não podem ser ignorados. A suposição de um impacto das novas condições de vida sobre o papel desempenhado pela religião dos Orixás deve ser mais uma pergunta do que um pressuposto. Mais desafiadoras são as teias de comunicação, formas de diálogo desenvolvidas pelos terreiros para marcarem sua presença e colocarem estes produtos à serviço dos próprios Orixás.

É verdade que o Candomblé não pode mais voltar à tribo, nem se prender a laços étnicos. Todavia, não pode ignorar pressupostos reorganizados por homens e mulheres profundamente conhecedores de sua cultura de origem. Embora não se possa conservar, na maioria das vezes, por conta dos laços rompidos pela escravidão, a idéia de ancestralidade, a memória do antepassado permanece viva nos terreiros, até nos mais recentes, seja através de quadros, cadeiras, comidas, ou passagens da sua vida. Vários trabalhos já insistiram sobre a importância da idéia e do lugar ocupado pelo antepassado dentro do Candomblé. Assim, nomes como o do Tio Bamboxé, Mãe Aninha, Tia Massi, Mãe Menininha, Sr. Manoel de Neive Branca, Pai Bobó, Mãe Runhó, Nezinho do portão, Mãe Caetana Bamboxé e tantos outros, evocados no Padê, junto a nomes de antepassados transportados do além mar, constituem referências vivas de uma tradição que dialoga e se expressa no tempo histórico.

A comida de Orixá, os procedimentos rituais, encontram-se fundamentados nos ensinamentos das pessoas que plantaram, fundaram, iniciaram, reorganizaram o culto dos Orixás no Brasil. E que, certamente, não prescindiram do limite do seu tempo.

Enquanto houver casas onde determinados procedimentos rituais de preparar as comidas continuarem sendo feitos na sua forma mais arcaica possível, mesmo que em alguns momentos, isso seja alterado, utilizando alguns aparelhos eletrodomésticos, é por que os “fundamentos” não foram sucumbidos pelo processo de crescimento e mudança da cidade como alguns supõem.

Significa dizer, que os olhares otimistas que privilegiam a mudança da Religião dos Orixás, face às transformações da cidade, mais uma vez se enganaram, porque nem sempre o que se diz corresponde ao que se faz. Os orikis, ofós, itãs, modos de fazer e determinadas explicações, constituintes do segredo, são mais do que uma estratégia de sobrevivência do grupo. Constituem uma linguagem que as teorias da sociedade moderna não conseguiram ainda decifrar por assentar-se no não ver e não saber, nos truques e “faz de conta”. É ela que continuará sendo o maior desafio não para os que apostam no seu desaparecimento, mas para os que virão.

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ebó- oferenda

Axé- princípio gerador de vida

contra-axé : tudo que não gera vida dentro da comunidade

obi- também chamado de noz de cola é uma espécie de semente usada nos rituais para conversar com o Orixá.

RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 7a Ed. São Paulo, Nacional; Brasília, Editora da Universidade de Brasília. 1988.pág. 120.

QUERINO, Manuel. Costumes Africanos no Brasil. Recife, FJB- Massangana. 1988. pág. 60.

Idem.

CARNEIRO, Edison. Ladinos e Crioulos. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1964. pág. 4.

VERGER, Pierre. Fluxo e Refluxo. São Paulo, Corrupio. 1987. pág. 92.

O Psicanalista na Cozinha. In: Cultura e Alimentação Rio de Janeiro, 2 (2) : 21 e 96, dez. 1951, pág. 21.

ILÊ AXÉ: CONSIDERAÇÕES SOBRE PODER E HIERARQUIA EM UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ…

Cadernos do Sep Adm - n° 3 – 2006

ILÊ AXÉ: CONSIDERAÇÕES SOBRE PODER E HIERARQUIA

EM UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ DE

SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA

Paulo Éverton Mota Simões*

RESUMO

Este trabalho traz à tona as reflexões sobre as expressões de poder e hierarquia

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existentes nos terreiros de candomblé, aqui vistos como organizações sociais cujas

representações culturais e políticas permitem uma melhor compreensão de sua estrutura e funcionamento. Inicialmente, situa no tempo e espaço o surgimento do candomblé, em seguida, trata da dinâmica organizacional do terreiro, no que tange às relações de poder na hierarquia entre seus membros. Dessa forma, o texto relata fatos cotidianos na rotina dessa organização, aponta os elementos em que se percebe a diferenciação no status hierárquico, de que forma os indivíduos vão pertencendo a essa hierarquia, como se garante o controle dela e o reconhecimento da legitimidade do seu líder. Trata-se de uma pesquisa etnográfica do poder, a qual utiliza como ilustração o Terreiro Ilê Odé Axé Oba Omi, situado em São Francisco do Conde - BA, um templo religioso da tradicional religião dos Orixás na Bahia de todos os santos.

APRESENTAÇÃO

Este trabalho apresenta os primeiros resultados da pesquisa para apresentação da

monografia de conclusão do curso, que ainda encontra-se em fase de construção. O

objetivo deste artigo é estudar as relações de poder dentro de uma organização pouco

abordada do ponto de vista da Administração e, marcadamente, presente em Salvador e

Recôncavo Baiano – o terreiro de candomblé. Para tanto, foi necessário tomar emprestado da Antropologia o seu método, a etnografia, sem o qual seria muito difícil cumprir a tarefa. Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, a observação participante e algumas entrevistas com os membros do terreiro, bem como várias conversas informais dos iniciados, cuja temática do poder era sempre recorrente.

O trabalho se divide em três partes principais. Na primeira parte, é reconstruída a

trajetória histórica, a partir da pesquisa bibliográfica, de formação do terreiro matriz ou Axé Gantois. Na segunda parte, tem-se um olhar sobre o terreiro enquanto organização, na busca de perceber seu funcionamento, a estrutura, os conflitos e a sustentabilidade.

Por fim, se discorre sobre a hierarquia e poder nos terreiros: como o indivíduo se integra a essa hierarquia, como esta está estruturada e quais são os principais símbolos e manifestações de poder nesse universo. As considerações finais, não esgotam a discuss

ão, mas oferecem uma breve análise do que foi exposto ao longo do artigo.

GÊNESE DO AXÉ GANTOIS

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Durante a primeira metade do Século XIX, intensificou-se o tráfico de escravos vindos

da Costa da Mina – hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria –, os quais eram conhecidos,

principalmente, como negros mina-jejes e mina-nagôs. A presença desses africanos

na Bahia marcou o surgimento da reelaboração da África no Brasil, suas práticas

religiosas e trocas lingüísticas, com o predomínio dos idiomas Fon e Yorubá.

Todos esses diversos grupos provenientes do Sul e do Centro do Daomé e do

Sudoeste da Nigéria, de uma vasta região que se convenciona chamar de Yoru

baland, são conhecidos no Brasil sob o nome genérico de Nagô, portadores de

uma tradição cuja riqueza deriva das culturas individuais dos diferentes reinos

de onde eles se originaram. Os Kétu, Sabe, Òyó, Ègbá, Ègbado, Ijesa, Ijebu

importaram para o Brasil seus costumes, suas estruturas hierárquicas, seus

conceitos filosóficos e estéticos, sua língua, sua música, sua literatura oral e

mitológica. E, sobretudo, trouxeram para o Brasil sua religião (SANTOS, 2002,

p. 29).

De acordo com Lima (2003, p. 21), “a expressão jeje-nagô deve ser entendida como

significativa do tipo de cultos religiosos organizados na Bahia, principalmente sob os

padrões culturais originários dos grupos nagô-iorubá e jeje-fon”. Ele esclarece, ainda,

que “sobre o termo jeje não há dúvida que o mesmo se refere aos grupos étnicos do

Baixo Daomé – especialmente os fon e os gu”.

É comum, ainda hoje, ouvir o povo-de-santo se referir ao termo nação para designar a

influência étnica que lhes deu origem. Portanto, para muitos, pertencerem à nação Ketu é diferente de ser Jeje, Nagô ou Angola. No entanto, pertencer a um candomblé dito Ketu é, segundo a etnologia moderna, dar continuidade ao complexo religioso jeje-nagô. O sentido do termo “candomblé de Ketu”, no presente trabalho, significa dar continuidade às práticas religiosas cujos rituais predominantes são de origem jeje-nagô. O professor Vivaldo da Costa Lima (2003, p.30) ressalta que “dentro dos grupos iorubás-nagôs, nação de Queto passou a significar o rito de todos os nagôs”.

Nesse contexto, situa-se o Ilê Odé Axé Oba Omi, em São Francisco do Conde – Bahia,

que é considerado jeje-nagô, pois “as divindades do culto e a língua dos cantos são

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marcadamente iorubas, mas que apresentam também importantes elementos estruturais da cultura jeje” (LIMA, 2003, p. 22).

A história do candomblé na Bahia do século XIX é, portanto, a história de sua

mistura étnica, racial e, logo, social. Um processo que ocorreu em diversas

frentes: a reunião de africanos de diferentes origens étnicas para, juntos, celebrarem

seus diferentes deuses, a atração dos descendentes de africanos nascidos

na Bahia e a difusão de todo tipo de serviço espiritual entre clientes de

diversas origens étnicas, raciais e sociais (REIS, 2005, p.30).

Em consulta a um dos artigos de Renato da Silveira (2005), encontra-se importante

relato sobre a primeira tentativa, de que se tem registro, de se organizar o culto urbano

aos orixás na Bahia. Segundo ele, a partir de então, o candomblé deixa de ser apenas um espaço para o culto das divindades africanas para tornar-se uma “organização políticosocial-complexa”.

O próximo passo, ousado, nessa trajetória de constituição da religião afro-brasileira,

seria precisamente organizar o culto na cidade, exibi-lo como instituição

urbana legítima, buscar sua oficialização. Foi em Salvador, no Bairro da

Barroquinha, que essa transição foi tentada com relativo sucesso. Segundo as

tradições orais dos nagôs (africanos iorubás, originários de regiões da Nigéria,

Benin e Togo) baianos, o primeiro candomblé de sua linhagem foi fundado em

terras situadas atrás da capela de Nossa Senhora da Barroquinha (SILVEIRA,

2005, p.23).

Sobre a palavra candomblé, pode-se utilizá-la tanto para designar o espaço físico

onde acontece o culto, quanto para a festa pública, ou até mesmo para denominar a

própria religião afro-brasileira. Siqueira (1998, p. 35) apresenta o candomblé “como um sistema sociocultural e religioso, centrado nos Orixás, representados simbolicamente e revividos através de rituais”. A autora oferece uma definição tridimensional do terreiro:

O Terreiro é um espaço social, mítico, simbólico, onde a natureza e os seres

humanos se unem para viver uma realidade diferente daquela que o cotidiano

ou a sociedade lhes apresenta como o real, na qual as pessoas que o constituem

Page 55: Lendas Sobre Ori

acreditam. É o espaço onde o mito e o rito fazem parte da própria vida das

pessoas que dele participam (SIQUEIRA, 1998, p. 173).

Marco Aurélio Luz informa que, já no início do Século XIX, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte reunia na Igreja da Barroquinha grandes sacerdotisas do culto Nagô.

Dentre elas, a Iyanassô Oyó Akala Magbo Olodumaré, a mais alta sacerdotisa dedicada

ao culto de Xangô e, na época, também uma das fundadoras do Ilê Iya Omi Axé Airá Intilé - o candomblé da Barroquinha. Depois da morte de Iyanassô, o terreiro passou a se chamar Ilê Iya Nassô Oká, em sua homenagem. Essa casa de candomblé existe até hoje e é uma das três mais respeitadas da Bahia, a famosa Casa Branca, situada na Avenida Vasco da Gama. “Em 1943, por ocasião do I Congresso Afro-Baiano, teve lugar na Casa Branca uma exposição comemorativa dos 154 anos de sua fundação, segundo a qual o candomblé teria então sido fundado em 1789” (SILVEIRA, 2005, p. 21).

Em 1789, no bairro da Federação, em terras que pertenciam a um estrangeiro de sobrenome Gantois, Maria Júlia da Conceição Nazaré, filha-de-santo do Ilê Iya Nassô, fundou uma nova casa de candomblé com o nome de Ilê Iyá Omin Axé Iyamassê. Especulase que a sua saída da Casa Branca tenha se dado por uma disputa de poder, já que o cargo de Iyalorixá fora dado à sua irmã-de-santo e homônima Maria Júlia Figueiredo.

No terreiro de candomblé, o máximo poder é personificado na figura da Iyalorixá ou

do Babalorixá. Segue a explicação para o significado da palavra Iyalorisa = Iaolorisa:

A palavra Iya – mãe – em ioruba possui vários sentidos, inclusive o classificatório

dos familiares. Iya é a mãe biológica, mas também qualquer parente feminino

da geração dos pais – as irmãs da mãe ou do pai e suas primas, para empregar

o termo de parentesco de uso no Brasil. Prefixada a uma palavra outra qualquer,

como no caso de ialorixá, denota uma relação genitiva entre os dois termos – “a

mãe que tem”, “que possui” o orixá (LIMA, 2003, p. 59).

Essa definição mostra o quão importante é o pai ou a mãe-de-santo no terreiro; sendo

alguém que “possui” o orixá dos seus filhos, ou seja, exerce influência e poder sobre os iniciados e suas divindades. Ainda segundo Lima (2003, p. 60):

O líder do terreiro exerce toda a autoridade sobre os membros do grupo, em

qualquer nível da hierarquia, dos quais recebe obediência e respeito absolutos.

O chefe do grupo está naturalmente investido de uma série de poderes que

evidenciam, na sua autoridade normativa, muitas vezes acrescentadas pelas

Page 56: Lendas Sobre Ori

manifestações de uma personalidade forte e de uma aguda inteligência.

O Terreiro Gantois é a matriz do Ilê Odé, pois, em 1980, Everaldo Cardoso Bispo, hoje

advogado e professor, foi iniciado ao orixá Ayrá no Ilê Axé Omon Ewá, tornando-se filho-de-santo de Egbômi Senhora de Ewá (Elza Bahia) e neto de Mãe Menininha (Maria Escolástica) que, por sua vez, era Iyalorixá de Elza. Nessa época, a casa de candomblé onde ele é hoje o Babalorixá era conduzida por seu pai biológico, que havia herdado o posto de seu tio, que era pai-de-santo desde a década de 50 em São Francisco do Conde.

Em 1984, o pai-de-santo da casa morreu e o candomblé ficou restrito apenas a uma

cerimônia para Obaluayê e outra para o caboclo Boiadeiro, ambas anuais. Em 1992, Ebômi Senhora retornou a São Francisco para conduzir a obrigação de sete anos de pai Everaldo, onde o mesmo recebeu de sua Iyalorixá a cuia com os objetos rituais sagrados, que simbolizam a transmissão do poder no candomblé. Com esse ritual sua mãe-de-santo outorgava-lhe o direito de se tornar um Babalorixá.

Em 2005, na ocasião do recolhimento do barco dos três primeiros iaôs, Ebômi Senhora

retornou ao Ilê e, após consultas ao Ifá (oráculo), verificou que a casa deveria ser

dedicada a Oxóssi e ter o axé de Xangô e Oxum. Assim, em julho de 2005, foi plantado o

novo axé do candomblé. A saída dos três primeiros iaôs marcou a transformação na

forma de conduzir o axé. Daí em diante, a casa passou a se chamar Ilê Odé Axé Oba Omi, Casa do Caçador com a força do Rei e das Águas, sendo então, elaborado o atual calendário de festas seguindo os padrões litúrgicos do candomblé Ketu de tradição Gantois.

A figura 1 do anexo apresenta a ascendência religiosa do Babalorixá do Ilê Odé, terreiro que ilustrou essa pesquisa.

A ORGANIZAÇÃO-TERREIRO

Do ponto de vista da organização social, o candomblé deve ser considerado

como um grupo baseado na livre participação que, por sua vez, é significativamente

influenciada pelo parentesco e pela origem tribal africana. [...] Sua estrutura

é hierárquica, com limites de autoridade e responsabilidade bem definidos.

[...] O controle social é obtido através das sanções sobrenaturais por aqueles

que são investidos de autoridade. A identificação dos membros com o grupo e

suas atividades é internalizada para que se torne o mecanismo principal de

Page 57: Lendas Sobre Ori

ajuste individual, provendo a sensação de segurança psicológica e os meios de

ascensão social, fins econômicos e de status (HERSKOVITS apud LIMA, 2003,

p. 57). Morgan (1996) propõe a utilização de metáforas que, segundo ele, podem orientar administradores, executivos e estudiosos na interpretação das organizações. Duas delas podem contribuir para análise organizacional do terreiro. Para o autor, as organizações são vistas como pequenas representações da sociedade, com padrões distintos de cultura e subcultura. Só conhecendo a rotina, as práticas, a linguagem e os rituais das organizações que é possível perceber suas características culturais, levando em conta as explicações históricas para o modo pelo qual as coisas acontecem nesse universo.

Uma cultura pode ser descrita por meio do significado, da compreensão e dos

valores compartilhados. A cultura é um processo de construção da realidade que permite observar os acontecimentos de maneiras distintas.

Segundo Morgan (1996): “pode-se dizer que a natureza de uma cultura seja encontrada nas suas normas sociais e costumes e que, se alguém adere a essas regras de comportamento, ele será bem sucedido em construir uma realidade social adequada” (p.133). A cultura não é uma variável possuída pela organização, mas é, sim, um fenômeno ativo e vivo que possibilita às pessoas a criação e a re-criação dos mundos onde vivem.

“O desafio de compreender as organizações enquanto culturas é compreender como

esse sistema é criado e mantido, seja nos seus aspectos mais banais, seja nos seus

aspectos mais contundentes” (MORGAN, 1996, p. 138).

Destarte, o terreiro de candomblé tem sua cultura própria, herdada dos ancestres

africanos, mas também é fruto da reelaboração dessa cultura no Brasil. O intercâmbio

sócio-cultural e religioso entre os povos africanos, os europeus e os índios brasileiros

resultaram em heranças culturais que, também, foram legados absorvidos pelo universo

do terreiro. O ambiente organizacional é permeado por símbolos, regras e preceitos,

conformando um código de ética peculiar entre o povo-de-santo.

No universo dos terreiros, a forma de apreender a cultura organizacional e absorver

os conhecimentos rituais dá-se por meio do “learning by doing”, ou seja, é na prática

que se aprende. Não é adequado perguntar, observa-se tudo e se guarda o segredo, ou

awò, em iorubá. A cada elevação na escala hierárquica, o iniciado vai tomando conhecimento dos chamados “fundamentos”, ou seja, o saber ritual. Certamente, o pai ou mãe-de-terreiro é quem detém o maior conhecimento, ou segundo Bourdieu, o maior capital simbólico.

É preciso pensar o candomblé, também, como sistema político. Morgan (1996) reconhece

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os conceitos de autoridade e poder e a relação superior-subordinado como vocá-

bulos comuns na linguagem do administrador. No entanto, aqui, a novidade é utilizar

esses conceitos na “organização-terreiro”, ainda que suas bases possam ser distintas

daquelas das organizações tradicionalmente estudadas pela Administração.

Equipara-se o Babalorixá a um administrador, pois, enquanto líder de uma organiza-

ção, exerce função de comando e gerência, tem o poder de decidir, de controlar recursos

e de dar ordens. Busca manter a ordem, dirige o terreiro e tem pessoas sob sua autoridade.

A despeito do caráter religioso, da crença nas divindades e da ordem aparentemente

inquestionável, sendo um grupo social, também reconhecido como família-de santo,

não deixam de existir em seu interior interesses pessoais que podem, muitas vezes,

gerar conflitos, como veremos mais diante. Para auxiliar na compreensão do caráter

político do terreiro, quando se falar em administração deve-se considerá-la como o mais

alto posto da hierarquia, que é o de pai ou mãe-de-santo, acompanhado dos ogãs e

iyarobás e outros portadores de cargos de mando nos terreiros.

Ao reconhecer que a organização é intrinsecamente política, no sentido de que

devem ser encontradas formas de criar ordem e direção entre as pessoas com

interesses potencialmente diversos e conflitantes, muito pode ser aprendido

sobre os problemas e a legitimidade da administração como um processo de

governo e sobre a relação entre organização e sociedade (MORGAN, 1996, p.

146).

Se existem uma ordem e direção de um grupo de indivíduos, certamente haverá a

possibilidade de ocorrerem, em graus variados de intensidade: conflitos de interesse,

desejo de poder, submissão às regras e à autoridade, disputas e, em alguma medida,

até resistência a essa autoridade, dissensões e autoritarismo. Observar o candomblé

também como sistema político, pressupõe a tentativa de identificar essa possibilidade,

demonstrar como esta acontece e descobrir suas razões, sem nunca perder de vista a

existência dos orixás. Não se vai aqui negar o poder das divindades, pelo contrário,

Page 59: Lendas Sobre Ori

esse é um pressuposto ao qual não cabe o questionamento, mas pretende-se descer à

esfera do poder dos agentes: pai ou mãe-de-santo, ogãs, iyarobás, ebômis, iaôs e abiãs.

O enfoque desse trabalho é o poder do àiyé, ou seja, do mundo físico, material.

O Ilê Odé Axé Oba Omi possui uma dinâmica organizacional semelhante a da casa

que lhe deu origem, o Ilê Axé Omon Ewá, e esta, por sua vez, herdou seu padrão litúrgico e organizacional do Ilê Iya Omi Axé Iyamassê, ou terreiro do Gantois, a grande casa matriz dessa linhagem. Essas três organizações fazem parte de uma ampla família-desanto.

Lima (2003, p. 162) explica, assim, esse conceito: “a família de santo seria uma

família extensa, na medida em que os antigos terreiros, por meios institucionalizados ou por sucessão, deram origens a muitos outros candomblés que se reconhecem da mesma linhagem de santo”.

A seguir, resumidamente, descreve-se a configuração física básica do terreiro. Um

salão maior, situado à entrada da casa, mais conhecido como barracão, ocorrem as festas

e cerimônias públicas, é o espaço do terreiro que é aberto ao contato com a comunidade

externa. Ainda dentro de casa fica o “quarto do santo”, aposento sagrado onde se

encontram os peji, que são os assentamentos (representações materiais simbólicas dos

orixás). Há, também, na parte interna, algumas salas para circulação de pessoas ou de

orixás incorporados em seus filhos nas ocasiões de festa; a camarinha ou runcó, tamb

ém chamada de rondeme ou ariaxé, local onde o iniciado permanece por alguns dias no

período de sua iniciação. No fundo da casa fica a cozinha, local onde se faz a comida

ritual; constitui-se num espaço profícuo de transmissão de conhecimentos e aprendizado.

Na cozinha, se aprende a fazer a comida do santo, a cantar e ouvir os ensinamentos

dos mais velhos. Há os banheiros e os quartos para dormir – o do Babalorixá, o dos

ebômis e o das visitas; os iaôs geralmente dormem em esteiras dispostas no barracão.

Na entrada do terreiro ficam as casas dos Exus e o assentamento de Ogun.

A manutenção do terreiro, no que tange aos recursos financeiros necessários à sua

existência, ocorre por meio das contribuições dos filhos-de-santo, eventuais doações,

serviços prestados, como o jogo de búzios e ebós, ou o próprio pai-de-santo arca com

Page 60: Lendas Sobre Ori

as despesas do seu próprio bolso. Os gastos num terreiro são muito grandes, os rituais

requerem uma série de materiais: comidas para as oferendas, animais, fogos de artifí-

cio, objetos para decoração, roupas dos filhos-de-santo e de seus orixás. Observam-se,

freqüentemente, nas ocasiões das obrigações no terreiro, quando se reúnem, além dos

filhos de santo, os visitantes, os membros do terreiro coletando entre si contribuições

para comprar gêneros alimentícios, materiais necessários ao andamento das atividades,

ou até mesmo pra pagar alguém pra carregar água e encher um tanque. O terreiro

constitui-se assim, num espaço de trocas, dádiva e solidariedade.

HIERARQUIA E PODER NO TERREIRO

O indivíduo que começa a freqüentar a casa e ainda não é iniciado chama-se abiã.

Este acompanha as festas, freqüenta a casa, pode passar por banhos de folha e alguns

rituais mais simples, mas a ele não é revelado nenhum segredo. O abiã não entra no

quarto-de-santo e nem no runcó (camarinha); é como se o mesmo ainda não existisse

para o candomblé. “A Abiã ainda não é filha-de-santo. É uma aspirante que ainda se

encontra no estágio de quem já fez uma pequena obrigação, que freqüenta o terreiro e

participa de certas cerimônias rituais. A abiã pode ou não tornar-se uma Iyawô”

(SIQUEIRA, 1998, p. 197).

Prandi (1991, p. 164) faz uma síntese para explicar a distinção entre os iniciados que

manifestam orixá e aqueles que não têm essa possibilidade:

Há duas classes de sacerdotes no candomblé, os que rodam no santo, viram no

santo, entram em transe; e os que não. Os primeiros são os chamados rodantes

e terão que passar pelo rito de feitura, fixação do orixá na cabeça (ori) e no

assentamento, o ibá-orixá, que é o altar particular deste orixá pessoal [...]. Estes

rodantes, uma vez “feitos”, formam a classe dos iaôs, os quais, após a obriga-

ção do sétimo ano de iniciação, atingem o grau de ebômi, passando a fazer

Page 61: Lendas Sobre Ori

parte do alto clero, recebendo cargos na hierarquia, ao lado do pai ou da mãede-

santo, a autoridade suprema.

Na base da escala hierárquica estão os iaôs. Estes são os filhos-de-santo, que podem

ser homens ou mulheres, os quais se iniciam a um determinado orixá por meio da feitura até o fechamento do ciclo iniciático, no momento da obrigação de sete anos. A feitura é o início do processo de formação do iaô, “considera-se como fundamental saber observar com respeito, e sem fazer perguntas; esta é a base de formação de uma Iyawô”. (Siqueira, 1998, p. 200).

Segundo Lima (2003, p. 73) “a palavra iaô provém do iorubá iyawo (iauô), que significa

a esposa mais nova nos sistemas familiares poligínicos dos iorubas”. Nota-se, em Prandi (2001, p. 54), que “as iaôs (ou os iaôs, pois há muito a palavra iaô perdeu no candomblé a conotação de esposa), os jovens iniciados, enfim, só fazem obedecer, usando símbolos e cultivando gestos e posturas que denotam a sua inferioridade hierárquica”.

Os iaôs representam a base do trabalho em uma casa de candomblé: varrem o chão,

limpam a casa, acendem o fogo, carregam água, decoram o barracão, se houver necessidade podem fazer a comida, tanto ritual como a alimentação. Ainda não têm poder de decidir, somente obedecem às autoridades da casa.

Outra categoria é formada pelos ebômis, iniciados que chegaram ao fim do seu período

de iniciação que dura sete anos; foram iaôs e pagaram a obrigação de sete. Em yorubá

egbon mi” quer dizer meu irmão mais velho. O ebômi possui certo prestígio dentro da

casa; é dentre eles que o pai ou mãe-de-santo escolhe a quem dará o direito de também

ser um pai ou mãe de santo e abrir sua própria casa de candomblé ou outorga-lhes um

cargo executivo, no sentido de desempenhar uma função específica, na organização. As

ebômins elevadas a essas categorias executivas partilham, de certa maneira, da autoridade da mãe do terreiro, por seu consentimento e sob a sua constante supervisão. É um privilégio da liderança delegar poderes e fazer-se representar (LIMA, 2003, p. 81).

Existe uma categoria de iniciados que não manifestam o orixá, ou na linguagem de

terreiro, não viram no santo. Os homens são chamados de Ogãs e as mulheres de Iyarobás.

Há vários tipos de ogãs, cada um com atribuições delimitadas: os alabês, que são os

músicos que tocam os atabaques, instrumentos sagrados que propiciam a descida dos

orixás ao mundo físico; o axogum é aquele que tem autoridade de utilizar a faca nos

sacrifícios rituais; curujebó é aquele que leva os ebós que precisam ser arriados nas

Page 62: Lendas Sobre Ori

ruas ou fora da casa do candomblé; o pejigã é quem cuida da organização dos assentamentos de orixá, o elemaxó se encarrega dos objetos e do culto a Oxaguian. As Iyarobás também se dividem por funções; Iyateni cuida dos iaôs quando entram em transe, vestem e acompanham os orixás no salão na hora em que dançam; e a Iyabassê faz a comida dos orixás ou, ainda, pode ser encarregada de cuidar de um orixá em específico, ajudar o líder do terreiro na preparação dos rituais.

As Iyarobás também podem ser escolhidas pelo Babá para receberem títulos hierárquicos que venham a lhes constituir mais autoridade e poder no terreiro, podendo chegar a Iyakekerê – a mãe pequena da casa – ou Iyalaxé, a mãe do axé, estando abaixo apenas do pai ou mãe-de-santo. No Ilê Odé, a Iyakekerê é uma Iyarobá, iniciada ao orixá Oxum; foi indicada pelo orixá do pai-de-santo para esse posto. Esse cargo só deixará de ser ocupado pela mesma em caso de falecimento, ou seja, é um cargo vitalício como também o são: Babalorixá, Babalaxé (pai do axé), Iyaegbé (mãe da sociedade). Ogãs/Iyarobás têm seu orixá pessoal, mas nunca o manifestarão, ou seja, nunca entrarão em transe.

O ogã, em alguns trabalhos, aparece como uma figura que tinha certo prestígio social

e podia contribuir para o bom andamento das atividades do candomblé, pois “as incurs

ões policiais ocorriam tão inesperadamente e podiam ser tão violentas que era vital

para os adeptos do candomblé ter amigos em muitos lugares” (LANDES, 2002, p. 74). A

presença de ogãs jornalistas, intelectuais ou até políticos serviam para intimidar as

invasões policiais. A presença dos ogãs, ainda nos fins do século XIX, foi assim comentada.

O ougan ou os ougans, porque cada confraria de um santo pode ter o seu ougan.

São os responsáveis e protetores do candomblé. A perseguição de que eram

alvo os candomblés e a má fama em que são tidos os feiticeiros, tornavam uma

necessidade a procura de protetores fortes e poderosos que garantissem a

tolerância da polícia [...] Os ougans têm obrigações limitadas e direitos muito

amplos. Além da proteção dispensada devem fazer ao seu santo presentes de

animais para as festas e sacrifícios. Têm direitos a cumprimentos especiais dos

filhos de santo, a serem ouvidos nas deliberações do terreiro, a saírem todos os

santos e o terreiro em seu favor, no caso que estejam ameaçados de alguma

ofensa ou desgraça, etc. (RODRIGUES, 2005, p. 49).

Braga (1999) estudou a presença do ogã nos candomblés de Salvador. Ele lembra

que, na época das invasões policiais aos terreiros, os ogãs desempenhavam o papel

Page 63: Lendas Sobre Ori

fundamental de negociação e mediação de conflitos entre os terreiros e o poder público

ou sociedade. Em certa época, os mesmos foram escolhidos por conta de seu prestígio

e condição social para serem protetores dos terreiros. Embora ainda ocorra essa prática,

isso não significa dizer que todos os ogãs são brancos ou possuam certa notoriedade

na sociedade. Há muitos deles escolhidos também dentro do grupo social interno,

como parentes do Babá, amigos dos filhos-de-santo ou até mesmo vizinhos. É freqüente

a escolha do ogã que é membro da família biológica do líder religioso, sendo comum

iniciação ainda quando criança. Também pode haver um caráter político para a escolha

do ogã por parte do pai ou mãe-de-santo, a esse respeito Braga esclarece:

A compreensão que se tem é de que parece existir uma necessidade de o líder

se cercar de algumas pessoas de confiança a quem atribui, além das funções

normais do cargo, outras tarefas do dia-a-dia que exigem grau maior de

confiabilidade, como cuidar das economias pessoais e resolver outros tantos

problemas específicos da comunidade religiosa. Alguns ogãs se fazem merecedores

da confiança do pai ou mãe-de-santo, tornam-se confidentes e participam

da vida íntima da comunidade religiosa, despertando o ciúme de outros

que não desfrutam da mesma situação (BRAGA, 1999, p. 47).

No entanto, deve-se esclarecer, mesmo que a integração do ogã na estrutura funcional

do terreiro tenha se dado, inicialmente, porque os líderes religiosos tinham interesse

na participação de pessoas bem colocadas na sociedade, para defenderem o candombl

é das ameaças e preconceitos da sociedade, isso não isentou esses participantes de

suas obrigações rituais e de seu papel sagrado dentro do terreiro. O ogã tem status de

autoridade, pode ocupar cargos de grande prestígio e poder na hierarquia. Prova dessa

afirmação é o Terreiro Ilê Odé, casa onde o Babalaxé, ou seja, o pai do axé, da forçamotriz do culto – Rogério da Hora – é um ogã iniciado a Oxaguian e que, também, ocupou o cargo de Elemaxó, o responsável pelo culto e pelos objetos sagrados do orixá Oxalá o grande pai. O ogã Cristiano Aguiar, de Xangô Ogodô, é portador do título (oyê) de Sobaloju e, também, é responsável pela organização do culto a Xangô na casa do candomblé, bem como cuida dos objetos sagrados que pertencem a esse orixá e participa da organização de sua festa.

Page 64: Lendas Sobre Ori

Na mais alta escala hierárquica estão os Babalorixás e Iyalorixás. Para tornar-se um

Babá ou Iyá é necessário, um dia, ter sido um iaô. Só os filhos-de-santo rodantes, ou seja, aqueles que recebem o orixá, podem vir a ocupar essa posição, pois, “sem santo que se manifeste em transe, não há poder, autoridade, disciplina e, sobretudo, investidura no cargo de iniciador” (PRANDI, 1991, p. 175) Destarte, os pais e mães-de-santo viveram como iaôs e participaram por longo tempo das cerimônias rituais, antes que viessem a se tornar líderes religiosos. Segundo uma expressão do próprio povo de santo, “é preciso ter lodo na unha” para ocupar esse cargo; isso significa dizer que é necessário muito trabalho até chegar lá.

O líder do axé exerce autoridade sobre todos os membros da hierarquia. Ninguém faz

nada sem que antes informe o que pretende fazer. Todas as vezes que alguém for levar

uma oferenda para ser colocado no peji, levar a comida na casa de Exu ou qualquer

outra atividade é necessário, antes, solicitar ao pai que coloque sua mão sobre a mesma.

Ao tocá-la, simbolicamente, se está concedendo poder para que a pessoa possa

entregar aos orixás a oferenda.

É a mãe-de-santo, além disso, quem dirige efetivamente toda atividade da casa:

as cerimônias públicas das grandes festas dos orixás maiores dos terreiros e

os ritos privados que só os filhos da casa participam; o ossé semanal dos

santos; a disciplina dos filhos e a economia do terreiro; os mecanismos de

promoção e de mobilidade intragrupal e a assistência espiritual e material à

imensa variedade de situações de crise e de necessidades de todos os seus

filhos e suas famílias (LIMA, 2003, p. 136).

Na percepção de Lima, a autoridade da mãe se renova todos os dias no seu contato

com os orixás, mas, nem por isso, é exercida sem que haja conflitos ou tensões. Mais

uma vez, a dimensão política da organização faz-se manifestar; só o poder da divindade

não é suficiente para manter a ordem. Além de bons líderes religiosos, os pais e mães

precisam desenvolver habilidades de fazer alianças, cercar-se de pessoas que possam

facilitar e/ou legitimar sua gestão, além de ter habilidade para se relacionar e fazer-se

respeitar, ou seja, é necessário criar uma política organizacional que facilite a aceitação de sua autoridade.

Morgan (1996) sugere, como critério para análise da política organizacional, o foco

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nas relações entre interesses, conflito e poder:

Ao se falar a respeito de interesses, fala-se sobre um conjunto complexo de

predisposições que envolvem objetivos, valores, desejos, expectativas e outras

orientações e inclinações que levam a pessoa a agir em uma e não em outra

direção” (p. 153).

Essa proposição é válida também no candomblé. Observa-se no contato com o povode-

santo que as pessoas vivem em dois universos paralelos: a vida no santo e a vida

cotidiana do lar, do trabalho e da família. Ou seja, mesmo submetendo-se a viver uma

realidade de restrições e obediência no candomblé, estando no terreiro ou fora dele, não

é possível despir-se das concepções e interesses da vida material. Portanto, pessoas

que possuem diferentes modos de vida e formas de perceber o mundo, convivendo num

ambiente autoritário, hierárquico e cheio de mistérios como o mundo do terreiro, acabam, em algum momento, manifestando suas diferenças e conflitos de interesse.

O conflito aparece sempre que os interesses colidem. A reação natural ao conflito

dentro do contexto organizacional é vê-lo comumente como uma força

disfuncional que pode ser atribuída a um conjunto de circunstâncias ou causas

lamentáveis. [...] Pode ser explícito ou implícito. Qualquer que seja a razão e

qualquer que seja a forma que assuma, a sua origem reside em algum tipo de

divergência de interesses percebidos ou reais (MORGAN, 1996, p. 160).

O desrespeito à hierarquia ou sua supressão representa um constante ponto de conflito

na casa-de-santo, por exemplo: não pedir a bênção aos mais velhos, não fazer o

cumprimento diferenciado às maiores autoridades da casa ou passar à frente de algu

ém que tenham maior idade de iniciação em alguma obrigação. No início do artigo,

quando se tratou da origem dos terreiros, foi citado sucintamente um exemplo crítico de

conflito no candomblé: a fundação do Gantois, em 1849, só aconteceu porque Maria Júlia da Conceição Nazareth não aceitou ser preterida como a Iyalorixá do Ilê Iyanassô Oká, que fora herdado por sua irmã-de-santo. Sua dissidência culminou na fundação de sua própria casa de axé.

Outro exemplo de conflito extraído da pesquisa ocorre no Ilê Odé: a Iyakekerê (mãe

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pequena) da casa é irmã biológica do Babalorixá, foi iniciada por uma mãe-de-santo que

conduzia seus rituais de forma diferenciada dos padrões herdados das casas tradicionais

Ketu, como é o caso do axé Gantois e seus descendentes. Por conta disso, a mesma

vem apresentando oposição e discordância ao andamento das atividades da casa, muitas

vezes se ausentando das obrigações. É comum, também, haver divergências, mesmo

que latentes, entre os recém iniciados e as autoridades da casa, por conta do processo

inicial de adaptação à rigidez das normas da religião.

O poder nos terreiros, não se expressa, somente, na estruturação da divisão hierárquica

e dos oyês (títulos). Pode-se observá-lo desde as representações simbólicas físicas

– o poder objetivado –, até as maneiras com que pessoas se comportam na presen-

ça de outras, às quais têm uma relação desigual de poder. É possível distinguir quem

tem mais poder pela roupa que veste, pelas contas que usa e, até mesmo, pela forma

como se dirige aos outros membros do grupo. Alguns elementos possibilitam a percep-

ção das expressões do poder no terreiro:

A SENIORIDADE

No terreiro, a idade biológica pouco importa; o que vale é a idade de santo, em que os

mais velhos têm prerrogativas e direitos frente aos mais novos. “Toda hierarquia religiosa é montada sobre o tempo de aprendizagem iniciática, numa lógica segundo a qual quem é mais velho viveu mais e, por conseguinte, sabe mais” Prandi (2001, p. 54).

Quando se recolhe um barco de iaôs para iniciar os ritos de feitura no santo, que é o

primeiro passo para se integrar à hierarquia, é obedecida uma ordem, e essa ordem

será para sempre respeitada enquanto os componentes daquele barco fizerem parte do

candomblé. O barco nada mais é do que o grupo de pessoas que passam juntas pelos

ritos iniciáticos. “O ilê axé é composto por uma hierarquia baseada na idade iniciática.

Esse valor da antiguidade da iniciação caracteriza as diferenças de poder e status entre

os irmãos” (LUZ, 1995, p. 534).

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Após o período de reclusão, haverá uma cerimônia pública, na qual os orixás, incorporados em seus iniciados, irão em público gritar seu orunkó (nome) no barracão. A partir daí, eles serão chamados dentro do grupo pela ordem de entrada na camarinha em que passaram pela iniciação e pela mesma ordem na qual serão apresentados ao público na saída: o primeiro é o dofono; o segundo dofonitinho; o terceiro fomo; o quarto fomutinho; o quinto gamo; o sexto gamotinho; o sétimo domo; o oitavo domutinho; o nono vito e o décimo vitutinho. Luz (1995, p. 533) elucida: “Para os sacerdotes, antiguidade significará posto, isto é, espaços específicos para o exercício das qualidades e atributos do seu axé”. A respeito desse princípio, afirma Vivaldo:

Esse princípio, já foi dito, é válido na estrutura do próprio barco, em que o

dofono é sempre o mais velho do que os outros irmãos do barco, e o segundo

mais velho do que o terceiro, este mais velho do que o quarto, e assim sucessivamente.

Pequeno ou desprezível que pareça o tempo de diferença em termos

de duração mensurável, esse intervalo no candomblé possui um sentido que

está para além das dimensões convencionais do tempo (LIMA, 2003, p. 78).

O CONHECIMENTO

É “o tempo de santo” que confere a sabedoria – o maior dom que uma pessoa

pertencente ao Candomblé pode receber. De alguém do candomblé que sabe,

diz-se “Ela sabe”. Pode entrar e sair de qualquer Terreiro, “sem fazer vergonha”,

como se diz no Candomblé, a vergonha é não saber. Saber, no candomblé, significa

ser capaz de participar com perfeição, seja nos atos mais simples como a

recepção de alguém no Terreiro, seja na preparação de tudo que é necessário

para a realização de um rito, ou seja, ainda, ser capaz de receber seu próprio

orixá ou preparar os outros para sua recepção (SIQUEIRA, 1998, p. 202).

Trata-se, aqui, do conhecimento ritual, ou na linguagem do povo de candomblé – “os

fundamentos”. Esse conhecimento é transmitido oralmente e pela participação nas obrigações no terreiro, em que os mais velhos vão ensinando os mais novos como fazer as comidas votivas, os ebós, os cânticos e as danças. “Os ebômis são os que sabem, porque são mais velhos, viveram mais, acumularam maior experiência. Sua autoridade é dada pelo conhecimento acumulado, que pressupõe saber maior” (PRANDI, 2001, p. 54).

Page 68: Lendas Sobre Ori

Para deter esse conhecimento é preciso, antes, viver a religião e demonstrar compromisso e humildade para que os ebômis o transmitam. Destarte, quem possui esse conhecimento detém um poder acumulado ao longo dos anos. “Conhecer e saber, nesse contexto é experimentar, sentir, vivenciar. Não há separação estanque entre vivido e concebido, saber é fazer e fazer é saber” (LUZ, 1995, p. 574). Ou como diz Prandi (2001, p. 55): “Saber é poder, é proximidade maior com os deuses e seus mistérios, é sabedoria no trato das coisas de axé, a força mística que move o mundo, manipulada pelos ritos”.

O XIRÊ

A roda realiza princípios hierárquicos entre as sacerdotisas iniciadas. Se, no

início do xirê, a ocupação do espaço do ilê nla, templo das festas públicas, a

disposição de cada indivíduo pertencente ao egbe indica o seu grau hierárquico,

se uma série de formas de cumprimentos e saudações reforçam os vínculos

de aliança e hierarquia do egbe, durante a roda a mobilidade e a dinâmica

litúrgica reforçam na representação espaço-temporal as formas de coesão

grupal (LUZ, 1995, p. 578).

O xirê ou sirè significa festa ou, ainda, a roda que formam os filhos-de-santo em sentido anti-horário, liderados pelo pai. Ao som dos atabaques, tocados pelos alabês pai-de-santo segue a frente da roda, sendo seguido das autoridades e dos filhos-de-santo,

conforme o princípio da senioridade. Todos cantam e dançam três cantigas para cada

orixá, na seqüência: Exu, Ogum, Oxossi/Logun, Ossain, Iroko, Omolu, Oxumarê, Nanã, Oxum, Ewá, Obá, Oyá, Iyemanjá, Xangô, Oxaguian e Oxalufan. Cada filho-de-santo, enquanto a roda prossegue cantando para seu orixá, em sinal de respeito, dirigi-se ao pai de santo e suas autoridades para pedir-lhes a bênção.

OS CUMPRIMENTOS

A forma de cumprimento entre o povo de santo é diferenciada para as distintas posi-

ções hierárquicas. Os iaôs dão dobale ao pai-de-santo, ao Pai pequeno, ao Babalaxé, à

Iyakekerê, à Iyaegbé e aos filhos-de-santo que estiverem incorporados de seus orixás.

Entre si, os iaôs, após terem cumprimentado todos os mais velhos na hierarquia, pedem

Page 69: Lendas Sobre Ori

a bênção aos outros iaôs mais velhos e estes lhes abençoam, e, em seguida, pedem-lhes

a bênção como manda a tradição. Encontra-se na literatura a palavra foribalé, para designar o que aqui se chama de dobale.

O dobale é um cumprimento que simboliza o respeito dos iaôs às pessoas ou entidades

aos quais rendem essa homenagem; consiste em prostrar o corpo no chão aos pés

desses, sendo que há uma variação nos movimentos, a depender do sexo e de que orixá

o filho-de-santo pertence. Os ebômis cumprimentam o seu pai-de-santo, também com o

dobale, a não ser em casos de impedimentos físicos ou quando estes os liberam dessa

obrigação. Entre si, cumprimentam-se pedindo a bênção: o mais novo ao mais velho e

este abençoa o primeiro e lhe pede a bênção em seguida, em demonstração de respeito

e obrigação. Os ogãs e iyarobás, a depender do grau na hierarquia, também dão dobale

ao pai-de-santo.

O COMPORTAMENTO

Facilmente identifica-se um iaô na casa de axé. Na época da feitura usam guizos

amarrados aos pés, os xaurôs, para que seus movimentos sejam sempre vigiados. Eles

andam descalços ou com uma espécie de sandália branca, fechada na frente e aberta na

parte traseira do pé – os chagrins. Sentam-se em esteiras feitas de palha ou em pequenos bancos chamados de apotis. Esses bancos são confeccionados em tamanho inferior a todos os assentos da casa, justamente para que o iaô nunca se sente à mesma altura dos ebômis ou do Babalorixá.

Além disso, nunca se dirigem ao pai-de-santo olhando-o nos olhos ou de pé. Quando

são retaliados, ou repreendidos, nunca respondem e pedem a benção ao seu pai por

aquela correção; isso quando não são tomados por seus orixás, que se manifestam, tal o

poder do pai-de-santo sobre seus filhos. Cada vez que algo de novo é ensinado a um

filho-de-santo, independente de sua idade de iniciação, se tem educação de axé, este

pede a bênção, em sinal de respeito e agradecimento, ao que lhe transmitiu mais um

conhecimento.

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A hora das refeições no candomblé é, acima de tudo, um momento de reunião da

família-de-santo e das visitas ou pessoas próximas à casa do candomblé, quando as

mesmas estão no terreiro. No Ilê Odé, a mesa é posta e sentam-se ao seu redor somente

o Babalorixá, os Ebômis, Ogãs e Iyarobás e demais autoridades. Todos os iaôs sentamse

em esteiras, segundo a ordem de idade de iniciação e irão comer em pratos diferenciados dos demais membros da hierarquia; utilizam o prato e o caneco de ágata, um tipo de prato metálico e esmaltado na cor branca.

Depois que alguém mais velho põe a comida em seus pratos, cada um dos iaôs, na

ordem da idade de iniciação dirige-se ao pai-de-santo pra pedir a bênção, oferecendolhe

o prato, e este, então, o abençoa. O mesmo será feito para todos os mais velhos, e só

após esse ritual é que o filho-de-santo poderá comer. Os ebômis, por conseguinte, pedem também a bênção aos seus mais velhos e são retribuídos da mesma forma.

A OBRIGAÇÃO DE SETE ANOS

É a cerimônia que marca a passagem da categoria de ebômi para Babá ou Iyalorixá.

No dia da festa pública na obrigação de sete anos, a mãe-de-santo entrega ao ebômi

uma cuia contendo uma navalha e a tesoura, que representam os símbolos da feitura de

iaô. Esse momento representa a transferência do poder, em que a Iyá concede a seu filho a permissão para abrir uma casa de candomblé e ter seus próprios filhos-de-santo. Nos candomblés Gantois, essa cerimônia não é formalmente chamada de decá, usa-se o termo obrigação de sete anos. No entanto, para efeito de esclarecimento, o termo foi citado, pois é conhecido entre o povo-de-santo e aparece na literatura consultada com o mesmo sentido da obrigação de sete anos, como em Luz (1995, p. 528):

Esse processo está inserido na própria instituição do “decá”, palavra Jeje que

caracteriza o ritual de entrega da cuia, da tesoura e da “navalha”, elementos

simbólicos da iniciação da iawô, isto é, da neófita, quando esta, depois de sua

obrigação de sete anos, solenemente passa ao status de ebômi e encontra-se

em condições de poder ter sua própria casa de culto.

ADEREÇOS E VESTIMENTAS

Page 71: Lendas Sobre Ori

As roupas e os tipos de colares utilizados são marcos simbólicos do pertencimento a

determinado orixá, bem como distintivos de poder e diferenciação entre os membros da

hierarquia. Cada orixá é representado por colares de contas em cores específicas: para

Oxossi, o azul claro leitoso; para Oyá, o marrom terra; para Iyemanjá, miçangas transparentes; Oxalá, o branco; Xangô, miçangas alternadas entre vermelho e branco ou marrom e branco.

Quando se é iaô, usa-se um colar de palha-da-costa trançada com uma espécie de

vassoura em cada ponta – o mocã. Os diloguns são as insígnias do iaô, constituem-se

em colares de dezesseis fios de miçangas fechados por uma firma. Geralmente, usamse

três diloguns: um representando o orixá do pai-de-santo, outro do orixá pessoal e um

de Oxalá. O pai-de-santo e os ebômis usam contas mais grossas, muito enfeitadas, por

vezes feitas de coral, pedras africanas e símbolos que representam elementos da natureza e os orixás. Existe um colar característico que se usa após os sete anos de iniciação o runjebe e que possui intrínseca ligação com o orixá Oyá. São comumente usados, também, o Brajá, todo feito em búzios da costa, e o Lagdibá, colar distintivo do

ebômi de Omolu, feito de chifre.

As roupas dos iaôs são mais simples, geralmente brancas; para os homens, calça e

uma camisa branca sem bolsos ou enfeites; para as mulheres, saias rodadas com fitas e

bico nas bordas, anáguas, um camisu e o pano da costa. Em dias de festa, utilizam

estampas em cores que lembram seus orixás. A mãe e o pai-de-santo, os ebômis e ogãs

têm roupas mais incrementadas do que os iaôs, usam rechilier e outros tecidos mais

nobres e bastante coloridos com um pano da costa. Só os ebômis entram no xirê calçados, os iaôs dançam descalços.

INSTRUMENTOS EVOCATÓRIOS

O Ajá ou Adjá é uma sineta de metal, utilizada pelos líderes e autoridades do candombl

é nas festas públicas ou durante as oferendas e rituais, com a finalidade de chamar os

Orixás. É composta de um cabo do mesmo material com vários cones (bocas) acoplados,

Page 72: Lendas Sobre Ori

pode ter uma, duas, três ou mais bocas. Só pessoas de autoridade no terreiro podem usar esse instrumento, ao balançar o adjá junto ao ouvido do filho-de-santo, este, imediatamente, será tomado por seu orixá.

O Xeré tem um formato de uma esfera metálica oca, presa em um cabo, que pode ser

de madeira ou de metal. Dentro da esfera há pequenas partículas sólidas, que quando se

balança o instrumento tem-se um som muito peculiar que é invocatório aos orixás. Geralmente, um ogã de Xangô ou o próprio Babalorixá o utilizam sempre nas obrigações e festas desse orixá. Existem, também, o kalakolô, formado por dois cones de metal, e os ogués, dois chifres de búfalo; ambos os instrumentos são empunhados por alguém investido de autoridade para manuseá-los.

AS CADEIRAS DO BARRACÃO

No barracão do terreiro existem as cadeiras dos pais-de-santo e demais autoridades.

Em geral, a cadeira do pai ou mãe é maior e mais rica em detalhes; próximas a ela ficam as cadeiras do Babálaxé e da Iyakekerê. Existem, ainda, cadeiras para receber autoridades de outros terreiros. É comum, nos terreiros, os pais e mães-de-santo possuírem cadeiras que se assemelham a verdadeiras obras de arte, esculpidas com detalhes que remetam ao universo mítico da religião.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O terreiro é organizado por laços espirituais e erigido sobre uma rigorosa estrutura

hierárquica, que confere ao Babalorixá o mais alto poder. No entanto, quando se olha

mais de perto, percebe-se que para manter a coerência e subordinação dos demais, ele

não o faz sem sacrifícios, por mágica ou por encantamento dos deuses. Do contrário, ele

cerca-se de pessoas, com as quais, mantém vínculos, não só biológicos, como de confian

ça. São essas pessoas que vão formar o corpo “diretivo” da organização, representados

principalmente nos cargos de Babalaxé e Iyakekerê.

Além disso, ocupar a posição de sacerdote, cuidar da espiritualidade e, muitas vezes,

do bem estar psicológico dos filhos-de-santo, requer o reconhecimento das qualidades

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pessoais do Babá, que precisam ser suficientes para ele obter legitimidade, respeito e

reconhecimento de sua autoridade e poder. Esse reconhecimento é indicativo de prestí-

gio e poder no campo religioso e garante-lhe um capital simbólico que confere status,

tanto para atrair clientes, como para inspirar confiança naqueles que aspiram tornarem-se filhos-de-santo.

A cultura organizacional é marcada pela tradição, oralidade, valorização do saber

ancestral e, conseqüentemente, respeito ao mais velho. Há normas tácitas, impossíveis

de serem materializadas, pois obedecem a uma ética do preceito, respeito e segredo, e

se reproduzem num ambiente de rigidez normativa e hierarquia. Entrementes, essa rigidez não é excludente, principalmente no que tange à idade, cor da pele, sexualidade ou posição social. Todos são bem vindos a integrar esse universo, evidentemente, desde

que mantenham uma postura aceita pelo controle social do grupo.

Apesar dos vínculos religiosos, a preservação da ordem por parte de uns e o desejo

de poder da parte de outros, como em toda organização, gera conflitos e dissensões.

Suscita curiosidade, também, para estudos posteriores, o fato da linhagem espiritual de

Babá Everaldo, que serviu para ilustrar este trabalho, ser hegemonicamente feminina

(observar diagrama 1). Como se terá dado o processo de legitimação do poder de um

Babá num universo tão marcado pelo poder feminino?

Longe de esgotar a discussão sobre hierarquia e as manifestações do poder no candombl

é, este trabalho almejou fazer uma análise organizacional do terreiro, buscando

conhecer as origens, a sua estrutura física e social, sua cultura organizacional e as

formas pelas quais a organização logra atingir seus objetivos, pretendendo conhecer,

também, seus mecanismos de sustentabilidade econômica. Embora seja explícito o ca-

ráter do terreiro enquanto templo religioso, observou-se que os apontamentos da teoria

das organizações podem aportar seu arcabouço para além das tradicionais esferas do

mercado, Estado e do, hoje tão estudado, Terceiro Setor.

Foi possível analisar uma organização religiosa, caracteristicamente baiana, de enorme

riqueza cultural e permeada por valores que quase nada dizem respeito ao capital,

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ao lucro, mas, ao contrário, oferecem um rico cabedal simbólico, artístico, étnico e cultural que pode, se utilizado com seriedade e comprometimento, gerar contribuições ao estudo das organizações locais contemporâneas.

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Ori - O Orixá mais Importante

Ori

O Orixá mais Importante

Ko sí Òòsà tí i dá´ni gbè léhìn Orí eni

Nenhum Orixá abençoa uma pessoa antes de seu Orí

Este oriki não deixa dúvida sobre a suprema importância desta divindade pessoal, inclusive, acima dos outros Orixás! Orí porém, continua sendo um enigma no conhecimento popular do culto.

Traduzindo da língüa Yorubana, Orí significa cabeça, entretanto quando se busca aprofundar algo mais os devotos hesitam, titubeiam, emudecem. Se Orí é a mais importante de todas as divindades, pq este desconhecimento? Principalmente de uma divindade q reside justamente dentro de nós? Pq, de todos os Orixás, Orí é o mais misterioso?

Para responder a esta questao temos de voltar às origens do nosso culto em África. No continente africano o culto, assim como no Candomblé, é iniciático e hermético. Portanto os segredos, fundamentos e a sabedoria do culto está para apenas ser desvelado por seus iniciados ao decorrer de sua carreira religiosa e/ou sacerdotal. Desta forma, os segredos mais profundos e sérios do culto ficavam restritos aos mais altos sacerdotes. Permitindo ao público e aos mais novos iniciados apenas pequenas centelhas desta sabedoria. Para se atingir os mais profundos conhecimentos e sabedoria eram necessários muitos anos de profunda dedicaçao e disponibilidade de transcender sempre os próprios limites. Contudo, atualmente, vive-se na cultura das árvores impacientes q se dedicam a crescer tao apressadamente em detrimento do aprofundamento de suas raízes, e assim, estes profundos conhecimentos foram ficando restritos a um número cada vez menor de sacerdotes. Isto explica o desconhecimento geral deste supremo Orixá! Q é o ponto central do culto afro e afro-brasileiro! Dele depende a nossa existência, nosso sucesso, fracasso, saúde, doença, riqueza, pobreza, plenitude, felicidade.

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Sem a aprovaçao de Orí nenhum Orixá pode fazer nada pelo seu devoto. Por isso, para nós, Orí é o Orixá mais importante! É o único q nos acompanha na viagem dos mares sem retorno, como descrito no Itan de Ògúndá Méjì.

Voltando às Origens

No princípio dos tempos da Criaçao, Odùdúwà havia criado a Terra, Òṣàlà havia criado o homem, seus braços, pernas, seu corpo, Olórúm lhe insuflou o èmí(respiraçao divina), a vida. Mas Òṣàlà havia se esquecido da cabeça..Òṣàlà não fez a cabeça do Homem. Entao Olórúm pediu à Àjàlà, o oleiro divino, para confeccioná-la. Àjàlà quando foi confeccionar Orí pediu a ajuda de Odú, e assim todos os Odús ajudaram à Àjàlà a confeccionar Orí. E assim nasceu Orí.

Orí é composto da matéria divina dos Odús, misturados em quantidade e organizados segundo a sabedoria de Àjàlà a pedido de Olórúm. Do material (òkè ìpònrí) q Àjàlà utiliza para confeccionar Orí se constitui èwò (tabu) para quem possuir esse Orí. E assim se determina as interdiçoes alimentares dos indivíduos, pois, comer do próprio material de q foi constituído, caracteriza ofensa séria à matriz da qual foi criado.

Todo o homem quando vai para o Aiyé, invariavelmente, deve passar na oficina de Àjàlà e escolher o seu Orí. Esta escolha se chama Kàdárà, oportunidade e circunstância, e ao fazê-la, está determinando sua natureza e destino.

Este momento ocorre da seguinte forma: A alma se ajoelha(posiçao fetal) diante dos pés de Olórúm (O Criador) e entao lhe faz um pedido - Àkùnlé yàn - pedido esse q estará relacionando ao seu desejo de crescimento moral e espiritual. Entao Olórúm lhe fixa o destino - Àyàn mó Ipín - q Orí deverá seguir, em q geralmente atende aos desejos do próprio Olórúm e e às necessidades das restituiçoes q Orí deve cumprir. E entao recebe - Àkùn légbà - as circunstâncias q possibilitarao os acontecimentos, geralmente ligado às questoes de tempo/espaço, meio e todo o entorno necessário ao melhor cumprimento do destino.

Neste momento a alma recebe os seus èwós (tabus), interdiçoes alimentares, de vestuário, de açao, etc.

Afirma compromisso com o seu ancestral e tutor espiritual (Orixá). Afirma compromisso com o Bàbá Egún (Pai espírito) responsável pelo ìpònrí ancestral terreno q formou o seu corpo material, e q zela pelo desenvolvimento da família a q Orí fará parte. Todos os contratos são firmados e/ou reafirmados diante de Olórúm e de Orúnmilá, e à medida q o são o destino se lhe vai fixando.

Entao Orí se dirige à Àkàsò (a fronteira entre Orúm-plano espiritual, e Aiyé-plano físico) e pede passagem à Oníbodè (o porteiro), q lhe interrogará o q fará no Aiyé, Orí lhe contará e mais uma vez se fixará nele o seu destino.

ORÍ - A fisiologia divina

Orí entao descerá e ocupará o seu lugar no Orí do corpo criado, através da chamada "moleira", abertura no crânio do bebê q irá se fechando conforme se desenvolve ao longo dos anos, onde

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se dá a "armadilha para Orí", uma vez encerrado lá Orí somente voltará a se libertar do corpo na última expiraçao, pela boca.

A princípio Orí assentar-se-á no cérebro (opolo) daquele corpo, onde comandará Orí Òde (cabeça externa).

ORÍ ÒDE - a cabeça externa caracteriza-se pela cabeça física (crânio, cérebro, sistema nervoso central, olhos, ouvidos, etc) e também pela personalidade e intelecto q resultará da interaçao daquele corpo com Orí Innú (cabeça interna), a cultura local onde se desenvolverá o indivíduo, e o aprendizado q receberá desde o seu nascimento. Ou seja, Orí òde é, além da cabeça física, a nossa pessoa como nós a conhecemos e como os outros a conhecem. É o mecanismo criado por Orí innú para lidar com o mundo exterior. Orí Òde é o nosso "eu exterior".

ORÍ INÚ - a cabeça interna, é a nossa personalidade divina, ou nosso "eu verdadeiro", ou nosso "eu supremo ou superior". Em resumo, nossa alma.

Abaixo de Orí inú reside Elénìnìí (o opositor de Orí), no cerebelo (ipakó), responsável pelo esquecimento de Orí de sua missao, aquele q o vem atrapalhar a realizar, cumprir sua missao para com Olórúm e a Criaçao, conforme descrito no Itan do Odú Irosún Méjì. Este, constitui o último nó para a transcendência de Orí innú, e o cumprimento de sua missao original.

Ainda existe Ipín jeun - o estômago, e obo ati oko - os órgaos sexuais, q são os outros nós q Orí innú deve superar: medo, desejo, ambiçao, vaidade, ciúme, ira, egoísmo, etc.

Orín inú ainda se divide em:

Orí aperé: o caminho predestinado, fenômeno narrado acima. O destino do indivíduo vem escrito em sua cabeça. "sua cabeça, sua sentença!"

Aparí innú: o caráter (ìwà), a personalidade divina. Q é a essência de Orí innú, a alma, e sua missao original. É através do desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, honesto, puro, bom) q Orí chegará à sua transcendência última! Enfim, como descreve o Odú Ogbè-Ègùndá: "Ìwà nikàn l´ó sòro o" " Caráter é tudo o que se precisa". Ìwà Pèlé (caráter reto) é o que conduzirá Orí innú até o Òrun rere (plano espiritual dos Orixás), em caráter definitivo.

Assim sabemos que nossa divindade pessoal é Orí innú ( cabeça interna-alma), responsável pelo nosso destino e felicidade. Q o nosso Orixá (orí- o primeiro) é o tutor espiritual de nosso Orí innú, mas q só poderá ajudar-nos se Orí o permitir. Q em nosso Orí innú reside o nosso Odú (destino) e somente através de Orí e Odú podemos transmutar o nosso destino, e assegurar o cumprimento da missao confiada por Olódùmarè. Q devemos nos resguardar de Elénìnìí, o inimigo de nossa missao e alma, aquele q pode nos trazer sofrimentos. E q nossa verdadeira

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essência, q devemos buscar, reside em Orí innú (cabeça interna-alma) e não em nosso Orí òde (cabeça externa-personalidade) q é tao somente o veículo de Orí innú aqui no Aiyé.

E, o mais importante: a missao maior de Orí innú, à qual cabe ao nosso Orixá ajudar-nos, é o desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, bom), nosso passaporte para o encontro definitivo com Olórun!!

Orí o!!

Ire o!

Qualidades do Orixá Exu

por Tomeje

Sobre a multiplicidade dos Orixás

Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil e em Portugal (em Cuba chama-se caminhos), dos títulos e de nomes tirados de cantigas como insistem pseudo sacerdotes.

Já sabemos que os orixás são venerados com outros nomes em regiões diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Gege), Sango (Oyo), Oranfe (Ife), e isso torna o culto diferente.

Temos também o segundo nome designando o seu lugar de origem como Ogun Onire (Ire), Osun Kare (Kare),etc, também temos os orixás com outros nomes referentes às suas realizações como Ogun Mejeje que se refere às lutas contra as 7 cidades antes de invadir Ire, e Iya Ori, a versão de Yemanja como dona das cabeças, etc.

Há portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou seja, uma mesma divindade com vários nomes e, é isso que multiplica os orixás no Brasil e em Portugal.

Vamos começar com Exu o primeiro orixá criado por Olorun de matéria do

planeta segundo a sua mitologia, ele possui a função de executor, observador,

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mensageiro, líder, etc. Alem dos nomes citados aqui, que são epítetos e nomes de cidades onde há o seu culto, ele será batizado com outros nomes no momento do seu assentamento, ritual especifico e odu do dia. Não será escrito na grafia Yoruba para melhor entendimento do leitor.

Os 16 múltiplos de Exú

Exú Yangui:a laterita vermelha, é a sua múltipla forma mais importante e que lhe confere a qualidade de Imolê ou divindade nos ritos da criação. Exú ligado a antigas e grandes sacerdotizas de Oxun.

Exú Agbà: o ancestral, epíteto referente à sua antiguidade.

Exú Igbá ketá: o exú da terceira cabaça

Exú Okòtò: o exú do carocol, o infinito.

Exú Oba Babá Exú: o rei pai de todos os Exús

Exú Odàrà: o senhor da felicidade ligado a Orinxa’Lá

Exú Òsíjè: o mensageiro divino

Exú Elérù: o Senhor do carrego ritual.

Exú Enú Gbáríjo: a boca coletiva dos Orixás.

Exú Elegbárà: o senhor do poder mágico

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Exú Bárà: o senhor do corpo

Exú L’Onan: o Senhor dos caminhos

Exú Ol’Obé: o senhor da Faca

Exú El’Ébo: o Senhor das oferendas

Exú Alàfìá: o Senhor sa satisfação Pessoal

Exú Oduso: o Senhor que vigia os Odús.

Exús que acompanham vários Orixás.

Exú Akesan: acompanha Oxumaré, etc

Exú Jelu ou Ijelu: acompanha Osolufun.

Exú Ína: responsável pela cerimónia do Ipade regulamentando o ritual.

ExúÒnan: acompanha Oxun, Oyá , Ogun, responsável pela porteira do Ketu.

Exú Ajonan: tinha o seu culto forte na antiga região Ijesa.

Exú Lálú: acompanha Odé, Ogun, Oxalá, etc

Exú Igbárábò: acompanha Yemanjá, Xangô, etc

Page 80: Lendas Sobre Ori

Exú Tìrírí: acompanha Ogun

Exú Fokí ou Bàra Tòkí: acompanha Oyá e vários orixás

Exú:Lajìkí ou Bára Lajìkí: acompanha Ogun, Oyá e as posteiras.

Exú Sìjídì: acompanha Omolú, Nanã, etc

Exú Langìrí: a companha Osogiyan

Exú Álè: acompanha Omolú

Exú Àlákètú: acompanha Oxóssi

Exú Òrò: acompanha Odé, Logun

Exú Tòpá/Eruè: acompanha Ossayin

Exú Aríjídì: acompanha Oxun

Exú Asanà: acompanha Oxun

Exú L’Okè: acompanha Obá

Exú Ijedé: acompanha Logun

Page 81: Lendas Sobre Ori

Exú Jinà: acompanha Oxumarè

Exú Íjenà: acompanha Ewá

Exú Jeresú: acompanha Obaluaiye

Exú Irokô; acompanha Iroko

CONHECIMENTO SOBRE A COZINHA DE SANTO

CONHECIMENTO SOBRE A COZINHA DE SANTO

Foto: CONHECIMENTO SOBRE A COZINHA DE SANTO A cozinha de santo nas Nações de Keto, Gêge, Angola, Nagô, Ioruba, Bantos, etc., inclusive no Omolocô quando puxado para uma das outras Nações, é bem diferente das cozinhas profanas, onde se prepara o alimento do homem em geral. Há uma série inteira de preceitos do ritual que se há que obedecer. Os utensílios não são iguais aos da cozinha comum. Por essa razão traçaremos um plano de organização, colocando em seqüência as coisas que precisam ser observadas para que tenhamos ORDEM e gozemos das simpatias e estima constante, de todos os ORIXÁS para os quais preparamos os alimentos, as OBRIGAÇÕES. Via de regra, a Cozinha de Santo tem os seguintes petrechos, os seguintes utensílios: MESA OU BANCA onde se colocam os fogareiros a carvão, se na casa não existe ou não tem FOGÃO DE LENHA. Como medida de precaução e até mesmo de maior higiene a mesa modesta, ou banca, deve ser forrada de folha de Flandres (ou folha de alumínio) que evitará seja a madeira queimada pela quentura dos fogareiros e/ou pelas brasas que escapam pela grelha; ela pode ser um pouco comprida para comportar, ao lado, um grande alguidar ou bacia, onde se procedem a lavagem dos utensílios, panelas e louça. Um FOGAREIRO (ou vários) conforme a necessidade, de ferro, para carvão vegetal. São facilmente encontrados em lojas de ferragens, principalmente nos bairros mais modestos. PANELAS DE BARRO, vidradas ou simples, ou então de ferro. Nós preferimos as de barro, como nos tempos passados. AS COLHERES são de pau, de variados tipos. RALOS para coco são de folha. URUPEMA (peneira) é de taquara e a encontramos em casas especializadas, o COADOR deve ser de folha. MÁQUINA de moer carne. Atualmente já não se encontra PEDRA DE RALAR, DE MOER (mó) para triturar grãos e por esse motivo só pode ser resolvido com um moinho ou pilão (que já é difícil de encontrar). A escumadeira também é de folha. O FOGAREIRO ou o FOGÃO DE LENHA não se abana para os dois lados, como na feitura de alimentos profanos;

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abana-se da Direita para a Esquerda, a princípio parece difícil, mas em pouco tempo acha-se o jeito. Constituída ou organizada a Cozinha, vejamos agora a pessoa ou pessoas que nela vão trabalhar. As IABÁS ou IABASSÊS, as cozinheiras do Santo, trabalham paramentadas, vestidas no Ritual. Colocam ao pescoço a Guia ou Guias do Orixá cujo alimento está sendo preparado ou as guias de seus Orixás. Tem-se-se recurso maior, procura-se Ter um depósito ou numa dispensa o material ou ingredientes mais usados para se poder atender rapidamente, ao pedido ou ordem superior, referente a qualquer obrigação. Nos depósitos da cozinha de Santo, não devem faltar os seguintes artigos ou gêneros mais aplicados na alimentação ou nas obrigações: - Azeite de dendê. - Azeite de Oliveira (azeite doce) - Arroz quebradinho - Canjica - Canjiquinha de milho vermelho - Cebolas - Farinha de mandioca, farinha de guerra, farinha de pau. - Feijão fradinho, feijão miúdo - Feijão branco - Feijão vermelho - Fubá de milho vermelho - Fubá de milho branco - Fubá de Arroz - Maisena - Milho alho - para pipocas - Noz moscada - Ori - Pimenta malagueta - Velas Antes de começar o trabalho de cozinhar para o santo, a IABÁ, ou filha de fé, ou filha de santo, acende uma vela ao seu ELEDÁ, próximo ou ao lado do local onde vai executar o dito trabalho e ao lado da vela, um copo d'água. Se o trabalho se alongar e a vela terminar, antes que isso aconteça, acende-se outra sobre o toco que está terminando, uma outra e ao terminar o trabalho, retira-se à vela e o copo d'água de perto do fogão ou fogareiro, colocando-a no PEJI ou em lugar alto para terminar, terminada a vela, despacha-se a água em lugar que haja água corrente, no lavatório, no tanque. Após o serviço, as brasas dos fogareiros são apagadas com areia, nunca com água. Organizada a cozinha, poderemos a qualquer momento, preparar a iguarias originariamente destinadas aos Orixás tal qual são realizadas na fonte doutrinária da Umbanda e do Candomblé. A história da alimentação dá-nos uma coleção do que faz mal e uma variada coletânea folclórica. Não se come despido ou sem camisa, é ofensa ao Anjo da Guarda Comer com chapéu na cabeça é comer acompanhado de forças negativas. Não se come com o prato na mão; a miséria fareja. Não se come as pontas dos animais ou aves; são Axés (pertencem) ao santo. Dinheiro sobre a mesa de refeições provoca miséria. Quando cai comida no chão ou escapa do talher e vai ao solo é sinal de que existe parente passando necessidade. Não se apanha alimento que cai ao chão. É das almas. Recebe-se o prato com a mão direita; é benção do prato cheio (C. Cascudo) Pão não se joga fora; é corpo de Deus. Donzela não serve sal, não corta galinha, nem passa palitos; custa a casar. (C. Cascudo) Relativamente à cozinheira, prescrevem: Não se mexe alimentos que estão cozinhando, no sentido da mão esquerda, senão desanda ou encrua. Não se mexe comida de Exu com a mão direita, para não absorver fluídos negativos. Antes de começar a cozinhar para o santo, faz-se o sinal da cruz, tudo correrá bem. Não bata com a tampa da panela quando estiver cozinhando, afugenta a proteção. Quando a comida não quer amolecer, coloca-se na panela, três caroços de milho, amolece rápido. Não deve cozinhar para o santo: os homens de corpo sujo e as mulheres de corpo aberto; Corta o efeito das obrigações. Há uma porção de determinações referentes ao ritual de Umbanda e do Candomblé, assim: Não se cortam aves ou bichos de quatro pés a não ser nas juntas. O santo recusa. Obrigação mal feita ou mal arriada, paga-se em dobro. Quando se arreia uma obrigação na encruzilhada, não se volta, nem se passa pelo mesmo caminho durante 24 horas, para não pegar os miasmas de retorno. Antes de se sacrificar um animal (quando necessário) nos terreiros, manda-se limpá-lo com o Otí correspondente, sem isso o santo não aceita. O Sacrifício de aves e/ou animais só são aplicados em último recurso, pois que atualmente procura-se fazer Imantações com base em Frutos e/ou Pedras preciosas dos diversos Orixás; que será assunto de uma futura pesquisa.

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Bibliografia: COZINHA DE SANTO João Sebastião das Chagas Varella. COZINHA RITUALISTICA As Comidas do Santo VARIEDADES EXÚ - Farofa - Dendê e Pinga. OGUN - Feijão Preto com Cebola ( macundê ). OXOSSI - Milho com Mel e Coco. OSSAIN - Feijão Preto com Mel e Coco. OBALUAIÊ - Pipocas. XANGÔ - Quiabo ( Ajobô ). OXUMARÊ - Batata Doce ou Amendoim Cozido com Casca e Mel. OXUN - Ovos Cozidos, Camarões, Milho e Coco. IANSÃ - Acarajés. NANÃ - Folha de Mostarda com Arroz. OBÁ - Divide com Xangô o Quiabo ( Amalá ). EWÁ - Frutas. IROCO - Verduras e Cebola. IEMANJÁ - Arroz com Mel e Manjar Branco. OXALÁ - Arroz Branco - Inhame Pilado e Cozido. COMIDA PARA EXU Material Necessário:FarinhaAzeite-de-DendêMel de AbelhaMilho BrancoFigado, Coração e Bofe de BoiCebolaCamarão Seco SocadoUm Oberó Maneira de Preparar: Mi-Ami-Mi : É a farofa amarela ( farinha misturada com Azeite-de-Dendê ). Padê Branco : É a farofa de Mel ( farinha de mandioca misturada com mel de Abelha ). Acaçá Branco: O acaçá feito de milho branco de canjica, moído e enrolado na folha da bananeira depois de cozido. Eram: Figado, coração e bofe de boi, cortados em pedaços muídos, misturados com Azeite-de-Dendê, camarão seco socado e cebolas cortadas em rodelas, num oberó. COMIDA PARA OGUN Material Necessário:InhameAzeite-de-DendêMel de Abelha Maneira de Fazer: Frita-se o inhame na brasa. Depois disso, descansa-se e tempera-se no Azeite-de-Dendê e o mel de abelhas. ERAN - O Eran de Ogún é feito com miúdos de boi, cortados bem pequenos e cozidos no Azeite-de-Dendê. Depois, eles são passados num refogado de cebola ralada e estão prontos. EFUN - Farofa de mel - mistura-se a farinha de mandioca com mel de abelhas e pronto. Pode-se colocar num Oberó, nos pés de Ogun, ou nas estradas, pedindo a Ogun que adoce os seus caminhos e suas estradas. COMIDA PARA ODÉ ou OSHÓSSI Material Necessário: Milho Vermelho, Côco, 1 Oberó Maneira de Fazer: Axoxón - É a comida mais comum de Oshóssi - cozinha-se o milho vermelho somente em água, depois deixa-se esfriar, coloca-se num Oberó e enfeita-se por cima com fatias de côco. COMIDA DE OMOLU E OBALUAYIÊ Doburu Material Necessário:Milho Alho ( para pipoca ) ou milho vermelho Areia da praia Maneira de Fazer: Numa panela quente com areia da praia, estourar o milho e está pronto o doburu. OUTRAS COMIDAS Material Necessário:Feijão Preto Cebola ½ K de Camarão Seco Azeite-de-dende Maneira de Fazer: Cozinha-se o feijão preto, só em água, e depois refoga-se cebola ralada, camarão seco e Azeite-de-Dendê. COMIDA PARA OSANYIN Material Necessário:Batata-doce Cebola Azeite-de-Dendê 1 Oberó Maneira de Fazer: Cozinha-se a batata-doce só em água. Depois, descança-se e amassa-se feito purê. Ai, mistura-se num refogado de cebola ralada com Azeite-de-Dendê, e coloca-se tudo num oberó. COMIDA PARA OSHUMARÊ Material Necessário:Feijão Fradinho Milho Vermelho Cebola Azeite-de-Dendê Maneira de Fazer: Cozinha-se o feijão fradinho em água. Separado, cozinha-se o milho vermelho também em água. Depois, juntar o feijão e o milho, num refogado de cebola ralada com Azeite-de-Dendê. Nota: Oshumarê e Ewá comem juntos. Oshumarê é a cobra macho e Ewá a cobra, chamados no Jejê de Dan-Bessén ou Azaundô. Material Necessário: Milho Vermelho Feijão Fradinho Azeite-de-Dendê Camarão Seco 1 Oberó 1 Inhame ( grande ) Ovos Cozidos 1 Côco 1 Litro de Mel Maneira de Fazer: Cozinha-se o milho só em água. Separado, cozinha-se o feijão fradinho, também só em água. Refoga-se o feijão com Azeite-de-Dendê, cebola ralada e camarão seco socado. Coloca-se o feijão em metade de um oberó e, na outra metade o milho vermelho. Frita-se um inhame e coloca-se por cima em fatias, em volta, enfeita-se um ovos cozidos em rodelas, fatias de côco e coloca-se bastante mel de abelha por cima. COMIDA PARA OXUN OMOLOKUN Material Necessário: Feijão Fradinho Cebola Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê 08 Ovos Cozidos Maneira de Fazer: Cozinha-se o feijão fradinho

Page 84: Lendas Sobre Ori

só em água. Em seguida, tempera-se num refogado de cebola ralada com camarão seco socado de dendê. Coloca-se em uma tigela e enfeita-se por cima com 8 ovos, descascados. COMIDA PARA YEMANJÁ EJÁ Material Necessário: Peixe de Qualidade Vermelho Azeite Doce Camarão Seco Socado Cebola Ralada Maneira de Fazer: Cozinha-se o peixe em refogado de azeite Doce com camarão seco socado e cebola. DIBÓ Material Necessário:Canjica Cozida Azeite Doce Camarão Seco Socado Cebola Ralada Maneira de Fazer: Cozinha-se a canjica, tempera-se com azeite doce, camarão seco socado e cebola ralada. COMIDA PARA YASÁN ACARAJÉ Material Necessário:Feijão Fradinho Camarão Seco Socado Cebola Azeite-de-Dendê Maneira de Fazer: Coloca-se o feijão fradinho de molho em água, para descansá-lo cru. Depois, moesse o feijão e mistura-se com a cebola ralada, camarão seco socado e deixa-se a massa descansar, coberta por um pano ou uma pedra de carvão no meio. Depois, bate-se bem a massa para dar ponto, e fritam-se bolos tirados com a colher, no Azeite-de-Dendê bem quente. COMIDA PARA OBÁ Material Necessário:Feijão Fradinho Cebola Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê Farinha de Mandioca 01 Oberó Maneira de Fazer: Cozinha-se o feijão em água. Depois, mistura-se num refogado de cebola raladas, camarão seco socado, Azeite-de-Dendê e água. por cima, adiciona-se farinha de mandioca, fazendo um pirão e coloca-se num oberó. Nota: Conta-se que Obá é a dona do amor e quando se quer solucionar uma questão de amor, oferece-se uma comida desta na beira do lago, com muitas velas e flores. COMIDA PARA ANAMBURUCU DAMBORÔ Material Necessário: Folha de Taioba ou Mostarda Cebola Ralada Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê Maneira de Fazer: Cozinha-se bem a folha de taioba ou mostarda,e em seguida tempera-se num refogado de cebola ralada, camarão seco socado e Azeite-de-Dendê. COMIDA PARA SHANGÔ AGEBÔ ou AGEGBÔ Material Necessário:12 Quiabos1 Litro de Mel Azeite-de-Dendê Água Carne de Peito Maneira de Fazer: Cortam-se os quiabos em pedacinhos bem pequenos, depois tempera-se com cebola ralada, camarão seco socado e azeite-de-Dendê. Cozinha-se bastante e depois mistura-se com rabada, ou carne de peito cozidos, cortadas em pedacinhos. COMIDA PARA OXALÁ EBÔ Material Necessário: Canjica Branca 1 Litro de Mel Algodão Água Maneira de Fazer: Cozinha-se a canjica somente em água. Depois de bem cozida, coloca-se numa vasilha branca, coloca-se bastante mel de abelhas e cobre-se com algodão. ACAÇÁ Material Necessário:Canjica Branca Folha de Bananeira Maneira de Fazer: Moesse o milho de canjica, cozinha-se até dar até dar o ponto de ficar bem durinho e enrole os bolinhos na folha da bananeira. INHAME ACARÁ Cozinha-se o inhame e depois amassa-se feito um purê. Faz-se bolinhos na mão e coloca-se em pratos brancos. Oferece-se a Oxalá. Nota: Todos os Orixás do Candomblé comem acaçá branco. Em cima da comida do Orixá, antes de oferecer-lhe, deve-se abrir um acaçá branco. COMIDA DE CABOCLO Material Necessário:Alface Farinha de Mandioca Mel de Abelha Azeite de Oliva Carne Crua 01 Travessa de Barro Maneira de Fazer: Faz-se uma salada de alface, com uma farofa d'água ou de mel, carne crua e azeite de oliva por cima, coloca-se tudo numa travessa de barro. OUTRA COMIDAS Abóbora moranga, assada na brasa, com mel de abelha.Aipim ou mandioca, assado na brasa, com mel de abelha.Ebô ( canjica ) com fumo de rolo desfiado e côco.Mingau de milho vermelho com côco e fumo de rolo.Milho vermelho com côco e fumo de rolo desfiado. Amendoim cozido em água, com mel de abelhas.Vinho branco, moscatel e cachaça.

Page 85: Lendas Sobre Ori

A cozinha de santo nas Nações de Keto, Gêge, Angola, Nagô, Ioruba, Bantos, etc., inclusive no Omolocô quando puxado para uma das outras Nações, é bem diferente das cozinhas profanas, onde se prepara o alimento do homem em geral.

Há uma série inteira de preceitos do ritual que se há que obedecer. Os utensílios não são iguais aos da cozinha comum. Por essa razão traçaremos um plano de organização, colocando em seqüência as coisas que precisam ser observadas para que tenhamos ORDEM e gozemos das simpatias e estima constante, de todos os ORIXÁS para os quais preparamos os alimentos, as OBRIGAÇÕES.

Via de regra, a Cozinha de Santo tem os seguintes petrechos, os seguintes utensílios:

MESA OU BANCA onde se colocam os fogareiros a carvão, se na casa não existe ou não tem FOGÃO DE LENHA. Como medida de precaução e até mesmo de maior higiene a mesa modesta, ou banca, deve ser forrada de folha de Flandres (ou folha de alumínio) que evitará seja a madeira queimada pela quentura dos fogareiros e/ou pelas brasas que escapam pela grelha; ela pode ser um pouco comprida para comportar, ao lado, um grande alguidar ou bacia, onde se procedem a lavagem dos utensílios, panelas e louça.

Um FOGAREIRO (ou vários) conforme a necessidade, de ferro, para carvão vegetal. São facilmente encontrados em lojas de ferragens, principalmente nos bairros mais modestos.

PANELAS DE BARRO, vidradas ou simples, ou então de ferro. Nós preferimos as de barro, como nos tempos passados.

AS COLHERES são de pau, de variados tipos. RALOS para coco são de folha. URUPEMA (peneira) é de taquara e a encontramos em casas especializadas, o COADOR deve ser de folha.

MÁQUINA de moer carne. Atualmente já não se encontra PEDRA DE RALAR, DE MOER (mó) para triturar grãos e por esse motivo só pode ser resolvido com um moinho ou pilão (que já é difícil de encontrar). A escumadeira também é de folha.

O FOGAREIRO ou o FOGÃO DE LENHA não se abana para os dois lados, como na feitura de alimentos profanos; abana-se da Direita para a Esquerda, a princípio parece difícil, mas em pouco tempo acha-se o jeito.

Page 86: Lendas Sobre Ori

Constituída ou organizada a Cozinha, vejamos agora a pessoa ou pessoas que nela vão trabalhar.

As IABÁS ou IABASSÊS, as cozinheiras do Santo, trabalham paramentadas, vestidas no Ritual. Colocam ao pescoço a Guia ou Guias do Orixá cujo alimento está sendo preparado ou as guias de seus Orixás.

Tem-se-se recurso maior, procura-se Ter um depósito ou numa dispensa o material ou ingredientes mais usados para se poder atender rapidamente, ao pedido ou ordem superior, referente a qualquer obrigação.

Nos depósitos da cozinha de Santo, não devem faltar os seguintes artigos ou gêneros mais aplicados na alimentação ou nas obrigações:

- Azeite de dendê.

- Azeite de Oliveira (azeite doce)

- Arroz quebradinho

- Canjica

- Canjiquinha de milho vermelho

- Cebolas

- Farinha de mandioca, farinha de guerra, farinha de pau.

- Feijão fradinho, feijão miúdo

- Feijão branco

- Feijão vermelho

- Fubá de milho vermelho

- Fubá de milho branco

- Fubá de Arroz

- Maisena

- Milho alho - para pipocas

- Noz moscada

Page 87: Lendas Sobre Ori

- Ori

- Pimenta malagueta

- Velas

Antes de começar o trabalho de cozinhar para o santo, a IABÁ, ou filha de fé, ou filha de santo, acende uma vela ao seu ELEDÁ, próximo ou ao lado do local onde vai executar o dito trabalho e ao lado da vela, um copo d'água. Se o trabalho se alongar e a vela terminar, antes que isso aconteça, acende-se outra sobre o toco que está terminando, uma outra e ao terminar o trabalho, retira-se à vela e o copo d'água de perto do fogão ou fogareiro, colocando-a no PEJI ou em lugar alto para terminar, terminada a vela, despacha-se a água em lugar que haja água corrente, no lavatório, no tanque.

Após o serviço, as brasas dos fogareiros são apagadas com areia, nunca com água.

Organizada a cozinha, poderemos a qualquer momento, preparar a iguarias originariamente destinadas aos Orixás tal qual são realizadas na fonte doutrinária da Umbanda e do Candomblé.

A história da alimentação dá-nos uma coleção do que faz mal e uma variada coletânea folclórica.

Não se come despido ou sem camisa, é ofensa ao Anjo da Guarda

Comer com chapéu na cabeça é comer acompanhado de forças negativas.

Não se come com o prato na mão; a miséria fareja.

Não se come as pontas dos animais ou aves; são Axés (pertencem) ao santo.

Dinheiro sobre a mesa de refeições provoca miséria.

Quando cai comida no chão ou escapa do talher e vai ao solo é sinal de que existe parente passando necessidade.

Não se apanha alimento que cai ao chão. É das almas.

Recebe-se o prato com a mão direita; é benção do prato cheio (C. Cascudo)

Pão não se joga fora; é corpo de Deus.

Donzela não serve sal, não corta galinha, nem passa palitos; custa a casar.

Page 88: Lendas Sobre Ori

(C. Cascudo)

Relativamente à cozinheira, prescrevem:

Não se mexe alimentos que estão cozinhando, no sentido da mão esquerda, senão desanda ou encrua.

Não se mexe comida de Exu com a mão direita, para não absorver fluídos negativos.

Antes de começar a cozinhar para o santo, faz-se o sinal da cruz, tudo correrá bem.

Não bata com a tampa da panela quando estiver cozinhando, afugenta a proteção.

Quando a comida não quer amolecer, coloca-se na panela, três caroços de milho, amolece rápido.

Não deve cozinhar para o santo: os homens de corpo sujo e as mulheres de corpo aberto; Corta o efeito das obrigações.

Há uma porção de determinações referentes ao ritual de Umbanda e do Candomblé, assim:

Não se cortam aves ou bichos de quatro pés a não ser nas juntas. O santo recusa.

Obrigação mal feita ou mal arriada, paga-se em dobro.

Quando se arreia uma obrigação na encruzilhada, não se volta, nem se passa pelo mesmo caminho durante 24 horas, para não pegar os miasmas de retorno.

Antes de se sacrificar um animal (quando necessário) nos terreiros, manda-se limpá-lo com o Otí correspondente, sem isso o santo não aceita.

O Sacrifício de aves e/ou animais só são aplicados em último recurso, pois que atualmente procura-se fazer Imantações com base em Frutos e/ou Pedras preciosas dos diversos Orixás; que será assunto de uma futura pesquisa.

Bibliografia:

Page 89: Lendas Sobre Ori

COZINHA DE SANTO

João Sebastião das Chagas Varella.

COZINHA RITUALISTICA

As Comidas do Santo

VARIEDADES

EXÚ - Farofa - Dendê e Pinga.

OGUN - Feijão Preto com Cebola ( macundê ).

OXOSSI - Milho com Mel e Coco.

OSSAIN - Feijão Preto com Mel e Coco.

OBALUAIÊ - Pipocas.

XANGÔ - Quiabo ( Ajobô ).

OXUMARÊ - Batata Doce ou Amendoim Cozido com Casca e Mel.

OXUN - Ovos Cozidos, Camarões, Milho e Coco.

IANSÃ - Acarajés.

NANÃ - Folha de Mostarda com Arroz.

OBÁ - Divide com Xangô o Quiabo ( Amalá ).

EWÁ - Frutas.

IROCO - Verduras e Cebola.

IEMANJÁ - Arroz com Mel e Manjar Branco.

Page 90: Lendas Sobre Ori

OXALÁ - Arroz Branco - Inhame Pilado e Cozido.

COMIDA PARA EXU

Material Necessário:FarinhaAzeite-de-DendêMel de AbelhaMilho BrancoFigado, Coração e Bofe de BoiCebolaCamarão Seco SocadoUm Oberó

Maneira de Preparar:

Mi-Ami-Mi : É a farofa amarela ( farinha misturada com Azeite-de-Dendê ).

Padê Branco : É a farofa de Mel ( farinha de mandioca misturada com mel de Abelha ).

Acaçá Branco: O acaçá feito de milho branco de canjica, moído e enrolado na folha da bananeira depois de cozido.

Eram: Figado, coração e bofe de boi, cortados em pedaços muídos, misturados com Azeite-de-Dendê, camarão seco socado e cebolas cortadas em rodelas, num oberó.

COMIDA PARA OGUN

Material Necessário:InhameAzeite-de-DendêMel de Abelha

Maneira de Fazer:

Frita-se o inhame na brasa. Depois disso, descansa-se e tempera-se no Azeite-de-Dendê e o mel de abelhas.

Page 91: Lendas Sobre Ori

ERAN - O Eran de Ogún é feito com miúdos de boi, cortados bem pequenos e cozidos no Azeite-de-Dendê. Depois, eles são passados num refogado de cebola ralada e estão prontos.

EFUN - Farofa de mel - mistura-se a farinha de mandioca com mel de abelhas e pronto. Pode-se colocar num Oberó, nos pés de Ogun, ou nas estradas, pedindo a Ogun que adoce os seus caminhos e suas estradas.

COMIDA PARA ODÉ ou OSHÓSSI

Material Necessário: Milho Vermelho, Côco, 1 Oberó

Maneira de Fazer:

Axoxón - É a comida mais comum de Oshóssi - cozinha-se o milho vermelho somente em água, depois deixa-se esfriar, coloca-se num Oberó e enfeita-se por cima com fatias de côco.

COMIDA DE OMOLU E OBALUAYIÊ

Doburu

Material Necessário:Milho Alho ( para pipoca ) ou milho vermelho Areia da praia

Maneira de Fazer:

Numa panela quente com areia da praia, estourar o milho e está pronto o doburu.

OUTRAS COMIDAS

Material Necessário:Feijão Preto Cebola ½ K de Camarão Seco Azeite-de-dende

Page 92: Lendas Sobre Ori

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão preto, só em água, e depois refoga-se cebola ralada, camarão seco e Azeite-de-Dendê.

COMIDA PARA OSANYIN

Material Necessário:Batata-doce Cebola Azeite-de-Dendê 1 Oberó

Maneira de Fazer:

Cozinha-se a batata-doce só em água. Depois, descança-se e amassa-se feito purê. Ai, mistura-se num refogado de cebola ralada com Azeite-de-Dendê, e coloca-se tudo num oberó.

COMIDA PARA OSHUMARÊ

Material Necessário:Feijão Fradinho Milho Vermelho Cebola Azeite-de-Dendê

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão fradinho em água. Separado, cozinha-se o milho vermelho também em água. Depois, juntar o feijão e o milho, num refogado de cebola ralada com Azeite-de-Dendê.

Nota: Oshumarê e Ewá comem juntos. Oshumarê é a cobra macho e Ewá a cobra, chamados no Jejê de Dan-Bessén ou Azaundô.

Material Necessário: Milho Vermelho Feijão Fradinho Azeite-de-Dendê Camarão Seco 1 Oberó 1 Inhame ( grande ) Ovos Cozidos 1 Côco 1 Litro de Mel

Page 93: Lendas Sobre Ori

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o milho só em água. Separado, cozinha-se o feijão fradinho, também só em água. Refoga-se o feijão com Azeite-de-Dendê, cebola ralada e camarão seco socado. Coloca-se o feijão em metade de um oberó e, na outra metade o milho vermelho. Frita-se um inhame e coloca-se por cima em fatias, em volta, enfeita-se um ovos cozidos em rodelas, fatias de côco e coloca-se bastante mel de abelha por cima.

COMIDA PARA OXUN

OMOLOKUN

Material Necessário: Feijão Fradinho Cebola Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê 08 Ovos Cozidos

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão fradinho só em água. Em seguida, tempera-se num refogado de cebola ralada com camarão seco socado de dendê. Coloca-se em uma tigela e enfeita-se por cima com 8 ovos, descascados.

COMIDA PARA YEMANJÁ

EJÁ

Material Necessário: Peixe de Qualidade Vermelho Azeite Doce Camarão Seco Socado Cebola Ralada

Maneira de Fazer:

Page 94: Lendas Sobre Ori

Cozinha-se o peixe em refogado de azeite Doce com camarão seco socado e cebola.

DIBÓ

Material Necessário:Canjica Cozida Azeite Doce Camarão Seco Socado Cebola Ralada

Maneira de Fazer:

Cozinha-se a canjica, tempera-se com azeite doce, camarão seco socado e cebola ralada.

COMIDA PARA YASÁN

ACARAJÉ

Material Necessário:Feijão Fradinho Camarão Seco Socado Cebola Azeite-de-Dendê

Maneira de Fazer:

Coloca-se o feijão fradinho de molho em água, para descansá-lo cru. Depois, moesse o feijão e mistura-se com a cebola ralada, camarão seco socado e deixa-se a massa descansar, coberta por um pano ou uma pedra de carvão no meio. Depois, bate-se bem a massa para dar ponto, e fritam-se bolos tirados com a colher, no Azeite-de-Dendê bem quente.

COMIDA PARA OBÁ

Material Necessário:Feijão Fradinho Cebola Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê Farinha de Mandioca 01 Oberó

Maneira de Fazer:

Page 95: Lendas Sobre Ori

Cozinha-se o feijão em água. Depois, mistura-se num refogado de cebola raladas, camarão seco socado, Azeite-de-Dendê e água. por cima, adiciona-se farinha de mandioca, fazendo um pirão e coloca-se num oberó.

Nota: Conta-se que Obá é a dona do amor e quando se quer solucionar uma questão de amor, oferece-se uma comida desta na beira do lago, com muitas velas e flores.

COMIDA PARA ANAMBURUCU

DAMBORÔ

Material Necessário: Folha de Taioba ou Mostarda Cebola Ralada Camarão Seco Socado Azeite-de-Dendê

Maneira de Fazer:

Cozinha-se bem a folha de taioba ou mostarda,e em seguida tempera-se num refogado de cebola ralada, camarão seco socado e Azeite-de-Dendê.

COMIDA PARA SHANGÔ

AGEBÔ ou AGEGBÔ

Material Necessário:12 Quiabos1 Litro de Mel Azeite-de-Dendê Água Carne de Peito

Maneira de Fazer:

Page 96: Lendas Sobre Ori

Cortam-se os quiabos em pedacinhos bem pequenos, depois tempera-se com cebola ralada, camarão seco socado e azeite-de-Dendê. Cozinha-se bastante e depois mistura-se com rabada, ou carne de peito cozidos, cortadas em pedacinhos.

COMIDA PARA OXALÁ

EBÔ

Material Necessário: Canjica Branca 1 Litro de Mel Algodão Água

Maneira de Fazer:

Cozinha-se a canjica somente em água. Depois de bem cozida, coloca-se numa vasilha branca, coloca-se bastante mel de abelhas e cobre-se com algodão.

ACAÇÁ

Material Necessário:Canjica Branca Folha de Bananeira

Maneira de Fazer:

Moesse o milho de canjica, cozinha-se até dar até dar o ponto de ficar bem durinho e enrole os bolinhos na folha da bananeira.

INHAME ACARÁ

Cozinha-se o inhame e depois amassa-se feito um purê. Faz-se bolinhos na mão e coloca-se em pratos brancos. Oferece-se a Oxalá.

Page 97: Lendas Sobre Ori

Nota: Todos os Orixás do Candomblé comem acaçá branco. Em cima da comida do Orixá, antes de oferecer-lhe, deve-se abrir um acaçá branco.

COMIDA DE CABOCLO

Material Necessário:Alface Farinha de Mandioca Mel de Abelha Azeite de Oliva Carne Crua 01 Travessa de Barro

Maneira de Fazer:

Faz-se uma salada de alface, com uma farofa d'água ou de mel, carne crua e azeite de oliva por cima, coloca-se tudo numa travessa de barro.

OUTRA COMIDAS

Abóbora moranga, assada na brasa, com mel de abelha.Aipim ou mandioca, assado na brasa, com mel de abelha.Ebô ( canjica ) com fumo de rolo desfiado e côco.Mingau de milho vermelho com côco e fumo de rolo.Milho vermelho com côco e fumo de rolo desfiado. Amendoim cozido em água, com mel de abelhas.Vinho branco, moscatel e cachaça.

A iniciação é um rito de passagem, uma morte simbólica que transforma um homem comum em um instrumento do Orisa, em um "elegun", pessoa sujeita ao transe de possessão, a emprestar seu corpo para que Orisa viva entre nós mais uma vez, por um período de horas ou dias. O iniciando passa por ritos complexos, de isolamento e segregação, de silencio absoluto, de tonsura ritual, de sacrifícios de animais, de oferendas de alimentos, de pequenos cortes para inserção de pós mágicos em seu corpo ( cicatrizes sagradas que definem os futuros sacerdotes), simbolizando uma volta ao útero da Mãe Terra, de onde renascerá, não um homem comum, mas o instrumento de um Orisa, que por sua boca e seu corpo falará e se manifestará, aumentando assim seu conhecimento e o de todos os outros crentes.

Sua apresentação , já com sua nova personalidade e seu novo nome, ao público do Templo e da cidade, transforma-se então em uma festa de cores e de beleza inenarrável, aonde todos comparecem desejosos de compartilhar Axé (palavra que define nossa Religião : A/Awa: nós, xé: realizar, Axé – nós realizamos). Por várias vezes o neófito é apresentado ao povo, vestido e

Page 98: Lendas Sobre Ori

pintado com cores próprias do Orisa ao qual é consagrado, ao som dos tambores e de ritmos e cantigas tão antigos quanto a vida dos homens neste mundo. E a cada troca de roupas, mais o Axé se espalha pelo Templo, culminando com a vinda dos Orisa, que vêm brincar e falar com seus filhos diletos, demonstrando sua satisfação por mais uma etapa cumprida.

Cada item tem seu significado nesta hora. A pena vermelha, chamada "ekodide", que o elegun carrega em sua cabeça, simboliza realeza, honra, status adquirido pelo fato de ele ter se iniciado para ser um novo sacerdote dedicado ao culto daquele Orisa. As pinturas em cor branca, azul e vermelha, feitas a partir de substâncias vegetais e minerais, são os símbolos dos líquidos vitais de animais, plantas e do próprio ser humano, essenciais para a nova vida do iniciado.

A melhor roupa vestida por ele, por sua família, e por todos os presentes, demonstram o respeito e o apreço por Orisa. Como se fossem se apresentar frente a reis, nada menos que o melhor é permitido, uma vez que muitos reis são os representantes de nossos Orisa neste mundo, descendentes diretos que aqui ficaram para perpetuar sua força vital. Isto se estende aos alimentos e bebidas, cuja qualidade é severamente observada, aos animais oferecidos, às contas para a confecção de colares, e a todos objetos que compõem o Ebo. O bom não é suficiente, só o melhor é dado para o Orisa.

Por muitos dias o neófito irá carregar consigo um colar especial de sagração no pescoço, simbolizando seu amor, devoção e sujeição ao Orisa. Neste período também cumprirá resguardo sexual, porque esta energia não pode ser desperdiçada, toda sua força energética deve estar centrada em Orisa. Comerá comidas especiais, dormirá no chão, em uma esteira, aprenderá com os mais velhos as orações e cânticos de seu Orisa. É um tempo de amor, dedicação e aprendizado, um reaprender a viver, uma inserção do sagrado no cotidiano, uma experiência que não pode ser descrita, mas sim vivida.

E a possessão faz parte de tudo isso, um ser dominado; um compartilhar corpo e espírito com Orisa; um ser o deus e voltar a ser o homem; sem a menor possibilidade de interferência, em que a perda de vontade própria e a submissão são aprendidos sem que se ensine ou aprenda, por instinto e memória ancestral. Algo de tribal, algo de divino, algo de humano, algo de fantástico. Ser para saber.

E, ao fim de tudo, o elegun reaprende os atos do dia a dia, retoma sua vida diária, mas para ele estará em primeiro lugar e sempre o Orisa. E, conhecendo através do oráculo sagrado, o Ifá, suas interdições, as proibições que Orisa e ancestrais lhe deram durante sua iniciação, ele conhecerá seu lugar na rígida hierarquia tribal, familiar e religiosa e viverá melhor sendo um "omo awo", filho do segredo, do que sendo tão somente um ser humano.

MANUAL DO YAO - DO BOM FILHO DE SANTO. (elegun”feito de Orixá), abian (sem obrigação, cabeça virgem)

Page 99: Lendas Sobre Ori

Tudo aquilo que nosso Orixá rejeita por qualquer motivo peculiar, que por vezes desconhecemos. Existem quizilas da própria Nação e as de Cada Orixá.

Seguindo este preceito, só dependerá de você ter uma vida melhor consigo mesmo e com os de mais que lhe rodeia.

yao, filho santo, Omo Orixá

As principais são:

O Yawo ao chegar ao barracão, o procedimento correto é:

a) Amarrar um pano no peito (mulheres);

b) Ir direto para a cozinha beber um copo de água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas, não falar com ninguém para bater - papo e colocar a fofoca em dia;

c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa;

d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo;

e) Tomar a benção a TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), depois pode ir colocar seu tricô em dia.

O Yawo se dormir no Terreiro deve levantar antes do sol nascer ou junto com o

nascer do sol.

O Iaô ao levantar não deve falar com ninguém, deve antes lavar seu rosto e boca, isso é para apagar os vestígios ou traços espirituais que eventualmente

tivesse vindo rondá-lo durante a noite a fim de colher nos seus lábios o mingau das almas numa possível alimentação.

O Yaô não deve falar mal e nem dar ouvidos aos que ensaie uma conversa contra a casa de santo ou seus sacerdotes e sim enaltecer para agradar as forças

de sua fonte.

O Yawô não deve ocultar coisas que venha trazer prejuízo para a casa de Santo, deve expor o fato em tom normal sem demonstração de disse-me-disse.

O Yawo não de ouvir maldade e sim enaltecer sua casa.

O Yawo não deve fumar na frente de Seu Zelador, e dos mas velhos que visite sua casa.

O Yawo nunca fica de pé em frente ao Pai de Santo e sim agachado, com a cabeça baixa.

O Yawo nunca interrompe o Zelador quando estiver conversando com alguém.

Page 100: Lendas Sobre Ori

Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Ai então disser AGÔ (Licença) e esperar ele dizer AGÔ YA. E de cabeça baixa, falar com ele em tom de voz baixa.

O Yawo não deve se portar de maneira desairosa no terreiro, por que do seu comportamento decorre a divulgação e o bom nome da casa.

O Yawo não deve falar mal da casa de santo (nem sua nem dos outros) e nem de seus componentes, isso provocaria a irá do ORIXA e trás a certeza de um pagamento futuro, a EXU a EGUN e as forças da natureza.

O Yawo não deve passar pelo seu pai de santo com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente.

O yawo só pode sentar em Apoti (Banquinho) mediante a autorização do seu Zelador. (Somente raspados podem sentar em apoti)

O Yawo não deve deixar dormir roupa em corda (pois Eguns a noite faz dela sua morada)

O Yawo não deve sentar em soleira de porta.

O Yawo não deve passar embaixo de corda que tenha roupa intima, roupa de baixo, mesmo que estas sejam suas.

Yawo não passa embaixo de escada.

O Yawo não deve pegar sou de Meio-dia, mesmo com cabeça coberta.

O Yawo não deve varrer a casa dos fundos para frente e sim da frente para os fundos.

O Yawo não deve verter (Urinar) ou defecar, em rios, lagos, dentro de de água, poço ou cachoeira (locais Sagrados).

O Yawo não deve defecar em mato, em cima de plantas votivas.

O yawo não deve cuspir em água de espécie alguma.

O Yawo deve esta com seu contra-egun toda vez que for ao barracão.

O Yawo deve sempre esta com O Ojá ( pano de cabeça) em sua cabeça.

O Yawo não deve entrar em cemitério, só em casos muito especiais, assim mesmo com a cabeça coberta. E somente com a permissão de seu Zelador.

O Yawo não deve entrar em Igreja, hospital, matadouro, etc, só em casos especiais, assim mesmo com a cabeça coberta. Somente com a permissão de seu Zelador.

O Yawo não deve ir a praia (Banho de Mar ± areia, calçada, beira de praia, beira de mar, casa de praia), sem ter suas obrigações em dia. E somente com a permissão de seu Zelador.

O Yawo não carrega embrulho na cabeça.

Page 101: Lendas Sobre Ori

O Yawo não deve ser descortês, nem mesmo entre os irmãos do terreiro e com visitantes, e sim bastante paciente e educado.

O yawo não deve impor seus desejos, nem mesmo entre os irmão de barco, seus desejos ou vontades serão discutidos.

O yawo não deve faltar com educação e cortesia para com todos aqueles que nos batem a porta, seja ele conhecido ou não.

O Yawo não deve tornar publico as coisas que delas participarem em caráter de segredo na casa de santo.

O Yawo não deve menosprezar os outros e nem se colocar em falso pedestal de auto suficiente, e sim ser humilde.

O YAWO nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o seu pai de santo.

Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali.

Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança? Mesmo que o dono da casa chame , cabe a voce recusar

Yawo e abian não bebem nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de

plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekede,

ogan e zelador…

Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, Pegue seu pratinho e sua canequinha, Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não

possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos.

Como dissemos no item anterior, não temos uma empregada para limpar tudo.

Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.

Page 102: Lendas Sobre Ori

Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do

conhecimento de todos, o pai de santo não tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na

cabeça do pai de santo.

Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e

confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos.

Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos

que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você...

As emprestadas? Pois é, o pai de santo também não gosta. Portanto, que tal comprar um belíssimo tecido de lençol e fazer uma baiana de ração básica pro

dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestado. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e

felizes com suas devidas roupas.

Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muitos bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não matam ninguém. Que tal tentar?

E vai rolar a festa! O povo do kétu, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou avisar e convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do

povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o

material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem?

Page 103: Lendas Sobre Ori

Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Electro, a CEG e a Sabesp irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto,

contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.

O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela Mexicana.

Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.

Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos e não tão pouco paquerando.. Se você quer

fuxicar, vá para um botequim.

Anágua encardida, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágua de ráfia

ou entretela.

Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão.

Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.

Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar

uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.

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Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.

Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da

verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser pro próximo. Não é errado, é diferente de sua casa. Além do mais,

comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?

Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.

Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.

Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e topsdevem ser usados somente pra ir ao baile funk.

Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Sempre que for servir algum mais

velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir.

Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não a ela própria. Portanto,

todos devem trocar a benção, mais velhos com mais novos e vice-versa.

Quando você estiver em uma roda de pessoas dentro da sua casa de santo ou de outro barracão qualquer, abaixe o seu ori e peça a benção até o periquito que

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estiver chegando, você não sabe quem é ele e ele pode ser bem mais velho que você, um tio de santo ou qualquer outro egbomi, é preferível você pedir a benção a alguém mais novo do que errar passando por cima dos mais velhos.

Lembre -se que para nosso Zelador (a) seremos sempre YAO.(Como para nossa Mãe carnal, seremos sempre crianças).

Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não, no Candomblé, o Babalorixá ou Iyalorixá consulta o jogo de búzios no merindilogun, onde terá as respostas. Essa é uma das formas de saber. A outra é quando uma pessoa vai assistir uma festa de candomblé e entra em transe profundo. Esse transe é chamado de "Bolar no Santo" é a declaração em público do Orixá que quer a iniciação de seu filho, nesse caso o babalorixá vai consultar o jogo de búzios para saber qual é o Orixá e suas condições, se pode esperar ou se caso de urgência. Normalmente são feitos acordos com os Orixás para que aguardem até o filho ter condições financeiras e de férias para poder se recolher.

A primeira fase da iniciação ou feitura de santo na nação Ketu é de 21 dias, onde a pessoa fica em retiro longe da vida profana e da família, devendo desligar-se de tudo e dedicar-se totalmente aos ritos de passagem. Saliente-se que todo o ritual da iniciação não é público. Saliente-se também que essa iniciação só pode ser feita por uma pessoa iniciada, segundo as normas do candomblé só pode transmitir o Axé quem os recebeu de alguém iniciado na obrigação de Odu ijè.

Quanto ao fato da pessoa ser recolhida para ser Iaô, Ogan ou Ekedi, essa questão só é resolvida durante a iniciação. Se a pessoa entrar em transe será um Iaô elegun, se não entrar em transe e for homem, será um Ogan, se for mulher será uma Ekedi.

Índice

1 Barco de Iaô

2 Iniciação

3 Saída de Iaô

4 Momento mais esperado da iniciação

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5 Banquete

6 Seguimento da iniciação chamado Urupim.

7 Ritual do Panã.

8 Caída de kelê

9 Obrigações

10 Iniciação de Ogans e Ekedis

11 Referências

Barco de Iaô

A iniciação pode ser de apenas um Iaô ou pode ser de muitos. Nesse caso recebe o nome de "Barco de Iaô". Quando entra para fazer o santo sozinho será chamado de Dofono (homem) ou Dofona (mulher), por ser o primeiro e único.

No caso do barco, o primeiro Iaô será chamado de Dofono, o segundo dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho, o quinto de Gamo, o sexto de Gamutinho, o sétimo de Vimo, o oitavo de Vimutinho, o nono de Gremo, o decimo de Gremutinho, o décimo primeiro de Caçula e daí por diante. Essa sequência de nomes é usada na maioria das casas de candomblé de cultura Jeje-nagô.

Já houve barcos com quinze Iaôs, mas isso é muito raro, pois implica muito trabalho e dedicação de muitas pessoas para cuidar dos Iaôs. A maioria das casas recolhe no máximo três ou quatro. Existem Orixás que não podem ser iniciados junto com outros; nesse caso será recolhido sozinho.

No ano de 2011,em Salvador houve um barco com dezoito Iaôs.

Iniciação

Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza, que serão apurados no jogo de búzios e tomando banhos com folhas sagradas e abô. Ficará recolhida no roncó (quarto específico de recolhimento) próximo ao peji e será feita a primeira obrigação, que é o bori. No final dos três dias é suspenso o bori e passa para as fases seguintes.

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Em seguida começa a contar o período de 16 dias. Aí tem início o longo aprendizado das rezas, costumes, práticas, lendas, histórias e a iniciação propriamente dita, que consiste em raspar a cabeça, fazer curas (pequenos cortes), assentamento do orixá, serão oferecidos animais, comida ritual, flores e frutas.

Saída de Iaô

Segunda saída de Iaô, pintura colorida candomblé.

No final tem a festa que é chamada de "saída de iaô", essa festa é dividida em 4 partes: A primeira saída no barracão é interna sem a presença do público, somente os membros da casa estarão presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para nação, uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.

Inicia-se o candomblé normalmente despachando o Padê (pode ser despachado durante o dia também, depende da casa) e canta-se algumas cantigas para cada um dos Orixás, enquanto isso os Iaôs estão sendo preparados para a primeira saída no barracão de festas.

Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó (nome dado ao quarto onde ficam recolhidos) para o barracão todo vestido de branco, essa saída é em homenagem a Oxalá, trás na testa uma pena vermelha chamada Ekodidé e na parte superior da cabeça o adoxu e pintado com efun, ele vem acompanhado de sua mãe pequena, da Iyalorixá e todos que ajudaram na feitura. Nessa saída o Iaô deverá saudar a porta, os atabaques o Axé do centro do barracão onde estar o fundamento da casa e a Iyalorixá. Em seguida é recolhido para mudar de roupa.

A segunda saída pública do Iaô no barracão as roupas são coloridas em homenagem à todos os orixás e a pintura é feita com o pó azul wáji, branco efun, e vermelho osùn. O Iaô sendo de oxalá ou determinados orixás funfuns a roupa não pode ser colorida, predominando o branco, todavia a pintura colorida seja relevante em quantidade discreta.

Momento mais esperado da iniciação

Orunkó. Hora do nome do Iaô candomblé.

A terceira saída do Iaô é a mais esperada por todos da comunidade, nota-se um momento de tensão muito grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta

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sagrada iniciação, que pode ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem feito ou não, com o grito triunfal do seu nome. Novamente o Iaô é trazido ao ile axé, desta vez sem a pintura geral, só com uma pintura de wáji no centro da cabeça (cuia de wáji) ou borilé (ritual feito com ejé do pombo branco) e ornado com penas do mesmo. O Orixá dirá seu Orunkó para todos ouvirem, nesse caso é escolhida uma pessoa (normalmente um Babalorixá ou Iyalorixá de outra casa) presente para tomar o nome do Orixá, são feitas algumas cerimônias onde a pessoa pergunta por três vezes o nome do Orixá e na terceira ele grita em voz alta seu Orunkó para todos ouvirem. Depois do nome dado o Iaô é recolhido novamente para trocar a roupa.

A quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e ferramentas características do Orixá, para dançar e ser homenageado por todos os presentes. No final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.

Banquete

Banquete no ritual de candomblé.

Quando é encerrado o candomblé todas as filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Esse banquete é composto de cabritos assados ou cozidos, galinhas, patos, pombos, canjica, milho cozido, inhame, pipoca, acaçá e acarajé. Toda comida ritual servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não permitem bebidas alcoólicas e nesse caso é servido o Aluá. Nas casas que permitem, é servido refrigerante e cerveja.

Algumas casas atualmente não servem comida de santo para os presentes. Dependendo das posses do iniciado, poderá se contratar um Buffet para o banquete, onde serão servidos aos convidados todos os requintes contratados.

Seguimento da iniciação chamado Urupim.

No mesmo dia ou não, dependendo do costume da casa, as luzes elétricas são desligadas, e inúmeras velas são acesas, ouve-se um cântico tristonho como nos rituais fúnebres axexê, o Iaô cercado dos mais velhos, Iyaefun, Iyadagan, iyamorô, Iyabassê Iyakekerê e puxada pelo Babalorixá ou Iyalorixá é trazido do peji ao ile axé com um alguidá ou balaio coberto com pano branco e ornado com flores brancas e mariwô, contendo inúmeros objetos, comida ritual e o cabelo raspado no inicio da obrigação. Este ritual é denominado pelo povo do santo de carrego de urupim e pode ser assistido por alguns membros da comunidade, mas não chega a ser uma festa pública, fechando um ciclo do rito de passagem de abiã "não nascido" para iaô "noviço ou recém nascido".

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Passada a festa o Iaô ficará mais uns dias na roça dependendo do jogo de búzios e a confirmação no merindilogun, depois será levado para sua casa pela Iyalorixá que a entregará a sua família.

Ritual do Panã.

O iaô ainda desorientado devido ao longo período de transe e clausura, com os movimentos ainda trôpegos, recebe orientação do seu Babalorixa ou Yalorixa para executar as tarefas que serão usadas em seu dia a dia, tais como varrer, costurar, lavar, passar, sentar-se à mesa, cozinhar, etc. Numa dramatização muito divertida onde todos da comunidade tem um grande prazer de participar, rindo e até mesmo ajudando o novo iniciado. O ritual de apanã tem a finalidade de fazer com que o noviço reaprenda as atividades do mundo profano e cotidiano, para que nada lhe seja prejudicial no futuro e também entenda que já é hora de voltar à sua vida normal, apesar de aproveitar mais um pequeno período do seu mundo sobrenatural, estabelecendo neste momento o ewo temporário ou permanente, que o noviço terá a responsabilidade de obedecer, finalizando este ritual com outro rito chamado Kàrô (juramento feito diante do obi e uma quartinha).

Caída de kelê

Kelê de Obaluaye colocado em uma escultura do próprio orixá para tirar a foto - candomblé.

Porém a Iaô ainda não terminou as obrigações terá ainda que cumprir um resguardo normalmente de três meses e continuar usando o kelê (uma gargantilha de contas) que foi colocada em seu pescoço no início da feitura de santo. Durante esses três meses o Iaô continuará dormindo numa esteira, usará roupas brancas e seguir uma série de restrições denominada de ewo. Terminado o período de quelê, é feita a retirada do mesmo e outra festa é feita para comemorar a comumente chamada "caída de quelê".

É o período mais difícil para o Iaô que precisa voltar a trabalhar, muitos se iniciam no período de férias do trabalho e quando termina as férias precisam voltar para um ambiente onde sem dúvida será notado por todos, discriminado por alguns e terá que se manter calado, terá muitos problemas na hora das refeições, pois está proibido de entrar em bares e restaurantes, terá que levar uma marmita e aceitar os olhares de curiosidade.

Algumas casas atualmente por esse motivo têm feito alguns acordos com os Orixás para que o Iaô que precisa trabalhar já saia da roça sem o kelê, mas terá que cumprir todos os itens do resguardo nos mínimos detalhes. Nesse caso não precisará usar somente branco, poderá usar roupas de cores bem claras como azul, rosa, bege, cinza, tudo para não chamar

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muito a atenção. Existem casos de firmas que o uniforme é preto, marrom, azul marinho, nesses casos o Orixá permite, não vai querer que seu filho perca o emprego.

Obrigações

Iyawo São os novos iniciados de Orixá da Casa de Candomblé, durante o período de sete anos, e serão subordinados pelas pessoas de Cargos/Posto da casa. E deve obediência aos seus mais velhos. E deverão concluir suas obrigações de 1, 3 e 7 anos. Ser Iyawo, além de outros preceitos, é permanecer recolhido por um período de 21 dias, passando por doutrinas e fundamentos, para conceber a força do Orixá. Saem da vida material e nascem na vida espiritual com um novo nome orùnkò. O Mòócan e os Delègún são os comprovantes e o diploma do iniciado.

Obrigação de um ano

(Odueta) ou (odú Kíní) É às obrigações muito importantes é considerada como fim do resguardo do Iyawo após sua iniciação. Somente esta obrigação dará ao iniciado à liberdade de viver materialmente sem restrições na sociedade e no seu convívio familiar e pessoal.

Até fazer um ano de feitura ou pagar sua obrigação de um ano (odú Kíní), ainda terá algumas restrições (ewo temporário. como cortar cabelo, tomar banho de mar e outros. Será feita na obrigação de um ano de feitura, uma nova festa para comemorar a data onde serão oferecidos comida ritual, frutas e flores.

Obrigação de três anos

(Oduetá) Esta obrigação é considerada a confirmação da continuidade do iniciado no Axé, e já está autorizado a conceber o seu ajuntó, e a começar ser liberado e graduado pelo seu babalorixá, a usar fios com Seguis e Bràjà dependendo do Orixá, e poderá deixar de usar Mòócan e Delègún. (conforme orientação do babalorixá)

Outra obrigação é feita aos três anos de feitura (odú kétà), algumas casas ou nações fazem também uma de cinco anos, mas no candomblé ketu considera-se um ano, três e sete

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anos. Ele ou ela permanecerá como Iaô até completar os sete anos de feitura e fazer a obrigação de sete anos (odu ejé).

Obrigação de sete anos

(Oduijé) ou Odu ejé (a pronúncia do acento é fechada) É uma das maiores obrigações de uma casa de Candomblé, que todos os iniciados serão obrigados a tomar sem exceção. Com essa obrigação o iniciado poderá receber posto, cargo, titulo e direitos de independência do seu babalorixá.

Só quando fizer a obrigação de sete anos Odu ejé é que será considerado um Egbomi.

A obrigação de sete anos é tão grande e importante quanto a feitura, nessa obrigação é que será definido se o Egbomi irá abrir uma casa ou não. A Iyalorixá entregará para o Egbomi no ato da festa seus pertences (jogo de búzios, pembas, favas, sementes, tesoura, navalha, tudo que vai precisar para iniciar Iaôs) no Ketu é chamdo Odu Ijê com Oyê, em outras nações é chamado de Deká, Peneira, Cuia, etc.

Caso o Orixá da pessoa não queira abrir uma casa e queira continuar na roça da Iyalorixá, o Orixá depositará os objetos recebidos nos pés da Iyalorixá e sua filha não abrirá uma casa, continuará na roça onde normalmente receberá um posto para ajudar a Iyalorixá.

Quando o Orixá aceita a Egbomi receberá todas as homenagens dos presentes pois está sendo consagrada como uma nova Iyalorixá se for homem Babalorixá. Nesse caso terá que providenciar uma casa para onde será levado seu Orixá e iniciar um novo Ile axé.

- OIYE - quer dizer titulo independência, são pessoas que já tomaram seus sete anos e necessitam de um TITULO dado pelo seu babalorixá, para ser independente e Zelador (a) de Orixás, sacerdócio. Esse Oiye pode ser também um cargo na casa do babalorixá onde fez a obrigação.

- DEKA - é autorização (direitos) de conduzir a sua própria casa de Candomblé, atendimento de seus adeptos e consulentes, jogar búzios, tirar ebós e iniciar pessoas no Orixá, ou Vodum dependendo da nação etc.. Na nação Jeje receberá um Húnjèbé é o Titulo de

Page 112: Lendas Sobre Ori

sacerdócio exclusivo da nação Jeje e um amuleto do Egbònme, é o diploma dado pelo Voduno para dar continuidade do aprendizado dos fundamentos dos Voduns.

Iniciação de Ogans e Ekedis

Para os cargos ou postos de Ogan e Ekedi normalmente são pessoas escolhidas pela Iyalorixá ou por algum Orixá da casa, serão pessoas de sua inteira confiança, pois ficarão com a responsabilidade de zelar da casa e da festa enquanto a iyalorixá estiver em transe.

Uma vez que não entram em transe, Ogans e Ekedis passam por todos os preceitos que passam os Iaôs inicialmente e até um determinado momento, mas durante o desenrolar da obrigação constatado que não entrará em transe, é confirmado através do jogo de búzios no merindilogun o Orixá que trará o Orunkó do Ogan ou da Ekedi na festa.

Se foi escolhido pelo Orixá da Iyalorixá ou Babalorixá ou pelo Orixá de uma das Egbomis da casa, o Orixá que o escolheu é que sairá no barracão acompanhando o iniciado. Nesse caso a festa não terá tantas saídas como as saídas de Iaô. Mas no final terá o mesmo banquete de confraternização entre todos presentes.

Quanto ao resguardo e ewo também não será igual ao do Iaô, será de acordo com o jogo de búzios, mas geralmente é de 21 dias de Quelê e normalmente cumpridos na roça, no caso de impossibilidade por motivo de trabalho, sai de manhã para trabalhar e vem dormir na roça até terminar o período de Quelê. Normalmente o Ogan e a Ekedi não cumprem o mesmo resguardo do Iaô, por não ter realizado todos os preceitos necessários ao último. Quando iniciados, equivalem ao Ebômi em idade de santo, tendo portanto os 7 anos de idade perante os Iaôs.

Rezas do Yao e Orixás

Rezas do Yao e Orixás

Yaô

Page 113: Lendas Sobre Ori

Gbàdúrá iaô

Reza de Yaô

Emi omo Òrìsà, ki mon e temi

Eu sou filho de Orixá, que eu seja Reconhecido por vós

Emi omo Òrìsà, ki mon e temi

Eu sou filho de Orixá, que eu seja Reconhecido por vós

Iaô ki ó E GbE, ki mon e temi

Convosco morar Yaô que vim, que eu Seja Reconhecido por vós

Iaô ki ó E GbE, ki mon e temi

Convosco morar Yaô que vim, que eu seja Reconhecido por vós

Page 114: Lendas Sobre Ori

Iaô ki gbe e ó, ki gbe e ó, ki gbe e ó

Convosco morar Yaô que vim, convosco que vim morar convosco, Morar

Ki gbe e ó, ki gbe e ó, Orisa wa t'ilé

Que vim morar convosco, que vim morar convosco, Orixá da Nossa Casa

Ngbà Ilé 'gbe awa, Orisa wa t'ilé

A casa aceita nós morarmos, Orixá da Nossa Casa

Ngbà Ilé 'gbe awa

Nós aceitamos morar

Ilé Omo ní ire ó 'um Ngbe

Page 115: Lendas Sobre Ori

O filho está feliz em morar em nossa casa

Ó Ngbe um Ilé, ire ó

Ele mora em nossa casa, ele está feliz

Ilé Omo ní ire ó 'um Ngbe

O filho está feliz em morar em nossa casa

Ó Ngbe um Ilé, ire ó

Ele mora em nossa casa, ele está feliz

Séré ebile wa ó um 'Ndé

Tornou feliz a nossa família à sua chegada

Omo l'ayo ire ó 'wa Ndé

O filho contente e feliz em chegar até nós

Page 116: Lendas Sobre Ori

L'ire ó ayo

Ele está feliz e contente

Omo ní ará Ilé wa ó

O filho é membro da nossa casa (parente)

Oun de ara Ilé wa ó

Ele chegou e é membro da Nossa Casa

Omo ní ará Ilé wa ó

O filho é parente da nossa família (casa)

Oun de ara Ilé wa ó

Page 117: Lendas Sobre Ori

Ele chegou e é parente da Nossa Casa

Orixás

Gbàdúrà Òrìsà

Reza dos Orixás

É Òrìsà Wa Ni Ejo

E Suprir venha Orixá-nos

Ó dide mi so e NBO Ki O '

Eu peço me erga, Saudando-vos e cultuando-vos

Sori um lé, atrás bò Jae-lae

Sobre a nossa casa, com licença, Cubra-nos e sempre

Page 118: Lendas Sobre Ori

É um Òrìsà ní Ejo

E Orixá que nós sejamos supridos

Ó dide mi so yin bo Onòn

Erga-me eu peço, cultuando-vos no caminho

Ó sé uma tradição, uma tradição ó uma sé

Faça-nos felizes, faça-nos felizes

Babá um pecado e Ilé

Pai da Nossa Casa, Serviremos vos

É um Òrìsà ki Oní ó l'oro

Orixá para quem fazemos hoje culto tradicional

E wá sé um lore babá um pecado e Ilé

Page 119: Lendas Sobre Ori

Venha nos fazer felizes, Pai da nossa casa, nós vos Serviremos

Comidas

O'nje Gbàdúrà

Reza das comidas

'MBA ló ojúmón um jeun

Juntos vamos comer a comida da Manhã

'MBA ló ojúmón um jeun

Page 120: Lendas Sobre Ori

Juntos vamos comer a comida da Manhã

A ojúmón jeun mba ló

Vamos comer uma comida da manhã juntos

'MBA ló um jeun o'nje Oson

Juntos vamos comer uma comida da tarde

'MBA ló um jeun o'nje Oson

Juntos vamos comer uma comida da tarde

A o'nje jeun ló mba Oson '

Page 121: Lendas Sobre Ori

Vamos comer a comida da tarde juntos

'MBA ló um jeun o'nje alé

Juntos vamos comer uma comida da noite

'MBA ló um jeun o'nje alé

Juntos vamos comer uma comida da noite

Ló mba A alé jeun o'nje '

Vamos comer a comida da noite juntos

Page 122: Lendas Sobre Ori

Babalaxé

Gbàdúrà ti Bàbáláàse

Reza do Babalaxé

Bàbáláàse ní yè wa

O Babalaxé deu-nos a vida

Soju Mòn omon Bàbáláàse um pecado e

Lance os olhos do conhecimento sobre os filhos, e nós Babalaxé Serviremos vos

Fí adósùu mi ní yè wa

Ele tornou-os adôxu E com o oxu deu-nos a vida

Soju Mòn omon Bàbáláàse um pecado e

Page 123: Lendas Sobre Ori

Lance os olhos do conhecimento sobre os filhos, e nós o Babalaxé Serviremos

Fí ìkóòdíde mi ní yè wa

Pôs em nós ikodidé o e deu-nos a vida

Soju Mòn omon Bàbáláàse um pecado e

Lance os olhos do conhecimento sobre os filhos, e nós o Babalaxé Serviremos

Este gbàdúrà Pode ser mudado para Ìyáláàse substituindo onde estiver Bàbáláàse

Ogum

Page 124: Lendas Sobre Ori

Gbàdúrà Ògún

Reza de Ogum

Oní ija Oní ija

Senhor da luta, senhor da guerra

Oní ija Oní ija

Senhor da luta, senhor da guerra

Atrás e atrás e meje

Com licença, com licença aos sete

Meje ó rin jé e jojo

Andam os sete e é extremo

Page 125: Lendas Sobre Ori

A l'eru. Oní ija

O medo que nós sentimos. O senhor da luta

Oní ire, Oní ó ija

Senhor de Irê, senhor da luta

Ó gogoro ará oun

O corpo dele é esguio

Wá gbélé gbe aláàkòro

Venha morar e Proteger a Nossa Casa Senhor do Acoro

Um pecado yin, um pecado imonlè yin

Vos Serviremos Nós, nós vos Serviremos imanlé

Page 126: Lendas Sobre Ori

E pa Lóònòn sí, lóònòn sí e pa

Para vós que matamos no caminho, para vós que matamos no caminho

Oní ki àwúre, oni ki Awa pa

O senhor que nos abençoa, Senhor para quem matamos

Ògún OníÌré, Lóònòn sí e pa

Ogum Senhor de Irê, para quem sacrificamos no caminho

Olóònòn ki àwúre

Senhor dos caminhos que nos abençoa

Ògún Òrìsà ki ija àwúre

Page 127: Lendas Sobre Ori

Orixá Ogum luta que e nos abençoa

E ki ló iré gbe ó

Sois aquele que mora em Irê

E E E Daju Awa

Vigie-nos e guarde-nos

Daju e olóònòn ó

Vigie-nos, dono dos Caminhos

Daju e olóònòn Awa

Vigie-nos, dono dos nossos caminhos

E Daju olóònòn ó

Page 128: Lendas Sobre Ori

Vigie-nos, dono dos Caminhos

E Daju olóònòn Awa

Vigie-nos, dono dos nossos caminhos

Oxossi

Gbàdúrà Òsóòsì

Reza de Oxóssi

Ode to wa sile, nire sile

O caçador é suficiente para a nossa casa, nossa casa para ser feliz

Sí sí omon omon ira Ilé

Para os filhos da casa Serem felizes

Page 129: Lendas Sobre Ori

Ode to wa um sile nire

O caçador é suficiente para ser feliz Nossa Casa

Ossain

Gbàdúrà Òsónyìn

Reza de Ossain

E jìn e jìn Ewé jìn e ó

Vós destes, vós destes as folhas, vós destes

E jìn e jìn Ewé jìn e ó

Vós destes, vós destes as folhas, vós destes

Page 130: Lendas Sobre Ori

E Meré jìn-mere Òsónyìn wa Oogun

Vós destes a nós a magia habilmente Ossain

E Meré jìn-mere Òsónyìn wa lé ó

Vós destes a nós a magia habilmente Ossain

Máá Lo Ba inon níigbó ti ibo um bo

Nunca iremos com o fogo às matas onde vos cultuamos

Máá Lo Ba inon níigbó ti ibo um bo

Nunca iremos com o fogo às matas onde vos cultuamos

Wa dé omi máá dé inon

Nós chegaremos com água, jamais com fogo

Máá Lo Ba inon níigbó ti ibo um bo

Page 131: Lendas Sobre Ori

Jamais iremos com o fogo às matas onde vos cultuamos

Obaluayê

Gbàdúrà Obàluwàiyé

Reza de Obaluayê

Bí um sápadá, bi um sápadá

Se nós corrermos de volta, se corrermos de volta

Dàgòlóònòn é, ó ó Oní yè

Dê-nos licença nos caminhos, Senhos da vida

Eda nji E '

Page 132: Lendas Sobre Ori

Acordais Vos que as Criaturas

Mo dara àgòlóònòn é

Sê-de bom para mim e dê-me licença nos caminhos

Oxumarê

Gbàdúrà Osumare

Reza de Oxumarê

Daju E Ojo odo

Certamente vossa chuva é o rio

Daju E Ojo odo s'àwa

Page 133: Lendas Sobre Ori

Certamente vossa chuva é o rio para nós

Osumare e se wa de ojo

Oxumarê é quem trás a nós a chuva

Gbe awa ló sìngbà opé wa

Nós recebemos um e retribuímos com nossos agradecimentos

E Ojo kun wa

É o bastante a chuva para nós

Daju E Ojo odo

Certamente vossa chuva é o rio

Page 134: Lendas Sobre Ori

Iansã

Gbàdúrà Oya

Reza de Iansã

Tawa l'ewa aláadé

Nossa Bela Senhora dona da Coroa

WA de Oya e Laari ó

Iansã chegou até nós, ela Possui muito valor

O ki wa Dé e Laari o

Nós a saudamos quando chega até nós, ela Possui alto valor

Sun Le oun dé Orun

Page 135: Lendas Sobre Ori

Ela põe fogo na terra quando chega do céu

Eèpàà hey yéyé Geere

Saudamos a mãe que queima reluzente

Sun Le oun dé Orun

Ela põe fogo na terra quando chega do céu

Pè Enyin um BO e Oya

Chamamo vos-para cultuar-vos Iansã

Pè Enyin um bo Oya

Chamamo-vos para cultuar-vos Iansã

Oya K'àrá ganhou lo

Page 136: Lendas Sobre Ori

Iansã que leva os raios embora

Pè Enyin um bo Oya e Ìyálóòde

Chamamo-vos para cultuar-vos Iansã, a pimeira-dama da sociedade

Ewa

Gbàdúrà Yewá

Reza de Ewa

NboYewà Pelé ', uma Yewá o nire

Cultuamos delicadamente Ewa, estamos felizes Ewa

Page 137: Lendas Sobre Ori

Òrìsà yin Yewá um 'NBO

Orixá, estamos cultuando-vos Ewa

Yewá um ó nire

Ewa, estamos felizes

Oxum

Gbàdúrà Òsun

Reza de Oxum

Iyá ó ó yéyé Òsun um 'NBO RI O

Mãe, ó mamãe Oxum, nós a admiramos e cultuamos

Page 138: Lendas Sobre Ori

Kí yéyé assim, yéyé ki so mi

Cumprimentamo-vos, mamãe, fale, cumprimentamo-vos fale comigo mamãe

L'Orun Mojú l'Onòn

Do céu olhe-me nos caminhos

Ó AYABÁ ki odo gbe l'omi Toju

Ó Rainha que mora no Rio, que toma conta

Olùtojú

Guardiã das águas

Yemanjá

Page 139: Lendas Sobre Ori

Gbàdúrà Yemonja

Reza de Yemanjá

Yemonja inú gbe l'Odon de sìngbà

Yemanjá no rio vive, chega e retribui

Gba ní a tecnologia wi gbe (GBA ní odo yin)

Receba-nos e proteja-nos em vosso rio

Yemonja inú gbe l'Odon de sìngbà

Yemanjá no rio vive, chega e retribui

Gba ni (Agbe wi) yin odo

Receba-nos e proteja-nos em vosso rio

Tó bo sinu odo yin Òrìsà Ògìnyón

Page 140: Lendas Sobre Ori

Cultuamo-vos em vosso rio suficientemente Orixá dos inhames novos

Gba ní odo yin

Receba-nos em vosso rio

Tó bo sinu odo yin Òrìsà Ògìnyón

Cultuamo-vos em vosso rio suficientemente Orixá dos inhames novos

Gba ní odo yin

Receba-nos em vosso rio

Nanã

Page 141: Lendas Sobre Ori

Gbàdúrà Naná

Reza de Nanã

A nana ira, uma ira Naná um awo

Faça-nos felizes, Nana, felizes que nós cultuamos um Nanã

Naná um awo pelé um ní-Pelé 'MBA ló sí

Nanã, nós cultuamos um cuidadosamente e vamos embora juntos

Awa Ni l'omo awo

Nós somos filhos do culto

Pelé-MBA pelé ani 'si lo

Cuidadosamente estamos indo embora juntos

Awa Ni l'omo awo

Page 142: Lendas Sobre Ori

Nós somos filhos do culto

Oxalá

Gbàdúrà ti Òòsààlà

Reza de Oxalá

Baba e pawo (atéwó)

Pai, Batemos palmas para vós

Fun mi kore pò

Dê-me colheita abundante

Baba e pawo (atéwó)

Page 143: Lendas Sobre Ori

Pai, Batemos palmas para vós

Fun mi kore pò

Dê-me colheita abundante

Saré mi ki maa e pecado

Faça-me Feliz, o filho que vos sauda, cultua

E pawo (atéwó), e divertimento mi

E aplaude, dê-me

Ase kore, pe àse e o o

O axé de colher, peço-vos este axé, ô ô

Saré sin mi k'omon e pawo

Faça-me feliz que sou o filho que vos sauda e aplaude

Page 144: Lendas Sobre Ori

Saré sin mi k'omon e atewó

Faça-me feliz que sou o filho que vos sauda e aplaude

TODO YAO, ABIAN DEVERIA SEGUIR ESSE MANUAL

TODO YAO, ABIAN DEVERIA SEGUIR ESSE MANUAL

1- Não retrucar o pai-de-santo. Você por acaso retruca seus avós?

2- Não retrucar seus irmãos mais velhos e egbomis; Você por acaso retruca alguma tia ou tio mais velho?

3- Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da atenção do pai de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que a torcida do Flamengo esteja assistindo. Dar um escândalo no meio do barracão não é postura de um filho de santo, e você ainda corre o risco de tomar um fora na frente de todo mundo.

4- Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra ao pai de santo. Detalhe: Só atrapalhar a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar junto à ele, mas não muito, e ficar abaixado esperando que ele pergunte o que deseja. Quando ele perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”. “Agô, mas blá blá blá...”.

5- Nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o seu pai de santo. Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança?

Page 145: Lendas Sobre Ori

6- Yawo e abian não bebe nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekede, ogan e zelador.

7- Yawo e abian não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ághata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ághata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão. Ah! Garfo? Nem pensar! Colher. Somente ela. Garfo, só com 7 anos de santo feito, ou então sendo ekede, ogã, zelador...

8- Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave. Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos.

9- Como dissemos no ítem anterior, não temos uma empregada para limpar tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.

10- Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o pai de santo não é rico e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo.

11- Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Amarrar um pano no peito (mulheres) ou na cintura (homens); b) Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas para bater-papo e colocar a fofoca em dia; c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e) Tomar a bença à TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia.

12- Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou

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zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua! Aproveite!

13- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você...

14- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, o pai de santo também não gosta. Portanto, que tal ir no Varejão das Fábricas e comprar um belíssimo tecido de lençol a R$ 4,50 e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas.

15- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muito bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não mata ninguém. Que tal tentar?

16- E vai rolar a festa! O povo do keto, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem?

17- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.

18- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela passada.

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19- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.

20- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá para um botequim.

21- Anágoas encardidas, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágoas de ráfia ou entre-tela.

22- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.

23- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.

24- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.

25- Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser pro próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?

26- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.

27- Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.

Page 148: Lendas Sobre Ori

28- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk.

29- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Nunca olhar no rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não”.

Última parte, prometo! rsrsrs

30- Bença foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a bença, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela própria. Portanto, todos devem trocar a bença, mais velhos com mais novos e vice-versa.

APOT͹: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico a R$ 6,50. Coopere com a casa e leve o seu.

Espero que tenha gostado...seria legal se todos colocassem ideias para um manual kd vez melhor...principalmente nossos irmãos Egbomis podem dar grande contribuição. bjos e muito Asé.

protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.

10- Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o pai de santo não é rico e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo.

11- Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Amarrar um pano no peito (mulheres) ou na cintura (homens); b) Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas para bater-papo e colocar a fofoca em dia; c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e) Tomar a bença à TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito

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embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia.

12- Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua! Aproveite!

13- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você...

14- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, o pai de santo também não gosta. Portanto, que tal ir no Varejão das Fábricas e comprar um belíssimo tecido de lençol a R$ 4,50 e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas.

15- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muito bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não mata ninguém. Que tal tentar?

16- E vai rolar a festa! O povo do keto, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem?

17- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.

Page 150: Lendas Sobre Ori

18- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela passada.

19- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.

20- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá para um botequim.

21- Anágoas encardidas, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágoas de ráfia ou entre-tela.

22- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.

23- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.

24- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.

25- Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser pro próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?

26- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.

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27- Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.

28- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk.

29- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Nunca olhar no rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não”.

Última parte, prometo! rsrsrs

30- Bença foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a bença, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela própria. Portanto, todos devem trocar a bença, mais velhos com mais novos e vice-versa.

APOT͹: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico a R$ 6,50. Coopere com a casa e leve o seu.

Espero que tenha gostado...seria legal se todos colocassem ideias para um manual kd vez melhor...principalmente nossos irmãos Egbomis podem dar grande contribuição. bjos e muito Asé.

Mais uma vez peço a todos que assine o livro de visita para mantermos este site no ar.

CARTILHA DO ZELADOR DE ORIXÁ "NOVISSIMO"

CARTILHA DO ZELADOR DE ORIXÁ "NOVISSIMO"

Page 152: Lendas Sobre Ori

FAÇA UMA CONSULTA DE JOGO DE BÚZIOS "VALOR R$200,00"

Sinopse dos DVD`s de Candomblé e Umbanda

1-) Minissérie Mãe de santo: Minissérie exibida em 1990 pela TV Manchete. Compõe-se de 17 capítulos que trazem a lenda dos orixás associadas a fatos da vida cotidiana e a inflência do arquétipo dos orixás em seus filhos.

Inedito (Muito legal o documentario abaixo, assiste e recomendo a todos)

Mojubá: série de 6 documentários sobre o candomblé que vão das origens até os dias de hoje. Passa por questões muito importantes para quem faz parte da religião, tais como, origem do culto, folhas, casas de candomblé, paralelos entre o candomblé feito no Brasil e o da África, influências culturais que vieram a partir da religião...depoimentos de grandes nomes do Candomblé como Mãe Beata de Yemanjá.

2-) Minissérie Tenda dos Milagres: Adaptação do romance homônimo de Jorge Amado para a TV. Aborda a história de um barracão de candomblé que luta para sobreviver na Bahia em uma época onde o culto aos orixás era proibido. Tem forte abordagem a fundamentos de orixás. Cada minissérie irão custar R$180,00 mais despesas de postagem, peça já o seu pelo celular (11) 998173814 ou e-mail [email protected].

As demais series abaixo, só por encomenda; e poderão demorar até 10(dez) dias para entregar as duas series acima entrega de um a dois dias no maximo em terretorio Brasileiro.

3-) Ilê axé Bahia – a saga dos orixás: documentário que faz ampla abordagem sobre a prática de candomblé desde a chegada do culto ao Brasil através dos africanos que vinham

Page 153: Lendas Sobre Ori

como escravos até os tempos modernos. Fala sobre os orixás, suas lendas, origens, culto, entre outras coisas.

4-) Força e magia dos voduns: documentário sobre o candomblé de nação Jeje. Muito rico em informações sobre a origem da nação Jeje, a diferença de seu culto e suas divindades em relação às demais nações, os nomes dos voduns e a semelhança que cada um tem dentro do culto de orixás, rituais, etc...

5-) Ilê axé opô afonjá: documentário sobre uma das mais famosas casas de candomblé de Salvador. Aborda as tradições culturais e religiosas do barracão que é presidido atualmente por Mãe Stela de Oxossi, e que fora fundado na década de 10 por Mãe Aninha de Xangô.

6-) A força dos orixás no Candomblé: documentário sobre a força das divindades africanas dentro do seu culto religioso. Aborda histórias dos orixás, visitação a casas tradicionais de culto em Salvador, liturgia, iniciação ao candomblé, oferendas, festas e outros pontos de extrema relevância para quem é da religião. Além de abordar o culto aos orixás, fala também sobre candomblé de Babá Egum e Exu.

7-) Centenário de Mãe Menininha: documentário sobre uma das maiores mães de santo do Brasil, Mãe Menininha do Gantois, que morreu em 1986, aos 92 anos, e completário 100 anos de vida em 1994. Faz abordagens às tradições do Gantois, seus filhos famosos, culto aos orixás, oferendas, magia dos orixás, entre outros pontos importantes do Candomblé praticado nessa casa.

Page 154: Lendas Sobre Ori

8-) Festa de São Roque: documentário sobre o sincretismo religioso existente entre São Roque e Obaluayê. As festividades feitas pelo candomblé no mês de agosto revelam que o sincretismo entre esses dois nomes é muito forte, tão forte que muitas cerimônias em homenagem a Obaluayê têm início na porta da igreja e seguem para os barracões. Tem grande abordagem também sobre a importância do Olubajé.

9-) Encanto dos orixás: documentário feito para o mercado exterior, aborda os orixás masculinos e faz uma síntese do dia-a-dia dentro de uma casa de candomblé. Possui áudio em língua inglesa.

10-) Amuleto de Ogum: filme nacional que conta a história de um filho de ogum que tem o corpo fechado por esse orixá, e nada acontece com ele por trazer consigo um amuleto consagrado a esse orixá. Tem um enfoque ritualístico voltado para a liturgia de Umbanda.

11-) Prova de fogo: filme nacional, baseado em fatos da vida de seu diretor – Marcos Altberg -, que teve a manifestação de fenômenos espirituais em sua vida e que acabaram por faze-lo procurar um Terreiro de Umbanda e desenvolver-se espiritualmente, vindo a tornar-se mais tarde um famoso pai de santo. As abordagens feitas são muito reais, dando impressão de terem sido feitas realmente numa casa de umbanda.

12-) Tenda dos milagres, o filme: adaptação da obra homônima de Jorge Amado para o cinema. Tem a mesma temática da minissérie, porém, com uma duração mais curta e enfoques ao candomblé mais sintetizados.

Page 155: Lendas Sobre Ori

13-) Santo Forte: documentário sobre a experiência de pessoas de diversas religiões, principalmente Umbanda e Candomblé, contadas por elas mesmas. Alguns que permanecem e outros que passaram e saíram...muito interessante para quem pesquisa a fundo as religiões africanas e afro-brasileiras.

14-) Yemanjá – ritual na praia: documentário que mostra um culto a yemanjá e a invocação de todas as linhas de Umbanda dentro dele. Tem grande explicação didática a cada passagem. São mostrados os rituais e o porquê daquela manifestação dentro desse ritual.

15-) Faculdade de Umbanda: documentário sobre a prática de Umbanda no Brasil. Fala sobre a importância da religião, as cerimônias dentro das tendas, e mostra um espaço de culto exclusivo – um santuário de Umbanda, dentro de uma reserva ambiental, no ABC paulista.

16-) Festa de Maria Padilha: Gravação de uma festa em homenagem a esta entidade

17-) Festa de Trnaca-Ruas: Gravação de uma festa em homenagem a esta entidade

18-) Feitura de Santo: documentário sobre a iniciação ao candomblé. Aborda todos os passos da feitura de santo, desde o bolonã até a quitanda do erê. Muito importante para aqueles que querem conhecer a fundo tudo o que envolve a iniciação e o porquê de tudo o que se faz para ser membro de uma casa de candomblé.

19-) Atlântico Negro – na rota dos orixás: documentário sobre a tradição do culto aos orixás que foi trazida para o Brasil a partir da inserção dos povos africanos que vieram para cá na condição de escravos, e que trouxeram consigo toda a uma tradição que cresceu e se multiplicou, gerando forte influência em toda uma cultura.

Page 156: Lendas Sobre Ori

20-) Saída de Yaô (oxaguian e oxum): Filmagem de ritual de saída de Yaô na nação de kêtu. Mostra as 3 saídas, o momento do orunkõ e o rum(dança) dos dois orixás.

21-) Saída de Yaô (Nana): Filmagem de ritual de saída de Yaô na nação de kêtu. Mostra as 3 saídas, o momento do orunkõ e o rum(dança) deste orixá.

22-) Festa de Pómbogira Cigana no Catimbó: Filmagem de uma festividade em homenagem a Pombogira cigana dentro do culto de Catimbó.

23-) Festa de Xangô e Yansã: Filmagem de uma festividade em honagem a esses dois orixás feita dentro de uma casa de Umbanda.

24-) Festa de Baianos: Filmagem de uma festividade em homenagem a linha dos baianos feita por uma casa de Umbanda.

25-) Coroação de iniciado: Filmagem de uma festividade de saída de um iniciante de Umbanda após ter feito o ritual de camarinha.

26-) Abertura de Terreiro: filmagem de uma festicidade realizada para a abertura de um novo terreiro de Umbanda.

27-) Pretos velhos: Filmagem de uma festividade em homenagem a linha dos pretos-velhos, ou linha das almas, dentro de uma casa de Umbanda.

28-) Um vento sagrado – Pai Agenor Miranda: documentário sobre a vida de Pai Agenor Miranda – um dos maiores papas que o candomblé já teve no Brasil. Fala sobre a chegada dele ao Brasil, sua iniciação ao candomblé – com apenas 5 anos de idade, no Ilê axé opô afonjá – e toda a sua peregrinação dentro do culto até os seus 94 anos de idade. Aborda todos os aspectos relevantes a um sacerdote de Candomblé, desde sua feitura .

Page 157: Lendas Sobre Ori

29-) Fé: documentário sobre as misturas religiosas que acontecem no Brasil, principalmente entre católicos, umbandistas e candomblecistas. Faz ampla abordagem sobre as religões africanas e suas influências em outros cultos dentro do Brasil.

30-) Coleção orixás da Bahia: compõe-se de 8 micro-documentários sobre os orixás Exu, ogum, Oxossi, oxum, xangô, yansã, Oxalá e yemanjá. Dentro de cada documentário são abordados temas como lendas, oferendas, danças, arquétipos dos filhos, cores, roupas, ferramentas, entre outros...grande produção feita pelo jornal “Correio da Bahia”.

31-) Mojubá: série de 6 documentários sobre o candomblé que vão das origens até os dias de hoje. Passa por questões muito importantes para quem faz parte da religião, tais como, origem do culto, folhas, casas de candomblé, paralelos entre o candomblé feito no Brasil e o da África, influências culturais que vieram a partir da religião...depoimentos de grandes nomes do Candomblé como Mãe Beata de Yemanjá.

32-) Danças – candomblé: documentário que aborda a questão das danças dentro do candomblé. Fala sobre o porquê dos gestos de determinados orixás e o que eles representam para o culto.

33-) Barravento: histórico longa-metragem de Glauber Rocha que aborda a prática de candomblé dentro de uma comunidade de pescadores na Bahia. Fala sobre a força dessa religião e sua influência dentro da evolução humana de uma comunidade que segue à risca todos os preceitos determinados pela religião.

34-) Pierre Fatumbi Verger – o mensageiro entre dois mundos: documentário sobre a vida do etnólogo francês Pierre Verger, que se dedicou durante toda a sua vida a estudar os fenômenos culturas, humanísticos e religiosos que estão envolvidos no Candomblé, e para isso precisou ser iniciado no Candomblé, tanto no Brasil como na África.

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Ayra

Airá

R170-K-01-M

Airá noRmalmente confundido com Xangô, é uma divindade à parte, que não pertence à família de Xangô, tido por alguns como irmão gêmeo de Xangô.

Este orixá veste-se de branco e tem profundAs ligações com Oxalá.

Airá não usa coroa, mas um eketé branKo.

Suas comidas votivas não são temperadas com dendê, nem com sAl e sim com banha de ori, que em muito se assemelha com Oxalá.

Airá era um Orixá no fundamento de Xangô, Airá era considerado um de seus servos de confiança e segundo uma de suas lendas, Airá, tentou instAurar um atrito entre Oxalá e Xangô, graças a isso Airá deve ser tratado de forMa diferente de Xangô, seu assentamento deve ficar na cAsa de Oxalá.

Page 159: Lendas Sobre Ori

Airá é um Orixá relacionado a família do raio mas pode ser relacionado ao vento, seu nome pode ser tRaduzido como redemoinho ou furacão.

Airá então pode ser louvAdo como a divindade que rege o encontro dos ventos.

Em território africano, não existe registro ou relatos de pessoas regidas ou iniciadas para ele, onde ele é cultuado, o culto predominante é o de Nanã e de Obaluaiê, já que Savé é uma região que fiKa em território Jeje.

Pouco se sabe sobre o nascimento ou surgimento de Airá e por esta razão muitos atribuem sua filiAção à Iemanjá e a Oraniã, da mesma forma que Xangô.

Ao contrário de Xangô, Airá não é um Orixá rei nem possui o cAráter, punitivo, vingativo como Xangô.

Este fato, pode ser evidenciado em uM de seu itãs evidenciAdo:

A chuva de Airá apenas limpa e faz barulho como um tambor.

Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional, ao contrário de Oxalá que representa a paz.

Airá estabelece a paz e possui uma ação mais imediata em suas funções, Airá pode ser qualificado como um sentinela de Oxalufã.

Em diferentes países e regiões africanas em que a religião dos orixás sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes das qualidades dos orixás, pois cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passagem mítica do orixá.

Page 160: Lendas Sobre Ori

Sua gamela é oval, branca e seus ornamentos prateados.

Seu assentamento é na gamela oval e não leva pilão. A fogueira lhe pertence e é acesa pelo lado esquerdo.

MITOLOGIA

Um dia, passando Oxaguiã pelas teRras onde vivia Airá, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas.

Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã, misturando-se aos soldados do rei.

No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de umA grande pedra.

Oxaguiã observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava escondido atrás da pedra.

Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branKo.

Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Airá.

Page 161: Lendas Sobre Ori

No entanto, como punição pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas.

Temos também esse itã que coloca de maneira bem segura e determinante um rituAl comum no Brasil que inclusive desvencilha do dogma da Igreja Católica.

Segundo os mitos, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato.

Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgAtou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em

todo o reino, em sua homenagem.

A festividade conhecida hoje como Águas de Oxalá, remonta a esse acontecimento.

No entanto, Oxalá estava muito alquebrado, ferido e entristecido.

Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Iemanjá, sua esposa, o aguardava.

Xangô não podia acompanhá-lo, pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.

Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar pelo fato de ainda estar se recuperando dos feriMentos que adquirira durante os sete anos de prisão.

Durante o dia, eles caminhavam.

À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar.

Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento.

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Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.

Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira em de junho de cada ano, no Brasil, em homenagem a Airá e à viagem que fez em compAnhia de Oxalá.

ARQUÉTIPO

Airá dá aos seus filhos um ar altivo e de sabedoRia, prepotente, equilibrAdo, intelectual, severo, moralista, decidido, espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brinKalhões, alegres, gostAm de dançar e cantar.

Os filhos de Airá, são autoritários, voluntariosos, enérgicos, cAlmos, teimosos, orgulhosos e guerreiros alternadaMente, não sabem guardar segredos, faladores, fofoqueiros, apegAdos a família.

TÍTULOS

Adjàosì : quer dizer Osi, esquerda. É o eterno companheiro de Oxaguiã.

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Álàmódè ,Módè ou Mófè : É considerado o pai das águas quentes, pouco difundido nos terreiros, este Aira vem acompanhado de Oxum Iopandá. Conta o mito que Modé vestiu-se de Oxun para ser confundido durante uma busca para prende-lo, sendo assim, geralmente ele é cultuado sendo "Iyagba", seus animais são fêmeas e seus filhos geralmente mais delicados, ardilosos que choram com facilidade para chegarem ao seu alcance.

Etinjà: Depende de Ogun para caminhar, é guerreiro e cruel.

Ibonã ou Igbonam: É um título de Airá que significa floresta de fogo, o quente, é considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.

Intile : Título de Airá que quer dizer O dono da Casa.

É o filho rebelde de Obatalá, muito difícil, causando dissabores a Obatalá.

Ligado a Iemanjá Sobà.

É dele o mito que conta a primeira vez que Airá Intile se submeteu a alguém. Um dia, Obatalá juntou-se a Oduduá e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intile. Estava Intile

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na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco.

Airá Intile percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço.

Na perseguição gritava e esbravejava quando encontrou Obatalá.

O velho não se fez de rogado, gritou com Intile, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção.

Pela primeira vez Airá Intile havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas.

Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intile e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares.

Obatalá entregou a Intile seu novo colar, vermelho e branco.

Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho.

Come também com Bará.

Lojó : Título que faz referência à chuva.

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Óbómìn, Bómìn ou Ygbómìn : mais um título de Airá. É bom, conselheiro, dono da verdade, reina nas águas junto com Oxum foi ele que Oxalá transformou em seu primeiro ministro. Não faz nada sem perguntar a Oxalá.

Orégedé: Muito guerreiro ele também lutou contra Ogun.

Curiosidades

ave : Frango branco.

Come: Quiabos, ori, pepino arroz, a canjica e o mingau de acaçá.

Cor: Branco.

Dia: Sexta-feira.

Page 166: Lendas Sobre Ori

Folhas: Agrião, Manjericão

Impedimento: Sal e azeite de dendê.

Manifestação: Raio, redemoinho, furacão.

Natureza : Ar ,+

Ornamentos : prateados.