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Página 1 de 15 LEITURAS COMPLEMENTARES AULA 01 - Abordagem Constitucional da Seguridade Social: Composição e Reformas Sumário Reforma Previdenciária #1: Alteração do Artigo 195, § 5º ....................................................... 1 Reforma Previdenciária #2: Alteração na Assistência Social (Art. 203) ............................... 4 Reforma Previdenciária #3: Introdução Do Regime De Capitalização................................... 9 Os pontos (obscuros) de ancoragem da nova reforma previdenciária-assistencial...... 12 A partir desta Coluna inauguramos uma série especial de publicações no GEN Jurídico a respeito da Reforma Previdenciária, consubstanciada na PEC 06/2019, entregue ao Congresso Nacional dia 20.02.2019. A matéria é muito extensa. A minuta da PEC e suas Exposições de Motivos possuem ao total 66 páginas, alterando inúmeros artigos e introduzindo uma gama de regras de transição. Assim, optamos por comentar, isoladamente, os principais dispositivos ou blocos temáticos contidos na PEC 06/2019. Título Reforma Previdenciária #1: Alteração do Artigo 195, § 5º Autor Marco Aurélio Serau Junior (Doutor e Mestre em Direitos Humanos. Diretor Científico-Adjunto do IBDP. Professor da UFPR, Professor da Pós-Graduação em Direito Previdenciário da CERs e membro do Conselho Editorial de diversas revistas jurídicas.) Disponível em http://genjuridico.com.br/2019/02/22/reforma-previdenciaria-1-alteracao- do-artigo-195-%C2%A7-5o/ Data acesso 06/03/2019

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LEITURAS COMPLEMENTARES

AULA 01 - Abordagem Constitucional da Seguridade Social:

Composição e Reformas

Sumário

Reforma Previdenciária #1: Alteração do Artigo 195, § 5º ....................................................... 1

Reforma Previdenciária #2: Alteração na Assistência Social (Art. 203) ............................... 4

Reforma Previdenciária #3: Introdução Do Regime De Capitalização................................... 9

Os pontos (obscuros) de ancoragem da nova reforma previdenciária-assistencial ...... 12

A partir desta Coluna inauguramos uma série especial de publicações no

GEN Jurídico a respeito da Reforma Previdenciária, consubstanciada na PEC 06/2019,

entregue ao Congresso Nacional dia 20.02.2019.

A matéria é muito extensa. A minuta da PEC e suas Exposições de Motivos

possuem ao total 66 páginas, alterando inúmeros artigos e introduzindo uma gama de regras

de transição.

Assim, optamos por comentar, isoladamente, os principais dispositivos ou

blocos temáticos contidos na PEC 06/2019.

Título

Reforma Previdenciária #1: Alteração do Artigo 195, § 5º Autor Marco Aurélio Serau Junior (Doutor e Mestre em Direitos Humanos.

Diretor Científico-Adjunto do IBDP. Professor da UFPR, Professor da

Pós-Graduação em Direito Previdenciário da CERs e membro do

Conselho Editorial de diversas revistas jurídicas.)

Disponível em

http://genjuridico.com.br/2019/02/22/reforma-previdenciaria-1-alteracao-

do-artigo-195-%C2%A7-5o/

Data acesso 06/03/2019

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O primeiro tema tratado está na proposta de alteração do art. 195, § 5º, que

hoje está assim redigido:

§5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou

estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

Aprovada a Reforma Previdenciária o art. 195, § 5º, ficaria com a seguinte

redação:

§5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou

estendido por ato administrativo, lei ou decisão judicial, sem a correspondente fonte de

custeio total.

A PEC 06/2019 provoca uma deturpação do conteúdo desse dispositivo

constitucional.

O art. 195, § 5º, da CF, é bastante conhecido como regra da contrapartida.

Isso quer dizer que não poderão ser criados, aumentados (em termos de valor pecuniário)

ou estendidos (levados a outras hipóteses até então não alcançadas pela lei, a exemplo de

atingir outras modalidades de segurados não contemplados com determinados por certo

benefício previdenciários) sem que exista prévia fonte de custeio.

O art. 195, § 5º, é, assim, uma regra orçamentária, voltada ao legislador e ao

administrador público. Não se aplica ao caso concreto, individual, mas aos agentes públicos

que atuam para moldar a política pública previdenciária e estruturar os serviços públicos

previdenciários.

Não se volta, como ficou claro, ao julgador que atua no caso concreto,

decidindo determinado pedido de concessão benefício ou revisão de benefício.

A PEC 06/2019, contudo, ignora essa concepção, bem arraigada na doutrina,

e estabelece, dentro do capítulo destinado ao custeio da Seguridade Social (o art. 195 da

Constituição Federal – portanto fora de um contexto normativo adequado), uma regra

impeditiva da atuação judicial e administrativa.

O objetivo, aqui, é impedir, sobretudo ao Poder Judiciário, de atuar em sua

função cotidiana, de hermenêutica da legislação, onde eventualmente será aplicado o

Direito Previdenciário por analogia, interpretação sistemática ou extensiva, etc., atingindo

situações que eventualmente não estavam previstas, rigorosamente, na letra fria da lei –

mas que podem ser encontradas através daqueles métodos hermenêuticos que citei, sem

ofensa a qualquer princípio ou regra do sistema jurídico.

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No Direito Previdenciário, já escrevi em outra ocasião, é comum ocorrer

a interpretação constitucional da legislação previdenciária:

“O agasalho constitucional aos direitos previdenciários confere-lhes força normativa

diferenciada, e tratamento jurídico de primeira grandeza. Assim, é possível uma

(re)interpretação da legislação previdenciária a partir desse prisma, utilizando-se também

princípios e valores albergados no Texto Constitucional. A partir dessa matriz substantiva é

comum a utilização da ponderação de princípios e a metodologia hermenêutica pautada

pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.” (SERAU JR., Marco

Aurélio. Resolução do conflito previdenciário e direitos fundamentais. S. Paulo: LTr, 2015,

p. 77)

A partir dessa interpretação constitucional praticada pela jurisprudência

foram obtidos muitos avanços na legislação previdenciária, a exemplo da concessão do

BPC-LOAS para situações em que a renda mensal familiar per capita é superior a ¼ do

salário mínimo, ou a pensão por morte no caso das uniões homoafetivas. Vários outros

poderiam ser trazidos à colação.

A pretensão da PEC 06/2019 visa, através de uma aparência de regra

orçamentária, impedir que a jurisdição atue plenamente e, eventualmente, determine a

concessão de benefícios previdenciários ou assistenciais em hipóteses não tão diretamente

previstas em lei, mas obtidas através de interpretação sistemática, analógica, extensiva, etc,

sempre com fundamento constitucional.

Esse escopo da Reforma Previdenciária esbarra nitidamente na garantia de

amplo acesso à justiça, prevista no art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, que

possui uma sensibilidade maior quando se trata de ações previdenciárias, dotadas de

princípios específicos (a esse respeito, ver meu livro Curso de Processo Judicial

Previdenciário).

Por fim, a redação pretendida para o art. 195, § 5º, da CF, também impede

que a Administração Pública (pois fala em “ato administrativo”) tenha uma atuação mais

inteligente e compatível não apenas com a legalidade, mas com a juridicidade, isto é, com

todo o conjunto do ordenamento jurídico – forma de atuação que já é permitida pela Lei

9.784/99, Lei Geral de Processo Administrativo Federal.

A atuação administrativa mais eficiente e compatível com a Constituição

Federal seria útil a diminuir o número de conflitos (previdenciários) que são posteriormente

judicializados – acarretando maiores gastos públicos, com a movimentação da máquina

judiciária e, em muitas vezes, com encargos de juros moratórios e incidência de correção

monetária.

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Damos continuidade à série especial de publicações no GEN Jurídico sobre a

Reforma Previdenciária (PEC 06/2019).

Falaremos nesta coluna a respeito das alterações que se pretende promover no

campo da Assistência Social (prevista nos arts. 203 e 204 da Constituição Federal),

especialmente no benefício de prestação continuada (BPC), estabelecido no art. 203, inciso V.

O texto da proposta encontra-se ao final do artigo, no formato de anexo, para favorecer a

leitura.

A PEC 06/2019 altera a redação do inciso V e insere o inciso VI e os §§ 1º e 2º

no bojo do artigo 203. Ademais, também cria regras de transição específicas para o BPC.

Em síntese, cinde o tratamento jurídico dado ao BPC, separando nos incisos V e

VI, respectivamente, os requisitos necessários para sua obtenção no caso de PcD ou pessoas

idosas. Ademais, altera sua natureza jurídica, que deixa de ser um benefício a cargo da

Seguridade Social, passando a ser apenas uma garantia de transferência de renda – o que

compreendemos pode empobrecer seu vigor normativo e sua efetividade.

A Reforma Previdenciária também busca substituir o atual conceito de

hipossuficiência, pelo de miserabilidade, que é mais restritivo e, cremos, também pejorativo,

pois traz a ideia de “pessoas miseráveis”. Hipossuficiência é um conceito normativo mais

adequado aos objetivos constitucionais de proteção da dignidade da pessoa humana, pois

simplesmente se refere à incapacidade econômica de prover o próprio sustento ou vê-lo provido

pela família.

Título

Reforma Previdenciária #2: Alteração na Assistência Social (Art. 203)

Autor Marco Aurélio Serau Junior (Doutor e Mestre em Direitos Humanos. Diretor Científico-Adjunto do IBDP. Professor da UFPR, Professor da Pós-Graduação em Direito Previdenciário da CERs e membro do Conselho Editorial de diversas revistas jurídicas.)

Disponível em

http://genjuridico.com.br/2019/02/25/reforma-previdenciaria-alteracao-assistencia-social-art-203/

Data acesso 06/03/2019

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Em relação às PcD, o Texto Constitucional passa a exigir avaliação

biopsicossocial para caracterização da deficiência.

Essa previsão a respeito de avaliação biopsicossocial, realizada por equipe

multiprofissional e interdisciplinar, decorre do conceito de deficiência adotado na Convenção

da ONU de 2007, da qual o Brasil é signatário, e já possuía reflexo na legislação previdenciária

nacional na Lei Complementar 143/2015 (aposentadoria especial da PcD) e na Lei Brasileira de

Inclusão (LBI).

Quanto ao critério de miserabilidade (sempre adotada a ressalva expressa

acima), a PEC 06/2019 exige “renda mensal integral per capita familiar interior a um quarto

do salário mínimo”. Porém, a regra é mais restritiva que a atual, pois se estabelece que “o valor

da renda mensal recebida a qualquer título por membro da família do requerente integrará a

renda mensal integral per capita familiar”.

Esse critério bastante abrangente, no sentido de que os valores recebidos a

qualquer título por qualquer membro da família integram a renda mensal familiar, permite

afastar a excludente prevista no artigo 34 do Estatuto do Idoso (que exclui do cálculo da renda

familiar as aposentadorias de até um salário mínimo recebidas por um membro da família).

Parece excluir, também, a possibilidade de outras formas de comprovação da

hipossuficiência, doravante miserabilidade, o que já é admitido pelo Poder Judiciário, com

segurança, desde o julgamento pelo STJ do REsp repetitivo 1.112.557/MG (veja-se, quanto a

isso, explicação específica em meu livro Curso de Processo Judicial Previdenciário).

Ao restringir outras formas de comprovação da miserabilidade, essa pretensão

da Reforma Previdenciária acaba por esbarrar nas garantias de amplo acesso à justiça e de

independência jurisdicional, muito relevantes nas ações previdenciárias.

A PEC 06/2019, por fim, ainda traz expressivas regras de transição em relação

ao BPC.

Nestas, estabelece-se que não cabe o abono anual para esse benefício e, mais

grave, estabelece-se um critério progressivo, fásico no dizer da PEC 06, em relação ao valor do

BPC.

Este será pago no montante de R$ 400,00 (quatrocentos reais) para a pessoa em

situação de miserabilidade com 60 anos de idade, aumentando de valor progressivamente, até

que chegue no valor correspondente ao salário mínimo para as pessoas com 70 anos de idade.

A PEC 06/2019 propõe um gatilho automático de idade: sempre que houver

aumento da expectativa de sobrevida dos brasileiros, o que é constatado pelo IBGE, haverá um

ajuste das idades previstas no art. 203, ou seja, poderá ser exigido mais do que 70 anos para a

concessão do BPC.

Outra situação inadequada trazida nas regras de transição para o BPC reside na

definição de miserabilidade a partir não somente da faixa de renda, mas também da

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inexistência de patrimônio familiar. A PEC define que só caberá o BPC quando houver

patrimônio familiar inferior a R$ 98.000,00 (noventa e oito mil reais), que hoje correspondem a

aproximadamente 100 salários mínimos.

Ora, a pretensão da PEC, neste trecho, é de que as pessoas dilapidem seu

patrimônio familiar (certamente bastante humilde, considerado o parâmetro estabelecido),

normalmente acumulado ao longo de toda uma vida e em geral consistente apenas no imóvel de

moradia familiar, antes de requerer ou fazer jus o BPC.

Essa situação afronta diretamente o princípio da dignidade humana, visto

que promove a miserabilidade, determinando a dilapidação de patrimônio familiar e

efetivamente reduzindo as pessoas à condição de miserabilidade que passará a ser exigida pela

norma – não somente aquele que pretende obter o BPC, mas todos seus familiares, pois a

redução de patrimônio afetará a todo o núcleo familiar, inclusive as pessoas não elegíveis para

o BPC, como as que não sejam idosas ou não sejam PcD.

Finalmente, as regras de transição para o BPC ainda promovem ampliação do

que se considera núcleo familiar para fins de cálculo da renda mensal per capita em relação ao

rol hoje previsto no art. 16 da Lei 8.213/91.

Nesse sentido, passa a exigir que a renda mensal obtida por madrastas e

padrastos, residentes no mesmo teto, componha a renda mensal familiar. Essa nova exigência

colide com o art. 226, da Constituição Federal, que assegura a autonomia na constituição do

arranjo familiar, que não pode ser afetado pelo Estado. Com efeito, não se pode admitir que, em

regra, as rendas de padrastos e madrastas sejam direcionadas para o núcleo familiar. Ignora-se

outras possibilidades de constituição familiar e “força-se” aí uma figura de família recomposta.

Pode ser, quanto a isso, que os filhos menores não dependam da renda de

padrastos e madrastas, mas que percebam pensão alimentícia dos respectivos genitores; mesmo

que não esteja presente a renda derivada de pensão alimentícia, pode haver de um determinado

arranjo familiar em que os padrastos e madrastas não se comprometam economicamente

naquele teto. Não é uma situação rara na realidade social brasileira.

As alterações que se pretende efetuar no art. 203 da Constituição Federal fazem

parte de um panorama mais amplo da proposta de Reforma Previdenciária, que promove

uma constitucionalização de diversos temas previdenciários e assistenciais até hoje objeto de

legislação ordinária. Aqui, se busca constitucionalizar os requisitos etários e critérios de

hipossuficiência econômica; a definição do núcleo familiar e os valores dos benefícios que

serão creditados aos beneficiários; as impossibilidades de cumulação de benefício e

descabimento do abono anual.

Nossa Constituição Federal é considerada, com razão, prolixa. Mas a extensão

do Texto Constitucional sempre teve a ver com o objetivo de resguardar melhor os direitos das

pessoas, eximindo-os da ameaça de supressão ou restrição por parte do legislador ordinário. O

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movimento promovido pela PEC 06/2019, que atinge outros benefícios

previdenciários, constitucionaliza tópicos jurídicos com o objetivo de restringir e engessar

direitos fundamentais, o que é contraditório com a Teoria Geral de Direitos Fundamentais e os

princípios do Direito Constitucional.

******

“Art. 203. (…)

V – garantia de renda mensal, no valor de um salário-mínimo, à pessoa com deficiência, previamente

submetida à avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, que

comprove estar em condição de miserabilidade, vedada a acumulação com outros benefícios assistenciais e

previdenciários, conforme disposto em lei; e

VI – garantia de renda mensal de um salário-mínimo para a pessoa com setenta anos de idade ou mais que

comprove estar em condição de miserabilidade, que poderá ter valor inferior, variável de forma fásica, nos

casos de pessoa idosa com idade inferior a setenta anos, vedada a acumulação com outros benefícios

assistenciais e com proventos de aposentadoria, ou pensão por morte dos regimes de previdência social de

que tratam os art. 40 e art. 201 ou com proventos de inatividade e pensão por morte decorrentes das

atividades de militares de que tratam os art. 42 e art. 142, conforme dispuser a lei.

§1º Para os fins do disposto nos incisos V e VI do caput,:

I – considera-se condição de miserabilidade a renda mensal integral per capita familiar inferior a um quarto

do salário-mínimo e o patrimônio familiar inferior ao valor definido em lei;

II – o valor da renda mensal recebida a qualquer título por membro da família do requerente integrará a

renda mensal integral per capita familiar.

§2º O pagamento do benefício de prestação continuada à pessoa com deficiência previsto no inciso V do

caput ficará suspenso quando sobrevier o exercício de atividade remunerada, hipótese em que será admitido

o pagamento de auxílio-inclusão equivalente a dez por cento do benefício suspenso, nos termos previstos em

lei.”

CAPÍTULO VII

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA SOCIAL E A OUTRAS MATÉRIAS

Transferência de renda à pessoa com deficiência em condição de miserabilidade

Art. 40. Não será devido abono anual para a pessoa com deficiência beneficiária da renda mensal e do

auxílio-inclusão a que se referem o inciso V do caput e o § 2º do art. 203 da Constituição.

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Transferência de renda à pessoa idosa em condição de miserabilidade

Art. 41. Até que entre em vigor a nova lei a que se refere o inciso VI do caput do art. 203 da Constituição, à

pessoa idosa que comprove estar em condição de miserabilidade será assegurada renda mensal de R$ 400,00

(quatrocentos reais) a partir dos sessenta anos de idade.

§1º A pessoa que estiver recebendo a renda na forma prevista no caput ao completar setenta anos de idade, e

desde que atendidos os demais requisitos, fará jus à renda mensal de um salário-mínimo prevista no inciso

VI do caput do art. 203 da Constituição.

§2º As idades previstas neste artigo deverão ser ajustadas quando houver aumento na expectativa de

sobrevida da população brasileira, nos termos do disposto no § 4º do art. 201 da Constituição.

§3º É vedada a acumulação da transferência de renda de que trata este artigo com outros benefícios

assistenciais e com proventos de aposentadoria ou pensão por morte dos regimes de previdência social de

que tratam os art. 40 e art. 201 da Constituição ou com proventos de inatividade e pensão por morte de que

tratam os art. 42 e art. 142 da Constituição, observadas as condições estabelecidas em lei.

§4º Não será devido abono anual para a pessoa idosa beneficiária da renda mensal de que trata este artigo.

Condição de miserabilidade

Art. 42. Até que entre em vigor a nova lei a que se referem os incisos V e VI do caput do art. 203 da

Constituição, serão observados os seguintes critérios, em complemento ao disposto no § 1º do referido

dispositivo:

I – para verificação da condição de miserabilidade, o patrimônio familiar deverá ser inferior a R$ 98.000,00

(noventa e oito mil reais); e

II – para fins do disposto neste artigo, considera-se que a família é composta pelo requerente e, desde que

vivam sob o mesmo teto, por:

1. cônjuge ou companheiro;

2. pai ou mãe;

3. irmãos solteiros;

4. filhos e enteados solteiros; ou

5. menores tutelados

Parágrafo único. Na ausência dos membros da família a que se refere a alínea “b” do inciso II, a família

poderá ser composta por madrasta e padrasto do requerente, desde que vivam sob o mesmo teto.

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Damos continuidade à série especial de publicações no GEN Jurídico sobre a

Reforma Previdenciária (PEC 06/2019).

Nesta coluna trataremos do árduo tema do regime de capitalização, introduzido

pelo art. 201-A, que consta da PEC 06/2019, que também cria disposições transitórias nessa

matéria:

Art. 201-A. Lei complementar de iniciativa do Poder Executivo federal

instituirá novo regime de previdência social, organizado com base em sistema de capitalização,

na modalidade de contribuição definida, de caráter obrigatório para quem aderir, com a

previsão de conta vinculada para cada trabalhador e de constituição de reserva individual para o

pagamento do benefício, admitida capitalização nocional, vedada qualquer forma de uso

compulsório dos recursos por parte de ente federativo.

O texto das disposições transitórias encontra-se ao final do artigo, no formato de

anexo, para favorecer a leitura.

O objetivo do art. 201-A, transcrito acima, é estabelecer um novo modelo

previdenciário no ordenamento jurídico brasileiro, baseado unicamente no regime financeiro

de capitalização individual, ao contrário do regime de repartição, fundado na solidariedade, que

até hoje deu a tônica do modelo de Seguridade Social brasileiro – conforme se verifica da atual

redação dos artigos 194 e 195 da Constituição Federal.

A PEC 06/2019 cria esse novo regime previdenciário, pautado pela

capitalização individual, mas remete o tema à legislação futura, exigindo Lei Complementar

que trate de certos aspectos que serão as suas características principais: contribuição definida

(sabe-se o quanto é recolhido, mas não se delimita o benefício a receber, que dependerá do

saldo constante da reserva individual); conta vinculada para cada trabalhador (isto é,

Título

Reforma Previdenciária #3: Introdução Do Regime De Capitalização

Autor Marco Aurélio Serau Junior (Doutor e Mestre em Direitos Humanos. Diretor Científico-Adjunto do IBDP. Professor da UFPR, Professor da Pós-Graduação em Direito Previdenciário da CERs e membro do Conselho Editorial de diversas revistas jurídicas.)

Disponível em

http://genjuridico.com.br/2019/02/26/reforma-previdenciaria-introducao-do-regime-de-capitalizacao/

Data acesso 06/03/2019

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capitalização individual, sem qualquer perspectiva de solidariedade); proibição da utilização

desses recursos pelo Governo.

O art. 115 que se busca inserir no ADCT é expresso no sentido de que

esse regime de capitalização que se quer criar é alternativo ao RGPS e ao RPPS, isto é: ou a

pessoa estará inserida nesse novo regime previdenciário ou nos tradicionais modelos de

Previdência Social (INSS ou regimes de). Além disso, o art. 115, § 1º, faz menção expressa

aos “segurados obrigatórios do novo regime de previdência social”.

Esse formato colide com o que já se encontra previsto no artigo 202 da

Constituição Federal: regimes de previdência complementar que são expressamente autônomos,

mas facultativos e complementares aos regimes básicos de proteção social. O impulso que a

Reforma Previdenciária pretende dar ao regime de capitalização pura, com quebra do princípio

da solidariedade, deve levar a que os regimes de previdência complementar tratados no art. 202

da CF percam sentido ou fiquem sem grande envergadura.

O art. 115 que se pretende introduzir no ADCT reproduz as garantias e

condições que o regime de capitalização deve seguir, conforme destacadas no próprio art. 201-

A, e avança indicando que haverá a garantia de piso mínimo de benefício, no valor

correspondente ao salário mínimo quando este substituir o salário de contribuição ou o

rendimento do trabalho.

Esse regime de capitalização valerá também para os servidores públicos, no

âmbito dos regimes próprios, conforme redação proposta para o art. 40, § 6º, da Constituição:

§6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão para o

regime próprio de previdência social o sistema obrigatório de capitalização individual previsto

no art. 201-A, no prazo e nos termos que vierem a ser estabelecidos na lei complementar

federal de que trata o referido artigo.

Em geral, teme-se pelas consequências sociais que possam advir da adoção

abrupta de um sistema de capitalização, visto que doravante será imediata e obrigatória, em

termos ainda não conhecidos, pois dependentes da futura Lei Complementar.

******

Como ainda não existe o regime de capitalização pura mencionado no art. 201-A da PEC 06/2019, não há

que se falar em regras de transição. Assim, altera-se o ADCT – Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, inserindo-se o art. 115:

Art. 115. O novo regime de previdência social de que tratam o art. 201-A e o § 6º do art. 40 da Constituição

será implementado alternativamente ao Regime Geral de Previdência Social e aos regimes próprios de

previdência social e adotará, dentre outras, as seguintes diretrizes:

I – capitalização em regime de contribuição definida, admitido o sistema de contas nocionais;

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II – garantia de piso básico, não inferior ao salário-mínimo para benefícios que substituam o salário de

contribuição ou o rendimento do trabalho, por meio de fundo solidário, organizado e financiado nos termos

estabelecidos na lei complementar de que trata o art. 201-A da Constituição;

III – gestão das reservas por entidades de previdência públicas e privadas, habilitadas por órgão regulador,

assegurada a ampla transparência dos fundos, o acompanhamento pelos segurados, beneficiários e

assistidos dos valores depositados e das reservas, e as informações das rentabilidades e dos encargos

administrativos;

IV – livre escolha, pelo trabalhador, da entidade ou da modalidade de gestão das reservas, assegurada a

portabilidade;

V – impenhorabilidade, exceto para pagamento de obrigações alimentares;

VI – impossibilidade de qualquer forma de uso compulsório dos recursos por parte de ente federativo; e

VII – possibilidade de contribuições patronais e do trabalhador, dos entes federativos e do servidor, vedada

a transferência de recursos públicos.

§1º A lei complementar de que trata o art. 201-A da Constituição definirá os segurados obrigatórios do novo

regime de previdência social de que trata o caput.

§2º O novo regime de previdência social, de que trata o caput, atenderá, na forma estabelecida na lei

complementar de que trata o art. 201-A da Constituição, a:

I – benefício programado de idade avançada;

II – benefícios não programados, garantidas as coberturas mínimas para:

maternidade;

incapacidade temporária ou permanente; e

morte do segurado; e

III – risco de longevidade do beneficiário.

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Pretendemos com este artigo refletir sobre aquilo que chamamos, à falta de uma

expressão melhor, de “pontos de ancoragem” da nova proposta de reforma do sistema

previdenciário-assistencial brasileiro.

Para tanto, enfocaremos quatro pontos que julgamos fundamentais para a

reflexão pretendida, a saber: a) Rompimento do Solidarismo Social; b) Esvaziamento da

Seguridade Social; c) Redução Drástica dos Valores dos Benefícios e, c) O Sistema de Gatilho

Instituído.

O primeiro ponto é o mestre e guia de toda a arqueologia apesentada pela PEC

n. 6/19. Trata-se da substituição, paulatina, do sistema de proteção social vigente desde as

Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), de corte bismarkiano, calcado na solidariedade

social, pelo sistema privado de capitalização individual, aos moldes das conhecidas cadernetas

de poupança. Este desiderato encontra-se no $ 6º do artigo 40 da CF: “A União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municipios instituirão para o regime próprio de previdência social o

sistema obrigatório de capitalização individual previsto no art. 201-A, no prazo e nos termos

que vierem a ser estabelecidos na lei complementar federal de que trata o referido artigo.”.

A ideia de que este “novo modelo”, para usar a expressão utilizada pelo

Ministro Paulo Guedes na exposição de motivos que acompanham o texto proposto (item 1, ao

final), é de fortalecimento da poupança nacional, apontando que este modelo, à exemplo dos

Estados Unidos (item 2, ao final), teríamos uma Constituição mais sintética e aprimorada.

Título

Os pontos (obscuros) de ancoragem da nova reforma previdenciária-assistencial

Autor Marco Aurélio Serau Junior (Doutor e Mestre em Direitos Humanos. Diretor Científico-Adjunto do IBDP. Professor da UFPR, Professor da Pós-Graduação em Direito Previdenciário da CERs e membro do Conselho Editorial de diversas revistas jurídicas.)

José Ricardo Caetano Costa (Doutor em Serviço Social pela PUCRS e Professor Adjunto da Universidade Federal de Rio Grande. Advogado Previdenciarista)

Disponível em http://www.previdenciatotal.com.br/integra.php?noticia=12867&fbclid=IwAR1mJMedOxjSJwNUvGuxEoimT1c2Eu8ZspRs2hhyxgQk84E6eijjEvrYErA

Data acesso 06/03/2019

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Devemos, inicialmente, indagar se a população brasileira, especialmente os

Deputados que a representam, pois são eles que irão apreciar inicialmente o modelo proposto,

compreendem o que significa esta mudança de paradigma. Não se trata meramente de um jogo

opositor entre solidarismo versus individualismo. Trata-se, isto sim, de avaliar a própria

viabilidade de um sistema que é gestionado pelas instituições bancárias e financeiras, hoje as

principais devedoras da Seguridade Social, em um pais de instabilidade institucional como o

Brasil, em que a garantia do emprego está mais próxima à ficção, em que o Estado não possui o

mínimo rigor na fiscalização e cobrança das obrigações empresariais e fiscais.

O segundo ponto nos reporta ao conceito de Seguridade Social constante na

CF/88, como um conjunto integrado de ações que envolvem todos os entes e a sociedade civil,

enquanto política pública redistributiva que abarca a Saúde, Previdência e Assistência Social.

Nesta perspectiva trazida pela PEC em comento, a Previdência perde sua condição de política

pública e social, passando a ser um mero sistema de poupança individual.

Esta novel sistemática encontra-se estampada claramente na redação dada ao

artigo 201-A, em que o “novo regime de previdência social” será “organizado com base em

sistema de capitalização, na modalidade de contribuição definida, de carácter obrigatório para

quem aderir, com a previsão de conta vinculada para cada trabalhador e de constituição de

reserva individual para pagamento do benefício.”

Insta indagar se os prefeitos, especialmente das cidades de pequeno e médio

portes, já se indagaram dos efeitos deletérios da perda dos benefícios provindos da previdência

e assistência social, que também será afetada diretamente, uma vez que em praticamente todos

estes municípios superam os aportes do FPM?

Nesta estruturação nova proposta, a Assistência Social passa à condição de

mera filantropia aos miseráveis, sem qualquer comunicação com o sistema previdenciário.

Aliás, é de se frisar que o processo de habilitação profissional restou extirpado do novo

sistema, atingindo diretamente os deficientes que dependem desse processo para a inserção no

mundo do trabalho.

Gostariamos de chamar a atenção para o terceiro ponto, no que respeita aos

valores dos benefícios. Isso porque a sistemática adotada pela PEC apresentada ao Congresso

Nacional reafirma o Fator Previdenciário (Lei n. 987/99), unindo-o aos sistemas de pontos

instituídos inicialmente pela Lei n. 13.183/15.

Façamos uma regressão histórica para entender o contexto destes dois

mecanismos, para melhor compreender sua utilização combinada.

O Fator Previdenciário foi criado em fins de 2009, pelo então presidente

Fernando Henrique Cardoso, como uma forma de revidar a não utilização da idade mínima

quando da edição da Emenda Constitucional n. 20/98. É uma metodologia às avezas em que o

cálculo das rendas punem aqueles que começam cedo a trabalhar, ou seja, notadamente os mais

pobres e vulneráveis. Perpassou por duas décadas, sendo amainado seus efeitos deletéritos pela

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Lei n. 13.183/15, promulgada ainda no Governo de Dilma Rousseff, que instituiu um

pontuação conhecida como Fórmula 85/95. Segundo esta metodologia, os homens teriam que

alcançar os 95 pontos e as mulheres os 85, não esquecendo que o mínimo de contribuição seria

35 e 30, respectivamente.

Com isso, mesmo diante do aumento gradativo da pontuação, que está

atualmente em 86/96 pontos, os segurados poderiam obter uma valor melhor quando da

aposentadoria, vez que não utiliza-se a alíquota do FP.

Com efeito, não há dúvidas que a Lei n. 13.183/15 foi uma forma de amainar

os efeitos drásticos da Lei n. 9876/99, tão criticada, tão atacada, mas até então não revogada.

Pois bem. A PEC proposta, diferentemente da PEC 287/16 intentada

anteriormente, solidifica e pereniza a metodologia do Fator Previdenciário, quando da

utilização das 80% das maiores contribuições, de julho de 1994 até o pedido do benefício,

agregando, ainda, em vários benefícios a pontuação trazida pela Lei n. 13.183/15, como

requisito à obtenção das aposentadorias.

Esta sistemática encontra-se desde a regra de transição do RGPS para quem já

está no sistema (35 anos contributivos para homem e 30 para mulher), mais 96 e 86 pontos

respectivamente para ambos. E não para por ai: o aumento gradativo leva esta pontuação para

100 pontos (mulher) e 105 pontos (homem), em 2023, em pontuação antes não cogitada.

O mesmo ocorre para os servidores públicos, nas aposentadorias especiais dos

deficientes e naquelas decorrentes do exercício de atividades nocivas à saúde (exceto todas as

atividades periculosas e penosas, não consideradas como nocivas).

Não pode passar desapercebido, por seu turno, que a renda destes benefícios

passam a ser de 60% da média aritmética simples, conforme a metodologia prevista no FP,

acrescido de minguados 2% por ano trabalhado que excedam os 20 anos. Há de se frisar que a

possiblidade da integralidade, para quem ingressou no serviço público antes de 31/12/03, torna-

se praticamente impossível pela inclusão de idade mínima (tal como na regra de transição que

exige no mínimo 60 anos para mulher e 65 anos para homem). Veja-se, neste exemplo, que a

idade mínima para o requerimento é de 56 e 61 anos, respectivamente. Essa sistemática é por

demais ardilosa e nociva: a servidora que possui os 56 anos pode se aposentar mas receberá, se

não tiver os 60 anos, pouco mais da metade de seu salário.

Por fim, gostaríamos de chamar a atenção no “gatilho” utilizado em

praticamente todos os benefícios previstos na PEC n. 6/19, inclusive nos assistenciais,

repetidamente assim exposto: “Lei complementar estabelecerá a forma como a pontuação

referida ... será ajustada após o término do período de majoração a que se refere o ...., quando o

aumento na expectativa de sobrevida da população brasileira atingir os sessenta e cinco anos de

idade.”

Com efeito, já temos suficientes estudos acumulados que nos permitem

relativizar este critério trazido pelas tabelas do IBGE. Seja no que respeita a especificidade da

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população (vulnerável) que utiliza e depende destas políticas públicas, seja pela própria

metodologia utilizada nestas aferições. Logo, se achamos absurdo retroagirmos a idade inicial

de 70 anos para pedido dos benefícios assistenciais, assim como o era quando da edição da Lei

n. 9872/93, essa idade pode ainda ser mais elevada futuramente.