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autores: Emilio Davi SampaioIris Genaro Borges

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LEITURA E CIDADANIA: FORMAO DO LEITOR PELA ESCOLA

LEITURA E CIDADANIA: FORMAO DO LEITOR PELA ESCOLAEmilio Davi Sampaio(Iris Genaro Borges

RESUMO: Desde a Antiguidade os livros so vistos pela sociedade como fonte de conhecimento, pois neles esto registradas todas as informaes obtidas no decorrer dos sculos. A leitura a chave para o acesso dessa fonte do saber, que possibilita o crescimento pessoal e profissional do bom leitor. Sendo assim, este artigo pretende discutir questes voltadas ao ensino, ao hbito e importncia social da leitura. Seu principal objetivo conhecer o processo de formao do leitor, os motivos que levam alunos a desistncia dessa atividade, e a diferena entre a leitura espontnea, feita pelo prazer e a movida pela necessidade de se aperfeioar no seu campo de trabalho. A leitura, por ser passada de gerao a gerao, est profundamente enraizada na sociedade moderna, por ser de carter transformador, aqueles que a buscam com empenho e interesse conseguem vrios benefcios, como o desenvolvimento das aptides intelectuais, conhecimento cultural, melhora na produo escrita, alm de transformar o indivduo em cidado crtico.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura, ensino, educao

ABSTRACT: Since ancient times books have been noticed by society as a source of knowledge, for in them, there have been registered all the information gotten throughout history. Reading is the key to access this source of Knowledge, what is responsible to the reader personal and professional growth. So, this article intends to discuss the questions on teaching, habits and reading social importance. Its mains objective is to know the reader formation process, the reasons that lead students to give it up and the difference between spontaneous reading, done for pleasure and the other triggered by necessity to enhance job activities. Reading, for being passed through generation to generation, is deeply rooted in themodern society. Reading has got a changing and challenging characteristic and those who dedicate seriously to it benefit themselves, getting intellectual and cultural development, enhancement in writing production, let alone the changes as critical citizenship.

KEY-WORDS: reading, teaching, education1.Estratgias e ensino da Leitura H muito um debate vem sendo travado em nossa sociedade, chamado Crise da leitura, pois no atual momento acredita-se que a leitura no tem mais espao reservado na vida das pessoas, principalmente na das crianas e jovens. Pode-se dizer que esse fato acontece pela falta de incentivo leitura, por parte da famlia e dos educadores, vtimas do mesmo sistema? Esta , sem dvida, uma das mais contundentes perguntas no momento. O progresso tecnolgico vem colocando as pessoas em um acelerado ritmo, pois v-se que as informaes e o conhecimento de hoje no sero suficientes amanh e a leitura passa de privilgio para obrigao. O que ocorre que a grande massa da populao no tem acesso aos livros, literrios ou no, e isso faz com que a leitura seja um privilgio de poucos.

A leitura uma ponte entre o conhecimento sistematizado e o mundo real. O livro, por ser a fonte de conhecimento, um instrumento de combate ignorncia e alienao, pois atravs dos textos os homens expem os visveis problemas sociais, enfrentados por seus semelhantes no dia-a-dia.

importante observar que a leitura pode, muitas vezes, estar sujeita s regras e convenincias sociais, que visam o domnio de uma classe social sobre outra, usando o analfabetismo funcional como uma arma opressora.

O analfabetismo funcional refere-se s pessoas que so alfabetizadas, sabem ler e escrever, porm esse conhecimento se resume em leitura cotidiana, como por exemplo, para se localizar com os nomes de ruas, nibus, lojas, supermercado, e leitura de textos curtos e simples. O conhecimento dessas pessoas, neste caso, superficial, pois no conseguem buscar, em texto de nvel mdio, um significado mais profundo. Foucambert (1994, p.118) caracteriza o analfabetismo e o iletrismo da seguinte forma:

O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de compreender ou de produzir uma mensagem escrita simples [...] O analfabetismo funcional refere-se mesma impossibilidade, porm envolve pessoas com vrios anos de escolaridade que dominaram essas tcnicas de correspondncias grafo-fontica num certo perodo de sua vida, mas que perderam esse domnio por falta de uso e de exerccios com elas. [...] O iletrismo se caracteriza pelo afastamento em relao s redes de comunicao escrita, pela falta de familiaridade com livros e jornais, pela excluso do indivduo das preocupaes e respostas contidas na elaborao da coisa escrita.

Neste contexto, o analfabetismo funcional visto como parte do iletrismo, ou melhor, como resultado do mesmo. Ao deixar a leitura de aprofundamento para trs o leitor passa apenas a fazer uma leitura superficial e desinteressante, pois no se envolve com o texto buscando mais compreenso e conhecimento. A leitura acompanha o poder, pois ela transforma o leitor, e ele o mundo a sua volta, atravs da busca pelo conhecimento, e sua aplicao traz somente benefcios para os seres envolvidos. Foucambert (1994, p.121) afirma que: A defasagem entre leitores e no-leitores reproduz a diviso social entre o poder e a excluso, entre as classes dominantes e os que so apenas executores. Na busca pelo poder aquisitivo, o homem precisa se aperfeioar cada vez mais na sua rea de trabalho e o maior e mais eficaz meio de consegui-lo a leitura.

Apesar de ser muito importante para a sociedade, o ensino da leitura vem sendo trabalhado de forma casual, formando analfabetos funcionais. Segundo Silva e Zilberman (1998, p.79): [...] a escola no est vencendo o desafio de alfabetizar funcionalmente a parcela da populao que consegue chegar a ela. [...] embora se tenha conseguido nos ltimos anos um aumento substancial na taxa de escolarizao, a escolarizao por si s no est dando uma contribuio decisiva soluo do problema.

A melhor soluo para o problema , para Silva e Zilberman (1998, p.81) [...] a maneira de aprender a ler funcionalmente ler. Isto , manter o aluno dentro e fora da sala de aula em contato com a leitura. Isso no quer dizer que seja a realizao de uma leitura didtica e obrigatria, mas uma leitura interessante e envolvente, que desperte o prazer do aluno pela leitura.

O bom leitor aquele que relaciona o contedo do texto com a realidade que o cerca, fazendo crticas, concordando ou discordando de idias e opinies, elaborando hipteses e questionando seu meio social. Segundo Silva (1995, p.47) [...] a leitura enriquece ou empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve para alienar as aes relacionadas com a formao de leitores. Sendo assim, o livro pode ou no abrir novos horizontes ao bom leitor.

As crianas, ao serem alfabetizadas, reproduzem o som que ouvem para escrever, ou seja, escrevem da forma como ouvem. Quanto maior seu contato com materiais escritos, maior sua bagagem de conhecimento. Ler histrias, fazer bilhetes e anotaes, d s crianas o incentivo que elas precisam para ler qualquer coisa escrita, como por exemplo: livros, jornais, anncios. Ao serem alfabetizadas, fundamental que explorem o universo de significados contidos nos textos. Sol (1998, p.60) afirma que:

As crianas s podem aprender porque as correspondncias entre o som e a letra lhe so transmitidas [...] a criana pode se beneficiar tanto do contexto de uma frase conhecida para descobrir o significado de uma palavra nova inserida na mesma, como de uma experincia em correspondncia.

Cabe ao professor oferecer aos alunos amplas perspectivas, estratgias e caminhos, para que eles possam entrar em contato com o sistema da lngua escrita e seus significados, e tambm com variados textos.

O professor deve permitir que os alunos planejem a prpria leitura, e sempre pedir que comentem os textos lidos, de forma que possam controlar suas leituras, indicando um caminho de motivaes e objetivos. Deve deixar que os alunos julguem a parte mais importante no texto lido. Os educadores devem compartilhar os mais amplos e complexos significados que compem o texto, exercendo o papel de guia. Segundo Sol (1998, p.75) o educador: [...] deve garantir o elo entre a construo que o aluno pretende realizar e as construes socialmente estabelecidas.. Ao servir de guia, os professores permitem que os alunos construam e assumam a responsabilidade do prprio desenvolvimento.

Parafraseando Sol (1998), o melhor meio de fazer com que os alunos assumam a responsabilidade do prprio desenvolvimento o professor dividir o ensino em trs etapas: Na primeira etapa os professores so os modelos, esses modelos permitem aos alunos compreenderem os textos, os exemplos, hipteses e mecanismos que os compem, expondo aos alunos os procedimentos utilizados na compreenso textual. Na segunda etapa, comea a participao do aluno, embora dirigida pelo professor, que formula perguntas, sugere hipteses e transmite as prprias opinies e concluses. Aos poucos, o professor vai transferindo a responsabilidade de compreender o texto para os alunos, incentivando-os a seguirem em frente com as prprias idias, opinies e concluses sobre o texto discutido.

J na terceira etapa, os alunos passam a realizar sozinhos, as tarefas que antes eram orientadas pelo professor. Eles buscam exemplos que confirmam ou negam suas idias, pensamento e concluses a respeito do tema. Mas o mtodo mais usado no ensino de leitura o mtodo direto ou ensino direto, em que ele explica e desenvolve o exerccio em questo, sendo totalmente encarregado do ensino, no permitindo que os alunos busquem a leitura para a compreenso e interpretao.

Para ensinar os alunos a compreender o texto, o professor deve reconhecer os objetivos do ensino da leitura e ser capaz de expor aos alunos. O ensino construdo em cima de livros de texto, realizado em grupos, grandes ou pequenos. O professor que est bem preparado deve ser capaz de prever e compreender o aluno, apontando, corrigindo e explicando os erros e as dvidas dos alunos.

Existem discusses sobre a eficcia desse mtodo, porm esse modo de ensino um dos mtodos que mais se preocupa com a necessidade de ensinar os alunos a ler. Pois, na sala de aula o aluno passivo, ele simplesmente responde ao entusiasmo do professor, fazendo o que ele pede, ou seja, o aluno s corresponde ao mtodo direto se o professor dirigir o ensino diretamente a ele. Assim, o modelo proposto se torna recproco, o aluno passa a assumir um papel ativo dentro do ensino, onde formula perguntas, esclarece dvidas e resume o texto, depois expe suas dvidas e concluses ao grupo, assim, um ajuda o outro, trocando opinies. Para Silva (1995, p.103): [...] o ensino da leitura significa estabelecer as funes que ela deve cumprir na escola e na sociedade [...] nenhum tipo de ensino politicamente neutro.

As diferenas sociais esto presentes nas escolas, influenciando, com sua varivel histria de vida, a leitura e sua interpretao, pois um texto sempre est relacionado a um contexto e a leitura, quando crtica, remete o leitor a um mundo de percepes, conhecimentos e anlises. Fica ao encargo do professor partilhar experincias de mundo com os alunos, incluindo toda a bagagem de conhecimento adquirida no decorrer dos anos.

Segundo Kleiman (2002, p.30):

[...] o contexto escolar no favorece a delineao de objetivos especficos em relao a essa atividade. Nele a atividade de leitura difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cpias, resumos, anlise sinttica, e outras tarefas do ensino da lngua. Assim, encontramos o paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante perfeitamente capaz de planejar as aes que o levaro a um objetivo pr-determinado (por exemplo, elogiar algum para conseguir um favor) quando se trata de leitura, de interao distncia atravs do texto, na maioria das vezes esse estudante comea a ler sem ter idia de onde quer chegar, e, portanto, a questo de como ir chegar l... nem sequer supe.

Especialistas em leitura afirmam que no h processo de compreenso e sim processos de leitura e que estes processos de leitura so tantos quantos forem os objetivos e as motivaes do leitor. Afirmam tambm que a forma e o tipo de texto determinam os objetivos da leitura. a partir dos objetivos da leitura que se permite ao aluno controlar e regular o prprio conhecimento, esse processo chamado estratgia metacognitiva.

Por controlar o prprio conhecimento o aluno s aprende o que lhe interessa, Kleiman (2002, p.35) afirma que [...] a leitura desmotivada no conduz aprendizagem., pois o texto lido apenas como atividade mecnica esquecido rapidamente, atravs do texto que o educador passa ao aluno, que ele vai estabelecer e desenvolver suas estratgias metacognitivas, ou seja, se o texto tratar de um tema que de interesse do aluno, este procura aprofundar seu conhecimento porque estar fazendo algo prazeroso.

Os objetivos que motivam o aluno a ler e compreender o texto trazem outra situao: a formulao de hipteses, pois o aluno ter dvidas e elaborar hipteses sobre o assunto e a estrutura do texto, de forma que consegue alcanar novos horizontes, visando os amplos significados presentes no texto. Assim, sempre estar construindo novos conhecimentos para ele e para sua vida em sociedade.

2.O hbito como fator motivador da leituraCabe ao educador desenvolver nos alunos o interesse e o hbito pela leitura, adotando obras de fico e no fico no decorrer do ano letivo, de uma forma que eles possam ver a ligao de um assunto com outro, mostrando algo do interesse comum deles, pois o maior contato com os livros vem da escola. Para manter aceso o hbito da leitura, segundo Bamberger (2002, p.20):

[...] precisamos ir alm das necessidades e interesses das vrias fases de desenvolvimento e motivar a criana a ir ajustando o contedo de suas leituras medida que suas necessidades intelectuais e condies ambientais forem mudando. preciso fazer da leitura um hbito determinado por motivos permanentes, e no por inclinaes mutveis.

Para que haja entusiasmo por parte dos alunos, o professor tambm precisa ser um leitor entusiasta, possuir conhecimento de vrias opes de leitura e ter um bom relacionamento com os alunos, de forma que possa orient-los pelo mgico caminho da leitura.

Estudos realizados com jovens leitores vm mostrando que muitas crianas no leem por terem dificuldade de saber ler, de compreender e de analisar textos. J os alunos que gostam dessa atividade tm maior concentrao e assimilam com maior rapidez o contedo. O fato de ler mal leva o aluno a buscar outro passatempo, perdendo o interesse pela educao. E cabe ao professor motivar esse aluno a ler. Bamberger (2002, p.31), sobre isso aponta o seguinte: [...] o que leva o jovem leitor a ler no o reconhecimento da importncia da leitura, e sim vrias motivaes e interesses que correspondem sua personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual.

Pesquisas vm concluindo que so as motivaes que levam as crianas a praticarem o hbito de leitura. O ato de ler, por sua vez, impulsiona as aptides intelectuais, como o pensamento e a fantasia, a expanso do eu, o prazer de encontrar um mundo de fantasias e descobrir coisas novas e praticar uma habilidade recm adquirida.

Os pais tambm devem incentivar nas crianas o hbito de ler. Como? Lendo em voz alta, contando histrias e mostrando figuras a elas, criando, dessa maneira, um ambiente que as conduzem ao interesse pela leitura. preciso incentivar e acompanhar suas leituras, evitando a leitura mecnica, muito comum nas escolas, onde os professores fazem da leitura um exerccio, uma atividade, obrigando seus alunos a ler. Muitos professores mandam cada criana ler um pargrafo e corrigem cada letra pronunciada errada. Essa atitude no melhora em nada o processo de aquisio do hbito de ler.

Outro fator que leva alunos desistncia da leitura , segundo Silva (1995, p.105), [...] o vendaval de apostilas, que geralmente retalha a totalidade de uma ou mais obras e afasta os alunos das bibliotecas, pois a leitura do aluno estar monitorada e sua importncia ser apenas o nmero de livros lidos, desviando sua ateno do objetivo mais importante no ensino da leitura: a compreenso crtica.

Porm, para alcanar esse objetivo os pais e professores devem dar exemplos s crianas. No incio da alfabetizao devem incentivar as crianas a ler pequenos livros com vrios desenhos e grandes letras, pois, segundo Bamberger (2002, p.50): A criana entra em contato com a linguagem das gravuras antes da linguagem das letras. Uma vez que ela j aprendeu a entender o significado das figuras, necessrio que o material de leitura inicial as contenha em grande nmero. Se a narrativa contm vrias figuras e pequenas frases as crianas compreendero o texto com maior facilidade.

Conforme o desenvolvimento das crianas, a configurao do livro muda seus espaamentos, gravuras e as letras diminuem. importante que um adulto esteja acompanhando a leitura das crianas, fazendo-os debater suas opinies e idias sobre o assunto lido.

Com o amadurecimento do leitor seu gosto pela leitura transforma-se. Bamberger (2002, p.35), diz que As motivaes para a leitura e os interesses por ela diferem no s para os vrios grupos de idade, mas tambm para cada tipo particular de leitor.. O autor afirma que o gosto pela leitura e seu gnero influenciado pela idade, meio social e interesse pessoal. O interesse pessoal pode variar entre quatro tipos de leitura: informativa, escapista, literria e cognitiva. Tambm aumenta a exigncia pela leitura independente, proporcionando melhora na habilidade de leitura, de forma que, progressivamente, os alunos se familiarizem com a literatura e venham a adquirir o hbito de ler e tambm possam utilizar essa habilidade para conseguir acesso a novos contedos.

Nesse sentido, cabe aos professores introduzirem a leitura aos alunos para que estes venham a praticar o ato de ler com prazer. Os educadores devem dar a eles chance de entrar em contato com uma diversidade de textos e deix-los captar as primeiras emoes e ideias do texto. Para esse tipo de exerccio as bibliotecas escolares e pblicas se tornam importantes, pois elas possuem variados gneros literrios que os alunos precisam para satisfazerem seus interesses pessoais.

importante que os alunos se sintam vontade entre os livros e aps a leitura cabe aos educadores estimul-los a compartilhar as emoes e ideias que a leitura lhes despertou. Se a leitura envolve compreenso, o leitor se aproxima do mundo significativo do autor, que lhe oferece novas perspectivas e opinies. A leitura contribui para a cultura do indivduo, seja a leitura realizada por obrigao ou por interesse pessoal.

Na leitura feita com o intuito de buscar conhecimento o importante a experincia emocional e os critrios elaborados com o objetivo de analisar e criticar a obra lida, no importando se o leitor esteja ou no lendo por obrigao ou prazer. Quando se l para aprender o aluno passa a se interrogar sobre o assunto em questo, estabelecendo relaes com o que sabia e as informaes recm adquiridas, faz anotaes e procura tirar dvidas, levando-o, assim, a outros significados no presentes no texto.

Outro beneficio que a leitura traz referente a escrita, quanto mais se l, melhor se escreve, pois o aluno adquire base para apoiar suas idias e desenvolv-las, tambm a leitura dos prprios escritos faz com que os alunos se tornem crticos. O erro na redao leva-os a escreverem com maior perfeio, juntando o conhecimento antigo e o adquirido com a nova leitura.

3.A biblioteca: um espao necessrioAs bibliotecas tm sido, desde a Antiguidade, um local reservado a intelectualidade, o centro do conhecimento humano. Elas funcionam como guardis do saber, onde o ser humano busca conhecimento e informao. Milanesi (1983, p.22) afirma que:

A informao tornou-se um bem acumulvel e valorvel. Um homem informado vale por dois. Saber e poder passaram a ter uma trajetria claramente paralela. Do profissional especializado ao cidado comum, a necessidade de informar-se caracterizou-se como algo prioritrio. A biblioteca passou a ser o territrio mais adequado a esse exerccio determinado pelas transformaes sociais: o desenvolvimento industrial, a competio acirrada em todos os setores, notadamente no cientfico-tecnolgico (em particular durante as guerras). A partir disso, a informao foi vista como um elemento estratgico para a segurana e o desenvolvimento.

No Brasil colnia, os livros que vinham de Portugal tinham duas funes definidas: religiosa e educativa, e todos eram passados por censuras. Segundo Milanesi (1983, p.26) Os portugueses foram sempre rigorosos com a publicao e circulao de impressos. Desde 1533, qualquer impresso de livro passava por trs censuras: Santo Ofcio e Ordinrio (da Igreja Catlica) e o Desembargo do Pao (poder civil). Por ser proibida a impresso de livros no Brasil, eles eram importados e a maioria pertencia aos conventos.

Para Milanesi (1983, p.28): [...] a maior transformao que a Colnia sofreu foi a vinda de D. Joo VI em 1808. Pois o rei trouxe de Portugal sua biblioteca com 60 mil volumes e a tipografia, que comea a funcionar, mesmo sob a vigilncia da censura.

Aps a independncia, aconteceram algumas importantes mudanas, como a fundao de jornais, livros, folhetos, escolas, divulgaes de novas idias, principalmente na literatura, alm da criao de novas bibliotecas pblicas. Infelizmente, o nvel de analfabetos no Brasil era enorme, como diz Milanesi (1983, p.31): No comeo do sculo XX, o ndice de alfabetizados no chegava a 30%., e como a populao no podia acompanhar o desenvolvimento da imprensa, vrias atividades ligadas leitura no sobreviveram.

Com o surgimento do rdio e da televiso, por volta de 1920, a populao se afasta ainda mais das publicaes escritas, pois para assistir televiso e ouvir rdio no precisa de concentrao ou habilidade de leitura. Com os novos meios de comunicao, a funo do livro sofreu uma alterao, Milanesi (1983, p. 35), afirma que:

[...] a prpria funo do livro mudou: de lazer e instruo ele passou a instrumento quase exclusivo para os trabalhos escolares, as chamadas pesquisas, uma atividade meramente prtica, rotineira. A funo do prazer diminuiu, bem como o papel, a ideia do apostlico ligada leitura.

Com isso, vrias mudanas acontecem e as bibliotecas deixam de exercer a funo de aprimorar e estimular a vida cultural dos cidados para acompanharem a nova funo do livro, transformando-se em um ambiente de pesquisa e estudo.

O aluno que tinha condio social mdia mantinha esses livros para pesquisa em casa, ento deixava de freqentar a biblioteca, que passa a prestar servio a alunos carentes. As bibliotecas pblicas so responsabilidade do municpio a qual pertence, e o acervo, em vrios casos, reflete a falta de interesse pela leitura, acompanhando somente as publicaes de pesquisas e obras de cunho comercial. Milanesi (1983, p.63), acrescenta: Biblioteca pblica sinnimo de museu de livros por mostrar coleo morta. Este o mal das bibliotecas, tanto as municipais quanto as das escolas pblicas, pois elas se esqueceram de sua outra funo, especificamente, as pblicas. Milanesi (1983, p.92) aponta que: As bibliotecas, passando a atender aos estudantes em estado de pesquisa, deixou de lado esse papel bsico: prestao de servios coletividade no mbito do interesse geral.

Atualmente, percebe-se que esta realidade ainda permanece em grande parte do pas. O mal das bibliotecas tem incio nas escolas, que no tem biblioteca, e quando tem ineficiente. Os alunos comeam a ter averso pela leitura desde os anos iniciais, quando, a eles so impostas tarefas e obrigaes maantes e desinteressantes, ento uma vez adquirida essa averso, ela o acompanhar por toda a vida. Essa problemtica faz parte de um crculo vicioso, onde o desprezo pela leitura passa, como uma herana, de gerao a gerao. Observa-se que os alunos no se sentem vontade em uma biblioteca, cercados pelo silncio e pelos livros, normalmente os poucos existentes.

Consideraes finaisA importncia da leitura no se limita apenas em um prazeroso ato e nos estudos, ela vai alm, pois sua presena est em todos os lugares, principalmente nas escolas, bibliotecas, empregos e centros urbanos, at mesmo para localizao de algo como uma rua, um restaurante.

No Brasil, a leitura d os primeiros passos com a vinda da Famlia Real que foge de Napoleo e da guerra na Europa. Ao se instalar no Rio de Janeiro ordena a construo de escolas e uma tipografia. Lentamente a leitura vai se popularizando, o comrcio de livros cresce muito, porm a populao letrada pequena.

A leitura atinge o auge no sculo XX quando livros e bibliotecas eram encontrados em vrios os lugares. Mesmo com toda a produo, discusso e divulgao da leitura, ela no atingiu a massa brasileira, pois muitos no freqentavam escolas. Ento, surgem o rdio e a televiso, que, por sua simplicidade em ver e ouvir afasta a grande populao do ato de ler.

Pode-se dizer, referindo-se a leitura prazerosa, que a sociedade pouco l. As escolas ainda trabalham a leitura de forma mecnica, contribuindo para a formao de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas capazes de ler, mas com dificuldade para compreender.

Constata-se que o Brasil ainda no amadureceu no processo de formao de leitores. Falta hbito, incentivo e bibliotecas. Fato compreendido quando se busca o contexto histrico da alfabetizao do pas. Sendo fcil compreender o motivo da Crise de leitura. Por sermos vtimas de uma sociedade que despreza a leitura prazerosa pode-se dizer que a leitura tornou-se, de privilgio uma obrigao, pois o ato de ler exercido somente pela procura em crescer socialmente.

Para mudar esse fato preciso, portanto, que todos, desde a escola, a famlia e a comunidade em geral se lancem juntos num projeto que possam formar novos e bons leitores. Com certeza assim sendo, teremos uma sociedade diferente, pautada nos valores humanos que a leitura pode oferecer.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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Graduada em letras pela UEMS.