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Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade Doc. CNBB 105

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Cristãos leigos e leigas na Igreja e na

sociedadeDoc. CNBB 105

MARCO HISTÓRICO-ECLESIAL DOS LEIGOS E LEIGAS

• Vamos celebrar 50 anos de encerramento do Vaticano II.

• Também é oportuno celebrar os 25 anos da Christifideles Laici, que

entende o significado positivo dos leigos como Povo de Deus: sujeitos

ativos na Igreja e no mundo.

• Devemos acrescentar também o Documento 62 que completa 15 anos e

oferece à Igreja discernimentos e orientações sobre o laicato na chave

da teologia e da organização dos ministérios.

O MUNDO NA IGREJA E A IGREJA NO MUNDO

• O mundo mostra hoje os frutos dessa época. Tudo está

planetariamente conectado e somos todos cada vez mais iguais. O

indivíduo é o centro de todas as relações e fechado em si mesmo.

• A Igreja está inserida nessa realidade como sinal de salvação no

mundo e servidora da humanidade. O leigo nem sempre acolhe seu

significado teológico e prático. A dicotomia Igreja-mundo persiste.

• O Vaticano II ofereceu orientações para superar essa dicotomia. O

aggiornamento possibilitou uma nova compreensão da relação Igreja

mundo. O leigo é sujeito eclesial que realiza o tríplice múnus de

Cristo. Promover a interação dessas realidades constitui o desafio.

POVO DE DEUS EM MISSÃO: DIÁLOGO E SERVIÇO

• A leitura da realidade, a partir da fé, é um legado do Concílio. A Igreja

permanece sempre atual, não obstante as mudanças históricas.

• A missão se faz no diálogo com as realidades em que a Igreja está inserida.

É uma postura que exige conversão dos cristãos em cada tempo e

realidade. Ser discípulo é estar em saída de si mesmo na busca do outro,

• Todos são chamados a vivenciar esse encontro e comunicá-lo por gestos e

palavras. Jesus envia a todos pela força do Espírito.

• Como Igreja, o laicato está em saída para a missão. O leigo em saída é a

Igreja referenciada pelo Reino e direcionada para o mundo;

O CRISTÃO LEIGO NUMA IGREJA “EM SAÍDA”

• O sujeito eclesial se define pela consciência de ser, pela experiência

de autonomia e corresponsabilidade na comunidade de fé e pela

ação na Igreja e no mundo. A condição de sujeito eclesial se opõe ao

individualismo e aos comunitarismos.

• Os leigos vivem inseridos na construção da vida social. A busca do

mundo novo é o horizonte onde a comunhão com Deus nos atrai.

• A Igreja vive um clima de renovação. O Papa convoca os leigos

para a consciência de sua pertença eclesial e de sua missão. A

Igreja ainda não vive essa realidade pelo clericalismo e pela falta

de consciência do próprio laicato.

PERSPECTIVA DO DOCUMENTO: CRISTÃO LEIGO COMO SUJEITO

ECLESIAL

• O presente documento pretende animar leigos e

leigas a se compreenderem e atuarem como sujeitos

eclesiais nas diversas realidades em que se

encontram inseridos. Dá especial ênfase a uma

necessária superação do clericalismo, do

individualismo e do comunitarismo.

A INSERÇÃO E O DISCERNIMENTO DOS CRISTÃOS NO MUNDO

• O mundo é o lugar da ação do cristão. A negação dessa realidade

constitui alienação e fuga da condição de discípulos

missionários. O ser humano é mundo. Nosso vínculo ao Deus

encarnado, se faz com tudo o que somos no mundo e com o mundo.

• Entender o mundo exige o olhar da fé e da razão. Devemos saber

ler o que é favor ou contra o projeto de Deus. A Igreja deve

perscrutar os sinais dos tempos para responder às interrogações .

• O cristão é chamado a viver como sujeito no mundo de forma

consciente, autônoma e ativa. A Igreja é carisma que vem do

Espírito e se concretiza na organização de sujeitos e funções.

O MUNDO GLOBALIZADO

• Vivemos no mundo definitivamente globalizado. Trata-se

de um sistema estruturado a partir de algumas bases

fundamentais:

• As tecnologias

• A organização financeira

• O sistema social

• A cidade

• A cultura urbana

• A sociedade da informação

CONSEQUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS DO MUNDO GLOBALIZADO

• O comportamento uniformizador, autoritário e, em muitos casos,

sectário configura comunidades isoladas que podem ser mais

adequadamente definidas como comunitarismo.

• A re-institucionalização constitui uma via de afirmação de padrões e

valores como garantia de segurança.

• Essas tendências podem conviver e, até mesmo se fazer presentes

simultaneamente – e contraditoriamente – em indivíduos e grupos.

• A pluralidade é outra característica do mundo atual e se torna uma

realidade cada vez mais vivenciada em todas as esferas das relações

humanas e presente nos valores, nas convicções e práticas.

UMA IGREJA “EM SAÍDA”

• A Igreja é chamada a ser sacramento do amor e da

salvação de Deus, peregrina na história, como povo de

Deus.

• A Igreja deve estar voltada às alegrias e esperanças,

tristezas e angústias da humanidade.

• Portanto, a Igreja não é um clube de eleitos nem uma

alfândega controladora da graça de Deus. Há, no núcleo

da noção de Igreja, uma abertura radical que se estende

a todos os povos da terra.

UMA IGREJA “EM SAÍDA”• Somente assumindo uma atitude de abertura das portas é possível fazer

o movimento de saída em direção a todos. Cristo é o centro e a Igreja

está a seu serviço. O modelo que se impõe é ser uma Igreja em saída, em

direção a todas as periferias.

• A Igreja em saída é uma Igreja de discípulos missionários, onde a

comunidade missionária entra na vida diária de quem necessita,

encurta as distâncias, abaixa-se e assume a vida humana, tocando na

carne sofredora de Cristo no povo.

• Como sair da própria comodidade e empreender uma novidade

evangélica e expansiva? É a pergunta que cada comunidade, cada

clérigo, cada cristão leigo e leiga poderia se fazer.

ALGUNS DISCERNIMENTOS NECESSÁRIOS

• A Igreja é chamada a ser:

• Escola de vivência cristã

• Organização comunitária

• Comunidade inserida

• Grupo de seguidores

• Povo de Deus

• Comunidade que se abre

• A Igreja caminha para frente com lucidez e esperança, paciência e

caridade, coragem e humildade. A Igreja da escuta, do diálogo e do

encontro se insere no mundo como quem ensina e aprende, diz sim e não,

sobretudo como quem serve.

• A Igreja em saída é uma Igreja de portas abertas.

 O CRISTÃO COMO SUJEITO• A noção de sujeito remete à noção de criatura, distinta do Criador,

chamada a dialogar com Ele e eticamente responsável pelo destino

de si e da história;

• Isso exige o equilíbrio entre o eu e o outro. Cada cristão é um

portador de qualidades vivenciadas na vida comum e cresce na

medida em que assume essa condição social.

• O leigo é o cristão maduro na fé, que se dispôs a seguir Jesus com

todas as consequências dessa escolha superando o infantilismo

eclesial.

• O sujeito cristão se realiza como pessoa na comunidade cristã. A

pessoa é uma unidade de consciência e de relação, cujo modelo é a

própria pessoa de Jesus Cristo.

SABOREAR A AMIZADE E A MENSAGEM DE JESUS

• O encontro com Jesus leva a uma espiritualidade integral que

contempla a conversão pessoal, o discipulado, a experiência

comunitária, a formação bíblico-telógica e o compromisso missionário.

• O amor que se mostra na imagem comunitária da Trindade e

desdobra-se na missão histórico-salvífica de Deus, da qual a Igreja

participa como sacramento. A missão da Igreja é motivada pela

reintegração da humanidade em uma vida plena de amor.

• Em virtude do batismo, todos os cristãos são chamados a viver e a

transmitir a comunhão com a Trindade.

• Deus uno e trino é a fonte e o modelo da vivência comunitária.

AS TENDÊNCIAS ECLESIAIS

• gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde a pessoa fica

enclausurada na imanência de sua própria razão ou sentimentos;

• neo-pelagianismo auto-referencial e prometeico de quem, no fundo, só

confia nas suas próprias forças.

• O clericalismo é a versão religiosa da afirmação do princípio da

autoridade exercida pela instituição como o meio de organização de

toda a vida social.

• comunitarismo que afirma a obediência à norma como regra de

comportamento.

O SACERDÓCIO COMUM E A MISSÃO SOLIDÁRIA DOS CRISTÃOS

• O sacerdócio comum foi retomado no Concílio: Este Povo messiânico

tem por cabeça Cristo. É sua condição deste a dignidade e a liberdade

dos filhos de Deus, em cujos corações o Espírito habita. A sua lei é o

novo mandamento e tem por fim o Reino de Deus. Por isso é que este

Povo é para todo o gênero humano germe de unidade, de esperança e

de salvação. Estabelecido por Cristo como comunhão de vida, é

também por Ele como instrumento de redenção e enviado a toda a

parte.

• A Igreja é o povo enviado ao mundo em missão para construir o Reino

de Deus. O ministério ordenado deve ser serviço ao sacerdócio comum.

Todos os cristãos participam do sacerdócio de Cristo, são chamados a

entregar suas vidas a um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

O SACERDÓCIO COMUM E A MISSÃO SOLIDÁRIA DOS CRISTÃOS

• Os batizados são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo

para que ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas, santas, agradáveis a

Deus, deem testemunho de Cristo e àqueles que lhe pedirem deem razão da

esperança da vida eterna que neles habita.

• O sacrifício único de Cristo é incompreensível sem a ressurreição. Cruz

ressurreição revelam a lógica profunda da existência que não é sacrifício,

mas amor.

• A cruz de Jesus foi consequência do seu amor pelos outros, pelos desprezados.

A vida do cristão é sacerdotal, encarnado na autodoação salvífica de Jesus. 

• O sacerdócio ministerial está a do desenvolvimento da graça batismal de

todos os cristãos.

A IGREJA NA SOCIEDADE• O significado da relação Igreja e mundo vem do Reino, que diz respeito ao

plano de Deus para a criação e tem sua realização no próprio Deus. A

Igreja é sinal visível do Reino. O mundo carrega sinais do Reino. A busca do

Reino é missão de todos.

• A Igreja é chamada a ser promotora do Reino. Dessa convicção ela se nutre

e nessa direção se organiza. A Igreja centrada em si anuncia a si mesma,

entende seus ministérios como poder e de fecha-se em relação ao mundo.

• O mundo é caracterizado por um pluralismo onde todos são chamados a

dar testemunho da fé e reconhecer a liberdade do outro para expressar suas

convicções religiosas. O leigo exerce também um ministério do diálogo e da

reconciliação.

A AÇÃO DOS CRISTÃOS LEIGOS: “SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO E FERMENTO NA MASSA”

• As imagens evangélicas do sal, da luz e do fermento são aplicadas

aos leigos. Falam da novidade e originalidade de uma inserção e

de uma participação destinadas à difusão do Evangelho que salva.

• O ser laical da Igreja se expressa ao impregnar e penetrar as

realidades temporais com o espírito cristão e ao testemunhar

Cristo em todas as circunstâncias, no interior da comunidade

humana. Os leigos deverão levedar a totalidade e integridade das

estruturas de convivência humana, inculturando a fé, sendo

animadores e promotores do diálogo social como contribuição

para a paz

A AÇÃO DOS CRISTÃOS LEIGOS: “SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO E FERMENTO NA MASSA”

• A cada tempo histórico, surgem campos prioritários da ação dos leigos e

leigas. Na América Latina e no Brasil vários documentos aprofundaram

a presença dos leigos e leigas nesses campos conforme nossa realidade.

• Portanto, é função própria do cristão leigo ser Igreja na sociedade civil e

nos espaços públicos.

• A Pastoral Familiar é espaço privilegiado para conscientizar sobre a

vocação matrimonial e suas exigências. Há leigos que optam pela vida

consagrada.

• Com tudo isto, surge um desafio: a formação dos leigos e a evangelização

das categorias profissionais e intelectuais.

CRITÉRIOS GERAIS• O Papa Francisco sugere alguns critérios:

• A ação evangelizadora inclui sempre a Igreja, a sociedade e cada

sujeito individual como força renovadora e razão de ser da ação de

todo Povo de Deus

• A ação é sempre discernimento das realidades concretas

• A ação é preferível à estabilidade e à estagnação

• A ação tem um foco concreto: a opção pelos pobres

• O diálogo com o mundo social, cultural, religioso e ecumênico deve

promover a cultura do encontro e a inclusão do outro na vivência da

fraternidade

• A ação deve considerar a primazia do humano.

CRITÉRIOS ESPECÍFICOS• O Papa enumera também quatro princípios específicos para a construção de um

povo de paz, justiça e fraternidade:

• 1º. O tempo é superior ao espaço. Trata-se de privilegiar as ações que geram

novos dinamismos e comprometem pessoas e grupos que os desenvolverão até

frutificar em acontecimentos;

• 2º. A unidade prevalece sobre os conflitos. A unidade é um princípio superior

que norteia a ação e gera caminhos de superação e de comunhão maior, capaz

de agregar diferenças;

• 3º. A realidade é mais importante que as ideias. A realidade é o lugar da

encarnação da Palavra de Deus no decorrer da história de ontem e de hoje;

• 4º. O todo é superior à parte. O global e o local estão, mais do que nunca, em

tensão em nossos dias.

PRINCÍPIOS E DIREÇÕES

• São princípios da formação: a relação Igreja-mundo-Reino, a dimensão

comunitária, a opção pelos pobres, respeito às questões de gênero, a

relação teoria e prática, a inculturação, a pedagogia libertadora e

participativa, a progressividade e avaliação. A formação deve ser:

• integral

• fundamentada na Palavra de Deus

• missionária e inculturada

• articuladora

• prática

• específica

• permanente e atualizada

• planejada