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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DEBATER E AVALIAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS
EM PROL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO ESTADO DE MATO GROSSO,
REALIZADA NO DIA 13 DE JULHO DE 2015, ÀS 15H.
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ATA Nº 44
PRESIDENTE – GUILHERME MALUF
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Senhoras e senhores, boa tarde.
Invocando a proteção de Deus, em nome do povo mato-grossense, declaro aberta
esta Audiência Pública, com objetivo de debater e avaliar as políticas públicas em prol da criança e
do adolescente no Estado de Mato Grosso.
Convido para compor a mesa o Exmº Sr. Deputado Estadual Max Russi;
Deputado Federal Ságuas Moraes; Dr. José Antônio Borges Pereira, Promotor de Justiça de Infância
e Juventude de Cuiabá; Sr. Valdiney Antônio de Arruda, Secretário de Estado de Trabalho e
Assistência Social; Sr. Fabrício Vieira Neto, Secretário Adjunto e Justiça dos Direitos Humanos;
convido o Sr. Fábio Schroeter, de Campo Verde; Dr. Gênison Brito Alves Lima, Delegado e
Coordenador da Polícia Comunitária da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso; Vereadora
Edileuza Oliveira Ribeiro, Presidente da UCMMAT – União das Câmaras Municipais de Mato
Grosso; Sr. Mauro Cesar Souza, Presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente; Sr.
Jader Martins, Presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Cuiabá; Sr.
Moacir Rodrigues, Vereador de Várzea Grande e Presidente do Conselho sobre Drogas de Várzea
Grande.
Composta a mesa, convido a todos para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino
Nacional Brasileiro.
(O HINO NACIONAL BRASILEIRO É EXECUTADO)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (EDSON PIRES) - Sr. Presidente, em tempo,
convidamos o Dr. Paulo Roberto Jorge do Prado, Procurador de Justiça do Estado de Mato Grosso; e
o Dr. Jorge Lafelice dos Santos, Juiz de Direito de Infância de Cuiabá. (PALMAS) Registramos as honrosas presenças das autoridades, que gentilmente
compareceram para esta Audiência Pública: Sr.ª Ana Márcia Cunha, Superintendente do Sistema
Sócio Educativo da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso; Sr.ª Dilma Camargo,
Assessora de Relações Políticas, neste ato representando a Secretária-Adjunta de Estado e Políticas
da Casa Civil, Paola Reis; Drª Cassyra Vuolo, Assessora de Articulação Institucional e
Desenvolvimento da Cidadania do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso; Sr. César Vidotto,
Secretário-Adjunto de Assistência Social do Município de Cuiabá; Sr.ª Jaqueline Vilarba Fernandes,
psicóloga, representando Dr. Paulo Araujo, Delegado Titular da Delegacia Especial do Adolescente
de Cuiabá; Sr.ª Lindacir Rocha, gestora administrativa, representando o Sr. André Luiz Campanha,
Presidente da Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção; Sr. Néio Lúcio Monteiro
Lima, Coordenador Estadual de Políticas sobre Drogas da SEJUS – Secretaria de Justiça; Valter
Arruda, Presidente da Federação Mato-grossense das Associações dos Moradores de Bairros de
Cuiabá; Sr. Leandro Fábio Momente, Presidente do Conselho de Direito da Criança e do
Adolescente de Várzea Grande; Sr.ª Luciana Cristina de Oliveira, Presidente do Conselho dos
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Direitos da Criança e do Adolescente do Município de São José do Rio Claro; Tenente-Coronel
Nivaldo José de Almeida, Coordenador Estadual do Programa Rede Cidadã; Sr.ª Vera Lúcia
Honório dos Anjos, Presidente do Conselho Regional de Serviço Social de Mato Grosso; Joana
Fernandes Santos, Presidente do Conselho de Direito da Criança e do Adolescente do Município de
Campos de Júlio; Sr.ª Maria Silva Tavares, Presidente do Conselho de Direito da Criança e do
Adolescente do Município de Santo Antônio do Leverger; Sr. Carlos Albuquerque, Conselheiro do
Direito, representando neste ato o Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Cuiabá, o Sr. Jader Martins de Moraes; Sr. Wagner Vinícius de Lima, Presidente do
Conselho de Segurança da Chácara dos Pinheiros; Sr. Djelson Henrique, representando no Estado
de Mato Grosso o G38, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; Sr. Conrado
da Silva Cajaíba, do Conselho Regional de Segurança; Srª. Elindalva Moraes, Assistente Social do
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Dom Aquino; Sr.ª Eliane Menacho,
Coordenadora do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil; Sr.ª Morgana
Moura, representando o Laboratório de Ciência e Tecnologia e Criação da Universidade Federal de
Mato Grosso; Sr. Juarez França, Presidente da Associação Mato-grossense dos Estudantes
Secundaristas; Sr. Davino Arruda, Diretor do Instituto Brasileiro de Empreendedorismo e
Desenvolvimento Social de Mato Grosso; Sr.ª Sandra Gusmão de Almeida, Coordenadora de
Cultura do Programa Rede Cidadã; Sr. Thiago Oliveira, Secretário da Juventude do PT de Cuiabá;
Sr.ª Aparecida Ramos da Silva, Secretária da Fundação Nova Suíça, Várzea Grande; Sr.ª Neise
Velasco, Coordenadora do CRAS do Bairro Jardim União do Município de Cuiabá; Sr.ª Eronildes
Loureiro Trindade, Secretária de Obras Sociais; Sr. Raul Camilo Guimarães, membro do Colegiado
Nacional de Conselheiros Titulares; Sr.ª Tamires Rodrigues, Psicóloga do CREAS - Centro de
Referência Especializado de Assistência Social do Município de Várzea Grande; Sr. Alexandre
Carreira, Coordenador da Juventude de Revolução de Cuiabá; Sr. Ademar Caria Lima, Coordenador
do Conselho Tutelar de Campo Verde; Sub-Tenente Enilton Jorge da Silva, Coordenador
Comunitário da PM; Sr. Clóvis Arantes, Secretário de Imprensa do Grupo Livremente LGBT -
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros; Sr. Luiz César de Moraes,
representando a Comunidade Libertare do Município de Várzea Grande; Sr. Professor Edinho,
Conselheiro representando a SEDUC; agradecemos a presença dos Servidores da Secretaria de
Estado de Educação; dos participantes do Programa Rede Cidadã do Município de Cuiabá; dos
Servidores da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá; dos membros do Movimento Estadual em
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Estado de Mato Grosso; das Conselheiras
Tutelares de Jaciara, Campo Verde, Cuiabá, Santo Antônio de Leverger, Pedra Preta, Reserva do
Cabaçal, Cáceres, Poconé, Vera, Novo São Joaquim, Campinápolis, Santo Antônio do Leverger,
Várzea Grande, Itiquira, Rondonópolis, Lucas do Rio Verde, Barão de Melgaço e Poxoréu.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Agradeço a presença de todos,
especialmente, dos conselheiros tutelares que se deslocaram de diversas regiões do nosso Estado. É
um momento importante do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, que completa 25 anos!
Esse Estatuto trouxe uma série de ganhos sociais, ferramentas necessárias como a própria
constituição desses conselhos. E eu tenho certeza de que a maioria deles vem desempenhando bem o
seu papel.
Mas, a nossa sociedade vive alguns desafios e não temos como deixar de dizer ou
referendar o que está acontecendo, que é a discussão da maioridade penal, realizada pelo Congresso.
Depois, gostaríamos de ouvir a palavra do Deputado Federal Ságuas Moraes, porque parece que a
redução para 16 anos já foi aprovada em 1ª discussão.
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Temos alguns gargalos, Procurador Paulo Prado, por exemplo, o número cada vez
maior de infratores menores e temos dificuldade em ter instituições para acolhê-los. O Estado
precisa oferecer uma política pública que possa, efetivamente, diminuir esses indicadores. A
Assembleia Legislativa, preocupada com isso, os Deputados, o Deputado Max Russi, que está nos
acompanhando, querem propor políticas públicas que possam melhorar a realidade ao superar esses
gargalos e essas dificuldades. Sei, também, que se não houvesse o ECA, estaríamos numa condição
muito mais precária, no entanto, precisamos avançar cada vez mais. Para isso, eu defendo que
estimulemos, cada vez mais, políticas para que os menores possam estar em período integral nas
escolas.
Por exemplo, Deputado Max Russi, já temos uma discussão aqui na Casa, para
tratar o PROERD como uma política de Estado, numa tentativa de afastar esses menores das ruas.
Enfim, uma série de ações que o Estado pode fazer, a Assembleia Legislativa pode propor e o
Ministério Público - eu sei - colabora bastante com essa área.
Os juízes, também, estão muito preocupados com a situação de como tratar o
menor infrator. Então, precisamos debater essa situação, e é algo que não vamos resolver com
apenas uma Audiência Pública, mas precisamos avançar. Em função desse avanço, estamos hoje
reunidos. E se houver propostas concretas nesta Audiência Pública, essas propostas serão levadas ao
Plenário desta Casa de Leis.
Eu passo a palavra aos senhores que estão na mesa. Convido os palestrantes que
terão 10 minutos para suas explanações. Começamos com Leandro Fábio Momento, Conselheiro
Municipal da Criança de Várzea Grande e gestor do Projeto Rede de Educação Integral de Várzea
Grande, de iniciativa da Fundação Itaú, com o tema: Sistema de Informação para Infância e
Adolescência.
O SR. LEANDRO FÁBIO MOMENTE - Boa tarde!
Agradeço à mesa pelo dia de hoje, ao Deputado Guilherme Maluf por esta
oportunidade.
Eu vou ser bem breve porque temos que comemorar a vida e esta reunião de todos
nós.
Não haverá grandes debates, nem grandes questionamentos, mas nesses 25 anos o
fato de estarmos aqui já representa que o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente está vivo.
Confesso que muitos não acreditavam que haveria tanta gente presente, como ouvi antes: “ Será que
terá alguém? ” E isso é a prova de que este aniversário merece ser comemorado!
Nesse sentido, temos que dizer que os tempos são diferentes. Para uma criança e
para um adolescente, 25 anos demoram e, para muitos de nós, demoram muito. Mas 25 anos, dentro
daquilo que temos na política, na área social, na área religiosa, é muito tempo e é complicado. O
próprio fato de estarmos reunidos em vários municípios, pois alguns tiveram que fazer mais esforço
para chegar. E esse testemunho de estar aqui mostra o quanto isso é complicado no nosso dia a dia.
Não sei se vai ter bolo, mas fiz questão de trazer, porque temos que parabenizar o
fortalecimento desses direitos da criança e do adolescente. Nesses 25 anos, fizemos a massa desse
bolo, carregamos as velinhas e acendemos. É importante destacarmos o suor e o trabalho de muitas
pessoas presentes.
O Estatuto tem uma doutrina que é bem clara, eu não vou entrar muito nisso porque
outras pessoas irão fazê-lo. Primeiro, o sujeito de direito. Não é mais olhar como um objeto, mas
como um sujeito que tem no seu desenvolvimento de vida algo que é seu, ela é criança, ele é
adolescente. Mesmo que alguns de nós coloquemos, lá no facebook: “quando eu tinha 12 anos eu já
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tinha juízo. ” Você tinha juízo de 09, de 10, de 12 anos. Essa condição peculiar temos que ter muito
bem clara quanto ao desenvolvimento.
Neste final de semana, alguém falava para mim assim: “ Quando eu tinha dez anos,
eu já sabia o que fazer. ” Eu respondi: “ não sei se você é o critério de todas as famílias, se todas
tiveram a sua vida, a sua educação. ” Eu tenho que respeitar isso, essa condição peculiar. E dentro
disso, a criança e o adolescente têm uma prioridade absoluta para fazermos um trabalho com eles.
Os instrumentos dessa promoção são: Conselho de Direitos e Conselho de Estado.
Eu destaco cada um dos Conselhos de Direitos, na figura do Mauro. Se uma hora precisar de
testemunha, eu afianço o trabalho dele. Neste ano, em que estou no Conselho, eu vejo o quanto
houve um esforço do Conselho do Estado em estar nessa promoção.
E há o Conselho Tutelar, com cada município presente e o esforço de muitos.
Destaco o trabalho da Associação na organização e na articulação de todos os conselhos e o trabalho
do Fundo de Infância. Entretanto, temos que trabalhar mais, articular em todos os municípios e
conseguir recursos para essa promoção da criança e do adolescente.
E, Deputado Guilherme Maluf, Vossa Excelência pode trazer essa articulação de
como nós devemos fazer o orçamento da criança nos vários municípios ou mesmo no Estado.
Aqui temos um quadro, que muitos já viram em várias palestras. Quero destacar
que cada um pode se ver ali dentro dessa engrenagem, que é o Sistema de Garantia dos Direitos da
Criança e do Adolescente. Os meninos estão aqui, brincando, aqui está todo mundo, é meio confuso
e no dia a dia vemos que muitos de nós não entendemos como é esta rede de atendimento.
Onde se encaixa cada um? Onde estão os espaços das ONGs – Organizações não
governamentais, do Governo, da Defensoria Pública, da Promotoria, das Secretarias, onde está o
trabalho? Como é que vamos fazer?
Então, vem a pergunta: Como gerenciar? Primeiro, como gerenciar essa rede que é
um desafio para cada município. Como o Prefeito entende esse gerenciamento? Como os secretários
entendem? Como devemos gerenciar as denúncias que chegam nos Conselhos Tutelares a todo
instante? Como fazer esse gerenciamento?
É uma questão de gestão pública e temos que saber que, dentro de nossas funções,
somos gestores. Temos que sair da condição de achar que somos lá na ponta. Eu confesso que,
muitos quando vêm com esse discurso de que trabalha lá na ponta... Sou paranaense e lá no Paraná
temos um ditado que diz que na ponta dá nó cego. Eu quero acreditar que nós, dentro do nosso
trabalho de gerenciamento, não devemos ficar na ponta, só porque na confusão é fácil deixar do jeito
que está, porque na confusão o fluxo segue. É preciso aprender a ser gestor!
Por conta disso, vem o tema central, que é uma inovação, no sentido atual, online,
em web, que é o SIPIA - Sistema de Informações para a Infância e a Adolescência. O que é esse
SIPIA? Primeiro, é um sistema nacional de registro e tratamento de informações. Para gerenciar,
precisamos ter essa informação, o diagnóstico e a falta.
Se eu perguntar quais são os casos em Várzea Grande, eu não sei, não tenho como
acessar. Se eu pedir para os Conselheiros Tutelares, eles vão me dar, mas demora uma semana e, em
uma semana, já mudou tudo.
Os vários municípios precisam saber como tratar esse registro, como fazer o
tratamento dessas informações, porque é dentro desse diagnóstico que vamos garantir as políticas, o
que queremos em nosso município.
Então, para que serve, qual o objetivo desse SIPIA? Primeiro, operacioná-lo na
base - para aqueles que gostam - na ponta, operacionalizar lá naquela ponta como está sendo feito o
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trabalho e a política de atendimento aos direitos, também; encaminhar a aplicação de medidas, o
próprio sistema já vai ter a forma de encaminhar. O conselheiro tutelar coloca a denúncia e já tem os
encaminhamentos próprios dentro do sistema, uma coisa unificada; O SIPIA me permite, também,
subsidiar as demais instâncias.
Enquanto Presidente do Conselho, eu posso acessar o sistema e ver como está o
andamento, como eles estão fazendo. Não vou poder alterar, mas posso acompanhar. A visão frontal
do sistema aparece assim. Eu vejo quantos usuários estão online, quantas denúncias, o total das
denúncias por mês, quantos conselheiros tutelares estão ativos, quantas visitas. E, ao acessar, eu
tenho uma visão de como está acontecendo o trabalho com a criança e o adolescente, em cada
município, no Estado e, a partir daí, nacional.
Quais são os ambientes? Nós temos 02 no SIPIA. Um que é do Conselho Tutelar e
outro mais para os gestores em unidades do SINASE. O que vamos utilizar dentro do trabalho do
Conselho Tutelar do Conselho de Direito é este aqui. Qual a importância? Primeiro, assegurar às
crianças e aos adolescentes como cidadão o acesso mais rápido às políticas básicas. Segundo,
participar de uma rede nacional de informação. Terceiro, permitir que a informação chegue na
Defensoria, chegue à Promotoria, à Secretaria de Assistência Social, às demais instâncias para que
possamos tratar essas informações e saber onde queremos ir e como queremos ir.
E subsidiar a formulação das políticas. Então, eu quero fazer em Várzea Grande
um orçamento criança, mas é difícil entrar na saúde, é difícil entrar na educação, é difícil entrar na
social. Por quê? Porque faltam “n” informações. E esse é um detalhe que eu vou ter por bairros, por
denúncias, por tratamento e posso gerar dados estatísticos. O que mais causa violência às crianças
hoje? É a creche. É em Várzea Grande? Não sei. É em Santo Antônio do Leste? Não sei. Mas a
estatística nacional diz que é a creche. De que maneira? Nós temos que olhar esses dados. O que
teríamos que atacar, combater ou olhar a fraqueza para evitar isso e como promover a maior
agilidade nessas informações.
Olhando tudo isso, que benefício podemos ter? Padronizar informações, tanto em
nível estadual, quanto municipal. Facilitar o registro é colocar informação, é trabalhar
estatisticamente e registrar a história, possibilitar o intercâmbio de informações. Porém, isso é
responsabilidade dos conselheiros tutelares. Ninguém mais está autorizado a colocar essas
informações no sistema.
Mato Grosso caminha na conquista e garantia dos direitos da criança e do
adolescente e o SIPIA - Sistema para a Infância e a Adolescência - é uma realidade, precisamos que
os prefeitos, os gestores entendam a função primordial que ele exerce dentro do nosso trabalho, para
que caminhemos mais na conquista.
Obrigado, Deputado, por neste espaço, podermos sonhar, sentir melhor, crescer e
acreditar, querer mudar, ir em frente e compartilhar. Desejo que nesta Audiência consigamos fazer
um marco de mudança em Mato Grosso ao descobrir que não somos, enquanto ECA, nem crianças e
nem adolescentes, nós já somos jovens, 25 anos, e temos que resgatar esse conhecimento para seguir
em frente.
Obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Muito obrigado, Leandro,
passemos a palavra ao Raul Camilo Borges, Conselheiro Tutelar de Cáceres, com o tema “ 25 anos
do Estatuto da Criança e do Adolescente. ”
O SR. RAUL CAMILO BORGES - Senhoras, senhores, jovens, autoridades deste
dispositivo, boa tarde!
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A ideia desta Audiência Pública, na verdade, vem somar às sérias ações que a
Associação de Conselheiros Tutelares tem mobilizado no decorrer do ano e nesta última gestão do
Estado de Mato Grosso.
Destaco a parceria que conseguimos firmar com a movimentação inédita do gestor
máximo de um Estado, ao sentar com os conselheiros tutelares, depois das grandes tragédias que
vêm ocorrendo no cenário nacional.
Mato Grosso tem se destacado na política, principalmente, com relação aos
Conselhos Tutelares. Então, a ideia é traçarmos os avanços e os desafios da chamada proteção
integral que o estatuto vem garantir.
Somos um país pioneiro nas nações, ao instituir, em forma de lei, a proteção
integral à criança e ao adolescente. Uma substituição à ideia arcaica que utilizávamos no País com o
antigo Código de Menores, uma prática menorista de irregularidade e de situação de risco. Essas
definições, essas catalogações para a criança e o adolescente estão sendo substituídas e não mais
aplicadas. Ainda, vemos alguns retrocessos e alguém usando, mas elas não fazem mais parte do
sistema de proteção integral que, hoje, garante à criança e ao adolescente a proteção de qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão integral.
É uma lei que consegue conceber o indivíduo em toda a sua amplitude, no sentido
físico, mental, moral, espiritual e social. Ela consegue identificar que o ser humano não é tão
somente matéria, tão somente social, tão somente resultado de todo esse contexto. Ela consegue
admitir que a criança e o adolescente se encontram numa condição peculiar de desenvolvimento. E
separa de uma forma metodológica para, justamente, usar como contra-argumento a alguns
defensores do menorismo e da redução da maioridade penal quando tratarmos crianças e
adolescentes de forma diferenciada.
A própria lei garante que cada um tem a compreensão do mundo de forma
diferente, atribuindo a esses cidadãos as consciências necessárias ao seu desenvolvimento. O
Estatuto trabalha com duas esferas, a primeira é uma esfera coletiva, de garantir escola, de garantir
saúde para todos, abrangendo toda a população brasileira, toda criança e adolescente residente no
Brasil. Esse marco legal, o Estatuto, cuida de forma individual do caso concreto da criança que não
tem vaga, da família que não encontra recurso para subsidiar sua existência.
Mas, dentro de todos os avanços que o Estatuto vem garantindo de forma legal, ele
definiu um marco inédito que se chama Conselho Tutelar. É uma unidade representada pela
comunidade, por pessoas que conhecem as necessidades para defender e zelar pelos direitos das
crianças e dos adolescentes.
No Brasil, há mais de 56 milhões de crianças em 5.570 municípios, 141
municípios estão no Estado de Mato Grosso e há mais de um milhão de crianças e adolescentes em
nosso Estado. É mais de 33%, um terço da população mato-grossense corresponde à criança e ao
adolescente. Atualmente, temos 150 Conselhos Tutelares em Mato Grosso, sendo que já estamos
contando, Leandro, como terceiro, o Conselho de Várzea Grande.
Desde 2008, a Associação tem se mobilizado, multiplicado para garantir a
qualificação, capacitação aos Conselheiros Tutelares. Antes de 2010, havia a dificuldade de
locomoção, com municípios e histórias concretas de Conselheiros Tutelares que, para averiguar a
situação dos direitos de vulnerabilidade da criança e do adolescente, utilizavam bicicletas, cavalos,
éguas, mulas, mototáxi - como é o caso de uma companheira de Cáceres - ou vão mesmo a pé.
Em 2010, nesta Casa, conseguimos articular uma Emenda Parlamentar e garantir
um veículo, um microcomputador e um aparelho de fax para cada Conselho Tutelar do Estado.
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Diante disso, conseguimos mais qualificações para dinamizar a prática do conselheiro tutelar. Nesses
25 anos, houve uma movimentação para garantir na constituição o artigo que definisse criança e
adolescente no cenário brasileiro como cidadão de direito, mas esse movimento se acalmou depois
da conquista constitucional. E nós percebemos que, nesse tempo, muitas dificuldades foram
registradas, muitos descasos de gestores que não entendiam a importância do Conselho Tutelar e não
garantiram a efetivação da prioridade de atendimento à criança e ao adolescente.
Essa mobilização nos possibilitou destacar com relação aos Conselhos Tutelares
em comparação ao Centro-Oeste. Quanto a computadores, por exemplo, temos 100%, esse mais
escuro aqui corresponde ao Estado de Mato Grosso. Todos os Conselhos Tutelares de Mato Grosso
possuem computadores. É claro que vamos identificar computadores 95, que nem são computadores
mais, são só o arcaico de computador. Mas, estamos trabalhando para modificar isso. Para o pessoal
de apoio, os veículos exclusivos são 97.
A pesquisa foi feita depois de 2010, e tivemos o Conselho Tutelar em Cuiabá e
em Rondonópolis, que foram criados. Temos celular, telefone fixo, impressora e internet. Somos
destaque na comparação do Centro-Oeste. Isso graças ao esforço que temos empreendido. E temos
aqui as metas já firmadas com esta Casa, com a Secretaria. O atual Secretário tem nos destinado
total apoio e atenção, juntamente, com o Conselho Estadual. Queremos equipar os 150 Conselhos
Tutelares com o projeto de equipagem de Conselho, apenas 40 municípios de Mato Grosso estão
equipados.
Queremos a construção de um conselho modelo no Projeto Meu Lugar na Cidade
do Governo Federal, que dinamiza a atuação. Nós termos Conselhos Tutelares, onde os
atendimentos ocorrem em uma única sala. Então, a vítima de violência, que chega para narrar a sua
vulnerabilidade, tem que expor a todos os presentes. Temos Conselhos Tutelares que não possuem
banheiros.
Essas necessidades, precisamos corrigir no Estado de Mato Grosso. E por fim,
queremos movimentar uma cartilha para a unificação das atribuições dos Conselhos Tutelares de
Mato Grosso, porque temos que entender as atribuições que já estão previstas na lei.
O que vai caracterizar a situação do município é a forma como essas atribuições
serão desenvolvidas. Às vezes, no meu município eu não preciso de plantão, no meu município eu
posso ter um telefone celular, no outro município não precisa de carro, precisa de barco, porque na
maioria dos lugares o trajeto é pela água.
São essas necessidades que precisamos caracterizar, porém os atendimentos das
atribuições têm que ser unificados. Não há como o conselheiro tutelar de Cuiabá trabalhar de um
jeito, exercer uma função e o conselheiro lá de Itiquira ou do Xingu exercer outra, sendo que as
atribuições estão previstas no mesmo artigo, no mesmo corpo legal.
E dentro disso, temos inúmeros parceiros e a Associação decidiu elencar alguns
nomes, mas na intenção de abranger a todos. Há muitas dificuldades, estamos vivendo tempos
difíceis de retrocessos, a cidadania vem sendo colocada à prova a todo momento. Nós que
trabalhamos no sistema de garantias de direitos, de direitos humanos, de pessoas, de crianças e
adolescentes, de idosos, das minorias, precisamos nos posicionar frente aos nossos Parlamentares,
frente à mídia que vem difamando e propagando, de forma equivocada, as práticas.
E precisamos nos fortalecer, agradecer ao pessoal que veio defender a questão da
não redução. Tivemos esse golpe junto ao cenário nacional, mas precisamos avançar com relação a
isso e não permitir que no nosso País haja retrocesso.
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Então, esses são alguns nomes que temos para agradecer em homenagem, muito
obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Eu gostaria de passar a palavra
ao Dr. Paulo Roberto Jorge do Prado, Procurador Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso.
O SR. PAULO ROBERTO JORGE DO PRADO – Boa tarde a todos e boa tarde à
mesa.
Eu quero fazer uma reflexão, Deputados Guilherme Maluf e Max Russi, Deputado
Federal Ságuas Moraes e todos que aqui estão. O Brasil perdeu o trem da história. Nós não tínhamos
que ser homenageados coisíssima alguma. Falhamos enquanto autoridade, enquanto ser humano,
porque o país não teve a grandeza de entender a proposta do Estatuto da Criança e do Adolescente.
(PALMAS)
Quando vejo discussões sobre a redução da maioridade penal, alguém pergunta
para mim: “ O senhor acha que um adolescente de 16 anos sabe o que faz? ” Eu acho que um guri de
12 anos sabe o que faz, vamos reduzir para 12, então, não vamos perder tempo com 16! Se queremos
cadeia e criminalização, porque o Estatuto da Criança - esse que é o problema - vai muito além da
questão infracional e até hoje não conseguimos ler o Estatuto, entender o Estatuto. Eu vejo pessoas
votando no Congresso, que nunca leram o Estatuto da Criança e do Adolescente, que nunca abriram
isso aqui.
Eu participei de um Congresso Internacional de Direito Penal, Presidente
Guilherme Maluf e Ságuas Moraes, em 1993, e na plateia havia pessoas do mundo inteiro, com
tradução simultânea em 04 idiomas. E um brasileiro, no Hotel Sheraton, no Rio de Janeiro - na
época do Governo Brizola - disse o seguinte: “Olha, queremos dizer à comunidade internacional que
o Brasil tem uma lei de primeiro-mundo. Nós temos o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é
uma lei para a Suécia. ” Levantou um sueco, andou todo o auditório, chegou ao microfone e disse o
seguinte: “Se vocês precisam de uma lei com mais de 200 artigos para dizer que criança é
prioridade, não nos comparem! Na Suécia, nós nascemos sabendo que a prioridade do pai, da mãe,
do administrador, do Prefeito, do Governador, do Procurador Geral, do Presidente da República tem
que ser as políticas de atendimento à criança e ao adolescente. Se vocês precisam de uma lei para
dizer isso, não nos comparem com vocês! ” E sabem o que aconteceu? Ninguém conseguiu falar
mais nada! Isso em 1993.
O que o Estatuto quer? Nós não tivemos a grandeza de entender. O Estatuto busca
o quê? A democracia participativa. Como ele busca a democracia participativa? Os Prefeitos não
entenderam que eles tinham, do lado deles, os maiores aliados. Mas ninguém gosta de ser cobrado,
de ser cutucado. Só gostamos de elogios e tapinhas nas costas. E o que o Estatuto criou? O Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente para ajudar os prefeitos e os vereadores a
criarem a política de atendimento para a criança e o adolescente e os seus direitos fundamentais lá na
educação, na saúde. Isso é bárbaro, mas não tivemos maturidade, inteligência e preparo intelectual
para entender isso.
E os Conselhos Tutelares seriam o quê? Os braços dos prefeitos, dos promotores,
dos juízes para ser ali: “ Olha, está faltando carteira, está faltando vaga na escola, aquela criança é
especial. ” Nós não entendemos isso e tratamos o Estatuto como inimigo. Foi a melhor lei que se fez
neste País nos últimos anos e nós perdemos o trem da história por preguiça de ver, por ignorância,
por despreparo intelectual. E quando eu vejo reduzir, eu não sinto nem vontade de comentar isso. Se
vocês acham que vamos resolver o problema da criminalidade no Brasil reduzindo a maioridade
penal, então reduza para 12 anos de idade, porque tem guri de 12 anos matando! Tem guri de 12
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anos traficando! Por que ele está fazendo isso? O que está acontecendo? Tem adulto fumando,
bebendo...
Queremos resolver com cadeia, mas cadeia para quem? Vamos escolher quem
vamos colocar na cadeia. Porque eu estou lutando e não é fácil colocar adulto na cadeia. Agora,
adolescente é fácil! É mais fácil colocar adolescente na cadeia do que adulto, e nós não sabemos
disso! Nós vamos criar local para colocar esses adolescentes se não temos nem para adulto? Se hoje,
todos os adultos, todos os imputáveis forem presos nesta Nação, que são mais de 200.000 que estão
soltos, nós vamos colocar onde?
Todo mundo fica revoltado quando vê um adolescente praticando um roubo, um
homicídio, quem vai ser hipócrita e dizer que não? Por que estamos permitindo que isso aconteça?
Porque existe uma situação, Deputado, que temos que enfrentar neste Brasil: 70% ou mais da
criminalidade infracional praticada por adolescente têm ligação com o tráfico de drogas. E o tráfico
de drogas, no tempo em que - a maioria aqui com 50 anos, como eu - era jovem, maconha deixava
todo mundo largado, deitado e parado. O crack deixa o camarada alucinado, louco. O crack é um
subproduto da cocaína e 70% da cocaína cheirada e injetada no Brasil entra pela fronteira mato-
grossense com a Bolívia. E o que nós temos de combate a isso? Vai continuar entrando.
Como tratamos o usuário de drogas neste País?
Então, não mereço homenagem nenhuma, eu não consegui fazer a minha parte, não
consegui convencer os Prefeitos e os Vereadores por onde passei que tínhamos uma pérola, uma
joia. E por não conseguir mostrar essa importância, estamos prestes a votar a redução da maioridade
penal.
Já me perguntaram: “Mas com 16 anos a pessoa sabe votar. ” Eu estou com 52 e
já errei bastante, Deputado Guilherme Maluf. Já errei bastante! E a maioria de muitos que vocês
votaram vão votar pela redução da maioridade penal. Muitos! Vamos olhar quem são esses porque
não vamos, Deputado Guilherme Maluf, resolver o problema da violência, da criminalidade neste
País só com a redução da maioridade.
O Estatuto não trata disso, uma das coisas do Estatuto é a infração, mas o Estatuto
fala de educação de qualidade, de políticas básicas, fala de diretrizes, de prioridades, de escola.
(PALMAS)
E nós estamos perdendo o trem da história - só para parar e até para não cansar -
lembro como se fosse hoje, Dr. José Antônio Borges Pereira, da minha fragilidade, da nossa
fragilidade. Talvez, alguém aqui se lembre, havia um projeto chamado Siminino e tinha um garoto
chamado Cristiano. Eu vou citar o nome, o Cristiano era levado, vivia furtando, mas era simpático,
acreditávamos na possibilidade de salvá-lo. Virava e mexia e ele aparecia lá com pequenos furtos,
brigas e, então, ele foi para o Projeto Siminino. E foram estudar a vida do Cristiano. Quando ele
tinha 06 anos de idade, a mãe e o pai pararam em frente à rodoviária, em uma farmácia, e falaram
para ele: “Cristiano, espera aqui, voltaremos para o Nordeste e vamos comprar as passagens. ” Disso
ele se lembra. Ele esperou um dia, dois dias, e no terceiro dia, ele foi retirado com insolação e
desidratação abraçado a um poste. Ele nunca mais viu esse pai, ele nunca mais viu essa mãe.
Um belo dia, sem a vivência que eu tenho hoje, achando que a autoridade é alguma
coisa, que eu consigo, realmente, só lendo o Estatuto saber o que existe dentro do ser humano e toda
a sua essência, as suas dúvidas, as suas perturbações, as suas inquietudes...
Quantos de nós temos os nossos problemas? Quantos? Esse menino me falou:
“Doutor, quero fazer um trato com o senhor? ” Ele tinha 16 anos de idade. “Eu vou fazer um trato,
vou parar de aprontar, mas eu quero só uma coisa do senhor. ” Eu falei: “Pois não, Cristiano. ”
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“Que o senhor me arrume uma fotografia que tem o rosto de minha mãe, porque eu
não consigo mais me lembrar da minha mãe. Eu aprendi com o pessoal a orar, a rezar, mas não
consigo me lembrar do rosto dela. ”
O que eu falo, Jorge, para um garoto desse? O que eu falo para um menino desse?
Vamos reduzir a maioridade penal para esse menino? Vamos resolver? Sabe o que aconteceu? Ele
completou a maioridade, um ou outro... Arrumamos emprego. Ele teve um relacionamento com uma
pessoa muito mais velha do que ele. Claro. A relação afetiva de pai e mãe não existia na vida dele.
Um dia, eu não sei se vocês se lembram, apareceu a cabeça de um rapaz de 19 anos
ali no Planalto. Era a cabeça do Cristiano.
Falhei, falhamos. Quantos Cristianos, que poderiam ser nossos filhos, nossos
afilhados, nossos sobrinhos. Quantos de nós que se não fosse a família, o avô, se não fosse a escola,
onde estaríamos?
Então, temos esses dois institutos fortíssimos, que é o Conselho dos Direitos da
Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar. Nós temos o Fundo Estadual, mas não conseguimos
entender isso. Porque não amamos verdadeiramente o filho do outro, a hipótese da igualdade, a
hipótese da semelhança, da possibilidade da recuperação... Porque se enxergarmos nos nossos filhos
cadeia como queremos para os filhos dos outros, se enxergarmos os que estão lá nas macas do
pronto-socorro como nossos filhos, e se abrimos mão do plano de saúde para tratarmos no SUS e
colocarmos nossos filhos na escola pública aí sim, eu terei legitimidade de falar que mereço essa
premiação. Hoje eu não mereço. Mas quem sabe vocês, com essa juventude, com esse amor,
consigam mostrar... Porque eu não consegui mostrar que estamos perdendo o trem da história e não
seremos perdoados pelo crime que queremos fazer que é a redução da maioridade penal.
Meu muito obrigado. (PALMAS)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) - Rede Cidadã é um
Programa do Governo Estadual, desenvolvido pela Coordenadoria de Ações Preventivas da
Secretaria de Estado de Segurança Pública, gerenciado por Policiais Militares, inaugurado em 2005,
com o objetivo de identificar, inserir e acompanhar crianças, adolescentes e jovens vulneráveis ao
risco social e delinquência infanto-juvenil.
Esse processo se faz de maneira integrada com Bases Comunitárias de Segurança
Pública, Prefeituras, lideranças comunitárias, ONGs, voluntários e autarquias. O programa inclui
crianças e adolescentes em atividades esportivas, culturais e de capacitação, com disciplina militar,
por meio de ordem unida, cursos de pais, visitas escolares e domiciliares.
A metodologia desenvolvida pelo Programa visa impedir o vulnerável de aprender
o crime, desarticulando-o dos vínculos afetivos indevidos, ocupando o seu tempo ocioso e ensinando
valores e princípios morais e regras de conduta, fortalecendo laços familiares e aumentando o
rendimento escolar, reduzindo a indisciplina e a evasão. Esses valores essenciais para a mudança de
comportamento e melhoria da qualidade de vida resultam no aumento da autoestima, na melhoria da
percepção real de mundo, valorizando, assim, as oportunidades inclusivas oferecidas para o
desenvolvimento da cidadania.
Convido, agora, para uma apresentação especial, os alunos do Programa Rede
Cidadã, Hamilton Borges e Débora Milhomem, acompanhados pelo Professor Weber da Silva, que
irão interpretar as músicas “Clichê”, de autoria de Jorge e Matheus e, em seguida, “Sorte é ter
Você”, de autoria de João Bosco e Vinícius.
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Esta Audiência Pública foi requerida pelo Deputado Guilherme Maluf, sendo
transmitida por vários canais de televisão para todo o Estado de Mato Grosso, uma rede de
emissoras acompanhando esta Audiência. Por gentileza, Hamilton Borges e Débora Milhomem.
(AS MÚSICAS ACIMA CITADAS SÃO APRESENTADAS – PALMAS.)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Passamos a palavra ao Deputado
Federal Ságuas Moraes.
O SR. SÁGUAS MORAES – Quero saudar a cada um e cada uma, o Deputado
Guilherme Maluf, Presidente desta Casa, que convocou esta Audiência Pública e na pessoa dele os
demais componentes desta mesa.
Nós temos que ser breves porque muitos ainda terão que participar. Exatamente
hoje, 13 de julho, comemoramos os 25 anos da sanção do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Deveria ser um dia de muita comemoração e de começarmos a traçar as estratégias e avançar. Até
porque, diferente de alguns que acham que não aconteceu nada após a programação do Estatuto,
sabemos que houve alguns avanços mas, obviamente, a nossa dívida é grande, ainda, como disse o
Dr. Paulo Prado. A nossa dívida, enquanto sociedade, enquanto servidores públicos e detentores de
mandatos, seria quitada no dia em que, além de comemorar, pudéssemos traçar os novos rumos e as
estratégias para garantir a implementação na integralidade do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Um Estatuto que tem previsão de garantias de direitos e precisou ser construído para proteger as
nossas crianças. Infelizmente, tivemos que criar uma lei para isso. Os povos indígenas, sem lei
nenhuma, protegem as suas crianças, mas nós, não índios, precisamos criar o Estatuto para proteger
as nossas crianças.
Em 1993, quando se apresentou o projeto para a redução da maioridade penal, sem
dúvida nenhuma, naquele momento, era para contrapor o Estatuto da Criança e do Adolescente. Esse
Projeto de Lei, de 22 anos atrás, surgiu, exatamente, para contrapor o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Como o Estatuto visava a proteção das nossas crianças, alguém teve a ideia de falar:
“ Nós não podemos proteger as nossas crianças, precisamos penalizá-las ”
Mas, com o Estatuto continua a nossa luta, independentemente do que for votado
essa semana pela segunda vez, aliás, pela terceira vez, na Câmara dos Deputados. A nossa luta pela
implantação na integralidade do Estatuto tem que estar presente todos os dias, porque o que
observamos, ao longo do tempo, é que esse debate esteve muito presente na Câmara dos Deputados,
tentando imputar toda a violência do Brasil aos nossos adolescentes, às nossas crianças. Por mais
que argumentássemos na tribuna da Câmara dos Deputados, nos debates que tivemos em várias
oportunidades, ao dizer que menos de 1% dos homicídios são praticados por menores e 36% dos
homicídios são praticados contra menores...
Então, as crianças são muito mais vítimas do que autores de crimes praticados.
Observamos, também, que no sistema socioeducativo - que não é muito bom e temos que trabalhar
para melhorar muito isso - a reincidência de quem passa pelo sistema socioeducativo, são menos de
20% os reincidentes e no sistema prisional normal, 70% são reincidentes.
Esses dados são do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, não são
dados inventados por nós, não são dados inventados por ninguém. E se cadeia resolvesse, estaríamos
com a violência resolvida.
Em 1990, havia menos de 9.000 presos no País. Em 2000, portanto, 10 anos
depois, havia 230.000 presos. E, hoje, 15 anos depois, há 600.000 presos!
Portanto, desde que o Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu, há 25 anos, nós
saímos de menos de 90.000 presos para 600.000 presos! E nem assim conseguimos resolver o
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problema da violência, isso denuncia uma coisa, que precisamos discutir o nosso sistema prisional.
Temos que discutir esse modelo de punição na nossa sociedade, criar penas alternativas, porque mais
de 70% dos presos não cometeram crime hediondo e nem contra a vida. Portanto, são crimes de
menor monta, são furtos, são pequenos delitos, que poderiam ser resolvidos de outra maneira. Mas,
como temos a ideia da prisão, achamos que isso pode resolver.
Obviamente, não podemos concordar com nenhum homicídio. Ninguém tem o
direito de tirar a vida do outro. Ninguém tem o direito de agredir fisicamente e verbalmente
ninguém. Ninguém tem o direito de roubar, de furtar um bem de uma outra pessoa. Mas,
infelizmente, na nossa sociedade, no mundo inteiro é assim, as pessoas acabam cometendo algum
ato ilícito e há a legislação para punir essas pessoas. O que não podemos é inverter o discurso,
inverter a lógica das coisas com as nossas crianças e os nossos adolescentes.
Eu sou médico pediatra e é muito comum nós, médicos pediatras, os pais, os
parentes das crianças perguntarem o que ela quer ser quando crescer. Todo mundo já perguntou para
alguma criança: o que você quer ser quando crescer? As crianças dizem que querem ser piloto de
avião, mecânico, caminhoneiro, doutor, deputado, promotor de justiça, prefeito, vereadora, elas
dizem tudo, menos que querem ser criminosos ou traficantes.
Então, até os 12 anos, jamais vamos ouvir isso de uma criança em condições
normais. E o que acontece depois dos 10, 11 ou 12 anos, em diante? Geralmente, nas crianças com
menores condições materiais, famílias com menos estrutura material e de relacionamento, muitas
vezes a mãe sozinha cuidando de 03, 04 filhos, tem que deixar o de 10 anos cuidando do de 08 que
cuida do de 06. Essas crianças, extremamente vulneráveis na região onde moram ... Lá não aparece
um santo de um vizinho para ajudar a cuidar daquela criança. Mas, muitas vezes o vizinho está na
mesma condição, na mesma dificuldade e ninguém ajuda a cuidar daquele menino e falam: “Esse
menino é muito danado e não vai ter jeito. Vou cuidar dos meus”.
E não conseguimos convencer, enquanto sociedade, aquela criança. Não
conseguimos estender a mão, acolhê-la. E essa criança, aos poucos, vai sendo aliciada pelo mundo
das drogas, pelo mundo do crime. Na sequência, é a evasão escolar, quando ela é recrutada para o
mundo do crime. Assim como a gente recruta os soldados para uma batalha para servir o Exército,
essas crianças são recrutadas para o mundo do crime com promessas de uma vida melhor.
E essa é a sequência! Precisamos interromper essa sequência, não com a cadeia,
porque a cadeia é a exclusão daquela criança, daquele adolescente. No sistema civilizatório, quando
tenho uma tese, eu tento convencer a outra pessoa. E se eu não conseguir convencê-la, paciência, ela
pensa diferente, que assim seja o pensamento dela, e que ela possa convencer as outras pessoas com
as teses dela. Mas nos sistemas ditatoriais e nos sistemas absolutistas, quando não consigo
convencer o outro, eu penso no castigo, na punição. Então, queremos o castigo, a punição, a
exclusão dessa criança, desse adolescente, e a exclusão é a cadeia.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê sansão a partir dos 12 anos de idade.
Nós temos condições de intervir para que essa criança não enverede pelo mundo do crime. Temos
que garantir políticas públicas, como creche e escolas em tempo integral, para interromper esse ciclo
em que essa criança é recrutada.
O PNE - Plano Anual de Educação prevê 100% das crianças em tempo integral na
educação infantil, era até 2016 e, provavelmente, vai até 2020, pelo atraso que teve na aprovação do
PNE. Mas, pelo menos 50% das escolas da educação básica, ensino fundamental e ensino médio,
também, têm previsão de escolas de tempo integral, nos próximos 08 anos e meio.
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Então, temos instrumentos comprovados para garantir que essas crianças tenham os
seus direitos garantidos, que tenham o apoio do Estado Brasileiro e da sociedade para trilharem o
melhor caminho.
O PNE aprovado está em vigência e, da mesma forma como deveríamos estar
discutindo como implementar o Estatuto da Criança e do Adolescente, temos que nos mobilizar para
que o Plano Nacional de Educação possa valer para os próximos 10 anos, na sua integralidade, e que
possamos ter escolas em tempo integral. Assim, criaremos um instrumento forte para interromper
esse ciclo da criança de 10 anos cuidando da de 08, que cuida da de 06, para que as mães trabalhem
com tranquilidade. Para que os pais saibam que o seu filho está em um ambiente seguro, em um
ambiente educacional. Isso se tivermos pelo menos 50% das escolas do ensino básico em tempo
integral.
Desse modo, o nosso apelo fica para que possamos debater mais com a sociedade a
importância da proteção das nossas crianças. Temos instrumentos para fazer e precisamos dar conta
desse recado e não trabalhar pela exclusão, pelo castigo e pela prisão das nossas crianças. Porque
99% dos homicídios são praticados por adultos, acima de 18 anos, e 97% dos crimes hediondos são
praticados por maiores de 18 anos. Isso prova que a redução da maioridade penal não vai resolver o
problema.
Ganhamos na primeira votação, em uma manobra regimental do Presidente da
Câmara, que fez uma Emenda Aglutinativa e manteve-se as mesmas propostas vencidas na votação
anterior. Mas, perdemos a votação por 23 votos. Entramos no STF – Superior Tribunal Federal,
questionando a constitucionalidade dessa votação, até porque se tratando de PEC - Projeto de
Emenda Constitucional, você não pode votar o mesmo assunto na mesma legislatura. Isso aconteceu
de um dia para o outro. Nesta semana, teremos a votação do terceiro turno desse assunto e do
segundo turno na aglutinativa. E vamos resistir, debater e tentar convencer os outros colegas
Deputados para não aprovar a redução da maioridade penal. Temos outros instrumentos para punir
os adolescentes em conflito com a lei. (PALMAS)
(A PLATEIA SE MANIFESTA: “NÃO! NÃO! NÃO À REDUÇÃO! ”)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Convido o Exm° Sr. Secretário
de Assistência Social e Desenvolvimento Humano do Município de Cuiabá, José Rodrigues Rocha
Júnior para compor a mesa.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Na sequência, daremos
início às entregas das Moções de Aplausos com os seguintes dizeres:
A Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, por seus membros, mediante
o requerimento do Deputado Guilherme Maluf, vem manifestar o reconhecimento público às
personalidades que vêm desenvolvendo um brilhante trabalho em prol dos direitos da criança e do
adolescente em nosso Estado.
O Exm° Sr. Deputado Guilherme Maluf fará a entrega das Moções de Aplausos
aos Excelentíssimos senhores e senhoras...
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos a Exmª Srª
Drª Desembargadora Cleuci Terezinha Chagas para receber, das mãos do Deputado Guilherme
Maluf, a Moção de Aplausos. (AUSENTE)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Exm° Sr.
Dr. Paulo Roberto Jorge do Prado, Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso, para
receber das mãos do Deputado Guilherme Maluf a Moção de Aplausos.
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(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Exm° Sr.
Dr. José Antônio Borges Pereira, Promotor de Justiça da 14ª Promotoria da Infância e Juventude da
Comarca de Cuiabá, para receber das mãos do Deputado Guilherme Maluf a Moção de Aplausos.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Exm° Sr.
Valdiney Antônio de Arruda, Secretário de Estado de Assistência Social, para receber das mãos do
Deputado Guilherme Maluf a Moção de Aplausos.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Exm° Sr.
Fábio Schroeter, Prefeito Municipal de Campo Verde, para receber das mãos do Deputado
Guilherme Maluf a Moção de Aplausos.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Exm° Sr.
Dr. José Rodrigues da Rocha Júnior, Secretário de Assistência Social e Desenvolvimento Humano
do Município de Cuiabá, para receber das mãos do Deputado Guilherme Maluf a Moção de
Aplausos.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Sr. Iraídes
Quirino Xavier Vieira, Presidente da Associação de Conselheiros e ex-Conselheiros Tutelares de
Mato Grosso, para receber das mãos do Deputado Guilherme Maluf a Moção de Aplausos.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Convidamos o Sr.
Luciomar França Neto de Arruda pelos serviços prestados em prol da criança e do adolescente em
nosso Estado.
(O SR. DEPUTADO GUILHERME MALUF PROCEDE A ENTREGA DA MOÇÃO DE
APLAUSOS AO AGRACIADO - PALMAS.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIA (EDSON PIRES) – Sr. Presidente, feita a
entrega aos homenageados, volto a palavra ao nobre Deputado Guilherme Maluf, Presidente da
mesa.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Vamos intercalar um pouco,
algumas inscrições da plateia com os inscritos da mesa.
Com a palavra, o Sr. Luciomar França Neto.
O SR. LUCIOMAR FRANÇA NETO - Boa tarde a todos!
Eu vou cumprimentar a mesa em nome do Deputado Presidente. Primeiramente,
pediram que eu fizesse uma fala sobre a minha trajetória em defesa da criança e do adolescente, mas
em razão dos 03 minutos, eu vou cortar essa parte e falar apenas o que quero dizer sobre os 25 anos
do Estatuto.
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Mato Grosso é um Estado que cresce - isso é transmitido pela mídia – e que tem
10% de desenvolvimento, mas parece que não tem diminuído as desigualdades sociais das
comunidades mais carentes, dos lugares mais afastados.
A pobreza ainda é o maior sinal da desigualdade. Ela é a primeira violação dos
direitos fundamentais da criança e do adolescente. E, principalmente, um obstáculo para o acesso
das políticas públicas. Essa desigualdade se agrava muito por duas situações primordiais.
A primeira é a questão da regionalidade - apesar de muitos avanços em algumas
áreas nos centros urbanos, como a cidade de Lucas do Rio Verde, Cuiabá ou Rondonópolis - nas
cidades pequenas, as crianças ou adolescentes têm seus direitos extremamente violados. Na questão
do cumprimento das medidas socioeducativas, por exemplo, os adolescentes estão ficando longe de
suas famílias, cumprindo na Capital e em Rondonópolis. Assim, numa cidade como Colniza, os
adolescentes não têm esse direito garantido. É o que ECA preconiza. E nesses 25 anos não vimos
ainda efetivado.
Preciso dizer que a violência, infelizmente, tem cor, raça e etnia. Há neste Estado
quem nasce pobre, preto, mulher, deficiente, indígena e ribeirinho.
E eu não poderia deixar de falar da a saúde e da educação, que são duas fontes
primordiais de acesso para que a pessoa consiga se desenvolver. Na semana passada, o Governador
Pedro Taques fez um adiantamento das ações. Saúde foi dada como prioridade, mas a coitada da
educação ficou... Ao invés de livros, vamos comprar armas, em vez de professores, vamos contratar
policiais. (PALMAS)
Eu vejo na plateia alguns conselheiros tutelares. Meu amigo, que me antecedeu,
disse que os conselheiros estão sendo censurados. Acredito que o gestor municipal deve levar isso
para AMM – Associação Mato-grossense dos Municípios. É necessário que os gestores municipais,
realmente, tenham esse compromisso para a efetivação do Conselho Tutelar. Vejo, também, alguns
conselheiros de direito, e precisamos compreender que o Conselho Municipal da Criança e do
Adolescente não pode ser o anexo do Executivo, ele precisa ser, realmente, um espaço de liberação
de políticas públicas. (PALMAS) Quero, finalmente, dizer que sou radicalmente contrário a redução da maioridade
penal. E se há impunidade neste País, não é de adolescente em conflito com a lei, mas dos políticos
que roubam, sangram nosso Brasil com a corrupção, esses, sim, precisam ser punidos, não os nossos
adolescentes.
Muito obrigado e boa tarde a todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Dr. José Antônio Borges
Pereira, Promotor de Justiça da Infância e Juventude de Cuiabá.
O SR. JOSÉ ANTÔNIO BORGES PEREIRA - Cumprimento o nosso Presidente
da Casa, Deputado Guilherme Maluf; meu Procurador-Geral, Paulo Prado; demais Deputados,
senhoras e senhores, conselheiros, crianças e adolescentes.
Estamos comemorando ou registrando os 25 anos do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Apesar do desabafo do meu Procurador-Geral Paulo Prado, eu sou otimista. A nossa
democracia é muito jovem, em função disso, tivemos, sim, avanços e vitórias.
Apenas como registro e reconhecimento, queira ou não, Paulo Prado, o primeiro
Conselho Tutelar de Direito criado no Brasil foi em Sinop pelo senhor. Ninguém conhecia, tinha
uma resistência, São Paulo foi uma das últimas a criar Conselho Tutelar, depois de anos.
E Paulo Prado, junto com o saudoso Luiz Vidal da Fonseca e outros
companheiros do Ministério Público saíram por esse Estado todo, Dr. Attilio Ourives, criando os
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Conselhos Tutelares e de Direito. E ninguém entendia o que era isso, até porque tínhamos um
histórico do Código de Menores, que era exatamente um código policialesco, que não tinha o devido
processo legal. A única coisa na área infracional que teve de diferente, é que agora um adolescente
ou cidadão adulto têm o direito de defesa, essa foi a grande mudança que ocorreu em relação a essa
questão.
Então, temos que avançar muito ainda. Nesse sentido, é importante que cheguemos
no pico da juventude, a população agora começa a envelhecer. Daqui a pouco, vamos estar aqui
discutindo o estatuto do idoso. A juventude está reduzindo, cada vez mais, e quem vai cuidar de nós,
idosos? É muito séria essa situação. É uma questão de previdência, é uma questão de saúde, de
economia da população economicamente ativa e são muito importantes essas situações. Mas, numa
Casa de Leis, que é a nossa Assembleia Legislativa, não podemos deixar de colocar alguns pontos,
Sr. Presidente, que são muito importantes.
Um deles, deve ser reinaugurada pelo Prefeito Mauro Mendes, agora no dia 12 de
outubro, a ala pediátrica do pronto-socorro, que é uma obra muito interessante. Há uma ação civil
pública do Ministério Público, e os próprios médicos pediátricos, junto com a Drª Gleide Bispo,
Juíza da Infância, têm feito um trabalho rigoroso, buscando o melhor para as nossas crianças em
termos de equipamentos. Isso é um avanço, e pensando lá na frente, Srs. Deputados, aquele pronto-
socorro pode virar um Hospital da Criança, quando o próximo pronto-socorro for construído daqui a
05 ou 06 anos. (PALMAS)
Sem nenhum menosprezo, mas no Acre tem Hospital da Criança e na nossa
Capital não tem, ainda, hospital referência para crianças. E, na fila dos desesperados, dos horrores do
pronto-socorro, também, há crianças e adolescentes, e isso é muito sério.
Em relação ao nosso Deputado Federal, o Deputado Ságuas, ele falou muito bem
sobre o Plano de Educação. É um grande dilema para as crianças não terem creches. É muito sério
para as mães trabalhadoras, porque mudou o perfil da família. Os meus avós tiveram 09, 10 filhos,
esse perfil mudou completamente. E essas mães, às vezes, não têm mais os avós, os tios para cuidar
das crianças.
Então, creche, além de ser educação - não só um lugar de cuidadores - é de suma
importância para a sobrevivência dessas famílias, em que a mãe é a cabeça. É uma área delicada,
ligada aos municípios e sabemos que os municípios não têm renda suficiente para garantir essas
creches, isso é muito sério.
Em relação ao Estatuto, ele é divido em 03 livros, que poucos entendem ou não
abriram, como o Dr. Paulo falou. Há a proteção primária, saúde, educação, que não deve se discutir e
deve dar; a proteção secundária, que são aquelas crianças e adolescentes que estão em situação de
risco e devem ter toda uma estrutura para se buscar a proteção a essas crianças; e a proteção
terciária, infelizmente, quando falhamos e os nossos adolescentes acabam praticando atos
infracionais.
Temos, hoje, no Brasil, de 16 a 17 anos, 02 milhões de habitantes e nós somos 200
milhões. Dessa parcela de 02 milhões, apenas 1% pratica atos infracionais e desse 1%, 00,1% pratica
atos infracionais graves. Então, na verdade, houve toda uma estrutura para mudar o foco da nossa
crise, com uma mídia que busca a culpa para tudo em função dos adolescentes infratores, o que não
é verdade.
O que tínhamos que fazer não é reduzir a maioridade penal, mas aquele que é
sociopata, seja ele um adolescente, um adulto, aquele que tem prazer de roubar, que tem prazer de
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estuprar, tem prazer de matar, esses só deveriam voltar se um psiquiatra dissesse: “Esse não vai mais
roubar, principalmente, dinheiro público...
(A PLATEIA SE MANIFESTA – RISOS)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO - ... Não vai mais estuprar, matar, podemos voltá-lo para a
sociedade”. Por exemplo, aquele menino, aquele adolescente que matou aquela jovem em São Paulo,
caso polêmico, até hoje ele está internado num sistema da área cível, o STJ – Superior Tribunal de
Justiça determinou que ele fique num sistema de segurança por interdição.
Então, a jurisprudência, os tribunais estão além do Estatuto, aquele adolescente
que passou dos 21 anos, mas não tem condições mentais e vai continuar matando, está interditado.
Há o caso de um adolescente de Mato Grosso, de Cáceres, que matou a mãe, o pai,
a família inteira e, também, sofreu a mesma situação. Esses casos pontuais de sociopatia, de
psicopatas, sejam eles, adolescentes, adultos, esses não deveriam sair do sistema.
Mas, vemos uma luz no fundo do poço, em relação aos atos infracionais. Nesses
25 anos, o único local que temos é o centro socioeducativo do Pomeri, antiga Fazendinha, que sofreu
várias reformas e adequações, houve a demolição da parte velha do prédio. Entretanto, ainda, precisa
de melhorias. E no interior do Estado, até hoje, não tem nenhum centro socioeducativo. E temos
uma medida judicial em relação a isso. Firmamos compromisso com o Governo Pedro Taques e, nos
próximos 02 anos, serão construídos os centros socioeducativos no interior do Estado.
Os adolescentes poderão ficar nesse centro, porque hoje não tem vagas. É muito
difícil para o juiz da capital ficar segurando vagas e os juízes e os promotores estão desesperados.
Na verdade, o único estado - tem que se fazer justiça - que resolveu esse problema,
que investiu nisso, houve a interiorização e teve resultados concretos, é o Estado de São Paulo, os
demais Estados do Brasil, Rio de Janeiro, não fizeram os centros socioeducativos para pequenos
grupos, onde tivesse ali um cuidado especial para devolver esses adolescentes à sociedade.
Então, nós não reeducamos, a verdade é essa, não foi feito investimento para a
reeducação. E agora, simplesmente, querem reduzir a maioridade penal como se fosse resolver - com
um detalhe, em locais separados, nem para os adolescentes abaixo de 16, que são poucos, e nem para
os adultos.
Eu pergunto: onde serão esses lugares? No céu? (RISOS) Não tem. Ou a lei vai ter
uma disposição transitória: “Olha, essa lei está valendo, mas vai demorar no mínimo 04 anos até
construirmos esses locais separados”. Não tem local! Não vai ter local. Ou eles vão continuar com os
adolescentes em locais que têm, porque o Conselho Nacional de Justiça determinou que não se põe
mais adolescentes em delegacias. Antes, até colocávamos porque não tínhamos lugar.
Uma decisão política e legal, de cumprimento da Constituição, determinou que não
se põe mais adolescentes, mesmo em cela separada, dentro de delegacia. Criou-se um problema que
precisa ser resolvido. O nosso Estado promete que, agora, vai resolver e, assim, nós queremos.
Por último, nobre Presidente, há, só aqui em Cuiabá, 800 ações civis públicas para
remédios, cirurgias. Há crianças precisando de anestesia para fazer quimioterapia e não tem
anestesia. Então, são situações gravíssimas, e esperamos que sejam minimizadas rapidamente até
este ano, remédio... Eu estou falando de remédio, não estou falando nem de cirurgias, Secretário, a
criança não vai fazer quimioterapia porque não tem anestesia. Vai a mãe com aquelas carequinhas lá,
os menininhos que já perderam o cabelo: “Olha, não está fazendo a quimio, porque não tem
anestesia, ou a radioterapia”. E criança precisa de anestesia para fazer esse tipo de procedimento.
Essa é a situação que nossas crianças vivem no nosso Estado e de, maneira geral, no Brasil.
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Isso para não falar da falta de leite! Há uma discussão no Município de Cuiabá
sobre quem vai dar leite para as crianças, se é a assistência social - os leites especiais - ou se é a
saúde. Enquanto as secretarias brigam, as crianças ficam sem leite. Pior, estamos com um problema
sério, mães aidéticas que não podem dar o peito e falta leite especial para essas crianças.
Então, são essas realidades que temos no nosso Estado e que precisam ser
resolvidas, urgentemente. Esperamos que isso aconteça o mais rápido possível, porque ação civil
pública tem 800 e não resolvemos isso. Vamos fazer bloqueios, é toda uma maratona para conseguir
que uma criança não morra e muitas morrem. Muito obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Parabéns, Dr. Zé Antônio pelo
seu trabalho.
Passo a palavra ao nobre Deputado Max Russi.
O SR. MAX RUSSI – Boa tarde a todos e todas!
Cumprimento o Presidente da Assembleia, Deputado Guilherme Maluf. A
Assembleia Legislativa passa por um novo momento com a liderança do Deputado Guilherme Maluf
e do Deputado Wilson, que tem sido fundamental. Esta Casa de Leis tem dado a sua contribuição a
Mato Grosso, tem devolvido dinheiro ao Poder Executivo, está “tocando” três CPIs e fazendo muitas
Audiências importantes como esta e seminários. Inclusive, amanhã, quinta-feira, eu e o Secretário
Valdiney estaremos em Barra do Garças, numa Audiência Pública. Estamos andando, da mesma
forma que fomos em Rondonópolis discutir sobre a exploração do trabalho infantil. Uma Audiência
que, em Rondonópolis, surtiu um resultado muito bom, da mesma forma que foi proposta e feita em
Cuiabá pelo Deputado Wilson Santos, que também faz parte da mesa.
Quero cumprimentar o Deputado Federal Ságuas Moraes. Quero parabenizá-lo
pelo seu voto na questão da redução da maioridade penal. Vossa Excelência contrariou a maioria da
opinião pública, e se eu fosse Deputado Federal, votaria da mesma forma. Mesmo que as pesquisas
indiquem que 85% a 87% querem essa diminuição, Vossa Excelência votou de forma consciente, de
forma correta, no meu ponto de vista. Eu também votaria assim, em Brasília.
Então, é importante isso. Porque falar a favor da diminuição da maioridade penal e
falar mal de político é unanimidade. Infelizmente, é essa a realidade! Cumprimento a nossa
Conselheira Ester e a Srª Idy, Presidente das Conselheiras. Parabéns aos conselheiros tutelares! Isso
é unanimidade! Mas o Deputado Federal Ságuas Moraes votou e mais uma vez, parabéns! E ao Sr.
Paulo Prado, pela bela explanação que foi feita; ao Secretário Valdiney, em seu nome, cumprimento
todos os Secretários.
Eu fico feliz e fiz questão de participar a convite da Associação desta Audiência
Pública, porque sou apaixonado pela assistência social, pelas políticas de defesa do menor, do
adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais e dos menos favorecidos.
Nessas discussões, quando envolvemos um público tão seleto, quando traz a imprensa, faz-se a
discussão de 25 anos do Estatuto... Uma data a ser comemorada, apesar dos avanços que não
ocorreram, precisamos fazer, sim, essa discussão, trazer, envolver a Assembleia Legislativa, que é
uma Casa de Leis, é a Casa do povo de Mato Grosso, a Casa que tem um papel importante. Temos
que discutir as políticas públicas do Estado de Mato Grosso e dar o apoio efetivo para que possamos,
de forma concreta, não deixar o povo alheio, não deixando despercebidas as políticas que envolvem
as crianças, que envolvem os adolescentes.
Quando você analisa o quanto custa um preso no Sistema Prisional, - Sistema
Prisional falido, que não oferece recuperação nenhuma - e nós pensamos em colocar mais jovens lá,
em presídios onde custa R$2.500, R$3.500, R$5.000,00, R$6.000,00 uma vaga... Se investirmos
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uma pequena parcela disso em políticas para a nossa juventude, políticas de qualificação, de
educação, nós estaremos, dessa forma, construindo uma Cuiabá melhor, um Mato Grosso e um
Brasil melhores.
Essa é a minha defesa e é para isso que, enquanto Deputado Estadual, temos
compromisso de dar esse apoio, de fazer essa discussão e defender isso nesta Casa de Leis.
Parabenizo, mais uma vez, o Deputado Guilherme Maluf e a Associação dos
Conselhos Tutelares pela oportunidade de receber um encontro dos Conselheiros de Mato Grosso no
meu Município, no Município de Jaciara. O Prefeito Fábio, quando Prefeito... Primeiro encontro fora
da Capital e dali saíram deliberações e avanços importantes em termos de fortalecimentos dos
Conselhos Tutelares do Estado de Mato Grosso.
Parabéns a todos os participantes, que Deus os abençoe e que façamos, cada vez
mais, uma política voltada para ajudar os nossos adolescentes e as nossas crianças para, dessa forma,
termos um Mato Grosso melhor.
Muito obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Com a palavra, o Sr. Guilherme
Almeida, da plateia.
O SR. GUILHERME ALMEIDA – Boa tarde a todas e a todos!
Parabenizo o Deputado Guilherme Maluf por chamar esse debate.
Primeiro, a minha intenção é fazer um apelo aos Deputados Estaduais desta Casa.
Já, já eu explico isso.
Quando falamos de criança e adolescente, estamos, a maior parte do tempo,
colocando o quê? Que a perspectiva da educação, o investimento em educação é prioritário.
Infelizmente, não é isso que vemos em nosso País. Em nenhum dos níveis municipal, estadual e
federal. O Deputado Max Russi acabou de dizer que a vaga de presídio custa R$3.000,00,
R$4.000,00 por mês, e investimento em educação é muito menor do que isso, por aluno, e nós não
fazemos. Infelizmente, o Governo Federal cortou verbas da Educação, para quê? Para fazer
pagamentos das dívidas que são altas e pagar juros para banqueiros.
No Governo do Estado, faço um apelo, na greve de 2013, os professores
conseguiram um avanço real do seu salário. Estamos falando que Educação é prioridade. Não vamos
dar as condições materiais? Ter escolas de qualidade? Funcionários da Educação bem pagos e
remunerados? É isso que vamos fazer ou cobrar que esse professor, essa professora, esse técnico em
educação trabalhe em 03 turnos para se sustentar? Se queremos qualidade, devemos cobrar que
tenham condições materiais para esse pessoal. Ter educação em tempo integral, entre outras
questões. Temos que dizer: Não. O SINTEP está com indicativo de greve para agosto.
Portanto, o que está acontecendo? No Estado não estamos pautando por qualidade
e remuneração para que se trabalhe com a Educação. Fazemos um apelo aos Deputados para
intervirem em relação a isso. No município, também, temos muitas brigas e o que conquistar. Dentro
do nosso Estado fazemos isso, não fazemos? Brigar por educação pública, brigar por todas as
questões.
Outra questão importante a ser debatida é cumprir e acompanhar os Planos
Municipais, Estaduais e Federal de Educação. Precisamos nos envolver nisso, nos apoderar deles e
cobrar para que aconteçam e aconteçam com pluralidade de ideias, não como aconteceu na Câmara
de Vereadores de Cuiabá, onde tiraram o debate de gêneros. O que é uma pena, porque continua se
reproduzindo o machismo e a homofobia. Não queremos isso, queremos acabar com essa ideia de
dizer que somos contra. Nós somos contra a redução da maioridade penal, somos a favor de se
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investir sempre no social, na saúde, na educação, nos conselheiros tutelares, na assistência social e
somos contra a dar um passo atrás no Direito da Criança e do Adolescente. Nunca! Isso não pode
acontecer.
Um abraço e boa tarde. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado.
Com a palavra, o Exm° Sr. Valdiney Antônio de Arruda, Secretário de Estado e
Trabalho e Assistência Social.
O SR. VALDINEY ANTÔNIO DE ARRUDA – Boa tarde.
Eu quero cumprimentar a mesa, Deputado Guilherme Maluf, em seu nome,
cumprimentar este seleto grupo de profissionais, acima de tudo, combatentes pela defesa do direito
da criança e do adolescente.
Para mim é um paradigma estar aqui neste dia 13. Vinte e cinco anos.
No final dos anos 80, início dos anos 90, eu e mais alguns que estão aqui
participamos de várias reuniões e diálogos de reforma e construção deste Estatuto. Eu era
seminarista e na minha igreja - eu era salesiano - ajudamos a debater e a construir. Depois essa
idealização foi levada à tona, porque o Estatuto da Criança e do Adolescente nasceu de movimentos,
nasceu da realidade de base, chegou ao Congresso e por isso foi aprovado e é considerada uma das
melhores leis em nível internacional. Por isso, Senhor Paulo Prado, eu sou otimista, muito otimista.
Eu me lembro das primeiras reuniões que participamos, quando eu era apenas uma
pessoa que queria ajudar, vindo do Seminário aqui em Cuiabá. E as reuniões para tratar da defesa da
criança e do adolescente não reuniam mais do que meia dúzia de gente. Não tinha esse grupo seleto e
todo esse movimento de pessoas envolvidas. Eu entendo que ao pensar nesses 25 anos, é preciso
refletir, mas, também, comemorar.
Eu tenho a percepção de que a nossa capacidade de analisar... E se chegamos
aonde chegamos é porque se permitiu chegar neste momento de encruzilhada, por conta de vários
atores e de vários movimentos. Eu reputo de maior importância, neste momento, refletir sobre todos
os itens que foram falados, sobre a necessidade da educação e sobre a importância de que as outras
ações intersetoriais se realizem. E é importante o fortalecimento dos Conselhos Tutelares, dos
Conselhos de Direito para este processo.
Quem sabe para quem foi constituído os Conselhos Municipais, o Conselho
Estadual e o Conselho Tutelar entende que a participação dele na sociedade vai convergir para que
esse fortalecimento seja para já. Porque se queremos discutir proteção da defesa da criança e do
adolescente, temos que entender que esse é um mecanismo ímpar, não só no Estado, no Brasil, mas
até em nível mundial de uma construção de participação social. Isso eu tenho a defesa, porque eu saí
dele, saí desses movimentos. E sei o quanto é importante ter diálogo com o prefeito na base, com o
Conselho e discutir dentro da nossa governabilidade no Estado e, também, em nível federal.
Pelo fortalecimento do Conselho Estadual, quero parabenizar dois grandes
Presidentes, um que está a frente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, o Mauro e o
Benildes, que está presidindo esse Conselho e sabe muito bem o quanto é importante dar essa
independência, esse fortalecimento.
O sistema de defesa da criança e do adolescente todo é importante, mas quero
chamar atenção para esses dois itens.
O papel dos conselheiros que, por muitos tem sido desvirtuado, não só no Brasil,
aqui em Mato Grosso. O papel do conselheiro precisa ser bem repensado, Sr. Presidente, ser revisto
e colocado, Paulo Prado, nos seus devidos lugares. Se queremos continuar essa evolução,
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precisamos enxergar a necessidade desse papel. E, dentro do Conselho Municipal de Direito, do
Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente, é preciso haver mais respeito, mais
condições para que haja prioridade nesses dois institutos importantíssimos para a defesa da criança e
do adolescente.
Eu entendo que falhamos, que a política pública vem falhando, mas esses avanços
só foram permitidos nos lugares, em alguns Estados e municípios, mais ou menos, graças ao papel
desses Conselhos de Direito. Pode ver, onde há evolução de proteção da defesa da criança e do
adolescente nos municípios é porque há um ótimo Conselho Tutelar, um ótimo Conselho Municipal
da Criança e do Adolescente, isso é condição.
Mas é muito ruim discutirmos o papel do Conselho e as vitórias que tivemos,
aonde queremos chegar, tendo uma discussão totalmente desvirtuada como é a discussão da
maioridade penal. Realmente, isso abate. Porque a concepção que temos da evolução me parece que
não foi aceita, que não foi assimilada dentro dos princípios que foram elencados.
Quero deixar duas observações importantes, que afetam muito a nossa política e,
principalmente, pelo o que o Governador Pedro Taques vem nos cobrando muito.
Primeiro, por ele ter recebido os conselheiros pessoalmente naquela reunião, por
ter aceitado os desafios colocados pelos conselheiros, a partir disso, nós estabelecemos algumas
estratégias para que cheguemos ao fortalecimento do Conselho.
Mas, principalmente, para um tema que para mim é importante... O José Antônio,
é um pseudônimo, não é o nome verdadeiro, falo isso em homenagem ao desbravador José Antônio,
que aprendi a admirar há pouco tempo. Um dia a mãe dele atendeu um telefonema, ele estava em
uma delegacia de polícia, porque tinha roubado. E a mãe achou que ele estava trabalhando na rua,
que era um trabalho informal. E ela foi retirar aquele adolescente que estava preso. Em seguida, ao
sair da delegacia, ele entrou em uma atuação conjunta nossa, na época - isso faz 02 anos – que
identificou e permitiu com que ele tivesse uma inserção socioprofissional em uma modelagem que
se chama Transição Escola-Trabalho, que elencamos por meio da aprendizagem, do atendimento
psicossocial.
Isso fez com que, hoje, aos 18 anos, José Antônio esteja no emprego, cursando
uma faculdade com salário médio acima de R$2.000,00. Encontrei-o 02 meses atrás e, toda vez que
nos encontramos, ele me agradece e relembra essa história.
Isso, Deputado Ságuas, é para fazer o que fiz no encontro passado de conselheiros,
desafiar cada Deputado Federal que vota a favor da maioridade penal para que venha no Estado de
Mato Grosso e conheça os mais de 100 adolescentes da medida socioeducativa com os quais
trabalhamos, e desses 100, só um não conseguimos recuperar. Para eles perceberem que o sistema de
maioridade penal não é o que resolve. É a modelagem do sistema socioeducativo, ao fazer com que
ele funcione. Desafio os deputados a conhecer os adolescentes da Rede Cidadã, a conhecer os
adolescentes que são atendidos pela Delegacia Especializada da Infância e da Adolescência, Drª
Mara, Dr. Eduardo, para conhecer a modelagem que está atendendo em Chapada dos Guimarães,
com atendimento psicossocial, que estabelecemos lá e permite até prevenir o adolescente quando ele
chega à Delegacia.
Para provar para cada um desses Deputados que não é a maioridade penal que
resolve, mas é a ação de fato, a ação de inclusão, quando se entende que o adolescente é diferente,
não é, Simone? E ele precisa ter uma vida qualificada para permitir o encaminhamento de cada um
deles ao sistema, principalmente, a Transição Escola-Trabalho, modelagem que estamos trabalhando
agora.
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Pela primeira vez, fizemos uma ação específica para incluir jovens no mercado de
trabalho. Fizemos um baita trabalho de convencimento nas empresas, abrimos vagas específicas para
o primeiro emprego e tivemos, no primeiro dia D de inclusão do jovem no mercado de trabalho,
mais de 1.118 jovens atrás de uma profissionalização ou de uma inclusão no mercado. Isso é medida
de quem quer ir para o crime? Com certeza, não.
Se a capacidade do Estado não permitir essa interação, essa identificação para
entendermos esse perfil e encaminhar, por muito tempo discutiremos, ainda, a evolução do ECA.
Estamos com uma nova modelagem do sistema socioeducativo, Dr. Fabrício, todos
os adolescentes na medida socioeducativa do regime semiliberdade, todos entrarão para o Programa
de Transição Escola-Trabalho. Porque se foi sucesso no passado, será sucesso agora.
E idealizamos, pela primeira vez, um trabalho para a medida socioeducativa do
regime fechado. Isso nunca tinha acontecido e vai ocorrer na nossa gestão, porque na medida
socioeducativa e regime aberto, já provamos que deu certo, então, vamos continuar e ampliar.
Mas, é preciso ter atenção a essas especialidades porque, muitas vezes, Paulo
Prado, o que mais precisamos é de integração de ações, é de diálogo entre as secretarias, entre os
gestores municipais, federais e foco nas ações que já ocorrem para aquele público específico. E essa
capacidade nossa deverá convencer o Poder Público dessa necessidade.
Deixo a todos vocês esse tom de esperança e de otimismo. O Governador nos
cobra muito isso, de que precisamos ser otimistas, que não olhemos para trás, olhemos para frente e
estabeleçamos as ações. E, principalmente, - ele pede muito – que se queremos fazer diferente, não
temos que repetir o passado. Portanto, não temos que olhar dentro do nosso quadrado, temos que
olhar fora da caixinha.
Parabenizo o encontro, esse grande encontro, o Presidente por ter convocado e,
especialmente, parabenizo a Presidente da Associação Eraídes, dos Conselheiros Tutelares. Tenho
certeza de que muitos dos avanços se devem aos Conselhos. Quero manter o nosso compromisso de
fortalecimento e crescimento. Vamos, sim, estabelecer aqueles 03 pontos elencados aqui: a melhoria
das estruturas, o estabelecimento de Conselho Modelo, não só em Cuiabá, mas em outras cidades e,
principalmente, a continuidade da capacitação. O Mauro é responsável por esse processo, por esse
projeto, para que os atuais conselheiros de direito, os conselheiros tutelares e os que vão entrar sejam
melhores qualificados e tenham uma qualificação continuada.
Estaremos sempre a postos e tenho certeza de que, se queremos transformar
criança e adolescente como prioridade, temos que rever nossas ações e atitudes e, principalmente,
temos que olhar um pouco fora das caixinhas. Obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado, Secretário.
Passo a palavra agora ao Deputado Wilson Santos.
Eu quero fazer referência ao Deputado Wilson Santos que foi prefeito da Capital e
recebeu uns prêmios importantes ligados à criança na sua gestão como prefeito, da Associação
Abrinq.
Passo a palavra ao Deputado Wilson Santos.
O SR. WILSON SANTOS – Eu quero ser bem rápido, só cumprimentar o
Presidente Deputado Guilherme Maluf, pela feliz ideia de propor esta Audiência Pública. Isso é bom
porque a Assembleia Legislativa está readquirindo esta nova fase, quase todos os dias estes
auditórios estão lotados. Esse é o papel do Parlamento, trazer para cá as discussões que interessam à
sociedade. Não tem necessidade da Assembleia Legislativa ser a condutora das ideias, e de as coisas
acontecerem só como o Deputado pensa. Não! Vocês conhecem muito mais deste tema do que nós.
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Então, eu quero parabenizá-lo, Deputado Guilherme Maluf, Vossa Excelência que
é médico, atuante, dono de um importantíssimo hospital neste Estado, foi Secretário de Saúde na
minha gestão e contribuiu para que ganhássemos um prêmio nacional da Fundação Abrinq, depois
de 04 anos de observação, que é o Prefeito Amigo da Criança.
Eu quero dividir com todos nós, com os conselheiros e conselheiras tutelares, esse
instrumento novo e fantástico na sociedade, que precisa de proteção, de um olhar mais carinhoso,
porque entra no meio de confusão de marido e mulher, de brigaiada, toma pedrada, esculhambação,
xingamento, cachorro corre atrás, são os praguejados e são agentes importantíssimos na defesa da
criança. Eu não conhecia esse profissional, até que na Prefeitura convivi com os Conselhos e com os
conselheiros. Aprendi muito com eles.
Eu quero parabenizar os magistrados, os promotores, o Dr. Zé Antônio, que foi
meu aluno e expia a cabeça deste homem! (RISOS) Não é fácil atuar nesta área! E eu aqui, novo,
bonito e ele aí, cabeça branca igual a Papai Noel, não é fácil nessa Vara estar original, não é Zé?
(RISOS) Gostei dessa indireta sua... (RISOS) Não é fácil!
Um tempo atrás fui visitar minha ex-aluna também, Doutora Sinii Savana Bosse
Figueiredo, Juíza no Complexo Pomeri. Ela me contou e eu falei: “ Meu Deus do céu, como é que
pode suportar! Dá dó da mulher! Não é brincadeira! ” E está, agora lá, o meu amigo, meu vizinho,
Dr. Jorge Santos. Ele acorda por volta das 04h30min e começa a fazer atividade física na academia
do nosso prédio e vai até às 07h30min, 08h30min e a minha mulher me perguntou: “Porque esse
homem faz tanta atividade física, Wilson? ” Eu disse: “ Você não sabe o que o Dr. Jorge enfrenta
nesse tal do Pomeri. ” (RISOS) Não é tarefa fácil! Então, parabéns a todos vocês, Magistrados,
Promotores, Defensores, Secretários Municipais, de Estado! Olha, a tarefa não é fácil!
Mas com olhos bem peculiares, vejo que muita coisa melhorou! Tem muita coisa
ainda... Tem! E não pensem vocês que o céu é aqui não... Não! Não existirá nunca o céu na terra. E
sempre, por mais que trabalhemos, nos envolvemos, sempre haverá coisas a fazer. Mas, de um
tempo para cá, muita coisa melhorou. O próprio Estatuto, que está indo para 25 anos de existência,
não existia no passado!
Eu fui menino, criado vendendo bolo na rua, engraxando sapato, lavando carro e
vendendo jornal. Eu sei o que é rua! Eu não falo por teoria, por ler livros não, eu sei o que é rua.
Passei 04, 05 anos vendendo jornal nas ruas de Cuiabá, lavando carro e engraxando sapato. Eu sei,
eu convivi! E não me contaminei porque, na época, por exemplo, só fumava maconha o filhinho de
papai, o povão não tinha dinheiro.
Esse foi um desafio que o narcotráfico enfrentou. Para a maldade eles são geniais
e, infelizmente, conseguiram, o quê? Popularizar a droga. Hoje, qualquer um tem $1,00, $0,50 para
comprar maconha, crack e comprar qualquer coisa. No meu tempo, nos anos 60, 70, ninguém
comprava droga em Cuiabá se não tivesse grana, porque era caro. Mas o narcotráfico conseguiu
baixar o custo e tomou conta. Em cada esquina deste País tem um soldado do narcotráfico.
Foi o que o Marcola falou, em cada esquina deste País, seja São Paulo, seja
Acorizal; seja Rio de Janeiro, seja Nossa Senhora do Livramento... Só em Chapada dos Guimarães
tem 46 bocas de fumo. Quarenta e seis em Cuiabá tem em um bairro. Em quase todas as casas estão
vendendo drogas nos bairros de Cuiabá. Essa é a realidade. Ou a família protege as crianças ou o
Estado ajuda a proteger.
Então, eu quero encerrar o meu pronunciamento, que é de parabenizações aos
juízes, aos promotores, porque sei o que esses homens conhecem, o drama que eles vivem e tem que
decidir.
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Quero parabenizar, também, o Dr. Jorge, o Ministério Público, os juízes, Dr. Paulo
da Cunha, pela decisão de ajudar o Estado na construção de 06 novos centros socioeducativos. Oxalá
não precisássemos gastar $1,00 para construir socioeducativo, cadeia, comprar arma para a polícia.
Oxalá tivéssemos uma sociedade comportada. Já gastamos bilhões, trilhões com a Polícia Militar,
com o Corpo de Bombeiros, com tudo.
O Dr. Jorge vem liderando com o Dr. Duílio, Dr. Paulo da Cunha todo um
Movimento do Tribunal de Justiça, que já concedeu 20 milhões de reais só este ano para a
construção de 06 novas unidades em Barra do Garças, em Cáceres, em Tangará da Serra, em Sinop,
em Rondonópolis e parece-me que em Várzea Grande. São 06 polos que receberão as unidades
socioeducativas. É uma pena, mas a realidade tem que ser enfrentada, e que seja enfrentada da
melhor maneira possível.
Parabéns ao Tribunal de Justiça que, pela primeira vez que sei na história, está
tirando dinheiro da sua lotação orçamentária para repassar para o Executivo para a construção desses
centros socioeducativos. É uma coisa inédita, assim como a Assembleia Legislativa doou,
recentemente, 20 milhões. Eu não vou falar mais nada porque já deu uma confusão desgraçada na
semana passada... (RISOS) Não vou falar mais nada, ainda mais sem saber. Eu vou consultar o
Presidente primeiro.
São coisas que não aconteciam e estão acontecendo. A Assembleia Legislativa está
doando dinheiro para comprar ambulância, o Tribunal de Justiça, dinheiro para construção. Está
ficando bacana, está ficado legal. Então, eu vejo por esse prisma e aqui somos bacanas com essa
postura. O que a Assembleia Legislativa puder ser parceira, contribuir, reforçar as políticas públicas
nessa área, eu não tenho dúvida... Porque vocês que estão sentados aí conhecem esse problema
muito mais do que eu, do que muitos de nós, exceto aqui os Promotores e os Juízes.
Parabéns, Presidente, pela feliz ideia de realizar esta Audiência Pública, porque
dessas Audiências Públicas surgem ideias, sugestões para o que não estamos atentos, mas com a boa
vontade e com o instrumento do parlamento podemos fazer andar algumas coisas.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado, Deputado
Wilson Santos.
Com a palavra, a Srª Morgana Moura.
(PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS: “VOSSA
EXCELÊNCIA É CONTRA OU A FAVOR DA MAIORIDADE PENAL? ”)
O SR. WILSON SANTOS - Eu sou a favor da redução.
(A PLATEIA SE MANIFESTA COM VAIAS)
O SR. WILSON SANTOS – Por quê? Nos crimes hediondos, como: sequestro,
estupro, homicídio, principalmente, o doloso, latrocínio.
O Código Penal foi feito em 1940. Quando o legislador construiu o Código Penal
em 1940, havia outra realidade. Então, sou a favor da redução nesses casos, não de maneira
generalizada, somente nesses casos.
(A PLATEIA SE MANIFESTA: “NÃO! NÃO! NÃO À REDUÇÃO. ”)
O SR. WILSON SANTOS - Perguntou? Esta é a minha opinião. Isto não me
intimida e nem muda a minha opinião. Eu tenho 53 anos, 03 filhos e 05 netos, minha posição é clara.
Eu sou a favor da redução penal para 16 anos nos casos de crimes hediondos. É a posição, inclusive,
do meu partido!
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O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Agora, com a palavra, a Srª
Morgana Moura.
(PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS –
INAUDÍVEL)
O SR. WILSON SANTOS – Querida, não vim polemizar, mas defendo em
qualquer lugar a minha posição e não me intimido. Sou convicto dela, não recuo um milímetro,
nenhum milímetro! E estou ajudando, o Dr. Jorge sabe disso. Eu tenho participado, em nome da
Assembleia Legislativa, com a autorização do Presidente, nessa construção de políticas públicas. Os
promotores são testemunhas disso.
Então, esse é o meu pensamento. Assim como respeito o seu, eu gostaria que o
meu também fosse respeitado.
(PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS: “PEDE
PARA O GOVERNADOR PEDRO TAQUES APLICAR 30% NA EDUCAÇÃO PORQUE VAI
AJUDAR. O GOVERNO NÃO FAZ ISSO, COMO MANDA A CONSTITUIÇÃO – PALMAS)
O SR. WILSON SANTOS – Querida, alguns que falam que o caminho é a
educação, que eu acho que é, estiveram no poder por 12 anos e não fizeram nada pela educação.
(PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS:
“DINHEIRO PARA A EDUCAÇÃO NÃO TEM! ”)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Agora, eu gostaria de garantir a
palavra para a Srª Morgana. Por favor, Srª Morgana.
A SRª MORGANA MOURA – Boa tarde a todos.
É muito importante termos esse espaço, principalmente, porque estamos
comemorando 25 anos de uma política tão importante para o País, mesmo sendo, como dito pelo
nosso Desembargador, uma vergonha, termos que ter um Estatuto para respaldar o direito da criança
e do adolescente que, na verdade, não é uma conquista, mas uma vergonha.
Mas em relação à redução - um tema que está sendo muito debatido - a redução me
preocupa muito, porque possibilita, não dizer que revoga, mas ela cria brechas dentro deste Estatuto
que nós criamos. E quando pensamos na redução, não estamos pensando na redução para crimes
hediondos e para todos os adolescentes. Estamos pensando na redução para um público específico,
que é preto e pobre neste País. (PALMAS)
Então, continuamos, sim, com segregação social, com desigualdade social para um
público específico. E não podemos ampliar, dizendo que falamos de todos os adolescentes que
cometem crimes hediondos. Estamos falando de adolescentes negros e pobres.
Quando eu me inscrevi para falar, fiquei pensando na fala dos senhores e me
chamou a atenção, principalmente, na questão da complexidade social, de algumas falas que
emergiram em relação às drogas, relacionadas aos atos infracionais, aos atos dos adolescentes que
batem na questão da redução ou não da maioridade penal.
Além de ser uma pesquisadora, que estuda as políticas sobre drogas no Estado, eu
já atuei com os adolescentes, principalmente, na liberdade assistida, prestando serviços comunitários
em Barra do Garças, quando estava na assistência social de lá. O que me preocupa muito, com
relação às drogas, é que temos um discurso reducionista. Não estou falando que droga é uma coisa
boa, ou que não deixa de ser algo negativo, principalmente, quando pensamos na economia do nosso
País. Mas, quando entramos num discurso reducionista é mais fácil maldizermos as drogas, pois não
precisamos lidar com a complexidade dos problemas sociais. Eu não preciso lidar, talvez, com essa
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desigualdade social desse adolescente, pobre, negro, que está lá nos bairros mais afastados, porque
ele é traficante. Eu reduzo, ele é um viciado.
Estudando as atuais apropriações das drogas dentro da psiquiatria, da psicologia,
sabemos que o problema da droga, do tráfico, especificamente, não é a droga. O problema é a falta
de dinheiro que essas pessoas têm, e a desigualdade da distribuição econômica deste País. Então, o
problema não é a droga em si. Tem que se pensar o contrário, nessa complexidade dos problemas
sociais. Como já atuei como técnica, fico pensando em como atender esses adolescentes, se tenho o
sucateamento do meu serviço. É muito lindo quando vemos aquela rede mapeada, em que tenho
CRAS, CRES, CAPS, há um monte de coisas, mas coisas que não funcionam, que o funcionário tem
que pagar para poder trabalhar, tem que comprar as coisas para aquele serviço funcionar.
Quando penso nesse sucateamento, penso que nós, na verdade, estamos na
contramão de tudo o que esse Estatuto diz. E nessa contramão, o maior violador dos direitos da
criança e do adolescente é o próprio Estado, que permite isso.
Eu sou contra a redução da maioridade penal por todos esses motivos, porque
quando falamos de redução, não estamos falando de todo mundo, estamos delimitando, segregando,
socialmente, os nossos adolescentes. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Passo a palavra ao Sr. Mauro
César, Presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente.
O SR. MAURO CÉSAR- Demorou, mas chegou.
Eu gostaria apenas de fazer um registro, que o Decreto nº 120, de autoria do
Governador Pedro Taques, reconstitui o Comitê de Enfrentamento ao Abuso de Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes. Esse é o primeiro registro.
O segundo, é dizer que nesses 25 anos de história, 02 pessoas foram bastante
importantes para o Conselho Estadual da Criança. E, para não fugir da questão do gênero, é um
homem e uma mulher, o Dr. Erivaldo Fernando Moraes e a Conselheira Rosarinha Bastos, que
nunca na história desses 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente se negou, como Presidente
da Comissão da Infância e Juventude da OAB, a defender toda e qualquer causa que envolvesse
crianças e adolescentes. (PALMAS)
Então, querido Secretário, somos otimistas e acreditamos que, para chegar aos 25
anos, muitas crianças e adolescentes tombaram, mortas por aqueles que, muitas vezes, deveriam
cuidar delas. E os conselheiros tutelares pagaram com a própria vida.
Muito obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Com a palavra, Vera Lúcia dos
Anjos, Presidente do Conselho Regional de Serviço Social.
A SRª VERA LÚCIA DOS SANTOS – Boa tarde. Quero cumprimentar o
Presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Guilherme Maluf, parabenizando-o pela iniciativa
de provocar o debate e fazer essa reflexão.
Realmente, estamos celebrando os 25 anos, mas uma celebração que nos remete a
discutir o que tem sido feito, com o farol para o futuro. E hoje, celebramos a concretude do ECA
graças à participação popular, ao movimento, principalmente, dos trabalhadores que estão à frente,
que são os que estão lidando no dia a dia, fazendo, vamos dizer assim, mágica para lidar com a
questão.
E eu tinha pensado em fazer uma participação, um questionamento... Vou tentar
colocar, vejam bem: hoje, temos o Estatuto que interpassa todas as políticas, seja da assistência
social, da saúde, da política do idoso, do deficiente. E há assistente social, psicólogo, pedagogo,
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advogado que compõem uma estrutura para atender os adolescentes, as crianças no Brasil e, em
especial, em Mato Grosso.
Eu gostaria de fazer uma reflexão no seguinte sentido: não precisamos de novas
leis para estruturar o que já está feito. Eu queria perguntar o que tem sido feito, porque o Estado tem
a responsabilidade da condição da política, não é ajuda como o Deputado Wilson Santos disse, o
Estado não tem que ajudar, ele é o responsável pela política para dar conta dos direitos da criança e
do adolescente. É dever do Estado, ele precisa dar essa condição. (PALMAS)
Dar condição para as pessoas que não tiveram essa oportunidade por conta da
relação de capital e trabalho que o País não oferece para essa população. Ele não ajuda, é uma
relação de política, a política de direitos e deveres.
E pensando nisso, eu faço a seguinte reflexão: O que tem sido previsto para
implementar o que está no ECA? O que tem sido previsto em relação a casa de semiliberdade? Essas
casas estão sendo construídas em Cuiabá e no interior – o Deputado disse quantos serão construídos,
querendo nos passar que o TJ é bonzinho porque deu o dinheiro, o dinheiro é público e é para isso
que deve ser usado - então, eu quero saber se o modelo está de acordo com o que está posto no ECA,
no SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, se está preconizado pelo
CONANDA? Porque temos conhecimento de que essas casas de semiliberdade e esses sistemas
socioeducativos, que estão sendo propostos, são minipresídios. E estamos de novo reproduzindo a
violência, somos nós que estamos trazendo a violência para as escolas. Quando o Deputado Wilson
Santos fala que os juízes têm que se preparar fisicamente para conviver no Pomeri, oh, raios! Então,
o que temos lá, então? Por que precisa ser forte? É preciso pensar no que está sendo colocado.
(PALMAS)
A SR.ª VERA LÚCIA DOS ANJOS – Precisamos romper com essa lógica de
raciocínio de querer imputar aos adolescentes, como se eles todos fossem - vamos dizer assim -
perigosos. Perigosos somos nós, adultos, que temos lei para nos orientar, continuamos cometendo
crimes, não somos punidos por isso e queremos punir os adolescentes.
Assim, o que está faltando é vontade política, resposta em ato, como disse o
Secretário: “Cadê a integração, a cooperação de rede de serviços”. Precisamos respeitar a criança e o
adolescente na condição deles, o saber que eles têm. Não precisamos inventar a roda, ela já está
posta, está no ECA.
Eu queria colocar a questão da vontade política. Precisamos pensar, o dinheiro é
público, precisamos fortalecer os movimentos sociais, as participações sociais para cobrar isso.
E como estão sendo feitos esses espaços socioeducativos, o que está sendo
construído, porque eles são minipresídios, gente. Vamos tomar cuidado, não vamos permitir isso de
enclausurar de novo os adolescentes sob pena de que estão violentos.
Era isso que eu queria colocar.
(A PLATEIA SE MANIFESTA – PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado! Passo a palavra
ao Luiz Fabrício Vieira Neto, Secretário Adjunto de Justiça e Direitos Humanos – SEJUDH, que vai
responder suas perguntas, também, Dona Vera.
O SR. LUÍZ FABRÍCIO VIEIRA NETO – Boa tarde a todos. Cumprimento o
Presidente dessa Casa de Leis, Deputado Guilherme Maluf, na pessoa de quem cumprimento os
demais parlamentares e o Dr. Paulo Prado, em nome de quem cumprimento os demais atores do
Sistema de Justiça. Respondendo à pergunta, serão 06 novos centros socioeducativos de acordo, sim,
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com o SINASE. É uma parceria com o Tribunal de Justiça, que está propiciando ao Estado de Mato
Grosso mudar a estrutura física que temos hoje, que não beneficia a recuperação de qualquer pessoa.
O prédio físico da primeira casa de semiliberdade de Cuiabá foi inaugurado agora,
em março, e vai funcionar o quanto antes. Só está dependendo de um laudo, um alvará de
funcionamento do Bombeiro para que tenhamos o completo funcionamento. Temos os servidores -
muitos, por sinal - que são assistentes sociais, psicólogos, um corpo técnico muito qualificado e
dedicado à causa.
Essas casas de semiliberdade serão expandidas, sim, para ou outros polos com
aluguel e adequação de casas para cumprir as diretrizes do SINASE – Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo.
A reflexão que faço inicialmente é: o que a sociedade e o poder público pensam
para os próximos 25 anos? Porque sabemos o que passamos até agora com políticas públicas não
implementadas. É fácil cobrar o Estado, a sociedade, todos, sendo que nos últimos 25 anos nada foi
feito. Mas, hoje, sabemos qual é o sistema socioeducativo, qual é o sistema de garantia de direitos e
a população está madura o suficiente para fazer essa avaliação.
E, o que vocês, o que todos vamos fazer para que, nos próximos 25 anos, tenhamos
um sistema socioeducativo, um sistema de garantia de direito, seja meio fechado, meio aberto, com
qualidade, respeitando a criança e o adolescente, garantindo o que está previsto na lei desde 1990?
Essa é a grande pergunta, porque se chamarmos aqui representantes dos governos estadual, federal e
municipal para discutir saúde, educação, assistência social, todos vão aplaudir, todos vão dizer que é
extremamente necessário.
Reduzir a maioridade penal como estão dizendo por aí, sem a correta aplicação das
políticas públicas previstas no ECA, previstas no SINASE, é avaliar uma política sem sequer ela
tenha sido implementada. Mas, eu discordo de alguns que falaram que esse é um problema do
Estado. Esse não é um problema do Estado, é um problema de todos nós. É um problema do serviço
de saúde, também, é um problema do serviço de assistência social, é um problema do Judiciário que
está apoiando o Governo do Estado e o Ministério Público que está apoiando o Governo do Estado.
Se não agirmos em união para conseguir mudar esse sistema, podemos, de fato,
rasgar o ECA, ir para as nossas casas, nos trancar com cerca elétrica - hoje todas as casas têm - e
estaremos decretando a falência do sistema socioeducativo, do sistema de garantia de direitos. Essa é
a reflexão! Reduzir a maioridade penal, sem se quer aplicar a legislação prevista, é reavaliar a
política pública não implementada e é isso o que queremos? É essa sociedade que esperamos para os
próximos anos? Porque falar em melhorar o sistema de educação, de saúde, de segurança, para mim
é uma avaliação de política de Estado e é para os próximos 10 anos. Ninguém pensa no imediato.
Mas, é claro que temos que ter ações imediatas para dar respostas para alguns problemas.
Hoje, como foi falado pelo promotor José Antônio Borges, temos unidades que
não são unidades socioeducativas, são antigas cadeias, delegacias adaptadas para receber
adolescentes. E se construíssemos 06 novos centros com 100 vagas cada um, de acordo com o
SINASE, de nada adiantaria se o Poder Judiciário, o Poder Legislativo e o Ministério Público não
apoiassem a correta implantação de medidas socioeducativas. Porque tem muito prefeito no interior
que quer, sim, uma unidade socioeducativa, mas para fazer exclusão social. Vamos tirar os
adolescentes que estão dando trabalho. Mas e as medidas de meio aberto? Quem está trabalhando
isso? Será que os Conselhos Tutelares estão tendo o apoio devido? Será que as prefeituras estão
trabalhando para isso? Será que o Estado está apoiando as medidas de meio aberto? Porque a medida
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de internação, seja em semiliberdade, seja em unidade de internação, tem que ser a última instância e
não a primeira, como vemos por aí.
O Dr. Jorge já saiu, mas é um exemplo de juiz que não aceita qualquer
adolescente. Atualmente, por força de uma ação civil pública - que foi até proposta pelo Dr. José
Antônio Borges - a unidade de Cuiabá está interditada, não podemos receber adolescentes do
interior.
Há uma semana, firmamos um acordo, nessa ação civil pública, para que seja
reformada a unidade de Cuiabá. A proposta do Governo do Estado, do Governador Pedro Taques, do
Secretário de Justiça e Direitos Humanos é revitalizar todo o sistema socioeducativo. Mas, não
adianta gerar de 200 a 300 vagas, se as medidas não forem corretamente aplicadas. Por isso, o nosso
investimento é internação, sim, mas em semiliberdade, também. Então, a proposta do Estado, são 12
novas unidades, sendo 06 de internação e 06 de semiliberdade.
Mas, senhores, não adianta só apontar, temos que ter consciência na hora de votar,
todos aqui votaram. Esses Deputados, que estão votando a favor da maioridade penal, foram eleitos
pelo Estado de Mato Grosso, e a maioria dos Deputados Federais votou a favor da redução da
maioridade. Mas, se você perguntar porque são a favor, vocês vão ver que eles têm uma posição sem
sequer ter uma análise, porque nós não temos uma análise do sistema socioeducativo. (PALMAS)
O SR. LUÍZ FABRÍCIO VIEIRA NETO - Vocês vão me desculpar, mas não se tem
essa análise. Fala-se muito em reincidência, a reincidência no sistema socioeducativo de Mato
Grosso é menor que 12%! Mas convenhamos, esses dados também não são tão reais assim. Por quê?
Porque só contamos os adolescentes que, enquanto adolescentes, tiveram uma internação, tiveram
uma sentença, foi transitado e julgado, cumpriram o socioeducativo e, para saírem, cumpriram,
novamente. Temos que fazer essa avaliação, o que queremos para os próximos 10, 25 anos do
sistema socioeducativo, do sistema de garantia de direitos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Essa é uma responsabilidade de todos nós, dos Conselhos, dos Conselhos Tutelares,
dos Conselhos de Defesa dos Direitos da Criança, de todos. Não adianta apontar o dedo para o
próximo - eu aprendi com um amigo meu - cada dedo que você aponta para alguém, 03 outros são
apontados para você.
Então, antes de apontarmos o dedo para quem tem responsabilidade, vamos fazer a
nossa parte. O que você está fazendo quando vê uma criança abandonada na rua? Você aciona o
Conselho Tutelar ou você fecha a janela do carro e vai embora?
As crianças de hoje são os adultos de amanhã, o sistema penitenciário está
superlotado porque não estamos cuidando de pessoas. Não estamos ressocializando, nem no sistema
socioeducativo e nem no sistema penitenciário, e essa é uma responsabilidade de todos nós. Não
existe prisão perpétua no País, ninguém vai ficar preso mais que 30 anos, eles vão voltar para a
sociedade. Essa é uma responsabilidade da Prefeitura? É, sim. Ninguém mora em um Estado ou na
União, todos moram no Município. É uma responsabilidade de todos. Temos que ter a real dimensão
do problema e assumir nossos erros, nossas responsabilidades. É isso que eu conclamo todos a fazer.
Infelizmente, o plenário já está esvaziado, mas vamos pensar nisso, o que você está
fazendo para tentar melhorar? Eu sei o que eu estou fazendo, e espero que vocês também saibam.
Muito obrigado. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado, Secretário.
Com a palavra, a Sr.ª Edna Sampaio, lembrando que são 03 minutos.
A SRª EDNA SAMPAIO – Boa tarde a todos!
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Cumprimento o Presidente pela iniciativa de fazer este evento. Infelizmente, a
plenária já está esvaziada, mas eu gostaria de falar algumas palavras a respeito da questão da
redução da maioridade penal.
Eu fico pensando quantos Cristianos nós conhecemos. O Dr. Paulo Prado falou da
história do Cristiano, abandonado pelos pais na rodoviária e decapitado, aos 18 anos, quando
completou maioridade, numa trajetória extremamente dolorosa de vida. E no Centro de Referência
em Direitos Humanos, tanto em Cuiabá, quanto em Cáceres, o que vemos são muitos Cristianos. E
não me sinto à vontade de olhar nos olhos dos Cristianos, porque sou servidora pública e, em
qualquer lugar que eu vá, eu represento o Estado. Ainda que eu tenha feito a minha parte como
sujeito, como cidadã, como indivíduo, é o Estado, essa organização caótica, que eu represento.
Esses Cristianos nos olham nos olhos e querem uma ação nossa enquanto Poder
Público. E não adianta que eu sozinha faça alguma coisa ou que qualquer um de vocês faça, porque a
soma dos indivíduos não dá o todo. É o Estado, enquanto instituição pública, responsável por
políticas, que deve agir; é o Estado que deve profissionalizar a sua gestão para que pessoas com
capacidade técnica, intelectual e política assumam a direção das Pastas, seja em nível federal,
estadual ou municipal.
Eu não posso, enquanto servidora pública, ter competência técnica para atuar no
meu campo se o gestor daquela Pasta não tem condições de conduzir aquela política, estou falando
em todos os níveis. Não posso ter o pensamento simples daqueles que acreditam que, condenando os
adolescentes, já condenados pelos seus destinos sociais... E acham que somos defensores dos
Direitos Humanos e devemos levar esses adolescentes para casa.
Eu fui agredida em uma Audiência Pública, em Cáceres, por pessoas que
acreditam que, por defender o direito de crianças e adolescentes pobres e negros - os Cristianos da
vida, esperando ser decapitados pelo sistema - eu devo levá-los para casa. Não é assim que funciona!
O Estado tem que assumir a responsabilidade das políticas públicas em todas as áreas e articular o
sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, e isso não está acontecendo; o Estado
precisa assumir a articulação das políticas no âmbito municipal porque, como bem disse o Secretário
Adjunto de Estado de Justiça e Direitos Humanos, o Estado é um lugar que não existe, é uma
invenção da nossa legislação, da nossa Constituição, mas é no município que as pessoas vivem, que
os Cristianos morrem, é no município que os Cristianos são impedidos de ter uma vida decente.
E qual é o papel do Estado em nível federal, estadual e municipal? Parece que
todos somos município. Há o município estadual e o município municipal. O Estado faz de conta
que o município faz. E o município, por sua vez, não dispõe de recursos institucionais de capacidade
técnica, de capacidade de financiamento de políticas públicas para conduzir as suas políticas, para
dar conta do enfrentamento da demanda gigantesca de milhares de Cristianos, que batem à porta da
assistência social, da saúde. São Cristianos heterossexuais, homossexuais, são Cristianos negros,
mulheres, são Cristianos homens. E o que estamos fazendo, enquanto poder público?
A sociedade tem feito muito, a juventude tem feito muito. A juventude se
mobilizou e foi ao Congresso Nacional pedir aos nossos Deputados para não votarem a PEC nº 171.
Sabe por que é importante não votar a PEC nº 171? Porque a vitória da PEC nº 171 significa o
fracasso societário de nós todos.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Concedo mais um minuto.
A SR.ª EDNA SAMPAIO - Eu já vou terminar.
O que fundou essa sociedade nossa é a liberdade. O que justificou a criação do
estado democrático de direito é o fato das pessoas não aceitarem - e com razão não devem aceitar -
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que qualquer poder seja instituído, arbitrariamente, que qualquer poder ceife a liberdade dos
indivíduos, mas o que queremos, justamente, é ceifar a liberdade daqueles que nos incomodam.
Queremos aprisionar as pessoas que o Estado não consegue garantir os seus direitos. Todos nós, que
somos pais e mães, sabemos o que é criar um adolescente, o que é criar um filho e o quanto trabalho
ele dá. Então, quero apenas dizer que a responsabilidade é nossa.
Infelizmente, Deputados, não tivemos a oportunidade de discutir a redução da
maioridade penal aqui na Assembleia Legislativa, embora, tenhamos apresentado o pleito de
realizações desta Audiências Públicas por diversos meses desde o mês de abril para que pudéssemos
discutir.
Eu peço, encarecidamente, aos nossos Deputados, eleitos para defender o nosso
estado de direito, o Estado democrático de direito, constituído pela vida e pela luta de muitas
pessoas ao longo da nossa história, que influenciem os seus Deputados Federais que, de alguma
forma, têm vinculação com mandato na Câmara Federal, conversem com os Deputados, e peçam
para que não votem em 2ª votação a PEC nº 171.
Não queremos voltar aqui para descomemorar esta data de hoje, porque se há
alguma coisa que podemos comemorar é a resistência desses bravos guerreiros, os conselheiros
tutelares. Estes, sim, merecem nossos aplausos e nossa consideração, todos nós, os outros, falhamos
e fracassamos na nossa missão, enquanto agente público, poder público, servidores públicos o que
nos destinou essa sociedade. Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Muito obrigado.
Próxima inscrita, Julia Medeiros.
A SRª JÚLIA MEDEIROS - Boa tarde a todos e todas.
Quero registrar a decepção, enquanto mulher, enquanto jovem, ver apenas uma
mulher na mesa. Como é difícil nos inserir nesse espaço da política que, majoritariamente, é
dominada por homens brancos.
Eu sou Júlia, do movimento Rouge, juventude anticapitalista, também construo o
DCE da UFMT. Viemos dizer que a nossa posição é totalmente contrária à redução da maioridade
penal.
Sabemos que o sistema carcerário não resolve o problema da violência, o que está
colocado como violência é a desigualdade social, muitos jovens precisam roubar padaria, roubar o
que for para poder sobreviver, porque não tem possibilidade de estudo, não tem possibilidade de
emprego.
O Brasil é o maior país com população encarcerada e o problema da desigualdade
tenta ser sanado com o encarceramento. E a população atingida, majoritariamente, é a população
negra, a população pobre.
Então, é importante colocarmos que o golpe que o Cunha deu na Câmara Federal,
não foi por acaso, um golpe que precisamos denunciar, que é inconstitucional, inclusive. Ouvimos o
Deputado Wilson Santos dizer que é do PSDB, que colocou a proposta de alteração no ECA,
defendendo a redução da maioridade penal. Queremos dizer para esses governantes, homens da
ordem, que não vamos nos calar, e a hora do Eduardo Cunha vai chegar. (PALMAS)
Não vamos descansar enquanto essa PEC nº 171 não for enterrada de vez, e vamos
continuar na luta por educação pública de qualidade, por melhor saúde para a população, porque não
é encarcerando a nossa juventude para esconder o problema da desigualdade no País... Todo mundo
vê, no Centro de Cuiabá, a população dos esqueitistas lá, na Praça Alencastro, sendo criminalizada
todas as quintas-feiras pela Polícia, com mandado da Prefeitura, mandado do Estado, criminalizando
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a única opção de cultura que temos nas praças. São essas populações, como os esqueitistas, os do hip
hop, da comunidade do funk, que estão sendo encarcerados para esconder o quê? Qual o problema
dessa juventude ter acesso à escola?
Então, não vamos cansar enquanto essa lei de guerra à pobreza nº 171 não for
acabada. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Próximo inscrito, Fabrício Paes.
O SR. FABRÍCIO PAES - Primeiramente, cumprimento a todos e todas em nome
do Jeison, meu amigo que representa os adolescentes, motivo pelo qual existe o Estatuto da Criança
e do Adolescente neste País. E quero repudiar a mesa por não ter um adolescente representando o
objetivo pelo qual o ECA foi criado. (PALMAS)
Repudio, também, os companheiros que ficam conversando quando os
companheiros estão falando e não prestam atenção na voz da juventude, que por muito tempo sofre e
é criminalizada.
A fala do Deputado Wilson Santos não me estranha, porque ele é líder de um
Governo que, nas duas últimas semanas, colocou o Exército Brasileiro e a Polícia Militar para bater
em jovem, para agredir a juventude que está nas ruas, os esqueitistas. Quero dizer muito claro, que a
redução da maioridade penal serve somente a esses crápulas que estão no poder e que estabelecem
um status quo e não conseguem ver a dimensão dos problemas sociais deste País.
Deputado Presidente da Assembleia Legislativa, é estranho o Deputado Líder do
Governo vir a uma Audiência Pública como esta e dizer que, em Chapada dos Guimarães tem 46
bocas de fumo e ele não vai resolver esse problema. Quer dizer que ele sabe onde está e não diz onde
é? Porque será que existem essas 46 bocas de fumo? Para mim, o Deputado está muito informado
ou deixou de informar o Secretário de Segurança Pública... (PALMAS)
E outra coisa, eu vou mais além, é um crime, um absurdo um Deputado falar uma
coisa dessa e não resolver ou não encaminhar para quem deve ser encaminhado.
Na Holanda, Deputados e autoridades presentes, a maconha é liberada,
regularizada e lá, no último ano, 35 cadeias foram fechadas. Por que será? O problema são as
drogas, o problema é o uso ou a distribuição? O problema é o cinismo. O cinismo de dizer o
seguinte, todo mundo é favor da educação. Eu quero que esta Assembleia Legislativa aprove uma lei
para que o salário do professor seja 50%, no mínimo, do salário do Deputado Estadual, e aí...
(PALMAS) ...Vai ter autoridade moral para dizer que é a favor da educação, deveria ser igual, mas
já que não dá, porque tem as proporções e as limitações do Estado que, no mínimo, seja 50%, e aí
vamos caminhar para uma questão diferente.
Então, concordo com as falas dos colegas que me antecederam e faço esse apelo à
Assembleia Legislativa e aos Deputados de Mato Grosso.
E ao Secretário, para concluir a minha fala, que - se todo mundo votou, e tem que
cobrar seu Deputado - a coligação do seu Governador, Secretário, elegeu todos os Deputados que
votaram a favor da redução da maioridade penal.
(A PLATEIA SE MANIFESTA COM PALMAS E OVAÇÕES)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Próximo inscrito, Juarez França.
O SR. JUAREZ FRANÇA – Boa tarde a todos!
Antes da minha fala, eu queria ler um poema à senhora, infelizmente, ela não pôde
ficar e o plenário está um pouco vazio, mas ele fala sobre adolescência.
“ Dizem que estamos em tempos difíceis, que a adolescência é bastante veraz,
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Mas eles só têm mais coragem do que tinham os seus pais. Só não tem maturidade
em suas ações.
Poxa, são crianças! Um pouco grandes demais, que se acham adultas e que são
capazes de qualquer atitude sem pestanejar.
Existem atrocidades acontecendo, adolescentes são vítimas da sociedade que nós,
adultos, fizemos, mas que na realidade não queremos.
Meninas lindas que se acham gostosas, meninos maneiros que se acham heróis.
São exemplos de vida que eles venham a nós.
Não tem paciência, querem avançar rapidinho como se dessem conta de tudo
sozinho. É bem nessa hora que erram o caminho. Uma fase difícil que nós passamos.
Não são crianças e nem adultos, também cheios de dúvidas e ilusões, têm medo
dos perigos e das contradições.
Meninos e meninas, só quero alertar, aproveitem com responsabilidade, esse
tempo vai se esgotar e depois dos 30 vão querer voltar.
Por favor, pessoas, vão devagar para as lágrimas de sangue seus pais não
chorarem.
Essa violência podemos cessar, nós adultos podemos ajudar. Uma fase que nos
querem tirar, isso que é violar, antes de agir é sempre bom pensar, para saber que atitude tomar.
Odilza Garcia
Orientadora Social do Distrito de Água Sul”.
(A PLATEIA SE MANIFESTA – PALMAS)
O SR. JUAREZ FRANÇA – Eu queria saudar o Deputado Federal Ságuas Moraes,
por vir representar uma grande parte da sociedade em todo nosso Estado, votando contrário a PEC
da redução da maioridade penal, em nome do Deputado, saúdo toda a mesa.
Pois bem, companheiros, 25 anos de ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente,
sigla essa que muitos vêm dizendo “eca”, chacoteando, principalmente, o seu nome.
Pois bem, a dignidade humana melhorou nesse período, a mortalidade infantil
diminuiu, a escolarização melhorou, o trabalho infantil foi reduzido. No entanto, um indicador,
companheiros, piorou e muito, a violência contra os adolescentes no nosso País. Violência não só
física, mas violência moral, quando uma PEC que há mais de 30 anos esteve engavetada é retirada.
Essa PEC é uma violência contra a juventude negra, contra a juventude
homossexual, contra a juventude menos favorecida em todo o nosso País. Em vez de zelarmos pelo
Estatuto da Criança que, hoje, celebramos 25 anos, estamos querendo descumprir. Em vez de dar
mais acesso à cultura, esporte e lazer, estamos querendo construir muito mais presídios.
Não é só construir mais escolas, mas é dar oportunidade para que esses estudantes
permaneçam nessas escolas. Não é só construir uma escola e deixá-la aberta de segunda a sexta, essa
escola precisa estar aberta nos finais de semana, com acesso à quadra esportiva para que os
estudantes possam, sim, em vez de estar no mundo das drogas, ou em outros lugares, praticar
esportes, tendo acesso, realmente, à cultura e ao esporte.
Então, é o que deixo para que possamos refletir sobre essas conquistas ao longo
desses 25 anos de Estatuto da Criança e do Adolescente e sobre o que queremos para os próximos 25
anos. Boa tarde a todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – O próximo inscrito, Manoel
Silva.
O SR. MANOEL SILVA – Boa tarde a todos e todas!
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Eu gostaria que o Deputado Wilson Santos estivesse aqui, porque ele disse que
tem 53 anos e não vai mudar a experiência dele. O Deputado Federal Carlos Bezerra tem 70 anos e
votou contra a redução, porque ele acredita que precisamos de educação, saúde e esporte. Porque a
educação, o esporte e o lazer não chegam a 30% dessa juventude, que é uma juventude negra, uma
juventude que sofre, porque todo camburão de polícia tem um traço de navio negreiro.
Eu não me sinto representado pelo Deputado Wilson Santos, por esse Congresso
conservador, por esse Congresso fundamentalista, que não respeita a fé das pessoas, que não respeita
o direito da diversidade. É o Congresso mais conversador dos últimos anos!
O ECA não pode retroceder e, sim, avançar. Porque, infelizmente, a juventude tem
classe social, cor e raça. E quem sabe é quem sente. Somos nós, os moradores do Coxipó, do Pedra
90, do CPA, que sentimos na pele o que é ir numa escola estadual e não ter um professor para dar
aula. O que é uma mãe acordar às 05 horas da manhã e não ter uma vaga numa creche para deixar o
seu filho! É muito triste, ainda, depararmos com esses fatos.
Como já falei, lazer e esporte são a prevenção ao assédio da juventude e à
violência. Entendo que, se uma juventude tiver uma educação de qualidade, isso fará com que ela
não entre no mundo da criminalidade. Já dizia a Deputada Jandira Fragelli: “Não devemos lembrar
do ECA apenas para punir, mas para proteger a criança e o adolescente. ”
Encerro minha fala, dizendo que fui aluno da escola municipal, estadual, mas tive
a oportunidade de estudar numa escola privada, inclusive, com filhos de alguns ex-Deputados que já
passaram por esta Casa, o ex-Deputado Carlos Brito, entre outros. Eu estudei no Notredame de
Lourdes e sei a diferença da educação, sim. Porque nas escolas privadas a educação é de qualidade e
os professores são valorizados. Lá é difícil chegar um aluno que o pai agride a mãe em casa, o aluno
não traz aquele problema para escola, o aluno é ciente, tem uma educação, tem acesso ao shopping,
tem acesso aos clubes, aos melhores lugares.
Já nós, da favela, mal querem nos deixar entrar no shopping, porque proibiram a
entrada de menores. Vamos continuar a luta, nem que eu precise ir à Brasília, dormir lá, mas não vou
deixar a promessa da redução da maioridade penal. Não só eu, como outros companheiros que
sempre estivemos na luta. A juventude já foi à rua com os cara-pintadas e estamos prontos para isso!
Porque a juventude que ousa lutar, acredita num mundo melhor. Somos o futuro desta nação.
E da próxima vez que eu vier aqui, eu não quero vir como um simples militante
do movimento negro, eu quero vir como um Deputado! Porque esta Casa não tem um Deputado
negro! Esta Casa deveria ter mais mulheres, só tem uma mulher! Não tem nenhum Deputado do
Movimento GLBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, nenhum
religioso de matriz africana. Tem pastores, tem pessoas católicas, mas não tem nenhum umbandista,
candomblecista! Precisamos que tenham todos e todas na Assembleia Legislativa, no Congresso e na
Câmara dos Deputados.
Muito obrigado. Muito axé a todos! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Muito obrigado.
Com a palavra, o Sr. Jeison Rick, representante do Estado de Mato Grosso no
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
O SR. JEISON RICK – Boa tarde a todos!
Pelo visto a agitação por parte da juventude não é só minha, e pelo visto não é só
uma falta de representação da juventude que foi percebida aqui.
Gostaria, primeiramente, de agradecer a presença de todos, segmento de protocolo,
em nome dos agentes mais importantes, jovens, crianças e adolescentes, que ainda permaneceram,
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sintam-se todos cumprimentados. Mas, principalmente, em nome de todos os conselheiros de direito
e de todos os conselheiros tutelares, gostaria de cumprimentar as autoridades.
Por incrível que pareça, quem convocou esta Audiência Pública, a Associação dos
Conselheiros Tutelares, eu não estou vendo compor a mesa, não estou vendo a Presidente sentada
aqui, não estou vendo a Sr.ª Iraídes, foi ela quem convocou isto.
Eu participo do G-38, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, representando a juventude mato-grossense, assim como participo do G-11 Brasília,
representando toda a juventude do Centro-Oeste. E posso dizer, com toda a indignação, que o meu
ser se apresenta como juventude e eu não me sinto contemplado, não me senti representado por
quem compõe essa mesa. Com todo o respeito a todas as autoridades, sei que vocês são militantes da
causa da criança e do adolescente, mas o que o Estatuto prevê, o que buscamos em Brasília, no G-
38, é a representação e o protagonismo juvenil, que não está sendo, hoje, realidade.
Agradeço muito a cada conselheiro de direito, ao Mauro, principalmente, Presidente
do Conselho Estadual, que se faz presente, mas temos no Estado de Mato Grosso, ainda, a falta do
protagonismo juvenil. Os jovens já saíram, retiraram a bandeira, temos apenas uns 03 ou 04 do
Movimento Estudantil. Por quê? O jovem chegou e viu que não tinha fala, que não tinha voz.
Eu gostaria de fazer essa nota de repúdio - assim como o meu colega Fábio -,
dizendo que o G-38, em Brasília e o G-11, representação do Centro-Oeste no CONANDA não estão
satisfeitos com o rumo que o País toma com a representação juvenil em todos os cantos do Brasil.
Voltamos de Brasília com a perspectiva de trazer metas e objetivos para aplicar na
Conferência Estadual, na Conferência Nacional para garantir a representação juvenil e não fomos
atendidos, neste momento em que há uma discussão acerca da redução da maioridade penal. Sendo
que qualquer educador, qualquer professor com consentimento básico de que a educação muda
muitas coisas ... E estou revoltado com o que o Ex-Prefeito de Cuiabá disse... mas não há o
compreendimento de que a juventude é o futuro deste País.
Todos enfatizaram que tem raça, cor e origens sociais quem vai ser preso. Eu não
preciso dizer, enquanto membro e representante de Mato Grosso no Conselho Nacional, que sou
contra a redução da maioridade. Eu preciso dizer, assim como meu amigo Luciomar... O meu amigo
Luciomar teve 03 minutos para falar. Quem conhece o Luciomar sabe que ele militou, assim como a
Rosarinha Bastos, ao lado dela, militou a sangue e suor pela causa de crianças e adolescentes e ele
teve 03 minutos para falar. Isso é um absurdo. É uma calamidade pública não incluir a criança e o
adolescente na discussão que é para a criança e o adolescente.
Se não fosse o CONANDA e mais de 25 anos de Estatuto da Criança e do
Adolescente, hoje, crianças e adolescentes, ainda, estariam em situação de rua. Crianças e
adolescentes que estariam em pânico de abuso sexual, o que acontece muito em nosso País.
A minha nota de repúdio está deixada.
Eu gostaria de parabenizar, principalmente, quem merece os parabéns pelos 25
anos de Estatuto e dizer que, com muito orgulho, vamos continuar e há muito trabalho para ser feito.
Muito obrigado a todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) – Com a palavra, o Sr. Clóvis
Arantes.
O SR. CLOVIS ARANTES – Boa noite a todos e a todas.
Deputado Guilherme Maluf, somos do Movimento Estadual de Luta Contra a
Redução da Maioridade Penal, um movimento que tem a assinatura de mais de 70 entidades que
vem ao longo dos últimos meses se organizando para discutir a questão da redução da maioridade
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penal e que, independentemente de ser votada no Congresso Nacional, vamos continuar fazendo essa
discussão, e queremos que a Assembleia Legislativa tenha nesse movimento, um espaço para fazer
os debates dentro desta Casa de Leis.
Precisamos entender o que está sendo colocado no cenário nacional. Quando
viemos comemorar os 25 anos do ECA, comemoramos a luta dos conselheiros, que vêm esses anos
todos construindo o ECA na prática, porque não adianta nada ter o ECA se não tiver pessoas que
discutem e que fazem a sua construção.
Estamos em um momento muito difícil no cenário nacional, Deputado Guilherme
Maluf. Tivemos a discussão do Plano Municipal de Educação em Cuiabá em que nada foi discutido.
Parece que o Plano Municipal de Educação pautava somente na questão de gênero, como se questão
de gênero fosse somente a questão LGBT. E questão de gênero é muito mais. É discutir
desigualdade, é discutir a questão de homem e de mulher no cenário da educação. E já tivemos na
Assembleia Legislativa a questão do Plano Estadual, também. Um Plano Estadual que já foi votado
no ano passado e que, agora, foi feita uma revisão desse Plano Estadual. Eu não entendi porque um
Plano Estadual, que foi votado no ano passado é chamado pelos Deputados para ser refeito.
Precisamos discutir mais do que isso. A redução da maioridade penal precisa ser
discutida de uma forma mais ampla. Ela envolve a questão da saúde, da educação, envolve a questão
dos medicamentos, e o promotor comentou sobre as mães que vivem com HIV/AIDS. Quero dizer
para ele que não existem mais mães aidéticas, que existem mães que vivem com HIV/AIDS. Há
muito tempo não usamos mais esse termo para não criminalizar, para não vulnerabilizar ainda mais
as mulheres que vivem com HIV/AIDS.
A questão da redução da maioridade penal envolve muito mais que simplesmente o
encarceramento do jovem, mais que a questão que está sendo colocada pelos Deputados, que votam
favoráveis à redução da maioridade penal.
Votaram pela redução da maioridade penal 308 deputados e há, sim, interesse por
trás: interesse comercial, interesse de fazer continuar a prostituição infantil, e outros interesses.
Precisamos discutir com mais seriedade essa questão da redução da maioridade penal.
E eu sei, Deputado Guilherme Maluf, que Vossa Excelência será um protagonista
para que esse tema, no nosso dia a dia, seja discutido por esta Casa de Leis. Quero lembrar que gays,
lésbicas, travestis e transexuais, também, são crianças, são adolescentes esquecidos na hora dessa
discussão pela sociedade.
Eu quero - mas já foi embora - dizer ao Secretário que a professora Edna, até
sexta-feira, prestou um grande serviço ao Estado de Mato Grosso, nesses poucos meses que esteve à
frente do Centro de Referência dos Direitos Humanos no Estado. Ela trouxe, inclusive, para dentro
do Centro de Referência, esse debate da redução da maioridade penal. E temos certeza de que, se ela
não estivesse lá, esse debate não teria ocorrido.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (GUILHERME MALUF) - Obrigado.
Para encerrar os inscritos, Edson Junior Figueiredo. Está aí o Edson? Não está.
Eu gostaria de fazer um apanhado, tivemos algumas discussões calorosas.
Primeiramente, o papel desta Casa é exatamente este, realizar o debate, ouvir a
população, aqueles que se pronunciaram de alguma forma em desagravo, eu respeito muito. Vamos
continuar desenvolvendo a nossa atividade política, entendemos que temos muito o que acrescentar e
dizer que se está presente nesta mesa, ou se não está presente, é uma situação até que dá para
entender, mas tenho certeza de que não influencia muita coisa.
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Algumas críticas são muito bem vindas, como essa discussão das políticas
dirigidas às crianças e aos adolescentes, que esta Casa pode, sim, desenvolver um núcleo, Secretário,
para que possamos ouvir os adolescentes, as sugestões, as críticas.
Eu, como Presidente desta Casa, vou levar essa sugestão para o Colégio de
Líderes, porque precisamos ter um ponto para ouvir diretamente os adolescentes e, obviamente,
embasar nossas políticas públicas.
Eu gostaria de dizer aos conselheiros tutelares que vamos, sim, encaminhar um
entendimento entre os Deputados para que ajudem a colocar emendas parlamentares no sentido de
melhorar a infraestrutura desses Conselhos Tutelares, isso já foi feito nesta Casa e eu vou puxar esse
movimento para que continue sendo feito, a partir do segundo semestre. (PALMAS)
Entendemos que não é possível implantar o ECA, sem ter um Conselho Tutelar
com o mínimo de infraestrutura, Secretário. Então, temos que ter essa responsabilidade de colocar
no orçamento do Estado o que for necessário para permitir que esses conselheiros continuem
desempenhando o seu papel. E estamos atendendo uma iniciativa muito importante, vamos
encaminhar ao Governo do Estado a criação de uma superintendência específica para tratar sobre
crianças e adolescentes. (PALMAS)
Então, eu estava comentando com o Secretário sobre a necessidade dessa
superintendência. E isso não pode ser feito em forma de lei, porque é uma prerrogativa do Executivo
a criação de cargos, mas podemos fazer na forma de um anteprojeto e com o apoio do Secretário,
dos conselheiros presentes e da própria Assembleia Legislativa vai se tornar uma realidade,
provavelmente.
Agradeço a todos que participaram desta Audiência Pública. Eu também sou como
o Promotor José Antônio, sou um otimista. Avançamos, sim, em muitas políticas na implantação do
ECA, mas temos muitas coisas a fazer, é verdade, e não podemos desanimar. O nosso País tem uma
série de gargalos, de situações que têm que ser enfrentadas e a melhor forma de enfrentar isso é por
meio da política.
Por meio de revolução, no passado, já se tentou muita coisa e não se conseguiu
nenhum tipo de avanço social. Então, eu defendo, sim, todos os enfrentamentos, mas de uma forma
política, e esta é uma Casa política e é o lugar para que os insatisfeitos nos procurem. Vamos receber
de todas as formas possíveis, fazer as discussões e fazer a divulgação, porque esta Casa conta com
uma televisão, que transmite as Audiências Públicas, conta com uma rádio FM 89,05, com um
teatro, para quem estamos abrindo espaço a uma série de jovens, que são talentos do nosso
município, do nosso Estado.
Enfim, acredito que temos muito o que fazer. Saio desta Audiência Pública
convicto de que não podemos fazer todos esses avanços se não houver uma integração, Secretário,
entre todos os Poderes e, sobretudo, com o acompanhamento da sociedade, a sociedade precisa
participar. Isso é muito importante, não é porque ela escolheu o seu Deputado, o seu Prefeito, o seu
Vereador que tem que se omitir e ficar aguardando esses representantes desenvolverem o seu papel.
Tem que haver o controle social, tem que haver acompanhamento para que
possamos estar no caminho de políticas públicas que venham ao encontro do que queremos: uma
Nação melhor, um Mato Grosso melhor.
Agradeço a toda a minha equipe, na pessoa do Suede, que não mediu esforços para
a concretização desta Audiência Pública.
Declaro encerrada esta Audiência Pública.
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Equipe Técnica:
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- Tânia Maria Pita Rocha.
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- Amanda Sollimar Garcia Taques Vital;
- Revisão:
- Ivone Borges de Aguiar Argüelio.