lei 3924- monumentos arqueológicos

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Lei n° 3.924 de 26 de julho de1961. DISPÕE SOBRE OS MONUMENTOS ARQUEOLÓGICOS E PRÉ-HISTÓRICOS. O Presidente da República: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Artigo 1° - Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza existentes no território nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteção do Poder Público, de acordo com o que estabelece o art. 180 da Constituição Federal. Parágrafo único - A propriedade da superfície, regida pelo direito comum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-históricas, nem a dos objetos nela incorporados na forma do art. 161 da mesma Constituição. Artigo 2° - Consideram-se monumentos arqueológicos ou pré- históricos: a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico, a juízo da autoridade competente; b) os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos paleomeríndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; c) os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento "estações" e "cerâmios", nos quais se encontram vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; d) as inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. Artigo 3° - São proibidos em todo território nacional o aproveitamento econômico, a destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré-históricas conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou sernambis, e bem assim dos sítios, inscrições e objetos enumerados nas alíneas

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Lei n 3

Lei n 3.924

de 26 de julho de1961.

DISPE SOBRE OS MONUMENTOS ARQUEOLGICOS E PR-HISTRICOS.

O Presidente da Repblica:

Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Artigo 1 - Os monumentos arqueolgicos ou pr-histricos de qualquer natureza existentes no territrio nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteo do Poder Pblico, de acordo com o que estabelece o art. 180 da Constituio Federal.

Pargrafo nico - A propriedade da superfcie, regida pelo direito comum, no inclui a das jazidas arqueolgicas ou pr-histricas, nem a dos objetos nela incorporados na forma do art. 161 da mesma Constituio.

Artigo 2 - Consideram-se monumentos arqueolgicos ou pr-histricos:

a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoamerndios do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poos sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras no especificadas aqui, mas de significado idntico, a juzo da autoridade competente;

b) os stios nos quais se encontram vestgios positivos de ocupao pelos paleomerndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha;

c) os stios identificados como cemitrios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento "estaes" e "cermios", nos quais se encontram vestgios humanos de interesse arqueolgico ou paleoetnogrfico;

d) as inscries rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utenslios e outros vestgios de atividade de paleoamerndios.

Artigo 3 - So proibidos em todo territrio nacional o aproveitamento econmico, a destruio ou mutilao, para qualquer fim, das jazidas arqueolgicas ou pr-histricas conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou sernambis, e bem assim dos stios, inscries e objetos enumerados nas alneas b, c e d do artigo anterior, antes de serem devidamente pesquisados, respeitadas as concesses anteriores e no caducas.

Artigo 4 - Toda pessoa, natural ou jurdica, que, na data da publicao desta Lei, j estiver procedendo, para fins econmicos ou outros, explorao de jazidas arqueolgicas ou pr-histricas, dever comunicar Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, dentro de sessenta (60) dias, sob pena de multa de Cr$ 10.000,00 a Cr$ 50.000,00 (dez mil a cinqenta mil cruzeiros), o exerccio dessa atividade, para efeito de exame, registro, fiscalizao e salvaguarda do interesse da cincia.

Artigo 5 - Qualquer ato que importe na destruio ou mutilao dos monumentos a que se refere o art. 2 desta Lei ser considerado crime contra o Patrimnio Nacional e, como tal, punvel de acordo com o disposto nas leis penais.

Artigo 6 - As jazidas conhecidas como sambaquis, manifestadas ao governo da Unio, por intermdio da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, de acordo com o art. 4 e registradas na forma do artigo 27 desta Lei, tero precedncia para estudo e eventual aproveitamento, em conformidade com o Cdigo de Minas.

Artigo 7 - As jazidas arqueolgicas ou pr-histricas de qualquer natureza, no manifestadas e registradas na forma dos arts. 4 e 6 desta Lei, so consideradas, para todos os efeitos, bens patrimoniais da Unio.

CAPTULO II

Das Escavaes Arqueolgicas realizadas por particulares

Artigo 8 - O direito de realizar escavaes para fins arqueolgicos, em terras de domnio pblico ou particular, constitui-se mediante permisso do Governo da Unio, atravs da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, ficando obrigado a respeit-lo o proprietrio ou possuidor do solo.

Artigo 9 - O pedido de permisso deve ser dirigido Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, acompanhado de indicao exata do local, do vulto e da durao aproximada dos trabalhos a serem executados, da prova de idoneidade tcnico-cientfica e financeira do requerente e do nome do responsvel pela realizao dos trabalhos.

Pargrafo nico - Estando em condomnio a rea em que se localiza a jazida, somente poder requerer a permisso o administrador ou cabecel, eleito na forma do Cdigo Civil.

Artigo 10 - A permisso ter por ttulo uma portaria do Ministro da Educao e Cultura, que ser transcrita em livro prprio da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional e na qual ficaro estabelecidas as condies a serem observadas ao desenvolvimento das escavaes e estudos.

Artigo 11 - Desde que as escavaes e estudos devam ser realizados em terreno que no pertena ao requerente, dever ser anexado ao seu pedido o consentimento escrito do proprietrio do terreno ou de quem esteja em uso e gozo desse direito.

Pargrafo 1 - As escavaes devem ser necessariamente executadas sob orientao do permissionrio, que responder civil, penal e administrativamente pelos prejuzos que causar ao Patrimnio Nacional ou a terceiros.

Pargrafo 2 - As escavaes devem ser realizadas de acordo com as condies estipuladas no instrumento de permisso, no podendo o responsvel, sob nenhum pretexto, impedir a inspeo dos trabalhos por delegado especialmente designado pela Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, quando for julgado conveniente.

Pargrafo 3 - O permissionrio fica obrigado a informar Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, trimestralmente, sobre o andamento das escavaes, salvo a ocorrncia de fato excepcional, cuja notificao dever ser feita imediatamente, para as providncias cabveis.

Artigo 12 - O Ministrio da Educao e Cultura poder cassar a permisso concedida, uma vez que:

a) no sejam cumpridas as prescries da presente Lei e do instrumento de concesso da licena;

b) sejam suspensos os trabalhos de campo por prazo superior a doze (12) meses, salvo motivo de fora maior, devidamente comprovado;

c) no caso de no cumprimento do pargrafo 3 do artigo anterior.

Pargrafo nico - Em qualquer dos casos acima enumerados, o permissionrio no ter direito a indenizao alguma pela despesas que tiver efetuado.

CAPTULO III

Das Escavaes Arqueolgicas realizadas por Instituies Cientficas Especializadas da Unio, dos Estados e dos Municpios

Artigo 13 - A Unio, bem como os Estados e Municpios mediante autorizao federal, podero proceder a escavaes e pesquisas, no interesse da Arqueologia e da Pr-histria em terrenos de propriedade particular, com exceo das reas muradas que envolvam construes domiciliares.

Pargrafo nico - falta de acordo amigvel com o proprietrio da rea onde se situar a jazida, ser esta declarada de utilidade pblica e autorizada a sua ocupao pelo perodo necessrio execuo dos estudos, nos termos do art. 36 do Decreto-lei n 3.365, de 21 de junho de 1941.

Artigo 14 - No caso de ocupao temporria do terreno, para realizao de escavaes nas jazidas declaradas de utilidade pblica, dever ser lavrado um auto, antes do incio dos estudos, no qual se descreva o aspecto exato do local.

Pargrafo 1 - Terminados os estudos, o local dever ser restabelecido, sempre que possvel, na sua feio primitiva.

Pargrafo 2 - Em caso de as escavaes produzirem a destruio de um relevo qualquer, essa obrigao s ter cabimento quando se comprovar que, desse aspecto particular do terreno, resultavam incontestveis vantagens para o proprietrio.

Artigo 15 - Em casos especiais e em face do significado arqueolgico excepcional das jazidas, poder ser promovida a desapropriao do imvel, ou parte dele, por utilidade pblica, com fundamento no art. 5, alneas K e L do Decreto-lei n 3.365, de 21 de junho de 1941.

Artigo 16 - Nenhum rgo da administrao federal, dos Estados ou dos Municpios, mesmo no caso do art. 28 desta Lei, poder realizar escavaes arqueolgicas ou pr-histricas, sem prvia comunicao Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, para fins de registro no cadastro de jazidas arqueolgicas.

Pargrafo nico - Dessa comunicao deve constar, obrigatoriamente o local, o tipo ou a designao da jazida, o nome do especialista encarregado das escavaes, os indcios que determinaram a escolha do local e, posteriormente, uma smula dos resultados obtidos e do destino do material coletado.

CAPTULO IV

Das Descobertas Fortuitas

Artigo 17 - A posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueolgica ou pr-histrica constituem, em princpio, direito imanente ao Estado.

Artigo 18 - A descoberta fortuita de quaisquer elementos de interesse arqueolgico ou pr-histrico, artstico ou numismtico dever ser imediatamente comunicada Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, ou aos rgos oficiais autorizados, pelo autor do achado ou pelo proprietrio do local onde tiver ocorrido.

Pargrafo nico - O proprietrio ou ocupante do imvel onde se tiver verificado o achado responsvel pela conservao provisria da coisa descoberta, at o pronunciamento e deliberao da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional.

Artigo 19 - A infringncia da obrigao imposta no artigo anterior implicar na apreenso sumria do achado, sem prejuzo da responsabilidade do inventor pelos danos que vier a causar ao Patrimnio Nacional, em decorrncia da omisso.

CAPTULO V

Da remessa, para o exterior, de objetos de interesse Arqueolgico ou Pr-histrico, Histrico, Numismtico ou Artstico.

Artigo 20 - Nenhum objeto que apresente interesse arqueolgico ou pr-histrico, numismtico ou artstico poder ser transferido para o exterior, sem licena expressa da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, constante de uma "guia" de liberao na qual sero devidamente especificados os objetos a serem transferidos.

Artigo 21 - A inobservncia da prescrio do artigo anterior implicar na apreenso sumria do objeto a ser transferido, sem prejuzo das demais cominaes legais a que estiver sujeito o responsvel.

Pargrafo nico - O objeto apreendido, razo deste artigo, ser entregue Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional.

CAPTULO VI

Disposies Gerais

Artigo 22 - O aproveitamento econmico das jazidas, objeto desta Lei, poder ser realizado na forma e nas condies prescritas pelo Cdigo de Minas, uma vez concluda a sua explorao cientfica, mediante parecer favorvel da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional ou do rgo oficial autorizado.

Pargrafo nico - De todas as jazidas ser preservada, sempre que possvel ou conveniente, uma parte significativa, a ser protegida pelos meios convenientes, como blocos testemunhos.

Artigo 23 - O Conselho de Fiscalizao das Expedies Artsticas e Cientficas encaminhar Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional qualquer pedido de cientista estrangeiro, para realizar escavaes arqueolgicas ou pr-histricas no pas.

Artigo 24 - Nenhuma autorizao de pesquisa ou de lavra para jazidas de calcrio de concha, que possua as caractersticas de monumentos arqueolgicos ou pr-histricos, poder ser concedida sem audincia prvia da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional.

Artigo 25 - A realizao de escavaes arqueolgicas ou pr-histricas, com infringncia de qualquer dos dispositivos desta Lei, dar lugar multa de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) a Cr$ 50.000,00 (cinqenta mil cruzeiros), sem prejuzo de sumria apreenso e conseqente perda, para o Patrimnio Nacional, de todo o material e equipamento existente no local.

Artigo 26 - Para melhor execuo da presente Lei, a Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional poder solicitar a colaborao de rgos federais, estaduais, municipais, bem como de instituies que tenham entre seus objetivos especficos o estudo e a defesa dos monumentos arqueolgicos e pr-histricos.

Artigo 27 - A Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional manter um Cadastro dos monumentos arqueolgicos do Brasil, no qual sero registrados todas as jazidas manifestadas, de acordo com o disposto nesta Lei, bem como das que se tornarem conhecidas por qualquer via.

Artigo 28 - As atribuies conferidas ao Ministrio da Educao e Cultura, para o cumprimento desta Lei, podero ser delegadas a qualquer unidade da Federao, que disponha de servios tcnico-administrativos especialmente organizados para a guarda, preservao e estudo das jazidas arqueolgicas e pr-histricas, bem como de recursos suficientes para o custeio e bom andamento dos trabalhos.

Pargrafo nico - No caso deste artigo, o produto das multas aplicadas e apreenses de material legalmente feitas reverter em benefcio do servio estadual, organizado para a preservao e estudo desses monumentos.

Artigo 29 - Aos infratores desta Lei sero aplicadas as sanes dos artigos 163 a 167 do Cdigo Penal, conforme o caso, sem prejuzo de outras penalidades cabveis.

Artigo 30 - O poder Executivo baixar, no prazo de 120 dias, a partir da vigncia desta Lei, a regulamentao que for julgada necessria sua fiel execuo.

Artigo 31 - Esta lei entrar em vigor na data de sua publicao, revogadas as disposies em contrrio.

Braslia, em 26 de julho de 1961;

140 da Independncia e 73 da Repblica.

Jnio Quadros

Brigido Tinoco

Oscar Pedroso Horta

Clemente Mariani

Joo Agripino